Utilização do Radar de Penetração nos Solos (GPR) na detecção
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Utilização do Radar de Penetração nos Solos (GPR) na detecção
Centro Geofísica de Évora Departamento de Física Utilização do Radar de Penetração nos Solos (GPR) na detecção de estruturas no âmbito nas Ciências Forenses Ground Penetrating Radar for Forensic Applications Vânia Lopes Lourenço Lic. Física – Departamento de Física da Universidade de Évora Coordenador: Prof. Bento Caldeira (1,2) (1) Centro de Geofísica de Évora e Departamento de Física, Universidade de Évora (2) Departamento de Física da Universidade de Évora Utilização do GPR na detecção de estruturas no âmbito nas Ciências Forenses Agradecimentos Para a elaboração deste trabalho agradeço à FCT pela bolsa BII concedida; ao projecto SISMOD/LISMOT PTDC/CTE-GIN/82704/2006 e ao CGE pelo acolhimento e cedência do equipamento de Georadar; à Sociedade Agrícola ZEA pela disponibilização do campo de ensaios e abertura da cova; ao Hospital Veterinário da Universidade de Évora pela cedência dos cadáveres dos porcos; ao Professor Bento Caldeira da Universidade de Évora que sempre esteve disponível para ajudar apoiar neste projecto de investigação; aos Professores Mourad Bezzeghoud e José Borges pelo incentivo, ideias que muito contribuíram para enriquecer o projecto; ao Engenheiro João P. Rocha por toda ajuda na preparação dos ensaios e interpretação dos dados; aos auxiliares dos laboratórios de Física (Sérgio Aranha e Teresa Foito) da Universidade de Évora pela ajuda de obtenção de alguns materiais utilizados laboratorialmente no processo da investigação; e a todos aqueles que sempre estiveram comigo e me apoiaram nos bons e maus momentos, conforme o projecto ia avançando. -2- Utilização do GPR na detecção de estruturas no âmbito nas Ciências Forenses Índice INTRODUÇÃO ------------------------------------------------------------------------------- 4 GEORADAR(GPR) --- ---------------------------------------------------------------------- 6 FUNDAMENTOS ------------------------------------------------------------------- 6 APLICAÇÕES FORENSE --------------------------------------------------------- 11 SITUAÇÕES ESTUDADAS -------------------------------------------------------------- 13 METODOLOGIA E EQUIPAMENTO------------------------------------------- 13 CARACTERIZAÇÃO DE ENSAIOS ---------------------------------------------14 ENSAIOS LABORATORIAIS------------------------------------------------ 14 ENSAIOS DE CAMPO ------------------------------------------------------ 17 SEPULTURA ARMAS ---------------------------------------------------------- 19 --------------------------------------------------------------- 20 “PISTOLA” ---------------------------------------------------- 20 “BAZUCA” ---------------------------------------------------- 21 TRATAMENTO DE DADOS E A ANÁLISE DOS RESULTADOS --------------22 DISCUSSÃO E CONCLUSÃO ------------------------------------------------------------24 BIBLIOGRAFIA -----------------------------------------------------------------------------28 ANEXOS ---------------------------------------------------------------------------------------29 Anexo I ---------------------------------------------------------------------------------30 Anexo II---------------------------------------------------------------------------------31 Anexo III--------------------------------------------------------------------------------34 -3- Utilização do GPR na detecção de estruturas no âmbito nas Ciências Forenses Introdução A ciência forense surge na investigação criminal especializada com o objectivo de pesquisar indícios que possam conduzir às provas finais depois de submetidos a exames laboratoriais. A sua aplicação justifica-se porque parte dos indícios encontrados durante os trabalhos de campo não são visíveis a olho nu, e/ou precisam de algum tratamento. [12] Os criminosos apresentam esquemas cada vez mais engenhosos de fuga à lei e ao dever cívico, que as novas forças policiais (criminalistas), de modo a submetê-los ao poder judicial, precisam de desmontar, idealizando novos métodos de investigação. Actualmente, apesar da sofisticação usada na camuflagem de indícios pelos criminosos, as forças policiais, mercê da utilização de novas técnicas desenvolvidas, consegue malograr essas as tentativas de despiste, encontrando indícios, como contactos estabelecidos, lugares frequentados, objectos manuseados, etc., servindo estes, após os devidos tratamentos, como provas, utilizadas posteriormente para provar ou refutar a presença de um suspeito. [12] Um dos campos da investigação forense prende-se com a localização de provas ocultadas no subsolo onde as buscas através de escavações são inviáveis por várias razões (envolverem estruturas complexas, risco de destruir evidências, dimensão das áreas de investigação...). A investigação em Geofísica Forense tem por missão localizar, identificar, recolher e catalogar essas provas (físicas) com a finalidade de as apresentar em tribunal. Qualquer método não invasivo, capaz de reduzir o tempo gasto em pesquisas e escavações, que aumente a probabilidade da localização física das provas, deve ser de primordial interesse para a aplicação da lei na comunidade. [11] Um dos métodos que se enquadra nesse campo é o GPR (Ground Penetrating Radar), que ultimamente tem vindo a dar provas da sua eficácia. Este método é utilizado numa larga gama de aplicações, tais como [1]: • determinação e localização (incluindo profundidade) de materiais de metal e plástico, condutas, cabos, e outros objectos, sendo capaz de -4- Utilização do GPR na detecção de estruturas no âmbito nas Ciências Forenses determinar a sua orientação, tamanho e forma (por exemplo, barris e fundações); • detecção de cavidades de massas rochosas; investigação das estruturas de solos e sedimentos, distinguindo entre áreas homogéneas e não homogéneas; • mapeamento de sedimentos de lagos e leitos de rio; • investigação geológica dos depósitos glaciares; • localização de falhas, juntas, e fissuras na rocha consolidada; • localização de lentes de argila, cunhas de gelo, pequenos depósitos de turfa, etc; • determinação da profundidade da água (tabela do cascalho, areia e arenito); • mapeamento do aquífero base; • determinação da estrutura rochosa em minas de sal a serem investigadas para utilização como um depósito de resíduos; • detecção e controlo da contaminação de plumas, a estimativa do teor de humidade do solo; • investigações em “permafrost” (congelação permanente, solo abaixo 0º); • inquéritos de glaciologia (por exemplo, mapeamento da espessura do gelo), identificação de minas terrestres e munições não deflagradas enterradas (UXO); • análises rodoviárias; • ensaios e integridade da humidade de materiais de construção; • ensaios de cimento e verificar a localização das barras reforço ( "Varões para betão") no mesmo, e localização de estruturas e objectos ocultos antes e / ou entre escavações arqueológicas. Neste trabalho, utilizando a informação disponível sobre todas estas áreas de aplicação, procurámos estudar a aplicabilidade da técnica GPR em situações semelhantes às encontradas na investigação forense. Para isso concebemos e desenvolvemos um conjunto de situações experimentais que envolveram o enterramento de artefactos metálicos e cadáveres de animais para posterior detecção por GPR mediante diferentes condições de terreno e das amostras enterradas. -5- Utilização do GPR na detecção de estruturas no âmbito nas Ciências Forenses GeoRadar (GPR) Fundamentos: O GPR é actualmente o método geofísico activo mais indicado para análise da estrutura em superfícies planas, apresentando excelentes resultados sobre muitas características/tipos geológicos. Diferencia-se dos demais métodos geofísicos pela visualização detalhada das camadas próximas da superfície, possibilitada pelas ondas electromagnéticas utilizadas. Outra característica que destaca este método geofísico é a enorme versatilidade operacional (equipamento leve e portátil) que permite a cobertura de grandes áreas num curto intervalo de tempo, visualizando desta forma uma amostragem espacial bastante detalhada. [ 4] A tecnologia GPR é constituída por um gerador que emite impulsos de energia electromagnética para o subsolo através de uma antena transmissora (Tx); esse sinal ao penetrar no subsolo sofre refracção, e também reflexão, ao atingir as descontinuidades presentes no meio de propagação. A radiação reflectida é depois captada ao retornar à superfície por uma antena receptora (Rx). Tal como na sísmica de reflexão, a informação que se obtém das estruturas é obtida da interpretação do tempo que o sinal demora a ser detectado após ter sido reflectido numa interface. [ 4] -6- Utilização do GPR na detecção de estruturas no âmbito nas Ciências Forenses Figura 1 - Diagrama ilustrando a aquisição de dados GPR O GPR pode operar com diversas frequências, a cada uma dessas frequências é correspondida uma antena. A escolha da antena a utilizar depende do objectivo do levantamento (dimensões e profundidade do alvo) assim como das condições geológicas locais. Sinais de alta - frequência produzem alta resolução com pouca penetração, ocorrendo o inverso para sinais de baixa frequência (tabela 1). Tabela 1 – Opções de Antenas [13] Frequência 2.6 GHz Inspecções em Cimento Profundidade de penetração aproximada (m) 0 – 0.30 1.5 / 1.6 GHz Inspecções em Cimento 0 – 0.50 900 MHz Inspecções em Cimento, Identificação de vazios, Solos superficiais Engenharia, Meio Ambiente, Identificação de vazios, Arqueologia Geologia, Engenharia, Meio Ambiente, Arqueologia 0-1 Geologia, Engenharia, Mineração, Meio Ambiente, Arqueologia Geologia, Meio Ambiente, Mineração, Arqueologia 0–9 400 MHz 270 MHz 200 MHz 100 MHz 16 – 80 MHz Aplicações Geologia 0-4 0-6 0 - 15 0 - 50 As propriedades electromagnéticas dos materiais, relacionadas com a sua composição e teor de água, controlam tanto a velocidade de propagação das ondas electromagnéticas (de rádio) como a sua atenuação em materiais. [9] A velocidade das ondas de rádio (Vm) em qualquer meio é função da velocidade da luz no vazio (c = 0.3 m/ns), da constante dieléctrica relativa (K – valores tabelados, ver tabela 2), e da permeabilidade magnética relativa (µ =1, para materiais não magnéticos). Vm = c /{ (K µ/2)[(1+P2)+1]}1/2 -7- (1) Utilização do GPR na detecção de estruturas no âmbito nas Ciências Forenses Em que P é o factor de perda, de tal forma que P = σ/ωε; σ é a condutividade, ω=2πf onde f é a frequência e ε é a permissividade do meio, ε = K ε0, onde ε0 é a permissividade do vazio (8.854 x 10 -12 F/m). Em materiais de perdas baixas, P ≈ 0, a velocidade das ondas de rádio, Vm = c / √K. (2) A aplicabilidade dos métodos de radar em determinado local depende da permeabilidade1 do terreno para permitir a transmissão das ondas electromagnéticas de GPR. [9] 1 Permeabilidade – Sendo a constante dieléctrica relativa da água elevada (81) relativamente à da rocha seca, uma pequena quantidade de água pode aumentar a permeabilidade da rocha. Ou seja, a permeabilidade é a capacidade de não receber água. -8- Utilização do GPR na detecção de estruturas no âmbito nas Ciências Forenses Tabela 2 – Tabela da constante dieléctrica relativa e das velocidades das ondas electromagnéticas usadas pelo GPR para uma gama de materiais geológicos e sintéticos. [9] Material Const. Diel. Relativa - K Velocidade (mm/ns) Ar 1 300 Água de nascente 81 33 Água do mar 81 33 Neve Polar 1.4 - 3 194 – 252 Gelo Polar 3 – 3.15 168 Gelo Temperado (Temperate ice) 3.2 167 Gelo Puro 3.2 167 4 150 2.5 – 8 78 – 157 1–8 106 – 300 10 95 3–6 120 – 170 25 – 30 55 – 60 10 95 Argila (molhada) 8 – 15 86 – 110 Solo argiloso seco 3 173 Pântano 12 86 Terra Agrícola 15 77 Terra Pastoral 13 83 Solo ameno 16 75 Granito 5–8 106 – 120 Pedra Calcaria 7–9 106 – 113 6.8 – 8 106 – 115 Basalto (molhado) 8 106 Xisto (molhado) 7 113 Arenito (molhado) 6 112 Carvão 4–5 134 – 150 Quartzo 4.3 145 Cimento 6 – 30 55 – 112 Asfalto 3–5 134 – 173 Lago gelado Mar gelado (Sea ice) “Permafrost” ( solo abaixo dos 0º) Areia seca da costa Areia (seca) Areia (molhada) Sedimentos (molhados) Dolomite -9- Utilização do GPR na detecção de estruturas no âmbito nas Ciências Forenses PVC, Poliésteres, Epoxy 3 173 É o contraste do valor da constante dieléctrica entre camadas adjacentes que determina a reflexão da radiação electromagnética incidente. Quanto maior for esse contraste, maior será a quantidade de energia electromagnética aí reflectida. [9] Em grande parte das utilizações de GPR, e também neste estudo, os dados são adquiridos mediante uma técnica denominada por perfil de reflexão de radar (Radar reflection profiling), em que uma ou mais antenas de radar são deslocadas ao longo da superfície do solo em simultâneo. O equipamento faz leituras dos tempos de percurso até ao reflector, exibidos no eixo vertical; a distância percorrida pela antena é mostrada no eixo horizontal. [9] A rapidez com que o levantamento pode ser conduzido permite uma excelente cobertura espacial, produzindo imagens com maior ou menor resolução (esta resolução depende da capacidade de penetração da antena, tabela 1) dependendo da antena usada. Qualquer objecto detectado no perfil surge, na representação digital dos respectivos tempos de percurso, sob a forma de uma meia hipérbole (anomalia). Figura 2 – Ilustração de como se obtém a imagem de uma hipérbole (anomalia) quando é feita aquisição de dados. [17] O tempo das reflexões representado numa secção pode ser convertido em profundidade se se conhecer a velocidade da onda electromagnética no meio de propagação. Este procedimento para ser feito com um bom ajuste, envolve a aplicação de um algoritmo que se denomina migração. [4] - 10 - Utilização do GPR na detecção de estruturas no âmbito nas Ciências Forenses Aplicação Forense: A polícia e os serviços de aplicação da lei frequentemente têm necessidade de realizar pesquisas que envolvem a localização de objectos ocultos ou enterrados, tais como restos humanos (sepulturas clandestinas), armas, e drogas. [2] A extensão da pesquisa irá determinar os potenciais custos a suportar. Por exemplo, se a pesquisa é para um único cadáver humano num jardim típico suburbano, vai exigir a investigação numa diversidade de locais. Um jardim pode conter canteiros, relvado, estruturas construídas solo com revestimento, pátios, caminhos, etc. A pesquisa irá exigir que todos estes potenciais esconderijos sejam investigados. A polícia e os investigadores criminais dispõem de um certo número de métodos que podem ser empregues para ajudar a diminuir os sítios a serem escavados; incluem cães (conhecidos como cães cadáveres), arqueólogos forenses usando outras técnicas geofísicas e as provas iniciais obtidas. Geralmente são métodos úteis para usar sobre solos soltos, mas, em superfícies compactas, tal como cimento, são de pouca ajuda pois, na maioria dos casos, é necessária uma completa escavação. O local deve ser cuidadosamente escavado, e caso nada seja encontrado o jardim tem que ser reposto. [2] O GPR é um meio para a realização rápida das investigações de subsolo através de um método não destrutivo, que pode aliviar a necessidade de realizar extensas e dispendiosas escavações. Em mãos experientes, o GPR pode ser usado para pesquisar e localizar os objectos típicos procurados pelos investigadores forenses. [2] Contrariamente à maioria das utilizações em que o GPR é aplicado, onde as assinaturas do radar são bem definidas, sob a forma de hipérboles como atrás foi referido, as assinaturas do radar em alvos forenses são variadas, devido à grande variedade de cenários e objectivos, que nunca são os mesmos. No entanto, um operador com experiência irá acostumar-se aos padrões gerais dentro das imagens do radar.[2] No caso da utilização para procura de cadáveres deve ser salientado que o GPR não pode fornecer uma imagem nítida do corpo (cadáver). É comum ouvir-se e ler-se nos meios de comunicação social, quando se referem a utilização do GPR nalguma investigação forense, descrições de imagens maravilhosamente nítidas de restos ósseos "a sorrir" ao operador. Isto é um disparate. O GPR é simplesmente mais - 11 - Utilização do GPR na detecção de estruturas no âmbito nas Ciências Forenses uma ferramenta, que exige cuidado e utilização qualificada. No entanto, pode ser uma forma muito útil e rentável para pesquisar locais, reduzindo as escavações desnecessárias. [2] - 12 - Utilização do GPR na detecção de estruturas no âmbito nas Ciências Forenses Situações Estudadas Metodologia e equipamento: Com este trabalho, pretende-se estudar as potencialidades do GPR no âmbito da investigação forense, mais concretamente na procura de cadáveres e armas. Atendendo à reduzida base de conhecimento que detínhamos sobre a técnica no princípio do projecto, foi necessário desenvolver uma metodologia que contemplasse essa falha. Assim, a fase inicial foi delineada de forma a permitir ganhar experiência na utilização do método geofísico GPR, tanto a nível das técnicas de aquisição de dados, como de leitura e tratamento desses dados para obtenção de resultados úteis no âmbito da investigação forense. Por fim planearam-se e desenvolveram-se um conjunto de ensaios com situações próximas da realidade onde o conhecimento adquirido foi aplicado para produzir resultados. O equipamento usado foi um sistema GPR, SIR System-3000 (equipamento da GSSI), com as antenas assinaladas na tabela 3, tudo disponibilizado pelo Centro de Geofísica de Évora (CGE). O tratamento dos dados foi feito com a utilização do software RADAN 6.5. Tabela 3 – Antenas adquiridas pelo CGE. (Só foram usadas as duas primeiras antenas na investigação) Modelo Série Frequência Profundidade Aplicações (aproximadamente) 5100 1573 1,5/1,6 GHz 0,5 m 5103 A 0373 400 MHz 4m Inspecções em Cimento Engenharia, meio ambiente, Identificação de vazios, arqueologia 5106 A 0102 200 MHz 7m Geologia, mineração - 13 - ambiente, Utilização do GPR na detecção de estruturas no âmbito nas Ciências Forenses Assim, para conhecer o aparelho e ganhar experiência na aquisição dos dados, foram planeados e realizados dois conjuntos de ensaios: 1) Laboratoriais - onde se procurou criar um meio experimental ideal e de fácil manuseamento; 2) Campo - onde foram criadas situações semelhantes às encontradas na prática forense. Caracterização dos ensaios: Ensaios Laboratoriais Os ensaios laboratoriais foram feitos sobre uma estrutura de areia da praia, depositada no interior de uma caixa acrílica transparente com aproximadamente 45cm de comprimento, 25cm de largura e 25cm de altura. No interior da estrutura de areia foi enterrado um cilindro metálico com cerca de 5cm de diâmetro e massa de 1Kg. Devido às reduzidas dimensões da caixa e à baixa profundidade a que o cilindro pode ser enterrado, optámos por utilizar a antena de 1.5/1.6 GHz (ver figura 3). a) b) c) Figura 3 – Experiência laboratorial. a) Cilindro utilizado, b) caixa de acrílico com cilindro metálico enterrado, c) Panorâmica de todo o método experimental. - 14 - Utilização do GPR na detecção de estruturas no âmbito nas Ciências Forenses Figura 4 – Fazendo aquisição de dados no laboratório As figuras 3.b e 4 mostram a estrutura criada e o cilindro utilizado. A figura 5.a mostra uma fotografia do ecrã do GPR no momento da aquisição de dados sobre a estrutura descrita, com o cilindro enterrado a 7cm da superfície, conforme mostrado nas figuras 3 e 4. É uma imagem obtida sem qualquer tratamento. A figura 5.b corresponde a uma imagem obtida com os mesmos dados mas tratados com o software RADAN 6.5. Como se pode observar, esta imagem embora ainda com um tratamento incompleto que consistiu em aplicar deconvolução e uma boa escolha de cores de contraste bem como alteração do ganho, permite já o reconhecimento com uma boa formação do objecto escondido. As imagens “fantasma” do cilindro que se encontram nos níveis inferiores da figura correspondem a interferências que podem ser eliminadas com a aplicação dos filtros adequados. a) b) Figura 5 – a) Dados no GPR em bruto, b) Dados tratados em RADAN da imagem a). - 15 - Utilização do GPR na detecção de estruturas no âmbito nas Ciências Forenses Foram ensaiadas múltiplas configurações do equipamento tendo em vista a obtenção da aquisição de dados com melhor informação, e conhecer a melhor resposta que este oferecia (figura 2 e 5). Para testar a dependência do teor em água, começamos por usar a areia molhada da praia, e à medida que o tempo passava e a areia ia secando, analisarmos as alterações das leituras. Quando a areia se encontra molhada a imagem apresenta um nível de perturbação muito superior que nas situações ensaiadas com areia seca. Estas perturbações que se manifestam pela existência de um alargamento das zonas de contraste torna essas zonas algo indefinidas. Quanto mais seca a areia está, se bem que o contraste seja menor, há uma melhor definição dos contornos do objecto e consequentemente uma melhor correspondência entre a posição real do objecto e a posição revelada pela imagem. Estas diferenças devem-se às alterações da constante dieléctrica produzidas em função no teor de água na areia. a) b) c) Figura 6 – a) garrafas que foram enterradas no aquário, para estudo da aquisição de dados em diferentes meios; b) aquário com garrafa enterrada e areia da costa seca; c) aquário com a areia molhada. A grande importância da constante dieléctrica deve-se ao facto de ela ser um parâmetro que determina o cálculo das profundidades a que se encontram os reflectores, neste caso o nosso objecto. Por isso inicialmente quando enterramos o objecto fazemo-lo de forma a conhecermos com precisão a sua posição (colocamo-lo junto do vidro para que possamos medir a profundidade). Como o aquário estava em cima de uma mesa fomos arranjar um novo objecto que inicialmente passávamos por debaixo do aquário a fim de conseguirmos ter uma leitura no aparelho e ficarmos a conhecer o limite inferior do aquário na imagem obtida. As perturbações apresentadas por baixo do cilindro que a figura 5 mostra devem-se ao ar. Assim sabendo a leitura - 16 - Utilização do GPR na detecção de estruturas no âmbito nas Ciências Forenses após o termino do aquário e a profundidade do objecto, pela tabela 2 que nos oferece os valores aproximados da constante dieléctrica fomos então alterar estes valores até conseguirmos um bom ajuste entre a profundidade medida com o GPR e o valor real a que o reflector se encontra. Uma constante dieléctrica inadequada devolve medidas erradas para as profundidades dos objectos. Como adiante se irá analisar em mais pormenor, as imagens dos ensaios de campo levantaram dúvidas relativas ao surgimento de manchas que sugeriam a existência de líquidos (ver figura AIII.5, perfil 2, anexo III). Para investigar esta hipótese resolveu-se levar a cabo mais um conjunto de ensaios laboratoriais, desta vez usando amostras que envolvem a presença ou ausência de água. Assim, foram enterradas garrafas de plástico, que alternadamente foram cheias de água, gelo e ar, materiais de constante dieléctrica diferente (consultar tabela 2). Os resultados destes ensaios (ver figura AI.1, anexo I) levaram-nos a concluir que a anomalia verificada nos ensaios de campo se devia a uma concentração de fluidos, provavelmente libertados da decomposição dos animais e que devido à impermeabilização própria do terreno estes fluidos se tenham acumulado naquele local. Ensaios de Campo Depois dos ensaios de laboratório, onde tivemos a oportunidade de treinar a utilização da técnica de aquisição e tratamento de dados assim como ganhar sensibilidade à configuração do aparelho nas diversas condições de operação, começamos então com a investigação de campo, a investigação forense propriamente dita, para localização de cadáveres e de armas. Para testar a sua utilização com cadáveres em diferentes fases de decomposição, decidimos usar dois cadáveres de porco. A razão desta escolha reside no facto da constituição dos seus tecidos biológicos de superfície ter um comportamento bastante similar ao do corpo humano [10]. Também foram preparadas situações que simulam armas enterradas. Tanto num caso como no outro o local de estudo foi a Herdade da Mitra, pertencente á Universidade Évora (figura 7), em terreno identificado pela geologia com a designação de granito alterado. - 17 - Utilização do GPR na detecção de estruturas no âmbito nas Ciências Forenses Figura 7 – Na esquerda: mapa de satélite do campo experimental [Google Earth, 2008]; na direita: mapeamento da distribuição dos objectos enterrados no terreno. A primeira fase deste trabalho de campo correspondeu ao reconhecimento do terreno, à escolha do sítio e sua marcação para escavação (figuras 8). Após a escolha foi feita uma primeira leitura com GPR no local escolhido para o enterramento dos porcos. Seguidamente, uma retroescavadora abriu a cova com uma profundidade de 1,30m. a) b) c) Figura 8 – Marcação do terreno: a) Colocação de estacas, b) Medição do sitio das estacas (arma), c) demarcação do sitio dos porcos (sus domesticus). Ponto de referência a árvore. Dias mais tarde foram enterrados os porcos, cedidos pelo hospital veterinário após experiencias de laparoscopia na sequência das quais os animais tiveram que ser abatidos. Uma vez que a profundidade de 1,30m a que a cova foi aberta era demasiada tendo em vista um cenário de sepultura clandestina, colocámos alguma terra antes de - 18 - Utilização do GPR na detecção de estruturas no âmbito nas Ciências Forenses enterrar os porcos, ficando assim com uma profundidade aproximada de 1,15m à qual os enterramos (figura 9). Para a aquisição de dados nesta experiência foi seleccionada a antena de 400MHz, devido a ter como alcance padrão máximo de 4m (Tabela 3) e ser a que nos dá garantia de obtenção de melhores imagens face às condições experimentais: alcance pretendido e dimensão dos objectos em análise. No caso dos porcos foi definido um programa de leituras nos mesmos perfis, durante as 12 semanas após o enterramento, para acompanhar a evolução da imagem GPR durante a decomposição (ver Anexo II -caderno de campo), este tempo foi decidido devido a um estudo já efectuado anteriormente pela Electrical Resistivity Tomography (ERT) para podermos fazer algumas comparações mais tarde sobre os resultados obtidos por ambos os métodos [16]. Para garantir que as leituras fossem feitas exactamente nos mesmos perfis, foi fixada uma alcatifa sobre as sepulturas, onde previamente foi impressa uma matriz (Figura 9.f). - Sepultura: a) d) b) c) e) f) Figura 9 - Imagens captadas no dia do enterramento dos porcos. a) Cova aberta, b) enterramento do primeiro porco (+/- 1,15m), c) enterramento do segundo porco (+/0.80m), d) enchimento final da cova, e) localização da sepultura, logo após a - 19 - Utilização do GPR na detecção de estruturas no âmbito nas Ciências Forenses cobertura da cova, e f) tapete grelha com quadriculas de 0.50m sobre a sepultura. Medições de profundidade feita na base do terreno. - Armas: Para levar a efeito estes ensaios com objectos com potencial para produzirem assinaturas no GPR semelhantes a armas, montámos por simples aproximação dos objectos metálicos cedidos na oficina duas estruturas metálicas, uma com a forma e dimensões próximas de uma pistola, que designaremos por “pistola”3 (figura 10.a) e outra maior com uma forma que faz lembrar um lança morteiros, que denominámos por “bazuca”3 (figura 11.a). Para implementar estes ensaios foram abertas cavidades no solo com aproximadamente 30cm de profundidade onde foram depositados os referidos artefactos (Figuras 10 e 11), sendo posteriormente cobertos com terra. As antenas usadas foram as de 400MHz e a de 1.5/1.6 GHz. A de 400MHz foi usada para analisar se com esta antena se conseguiria resolução para os objectos usados, isto é, se seria possível registar na aquisição uma hipérbole bem demarcada relativa à presença dos objectos. A antena de 1.5/1.6 GHz foi usada devido aos objectos se encontrarem a um profundidade compatível com esta antena, e para posteriormente se poderem comparar as imagens produzidas com a utilização das duas antenas. [Ver as figuras do anexo III, correspondentes às armas]. a) . “Pistola” b) c) Figura 10 - Imagem da exposição dos materiais que simulam uma arma. a) Tamanho da arma e indicação numérica dos diferentes materiais, b) profundidade a que a arma foi enterrada (base da cavidade), c) comparação do tamanho da arma com a do martelo. - 20 - Utilização do GPR na detecção de estruturas no âmbito nas Ciências Forenses 3 Pistola e Bazuca - Nomes estipulados pelo autor (Vânia Lourenço) para que durante o relatório se possa entender melhor a que arma propriamente se está a designar. . “Bazuca” a) b) c) Figura 11 – Imagem de simulação de uma outra arma. a) Tamanho da arma, b) profundidade a que a arma foi enterrada (base da cavidade), c) enterramento da arma. - 21 - Utilização do GPR na detecção de estruturas no âmbito nas Ciências Forenses Tratamento de dados e a análise dos resultados Para analisar os dados adquiridos com o GPR, foi utilizado o software RADAN 6.5. Após a leitura dos dados comecei por procurar o sistema de cores mais favorável à interpretação das imagens produzidas; a etapa seguinte consistiu em aplicar uma deconvolução (filtro). Para potenciar a imagem utilizei um “stacking” 2 (empacotamento), configurado em função do tamanho da imagem da aquisição de dados efectuada com o GPR, quando necessário utilizei o filtro “IIR Filters”- Infinite Impulse Response Filters - , assim como a filtragem espacial (Spatial 2D [duas dimensões] Filtering – spacial FFT filter), por fim fiz uma migração em Kirchhoff e alterei os ganhos. Ganho: Como o sinal é rapidamente atenuado no subsolo, para uma melhor visualização da informação é necessário aplicar funções de ganho, para realçar as amplitudes correspondentes aos reflectores em maior profundidade. [8] Deconvolução: Este processo comprime o pulso de radar, aumentando com isso a resolução temporal do sinal. [8] Migração: Nesta etapa, os dados registados e processados no domínio (x, t), são transferidos para o domínio (x, z). Os reflectores são posicionados no modelo de ‘subsuperficie’ e as difracções são colapsadas num ponto. Assim, a migração dos dados do radar posiciona os reflectores quanto à sua posição, deslocamento e profundidade. [8] “Stacking” (empacotamento): “Stacking” combina as digitalizações adjacentes seleccionadas e saídas de um único exame. No entanto, quando são alterados os valores de “stacking” no RADAN, o programa irá manter as marcas no arquivo. [5] Ou seja, o “stacking” faz uma compressão dos dados adquiridos. “IIR Filters”: O filtro IIR encontra uma característica nos dados do radar, que produz uma saída que decai exponencialmente para zero, mas nunca o alcança, daí o nome "infinito". Filtros IIR não são necessariamente simétricos e quando atingem uma excelente resposta de amplitude, a sua resposta de fase é não-linear e assim eles podem causar mudanças de fase ligeira nos dados. O RADAN usa filtros IIR que - 22 - Utilização do GPR na detecção de estruturas no âmbito nas Ciências Forenses contenham apenas um pólo, para que não haja uma ruptura brusca na frequência de corte, que poderá proporcionar a redução do ruído limitado. Como consequência, pode ser benéfico para executar o mesmo filtro mais de uma vez. [5] Filtragem Espacial: O filtro de FFT (Filter Fourier Transformation) espacial, que é um filtro de frequência 2D e tem lugar no domínio do tempo no espaço. É muitas vezes chamado de frequência-número de onda, ou F-K, no domínio. Esta abordagem gera uma matriz bidimensional, em que os elementos do complexo, representam a fase e a amplitude das várias ondas espaciais presentes nos dados do radar. Ele permite ao usuário desenvolver um filtro 2D para atenuar o ruído. [5] As imagens obtidas após o tratamento com o RADAN 6.5 encontram-se nos anexos I e III A observação dos radargramas obtidos durante todo o período de leituras revela com clareza a presença dos cadáveres. A imagem obtida antes do enterro apresentava uma formação homogénea, sinal que se alterou completamente após a colocação dos animais e do enchimento do buraco. Nota-se agora uma boa visualização dos limites da sepultura e uma nítida assinatura no local onde os porcos foram depositados. A observação das imagens obtidas ao longo da decomposição revela uma alteração nos contornos dos cadáveres. A partir da 5ª semana começou a observar-se a presença de uma nova assinatura a uma profundidade aproximada de 1,15m nos perfis ao longo da largura da sepultura que nos sugeriu dever-se a acumulação de líquidos. Para testar esta hipótese foram feitos os ensaios laboratoriais atrás descritos. - 23 - Utilização do GPR na detecção de estruturas no âmbito nas Ciências Forenses Discussão e Conclusão Quando a aplicação das técnicas de investigação criminal implicam o acesso directo à decomposição de restos humanos são um pouco dificultadas pelos costumes sociais, e também cada vez mais restringidas pela lei e licenciamentos. [3]. A aplicação das técnicas geofísicas às ciências forenses por evitarem o acesso directo mas possibilitarem o acesso à informação, introduzem um potencial inestimável de mais valia para a investigação criminal e por conseguinte para a justiça. Os nossos resultados mostram que a aplicação do GPR na investigação criminal tem potencialidades de grande valor. [Ver anexo III] Como é possível observar nas figuras 5.b, e das imagens do anexo III, através da inserção certa dos dados no GPR, obtemos uma boa localização da profundidade a que os objectos se encontram enterrados. Quanto à localização horizontal, como não temos o carrinho próprio que contém um sistema que permite uma leitura precisa da posição ao longo dos perfis, admitimos haver uma imprecisão de alguns centímetros na identificação dos locais. A aquisição de dados foi feita por arraste da antena (neste caso de 400MHz) com bastão e marcação manual das posições. Encontrámos pela frente o desafio de reduzir a imprecisão da determinação da posição da antena, usando o único modo de aquisição de dados que nos foi permitido com o equipamento disponível: o modo de tempo que posteriormente é convertido em distância através da introdução de algumas marcas de posição conhecida (posições padrão). Para garantir uma boa conversão tempo/distancia vimo-nos obrigados a deixar bem demarcada a distância que percorremos com a antena. Para facilitar a determinação das posições padrão e ao mesmo tempo melhorarmos o arraste da antena preparámos uma cobertura do terreno formada por um tapete no qual desenhámos grelhas com distâncias bem definidas (figura 9f). Tendo o cuidado de tentar manter velocidade constante, levámos em dois dias um cronómetro para contabilizar o tempo que demoramos a percorrer uma determinada distância. Sabendo da física clássica que: v = Δx / Δt , - 24 - (3) Utilização do GPR na detecção de estruturas no âmbito nas Ciências Forenses em que v (m/s) é a velocidade a que nós nos deslocamos, Δx (m) a distância percorrida e Δt (s) o tempo que se demorou a percorrer. Assim, pela tabela 4 vimos que realmente a velocidade que percorremos a distância pretendida é bastante aceitável e que o erro é bastante pequeno [Ver anexo III – sepultura]. Tabela 4 – Tabela do estudo do percurso a velocidades constantes Data Posição Tempo [t Velocidade [v Erro da velocidade (seg.)] (m/seg.)] 1 8,16 0,429 0,429 ± 0,042 16 - Julho - 2 7,76 0,450 0,450 ± 0,021 2009 3 7,72 0,453 0,453 ± 0,018 1 7,09 0,494 0,494 ± 0,023 04- Agosto - 2 7,06 0,50 0,500 ± 0,029 2009 3 6,94 0,50 0,500 ± 0,029 Velocidade 0,471 (m/seg.) média (m/s) Observando as figuras da sepultura do anexo III , podemos concluir que o sinal detectado inicialmente (antes da abertura da sepultura) apresentava uma assinatura contínua, enquanto que após a abertura e fecho da sepultura observamos várias perturbações associadas à colocação dos animais e do enchimento da sepultura que mudou a estrutura. As figuras AIII.2, AIII.3 e AIII.4 fornecem-nos uma boa visualização dos limites da sepultura. Aqui, também nos é dada uma boa informação quando comparamos as várias imagens com a leitura que esta oferece no decorrer da decomposição dos porcos. Essa informação advém do facto dos tecidos biológicos oferecerem uma elevada condutividade (ver tabela 5). - 25 - Utilização do GPR na detecção de estruturas no âmbito nas Ciências Forenses Tabela 5 - Propriedades atribuídas às regiões modelo para a simulação do GPR para uma frequência de 450MHz. [7] Tecidos biológicos K Pele 38 Ossos 13 Cérebro (massa cinzenta) 60 Matéria Branca (White matter) 47 Cartilagem 48 Musculo 56 De acordo com [16], que seguindo uma metodologia semelhante à aqui usada (acompanhamento da decomposição de cadáveres de porcos em enterros simulados), mas com tomografia eléctrica, foi verificado que a condutividade dos fluidos da decomposição aumenta linearmente com o tempo. Nesses ensaios inicialmente não aparecia praticamente nenhuma informação sobre a presença dos porcos. Só à medida que a decomposição avançava passou a ser notada a sua existência. Para explicar estes resultados concluem haver uma variação da resistividade do terreno ao longo do tempo devido á decomposição. Com o GPR, embora as propriedades dieléctricas possam também variar ao longo da decomposição, é possível detectar a existência dos corpos desde o momento em que estes são sepultados. As figuras relativas ás armas no anexo III, que se relaciona com materiais metálicos semelhantes a armas, apresenta as hipérboles bem demarcadas. Esse facto deve-se aos metais serem excelentes condutores4. Aqui é nos possível também distinguir diferenças nos dados adquiridos com as duas antenas. Os dados cuja aquisição foi feita com a antena de 400MHz (figuras AIII.6 e AIII10), monstram-nos que inequivocamente está presente um objecto, porém a sua forma é pouco detalhada e a profundidade pouco precisa. Quanto à antena de 1.5/1.6GHz (figuras AIII.7 e AIII.11.a) para além de nos oferecer uma boa indicação do objecto quanto á sua profundidade também permite uma avaliação aproximada da dimensão e forma do objecto escondido. A partir das observações efectuadas ao longo dos ensaios sentimos a necessidade de aprofundar mais o conhecimento de leitura do GPR, nomeadamente no que respeita a variações das propriedades dieléctricas do terreno. Para isso molhámos - 26 - Utilização do GPR na detecção de estruturas no âmbito nas Ciências Forenses o terreno onde as armas de encontravam enterradas. As primeiras imagens obtidas após essa operação revelam-se bastante ruidosas (figuras AIII.8.a e AIII.8.b), facto que atribuímos ao terreno não ter ficado homogeneizado quanto humidade. Porém, através dos tratamentos efectuados obtivemos informações de boa qualidade (figuras AIII.9 e AIII.11.b). Através de vários textos e das experiências realizadas, é-nos possível concluir que este método é bastante eficiente e rápido, tanto na aquisição de dados como no seu tratamento, dando informações quase exactas dos tipos de materiais escondidos (quando o operador é já bastante experiente) assim como na localização desses mesmos materiais. Relativamente à decomposição de restos humanos, através da leitura é nos possível também dar informação do estado de decomposição do corpo tendo um bom conhecimento do terreno, e pode dar-se uma perspectiva aproximada de há quanto tempo a pessoa foi enterrada. Para este estudo temos o nosso exemplo dos porcos, figuras AIII.2, AIII.3 e AIII.4, ao qual observamos as suas diferenças de leitura ao longo das doze semanas estudadas. 4 Metais bons condutores - Os metais são bons condutores de energia (térmica e elétrica) porque possuem eléctrões livres quando constituem uma malha (nome do agrupamento de várias moléculas de metal juntas). Esses eléctrões tendem a ficar na superfície do condutor (o sistema tem têndencia a manter o equilíbrio eletrostático) e podem percorrer livremente a malha, por isso são eléctrões livres. Essa "liberdade", no caso da energia térmica, faz com que o metal atinja o equilíbrio térmico rapidamente pois estes eléctrões facilitam a troca de calor entre as regiões da malha. No caso da energia eléctrica o que ocorre é que estes eléctrões são acelerados quando uma tensão, ou diferença de - 27 - Utilização do GPR na detecção de estruturas no âmbito nas Ciências Forenses potencial, é aplicada no metal, pois nesse caso estão na presença de um campo eléctrico que gera uma força sobre eles para que se movam na direcção de menor potencial.[14] Bibliografia • [1] Blindow, N.; Knödel, K.; Lange, G.; Vight, H.-J.; Ground Penetrating Radar; Environmental Geology (Handbook of field methods and case studies); Springer; p: 283-336 • [2] Daniels, D. J. (1997); Chapter12- Forensic Applications; Ground Penetrating Radar; IET; London p:423-436 • [3] Freeland, R. S.; Miller, M. L.; Yoder, R. E.; Koppenjan, S. K.; Forensic Application of FM-CW and Pulse Radar • [4] Gandolfo, O. C.; Sousa, L. A.; Tessler, M. G.; Rodrigues, M. (2001); Estratigrafia Rasa daIlha Comprida (SP): Um exemplo de aplicação do GPR • [5] GSSI(2007); RADAN 6.5 User’s Manual; GSSI; Estados Unidos • [6] GSSI(2006); SIR System-3000 User’s Manual; GSSI; Estados Unidos; 93 pp. • [7] Hammon III, W. S.; McMechan, G. A.; Zeng, X. (2000); Forensic GPR: finite-difference Simulations of Responses from buried humans remains; Journal of Applied Geophysics (45); Nº 171-186 • [8] Melo, M. S. (2007); Geofísica Aplicada à Arqueologia: Investigação no sitio histórico engenho MURUTUCU, em Belém, Pará • [9] Reynolds, J. M. (1997); Chapter 12- Ground Penetrating Radar; An Introduction To Applied and Environmental Geophysics; WILEY, Toronto, p:681-749 • [10] Powell, K (2004); Detecting buried human remains using near-surface geophysical instruments Referencias em: • [11] http://www.necrosearch.org/geophysics_01.htm • [12] http://www.discoverybrasil.com/guia_crime/crime_pratica/index.shtml • [13] http://www:alphageofisica.com.br/gssi/gpr.htm • [14] www.cefetsp.br/edu/sertaozinho/professores/.../OS%20METAIS.ppt • [15] http://pt.wikipedia.org/wiki/Sus_domesticus • [16] http://www.esci.keele.ac.uk/geophysics/Research/forensic - 28 - Utilização do GPR na detecção de estruturas no âmbito nas Ciências Forenses • [17] http://www.geosurvey.co.nz/services.html Anexos - 29 - Utilização do GPR na detecção de estruturas no âmbito nas Ciências Forenses Anexo I Dados laboratoriais tratados no RADAN a) b) c) Figura AI.1 – Dados obtidos com as garrafas de água leitura com igual ganho (areia ainda se encontrava húmida mas “homogénea”). a) com ar, b) com água, e c) com gelo. - 30 - Utilização do GPR na detecção de estruturas no âmbito nas Ciências Forenses Anexo II Caderno de Campo Data Maio 2009 Observações Marcações do terreno e aquisições de dados do mesmo antes de ser aberta a cova. 26 - Junho - 2009 Enterramento dos porcos (congelados) e aquisições de dados no terreno – detecção dos cadáveres. 1 - Julho - 2009 Primeira visita à sepultura 10 - Julho - 2009 Segunda visita à sepultura 16 - Julho - 2009 Terceira visita à sepultura – Enterro de artefactos (simulação de armas, objectos metálicos) 24 - Julho 4 - Agosto - 2009 Quarta visita à sepultura - 2009 Quinta visita à sepultura – aquisição de dados das armas com as antenas de 1,5/1,6 GHz e de 400MHz 11 - Agosto - 2009 Sexta visita à sepultura, aquisição de dados na direcção de sul para norte e de norte para sul 14 - Agosto - 2009 Sétima visita à sepultura – aquisição de dados de armas com grelha e antena 1,5/1,6GHz, sem e com água 21 - Agosto - 2009 Oitava visita à sepultura 28 - Agosto - 2009 Nona visita à sepultura 4 - Setembro - 2009 Décima visita à sepultura 11 - Setembro - 2009 Décima primeira visita à sepultura 18 - Setembro - 2009 Décima segunda visita à sepultura - 31 - Utilização do GPR na detecção de estruturas no âmbito nas Ciências Forenses Sem nada 1 2 Quando feita aquisição no modo de largura da sepultura (perfil) 3 N N 1 2 3 4 5 6 Dia do Enterro 4ª visita 3 2 1ª visita 2ª visita 2 5ª visita 1 3 2 1 3 3ª visita 3 2 1 N 6ª visita 1 3 2 1 N 3 - 32 - 2 1 Utilização do GPR na detecção de estruturas no âmbito nas Ciências Forenses 7ª visita 3 2 1 11ª visita 3 2 8ª visita 3 2 1 12ª visita 1 3 2 9ª visita 3 N 1 - 33 - 2 1 N 10ª visita 3 2 1 Utilização do GPR na detecção de estruturas no âmbito nas Ciências Forenses Anexo III Dados de campo tratados no RADAN . Sepultura (Aquisição de dados efectuada de Sul para Norte – ver Anexo II) Figura AIII.1 – Dados obtidos no sítio da sepultura dos porcos em leitura anterior à movimentação de terra (antes da abertura da cova). Mediante o seguimento das linhas do Anexo II 2ª visita 3ª visita 4ª visita 5ª visita 6ª visita 7ª visita 8ª visita 9ª visita 10ª visita - 34 - Utilização do GPR na detecção de estruturas no âmbito nas Ciências Forenses 11ª visita 2ª visita Figuras AIII.2 – Radargramas obtidos no perfil 1 durante a decomposição dos porcos (começa na 2ª visita, pois este foi o dia em que se colocou o tapete da grelha – figura 8.f) 12ª visita 3ª visita 4ª visita 5ª visita 6ª visita 7ª visita 8ª visita 9ª visita 10ª visita - 35 - Utilização do GPR na detecção de estruturas no âmbito nas Ciências Forenses Figuras AIII.3 – Perfil 3 (começa na 2ª visita, pois este foi o dia em que se colocou o tapete da grelha – figura 8.f) 11ª visita 12ª visita As figuras AIII.2 e AIII.3 têm todas o mesmo tratamento de dados ( ou seja, deconvolução seguido de um IIR com passa baixa de frequência 400 MHz e depois uma migração Kirchhoff corrido a 2D) assim como o ganho de 16. No dia do enterro dos porcos (Sus domesticus) Duas imagens tratadas com deconvolução e migração Kirchhoff, em que a) contém um ganho de 16 e b) um ganho de 8 a) b) Dia do enterro dos animais Ganho 16 Ganho8 1ª visita - 36 - Utilização do GPR na detecção de estruturas no âmbito nas Ciências Forenses Ganho 16 Ganho8 2ª visita Limites da sepultura Ganho16 Ganho8 3ª visita Ganho 16 - 37 - Utilização do GPR na detecção de estruturas no âmbito nas Ciências Forenses 4ª visita Ganho 16 5ª visita Ganho 16 Ganho 30 6ª visita Ganho 16 - 38 - Utilização do GPR na detecção de estruturas no âmbito nas Ciências Forenses 7ª visita Ganho 16 Ganho 30 8ª visita Ganho 16 Ganho 8 9ª visita Ganho 16 Ganho 12 - 39 - Utilização do GPR na detecção de estruturas no âmbito nas Ciências Forenses 10ª visita Ganho 16 Ganho 8 11ª visita Ganho 16 Ganho 8 12ª visita Ganho 16 Ganho 8 Figuras AIII.4 – Imagens tratadas de todos os dias que se foi visitar a sepultura - 40 - Utilização do GPR na detecção de estruturas no âmbito nas Ciências Forenses - Do caderno de campo Anexo II (aquisição feita em largura) Perfil 1 Perfil 2 Perfil 3 Anomalia adquirida em campo que foi tentada ser representada em laboratório Perfil 4 Perfil 5 Perfil 6 Figuras AIII.5 – Imagens tratadas da aquisição de dados que foi efectuada na sepultura em perfis de largura da mesma. - 41 - Utilização do GPR na detecção de estruturas no âmbito nas Ciências Forenses . Armas “Pistola” Antena de 400MHz Ganho 16 Ganho 8 Figura AIII.6 – Imagem tratada da pistola da aquisição de dados feita com a antena de 400MHz - Terreno seco Antena de 1.5/1.6GHz Ganho 16 Ganho 16 a) b) Figura AIII.7 – Imagem da pistola aquisição de dados feita com a antena de 1.5/1.6GHz. a) imagem do cano para a “mão”, b) só do cano. Tratamentos da AIII.6 e da AIII.7: deconvolução, IIR de passa baixo do mesmo valor da antena usada acabando com a migração Kirchhoff - 42 - Utilização do GPR na detecção de estruturas no âmbito nas Ciências Forenses -Terreno molhado Antena de 1.5/1.6GHz a) b) c) Figura AIII.8 – A imagem real que aqui não está demonstrada mas é possível ser observado pela a) tinha bastante ruído. As situações demonstradas já sofreram algum tratamento. a) efectuado apenas deconvolução e migração, b) deconvolução e filtragem espacial, c) a obtenção de melhor imagem mediante o meio em que nos encontramos a junção das alíneas anteriores, ou seja, deconvolução, migração por fim filtragem espacial. Antena de 1.5/1.6GHz Figura AIII.9 – Imagem que demonstra “fortemente” a localização da pistola em terreno molhado. - 43 - Utilização do GPR na detecção de estruturas no âmbito nas Ciências Forenses “Bazuca” Antena 400MHz Ganho 16 Figura AIII.10 – Imagem tratada da bazuca da aquisição de dados feita com a antena de 400MHz -Terreno seco -Terreno molhado Antena 1.5/1.6GHz Antena 1.5/1.6GHz Ganho 8 a) Ganho 16 b) Figura AIII.11 – Imagem da bazuca aquisição de dados feita com a antena de 1.5/1.6GHz. a) em terreno seco, b) em terreno molhado. - 44 -