Determinantes Comportamentais da Propensão ao Endividamento
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Determinantes Comportamentais da Propensão ao Endividamento
Determinantes Comportamentais da Propensão ao Endividamento: Análise da Influência do Gênero Silvia Amélia Mendonça Flores1, Kelmara Mendes Vieira2 Resumo: O estudo analisou os determinantes comportamentais da propensão ao endividamento, avaliando as diferenças no gênero. Conforme a literatura, homens e mulheres diferem em suas decisões, sendo esses aspectos influenciados por questões psicológicas e comportamentais. Para compreender a propensão ao endividamento utilizou-se o modelo de Flores e Vieira (2014), que realizaram uma pesquisa no município de Santa Maria, Rio Grande do Sul. A fim de avaliar o efeito do gênero no modelo integrado aplicou-se a análise multigrupo de invariância. Os resultados demonstraram que os homens tendem a maiores níveis de emoções, comportamento de risco e atribuem maior valor ao dinheiro. 1. Introdução O mercado financeiro apresentou transformações, sendo que a obtenção de crédito é progressiva nas economias mundiais. Cohen (2010) expõe o vício do crescimento, a partir de reflexões sobre o capitalismo, citando como exemplo o consumo das famílias americanas, principal causa do endividamento excessivo e da crise do subprime. No cenário brasileiro, as relações de consumo se desenvolveram a partir do acesso irrestrito ao crédito, permitindo a aquisição de bens, melhoria das condições de vida e mobilidade social. Porém, o aumento da renda não acompanhou o nível de operações de crédito, ocasionando aumento nos índices de endividamento (CASTRO, 2014). A Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) mostra que em março de 2016 o total de famílias endividadas no Brasil correspondeu a 60,3%, sendo que 23,5% estão com dívidas e contas em atraso e 8,3% não terão condições de pagar seus compromissos financeiros (CNC, 2016). Desta forma, o endividamento pessoal pode ser entendido a partir de um contexto amplo, representando conforme Frade (2003, p. 17) “o saldo devedor de um agregado familiar”. Em uma perspectiva comportamental, tem-se por base o conceito de atitude como preditor ao endividamento. Ferreira (2013) aponta que os indivíduos, diferentemente das empresas, têm emoções, atitudes, e outros aspectos subjetivos, sendo sua decisão influenciada por esses. Assim, Moura (2005, p. 69) define atitude ao endividamento como “grau de favorabilidade frente ao endividamento”, mensurado através de três dimensões: impacto da moral da sociedade, preferência no tempo e grau de autocontrole. A atitude e propensão ao endividamento podem ser influenciadas por fatores comportamentais e por características do indivíduo, já que as decisões financeiras envolvem uma série de valores psicológicos, físicos e sociais, muitas vezes enraizados em sentimentos e emoções (VITT, 2004). Frade (2008) compara o perfil de endividamento 1 Mestre em Administração. Professora Assistente na Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA). Doutora em Administração. Professora Associada do Programa de Pós-Graduação em Administração - PPGA/UFSM e Editora da Revista Sociais e Humanas. 2 pessoal com a fase do ciclo de vida dos indivíduos, a partir de aspectos sóciodemográficos, tais como, idade, gênero, estado civil, entre outros. Enfatizando o gênero, uma das variáveis mais pesquisadas, nota-se uma relação incerta com a atitude ao endividamento. Estudos constataram que os homens tendem a se endividar com maior frequência que as mulheres (BAEK, HONG, 2004; KEESE, 2010; WANG, LU, MALHOTRA, 2011), devido à falta de planejamento financeiro, impulsividade nas decisões e tendência ao risco. Resultados opostos também são evidenciados, argumentando que as mulheres utilizam mais pagamentos a prazo e cartão de crédito, ocasionando maior exposição ao risco financeiro e dificuldades de gerenciamento financeiro familiar (FABER, O’GUINN, 1992; D’ASTOUS, MALTAIS, ROBERGE, 1990). Além disso, estão mais dispostas a incorrer em um comportamento de compra compulsiva (LYONS, 2004; LYONS, 2007), o qual pode surgir a partir da facilidade de pagamento. Nesse sentido, diante da possibilidade de um nível de endividamento generalizado, torna-se relevante compreender os determinantes comportamentais da propensão ao endividamento e as diferenças segundo o perfil dos indivíduos. Neste trabalho, busca-se analisar a influência do gênero no endividamento pessoal e nos fatores comportamentais, tendo por base o modelo de propensão ao endividamento de Flores e Vieira (2014). O modelo analisou a propensão ao endividamento a partir da percepção de risco, comportamento de risco, emoções, materialismo e valores do dinheiro. A importância do estudo concentra-se na avaliação do endividamento sob a ótica pessoal, pois as premissas da Teoria Comportamental apontam que indivíduos tomam decisões (inclusive financeiras) fora do padrão racional, ou seja, possíveis de vieses comportamentais (PORTO, 2012). Na relevância do gênero, Hira e Mugenda (2000) expõem as alterações nos comportamentos de consumo, percepções e situações financeiras, destacando o desenvolvimento de estudos para a elaboração de programas educacionais adequados a especificidades entre homens e mulheres. Tem-se como inovação a proposta de análise do gênero no modelo integrado, analisando as diferenças de forma conjunta, já que a maioria dos estudos mensura a influência do gênero individualmente nos construtos ou por meio de análise de variância. Em suma, a metodologia do teste de invariância é realizada simultaneamente nos construtos do modelo. 2. Referencial Teórico Aborda-se neste capítulo a revisão de literatura utilizada contextualizar e conceituar o endividamento, questão central do estudo. Apresenta-se o modelo teórico utilizado como embasamento e os determinantes da propensão ao endividamento com as influências na variável gênero. 2.1 Propensão ao Endividamento O endividamento pessoal vem sendo reconhecido nas questões econômicas dos países. Em parte, pelos efeitos sociais no gerenciamento financeiro das famílias. Os estudos têm se concentrado na caracterização do endividamento, a partir de duas lógicas principais. A primeira (mais objetiva) é baseada na renda e na utilização do crédito para mensurar o nível de endividamento pessoal ou familiar. A segunda (mais subjetiva) preocupa-se com questões mais específicas e comportamentais, como a percepção do risco e tolerância ao endividamento. Na avaliação mais objetiva, Frade (2003, p. 17) diz que o endividamento pode ser entendido como “o saldo devedor de um agregado familiar”, sendo que quando esse saldo resultar mais de um compromisso de crédito é caracterizado como multiendividamento. As pesquisas geralmente calculam a razão da dívida com a renda e a utilização do crédito (especialmente o cartão de crédito) a fim de apurar o nível de endividamento (MENDES-DA-SILVA, NAKAMURA, MORAES, 2012; CNC, 2016). Outro conceito importante, abordado por Schmidt Neto (2009), Brito e Araújo (2014) e Castro (2014) refere-se ao endividamento crônico e excessivo, capaz de gerar superendividamento (overindebtedness), situação na qual o devedor de boa-fé é incapaz de pagar suas dívidas atuais e futuras. O superendividamento pode ser compreendido a partir de dois tipos: ativo ou passivo. No primeiro, tem-se um endividamento consciente, ou seja, o indivíduo acumula dívidas mesmo sabendo que não conseguirá quitá-las. O outro tipo, emerge de situações incontroláveis, como por exemplo as dívidas oriundas de problemas de saúde, desemprego, entre outros (ZERRENNER, 2007). Em âmbito comportamental e interpretativo, os estudos observam o endividamento através da tomada de decisão. Denegri (2004) diz que as pessoas mantêm posições específicas diante de objetos e situações, sendo esse fenômeno conhecido por “atitude”, o qual se constitui como um dos principais campos de investigação do comportamento do consumidor. Moura (2005) enfatizou a atitude ao endividamento, avaliando se as pessoas são favoráveis ou não à dívida. Para isso, utilizou três dimensões desse conceito: impacto da moral da sociedade, preferência no tempo e grau de autocontrole. A dimensão de moral da sociedade verifica a percepção favorável ou não frente a dívida, abordando questões de socialização econômica e aceitação social. Sabendo que um nível elevado de dívidas poderá resultar em exclusão financeira e social, os indivíduos necessitam de orientações sobre seu orçamento (GARLING et al., 2009), aperfeiçoando suas decisões e tornando-as moralmente aceitas pela sociedade. Na preferência no tempo, a atitude ao endividamento pondera aspectos de consumo imediato (curto prazo) ou ações de poupança para consumo futuro (longo prazo). Tem-se como concepção que uma atitude ao endividamento mais elevada irá gerar níveis de consumo imediato mais constantes. Quanto ao grau de autocontrole, Moura (2005) descreve que quanto maior o controle do indivíduo sobre as dimensões financeiras, menor sua atitude ao endividamento. Mendes- da-Silva e Yu (2009, p. 253) dizem que “o senso de controle tem sido entendido como a percepção, por parte de um indivíduo, de poder pessoal sobre o controle, o estabelecimento, e a direção para resultados e objetivos de vida”. Neste sentido, torna-se importante analisar a atitude ao endividamento, a fim de estabelecer as questões comportamentais relevantes na decisão financeira pessoal, já que o consumidor está consolidando seus hábitos de compra. É com base na atitude ao endividamento que os indivíduos serão mais propensos ou não à dívida. Levando em consideração esses resultados, é possível desenvolver modelos para explicar o endividamento, os quais apreciem duas lógicas de endividamento, objetiva (renda e dívidas) e subjetiva (comportamental). Para analisar a propensão ao endividamento e seus determinantes comportamentais, utilizou-se o modelo estrutural de Flores e Vieira (2014). O mesmo é resultado das dez hipóteses do modelo teórico, o qual compreendeu os construtos de materialismo, comportamento de risco, percepção de risco, emoções, valor do dinheiro e educação financeira para analisar o nível de propensão ao endividamento pessoal. A primeira hipótese estabelece uma relação entre o materialismo e propensão ao endividamento, onde pessoas mais materialistas estão expostas a maiores níveis de endividamento (WATSON, 1998; PONCHIO, 2006). A segunda hipótese do modelo teórico pressupõe que maiores níveis de educação financeira contribuem para menores níveis de propensão ao endividamento (CHEN, VOLPE, 1998). Porém, foi refutada no modelo estrutural de Flores e Vieira (2014), utilizando-se este para os objetivos do presente estudo. Prosseguindo, foram desenvolvidas duas hipóteses relacionadas ao construto de risco, sendo uma voltada a percepção de risco e outra ao comportamento de risco. A percepção de risco é avaliada através da expectativa de consequências negativas, enquanto o comportamento de risco está associado a prática, com probabilidade de implicações adversas (JOHNSON, SIVADAS, GARBARINO, 2008; HUTZ, KOLLER, 1997). Nestas relações nota-se que quanto maior a percepção de risco, menor será o nível de endividamento. Além disso, quanto mais conservador o comportamento perante o risco, menor será o nível de endividamento (CAETANO, PALACIOS, PATRINOS, 2011). As hipóteses cinco e seis também avaliaram a influência do construto valor do dinheiro, a fim de observar os resultados no endividamento e nas emoções. Na atitude ao endividamento, os indivíduos podem apresentar um comportamento mais poupador ou não, que é desenvolvido com base no valor que atribuem ao dinheiro (MOREIRA, 2000; STONE, MAURY, 2006). No construto emoções, Vohs, Mead e Goode (2008) dizem que a ideia do dinheiro na mente das pessoas pode ocasionar mudanças motivacionais, emocionais e comportamentais. Avaliando ainda o construto de emoções, duas hipóteses são elencadas, relacionando-as com o risco. Källmen (2000) analisou a hipótese de que a percepção de risco está relacionada a diferenças de personalidade, através do locus de controle, auto-eficácia e ansiedade. Zuckerman e Kuhlman (2000) sugerem que comportamentos de alto risco (como direção perigosa) podem ser ocasionados pela necessidade de expressar emoções. A última hipótese do modelo teórico referenciado buscou mensurar a relação entre atitude ao endividamento e emoções. Nota-se que o consumo afeta emocionalmente e fisicamente as pessoas, podendo ocasionar emoções positivas, como a alegria e satisfação, ou emoções negativas, como tristeza (QUELCH, JOCZ, 2007). Tendo em vista o contexto apresentado, ilustra-se o modelo teórico na Figura 1 e as relações no Quadro 1. Figura 1 – Modelo teórico e hipóteses Fonte: Adaptado de Flores e Vieira (2014) Analisando a Figura 1 é possível verificar que a propensão ao endividamento pode ser prevista pelo materialismo, comportamento de risco, percepção de risco e valor do dinheiro. Além disso, pela indicação teórica, o endividamento pode influenciar nas emoções. As hipóteses e as referências estão sintetizadas no Quadro 1. Hipóteses/Relações H1: O materialismo impacta positivamente na atitude ao endividamento. H2: O valor do dinheiro impacta no materialismo. H3: A percepção de risco impacta na atitude ao endividamento. H4: O comportamento de risco impacta na atitude ao endividamento. H5: O valor do dinheiro impacta na atitude ao endividamento. H6: O valor do dinheiro impacta nas emoções dos indivíduos. H7: As emoções impactam na percepção de risco. H8: As emoções impactam no comportamento de risco. H9: A atitude ao endividamento impacta nas emoções. Referencial Watson (1998); Ponchio (2006). Macedo Jr, Kolinsky e De Morais (2011). Caetano, Palacios e Patrinos (2011). Caetano, Palacios e Patrinos (2011). Moreira (2000); Stone e Maury (2006). Csikszentmihalyi (1994); Vohs, Mead e Goode (2008). Källmen (2000); Bouyer et al. (2001). Zuckerman e Kuhlman (2000). Quelch e Jock (2007); Persson (2007); Heckman, Lim e Montalto (2014). Quadro 1 – Hipóteses de pesquisa com os referenciais pesquisados Fonte: Adaptado de Flores e Vieira (2014) 2.3 Determinantes Comportamentais e Gênero Analisando a variável gênero e a atitude ao endividamento, constata-se resultados distintos na literatura. Davies e Lea (1995), Norvilitis, Szablicky e Wilson (2003) e Norvilitis et al. (2006) não encontraram diferença significativa quanto ao endividamento entre homens e mulheres. Wang, Lu e Malhotra (2011), por sua vez, afirmam que os homens tendem a endividar-se com maior frequência que as mulheres, explicado pelo fato de as mulheres serem mais prudentes em suas decisões financeiras, apresentarem melhor organização e planejamento do orçamento financeiro (BAEK; HONG, 2004) e serem mais avessas ao risco (KEESE, 2010). Por outro lado, Lyons (2004) e Lyons (2007) verificaram que as mulheres são mais predispostas a estourar o limite do cartão de crédito e deixar de pagar a fatura integral por um período igual ou superior a dois meses. Similarmente, D’Astous, Maltais e Roberge (1990), Faber e O’Guinn (1992), Hira e Mugenda (2000) e Achtziger et al (2015) argumentam que as mulheres tendem a consumir com maior frequência e a endividar-se com mais facilidade que os homens pelo fato de serem mais propensas a incorrer em um comportamento de compra compulsiva. Ao considerar o efeito do gênero nos demais fatores, podemos destacar o materialismo. Alguns trabalhos demonstraram que a relação de gênero é importante, mas que não se pode determinar o sentido das setas, ou seja, em alguns casos os homens são mais materialistas que as mulheres (BEUTEL, MARINI, 1995; BROWNE, KALDENBERG, 1997; LA BARBERA, GÜRHAN, 1997; RYAN, DZIURAWIEC, 2001) e em outros, as mulheres apresentam um comportamento de compra mais compulsivo e materialista (ROBERTS, 2000; WORKMAN, LEE, 2011; HANDA, KHARE, 2013). Os resultados de Vieira, Oliveira e Kunkel (2016) mostram as mulheres menos materialistas que os homens, porém com níveis mais elevados de compra compulsiva. Levando em consideração o gênero e o risco financeiro, identifica-se que as mulheres tendem a níveis mais altos de percepção de risco que os homens (ZUCKERMAN, KUHLMAN, 2000; KEESE, 2010). De maneira geral, as mulheres são consideradas mais avessas ao risco que os homens. Esse panorama se justifica, pois de acordo com Johnson e Powell (1994) as mulheres, normalmente, são mais cautelosas, menos confiantes e menos agressivas em comparação aos homens nas relações com as finanças. Esses resultados se mantêm quando analisamos o comportamento de risco, verificando mais especificamente, quais as ações de risco executadas por homens e mulheres. Mendes-Da-Silva, Nakamura e Moraes (2012), em estudo realizado com 769 estudantes universitários da cidade de São Paulo, observaram que os homens tendem a ser mais propensos a apresentar algum comportamento de risco, principalmente de má gestão do cartão de crédito. O comportamento de risco apresentado pelo gênero masculino pode estar associado aos níveis de impulsividade e autocontrole que segundo Chapple e Johnson (2007) são mais elevados nos homens. No construto emoções e influência do gênero, os efeitos são incertos. Heckman, Lim e Montalto (2014) realizaram um estudo sobre estresse financeiro com estudantes universitários. Verificaram as emoções e o estresse causado pela situação financeira. Nos testes de gênero, as mulheres foram mais propensas a relatar estresse financeiro. Nesse mesmo sentido, Hira e Mugenda (2000) observaram que as preocupações financeiras das mulheres afetam o seu desempenho no trabalho. Porém, no mesmo estudo, os homens demonstraram maior interferência das preocupações com o dinheiro em suas relações pessoais. Verificando diferenças no construto valor do dinheiro, nota-se que as pessoas classificam a importância do dinheiro em formas distintas. Gasiorowska (2014) investigou o impacto das atitudes com o dinheiro sobre indicadores objetivos e subjetivos de riqueza. Os resultados indicaram que questões subjetivas, como por exemplo a ansiedade ao lidar com o dinheiro, interferem em questões objetivas, como a renda. Tendo por base as questões subjetivas, Prince (1993) aponta que por diferenças de personalidade, os homens e as mulheres percebem o dinheiro de forma diferente. Os homens costumam atribuir significados positivos ao dinheiro, enquanto que as mulheres atribuem sentimentos negativos. Neste entendimento, Li-Ping Tang, Li-na Tang e Yazmeen Homaifar (2006) discutem as expectativas em relação ao dinheiro com base no gênero. Citam que historicamente, as mulheres têm atribuído menor importância do dinheiro que os homens. Lynn (1993) e Lim e Teo (1997) corroboram com esta questão. Porém, o aumento da renda das mulheres nas últimas décadas está contribuindo para a importância que estas conferem ao dinheiro. Após verificar as relações de gênero nos fatores comportamentais expostos, o estudo desenvolveu o Quadro 2, que resume os construtos, as relações esperadas no estudo e as referências. Construtos Endividamento Relação Esperada Não há diferença no nível de endividamento entre homens e mulheres. As mulheres apresentam índices de endividamento mais elevados do que os homens. Os homens apresentam endividamento mais frequente que as mulheres. Não há diferença no nível de materialismo entre homens e mulheres. Materialismo Os homens são mais materialistas que as mulheres. As mulheres apresentam maior nível de materialismo que os homens, demonstrando maior envolvimento com os produtos. As mulheres possuem maior percepção de risco que os homens. Risco Os homens têm um comportamento de risco mais agressivo que as mulheres. Emoções As mulheres são mais predispostas a relatar emoções que os homens. A percepção do dinheiro é diferente entre homens e mulheres. Referências Davies e Lea (1995); Norvilitis, Szablicky e Wilson (2003); Norvilitis et al. (2006). D’Astous, Maltais e Roberge (1990); Faber e O’Guinn (1992); Hira e Mugenda (2000); Lyons (2004); Lyons (2007); Sevim, Temizel e Sayilir (2012); Achtziger et al (2015). Baek e Hong (2004); Keese (2010); Wang, Lu e Malhotra (2011). Ponchio, Aranha e Todd (2007); Promislo et al. (2010). Beutel, Marini (1995); Browne, Kaldenberg (1997); La Barbera, Gürhan (1997), Ryan e Dziurawiec (2001); Vieira, Oliveira e Kunkel (2016). Roberts (2000); Workman e Lee (2011); Handa e Khare (2013). Johnson e Powell (1994); Zuckerman e Kuhlman, (2000); Keese (2010). Zuckerman e Kuhlman, (2000); Chapple e Johnson (2007); Mendes-Da-Silva, Nakamura e Moraes (2012). Hira e Mugenda (2000); Heckman, Lim e Montalto (2014); Vieira, Oliveira e Kunkel (2016). Prince (1993); Brandstätter e Brandstätter (1996); Moreira (2000); Vieira et al. (2014); Lauer-Leite et al. (2014). Valores do Dinheiro Lynn (1993); Lim e Teo (1997); Li-Ping Tang, Li-na Tang e Yazmeen Homaifar (2006). Quadro 2 – Construtos, relações esperadas com o gênero e referenciais bibliográficos Fonte: Elaborado pelos autores Os homens atribuem maior valor ao dinheiro que as mulheres. 3. Aspectos Metodológicos O presente estudo trata-se de uma pesquisa descritiva. Considerou-se como cenário deste estudo a cidade de Santa Maria, localizada no Estado do Rio Grande do Sul, Brasil, com 261.031 habitantes. A amostra foi estratificada através dos bairros e distritos do município, com informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), sendo os dados coletados durante o período de 2012. 3.1 Instrumento de Coleta de Dados O instrumento de coleta de dados foi um questionário estruturado. Na primeira seção abordou-se as questões de perfil, como idade, gênero, escolaridade, renda, entre outros. Na segunda seção, os aspectos relacionados aos gastos, como a utilização do crédito e consumo. Após, indagou-se sobre as dívidas. As demais seções buscaram compreender os fatores comportamentais, tendo por base as seguintes referências: risco, com a escala de Paulino (2009); emoções, através do estudo de Disney e Gathergood (2011); materialismo e endividamento, com a escala de Moura (2005) e Disney e Gathergood (2011); e por fim, os valores do dinheiro com a escala de Moreira (2000). Utilizou-se escalas tipo Likert de cinco pontos: percepção de risco - nenhum risco a risco extremo; comportamento de risco e emoções - muito improvável a muito provável; para endividamento, materialismo e valores do dinheiro – discordo muito a concordo muito. 3.2 Análise dos Dados Para caracterização da amostra utilizou-se estatística descritiva, como frequência, percentual e medidas de tendência central e dispersão, através do software SPSS 20.0®. Para análise dos fatores comportamentais e propensão ao endividamento adotou-se o modelo estrutural de Flores e Vieira (2014). O mesmo foi estimado e validado pela Modelagem de Equações Estruturais. A validade convergente de cada construto foi analisada pela observação da magnitude e significância estatística dos coeficientes padronizados e pelos índices de ajuste do modelo, como Estatística χ² (qui-quadrado), Root Mean Square Residual (RMR), Root Mean Square Error of Aproximation (RMSEA), Goodnessof Fit Index (GFI), Comparative Fit Index (CFI), Normed Fit Index (NFI) e Tucker-Lewis Index (TLI) ou Non-Normed Fit Index (NNFI). Tendo por base o modelo validado, para avaliar sua estrutura em relação a variável gênero, utilizou-se a análise multigrupo de invariância, a fim de identificar se a estrutura do modelo é equivalente nos dois grupos. As restrições de parâmetros entre grupos foram criadas conforme recomendação de Byrne (2010), gerando cinco modelos: Modelo 1. Modelo livre (masculino e feminino): sem restrições, com todos os parâmetros livres; Modelo 2. Equivalência das cargas fatoriais: com as cargas fatoriais iguais entre os grupos; Modelo 3. Equivalência dos pesos estruturais: com as cargas fatoriais e coeficientes estruturais iguais entre os grupos; Modelo 4. Equivalência da covariância dos erros: com as cargas fatoriais, os coeficientes estruturais e as covariâncias dos erros iguais entre os grupos; Modelo 5. Equivalência da variância dos erros: com as cargas fatoriais, os coeficientes estruturais e as covariâncias e variâncias dos erros iguais entre os grupos. Para tanto, testou-se uma série de modelos aninhados (nested models), começando com um modelo reduzido livre de restrições e impondo uma ordem crescente de restrições (ARBUCKLE, 2011). Os testes foram realizados pelo software AMOS™. A análise da invariância é realizada por meio dos testes de diferenças de qui-quadrados e de diferenças do CFI (BYRNE, 2010). Uma diferença não significativa de qui-quadrados e valores menores que 0.01 na diferença de CFI entre dois modelos indicam invariância entre os grupos examinados (CHEUNG, RENSVOLD, 2002). A hipótese nula testada é que os dados de cada grupo pertencem à mesma população, ou seja, os grupos não diferem e os efeitos da covariância não impactam nas relações estruturais (BYRNE, 2010). 4. Resultados e Discussões A coleta de dados alcançou uma amostra de 1.046 respondentes. Quanto ao perfil, a maioria pertence ao gênero feminino (57,5%), sendo grande parte casada (42,7%) ou solteira (47,9%). Além disso, pertencem a raça branca (80,5%). Quanto a moradia e número de dependentes financeiros, 65% possuem residência própria e 55,6% não possuem dependentes. Sobre o grau de escolaridade, possuem ensino médio incompleto (22,1%), ensino médio completo (19,6%) e ensino superior incompleto (14%). Na variável ocupação nota-se que grande parte são empregados assalariados (33,6%), funcionários públicos (20,9%) e autônomos (19,7%). Em relação as questões financeiras, os indivíduos obtêm uma renda mensal familiar de 1 a 2 salários mínimos (24,1%). Sobre o uso do cartão de crédito, um percentual representativo (56,6%) utiliza cartão de crédito. Quanto ao número de cartões utilizados, a maioria utiliza um cartão de crédito (29,1%) ou dois cartões de crédito (18,5%). Após conhecer o perfil dos respondentes, realizou-se a análise das médias das escalas, para posteriormente, examinar os fatores. O Quadro 3 representa todas as variáveis utilizadas em cada escala, com as respectivas médias das respostas para cada um dos grupos (homens e mulheres). É importante ressaltar que as escalas utilizadas no estudo de Flores e Vieira (2014) compreendiam cinco pontos. Média Comportamento de Risco Percepção Risco de Escala Variável Homens Gastar grande quantidade de dinheiro em loterias. 3,25 3,24 Ser avalista de alguém. Gastar dinheiro impulsivamente, sem pensar nas consequências. Investir em um negócio que possui grandes chances de não dar certo. Emprestar para amigo e/ou familiar a maior parte do seu salário ou renda mensal. Gastar grande quantidade de dinheiro em loterias. Ser avalista de alguém. Gastar dinheiro impulsivamente, sem pensar nas consequências. 3,63 3,88 3,82 3,66 3,86 3,84 3,62 3,65 1,49 1,83 1,98 1,53 1,77 1,95 Investir em um negócio que possui grandes chances de não dar certo. 1,74 1,72 2,04 2,07 3,61 4,13 3,62 3,69 3,32 1,88 1,62 2,64 2,44 2,84 2,79 3,00 2,22 2,96 3,19 3,30 2,16 2,11 2,71 1,77 1,79 2,09 2,02 2,18 2,73 1,70 2,32 2,50 3,33 3,30 2,22 3,32 3,48 2,91 3,12 3,62 2,94 3,47 4,00 3,60 3,75 3,43 1,87 1,70 2,77 2,42 2,82 2,74 3,05 2,35 2,84 3,19 3,28 2,13 2,11 2,77 1,78 1,83 2,10 2,00 2,10 2,73 1,70 2,34 2,57 3,37 3,42 2,26 3,29 3,57 2,97 3,11 3,64 2,97 4,17 4,07 Endividamento Materialismo Emoções Emprestar para amigo e/ou familiar a maior parte do seu salário ou renda mensal. Me sentiria envergonhado(a). Me sentiria nervoso(a). Me sentiria deprimido(a). Meu sono seria afetado. Meus hábitos alimentares seriam afetados. Beberia mais que o habitual. Iria fumar mais do que o habitual. Minha relação familiar seria prejudicada. Minha relação com os amigos seria prejudicada. Meu rendimento profissional iria diminuir. Meu rendimento escolar seria afetado. Eu admiro pessoas que possuem casas, carros e roupas caras. Eu gosto de gastar dinheiro com coisas caras. Minha vida seria muito melhor se eu tivesse muitas coisas que não tenho. Comprar coisas me dá muito prazer. Eu ficaria muito mais feliz se pudesse comprar mais coisas. Eu gosto de possuir coisas que impressionam as pessoas. Eu gosto de muito luxo em minha vida. Fico incomodado(a) quando não posso comprar tudo que quero. Gastar muito dinheiro está entre as coisas mais importantes da vida. Não é certo gastar mais do que ganho. É melhor primeiro juntar dinheiro e só depois gastar. Eu sei exatamente quanto devo em lojas, cartão de crédito ou banco. Acho normal as pessoas ficarem endividadas para pagar suas coisas. Prefiro comprar parcelado do que esperar ter dinheiro para comprar à vista. É importante saber controlar os gastos da minha casa. Prefiro pagar parcelado mesmo que no total seja mais caro. As pessoas ficariam desapontadas comigo se soubessem que tenho dívida. Não tem problema ter dívida se eu sei que posso pagar. Dinheiro ajuda a ser feliz. Quem tem dinheiro tem autoridade sobre os outros. Dinheiro gera desconfiança entre pessoas. Recompensas espirituais são mais importantes que dinheiro. Dinheiro provoca angústia. O dinheiro constrói um mundo melhor. Quem tem dinheiro é valorizado socialmente. Com dinheiro eu investiria em pesquisas científicas. Ficarei completamente realizado quando atingir a situação que determinei pra mim. Quadro 3 – Escalas utilizadas, variáveis e médias dos respondentes. Fonte: Elaborado pelos autores Valores do Dinheiro Mulheres Para validação dos construtos, Flores e Vieira (2014) utilizaram a Análise Fatorial Confirmatória (AFC), adequada para todos os fatores abordados pelo estudo: percepção de risco, comportamento de risco, emoções, materialismo, endividamento e valores do dinheiro. Após, os autores construíram o modelo integrado, que une o modelo de mensuração e o modelo estrutural. A avaliação do modelo teórico foi realizada a partir dos índices de ajuste e da significância estatística dos coeficientes de regressão estimados pelo método da máxima verossimilhança. Os resultados da validação dos construtos indicam que o coeficiente qui quadrado (875,59)/graus de liberdade (350), em função da redução expressiva dos graus de liberdade apresentou um pequeno aumento (2,50), mas manteve-se ainda inferior a 3,00. Observa-se ainda que os demais índices de ajuste absolutos (GFI = 0,943; RMR = 0,053; RMSEA = 0,038) mantiveram os valores desejáveis. Quanto aos índices de ajuste comparativos (CFI = 0,945; NFI = 0,911 e NNFI = 0,936) nota-se que todos foram satisfatórios. As validações por fatores constam na Tabela 3 de Flores e Vieira (2014) e o modelo final está ilustrado na Figura 2. Figura 2 – Resultados finais do modelo proposto. Nota: END = endividamento; MAT = materialismo; EMO = emoções; DIN = valores do dinheiro; PR = percepção de risco; CR = comportamento de risco. Fonte: Flores e Vieira (2014) A Figura 2 demonstra o modelo final, com os fatores validados e respectivas variáveis formativas. A Tabela 1 ilustra os coeficientes padronizados do modelo. Tabela 1 – Coeficientes padronizados e significância das relações do modelo final proposto. Coeficientes Padronizados Relações entre os fatores Z e Sig MATERIALISMO <--- VALORES DO DINHEIRO 0,452 7,978*** COMPORTAMENTO DE RISCO <--- MATERIALISMO 0,263 5,870*** EMOÇÕES <--- VALORES DO DINHEIRO 0,229 4,000*** EMOÇÕES <--- MATERIALISMO -0,126 -2,528*** PERCEPÇÃO DE RISCO <--- MATERIALISMO -0,074 -2,074** ENDIVIDAMENTO <--- MATERIALISMO 0,172 3,228*** ENDIVIDAMENTO <--- VALORES DO DINHEIRO -0,199 -3,475*** ENDIVIDAMENTO <--- COMPORTAMENTO DE RISCO 0,300 6,162*** PERCEPÇÃO DE RISCO <--- EMOÇÕES 0,231 5,645*** ENDIVIDAMENTO <--- PERCEPÇÃO DE RISCO -0,233 -5,333*** -0,245 -4,909*** EMOÇÕES <--- ENDIVIDAMENTO *** significativo a 1% ** significativo a 5% Fonte: Flores e Vieira (2014) Destarte, procedeu-se a investigação da invariância entre os indivíduos do gênero masculino e feminino. O procedimento foi executado por meio do teste de diferença de qui-quadrado e da diferença de CFI entre dois modelos aninhados. A Tabela 2 apresenta os resultados dos testes de validação para a análise de invariância entre os grupos. Tabela 2 – Resultados dos testes de invariância entre os gêneros masculino e feminino Descrição dos modelos χ2 gl Δχ2 Δgl Significância estatística (p) CFI ΔCFI 1. Modelo livre 1303,973 700 ---0,937 -(masculino e feminino) 2. Equivalência das 1350,000 723 46,027 23 0,003 0,935 -0,002 cargas fatoriais 3. Equivalência dos 1359,085 734 55,112 34 0,012 0,935 0,000 pesos estruturais 4. Equivalência da 1366,319 740 62,346 40 0,013 0,935 0,000 covariância dos erros 5. Equivalência da 1459,150 785 155,178 85 0,000 0,930 -0,005 variância dos erros Nota: χ2 = qui-quadrado; gl = graus de liberdade; Δχ2 = diferença de qui-quadrado; Δgl = diferença em graus de liberdade. Fonte: Dados da pesquisa. A comparação do modelo livre (Modelo 1) com o modelo das cargas fatoriais fixas (Modelo 2) demonstrou que os pesos fatoriais, são variantes entre os grupos, ou seja, o modelo difere entre os gêneros, sendo necessário analisar as diferenças existentes. Sendo assim, verificou-se a razão crítica da diferença, que deve ser maior que 1,96. Analisando essas condições, foram encontradas seis variáveis que demonstram no modelo, variância entre os grupos. A Figura 3 mostra o modelo final integrado com os coeficientes padronizados e significância para o gênero masculino e feminino. Figura 3 – Modelo Final Integrado com coeficientes padronizados e significância para gênero masculino e feminino. Fonte: Elaborado pelos autores. Levando em consideração o modelo integrado entre os gêneros, buscou-se examinar as questões que diferem conforme o gênero, a fim de compreender o comportamento dos indivíduos diante dos fatores comportamentais e propensão ao endividamento. A Tabela 3 ilustra os resultados, apontando as questões e os respectivos fatores para o grupo de homens e o grupo de mulheres. Tabela 3 – Diferenças entre os gêneros masculino e feminino Variáveis Q83 (VALORES DO DINHEIRO) Q48 (COMPORTAMENTO DE RISCO) Q49 (EMOÇÕES) Q51 (EMOÇÕES) Q52 (EMOÇÕES) EMOÇÕES <-- ENDIVIDAMENTO *** significativo a 1% Fonte: Dados da pesquisa. Coeficientes Padronizados (Homens) 0,482 0,596 0,576 0,856 0,803 -0,149 Coeficientes Padronizados (Mulheres) 0,374 0,439 0,501 0,824 0,765 -0,305 Z e sig -1,99*** -2,21*** -2,01*** -2,29*** -2,19*** -2,46*** Ao comparar os resultados do modelo entre homens e mulheres, conclui-se que o construto emoções foi o que apresentou mais diferenças entre os grupos. Analisando especificamente as variáveis, nota-se que os homens se sentiriam mais envergonhados (Q49), se sentiriam mais deprimidos (Q51) e teriam seu sono afetado (Q52). Hira e Mugenda (2000) evidenciaram diferenças de gênero nas preocupações financeiras, sendo o percentual mais elevado entre as mulheres. Porém, analisando o efeito do dinheiro nas relações pessoais, os homens demonstraram maiores níveis que as mulheres, ou seja, relataram sofrer mais emoções em âmbito pessoal, corroborando aos resultados encontrados. No fator valores do dinheiro, questionou-se se quem tem dinheiro tem autoridade sobre os outros (Q83), sendo que os homens concordam com essa informação mais do que as mulheres. Esse resultado vai ao encontro das pesquisas de Lynn (1993), Lim e Teo (1997), Li-Ping Tang, Li-na Tang e Yazmeen Homaifar (2006), as quais indicam que os homens atribuem maior valor ao dinheiro que as mulheres e costumam conferir ao dinheiro o conceito de poder. Analisando o comportamento de risco, questionou-se a disposição dos homens e mulheres em emprestar para amigos e/ou familiar a maior parte do seu salário ou renda mensal (Q48). Observou-se que os homens (0,596) apresentam coeficientes padronizados mais elevados que os das mulheres (0,439), resultado que confirma o comportamento de risco mais agressivo e impulsivo dos homens (ZUCKERMAN, KUHLMAN, 2000; CHAPPLE, JOHNSON, 2007; MENDESDA-SILVA, NAKAMURA, MORAES, 2012). Neste entendimento, as diferenças expostas demonstram que os coeficientes estruturais diferem entre os gêneros, nos fatores constituintes do modelo, sendo os resultados do gênero masculino superiores aos do gênero feminino. No entanto, como exceção, a relação de endividamento e emoções é mais elevada nas mulheres, ou seja, as mulheres sentem mais emoções ao lidar com endividamento. O sinal contrário na relação pressupõe que as emoções negativas vivenciadas por altos índices de endividamento geram efeitos psicológicos e sociais. Com isso, altos níveis de emoções ruins irão reduzir a propensão ao endividamento e contribuir para o bem-estar financeiro. Desta forma, há indicativos de que as mulheres têm atitudes mais cuidadosas perante o dinheiro, são mais tensas e angustiadas, e tendem a pensar mais em seus gastos, sendo mais cautelosas do que os homens (MOURA, 2005). Além disso, as mulheres são mais predispostas a relatar emoções que os homens (HIRA, MUGENDA, 2000; HECKMAN, LIM, MONTALTO, 2014). Prosseguindo, buscou-se fixar os parâmetros para as relações apresentadas, a fim de verificar se o modelo se tornaria parcialmente invariante. A Tabela 4 apresenta os resultados encontrados após os testes. Tabela 4 – Resultados dos testes de invariância entre os gêneros masculino e feminino Descrição dos modelos χ2 1. Modelo livre (masculino e 1392,913 feminino) 2. Equivalência das cargas 1421,793 fatoriais Gl Δχ2 Δgl Significância estatística (p) CFI ΔCFI 707 -- -- -- 0,929 -- 725 28,880 18 0,050 0,928 -0,001 3. Equivalência dos pesos 1428,093 735 35,180 28 0,165 0,928 0,000 estruturais 4. Equivalência da covariância 1431,874 741 38,960 34 0,256 0,928 0,000 dos erros 5. Equivalência da variância 1524,960 786 132,047 79 0,000 0,923 -0,005 dos erros Nota: χ2 = qui-quadrado; gl = graus de liberdade; Δχ2 = diferença de qui-quadrado; Δgl = diferença em graus de liberdade. Fonte: Dados da pesquisa. Pode-se observar que ao fixar os parâmetros das relações expostas na Tabela 4, o modelo torna-se parcialmente invariante, devido a diferença não significativa no qui-quadrado. Conclui-se que o modelo se tornou equivalente para ambos os gêneros, ou seja, podemos distinguir o comportamento de homens e mulheres somente nas variáveis e relações que foram exploradas anteriormente. Nas demais evidências do modelo estrutural, ambos os gêneros possuem invariância. 5. Considerações Finais Os estudos sobre endividamento pessoal estão desenvolvendo-se ao longo dos anos, a fim de caracterizar aspectos objetivos e subjetivos vinculados a tomada de decisão dos indivíduos. No presente estudo buscou-se analisar a influência do gênero nos determinantes da propensão ao endividamento, através de uma pesquisa survey no município de Santa Maria, totalizando 1.046 respondentes. Para compreender a propensão ao endividamento e suas dimensões utilizou-se o modelo de Flores e Vieira (2014), os quais encontraram que a propensão ao endividamento pode ser constituída por fatores comportamentais como materialismo, risco, valores do dinheiro e emoções. Na avaliação das influências, os autores demonstraram que o endividamento é explicado pelos níveis de materialismo, valor do dinheiro, percepção e comportamento de risco. Além disso, as emoções (especialmente negativas) podem ser qualificadas conforme a propensão ao endividamento. Com isso, tendo como referência o modelo, analisou-se as diferenças nos grupos masculino e feminino. Neste sentido, a literatura tem explorado as relações de gênero nos fatores comportamentais, expondo nos estudos empíricos que os modelos podem variar de acordo com comportamentos específicos de homens e mulheres. Pode-se conjecturar que essas diferenças são baseadas em questões fisiológicas e de personalidade. No caso dos determinantes na propensão ao endividamento, o estudo demonstrou que os homens apresentam coeficientes mais elevados, sofrendo influências maiores nas emoções, comportamento de risco e valores do dinheiro. Geralmente, tendem a atribuir ao valor do dinheiro o status de poder e quando estão diante de problemas financeiros, refletem emoções negativas em seus relacionamentos pessoais. A única evidência que caracteriza um comportamento diferenciado nas mulheres refere-se as emoções negativas e ao endividamento, sendo as mesmas mais dispostas a elucidar os sentimentos diante de um cenário de dívidas. Sendo assim, conclui-se que o endividamento é um tema importante. As recentes crises econômicas têm configurado um novo perfil de consumidor, que se torna mais consumista e disposto a assumir novos riscos, como as dívidas. A oferta de crédito tem proporcionado o consumo a classes sociais que anteriormente eram excluídas. Desta maneira, estudos devem ser desenvolvidos a fim de identificar os principais aspectos que levam ao endividamento, avaliando as especificidades do gênero. Com isso, pode-se conhecer o comportamento dos homens e mulheres proporcionando desenvolvimento de ações para prevenir o endividamento e auxiliar os inadimplentes. Do ponto de vista organizacional, as empresas poderão adaptar o seu fluxo financeiro de acordo com o novo estilo de consumo e poupança. As instituições financeiras podem se beneficiar, tendo a possibilidade de construir modelos de concessão de crédito mais robustos, os quais salientem as questões socioeconômicas e demográficas, como por exemplo, o gênero. Referências: ACHTZIGER, Anja et al. 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