Revista Digital FESP - Ed. 01
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Revista Digital FESP - Ed. 01
PALAVRA DO DIRETOR 02 Prezados Alunos, Professores e Colaboradores, Com satisfação é que deixo aqui gravadas minhas primeiras palavras em nossa mais nova ferramenta de trabalho – a Revista Eletrônica Fesp, que tem por objetivo a divulgação de trabalhos de alunos, artigos de docentes, ex-alunos e de terceiros, acontecimentos internos e externos, artigos relacionados aos nossos cursos, eventuais convênios e parcerias firmadas e demais conteúdos de interesse geral, bem como auxiliar na promoção de uma maior integração entre os diversos órgãos e participantes de nossa instituição de ensino. Destaco que uma revista desse tipo só subsiste, caso consiga despertar o interesse de seus leitores e, para isso, solicitamos a colaboração de todos, enviandonos artigos, sugestões e matérias de interesse a serem pesquisadas e publicadas por nossa equipe de jornalismo. Dirijo meu primeiro recado a vocês, alunos, que nos honraram com a escolha de nossa instituição e aproveito a ocasião, para ressaltar, aqui, a importância da interação que deve existir entre vocês e nós, a fim de permitir uma permanente evolução no ensino e, por consequência, uma melhor capacitação dos profissionais formados pela Fesp. Não apenas interação, mas também e fundamentalmente comprometimento, alicerçado em laços de amizade e de ajuda recíproca entre todos, não apenas durante seus cursos, mas também em suas vidas profissionais. Insisto que tal espírito deve ser cultivado, pois o mesmo os servirá de auxílio, proteção e valorização de suas carreiras no futuro, bem como deixará em destaque a importância de seus Diplomas, que serão um eterno cartão de visita, com presença permanente em suas vidas. Esse tipo de espírito fraternal prevaleceu na Fesp e até hoje pode ser observado em diversas empresas que têm em seus quadros profissionais “fespinianos” que, na hora da contratação de um novo colaborador, dão preferência aos alunos aqui graduados. Por óbvio tal escolha se deve não apenas ao espírito fraternal desenvolvido durante a convivência acadêmica, mas também pela total confiança na capacidade dos profissionais formados pela Fesp. Minha primeira mensagem, portanto, é a de solicitar a vocês – alunos, uma coisa simples – COMPROMETIMENTO, de cada um de vocês em prol de vocês mesmos, com a Fesp e total dedicação ao aprendizado. Encerro esse preâmbulo com os meus agradecimentos a todos que participaram e tornaram possível essa primeira edição, em especial aos professores José Maria de Camargo Barros, Karina Iamato, Tito Romeu Lopes e à nossa jornalista Mariana Fernandez. 03 TCC SISTEMA DE ASPIRAÇÃO AUTOMATIZADO O Trabalho de Conclusão de Curso “Sistema de Aspiração Automatizado”, dos formandos de 2013 de Engenharia Elétrica Alexandre Frederico Leal, Flávio Fernando Frones, Renata Rodrigues Palacios e Vinicius Bellini Bastistelli, orientado pelo Prof. Ms. Carlos Alberto Pegollo, aborda os aspectos implementacionais de um robô aspirador controlado, através de um microcontrolador ATMEGA32A programado para poder operar sem supervisão e realizar o trabalho doméstico de aspiração enquanto o operador pode realizar outras tarefas, visando assim o conforto e satisfação do consumidor. O robô utiliza, além do microcontrolador, circuitos auxiliares como sensores de altura e corrente para desviar dos obstáculos e prosseguir com o trabalho evitando acidentes e danos a sua estrutura. O robô possui ainda um sensor de bateria para determinar quando atinge um limite crítico de carga e necessita retornar a base para recarregar. Para retornar ao seu local de recarga, o robô utiliza luz infravermelha que é emitida pela base e através de um receptor infravermelho acoplado no robô, seu circuito consegue identificar a posição da base e dessa forma determinar seu trajeto de retorno para recarregar a bateria. 06 Como resultado obteve-se um “Sistema de Aspiração Automatizado”, onde seus componentes, circuitos e lógica de programação tornaram possível o desenvolvimento de um sistema simples de manusear, intuitivo ao usuário, e principalmente a um custo consideravelmente menor do que os aparelhos já existentes e semelhantes no mercado. O sistema foi projetado para ser pequeno, leve e portátil tornando fácil o transporte para qualquer ambiente em que ele deve operar, e sua programação em linguagem C possibilita-o efetuar aspiração dos ambientes de maneira inteligente. Ao final do tempo de trabalho programado pelo operador ele deve retornar a base sem necessidade de manuseio, sendo apenas necessário realizar a limpeza periódica de seu reservatório de poeira. Para ler o trabalho na íntegra acesse o blog da Faculdade de Engenharia São Paulo. Clique Aqui! HIDROFRESA UMA NOVA TECNOLOGIA PARA EXECUÇÃO DE PAREDE DIAFRAGMA Em consequência da diminuição de áreas disponíveis para novos empreendimentos nas grandes cidades e do crescimento concomitante da frota veicular, há atualmente uma forte demanda por ocupações verticais com número cada vez maior de subsolos. Dentre as alternativas existentes, a parede diafragma é o tipo de contenção mais recomendado para empreendimentos em que há necessidade de se escavar subsolos abaixo do lençol freático. Constituída por lamelas ou painéis de concreto armado e muitas vezes atirantada, essa solução é muito utilizada, pois pode ser implantada até grandes profundidades em quase todo tipo de terreno, e ser incorporada à estrutura definitiva. Procura-se sempre embutila em solo impermeável, eliminando-se assim a necessidade do rebaixamento externo do lençol freático. Para escavações em solo, em geral não há grandes dificuldades, sendo utilizado o equipamento clam-shell. Entretanto, em razão do número grande de subsolos dos empreendimentos atualmente construídos, atinge-se com frequência o material rochoso, onde a escavação é bem mais complexa. Neste artigo descreve-se o procedimento para execução da parede diafragma, dando-se ênfase ao emprego da hidrofresa, ferramenta que surgiu no exterior na década de 70 e que vem sendo utilizada no Brasil há alguns poucos anos para substituir o clam-shell nas escavações em rocha. Acima os autores Karina Yumi Iamato e José Maria de Camargo Barros. 07 EXECUÇÃO DA PAREDE DIAFRAGMA Quando se utiliza o equipamento clam-shell, as fases principais de execução são: • execução da mureta-guia para proteção do topo da escavação; • escavação com clam-shell até a profundidade de projeto, mantendo-se o furo sempre cheio de lama bentonítica ou polímero; • limpeza do fundo da escavação, tratamento da lama bentonítica, colocação das chapasjunta e colocação da armadura; lançamento do concreto, de baixo para cima, através de tubos de concretagem; e • recuperação das chapas-junta e da muretaguia. As muretas-guia de concreto armado têm a função de guiar o equipamento nos primeiros metros de escavação. Após sua execução, começa-se a escavação da lamela, com o clam-shell, que tem espessuras variando entre 30 a 120 cm e larguras de 250, 280 ou 320 cm. Esse equipamento, preso a um cabo de aço, cai com as mandibulas abertas dentro da vala. As mandíbulas se fecham levando para a superfície o material escavado. Para o sucesso da escavação das lamelas é indispensável a utilização da lama bentonítica ou de polímeros sintéticos para seu preenchimento. Estes últimos vêm paulatinamente substituindo a lama bentonítica, uma vez que, embora mais caros, reduzem os impactos ambientais e os custos com o descarte da lama. Ambos os materiais têm como função dar estabilidade a escavação e devem passar por testes de qualidade no próprio canteiro de obras antes de serem utilizados. Terminada a escavação da lamela, inicia-se a colocação das chapas-junta, que são colocadas verticalmente nas extremidades laterais da lamela, com seção trapezoidal, e têm a função de dar o formato de encaixe para a lamela. Essas chapas são retiradas após o inicio da pega do concreto. A armadura é montada em formato de “gaiola” conforme especificações de projeto, sendo içada por guindaste e posicionada no interior da lamela. A concretagem, feita após o posicionamento da armação, é submersa, empregando-se um tubo tremonha que executa o processo de baixo para cima, expulsando a lama bentonítica conforme o concreto é lançado. E assim são executados todos os painéis. Ao final, é necessária uma viga de coroamento, que unifica todas as lamelas, para que elas não trabalhem isoladamente e não tenham reações diferenciadas. EMPREGO DA HIDROFRESA PARA EXECUÇÃO DA PAREDE DIAFRAGMA Com o emprego da hidrofresa, os processos iniciais são iguais ao já descrito. Como a hidrofresa apresenta bom desempenho somente em rochas, matacões e solos mais duros, é necessário o uso do clam-shell para escavação da lamela nos seus primeiros metros em solo. A velocidade para execução com clamshell em solos depende de diversos fatores, mas, em geral, varia de 2 m/h a 12 m/h. Quando essa faixa de valores não é atingida, entra em ação a hidrofresa, e, a partir daí, a execução começa a ser diferenciada. A hidrofresa é montada num guindaste que é movimentado sobre grandes esteiras ou por unidade hidráulica. O equipamento possui espessuras variando de 60 até 150cm e larguras de 250 à 320 cm. A hidrofresa possui duas rodas de corte, acionadas por motores hidráulicos. Essas rodas giram em sentidos opostos, em torno de seus eixos horizontais e possuem bits de tungstênio ou vídea, que têm a função de triturar a rocha. Os detritos, juntamente com o fluido estabilizante, são aspirados por uma bomba hidráulica de alta capacidade de sucção, e direcionados à estação de tratamento da lama, onde ela é reciclada e limpa, retornando à vala. Esse procedimento garante o uso de materiais estabilizantes permanentemente reciclados e limpos. Finalizado o processo de escavação da lamela, o posicionamento das armações e a concretagem seguem os mesmos processos já descritos. Sensores instalados no equipamento medem a sua velocidade de avanço e o torque do motor. Sua verticalidade 10 também é medida continuamente e eventuais desaprumos podem ser corrigidos. A central de tratamento de fluidos necessita de um espaço maior e é bem mais complexa, por possuir mais etapas de tratamento, do que a utilizada na escavação com o equipamento clam-shell. Em geral, executam-se inicialmente duas lamelas separadas denominadas primárias e entre elas posteriormente uma lamela denominada fechamento ou secundária. As lamelas primárias podem ser simples ou duplas (com duas descidas da hidrofresa) e as de fechamento são sempre simples. Na figura se mostra em detalhe o processo executivo de uma lamela primária dupla. HIDROFRESA O espaço entre as duas lamelas primárias reservado para a lamela de fechamento tem uma largura menor que a do equipamento, de forma que quando essa lamela é escavada a hidrofresa escarifica as laterais das lamelas primárias vizinhas. Obtém-se assim uma superfície rugosa no contato entre o concreto fresco e o já endurecido. Essas juntas secantes proporcionam melhor desempenho estrutural da parede e maior estanqueidade da escavação. Como no caso convencional, se executa a viga de coroamento ao final da execução de todos os painéis. A experiência brasileira no uso de hidrofresa é bastante recente, cerca de quatro anos, e por essa razão ainda se tem pouca informação sobre o seu desempenho. A pouca experiência acumulada tem apontado que, em certos tipos de rochas, principalmente as mais resistentes e sãs, o desempenho do equipamento deixa a desejar, apresentando dificuldades de avanço e até mesmo não atingindo a profundidade de escavação prevista. Por outro lado, tem mostrado um desempenho bastante satisfatório em obras com a presença de rochas mais brandas ou mais alteradas. Para essas situações, a hidrofresa é uma ferramenta bastante interessante para viabilizar obras com escavações profundas em rocha. AGRADECIMENTO À empresa Geofix Fundações pela cessão de algumas das ilustrações deste trabalho. Publicado originalmente em versão resumida na “Revista da Construção”, n. 127 do Sinduscon SP. HIDROFRESA CONSIDERAÇÕES FINAIS 11 TCC OTIMIZAÇÃO ENERGÉTICA EM DATA CENTERS Os data centers são imprescindíveis na economia atual sendo cada vez mais utilizados pelas empresas, de modo que vêm apresentando considerável crescimento desde a última década. O aumento da demanda destes serviços evidenciou algo que não era levado em consideração pelos gestores de TI, o alto consumo energético. O consumo energético nos data centers encarecem o serviço e aumentam as emissões de gases de efeito estufa e em algumas organizações o data center pode ser responsável por até 50% das emissões de carbono. Ser eficiente energeticamente e manter o alto nível de serviço é a missão dos departamentos de engenharia e TI (Tecnologia da Informação) que devem trabalhar juntos pensando na contínua melhoria e qualidade nos serviços prestados. Isso pode ser feito com equipamentos mais eficientes, virtualização de servidores e melhorias no sistema de refrigeração. 12 Deste modo, o presente trabalho propõe soluções para a eficiência energética em data centers, tornando-os mais lucrativos e diminuindo seu impacto ambiental. Atualmente, vive-se em uma época digital com uma crescente demanda por serviços via web e “Cloud Computing” que fazem com o que as empresas invistam cada vez mais em centros de processamento de dados para armazenamento de informações. Por esse motivo, nos últimos anos houve um “boom” na procura de serviços de “Data Center” – Centro de Dados, e, consequentemente, um aumento nas construções destes centros. Desta forma, se torna cada vez mais necessário que os “Setores de Engenharia” e “TI - Tecnologia da Informação” atuem juntos na constante busca pelo aperfeiçoamento dos sistemas que compõem os Data Centers, contribuindo para a diminuição da emissão de dióxido de carbono para o meio ambiente. É importante ressaltar que, atualmente, os data centers são fundamentais para a economia mundial e um mau dimensionamento dos mesmos pode causar interrupções no sistema e desperdício energético, o que pode significar grandes perdas financeiras para as empresas e um aumento da emissão de dióxido de carbono na atmosfera. Para ler o trabalho completo, “Otimização Energética em Data Centers”, clique aqui. OTIMIZAÇÃO ENERGÉTICA EM DATA CENTERS Utilizando as ferramentas “Microsoft Integrated Virtualization ROI Calculation” e “Data Center Efficiency Calculator” fornecidas pela Microsoft e APC respectivamente, para medir e calcular os benefícios da virtualização e otimização de infraestrutura como soluções em eficiência energética em data centers. 13 TCC PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS DE POTÊNCIA ‘Economistas modernos ao analisarem o grau de desenvolvimento de um país baseiam-se constantemente no consumo per capita de energia elétrica e no índice de crescimento desse consumo dada a sua ligação direta com a produção industrial e o poder aquisitivo da população, que cresce com o mesmo.’ No texto acima o autor relaciona consumo de energia elétrica com o grau de desenvolvimento de um país, e essa relação vem para confirmar a hipótese de que vivemos em um mundo no qual a eletricidade desempenha papel fundamental na sociedade e, dada sua importância, todos os sistemas responsáveis pelo seu fornecimento devem estar munidos dos mais modernos e eficazes meios para assegurar o seu correto funcionamento. Assim são: as usinas geradoras, (sejam elas hidrelétricas, térmicas, nucleares, eólicas ou outras), os sistemas de transmissão (parte que compreende uma ampla extensão territorial e, portanto, é sujeita aos mais diversos tipos de cenários de risco possíveis) e de distribuição (que também estão sujeitos aos mais variados tipos de riscos). Portanto, numa sociedade cada vez mais dependente da eletricidade a exigência por sistemas elétricos confiáveis é cada vez maior e isso se verifica também no que tange aos sistemas de potência que fornecem energia para a população, indústria e comércio. Esses sistemas devem atender a diferentes requisitos, para as empresas responsáveis pela sua administração, devendo ser robustos o suficiente para não sofrerem danos decorrentes das diversas falhas que podem ocorrer aos mesmos, de maneira a não colocar em risco os altos investimentos necessários para se construir um sistema elétrico de potência. No caso dos consumidores devem ser capazes de entregar energia elétrica de qualidade e de maneira ininterrupta. O sistema elétrico de potência em todas as suas partes: (Geração, Transmissão e Distribuição), está sujeito a falhas de várias origens tais como: curto-circuito, sobrecargas, fugas à terra e muitas outras. 15 Tendo em vista o potencial que essas falhas tendem a causar enormes transtornos aos consumidores e prejuízos de vultosos, a proteção do sistema elétrico contra essas falhas pelos meios mais eficazes é, portanto, de vital importância para a manutenção do funcionamento do mesmo e, consequentemente, para manutenção do fornecimento de energia elétrica à população, indústrias, comércio e todos aqueles que fazem uso da energia elétrica e é nas principais formas de proteção que esse trabalho tem sua finalidade, começando por uma breve introdução ao sistema G.T.D.(Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica), após isso segue-se uma introdução às subestações e os principais componentes que as constituem, a mesma descrição com caráter introdutório é dada às linhas de transmissão para que se possa falar sobre as funções de proteção. No trabalho Estudo da proteção de sistemas elétricos de potência – Linhas de transmissão, foi dado um enfoque à proteção de linhas de transmissão, pois como se verá ao longo do trabalho as mesmas são muito sujeitas a faltas e, geralmente, faltas nesse ponto do sistema elétrico de potência resultam em consequências mais drásticas. Nestas condições o intuito do trabalho de conclusão de curso Estudo da Proteção de Sistemas Elétricos de Potência – Linhas de Transmissão, foi exemplificar e estudar as principais funções de proteção aplicáveis a linhas de transmissão parte tão vulnerável do sistema elétrico, e, em cuja ocorrência de uma falta grave pode desencadear em grandes prejuízos e transtornos para os consumidores e até comprometer outros sistemas adjacentes. Clique aqui para ter acesso ao trabalho completo. 16 Artigo Reflexões sobre representação social e ingresso de negros em empresas privadas O processo de inclusão de negros em empresas privadas, como fonte de promoção da diminuição da desigualdade social, no que se refere ao mercado de trabalho, constituem tema de reflexão e discussão desta tese. Como meta principal, propomos estudar, investigar e analisar a representação social percebida por indivíduos negros que trabalham em empresas privadas, contratados por projetos de inclusão e negros que tenham vínculo empregatício e que foram contratados espontaneamente. Neste são definidos alguns conceitos como racismo, preconceito, discriminação, direitos humanos a luz do arcabouço teórico desenvolvido nas Ciências Sociais e Antropologia com o intuito de ampliar a compreensão da representação social de negros com relação ao processo de ingresso em empresas privadas. Com o objetivo de “investigar, analisar e compreender a representação social estabelecida na trajetória de ingresso e atuação profissional de indivíduos negros, considerando o ingresso espontâneo e por meio de projetos sociais de inclusão (quotas), especificamente em empresas privadas”, a tese de doutorado Racismo: Reflexões sobre representação social e ingresso de negros em empresas privadas (MARQUES, V., 2007. 000f. Tese (Doutorado) – Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007.) foi desenvolvida através do método de “entrevista semiestruturada e relato de história de vida, com 10 homens e mulheres negros, residentes no município de São Paulo, de faixa etária de 25 a 40 anos, com Ensino Superior completo, sendo 05 atuando por ingresso espontâneo e 05 por ingresso de projetos de inclusão social.” O trabalho foi realizado através de “entrevista piloto, por entrevistador negro e por entrevistador branco” para verificação de “interferência na narrativa dos pesquisados, tendo em vista a avaliação sobre se as questões de desigualdade interferem ou não nas narrativas dos entrevistados” e de entrevistas individuais, com os pesquisados “convidados a participar da pesquisa por meio do consentimento informado”. Ainda quanto às entrevistas, foram após “transcritas na íntegra, preservando a identidade dos entrevistados” e, inclusos no trabalho, “os comportamentos observados durante a entrevista permitindo aprofundar as reflexões sobre o tema estudado”. Segue, abaixo, resumo da tese. 17 Na história do Ocidente, a desigualdade entre os seres humanos tem-se originado de diferentes formas: pela diferença de sexo, pela conquista e ocupação de terras estrangeiras, pela escravização ou colonização de outros povos e, mais recentemente, pela migração de indivíduos de outras nacionalidades para Estados capitalistas mais ricos, na condição de trabalhadores. (Guimarães, 1999). Segundo Guimarães (1999) o conceito de racismo pode ser considerado uma forma de reprodução de desigualdades sociais e econômicas, por meio dos mais diferentes mecanismos, entre grupos de pessoas identificadas como de diferentes raças, etnias ou cores que constituem discriminação. Segundo Telles (2002), as políticas antirracistas representam possíveis soluções para o combate ao racismo e a desigualdade racial. Em pesquisa realizada no Brasil, examinou o apoio ao princípio de intervenção do governo na promoção dos negros através de duas políticas específicas: as quotas para negros nas universidades e as quotas para negros nos bons empregos. O formato dessas políticas pode variar da criação de quotas para promoção dos negros, até medidas mais universalistas de redução do número de pobres, dos quais a maioria é composta de negros (pretos e pardos) no Brasil. Apesar de ter ocorrido uma mudança ideológica na mobilização dos negros, a agenda ou programa delineado nesta mobilização me parece ideologicamente neutro, ou seja, pode conviver com as mais diferentes tendências ideológicas do movimento negro. Tal agenda pode ser resumida a um combate antirracista em três frentes: (a) recuperação da autoestima negra através da modificação de valores estéticos, da reapropriação de valores culturais, da recuperação de seu papel na história nacional, do avivamento do orgulho racial e cultural; (b) combate à discriminação racial através da universalização da garantia dos direitos e das liberdades individuais, incluindo os negros, os mestiços e os pobres; (c) combate às desigualdades raciais através de políticas públicas que estabeleçam, no curto e médio prazos, um maior equilíbrio de riqueza, de prestígio social e de poder entre brancos e negros. (Telles, 2002) 18 Considerando o panorama democrático atual, não podemos evitar uma discussão franca da qual façam parte setores em desvantagem, particularmente a população negra que representa quase metade da população total. Desta forma, vivemos um momento histórico importante para criar políticas antirracistas de consenso. De acordo com Telles (2002), a avaliação das políticas compensatórias para negros, segundo sua pesquisa, demonstra uma conjuntura favorável de quase metade dos brancos e na maioria dos negros um bom ponto de partida para começar uma discussão mais ampla sobre o tema. Assim, esse trabalho pretende aprofundar especificamente reflexões sobre a discussão de quotas em empresas privadas, como possibilidade de diminuir a desigualdade por discriminação racial no mercado de trabalho. Racismo Robert Blauner (1972) considera que a racionalidade das “raças” está dada pelo conceito geral de “opressão social”, que subsome a racionalidade das diversas formas — gênero, raça, cor, etnia, classe, casta — pelas quais os grupos sociais são sistematicamente dominados, sujeitados, explorados, abusados ou desprezados. De acordo com Guimarães (1999) foi a adoção de uma visão equivocada da biologia humana, expressa pelo conceito de “raça”, que estabeleceu uma justificativa para a subordinação permanente de outros indivíduos e povos, temporariamente sujeitos pelas armas, pela conquista, pela destituição material e cultural, ou seja, pela pobreza. A transformação da desigualdade temporária — cultural, social e política — numa desigualdade permanente, biológica, é um produto da ideologia cientificista do século XIX. No entanto, depois de a justificativa racial ter perdido legitimidade científica, a suposta inferioridade cultural — em termos materiais e espirituais — de grupos humanos em situação de subordinação passou a ser a justificativa padrão do tratamento desigual. O racismo, portanto, origina-se da elaboração e da expansão de uma doutrina que justificava a desigualdade entre os seres humanos (seja em situação de cativeiro ou de conquista) não pela força ou pelo poder dos conquistadores (uma justificativa política que acompanhara todas as conquistas anteriores), mas pela desigualdade imanente entre as raças humanas (a inferioridade intelectual, moral, cultural e psíquica dos conquistados ou escravizados). 3 Esta doutrina justificava pelas diferenças raciais a desigualdade de posição social e de tratamento, a separação espacial e a desigualdade de direitos entre colonizadores e colonizados, entre conquistadores e conquistados, entre senhores e escravos e, mais tarde, entre os descendentes destes grupos incorporados num mesmo Estado nacional. Trata-se da doutrina racista que se expressou na biologia e no direito. Telles é Professor na UCLA e Bailey é aluno de pósgraduação da mesma universidade. Durante o período da pesquisa, o primeiro autor era Assessor de Programas da Fundação Ford no Rio de Janeiro, licenciado da Universidade, o segundo autor também residia no Rio e pesquisava atitudes raciais para sua tese de doutorado. 19 Podemos ainda definir o racismo não com referência à atitudes, ações e preferências individuais, mas com relação a um determinado sistema social (ver, por exemplo, Blauner, 1972). Isto é possível quando grupos humanos considerados raças ou identificados por traços raciais ou racializados (como a cor, por exemplo) são sistematicamente postos em situação desvantajosa do ponto de vista econômico, político, social e cultural. Neste caso, as desigualdades sociais são ditas raciais quando se encontrem e se comprovem mecanismos causais operando ao nível individual e social que possam ser retraçados ou reduzidos à ideia de raça. Neste sentido, racismo não é mais uma ideologia que justifica desigualdades, mas um sistema que reproduz tais desigualdades. A justificativa, neste caso, pode ser cultural (inferioridade ou inadequação) ou de outro tipo. O importante é que grupos que se definem e são definidos por meio de atributos raciais (como a cor) ocupam de modo permanente posições de poder e posições sociais assimétricas como resultado da operação de mecanismos de discriminação. Para que tal configuração seja correta é necessário, portanto, demonstrar que os indivíduos de raças ou cores diferentes não têm as mesmas oportunidade de vida e não competem em pé de igualdade pelos recursos sociais, culturais e econômicos. Segundo Nobert Elias (1998) apud Telles(2002), propõe que o fenômeno racial fosse estudado sobre a rubrica geral de “carisma grupal”. A este respeito, quatro tipos de carisma ou estigma podem ser diferenciados: raça, cor, etnia e classe. “Raça” é uma forma de carisma ou estigma grupal baseada na crença de uma herança genética que define o valor moral, intelectual e psicológico de um indivíduo ou de um grupo. “Cor” é um tipo de carisma baseado na aparência física de um indivíduo, que mede geralmente a sua distância ou proximidade dos grupos raciais. Não se trata, todavia, de apenas uma escala de valores estéticos; ela é também uma escala de valor intelectual e moral. “Etnia” é um tipo de carisma ou estigma baseado na identidade cultural, regional ou nacional de grupos. No Brasil, as etnias não são em geral importantes (no que se refere à situação dos negros) e aparecem de uma forma modificada através de identidades regionais estigmatizadas, tais como “baiano”, “paraíba” ou “nordestino”, e carismáticas como “sulista” ou “paulista”. 20 “Classe”, tal como a emprego aqui, não é um fenômeno de ordem econômica, tal como conceituado por Weber, mas um carisma baseado na posse e no domínio de bens materiais e culturais. Neste sentido, “classe” define uma qualidade moral e intelectual dos indivíduos e grupos. Ständ talvez fosse o conceito mais adequado para designar o agrupamento formado por este carisma, mas encontra-se totalmente em desuso na prática social cotidiana, substituído pelo termo “classe”, como nas locuções “uma pessoa de classe” ou “um produto de classe”. O carisma de classe no Brasil é predominante sobre todos os outros, posto que a eles estão associadas atitudes e condutas discriminatórias amplamente aceitas e legitimadas socialmente. Ademais, dadas as grandes desigualdades sociais entre brancos e não-brancos, é possível discriminar abertamente os negros, mulatos ou nordestinos sem se recorrer explicitamente à evocação dos estigmas de raça, cor ou etnia. Representação Social Segundo Arruda (2002), Moscovici, guiado pela necessidade de atualizar o conceito de representação social remodela o conceito durkheimiano para trazê-lo as condições de hoje, de sociedade contemporâneas imersas na intensa divisão do trabalho, nas quais a dimensão da especialização e da informação tornaramse componentes decisivos nas vidas das pessoas e dos grupos. De acordo com Moscovici (1978), as representações sociais são formas de conhecimento – o saber do senso comum – que têm como principal objetivo estabelecer a ordem que permita aos indivíduos orientarem-se em seu mundo social e material e ainda, possibilitar a comunicação entre membros do mesmo grupo. A Teoria das Representações Sociais – TRS, parte do pressuposto que existem diferentes formas de conhecer e de se comunicar guiadas por objetivos diferentes, formas que são móveis e define duas formas, marcantes em nossa sociedade: a consensual e a científica e considera que cada uma gera seu próprio universo. No universo consensual se constitui principalmente da conversação informal. Assim, a representação social é compreendida como senso comum ou consciência coletiva. No universo científico a representação social retrata primordialmente. Ambas, a realidade independentemente da nossa consciência. Ambas, apesar de terem propósitos diferentes, são eficazes e indispensáveis para a vida humana, As representações sociais constroem-se mais frequentemente na esfera consensual, embora as duas esferas não sejam totalmente estanques. O saber prático, na teoria das representações sociais pode ser verificada por dois processos, segundo Moscovici, a objetivação e a ancoragem. 21 Na objetivação, o conhecimento do objeto ocorre por meio de um processo até ser devidamente destrinchado, recomposto tornando-se algo objetivo, palpável, passando a nos parecer natural. Na naturalização se completa o ciclo de objetivação. A ancoragem é um outro processo, aquele que dá sentido ao objeto que se apresenta à nossa compreensão. Trata-se da maneira pela qual o conhecimento se enraíza no social e volta a ele, ao converter-se em categoria e integrar-se à grade de leitura do mundo do sujeito, instrumentalizando o novo objeto. Moscovici considera que: O processo social no conjunto é um processo de familiarização pelo qual os objetos e os indivíduos vêm a ser compreendidos e distinguidos na base de modelos e encontros anteriores. Predominância do passado sobre o presente, da resposta sobre o estímulo, da imagem sobre a “realidade” tem como única razão fazer com que ninguém ache nada de novo sob o sol. A familiaridade constitui ao mesmo tempo um estado das relações no grupo e uma norma de julgamento de tudo o que acontece. (1961, p.26) Desta forma, essa teoria pressupõe que representação social, na verdade, opera uma transformação do sujeito e do objeto na medida em que ambos são modificados no processo de elaborar o objeto. Conforme Jodelet (2002), a construção da representação inclui aspectos como informações, imagens, crenças, valores, opiniões, elementos culturais, ideológicos, e muito mais. Toda representação se refere a um objeto e tem um conteúdo, portanto, encadeia ação, pensamento e linguagem nas suas funções primordiais de tomar o não-familiar conhecido, possibilitar comunicação e obter controle sobre o meio em que se vive, compreender o mundo e as relações que nele se estabelecem. Segundo Spink apud Israel (1972), numa postura construtivista da psicologia social, define que o sujeito é o produto e o produtor da realidade social. Nesta perspectiva, podemos considerar o sujeito ativo porque ele dá sentido aos objetos sociais, materiais ou ideacionais que o cercam, isto é, ele constrói representações e teorias sobre os objetos. Bibliografia Arruda, Angela. Teoria das representações sociais e teorias de gênero, Cadernos de Pesquisa, n. 117, p. 127-147, novembro/2002 Guimarães, Antônio S. A. Combatendo o Racismo: Brasil África do Sul e Estados Unidos; Revista Brasileira de Ciências Sociais, Vol. 14 no 39, fevereiro/99 ___________. Representações sociais: um domínio em expansão. In JODELET, S (org.). As representações sociais. Rio de Janeiro: Eduerj, 2002, p. 17-44 Moscovici, Serge: A representação social da Psicanálise, Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1978. Spink, Mary Jane P. Psicologia Social e Saúde: Práticas, saberes e sentidos, Rio de Janeiro, Vozes, 2003 Telles, Edward. Opinião Pública, Campinas, Vol.VIII, nº1, 2002, pp.30-39 Artigo Trabalho de Conclusão de Cursos e a Área de Recursos Humanos Uma das responsabilidades dos professores dos cursos de Administração voltados para a área de Recursos Humanos é desenvolver no aluno a habilidade e o conhecimento para tratar com pessoas e entender a importância para da formação de equipes e da liderança para a gestão de qualquer uma das áreas de uma organização. Mesmo aqueles que não estão afetos a esta área como especialização profissional vão precisar destes conhecimentos e habilidades para exercer uma gerência de resultados. Uma das formas de medir o quanto os professores das disciplinas voltadas para a Administração de Recursos Humanos é o interesse que os alunos venham a mostrar na hora de desenvolver o seu Trabalho de Conclusão de Curso. No curso de Administração da Faculdade de Engenharia São Paulo, várias disciplinas são voltadas ao assunto: Pensamento Humanístico, Psicologia e Comportamento Organizacional, Administração de Recursos Humanos, Gestão de Pessoas , Ética e Responsabilidade Social e Negociação formam um conjunto que se dispõe a fornecer as ferramentas e desenvolvimento pessoal necessários aos futuros administradores para a obtenção de resultados através das pessoas. Este conjunto de matérias somam ao todo 480 horas de aula voltadas a formar e desenvolver nossos alunos como profissionais capazes de fazer frente a quaisquer problema ou desafio que exija sua liderança ou espírito de equipe. Além disso, um professor é designado para acompanhar e orientar o desenvolvimento dos trabalhos e os professores afetos ás áreas escolhidas por tema dão orientação sobre o conteúdo escolhido pelos alunos. No ano de 2013, sete trabalhos foram apresentados às bancas de TCC: • E-commerce – Crescimento, evolução, estabilidade, Segurança e sucesso no desenvolvimento de um novo conceito de comércio no Brasil. Trabalho de Jailma Euclides da Silva e Roberta Denise Guerra Dias. • Marcas próprias de supermercado. Trabalho de Cristiane oliveira, Nadya Ferreira, Pamela Andrade e Verônica 23 Camargo. • A indústria automobilística no Brasil e a crise do “subprime” de 2008. Trabalho de Jéssica Simões, José Eduardo Deliaconi e Nádia Maria Martins. • Qualidade no atendimento bancário. Trabalho de Flávio Luiz Alves e Rinaldo Barbosa dos santos. • Qualidade de vida no trabalho. Trabalho de Francisco Maurício Gomes Santos, Raí Macário dos Santos e Valdemir Miranda Neves. • A inclusão de pessoas com deficiência nas organizações brasileiras. Trabalho Cristina de Souza Silva, Gilene Silva de Assis e Grazielle Aparecida Amorim. Os dois últimos listados nos são um demonstrativo dos resultados obtidos pelo esforço da faculdade na área de humanas. O trabalho sobre qualidade de vida busca estudar o tema tanto sobre o ponto de vista do empregador como do empregado. Aborda a preocupação cada vez maior com o tratamento em relação aos funcionários já que a organização depende deles para alcançar o sucesso. A pesquisa realizada procura, nas palavras dos autores, “ressaltar que o ser humano traz consigo: sentimentos, ambições, cria expectativas, envolve-se, busca o crescimento dentro daquilo que desenvolve e realiza”. Busca, ainda, mostrar que o homem não trabalha só pelo salário, não podendo ser tratado apenas como um número a mais no processo de produção. O TCC delimita o tema em dois aspectos: eficácia organizacional e os benefícios para o empregado. Busca compreender, conforme afirmam os autores, “o grau de influência das ações empreendidas pela QVT em relação à produtividade dos colaboradores e o bem-estar”. O grupo justifica o tema considerando que a evolução do ser humano está ligada diretamente ao trabalho, sendo este o único ser vivo capaz de transformar o meio em que vive. Trata o trabalho como objeto de desejo e busca de recursos também para a satisfação fora do dele. 24 Além de discorrer sobre a motivação e os modelos de Qualidade de Vida no Trabalho encontrados na literatura, busca associar o investimento das organizações em QVT ao maior retorno financeiro, destacando e pesquisando o trabalho de duas consultorias existentes no mercado. Nas conclusões finais, além do relacionar QVT e sucesso empresarial, chama a atenção a clareza com que os formandos perceberam a importância de a prevenção no que se refere ao trato do empregado. Para os autores “prevenir é melhor que remediar”. O desenvolvimento deste TCC é o feliz resultado de um processo de crescimento dos alunos no pensar e saber planejar o trato com as pessoas no ambiente de trabalho. O outro tema desenvolvido com sucesso tratou da inclusão do deficiente nas organizações. Considerando o número de portadores de deficiência existentes no Brasil, trata a inclusão destas pessoas não só como um desafio, mas como uma oportunidade. Segundo os alunos “através das nossas atitudes é possível ver as crenças e valores individuais de cada um quando se depara com um deficiente e também o contexto social em que vivemos. Essa barreira talvez esteja mais em nossas cabeças do que em problemas efetivos”. O intuito do TCC foi, de acordo com os autores, “contribuir com essa reflexão a respeito da inclusão das pessoas com deficiência, liberando as amarras de preconceito e incentivando a real aceitação das diferenças e a adequação da sociedade a elas e não o contrário”. O desenvolvimento do trabalho apresentado trouxe, em primeiro lugar, o contexto histórico e social da deficiência na sociedade. Como ela se desenvolveu da idade antiga e da medieval aos dias atuais. A seguir mostra como é o quadro de deficientes no Brasil, suas causas e tipos existentes no país. A partir deste detalhamento passa a pesquisar como é o acesso destas pessoas ao mercado de trabalho e quais as suas garantias legais para, depois, entrar no capítulo sobre a sua inclusão dentro das organizações e as diferenças na gestão deste de sua vida profissional. No final da pesquisa realizada, os alunos concluíram que ”quando a inclusão de pessoas com deficiência nas organizações é realizada com afinco e seriedade, observa-se mudanças não apenas na empresa, mas em seus colaboradores e na sociedade” além de destacar “um ganho no ambiente de trabalho” pois “a organização fortalece o espírito de equipe, reforçando o entrosamento ao redor dos objetivos comuns”. Nestes dois TCCs nota-se a preocupação com o ser humano e 25 seu tratamento no trabalho. Este desafio, quando vencido, tem se tornado uma das melhores formas de aumentar a produtividade e a competitividade das empresas. No Brasil, até ontem um país escravocrata e que se acostumou ao coronelismo como forma de organização da produção, a gestão de pessoas passa a ser um grande obstáculo para os administradores e, talvez, seu maior calcanhar de Aquiles. É muito importante que os cursos de administração mostrem a importância do tema e os caminhos a serem explorados para a construção de uma sociedade mais justa, onde o trabalho seja satisfatório para todos gerando uma contribuição fundamental para o crescimento da economia e do IDH no país. Tito Alcides Romeu Lopes Coordenador do Curso de Administração A Mulher na Sociedade Terena 26 Vários são os autores que pesquisaram o grupo Terena no Brasil e que enfocaram os diversos aspectos desta cultura sem se deterem, em particular, nos papéis desempenhados pela mulher e na sua importância até mesmo na esfera doméstica. Esta tendência, muito própria na Antropologia em geral, pode ser entendida pelo fato de que os homens, em muitas culturas, ocupam realmente o centro das atividades e o acesso a eles torna-se mais fácil que às mulheres, que são mais guardadas. Tal fato não nega e nem diminui, porém, a importância das atividades femininas. Modernamente, os antropólogos reconhecem o estudo das atividades das mulheres como básico para entendimento do funcionamento da sociedade e para análise da cultura. Na etnografia brasileira, contudo, este é ainda um campo carente de dados informativos. Nesta medida, nossa tentativa nesta comunicação é enfatizar a importância da posição da mulher indígena Terena, cujo estudo foi até agora relegado a um segundo plano. No entanto, não pretendemos com este estudo apresentar uma interpretação etnocêntrica, mas tão somente trazer subsídios que permitam uma visão mais ampla da sociedade Terena. O objetivo deste trabalho é, pois, o exame da visão feminina do mundo Terena frente aos problemas decorrentes de seu envolvimento pela sociedade nacional, com base em pesquisa de campo na qual pudemos constatar que os países das mulheres são orientados pela família e neste contexto é que aparecem suas atividades e relações básicas. Esta realidade indica que o estudo dos papéis familiares é fundamental para compreender a posição da mulher na sociedade Terena. Porém ele só poderá ser completado na media em que se tiver uma compreensão total das mulheres Terena em todos os aspectos da vida, ou seja, não só na esfera provada, como na esfera pública. Nossos informes de campo procedem de uma visita feita a várias das aldeias Terena, como parte de um projeto sobre a situação indígena no sul de Mato Grosso, patrocinado pela FUNAI. *Professor Dr. Fernando Franco Altenfelder Silva, Livre Docente pela USP. Orientador do Trabalho. (In memoriam) *Publicado na Revista Eletrônica da FESP “2014”. * Docente da Faculdade de Engenharia São Paulo (FESP). * Comunicação apresentada na 29ª Reunião da SBPC. *Professora Colaboradora do Departamento de Ciências Sociais da UFES. 27 As entrevistas foram feitas com informantes femininas e por entrevistadores que pretendiam assim buscar informações diretamente de mulher para mulher, a fim de saber como ela vive e o que faz, tentando superar uma falha etnográfica presente em muitas monografias de antropólogos que se utilizaram essencialmente de informantes masculinos, mesmo quando desejavam conhecer aspectos da vida das mulheres. Um fato importante para colocar em cena o que a mulher representa na vida Terena, é a própria situação em que se desenvolveram as entrevistas. A participação masculina foi difícil de ser impedida: a presença do homem anulava a participação da mulher. Às perguntas dirigidas a ela, o homem, quando presente, respondia em seu lugar, fosse marido ou filho. A esfera doméstica é, de fato, domínio feminino. A ação da mulher se desenvolve principalmente no lar: “a mulher manda na cozinha, na costura e dentro de casa; lá fora é o homem”. Este comportamento Terena revela uma adequação a um sistema onde o homem detém o poder e assume uma posição de dominação sobre a mulher. Ao realizarmos as indagações nas casas dos indígenas Terena, estávamos ali representando a sociedade Nacional. Daí, a interferência do índio Terena, quando presente às entrevistas, nas quais as questões eram propostas à informante, - sua esposa, irmã ou mesmo mãe -, pois o contexto lhe parecia mais público que privado. Tentando analisar os dados coligidos, percebemos que, apesar do nosso interesse no comportamento real da mulher Terena, que nos parecia no nível ético mais relevante para o nosso objetivo, as interferências dos homens no fornecimento das informações sobre a atuação feminina, trouxeram uma conotação num nível diferente de análise, na medida em que representavam manifestações normativas, ou seja, de caráter êmico. A POSIÇÃO DA MULHER TERENA A mulher Terena, dentro da esfera doméstica, desempenha ainda seus papéis fundamentais e é neste primeiro nível que podemos entender sua posição na sociedade a que pertence. Cada estágio na vida de uma mulher dá a ela um papel específico para cumprir: 28 Trabalho realizado em obediência a um convênio mantido pelo Departamento de Ciências Sociais da Faculdade de Filosofia, Ciências e letras de Rio Claro da UNESP e a FUNAI, visitamos as aldeias Terena de: Cachoeirinha, Ipegue, Limão-Verde, Bananal, Moreira, Passarinho, Água Branca. daí a importância, enfatizamos, dos diferentes papéis familiais de “filha”, “mulher”, “mãe” e “irmã”, cuja sucessão pode ser vista, como sua própria história de vida. A esfera doméstica, então, torna-se seu mundo, o único onde ela está inteiramente familiarizada e no qual ela se sente competente e confortável, graças à enculturação a que foi sujeita. Na medida, porém, em que este processo está sofrendo, cada vez mais, influências externas à cultura Terena, representadas pelo envolvimento pela sociedade nacional, a posição da mulher começa a sofrer mudanças. A restrição ao mundo doméstico é hoje muito mais patente para a geração feminina mais velha, e as avós estão mais adaptadas a essa situação que as jovens Terena, expostas ás solicitações extrafamiliais. A tradição básica Terena, pela sua permanência maior, tem que ser buscada, pois, na língua e na mulher Terena. Examinando esse dois aspectos, verificamos que a língua Terena é a única tradição cultural que ainda existe, e se exprime como o primeiro meio de comunicação entre mãe e filhos: o português só é aprendido na idade escolar, quando a criança deixa o lar e inicia sua maior participação na vida social. A mulher tem, pois, um papel extremamente importante na transmissão da visão cultural Terena. O exame da vivência íntima do núcleo familiar, no caso das gerações mais velhas, revelou situações em que mulheres não falam português ou não querem falar. Atribuímos tal fato, ou ao relativo isolamento, ou ainda a uma consciente resistência às mudanças, como forma de preservação da principal e básica tradição existente: a língua Terena. A transmissão da visão cultural do grupo não se limita somente ao nível da linguagem. À mulher cabe a maior parte da tarefa de educar os novos Terena e o seu relacionamento com a própria prole é muito mais intenso do que a do homem. As próprias decisões deste nível, apesar das regras normativas dizerem o contrário, partem realmente da mulher. Ela dirige a casa, organiza as atividades das crianças, estabelecendo certa divisão de trabalho quanto ao sexo. As meninas ajudam na cozinha, lavam, limpam. Os meninos não têm, em geram, atividades domésticas expressas. A meta mais significativa na educação feminina é tornar a garota uma boa esposa e mãe, boa esposa na medida em que saiba agradar o marido, fazer coisas para ele. Enquanto o menino deve ser preparado para ser um bom trabalhador. 29 A inculcação de valores e atitudes é um processo mais sutil e difícil de estudar. Mas nas respostas às questões que formulávamos, foi uma constante a ênfase nestes aspectos, quando se respondia à pergunta: “O que se ensina às crianças?” E os valores sempre presentes e ressaltados foram: “obediência, respeito aos mais velhos e aos brancos”. Segundo um informante: “eu, como mãe, ensino que deve respeitar, por exemplo, vocês, quando chegam em nossa aldeia. A gente tem que respeitar, falar, então a gente ensina o português. Tem muitas crianças que já sabem, tem muitas que não porque a gente fala mais a nossa língua pra eles...Nós ensinamos a respeitar os mais velhos, cumprimentar... Essas coisa.” “Ser um bom Terena significa educação, respeitar mais velhos, respeitar todo mundo. Pra ser respeitado, tem que respeitado, tem que respeitar também”. “Nesta época em que estamos, o que manda é o estudo, saber falar, responder para brasileiro”. O ensinamento é visto assim, pelos índios, mais ao nível dos valores – o que eles ensinam em termos de atividades não lhes parece educação, mais sim uma questão de ajuda, de auxílio nas tarefas. As meninas ajudam a mãe, e os meninos o pai. Paralelamente às atividades e relações que são básicas á vida das mulheres, dentro do contexto familiar, tentamos captar outros papéis por elas desempenhados, buscando conhecer sua posição como produtora. Qualquer que seja a estrutura da família, as mulheres têm um grande papel na produção econômica. No caso Terena, é baseada na agricultura. Numa dimensão que pode ser caracterizada como economia de “sobrevivência”: plantam arroz, feijão, milho, mandioca e frutas. Cada família tem sua roça e o trabalho não mecanizado requer a cooperação de todos: pai, mãe e filhos. A mulher participa, assim, da atividade econômica essencial para o sustento da família, levando consigo os filhos: meninos e meninas trabalham, começam aprendendo a carpir e ajudam também na colheita. 30 Essa tarefa apesar de importante não tem, porém, prioridade sobre o horário escolar das crianças, mesmo em época de colheita. Fora do âmbito doméstico, e às vezes da própria aldeia, as mulheres têm visto surgir alternativas para suas atividades. Além do desempenho dos papéis de “mãe” “esposa”, básicos, elas podem ter outras atividades e relações com não membros de suas famílias, mas tais atividades tendem a ser vistas como extensões de seus papéis familiares e as relações extra-familiais são tidas como secundárias àquelas baseadas no parentesco. Não importa, agora, discutir até que ponto tais relações são realmente secundárias, o importante é não desprezá-las neste nível de análise para poder compreender a sua posição total e não apenas parcial. Existe uma situação fora da aldeia que é muito significativa para a mulher: a feira nas cidades. Duas vezes por semana, as mulheres fazem a feira. Levam produtos em grande parte resultantes da coleta, mais que da produção agrícola, são acompanhadas de suas crianças e dão conta desta atividade que parece essencialmente feminina; os homens não deixam seu trabalho na roça para acompanhá-las. O movimento é fraco e o resultado não muito grande; funciona mais como uma complementação por parte da mulher ao sustento da casa. “Dá para comprar um pedaço de carne duas vezes por semana”. Na “feira das índias”, os preços em geral são mais baratos que o dos outros mercados da cidade, e os produtos comercializados são principalmente: mandioca, cheiro-verde, banana, batata, palmito, laranja, coquinho, folhagens, ervas e orquídeas. Além da feira, que é realizada nas cidades próximas às aldeias, a ida a Campo Grande torna-se uma extensão dessa possibilidade comercial da mulher, que leva frutas para vender no grande centro onde o comércio é melhor. Algumas informantes afirmaram terem feito tais viagens sozinhas, quando não, levam uma filha para acompanhar, o que continua a evidenciar seu desprendimento do marido nesta atividade. A frequência das viagens não é muito grande, mas sugere uma possibilidade de contato importante, ao nível feminino. O conhecimento da língua nacional é essencial para o desempenho destas atividades, para o relacionamento fora da aldeia, o que justifica sua presença entre as mulheres mais novas. As mais velhas, as avós, não têm aparecido nestas situações; limites de atuação continuam sendo coincidentes com os do grupo doméstico. As jovens solteiras estão sendo, cada vez mais, requisitadas para o trabalho doméstico, quer pela população regional das cidades, quer pelos próprios fazendeiros da região. Tem havido grande saída de moças das aldeias para trabalhar fora. O trabalho é contratado pela família interessada e o chefe do Posto indica certas medidas de controle. A jovem não pode sair sozinha pela cidade em busca de emprego: ela deve ser procurada na aldeia e seus patrões têm o dever de buscá-las no início do controle e levá-las de volta ao seu término. A jovem passa a viver com a família, na cidade, enquanto 31 durar seu contrato de trabalho. Essa saída favorece a abertura de outros horizontes através do estabelecimento de relações com o mundo exterior. A possibilidade e ampliação das experiências das novas gerações femininas já podem ser notadas através de seu comportamento, seu vocabulário, modo de vestir, etc. Enquanto limitações sobre a experiência da garota favorecem timidez e dependência para assegurar a ela os limites domésticos, as novas situações começam a apresentar jovens mais libertas dessa dependência e menos tímidas. Como elas se comportarão como esposas? Os homens estarão preparados para essa nova mulher, fruto de experiências mais intensas com a sociedade nacional, num nível que podemos afirmar mais amplo que dos jovens rapazes? O trabalho do rapaz Terena é mais ligado à terra, na roça da aldeia ou nas fazendas vizinhas, seu contato com a cidade não chega a ter a amplitude que tem o da jovem empregada doméstica que convive.passeia, viaja com as famílias da cidade. As novas descobertas femininas parecem não estar sendo acompanhadas, no mesmo nível, pela geração masculina da mesma idade, apesar dos rapazes terem normativamente mais abertura para saírem da aldeia e irem à cidade. O Terena não deixa de ser, porém, um trabalhador rural que vai à cidade para passear, enquanto a mulher Terena desempenha, na cidade, uma atividade de trabalho que a envolve em níveis diferentes de participação. Não estamos esquecendo que esta participação é limitada. Existem sérios problemas de marginalização indígena na cidade, porém, a situação que se apresenta à mulher que trabalha com uma família na cidade, dá a ela mais possibilidade de conhecer a vida fora da aldeia. A questão que limita nossa apreensão da realidade é que esse processo é recente: são as jovens filhas que estão desfrutando uma nova posição, suas mães não tiveram tais experiências. Encontramos, também, mulheres índias desempenhando papéis de professoras na aldeia. Tanto a mulher quanto o homem podem ter acesso a esse tipo de trabalho: tornar-se professor da FUNAI e ensinar nas escolas de aldeia. O número de professoras Terena não é, contudo, representativo a ponto de superar o das professoras da cidade que também trabalham nas aldeias. Mas é importante que exista como alternativa de trabalho feminino. As experiências de uma professora Terena a colocam numa posição em estreito relacionamento com “o mundo civilizado”. 32 O que ela ensina é o que aprendeu lá fora e as orientações que recebe e que coloca em prática em suas aulas têm como objetivo “civilizar” os seus patrícios. Mesmo que ela dê suas aulas em língua Terena, o conteúdo de seus ensinamentos é orientado pela FUNAI para facilitar a “integração”, dar as regras do jogo do mundo externo à aldeia. A escola é, na aldeia indígena, a ponte de ligação com o “branco”. Ela ensina a nova língua, única possível de ser utilizada na comunicação com a cidade, e dá, além disso, os ensinamentos que o índio precisa para poder se tornar mais próximo do “homem civilizado”. Toda essa educação etnocêntrica orientada para “integrar” o índio na única forma de vida considerada boa e certa, tem levado os pais a estimular seus filhos à aprendizagem escolar, na medida em que eles possam assim competir ou desfrutar uma posição melhor na sociedade. Segundo um informante, o crescimento populacional dos Terena é uma abertura importante para o indígena; “acho bom que o número de população aumentou, pois assim a nossa tribo não pode acabar”. “Queremos também ser como vocês. Eu sempre falo que nós queremos entrosar e civilizar, mas não deixar nosso costume como índio. Como índios nós sempre nos orgulhamos porque os primeiros homens que foram achados no Brasil somos nós. Mas queremos que nossos filhos entrosem mais e aprendam mais na educação”. Essa reação está de acordo com o que significa ser índio nesta sociedade de que participam: “índio é bugre, é selvagem”. Nessa medida, o importante para os Terena é mostrar que eles também são capazes e não precisam deixar de ser índios para isso. A estratégia básica é a de que a tribo continue a crescer, ela deve se manter Terena, mas para que a luta seja “honesta”, é preciso que os índios tenham as mesmas armas. O este informante declarou significa exatamente que, se seus filhos tiverem as mesmas condições de educação que os brasileiros, poderão enfrentá-los mais facilmente na competição socioeconômica. Não é necessário deixar de ser índio, mas é importante conhecer melhor as regras do jogo e mostrar que são capazes. Os preconceitos de que são alvo não existem porque seu tipo físico os torna identificáveis de imediato, mas porque são pobres, tem pouca educação, pequena possibilidade de emprego, etc. Quando tentamos procurar todas as situações em que a mulher pode desempenhar outros papéis desligados de suas relações de parentesco, encontramos ainda a enfermeira como funcionária da FUNAI para trabalhar nas aldeias. O curso que a habilita a trabalhar na enfermaria indígena é rápido, com duração de um mês, no hospital da missão em Dourados, mato Grosso. Após este curso iniciará ela suas atividades no atendimento de socorro aos índios. Poderá fazer curativos, visita a todas as casas, procurando dar instruções sobre higiene e fazer o trabalho de vacinação. Age a enfermeira indígena como elemento inovador com respeito aos antigos tabus alimentares e dietas, procurando introduzir 33 uma nova orientação. Por exemplo, afirmava a enfermeira Terena: “nestes partos que eu faço, já explico tudo, quais os cuidados que se deve ter. A comida pode comer de tudo. Elas não têm dieta assim, agora quando outra parteira faz, essas antigas, aí tem dieta... A gente que estuda, explica para elas o que deve fazer”. Nesse nível, a enfermeira representa também um papel que a coloca em contato com a Sociedade envolvente para aprender, através dela, a orientação a seguir, indo sempre contra as tradições indígenas, numa tentativa “civilizadora”. Conclusão Quando focalizamos , neste trabalho, a mulher na sociedade Terena, foi com o intento de melhor compreender o seu papel e o que ela significa. Procuramos, apesar das limitações do tempo disponível para trabalho de campo, examinar a sua real posição e atuação dentro do grupo em estudo. Este exame nos levou a interpretar a mulher Terena dentro de uma situação global de sua sociedade, em níveis de participação que se opõem. O envolvimento do grupo pela sociedade nacional tem cada vez mais contribuído para acarretar mudanças na vida feminina. Tradicionalmente, a mulher tem uma posição de subordinação, sua vida é orientada pelo contexto familiar, e suas atividades voltadas para o âmbito doméstico. Como normas das versões dos antigos mitos Terena, encontramos a mulher apenas como procriadora, isto é, a partir de seu próprio ventre ou de sua atuação surge um novo herói no mito. “No principio havia um único YURIKOYAVAKAI, que vivia com sua irmã LIVETCHETCHEVENA. YURIKOYAVAKAI,cortava o raio do mundo. Sua irmã plantou uma árvore e quando esta frutificou YURIKOYAVAKA roubou o fruto. LIVETCHETCHEVENA zangou-se e cortou-o pelo meio. Da parte de cima cresceu um YURIKOYAVAKAI, da parte de baixo cresceu outro. Mas o primeiro era quem mandava”. (1) 34 Há uma outra versão do mesmo mito na qual LIVETCHETCHEVENA abrindo o próprio ventre origina outro YURIKOYAVAKAI. A mulher é, no mito responsável pela criação, especialmente uma fêmea produtora. O mito apresenta uma divisão de trabalho sexual onde cabe a ela o desempenho de uma função restrita ao ambiente doméstico, localizando sua atuação apenas no âmbito provado do lar. No mito que conta a origem dos Terena, e de como eles receberam o fogo e seus instrumentos, assim encontramos a referência ao papel da mulher Terena: “--- Os índios não tinham instrumentos e foram pedí-los a YURIKOYAVAKAI. Ele deu aos Terena todos os instrumentos: para os homens deu a faca de madeira, perital, foice de madeira, chopicoloti, o machado, povooti, a enxada, ahará, e o tacape ou pu’lac, e para as mulheres YURIKOYAVAKAI deu o fuso, hopai”. (2) Hoje, na sociedade Terena, a participação da mulher pode ser vista a partir de seu papel como esposa e mãe, que a caracteriza como a transmissora da visão cultural do grupo. Esta atuação se revela no ensino da língua Terena e toda a tarefa de enculturação em relação aos filhos. É aqui que encontramos sua grande participação como elemento integrador da cultura. Sua responsabilidade neste nível é de real importância; a permanência e manutenção da sociedade Terena está muito a seu cargo. Ela procria as novas gerações. As mulheres não fazem controle de natalidade e procuram dar aos filhos aquilo que consideram bom para ser um Terena. Isto é o que encontramos a partir da mulher dentro da esfera doméstica e como elemento catalisador. Quando ampliamos o conhecimento da situação para além deste limite, a mulher aparece agindo como um elemento de contato entre os Terena e a sociedade envolvente: assim é quando a encontramos sistematicamente nas feiras citadinas ou no desempenho do trabalho como empregada doméstica, ou ainda como professora nas aldeias. É aqui que se reconhece o antagonismo da situação Terena porque, neste último nível, sua participação é muito mais disruptiva pois age como elemento intermediário de mudança, apondo-se ao seu papel principal que é o de intensificar a coesão grupal de traição Terena. Como resultante, deve-se ressaltar a extrema importância do papel desempenhado pela mulher Terena no processo de integração do índio aos padrões contraditórios da sociedade envolvente. 1) ALTENFELDER SILVA F.F. “Mudança Cultural dos Terena “in Revista do Museu Paulista, N.S., vol. 3, pg. 349 35 Aprendizagem por Competências A Aprendizagem por Competências é baseada na articulação de uma aprendizagem com foco estratégico e pelo emprego de inovação e criatividade. Constitui-se por Programas de Aprendizagem e pela Autoaprendizagem. Essa visão tem como pressuposto que o ambiente deve ser de aprendizagem e possibilite a construção contínua de conhecimento. As competências visam a vontade de enfrentar o novo, a capacidade de produzir hipóteses, o conhecimento incorporado. Segundo Perrenoud (2000), os grandes eixos da formação por competências estão em: • saber identificar, avaliar e valorizar suas possibilidades, seus direitos, seus limites e suas necessidades; • saber formar e conduzir projetos e desenvolver estratégias, individualmente ou em grupo; 36 • saber analisar situações, relações e campos de força de forma sistêmica: saber cooperar, agir em sinergia, participar de uma atividade coletiva e partilhar liderança; • saber construir e estimular organizações e sistemas de ação coletiva do tipo democrático; • saber gerenciar e superar conflitos; • saber conviver com regras, servir-se delas e elaborá-las; • saber construir normas negociadas de convivência que superem as diferenças culturais. O conhecimento, desta forma, passa a ter significados quando articulados, interrelacionados. É uma aprendizagem que foca a resolução de problemas e, portanto, as ações não podem acontecer de forma isolada. Precisam fomentar a interdisciplinaridade e a resolução de problemas complexos. É um processo de aprendizagem social que ocorre quando pessoas que possuem os mesmos interesses ou compartilham os mesmos problemas interagem entre si compartilhando idéias, buscando soluções e inovando. Como afirma Vasconcelos e Mascarenhas (2007, p. 41), “a aprendizagem organizacional acontece por meio de processos intercambiáveis de ação e de reflexão, que ocorrem inicialmente no nível dos indivíduos e, depois, são estendidos à coletividade”. Em uma organização de aprendizagem, o conhecimento é disseminado na organização e torna-se fundamental para as futuras experiências dos indivíduos e dos grupos. Vasconcelos e Mascarenhas (2007) apontam ainda que há condições que precisam ser desenvolvidas na organização para que esse ambiente de aprendizagem seja possível: a) Promover a análise crítica de seus procedimentos e de seus pressupostos de base; b) Promover a comunicação horizontal e o compartilhamento de conhecimento entre os diversos grupos sociais; c) Atribuir um sentido comum à ação; d) Gerir a mudança organizacional; e) Integrar os diversos grupos sociais na nova estrutura organizacional. As estratégias organizacionais que focam competências precisam, desta forma, considerar a relevância da solução sistemática de problemas, da experimentação de novas abordagens, o aprendizado empírico do próprio indivíduo e das outras organizações e o rápido compartilhamento de conhecimento. Fonte: Nick van Dam, 2009 37 a) Mentoring e Feedback: feedback de desenvolvimento no trabalho e mentores informais. b) Repositórios de Informação: acesso a portais de conhecimento, banco de dados e websites. c) Comunidades de Prática: grupos autodirigidos, informais, formado por pessoas que tenham visão comum e o mesmo entusiasmo por uma organização conjunta. d) Redes de Especialistas: acesso a especialistas que compartilham expertise e oferecem suporte com a utilização de várias ferramentas de colaboração e comunicação. e) Sistemas de Suporte ao Desempenho: exemplos que incluem aprendizagem inserida no processo, apoios no trabalho, listas de verificação, glossários, além de aplicações e ferramentas online. f) Busca e Ajuda: utilização de ferramentas de busca internas e recursos de ajuda online. Como estratégias que demonstram a mudança no pensamento da organização em relação à aprendizagem pode-se citar: Por outro lado, os Programas de Aprendizagem também devem compor as estratégias e os processos organizacionais de aprendizagem. Esses podem ser palestras e cursos baseados em simulações, e-learning, avaliação de competências e feedback e guias de autoestudo ou livros didáticos. As estratégias, entretanto, não podem acontecer de forma isolada, mas compor um sistema integrado de gestão de pessoas com foco em competências. Deve-se ter em mente que aprendizagem por competências nas organizações é saber que desenvolvimento de pessoas significa desenvolvimento de suas competências. Além disso, deve ser planejada e realizada em conjunto com os processos de avaliação de desempenho e com os planos de remuneração, administração de carreiras e recrutamento e seleção de pessoas. Referências Bibliográficas: BAYMA, Fátima (org.) Educação corporativa: desenvolvendo e gerenciando competências. São Paulo: FGV, 2005. DAM, Nick van. 25 melhores práticas em aprendizagem e dese volvimento de talentos. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2009. 38 GOUVEIA, Isabella F. de V.; MASCARENHAS, André O. Organizações em aprendizagem. São Paulo: Cengage, 2006. PERRENOUD, P. Pedagogia diferenciada: das intenções à ação. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.