Revista Digital FESP - Ed. 01

Transcrição

Revista Digital FESP - Ed. 01
PALAVRA DO DIRETOR
02
Prezados Alunos, Professores e Colaboradores,
Com satisfação é que deixo aqui gravadas minhas
primeiras palavras em nossa mais nova ferramenta
de trabalho – a Revista Eletrônica Fesp, que tem por
objetivo a divulgação de trabalhos de alunos, artigos
de docentes, ex-alunos e de terceiros, acontecimentos
internos e externos, artigos relacionados aos nossos
cursos, eventuais convênios e parcerias firmadas e
demais conteúdos de interesse geral, bem como
auxiliar na promoção de uma maior integração entre
os diversos órgãos e participantes de nossa instituição
de ensino.
Destaco que uma revista desse tipo só subsiste, caso
consiga despertar o interesse de seus leitores e, para
isso, solicitamos a colaboração de todos, enviandonos artigos, sugestões e matérias de interesse a serem
pesquisadas e publicadas por nossa equipe de
jornalismo.
Dirijo meu primeiro recado a vocês, alunos, que
nos honraram com a escolha de nossa instituição
e aproveito a ocasião, para ressaltar, aqui, a
importância da interação que deve existir entre
vocês e nós, a fim de permitir uma permanente
evolução no ensino e, por consequência, uma melhor
capacitação dos profissionais formados pela Fesp.
Não
apenas
interação,
mas
também
e
fundamentalmente comprometimento, alicerçado
em laços de amizade e de ajuda recíproca entre
todos, não apenas durante seus cursos, mas também
em suas vidas profissionais.
Insisto que tal espírito deve ser cultivado, pois o mesmo
os servirá de auxílio, proteção e valorização de suas
carreiras no futuro, bem como deixará em destaque
a importância de seus Diplomas, que serão um eterno
cartão de visita, com presença permanente em suas
vidas.
Esse tipo de espírito fraternal prevaleceu na
Fesp e até hoje pode ser observado em diversas
empresas que têm em seus quadros profissionais
“fespinianos” que, na hora da contratação de um
novo colaborador, dão preferência aos alunos aqui
graduados.
Por óbvio tal escolha se deve não apenas ao espírito
fraternal desenvolvido durante a convivência
acadêmica, mas também pela total confiança na
capacidade dos profissionais formados pela Fesp.
Minha primeira mensagem, portanto, é a de
solicitar a vocês – alunos, uma coisa simples –
COMPROMETIMENTO, de cada um de vocês em prol
de vocês mesmos, com a Fesp e total dedicação
ao aprendizado.
Encerro
esse
preâmbulo
com
os
meus
agradecimentos a todos que participaram e
tornaram possível essa primeira edição, em especial
aos professores José Maria de Camargo Barros,
Karina Iamato, Tito Romeu Lopes e à nossa jornalista
Mariana Fernandez.
03
TCC
SISTEMA DE ASPIRAÇÃO AUTOMATIZADO
O Trabalho de Conclusão de Curso “Sistema de Aspiração
Automatizado”, dos formandos de 2013 de Engenharia
Elétrica Alexandre Frederico Leal, Flávio Fernando Frones,
Renata Rodrigues Palacios e Vinicius Bellini Bastistelli, orientado
pelo Prof. Ms. Carlos Alberto Pegollo, aborda os aspectos
implementacionais de um robô aspirador controlado, através
de um microcontrolador ATMEGA32A programado para poder
operar sem supervisão e realizar o trabalho doméstico de
aspiração enquanto o operador pode realizar outras tarefas,
visando assim o conforto e satisfação do consumidor. O robô
utiliza, além do microcontrolador, circuitos auxiliares como
sensores de altura e corrente para desviar dos obstáculos
e prosseguir com o trabalho evitando acidentes e danos
a sua estrutura. O robô possui ainda um sensor de bateria
para determinar quando atinge um limite crítico de carga e
necessita retornar a base para recarregar.
Para retornar ao seu local de recarga, o robô utiliza luz
infravermelha que é emitida pela base e através de um
receptor infravermelho acoplado no robô, seu circuito
consegue identificar a posição da base e dessa forma
determinar seu trajeto de retorno para recarregar a bateria.
06
Como resultado obteve-se um “Sistema de Aspiração
Automatizado”, onde seus componentes, circuitos e lógica
de programação tornaram possível o desenvolvimento
de um sistema simples de manusear, intuitivo ao usuário, e
principalmente a um custo consideravelmente menor do que
os aparelhos já existentes e semelhantes no mercado. O sistema
foi projetado para ser pequeno, leve e portátil tornando fácil o
transporte para qualquer ambiente em que ele deve operar,
e sua programação em linguagem C possibilita-o efetuar
aspiração dos ambientes de maneira inteligente. Ao final
do tempo de trabalho programado pelo operador ele deve
retornar a base sem necessidade de manuseio, sendo apenas
necessário realizar a limpeza periódica de seu reservatório de
poeira.
Para ler o trabalho na íntegra acesse o blog da Faculdade
de Engenharia São Paulo. Clique Aqui!
HIDROFRESA
UMA NOVA TECNOLOGIA PARA
EXECUÇÃO DE PAREDE DIAFRAGMA
Em consequência da diminuição de áreas
disponíveis para novos empreendimentos nas
grandes cidades e do crescimento concomitante
da frota veicular, há atualmente uma forte
demanda por ocupações verticais com número
cada vez maior de subsolos.
Dentre as alternativas existentes, a parede
diafragma é o tipo de contenção mais
recomendado para empreendimentos em que
há necessidade de se escavar subsolos abaixo
do lençol freático. Constituída por lamelas ou
painéis de concreto armado e muitas vezes
atirantada, essa solução é muito utilizada, pois
pode ser implantada até grandes profundidades
em quase todo tipo de terreno, e ser incorporada
à estrutura definitiva. Procura-se sempre embutila em solo impermeável, eliminando-se assim a
necessidade do rebaixamento externo do lençol
freático.
Para escavações em solo, em geral não
há grandes dificuldades, sendo utilizado o
equipamento clam-shell. Entretanto, em razão do número
grande de subsolos dos empreendimentos atualmente
construídos, atinge-se com frequência o material rochoso,
onde a escavação é bem mais complexa. Neste artigo
descreve-se o procedimento para execução da parede
diafragma, dando-se ênfase ao emprego da hidrofresa,
ferramenta que surgiu no exterior na década de 70 e que
vem sendo utilizada no Brasil há alguns poucos anos para
substituir o clam-shell nas escavações em rocha.
Acima os autores Karina
Yumi Iamato e José
Maria de Camargo
Barros.
07
EXECUÇÃO DA PAREDE DIAFRAGMA
Quando se utiliza o equipamento clam-shell, as
fases principais de execução são:
• execução da mureta-guia para proteção do
topo da escavação;
• escavação com clam-shell até a profundidade
de projeto, mantendo-se o furo sempre cheio
de lama bentonítica ou polímero;
• limpeza do fundo da escavação, tratamento
da lama bentonítica, colocação das chapasjunta e colocação da armadura;
lançamento do concreto, de baixo para cima,
através de tubos de concretagem; e
• recuperação das chapas-junta e da muretaguia.
As muretas-guia de concreto armado têm a função
de guiar o equipamento nos primeiros metros de
escavação. Após sua execução, começa-se a
escavação da lamela, com o clam-shell, que tem
espessuras variando entre 30 a 120 cm e larguras
de 250, 280 ou 320 cm. Esse equipamento, preso a
um cabo de aço, cai com as mandibulas abertas
dentro da vala. As mandíbulas se fecham levando
para a superfície o material escavado.
Para o sucesso da escavação das lamelas é
indispensável a utilização da lama bentonítica ou
de polímeros sintéticos para seu preenchimento.
Estes últimos vêm paulatinamente substituindo a
lama bentonítica, uma vez que, embora mais caros,
reduzem os impactos ambientais e os custos com o
descarte da lama. Ambos os materiais têm como
função dar estabilidade a escavação e devem
passar por testes de qualidade no próprio canteiro
de obras antes de serem utilizados.
Terminada a escavação da lamela,
inicia-se a colocação das chapas-junta,
que são colocadas verticalmente nas
extremidades laterais da lamela, com
seção trapezoidal, e têm a função de
dar o formato de encaixe para a lamela.
Essas chapas são retiradas após o inicio
da pega do concreto.
A armadura é montada em formato
de “gaiola” conforme especificações
de projeto, sendo içada por guindaste
e posicionada no interior da lamela.
A
concretagem,
feita
após
o
posicionamento
da
armação,
é
submersa, empregando-se um tubo
tremonha que executa o processo de
baixo para cima, expulsando a lama
bentonítica conforme o concreto é
lançado.
E assim são executados todos os
painéis. Ao final, é necessária uma viga
de coroamento, que unifica todas as
lamelas, para que elas não trabalhem
isoladamente e não tenham reações
diferenciadas.
EMPREGO DA HIDROFRESA PARA EXECUÇÃO
DA PAREDE DIAFRAGMA
Com o emprego da hidrofresa, os processos
iniciais são iguais ao já descrito. Como a
hidrofresa apresenta bom desempenho
somente em rochas, matacões e solos mais
duros, é necessário o uso do clam-shell para
escavação da lamela nos seus primeiros
metros em solo.
A velocidade para execução com clamshell em solos depende de diversos fatores,
mas, em geral, varia de 2 m/h a 12 m/h.
Quando essa faixa de valores não é
atingida, entra em ação a hidrofresa, e,
a partir daí, a execução começa a ser
diferenciada.
A hidrofresa é montada num guindaste
que é movimentado sobre grandes esteiras
ou por unidade hidráulica. O equipamento
possui espessuras variando de 60 até 150cm
e larguras de 250 à 320 cm.
A hidrofresa possui duas rodas de corte,
acionadas por motores hidráulicos. Essas
rodas giram em sentidos opostos, em
torno de seus eixos horizontais e possuem
bits de tungstênio ou vídea, que têm a
função de triturar a rocha.
Os detritos, juntamente com o fluido
estabilizante, são aspirados por uma
bomba hidráulica de alta capacidade
de sucção, e direcionados à estação
de tratamento da lama, onde ela
é reciclada e limpa, retornando à
vala. Esse procedimento garante
o uso de materiais estabilizantes
permanentemente reciclados e limpos.
Finalizado o processo de escavação
da lamela, o posicionamento das
armações e a concretagem seguem os
mesmos processos já descritos.
Sensores instalados no equipamento
medem a sua velocidade de avanço
e o torque do motor. Sua verticalidade
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também é medida continuamente
e eventuais desaprumos podem ser
corrigidos.
A central de tratamento de fluidos
necessita de um espaço maior e
é bem mais complexa, por possuir
mais etapas de tratamento, do que
a utilizada na escavação com o
equipamento clam-shell.
Em geral, executam-se inicialmente
duas lamelas separadas denominadas
primárias e entre elas posteriormente
uma lamela denominada fechamento
ou secundária. As lamelas primárias
podem ser simples ou duplas (com
duas descidas da hidrofresa) e as de
fechamento são sempre simples. Na
figura se mostra em detalhe o processo
executivo de uma lamela primária
dupla.
HIDROFRESA
O espaço entre as duas lamelas primárias
reservado para a lamela de fechamento tem
uma largura menor que a do equipamento, de
forma que quando essa lamela é escavada
a hidrofresa escarifica as laterais das lamelas
primárias vizinhas. Obtém-se assim uma superfície
rugosa no contato entre o concreto fresco e o já
endurecido. Essas juntas secantes proporcionam
melhor desempenho estrutural da parede e maior
estanqueidade da escavação.
Como no caso convencional, se executa a viga
de coroamento ao final da execução de todos
os painéis.
A experiência brasileira no uso de hidrofresa é
bastante recente, cerca de quatro anos, e por
essa razão ainda se tem pouca informação sobre
o seu desempenho.
A pouca experiência acumulada tem apontado
que, em certos tipos de rochas, principalmente
as mais resistentes e sãs, o desempenho do
equipamento deixa a desejar, apresentando
dificuldades de avanço e até mesmo não
atingindo a profundidade de escavação prevista.
Por outro lado, tem mostrado um desempenho
bastante satisfatório em obras com a presença
de rochas mais brandas ou mais alteradas. Para
essas situações, a hidrofresa é uma ferramenta
bastante interessante para viabilizar obras com
escavações profundas em rocha.
AGRADECIMENTO
À empresa Geofix Fundações pela cessão de
algumas das ilustrações deste trabalho.
Publicado originalmente em versão resumida na
“Revista da Construção”, n. 127 do Sinduscon SP.
HIDROFRESA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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TCC
OTIMIZAÇÃO ENERGÉTICA
EM DATA CENTERS
Os data centers são imprescindíveis na economia atual
sendo cada vez mais utilizados pelas empresas, de modo
que vêm apresentando considerável crescimento desde
a última década.
O aumento da demanda destes serviços evidenciou algo
que não era levado em consideração pelos gestores de
TI, o alto consumo energético.
O consumo energético nos data centers encarecem
o serviço e aumentam as emissões de gases de efeito
estufa e em algumas organizações o data center pode
ser responsável por até 50% das emissões de carbono.
Ser eficiente energeticamente e manter o alto nível de
serviço é a missão dos departamentos de engenharia e TI
(Tecnologia da Informação) que devem trabalhar juntos
pensando na contínua melhoria e qualidade nos serviços
prestados.
Isso pode ser feito com equipamentos mais eficientes,
virtualização de servidores e melhorias no sistema de
refrigeração.
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Deste modo, o presente trabalho propõe
soluções para a eficiência energética em
data centers, tornando-os mais lucrativos
e diminuindo seu impacto ambiental.
Atualmente, vive-se em uma época
digital com uma crescente demanda por
serviços via web e “Cloud Computing”
que fazem com o que as empresas
invistam cada vez mais em centros
de processamento de dados para
armazenamento de informações. Por
esse motivo, nos últimos anos houve
um “boom” na procura de serviços de
“Data Center” – Centro de Dados, e,
consequentemente, um aumento nas
construções destes centros. Desta forma,
se torna cada vez mais necessário que os
“Setores de Engenharia” e “TI - Tecnologia
da Informação” atuem juntos na
constante busca pelo aperfeiçoamento
dos sistemas que compõem os Data
Centers, contribuindo para a diminuição
da emissão de dióxido de carbono para
o meio ambiente.
É importante ressaltar que, atualmente,
os data centers são fundamentais
para a economia mundial e um mau
dimensionamento dos mesmos pode
causar interrupções no sistema e
desperdício energético, o que pode
significar grandes perdas financeiras para
as empresas e um aumento da emissão
de dióxido de carbono na atmosfera.
Para ler o trabalho completo, “Otimização
Energética em Data Centers”, clique
aqui.
OTIMIZAÇÃO ENERGÉTICA EM DATA CENTERS
Utilizando as ferramentas “Microsoft
Integrated Virtualization ROI Calculation”
e “Data Center Efficiency Calculator”
fornecidas pela Microsoft e APC
respectivamente, para medir e calcular os
benefícios da virtualização e otimização
de infraestrutura como soluções em
eficiência energética em data centers.
13
TCC
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS
DE POTÊNCIA
‘Economistas modernos ao analisarem o grau
de desenvolvimento de um país baseiam-se
constantemente no consumo per capita de
energia elétrica e no índice de crescimento
desse consumo dada a sua ligação direta com
a produção industrial e o poder aquisitivo da
população, que cresce com o mesmo.’
No texto acima o autor relaciona consumo de energia elétrica
com o grau de desenvolvimento de um país, e essa relação vem
para confirmar a hipótese de que vivemos em um mundo no qual
a eletricidade desempenha papel fundamental na sociedade
e, dada sua importância, todos os sistemas responsáveis pelo
seu fornecimento devem estar munidos dos mais modernos e
eficazes meios para assegurar o seu correto funcionamento.
Assim são: as usinas geradoras, (sejam elas hidrelétricas, térmicas,
nucleares, eólicas ou outras), os sistemas de transmissão (parte
que compreende uma ampla extensão territorial e, portanto, é
sujeita aos mais diversos tipos de cenários de risco possíveis) e de
distribuição (que também estão sujeitos aos mais variados tipos
de riscos).
Portanto, numa sociedade cada vez mais dependente da
eletricidade a exigência por sistemas elétricos confiáveis é cada
vez maior e isso se verifica também no que tange aos sistemas de
potência que fornecem energia para a população, indústria e
comércio. Esses sistemas devem atender a diferentes requisitos,
para as empresas responsáveis pela sua administração, devendo
ser robustos o suficiente para não sofrerem danos decorrentes
das diversas falhas que podem ocorrer aos mesmos, de maneira
a não colocar em risco os altos investimentos necessários para
se construir um sistema elétrico de potência. No caso dos
consumidores devem ser capazes de entregar energia elétrica
de qualidade e de maneira ininterrupta.
O sistema elétrico de potência em todas as suas partes:
(Geração, Transmissão e Distribuição), está sujeito a falhas de
várias origens tais como: curto-circuito, sobrecargas, fugas à
terra e muitas outras.
15
Tendo em vista o potencial que essas falhas tendem a causar
enormes transtornos aos consumidores e prejuízos de vultosos, a
proteção do sistema elétrico contra essas falhas pelos meios mais
eficazes é, portanto, de vital importância para a manutenção
do funcionamento do mesmo e, consequentemente, para
manutenção do fornecimento de energia elétrica à população,
indústrias, comércio e todos aqueles que fazem uso da energia
elétrica e é nas principais formas de proteção que esse trabalho
tem sua finalidade, começando por uma breve introdução ao
sistema G.T.D.(Geração, Transmissão e Distribuição de Energia
Elétrica), após isso segue-se uma introdução às subestações e os
principais componentes que as constituem, a mesma descrição
com caráter introdutório é dada às linhas de transmissão para
que se possa falar sobre as funções de proteção.
No trabalho Estudo da proteção de sistemas elétricos de
potência – Linhas de transmissão, foi dado um enfoque à
proteção de linhas de transmissão, pois como se verá ao longo
do trabalho as mesmas são muito sujeitas a faltas e, geralmente,
faltas nesse ponto do sistema elétrico de potência resultam em
consequências mais drásticas.
Nestas condições o intuito do trabalho de conclusão de curso
Estudo da Proteção de Sistemas Elétricos de Potência – Linhas de
Transmissão, foi exemplificar e estudar as principais funções de
proteção aplicáveis a linhas de transmissão parte tão vulnerável
do sistema elétrico, e, em cuja ocorrência de uma falta grave
pode desencadear em grandes prejuízos e transtornos para os
consumidores e até comprometer outros sistemas adjacentes.
Clique aqui para ter acesso ao trabalho completo.
16
Artigo
Reflexões sobre representação
social e ingresso de negros em
empresas privadas
O processo de inclusão de negros em empresas privadas, como
fonte de promoção da diminuição da desigualdade social, no
que se refere ao mercado de trabalho, constituem tema de
reflexão e discussão desta tese. Como meta principal, propomos
estudar, investigar e analisar a representação social percebida
por indivíduos negros que trabalham em empresas privadas,
contratados por projetos de inclusão e negros que tenham vínculo
empregatício e que foram contratados espontaneamente. Neste
são definidos alguns conceitos como racismo, preconceito,
discriminação, direitos humanos a luz do arcabouço teórico
desenvolvido nas Ciências Sociais e Antropologia com o intuito
de ampliar a compreensão da representação social de negros
com relação ao processo de ingresso em empresas privadas.
Com o objetivo de “investigar, analisar e compreender a
representação social estabelecida na trajetória de ingresso
e atuação profissional de indivíduos negros, considerando o
ingresso espontâneo e por meio de projetos sociais de inclusão
(quotas), especificamente em empresas privadas”, a tese de
doutorado Racismo: Reflexões sobre representação social e
ingresso de negros em empresas privadas (MARQUES, V., 2007.
000f. Tese (Doutorado) – Instituto de Psicologia da Universidade
de São Paulo, São Paulo, 2007.) foi desenvolvida através do
método de “entrevista semiestruturada e relato de história de
vida, com 10 homens e mulheres negros, residentes no município
de São Paulo, de faixa etária de 25 a 40 anos, com Ensino Superior
completo, sendo 05 atuando por ingresso espontâneo e 05 por
ingresso de projetos de inclusão social.”
O trabalho foi realizado através de “entrevista piloto, por
entrevistador negro e por entrevistador branco” para verificação
de “interferência na narrativa dos pesquisados, tendo em vista a
avaliação sobre se as questões de desigualdade interferem ou
não nas narrativas dos entrevistados” e de entrevistas individuais,
com os pesquisados “convidados a participar da pesquisa por
meio do consentimento informado”. Ainda quanto às entrevistas,
foram após “transcritas na íntegra, preservando a identidade
dos entrevistados” e, inclusos no trabalho, “os comportamentos
observados durante a entrevista permitindo aprofundar as
reflexões sobre o tema estudado”.
Segue, abaixo, resumo da tese.
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Na história do Ocidente, a desigualdade entre os seres humanos
tem-se originado de diferentes formas: pela diferença de sexo, pela
conquista e ocupação de terras estrangeiras, pela escravização
ou colonização de outros povos e, mais recentemente,
pela migração de indivíduos de outras nacionalidades para
Estados capitalistas mais ricos, na condição de trabalhadores.
(Guimarães, 1999).
Segundo Guimarães (1999) o conceito de racismo pode ser
considerado uma forma de reprodução de desigualdades
sociais e econômicas, por meio dos mais diferentes mecanismos,
entre grupos de pessoas identificadas como de diferentes raças,
etnias ou cores que constituem discriminação.
Segundo Telles (2002), as políticas antirracistas representam
possíveis soluções para o combate ao racismo e a desigualdade
racial. Em pesquisa realizada no Brasil, examinou o apoio ao
princípio de intervenção do governo na promoção dos negros
através de duas políticas específicas: as quotas para negros
nas universidades e as quotas para negros nos bons empregos.
O formato dessas políticas pode variar da criação de quotas
para promoção dos negros, até medidas mais universalistas de
redução do número de pobres, dos quais a maioria é composta
de negros (pretos e pardos) no Brasil.
Apesar de ter ocorrido uma mudança ideológica na mobilização
dos negros, a agenda ou programa delineado nesta mobilização
me parece ideologicamente neutro, ou seja, pode conviver com
as mais diferentes tendências ideológicas do movimento negro.
Tal agenda pode ser resumida a um combate antirracista em
três frentes: (a) recuperação da autoestima negra através da
modificação de valores estéticos, da reapropriação de valores
culturais, da recuperação de seu papel na história nacional,
do avivamento do orgulho racial e cultural; (b) combate à
discriminação racial através da universalização da garantia
dos direitos e das liberdades individuais, incluindo os negros,
os mestiços e os pobres; (c) combate às desigualdades raciais
através de políticas públicas que estabeleçam, no curto e médio
prazos, um maior equilíbrio de riqueza, de prestígio social e de
poder entre brancos e negros. (Telles, 2002)
18
Considerando o panorama democrático atual, não podemos
evitar uma discussão franca da qual façam parte setores
em desvantagem, particularmente a população negra que
representa quase metade da população total. Desta forma,
vivemos um momento histórico importante para criar políticas
antirracistas de consenso.
De acordo com Telles
(2002), a avaliação das políticas
compensatórias para negros, segundo sua pesquisa, demonstra
uma conjuntura favorável de quase metade dos brancos e na
maioria dos negros um bom ponto de partida para começar
uma discussão mais ampla sobre o tema.
Assim, esse trabalho pretende aprofundar especificamente
reflexões sobre a discussão de quotas em empresas privadas,
como possibilidade de diminuir a desigualdade por discriminação
racial no mercado de trabalho.
Racismo
Robert Blauner (1972) considera que a racionalidade das
“raças” está dada pelo conceito geral de “opressão social”,
que subsome a racionalidade das diversas formas — gênero,
raça, cor, etnia, classe, casta — pelas quais os grupos sociais são
sistematicamente dominados, sujeitados, explorados, abusados
ou desprezados.
De acordo com Guimarães (1999) foi a adoção de uma visão
equivocada da biologia humana, expressa pelo conceito de
“raça”, que estabeleceu uma justificativa para a subordinação
permanente de outros indivíduos e povos, temporariamente
sujeitos pelas armas, pela conquista, pela destituição material e
cultural, ou seja, pela pobreza. A transformação da desigualdade
temporária — cultural, social e política — numa desigualdade
permanente, biológica, é um produto da ideologia cientificista
do século XIX. No entanto, depois de a justificativa racial ter
perdido legitimidade científica, a suposta inferioridade cultural
— em termos materiais e espirituais — de grupos humanos em
situação de subordinação passou a ser a justificativa padrão
do tratamento desigual. O racismo, portanto, origina-se da
elaboração e da expansão de uma doutrina que justificava
a desigualdade entre os seres humanos (seja em situação de
cativeiro ou de conquista) não pela força ou pelo poder dos
conquistadores (uma justificativa política que acompanhara
todas as conquistas anteriores), mas pela desigualdade
imanente entre as raças humanas (a inferioridade intelectual,
moral, cultural e psíquica dos conquistados ou escravizados). 3
Esta doutrina justificava pelas diferenças raciais a desigualdade
de posição social e de tratamento, a separação espacial e a
desigualdade de direitos entre colonizadores e colonizados,
entre conquistadores e conquistados, entre senhores e escravos
e, mais tarde, entre os descendentes destes grupos incorporados
num mesmo Estado nacional. Trata-se da doutrina racista que se
expressou na biologia e no direito.
Telles é
Professor
na UCLA
e Bailey é
aluno de pósgraduação
da mesma
universidade.
Durante o
período da
pesquisa,
o primeiro
autor era
Assessor de
Programas
da Fundação
Ford no Rio
de Janeiro,
licenciado
da Universidade, o
segundo autor também
residia no Rio
e pesquisava
atitudes
raciais para
sua tese de
doutorado.
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Podemos ainda definir o racismo não com referência à
atitudes, ações e preferências individuais, mas com relação
a um determinado sistema social (ver, por exemplo, Blauner,
1972). Isto é possível quando grupos humanos considerados
raças ou identificados por traços raciais ou racializados (como
a cor, por exemplo) são sistematicamente postos em situação
desvantajosa do ponto de vista econômico, político, social e
cultural. Neste caso, as desigualdades sociais são ditas raciais
quando se encontrem e se comprovem mecanismos causais
operando ao nível individual e social que possam ser retraçados
ou reduzidos à ideia de raça. Neste sentido, racismo não é mais
uma ideologia que justifica desigualdades, mas um sistema
que reproduz tais desigualdades. A justificativa, neste caso,
pode ser cultural (inferioridade ou inadequação) ou de outro
tipo. O importante é que grupos que se definem e são definidos
por meio de atributos raciais (como a cor) ocupam de modo
permanente posições de poder e posições sociais assimétricas
como resultado da operação de mecanismos de discriminação.
Para que tal configuração seja correta é necessário, portanto,
demonstrar que os indivíduos de raças ou cores diferentes não
têm as mesmas oportunidade de vida e não competem em pé
de igualdade pelos recursos sociais, culturais e econômicos.
Segundo Nobert Elias (1998) apud Telles(2002), propõe que
o fenômeno racial fosse estudado sobre a rubrica geral de
“carisma grupal”. A este respeito, quatro tipos de carisma ou
estigma podem ser diferenciados: raça, cor, etnia e classe.
“Raça” é uma forma de carisma ou estigma grupal baseada
na crença de uma herança genética que define o valor moral,
intelectual e psicológico de um indivíduo ou de um grupo.
“Cor” é um tipo de carisma baseado na aparência física de um
indivíduo, que mede geralmente a sua distância ou proximidade
dos grupos raciais. Não se trata, todavia, de apenas uma
escala de valores estéticos; ela é também uma escala de valor
intelectual e moral.
“Etnia” é um tipo de carisma ou estigma baseado na identidade
cultural, regional ou nacional de grupos. No Brasil, as etnias não
são em geral importantes (no que se refere à situação dos negros)
e aparecem de uma forma modificada através de identidades
regionais estigmatizadas, tais como “baiano”, “paraíba” ou
“nordestino”, e carismáticas como “sulista” ou “paulista”.
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“Classe”, tal como a emprego aqui, não é um fenômeno de
ordem econômica, tal como conceituado por Weber, mas um
carisma baseado na posse e no domínio de bens materiais e
culturais. Neste sentido, “classe” define uma qualidade moral e
intelectual dos indivíduos e grupos. Ständ talvez fosse o conceito
mais adequado para designar o agrupamento formado por este
carisma, mas encontra-se totalmente em desuso na prática social
cotidiana, substituído pelo termo “classe”, como nas locuções
“uma pessoa de classe” ou “um produto de classe”. O carisma
de classe no Brasil é predominante sobre todos os outros, posto
que a eles estão associadas atitudes e condutas discriminatórias
amplamente aceitas e legitimadas socialmente. Ademais, dadas
as grandes desigualdades sociais entre brancos e não-brancos, é
possível discriminar abertamente os negros, mulatos ou nordestinos
sem se recorrer explicitamente à evocação dos estigmas de raça,
cor ou etnia.
Representação Social
Segundo Arruda (2002), Moscovici, guiado pela necessidade de
atualizar o conceito de representação social remodela o conceito
durkheimiano para trazê-lo as condições de hoje, de sociedade
contemporâneas imersas na intensa divisão do trabalho, nas
quais a dimensão da especialização e da informação tornaramse componentes decisivos nas vidas das pessoas e dos grupos.
De acordo com Moscovici (1978), as representações sociais são
formas de conhecimento – o saber do senso comum – que têm
como principal objetivo estabelecer a ordem que permita aos
indivíduos orientarem-se em seu mundo social e material e ainda,
possibilitar a comunicação entre membros do mesmo grupo.
A Teoria das Representações Sociais – TRS, parte do pressuposto
que existem diferentes formas de conhecer e de se comunicar
guiadas por objetivos diferentes, formas que são móveis e define
duas formas, marcantes em nossa sociedade: a consensual e a
científica e considera que cada uma gera seu próprio universo.
No universo consensual se constitui principalmente da conversação
informal. Assim, a representação social é compreendida como
senso comum ou consciência coletiva. No universo científico a
representação social retrata primordialmente. Ambas, a realidade
independentemente da nossa consciência. Ambas, apesar de
terem propósitos diferentes, são eficazes e indispensáveis para
a vida humana, As representações sociais constroem-se mais
frequentemente na esfera consensual, embora as duas esferas
não sejam totalmente estanques.
O saber prático, na teoria das representações sociais pode ser
verificada por dois processos, segundo Moscovici, a objetivação
e a ancoragem.
21
Na objetivação, o conhecimento do objeto ocorre por meio de um processo até
ser devidamente destrinchado, recomposto tornando-se algo objetivo, palpável,
passando a nos parecer natural. Na naturalização se completa o ciclo de
objetivação.
A ancoragem é um outro processo, aquele que dá sentido ao objeto que se
apresenta à nossa compreensão. Trata-se da maneira pela qual o conhecimento
se enraíza no social e volta a ele, ao converter-se em categoria e integrar-se à
grade de leitura do mundo do sujeito, instrumentalizando o novo objeto.
Moscovici considera que:
O processo social no conjunto é um processo de familiarização pelo qual os
objetos e os indivíduos vêm a ser compreendidos e distinguidos na base de
modelos e encontros anteriores. Predominância do passado sobre o presente,
da resposta sobre o estímulo, da imagem sobre a “realidade” tem como única
razão fazer com que ninguém ache nada de novo sob o sol. A familiaridade
constitui ao mesmo tempo um estado das relações no grupo e uma norma de
julgamento de tudo o que acontece. (1961, p.26)
Desta forma, essa teoria pressupõe que representação social, na verdade,
opera uma transformação do sujeito e do objeto na medida em que ambos são
modificados no processo de elaborar o objeto.
Conforme Jodelet (2002), a construção da representação inclui aspectos como
informações, imagens, crenças, valores, opiniões, elementos culturais, ideológicos,
e muito mais. Toda representação se refere a um objeto e tem um conteúdo,
portanto, encadeia ação, pensamento e linguagem nas suas funções primordiais
de tomar o não-familiar conhecido, possibilitar comunicação e obter controle
sobre o meio em que se vive, compreender o mundo e as relações que nele se
estabelecem.
Segundo Spink apud Israel (1972), numa postura construtivista da psicologia social,
define que o sujeito é o produto e o produtor da realidade social. Nesta perspectiva,
podemos considerar o sujeito ativo porque ele dá sentido aos objetos sociais,
materiais ou ideacionais que o cercam, isto é, ele constrói representações e teorias
sobre os objetos.
Bibliografia
Arruda, Angela. Teoria das representações sociais e
teorias de gênero, Cadernos de Pesquisa, n. 117, p.
127-147, novembro/2002
Guimarães, Antônio S. A. Combatendo o Racismo:
Brasil África do Sul e Estados Unidos; Revista Brasileira
de Ciências Sociais, Vol. 14 no 39, fevereiro/99
___________. Representações sociais: um domínio em
expansão. In JODELET, S (org.). As representações
sociais. Rio de Janeiro: Eduerj, 2002, p. 17-44
Moscovici, Serge: A representação social da
Psicanálise, Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1978.
Spink, Mary Jane P. Psicologia Social e Saúde:
Práticas, saberes e sentidos, Rio de Janeiro, Vozes,
2003
Telles, Edward. Opinião Pública, Campinas, Vol.VIII,
nº1, 2002, pp.30-39
Artigo
Trabalho de Conclusão de
Cursos e a Área de Recursos
Humanos
Uma das responsabilidades dos professores dos cursos de
Administração voltados para a área de Recursos Humanos é
desenvolver no aluno a habilidade e o conhecimento para tratar
com pessoas e entender a importância para da formação de
equipes e da liderança para a gestão de qualquer uma das áreas
de uma organização. Mesmo aqueles que não estão afetos a
esta área como especialização profissional vão precisar destes
conhecimentos e habilidades para exercer uma gerência de
resultados.
Uma das formas de medir o quanto os professores das disciplinas
voltadas para a Administração de Recursos Humanos é o interesse
que os alunos venham a mostrar na hora de desenvolver o seu
Trabalho de Conclusão de Curso.
No curso de Administração da Faculdade de Engenharia São
Paulo, várias disciplinas são voltadas ao assunto: Pensamento
Humanístico, Psicologia e Comportamento Organizacional,
Administração de Recursos Humanos, Gestão de Pessoas , Ética e
Responsabilidade Social e Negociação formam um conjunto que
se dispõe a fornecer as ferramentas e desenvolvimento pessoal
necessários aos futuros administradores para a obtenção de
resultados através das pessoas. Este conjunto de matérias somam
ao todo 480 horas de aula voltadas a formar e desenvolver nossos
alunos como profissionais capazes de fazer frente a quaisquer
problema ou desafio que exija sua liderança ou espírito de
equipe. Além disso, um professor é designado para acompanhar
e orientar o desenvolvimento dos trabalhos e os professores afetos
ás áreas escolhidas por tema dão orientação sobre o conteúdo
escolhido pelos alunos.
No ano de 2013, sete trabalhos foram apresentados às bancas
de TCC:
• E-commerce – Crescimento, evolução, estabilidade,
Segurança e sucesso no desenvolvimento de um novo conceito
de comércio no Brasil. Trabalho de Jailma Euclides da Silva e
Roberta Denise Guerra Dias.
•
Marcas próprias de supermercado. Trabalho de
Cristiane oliveira, Nadya Ferreira, Pamela Andrade e Verônica
23
Camargo.
•
A indústria automobilística no Brasil e a crise do “subprime”
de 2008. Trabalho de Jéssica Simões, José Eduardo Deliaconi e
Nádia Maria Martins.
•
Qualidade no atendimento bancário. Trabalho de Flávio
Luiz Alves e Rinaldo Barbosa dos santos.
•
Qualidade de vida no trabalho. Trabalho de Francisco
Maurício Gomes Santos, Raí Macário dos Santos e Valdemir
Miranda Neves.
•
A inclusão de pessoas com deficiência nas organizações
brasileiras. Trabalho Cristina de Souza Silva, Gilene Silva de Assis
e Grazielle Aparecida Amorim.
Os dois últimos listados nos são um demonstrativo dos resultados
obtidos pelo esforço da faculdade na área de humanas.
O trabalho sobre qualidade de vida busca estudar o tema tanto
sobre o ponto de vista do empregador como do empregado.
Aborda a preocupação cada vez maior com o tratamento em
relação aos funcionários já que a organização depende deles
para alcançar o sucesso.
A pesquisa realizada procura, nas palavras dos autores, “ressaltar
que o ser humano traz consigo: sentimentos, ambições, cria
expectativas, envolve-se, busca o crescimento dentro daquilo
que desenvolve e realiza”. Busca, ainda, mostrar que o homem
não trabalha só pelo salário, não podendo ser tratado apenas
como um número a mais no processo de produção.
O TCC delimita o tema em dois aspectos: eficácia organizacional
e os benefícios para o empregado. Busca compreender,
conforme afirmam os autores, “o grau de influência das ações
empreendidas pela QVT em relação à produtividade dos
colaboradores e o bem-estar”.
O grupo justifica o tema considerando que a evolução do ser
humano está ligada diretamente ao trabalho, sendo este o
único ser vivo capaz de transformar o meio em que vive. Trata o
trabalho como objeto de desejo e busca de recursos também
para a satisfação fora do dele.
24
Além de discorrer sobre a motivação e os modelos de Qualidade
de Vida no Trabalho encontrados na literatura, busca associar
o investimento das organizações em QVT ao maior retorno
financeiro, destacando e pesquisando o trabalho de duas
consultorias existentes no mercado.
Nas conclusões finais, além do relacionar QVT e sucesso
empresarial, chama a atenção a clareza com que os formandos
perceberam a importância de a prevenção no que se refere ao
trato do empregado. Para os autores “prevenir é melhor que
remediar”.
O desenvolvimento deste TCC é o feliz resultado de um processo
de crescimento dos alunos no pensar e saber planejar o trato
com as pessoas no ambiente de trabalho.
O outro tema desenvolvido com sucesso tratou da inclusão
do deficiente nas organizações. Considerando o número de
portadores de deficiência existentes no Brasil, trata a inclusão
destas pessoas não só como um desafio, mas como uma
oportunidade. Segundo os alunos “através das nossas atitudes é
possível ver as crenças e valores individuais de cada um quando
se depara com um deficiente e também o contexto social em
que vivemos. Essa barreira talvez esteja mais em nossas cabeças
do que em problemas efetivos”.
O intuito do TCC foi, de acordo com os autores, “contribuir com
essa reflexão a respeito da inclusão das pessoas com deficiência,
liberando as amarras de preconceito e incentivando a real
aceitação das diferenças e a adequação da sociedade a elas
e não o contrário”.
O desenvolvimento do trabalho apresentado trouxe, em primeiro
lugar, o contexto histórico e social da deficiência na sociedade.
Como ela se desenvolveu da idade antiga e da medieval aos
dias atuais. A seguir mostra como é o quadro de deficientes no
Brasil, suas causas e tipos existentes no país.
A partir deste detalhamento passa a pesquisar como é o acesso
destas pessoas ao mercado de trabalho e quais as suas garantias
legais para, depois, entrar no capítulo sobre a sua inclusão
dentro das organizações e as diferenças na gestão deste de
sua vida profissional.
No final da pesquisa realizada, os alunos concluíram que ”quando
a inclusão de pessoas com deficiência nas organizações é
realizada com afinco e seriedade, observa-se mudanças
não apenas na empresa, mas em seus colaboradores e na
sociedade” além de destacar “um ganho no ambiente de
trabalho” pois “a organização fortalece o espírito de equipe,
reforçando o entrosamento ao redor dos objetivos comuns”.
Nestes dois TCCs nota-se a preocupação com o ser humano e
25
seu tratamento no trabalho. Este desafio, quando vencido, tem se
tornado uma das melhores formas de aumentar a produtividade
e a competitividade das empresas. No Brasil, até ontem um país
escravocrata e que se acostumou ao coronelismo como forma
de organização da produção, a gestão de pessoas passa a
ser um grande obstáculo para os administradores e, talvez, seu
maior calcanhar de Aquiles. É muito importante que os cursos de
administração mostrem a importância do tema e os caminhos
a serem explorados para a construção de uma sociedade mais
justa, onde o trabalho seja satisfatório para todos gerando uma
contribuição fundamental para o crescimento da economia e
do IDH no país.
Tito Alcides Romeu Lopes
Coordenador do Curso de Administração
A Mulher na Sociedade Terena
26
Vários são os autores que pesquisaram o grupo Terena no Brasil
e que enfocaram os diversos aspectos desta cultura sem se
deterem, em particular, nos papéis desempenhados pela mulher
e na sua importância até mesmo na esfera doméstica.
Esta tendência, muito própria na Antropologia em geral, pode
ser entendida pelo fato de que os homens, em muitas culturas,
ocupam realmente o centro das atividades e o acesso a eles
torna-se mais fácil que às mulheres, que são mais guardadas. Tal
fato não nega e nem diminui, porém, a importância das atividades
femininas. Modernamente, os antropólogos reconhecem o estudo
das atividades das mulheres como básico para entendimento
do funcionamento da sociedade e para análise da cultura. Na
etnografia brasileira, contudo, este é ainda um campo carente
de dados informativos.
Nesta medida, nossa tentativa nesta comunicação é enfatizar a
importância da posição da mulher indígena Terena, cujo estudo
foi até agora relegado a um segundo plano. No entanto, não
pretendemos com este estudo apresentar uma interpretação
etnocêntrica, mas tão somente trazer subsídios que permitam
uma visão mais ampla da sociedade Terena. O objetivo deste
trabalho é, pois, o exame da visão feminina do mundo Terena
frente aos problemas decorrentes de seu envolvimento pela
sociedade nacional, com base em pesquisa de campo na qual
pudemos constatar que os países das mulheres são orientados
pela família e neste contexto é que aparecem suas atividades e
relações básicas.
Esta realidade indica que o estudo dos papéis familiares é
fundamental para compreender a posição da mulher na
sociedade Terena. Porém ele só poderá ser completado na
media em que se tiver uma compreensão total das mulheres
Terena em todos os aspectos da vida, ou seja, não só na esfera
provada, como na esfera pública.
Nossos informes de campo procedem de uma visita feita a várias
das aldeias Terena, como parte de um projeto sobre a situação
indígena no sul de Mato Grosso, patrocinado pela FUNAI.
*Professor Dr. Fernando Franco Altenfelder Silva, Livre Docente pela USP.
Orientador do Trabalho. (In memoriam)
*Publicado na Revista Eletrônica da FESP “2014”.
* Docente da Faculdade de Engenharia São Paulo (FESP).
* Comunicação apresentada na 29ª Reunião da SBPC.
*Professora Colaboradora do Departamento de Ciências Sociais da UFES.
27
As entrevistas foram feitas com informantes femininas e por
entrevistadores que pretendiam assim buscar informações
diretamente de mulher para mulher, a fim de saber como ela vive e o
que faz, tentando superar uma falha etnográfica presente em muitas
monografias de antropólogos que se utilizaram essencialmente
de informantes masculinos, mesmo quando desejavam conhecer
aspectos da vida das mulheres.
Um fato importante para colocar em cena o que a mulher representa
na vida Terena, é a própria situação em que se desenvolveram as
entrevistas. A participação masculina foi difícil de ser impedida:
a presença do homem anulava a participação da mulher. Às
perguntas dirigidas a ela, o homem, quando presente, respondia
em seu lugar, fosse marido ou filho.
A esfera doméstica é, de fato, domínio feminino. A ação da mulher se
desenvolve principalmente no lar: “a mulher manda na cozinha, na
costura e dentro de casa; lá fora é o homem”. Este comportamento
Terena revela uma adequação a um sistema onde o homem
detém o poder e assume uma posição de dominação sobre a
mulher. Ao realizarmos as indagações nas casas dos indígenas
Terena, estávamos ali representando a sociedade Nacional. Daí, a
interferência do índio Terena, quando presente às entrevistas, nas
quais as questões eram propostas à informante, - sua esposa, irmã
ou mesmo mãe -, pois o contexto lhe parecia mais público que
privado.
Tentando analisar os dados coligidos, percebemos que, apesar
do nosso interesse no comportamento real da mulher Terena, que
nos parecia no nível ético mais relevante para o nosso objetivo, as
interferências dos homens no fornecimento das informações sobre
a atuação feminina, trouxeram uma conotação num nível diferente
de análise, na medida em que representavam manifestações
normativas, ou seja, de caráter êmico.
A POSIÇÃO DA MULHER TERENA
A mulher Terena, dentro da esfera doméstica, desempenha ainda
seus papéis fundamentais e é neste primeiro nível que podemos
entender sua posição na sociedade a que pertence. Cada estágio
na vida de uma mulher dá a ela um papel específico para cumprir:
28
Trabalho realizado em obediência a um convênio mantido pelo
Departamento de Ciências Sociais da Faculdade de Filosofia,
Ciências e letras de Rio Claro da UNESP e a FUNAI, visitamos as
aldeias Terena de: Cachoeirinha, Ipegue, Limão-Verde, Bananal,
Moreira, Passarinho, Água Branca.
daí a importância, enfatizamos, dos diferentes papéis familiais de
“filha”, “mulher”, “mãe” e “irmã”, cuja sucessão pode ser vista, como
sua própria história de vida. A esfera doméstica, então, torna-se seu
mundo, o único onde ela está inteiramente familiarizada e no qual
ela se sente competente e confortável, graças à enculturação a
que foi sujeita.
Na medida, porém, em que este processo está sofrendo, cada
vez mais, influências externas à cultura Terena, representadas
pelo envolvimento pela sociedade nacional, a posição da mulher
começa a sofrer mudanças.
A restrição ao mundo doméstico é hoje muito mais patente para
a geração feminina mais velha, e as avós estão mais adaptadas a
essa situação que as jovens Terena, expostas ás solicitações extrafamiliais. A tradição básica Terena, pela sua permanência maior,
tem que ser buscada, pois, na língua e na mulher Terena.
Examinando esse dois aspectos, verificamos que a língua Terena
é a única tradição cultural que ainda existe, e se exprime como o
primeiro meio de comunicação entre mãe e filhos: o português só é
aprendido na idade escolar, quando a criança deixa o lar e inicia
sua maior participação na vida social. A mulher tem, pois, um papel
extremamente importante na transmissão da visão cultural Terena.
O exame da vivência íntima do núcleo familiar, no caso das
gerações mais velhas, revelou situações em que mulheres não
falam português ou não querem falar.
Atribuímos tal fato, ou ao relativo isolamento, ou ainda a uma
consciente resistência às mudanças, como forma de preservação
da principal e básica tradição existente: a língua Terena.
A transmissão da visão cultural do grupo não se limita somente ao
nível da linguagem. À mulher cabe a maior parte da tarefa de
educar os novos Terena e o seu relacionamento com a própria prole
é muito mais intenso do que a do homem. As próprias decisões deste
nível, apesar das regras normativas dizerem o contrário, partem
realmente da mulher. Ela dirige a casa, organiza as atividades das
crianças, estabelecendo certa divisão de trabalho quanto ao sexo.
As meninas ajudam na cozinha, lavam, limpam. Os meninos não
têm, em geram, atividades domésticas expressas.
A meta mais significativa na educação feminina é tornar a garota
uma boa esposa e mãe, boa esposa na medida em que saiba
agradar o marido, fazer coisas para ele. Enquanto o menino deve
ser preparado para ser um bom trabalhador.
29
A inculcação de valores e atitudes é um processo mais sutil e difícil
de estudar. Mas nas respostas às questões que formulávamos, foi
uma constante a ênfase nestes aspectos, quando se respondia
à pergunta: “O que se ensina às crianças?” E os valores sempre
presentes e ressaltados foram: “obediência, respeito aos mais velhos
e aos brancos”.
Segundo um informante: “eu, como mãe, ensino que deve respeitar,
por exemplo, vocês, quando chegam em nossa aldeia. A gente
tem que respeitar, falar, então a gente ensina o português. Tem
muitas crianças que já sabem, tem muitas que não porque a gente
fala mais a nossa língua pra eles...Nós ensinamos a respeitar os mais
velhos, cumprimentar... Essas coisa.”
“Ser um bom Terena significa educação, respeitar mais velhos,
respeitar todo mundo. Pra ser respeitado, tem que respeitado, tem
que respeitar também”.
“Nesta época em que estamos, o que manda é o estudo, saber
falar, responder para brasileiro”.
O ensinamento é visto assim, pelos índios, mais ao nível dos valores
– o que eles ensinam em termos de atividades não lhes parece
educação, mais sim uma questão de ajuda, de auxílio nas tarefas.
As meninas ajudam a mãe, e os meninos o pai.
Paralelamente às atividades e relações que são básicas á vida
das mulheres, dentro do contexto familiar, tentamos captar outros
papéis por elas desempenhados, buscando conhecer sua posição
como produtora. Qualquer que seja a estrutura da família, as
mulheres têm um grande papel na produção econômica. No caso
Terena, é baseada na agricultura. Numa dimensão que pode ser
caracterizada como economia de “sobrevivência”: plantam arroz,
feijão, milho, mandioca e frutas. Cada família tem sua roça e o
trabalho não mecanizado requer a cooperação de todos: pai, mãe
e filhos.
A mulher participa, assim, da atividade econômica essencial para
o sustento da família, levando consigo os filhos: meninos e meninas
trabalham, começam aprendendo a carpir e ajudam também na
colheita.
30
Essa tarefa apesar de importante não tem, porém, prioridade sobre
o horário escolar das crianças, mesmo em época de colheita.
Fora do âmbito doméstico, e às vezes da própria aldeia, as
mulheres têm visto surgir alternativas para suas atividades. Além do
desempenho dos papéis de “mãe” “esposa”, básicos, elas podem
ter outras atividades e relações com não membros de suas famílias,
mas tais atividades tendem a ser vistas como extensões de seus papéis
familiares e as relações extra-familiais são tidas como secundárias
àquelas baseadas no parentesco.
Não importa, agora, discutir até que ponto tais relações são realmente
secundárias, o importante é não desprezá-las neste nível de análise
para poder compreender a sua posição total e não apenas parcial.
Existe uma situação fora da aldeia que é muito significativa para a
mulher: a feira nas cidades. Duas vezes por semana, as mulheres fazem
a feira. Levam produtos em grande parte resultantes da coleta, mais
que da produção agrícola, são acompanhadas de suas crianças
e dão conta desta atividade que parece essencialmente feminina;
os homens não deixam seu trabalho na roça para acompanhá-las.
O movimento é fraco e o resultado não muito grande; funciona
mais como uma complementação por parte da mulher ao sustento
da casa. “Dá para comprar um pedaço de carne duas vezes por
semana”. Na “feira das índias”, os preços em geral são mais baratos
que o dos outros mercados da cidade, e os produtos comercializados
são principalmente: mandioca, cheiro-verde, banana, batata,
palmito, laranja, coquinho, folhagens, ervas e orquídeas.
Além da feira, que é realizada nas cidades próximas às aldeias, a
ida a Campo Grande torna-se uma extensão dessa possibilidade
comercial da mulher, que leva frutas para vender no grande centro
onde o comércio é melhor.
Algumas informantes afirmaram terem feito tais viagens sozinhas,
quando não, levam uma filha para acompanhar, o que continua a
evidenciar seu desprendimento do marido nesta atividade. A frequência
das viagens não é muito grande, mas sugere uma possibilidade de
contato importante, ao nível feminino. O conhecimento da língua
nacional é essencial para o desempenho destas atividades, para o
relacionamento fora da aldeia, o que justifica sua presença entre
as mulheres mais novas. As mais velhas, as avós, não têm aparecido
nestas situações; limites de atuação continuam sendo coincidentes
com os do grupo doméstico.
As jovens solteiras estão sendo, cada vez mais, requisitadas para
o trabalho doméstico, quer pela população regional das cidades,
quer pelos próprios fazendeiros da região. Tem havido grande saída
de moças das aldeias para trabalhar fora. O trabalho é contratado
pela família interessada e o chefe do Posto indica certas medidas
de controle. A jovem não pode sair sozinha pela cidade em busca
de emprego: ela deve ser procurada na aldeia e seus patrões têm
o dever de buscá-las no início do controle e levá-las de volta ao seu
término. A jovem passa a viver com a família, na cidade, enquanto
31
durar seu contrato de trabalho. Essa saída favorece a abertura de
outros horizontes através do estabelecimento de relações com o
mundo exterior.
A possibilidade e ampliação das experiências das novas gerações
femininas já podem ser notadas através de seu comportamento,
seu vocabulário, modo de vestir, etc. Enquanto limitações sobre
a experiência da garota favorecem timidez e dependência para
assegurar a ela os limites domésticos, as novas situações começam
a apresentar jovens mais libertas dessa dependência e menos
tímidas. Como elas se comportarão como esposas? Os homens
estarão preparados para essa nova mulher, fruto de experiências
mais intensas com a sociedade nacional, num nível que podemos
afirmar mais amplo que dos jovens rapazes? O trabalho do rapaz
Terena é mais ligado à terra, na roça da aldeia ou nas fazendas
vizinhas, seu contato com a cidade não chega a ter a amplitude
que tem o da jovem empregada doméstica que convive.passeia,
viaja com as famílias da cidade. As novas descobertas femininas
parecem não estar sendo acompanhadas, no mesmo nível, pela
geração masculina da mesma idade, apesar dos rapazes terem
normativamente mais abertura para saírem da aldeia e irem
à cidade. O Terena não deixa de ser, porém, um trabalhador
rural que vai à cidade para passear, enquanto a mulher Terena
desempenha, na cidade, uma atividade de trabalho que a envolve
em níveis diferentes de participação. Não estamos esquecendo
que esta participação é limitada. Existem sérios problemas de
marginalização indígena na cidade, porém, a situação que se
apresenta à mulher que trabalha com uma família na cidade,
dá a ela mais possibilidade de conhecer a vida fora da aldeia.
A questão que limita nossa apreensão da realidade é que esse
processo é recente: são as jovens filhas que estão desfrutando uma
nova posição, suas mães não tiveram tais experiências.
Encontramos, também, mulheres índias desempenhando papéis
de professoras na aldeia. Tanto a mulher quanto o homem podem
ter acesso a esse tipo de trabalho: tornar-se professor da FUNAI e
ensinar nas escolas de aldeia. O número de professoras Terena não
é, contudo, representativo a ponto de superar o das professoras
da cidade que também trabalham nas aldeias. Mas é importante
que exista como alternativa de trabalho feminino. As experiências
de uma professora Terena a colocam numa posição em estreito
relacionamento com “o mundo civilizado”.
32
O que ela ensina é o que aprendeu lá fora e as orientações que
recebe e que coloca em prática em suas aulas têm como objetivo
“civilizar” os seus patrícios. Mesmo que ela dê suas aulas em língua
Terena, o conteúdo de seus ensinamentos é orientado pela FUNAI
para facilitar a “integração”, dar as regras do jogo do mundo
externo à aldeia.
A escola é, na aldeia indígena, a ponte de ligação com o “branco”. Ela
ensina a nova língua, única possível de ser utilizada na comunicação
com a cidade, e dá, além disso, os ensinamentos que o índio precisa
para poder se tornar mais próximo do “homem civilizado”. Toda
essa educação etnocêntrica orientada para “integrar” o índio na
única forma de vida considerada boa e certa, tem levado os pais
a estimular seus filhos à aprendizagem escolar, na medida em que
eles possam assim competir ou desfrutar uma posição melhor na
sociedade. Segundo um informante, o crescimento populacional
dos Terena é uma abertura importante para o indígena; “acho
bom que o número de população aumentou, pois assim a nossa
tribo não pode acabar”. “Queremos também ser como vocês. Eu
sempre falo que nós queremos entrosar e civilizar, mas não deixar
nosso costume como índio. Como índios nós sempre nos orgulhamos
porque os primeiros homens que foram achados no Brasil somos nós.
Mas queremos que nossos filhos entrosem mais e aprendam mais na
educação”.
Essa reação está de acordo com o que significa ser índio nesta
sociedade de que participam: “índio é bugre, é selvagem”. Nessa
medida, o importante para os Terena é mostrar que eles também são
capazes e não precisam deixar de ser índios para isso. A estratégia
básica é a de que a tribo continue a crescer, ela deve se manter
Terena, mas para que a luta seja “honesta”, é preciso que os índios
tenham as mesmas armas. O este informante declarou significa
exatamente que, se seus filhos tiverem as mesmas condições de
educação que os brasileiros, poderão enfrentá-los mais facilmente na
competição socioeconômica. Não é necessário deixar de ser índio,
mas é importante conhecer melhor as regras do jogo e mostrar que
são capazes. Os preconceitos de que são alvo não existem porque
seu tipo físico os torna identificáveis de imediato, mas porque são
pobres, tem pouca educação, pequena possibilidade de emprego,
etc.
Quando tentamos procurar todas as situações em que a mulher
pode desempenhar outros papéis desligados de suas relações de
parentesco, encontramos ainda a enfermeira como funcionária da
FUNAI para trabalhar nas aldeias.
O curso que a habilita a trabalhar na enfermaria indígena é rápido,
com duração de um mês, no hospital da missão em Dourados, mato
Grosso. Após este curso iniciará ela suas atividades no atendimento
de socorro aos índios. Poderá fazer curativos, visita a todas as casas,
procurando dar instruções sobre higiene e fazer o trabalho de
vacinação. Age a enfermeira indígena como elemento inovador com
respeito aos antigos tabus alimentares e dietas, procurando introduzir
33
uma nova orientação. Por exemplo, afirmava a enfermeira Terena:
“nestes partos que eu faço, já explico tudo, quais os cuidados que
se deve ter. A comida pode comer de tudo. Elas não têm dieta
assim, agora quando outra parteira faz, essas antigas, aí tem dieta...
A gente que estuda, explica para elas o que deve fazer”.
Nesse nível, a enfermeira representa também um papel que a
coloca em contato com a Sociedade envolvente para aprender,
através dela, a orientação a seguir, indo sempre contra as tradições
indígenas, numa tentativa “civilizadora”.
Conclusão
Quando focalizamos , neste trabalho, a mulher na sociedade
Terena, foi com o intento de melhor compreender o seu papel e o
que ela significa.
Procuramos, apesar das limitações do tempo disponível para
trabalho de campo, examinar a sua real posição e atuação dentro
do grupo em estudo.
Este exame nos levou a interpretar a mulher Terena dentro de uma
situação global de sua sociedade, em níveis de participação que
se opõem. O envolvimento do grupo pela sociedade nacional
tem cada vez mais contribuído para acarretar mudanças na vida
feminina.
Tradicionalmente, a mulher tem uma posição de subordinação, sua
vida é orientada pelo contexto familiar, e suas atividades voltadas
para o âmbito doméstico. Como normas das versões dos antigos
mitos Terena, encontramos a mulher apenas como procriadora,
isto é, a partir de seu próprio ventre ou de sua atuação surge um
novo herói no mito.
“No principio havia um único YURIKOYAVAKAI, que vivia com sua irmã
LIVETCHETCHEVENA. YURIKOYAVAKAI,cortava o raio do mundo. Sua
irmã plantou uma árvore e quando esta frutificou YURIKOYAVAKA
roubou o fruto. LIVETCHETCHEVENA zangou-se e cortou-o pelo meio.
Da parte de cima cresceu um YURIKOYAVAKAI, da parte de baixo
cresceu outro. Mas o primeiro era quem mandava”. (1)
34
Há uma outra versão do mesmo mito na qual LIVETCHETCHEVENA
abrindo o próprio ventre origina outro YURIKOYAVAKAI.
A mulher é, no mito responsável pela criação, especialmente
uma fêmea produtora. O mito apresenta uma divisão de trabalho
sexual onde cabe a ela o desempenho de uma função restrita ao
ambiente doméstico, localizando sua atuação apenas no âmbito
provado do lar.
No mito que conta a origem dos Terena, e de como eles receberam
o fogo e seus instrumentos, assim encontramos a referência ao
papel da mulher Terena:
“--- Os índios não tinham instrumentos e foram pedí-los a
YURIKOYAVAKAI. Ele deu aos Terena todos os instrumentos: para
os homens deu a faca de madeira, perital, foice de madeira,
chopicoloti, o machado, povooti, a enxada, ahará, e o tacape
ou pu’lac, e para as mulheres YURIKOYAVAKAI deu o fuso, hopai”.
(2)
Hoje, na sociedade Terena, a participação da mulher pode
ser vista a partir de seu papel como esposa e mãe, que a
caracteriza como a transmissora da visão cultural do grupo. Esta
atuação se revela no ensino da língua Terena e toda a tarefa de
enculturação em relação aos filhos. É aqui que encontramos sua
grande participação como elemento integrador da cultura. Sua
responsabilidade neste nível é de real importância; a permanência
e manutenção da sociedade Terena está muito a seu cargo.
Ela procria as novas gerações. As mulheres não fazem controle de
natalidade e procuram dar aos filhos aquilo que consideram bom
para ser um Terena. Isto é o que encontramos a partir da mulher
dentro da esfera doméstica e como elemento catalisador.
Quando ampliamos o conhecimento da situação para além
deste limite, a mulher aparece agindo como um elemento de
contato entre os Terena e a sociedade envolvente: assim é
quando a encontramos sistematicamente nas feiras citadinas ou
no desempenho do trabalho como empregada doméstica, ou
ainda como professora nas aldeias.
É aqui que se reconhece o antagonismo da situação Terena
porque, neste último nível, sua participação é muito mais disruptiva
pois age como elemento intermediário de mudança, apondo-se
ao seu papel principal que é o de intensificar a coesão grupal de
traição Terena.
Como resultante, deve-se ressaltar a extrema importância do
papel desempenhado pela mulher Terena no processo de
integração do índio aos padrões contraditórios da sociedade
envolvente.
1) ALTENFELDER SILVA F.F. “Mudança Cultural dos Terena “in
Revista do Museu Paulista, N.S., vol. 3, pg. 349
35
Aprendizagem por Competências
A Aprendizagem por Competências é baseada na articulação
de uma aprendizagem com foco estratégico e pelo emprego
de inovação e criatividade. Constitui-se por Programas de
Aprendizagem e pela Autoaprendizagem.
Essa visão tem como pressuposto que o ambiente deve ser
de aprendizagem e possibilite a construção contínua de
conhecimento. As competências visam a vontade de enfrentar
o novo, a capacidade de produzir hipóteses, o conhecimento
incorporado. Segundo Perrenoud (2000), os grandes eixos da
formação por competências estão em:
• saber identificar, avaliar e valorizar suas possibilidades, seus
direitos, seus limites e suas necessidades;
• saber formar e conduzir projetos e desenvolver estratégias,
individualmente ou em grupo;
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• saber analisar situações, relações e campos de força de forma
sistêmica: saber cooperar, agir em sinergia, participar de uma
atividade coletiva e partilhar liderança;
• saber construir e estimular organizações e sistemas de ação
coletiva do tipo democrático;
• saber gerenciar e superar conflitos;
• saber conviver com regras, servir-se delas e elaborá-las;
• saber construir normas negociadas de convivência que superem
as diferenças culturais.
O conhecimento, desta forma, passa a ter significados quando
articulados, interrelacionados.
É uma aprendizagem que
foca a resolução de problemas e, portanto, as ações não
podem acontecer de forma isolada. Precisam fomentar a
interdisciplinaridade e a resolução de problemas complexos.
É um processo de aprendizagem social que ocorre quando
pessoas que possuem os mesmos interesses ou compartilham os
mesmos problemas interagem entre si compartilhando idéias,
buscando soluções e inovando.
Como afirma Vasconcelos e Mascarenhas (2007, p. 41), “a
aprendizagem organizacional acontece por meio de processos
intercambiáveis de ação e de reflexão, que ocorrem inicialmente
no nível dos indivíduos e, depois, são estendidos à coletividade”.
Em uma organização de aprendizagem, o conhecimento é
disseminado na organização e torna-se fundamental para as
futuras experiências dos indivíduos e dos grupos.
Vasconcelos e Mascarenhas (2007) apontam ainda que há
condições que precisam ser desenvolvidas na organização para
que esse ambiente de aprendizagem seja possível:
a) Promover a análise crítica de seus procedimentos e de seus
pressupostos de base;
b) Promover a comunicação horizontal e o compartilhamento de
conhecimento entre os diversos grupos sociais;
c) Atribuir um sentido comum à ação;
d) Gerir a mudança organizacional;
e) Integrar os diversos grupos sociais na nova estrutura
organizacional.
As estratégias organizacionais que focam competências precisam,
desta forma, considerar a relevância da solução sistemática
de problemas, da experimentação de novas abordagens,
o aprendizado empírico do próprio indivíduo e das outras
organizações e o rápido compartilhamento de conhecimento.
Fonte: Nick van Dam, 2009
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a) Mentoring e Feedback: feedback de desenvolvimento no trabalho e mentores informais.
b) Repositórios de Informação: acesso a portais de conhecimento, banco de
dados e websites.
c) Comunidades de Prática: grupos autodirigidos, informais, formado por pessoas que tenham visão comum e o mesmo entusiasmo por uma organização
conjunta.
d) Redes de Especialistas: acesso a especialistas que compartilham expertise
e oferecem suporte com a utilização de várias ferramentas de colaboração e
comunicação.
e) Sistemas de Suporte ao Desempenho: exemplos que incluem aprendizagem
inserida no processo, apoios no trabalho, listas de verificação, glossários, além
de aplicações e ferramentas online.
f) Busca e Ajuda: utilização de ferramentas de busca internas e recursos de
ajuda online.
Como estratégias que demonstram a mudança no pensamento
da organização em relação à aprendizagem pode-se citar:
Por outro lado, os Programas de Aprendizagem também
devem compor as estratégias e os processos organizacionais de
aprendizagem. Esses podem ser palestras e cursos baseados em
simulações, e-learning, avaliação de competências e feedback
e guias de autoestudo ou livros didáticos.
As estratégias, entretanto, não podem acontecer de forma
isolada, mas compor um sistema integrado de gestão de
pessoas com foco em competências. Deve-se ter em mente
que aprendizagem por competências nas organizações é saber
que desenvolvimento de pessoas significa desenvolvimento de
suas competências. Além disso, deve ser planejada e realizada
em conjunto com os processos de avaliação de desempenho
e com os planos de remuneração, administração de carreiras e
recrutamento e seleção de pessoas.
Referências Bibliográficas:
BAYMA, Fátima (org.) Educação corporativa: desenvolvendo e
gerenciando competências. São Paulo: FGV, 2005.
DAM, Nick van. 25 melhores práticas em aprendizagem e dese
volvimento de talentos. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2009.
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GOUVEIA, Isabella F. de V.; MASCARENHAS, André O. Organizações
em aprendizagem. São Paulo: Cengage, 2006.
PERRENOUD, P. Pedagogia diferenciada: das intenções à ação.
Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.

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