Maria Teresa Messias - Universidade Católica de Brasília
Transcrição
Maria Teresa Messias - Universidade Católica de Brasília
Pró-Reitoria de Graduação OBESIDADE INFANTIL E DINÂMICA FAMILIAR: UM ESTUDO DE CASO OBESIDADE INFANTIL ECurso DINÂMICA FAMILIAR: de PsicologiaUM ESTUDO DE CASOMARIA TERESA MESSIAS Trabalho de Conclusão de Curso OBESIDADE INFANTIL E DINÂMICA FAMILIAR: UM ESTUDOEDE CASO FAMILIAR: OBESIDADE INFANTIL DINÂMICA UM ESTUDO DE CASO Autora: Maria Teresa Messias Orientadora: Profª Drª. Maria Alexina Ribeiro Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Psicologia da Universidade Católica de Brasília, para obtenção do título de psicóloga. Orientadora: Prof.ª Drª. Maria Alexina Ribeiro Brasília - DF 2013 MARIA TERESA MESSIAS OBESIDADE INFANTIL E DINÂMICA FAMILIAR: UM ESTUDO DE CASO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Psicologia da Universidade Católica de Brasília, para obtenção do título de psicóloga. Orientadora: Prof.ª Drª. Maria Alexina Ribeiro Brasília – DF 2013 Trabalho de Conclusão de Curso de autoria de Maria Teresa Messias, intitulada “OBESIDADE INFANTIL E DINÂMICA FAMILIAR: UM ESTUDO DE CASO”. Apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Psicólogo no Curso de Psicologia da Universidade Católica de Brasília em 20/06/13 defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo assinada: ___________________________________________ Prof.ª Drª. Maria Alexina Ribeiro ___________________________________________ Prof.ª Drª Marília Marques da Silva ___________________________________________ Mestre Aldenira Barbosa Cavalcante Brasília, 2013 RESUMO A obesidade vem se tornando cada vez mais comum, e as estatísticas revelam um aumento considerável em sua incidência. Além disso, foi apontada pela Organização Mundial da Saúde como um problema de saúde pública. A Classificação Internacional de Doenças (CID-10) a considera como uma condição médica geral. Pesquisas apontam que além dos riscos físicos a obesidade desencadeia prejuízos psicológicos, como aqueles pertinentes à imagem corporal. Diante desta epidemia mundial, o presente estudo teve como objetivo compreender a dinâmica familiar de uma criança com obesidade, buscando identificar as regras, as fronteiras e o padrão alimentar. O método utilizado foi a pesquisa qualitativa com estudo de caso. A família participante reside no Distrito Federal e é formada pelo pai, 31 anos, a mãe, 32, o filho com obesidade, de 06 anos, o filho de 09 meses, e os avós paternos. Foi feita uma entrevista com a participação da genitora e a avó paterna, e elaborado o Genograma familiar. Foram analisados também dados da participação da família no Grupo Multifamiliar realizado com 05 famílias de crianças e adolescentes obesos. Os dados foram analisados de acordo com o método construtivo-interpretativo e discutidos com base na abordagem sistêmica da família. Os dados indicaram que: a obesidade da criança começou aos 03 anos de idade; há outros casos de obesidade nas famílias de origem; a família tem dificuldade de seguir as orientações médicas no tratamento da obesidade do filho; há interferência dos avós na educação da criança que a genitora considera prejudicial. Palavras-chave: Obesidade Infantil. Família. Abordagem Sistêmica. ABSTRACT Obesity has become increasingly common, and statistics show a considerable increase in its incidence. In addition, it was pointed out by the World Health Organization as a public health problem. The international classification of diseases (ICD-10) considers it as a medical condition. Surveys show that in addition to the physical risks, obesity triggers psychological losses, such as those pertaining to body image. This worldwide epidemic, this study aimed to understand the family dynamics of a child with obesity, trying to identify the rules, borders and eating pattern. The method used was qualitative research with case study. The family member resides in the District Federal and is formed by 31-year-old father, the mother, 32, the son with obesity, 06 years, the son, 09 months, and paternal grandparents. Was done an interview with participation of the mother and the paternal grandmother, and was prepared the family Genogram. Data were also analyzed from participation of the family in Multifamily Group held with 05 families of obese children and adolescents. The data were analyzed according to the constructive-interpretive method and discussed based on the systemic approach of the family. The data indicated that: the child obesity started at 03 years of age; There are other cases of obesity in the families of origin; the family has difficulty to follow medical guidelines for treating child obesity; There are grandparents interference in education of the child that the mother is considered it. Keywords: Childhood Obesity. Family. Systemic Approach. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 7 2. REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................................... 9 2.1 OBESIDADE .................................................................................................................... 9 2.2 OBESIDADE INFANTIL E FAMÍLIA .......................................................................... 12 2.3 GRUPO MULTIFAMILIAR .......................................................................................... 14 3. OBJETIVOS ....................................................................................................................... 15 3.1 OBJETIVO GERAL: ...................................................................................................... 15 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS: ......................................................................................... 15 4. MÉTODO ............................................................................................................................ 15 4.1 FAMÍLIA PARTICIPANTE ........................................................................................... 16 4.2 INSTRUMENTOS .......................................................................................................... 16 4.3 PROCEDIMENTOS ....................................................................................................... 18 4.4 ANÁLISE DOS DADOS ................................................................................................ 22 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ....................................................................................... 23 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 34 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 35 GLOSSÁRIO .......................................................................................................................... 38 ANEXO A ................................................................................................................................ 39 ANEXO B ................................................................................................................................ 42 7 1. INTRODUÇÃO A Organização Mundial de Saúde (OMS) define a obesidade como um problema de saúde pública. Índices alarmantes têm sido verificados e a doença já é identificada como uma epidemia mundial. Segundo a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), realizada entre 2008/2009, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) uma em cada três crianças com idade entre 05 e 09 anos está com peso acima do recomendado pela OMS (2010) e pelo Ministério da Saúde. O índice de jovens de 10 a 19 anos com excesso de peso passou de 3,7%, em 1970, para 21,7%, em 2009 (IBGE, 2010). Neste último ano de 2012 os Ministérios da Saúde e da Educação lançaram o Programa Nacional Saúde na Escola, que tem como objetivo orientar alunos e pais sobre os riscos da obesidade em crianças e adolescentes. A iniciativa era de envolver 11 milhões de alunos com idade entre 5 a 19 anos e faz parte da primeira edição da Semana de Mobilização, que tem como tema a obesidade em crianças e adolescentes (BRASIL, 2012). A obesidade também está comumente associada a doenças como a hipertensão arterial sistêmica, aumento de Colesterol e Triglicerídeos, Diabetes Melito e Asma (MELLO; LUFT; MEYER, 2004). Além disso, segundo Cezar (2000), os prejuízos emocionais são extremamente significativos, pois são frequentemente representados pela baixa percepção na formação de conceitos, podendo causar uma identidade confusa, distorções da imagem corporal, dificuldades para expressar emoções, dependência, falta de iniciativa e baixa tolerância à frustração. Santos (2003) ressalta que a obesidade possibilita espaço para várias doenças e gera sofrimento no convívio do desconforto provocado pelo excesso de peso. A obesidade está, comumente, relacionado com excesso de comida. A pessoa obesa, ao sentir-se desconfortável, busca o consolo na própria comida, agravando sua problemática. A escolha pelo tema desta pesquisa surgiu, pela ocorrência, do alto índice de casos de obesidade infantil e seus riscos que têm sido notícia frequente nos meios de comunicação. Teve como objetivo realizar um estudo de caso com uma família que possui uma criança diagnosticada com obesidade, buscando identificar características da dinâmica familiar que possam estar relacionadas com o aparecimento e a manutenção da obesidade, compreender o 8 papel da família no tratamento da criança, bem como o significado da alimentação nesta família. 9 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 OBESIDADE Segundo a OMS (2002), a obesidade é o aumento do peso corporal em relação ao peso ideal, devido ao excesso de tecido adiposo no organismo. Sua origem envolve componentes multifatoriais como genéticos, endocrinológicos, metabólicos, comportamentais, psicológicos e sociais. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), O excesso de peso e a obesidade aumentaram nos últimos seis anos no Brasil, é o que aponta o mais recente levantamento realizado pelo Ministério da Saúde. De acordo com o estudo, a proporção de pessoas acima do peso no Brasil avançou de 42,7%, em 2006, para 48,5%, em 2011. No mesmo período, o percentual de obesos subiu de 11,4% para 15,8% (BRASIL, 2011). O IBGE (2010) segue os parâmetros da Organização Mundial da Saúde (OMS) na conceituação de sobrepeso (Índice de Massa Corporal superior a 25%) e obesidade (IMC superior a 30%). O IMC é um método simples e amplamente difundido para se medir a gordura corporal. É calculado dividindo o peso do indivíduo em quilos pela altura em metros ao quadrado, com esse calculo a razão entre o peso e o quadrado da altura deve ficar entre 13 e 17. A Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), mais recente, de 2008-2009, demonstrou que o excesso de peso foi diagnosticado em cerca de metade dos homens e das mulheres, excedendo em 28 vezes a frequência do déficit de peso, no sexo masculino, e em 13 vezes, no sexo feminino. O diagnóstico de obesidade foi feito em 12,5% dos homens e em 16,9% das mulheres, correspondendo a cerca de um quarto do total de casos de excesso de peso no sexo masculino e a um terço no sexo feminino. Para crianças e adolescentes, também se utiliza o IMC, observando-se os percentuais para idade e sexo, como critério de adiposidade. Há uma grande variedade de critérios para definir sobrepeso e obesidade na infância, o que dificulta as comparações entre os estudos de prevalência. A obesidade na infância e na adolescência está diretamente relacionada à obesidade na idade adulta, pois cerca de 50% de crianças obesas aos seis meses de idade e 80% das crianças obesas aos cinco anos de idade permanecerão obesas. Além disso, 10 aterosclerose e hipertensão arterial, doenças típicas de adultos, são processos iniciados na infância e relacionados à obesidade (LAMOUNIER; PARIZZI, 2007). A obesidade simples é incluída na Classificação Internacional de Doenças (CID-10) como uma condição médica geral, não aparecendo no Manual de Estatística e Diagnóstico dos Transtornos Mentais (DSM-IV), porque não foi estabelecida uma associação consistente com uma síndrome psicológica ou comportamental. Entretanto, quando existem evidências da participação de fatores psicológicos na etiologia ou curso de determinado caso de obesidade, isto pode ser indicado anotando-se a presença de fatores psicológicos que afetam a condição médica (DSM-IV, 2002). A obesidade é considerada uma doença crônica em expansão, com grau de armazenamento de gordura corporal associado a riscos para a saúde. Vários fatores são considerados na gênese da obesidade como genéticos, os fisiológicos e metabólicos, no entanto as situações ambientais podem diminuir ou aumentar a importância desses fatores. Os fatores genéticos afetam o metabolismo energético e resultam numa tendência de ganho de peso. Embora tenham sido descritas algumas síndromes raras de obesidade causadas por mutações em genes únicos, de longe a maior proporção de obesidade em humanos não é devida a isso. Predisposição genética pode não ser uma sina para a saúde, porém estudos indicam que variações genéticas herdadas são fatores de risco importante para a obesidade (SOTELO; COLUNGNATI; TADDEI, 2004). Segundo Fisberg et al (2005), antecedentes familiares de obesidade são comumente encontrados entre crianças obesas, sendo mais predominante a obesidade na mãe e na família materna. O risco da criança ser obesa é de 80% quando os pais são obesos, de 50% quando um dos genitores é obeso e de 9% quando os pais não são obesos. Na infância, alguns eventos ocasionam surgimento da obesidade: o aumento desmedido do ganho de peso gestacional, o desmane precoce e a introdução imprópria de alimentos complementares, o emprego de fórmulas lácteas inadequadamente preparadas, distúrbios do comportamento alimentar e inadequada relação familiar. Pode ter início em qualquer época da vida, especialmente nos períodos de aceleração do crescimento. Os principais riscos para a saúde na infância são a elevação dos triglicerídeos e do colesterol, alterações ortopédicas, pressóricas, dermatológicas e respiratórias. 11 Cardoso e Carvalho (2007) e Almeida (2005) advertem que em meio aos diversos prejuízos à saúde associados à obesidade estão os psicológicos, como aqueles pertinentes à imagem corporal que envolve diversos fatores como os emocionais, de atitude e também perceptuais. Um ambiente competitivo, com altas expectativas da adequação a um corpo perfeito, pode criar diversos problemas de realização pessoal para um indivíduo. Stunkard e Wadden (1992, apud CATANEO; CARVALHO; GALINDO, 2005) relatam que os aspectos psicológicos das pessoas com obesidade foram objeto de estudos, no encontro Consensus Conference on Obesity (1985), tendo-se concluído que “A obesidade seria uma enorme carga psicológica em termos de sofrimento. E carga pode ser o maior efeito adverso da obesidade” (p. 524). Segundo Anderson e Butcher (2006), em 30 anos, as mudanças ambientais e sociais proporcionaram às crianças hábitos de ingestão calórica superiores ao gasto energético. Entre as mudanças que afetam o balanço energético e proporcionam ganho de peso infantil, podem ser citados o consumo excessivo de alimentos e bebidas calóricas nas escolas, o excesso de dedicação dos pais ao trabalho, levando à maior oferta de alimentos semi-prontos no ambiente familiar, o estilo de vida contemporâneo, como o uso de veículos para chegar à escola e o tempo gasto em frente ao computador e televisão. Newby (2007) ressalta que a ingestão calórica e o tamanho das porções alimentares aumentaram consideravelmente. Os alimentos muito consumidos por crianças como salgadinhos, refrigerantes, hambúrgueres e batatas fritas aumentaram 93 kcal, 49 kcal, 97 kcal e 68 kcal, respectivamente. As normas gerais do tratamento do obeso devem manter três condições: a) uma dieta balanceada, que determine crescimento adequado e manutenção do peso, com consequente redução dos índices de massa corpórea, sendo de fácil utilização, baixo custo e possível de ser mantida por períodos extremamente longos; b) exercícios físicos controlados, com atividades mistas, associando programas anaeróbios, recreativos, que geram bons resultados na perda de peso, manutenção da massa magra e modificação da massa gorda, com aeróbicos, que preservam a capacidade cardiovascular; c) apoio emocional, individual e familiar. Assim, técnicas comportamentais podem modificar toda a situação familiar, facilitando a aderência ao tratamento e a modificação de hábitos inadequados. Portanto, o tratamento da obesidade deve incluir alterações gerais na postura familiar e da criança, em relação a hábitos 12 alimentares, tipo de vida, atividade física e correção alimentar. Isto deve levar em conta à potencialidade da criança, sua idade, a participação da família e de uma equipe multidisciplinar integrada, que modifique todo seu comportamento obesogênico (SOUZA; KLING; NAVARRO, 2007). 2.2 OBESIDADE INFANTIL E FAMÍLIA A família é um grupo natural que através dos tempos tem desenvolvido padrões de interação. A estrutura familiar governa o funcionamento dos membros da família. Cada membro sabe o que é permitido, as forças que se opõem aos desvios, a natureza e eficiência do sistema de controle (MINUCHIN; FISHMAN, 2007). Deste modo, a família representa um grupo social primário que influencia e é influenciado por outras pessoas e instituições. É um grupo de pessoas, ou um número de grupos domésticos ligados por descendência (demonstrada ou estipulada) a partir de um ancestral comum, matrimônio ou adoção. É unida por múltiplos laços capazes de manter os membros moralmente, materialmente e reciprocamente durante uma vida e durante as gerações (COSTA; FERRER, 2011). De acordo com Cerveny (2000), pensar a família implica em considerar que o comportamento de cada um de seus membros é interdependente do comportamento dos outros, assim, o grupo familiar é visto como um conjunto, como uma totalidade cuja particularidade de um de seus membros não basta para explicar o comportamento dos demais, de forma que a análise de uma família não é a soma da análise de seus membros individuais. Nesse sentido, a unidade familiar é um sistema composto por indivíduos que podem também ser considerados sistemas por si só e, ao mesmo tempo, uma parte de um sistema, ou seja, um subsistema. Essa unidade familiar também faz parte de um sistema familiar maior que se inclui em outros sistemas mais amplos, como o sistema sociocultural e assim por diante. Moraes (2009) adverte que os pais possuem papel fundamental no crescimento e desenvolvimento dos filhos, como também no ganho de peso corporal, por exercer influência direta nos hábitos alimentares das crianças. Considerada a importância da família para cada indivíduo e o crescimento de casos de obesidade, pesquisadores observaram a importância de 13 realizarem pesquisas referentes a esse assunto. Estudos relativos à dinâmica familiar na obesidade iniciaram-se em 1940 com Bruch e Touraine (MORRISSETTE; TAYLOR, 2002) que pesquisaram a percepção de crianças obesas sobre seus pais, os resultados revelaram que as mães eram apontadas como dominadoras e excessivamente protetoras e os pais como passivos e sem envolvimento. Harkaway (1989, apud PRADO, 2005), afirma que em muitas famílias com crianças obesas é dada ênfase à lealdade da criança ao sistema familiar à custa da sua própria autonomia. Além do mais, essas famílias têm dificuldades no processo de individuação e em lidar com as diferenças. O autor sugere que a obesidade ajuda a criança a se manter leal, dificultando os relacionamentos e atividades fora das fronteiras familiares. Segundo Santos (2003), o hábito de comer bem das crianças proporciona aos familiares um pouco de prazer, afastando o fantasma da desnutrição, ou do descuido com as crianças. O consumo de alimentos e a fartura estão também associados à saúde, significando, para os adultos, que eles são bons cuidadores da criança. Donato, Osorio, Paschoal e Marum (2004) afirmam que algumas famílias, desde a interação da mãe com o bebê, recompensam e elogiam o ato de alimentar-se de forma exacerbada, despertando na criança uma sensação de bem estar e afetividade associada ao alimento. Como também, a alimentação está associada à socialização, por isso, as pessoas têm o hábito de sair com os amigos para se alimentar. Deste modo, quando se sentem sozinhas podem buscar no alimento uma forma de compensação pela falta que sentem das pessoas, e isso pode desencadear o aumento excessivo do peso corporal. A família exerce papel importante na gênese e na manutenção dos distúrbios afetivos emocionais de qualquer um de seus membros, como também tem papel relevante na correção e cura dos mesmos. Consiste em pensar o indivíduo que se apresenta para o tratamento, como o sujeito complementar a essa família. Por isso é importante considerar a família por ocasião do tratamento, sobretudo quando se trata de crianças (BUSSE, 2004). A adesão ao tratamento da obesidade infantil ainda é baixa, dificultando dessa forma os resultados positivos de redução de peso (DENZER et al, 2004). 14 2.3 GRUPO MULTIFAMILIAR Segundo Colahan e Robinson (2002), os grupos multifamiliares são grupos realizados com várias famílias que têm um problema comum a ser tratado, nos quais os membros podem trabalhar suas habilidades para lidar com os comportamentos relacionados à doença. O estudo das práticas grupais tem ganhado cada vez mais espaço entre os pesquisadores, pois esses grupos fomentam a capacitação do insight e oferecem a oportunidade de que os membros aprendam uns com os outros, providenciando suporte e encorajamento, aliviando o sentimento de isolamento e aumentando a comunicação e o funcionamento social dos envolvidos. O grupo proporciona espaço para abordar aspectos emocionais e comportamentais associados ao quadro clínico e estabelecer relações com as dificuldades na adesão ao tratamento (BAYER et al, 2010). Os atendimentos de Grupo Multifamiliar são fundamentados nas seguintes abordagens teóricas: a) da Psicologia Comunitária, visando o trabalho em equipe com diferentes saberes, científicos e populares e o enfoque da Psicologia Social Crítica e Histórica, entendendo o ser humano em construção, que é constituído e constitui o meio em que se insere; b) da Terapia Familiar, tendo a visão de família enquanto sistema, sendo a relação o ponto focal do trabalho, priorizando o interpsíquico, não o intrapsíquico, e utilizando os recursos sistêmicos como a circularização e provocação; c) do Sociodrama, em que o grupo é o protagonista e as famílias possuem objetivos comuns, além de se identificarem mutuamente; e d) da Teoria das Redes Sociais que enfoca a interação humana com a troca de experiência, desenvolvendo a capacidade auto reflexiva e auto crítica (COSTA; PENSO; ALMEIDA, 2005) Mc Namee (2004) afirma que o grupo multifamiliar oferece um rico contexto para a investigação e desconstrução da maneira como idéias, valores e crenças são produzidos pelos seus participantes e de que modo expressam a tradição da comunidade discursiva da qual provêm seus membros. 15 3. OBJETIVOS 3.1 OBJETIVO GERAL: Conhecer a dinâmica de uma família com uma criança com obesidade, identificando as regras, fronteiras e padrão alimentar. 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS: a) Conhecer a história familiar, identificando o momento de surgimento dos sintomas de obesidade e outros eventos importantes nas diferentes fases de desenvolvimento dos seus membros. b) Investigar o padrão alimentar da família, identificando o que, quanto e quando se alimentam. c) Identificar as regras familiares em geral e as relacionadas com a alimentação. 4. MÉTODO O presente estudo utilizou a metodologia qualitativa, por meio do estudo de caso. A pesquisa qualitativa é uma forma de levantamento de dados, que visa à compreensão dos significados desses dados em determinados contextos sociais e humanos, bem como de suas problemáticas. O Estudo de caso é uma estratégia de investigação que busca estudar o fenômeno (problema, pessoa, evento) de forma profunda. Caracteriza-se pela coleta de dados detalhados, usando vários procedimentos em um período de tempo prolongado (CRESWELL, 2010). 16 4.1 FAMÍLIA PARTICIPANTE Para a realização desta pesquisa, foi convidada uma família participante do projeto “Construção de metodologia de atendimento psicossocial a crianças e adolescentes com transtornos alimentares e suas famílias”, em andamento na Universidade Católica de Brasília, sob a coordenação da Profª Drª Maria Alexina Ribeiro. A autora do presente trabalho faz parte do referido projeto. A família participante é formada por Caio (06 anos), a criança com obesidade, seus pais Sandra (32 anos) e César (31 anos), e seus irmãos Lucas (09 meses) e Pedro (11 anos). Caio e Lucas são filhos biológicos de Sandra e César. Pedro é filho apenas de César, fruto de um relacionamento anterior e mora com a mãe. A família mora no mesmo lote dos pais de César. A Srª Rita (58 anos) é do lar e o Sr. José (67 anos) aposentado. Participaram da entrevista familiar Sandra (mãe) e Rita (avó) da criança. 4.2 INSTRUMENTOS Foram utilizados os seguintes instrumentos para a coleta de dados: a) Roteiro de Entrevista do Ciclo de Vida com a Família, adaptada para essa pesquisa (ANEXO A). b) Genograma: Representação gráfica que mostra o desenho ou mapa da familia. Este instrumento científico é usado para coleta de dados e vem sendo especialmente utilizado nos estudos com famílias. Sua estruturação se baseia na construção de um desenho multigeracional da família que pressupõe, na sua elaboração, três níveis: o traçado da estrutura familiar (demografia); o registro informativo da família (dados da sua história); e a representação das relações e funcionamento familiares. O genograma se mostra um instrumento de pesquisa que se destaca por sua praticidade e organização na apresentação dos dados (BÖING; CREPALDI; MORÉ, 2008). (FIGURA 1). 17 c) Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (ANEXO B). FIGURA 1: Genograma da Família de Caio. 18 4.3 PROCEDIMENTOS a) Para a realização nesta pesquisa, a família foi contactada por telefone e marcado um encontro pra realização da entrevista. A entrevista foi realizada em sua residência, sendo utilizado sistema de gravação de áudio. A entrevista foi realizada pela psicóloga do CEFPA - Centro de Formação em Psicologia Aplicada da UCB e estagiária participante do projeto de pesquisa, que posteriormente realizou a transcrição da entrevista. Vale ressaltar que os nomes utilizados neste trabalho são fictícios, a fim de proteger a identidade dos participantes da pesquisa e assegurar o sigilo. b) Encontros do Grupo Multifamiliar A família participou também do Grupo Multifamiliar que contou com a presença de cinco famílias sendo três de crianças e dois de adolescentes obesos. Foram realizados cinco encontros do Grupo Multifamiliar. A seguir vamos apresentar resumidamente os temas, objetivos e procedimentos de cada encontro. 19 1º Encontro Tema: A alimentação na família Objetivos: conhecer o padrão alimentar na família; identificar a participação das famílias de origem na alimentação dos filhos; conhecer como foi a alimentação dos filhos desde a amamentação, desmame e introdução dos alimentos; identificar a influência dos fatores socioculturais na alimentação da família. Procedimentos: A – aquecimento: cada participante se apresenta, e o mediador bate palmas para passar a fala para o seguinte, interrompendo a fala de alguns. Apresentação de um vídeo envolvendo o tema alimentação, breve debate e, em seguida divisão em subgrupos. B – discussão: Na discussão com os adultos, foi retomada a discussão sobre o vídeo. Com os adolescentes foi realizada uma atividade com balão e frases relacionadas com o tema do encontro. Com as crianças foi pedido que produzissem um cartaz com figuras sobre alimentação. Cada criança vai escolheu e colou as figuras de acordo com a forma como pensam que são em casa. C- Encerramento: Ao reunir novamente os grupos, os adultos contaram para os filhos sobre o que conversaram, em seguida, os adolescentes e as crianças também apresentaram para o grupo o que produziram. O encontro foi encerrado com o grupo fazendo uma síntese do que foi discutido. 2º Encontro Tema: A dinâmica familiar. Objetivo: Identificar aspectos da dinâmica familiar favorecedores e/ou prejudiciais ao funcionamento das relações pais/filhos que contribuem para o surgimento/manutenção da obesidade. Procedimento: A - Aquecimento: Os membros do grupo se apresentaram para as famílias que estavam participando pela primeira vez e fizeram uma síntese do primeiro encontro. Em seguida iniciamos a técnica “Foto de família”, ou seja, foi montado um “estúdio” para fotografar cada 20 família. A família poderia tirar mais de uma fotografia se não gostasse do resultado. Foi compartilhada a experiência da fotografia. B – Discussão: Os adultos continuaram com a discussão sobre a fotografia, com as seguintes perguntas: Que aspectos ou características da família não aparecem na fotografia? Quem está faltando nessa foto? Se essas pessoas estivessem aqui, onde e como elas estariam na foto? Com os adolescentes foi pedido para escreverem uma carta apresentando sua família, como se outro estudante fosse viver com sua família. No grupo de crianças pedimos para fazer um desenho da família e em seguida, propusemos uma brincadeira com a casa de brinquedo e bonecos. “Brincar” de casinha, contando histórias sobre a família delas. Produto para o grupo grande: desenho das crianças. C – Encerramento: Todos se reuniram na sala maior, e cada grupo contou o que fez nas salas separadas. Ao final todos ouviram a música “A grande família” enquanto projetávamos no quadro as fotos das famílias que foram tiradas no começo do encontro. 3º Encontro Tema: Comunicação e expressão de afeto entre os membros da família: Objetivo: Conhecer o padrão de comunicação da família; identificar em que momentos a família conversa e troca idéias e quais os conteúdos são privilegiados; identificar a presença de possíveis tabus e mitos familiares; identificar como as decisões são tomadas na família e quem participa das mesmas; conhecer como é expresso o afeto entre os membros da família; identificar possíveis dificuldades de expressão de afeto. Procedimento: A - Aquecimento: Ficaram à disposição do grupo vários objetos: como animais de pelúcia, almofadas em formato de coração e flores, etc. Cada participante escolheu um objeto e ficou com ele por alguns minutos. Após esse momento foram realizadas perguntas sobre a escolha feita. B – Discussão: Os adultos conversaram sobre os objetos escolhidos, os pesquisadores incluíram outras perguntas sobre a comunicação e o afeto na família. Na sala dos adolescentes foi pedido para produzirem uma carta para a família, na qual deveriam dizer o que gostariam que mudasse na comunicação em casa. Com as crianças foi proposto o jogo “escada e 21 escorregador” e durante este jogo foram feitas perguntas a respeito da comunicação e do afeto na família. C – Encerramento: Todos os grupos se reuniram na sala maior, e cada grupo contou o que fez nas salas separadas e o encontro foi finalizado com a leitura do poema do Fernando Pessoa. 4º Encontro Tema: Diagnóstico e tratamento da obesidade, redes de apoio. Objetivo: Identificar o momento em que os sintomas da obesidade apareceram; conhecer as opiniões e crenças dos membros da família sobre a obesidade do filho, possíveis causas e explicações; conhecer as condições em que foi feito o diagnóstico; identificar as decisões e providências tomadas pela família a partir do diagnóstico de obesidade do filho; identificar possíveis mudanças na família a partir do diagnóstico; identificar possíveis dificuldades da família em seguir as orientações médicas e nutricionais; Conhecer qual a situação atual da criança/adolescente em termos de controle do peso e estado nutricional geral; identificar como é a comunicação atual da família sobre os problemas do filho. Procedimento: A – Aquecimento: Realizado com a história do “coelho que um dia adoeceu”. Cada família, separadamente, recebeu a história impressa num envelope e contou a história para os seus filhos. A família, em conjunto, decidiu qual o desfecho da história. Em seguida, também em família, eles fizeram um desenho e colagem que expressou esse desfecho. A equipe de pesquisadores ficou observando a dinâmica das famílias (equipe dividida em duplas). B – Discussão: Todas as famílias compartilharam os cartazes, contando o desfecho que deram para a história. Em seguida, a equipe fez perguntas relacionadas aos objetivos do encontro, enfocando, mais especificamente, na família nuclear. C – Encerramento: Foi apresentado um trecho do vídeo “medidinha certa” do Programa Fantástico que retratava pontualmente os cuidados e envolvimentos da família no tratamento da obesidade infantil. Cada família recebeu um DVD do vídeo apresentado. 22 5º Encontro Tema: Discussão com os pais. Objetivo: Fazer a devolução e manter um vínculo com as famílias. Procedimento: A – Aquecimento: Um pai voluntário realizou um trajeto segurando um copo cheio de água, sem deixar cair o copo ou derramar a água. Como a finalidade de trabalhar o cuidado e proteção do filho. B - Discussão: Foi ressaltado sobre a importância das famílias promoverem ações concretas na direção de sanar o problema da alimentação inadequada; dificuldade das famílias em estabelecer limites, normas e regras sobre o padrão alimentar dos seus membros; a facilidade de acesso a alimentos não saudáveis não deve ser visto como parte de obrigatoriedade do consumo deste tipo de alimentos; dificuldade de algumas famílias em conversar sobre o assunto e de compreender a gravidade da obesidade para a saúde; importância do acompanhamento médico, nutricional e psicológico como fundamental para a saúde integral; a preocupação com a alimentação deve ser desde quando o bebê é gerado, isto é, na gravidez. C – Encerramento: Todos cantando juntos. “O que é o que é” – Gonzaguinha. 4.4 ANÁLISE DOS DADOS Os dados levantados foram analisados de acordo com o método construtivointerpretativo de Gonzalez-Rey (2003). A Epistemologia Qualitativa, indicada pelo autor, consta de organizar os dados identificando os Eixos Temáticos, possibilitando o levantamento de indicadores e construção de Zonas de Sentido. 23 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO A análise dos dados levou à emergência dos seguintes eixos de análise: ciclo de vida familiar, diagnóstico, padrão alimentar da família e relações interpessoais. A partir de tais eixos, os seguintes indicadores foram identificados: história Familiar de Sandra; outros casos de obesidade e problemas de saúde na família; Caio e seus relacionamentos na escola; a alimentação da criança; a educação da criança; o diagnóstico de obesidade. As zonas de sentido construídas de acordo com os indicadores serão apresentadas a seguir. 1º Zona de Sentido – “Eu vim conhecer brócolis aqui! Porque lá na minha terra já não tinha”: história Familiar de Sandra. Sandra e sua família originam- se do interior de Goiás. Foi “criada na roça”, o pai agricultor, trabalhava durante o dia na plantação e à noite era porteiro em uma escola. Relatou que na sua casa não faltava comida, mas também era bastante precária, tinha só o almoço e a janta. O café da manhã era o que sobrava do jantar. Como afirma Sandra: "Minha mãe fazia um mexidão, lá era o que a gente comia e ia pra escola”. Ainda a respeito dessa fase da vida, Sandra conta que a alimentação da família era mais difícil, porque moravam no interior: “Você não comia uma fruta, você não comia uma verdura. Comia arroz, quando tinha feijão a gente comia, ovo... Carne só final de semana e olhe lá! Frutas se plantassem no quintal tinha pé de laranja, cana... Minha mãe tinha a hortinha dela e plantava cheiro verde, alface... Refrigerante a gente não conheci... Maçã, pêra, uva a gente veio conhecer essas frutas, quando veio pra Brasília”. No Grupo Multifamiliar, Sandra disse que hoje em dia, as crianças e os pais se acostumaram com regalias, ou seja, com uma grande variedade de alimentos como sanduíches e refrigerantes, alimentos esses que os pais não tiveram na infância. Segundo a genitora: “A gente fica querendo dá pros outros o que a gente não teve. Você pode levantar de manhã e poder fazer um café da manhã farto pro seu 24 filho poder ir pra escola: pão, leite, né? A gente não tinha isso, e hoje se tem a oportunidade de poder dá”. A mudança nos hábitos alimentares das famílias tem contribuído com o aumento da obesidade, já que as famílias contemporâneas expõem mais as crianças à ingestão de alimentos hipercalóricos, segundo Moraes (2009). O autor afirma que os pais possuem papel fundamental no crescimento, desenvolvimento e aumento de peso corporal de seus filhos, visto que os hábitos dos genitores possuem influência direta nos seus descendentes. Pesquisa realizada por Newby (2007) mostra que alimentos muito consumidos por crianças como salgadinhos, refrigerantes, hambúrgueres e batatas fritas tiveram um aumento no teor calórico em relação aos mesmos alimentos de 20 anos atrás. Além disso, alimentos de baixo valor nutricional, geralmente são mais baratos do que alimentos saudáveis, como fibras, frutas e legumes (ANDERSON; BUTCHER, 2006). Os autores ainda mencionam sobre o atual estilo de vida das crianças e suas famílias que inclui o uso excessivo de videogame, computador, televisão e DVD, que são utilizados como forma de lazer. Esses hábitos estimulam o comportamento sedentário que só favorece o ganho de peso. 2ª Zona de Sentido: “...eu, o pai deles e a tia...”: outros casos de obesidade e problemas de saúde na família. Segundo informações da genitora Sandra, e a avó, Sra. Rita, há outros problemas de saúde na família, inclusive obesidade. A genitora afirma: “Depois da gravidez e com a diabetes eu fui obrigada a entrar em uma dieta rigorosa”. Ela ainda lembra que dois filhos da sua irmã Deise, apresentam índice de colesterol elevado: “Eles fazem tratamento, eles estão fazendo uma dieta bem rigorosa só que eles são magros, o pai deles também, a médica falou que eles precisam de tratamento urgentíssimo”. Diferente do que a maioria da população imagina, crianças magras também podem ter colesterol alto, podendo ser motivada pela alimentação inadequada e/ou herança genética. 25 Pesquisas mostram que uma a cada quinhentas pessoas no mundo tem herança familiar relacionada à obesidade. O colesterol alto está associado às principais causas de morte em todo o mundo, que são as doenças cardiovasculares, como infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral (BALANCIERI, 2013). E segundo a avó, sua filha, Laís, também sofre de obesidade e está fazendo acompanhamento para cirurgia bariátrica: “Ela é bem obesa, tá fazendo uns tratamentos pra ver se faz cirurgia mais o médico falou que pra ela precisar tem que dar alguma coisa nos exames, ela teve um problema seríssimo no joelho, fez cirurgia porque ela tava muito pesada ai forçava o joelho”. Ainda a respeito de doenças na família, Rita relata que toma remédio ‘para dormir’, sente dor nos braços e ombros, tem pressão alta e teve depressão. Ela ainda enfatiza o histórico dos problemas de saúde do esposo, Sr. José, que há doze anos fez cirurgia de ponte de safena e depois de alguns anos teve infarto. “... E também eu sou portadora de um marca passo que foi de emergência. Tenho pressão alta, eu tive uma depressão, agora tô melhorando... Meu marido? Ele toma um monte de remédio”. Sobre o diagnóstico de obesidade do Caio, a Srª Sandra afirma que levou a criança ao médico porque ele tinha muita dor de barriga e no estômago. A médica mandou tirar os doces, chocolate, refrigerante. Com isso ele não voltou a ter essas dores. Caio teve problema de estômago e foi levado ao gastroenterologista: “... fez vários exames de tomografia, que bate raios-X ai pediu um monte de exame dele, deu tudo normal, passou ele para o endocrinologista, ai fez dieta e tudo mais.” A orientação da médica foi de eliminação do consumo de alimentos hipercalóricos, com o objetivo de redução de peso. Segundo Felippe (2001), a diminuição do peso é uma das indicações terapêuticas para a redução do risco de desenvolver outras enfermidades 26 associadas à obesidade, como diabetes, hipertensão arterial, doenças cardiológicas, câncer, acidentes vasculares cerebrais, apnéias e artroses. A profissional de saúde recomendou mudança alimentar, conferindo aos pais o papel de educadores na criação de hábitos alimentares saudáveis. Este é um importante aspecto a ser considerado, pois estudos afirmam que a educação dos pais é um fator importante nos hábitos alimentares das crianças. Os hábitos relacionados às principais refeições, bem como a seleção dos alimentos consumidos é passado de pais para filhos (OLIVEIRA; CERQUEIRA; OLIVEIRA, 2003). 3ª Zona de sentido: “... ele chegava mordido, furado de lápis, beliscavam, mas nunca foi de revidar.”: Caio e seus relacionamentos na escola. Segundo a mãe e a avó, Caio é uma criança tranquila, dócil e não se envolve em conflitos na escola. Para a genitora, a professora fala que ele é calmo e meigo com os colegas: “... Eu já fui lá, conversei com a professora. Ela falou que ele é muito inteligente, muito esperto. Só tá um pouco preguiçoso com as tarefas. Ele é uma criança muito tranquila”. Segundo a avó, “Ele nunca foi de correr e bater, ele é super tranquilo. A professora fala assim que ele é calmo, que é meigo com os colegas, sabe?”. A mãe também ressaltou que até o ano passado, Caio estudava em escola particular e atualmente, está matriculado na rede pública. “Ele se adaptou de boa, ele ficou entusiasmado por saber que alguns colegas iam ficar na sala dele, e eu tô sentindo a diferença, escola particular é totalmente diferente.” A família não se refere a “Bullying”, mas contam que o menino era agredido na escola. É possível que esses comportamentos dos colegas estivessem relacionados ao fato de Caio ser gordinho, já que desde os três anos ele está acima do peso. 27 4ª Zona de sentido: “O Caio sempre foi bom pra comer...”: a alimentação da criança. Segundo a Sra. Sandra, Caio mamou no peito até os quatro meses, depois rejeitou e começou a tomar mamadeira. Ela afirma que o menino nunca precisou tomar remédio, pois sempre se alimentou bem: “Ele foi sempre bom pra comer... Quando era bebê comia tudo, verdura e legumes. Nunca tomou vitamina não. a única coisa que ele tomou foi sulfato ferroso quando era pequenininho”. A mãe cuidou, exclusivamente, de Caio até o fim da licença maternidade. Logo depois, retornou ao trabalho. De acordo com a genitora, neste momento Caio ficou aos cuidados da avó paterna, Sr.ª Rita. Sandra admitiu que não costumava acompanhar a rotina alimentar do filho, que ficava a cargo da avó. Com isso, a mãe informou que teve dificuldades de conter o ganho de peso da criança. Assim como nascimento do segundo filho, a mãe resolveu sair do trabalho: “Para cuidar dele, pra ver se eu faço diferente... Tanto que o Lucas come o que você der, o Caio desde pequeno não gosta de fruta. Ele não come fruta nenhuma... O Lucas já come, ele come verdura, come fruta, a alimentação dele eu já consigo fazer diferente, porque eu que estou cuidando”. Hoje Sandra acompanha de perto essa rotina e diz que: “O Caio não é de comer muita besteira, biscoito recheado, essas coisas, o negocio dele é o tradicional, arroz e feijão todo dia no almoço e janta, de manhã tem vezes que ele nem toma café, lancha na escola, ai chega e almoça hoje mesmo ele comeu bem pouco, ai é assim, come pão, um leite com café, eles não é muito fã de leite, é mais café mesmo...”. 28 Sandra disse que “dá para o filho mais novo”, o mesmo tipo de alimento que oferecia para Caio quando era bebê. Para o Lucas, “boto jiló, coloco tudo, coloco inhame, coloco batata, coloco tudo e ele come tudo. O Caio também comia de tudo”. Segundo ela, hoje o menino não come nenhuma verdura ou fruta. A avó acha que a criança come muito porque é ‘guloso’. Segundo ela, se ele não vê a comida ou as pessoas comendo ele não se lembra de comer. No entanto, “... se ele não lancha a tarde e chega à hora da janta ele quer lanchar... A gente fala se você lanchar já vai ser a sua janta. Aí ele fala: Mas eu não lanchei e não posso ficar sem janta? Ele tem argumento” (Risos). Sandra afirmou que tem que ficar controlando Caio nas refeições “... se não ficar controlando, ele come..” Como eles moram no mesmo lote da sua sogra, Caio chega a almoçar nas duas casas, como afirma a genitora: “... se ele almoça aqui e depois vai pra casa da vó, se eles estiverem almoçando ele acha que tem que almoçar de novo!”. A mãe afirma que o menino não continua em tratamento, porque: “... da última vez que eu fui lá ela brigou comigo porque ele não perdeu peso, aí... Eu não fui mais, não...”. A dificuldade de manter a criança em tratamento pode estar ligada ao fato de que, quando os pais tentam impor limites aos filhos, terão que lidar com suas próprias questões e problemas relacionados a esses limites (BAYER et al, 2010). Outro fator de preocupação dos profissionais de saúde é a adesão a propostas de tratamento. Essa adesão no caso da obesidade infantil é baixa e constitui uma das grandes dificuldades para o tratamento (DENZER et al, 2004). Não há dúvidas de que a diminuição da ingestão calórica, o aumento da atividade física e o apoio emocional são estratégias que determinam diminuição de peso (FISBERG et al., 2004; SOUZA; KLING, NAVARRO, 2007). No entanto, o tratamento da obesidade infantil não é uma tarefa fácil. Hábitos inadequados, presentes no âmbito familiar, são ponto central na abordagem terapêutica (SANTOS, 2003). No caso da família de Caio, a mãe conta que não deu continuidade ao acompanhamento médico, porque este chamou sua atenção “brigou” para o fato de que a criança não tinha perdido peso. Talvez ela tenha se sentido irresponsável e envergonhada, 29 dependendo da forma como o médico falou. Mas nada explica o não cumprimento de sua função de cuidadora e protetora do filho. Sandra alegou que o seu sogro, Sr. José, não colabora com o tratamento do neto. O mesmo lhe oferece alimentos calóricos, apesar de ambos não poderem consumir esses alimentos, devido aos problemas de saúde já existentes. O Sr. José é diabético e tem problemas cardíacos. Sandra relatou que: “Ás vezes o Caio tá em casa e meu sogro só assovia... Aí quando você vai ver estão os dois lá comendo escondido, rapadura, chocolate... Às vezes eles saiam pra andar de bicicleta quando eu ia ver tava os dois lanchando escondidos nas padarias, então é muito difícil”. A genitora conta, com muita preocupação, que o avô não coopera com as tentativas de mudança na alimentação de Caio. Sabemos que quando há a presença de avós na família a definição dos papéis pode ser difícil. Alguns cuidados já estão sendo tomados em relação à alimentação de Caio, como evitar alguns alimentos e frequentar lanchonetes: “ ...um refrigerante no final de semana, mas nem é todo o final de semana que a gente compra, é um ou outro, a gente tirou o refrigerante desde a época em que ele começou a fazer o tratamento. Chocolate só nessas ocasiões igual, páscoa, mais a gente não compra, e balinha, chiclete também não, biscoito recheado a gente não compra, ai é só o tradicional mesmo... Ele gosta muito de batata e macarrão, a gente até evita fazer". Um importante aspecto a ser considerado no surgimento e manutenção dessa patologia é a associação entre alimentação e afeto, como foi observado por Otto e Ribeiro (2012) em pesquisa com obesos adultos e suas famílias. Santos (2003) também afirma que o consumo de alimentos e a fartura estão associados à saúde, significando para os adultos, que eles são bons cuidadores da criança. O alimento pode ser usado para demonstrar afeto, quando a expressão deste é difícil entre os membros da família. 30 5ª Zona de sentido: “... a gente não é muito de bater não...”: a educação da criança Em relação à educação e definição de regras e limites da criança, a mãe afirmou que são contra ‘bater’ na criança e preferem ‘por de castigo’: “... O pai dele é muito de conversar, tem mais paciência do que eu. Senta com ele, explica, fala o que é certo e o que é errado”. Sandra afirma que seu marido é bastante afetuoso com as crianças: “... Ele fica o dia todo fora, aí chega abraça...”. A respeito da hierarquia na familiar, a genitora afirma que tudo é decidido em conjunto: “... Aqui não tem essa coisa de um mandar no outro não”. No Grupo Multifamiliar, quando se discutia sobre a educação dos filhos, Sandra afirmou: “Todo mundo é que educa, a avó, o vô, a tia, todo mundo manda um pouquinho, ele obedece todo mundo também, mas quem ele tem mais respeito é com o pai dele, pai dele falou! Às vezes eu falo e ele fica, então eu falo com o seu pai que ai seu pai conversa com você que resolve.” Ao ser questionada sobre o fato de morar com a sogra, Sandra ressaltou: “Morar com sogra você acha o quê? (Risos) Tranqüilo... Uma vez meu instrutor pergunta se eu ainda ia fazer comida quando chegasse em casa. Ai eu disse que minha sogra ia fazer. Ele perguntou se eu comia...(Risos) Eu como sem medo.” Mas, segundo a Srª Sandra tem um lado negativo no fato de residir com a sogra, a interferência dos avós na criação do filho. Sobre essa interferência, Sandra afirma que é motivo de conflito entre ela e o marido, porque ela não pode dizer nada: “O vô dele é cabeça muito duro, é muito ignorante, a gente tem que saber até o que falar. Ele não gosta que briga com os meninos, não gosta que bate, ele acha que tem fazer a vontade dos meninos, então é muito difícil”. 31 A nutricionista que está acompanhando a criança notou a dificuldade de controle dos pais sobre a alimentação do filho e afirmou: “enquanto você tiver morando lá e seu sogro tiver essa atitude o Caio não vai conseguir ter progresso”. Sandra afirma que: “Realmente não tá tendo, isso eu já conversei com o César, a gente tem que tomar uma atitude na nossa vida. Porque mesmo sendo casas separadas o Caio não sai de lá de dentro”. De acordo com os relatos, está presente na família um conflito de gerações e responsabilidades, o que nos remete aos estudos de Whitaker e Bumberry (1990, apud OTTO; RIBEIRO, 2012) referentes à importância de reconhecer e incorporar a unidade familiar tri ou tetrageracional. A criança pode estar envolvida com seus avós, sem se envolver numa triangulação patológica com os pais. Segundo os autores, um dos componentes básicos na estrutura de famílias que têm um bom funcionamento é uma clara separação de gerações, os pais são a espinha dorsal da família. Na família saudável, a força dos pais opera de forma encoberta, ele não tem que continuamente prová-la, seja para os filhos, parentes e para si mesmos. Sandra diz se preocupar com o filho mais novo, que também está sofrendo essas interferências. Tem evitado ficar com o filho perto do avô quando este está comendo: “... se tá comendo uma balinha já vai por na mão do Lucas. Às vezes ele sai e volta com um pirulito e quer dar pro Lucas, então às vezes eu fico mais isolada dentro de casa para quebrar isso”. Questionada sobre a possibilidade de conversar com o sogro e tentar resolver essas questões, Sandra afirma que sua cunhada já conversou, mas não houve mudança: “É muito complicado, a gente não sabe mais nem o que fazer. A gente já pensou de várias maneiras, a única solução que tem é a gente sair de lá, mas aí já vem à questão financeira, tem que pagar aluguel, a gente não tem né”. 32 Sandra acha que o sogro não viria para os encontros do Grupo Multifamiliar e parece ansiosa ao falar das interferências do avô e as tentativas de solução do problema: “Hoje mesmo, a gente levantou cedo, colocou o Caio para tomar banho enquanto ele tava tomando banho ai fui arrumar o café dele. O Caio tava se arrumando... Escutei (assobio) aí eu já saquei né ... Tem um espelho bem grande no meu quarto que dá para você ver lá fora. Olhei e ele (sogro) tava fazendo assim, (chamando com o dedo indicador) ai o Caio disse: ‘não, eu já tomei café’. Então eu tenho que ficar em cima...” Com base nos relatos de Sandra, percebemos a dificuldade de delimitar as fronteiras da sua família nuclear, ou seja, as regras que definem quem participa e como participa do cotidiano familiar. Segundo Minuchin (1982) são as fronteiras que protegem a distinção do sistema e garantem sua particularidade, possibilitando o funcionamento eficaz do sistema familiar. Para que o funcionamento familiar seja adequado, estas fronteiras devem ser nítidas. No caso da família de Sandra as fronteiras estão difusas, pois outros membros interferem nas idéias e decisões da sua família, prejudicando o tratamento de Caio e o relacionamento conjugal do casal. A genitora e a avó se revezam ao vigiar a criança: “... às vezes eu vigio de cá e minha sogra de lá, aí ele levanta cedo, por que como meu sogro leva ele para escola, aí levanto, arrumo ele, dou o café pra ele, porque tem o Lucas né, e eu não posso deixar ele só... Como eu não tenho com quem deixar o Lucas é ele que leva ... o Caio abre a porta e vai”. A avó e a cunhada são aliadas de Sandra quando se trata de controlar a interferência negativa do avô, em relação a alimentação: “Às vezes ele come lá em casa, aí ele chega lá e meu sogro tá enfiando... ‘Caio você já comeu? ’ Não, não comi nada não. Minha sogra diz: Vou perguntar a sua mãe... Então ela me ajuda muito. Minha cunhada também”. Mesmo o exercício físico, tão importante para o desenvolvimento da criança fica prejudicado: 33 “Eles gostavam muito de sair pra andar de bicicleta, ai eu descobri que eles saiam, passavam naquele terminal ali, lanchavam, às vezes compravam balinha, bombom, aí eu cortei”. Às vezes ele fala: ‘mãe deixa andar de bicicleta com meu vô’. Eu digo não vai não! Ai às vezes ele insiste muito e a minha sogra vai e fala: ‘Vai, mas não vai levar um real, tira o dinheiro que tiver no bolso todinho’. Sandra tenta todas as alternativas: “... Quando fala muito assim melhora mais um pouco, depois começa de novo. Quando o João Pedro tem consulta assim, ai eu chego e falo o que que a médica falou, exagero um pouco para ver se... Aí ele passa uma semana boa, por que acho que pensa, mas de repente começa tudo de novo, então é muito complicado. O avô e o neto se unem para comer alimentos que são ‘proibidos’ pela mãe e avó: “.... Ontem mesmo eu descobri que o avô dele foi busca ele na escola é levou metade de um ovo de páscoa dentro de uma sacolinha escondido, é comeram por lá. É chego, ai ele queria chocolate, ai eu falei: João Pedro eu não vou abri o ovo de chocolate pra você, que eu já falei que é só fim de semana, ai ele falo assim, não mais meu vô hoje já me deu uma banda de ovo de chocolate...” Entendendo essa família dentro dos pressupostos da teoria sistêmica, podemos observar que enquadra-se no que Minuchin (1982) define como o perfil das famílias psicossomáticas, com padrões de superproteção, aglutinamento, rigidez, conflitos familiares ou de casal não resolvidos, onde o paciente está comumente triangulado com os pais. A dependência econômica muitas vezes está na base da dificuldade desses pais colocarem limites na interferência dos avôs sobre a educação do neto. Mas os genitores não podem permitir que essa interferência prejudique a saúde da criança. 34 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS O estudo de caso mostrou algumas semelhanças sobre o funcionamento de famílias com casos de obesidade descritos na literatura. A família estudada possui fronteiras internas difusas, pouco lazer, ênfase à lealdade familiar, forte ligação entre alimentação, afetividade e pertencimento. Esse dado reforça que para o tratamento da obesidade na infância torna-se fundamental a atuação multidisciplinar apoiada na perspectiva sistêmica em que se considera que a criança representa a parte de um todo. A família apresenta dificuldade na adesão ao tratamento da obesidade recomendado pelos profissionais de saúde, embora tenha conseguido realizar pequenas mudanças na alimentação familiar. Os pais têm dificuldade de delimitar as fronteiras da sua família nuclear, e definir melhor os papéis do subsistema parental, permitindo que os avós interfiram de forma negativa na educação da criança referente à alimentação. A mãe admitiu que inicialmente, não acompanhava a rotina alimentar do filho, atualmente, permanece em constante vigilância a fim de favorecer o consumo de alimentos adequados à dieta da criança. Considerando as limitações desse estudo, como a não participação do pai e do avô da criança na entrevista e nos encontros Multifamiliar, avaliamos que os objetivos foram alcançados, uma vez que foi possível conhecer a dinâmica família, identificar as regras, fronteiras e o padrão alimentar. O método utilizado e a abordagem sistêmica da família contribuíram muito para o alcance dos objetivos. A encerrar o estudo, gostaríamos de pontuar a importância do grupo multifamiliar no tratamento da obesidade infantil. Não podemos limitar a doença à criança afetada, precisamos ampliar o olhar para o contexto das relações da criança. A participação da família no tratamento da obesidade infantil é de fundamental relevância, por se tratar do agente primordial de mudanças. 35 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDERSON P.M, BUTCHER KE. Childhood Obesity: Trends and potential causes. Future Child. Spring, v.16, n. 1, p.19-45, 2006. BALANCIERI, A. B. S. Colesterol: Perguntas frequentes. Revista Endocrinologia Pediátrica. Disponível em: <http://endoped.com/perguntas-frequentes/colesterol/> acesso em: 05/03/2013. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Vigitel Brasil 2011: Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde – Brasília: Ministério da Saúde, 2012. 132 - (Série G. Estatística e Informação em Saúde). BAYER, A.A. A; LOPES, S.R. A; TEXEIRA, C.J. C; VASCO, C.C. Intervenção grupal em pacientes com obesidade e seus familiares: Relato de Experiência. Psicologia Ciência Profissão. Brasília, v.30, n.4, dec. 2010. BÖING, E; CREPALDI, M. A; MORÉ, C. L. O. O. Pesquisa com famílias: aspectos teóricometodológicos - Planejando pesquisa com famílias - Florianópolis: Editora Paidéia: 2008. CARDOSO, L.K. O; CARVALHO, A. M. P. (2007). Avaliação psicológica de crianças acompanhadas em programa de atenção multiprofissional à obesidade. Interface, v. 11, n. 22, p. 297- 312, 2008. CATANEO, C; CARVALHO, A. M. P; GALINDO, E. M. C. Obesidade e Aspectos Psicológicos: Maturidade Emocional, Auto conceito. Locus de Controle e Ansiedade Psicologia: Reflexão e Crítica, São Paulo, 2005. CERVENY, C. M. O. A família como modelo: Desconstruindo a patologia. Campinas, SP: Livro Pleno, 2000. CEZAR, C.O. Tratamento da Obesidade Estruturado em Terapêutica Multi profissional. Pediatria Moderna, v.36, n.3, 2000. COLAHAN, M; ROBINSON, P.H. Multi-family groups in the treatment of young adults with eating disorders. Journal of Family Therapy, v. 24, n.1, p. 17-30, 2002. COSTA, F; FERRER, G. Trabalho sobre estrutura familiar e dinâmica social, cujo subtema é “Aspectos introdutórios e violência na família”, 2011. Disponível em: <http://www.notapositiva.com/pt/trbestbs/areaintegr/12_estrutura_familiar_e_dinamica_socia l_d.htm> acesso em: 15/06/13. 36 COSTA, L. F.; PENSO, M. A; ALMEIDA, T. M. C. O grupo multifamiliar como um método de intervenção em situações de abuso sexual. Psicologia USP, v. 16, p. 121-146, 2005. CRESWELL, JOHN W. Projeto de Pesquisa: Métodos Qualitativo, Quantitativo e Misto; Tradução Magda Lopes. 3 ed. Porto Alegre: Artmed, 2010, p. 296. DENZER, C; REITHOFER, E; WABITSCH, M; WIDHALM, K. The outcome of childhood obesity management depends highly upon patient compliance. European Journal of Pediatrics, n.163, p. 99-104, 2004. DONATO, A; OSÓRIO, M. G. F; PASCHOAL, P. V; MARUM, R. H. Obesidade. In S. R. Busse (Org.), Anorexia, Bulimia e Obesidade. Barueri: Manole, 2004. p. 329-361. DSM-IV-TR: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. Porto Alegre: ArtMed; 2002. FELIPPE, F. M. O Peso social da obesidade. Tese (Doutorado em Serviço Social). PUCRS, Porto Alegre, 2001. FISBERG, R.M. et al. Inquéritos Alimentares: Métodos e Bases Científicas. Barueri: Manole, 2005. GONZALEZ REY, F. Sujeito e subjetividade: uma aproximação histórico-cultural. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009. Antropometria e estado nutricional de crianças, adolescentes e adultos no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2010. LAMOUNIER, J. A; PARIZZI, M. R. Obesidade e Saúde Pública. Cad. Saúde Pública. Rio de Janeiro, v.23, n. 6, 2007. LOPES, P. C. S; PRADO, S. R. L. A; COLOMBO, P. Fatores de risco associados à obesidade e sobrepeso em crianças em idade escolar. Rev. Bras. Enferm. Brasília, v.63, n. 1, 2010. MCNAMEE, S. Social construction as practical theory: Lessons for practice and reflection in psychotherapy. In D. Pare & G. Larner (Eds.), Critical knowledge and practice in psychotherapy. p. 10-26. New York: Haworth Press, 2004. MELLO, E.C; LUFT, V.C; MEYER, F. Atendimento ambulatorial individualizado versus programa de educação em grupo: qual oferece mais mudança de hábitos alimentares e de atividade física em crianças obesas? Jornal de Pediatria, v. 80, n. 3, p. 468-474, 2004. MINUCHIN H, S.; FISHMAN, C. Técnicas de Terapia Familiar. (Psicoterapeutas de Família - Belo Horizonte) Belo Horizonte: [s.n.], 2007. MINUCHIN, S. Famílias: funcionamento e tratamento. Porto Alegre: Artes Médicas, 1982. 37 MORAES, J. F. V. N. Sobrepeso e Obesidade em pré-escolares: Diagnóstico conforme novo padrão e normas da OMS e avaliação de alguns fatores associados. Dissertação ( Mestrado em Educação Física). Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2009. NEWBY, P.K.. Are dietary intakes and eating behaviors related to childhood obesity? A comprehensive review of the evidence. Journal of Law, Medicine & Ethics 2007, Spring,35-60. OLIVEIRA, A.M. A; CERQUEIRA, E.M. M; OLIVEIRA, A.C. Prevalência de sobrepeso e obesidade na cidade de Feira de Santana - BA: detecção na família x diagnóstico clínico. J Pediatria, 2003, v. 79, n. 4, p. 325-328. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE – OMS. Classificação de Transtornos mentais e de Comportamento da CID-10: Descrições Clínicas e Diretrizes Diagnósticas.Porto Alegre: Artmed, 1993. OTTO, A. F. N; RIBEIRO, M. A. Unidos em torno da mesa: a dinâmica familiar na obesidade Universidade Católica de Brasília. Estudos de Psicologia, v. 17, n. 2, Ago, 2012, p. 255-263. PRADO, M. C.C. A. O excesso de alguma coisa é a falta de alguma coisa. Mas o que está faltado? A obesidade mórbida em questão. Em: Feres – Carneiro T. (Org). Família e casal: efeito da contemporaneidade (p.p. 200 – 222). Rio de Janeiro: PUC Rio, 2005. SANTOS, A.M. Obesidade infantil: a família com excesso de peso. Porto Alegre: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2003. SOTELO, Y.O.M; COLUGNATI, F.A.B; TADDEI, J.A.A.C. Prevalência de sobrepeso e obesidade entre escolares da rede pública segundo três critérios de diagnóstico antropométrico. Cad Saúde Pública 2004, v. 20, n. 1, p. 233- 240. SOUZA, A.S; KLING, M.R. S; NAVARRO, F. A Importância da Orientação e Reeducação Nutricional no Tratamento da Obesidade. Revista Bras. Obesidade, Nutrição e Emagrecimento, 2007. BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE. Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônicas. Portal da Saúde. Brasília: MS, 2011. Disponível em:<http://portalsaude.saude.gov.br/portalsaude/arquivos/pdf/2012/Ago/22/vigitel_2011>. Acesso em: 17/06/2013. 38 GLOSSÁRIO Adiposidade – Excesso de gordura, obesidade, adipose. Alimentos hipercalóricos - Alimentos com quantidades aumentadas de calorias. Apneias - Distúrbio potencialmente letal em que a inspiração pára recorrentemente durante o sono por períodos de 10 segundos ou mais, mais de 30 vezes por noite, sendo o seu restabelecimento acompanhado de um ronco. Artroses - Degenerescência das cartilagens articulares e aparecimento de excrescências ósseas, o que ocasiona artralgias, espasticidade ou vertigens (na artrose cervical), que se agravam com o esforço. Aterosclerose - Doença da parede dos vasos arteriais, causada pelo depósito de colesterol, cálcio e tecido fibroso. Produz um aumento da resistência ao fluxo normal de sangue através do vaso afetado, com uma conseqüente isquemia dos diferentes órgãos (coração, cérebro, etc). Comportamento obesogênico - É o comportamento que produz e suporta o sobrepeso e a obesidade. Esse comportamento inclui o consumo de grandes porções de comida particularmente com alta concentração de açúcar e gordura, combinado com uma vida sedentária. Metabólicos - Aquilo que é relativo ao metabolismo, ao funcionamento do corpo. Reações químicas que ocorrem nas células, tecidos ou num organismo. Estes processos incluem a biossíntese (Anabolismo) e a degradação (Catabolismo), de materiais orgânicos utilizados pelo organismo vivo. Tecido adiposo – Tecido formado por células que contêm gorduras, numa trama de tecido areolar. 39 ANEXO A ROTEIRO DE ENTREVISTA DO CICLO DE VIDA FAMILIAR Projeto de pesquisa TA/Obesidade DADOS DE IDENTIFICAÇÃO Nome dos presentes e função/papel familiar: Idade: Escolaridade dos pais: Religião: Profissão dos pais: Endereço e telefones: Casa própria ou alugada? Renda familiar aproximada: QUESTÕES 1. Relacionamento do casal: relacionamentos anteriores, namoro e casamento atual. • • • • • Outros casamentos. Quantidade. Motivos da separação. Como o casal se conheceu. Há quanto tempo. Motivos de ficarem juntos. O que atraiu um no outro. Como é o relacionamento atualmente. Quando precisam de ajuda a quem recorrem. Como é o relacionamento com as famílias de origem. • Como é o relacionamento com filhos de outros casamentos (caso tenham), exesposa, ex-marido. • Idades dos outros filhos e com quem moram. 2. Nascimento dos filhos no relacionamento atual e primeira infância 40 • • • • • • • • • • • Como foi o nascimento de cada filho. Foram planejados. Desejados. Como estava a relação do casal no momento do nascimento de cada filho. Quais os sentimentos dos pais na ocasião do nascimento dos filhos. Houve alguma alteração em termos financeiros, sociais ou laborais em função do nascimento dos filhos. O que pensam a esse respeito. Houve alguma alteração no relacionamento conjugal após o nascimento dos filhos – tarefas, responsabilidades. Percebem alguma diferença relacionada ao momento do nascimento dos filhos. Dos atuais e dos filhos de relacionamentos anteriores, caso tiveram. Que diferenças. Com quem os filhos ficavam ou ficam. Quem cuida deles – babá, empregada, cuidadores. Como é a relação dos filhos com os irmãos, com os pais, com outros membros das família de origem. Como é a relação dos filhos com outros sistemas sociais - escola, vizinhos, amigos, lazer (investigar presença de bulling). Os filhos têm ou tiveram problemas de saúde. Como o casal vê a relação conjugal no contexto familiar – fronteiras intersistêmicas. 3. Percepção dos pais sobre a dinâmica familiar. • Como percebem a relação pai-filhos e mãe-filhos. Essa relação é diferente com outros filhos. Quais são as diferenças. • Como são fixadas as regras na família – são negociadas ou impostas. • O que pode e o que não pode nessa família. Quais são as regras da família. • Existe acordo entre o pai e a mãe sobre as regras e os limites e a forma de colocá-los. • Como é a hierarquia na família – com quem está o poder – quem manda e quem obedece nessa família. • Quem educa e de que maneira os filhos são educados. Quem dá limites. De que forma. • Como é expressado o afeto na família. Pais/filhos, marido/mulher, entre os irmãos. Quem é mais afetuoso(a). • Como é a comunicação na família – quem fala com quem e de que forma – conversam ou trocam idéias – em que momentos. • Quando têm problemas, como resolvem – quem participa das decisões e soluções dos problemas. • Relação da família nuclear com as famílias de origem. 41 4. Alimentação na família – transtorno/obesidade • • • • • • • • • • • • • • • • Como os pais vêm a questão da alimentação no contexto familiar. Como foi a alimentação dos filhos – bebês, infância, adolescência. Dificuldades nessa fase. Havia acordo ou desacordo entre os pais a respeito da alimentação dos filhos. Influências e participação das famílias de origem dos pais na alimentação dos pais – tipos de comida, quantidade – avós, tios, influenciaram na alimentação dos filhos. O que os filhos comiam e como foram introduzidos os alimentos na infância. Eventos, comemorações, situações familiares relacionadas com a alimentação – o que comem, como comem, quanto comem, com quem comem, quando comem – quais são. Padrão de alimentação familiar – é possível falar de um ‘padrão familiar’ – que histórias a família conta sobre isso. Surgimento do transtorno/obesidade – como foi percebido, por quem, quais foram as providências – reações iniciais, primeiras providências. Quem deu o diagnóstico e de que forma. Quem apoiou nesse momento do diagnóstico. A família entendia o que estava acontecendo – procurar5am se informar, com quem e como. O que os pais pensam sobre o transtorno/obesidade – possíveis ‘causas’, explicações – “crenças” familiares sobre as causa e tratamento. Presença de outros membros da família nuclear e famílias de origem dos pais com transtornos/obesidade – há outros problemas de saúde na família (nuclear e extensa). Quais os tratamentos que já foram feitos – medicação, etc. Qual a situação atual da pessoa com TA ou obesidade – como está, acompanhamento profissional. 5. Expectativas para o futuro • Quais são as expectativas de futuro para esta família. • Quais são os planos para o futuro. • Como essa família estará daqui a cinco anos (ou 2, ou 3). 42 ANEXO B TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Você e sua família estão sendo convidados a participar de uma pesquisa intitulada “Construção de metodologia de atendimento psicossocial a crianças e adolescentes com transtornos alimentares e suas famílias”, que será realizada por uma equipe de professores da Universidade Católica de Brasília e Universidade Federal de Goiás, sob a coordenação da professora Doutora Maria Alexina Ribeiro. Esta pesquisa tem como objetivo construir uma metodologia de atendimento psicossocial a crianças e adolescentes portadores de transtornos alimentares e suas famílias, a partir do conhecimento dos aspectos intrapsíquicos, familiares e sociais das mesmas. Sua participação constará de entrevistas feitas pela equipe de pesquisa, abordando questões sobre o relacionamento familiar, e atividades em grupo com participação de outras três famílias onde serão realizadas atividades de dinâmica de grupo. As crianças e adolescentes participarão de encontros com atividades lúdicas e os adolescentes responderão a um teste de personalidade. Todas as atividades serão realizadas no Centro de Formação em Psicologia Aplicada – CEFPA, da Universidade Católica de Brasília – UCB. O estudo, a princípio, não trará benefício aos participantes do mesmo, mas poderá propiciar um melhor conhecimento do tema estudado, e auxiliar pessoas e profissionais que trabalham com crianças e adolescentes com transtornos alimentares e obesidade e seus familiares. Sua participação e de sua família neste estudo é completamente voluntária, não terá qualquer custo, e não será remunerada. Também não implicará em nenhum risco e poderá ser interrompida a qualquer momento, sem que este fato traga nenhuma conseqüência para seus participantes. Em todas as etapas da pesquisa, você terá a oportunidade de fazer perguntas julgadas necessárias, a qualquer momento, bem como o direito de recusar-se a responder perguntas que ocasionem constrangimentos de alguma natureza. As entrevistas e atividades em grupo serão gravadas e filmadas em vídeo, para garantir a fidelidade dos dados, que serão transcritos pela equipe de pesquisa. Será assegurada a confidencialidade dos dados e a identidade dos participantes mantida em sigilo. No relatório final, os nomes dos participantes serão substituídos por nomes fictícios. Os dados coletados serão utilizados na elaboração de um relatório que será apresentado à Universidade Católica de Brasília – UCB e à CAPES/CNPq e, posteriormente, poderão ser publicados em periódicos científicos ou outros meios de divulgação. O presente Termo deverá ser assinado em duas vias, ficando uma delas com a pesquisadora e outra com você. A pesquisadora ficará à disposição para eventuais esclarecimentos sobre quaisquer aspectos da pesquisa. Contatos poderão ser feitos pelos telefones: 3361-0429 e 3356-9328. 43 Eu.........................................................identidade: .........................., declaro que fui informado e devidamente esclarecido sobre o projeto de pesquisa intitulado “Construção de metodologia de atendimento psicossocial a crianças e adolescentes com transtornos alimentares e suas famílias”, desenvolvido por uma equipe de professores da Universidade Católica de Brasília e Universidade de Brasília, sob a coordenação da Professora Doutora Maria Alexina Ribeiro do curso de Mestrado em Psicologia da Universidade Católica de Brasília - UCB, de acordo com os itens da Resolução 196/96. Declaro que, após ser esclarecido pela pesquisadora a respeito da pesquisa, consinto em participar, juntamente com minha família, voluntariamente, dessa pesquisa. Brasília/DF, _____ de ______________ de 201 . ______________________________________ Assinatura do participante/ responsável/representante da família _______________________________________ Coordenadora da pesquisa