o verbo: `não gosto de rótulos nem de estilos predeterminados`
Transcrição
o verbo: `não gosto de rótulos nem de estilos predeterminados`
96 casa vvd vincent van duysen Texto e fotos Manolo Yllera Tradução Cecília Floresta arquiteto vincent van duysen reformula sua casa de 1870, na bélgica, e solta o verbo: ‘não gosto de rótulos nem de estilos predeterminados’ diálogos 97 98 casa vvd vincent van duysen 99 ‘odeio o minimalismo, que é mais uma moda, já que não nasce da simplicidade’ Nunca senti um fracasso tão próximo. Percebi isso assim que entrei: “Estou em uma casa que é uma armadilha”. Esse protótipo – escasso – de casa tão especial permite que qualquer foto tirada fique bonita. Mas quando você se detém para analisá-la, ela não consegue transmitir a atmosfera, a magia do espaço nem a intenção do arquiteto. Como fotografar a delicadeza dessa luz que penetra por seu pátio central e inunda com suavidade os espaços adjacentes? Como explicar a distribuição e a conexão tão engenhosa e acertada? E o mais importante: como transmitir a paz que se respira, a sensação de bem-estar e equilíbrio? Logo depois de visitarmos juntos a casa, seu proprietário ratificou, para meu medo: “Esta casa é muito difícil de ser fotografada, ninguém soube captar o que vejo”. Agradeci sua desconfiança, já que pelo menos estávamos de acordo em alguma coisa – era um desafio. A casa em questão fica na Antuérpia e pertence ao arquiteto belga Vincent Van Duysen. Antes um antigo cartório, o espaço foi reestruturado para permitir a predominância da luz natural. “Nesta casa de 1870, tratei de dialogar com ela mantendo minha essência. Acho que dá para perceber nas fotos essa convivência harmoniosa de estilos. Ainda que, por outro lado, eu não goste de rótulos nem de estilos predeterminados. Odeio o minimalismo, que é mais uma moda, já que não nasce da simplicidade. E também fujo de estilos previsíveis. Nesta casa, persegui a serenidade, a elegância. A entrada da luz natural foi bastante estudada. O resultado é contemporâneo e também muito espiritual.” Arquiteto de formação, Vincent faz design de interiores e também projeta móveis. “A maneira pela qual eu me aproximo da decoração começa pelo espaço, talvez pela minha formação e pelo fato de que os critérios por meio dos quais escolho ou realizo um desenho também são muito arquitetônicos, buscando jogos de linhas e formas geométricas. Procuro também um diálogo entre os móveis e a arquitetura na qual estão introduzidos. Não quero um móvel que esteja na moda ou que fale por si mesmo.” Gosto de escutar Vincent. Seu discurso mastigado, ruminado por horas e horas, é compacto e acertado, igual à sua casa. “Minha visão como arquiteto presta muita atenção à pele de tudo que utilizo. Me interessam muito os jogos de texturas, geralmente naturais: pedra, madeira, algodão. Me interessa muito a sua dimensão tátil, a qual, inclusive, se percebe também com a vista.” De volta ao dilema de transportar para as imagens as palavras e as intenções do arquiteto, sempre que você enquadra com a máquina, sofre com a escolha e algo fica de fora – um canto precioso que nunca será visto. Nessa casa, as dúvidas foram horríveis. A menos que Vincent tenha sido extremamente educado, parece que as fotos lhe agradaram muito. Luz natural Na casa de 1870, impera a luz natural, que realça o jogo de texturas entre a madeira do piso e dos móveis. Ao lado, mesa projetada por Vincent Van Duysen e obra do artista japonês Tadashi Kawamata. Nas páginas anteriores, a sala de estar com sofás de Axel Vervoordt. 100 casa vvd vincent van duysen ‘minha visão como arquiteto presta muita atenção à pele do que utilizo. me interessam muito os jogos de texturas: pedra, madeira, algodão’ Arquiteto Vincent Van Duysen vincentvanduysen.com Local Antuérpia, Bélgica Áreas íntimas Acima, à esquerda, a sala íntima, com almofadas de tecidos antigos de Istambul e fotografia de Dirk Braeckman. Na página ao lado, quarto principal e banheira de mármore de Carrara. 101