Fugas Imprensa
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Fugas Imprensa
Na ponta da língua Miguel Esteves Cardoso O melhor sabão do mundo é afinal aquele que toda a gente diz ser o melhor sabão do mundo: o do Dr. Bronner m dos grandes prazeres da vida é a limpeza. É pena haver tão poucos verdadeiros sabões à nossa disposição. Se olharmos para os ingredientes daquilo a que chamamos, com razão, “sabonetes”, levantam-senos os cabelos. Sabões não são. São detergentes. Há uma grande diferença. O sabão 100% orgânico mais famoso do mundo é o Dr.Bronner’s Magic Soap, sobretudo na versão líquida com hortelã pimenta. Uma garrafa de litro que custa 16 dólares no Amazon.com tem 2652 avaliações dos clientes, com uma média de 4,5 estrelas. Acho que é o produto de limpeza mais estimado pelos norte-americanos. A história do sabão é incrível. Começou a ser fabricado na Alemanha em 1858. Vale a pena ir ao site http://magicsoapbox.vhx. tv para comprar e descarregar imediatamente o documentário de 90 minutos realizado por Sara Lamm. Custa apenas 6 dólares (5 euros) e, tipicamente, 2 dólares desse dinheiro são imediatamente enviados para uma campanha no Oregon que está a lutar para que as empresas declarem nos rótulos dos produtos postos à venda se contêm ingredientes geneticamente modificados. O documentário é fascinante porque revela o lado negro do carismático Dr.Bronner (abandonou os filhos para se dedicar a uma campanha para unificar a humanidade) e, ao mesmo tempo, mostra como era inteligente e humanitária a obsessão dele. O célebre rótulo do sabão líquido está cheio de citações dele, do “ABC Moral” em que condensava os ensinamentos comunitários mas anticomunistas. Enquanto viveu DR U Tenho andado a seguir uma política dermatológica muito simples: não ponho na pele ou no cabelo nada que eu não pudesse comer ou beber. Se esfregarmos um dente de alho na sola do pé, passados 20 minutos ficamos com a boca a saber a alho estava sempre a rever as centenas de frases do rótulo. A empresa de Dr. Bronner agora pertence e é gerida por dois bisnetos deste original e excêntrico Dr Emanuel Bronner. É uma empresa exemplar que paga e trata bem os trabalhadores, não gasta um cêntimo em publicidade mas gasta milhões em boas causas. Também gasta dinheiro a processar os produtores de mercadorias pseudo-orgânicas. O sabão é completamente orgânico (no sentido americano) e todos os fornecedores são não só conhecidos como bem pagos pela própria empresa. Tudo isto está documentado e não é (porque não pode ser) disputado pelos mais furiosos concorrentes. Se quer voltar a acreditar no capitalismo construtivo, filantrópico e activista (sim, nos E.U.A.) espante-se a ler as várias páginas do www.drbronner.com. Se só tem cinco minutos e quer não só divertir-se como aprender quais são os sabões verdadeiros e quais são os falsos procure o “Punk Rock Soap Opera” nesse mesmo site. Apresentado por David Bronner — o neto que dirige a companhia — é um exemplo de activismo apaixonado. Repare-se como ele elogia, com a mesma paixão, os sabões orgânicos que são concorrentes directos da Dr. Bronner. Tudo isto é muito bonito mas, apesar de eu confiar na fabulosa reputação da Dr Bronner, faltavame experimentar o sabão. Felizmente é agora possível comprá-lo no Reino Unido (www. drbronner.co.uk). Uma garrafa de 946 ml, fabricada nos EUA, custa14 libras (18 euros) e dura cerca de seis meses, por ser tão concentrado. Eu compro em garrafões de um galão americano (quase 4 litros) por 45 libras (58 euros). Cada litro sai-me, assim, a 15 euros. Melhor do que isso: oferecem os custos de envio. Chegam por DHL dois ou três dias depois. Tudo isto é muito bonito: o sabão, para além de puríssimo, é barato. Mas presta ou não? Ao longo do último mês tenho andado a seguir uma política dermatológica muito simples: não ponho na pele ou no cabelo nada que eu não pudesse comer ou beber. Faz sentido. Se esfregarmos um dente de alho na sola do pé, passados 20 minutos ficamos com a boca a saber a alho. A pele absorve o que lá pomos e parece estúpido estar a aplicar-lhe coisas que nos envenenariam caso as passássemos ao estreito. Todos os ingredientes do sabão Dr. Bronner — excepto a soda cáustica, sem a qual não se pode fazer sabão verdadeiro — poderiam ser bebidos sem prejuízo para a saúde. E que tal me tenho dado, usando exclusivamente o sabão Dr. Bronner para tomar banho e lavar o cabelo? Muitíssimo bem. Passado um mês de uso diário desapareceram todas as irritações da pele que me têm acompanhado a vida inteira. O sabão Dr Bronner é mágico por não ter magias nem barretes nem banhas da cobra de qualquer espécie. Recomendo-o activamente. FICHA TÉCNICA Direcção Bárbara Reis Edição Sandra Silva Costa e Luís J. Santos (Online) Edição fotográfica Miguel Madeira e Manuel Roberto (adjunto) Design Mark Porter, Simon Esterson Directora de Arte Sónia Matos Designers Daniela Graça, Joana Lima e José Soares Infografia Cátia Mendonça, Célia Rodrigues, Joaquim Guerreiro, José Alves e Rita Cabral Secretariado Lucinda Vasconcelos Fugas Praça Coronel Pacheco, 2, 4050-453 Porto. Tel.: 226151000. E-mail: fugas@pu bli co.pt . fugas.publico.pt Fugas n.º 749 38 | FUGAS | Público | Sábado 27 Setembro 2014