Pais e Filhos
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Pais e Filhos
BLOCO 3 – O USO DO CRÉDITO NA RELAÇÃO PAIS E FILHOS O consumo como moeda de troca entre pais e filhos: “Todo mundo tem, só eu que não vou ter”... “Se você me der, eu prometo que faço isso”... “Meus amigos vão rir de mim se eu for o único que não tiver”... É difícil encontrar pais ou mães que não tenham ouvido frases como essas. Mas uma coisa é ouvir, e outra, bem diferente, é concordar. Será que os pais costumam ceder à pressão imposta pelas crianças? Com que frequência? O SPC Brasil investigou a relação entre pais e filhos pelo viés do consumo, e descobriu que, no caso dos brasileiros, mais da metade dos pais já cedeu a apelos e chantagens dos filhos. O consumo, na verdade, opera como moeda de troca entre as duas partes. Para chegar a essas conclusões foram ouvidas 694 pessoas com mais de 18 anos, alfabetizadas, de todas as classes econômicas, nas 27 capitais brasileiras, entre 19 e 21 de março deste ano. A margem de erro é de 3,8 pontos percentuais, para um intervalo de confiança a 95%. Pais: mais da metade cede à pressão dos filhos Na pesquisa do SPC Brasil, 57% dos entrevistados disseram ter filhos, com média de duas crianças por pessoa. E quando perguntados sobre ceder à pressão e satisfazer a vontade dos filhos, mais da metade admite que sim: 52% das pessoas ouvidas afirmaram já ter comprado produtos e/ou serviços para os filhos, mesmo sabendo que essa atitude iria comprometer o orçamento. Os pais também foram questionados pelo SPC Brasil a respeito dos argumentos mais desafiadores, ao lidar com a pressão dos filhos. Para 22% dos entrevistados, o mais difícil são as negociações do tipo: “se você me der isso, eu prometo fazer aquilo”. Em segundo lugar vem a chantagem emocional, argumento mencionado por 16% da amostra. Nesse caso, os pais acabam cedendo para não se sentirem culpados, ou para não “ficar com dó” das crianças. Em terceiro lugar, entre os argumentos mais difíceis, vem a frase: “todo mundo tem e eu não”, citada por 11% da amostra. Outros 5% afirmam ser mais difícil resistir ao seguinte apelo: “meus colegas/amigos da escola vão rir de mim”. Em ambos os casos, mais uma vez, a culpa é o sentimento que move os pais, no momento de ceder. Finalmente, 4% dos entrevistados disseram que terminam por comprar um produto e/ou serviço a fim de não passar vergonha em público, evitando prolongar o choro e os gritos dos filhos (“birra”). O consumo de produtos baseado na culpa dos pais é assunto que vem sendo tratado em estudos de diversas áreas, como filosofia e sociologia. Um destes estudos 1, por exemplo, afirma que a compra de produtos solicitados pelos filhos representa, na verdade, a compra de certa paz. Paz por se livrar 1 Lipovetsky, Gilles. (2007). A felicidade paradoxal: ensaio sobre a sociedade de hiperconsumo. 2. reimpressão. Trad. Maria Lúcia Machado. São Paulo: Companhia das Letras. da culpa de longas ausências em função do trabalho e também paz por comprar uma suposta felicidade aos filhos. Para Zagury 2 , é preciso que os pais tenham em mente que não é saudável dar tudo o que os filhos desejam para se sentirem menos culpados e vai mais além: a frustação em certa medida é saudável, pois com ela as crianças começam a entender que é preciso lutar para conquistar alguma coisa. Seguindo esta mesma linha, Maldonado3 explora o poder do “Não Positivo”, ao defender que somente impondo limites é possível construir uma relação saudável, inclusive com o consumo. Embalados ou não pela culpa, o fato é que os pais dão aos filhos, hoje, muito mais poder de decisão nas compras. Estudos 4 mostram que as crianças e os adolescentes não são mais “cidadãos em construção” relegados ao segundo plano pelo mercado, mas sim “novos consumidores”, com voz ativa e grande poder de persuasão. Essa influência não se restringe a produtos infantis5, mas se estende a diversos itens de consumo familiares. Essas mudanças na relação familiar fazem com que a autoridade dos pais ceda cada vez mais espaço para negociações com os filhos6. No novo cenário das relações entre pais e filhos o consumo se constitui como moeda de troca. Peço para Luiza informar qual o formato de citação que ela prefere, pois mesmo dentro da ABNT, há padrões diversos aceitos – é uma questão de gosto! Preciso só saber qual ela prefere! 2 http://meubolsofeliz.com.br/consumismo-como-enfrentar/ http://www.mtmaldonado.com.br/artigos/nao_positivo.php 4 Castro, Lúcia Rabelo. (org). (1998). Infância e adolescência na cultura do consumo. Engº Paulo de Frontin/RJ: NAU Editora. Sampaio, Inês Silva Vittorino. (2000). Televisão, publicidade e infância. São Paulo: Annablume. 5 Karsaklian, Eliane. (2004). Comportamento do Consumidor. São Paulo: Atlas. 6 MONTIGNEAUX, Nicolas. Público-alvo: crianças. A força dos personagens e do marketing para falar com o consumidor infantil. Rio de Janeiro: Campus, 2003. 3 Perfil de compra: eletrônicos concentram maior parte dos gastos dos pais. O SPC Brasil perguntou aos pais o quanto eles gastaram com os filhos nos últimos três meses, na compra dos seguintes itens e serviços: eletrônicos, roupas, lazer/passeio, calçados, e brinquedos. Em primeiro lugar da lista ficaram os eletrônicos (jogos, celulares, notebooks), com média de R$ 236 gastos. Logo depois aparecem as roupas (R$ 226), lazer/passeio (R$ 215), calçados (R$ 137) e, em último lugar, os brinquedos (R$ 56). Pais são gastões, mas consideram que seus filhos têm educação financeira. Aqui não era para copiar este título, pedimos sugestões. Aguardamos proposta Estudos mostram 7 que o modo como os pais lidam com suas finanças serve de modelo para os filhos. Mais importante do que conversar sobre o assunto é ter atitudes conscientes, em relação aos hábitos de consumo no dia a dia: economizando e planejando o consumo, por exemplo. A pesquisa do SPC mostra que os pais não estão, no geral, dando bom exemplo aos filhos. Entre os entrevistados que têm filhos, 76% já ficaram inadimplentes, e 53% compraram alguma coisa sem precisar, por impulso, nos últimos três meses. Além disso, 74% não reserva uma parte dos ganhos mensais para poupança e 37% está pagando atualmente cinco ou mais parcelas ao mesmo tempo, entre compras parceladas no cartão de crédito, crediário, cheque pré-datado e empréstimos. 7 MANFREDINI, ANDREZA MARIA NEVES. Pais e Filhos: um estudo da educação financeira em famílias na fase de aquisição. 2007 Entre os entrevistados que têm filhos... Sim Não Já ficou inadimplente (com o nome sujo) alguma vez? 76% 24% Comprou alguma coisa por impulso nos últimos 3 meses? 53% 47% Quando você calcula o valor que tem para gastar no mês, você reserva uma parte para guardar (poupança, aplicações etc?) 26% 74% Juddie refazer layout tabela Pais que têm dificuldades de lidar com dinheiro dificilmente terão um pensamento crítico em relação a gastos excessivos dos filhos. Não surpreende, portanto, que a maioria dos pais avalie que seus filhos tem bom comportamento financeiro. 63% afirmam que os filhos são capazes de colaborar com as finanças da casa, se necessário. Outros 67% dizem que os filhos ajudam a economizar, quando é preciso, para que a família possa realizar um sonho, fazer uma viagem ou mesmo comprar uma TV. É interessante notar que não há diferença entre classes sociais, neste quesito: considerando apenas os entrevistados da classe A/B, 66% afirmam contar com a colaboração dos filhos; entre a classe C/D/E o percentual é de 68%. Não se pode, daí, afirmar que os filhos realmente sejam colaborativos; apenas, que os pais, eles próprios consumidores com pouco planejamento financeiro, tenham uma visão positiva dos próprios filhos. Conclusão A pesquisa realizada pelo SPC Brasil constatou que mais da metade dos pais entrevistados (52%) já cedeu à pressão dos filhos para adquirir um produto ou serviço. No caso, satisfazer às vontades das crianças e adolescentes tem a ver com chantagem emocional, em argumentos do tipo: “me dê isso e eu prometo fazer aquilo”; “meus amigos rirão de mim se eu não tiver”. Observa-se, portanto, que o consumo acaba por configurar-se como moeda de troca entre pais e filhos. As despesas com eletrônicos (jogos, celulares e notebooks) estão em primeiro lugar, quando considerados os gastos dos pais com vários tipos de produtos, nos últimos três meses. Em seguida, vêm as despesas com lazer, roupas e calçados e brinquedos. Com mais da metade dos pais admitindo ceder à pressão dos filhos, pode-se concluir que a tarefa de formar consumidores mais conscientes não é nada simples. Os pais não têm educação financeira, compram por impulso e sequer percebem que os filhos seguem o mesmo caminho. Ao contrário, até acham que os filhos são colaborativos nas finanças. Entretanto, não é comprando tudo que os filhos querem que os pais conseguirão criar adultos preparados para lidar com o dinheiro.
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