PCH , SC - Sistema do CEOM
Transcrição
PCH , SC - Sistema do CEOM
SPE PLANO ALTO ENERGIA S/A SPE ALTO IRANI ENERGIA S/A Escritório Regional Sul ARQUEOLOGIA PREVENTIVA NA ÁREA DE INTERVENÇÃO DAS PCHS PLANO ALTO E ALTO IRANI, SC PCH Plano Alto PCH Alto Irani RELATÓRIO FINAL: ATIVIDADES DE CAMPO, DE LABORATÓRIO E DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL. Florianópolis, abril de 2007. PROJETO: ARQUEOLOGIA PREVENTIVA NA ÁREA INTERVENÇÃO DAS PCHS PLANO ALTO E ALTO IRANI, SC. R E L A T Ó R I O F I N A L : ATIVIDADES EDUCAÇÃO PATRIMONIAL. DE CAMPO, DE LABORATÓRIO DE E DE PROCESSO IPHAN Nº 01510.000026/2005-83. Permissão: Portaria IPHAN nº. 81 de 25/03/2005. EXECUÇÃO: Scientia Consultoria Científica Ltda. Escritório Regional Sul Rua 23 de Março, 536 Itaguaçu 88085-440 - Florianópolis – SC CNPJ: 60.911.542/0001-48 Tel/Fax: (48) 3248-8450 E-mail: [email protected] EMPREENDEDOR: SPE Alto Irani Energia S.A e SPE Plano Alto Energia S.A Av. Adolfo Pinheiro, 2.056, 11º andar 04.734-003 – São Paulo - SP CNPJ: 07.319.868/0001-06 Tel/Fax: (11) 5523-3888 E-mail: [email protected] APOIO INSTITUCIONAL: Núcleo de Estudos Etnológicos e Arqueológicos - NEEA Centro de Memória do Oeste de Santa Catarina – CEOM Universidade Comunitária Regional de Chapecó – UNOCHAPECÓ Rua Líbano, 111 – D - 2º Andar Rodoviária 89805-510 – Chapecó – SC Tel: (49) 3323 4749 E-mail: [email protected] Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 2 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 04 1. COMPLEMENTAÇÃO DO LEVANTAMENTO ARQUEOLÓGICO 05 1.1. PCH PLANO ALTO 05 1.2. PCH ALTO IRANI 17 2. AVALIAÇÃO ARQUEOLÓGICA 30 2.1. PCH PLANO ALTO 30 2.2. PCH ALTO IRANI 42 3. RESGATE ARQUEOLÓGICO 55 3.1. PCH PLANO ALTO 55 3.2. PCH ALTO IRANI 64 4. ANÁLISE DO MATERIAL ARQUEOLÓGICO 77 4.1. CERÂMICA 77 4.2. LÍTICO 128 5. PROGRAMA PATRIMONIAL DE EDUCAÇÃO, DIVULGAÇÃO E VALORIZAÇÃO 190 6. CONSIDERAÇÕES E RECOMENDAÇÕES FINAIS 211 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 218 EQUIPE TÉCNICA 222 ANEXOS 223 ! Fichas de Cadastro dos Sítios Arqueológicos - CNSA " Croquis e Plantas dos Sítios Pesquisados # Lista de Análise do Lítico $ Programa de Educação, Divulgação e Valorização Patrimonial Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 3 INTRODUÇÃO Solange Bezerra Caldarelli O presente relatório encerra o Projeto de Arqueologia Preventiva nas áreas de intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, no Estado de Santa Catarina. Os objetivos expostos no projeto aprovado pelo IPHAN, abaixo reproduzidos, foram plenamente atingidos, a saber: • Prevenir a destruição de sítios arqueológicos nas áreas de intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani. • Atender as exigências contidas no Parecer Técnico (Ofício nº 312/2002) da 11ª.SR/IPHAN/SC. • Complementar informações técnicas relativas aos sítios arqueológicos (tamanho das áreas de ocorrência das evidências, profundidade e cultura material), confirmando se os sítios registrados como “prováveis” na etapa de diagnóstico constituíam ou não sítios arqueológicos. • Executar o salvamento de todos os sítios arqueológicos em risco por causa do empreendimento, fosse direta, fosse indiretamente. • Realizar atividades de educação patrimonial, compatíveis com a magnitude dos empreendimentos e com as características das comunidades às quais tais atividades seriam dirigidas, de modo a fomentar atitudes de valorização e defesa do patrimônio arqueológico regional. Além dos sítios arqueológicos apresentados no projeto aprovado pelo IPHAN, foram identificados mais 10 sítios arqueológicos na área de estudo, cinco deles na área da PCH Plano Alto e cinco na área da PCH Alto Irani. Os resultados dos trabalhos desenvolvidos, em campo e laboratório, são expostos a seguir, conforme itens indicados no sumário e relatados nos próximos capítulos. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 4 1. COMPLEMENTAÇÃO DO LEVANTAMENTO ARQUEOLÓGICO Alfredo Cardeal Filho Ana Lucia Herberts Conforme previsto no projeto de pesquisa autorizado pelo IPHAN (Scientia Ambiental, 2005, p. 23), este relatório vem apresentar os resultados obtidos durante a complementação do levantamento arqueológico das áreas projetadas para a instalação dos canteiros obras das PCHs Alto Irani e Plano Alto. As atividades de campo desenvolvidas serão descritas a seguir, distinguindo-se aquelas relativas à PCH Plano Alto e à PCH Alto Irani. 1.1. PCH PLANO ALTO O projeto de construção da PCH Plano Alto delimitou uma área de pouco mais de 55 hectares, onde será instalado o projeto de engenharia, dividida em duas porções. A menor destas, com cerca de 19 hectares, situa-se na margem direita do Rio Irani, sendo denominada de área “A”. A segunda porção, denominada de área “B”, situa-se na margem esquerda do Irani e possui área de aproximadamente de 35 hectares. A paisagem predominantemente se apresenta com vertentes em declive que varia do médio ao acentuado, terraços ou degraus geralmente estreitos, alongados ou curtos, platôs nos divisores de águas, estreitas faixas de mata ciliar e uma atividade econômica agrícola variada, desenvolvida nos últimos 50 anos, com limitado uso de mecanização. Com a predominância de vertentes acentuadas, o relevo foi um critério considerado importante para a escolha dos pontos de implantação dos poços-teste utilizados para avaliação da área. Uma vistoria do local possibilitou definir os pontos mais propícios. Desta forma, as sondagens foram abertas geralmente nos platôs dos divisores de águas ou nos terraços das vertentes. No levantamento arqueológico foram observados os procedimentos metodológicos recomendados no projeto de pesquisa (Scientia Ambiental, 2005), que constam de execução de poços-teste de 0,50 m x 0,50 m x 0,40 m, abertos a cada 20 metros, em eixos traçados obedecendo a orientação geográfica conforme os pontos cardeais Norte-Sul (N-S) e LesteOeste (E-W), escavados em níveis artificiais controlados de 10 centímetros. Cabe informar que em campo decidiu-se por abrir poços-teste também nas linhas colaterais (Noroeste-Sudeste e Nordeste-Sudoeste), quando se julgou necessário à pesquisa. Caminhamentos pela área Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 5 também foram realizados, principalmente em locais onde a visualização da superfície do solo possibilitasse a visualização de material arqueológico. Cada poço-teste teve sua coordenada de UTM registrada com GPS, tendo sido os resultados anotados em ficha de campo. Os primeiros poços-teste foram abertos na área “A”, correspondente à margem direita do Rio Irani, em um terraço na baixa vertente. A projeção deste local no mapa do empreendimento, entretanto, revelou que os poços-teste abertos estão fora da área “A”. Estes estão situados no limite sul desta área. Os resultados foram positivos, sendo localizados dois novos sítios, registrados com as siglas SC-PA-08 e SC-PA-09. Na segunda área, denominada área “B”, situada na margem esquerda do rio, deverá ser construído o túnel projetado para transportar a água que vai girar as turbinas desta PCH. Três locais foram selecionados para implantação de poços-teste. Todos situam-se na parte mais alta, no divisor de águas, com orientação aproximada no sentido Norte/Sul. As três áreas resultaram positivas, apresentando material arqueológico superficial e em profundidade, sendo registrados três novos sítios nesta área, assim denominados: SC-PA-10, SC-PA-11 e SC-PA-12. Salienta-se que os sítios SC-PA-10 e SC-PA-11 são muito próximos e, talvez possam ser interpretados como um único sítio arqueológico apresentando duas áreas contíguas de ocorrência de material arqueológico. Nos levantamentos realizados, apenas três poços-teste apresentaram material em profundidade, no estrato 0-10 cm, caracterizando, com isso a predominância de material arqueológico em superfície. A distribuição de material arqueológico nos sítios, por sua vez, apresenta baixa densidade. Desta maneira, estes sítios se caracterizam como superficiais e de baixa densidade. Ainda no âmbito da PCH Plano Alto, nas imediações do sítio SC-PA-06 – Linha Plano Alto 2, foi percebida a existência de uma pequena ilha, que não consta nos mapas consultados. Em razão da cheia do rio, não houve condições de acesso para a sua vistoria na época do levantamento arqueológico. Este levantamento só pode ser realizado em dezembro de 2005, sendo este resultado agora apresentado. O trabalho foi dificultado pela cobertura vegetal alta e fechada existente na ilha, que exigiu limpeza prévia dos pontos de sondagem (fotos 01 e 02). Foram abertas 13 sondagens de 0,50 m x 0,50 m x 0,40 m de profundidade, dispostas no sentido do maior comprimento da ilha e em sua parte mais alta. Cada sondagem foi registrada com suas coordenadas UTM correspondentes, obtidas com a utilização de aparelho GPS com margem de erro estimada em 25 m, devido à vegetação fechada que cobre a ilha. As sondagens executadas possuem as seguintes UTM: S01: 371162/7017743; S02: 371153/7017737; S03: 371147/7017732; S04: 371137/7017706; S05: 371143/7017684; S06: 371130/7017667; S07: 371093/7017636; S08: 371084/ 7017627; S09: 371070/7017591; S10: 371047/7017568; S11: 371050/7017549; S12: Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 6 371043/7017513 e S13: 371036/ 7017508. Foto 01 e 02: Vista geral de pontos de prospecção de ilha situada no Rio Irani. Foto 03 e 04: Vista geral da escavação de poços-teste para avaliação da ilha. Foto 05 e 06: Detalhe dos trabalhos de prospecção de poço-teste. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 7 As prospecções realizadas resultaram negativas quanto à existência de vestígios arqueológicos no local. A seguir encontram-se descritos os sítios arqueológicos localizados no levantamento das áreas “A” e “B”. 1.1.1 – SC-PA-08 – Linha Duas Palmeiras 2 Tipo: Lito-cerâmico. Proprietário: Alexandre Trevisan. Localização: Linha Duas Palmeiras, Faxinal dos Guedes. UTM: 367071/7016926. O sítio se situa em um terraço plano, estreito e alongado, na baixa vertente, junto a uma curva do Rio Irani, no limite sul da área “A”. O solo é areno-argiloso com coloração marrom avermelhada e presença de blocos de basalto. A área está ocupada por lavoura de milho recém plantado. O proprietário, Sr. Alexandre Trevisan, informou que nunca havia percebido a existência de material arqueológico nos quarenta anos de uso do local para plantação. Foto 07: Vista geral do sítio SC-PA-08, situado em um patamar estreito na baixa vertente. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 8 Foto 08: Vista geral dos trabalhos de Foto 09: Detalhe da abertura de poçoexecução de poços-teste na área do sítio. teste no sítio. Dos 21 poços-teste realizados, 2 tiveram resultado positivo, apresentando três fragmentos de cerâmica simples e decorada no estrato 0-10 cm. Superficialmente, foi percebido material lítico e cerâmico esparso por uma área definida pelas seguintes UTM: 367058/7016993; 367088/7016846; 367100/7016930 e 367052/7016921. Foto 10: Artefato lítico em arenito Foto 11: Fragmento cerâmico decorado silicificado identificado em superfície. localizado superficialmente no sítio. Devido à proximidade desse sítio com a área “A”, providenciou-se uma sinalização preventiva do mesmo, por solicitação do empreendedor, de modo a evitar qualquer movimentação de pessoas ou máquinas sobre a área do sítio (fotos 12 e 13). Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 9 Fotos 12 e 13: Sinalização preventiva, feita nas quatro extremidades do sítio SC-PA-08, para evitar trânsito dos operários envolvidos com as obras. 1.1.2 – SC-PA-09 – Linha Duas Palmeiras 3 Tipo: Lito-cerâmico. Proprietário: Alexandre Trevisan. Localização: Linha Duas Palmeiras, Faxinal dos Guedes. UTM: 367224/7017187. Dentro da área “A”, foi também registrado o sítio SC-PA-09, situado em um patamar levemente inclinado entre a meia e a baixa vertente. O solo é areno-argiloso, de coloração marrom avermelhada, com grande quantidade de blocos de basalto. A área encontra-se cultivada, com milho recentemente plantado. Foto 14: Vista geral do sítio SC-PA-09, situado em meia e baixa vertente. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 10 Foto 15: Vista geral do sítio SC-PA-09 na Foto 16: Vista parcial do sítio SC-PA-09 paisagem. durante a definição dos pontos de abertura dos poços-teste. Os 23 poços-teste realizados resultaram todos negativos, porém, fragmentos de cerâmica simples e decorada, assim como material lítico, foram localizados superficialmente por uma área definida pelas seguintes UTM: 367216/7017310; 367107/7017366; 367154/7017246 e 367227/7017251. Foto 17 e 18: Detalhe da execução dos poços-teste para avaliação do sítio SC-PA-09. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 11 Foto 19: Fragmento cerâmico decorado Foto 20: Artefato lítico localizado em localizado na superfície do sítio. superfície. 1.1.3 – SC-PA-10 – Linha Santo Isidoro 1 Tipo: Lítico. Proprietário: Ademar Trevisan. Localização: Linha Santo Isidoro, Xavantina. UTM: 366740/7017035. Este sítio está localizado na parte sul da área “B”, na vertente leste, em um degrau levemente inclinado para leste. O solo é o argilo-arenoso de coloração marrom avermelhada, com presença de blocos de basalto. A camada arqueológica é pouco espessa em quase toda a extensão do sítio. O uso do terreno, quando do levantamento, era de cultivo de milho e a cobertura apresentava pallhada de milho recém colhido. O uso agrícola do local recua há mais ou menos cinqüenta anos segundo informações do proprietário, Sr. Ademar Trevisan. Foto 21: Vista geral da localização do sítio SC-PA-10, na vertente leste. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 12 Foto 22: Definição de pontos para Foto 23: Detalhe da abertura de poçoabertura de poços teste no SC-PA-10. teste no sítio SC-PA-10. Dos 10 poços-teste executados, um resultou positivo, com a presença de uma lasca em arenito no estrato 0-10 cm. Superficialmente, algumas peças líticas foram registradas na área definida pelas seguintes UTM: 366780/7017048; 366735/7017073; 366708 /7017027 e 366760/7016983. 1.1.4 – SC-PA-11 – Linha Santo Isidoro 2 Tipo: Lito-cerâmico. Proprietário: Não identificado. Localização: Linha Santo Isidoro, Xavantina. UTM: 366704/7017100. Este sítio está situado em local próximo ao SC-PA-10 e separado deste pela parte mais alta do divisor de águas. Localiza-se na vertente oeste, em um degrau estreito, alongado e levemente inclinado para o oeste. O solo é o predominantemente areno-argiloso, apresentando coloração marrom avermelhada e com presença de blocos de basalto. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 13 Foto 24: Vista geral do sítio SC-PA-11, situado em degrau estreito e alongado na vertente oeste. Os 11 poços-teste realizados resultaram negativos em profundidade, mas superficialmente, foram efetuadas 15 coletas, tendo sido registrados fragmentos de cerâmica simples e decorada e artefatos líticos em uma área definida pelas seguintes UTM: 366730/7017109; 366699/7017118; 366706/7017071 366682/7017092 e 366656/7017032. Foto 25 e 26: Vista dos trabalhos de abertura de poços-teste para avaliação do sítio SC-PA-11. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 14 Foto 27: Detalhe da escavação de poço- Foto 28: Artefato lítico em superfície no teste. sítio SC-PA-11. Foto 29: Material lítico localizado Foto 30: Fragmento de borda cerâmica superficialmente no sítio SC-PA-11. sem decoração, in situ. 1.1.5 – SC-PA-12 – Linha Santo Isidoro 3 Tipo: Lito-cerâmico. Proprietário: Valter Luiz Bongiorno. Localização: Linha Santo Isidoro, Xavantina. UTM: 366792/7017417. O sítio SC-PA-12 está situado na vertente leste, junto à crista do divisor de águas. O solo é areno-argiloso, marrom avermelhado e apresenta grande quantidade de blocos de basalto. O uso do terreno quando do levantamento era para cultura de milho, apresentando uma cobertura superficial de palhada de milho. Os 11 poços-teste efetuados resultaram todos negativos. Superficialmente, no entanto, foram realizadas 19 coletas, tendo sido registrados fragmentos de cerâmica simples e decorada e artefatos líticos em arenito, que se distribuem por uma área definida pelas seguintes UTM: 366770/7017497; 366814/7017338; 366811/7017422 e 366772/7017411. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 15 Foto 31: Vista geral da abertura do sítio SC-PA-12, situado em vertente junto ao divisor de águas. Foto 32 e 33: Vista geral da abertura dos poços-teste no sítio SC-PA-12. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 16 Foto 34: Detalhe da abertura de poço- Foto 35: Artefato lítico teste no sítio SC-PA-12. localizado em superfície. em arenito, 1.2 PCH ALTO IRANI Os trabalhos de campo no âmbito da PCH Alto Irani seguiram a solicitação do empreendedor para que se priorizassem as investigações nas áreas “A”, “B” e “C”, a fim de que estas fossem liberadas para as instalações do projeto de engenharia. O primeiro procedimento foi o de identificar, em campo, os polígonos das referidas áreas, demarcadas em mapa fornecido pelo empreendedor. De posse das coordenadas UTM de cada vértice dos polígonos, a equipe foi a campo para a identificação destes pontos. A área “A” (foto 36) está situada na margem direita do rio Irani, possuindo 8,76 ha. de área e 1.341,91 m de perímetro, estando em grande parte coberta com mata, capoeirão e uma pequena área de pastagem (“potreiro”, na denominação local). Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 17 Foto 36: Vista Geral da área ”A”, com sítio SC-AI-20 sinalizado (elipse em vermelho). O relevo é composto por declives que variam do médio ao acentuado, principalmente na faixa que contorna o rio. Um estreito e curto degrau foi o local definido como mais propício para a implantação de uma linha de poços-teste. No total, foram abertos doze, todos com resultados negativos. Foto 37: Vista parcial da área “B”. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 18 Um caminhamento foi realizado no entorno da linha de poços-teste, com a finalidade de verificar a presença de material arqueológico. O resultado foi positivo, tendo sido identificadas e coletadas peças líticas em 10 pontos de coleta, durante o mapeamento do local. O sítio foi denominado SC-AI-20. A identificação em campo da área “B” seguiu os mesmos procedimentos da área “A”. A foto 36 dá uma idéia aproximada do traçado da área “B”, na vertente onde se distribuem a maioria dos sítios da PCH Alto Irani. Com a identificação do local, foi possível definir três pontos favoráveis à implantação de poços-teste. O primeiro está entre a meia e a baixa vertente. É um estreito patamar coberto por plantação de erva-mate e vegetação herbácea (foto 38). Todos os poços-teste resultaram negativos e não foi localizado material arqueológico em superfície. Um segundo local favorável, está entre a alta e a média vertente, caracterizado por um pequeno degrau com cobertura de palhada de milho e vegetação herbácea. Os poços-teste também resultaram negativos e não foi localizado material arqueológico em superfície (foto 39). Foto 38: Abertura de poço-teste no cultivo Foto 39: Abertura de poços-teste. de erva-mate. Ainda na área “B”, na margem esquerda do rio Irani e na confluência de um riacho sem denominação, foi localizado material arqueológico, concentrado superficialmente numa área com raio de 5 metros. Este ponto de concentração de material recebeu a denominação de SCAI-21. O material superficial foi coletado e registrado com GPS. A área “C” com 31,96 ha. e perímetro de 2.679,51 m está situada a jusante da barragem e será impactada com a instalação dos geradores de energia. A topografia é a mesma Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 19 predominante na região, com vertentes cuja declividade varia de média a acentuada. Os pontos escolhidos para implantação de poços-teste foram os degraus estreitos, de superfície levemente inclinada que estão situados entre a meia e a baixa vertente. A cobertura vegetal é de lavouras plantadas com aveia para forragem, apresentando ainda capões de mato e mata ciliar (foto 40). Dois pontos foram prospectados com poços-teste. Os dois resultaram negativos, porém um deles apresentou material em superfície, coletado em três pontos. Foi denominado de sítio SC-AI-22 (foto 64). Um caminhamento em área recém arada, situada em uma vertente, resultou positivo, com a localização de duas peças líticas, coletadas com o uso de GPS. O local foi denominado como área de Ocorrência Arqueológica Discreta 02 (OAD-AI-02), (foto 68). Foto 40: Vista geral da área “C”. Todos estes sítios arqueológicos são superficiais, apresentando baixa densidade de material, composto basicamente por objetos líticos. As coletas foram efetuadas, porém não quantificadas. A seguir encontram-se descritos os sítios arqueológicos localizados: Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 20 1.2.1 – SC-AI-17 – Linha Teresinha 9 Tipo: Lito-cerâmico. Proprietário: Orlando Busnello. Localização: Linha Santa Teresinha, Arvoredo. UTM: 3578830/7010624. O sítio arqueológico SC-AI-17 é um sítio lito-cerâmico instalado em uma área plana, situada em topo de um divisor de água (fotos 40 a 48). Possui área estimada em 5.000 m². O material arqueológico encontra-se distribuído desde a superfície até a profundidade de 50 cm. A maior concentração deste ocorre no nível 30-40 cm. Foto 41: Vista geral do sítio SC-AI-17 situado no topo de um divisor de águas. À direita da foto situa-se a vertente que leva ao eixo da barragem. Durante os trabalhos de identificação deste sítio arqueológico, foi realizada uma coleta total dos vestígios em superfície, somando 417 artefatos, sendo 412 peças líticas e 5 fragmentos de cerâmica. Foram executados 31 poços-teste de 0,50 x 0,50m, eqüidistantes 10 m, dos quais 16 apresentaram material arqueológico lítico. Não foram encontrados vestígios cerâmicos nas sondagens. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 21 Foto 42: Visão geral do sítio SC-AI-17. Foto 43: Localização aproximada do alinhamento dos pontos cardeais no sítio SC-AI-17. Foto 44: Vista da face norte do sítio Foto 45: Abertura de poço-teste na arqueológico. extremidade da linha SW, dentro de um capão de mato situado na borda do sítio. Foto 46: Abertura de poço-teste no sítio Foto 47: Acompanhamento da abertura do arqueológico SC-AI-17. poço-teste NE 1, positivo, apresentando Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 22 significativo material arqueológico. Foto 48: Poço-teste NE 1 escavado no Foto 49: Ponta de projétil localizada no sítio arqueológico SC-AI-17. sítio arqueológico SC-AI-17. 1.2.2 – SC-AI-18 – Linha Teresinha 10 Tipo: Lítico. Proprietário: João Sandrim. Localização: Linha Santa Teresinha, Arvoredo. UTM: 358193/7010320. Este sítio está localizado na crista de um divisor de águas, em área atualmente ocupada por lavouras e mata secundária. Foram realizados 13 poços-teste na área, todos eles apresentando resultado negativo. Porém, o caminhamento realizado constatou a presença de material lítico esparso em superfície. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 23 Foto 50: Vista geral do sítio SC-AI-18 Foto 51: Realização de poço-teste no sítio situado na crista de um divisor de águas. arqueológico SC-AI-18. Foto 52: Abertura de poço-teste no sítio Foto 53: Vista geral do sítio SC-AI-18, arqueológico SC-AI-18. desde a vertente oeste. 1.2.3 – SC-AI-19 – Linha Teresinha 11 Tipo: Lito-cerâmico. Proprietário: Augusto Menin Localização: Linha Santa Teresinha, Arvoredo. UTM: 358390/7010745. O sítio situa-se em média vertente, em um terraço situado próximo da alta vertente (foto 54), em área de plantio com cobertura de palhada de milho e vegetação herbácea. Uma primeira série de 17 poços-teste realizados tiveram resultado negativo. Outra série de 26 poços-teste realizados no local produziu quatros poços-teste positivos, apresentando artefatos Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 24 líticos e fragmentos cerâmicos. Em superfície também foram localizados artefatos líticos e fragmentos de cerâmica simples, somando 32 coletas (fotos 54 a 57). Foto 54: Abertura de poços-teste no sítio Foto 55: Coleta mapeada no sítio SC-AISC-AI-19. 19. Foto 56 e 57: Detalhe da abertura de poços-testes no sítio SC-AI-19. 1.2.4 – SC-AI-20 – Linha Bom Jardim 3 Tipo: Lítico. Proprietário: Nilson Pessoal da Silva. Localização: Linha Bom Jardim, Xanxerê. UTM: 358361/7011397. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 25 Este sítio arqueológico está situado em um patamar alongado sobre uma curva do rio Irani, em área ocupada por lavoura e por mata ciliar. A série de 12 poços-teste realizados teve resultado negativo. Foi realizado caminhamento no entorno da linha de poços-teste, com a finalidade de se verificar a presença de material arqueológico. O resultado foi positivo, mesmo com a limitação imposta pela cobertura vegetal. Durante o mapeamento do local foram efetuadas 10 coletas de material lítico. Foto 58: Travessia do rio em direção ao Foto 59: Limpeza da vegetação para sítio SC-AI-20. abertura de poços-teste. Foto 60: Abertura de poço-teste. Foto 61: Detalhe de poço-teste. 1.2.5 – SC-AI-21– Linha Teresinha 12 Tipo: Lítico. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 26 Proprietário: Não identificado. Localização: Linha Teresinha, Arvoredo. UTM: 358590/7011411. Este sítio arqueológico está situado na margem esquerda do rio Irani, junto à confluência de um riacho sem denominação, com cobertura de mata ciliar. O material arqueológico foi localizado superficialmente, concentrado em uma área com 5 metros de raio (fotos 62 e 63). Foram coletados 28 núcleos e lascas confeccionadas em metalamito, quartzo, calcedônia e basalto. Este material foi também registrado com o auxílio de GPS. Fotos 62 e 63: Vista geral do sítio SC-AI-21, situado na margem esquerda do Rio Irani. 1.2.6 – SC-AI-22 – Linha Teresinha 13 Tipo: Lítico. Proprietário: Santo Concolatto. Localização: Linha Teresinha, Arvoredo. UTM: 357092 / 7005888. Este sítio arqueológico, localizado em uma baixa vertente, em área ocupada por lavoura. A área foi prospectada por meio de 20 poços-teste, todos negativos, porém percebeu-se material arqueológico lítico lascado em superfície, composto por 7 lascas e um núcleo, que foram coletados com o auxílio de GPS (foto 64). Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 27 Foto 64: Vista geral do sítio SC-AI-22. Foto 65: Abertura de poços-teste no sítio SC-AI-22. Foto 66 e 67: Detalhe da abertura de poços-teste no sítio SC-AI-22. 1.2.7 – OAD-AI-02 – Linha Teresinha 14 Tipo: Lítico. Proprietário: Não identificado. Localização: Linha Teresinha, Arvoredo. UTM: 357425/7009850. Esta área de ocorrência arqueológica discreta está situada em uma vertente ocupada atualmente por lavoura. O caminhamento sistemático realizado em uma área recém arada resultou positivo, com a localização de 3 peças líticas, coletadas com o uso de GPS. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 28 Foto 68: Vista geral da área da OAD-AI-02. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 29 2. AVALIAÇÃO ARQUEOLÓGICA Conforme previsto no projeto de pesquisa autorizado pelo IPHAN (Scientia Ambiental, 2005, p. 23), foi realizada a avaliação arqueológica de doze sítios arqueológicos situados na área diretamente afetada (ADA) e na área de entorno das PCHs Alto Irani e Plano Alto, de acordo com o quadro abaixo: PCH Área Diretamente Afetada ----- Plano Alto ----AI-02 – Linha SantaTeresinha 2 AI-03 – Linha Santa Teresinha 3 Alto Irani AI-07 – Linha Santa Teresinha 7 – “provável sítio” AI-08 – Linha Santa Teresinha 8 Área de Entorno PA-04 – Linha Santa Teresinha 1 PA-05 – Linha Plano Alto 1 – “provável sítio” PA-06 – Linha Plano Alto 2 – “provável sítio” PA-07 – Linha Duas Palmeiras 1 – “provável sítio” AI-04 – Linha SantaTeresinha 4 AI-05 – Linha Santa Teresinha 5 – “provável sítio” AI-06 – Linha Santa Teresinha 6 – “provável sítio” AI-14 – Linha Pinhalzinho 2 – “provável sítio” Quadro 1: Relação de sítios arqueológicos alvos de prospecção. As atividades de campo desenvolvidas encontram-se descritas a seguir, distinguindo-se aquelas relativas à PCH Plano Alto e à PCH Alto Irani. 2.1. PCH PLANO ALTO Os trabalhos desenvolvidos em campo, nas áreas de entorno da PCH Plano Alto, tinham como objetivo a avaliação arqueológica de quatro sítios, localizados durante a execução do projeto de levantamento arqueológico denominados PA-04 – Linha Santa Teresinha 1, PA05 – Linha Plano Alto 1; PA-06 – Linha Plano Alto 2 e PA-07 – Linha Duas Palmeiras 1. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC. - Relatório Final. 30 Foram observados os procedimentos metodológicos recomendados no projeto de pesquisa (Scientia Ambiental, 2005), que previam a execução de poços-teste de 0,50 m x 0,50 m x 0,40 cm, abertos a cada 20 m, em eixos traçados conforme os pontos cardeais Norte-Sul (N-S) e Leste-Oeste (E-W) e rebaixados em níveis artificiais controlados de 10 cm. Em campo, decidiu-se pela abertura de poços-teste também nas linhas colaterais (Noroeste-Sudeste e Nordeste-Sudoeste), quando se julgou necessário à pesquisa. Caminhamentos também foram realizados em locais onde a visibilidade superficial possibilitava o registro de ocorrência de material arqueológico. Cada poço-teste teve suas coordenadas UTM registradas com GPS e anotadas em ficha de campo própria. O material arqueológico coletado, tanto superficialmente quanto em profundidade, foi identificado e embalado. Foram elaborados croquis dos sítios, que foram plotados, em carta topográfica com escala 1:50.000 da DSG-ME do Ministério do Exército e em plantas municipais fornecidas pelas prefeituras dos municípios de Xavantina e Faxinal dos Guedes. Os resultados desta avaliação apontaram para a existência de material arqueológico em todos os quatro sítios. No sítio SC-PA-05, foi localizado somente material lítico em superfície, em baixa densidade, o que o caracteriza como um mini-sítio (Isaac et al., 1981). Todo o material foi coletado. 2.1.1. SC-PA-04 – Linha Santa Teresinha 1 Tipo: Lito-cerâmico. Proprietário: Celeste Siqueira. Localização: Linha Santa Teresinha, Xavantina. UTM: 369841/7015833. Este sítio arqueológico está localizado na confluência do Lajeado Barra Pequena (localmente denominado de Siqueira) com o Rio Irani, em um estreito terraço de inundação coberto por mata ciliar. A avaliação realizada na área onde o levantamento arqueológico anterior indicara a localização deste sítio, área esta aqui denominada Caminhamento I, não constatou a presença de material arqueológico. Porém, nas proximidades, com a continuação da verificação (Caminhamento II), houve a identificação do sítio descrito. Neste local foi percebida a presença de material cerâmico e lítico disperso em uma área de 20 m x 30 m. Optou-se em campo por uma coleta mapeada, devido ao risco de Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC. - Relatório Final. 31 carreamento do material arqueológico pelas águas do rio ou de sua destruição devido ao pisoteio do gado. Para o procedimento de coleta, foram definidos dois eixos – Norte-Sul (Y) e Leste-Oeste (X) que receberam valores arbitrários de 1000Y e 500X. A partir destes eixos, formou-se uma malha de pontos com coordenadas topográficas para auxílio à coleta. Foto 69 e 70: Vista geral da vistoria por caminhamento l da superfície da área do sítio SC-PA-04. Foto 71 e 72: Vista geral do local onde foi identificado material arqueológico, na confluência do Lajeado Barra Pequena com o Rio Irani. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC. - Relatório Final. 32 Foto 73: Vista geral do estaqueamento Foto 74: Execução de sondagem para para apoio da coleta. avaliação do sítio. Foto 75: Barranca na confluência do Rio Foto 76 e 77: Material cerâmico e lítico em Irani com o Lajeado Barra Pequena, onde superfície erodida da barranca do rio afloram artefatos arqueológicos. Irani. Em superfície, foram recolhidos 7 fragmentos de cerâmica e 30 artefatos líticos, classificados como seixos lascados em arenito, artefatos líticos e lascas de arenito. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC. - Relatório Final. 33 Além desta coleta mapeada, foram feitos 28 poços-teste de 50 cm x 50 cm, com profundidades variadas, para a verificação de material em profundidade. Também foi feito o perfil da sondagem W01, que atingiu 75 cm de profundidade, onde foram coletados fragmentos de cerâmica, pré-formas líticas e lascas. 2.1.2. SC-PA-05 – Linha Plano Alto 1 Tipo: Lito-cerâmico Proprietário: José Fachinello. Localização: Linha Plano Alto, Xavantina. UTM: 369854/7015993. Este sítio arqueológico está localizado em um patamar situado em média vertente, em área coberta por vegetação arbórea e lavoura. A área avaliada foi subdividida em dois pontos centrais, tendo sido realizados 55 poçosteste, todos apresentando resultado negativo. O material arqueológico, encontrado apenas em superfície, era composto por lascas, seixos lascados e pré-formas. O proprietário informou que, no passado, neste local eram achados “cacos de cerâmica”. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC. - Relatório Final. 34 Figura 1: Dados obtidos com GPS, indicando os locais dos poços-teste no sitio SC-PA04 / PA04a (Beira Rio - P0 ponto inicial). Devido à cobertura vegetal, não foi possível a obtenção de outras coordenadas. Foto 78: Vista geral da área do possível Foto 79: Determinação do alinhamento Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC. - Relatório Final. 35 sítio arqueológico. colateral Nordeste – Sudoeste (NE-SW). Figura 2: Dados obtidos do GPS, com as indicações dos locais dos poços de sondagem do sitio SC-PA-05. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC. - Relatório Final. 36 Foto 80 e 81: Execução de poço-teste para avaliação arqueológica da sub-superfície da área. Foto 82: Execução de poço-teste. Foto 83: Detalhe de poço-teste escavado. 2.1.3. SC-PA-06 – Linha Plano Alto 2 Tipo: Lito-cerâmico. Proprietário: João Seghetto. Localização: Linha Plano Alto, Xavantina. UTM: 370895/7017824. Este sítio arqueológico está localizado em um estreito terraço plano situado na margem esquerda do Rio Irani, ocupado por pastagem. O solo do local é areno-argiloso com coloração variando do marrom escuro ao marrom claro. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC. - Relatório Final. 37 A avaliação na área foi realizada por meio de 16 poços-teste, executados no entorno do ponto definido no levantamento anterior, que resultaram negativos. Para completar a investigação, optou-se por duas novas linhas de poços-teste, orientadas em direção ao terraço acima descrito (ver figura 3). Dois dos 22 poços-teste executados apresentaram-se positivos. Em um deles, distante cerca de 20m do rio, situado em um terraço plano inundável nas cheias acentuadas, ocupado por pastagem, foram evidenciadas duas lascas no nível 50-60 cm. O outro poço-teste positivo, situado em terraço não inundável, também ocupado por pastagem, apresentou cinco lascas no nível 10-20 cm. Foto 84: Equipe demarcando o Foto 85: Execução de poços-teste junto à alinhamento NE dos poços-teste. até a margem esquerda do Rio Irani. margem do Rio Irani. Foto 86: Detalhe da abertura de poço- Foto 87: Poço-teste escavado em terraço teste no sítio SC-PA-06. fluvial. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC. - Relatório Final. 38 O terraço inundável do Rio Irani também foi examinado, constatando-se em superfície a presença de fragmentos de cerâmica, seixos de arenito silicificado com vestígios de lascamento e um artefato lascado elaborado em basalto, que foram registrados e coletados. No passado, esta área foi atingida por um deslizamento que recobriu uma faixa de aproximadamente 50 metros de extensão, abrangendo o local dos poços-teste NE7 e NW1 a NW5. Figura 3: Dados obtidos do GPS, com as indicações dos locais dos poços de sondagem do sitio SC-PA-06. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC. - Relatório Final. 39 2.1.4. SC-PA-07 – Linha Duas Palmeiras 1 Tipo: Lítico, área de Ocorrência Arqueológica Discreta – OAD-PA-01. Proprietário: Maximino Pagnunssatto. Localização: Linha Duas Palmeiras, Faxinal dos Guedes. UTM: 369725/7015752. O sítio situa-se em declive suave, em um degrau não inundável da margem direita do Rio Irani. O solo é areno-argiloso com presença de blocos de basalto em decomposição, apresentando coloração variando entre marrom escuro e claro. A área era ocupada por lavoura de aveia para forragem. Em pontos que permitiram a visualização superficial da superfície do solo, constatou-se a presença de dois seixos de arenito silicificado com vestígios de lascamento. Este material foi registrado e coletado. Foto 88: Vista parcial da área pesquisada. Foto 89: Vista parcial da área avaliada, propriedade de Maximino Pagnunssatto. Para a avaliação desta área, foram demarcados 32 poços-teste orientados no sentido Norte-Sul (N-S) / Leste-Oeste (E-W) e Noroeste-Sudeste (NW-SE) / Nordeste-Sudoeste (NESW) (ver figura 4). Todos resultaram negativos. As linhas NE e SW, ambas com quatro sondagens cada, foram escavadas até 40 cm de profundidade, com exceção da NE2 que foi escavada até 27 cm, devido à existência de rochas que impediram o aprofundamento. Devido à baixa densidade de artefatos existentes na área, esta foi desconsiderada quanto sítio arqueológico e denominada como área de Ocorrência Arqueológica Discreta PA01. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC. - Relatório Final. 40 Fotos 90 e 91: Vista geral dos trabalhos de execução de poços-teste na OAD-PA-01. Figura 4: Dados obtidos do GPS, com as indicações dos locais dos poços de sondagem da OAD-PA-01. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC. - Relatório Final. 41 Fotos 92 e 93: Material lítico em superfície na área da mesma área. 2.2 PCH ALTO IRANI Os trabalhos de campo realizados na área de instalação da PCH Alto Irani, por orientação do empreendedor, priorizaram a reavaliação de oito áreas, a principio consideradas sítios arqueológicos e identificadas pelas siglas AI-02, AI-03, AI-04, AI-05, AI-06, AI-07, AI-08 e AI-14. A região apresenta relevo predominantemente acidentado, com vertentes de declive variando de médio a acentuado. A ação do Rio Irani, entre outros fatores ambientais, proporcionou a formação de um vale encaixado em “V”. A maior resistência ao processo modelador da superfície faz surgir ao longo das vertentes “degraus” que se apresentam, quase sempre, estreitos e alongados. Nestes degraus, onde se encontra instalada grande parte das residências atuais, também foi registrada a presença de material arqueológico (foto 94). Os procedimentos de avaliação utilizados neste trabalho consistiram na abertura de poços-teste com 0,50 m x 0,50 m x 0,40 m para investigação de material em profundidade, além do registro de material em superfície nos locais em que a cobertura do solo permitia a visualização da superfície. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC. - Relatório Final. 42 Foto 94: Vista geral da distribuição dos sítios arqueológicos na vertente. Como a configuração do terreno nem sempre permitiu a execução dos procedimentos propostos (poços-teste orientados nos sentidos Norte-Sul/Leste-Oeste a cada 20 metros, procurou-se explorar melhor os locais pesquisados com a abertura de poços-teste também em linhas colaterais no sentido NE/SW – NW/SE. Nos casos em que o local de implantação de poços-teste se apresentava com área reduzida, a eqüidistância dos poços foi reduzida para 10m. Com base nas avaliações realizadas, cinco das oito áreas investigadas foram reconhecidas como sítios arqueológicos, uma como Área de Ocorrência Arqueológica Discreta (SC-AI-05) e duas não foram confirmadas como sítios arqueológicos, a saber: AI-07 e AI-14. 2.2.1. SC-AI-02 – Linha Santa Teresinha 2 Tipo: Lito-cerâmico. Proprietário: Ângelo Pugnussatto e Adelcio Pugnussatto. Localização: Linha Santa Teresinha, Arvoredo. UTM: 358122/7010525. Este sítio está situado entre a média e a alta vertente (fotos 95, 96 e 97), ocupando um estreito patamar cultivado com milho, com declividade variando de média a acentuada. A opção pela realização de duas linhas de poços-teste foi ditada por esta feição topográfica. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC. - Relatório Final. 43 Estas linhas foram demarcadas no sentido de maior comprimento do terreno e distantes entre si cerca de 100 m (fotos 98 e 99). Foto 95: Sítio arqueológico SC-AI-02, situado área com declividade média a acentuada. Foto 96: Vista geral dos trabalhos de Foto 97: Abertura de poço-teste no sítio avaliação arqueológica no sítio SC-AI-02. SC-AI-02. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC. - Relatório Final. 44 Foto 98: Abertura de poço-teste no sítio Foto 99: Abertura de poço-teste no sítio SC-AI-02. SC-AI-02. Foto 100: Artefato confeccionado em Foto 101: Artefato em arenito silicificado arenito silicificado na superfície do sítio na superfície do sítio SC-AI-02. SC-AI-02. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC. - Relatório Final. 45 Foto 102: Fragmento de cerâmica simples Foto 103: Fragmento de cerâmica localizado na superfície do sítio SC-AI-02. decorada na superfície do sítio SC-AI-02. Foto 104: Abertura de poços-teste no sítio Foto 105: Abertura de poços-teste no sítio SC-AI-02. SC-AI-02. Foto 106: Abertura de poços-teste no sítio Foto 107: Abertura de poço-teste no sítio SC-AI-02. SC-AI-02. As duas séries de poços-teste realizadas, somando 22 poços-teste, receberam a denominação AI-02/A e AI-02/B (fotos 104 a 107). Em cada uma delas, apenas 1 poço-teste apresentou material arqueológico lítico em profundidade, caracterizado como 12 artefatos e lascas. Há, no entanto, registro de material lítico (6 peças) e cerâmico (2 fragmentos), em baixa densidade, disperso em superfície nas imediações (fotos 100 a 103). 2.2.2. SC-AI-03 – Linha Santa Teresinha 3 Tipo: Lito-cerâmico. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC. - Relatório Final. 46 Proprietário: Augusto Menin. Localização: Linha Santa Teresinha, Arvoredo. UTM: 358545/7010991. O sítio SC-AI-03 está implantado em um patamar estreito e alongado entre a média e a baixa vertente, a pouco mais de 300 m da margem esquerda do Rio Irani e a cerca de 30 m da residência do proprietário do terreno. O local está ocupado por lavoura de aveia para forragem, apresentando afloramento de material arqueológico devido à ação do arado. Foto 108: Vista geral do local de abertura dos poços-teste AI-03/C no sítio SC-AI-03, sinalizado com uma elipse amarela. Foram realizados poços-teste em três pontos distintos, distantes entre si 250 m. Estes pontos foram denominados de AI-03/A, AI-03/B e AI-03/C (fotos 108 a 110). O ponto AI-03/A, apresentou resultado negativo em todos os 9 poços-teste. Entretanto, nas imediações, foi localizado em superfície um raspador confeccionado em arenito silicificado, na foz de um pequeno córrego no Rio Irani. O ponto AI-03/B, apresentou resultado negativo em todos os 16 poços-teste, não tendo sido localizado material arqueológico em superfície (foto 111). O ponto AI-03/C, situado a 30 m da residência do proprietário, apresentou um poço-teste positivo (N-3), com 2 fragmentos de cerâmica. Superficialmente, entretanto, foram realizadas Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC. - Relatório Final. 47 78 coletas de material em uma área de 100 m x 60 m, reduzidas durante a análise em laboratório para 2 artefatos líticos lascados (núcleos) em arenito e metalamito, além de 30 fragmentos de cerâmica simples e decorada (foto 112). Foto 109: Local de abertura dos poços- Foto 110: Local de abertura dos poçosteste AI-03/A, no sítio SC-AI-03. teste AI-03/B, no sítio SC-AI-03. Foto 111: Abertura de poço-teste na Foto 112: Artefato lítico em basalto segunda seção do sítio SC-AI-03 (AI-03/B). localizado superficialmente na primeira seção do sítio SC-AI-03 (AI-03/A). 2.2.3. SC-AI-04 – Linha Santa Teresinha 4 Tipo: Histórico. Proprietário: Augusto Menin. Localização: Linha Santa Teresinha, Arvoredo. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC. - Relatório Final. 48 UTM: 358545/7010991. Ao lado da residência do Sr. Augusto Menin, percebeu-se um engenho de açúcar, construído há 30 anos em madeira cabriúva, segundo o proprietário. Realizou-se somente o registro fotográfico (fotos 113, 114 e 115). Foto 113: Vista geral da estrutura de moagem remanescente do engenho de açúcar, sítio SC-AI-04. Fotos 114 e 115: Engenho para moagem de cana-de-açúcar montado em madeira ao lado da residência do Sr. Augusto Menin, Linha Santa Teresinha, Arvoredo. 2.2.4. SC-AI-05 – Linha Santa Teresinha 5 Tipo: Lito-cerâmico, área de Ocorrência Arqueológica Discreta – OAD-AI-01. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC. - Relatório Final. 49 Proprietário: Ivaldo Sandrin. Localização: Linha Santa Teresinha, Arvoredo. UTM: 359131/7010955 Este sítio está localizado em um amplo platô, levemente alongado no sentido Leste/Oeste, com vertentes de declividade média que descem até o rio Irani. A área é atualmente ocupada por cultivo de milho e aveia para forragem, pastagem, reflorestamento de eucalipto, instalação de galpões de criação de suínos, pomar e uma estreita faixa de mata ciliar. Foto 116: Vista geral da OAD-AI-01 Foto 117: Abertura de poço-teste na OADsituado em um platô na média vertente. AI-01. Foto 118: Cerâmica decorada localizada Foto 119: Artefato lítico localizado superficialmente na OAD-AI-01. superficialmente na OAD-AI-01. Foram abertos 29 poços-teste distribuídos em dois locais, distantes entre si cerca de 700 m. Apenas um deles resultou positivo, com duas lascas recolhidas no estrato 20-30 cm. Superficialmente, foram localizadas 4 lascas em quartzo e calcedônia e um artefato lascado, além de 2 fragmentos de cerâmica simples e 1 fragmento com decoração carimbada, Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC. - Relatório Final. 50 distribuídos por uma área de 700 m x 500 m. Devido à baixa densidade de artefatos, que também se apresentaram pouco diagnósticos, o local passou a ser considerado como área de Ocorrência Arqueológica Discreta AI-01, e não mais como sítio arqueológico. Esta área possui as seguintes coordenadas UTM: 359077E/7010660; 359379/7010778; 359512/7011149 e 359131/7010955. 2.2.5. SC-AI-06 – Linha Santa Teresinha 6 Tipo: Lito-cerâmico, área de Ocorrência Arqueológica Discreta – OAD-AI-02. Proprietário: Ari Zatta. Localização: Linha Santa Teresinha, Arvoredo. UTM: 359366/7011931. Este sítio está situado em um patamar inclinado na baixa vertente, a cerca de 150 m da margem esquerda do rio Irani, em uma plantação de eucalipto. Todos os 7 poços-teste resultaram negativos. Superficialmente, foi localizado 1 fragmento cerâmico decorado e 1 artefato lítico lascado, distribuído em uma área definida pelas coordenadas UTM 359366E/7011931; 359375/7011873; 359331/7011899 e 359386/7011916. Como estes vestígios se apresentaram pouco diagnósticos em uma área de muito baixa densidade de material, o local passou a ser considerado como área de Ocorrência Arqueológica Discreta AI02, e não mais como sítio arqueológico. Foto 120: Vista da localização da OAD-AI- Foto 121: Abertura de poço-teste na OAD02 (seta amarela). AI-02, em área de plantio de eucalipto. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC. - Relatório Final. 51 Foto 122: Material lítico localizado Foto 123: Fragmento de borda cerâmica superficialmente na OAD-AI-02. decorada localizada superficialmente na OAD-AI-02. 2.2.6. SC-AI-08 - Linha Teresinha 8 Tipo: Lito-cerâmico. Proprietário: Angelo Pavan e Sebastião Vieira. Localização: Linha Santa Teresinha, Arvoredo. UTM: 358279/7011084. O sítio localiza-se em um patamar estreito e alongado entre a média e a baixa vertente, a 210 m da margem esquerda do Rio Irani, na área diretamente afetada pela implantação do projeto de engenharia da PCH Alto Irani. Parte da área está coberta por reflorestamento de eucalipto, encontrando-se o restante coberto com palhada de milho (fotos 124 e 125). Foram abertos 32 poços-teste de 0,50 m x 0,50 m x 0,40 m, somando 18 nas linhas NS/E-W e 14 nas linhas NE-SW/NW-SE (fotos 129 a 131). Apenas um deles, o central, resultou positivo, apresentando 3 fragmentos de cerâmica e 1 lasca no nível 0-10 cm. Entretanto, superficialmente, foram recolhidas 63 coletas de artefatos líticos em arenito silicificado e basalto (foto 127), lascas e também 20 fragmentos de cerâmica simples e decorada (fotos 128). Esse material ocorreu de maneira esparsa e com baixa densidade em uma área medindo 200 m x 40 m. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC. - Relatório Final. 52 Foto 124: Em primeiro plano o sítio SC-AI- Foto 125: Vista parcial do sítio SC-AI-08 08 em área coberta por eucalipto e em área de cultivo de milho. lavoura. Foto 126: Lâmina-de-machado no sítio Foto 127: Artefato SC-AI-08. silicificado. lítico Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC. - Relatório Final. em arenito 53 Foto 128: Fragmentos de cerâmica Foto 129: Fechamento de poço-teste no decorada na superfície do sítio SC-AI-08. sítio SC-AI-08. Foto 130: Abertura de poço-teste no sítio Foto 131: Poço-teste central no sítio SCSC-AI-08. AI-08. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC. - Relatório Final. 54 3. RESGATE ARQUEOLÓGICO Alfredo Cardeal Filho Ana Lucia Herberts 3.1. PCH PLANO ALTO Com base na avaliação arqueológica executada na etapa anterior, foram definidos para resgate, na área de implantação do canteiro de obras da PCH Plano Alto, os seguintes sítios arqueológicos: Linha Duas Palmeiras 3 (SC-PA-09), Linha Santo Isidoro 1 (SC-PA-10), Linha Santo Isidoro 2 (SC-PA-11) e Linha Santo Isidoro 3 (SC-PA-12). Como estes sítios apresentaram as mesmas características, com material arqueológico superficial e pouco denso, optou-se pelo resgate com a utilização de coleta mapeada. Na área de reservatório da PCH Plano Alto, foram selecionados os seguintes sítios arqueológicos: Linha Santa Teresinha 1 (SC-PA-04) e Linha Duas Palmeiras 2 (SC-PA-08), ambos lito-cerâmicos. O resgate dos sítios citados acima foi dificultado pela presença de lavoura de milho, já em fase de formação de grãos, o que dificultava a visualização dos artefatos na superfície do solo. Foto 132: Vista geral da área em setembro Foto 133: Vista geral da mesma área em de 2005, com terreno recém arado. dezembro de 2005, com cultivo de milho. 55 Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. Para realizar a coleta do material arqueológico existente em superfície, identificado em campo na fase anterior, empregou-se um aparelho GPS. Cada ponto de coleta teve suas UTM registradas e posteriormente plotadas em um gráfico com pontos de apoio. 3.1.1. SC-PA-04 – Linha Santa Teresinha 1 Sítio lito-cerâmico localizado em um patamar estreito e curto, na baixa vertente, caracterizado como um terraço de inundação que recebe tanto depósitos das cheias do Rio Irani como das vertentes situadas acima dele. Este sítio apresentou material arqueológico tanto em sua superfície quanto em profundidade. Foto 134: Vista geral do sítio SC-PA-04 situado na margem esquerda do rio Irani, junto à foz do lajeado Barra Pequena. 56 Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. Foto 135: Detalhe de material cerâmico e Foto 136: Detalhe de material lítico lítico exposto no talude erodido. exposto a cerca de 50 cm de profundidade em talude erodido. Foto 137 e 138: Fragmentos cerâmicos expostos a cerca de 40 cm de profundidade em talude erodido. As peças localizadas em superfície, distribuídas em uma área de 60 x 20 m, foram objeto de coleta mapeada na fase anterior (conforme Relatório Parcial 02). Para o resgate arqueológico deste sítio, o procedimento seguido foi o de abertura de quadras de 1 x 1 m no local em que se verificou a maior ocorrência de material. Para a implantação das quadras, foi determinado o alinhamento Norte-Sul, com auxílio de bússola e de balizas, a cerca de 3 m da margem esquerda do Rio Irani. Foram definidos os pontos de implantação de 9 quadras de 1 x 1 m, com 5 m de distância entre si. Um segundo alinhamento foi definido a 5 m de distância, em direção à vertente, onde foram demarcadas outras 9 quadras. Uma última quadra, de número 19 foi definida posteriormente, em função de ter ocorrido maior concentração de material na porção norte do 57 Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. sítio. No total, foram coletados durante o resgate 1.377 líticos e 39 fragmentos de cerâmica. Foto 139 e 140: Vista dos trabalhos de demarcação das quadras no sítio SC-PA-04. Foto 141 e 142: Vista dos trabalhos de demarcação e limpeza da superfície das quadras no sítio SC-PA-04. Foto 143: Vista dos trabalhos de Foto 144: Vista dos trabalhos de escavação no sítio arqueológico SC-PA- escavação no sítio arqueológico SC-PA58 Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 04. 04. A escavação da quadra de nº. 1 revelou uma estrutura de combustão, percebida no estrato 30-40 cm. Para evidenciar esta estrutura, foram também abertas as quadras contíguas 1A, 1B e 1C (fotos 147 e 149). A estrutura estava situada nas quadras 1A e1B, entre 40-70 cm de profundidade, definida por um agrupamento de blocos de rocha apresentando lascas térmicas, fragmentos de cerâmica simples e decorada, carvão e cinza vegetal (fotos 149 e 150). Foto 145: Detalhe dos trabalhos de Foto 146: Detalhe dos trabalhos de escavação no sítio SC-PA-04 - Quadra 1. abertura da quadra 1, no sítio SC-PA-04. Foto 147: Detalhe da escavação da quadra Foto 148: Detalhe da finalização das 1B no sítio SC-PA 04. quadras 1, 1A, 1B e 1C no sítio SC-PA-04. 59 Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. Foto 149: Detalhe da estrutura Foto 150: Detalhe da estrutura evidenciada na Quadra 1, a 60 cm, no sítio evidenciada na Quadra 1B, nível 50-60 cm, SC-PA-04. no sítio SC-PA-04. 3.1.2. SC-PA-08 – Linha Duas Palmeiras 2 Este sítio lito-cerâmico, apresentando baixa densidade de material, está situado em um estreito patamar na baixa vertente, sujeito à inundação durante as cheias mais significativas do Rio Irani. O local atualmente é destinado ao uso agrícola. O material arqueológico, predominantemente cerâmico, estava distribuído na superfície de uma área medindo 150 x 50 m. O material superficial foi coletado em dez pontos, totalizando 15 artefatos líticos e lascas e 43 fragmentos de cerâmica simples e decorada (Fotos 151 e 152). Foto 151: Vista do local de implantação Foto 152: Procedimentos de coleta no do sítio SC-PA-08. sítio SC-PA-08. 60 Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 3.1.3. SC-PA-09 – Linha Duas Palmeiras 3 Este sítio superficial e de baixa densidade, está localizado em um patamar estreito e alongado, situado entre a baixa e a média vertente. Apresentou material lítico e cerâmico distribuído por uma área medindo 160 x 90 m. A coleta foi realizada em quatro pontos distintos e resultou na documentação e recolhimento de 6 peças líticas e 3 fragmentos de cerâmica. Foto 153: Vista do sítio SC-PA-09 situado Foto 154: Detalhe das atividades de coleta entre a baixa e a média vertente. de material arqueológico no sítio SC-PA09, dificultada pela cultura de milho. 3.1.4. SC-PA-10 – Linha Santo Isidoro 1 (OAD-PA-02) Sítio lítico superficial, localizado em um estreito patamar na alta vertente, atualmente utilizado para cultivo de milho e/ou pastagem de inverno. Suas dimensões foram estimadas em 50 x 40 m. Não foi possível localizar as duas peças arqueológicas identificadas durante o levantamento, devido à área ter sido lavrada ao menos duas vezes durante o período de tempo decorrido entre o levantamento, realizado em setembro de 2005, e o resgate arqueológico, que ocorreu no mês de dezembro de 2005. Nesta segunda etapa foi encontrado somente um lítico, o que descaracterizou esta área como sítio, passando a ser considerado uma ocorrência Arqueológica Discreta (OAD-PA-02). 61 Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. Foto 155: Vista da OAD-PA-02, situado em Foto 156: Detalhe da área de implantação alta vertente. da OAD-PA-02, com plantação de milho em sua superfície. Foto 157: Vista dos trabalhos de coleta Foto 158: Detalhe dos trabalhos de coleta superficial na OAD-PA-02. superficial no sítio OAD-PA-02. 3.1.5. SC-PA-11 – Linha Santo Isidoro 2 Sítio lítico superficial localizado em um patamar estreito e alongado em alta vertente, em uma área de 170 x 50 m. Atualmente o local é destinado ao uso agrícola. A coleta, realizada em 15 pontos, resultou no mapeamento e coleta de 35 artefatos líticos e lascas. (Fotos 159 e 160). 62 Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. Foto 159: Vista da área ocupada pelo sítio Foto 160: Detalhe dos procedimentos de SC-PA-11. coleta no sítio SC-PA-11. 3.1.6. SC-PA-12 – Linha Santo Isidoro 3 Sítio lito-cerâmico superficial e de baixa densidade, localizado em alta vertente, em uma área estimada em 160 x 60m. O material arqueológico registrado e coletado somou 44 peças líticas, caracterizadas como artefatos e lascas, além de 3 fragmentos de cerâmica (Fotos 161 a 164). Foto 161: Vista do sítio SC-PA- 12, situado Foto 162: Detalhe da área do sítio, situado em alta vertente. em área ocupada por cultivo de milho. 63 Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. Foto 163: Vista dos procedimentos de Foto 164: Detalhe dos procedimentos de coleta realizados no sítio SC-PA-12. coleta realizados no sítio SC-PA-12. 3.2. PCH ALTO IRANI Na PCH Alto Irani, foram definidos para resgate, com base na avaliação arqueológica executada na etapa anterior, dois sítios arqueológicos: Linha Teresinha 3 (SC-AI-03) e Linha Teresinha 8 (SC-AI-08). Além destes, foi resgatado também o sítio SC-AI-17, devido ao seu grande interesse científico. Trata-se de um sítio referência na área de estudo, tanto em termos quantitativos quanto qualitativos. 3.2.1. SC-AI-03 – Linha Teresinha 3 Para o resgate deste sítio, cuja descrição está apresentada no capítulo 2, foi definida uma malha de pontos de apoio com auxílio de teodolito e com 5m de eqüidistância, que formaram quadras de 5m de lado (fotos 165 e 166). O material arqueológico identificado dentro da quadra foi coletado, resultando num total de 79 pontos de coleta (fotos 167 e 168), apresentando quatro fragmentos de cerâmica e 125 líticos. 64 Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. Foto 165: Instalação de pontos de apoio Foto 166: vista geral dos trabalhos de no sítio. coleta mapeada. Foto 167: Detalhe da equipe realizando a Foto 168: Atividade de coleta do material coleta. arqueológico em superfície. Foto 169: Fragmento de mão-de-pilão. 65 Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 3.2.2. SC-AI-08 – Linha Teresinha 8 Sítio localizado em um patamar estreito e alongado entre a média e a baixa vertente, parcialmente coberto com reflorestamento de eucalipto e com palhada de milho. Nele foi realizada coleta mapeada dos artefatos de superfície com a instalação de pontos de apoio, utilizando-se teodolito (foto 170). Foram demarcados 30 pontos de coleta distribuídos em uma área de cerca de 180 x 50 m. O material coletado é composto por 21 fragmentos de cerâmica simples e decorada e 63 artefatos líticos, classificados como raspadores, lâminas, seixos de arenito com vestígios de lascamento e lascas de sílex (foto 171) Foto 170: Detalhe da demarcação de pontos de apoio Foto 171: Artefato lítico recolhido para a realização da coleta, com o uso de teodolito. no sítio SC-AI-08. 3.2.3. SC-AI-17 – Linha Teresinha 9 Francesco Palermo Neto O sítio arqueológico SC-AI-17 é um sítio lito-cerâmico instalado em uma área plana, situada em topo de colina. Possui área estimada em 5.000 m². O material arqueológico encontra-se distribuído desde a superfície até a profundidade de 50 cm. A maior concentração deste ocorre no nível 30-40 cm. 66 Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. Durante os trabalhos de identificação deste sítio arqueológico, foi realizada a coleta total dos vestígios em superfície, totalizando 417 artefatos, sendo 412 peças líticas e 5 fragmentos de cerâmica. Procedeu-se então à complementação do resgate dos vestígios de subsuperfície, sendo que as atividades de campo foram executadas durante o mês de julho de 2006. N70 11 00 0 P-01 E N D-38 P-02 P-03 E-29 N70 10 50 0 E-29/B-06 E-29/B-05 E35 65 00 L E-29/B-04 E-29/B-07 E-29/B-01 E-29/B-03 E-29/B-02 S D-37 TÚNEL DE DESVIO BARRAGEM / VERTEDOURO TÚNEL DE DESVIO AI03 D-36 E-29 ENSECADEIRA DE JUSANTE D-35 PONTE PROVISÓRIA TOMADA D'ÁGUA E-24 ENSECADEIRA DE MONTANTE AI08 E-27 E-28 E- 35 70 00 P-04 E-25 AI04 P-03 N70 10 00 0 TÚNEL ADUTOR P-06 P-05 AI02 ÁREA DE BOTA FORA A = 4.000 m² P-07/B-05 P-07/B-04 P-08/B-05 P-08/B-04 P-08/B-03 P-08/B-02 P-08/B-01 P-08/B-06 P-08/B-08 P-07 P-06/B-01 P-07/B-01 P-07/B-02 P-07/B-03 P-07/B-06 AI01 Figura 5: Localização do sítio SC-AI-17, em relação à PCH Alto Irani (Escala: malha quadriculada de quinhentos metros). 67 Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. Foto 172: Vista geral do sítio SC-AI-17 com a localização de sua área escavada, em relação à PCH Alto Irani (Vista de Norte para Sul). Foto 173: Vista geral do sítio SC-AI-17 com a localização de sua área escavada, em relação à PCH Alto Irani. (Vista de Leste para Oeste) 68 Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. Os procedimentos metodológicos aplicados durante o resgate se basearam nas informações obtidas com o levantamento arqueológico de campo anteriormente realizado, em que foram escavados 31 poços-teste de 50 x 50 cm, eqüidistantes 10 metros entre si, complementados por uma ampla coleta mapeada do material de superfície, a partir do que foi possível estimar a área do sitio e determinar os locais com maior incidência de material arqueológico. A escolha dos locais que seriam escavados foi determinada pela maior concentração de material arqueológico, que indicou os locais preferenciais para intervenção. W3 W2 W1 2 1 4 3 S1 1 14151617 4 2 5 11 12 13 6 7 8 9 10 2 1 Lesma S4 S2 S5 S3 3 Figura 6: Malha quadriculada de 1 x 1 metro no Sítio Arqueológico SC-AI-17, com as quadras que foram escavadas (em azul) e as em que somente foi feita a coleta de superfície (em verde). O P0 (ponto zero) se refere ao local que foi utilizado como centro na etapa anterior. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC. – Relatório Final. 69 Foto 174: Vista geral das quadras SE (1, 2, 4 a 10), local com grande concentração de fragmentos cerâmicos. Foto 175: Detalhe de fragmento cerâmico evidenciado na quadrícula SE5. Durante os trabalhos de resgate do sítio, foram escavadas 24 quadrículas medindo 1 x 1 metro e eqüidistantes 10 metros, sobre eixos traçados obedecendo à orientação geográfica Norte-Sul (N-S) / Leste-Oeste (E-W), tendo como P0 (ponto zero) o mesmo ponto utilizado no levantamento anterior. As quadrículas foram escavadas em níveis artificiais de 10 cm. A 10 m a oeste do ponto zero, em área de solo argilo-arenoso ocupada por lavoura de milho, foram escavadas três quadrículas, distantes 10 m entre si, denominadas W1, W2 e W3. Em todas elas era predominante a presença de material lítico, distribuído desde a superfície do solo até a profundidade de 60 cm, com exceção da quadrícula W3, interrompida aos 40 cm de profundidade devido ao afloramento de uma soleira de basalto. Foi percebido apenas um fragmento cerâmico no nível 0-10 cm da quadrícula W2. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC. – Relatório Final. 70 Foto 176: Vista geral da quadrícula W2 Foto 177: Vista geral da quadrícula W3. sendo escavada. Foto 178: Escavação da quadrícula W3. Foto 179: Detalhe da quadricula W3 escavada. A sudoeste do ponto zero, a uma distância de 10 m da quadrícula W3, em área com as mesmas características das sondagens anteriores, foram escavadas quatro quadrículas contíguas, denominadas SW1, SW2, SW3 e SW4, formando um corte com 4 m² de área. O solo variou entre argiloso e argilo-arenoso, tendo a soleira de basalto aflorado a 50 cm de profundidade. O material lítico apresentou-se distribuído desde 10 cm até 50 cm de profundidade. Foram também recolhidos fragmentos de cerâmica nas quadrículas SW1 e SW4, nos níveis 0-10 e 10-20 cm. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC. – Relatório Final. 71 Foto 180: Escavação da quadrícula SW1, Foto 181: Vista geral das quadriculas SW1 nível 20-30 cm. e SW2. Foto 182: Escavação das quadrículas Foto 183: Vista geral da quadra SW SW3, SW2 e parte de SW1. escavadas. Ao sul do ponto zero, foram abertas cinco quadrículas, distantes a primeira (S1) 10 m do PO e as outras quatro (S2, S3, S4 e S5), 20 metros do PO. A quadrícula S1, localizada em área de lavoura de milho, com solo variando entre argiloso e areno-argiloso, apresentou material lítico entre os níveis 10-20 cm e 50-60 cm, tendo aflorado a soleira basáltica a 70 cm de profundidade. Fragmentos cerâmicos foram percebidos no nível 40-50 cm Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC. – Relatório Final. 72 Foto 184 e 185: Vista geral da escavação da quadrícula S1. As demais quadrículas (S2, S3, S4 e S5), foram escavadas de forma contígua, formando um corte com 4 m² de área. Estas quadrículas, situadas em área de lavoura de milho e apresentando solo variando de argiloso a argilo-arenoso, apresentaram material lítico distribuído entre os níveis 0-10 cm e 30-40 cm, com uma soleira de basalto aflorando a 50 cm de profundidade. Estas quadrículas não apresentaram vestígios cerâmicos. A NW deste corte, distante aproximadamente 2 m, foi localizado em superfície um artefato lítico classificado como raspador unilateral. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC. – Relatório Final. 73 Foto 186: Vista geral da escavação das quadras S2 a S5. Foto 187: Vista geral das S2 a S5 já Foto 188: Detalhe da mancha escura na escavadas. quadricula S5, nível 10-20 cm. A sul-sudoeste do ponto zero, distante deste 16 m e a uma distância de 3 m do corte S, também situadas em área ocupada por lavoura de milho e com solo variando entre argiloso e argilo-arenoso, foram escavadas duas quadrículas contíguas, medindo 2 X 1 m e denominadas SSE1 e SSE2. Ambas apresentaram material lítico distribuído pelos níveis 0-10 cm a 40-50 cm, sendo que na quadrícula SSE2, a 30-40 cm, foi percebido um agrupamento de lascas. Não foram percebidos vestígios cerâmicos nestas quadrículas. Foto 189: Vista gral das quadrículas SSE 1 e SSE2 já escavadas. A sudoeste do ponto central, distando deste 10 m e a 8 m da quadrícula S4, foi demarcado um corte com 16 quadrículas contíguas, das quais foram escavadas as quadrículas SE1, SE2, SE4, SE5, SE6, SE7, SE-8, SE9 e SE 10. A quadrícula denominada SE3 foi escavada fora deste agrupamento, distante 7 m ao sul da quadrícula SE6. As demais quadrículas, denominadas SE11, SE12, SE13, SE14, SE15, SE16 e SE17, tiveram apenas coleta superficial de material arqueológico, não foram escavadas. Este corte apresentou Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC. – Relatório Final. 74 material lítico distribuído desde a superfície até o nível 50-60 cm. Na quadrícula SE6 verificouse a maior profundidade em que ocorreu material lítico, no nível 50-60 cm. Foram percebidos fragmentos cerâmicos em todas as quadrículas escavadas, com exceção da SE-4, tendo este material sido percebido desde a superfície do solo até ao nível 50-60, na SE-6. Foto 190: Vista geral da quadrícula SE1 Foto 191: Vista geral da escavação das quadrículas SE1 a SE10. Foto 192: Vista geral da escavação das Foto 193: Detalhe de fragmentos quadrículas SE1 a SE10. cerâmicos na quadrícula SE6. Na quadrícula SE3, escavada 7 m ao sul da SE6, em área também ocupada por lavoura de milho e com solo variando de argiloso a argilo-arenoso, foi percebido material lítico distribuído desde o nível 20-30 cm até o nível 70-80 cm. Não foram percebidos fragmentos cerâmicos. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC. – Relatório Final. 75 Foto 194: Detalhe das quadrículas SE7 e Foto 195: Detalhe das quadrículas SE9 e SE8 já escavadas. SE10 já escavadas. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC. – Relatório Final. 76 4. ANÁLISE DO MATERIAL ARQUEOLÓGICO O material arqueológico coletado em campo foi encaminhado para o Escritório Regional da Scientia Consultoria Científica, em Florianópolis, onde foram desenvolvidas as atividades laboratoriais de curadoria (limpeza, numeração, remontagem...), análise e acondicionamento do material arqueológico cerâmico e lítico. Os resultados do processo de análise deste material serão apresentados a seguir: 4.1. CERÂMICA Ana Lucia Herberts O material arqueológico cerâmico é procedente de 11 sítios lito-cerâmicos a céu aberto, sendo seis situados na área de abrangência da PCH Plano Alto, e cinco na PCH Alto Irani. Primeiramente, apresentar-se-á uma revisão bibliográfica das tradições arqueológicas ceramistas do planalto meridional relacionado ao grupo Macro-Gê, situando a coleção analisada neste contexto. Em seguida, será descrito o processo de analise do material cerâmico, apresentando as definições e vocábulos técnicos empregados. 4.1.1. As Tradições Ceramistas: Taquara, Itararé e Casa de Pedra As tradições arqueológicas ceramistas Taquara, Itararé e Casa de Pedra foram nomenclaturas criadas pelos arqueólogos a partir de meados do século XX no Brasil, para diferenciar os conjuntos de cultura material pré-histórica de populações ceramistas relacionadas ao grande grupo Macro-Gê, os então denominados “não Guaranis” no sul do Brasil. Estas terminologias foram estabelecidas pelos pesquisadores vinculados ao Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas – PRONAPA (1965-1970), sendo seus criadores Eurico Miller (Taquara) e Igor Chmyz (Itararé e Casa de Pedra)1. 1 Tradição é o termo usualmente empregado na arqueologia para designar “grupos de elementos ou técnicas, com persistência temporal. Uma seqüência de estilos ou de culturas que se desenvolvem no tempo, partindo uns dos outros, e formando uma continuidade cronológica” (Souza, 1997, p. 124.). Esta normalmente é subdividida em subtradições e fases arqueológicas. A subtradição representaria uma variedade dentro de uma mesma tradição. Segundo Chmyz (1966, p. 14), a fase é definida como “qualquer complexo de cerâmica, lítico, padrões de habitação, etc., relacionada no tempo e no espaço, num ou mais sítios”. A noção de fase foi utilizada então para Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 77 A distinção entre estas tradições arqueológicas foi baseada na cerâmica, como aponta Prous (1992, p. 322), “a cerâmica é o elemento diagnóstico da tradição”. Ocupando o planalto, numa extensão que vai desde o Rio Grande do Sul até o oeste paulista, existe um complexo arqueológico ceramista meridional, no qual quase todos os achados arqueológicos se integram em dois conjuntos que seus criadores chamaram de tradição Taquara e tradição Itararé. Prous (1992, p. 310), em sua obra clássica Arqueologia Brasileira, acha mais prático “considerar como uma mesma tradição, a que denominaremos ‘Taquara-Itararé’, considerando como subtradição meridional a Taquara e subtradição meridional a Itararé”. O autor (id., p. 322) relaciona geograficamente a Tradição Itararé à porção setentrional e a Taquara à porção meridional do planalto sul-brasileiro, “que apresentam algumas diferenças, principalmente na decoração” (ibid). Mesma distinção geográfica é apresentada por Schmitz (1988, p. 75) para as três tradições regionais: A mais meridional, coincidindo com o Rio Grande do Sul e a porção meridional de Santa Catarina foi batizada tradição Taquara. A do planalto do Paraná, litoral do Paraná e parte setentrional e central do litoral de Santa Catarina foi denominada de tradição Itararé. O sul do Paraná e o planalto catarinense contíguo abrigaria a tradição Casa de Pedra. Em seguida, será apresentada uma breve descrição de como a literatura arqueológica pertinente define cada uma destas tradições ceramistas e quais as distinções apresentadas na descrição da cerâmica em ambas as tradições, procurando justificar o uso do termo Tradição Taquara-Itararé, relacionada às culturas meridionais que ocuparam o planalto sul-brasileiro, distintas da conhecida Tradição Tupiguarani. A Tradição Taquara, segundo Ribeiro (1993, p. 71), é “caracterizada principalmente por uma cerâmica simples e, quando decorada, o é plasticamente (ponteada, pinçada, incisa, ungulada, cestaria impressa), por lítico lascado por percussão direta (talhadores bifaciais, grandes raspadores), polido (lâminas de machado, mãos-de-pilão) e casas subterrâneas nas fases do planalto”. Por outro lado, a Tradição Itararé é definida principalmente pelas características da cerâmica, apresentado como o aspecto mais marcante desta tradição. Conforme Chmyz (1968, p. 118) “os recipientes são de pequeno porte, não havendo muita variação nas formas. Predominam as formas: de meia calota, cônica, meia esfera, esférica e reforçada externamente. As bases são arredondadas, planas e côncavas”. Nesta tradição se inclui a chamada Tradição Casa de Pedra criada por Chmyz (1968), descrever os aspectos locais de uma mesma tradição ou subtradição (Prous, 1992, p.111). As diversas fases e subtradições de cada uma destas Tradições foram sintetizadas em Simões (1972), Schmitz (1988) e Martins e Netto (2002). Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 78 que também foi definida e descrita em seus aspectos mais característicos, baseados exclusivamente na cerâmica, como traço marcante de distinção: a existência de outra tradição de cerâmica simples e com tratamento de superfície polida encontrada em abrigos do Paraná. Segundo o autor, “foi-nos possível reconhecer, até o momento, duas tradições distintas da chamada cerâmica simples. Com base nas ocorrências iniciais e mais características das duas variedades cerâmicas, convencionamos chamá-las, como: Tradição Itararé e Tradição Casa de Pedra” (Chmyz, 1968, p. 115). Conforme Prous (1992, p. 322) a cerâmica Itararé se caracteriza: ...pela raridade da decoração, que nunca atinge 10% dos cacos, e raramente 5%. É uma cerâmica simples que utiliza um antiplástico de areia com quartzo e grãos de hematita de tamanho e quantidade por vezes tão grandes que chegam a prejudicar a qualidade das paredes, que tendem a se desagregar. A quase totalidade dos cacos evidencia uma queima redutora. Os recipientes são pequenos (quase todos têm entre 12 e 20 centímetros de diâmetro maior), com paredes finais (de três até 11 milímetros, e em certas regiões sempre menos de sete); as formas, pouco numerosas, são simples e geralmente mais altas do que largas; existem vasos cônicos, hemisférico, quase cilíndricos, com base arredondada. A cor das paredes vai de tijolo a cinza, geralmente escura, quase preta. A queima é boa e a forma dos cacos sugere que os potes eram normalmente modelados, não roletados. Quando existe decoração, esta parece restrita às partes superiores de vasos particularmente pequenos (menos de 14 centímetros de diâmetro), sendo exclusivamente plástica. O ungulado domina amplamente (41% dos decorados na maior coleção, reunida pelo Pe. Rohr), havendo vários tipos de inciso, ponteado e impressões de cestaria. A presença de engobo vermelho é assinalada, muito raramente, em um ou outro caco. A cerâmica da Tradição Taquara, segundo o mesmo autor (Id., 324), apresenta: ... muitas características em comum; também usando antiplástico de areia, apresenta uma cor tijolo, marrom ou cinza, com um miolo sempre reduzido. As formas se mantêm as mesmas, mas a pasta é mais fina e homogênea do que a dos sítios Itararé. Os vasos não-decorados ainda são modelados, mas E. Miller observa que os decorados foram fabricados com roletes. O fundo interno pode ser plano, apesar de a forma externa ficar arredondada (fase Guatambu). Nos cemitérios sob abrigo há uma porcentagem significativa de engobo vermelho limitado a face interna de vasos abertos. A freqüência da decoração nos cacos é bem maior do que na região setentrional, apesar de não se dispor de dados quantitativos precisos; parece que ultrapassa 50% dos fragmentos coletados em alguns lugares (62% na fase Erveiras). Deve-se levar em conta, porém, que esta alta proporção não significa somente um maior número relativo de potes ornamentados, mas que ela corresponde também ao fato de que quase toda a superfície dos vasilhames é tratada, permanecendo liso apenas o fundo e uma estreita faixa ao longo dos lábios. Os diferentes sistemas de decoração plástica aparecem tanto isolados como combinados, o que é uma particularidade da tradição Taquara-Itararé em relação às outras culturas não-amazônicas. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 79 No caso da tradição Casa de Pedra, a cerâmica, de acordo com Chmyz (1968, p. 121), possui as seguintes características: A técnica utilizada para a confecção dos recipientes foi a acordelada. Os antiplásticos usados foram: areia e grânulos de quartzo hialino entre 1 e 4 mm; aparecem também, bolas de argila queimada, até 3 mm. Os recipientes são em forma de esfera, meia esfera, meia calota e ovóide. Predominam as bases arredondadas e levemente planas. As bordas são extrovertidas, diretas, introvertidas e inclinadas externamente. Os lábios são, na maioria arredondados. Raros apresentam-se apontados. A superfície dos recipientes foi simplesmente alisada. Alguns cacos correspondentes a uma pequena peça, mostrem estrias, talvez acidentais, e somente um, com incisões. Poucos cacos apresentam-se com uma coloração negra brilhante. Mais comum, entretanto, é a cor marrom escuro. Ocorre, ainda, as seguintes tonalidades: amarela, marrom-clara, cinza clara e cinzaescura. A dureza da cerâmica da Casa de Pedra, oscila entre 2,5 e 3,5 predominando a ultima (escala de Mohs). A espessura das paredes varia entre 3 e 23 mm, predominando entre 6 e 7 mm. No entanto, a dificuldade em distinguir estas tradições arqueológicas ou então reunir em uma única tradição, a partir da análise da cultura material, é apontada por vários autores (Schmitz, 1988), pois as informações disponíveis ainda são poucas, aliada a escassez de datas e a existências de lacunas nas pesquisas arqueológicas que contemplem todo o sul do Brasil. Apesar de não haver ainda pesquisas sistemáticas que confirmem a hipótese de se tratar de uma única tradição ceramista, tal teoria tem sido discutida em alguns trabalhos pontuais, como de Miller (1978) que documentou a tecnologia cerâmica dos Kaingang paulista, confrontando com a cerâmica proveniente de sítios arqueológicos do estado de São Paulo. Em sua hipótese de pesquisa, Miller (1978, p. 5) propôs que: “a cerâmica preta lisa, observada [por ele] em sítios arqueológicos no estado de São Paulo, pertence à mesma tradição cerâmica que produzida em tempos históricos pelos índios caingáng paulistas”. Conforme o autor (id., p. 32), as diferenças entre a cerâmica das Tradições Itararé e Casa de Pedra, propostas por Chmyz, se resumem ao antiplástico, no tratamento de superfície e na cor da superfície. “As formas são muito semelhantes entre si, e contrastantes com as Tradições Tupiguarani”. Na conclusão desta pesquisa, o autor (id., p. 30) considera a hipótese como verificada e confirma que “a cerâmica arqueológica não-tupiguarani encontrada no interior paulista e pertencente à tradição cerâmica denominada por I. Chmyz (1968) de Tradição Casa de Pedra, pertence àquela mesma presente entre os índios caingáng paulistas”. Desta forma, estas tradições devem ser pensadas como a mesma tradição, com pequenas diferenças regionais, na medida em que as distinções não se sustentam com tão poucos dados, pois, de acordo com proposta de Miller (1978, p. 33), “as Tradições Cerâmicas Itararé e Casa de Pedra são sub-tradições de uma única tradição cerâmica associada com a utilizada pelos povos de fala caingáng-xokleng conhecidos historicamente”. Prous (1992, p. 230) alerta que a cerâmica arqueológica das tradições Taquara e Itararé Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 80 possuem muitos pontos em comum (dimensões e forma de vasilhames, tipos de decoração), e as diferenças se refletem mais de forma quantitativa do que qualitativa. Neste sentido, Prous (id., p. 312) adota o termo Tradição Taquara/Itararé que “caracteriza-se pela presença de uma cerâmica simples de pequenas dimensões, com parca decoração plástica, e de casa (semi) subterrâneas como forma habitual de residência”. Nos últimos anos, esta questão tem sido levantada e abordada freqüentemente. Neste sentido, Miller (1978, p. 31) considera que devido à “razões de (1) tecnologia, (2) formas e (3) distribuição em espaço e em tempo, estamos mais do que inclinados a considerar que todas as tradições regionais não-tupiguaranis desde o planalto riograndense (incluindo o litoral sul-riograndense) até a bacia do Tietê, devem ser consideradas como uma única tradição cerâmica”. Atualmente, há a tendência de se considerar estas tradições ceramistas como uma grande tradição meridional com subtradições regionais, sendo comumente empregado o termo Itararé/Taquara ou vice-versa. Para Prous (1992, p. 230): ...esta cerâmica escura simples, de vasos pequenos, geralmente bem queimados e textura densa, parece integrar uma ‘onda’ que ultrapassa de longe o Brasil meridional e o norte argentino para se estender no Brasil central, onde se associa a padrões culturais distintos. Provavelmente, um dia será possível associar esta grande ‘onda’ à dispersão antiga dos Jês: meridionais (Taquara-Itararé) e centrais (tradição Una e formas aparentadas). Concordando com Schimtz (1988, p.75), conclui-se que: Apesar de comumente se usarem estes nomes, como identificadores de três tradições cerâmicas, não todos os pesquisadores estão de acordo em que as diferenças na técnica de produção, na forma e na decoração dos vasilhames sejam suficientemente distintos para fundamentar tradições. (...) Por enquanto é bastante claro que o conjunto forma uma tradição tecnológica e cultural, que ocupa diferentes ambientes contíguos.. 4.1.2. Processo de análise e lista de atributos O processo de análise do material cerâmico consta da avaliação de uma série de critérios tecno-tipológicos sintetizados na “Lista de Atributos para Análise Cerâmica”, adaptada para o material cerâmico em questão, associado na arqueologia brasileira à Tradição Taquara/Itararé. Esta lista foi organizada em quatro grupos principais de atributos: informações básicas, modo de produção, acabamento de superfície e morfologia; estes atributos estão subdivididos em itens com as respectivas variações. Para cada variante de um item de análise, atribui-se um número-código em ordem crescente, o qual é empregado na “Tabela de Análise do Material Cerâmico”, correspondendo Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 81 ao atributo identificado na análise. Os critérios tecno-tipológicos empregados na análise deste material serão apresentados a seguir, com suas respectivas definições, conforme a terminologia arqueológica adotada, baseada em Chmyz (1966 e 1969), La Salvia e Brochado (1989) e Souza (1997). No item informação básica, são identificados os dados referentes à peça analisada: Nº. de fragmentos: quantidade de cacos; Remontagem ou conjunto: número dos fragmentos que foram agrupados; Quadrícula, poço teste ou trincheira: identificação horizontal do local de procedência da peça; Nível: profundidade, localização vertical da peça; e O modo de produção engloba os seguintes itens: A) Técnica de confecção: são “as ações exercidas para a fabricação de uma vasilha” (La Salvia e Brochado, 1989, p. 11). Cada técnica deixa suas marcas. No caso do modelado, os fragmentos cerâmicos quebram-se de forma irregular; enquanto que, no acordelado a fratura é regular, com fragmentos retangulares, evidenciando os pontos de junção dos roletes, sendo muitas vezes visíveis o positivo e o negativo do rolete. A técnica de confecção compõese dos seguintes subitens: 1-Indefinido: quando não é possível identificar a técnica de confecção devido, principalmente, ao tamanho diminuto do fragmento cerâmico; 2-Acordelado, também conhecido por roletado ou anelado. “Técnica de confecção da cerâmica que consiste na superposição helicoidal de roletes de pastas de comprimento variável, partindo da base ou de uma porção de barro modelado para tal fim, até construir a parede do vaso. Mais de 90% da cerâmica pré-histórica brasileira (excluindo-se a Amazônia), foi confeccionada com esta técnica” (Souza, 1997, p. 12); 3-Modelado: “Técnica de manufatura, à mão livre, a partir de massa informe, até atingir a forma desejada” (Chmyz, 1966, p. 16); e 4-Outro: se for identificada outra técnica de confecção que não as típicas da Tradição Taquara. B) Antiplástico ou tempero: “Matéria introduzida, intencionalmente ou não, na pasta para conseguir condições técnicas propícias a uma boa secagem e cocção, como cacos triturados, areia fina, quartzo, conchas, cauixi, cariapé, osso, etc.” (Chmyz, 1966, p. 20). Identifica-se a composição dos elementos não-plásticos, se continha elementos minerais, cacos cerâmicos moídos ou outros elementos e sua respectiva espessura. Compõem-se dos seguintes Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 82 subitens: 1 - Mineral fino (< 5mm); 2 - Mineral grosso (> 5mm); 3 - Caco moído; 4 - Hematita; e 5 - Mica. C) Composição: No caso do tipo mineral, o antiplástico mais comum, identificou-se quais os minerais que foram encontrados: 1 - Hematita; 2 - Quartzo Branco; 3 - Quartzo Hialino; 4 - Calcedônia; 5 - Mica; 6 - Feldspato; 7 - Indefinido; e 8 - Basalto. D) Queima: “Processo físico-químico que consiste em transformar a pasta em cerâmica, por meio de elevação de temperatura, durante o qual a maior ou menor presença de oxigênio determina a oxidação ou redução, evidenciada pela textura e cor da cerâmica” (Chmyz, 1966, p. 18). O resultado do processo de queima da argila depende de uma série de variáveis: tipo de fogueira, tipo de combustível e temperatura, tempo da queima e tratamento pós-queima, conforme Wust (s./d.) explica: A maioria dos grupos nativos da América desconhece fornos, em lugar disso se usam fogos abertos. O fogo queima durante várias horas, sendo que poucos recipientes se perdem se são adequadamente secados e corretamente empilhados dentro da fogueira. Pode-se aquecer a cerâmica antes da queima. Após a queima também se deixa esfriar bem antes de tirar da fogueira. Os tipos de combustão empregados na queima da cerâmica podem fornecer temperaturas mais ou menos quentes. Chamas altas ou baixas, mais ou menos fumaça etc. Estas escolhas dependem das variáveis anteriores e das técnicas da queima (aberto ou fechada). Podem se empregar também no processo de queima diversos tipos de madeiras diferentes, conforme o estágio da queima. Os tipos de queima redutora ou oxidante indicam o processo como a argila foi Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 83 queimada, resultando na cerâmica. A fase inicial da queima é reduzida. Somente quando da retirada da cobertura de lenha, já na fase final do processo de queima, é que acontece a oxidação. A queima reduzida é quando acontece em atmosfera abafada, sem a presença de oxigênio. Neste caso, “os pigmentos de ferro, quase sempre presentes, tornam-se escuros, e a pasta torna-se preta em toda a sua espessura” (Prous, 1992, p. 94). Se a retirada da cobertura de lenha for realizada rapidamente “a cerâmica terá sofrido uma queima quase que totalmente redutora: somente no último instante terá havido entrada suficiente de oxigênio para reoxidar os pigmentos de ferro, e apenas na superfície, que começa a clarear. A cerâmica obtida dessa maneira terá um miolo preto que ocupa quase toda a secção da parede (...). A textura está intrínseca ao processo de queima, pois ”não tendo o calor chegado a ser muito grande, a textura da cerâmica costuma apresentar-se ainda algo porosa, e a sua resistência à quebra será relativamente grande” (Id). Mas se por outro lado, “for facilitada uma entrada prolongada de ar, a oxidação vai progredir da superfície até o miolo, podendo ser total. Se isso chegar a acontecer, o corte dos cacos se mostrará claro, da mesma cor que a superfície, (...) e o vasilhame será mais frágil” (Id.). A queima redutora pode ser parcial, ou seja, com oxidação parcial, quando o perfil do fragmento apresentar um miolo escuro com faixas claras em ambas as faces, pois a oxidação ocorre da superfície em direção ao miolo, e neste caso não o clareando totalmente. Compõemse dos seguintes subitens, conforme descrição acima: 1 - Oxidação total; 2 - Oxidação externa/interna com presença de núcleo; 3 - Oxidação externa com núcleo interno; 4 - Oxidação interna com núcleo externo; e 5 - Redutora. Em caso de oxidação parcial, foi medida a espessura do núcleo, da faixa clara na face externa e na face interna. E) Espessura do núcleo F) Espessura da faixa clara face externa G) Espessura da faixa clara face interna H) Espessura máxima do fragmento: A espessura da parede foi medida com o auxílio de um paquímetro. O terceiro grupo analisado é o acabamento da superfície2, no qual foram avaliadas as 2 “Tratamento aplicado à superfície das paredes dos recipientes cerâmicos” (La Salvia & Brochado, 1989, p. 25). Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 84 seguintes categorias: A) Dureza: “Determinação ou julgamento do grau de resistência da cerâmica ao risco, quebra ou choque” (Chmyz, 1966, p. 13). O grau de dureza da parede da cerâmica é medido segundo a Escala Mineralógica de Friedrich Mohs, entre as faixas de 2 a 5 (2 - Gipsita, 3 – Calcita, 4 – Fluorita e 5 – Apatita). Na ausência do mineral Gipsita, indicativo do grau 2, convencionou-se o emprego de “< 3” para indicar dureza inferior ao grau 3, podendo tratar-se do grau 2 ou 2,5. Compõem-se dos seguintes subitens: 1 - grau < 3; 2 - grau 3; 3 - grau 4; e 4 - grau 5. B) Estado de conservação: é avaliado se o fragmento encontrava-se com a superfície erodida ou não. Em caso positivo, identifica-se em qual superfície o processo de desagregação ocorreu, na face externa, na face interna ou em ambas as faces, e qual a intensidade; se foi parcial, ou seja, se a superfície está parcialmente erodida, possibilitando ainda verificar alguns itens; ou se é total, em que a superfície está totalmente erodida em ambas as faces. Neste caso, em que a desagregação da superfície foi total, impossibilitou analisar qualquer item, pois a superfície estava inexistente, sendo assim classificado como missing3. Compõem-se dos seguintes sub-itens: 0 - Não erodido; 1 - Missing (Ambas as Faces Totalmente Erodidas); 2 - Ambas as Faces Parcialmente Erodidas; 3 - Face Interna Totalmente Erodida; 4 - Face Interna Parcialmente Erodida; 5 - Face Externa Totalmente Erodida; 6 - Face Externa Parcialmente Erodida; 7 - Face Interna Parcialmente e Face Externa Totalmente Erodida; e 8 - Face Interna Totalmente e Face Externa Parcialmente Erodida. C) Cor da face externa: é somente indicada a cor correspondente na face externa dos fragmentos cerâmicos analisados, baseado no Code des Couleurs des Sols (Cailleux, s/d). D) Código da cor face externa: código empregado para identificar a cor, segundo o Code des Couleurs des Sols. 3 Palavra de origem do inglês que significa perdido, ausente, que falta. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 85 E) Cor da face interna: igual ao item “C”, somente referente à face interna. F) Código da cor face interna: igual ao item “d”, somente referente à face interna. No tratamento da superfície4, analisa-se a ocorrência e em qual superfície (face externa, interna ou ambas as faces) dos seguintes itens: G) Alisamento: “Processo de nivelação da superfície das peças cerâmicas podendo variar em grau, como superfícies bem alisadas, regulares e irregulares” (Chmyz, 1966, p. 7); H) Brunidura: “É um revestimento (geralmente após a queima) de cera e fuligem para dar uma cor preta ou melhorar a impermeabilidade” (Prous, 1992, p. 92).; I) Barbotina: “É um revestimento superficial de argila mais refinada, aplicada à cerâmica antes da queima” (La Salvia e Brochado, 1989, p. 17); e J) Engobo: É um banho que não é de argila, mas de tinta, e que recobre a totalidade da superfície” (Prous, 1992, p. 92). K) Marca de uso: neste item é verificada a presença de sinais de queima na superfície da cerâmica e em qual face (externa, interna ou em ambas as faces), segundo os seguintes subitens: 1 - Fuligem externa; 2 - Queima interna; 3 - Restos de alimentação carbonizados no interior; 4 - Gordura Externa; 5 - Gordura interna; 6 - Queima interna e externa; e 7 – Queima externa. L) Decoração: A decoração é avaliada e identificada se é do tipo: 1 - Simples: sem decoração, com superfície lisa; 2 - Plástica: “É aquela que resulta da modificação tridimensional da superfície da parede de uma vasilha com argila ainda moldável e anterior à queima” (La Salvia e Brochado, 1989, p. 35); e 3 - Não Identificável. M) Tipo de decoração plástica: em caso da decoração plástica, classifica-se qual o tipo: 4 Tratamento de superfície - “Processo de acabamento das superfícies” (Chmyz, 1966, p. 20) Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 86 1 - Ungulado horizontal5: “Tipo de decoração composta de incisões produzidas pelas unhas sobre a superfície cerâmica” (Chmyz, 1969, p. 20); 2 - Ungulado vertical6; 3 - Pinçado vertical (beliscado): “Tipo de decoração que consiste em imprimir marcas espaçadas pela ação contrátil e simultânea das pontas de unha dos dedos, em sentido oposto, na superfície da cerâmica, como se fosse beliscada” (Ribeiro, 1977, p. 56); 4 - Pinçado horizontal; 5 - Ponteado: “Tipo de decoração feito com pontas, deixando marcas independentes, podendo ser de várias formas e tamanhos“ (Ribeiro, 1977, p. 56); 6 - Ponteado arrastado: “Tipo de decoração executada com um instrumento interligando ponto e sulco (ao realizar a decoração ponteada houve uma pressão lateral sem levantar o instrumento)” (Ribeiro e Ribeiro, 1985, p. 65); 7 - Impressão de corda ou marcado com corda: “Tipo de decoração em que a cerâmica, antes de ser queimada, é marcada com cordas” (Chmyz, 1969, p. 16); 8 - Impressão de malha, marcado com malha ou malha impressa: “Tipo de decoração em que se imprime na superfície externa da cerâmica marcas de malhas de rede” (Chmyz, 1966, p. 16); 9 - Impressão de cestaria ou marcado com cestaria: Tipo de decoração em que a cerâmica é marcada por cestaria, antes de ser queimada, podendo ser do tipo espiralado; 10 - Digitado: “Tipo de decoração que consiste em imprimir a ponta do dedo na superfície do vasilhame” (Souza, 1997, p. 45); 11 - Inciso: “Tipo de decoração plástica que consiste em incisões praticadas por meio da extremidade aguçada de instrumentos de diferentes formatos e dimensões na superfície da pasta ainda úmida. Estas incisões de dimensões variadas, em comprimento, largura e profundidade, podem apresentar secções regulares ou irregulares, dependendo da resistência da superfície no momento da operação e das características da extremidade do instrumento utilizado” (Chmyz, 1969, p. 15); 12 - Inciso zig-zag: “Tipo de decoração em que se imprime marcas contínuas, em zigzag, conseguidas fazendo avançar um instrumento em forma de lâmina com movimento de semirotação. Alternada, da direita para a esquerda e vice-versa” (Chmyz, 1966, p. 15); 13 - Inciso losangulado: Conjunto de incisões oblíquas em relação ao eixo da peça, para direita e para esquerda, cruzando-se, formando losângulos; 14 - Inciso oblíquo: Conjunto de traços incisos paralelos realizados no sentido oblíquo ou para direita ou para a esquerda, sem se cruzar; 5 6 Horizontal – A decoração foi realizada em posição horizontal em relação ao eixo longitudinal da peça. Vertical – A decoração foi realizada em posição vertical em relação ao eixo longitudinal da peça. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 87 15 - Estocado retangular vertical: Carimbo impresso sobre a pasta da cerâmica, com conjunto de motivos que se repetem, podendo ser com forma de retângulos, quadrados, círculos, etc...; 16 - Estocado retangular horizontal; 17 - Inciso paralelo: Conjunto de traços incisos realizados paralelos horizontalmente ao eixo da peça. Há uma série de variações para este tipo de decoração, podendo compor com outros padrões decorativos; 18 - Ungulado com posição oblíqua em relação à borda; 19 - Estocado quadrangular; 20 - Ungulado arrastado vertical; 21 - Ungulado arrastado horizontal; 22 - Carimbado: “Tipo de decoração em que se imprime, na pasta úmida, a marca de um instrumento ou objeto: concha, taquara, folhas, etc.” (Souza, 1997, p. 33); 23 - Impossível definir: “Os fragmentos que, por um processo de erosão e/ou pequeníssimas dimensões, não permitiram uma identificação segura” do motivo da decoração (Ribeiro e Ribeiro, 1985, p. 67); 24 - Inciso losangulado acrescido de linhas paralelas; 25 - Inciso xadrez: Conjunto de incisões verticais e horizontais em relação ao eixo da peça, com linhas que se cruzam formando um tabuleiro de xadrez; 26 - Inciso não identificado: Tipo de incisão que poder ser atribuído a vários padrões, não sendo possível identificar com certeza o tipo; 27 - Inciso paralelo vertical: Conjunto de traços incisos realizados paralelos verticalmente ao eixo da peça. Há uma série de variações para este tipo de decoração, podendo compor com outros padrões decorativos; 28 - Inciso paralelo horizontal; 29 - Estocado semi-circulo vertical; e 30 - Estocado oval. Tem-se ainda, além da decoração plástica, a pintada7, com uma grande gama de variações, mas que é inexistente na cerâmica da Tradição Taquara. Nos fragmentos com decoração plástica na superfície, esta é encontrada somente na superfície da face externa. N) Localização da decoração: identificação da superfície da vasilha coberta com a 7 Pintado – “Tipo de decoração executada antes ou depois da queima, com pigmentos minerais ou vegetais, diretamente sobre a superfície a preparar ou sobre engobo ou banho, previamente aplicado. Pode ser executada tanto na superfície interna como na externa, cobrindo toda ou parte das mesmas” (Chmyz, 1969, p. 17). Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 88 decoração plástica: 1 - Todo corpo; 2 - Em faixa cobrindo 50% da peça; 3 - Em faixa cobrindo 25% da peça; 4 - Impossível determinar; e 5 - Zonal (sem identificar porção). O quarto grupo que é avaliado no estudo de um fragmento cerâmico é a morfologia, que analisa basicamente a tipologia do fragmento e, no caso de reconstrução gráfica da forma da vasilha, uma série de itens relacionados à forma. A morfologia divide-se em: A) Natureza da peça: neste item o fragmento é classificado segundo a parte da vasilha a que a peça corresponde: 1 - Borda: “Parte superior do vaso” (Ribeiro, 1977, p. 51); 2 - Base: “Parte inferior, de sustentação do vaso” (Chmyz, 1969, p. 8); 3 - Bojo: “Parte de maior diâmetro externo do vaso” (Chmyz, 1969, p. 10); 4 - Ombro: “Parte de maior diâmetro externo do vaso” (Chmyz, 1969, p. 10); 5 - Ponto de inflexão; 6 - Perfil completo; 7 - Indefinido; 8 - Tortual de fuso; 9 - Vasilha (inteira); 10 - Pescoço: ”Parte estrangulada intermediária entre a boca e o corpo de uma peça cerâmica” (Chmyz, 1969, p. 17); 11 - Parte de Vasilha Inferior (Base e Bojo); e 12 - Parte de Vasilha Superior (Bojo e Borda). B) Forma da borda: A borda tem a seguinte variedade: 1 - Direta8 vertical; 2 - Direta inclinada externa; 3 - Direta inclinada interna; 4 - Extrovertida vertical; 5 - Extrovertida inclinada externa; 8 “Borda direta ou não modificada, que continua a curvatura da parede do corpo” (Meggers & Evans, 1970, p. 45) Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 89 6 - Introvertida vertical; 7 - Cambada; e 8 - Expandida. C) Abertura da borda: 1 - Restringida; e 2 - Não restringida. D) Reforço de borda: “Borda reforçada pela adição de uma camada de argila, a qual é atenuada até obliterar a união” (Meggers e Evans, 1970, p. 45). 1 - Ausente; 2 - Externo; 3 - Interno; e 4 - Externo e interno. E) Forma do lábio9: A extremidade superior da borda é chamada de lábio, que possui a seguinte variedade, segundo sua aparência: 1 - Plano; 2 - Arredondado; e 3 - Apontado. F) Forma da base: As bases podem ser dos seguintes tipos, segundo a aparência: 1 - Plana; 2 - Arredondada; 3 - Côncava; 4 - Convexa; 5 - Pedestal; 6 - Cônica; e 7 - Indefinida. H) Forma do ombro: 1 - Simples; e 2 - Convexo. 9 Lábio – “É a extremidade da borda, por onde corre o conteúdo quando a vasilha fica inclinada” (Prous, 1992, p. 95). Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 90 J) Forma do pescoço: 1 - Côncavo; 2 - Anguloso; e 3 - Retilíneo. As categorias ombro e pescoço não são muito comuns na cerâmica da Tradição Taquara. Muitas das categorias de borda, lábio e base não estão representados no material cerâmico estudado. K) Apêndices: 1 - Asa: “Apêndice compacto para suspender o vaso, podendo ser vertical ou horizontal, mas usualmente colocado lateralmente, podendo ser único ou duplo (em lados opostos)” (Souza, 1997, p. 20); e 2 - Furo de suspensão: Furo realizado na parede da vasilha próximo a borda com a finalidade de suspendê-la. L) Diâmetro da boca10: Para medir o diâmetro ou abertura de boca, usa-se a Escala de Círculos Concêntricos, também chamada de Ábaco, que é graduada em intervalos de 2 cm. M) Reconstrução gráfica da vasilha: A reconstrução da forma da vasilha só é possível quando se obtém o diâmetro da boca e a inclinação da borda. 1 - Sim; e 2 - Não. N) Contorno: O contorno da vasilha pode ser do tipo: 1 - Simples; 2 - Inflectido; 3 - Composto; e 4 - Complexo. O) Forma da vasilha: Quando a forma da vasilha é reconstituída através de desenho técnico, mede-se a respectiva altura, o maior diâmetro do bojo e do pescoço. A forma da vasilha é identificada segundo a sua aparência: 1 - Esférica; 2 - Meia esfera; 3 - Cônica; 10 Boca – Abertura do vaso. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 91 4 - Ovóide; 5 - Elipsóide; 6 - Meia Calota; 7 - Semi-Ovóide, e 8 - Cilíndrica. P) Volume da vasilha: O volume que a vasilha comportaria é calculado a partir da fórmula descrita em Rice (1987) e Senior e Birnie (1995, p. 323). Q) Categoria de volume: segundo o volume: 1 - 0-1 litro; 2 - 1-2 litros; 3 - 2-5 litros; 4 - 5-10 litros; 5 - 10-20 litros; e 6 - 20-50 litros. Os resultados da análise do material cerâmico, segundo as categorias anteriormente descritas, serão apresentados a partir da tabulação dos dados obtidos e da elaboração de gráficos demonstrativos dos índices constatados. 4.1.3. PCH Plano Alto Dos dez sítios arqueológicos estudados na PCH Plano Alto, seis apresentaram material cerâmico, que foram os sítios: SC-PA-04, SC-PA-05, SC-PA-06, SC-PA-08, SC-PA-09 e SCPA-12, que totalizaram 83 fragmentos cerâmicos coletados, distribuídos conforme o gráfico 1. 3 SC-PA-04 3 SC-PA-05 39 SC-PA-06 SC-PA-08 35 SC-PA-09 1 2 SC-PA-12 Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 92 Gráfico 1: Distribuição do material cerâmico por sítio arqueológico na PCH Plano Alto. O quadro 2 expressa a quantificação do material cerâmico por sítio arqueológico e por morfologia e decoração. Decor. Morfologia Tipo Sítio SC-PA-04 SC-PA -05 SC-PA-06 SC-PA-08 SC-PA-09 SC-PA-12 TOTAL Bojo 30 2 1 28 3 3 67 Borda 6 0 0 7 0 0 13 Base 2 0 0 0 0 0 2 Indefinido 1 0 0 0 0 0 1 Decorado 12 2 1 24 2 0 54 Simples 25 0 0 8 1 3 24 Indefinido 2 0 0 3 0 0 5 39 2 1 35 3 3 83 11 Total Quadro 2: Quantificação do material cerâmico por morfologia e decoração nos sítio arqueológicos na PCH Plano Alto. Conforme o quadro 2, no sítio SC-PA-04 coletaram-se 81 fragmentos cerâmicos, que remontados reduziram para 39 o total de peças analisadas. No sítio SC-PA-05 foram coletados somente três fragmentos cerâmicos, sendo que dois remontaram, reduzindo para dois cacos procedentes de um poço teste. Nos sítios SC-PA-06, SC-PA-09 e SC-PA-12 a situação é a mesma, somente três fragmentos, sendo que no sítio SC-PA-06 todos foram remontados. No sítio SC-PA-08, a cerâmica é procedente de coletas de superfície, sendo possível remontar oito fragmentos cerâmicos, reduzindo a amostra para um total de 35 fragmentos. . 11 Fragmentos isolados ou remontados. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 93 40 35 30 25 20 15 10 5 0 S 1 2 6 7 30 28 2 PA C- 4 -0 40 35 30 25 20 15 10 5 0 A -P SC -0 Bojo 5 S 3 1 PA C- 6 -0 Borda S PA C- Base 8 -0 S PA C- 9 -0 S 3 PA C- 2 -1 S PA C- 2 3 8 25 24 12 2 4 -0 S Indefinido PA C- 5 -0 A -P SC Decorado Gráfico 2: Quantificação do material cerâmico por morfologia nos sítios arqueológicos na PCH Plano Alto. 1 2 1 6 -0 A -P SC Simples 8 -0 A -P SC 9 -0 A -P SC 3 2 -1 Indefinido Gráfico 3: Quantificação do material cerâmico por decoração nos sítios arqueológicos na PCH Plano Alto. 4.1.3.1. SC-PA-04 O sítio SC-PA-04 totalizou 39 fragmentos cerâmicos, distribuídos entre a superfície e o nível 70-80 cm, conforme apresentado no gráfico 4. Chama a atenção que a maior parte do material concentra-se entre 30-40 e 50-60 cm, profundidade esta não comum em sítios litocerâmicos da Tradição Taquara/Itararé. 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 10 9 9 7 2 1 0 1 0 c ie cm cm cm cm cm cm cm cm r fi 0 0 0 0 0 0 0 0 e -8 -7 -6 -5 -4 -3 -2 -1 p 0 0 0 0 0 0 0 0 u 7 6 5 4 3 2 1 s Gráfico 4: Distribuição do material cerâmico por nível no sítio SC-PA-04. A técnica de confecção foi na maioria dos fragmentos do tipo modelado (24), apesar de não ter sido possível identificá-la em 15 casos, classificados como indefinidos. O antiplástico é do tipo mineral fino (< 5 mm) e um caso com mineral grosso (> 5 mm). A queima apresentou-se na maioria dos fragmentos como oxidação total (32), e nos Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 94 demais como redutora (6) e oxidação externa/interna com presença de núcleo (1). O estado de conservação dos fragmentos cerâmicos é no geral razoável, conforme demonstrado no gráfico 5, apresentando índices consideráveis de não erodidos e somente em pequena quantidade têm-se ambas as faces parcialmente erodidas; face externa parcialmente erodida e face externa totalmente erodida. Não erodido 8 Ambas Faces Parcialmente Erodidas Face Externa Totalmente Erodida Face Externa Parcialmente Erodida 2 1 28 Gráfico 5: Estado de conservação do material cerâmico. A espessura da parede dos fragmentos variou entre 0,5 cm e 1,2 cm, conforme o gráfico 6, sendo a maioria com espessura entre 0,5 cm e 0,8 cm. 12 12 10 8 7 7 6 4 3 2 1 1 1 1 0 5 0, cm 6 0, cm 7 0, cm 8 0, cm 9 0, cm 1 cm 1 1, cm 2 1, cm Gráfico 6: Espessura do material cerâmico. Quanto ao tratamento de superfície, observou-se brunidura em apenas três fragmentos, sendo um na face externa e dois na face interna. A barbotina se apresenta na maioria dos casos em ambas as faces (31). As marcas de uso observadas foram de resto de alimentação carbonizada no interior em 18 cacos, indicando que estas vasilhas foram utilizadas para cozinhar alimentos. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 95 Fotos 196 e 197: Fragmentos cerâmicos com resto de alimentação carbonizada na face interna, formando uma crosta escura. A decoração plástica foi identificada em 12 fragmentos neste sítio, sendo os demais simples (25) e não identificado (2). Os tipos decorados existentes foram: beliscado ou pinçado, inciso com linhas paralelas verticais ou oblíquas, ungulado, carimbado e ponteado. Em alguns fragmentos observou-se que a decoração era zonal, desenhos “h”, “i” e “j” da figura 07. Destaca-se na foto 201, a decoração zonal ponteada formando uma faixa próxima do lábio e outra faixa vertical em direção a base. O conjunto de fragmentos decorados zonal carimbado (foto 203) apresenta uma larga faixa entre o lábio e próximo da base, ocupando a maior parte do bojo da vasilha. Foto 198: Fragmentos com superfície Foto 199: Fragmento de borda com simples, sendo um brunido (inf. dir.). decoração pinçada ou beliscada. O conjunto de fragmentos com decoração incisa obliqua (foto 202 e figura 8) é composto de pelos menos três faixas decorativas, seguindo a ordem do lábio em direção à base: 1ª) linhas incisas paralelas obliquas para a direita, 2ª) linhas incisas paralelas obliquas Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 96 para a esquerda, e 3ª) faixa incisa de linhas se cruzando formando losangulados. Observa-se neste caso que a decoração ocupa toda a área da porção da vasilha existente, não havendo uma faixa de intervalo nem próxima ao lábio. Foto 200: Fragmentos cerâmicos com Foto 201: Borda com decoração zonal decoração beliscada (inf.) e ungulada ponteada. “arrastada” (sup.). Foto 202: Conjunto cerâmicos incisos losangulado. de fragmentos Foto 203: oblíquos e cerâmicos carimbada. Conjunto de fragmentos com decoração zonal Quanto à morfologia dos fragmentos cerâmicos, segundo o gráfico 2 (ver pág. 90), a grande parte é composta por bojo, perfazendo um total superior a 70%, até porque a vasilha possui uma área muito maior de corpo que nas demais áreas. Enquanto que poucas são as bordas (6), e menos ainda as bases (2). Os tipos de borda encontrados foram direta vertical (3), direta inclinada externa (1), direta inclinada interna (1) e extrovertida vertical (1), todas com abertura não restringida. Quanto ao item reforço de borda, na maioria das bordas é ausente, e na única em que há, este se encontra na face externa. O lábio apresentou formato arredondado (4) e apontado (2). Os dois fragmentos de base têm forma plana (ver figura 9). Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 97 c) b) a) e) f) g) d) i) h) j) Desenho: Ana Lucia Herberts Figura 7: Fragmentos decorados no sítio SC-PA-04: a-c) beliscado ou pinçado, d) inciso paralelo vertical, e) inciso oblíquo, f – g) ungulado, h) carimbado, i – j) ponteado. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 98 Desenho: Ana Lucia Herberts Figura 8: Fragmentos de uma mesma vasilha combinando decoração incisa obliqua direita, esquerda e losangulada. Desenho: Ana Lucia Herberts Figura 9: Desenho de base plana. O diâmetro das bordas nas quais tal inferência foi possível, foi de 8 cm, 12 cm e 24 cm. Estas três tiveram sua forma reconstituída, apresentando formato ovóide (1) e elipsóide (2), e contorno simples, conforme se observa na figura 10. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 99 c) b) a) Desenho: Ana Lucia Herberts 3D: Letícia Morgana Müller Figura 10: Formas reconstituídas das vasilhas: a) ovóide, b-c) elipsóide. As informações referentes ao diâmetro da boca, ao tipo de borda, a forma e o volume das vasilhas reconstruídas são apresentadas no quadro 3. Desenho Nº. da peça Decoração Diâmetro da boca Tipo de borda Forma Volume em ml. a 12 e outros Comp. Incisos 24 cm Direta vertical Ovóide 6.807 b 15 e outros Carimbado 12 cm Extrov. vertical Elipsóide 890 c 43 e outros Ponteada 8 cm Direta inclin. ext. Elipsóide 288 Quadro 3: Relação das vasilhas reconstruídas graficamente com o respectivo volume. 4.1.3.2. SC-PA-05 Os dois fragmentos cerâmicos deste sítio são partes de bojos decorados, provavelmente pertencentes a mesma vasilha, com espessura que varia de 5 a 6 mm. A decoração é do tipo ponteada. A técnica de confecção é modelada, o antiplástico mineral, e a queima do tipo oxidação total. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 100 Desenho: Adelson André Brüggemann Foto 204: Fragmentos cerâmicos de bojos decorados. Figura 11: Reprodução da decoração ponteada. 4.1.3.3. SC-PA-06 Os três fragmentos cerâmicos remontados deste sítio são partes de bojos decorados, com espessura de 7 mm. A decoração é do tipo incisa não identificada, apresentando pequenos “riscos” oblíquos e verticais. A técnica de confecção é modelada, o antiplástico mineral, a queima do tipo oxidação interna (3 mm) com núcleo externo (4 mm), com a presença de barbotina em ambas as faces. Desenho: Ana Lucia Herberts Foto 205: Fragmentos cerâmicos de bojos decorados, sítio SC-PA-06. Figura 12: Reprodução da decoração do tipo incisa não identificada. 4.1.3.4. SC-PA-08 O sítio SC-PA-08 totalizou 35 fragmentos cerâmicos, distribuídos entre a superfície e o 0-10 cm. Portanto, trata-se de um sítio lito-cerâmico bastante raso. A técnica de confecção foi na maioria dos fragmentos do tipo modelado (34) e um acordelado, tratando-se de uma borda. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 101 O antiplástico é do tipo mineral fino (< 5 mm) e um caso com mineral grosso (> 5 mm). A queima apresentou-se na maioria dos fragmentos como oxidação total (29), e os demais como oxidação externa com núcleo interno (3) e oxidação externa/interna com presença de núcleo (2). O estado de conservação dos fragmentos cerâmicos é no geral razoável, conforme demonstrado no gráfico 7, apresentando índices consideráveis de não erodidos e somente em pequena quantidade têm-se ambas faces parcialmente erodidas; face externa parcialmente erodida e face interna parcialmente erodida e externa totalmente erodida. 1 6 Ambas Faces Parcialmente Erodidas 2 Face Externa Parcialmente Erodida 26 Face Interna Parcialmente e Face Externa Totalmente Erodida Gráfico 7: Estado de conservação do material cerâmico. A espessura da parede dos fragmentos variou entre 0,3 cm e 1 cm, conforme o gráfico 8, sendo a maioria com espessura entre 5 cm e 7 cm. 12 11 10 8 7 6 6 4 4 3 2 2 1 1 0 3 0, cm 4 0, cm 5 0, cm 6 0, cm 7 0, cm 8 0, cm 9 0, cm 1 cm Gráfico 8: Espessura do material cerâmico. Quanto ao tratamento de superfície, observou-se brunidura em apenas três fragmentos, sempre na face interna. A barbotina se apresenta na maioria dos casos em ambas as faces (29). Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 102 As marcas de uso observadas foram de queima interna (6) e resto de alimentação carbonizada no interior (1). A decoração plástica foi identificada em 24 fragmentos neste sítio, sendo os demais simples (8) e não identificado (3). A decoração plástica obteve índices elevados em relação a fragmentos simples, isto indica que a maior parte da parede da vasilha entre a base e o lábio era decorada, e não somente uma faixa. Os tipos decorados identificados foram: inciso zig-zag (3), inciso losangulado (3), inciso obliquo (10), inciso xadrez (1), inciso não identificado (7), e impossível definir (1). Chama a atenção a grande quantidade de decorados, empregando somente variações do padrão inciso, na sua grande maioria composta por linhas paralelas. Em dois fragmentos observou-se que a decoração era zonal, desenhos “w” e “z” da figura 13. Foto 206: Fragmentos de cerâmica com Foto 207: Fragmento com decoração decoração incisa não identificada. incisa não identificada. Foto 208: Fragmentos cerâmicos com Foto 209: Fragmentos com decoração decoração incisa em zig-zag. incisa losangular. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 103 Foto 210: Fragmento de borda com Foto 211: Fragmentos com decoração decoração incisa oblíqua. incisa obliqua. a) b) h) c) i) j) d) l) r) p) e) m) f) g) n) o) t) s) u) q) z) z) y) * w) v) Desenho: Ana Lucia Herberts e Adelson André Brüggemann (*) Figura 13: Variações de fragmentos com decoração incisa: a-c) inciso em zig-zag; d-m, v) inciso oblíquo; n-u) inciso não identificado; w) inciso xadrez; z-y) inciso losangulado. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 104 O fragmento “v” da figura 13 é composto por várias linhas incisas oblíquas tanto para a direita quanto para a esquerda. Quanto à morfologia dos fragmentos cerâmicos, segundo o gráfico 2 (ver pág. 90) a grande parte é composta por bojo, perfazendo um total superior a 80%, poucas são as bordas (7), e nenhuma base. Os tipos de borda encontrados foram direta vertical (5) e direta inclinada externa (2), todas com abertura não restringida. Quanto ao item reforço de borda, na maioria das bordas é ausente (4), e três possuem reforço na face externa. O lábio apresentou formato arredondado (5) e plano (2). A única vasilha reconstituída apresentou diâmetro de boca de 10 cm, borda direta vertical, forma elipsóide, decoração incisa obliquo e volume de 800 ml. As demais bordas não permitiram inferir a o diâmetro da boca, não sendo possível assim reconstituir a forma. Figura 14: Forma de vasilha elipsóide reconstituída no sítio SC-PA-08. Desenho: Ana Lucia Herberts 3D: Letícia Morgana Müller 4.1.3.5. SC-PA-09 Os três fragmentos cerâmicos deste sítio são partes de bojos provenientes de coleta de superfície, com espessura de 5, 7 e 8 mm. A técnica de confecção é modelada, o antiplástico mineral, composto de calcedônia, basalto e quartzo hialino. A queima do tipo oxidação total (2) e oxidação interna e externa com presença de núcleo externo (1). O estado de conservação é precário, apresentado um das faces ou ambas as faces erodidas. Dois fragmentos possuem ainda a barbotina na face interna e um, restos de alimentação carbonizados no interior. Dois são decorados, mas não sendo possível identificar o tipo devido a superfície erodida. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 105 Foto 212: Fragmentos cerâmicos do sítio SC-PA-09, sendo dois decorados (centro e dir.), mas totalmente erodidos. 4.1.3.6. SC-PA-12 Os três fragmentos cerâmicos deste sítio são partes de bojos simples, isto é, sem decoração plástica, com espessura de 7 e 8 mm. A técnica de confecção é modelada, o antiplástico mineral, composto de hematita e basalto. A queima se apresenta do tipo oxidação total, oxidação externa/interna com presença de núcleo e oxidação externa com núcleo interno. O estado de conservação é regular, apresentado um das faces ou ambas as faces parcialmente erodidas. Os fragmentos possuem ainda a barbotina e alisamento na face interna ou em ambas as faces. Foto 213: Fragmentos cerâmicos do sítio SC-PA12: bojos simples com a superfície parcialmente erodida. 4.1.4. PCH Alto Irani Na PCH Alto Irani, cinco sítios arqueológicos apresentaram material cerâmico, a saber: SC-AI-02, SC-AI-03, SC-AI-08, SC-AI-17 e SC-AI-19. O material desses sítios totalizou uma amostra de 125 fragmentos cerâmicos, distribuídos conforme o gráfico a seguir. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 106 3 SC-AI-02 27 4 SC-AI-03 SC-AI-08 SC-AI-17 17 74 SC-AI-19 Gráfico 9: Distribuição do material cerâmico por sítio arqueológico na PCH Alto Irani. O quadro 4 expressa a quantificação do material cerâmico por sítio arqueológico e por morfologia e decoração. Decor. Morfologia Tipo Sítio SC-AI-02 SC-AI-03 SC-AI-08 SC-AI-17 SC-AI-19 TOTAL Bojo 22 4 10 55 3 94 Borda 3 0 4 11 0 18 Base 1 0 3 8 0 12 Indefinido 1 0 0 0 0 1 Decorado 16 1 8 53 1 79 Simples 10 3 4 18 2 37 Indefinido 1 0 5 3 0 9 27 4 17 74 3 125 Total12 Quadro 4: Quantificação do material cerâmico por morfologia e decoração nos sítio arqueológicos na PCH Alto Irani. Conforme o quadro 4, no sítio SC-AI-02 coletaram-se 30 fragmentos cerâmicos que, remontados, diminuíram para 27 fragmentos, todos provenientes de coletas de superfícies. No sítio SC-AI-03, foram apenas coletados quatro fragmentos cerâmicos, assim como no sítio SCAI-19, onde foram três fragmentos coletados, todos procedentes de coleta de superfície. No sítio SC-AI-08 foram coletados 21 fragmentos que remontados diminuíram para 17 a amostra estudada. Já no sítio SC-AI-17, o com maior densidade de material arqueológico, foram coletados 99 fragmentos, que remontados diminuíram para 74 fragmentos cerâmicos. Estes são procedentes de coleta de superfície e de escavação do sítio. 12 Fragmentos isolados ou remontados. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 107 80 80 8 70 11 60 50 40 40 55 1 1 3 20 10 18 60 50 30 3 70 4 0 SC-AI-02 SC-AI-03 Bojo 20 3 4 10 22 SC-AI-08 Borda Base 30 10 3 SC-AI-17 1 10 53 16 31 0 SC-AI-02 SC-AI-19 SC-AI-03 Decorado Indefinido Gráfico 10: Quantificação do material cerâmico por morfologia nos sítios arqueológicos na PCH Alto Irani. 5 4 8 SC-AI-08 Simples 12 SC-AI-17 SC-AI-19 Indefinido Gráfico 11: Quantificação do material cerâmico por decoração nos sítios arqueológicos na PCH Plano Irani. 4.1.4.1. SC-AI-02 A técnica de confecção da maior parte do material coletado nesse sítio é o modelado (25) e somente dois casos apresentou-se como acordelado. O antiplástico é do tipo mineral fino em todos os fragmentos. Os tipos de queima identificada foram: oxidação total (13), oxidação externa/interna com presença de núcleo (2), oxidação externa com núcleo interno (2) e redutora (10). O estado de conservação é no geral bom, apresentando baixo índice de erodidos conforme o demonstrado no gráfico 12. Não erodido 1 1 2 Missing 23 Ambas Faces Parcialmente Erodidas Face Externa Parcialmente Erodida Gráfico 12: Estado de conservação do material cerâmico do sitio SC-AI-02. A espessura da parede dos fragmentos variou entre 0,3 cm e 0,8 cm, estando a maioria entre 0,5 cm e 0,7 cm. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 108 12 11 10 9 8 6 5 4 2 1 1 0 0,3 cm 0,5 cm 0,6 cm 0,7 cm 0,8 cm Gráfico 13: Espessura do material cerâmico do sitio SC-AI-02. Relativamente aos processos de tratamento, não foi observada a presença de brunidura ou engobo nas superfícies externa ou interna dos fragmentos. Constatou-se o uso de barbotina em ambas as faces, alisamento em uma das faces ou em ambas e fuligem externa em apenas um fragmento. A maior parte dos fragmentos apresenta decoração (16) conforme o apresentado no gráfico 11 e no quadro 4. A decoração se apresenta com grande quantidade de tipos carimbados e ponteados, variando a forma e a composição, e a ausência completa de incisos com linhas paralelas ou cruzadas conforme se observa na figura 15. Os tipos decorados foram: ungulados (2), apresentando como variante ungulado em várias direções (fig. 15, “a” e foto 219) e ungulado vertical (fig. 15, “b”); ponteados (2), estocado retangular vertical (1) (fig. 15, “e”); e carimbados (10), além de impossível definir (1). Os tipos carimbados variam de formas triangulares (fig. 15, “g”, “h”, “j”, “l” e “m”); seqüência de círculos (fig. 15, “n”) ou quadrados (fig. 15, “i” e “o”). Em nove fragmentos observou-se tratar-se de decoração zonal, não sendo possível avaliar a extensão da decoração no bojo da vasilha. * b) c) *e) * d) * a) * f) * g) * h) i) Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. * j) 109 * m) n) * o) * p) * l) Desenho: Ana Lucia Herberts e Adelson André Brüggemann (*) Figura 15: Tipos decorados no sítio SC-AI-02: a-b) ungulado; c-d) ponteado; e) estocado; d-p) carimbado. As três bordas apresentaram forma extrovertida vertical (1) e extrovertida inclinada externa (2), com abertura não restringida, reforço de borda externo (2) e lábio arredondado, não sendo reconstituída a forma. O único fragmento de base apresentou forma plana. Foto 214: Fragmentos cerâmicos Foto 215: fragmento de borda simples simples, com superfície parcialmente com reforço externo. erodida. Foto 216: Fragmento com estrias na face Foto 217: Fragmentos interna. carimbado e ponteado (dir.). Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. decorados 110 Foto 218: carimbados. Fragmentos decorados Foto 219: Fragmentos decorados de ungulado (esq.) e carimbado (dir.). 4.1.4.2. SC-AI-03 No sítio SC-AI-03 foram coletados somente quatro fragmentos cerâmicos, que apresentaram técnica de confecção moldada (3) e acordelado (1), antiplástico mineral fino (< 5 mm) (3) e mineral grosso (> 5mm) (2). A queima foi do tipo redutora (3) e oxidação total (1). Quanto ao estado de conservação dos fragmentos, estes se apresentaram não erodidos (2) e com ambas as faces totalmente erodidas (2). A espessura da parede foi de 0,5 cm (3) e 0,9 cm (1). Apenas um fragmento apresentou decoração, e esta foi do tipo ungulado zonal. Todos os fragmentos eram partes de bojo (figura 16). Desenho: Adelson André Brüggemann Foto 220: Fragmentos cerâmicos do Figura 16: Desenho de sítio SC-AI-03. fragmento decorado zonal ungulado. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 111 4.1.4.3. SC-AI-08 O sítio SC-AI-08 totalizou 17 fragmentos cerâmicos, distribuídos entre a superfície e o 0-10 cm; também um sítio lito-cerâmico bastante raso. A técnica de confecção foi na maioria dos fragmentos do tipo modelado (15) e dois acordelados. O antiplástico é do tipo mineral fino (< 5 mm), com um caso com mineral grosso (> 5 mm). A queima apresentou-se na maioria dos fragmentos como oxidação total (12), e os demais como oxidação externa/interna com presença de núcleo (2), oxidação externa com núcleo interno (1) e redutora (2). O estado de conservação dos fragmentos cerâmicos é no geral ruim, conforme demonstrado no gráfico 14, apresentando índices consideráveis de erodidos ou parcialmente erodidos em uma ou em ambas faces. Não erodido Missing 2 3 1 3 1 Ambas Faces Parcialmente Erodidas Face Interna Parcialmente Erodida Face Externa Totalmente Erodida Face Externa Parcialmente Erodida 7 Gráfico 14: Estado de conservação do material cerâmico. A espessura da parede dos fragmentos variou entre 0,4 cm e 0,9 cm, conforme o gráfico 15, sendo a maioria com espessura entre 5 cm e 7 cm. 6 6 5 4 3 3 2 3 2 1 1 1 0 0,4 cm 0,5cm 0,6 cm 0,7 cm 0,8 cm 0,9 cm Gráfico 15: Espessura do material cerâmico. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 112 Quanto ao tratamento de superfície, observou-se barbotina na maioria dos casos, em ambas as faces. Brunidura e engobo não foram constatados. As marcas de uso observadas foram de queima interna (1) e fuligem externa (1). A decoração plástica foi identificada em oito fragmentos neste sítio, sendo os demais simples (4) e não identificado (5). Os tipos decorados identificados foram: ponteado (1), estocado retangular horizontal (1), carimbado (5), e impossível definir (1). Em um fragmento observou-se que a decoração carimbada foi executada com utensílio deixando como negativo um semi-círculo, desenho “a” da figura 17. * b) a) c) d) Desenho: Ana Lucia Herberts e Adelson André Brüggemann (*) Figura 17: Fragmentos decorados: a-b) carimbado; c) ponteado; d) estocado retangular horizontal. Foto 221: Fragmentos decorados do tipo Foto 222: Fragmentos decorados: carimbado. estocado (inf. esq.) e carimbados. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 113 Foto 223: Fragmento de borda decorado Foto 224: Fragmentos decorados: carimbado, mas com a superfície carimbado (esq.), ponteado e impossível erodida. definir (dir.). Somente foi possível reconstituir uma forma de vasilha (figura 18). Esta possui diâmetro de boca 10 cm, borda inclinada direta, forma esférica, decoração carimbada e volume de 880 ml. Figura 18: Forma reconstituída da vasilha: esférica. Desenho: Ana Lucia Herberts 3D: Letícia Morgana Müller 4.1.4.4. SC-AI-1713 O material cerâmico do sítio SC-AI-17 totalizou 74 fragmentos cerâmicos, distribuídos entre a superfície e o nível 40-50 cm, conforme o apresentado no gráfico 16. A maior parte do material concentra-se nos primeiros níveis, entre a superfície e 10-20 cm. 13 O material cerâmico do sítio SC-AI-17 foi analisado por Rodrigo Lavina e Letícia Morgana Müller. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 114 30 27 25 23 20 16 15 10 4 3 5 0 Superf 0-10 cm 10-20 cm 30-40 cm 40-50 cm Gráfico 16: Distribuição do material cerâmico por nível no sítio SC-AI-17. A técnica de confecção foi na grande maioria dos fragmentos do tipo modelado (68), tendo ainda um caso de acordelado; outros cinco foram classificados como indefinidos. O antiplástico é do tipo mineral fino (< 5 mm) na maioria dos fragmentos (70), sendo os demais: um caso com mineral grosso (> 5 mm) e três com hematita. Na composição mineral foi possível identificar a presença de quartzo branco e hematita. A queima, como se pode observar no gráfico 17, apresentou-se na maioria dos fragmentos como redutora (27), seguido do tipo oxidação total (15), e as variantes de oxidação externa ou interna ou ambas, com presença de núcleo. O estado de conservação dos fragmentos cerâmicos é no geral razoável, conforme demonstrado no gráfico 18, apresentando índices consideráveis de não erodidos e somente em uma pequena quantidade têm-se ambas faces totalmente erodidas (missing); as demais variam de uma das face ou ambas parcialmente erodida e outra face totalmente erodida. Oxidação total 3 Oxidação externa/interna com presença de núcleo Oxidação externa com núcleo interno 15 27 11 3 15 Oxidação interna com núcleo externo Redutora Não identificado Gráfico 17: Tipo de queima do material cerâmico. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 115 Não erodido Missing 1 2 13 Ambas Faces Parcialmente Erodidas 27 2 Face Interna Totalmente Erodida Face Interna Parcialmente Erodida 7 Face Externa Totalmente Erodida 1 9 17 Face Externa Parcialmente Erodida Face Interna Parcialmente e Face Externa Totalmente Erodida Face Interna Totalmente e Face Externa Parcialmente Erodida Gráfico 18: Estado de conservação do material cerâmico. A espessura da parede dos fragmentos variou entre 0,4 cm e 0,9 cm, conforme se apresenta no gráfico 19, sendo a maioria com espessura fina entre 0,5 e 0,6 cm. 25 25 21 20 15 12 10 6 5 7 3 0 0,4 cm 0,5 cm 0,6 cm 0,7 cm 0,8 cm 0,9 cm Gráfico 19: Espessura da parede do material cerâmico. Quanto ao acabamento de superfície pode-se observar em muitos fragmentos sinais de alisamento de ambas as faces (18), da face interna (21) ou da face externa (4). Relativamente à presença de barbotina, esta foi observada tanto em ambas as faces (7), quanto na face interna (9) e na face externa (3). Em muitos fragmentos não foi possível observar o alisamento ou a barbotina devido ao estado de conservação, estando uma das faces erodidas. A presença de brunidura foi constatada em alguns fragmentos, principalmente na face externa (8) e um caso em ambas as faces (ver foto 225). Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 116 Foto 225: Fragmentos cerâmicos com Foto 226: Fragmentos resquícios de brunidura na face externa. externa erodida. com a parte Outro aspecto observado foi a presença de engobo vermelho no acabamento de dois fragmentos cerâmicos, sendo um somente na face externa e outro em ambas as faces (ver fotos 227, 229 e 230). O uso de engobo é pouco comum na cerâmica relacionada à Tradição Taquara-Itararé. Foto 227: Fragmento com vermelho na superfície externa. engobo Foto 228: Fragmentos com as superfícies erodidas (missing). Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 117 Fotos 229 e 230: Fragmento de bojo com engobo vermelho em ambas as faces. Com relação a marcas de usos, observaram-se no material analisado vestígios de fuligem externa (8), queima interna (7) e restos de alimentação carbonizados no interior (4). Os sinais de restos de alimentação carbonizada no interior constatam-se em forma de uma “crosta” situada na parede interna dos fragmentos de base ou próximos ao fundo dos vasilhames (ver fotos 231 a 234). Fotos 231 e 232: Fragmentos com resto de alimentação carbonizada na face interna. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 118 Fotos 233 e 234: Parte interna do fragmento de vasilha com vestígios de resto de alimentação carbonizada. Neste material analisado a quantidade de fragmentos com decoração chama a atenção, representando mais de 70% do total, conforme o quadro 4 e gráfico 11. a) d) c) b) h) f) g) e) j) l) m) i) o) q) p) n) r) s) Desenho: Ana Lucia Herberts Figura 19: Tipos de decorados: a-c) ungulado; d-f) carimbado; g-j) inciso losangular; l) inciso losangulado com linhas paralelas; m) inciso não identificado; n) estocado; o-p) inciso paralelo; q) inciso obliquo; r) inciso losangular e ungulado; s) inciso paralelo Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 119 vertical e horizontal. Os tipos decorados, de acordo com o gráfico 20, variam entre tipos incisos e variantes (obliquo, paralelo, losangulado, paralelo vertical, horizontal, e não identificado), ungulados, carimbados e estocados, além de alguns fragmentos que combinam mais de um tipo decorado na mesma superfície formando padrões mistos. Na figura 19, observa-se alguns fragmentos com mais de um motivo de decoração plástica combinada, como o caso do fragmento “r”, que apresenta bojo com os motivos incisos losangular e ungulado; e o “s” que possui linha paralela horizontais, verticais e obliquas. O fragmento com decoração estocada, o “n” possui o carimbo em seqüência de um objeto com forma em semi-círculo. Ungulado vertical Ungulado arrastado Inciso oblíquo 10 9 Inciso losangulado 11 11 2 Inciso losangulado com linhas paralelas Inciso paralelo 3 5 15 1 1 2 1 Inciso não identificado Estocado semi-circulo vertical Carimbado Ungulado vertical e Inciso paralelo Ungulado vertical e Inciso losangulado Inciso paralelo horizontal, vertical e obliquo Inciso paralelo horizontal, vertical e estocado oval Impossível definir Gráfico 20: Tipos de decoração plástica. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 120 Desenho: Ana Lucia Herberts Figura 20: Fragmento superior de vasilha com decoração plástica em toda a sua superfície formada por motivos combinados de linhas horizontais paralelas, verticais paralelas e estocado. Foto 235: Fragmentos do fundo de uma Foto 236: Fragmento cerâmico com vasilha com decoração ungulada. decoração ungulada e sinais de queima externa. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 121 Foto 237: Fragmento de borda com Foto 238: Fragmentos cerâmicos com decoração carimbada e forma de semi- decoração carimbada, sendo um zonal circulo. (dir.). Foto 239: Fragmento cerâmico decoração incisa losangular. com Foto 240: Fragmentos com decoração incisa oblíqua. Foto 241: Fragmento com decoração Foto 242: Fragmentos cerâmicos com incisa com linhas verticais e horizontais decoração carimbada. paralelas. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 122 Foto 243: Fragmentos de vasilha com Foto 244: Fragmento de bojo decoração incisa, com linhas verticais e decoração incisa e ungulada. horizontais paralelas e estocado. com Foto 245: Fragmentos cerâmicos com Foto 246: Fragmentos cerâmicos com decoração carimbada. decoração ungulada. Nesta coleção cerâmica, destaca-se a existência de um perfil superior de uma vasilha decorada em toda a sua superfície (figura 20 e foto 243). Esta possui a combinação formada por motivos de linhas paralelas horizontais intercaladas com linhas paralelas verticais e área com estocado em forma oval. Das 11 bordas existentes, somente três permitiram reconstituir a forma da vasilha conforme o apresentado na figura 21 e quadro 4. As bordas apresentaram as seguintes formas: direita vertical (8), extrovertida inclinada externa (2) e uma não identificada. A abertura apresentou como não restringida em pelo menos oito bordas, e nas demais não foi possível identificar este atributo. Quanto a reforço de borda este foi identificado como ausente (8) e externo (3). A forma do lábio varou entre os tipos plano (3) e arredondado (8). O diâmetro da boca das bordas, naqueles fragmentos passíveis de identificação, variaram entre 10 cm (2), 14 cm (1) e 16 cm (2). Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 123 c) b) a) Desenho: Rodrigo Lavina 3D: Letícia Morgana Müller Figura 21: Forma reconstituída da vasilha: a) cilíndrica, b) semi-ovoide e c) ovóide. As informações referentes ao diâmetro da boca, ao tipo de borda, a forma e o volume das vasilhas reconstruídas são apresentadas no quadro 5. Desenho Nº. da peça a 06 e outros b 33 c 92 Decoração Diâmetro da boca Tipo de borda Forma Volume em ml. Incisa e Estocado 16 cm Direta Vertical Cilíndrica 3.469 14 cm Direta Incl. Ext. Semiovoide 1.543 10 cm Extrovertida Incl. Externa Ovóide 1.036 Simples Quadro 5: Relação das vasilhas reconstruídas graficamente com o respectivo volume. Nos fragmentos relativos às bases, nas quais foi possível identificar a forma, estas apresentaram forma plana (1) e arredondada (1), sendo que as demais foram indefinidas (6). 4.1.4.5. SC-AI-19 Neste sítio, apenas três fragmentos cerâmicos foram coletados. Dois apresentam a técnica de confecção modelada e um acordelado. O antiplástico é mineral fino (2) e mineral grosso (1). A queima foi do tipo oxidação total (2) e redutora (1). Estado de conservação bom, com nenhuma face erodida. A espessura em todos foi de 0,5 cm. Não foram constatadas brunidura ou marcas de uso. Alisamento e barbotina foram identificados em uma face ou ambas. Os três fragmentos são bojos, sendo dois simples e um decorado do tipo estocado (figura 22). Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 124 Desenho: Ana Lucia Herberts Foto 247: decorado estocado. Fragmento com o Figura 22: reprodução do motivo decorativo: estocado. 4.1.5 Discussão dos resultados A pequena quantidade do material cerâmico nos sítios arqueológicos das PCHs Alto Irani e Plano Alto se explica pela ocorrência de um ou vários motivos, a saber: 1) Sítios com densidade de material arqueológico baixa, principalmente de material cerâmico, pois podem estar relacionados a sítios de atividades especificas como sítios de acampamento, onde o uso de vasilhas cerâmicas deveria ser mais restrito; 2) O uso de agricultura mecanizada há bastante tempo na região, contribuindo para a redução do material cerâmico no sítio, pois os cacos vão sendo “picados” pelo arado e assim seu tamanho vai diminuindo e se desagregando; 3) A metodologia empregada em alguns sítios, como coleta amostral mapeada de superfície, não sendo realizado o resgate do sítio arqueológico, proporcionou poucos fragmentos cerâmicos para a análise. A partir da análise geral do material cerâmico de todos os sítios arqueológicos das PCHs Plano Alto e Alto Irani, pode-se tecer algumas considerações e observações. No modo de produção, foi verificado que a maior quantidade do material cerâmico de todos os sítios foi confeccionado pela técnica de confecção modelada a mão livre, o que é uma das características da Tradição Taquara-Itararé; e em mínima quantidade pelo acordelado. A técnica de confecção é identificada a partir das marcas que cada uma das técnicas deixa, por exemplo, “um pote modelado quebra-se em cacos irregulares, enquanto um anelado terá cacos retangulares, havendo uma quebra nos pontos fracos, que são as juntas dos antigos roletes” (Prous, 1992, p. 92). Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 125 O emprego das técnicas de modelagem e acordelamento pode também ocorrer combinado em uma mesma vasilha, em partes diferentes, ou algumas vasilhas serem totalmente modeladas ou acordeladas. Tem sido observado que alguns vasilhames da Tradição Taquara-Itararé são produzidos inicialmente modelando o fundo do vasilhame a mão livre, resultando em bases modeladas que, quando fraturadas, possuem forma irregular. Depois é empregada a sobreposição de roletes, até obter a forma desejada. Em alguns casos deste material, pôde-se observar que os fragmentos que apresentavam a técnica do acordelado referiam-se a bordas; outro aspecto comum, o uso da técnica de modelagem na base e acordelamento na parte superior da vasilha. O antiplástico ou tempero são os elementos não-plásticos adicionados à argila e que não irão sofrer modificação de volume durante o processo de queima. Segundo Prous (1992, p. 91), os antiplásticos “formarão uma espécie de armação estável, evitando o rachamento enquanto as argilas vão se ressecando. Este material é freqüentemente silicosos (grãos de areia, cascas de árvores ou espículas de esponjas), podendo ser também conchas ou cacos moídos, etc. Eventualmente trata-se de material encontrado na própria argila, que é recolocado em dose controlada”. Neste material cerâmico foi utilizado o antiplástico do tipo mineral, não sendo encontrada outra variedade. O antiplástico mineral fino, ou seja, com espessura menor que 5 mm, foi o predominante. Mas alguns fragmentos, em pequena escala, apresentaram minerais com espessura grossa (>5 mm). Isto indica que os artesões empregaram areia peneirada no antiplástico para obter paredes com melhor acabamento. A queima da pasta interna dos fragmentos cerâmicos é identificada a partir do exame do miolo da parede, mostrando uma variação na cor do núcleo. Neste material a maioria dos fragmentos apresentou o núcleo interno de cor clara ou alaranjada, indicando que a queima foi do tipo oxidação total, ou seja, durante a queima a vasilha esteve exposta à presença de oxigênio durante todo o processo. No tipo de queima com oxidação total, a cerâmica apresenta um miolo com coloração clara, devido à presença de oxigênio no processo de queima. Segundo Meggers e Evans (1970, p. 29) “estas diferenças de cor refletem diferenças em ventilação, temperatura, e duração da queima: corte de perfil mostrando um núcleo totalmente alaranjado resulta de uma queima com boa ventilação, realizada durante tempo suficiente para completar a oxidação da argila”. A parede das vasilhas possui na maioria do material uma espessura fina que variou entre 0,5 cm e 0,8cm, e em raros casos ultrapassou 1 cm de espessura. Isto indica vasilhas de paredes finas, mas também de tamanho pequeno a médio, pois vasilhas maiores necessitam de paredes mais espessas para se sustentarem. As marcas de uso observadas foram do tipo fuligem externa, queima interna e resto de alimentação carbonizada no interior. A localização da fuligem na vasilha indica a maneira como foi usada no fogo: nas paredes indica uso dentro do fogo e na base indica uso suspenso sobre Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 126 fogo (Wust, s/d). Um fragmento da metade superior de uma vasilha no sítio AI-17 (foto 243) possui vestígios de queima em forma de uma faixa na parte superior do bojo e junto à borda, indicando possivelmente que a vasilha foi levada ao fogo, provavelmente apoiada sobre pedras, numa fogueira estruturada, tratando-se provavelmente de uma vasilha com a função de cozer alimentos. A presença de uma crosta resultante de restos de alimentação carbonizada na face interna de alguns fragmentos cerâmicos, também indica que estas vasilhas foram utilizadas para cozinhar alimentos. O tratamento pós-queima na cerâmica para obter fechamento intencional dos poros poderia ser obtido com a aplicação de sucos de plantas, esfregando folhas, com aplicação de engobos e através da brunidura. A brunidura teria a função de impermeabilizar o vasilhame, caracterizando-se por uma superfície escura e lustrosa. A brunidura foi detecta na superfície de alguns fragmentos cerâmicos deste material. O uso de engobo é pouco comum na cerâmica relacionada à Tradição Taquara-Itararé, sendo identificada em dois fragmentos do sítio AI-17. A maneira como a brunidura seria efetuada no processo de confecção da vasilha cerâmica é descrita por Ploetz (1930, p.172-173), e apresentada por Lavina (2002) no levantamento das Informações Etnográficas sobre os Kaingang do Brasil Meridional: “uma vez terminada esta operação, elas colocam o vasilhame em um cesto e o expõe à fumaça até adquirir a cor negra característica. Só depois é que a submetem à cocção. Uma vez cozida, elas a esfregam com punhados de liquens”. Esta poderia ser uma das formas de se obter a brunidura. Na maioria dos sítios, constatou-se que há mais fragmentos decorados do que simples, isto indica que a maior parte da parede da vasilha entre a base e o lábio era decorada, e não somente uma faixa. A elevada quantidade de fragmentos decorados também se reflete na profusão de tipos e padrões decorativos. Alguns sítios apresentaram algumas particularidades, como no o caso do SC-PA-08, que possui somente variações de tipos de incisos; e outros com a ausência de tipos incisos feitos por linhas, como no sítio SC-AI-02 e SC-AI-08, mas por outro lado, uma grande quantidade de decorados do tipo ponteado e carimbado. Na maioria dos sítios observa-se a abundância de combinação de mais de um padrão decorativo numa mesma peça, sendo muito comum o uso de linha paralelas em vários sentidos (horizontal, vertical, obliqua) combinadas e em alguns casos agregadas com o tipo ungulado, ponteado ou estocado, como observado no material dos sítios SC-PA-04, SC-PA-08 e SC-AI-17. Na maioria dos casos a decoração onde foi possível observar a extensão da decoração, esta ocupava quase toda á área do bojo da vasilha entre o lábio e a base. Raros casos de decoração zonal em apenas uma faixa, e neste caso provavelmente na parte do bojo superior da vasilha. Este dado, grande quantidade de fragmentos decorados corrobora a hipótese de as vasilhas possuíram a maior parte da sua coberta com decoração. Quanto à morfologia dos fragmentos cerâmicos, segundo os gráficos apresentados, a grande parte é composta por bojo, até porque a vasilha possui uma área muito maior de corpo Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 127 que nas demais áreas. Enquanto que poucas são bordas, e menos ainda as bases. Quanto ao item reforço de borda, na maioria das bordas é ausente, e nas em que há, este se encontra na face externa, além daqueles em que não foi possível identificar. Sobre o reforço externo nas bordas, há um dado interessante de Moreira Pinto (apud Lavina, 2002, 265), que diz que os Kaingang fabricam vasilhames cerâmicos de forma troncônica com bordas salientes para poderem ser suspensos. Observando-se as poucas formas reconstruídas e os perfis de borda, pode-se perceber em geral vasilhas bojudas com gargalos e bordas reforçadas, o que poderia estar relacionado ao objetivo de serem suspensas, conforme informação do autor. 4.2. LÍTICO Adelson André Brüggemann Sirlei Hoeltz Os trabalhos arqueológicos desenvolvidos nas áreas de abrangência das PCH’s de Plano Alto e Alto Irani, vale do rio Irani, no oeste do Estado de Santa Catarina, resultaram no estudo de 19 conjuntos líticos. Tais materiais foram identificados em sítios a céu aberto, associados ou não a fragmentos cerâmicos, e também como ocorrências arqueológicas discretas ou isoladas. Tratase de locais impactados pelas atividades agrícolas, cujos objetos foram, na sua maioria, identificados em superfície, exceto na prospecção de seis sítios, onde um deles chegou a atingir 1,20 metros de profundidade. O resgate totalizou 4.041 peças líticas, porém 87,95% do material provêm apenas de dois sítios: 34,08% do sítio SC-PA-04, na área de Plano Alto, e 53,87% do sitio SC-AI-17, na área de Alto Irani. Na tentativa de esclarecer a dinâmica da vida dos grupos caçadores coletores e ceramistas que habitaram a região, procurou-se verificar, entre outros fatores, a variabilidade de seus registros arqueológicos a partir do estudo da cadeia operatória dos objetos líticos, e os associar a sistemas de assentamentos de grupos pré-históricos como índice de identidade e identificação cultural. Elaborou-se, para tanto, uma lista de análise que permite comparar os vários conjuntos líticos e apontar o que é que se modifica no que diz respeito às estratégias adotadas pelos grupos na organização do uso dos espaços. Embora se tenha, na maioria dos sítios, verificado a associação de fragmentos Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 128 cerâmicos aos objetos líticos, as descrições que seguem dizem respeito somente à análise do material lítico. 4.2.1. Aspectos Teóricos da Tecnologia Lítica Considera-se que cabe ao artesão, até chegar ao produto final de sua produção lítica, efetuar uma seqüência de gestos técnicos que reflete a característica técnica de um grupo como um todo. É somente através da análise particular dos lascamentos e retoques que as diversas indústrias líticas se diferenciam. A tecnologia lítica, segundo Vialou (1980, p. 65), é invariável na sua organização sistemática e universalmente idêntica. A originalidade ocorre somente quando os elementos são vistos separadamente, "[...] uma matéria prima nova, um artesão diferente, daí o estilo". A tipologia, a saber, o reconhecimento dos utensílios e sua classificação em tipos, quando se fundamenta em dados tecnológicos, têm acesso tanto ao particular como ao universal; sabe reconhecer em que uma indústria é original, única mesmo; sabe simultaneamente mostrar em que se inscreve num contexto geral, local, regional ou mais vasto ainda (...) (Vialou, op cit.). Seguindo semelhante raciocínio, Collins (1989/90, p. 51-52) afirma que “a tecnologia está marcada pelas limitações impostas pelo comportamento da fratura conchoidal, da natureza das rochas e minerais possuidores de propriedades para o lascamento e da capacidade das culturas primitivas para executar e controlar as forças. (...) qualquer tecnologia lítica específica está estruturada em resposta às necessidades da cultura, escolha, qualidade e conhecimento dos artesãos, assim como os fatores, classe, quantidade e qualidade da matériaprima. Quando o acesso à matéria-prima ou as necessidades culturais trocam, se produzirão trocas na tecnologia”. Para o autor (Collins, op cit.), a manufatura dos instrumentos, embora siga um procedimento linear, não invalida a possibilidade de analisá-la em etapas, mesmo que essas etapas não sejam suficientemente distintas, em termos de procedimento e rendimento, a ponto de individualizá-las. Assim, refere-se a essas etapas como "grupo de produtos", onde cada grupo contém características próprias com qualidades de rendimento diferentes entre si, mas de forma que o rendimento de dada etapa ou grupo dependa do rendimento anterior. Seu modelo de análise é composto de cinco etapas, que são: obtenção da matéria-prima, preparação e redução inicial de núcleos, lascamento primário opcional (modificação primária), lascamento secundário e formatização opcional (modificação secundária) e conservação ou modificação opcional de peças desgastadas pelo uso. Acrescenta ainda que cada grupo de produtos, exceto o primeiro, consiste de duas classes de materiais: os produtos de dejetos (resíduos de lascamento) e os objetos destinados a maior redução ou uso. A primeira etapa é a obtenção da matéria-prima, que, na concepção do autor, refere-se Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 129 às rochas ou minerais que são lascáveis de modo que o artesão as seleciona entre os recursos disponíveis. Os meios mais comuns de adquirir a matéria-prima são a coleta, a exploração de afloramentos e alguma forma de importação. Nos locais em que a matéria-prima ocorre em superfície (depósitos coluviares, praias, peças soltas deixadas pela erosão de uma matriz), a única atividade de obtenção necessária é a coleta seletiva. Pode ocorrer que a matéria-prima desejada deva ser extraída de afloramentos e muitas vezes o material está exposto na superfície em quantidade insuficiente ou de qualidade inferior, indicando que mais e melhor material poderia ser obtido em depósitos profundos. Outra situação diz respeito ao fato do material desejado para lascar não se encontrar disponível localmente. Nesse caso, alguma forma de importação deve ser empregada. Em resumo, a obtenção da matéria-prima pode ocorrer de várias formas e os artesãos se abastecem dos materiais necessários ou desejados para a produção de artefatos líticos através da articulação direta ou indireta com o ambiente físico. Uma vez que a matéria-prima tenha sido obtida, a redução inicial pode ocorrer imediatamente no local de obtenção ou então ser transportada para o sítio arqueológico e lá se dar continuidade ao processo de produção dos artefatos (Collins, op cit., p. 53-55). A segunda etapa é a de preparação e redução inicial de núcleos, onde o artesão deve transformar a matéria-prima em uma forma apropriada para usar como ferramenta ou para uma maior redução (Collins, op cit., p. 55-56). As lascas obtidas nessa etapa são denominadas de lascas primárias (corticais), que apresentam a face externa e/ou o talão total ou parcialmente cortical (Prous, 1986/90, p.17). Essa etapa constitui-se de três opções básicas: 1. Pode concentrar-se na formatização do núcleo, utilizando-o como base para a produção de um artefato, e descartar todas as lascas que se desprendem desta formatização; 2. Pode otimizar o desprendimento das lascas, utilizando-as como base para a produção de artefatos, e descartar o núcleo esgotado; ou ainda; 3. Pode reter ambos, o núcleo e as lascas desprendidas, de forma a utilizá-los imediatamente após a redução inicial sem sofrerem qualquer tipo de modificação (retoques). A terceira etapa diz respeito ao lascamento primário opcional (modificação primária), onde as lascas e os núcleos da atividade anterior podem ser lascados antes de usados ou reduzidos ainda mais. O principal objetivo desta atividade é dar forma ao artefato. Esta formatização pode ocorrer de diversas maneiras, mediante a modificação por retoques nas bordas dos núcleos e das lascas (Collins, 1989/90: 56). Essa modificação primária de núcleos e lascas produz também resíduos de lascamento, onde com a retirada de novas lascas sobre as cicatrizes das primeiras retiradas obtêm-se lascas sem córtex, cuja face externa e/ou talão apresentam cicatrizes dos lascamentos anteriores: são as lascas secundárias (Prous, 1986/90, p.18). O lascamento secundário e formatização opcional (modificação secundária) correspondem à quarta etapa de produção e as pré-formas do grupo anterior constituem o Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 130 ponto de partida desta atividade. Para Collins (1989/90, p. 56), as pré-formas são lascadas bifacialmente exibindo as formas do produto acabado e esta etapa inclui, predominantemente, o processo do lascamento bifacial. O autor observa que esta etapa corresponde à produção de instrumentos mais complexos, como as pontas de projétil, cujas pré-formas anteriores recebem uma modificação secundária ou refinamento através de retoques por pressão, antes de se tornarem funcionais. A quinta e última etapa corresponde à conservação ou modificação opcional de peças desgastadas pelo uso, cujos artefatos com bordas desgastadas podem ser reciclados. Ou as bordas são reativadas de forma a manterem sua função original, ou os artefatos são totalmente modificados, transformando-se em novas peças com outra funcionalidade (Collins, op cit., p. 57). 4.2.2. Análise dos Objetos Líticos Considerando os pressupostos teóricos acima descritos, o estudo das indústrias líticas desenvolveu-se a partir da análise tecno-tipológica dos objetos, que enfoca tanto a procedência da matéria-prima, quanto às tecnologias de produção empregadas na transformação destas diferentes matérias-primas em artefatos, além da distribuição quantitativa e qualitativa dos resíduos de lascamento e a análise funcional dos artefatos relacionadas a retoques e marcas de utilização. Conforme Andrefski (1988, p.134) a produção da debitagem é sensível a um número variado de diferentes tipos de comportamento tecnológico e a combinação dos atributos pode variar dependendo das limitações associadas à produção, uso, manutenção e descarte dos artefatos. Não existe uma fórmula do tipo “livro de receitas” para o tipo e escala de análise que deve ser conduzida na debitagem para se obter um tipo específico de interpretação de comportamento. Para o autor, as interpretações mais convincentes são aquelas que usam resultados derivados de diferentes atributos de debitagem e/ou tipos de debitagem. Sob essa perspectiva, adequou-se o modelo de Dias e Hoeltz (1997) para efetivar as análises. Segue a apresentação dos atributos analisados na lista individualmente. Lista de Análise do Material Lítico14: Dados de identificação: A. Número de Catálogo: identificação do material arqueológico de um sítio em 14 Ver o anexo 3. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 131 laboratório. B. Setor: divisão do sítio conforme as coordenadas geográficas. C. Quadrícula: subdivisão do sítio de 1m2 . D. Nível: altura da camada arqueológica escavada. E. Nº. de Coleta: identificação do material arqueológico de um sítio em campo. Atributos para caracterização dos dados básicos Aqui são indicados todos os artefatos líticos produzidos durante o seu processamento, em suas formas básicas e os atributos que são comuns a todas as peças. Os atributos que compõem esta lista baseiam-se nos trabalhos de Tixier et al (1980), Laming-Emperaire (1967), Brezzilon (1977) e Moraes (1987), sendo os seguintes: F. Forma Básica Bloco Natural: rocha natural que não sofreu ação antrópica. Lasca: fragmento de rocha, debitado por uma percussão, aplicada em um ponto periférico determinado do núcleo. A lasca apresenta, tipicamente, uma face externa dorsal (a que se encontrava no exterior do núcleo antes da debitagem), uma face interna ventral (a que se encontrava no interior do núcleo antes da debitagem) e um talão (a superfície sobre a qual foi aplicada a percussão), (Laming-Emperaire, 1967, p. 35). Dependendo do tipo das técnicas de lascamento o produto resulta em lascas unipolares ou bipolares. São lascas que, por apresentarem características bastante peculiares, são perfeitamente identificáveis. Crabtree (1972, p. 11-12) também denomina o lascamento unipolar de lascamento por percussão direta ou lascamento controlado. Os passos técnicos associados ao lascamento unipolar são descritos da seguinte forma por Prous: Segundo a técnica mais clássica, dita de lascamento unipolar, o artesão ou o experimentador segura um bloco (núcleo) de matériaprima na mão direita. Escolhendo uma superfície adequada (plano de percussão), bate nestas para retirar lascas de um bloco. Esta operação deve ser feita em função de normas estritas, sendo uma delas a de que o ângulo entre o plano de percussão e a parte externa do bloco a ser lascado seja igual ou inferior a 90º (senão não haverá lascamento) (Prous, 1986/1990, p. 17-18). Em função dos sucessivos golpes desferidos em sua superfície, os núcleos unipolares apresentam-se vincados de cicatrizes que correspondem ao negativo da face interna das Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 132 lascas que se desprenderam. Tanto a cicatriz deixada no núcleo, quanto à face interna da lasca unipolar apresentam evidências da dispersão do impacto que provocou o lascamento, na forma de ondas de força. A força do golpe faz com que parte da plataforma percutida desprenda-se do núcleo, formando o talão da lasca. A percussão também produz, na lasca unipolar, um bulbo marcado de onde divergem as ondas de força, conferindo a sua face interna uma conformação levemente côncava. Quanto ao lascamento bipolar, Rütschilling (1989, p. 47) diz que proporciona o rompimento de pequenos núcleos de matéria-prima, a partir de percussão com apoio. O termo bipolaridade dá-se em função dos dois pólos de força em ação no processo de produção de lascas. O golpe no plano de percussão direta produz uma contra-força no ponto de apoio (plano de percussão indireto), gerando dois pólos de força em oposição linear, cuja ação acarreta a ruptura do núcleo. As lascas bipolares, para a autora, geralmente tem duas faces planas, ou ligeiramente planas, onde nas extremidades são visíveis plataformas opostas correspondentes às zonas de impacto direto e indireto. A face mais plana quase sempre é interna. A face externa apresenta freqüentemente irregularidades provocadas por lascamentos ou desprendimentos anteriores. Acrescenta ainda que quando a direção do golpe se faz em um ângulo diferente de 90º com a superfície do núcleo, a propagação do mesmo não atingirá a extremidade oposta apoiada. O golpe se dissipará em outra direção, podendo gerar lascas com bulbo positivo ou sem ponto de percussão indireto (Rütschilling, op cit., p. 50). Prous e Lima descrevem os procedimentos técnicos associados ao lascamento bipolar da seguinte forma: A peça a ser debitada é colocada verticalmente sobre a face plana de uma bigorna de rocha, preferencialmente resistente (...). O batedor é segurado em uma das extremidades, mas será usada uma parte próxima ao centro da face (nunca as extremidades; sob pena de machucar a mão que segura o bloco a ser debitado). Algumas percussões leves devem provocar a saída de lasquinhas curtas do bloco, tanto do lado proximal (o que recebe o impacto do batedor), quanto do lado distal (em contato com a bigorna); estes golpes preliminares esmagam ambas as zonas percutidas e visam assentar a peça melhor sobre a bigorna (...) e a debitagem pode ser iniciada com golpes mais violentos. É geralmente aconselhável provocar um rachamento total do bloco núcleo com uma pancada violenta, apertando o núcleo entre os dedos. Assim sendo, o bloco se separa em duas metades (por vezes um seixo pode rachar em 3 ou 4 gomos) [que] (...) podem servir de núcleos para obter lascas finas e muito cortantes (Prous e Lima, 1986/1990, p. 97-98). O estudo da dispersão dos resíduos de bipolaridade pelos autores revelou que “a dispersão dos produtos de debitagem a partir da bigorna se faz em um ângulo de no máximo 110º à frente e a direita do experimentador. As peças maiores ficam entre os dedos, as de Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 133 tamanho médio saltam até 30 cm e os estilhaços podem ir até 1 metro de distância” (Prous e Lima, op cit., p. 98). Desse modo, as lascas podem ser: Unipolares: lascas com um ou mais pontos de percussão obtidas através da percussão unipolar. Na face ventral da lasca pode formar-se um bulbo e cicatrizes dependendo do tipo de matéria-prima, do peso do percutor e da força e velocidade do impacto. Bipolares: lascas com dois pontos opostos de impacto. Segundo Heinzelin, são lascas "obtidas por debitagem bipolar. As ondas de impacto se propagam às vezes em dois pontos opostos da mesma lasca, mas nem sempre" (Heinzelin de Braucourt, 1962, p. 13 apud Brézillon, 1977, p. 101). Segundo Prous e Lima, as lascas bipolares não apresentam, em muitos casos, nem talão, nem face interna, nem face externa no sentido habitual. "São produtos de debitagem finos, com gumes agudos, cujo talão é substituído por uma linha de esmagamento (...) Em conseqüência, lascas bipolares têm tendência a serem mais retas que as unipolares" (Prous e Lima, 1986/90, p. 100). Núcleo: a designação de núcleo envolve contradições entre os vários autores. Vialou o define como "o que resta do bloco da matéria-prima após o lascamento, um resíduo" (Vialou, 1980, p. 64). Entende que um núcleo somente tem por função fornecer uma quantidade relativa de lascas e que é comum, seja por confusão de formas ou por hipóteses de funcionamento, vêlo designado como raspador, peça bifacial, utensílio com reentrância, etc. Brézillon afirma serem as definições de núcleos em geral constantes e cita Leroi-Gourhan, dizendo que "toda massa de matéria prima-debitada toma forma de núcleo" (Leroi-Gourhan, 1964, p. 9 apud Brézillon, 1977, p.87). Laming-Emperaire (1967, p. 35) conceitua núcleo de uma forma similar, dizendo ser um bloco de matéria-prima preparado para que dele se possa tirar uma ou uma série de lascas. No entanto, cita um tipo de núcleo "re-utilizado", que se caracteriza como um núcleo que não é mais utilizado como tal, mas no qual um ou vários cantos foram retocados e utilizados como utensílio. Por esse motivo, quando alguns autores referem-se a "raspador sobre núcleo" ou "raspador sobre lasca" subentende estarem eles se referindo à forma básica original deste raspador. Fragmento de Lasca: lasca incompleta, sem a parte proximal. Fragmento de Núcleo: núcleo incompleto no seu comprimento, largura ou espessura. Detrito: "[...] peça sem forma definida que não possuem retiradas ou retoques ou ainda uma morfologia que lhes defina a função." (Moraes, 1977, p. 45 apud Moraes , 1987, p. 56). Artefato Bifacial/Unifacial: artefatos bifaciais são os que apresentam lascamentos bifaciais, isto é, retiradas sobre duas faces a partir de uma mesma borda; e artefatos unifaciais, Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 134 são os que apresentam lascamentos unifaciais, isto é, retiradas sobre uma única face a partir da borda. Artefato Polido: peça que apresenta superfícies polidas. Artefato Bruto: peça que apresenta ao menos uma superfície destinada a servir de base de percussão ou fricção ao material a ser trabalhado, por isso são evidentes em suas superfícies as marcas de utilização. Termófero: peça com ou sem ação antrópica, destacada da rocha original pelo aquecimento. G. Matéria-prima Das qualidades físicas, mecânicas e químicas da matéria-prima dependem as técnicas de lascamento que são empregadas. Assim, a matéria-prima está intimamente associada a processos produtivos específicos e à formação de instrumentos característicos. Identificou-se a utilização das seguintes matérias-primas, as quais são definidas segundo Dana e Hurlbut (1976, p. 530-573) e Schumann (1985, p. 50-52/114): Basalto: rocha vulcânica de coloração escura e granulação fina, por vezes amigdalóides (cavidades preenchidas) ou vesiculares (cavidades vazias). Geralmente são rochas maciças e, por isso, oferecem lascamento precário; porém, em outros casos, existem estruturas de fluxo ígneo que marcam descontinuidades físicas e propiciam maior facilidade de lascamento. Arenito Silicificado: também chamado de metaquartzito ou arenito intertrápico e oriundo do pirometamorfismo entre lava (basáltica) e arenito. São rochas extremamente endurecidas junto ao contato com o derrame sotoposto e de fratura conchoidal cortante. Arenito: rocha sedimentar onde as camadas de areia se consolidaram em massas rochosas. Os grãos de areia podem ser cimentados por sílica, carbonato, óxido de ferro ou material argiloso. O quartzo é o principal componente na formação dos arenitos. A cor da rocha depende da natureza do cimento. Calcedônia: variedade criptocristalina fibrosa do quartzo. Apresenta variada coloração, brilho céreo, translúcida. Freqüentemente reveste ou preenche cavidades nas rochas. A calcedônia apresenta bom lascamento em virtude de características estruturais oriundas de suas cristalizações. A formação destes minerais dá-se pela precipitação química em camadas, resultando em descontinuidades físicas, permitindo deste modo um fácil lascamento. Quartzo leitoso e hialino: os cristais de quartzo leitoso são comumente prismáticos, com as faces do prisma estriadas horizontalmente. Fratura concóide, brilho opaco e dureza 7 na escala de Mohs. O quartzo hialino possui as mesmas características do quartzo leitoso. É uma variedade cristalina do quartzo de granulação grossa. Quartzo incolor - cristal de rocha. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 135 Meta-Lamito: lamito recristalizado por metamorfismo termal. Rocha formada em ambiente sedimentar, de baixa energia de transporte, tendo como área fonte os derrames basálticos e que sofreu metamorfismo termal, com a recristalização da matriz em calcedônia, quando da ocorrência de novo derramamento. H. Estado de Preservação Apresentação geral da peça, podendo ela estar completa (inteira) ou incompleta (fragmentada). Se incompleta, pode estar fragmentada em seu comprimento e/ou largura e/ou espessura. I. J. K. Medidas As dimensões são tomadas nas três direções da peça e informam seu comprimento, largura e espessura. O comprimento para as lascas é medido segundo o seu eixo de lascamento (longitudinal), isto é, perpendicular ao plano de percussão da peça. Largura e espessura são medidas perpendicularmente ao comprimento. Para os núcleos, o comprimento é mensurado paralelamente ao eixo longitudinal dos negativos de lascamentos predominantes. A largura (maior medida) e a espessura (menor medida) são também tomadas perpendicularmente ao comprimento. Quando não é possível definir predominância de negativos, estabelece-se como comprimento o seu maior eixo de lascamento. Esse procedimento permite comparar dimensões entre núcleos e lascas. L. Quantidade de Superfície Natural (córtex) Total: A superfície natural corresponde à camada externa da peça, cuja espessura depende simultaneamente da duração da exposição aos agentes atmosféricos, das condições climáticas e da natureza da matéria-prima empregada pelo artesão. A quantidade de superfície natural presente numa peça é variável, podendo cobrir algumas partes, ser totalmente coberta ou ainda não apresentar córtex. M. Origem da Matéria-Prima Sua classificação depende da presença de superfície natural na peça. Desse modo, pode ser: Sem informação: não apresenta mais nenhum vestígio da camada externa, não sendo possível, dessa forma, determinar sua origem, se de seixo ou de bloco. Seixo: são fragmentos destacados há algum tempo da rocha-mãe, com as arestas desgastadas, formas arredondadas e superfície geralmente lisa, devido ao transporte (ação mecânica). Nesse trabalho consideramos seixo as peças obtidas nos leitos dos rios (córtex liso pela ação da água). Bloco: presença da camada externa de alteração de uma rocha, que, nesse caso, indica Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 136 ser a matéria-prima proveniente de afloramentos. Afloramentos são os locais naturais das rochas, sendo, portanto, a matéria-prima destacada diretamente da rocha-mãe. A superfície não é lisa e nem as arestas são tão desgastadas quanto as de um seixo. Placa: Fragmentos destacados da rocha-mãe com formas geralmente retangulares, onde ambas as faces (dorsal e ventral) são planas. Indicadores Tecnológicos Este item procura decompor o material lítico lascado em suas características tecnológicas básicas. Como a confecção de artefatos líticos baseia-se em uma tecnologia extrativa, produz grande quantidade de resíduos diferenciados de acordo com a etapa de produção. Sua análise, portanto, permite a reconstituição da cadeia operatória por trás dos artefatos, mesmo quando estes se encontram ausentes. A arqueologia experimental, bem como a etno-arqueologia, auxilia-nos a compreender esta categoria de fenômenos de forma particularizada, decomposta em diferentes indicadores (Dias e Hoeltz, 1997). Esta etapa de análise abrange quatro grupos, envolvendo as formas básicas: lascas, núcleos, bifaces e artefatos brutos. Atributos para Caracterização de Lascas Tendo como orientação básica a seqüência de produção definidas por Collins (1975) entre produtos de redução inicial (preparação inicial da matéria prima para a extração de córtex), modificação primária (pré-formatação das bases de produção de artefatos, sejam esses produzidos sobre núcleos ou sobre lascas através de tecnologia unipolar ou bipolar) e modificação secundária (associado à finalização e acabamento por retoque), as lascas foram, segundo atributos técnicos característicos, divididas em várias categorias - variando também segundo os critérios adotados pelos pesquisadores. Laming-Emperaire (1967, p. 36) e Collins (1975) as dividem nos seguintes tipos: Dados de Lascas Unipolares N. Tipo de Lascas Lascas unipolares iniciais ou corticais – segundo Leroi-Gourhan (1966 apud LamingEmperaire, 1967, p. 36), correspondem à primeira lasca destacada do núcleo, ainda revestida de córtex. A parte dorsal é completamente coberta por córtex e o plano de percussão, quando existente, é de uma plataforma natural da rocha. São lascas primárias (Prous, 1986/90, p. 17). Correspondem aos resíduos de lascamento resultantes da segunda etapa de produção de Collins (1989/90). As lascas citadas a seguir podem tanto ser o produto dos resíduos de lascamento obtidos na terceira quanto na quarta etapa de produção de Collins. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 137 Lascas unipolares primárias ou de preparação – São lascas retiradas após o primeiro lascamento de uma massa de matéria-prima. Apresentam no seu dorso marcas dos lascamentos precedentes ou até restos de córtex (Laming-Emperaire, 1967, p. 36). Apresentam um plano de percussão pronunciado, largo, indiferente ao tamanho da lasca. Também denominadas, segundo Leroi-Gourhan (1966 apud Laming-Emperaire, 1967, p. 36), lascas de descortinamento; ou, segundo Prous (1986/90, p. 18), lascas secundárias. Lascas unipolares secundárias ou de redução de biface – Lascas derivadas da produção de artefatos bifaciais. São de pequena espessura e seu perfil longitudinal, geralmente, apresenta uma leve curvatura. Apresentam o plano de percussão estreito e, por vezes, formando um lábio em seu canto ventral. A lasca bifacial é produto de uma retirada posterior à de preparação, sendo mais própria à finalização e ao acabamento, podendo ser até mesmo o produto dos lascamentos de retoque. Lâminas – São definidas como lascas cujo comprimento é igual ou superior a duas vezes sua largura (Brëzillon, 1977, p. 99). Microlascas ou lasca de retoque – Também produto de lascamentos de retoque, mas diferenciam-se das lascas bifaciais por serem pequenas, finas, talão reduzido, puntiforme ou ausente e sem formação de lábio. Associam-se à última etapa de refino ou acabamento do artefato, designado de modificação secundária por Collins. Lasca de machado polido – Lascas derivadas de machados polidos; reconhecidas pelo polimento existente na sua face dorsal. O. Tipo de Plano de Percussão Direto É a superfície que recebeu o golpe que destacou a lasca de seu núcleo (LamingEmperaire, 1967, p. 51). Tixier et al (1980, p. 41) denomina-o "talão" ou "parte destacada do plano sobre o qual se deu o golpe". Este plano pode ser natural da rocha ou preparado pelo artesão, podendo apresentar-se: Liso: Superfície plana, regular, com negativo de apenas um lascamento. Facetado: Superfície irregular, com negativos de dois ou mais lascamentos. É completo quando no negativo se evidencia o ponto de percussão; e incompleto, quando o ponto de percussão foi retirado devido a lascamento ou redução sobreposta. Linear/Puntiforme: Plano muito estreito, linear, onde se observa o ponto de impacto do golpe. Superfície natural (córtex): O plano de percussão é a própria superfície natural da rocha. P. Canto Dorsal do Plano de Percussão Direto Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 138 É o canto externo do plano de percussão. Segundo Laming-Emperaire, “é aquele que, antes da debitagem, constituía a borda do plano de percussão do núcleo" (Laming-Emperaire, 1967, p. 51). Este canto pode ser preparado para a retirada da lasca, recebendo vários golpes e ficando reduzido; neste caso, temos um canto com redução dorsal. Ou não ser preparado e, portanto, não apresentar redução dorsal. Esta redução pode apresentar-se escalonada, macerada (idem item anterior), ou ainda, apresentar somente uma cicatriz de lascamento (redução não intensa). Se não houver redução, o canto pode apresentar superfície natural. Dados de Lascas Bipolares São lascas com dois pontos opostos de impacto. Segundo Heinzelin, são lascas “obtidas por debitagem bipolar. As ondas de impacto se propagam às vezes em dois pontos opostos da mesma lasca, mas nem sempre” (Heinzelin, 1962, p.13 apud Brézillon, 1977, p. 101). Segundo Prous e Lima, as lascas bipolares não apresentam, em muitos casos, nem talão, nem face interna, nem face externa no sentido habitual. “São produtos de debitagem finos, com gumes agudos, cujo talão é substituído por uma linha de esmagamento (...) Em conseqüência, lascas bipolares têm tendência a serem mais retas que as unipolares” (Prous e Lima, 1986/90, p. 100). Morfologicamente, se dividem em: cônicas, laminares, angulares e prismáticas. (N) Tipo de Plano de Percussão Direto: Podem ser os mesmos planos definidos para lascas unipolares, acrescentando apenas mais um tipo: Macerado/esmagado: Superfície irregular, com uma seqüência de negativos truncados, formando uma série de pequenos degraus, ou ainda apresentar marcas consecutivas de picoteamento, umas sobre as outras, provocando uma área irregular, resultado de um picoteado intenso. (O) Tipo de Plano de Percussão Indireto: Relacionado apenas às lascas bipolares. A reflexão do golpe no apoio/bigorna bipolar produz pontos de percussão indiretos na região distal da lasca. Os tipos produzidos são idênticos aos descritos no item dos tipos de plano de percussão direta. Atributos para Caracterização de Núcleos O núcleo, para Vialou: é um resíduo, quaisquer que sejam sua forma, o número e o arranjo dos negativos do lascamento (...) a obtenção de planos de percussão é o objetivo máximo no momento da preparação do bloco de matéria prima, à medida que o núcleo se transforma pelas retiradas sucessivas (Vialou, 1980, p. 70). O núcleo, deste modo, pode apresentar-se de várias formas, dependendo da posição e quantidade de planos de percussão (plataformas) presentes. Plataforma é o plano de Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 139 percussão, ou melhor, o plano de retirada, é a superfície à margem da qual o golpe do percutor é dado para lascar - debitar a lasca. Ocorre algumas vezes do núcleo apresentar retoques e/ou marcas de utilização, o que indica que, após ser explorado como fonte de matéria prima (esgotada ou não esta fonte), foi empregado para algum fim, transformando-se num artefato. Resta, neste caso, apenas o núcleo como forma básica da peça. Vialou (1980, p. 70) refere-se a alguns núcleos do sítio Almeida (SP) com arestas nitidamente entalhadas e que podem ter servido como um denticulado ou uma lasca com reentrâncias. Diz serem estas utilizações ocasionais, ou estas peças tiveram uma outra possibilidade técnica, servindo o núcleo para uma finalidade diferente da original, onde o artesão aproveitou-se dos dados morfológicos resultantes de um outro processo tecnológico. Talvez aqui semelhante situação tenha ocorrido, pois não é raro encontrá-los utilizados de alguma forma. N. Tipo de Núcleo Tomando por base os tipos15 de núcleos apresentados por Vialou (1980, p. 71-74), mas considerando certas diferenças, identificamos: Núcleo unipolar com uma plataforma definida: Todas as retiradas são efetuadas a partir de um único plano de percussão (plataforma). Este plano de percussão pode ser uma face plana, uma fratura do bloco de matéria prima ou o negativo de uma retirada que extraiu a calota de um núcleo. Estas retiradas, na maioria das vezes, tendem a concentrarem-se na extremidade do núcleo, dando-lhe então uma forma piramidal ou de cone. Ou, ao invés de convergirem a um ápice, as retiradas sempre unidirecionais ganham uma face oposta, que num plano é quase que paralelo ao plano de percussão - "núcleo troncônico", segundo Vialou (1980, p. 74). Neste caso tendem a uma forma retangular. Núcleo unipolar com duas plataformas opostas: As retiradas são efetuadas a partir de dois planos de percussão opostos entre si, de forma que estas retiradas tenham direções paralelas e sentidos contrários. Núcleo unipolar com duas plataformas em ângulo: Presença no núcleo de dois planos de percussão que formam um ângulo entre si, de forma que tanto a direção quanto o sentido das retiradas sejam variáveis. Núcleo com várias plataformas em outras posições – poliédrico: As retiradas parecem ser efetuadas em todas as faces do núcleo. Leroi-Gourhan (1964, p. 9 apud Brézillon, 1977, p. 90) denomina-o comumente de "núcleo globular", dizendo apresentar, às vezes, uma aparência de plano de percussão irregular. Núcleo bipolar: Núcleos que apresentam duas plataformas, uma direta e outra indireta. 15 Não os classificamos como tipos, na verdade, representam diferentes técnicas e opções para a obtenção de lascas que resultam em determinadas formas. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 140 Podem apresentar diversas formas. O. Tipo de Plataforma Os tipos de plataformas identificadas nos núcleos são os mesmos tipos de planos de percussão identificados e descritos para lascas (item O). Evidencia-se, porém, mais um tipo de plataforma: superfície ventral. Quando uma lasca é destacada de qualquer massa de matéria prima e esta mesma lasca continua sendo fonte de uma série de outros lascamentos, ela passa a ser um núcleo apresentando uma plataforma ventral (parte interna da primeira lasca retirada da massa de matéria prima). Esta plataforma ventral pode ainda apresentar um negativo de lascamento sobreposto ao seu bulbo e, neste caso, tem-se uma plataforma denominada de superfície ventral com rebaixamento de bulbo. Observa-se que um único núcleo com mais de uma plataforma pode apresentar vários tipos de plataformas. P. Canto da Plataforma Da mesma forma que o canto dorsal do plano de percussão das lascas (item P), as plataformas do núcleo podem ser preparadas ou não: sem redução ou com redução. Atributos para Caracterização de Artefatos Bifaciais/Unifaciais Esta lista refere-se àqueles artefatos que apresentam lascamentos bifaciais e unifaciais. Os artefatos bifaciais apresentam lascamentos tanto dorsais quanto ventrais numa mesma zona da borda de uma peça; e os unifaciais apresentam lascamentos dorsais ou ventrais numa mesma zona da borda da peça. São peças que apresentam uma técnica de confecção que lhes é peculiar: uma seqüência de modificações (reduções e retoques) ao longo de toda a borda dorsal e/ou ventral da peça (neste caso: face 1, com maior quantidade de negativos de lascamento e, face 2, com menor quantidade de negativos de lascamento). Consideramos também para análise a forma das extremidades da peça, isto é, se a sua terminação se dá em ponta ou não. Deste modo, a análise dos negativos das modificações e da forma da peça permitiu definir se os artesãos de um mesmo grupo de caçadores coletores, ao confeccionarem seus artefatos bifaciais e unifaciais, obedeciam a uma seqüência de gestos técnicos préestabelecidos. Portanto, nosso objetivo é verificar a existência de um padrão de produção de artefatos bifaciais. Fugiria aos objetivos deste trabalho a tentativa de classificação das pontas de projétil. Seguiu-se apenas a análise de seus aspectos técnicos, procurando constatar possíveis diferenças locais. N. Suporte: Corresponde à forma básica inicial da massa de matéria-prima empregada para a confecção dos artefatos bifaciais e unifaciais. Estes podem ser: Bloco: A massa de matéria-prima utilizada provém de afloramentos. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 141 Seixo: A massa de matéria-prima utilizada provém de fragmentos há algum tempo destacados da rocha-mãe e que foram transportados pela água. Placa: Fragmento destacado da rocha-mãe, com formas geralmente retangulares, onde ambas as faces (dorsal e ventral) são planas. Lasca: Lasca proveniente de lascamentos por percussão direta, onde se observa somente um único pólo no qual o golpe foi efetuado. O. Tipos Tecnológicos Classificados segundo a posição dos lascamentos (retiradas) bifaciais ou unifaciais, a presença na parte proximal de superfície natural e a forma das extremidades, podem ser: Tipo 1: Retiradas periféricas unifaciais em todo o contorno (ou apenas em uma lateral) e sem terminação em ponta. Tipo 2: Retiradas bifaciais em apenas uma extremidade e com terminação em ponta. Tipo 3: Retiradas bifaciais com terminação em ponta e uma extremidade cortical. Tipo 4: Retiradas periféricas bifaciais em todo o contorno e uma terminação em ponta. Tipo 5: Ponta de projétil com pedúnculo. Atributos para Caracterização de Peças Brutas e Polidas Esta lista refere-se àqueles materiais que sofrem a ação dos materiais a serem trabalhados. Estes artefatos apresentam uma superfície destinada a receber ou servir de base de percussão ou fricção ao material a ser trabalhado, por isso são evidentes em suas superfícies as marcas de utilização ou polimento. N. Tipo de Artefato Bruto As peças podem ser denominadas de: Percutor: Seixos, geralmente de formas arredondadas, ovaladas ou elipsóides, cujas superfícies apresentam-se alisadas. As superfícies da peça servem para bater, lascar, triturar ou moer um outro material, de forma a apresentarem um picoteamento. Percutores multifuncionais: Idem a um percutor onde as superfícies centrais, quando apresentam uma leve depressão, servem como apoio a materiais destinados a serem triturados ou quebrados. Bigorna (apoio): Bloco de forma natural, não trabalhado, sendo que seu uso é evidente por marcas de golpes impressos em sua face plana. São blocos que servem de apoio a Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 142 materiais destinados a serem batidos, quebrados ou triturados por meio de um percutor (Laming-Emperaire, 1967, p. 85). Polidor Manual: Geralmente sobre plaquetas de arenito, raramente blocos. Apresentam ambas ou apenas uma de suas faces alisadas. Sem um estudo das marcas de uso é impossível determinar se estas plaquetas teriam servido para polir uma peça (por exemplo, desgastar uma borda, produzindo uma plataforma de retoque) ou para moer e esmagar um material mole (por exemplo, grãos). Peça com depressão semi-esférica: Seixo ou pedra que apresenta uma ou várias depressões situadas em uma ou em duas faces opostas. Seixo sem modificação: massa de matéria prima transportada pela água sem ação antrópica. Alisador de Cerâmica: Pequenos seixos com superfície lisa para polir a cerâmica. Possuem, como marcas de utilização, ranhuras e uma superfície brilhosa. Mós (moedor): Pedra cuja parte útil é constituída por uma superfície plana ou, então, ligeiramente côncava em virtude do uso. É parte complementar da mão de mó, utilizada na moagem de alimentos. Mão de Pilão: Semelhante à Mão de mó, é maior e atua por percussão, triturando grãos ou minerais com sua extremidade distal. Machado Polido: São peças que se apresentam totalmente polidas ou semi-polidas ou com polimento apenas na sua extremidade distal (parte ativa). Sua borda distal geralmente é convexa e a proximal convexa ou plana. Atributos para Caracterização de Material Lítico com Modificação O artesão, na intenção de confeccionar um dado artefato, executa uma série de gestos técnicos tendo em mente uma forma já pré-estabelecida de seu produto final. Deste modo, o artesão age intencionalmente na escolha da matéria prima, na seleção e produção da forma básica do material e nos gestos técnicos que desencadeará para chegar ao produto final - o artefato. Segundo Moraes (1987, p. 170), artefato é todo objeto talhado com a finalidade de apropriação de uma forma pré-concebida mentalmente e que se qualifica como tal pela presença de retoque. Porém, as marcas de uso, quando existentes, não necessariamente ocorrem somente em bordas retocadas, podendo ocorrer nas bordas "cruas" sem o acompanhamento de retoques, ou mesmo nos materiais não retocados. Desta forma, Mansur (1986/1990, p. 116) define artefatos pela evidência de utilização que apresentam. Nesta análise, o artefato tem forma e/ou função definidas evidentes pelos retoques e/ou utilização Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 143 que apresenta. Não é nosso objetivo denominar artefatos e diferenciá-los em tipos (morfológicos ou funcionais), procedimento da maioria dos pesquisadores. Interessa-nos, isto sim, a análise dos aspectos técnicos que deram forma ao artefato, desde sua forma básica até as modificações ocorridas, entendidas aqui como retoques e marcas de uso. Assim, não se fala, por exemplo, em raspadores sobre lascas, raspadores sobre núcleos, facas, lesmas, etc, Deste modo, tentamos evitar erros de terminologia apontados por Vialou (1980, p. 64), que afirma que não só as tipologias funcionais como as morfológicas chegam, às vezes, aos mesmos erros. Baseada na tecnologia dos retoques e marcas de utilização, a análise das modificações é que dá suporte às definições morfológicas e funcionais. Segundo Hayden e Kaminga tal análise: "busca as chaves de compreensão da evolução comportamental e do desenvolvimento cultural através da identificação de quais comportamentos (atividades) estão nos artefatos arqueológicos" (Hayden e Kaminga, 1979, p. 1). O início da análise funcional remonta aos trabalhos desenvolvidos por Semenov (1981) e seus colaboradores na década de 50. Sua principal contribuição foi ter demonstrado que as peças líticas conservam vestígios indestrutíveis depois da utilização e que é possível identificálos ao se empregar um equipamento ótico adequado. Semenov (1981, p. 13), referindo-se à elaboração do método de seleção dos instrumentos com marcas de utilização, diz ser preciso distinguir as particularidades de tais marcas, diferenciando-as daquelas feitas pela ação de agentes naturais, assim como dos sinais falsos produzidos pelo homem contemporâneo, pela intencionalidade ou ainda pela casualidade. Para a análise funcional, dispunha-se apenas de uma lupa binocular de baixo aumento (20X), não sendo possível, por isso, uma análise mais criteriosa dos vestígios de utilização. É preciso, sem dúvida, além de microscópios de altos aumentos (eletrônicos), estudos experimentais controlados com matérias-primas semelhantes, para obter uma análise segura. Identificamos apenas aquelas marcas possíveis de serem vistas com a lupa e freqüentemente questionamos se as marcas como as microfaturas correspondiam à utilização ou, simplesmente, a retoques intencionais feitos pelo artesão. Semenov atentou para esta questão quando identificava sinais de desgaste em ferramentas de sílex paleolíticas: "(...) com freqüência estes sinais de uso não se diferenciam dos deixados pelo retoque feito pelo homem para aguçar a borda desgastada ou para retirar o filo de uma borda demasiado aguda" (Semenov, 1981, p. 14). Convém ressaltar que a análise tecno-tipológica e funcional enfoca um processo que é, acima de tudo, dinâmico, onde os atributos do material lítico não podem ser analisados isoladamente. Os atributos que compõem esta lista estão baseados nos trabalhos de Brézillon (1977), Mansur (1986/90), Tixier et al (1980), Vialou (1980), Laming-Emperaire (1967), Moraes (1987), Semenov (1981) e Binford (1963). Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 144 Dados de Modificação R. Tipo de Modificação São as peças que podem apresentar retoques e/ou marcas de uso. Os retoques constituem a última fase da confecção dos artefatos e as marcas de utilização correspondem ao emprego do artefato antes do seu descarte (abandono). Alguns materiais são simplesmente utilizados sem terem sido retocados, nem por isso deixando de ser artefatos. Ainda assim é preciso ressaltar a importância dos retoques, uma vez que eles podem transformar-se num atributo tecnológico diferenciador dos grupos pré-históricos e servirem diretamente na definição dos tipos de artefatos (ainda que nem sempre o retoque seja a sua parte ativa). Segundo Vialou, retocar "é transformar, totalmente ou em parte, um produto de lascamento, em suas faces ou em suas bordas (ou as duas juntas), efetuando retiradas quaisquer que sejam sua forma, direção, tecnologia" (Vialou, 1980, p. 88). Os retoques consolidam o gume dos artefatos, tornando-os mais espessos, ou então reavivam os gumes já gastos pelo uso. Podem igualmente transformar uma borda cortante em uma borda não cortante, na intenção de utilizá-la como borda de preensão ou de encabamento, fato observado em alguns bifaces. Observa-se ser, algumas vezes, muito difícil distingui-los de certas marcas de uso, necessitando-se, nestes casos, de experimentações e instrumental eficientes. Tixier et al definem os retoques como "as extrações obtidas por percussão ou pressão com a finalidade de realizar ou acabar os artefatos" (Tixier et al, 1980, p. 59). Semenov (1981, p. 92-94) destaca que os retoques por percussão direta implicam em efetuar numerosos e freqüentes golpes destinados a eliminar pequenas porções da superfície do artefato em elaboração e que estes retoques também poderiam ser aplicados com a ajuda de um "punção" intermediário de pedra ou osso. Este tipo de retoque com instrumento intermediário, só conhecido por dados etnográficos, tornaria possível destacar partículas do material em confecção em lugares precisos. Outro tipo de retoque seria por contra-golpe, também efetuado por um "punção" onde o artefato em elaboração encontrava-se apoiado sobre uma outra pedra. Diz o autor que este tipo de técnica, por não apresentar resultados muito satisfatórios, não poderia ser empregada na produção de retoques finos como na produção de pontas de projétil; mas teria sido largamente empregada no preparo de percussão na técnica de redução de peças bifaciais. Semenov (1981, p. 94-111) refere-se também aos retoques por pressão, caracterizando-os por produzirem bordas finas e delicadas, pressionando a ponta de um instrumento (de osso, madeira ou pedra, dependendo da tenacidade da matéria prima que sofre o retoque) sobre a borda do artefato em elaboração. O autor destaca a possibilidade de retoque por pressão, utilizando-se a técnica do contra-golpe com percutor brando; porém, é praticamente impossível determinar a presença desta técnica no material arqueológico. É muito difícil, no que se refere ao material em estudo, determinar o procedimento Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 145 empregado na confecção de seus retoques sem desenvolver experimentações com matériasprimas afins. As matérias-primas respondem diferentemente aos retoques, dependendo de suas propriedades físicas, sendo, portanto, difícil diferenciar, por exemplo, retoques produzidos por percussão direta com percutor brando de retoques produzidos por pressão. Concordamos com Vialou, que diz: Não há mil maneiras de retocar lascas: as soluções técnicas de percussão ou pressão são limitadas, encontram-se poucos tipos de retoques; porém, há várias formas, posições, etc., de modo que os fatos tecnológicos são fundamentais, sempre primeiros quando se compreende a relação tecnológica - tipológica (Vialou, 1980, p. 94). Já a análise das marcas de utilização permite constituir o tipo de atividade processada pelo artesão quando no emprego de determinado artefato, como raspar, cortar, furar, etc. Pesquisas mais aprofundadas relacionadas a estas análises funcionais começaram somente a se desenvolver a partir do final da década de 70 e início da década de 80 na Europa, através do uso de microscópios de reflexão para estudar micropolidos, com resultados muito satisfatórios. A maioria dessas pesquisas, no entanto, referem-se às marcas de uso presentes nos gumes de artefatos confeccionados em sílex. Como nem todas as matérias-primas respondem da mesma forma às marcas de utilização, concordamos com Mansur (1986/90, p. 126-127) quando ela afirma ser necessário realizar, em cada caso, toda uma fase de estudo experimental que permita definir estas marcas de modo preciso. Os atributos técnicos empregados para a análise das modificações são os seguintes: Retoque: Este primeiro atributo diz respeito à disposição e extensão dos retoques, baseando-se em Moraes (1987, p. 177) e Laming-Emperaire (1967, p. 58-59). Quanto à disposição, estes retoques podem ser: regulares, que se encontram perpendiculares ou oblíquos à borda, mas paralelos entre si; e irregulares/escalariformes, que se encontram perpendiculares e oblíquos ao mesmo tempo em relação à borda, de forma a não haver paralelismo entre si ou, inclusive, estarem superpostos uns aos outros. Podem ainda ser rasante (com um ângulo de 10º), semi-abrupto (entre 30º e 70º) ou abrupto (80º-90º). Arredondamento: É possível identificar com a lupa binocular ou até algumas vezes a olho nu um arredondamento nas bordas das peças. Isto ocorre principalmente nas peças de arenito ou arenito silicificado, onde seus grãos de quartzo se gastam após serem friccionados em objetos resistentes e as bordas ganham um aspecto arredondado. Este aspecto ficou bem evidente na análise experimental. Polimento (brilho): Associado ao arredondamento ocorre um brilho característico nas bordas utilizadas. S. Localização da Modificação Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 146 Segundo Laming-Emperaire (1967, p. 58), os retoques podem ser feitos na face interna (lado ventral da lasca), na face externa (lado dorsal da lasca) ou em ambas. Para os artefatos bifaciais e unifaciais, denominamos face 1 (maior quantidade de negativos de lascamento) e face 2 (menor quantidade de negativos de lascamento) Desta forma, os retoques podem ser: Dorsal: Também denominados externos ou diretos, quando os golpes ou a pressão do retocador foram aplicados sobre a face interna da lasca, sendo que os lascamentos afetam a face externa. Ventral: Também denominados internos, indiretos ou inversos, quando a ação foi aplicada sobre a face externa da lasca e, portanto, os lascamentos afetam a face interna. T. Posição da Modificação Esta pode ser proximal, mesial, distal, ou a combinação destas. 4.2.3. Resultados das Análises Tecno-Tipológicas das Indústrias Líticas Foram analisados os conjuntos líticos de modo a compará-los, na tentativa de compreender a dinâmica de organização do espaço pelos grupos pré-históricos que ocuparam a região, considerando as suas estratégias de escolha e obtenção de matéria-prima, as tecnologias de produção por eles selecionadas e os tipos de artefatos resultantes destas escolhas. Na região em estudo, identificaram-se 19 conjuntos com um total de 4.041 peças líticas. Desses, nove se encontram na área de Plano Alto com um total de 1.511 peças e 10 na área de Alto Irani, com um total de 2.530 peças. Em Plano Alto, seis conjuntos são lito-cerâmicos e três são exclusivamente líticos. O sítio SC-PA-04, lito-cerâmico, apresenta 91,13% do total de objetos líticos identificados na área de Plano Alto, e o restante dos sítios compõem menos de 3,0% do total. Na sua maioria tratase de sítios superficiais a céu aberto, apenas três sítios atingiram níveis mais profundos, como os sítios SC-PA-04 (120 cm), SC-PA-05 (70 cm) e SC-PA-06 (60 cm). Em Alto Irani, cinco conjuntos são lito-cerâmicos e cinco são exclusivamente líticos. O sítio SC-AI-17, lito-cerâmico, apresenta 86,05% do total de objetos líticos identificados na área de Alto Irani, e o restante dos sítios compõem menos de 5,5% do total. Assim como na área de Plano Alto, também na sua maioria trata-se de sítios superficiais a céu aberto, apenas 03 sítios atingiram níveis mais profundos, caso dos sítios SC-AI-02 (10 cm), SC-AI-03 (20 cm) e SC-AI17 (80 cm). Alguns sítios apresentam entre 5 e 10 peças e, portanto, foram considerados como sítios com baixa densidade de material arqueológico – um sítio em Plano Alto (SC-PA-09) e um Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 147 sítio em Alto Irani (SC-AI-22). Segue a apresentação dos sítios, com as respectivas localizações e quantidade de peças líticas (ver quadro 6 e 7). Quantidade de Objetos Líticos Presença de Cerâmica Profundidade máxima (cm) SC-PA-04 1.377 Sim 120 SC-PA-05 18 Sim 70 SC-PA-06 13 Sim 60 SC-PA-08 15 Sim superfície SC-PA-09 06 Sim superfície SC-PA-11 35 Não superfície SC-PA-12 43 Sim superfície OAD-PA-01 03 Não superfície OAD-PA-02 01 Não 10 Total 1.511 - - Sítio Quadro 6: Relação dos sítios lito-cerâmicos, líticos e ocorrências discretas identificadas na PCH de Plano Alto. Quantidade de Objetos Líticos Presença de Cerâmica Profundidade máxima (cm) SC-AI-02 14 Sim 10 SC-AI-03 127 Sim 20 SC-AI-08 63 Sim Superfície SC-AI-17 2.177 Sim 80 SC-AI-19 94 Sim Superfície SC-AI-20 15 Não Superfície Sítio Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 148 SC-AI-21 28 Não Superfície SC-AI-22 07 Não Superfície OAD-AI-01 03 Sim 30 OAD-AI-02 02 Não Superfície Total 2.530 - - Quadro 7: Relação dos sítios lito-cerâmicos, líticos e ocorrências discretas identificadas na PCH Alto Irani. 4.2.3.1. Estratégias para a obtenção das matérias-primas: Geologia e Geomorfologia Os sítios arqueológicos resgatados localizam-se em altitudes inferiores a 800m. A área de estudo faz parte da Bacia do Paraná, onde predomina a formação Serra Geral, constituída basicamente das lavas basálticas e das lavas intermediárias entre derrames básicos e ácidos. O estudo dos aspectos físicos da região é fundamental para que se compreenda a organização tecnológica das culturas pré-históricas, pois a matéria-prima lítica interfere na organização e na sobrevivência desses grupos. Conforme Scheibe (2002, p. 203): A área faz parte do contexto de ocorrência das rochas efusivas da Formação Serra Geral, recentemente estudadas por Paiva Filho (2000), o qual propôs a denominação de "Membro Goio-En" para um "possante derrame de riodacito pórfiro, completamente distinto dos demais, situado discordantemente no topo do pacote de [rochas] vulcânicas ácidas da Bacia do Paraná" (Paiva, 2000, p. 110 apud Scheibe, 2002, p. 203). O membro Goio-En foi classificado petrograficamente como riodacito pórfiro ou riólito, cujas características litológicas e estruturais são constantes em toda a área em estudo. Esta rocha apresenta coloração parda a cinza-esverdeada quando não sofreu alteração, e cinzaclara esverdeada, ou tonalidades mais escuras, quando intemperizada. Na superfície encontram-se vários afloramentos que apresentam fenocristais intemperizados, que com o decorrer do tempo são retirados pela erosão, formando uma superfície esburacada. Scheibe (2002, p. 204) afirma que também estão presentes nestas rochas fenocristais de clinopiroxênios e poucos de apatita, em uma matriz praticamente vítrea, em estágios diversos de alteração, descrita como constituída especialmente por micrólitos de feldspato alcalino, plagioclásio, quartzo e opacos, como argilo-minerais intersticiais, do grupo das esmectitas. Além destas, encontram-se na região rochas basálticas típicas da Formação Serra Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 149 Geral. Normalmente, estão bastante fraturadas e não formam grandes blocos na superfície. O arenito recozido de coloração avermelhada (meta-lamitos) também foi evidenciado em outros estudos na região (Scheibe, 2002). Essa matéria-prima é caracterizada como uma rocha muito resistente, e também nos sitos em estudo foram amplamente utilizadas, especialmente na confecção de pontas de projétil pedunculadas e de peças bifaciais/ unifacias. Os basaltos são compostos basicamente por plagioclásios, piroxênios, magnetita e minerais secundários. Os plagioclásios, que aparecem em maior quantidade, são plagioclásios cálcicos e piroxênios, que têm estabilidade muito baixa. Dessa forma, alteram-se quase que totalmente em minerais argilosos, com alta liberação de óxidos, notadamente os de ferro. A grande abundância de cátions e a escassez de sílica conduzem à formação de caulinita, auxiliada pela drenagem e lixiviação. O intemperismo, ao longo do tempo, transformou o material de origem em solos, os quais herdaram características inerentes à rocha que, ao transformar-se, liberou grandes quantidades de minerais secundários (argilas) e óxidos de ferro. Os rios são sinuosos, com vales encaixados e patamares nas vertentes. O controle estrutural é marcado por segmentos retilíneos dos rios, pelos cotovelos e pela grande ocorrência de lajeados, saltos, quedas e ilhas. Os rios apresentam, muitas vezes, corredeiras e pequenas cachoeiras resultantes das diferenças internas nos derrames das rochas efusivas. A região está inserida em duas grandes unidades geomorfológicas: Planalto dos Campos Gerais e Planalto Dissecado do Rio Iguaçu/Rio Uruguai. A primeira apresenta-se distribuída pelo estado em blocos de relevos isolados pelo Planalto Dissecado Rio Iguaçu/Rio Uruguai. Os blocos que constituem esta unidade são conhecidos como planalto de Palmas, planalto de Capanema, planalto de Campos Novos e planalto de Chapecó. Estes blocos estão situados topograficamente acima das áreas circundantes (Planalto Dissecado Rio Iguaçu/Rio Uruguai) e correspondem a restos de uma superfície de aplanamento. As cotas altimétricas mais elevadas ocorrem na porção leste da unidade, ultrapassando 1.200 metros, nas proximidades da “cuesta” da Serra Geral, enquanto as menores são encontradas no planalto de Chapecó, atingindo 600 metros. A situação estável do relevo favorece a infiltração da água no solo, salvo regiões de ocorrência de diaclasamento horizontal da rocha. Com isso, aceleram-se os processos de intemperismo resultando em solos profundos, de texturas argilosas e bem drenadas, porém com baixa a média fertilidade natural. A Unidade Geomorfológica Planalto Dissecado Rio Iguaçu/Rio Uruguai caracteriza-se pelo domínio de um relevo dissecado e constituído por uma sucessão de encostas em Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 150 patamares e terraços que constituem superfícies geomórficas policíclicas. Assim, após sucessivos derrames de lavas, formou-se uma sucessão de rochas com diferentes graus de resistência à alteração. A decomposição seletiva dessas rochas subjacentes, associadas à ação da erosão, originou superfícies em degraus ou patamares, típica de áreas de derrames basálticos, justificando desta forma, a característica do relevo da região. Como indicativo de instabilidade e imaturidade da paisagem, dominam vales estreitos e profundos (tipo "v"), como por exemplo, a “calha” do rio Uruguai. Os vales em geral variam de pouco a medianamente encaixados e apresentam uma drenagem condicionada pelas falhas geológicas dos maciços. A dissecação do relevo é moderada com amplitudes altimétricas na média de 100 m. A geologia e a geomorfologia da região demonstram que os grupos pré-históricos habitantes dessas áreas tinham à disposição matérias-primas de qualidade e em abundância para a produção de seus objetos líticos. A ação antrópica contribui através da modificação da cobertura vegetal original, das culturas, reflorestamentos e retiradas de madeiras nativas, alterando as características físicas, químicas e biológicas dos horizontes superiores do solo. Os principais mecanismos de erosão pluvial nessa unidade geomorfológica são o escoamento superficial e o escoamento subsuperficial. O escoamento superficial é considerado o mais generalizado e mais importante na esculturação do relevo, devida às características estruturais e texturais das formações superficiais, que se apresentam, de forma geral, profundas. A cobertura vegetal original da região do vale do rio Chapecó encontra-se bastante descaracterizada, em função da forte exploração dos recursos naturais da região, aliada às condições de declividade, que vem a dificultar sua recuperação. Soma-se a isso as atividades agrícola que acabam por impactar diretamente os sítios arqueológicos. 4.2.3.2. Descrição dos Objetos Líticos da Área da PCH Plano Alto 4.2.3.2.1 Sitio SC-PA-04 O Sítio SC-PA-04 é um sítio lito-cerâmico a céu aberto, com 120 cm de profundidade. Os objetos líticos, com um total de 1.377 peças, ocorrem invariavelmente até os níveis mais profundos, diferentemente dos fragmentos cerâmicos que são evidentes apenas até a profundidade de 80 cm. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 151 Como um todo, o conjunto encontra-se representado por núcleos, lascas unipolares, lascas bipolares, artefatos bifaciais, artefatos unifaciais, termóferos, artefatos brutos e fragmentos de lasca e de núcleos. Entretanto, há variações no que diz respeito às suas freqüências para os diferentes níveis. Segue, portanto, a apresentação dessas variações: Nível superficial O conjunto lítico desse nível superficial é composto por 30 peças (associadas à cerâmica), que estão representadas na sua maioria por lascas unipolares (42%) e fragmentos de núcleo (22%). O restante das peças corresponde, em menores proporções, a fragmentos de lasca (10%), a núcleos (10%), a termóferos (7%), a lascas bipolares (3%), a artefatos bifaciais e unifaciais (3%) e, por fim, a artefatos brutos (3%). Quanto às estratégias de obtenção das matérias-primas, constata-se que houve uma seleção das rochas segundo a categoria de forma básica. As lascas unipolares são de metalamitos (50%), de basaltos (33%) e de calcedônias (17%). Os núcleos (3 peças) são todos de basalto e recobertos por córtex (mais da metade da peça) e as lascas bipolares (1 peça) são de calcedônia. A única peça bifacial de grandes dimensões (14,1 X 5,6 X 3,1cm) presente no conjunto é de basalto, indicando retiradas periféricas bifaciais em todo o contorno, uma terminação em ponta e possuindo um bloco como suporte. 3% 3% 50% 7% 22% 42% 10% 10% 33% 3% 17% Lasca unipolar Lasca bipolar Núcleo Frag de lasca Frag de núcleo Art bifacial ou unifacial Bruto Termofero Gráfico 21: Forma básica: superfície. Basalto Calcedônia Meta-lamito Gráfico 22: Lasca unipolar x matériaprima: superfície. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 152 Fotos 248 e 249: Biface de basalto (peça nº. 26): face 1 (esq.) e face 2 (dir.). Foto 250: Artefato Bruto de basalto (peça nº. 17) Nível de 0 a10 cm Nesse nível de 0-10 cm tem-se apenas 8 peças líticas (associadas à cerâmica). As lascas unipolares são as peças mais populares do conjunto (49%), seguidas pelas lascas bipolares (38%) e pelos fragmentos de núcleo (13%). 13% 50% 25% 38% 49% Lasca unipolar Lasca bipolar Frag de núcleo Gráfico 23: Forma básica: 0 – 10 cm. 25% Basalto Rochas silicosas Meta-lamito Gráfico 24: Lasca unipolar x matériaprima: 0 – 10 cm. As lascas unipolares são preferencialmente de meta-lamito (50%), seguidas de basaltos Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 153 e de rochas silicosas (ambas formando 25% das peças). As 3 lascas bipolares existentes são de calcedônia. Em relação ao nível superficial, nota-se a ausência dos núcleos e das peças bifaciais. Nível de 10 a 20 cm Entre 10 e 20 cm de profundidade, apesar da existência de fragmentos cerâmicos, as formas básicas mais freqüentes permanecem sendo lascas unipolares, que compreendem 60% do total (15 peças). Compõem também o conjunto, os detritos (20%), os fragmentos de lasca (13%) e os termóferos (7%). 20% 7% 13% 22% 45% 11% 60% Lasca unipolar Frag de lasca Detrito Termofero Gráfico 25: Forma básica: 10 – 20 cm. 11% 11% Basalto Calcedônia Quartzo Meta-lamito Rochas silicosas Gráfico 26: Lasca unipolar x matériaprima: 10 – 20 cm. Dentre as lascas unipolares observa-se que, diferentemente dos níveis anteriores, elas são em sua maioria de basaltos (45%), seguidas em menores proporções pelos meta-lamitos (22%), pelas rochas silicosas, pelas calcedônias e pelo quartzo (todas com 11%). Contudo, os núcleos, assim como no nível 0-10 cm, permanecem ausentes. E as lascas bipolares desaparecem no nível 10-20 cm. Nível de 20 a 30 cm A essa profundidade, 20-30 cm, as formas básicas do conjunto, num total de 13 peças, assemelham-se às formas presentes no nível superficial. As lascas unipolares são ainda predominantes (38%), seguidas pelos fragmentos de lasca (31%), pelos detritos (23%) e pelo núcleo, do qual há apenas uma peça. Os fragmentos cerâmicos são ainda evidentes. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 154 40% 23% 38% 20% 31% 40% 8% Lasca unipolar Núcleo Frag de lasca Detrito Gráfico 27: Forma básica: 20 – 30 cm. Basalto Quartzo Meta-lamito Gráfico 28: Lasca unipolar x matériaprima: 20 – 30 cm. As lascas unipolares são tanto de basalto quanto de meta-lamito (ambas com 40%), havendo também algumas lascas de quartzo (20%). O único exemplar de núcleo consiste em uma peça bipolar de quartzo. Nível de 30 a 40 cm Entre 30 e 40 cm de profundidade o conjunto lítico torna-se significativamente mais numeroso, com 284 peças. Os fragmentos cerâmicos seguem associados. Esse nível compõese por todas as formas básicas relacionadas na superfície do sítio. Contudo, os detritos tornam-se mais freqüentes (43%) do que as lascas unipolares (28%). Existem ainda fragmentos de lasca (21%) e, em pequenas proporções, lascas bipolares, fragmentos de núcleo, artefatos brutos e termóferos. Novamente chama a atenção a predominância de quase todas as formas básicas em basalto (75%), em detrimento das outras matérias-primas como os meta-lamitos (16%), o quartzo (6%) e as calcedônias (3%). Apenas as lascas bipolares foram produzidas em quartzo e calcedônia. Essa recorrência de relação entre bipolaridade e calcedônia/quartzo, deve-se, provavelmente, às pequenas dimensões dos blocos, seixos ou geodos dessas matériasprimas. 0%4% 1% 3% 6% 28% 16% 43% 3% 21% Lasca unipolar Bruto Lasca bipolar Detrito Termofero Frag de lasca 75% Frag de núcleo Basalto Calcedônia Quartzo Meta-lamito Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 155 Gráfico 29: Forma básica: 30 – 40 cm. Gráfico 30: Lasca unipolar x matériaprima: 30 – 40 cm. Nível de 40 a 50 cm Entre 40 e 50 cm de profundidade o conjunto torna-se ainda mais numeroso do que o do nível anterior, passando a compor 303 peças, com fragmentos cerâmicos associados. Tanto os tipos quanto as quantidades de formas básicas equivalem-se aos dados indicados no nível anterior, ou seja, os detritos e as lascas unipolares são mais numerosos do que os outros tipos, com 32% e 24% respectivamente. Os termóferos, com 24%, tornam-se mais populares do que no nível anterior. As peças bifaciais e unifaciais permanecem ausentes desde o nível 0-10 cm. Quanto às matérias-primas, observa-se que as estratégias dos artesãos permaneceram concentradas na obtenção dos basaltos (89%) para a produção não somente das lascas unipolares, mas também para a maioria de seus objetos. O quartzo e a calcedônia novamente se relacionam à produção de lascas bipolares. 0% 1%1%1%1% 24% 32% 7% 1% 15% Lasca unipolar Frag de núcleo Lasca bipolar Detrito 24% 1%3% 89% Núcleo Bruto Frag de lasca Basalto Arenito Calcedônia Termofero Quartzo Rochas silicosas Meta-lamito Gráfico 31: Forma básica: 40 – 50 cm. Gráfico 32: Lasca unipolar x matériaprima: 40 – 50 cm. Nível de 50 a 60 cm Nesse nível de profundidade, dos 50 aos 60 cm, o sítio apresenta a maior quantidade de objetos líticos – um total de 422 peças. Ressalta-se que os fragmentos cerâmicos, assim como os objetos líticos, são mais numerosos entre 30 e 60 cm de profundidade. Os tipos mais freqüentes de formas básicas permanecem sendo, assim como no nível 40-50 cm, os detritos (43%), as lascas unipolares (20%) e os termóferos (19%). O restante é composto por fragmentos de lasca, fragmentos de núcleo, lascas bipolares e núcleos. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 156 1%4% 43% 0% 6% 16% 0% 19% 2% 20% Lasca unipolar Lasca bipolar Termofero Frag de núcleo Detrito Núcleo Frag de lasca Gráfico 33: Forma básica: 50 – 60 cm. 89% Basalto Calcedônia Quartzo Meta-lamito Gráfico 34: Lasca unipolar x matériaprima: 50 – 60 cm. O basalto, com 89%, continuou sendo a matéria-prima preferencialmente obtida para a produção dos objetos. A calcedônia e o quartzo permanecem relacionados à produção de lascas bipolares. O núcleo existente é unipolar e de basalto. Foto 251: Termófero de basalto (peça nº 596), nível 50-60cm. Nível de 60 a 70 cm A essa profundidade, de 60 a 70 cm, o conjunto lítico, formado por 95 peças é quantitativamente menor do que os conjuntos encontrados entre 30 e 60 cm. A partir desse nível, a quantidade de peças irá diminuindo até a profundidade máxima do sítio – 120 cm. Os fragmentos cerâmicos encontram-se também associados ao lítico nesse nível. Embora numericamente menor, esse conjunto contém, proporcionalmente, os mesmos tipos de formas básicas que os evidenciados nos conjuntos maiores. Ou seja, os detritos continuam sendo as peças mais populares (42%), seguidos pelos termóferos (38%) e pelas lascas unipolares (14%). O restante constitui-se por fragmentos de lasca e de núcleos e lascas bipolares. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 157 8% 42% 38% 4% 1% 14% 92% 1% Lasca uniplar Lasca bipolar Frag de lasca Termofero Detrito Frag de núcleo Gráfico 35: Forma básica: 60 – 70 cm. Basalto Meta-lamito Gráfico 36: Lasca unipolar x matériaprima: 60 – 70 cm. Em relação ao tipo de matéria-prima os basaltos são as rochas preferenciais, com 92% do total. A única lasca bipolar é de quartzo. Desenho: Adelson André Brüggemann Figura 23: Lasca unipolar de meta-lamito com retoque nas faces (peça nº. 55): face 1 (esq.), perfil (centro) e face 2 (dir.). Nível de 70 a 80 cm A essa profundidade o conjunto se apresenta menos numeroso, apresentando apenas 53 peças. Ainda há a presença de fragmentos cerâmicos. Embora com uma quantidade maior de lascas unipolares (49%), as outras formas básicas continuam sendo evidentes, como os detritos, os fragmentos de lasca, as lascas bipolares e os termóferos. Os basaltos foram preferencialmente selecionados, seguidos pelos meta-lamitos e as calcedônias. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 158 12% 32% 49% 9% Lasca unipolar 12% 76% 8% Lasca bipolar Frag de lasca Detrito Termofero Gráfico 37: Forma básica: 70 – 80 cm. Basalto Calcedônia Meta-lamito Gráfico 38: Lasca unipolar x matériaprima: 70 - 80 cm. Desenho: Adelson André Brüggemann Figura 24: Lasca unipolar de basalto com retoque nas faces (peça nº. 101): face 1 (esq.), perfil (centro) e face 2 (dir.). Nível de 80 a 90 cm e de 90 a 100 cm Nos níveis seguintes, de 80 a 100 cm, os fragmentos cerâmicos não são mais evidentes. Embora quantitativamente mais numeroso do que o nível 70-80 cm (o conjunto compõe 89 peças – 48 peças de 80 a 90 cm e 41 peças de 90 a 100 cm) os tipos e freqüências de formas básicas não se alteram se comparados com os conjuntos dos níveis onde a cerâmica está presente. No nível 80-90 cm, encontram-se novamente os detritos (44%) e as lascas unipolares (31%) como as formas mais freqüentes, seguidas dos fragmentos de lasca e núcleos, termóferos e artefatos brutos. E no nível 90-100 cm a freqüência de peças permanece praticamente a mesma, com 46% de detritos e 22% de lascas unipolares, seguidas de termóferos, fragmentos de lasca e núcleos. As peças, em ambos os níveis, são na sua maioria de basaltos (em torno de 75%). As calcedônias também aparecem, com 7% (80-90 cm) e 22% (90-100 cm), e os meta-lamitos, freqüentes nos níveis superiores a esses, estão presentes no nível 80-90 cm e correspondem a lascas unipolares. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 159 Nível de 100 a 110 cm e de 110 a 120 cm Os dois últimos níveis do sítio permanecem sem a presença de fragmentos cerâmicos. Totalizam 24 peças – 15 peças entre 100 e 110 cm e somente 09 peças no último nível. O nível 100-110 cm apresenta os detritos (46%) e as lascas unipolares (27%) como as formas mais freqüentes, seguidas pelos fragmentos de lasca e núcleos (20%) e dos termóferos. Finalmente, o último nível compõe-se por detritos (45%), lascas unipolares (33%) e fragmentos de lasca (22%). Trata-se de peças produzidas em basaltos e meta-lamitos, ou seja, não há diferença de matéria-prima se comparadas com as peças dos níveis superiores a esses. 4.2.3.3. Sítios com baixa densidade de material arqueológico isoladas na área do Plano Alto: 4.2.3.3.1. Sítio SC-PA-05 No sítio SC-PA-05 foram coletados 18 objetos líticos, não havendo evidências de fragmentos cerâmicos. As lascas unipolares representam 38% das peças. Os fragmentos de lasca (28%), os detritos (17%), as lascas bipolares (11%) e os artefatos bifaciais/unifaciais completam o conjunto de objetos líticos encontrados neste sítio. O basalto foi a matéria-prima utilizada em 89% das peças. No restante foi empregado o meta-lamito. Fotos 252 e 253: Núcleo de basalto (peça nº. 06). Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 160 Fotos 254 e 255: Artefato bifacial em basalto (peça nº. 05): face 1 (esq.) e face 2 (dir.). 4.2.3.3.2. Sítio SC-PA-06 O conjunto é formado por 13 peças de objetos líticos. O índice de detritos (30%) encontrado nessa área é bastante grande. Em proporções menores (23%), encontram-se as lascas unipolares e as lascas bipolares. Cada uma das formas básicas compreendidas pelos fragmentos de núcleo, os núcleos e os artefatos bifaciais/unifaciais, representam 8% do conjunto. A matéria-prima empregada na confecção desses objetos é diversificada. Há peças de quartzo (46%), basalto (31%), meta-lamito (15%) e calcedônia (8%). 4.2.3.3.3. Sítio SC-PA-08 O sítio caracteriza-se pela existência de um conjunto de 15 objetos líticos e a presença de fragmentos cerâmicos em superfície. As formas básicas apresentam-se nas seguintes proporções: 54% de lascas unipolares, 13% de núcleos, 13% de fragmentos de núcleo, 13% de fragmentos de lasca e 7% de artefato bruto. A matéria-prima empregada em 53% das peças é o basalto e o restante é de meta-lamito. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 161 Fotos 256 e 257: Núcleo unipolar de meta-lamito. Fotos 258 e 259: Mão de pilão de basalto. 4.2.3.3.4. Sítio SC-PA-09 O conjunto de objetos líticos deste sítio é composto por 06 peças, todas em metalamito. As lascas unipolares representam 67% das peças e os núcleos 33%. Ausência de fragmentos cerâmicos. Foto 260: Lasca unipolar Fotos 261 e 262: Núcleo unipolar de meta-lamito. em meta-lamito (peça nº. 06). Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 162 4.2.3.3.5. Sítio SC-PA-11 Neste sítio não foram encontrados fragmentos cerâmicos. Os 35 objetos líticos que foram coletados em superfície distribuem-se nas seguintes proporções: 46% são lascas unipolares, 20% são fragmentos de lasca, 20% são fragmentos de núcleo, 11% são núcleos e 3% são artefatos brutos. A matéria-prima empregada com maior freqüência (80%) é o meta-lamito. Em proporções menores foram utilizados o basalto (17%) e as rochas silicosas (3%). Fotos 263 e 264: Lasca unipolar em meta- Fotos 265 e 266: Lasca unipolar em metalamito com retoque nas duas faces (peça lamito com retoque (peça nº. 26). nº. 05). Fotos 267 e 268: Núcleo unipolar em meta-lamito (peça nº. 13). 4.2.3.3.6. Sítio SC-PA-12 Na área deste sítio foram coletados 43 fragmentos cerâmicos associados a objetos líticos. O conjunto desses objetos é formado por lascas unipolares (56%), fragmentos de lasca Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 163 (23%), fragmentos de núcleo (12%) e lascas bipolares (9%). Quanto à matéria-prima usada para o lascamento, o meta-lamito é o mais popular (84%). Foi constatada a utilização de basalto em 16% das peças. Fotos 269 e 270: Núcleo unipolar de basalto (peça nº. 07). Foto 271: Perfil do núcleo unipolar Foto 272: Lascas de biface de de basalto (peça nº. 07). meta-lamito (peças nº. 13 e 18). Fotos 273 e 274: Núcleo unipolar de meta-lamito (peça nº. 03). Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 164 4.2.3.3.7. Área de Ocorrência Arqueológica PA-01 Foram encontradas 3 peças líticas na OAD-PA-01. Todas são de basalto: 2 núcleos e uma lasca unipolar. Foi observada a ausência de fragmentos cerâmicos. 4.2.3.3.8. Área de Ocorrência Arqueológica PA-02 O conjunto de objetos líticos dessa área é formado por apenas uma peça. Esta possui as seguintes características: lasca unipolar de preparação em metalamito, com plano de percussão liso e com até 1/3 de superfície natural. 4.2.3.4 Descrição dos Objetos Líticos da Área de Alto Irani 4.2.3.4.1. Sitio SC-AI-17 Os elementos que compõem o sítio SC-AI-17 caracterizam um sítio lito-cerâmico. A área escavada a céu aberto alcançou a profundidade máxima de 80 cm. Os objetos líticos, que totalizam 2.178 peças, encontram-se, preferencialmente, entre a superfície e o nível 40-50 cm. Os fragmentos cerâmicos foram encontrados até a profundidade de 50 cm. O conjunto de objetos líticos desse sítio está representado, em ordem decrescente de popularidade, por lascas unipolares, fragmentos de lasca, lascas bipolares, fragmentos de núcleo, detritos, artefatos bifaciais/unifaciais, núcleos, artefatos brutos e termóferos. Contudo, a quantidade e a diversidade dessas formas alteram-se nos diferentes níveis artificiais de escavação do sítio. Segue a apresentação dos objetos nos distintos níveis: Nível superficial No nível superficial foram resgatadas 275 peças. A quantidade de lascas unipolares (52%) sobrepõe-se sobre as demais formas: fragmentos de lasca (12%), fragmentos de núcleo (11%), lascas bipolares (8%), detritos (7%), núcleos (6%), artefato bifacial/unifacial (3%) e artefato bruto (1%). A análise das estratégias de obtenção de matéria-prima para o lascamento destaca a predominância do meta-lamito e do basalto. Entre as lascas unipolares 48% são de metalamito, 26% de basalto, 14% de arenito, 6% de calcedônia, 4% de rochas silicosas e 1% de arenito silicificado. Dentre elas, 75% não apresentam superfície natural, 19% possuem até 1/3, 4% são totalmente recobertas e, em apenas 2% verificou-se a presença de até 2/3 de córtex. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 165 8% 6% 52% 26% 48% 12% 4% 1% 6% 11% 1% 14% 1%3% 7% Lasca unipolar Lasca bipolar Frag de lasca Frag de núcleo Núcleo Basalto Arenito silicificado Arenito Detrito Calcedônia Quartzo Rocha silicosa Meta-lamito Artefato bifacial ou unifacial Bruto Gráfico 39: Forma básica: superfície. 29% 47% 6% Basalto 6% Arenito Gráfico 41: superfície. Gráfico 40: Lasca unipolar x matériaprima: superfície. 19% 2% 4% 75% 12% Calcedônia Núcleo Rochas silicosas x Meta-lamito sem superfície natural 1/3 de superfície natural 2/3 de superfície natural total superfície natural matéria-prima: Gráfico 42: Lascas unipolares quantidade de superfície natural. x Os núcleos são preferencialmente de basalto (47%) e de meta-lamito (29%). Há também núcleos de arenito (12%), rochas silicosas (6%) e calcedônia (6%). Quanto ao tipo de lasca unipolar, na superfície do sítio, de todas as lascas, 79% são de preparação e 15% são de biface. Menos populares são as lascas corticais (4%), as de retoque (1%) e as lâminas (1%). Os artefatos bifaciais/unifaciais, representados neste nível por 8 peças, onde apenas uma é de calcedônia e as demais de meta-lamito, são, em grande parte (43%), os que apresentam retiradas bifaciais com terminação em ponta e uma extremidade cortical. As peças que possuem retiradas periféricas bifaciais em todo o contorno e uma terminação em ponta representam 29% desses artefatos. Há também, na mesma proporção (14%), peças com retiradas periféricas unifaciais em todo o contorno (ou apenas em uma lateral) e sem terminação em ponta e outras com retiradas bifaciais em apenas uma extremidade e com terminação em ponta. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 166 Foto 275: Lascas (peças nº. 01 e 268). de meta-lamito Foto 276: Lascas de calcedônia (peças nº. 407 e 273). Foto 277: Núcleo de meta-lamito (peça Foto 278: Percutor de basalto (peça nº. 67). nº. 92). a) Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 167 b) Desenho: Adelson André Brüggemann Figura 25: a) Fragmento de artefato bifacial em meta-lamito (peça nº. 55), b) Artefato unifacial em meta-lamito (peça nº. 65). a) b) c) Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 168 d) e) Desenho: Adelson André Brüggemann Figura 26: a-c) Artefatos unifaciais em meta-lamito (peça nº. 72, 112 e 323); d-e) Artefatos bifaciais em meta-lamito (peça nº. 109 e 102). Nível de 0 a 10 cm Neste nível foram encontradas 193 peças líticas. As lascas unipolares correspondem a 59% da amostra. Os fragmentos de lasca (34%), as lascas bipolares (3%), os fragmentos de núcleo (2%) e os artefatos bifaciais/unifaciais (2%) completam o conjunto de objetos analisados. O meta-lamito foi a matéria-prima utilizada em 62% das lascas unipolares. Para a obtenção desse tipo de lasca também foram empregadas outras rochas: a calcedônia (13%), as rochas silicosas (10%), o arenito (10%), o quartzo (4%) e o basalto (1%). 2% 2% 2% 20% 34% 6% 60% 59% 12% 3% Lasca unipolar Lasca bipolar Frag de núcleo Art bifacial ou unifacial Frag de lasca Gráfico 43: Forma básica: 0 – 10 cm. Basalto Calcedônia Quartzo Rochas silicosas Meta-lamito Gráfico 44: Lasca unipolar x matéria- Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 169 prima: 0 – 10 cm. A presença de superfície natural foi constatada em poucas lascas unipolares. Apenas 4% das lascas possuem até 1/3 de superfície natural; 1% do conjunto possui até 2/3 ou é totalmente coberto por córtex. As lascas unipolares são do tipo de preparação em 41% da amostra, de biface em 35%, de retoque em 18%, de lâmina em 5%, e em 1%, as do tipo cortical em apenas 1%. Os artefatos bifaciais/unifaciais ou são de meta-lamito (67%) ou são de rochas silicosas (33%). Todas as 3 peças desse grupo possuem retiradas periféricas bifaciais em todo o contorno (ou apenas em uma lateral) e não apresentam terminação em ponta. Nível de 10 a 20 cm Duzentas e setenta e quatro (274) peças perfazem o conjunto de objetos líticos coletados neste nível. Nele também foi coletado o maior número de fragmentos cerâmicos (27) no sítio. As lascas unipolares representam 51% desse conjunto. Em menores proporções, os fragmentos de lasca (38%), as lascas bipolares (5%), os fragmentos de núcleo (2%), os detritos (2%), os artefatos bifaciais/unifaciais, os artefatos brutos e os termóferos formam o restante do conjunto de peças líticas. As lascas de meta-lamito (60%) representam a maior parte de todas as lascas unipolares desse nível. Também é expressivo o número de lascas unipolares de calcedônia (20%) e de basalto (12%). Em menores quantidades, encontram-se as lascas de quartzo (6%) e de rochas silicosas (2%). 1% 10% 17% 13% Basalto Arenito 17% 4% 62% 66% 10% Calcedônia Quartzo Rochas silicosas Meta-lamito Calcedônia Rochas silicosas Meta-lamito Gráfico 45: Lasca unipolar x matéria-prima: Gráfico 46: Artefato bifacial ou 10 – 20 cm. unifacial x matéria-prima: 10 - 20 cm. Quanto à presença de superfície natural nas lascas, destacam-se aquelas que não possuem córtex (93%). No restante, 5% contêm até 1/3 de superfície natural e as lascas que possuem até 2/3 ou totalmente cobertas por córtex representam 1% da amostra. A variabilidade dos tipos de lascas unipolares neste nível é bastante semelhante ao Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 170 nível anterior. As lascas do tipo de preparação (48%) predominam. Porém, as lascas provenientes da confecção de artefatos bifaciais também apresentam altos índices (34%). Menos populares são as lascas de retoque (14%), as lâminas (3%) e as lascas corticais (1%). No conjunto dos objetos líticos formado pelos artefatos bifaciais/unifaciais, há uma predominância do meta-lamito (66%) sobre as demais matérias-primas, pois as rochas silicosas e a calcedônia, compreendem apenas 17% desse grupo. Dentre essas peças há uma ponta de projétil com pedúnculo e o restante corresponde ao tipo com retiradas periféricas bifaciais em todo o contorno (ou apenas em uma lateral) e sem terminação em ponta. Nível de 20 a 30 cm Durante a escavação deste nível foram encontrados 491 objetos líticos. Assim como nos níveis anteriores, há, neste nível, uma freqüência maior de lascas unipolares (52%) em relação às outras formas. Os fragmentos de lasca representam 37% da amostra. Em menores proporções têm-se as lascas bipolares (4%), os fragmentos de núcleo (3%), os detritos (2%), os núcleos (1%) e os artefatos bifaciais/unifaciais (1%). O emprego do meta-lamito para a obtenção de lascas unipolares é bastante expressivo (66%). E pequenas proporções, também foram utilizados os geodos de calcedônia (12%), o quartzo (8%), as rochas silicosas (6%), o arenito (4%) e o basalto (1%). 3% 2%1% 1% 4% 37% 12% 8% 52% 1%4% 6% 69% Lasca unipolar Lasca bipolar Núcleo Frag de lasca Frag de núcleo Detrito Art bifacial ou unifacial Gráfico 47: Forma básica: 20 – 30 cm. Basalto Arenito Calcedônia Quartzo Rochas silicosas Meta-lamito Gráfico 48: Lasca unipolar x matériaprima: 20 – 30 cm. No entanto, a proporção de matéria-prima entre os núcleos encontrados neste nível é desigual. Apenas 17% são de meta-lamito e 83% são de quartzo. Os primeiros caracterizam-se como núcleos unipolares com duas plataformas de percussão em ângulo e os últimos são todos núcleos bipolares. As lascas unipolares coletadas nesse nível apresentaram índices de quantidade de superfície natural bastante semelhantes ao nível anterior. De todas as lascas, 92% não possuem superfície natural e apenas 8% possuem até 1/3 de córtex. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 171 Contudo, a proporção dos tipos de lascas unipolares não se manteve o mesmo. Neste nível as lascas de biface (49%) é que predominam. As lascas de preparação representam 40% do conjunto, as lascas de retoque 6% e as lâminas 5%. Entre os artefatos bifaciais/unifaciais não há predomínio de um tipo de matéria-prima. O meta-lamito e a calcedônia foram utilizados na mesma proporção (50%). Neste conjunto, 60% das peças são pontas de projétil com pedúnculo. O restante apresenta retiradas periféricas bifaciais em todo o contorno e uma terminação em ponta. Na mesma profundidade também foi coletado um fragmento de ponta de projétil. Nível de 30 a 40 cm Nesse nível encontra-se o maior conjunto de objetos líticos, com 766 peças. Ao mesmo tempo, o número de fragmentos cerâmicos encontrados neste nível é o menor de todos, com apenas 3 fragmentos. Esse conjunto lítico também apresenta o maior índice de lascas unipolares (62%) quando comparado aos outros níveis. Os fragmentos de lasca, que correspondem a 31% da amostra, foram encontrados em proporções semelhantes aos dois níveis anteriores. Perfazem esse conjunto de objetos líticos, porém, em menores quantidades, as lascas bipolares (2%), os artefatos bifaciais/unifaciais (2%), os núcleos (1%), os fragmentos de núcleo (1%) e os detritos (1%). A escolha da matéria-prima para o lascamento assemelha-se aos níveis anteriores. É expressivo o número de lascas unipolares de meta-lamito (73%). Completam o grupo de lascas unipolares peças de basalto e de calcedônia, as duas com 10% da amostra, de rochas silicosas (4%), de quartzo (2%) e de arenito (1%). A maioria das lascas unipolares encontradas neste nível está desprovida de superfície natural (92%). Do restante das lascas, 6% apresentaram até 1/3 de córtex, 1% a metade da peça e 1% são totalmente corticais. A proporção dos tipos de lascas unipolares é semelhante ao nível anterior. O índice de lascas de biface (49%) é o mesmo. As lascas de preparação representam 42% do conjunto, as lâminas e as lascas de retoque, representam ambas 4%, e as lascas corticais 1%. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 172 1%1%0% 2% 4% 4% 1% 31% 42% 49% 1% 2% 62% Lasca unipolar Lasca bipolar Núcleo Frag de lasca Frag de núcleo Detrito Termofero Art bifacial ou unifacial Gráfico 49: Forma básica: 30-40 cm. Lasca cortical Lasca de preparação Lasca de biface Lamina Lasca de retoque Gráfico 50: Tipo de lasca unipolar. Os núcleos, contudo, não apresentaram a mesma diversidade no que diz respeito à matéria-prima para o lascamento. Os núcleos de quartzo, com 40% do conjunto, prevalecem sobre os demais. Em proporções iguais (20%), há também núcleos de calcedônia, de metalamito e de rochas silicosas. Os núcleos são bipolares (40%), unipolares com duas plataformas bidirecionais em ângulo (40%) e unipolar com uma plataforma (20%). No conjunto de objetos líticos bifaciais/unifaciais destacam-se os de meta-lamito (58%). Há também objetos de calcedônia (25%) e de rochas silicosas (19%). São mais comuns neste grupo os artefatos que possuem retiradas periféricas bifaciais em todo o contorno e uma terminação em ponta (46%). As peças que apresentam retiradas periféricas bifaciais em todo o contorno e sem terminação em ponta são constatadas em 24% da amostra. As pontas de projétil representam 18%. Com retiradas periféricas unifaciais em todo o contorno (ou apenas em uma lateral) e sem terminação em ponta ou com retiradas periféricas bifaciais em todo o contorno e duas terminações em ponta, representam, ambas, 6% desse conjunto. Fotos 279 e 280: Ponta de projétil de calcedônia (peça nº. 176). Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 173 Foto 281: Ponta de projétil de meta-lamito. Desenho: Adelson André Brüggemann Figura 27: Artefato bifacial em meta-lamito (peça nº. 145). Nível de 40 a 50 cm O conjunto de objetos líticos deste nível constitui-se de 157 peças. A proporção das diversas formas básicas desse conjunto é comparável com os níveis anteriores. Com alta freqüência apresentam-se as lascas unipolares (51%) e os fragmentos de lasca (37%). Em frações menores encontram-se as lascas bipolares (4%), os fragmentos de núcleo (3%), os artefatos bifaciais/unifaciais (1%), os núcleos (1%), os detritos (1%) e os objetos brutos (1%). Os dados relativos quanto ao uso da matéria-prima para o lascamento não diferem muito dos níveis anteriores. No conjunto das lascas unipolares, as de meta-lamito são as mais comuns (59%). Em menores proporções foram utilizadas as rochas silicosas (16%), a calcedônia (12%), o arenito (11%) e o quartzo (2%). Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 174 3% 1% 1% 1% 1% 59% 37% 51% 16% 1% 4% 2% Lascas unipolares Lascas bipolares Núcleo Frag de lasca Frag de núcleo Detrito Art bifacial ou unifacial Bruto Termofero Gráfico 51: Forma básica: 40-50 cm. Arenito Calcedônia 11% 12% Quartzo Rochas silicosas Meta-lamito Gráfico 52: Lasca unipolar x matériaprima: 40-50cm. A presença de superfície natural nas lascas unipolares é bastante escassa. Assim como nos níveis anteriores, neste nível o número de lascas desprovidas de córtex (90%) é expressivo. As lascas que possuem até 1/3 de superfície representam apenas 7% da amostra. Ao mesmo tempo, são raras as lascas que possuem até 2/3 de córtex (2%) e as que são totalmente cobertas por superfície natural (1%). As lascas de biface (47%) e as lascas de preparação predominam sobre as demais. As lâminas representam 5%, as lascas de retoque 4% e as lascas corticais 2% do conjunto de lascas unipolares. Nível de 50 a 60 cm Nesse nível foram coletadas apenas 17 peças líticas. Esse conjunto de objetos líticos apresenta o menor índice de lascas unipolares (33%) e pouca diversidade de formas básicas. Os fragmentos de lasca representam 33% da amostra, os fragmentos de núcleo 24% e as lascas bipolares 10%. Entre as matérias-primas utilizadas para o lascamento destaca-se novamente o metalamito. Evidenciou-se esse tipo de rocha em 43% das lascas unipolares. Porém, também é expressivo o número de lascas unipolares de calcedônia (29%), de rochas silicosas (14%) e de quartzo (14%). 6% 29% 41% 43% 41% 14% 12% Lasca unipolar Lasca bipolar Frag de lasca Frag de núcleo Calcedônia Quartzo 14% Rochas silicosas Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. Meta-lamito 175 Gráfico 53: Formas básicas: 50-60 cm. Gráfico 54: Lasca unipolar x matéria prima: 50-60cm. De todas as lascas unipolares neste conjunto, somente 14% delas apresentaram até 1/3 de superfície natural. O restante (86%) não mostrou vestígio de córtex. O que diz respeito ao tipo de lasca unipolar, todas as lascas deste nível são de biface. Nível de 60 a 70 cm Durante a escavação deste nível, não foram encontradas evidências arqueológicas. Nível de 70 a 80 cm Do nível mais profundo da escavação foram resgatados somente 3 objetos líticos, compreendidos por 1 lasca unipolar cortical, 1 núcleo e 1 fragmento de núcleo. A matéria-prima dos 3 objetos é o meta-lamito. Quanto às lascas unipolares, todas as lascas do último nível de escavação são corticais. Considerando-se a baixa freqüência de material arqueológico encontrado nesse nível e a esterilidade do nível superior, não se pode descartar a possibilidade de que esses materiais tenham alcançado tal profundidade por processos de bioperturbações. 4.2.3.5 Sítios com baixa densidade de material arqueológico na área do Alto Irani: 4.2.3.5.1 Sítio SC-AI-02 Este sítio atingiu a profundidade de 10 cm e dele foram coletados 14 objetos líticos. Também foram encontrados fragmentos cerâmicos em sua área. A análise do conjunto de objetos líticos destacou o predomínio de lascas unipolares (44%). Os núcleos, os fragmentos de lasca e os detritos, reunidos, abrangem 14% da amostra. As lascas bipolares e os fragmentos de núcleo, ambos correspondendo a 7%, completam o conjunto. O meta-lamito foi a matéria-prima utilizada em 65% das peças. Em algumas peças, foram também empregados arenito (21%) e a calcedônia (14%). Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 176 Foto 282 e 283: Núcleo unipolar de meta-lamito (peça nº. 02). Desenho: Adelson André Brüggemann Figura 28: Lasca unipolar de meta-lamito. 4.2.3.5.2 Sítio SC-AI-03 Foram escavadas, neste sítio, quadrículas com 20 cm de profundidade. Foram aí encontrados 127 objetos líticos. A presença de lascas unipolares (48%) e o emprego do basalto (74%) são significativos. Perfazem o conjunto de objetos líticos os núcleos (21%), os fragmentos de núcleo (10%), os fragmentos de lasca (10%), os artefatos brutos (5%), os detritos (3%), os artefatos bifaciais/unifaciais (2%) e as lascas bipolares (1%). As lascas unipolares são, preferencialmente, de preparação (98%). Ao mesmo tempo, os núcleos apresentam maior variedade: 42% são do tipo unipolar com duas plataformas bidirecionais em ângulo; 38% são do tipo unipolar, com uma plataforma; 12% são do tipo unipolar com várias plataformas em outras posições e 4% são do tipo unipolar com duas plataformas bidirecionais opostas e do tipo bipolar. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 177 a) b) Desenho: Adelson André Brüggemann Figura 29: a) artefato unifacial de calcedônia (peça nº. 37) e b) lasca unipolar de metalamito com retoque (peça nº. 86). 4.2.3.5.3 Sítio SC-AI-08 O conjunto de objetos líticos deste sítio é composto por 63 peças. Não houve presença de fragmentos cerâmicos. As lascas unipolares representam 56% da amostra. Em proporções menores, destacam-se os núcleos (13%), os fragmentos de lasca e os fragmentos de núcleo, ambos na proporção de 8%, as lascas bipolares e os artefatos polidos, ambos abrangendo 5%, e por fim, os artefatos brutos (2%) e os artefatos bifaciais/unifaciais (2%). A matéria-prima empregada na confecção dessas peças foi o basalto (62%), o metalamito (25%), a calcedônia (11%) e o quartzo (2%). Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 178 Fotos 284 e 285: Fragmento de ponta de projétil de calcedônia (peça nº. 12). Foto 286: Lascas unipolares de meta- Foto 287: Lascas unipolares de metalamito (peças nº. 54 e 28). lamito (peças nº. 24, 39, 26 e 41). Foto 288: Lasca bipolar de quartzo (peça Foto 289: Lascas bipolares de calcedônia. nº. 21). Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 179 Fotos 290 e 291: Lâmina de machado polido de basalto (peça nº. 55): face 2 (esq.) e face 1 (dir.), Fotos 292, 293 e 294: Lâmina de machado de basalto (peça nº. 07): face 1 (esq.), perfil (centro) e face 2 (dir.). Desenho: Adelson André Brüggemann Figura 30: Fragmento de ponta de projétil de calcedônia (peça nº. 12), face 1 (esq.), perfil (centro) e face 2 (dir.). Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 180 a) b) Desenho: Adelson André Brüggemann Figura 31: a) Lasca unipolar de basalto (peça nº. 10), face 1 (esq.), perfil (centro) e face 2 (dir.) e b) Lasca unipolar de meta-lamito (peça nº. 57), face 1 (esq.), perfil (centro) e face 2 (dir.). 4.2.3.5.4. Sítio SC-AI-19 O conjunto lítico deste sítio é formado por 94 peças, e está associado à presença de fragmentos cerâmicos. Apresenta-se composto por lascas unipolares (49%), fragmentos de lasca e detritos (11%), lascas bipolares (11%), núcleos (9%), fragmentos de núcleo (7%) e artefatos polidos (1%). Em 65% das peças o meta-lamito foi a matéria-prima utilizada. Completam o conjunto os artefatos de calcedônia (22%), os de basalto (10%), os de arenito (2%) e os de arenito Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 181 silicificado (1%). Foto 295: Lasca unipolares de metalamito (peças nº. 29, 42, 20 e 45). Fotos 296 e 297: Lasca unipolar de meta-lamito (peça nº. 78): face 1 (esq.) e face 2 (dir.). Fotos 298 e 299: Núcleo de meta-lamito (peça nº. 68). Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 182 Fotos 300 e 301: Núcleo de calcedônia (peça nº. 69). Desenho: Adelson André Brüggemann Figura 32: Lasca unipolar de meta-lamito (peça nº. 46), face 1, perfil, face 2. 4.2.3.5.5. Sítio SC-AI-20 Na área do sítio SC-AI-20 foram coletados 15 objetos líticos. Destes, 40% são lascas unipolares, 27% são núcleos, 20% são artefatos brutos e 13% são fragmentos de núcleo. Observou-se a inexistência de fragmentos cerâmicos. O basalto foi empregado na confecção de 80% das peças e o meta-lamito em 20% dos objetos. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 183 Fotos 302 e 303: Fragmento de mão-de-pilão de basalto (peça nº. 05). Fotos 304 e 305: Percutor de basalto (peça nº. 14). 4.2.3.5.6 Sítio SC-AI-21 Neste sítio foram coletadas 28 peças líticas. Notada a ausência de fragmentos cerâmicos. As formas básicas desse conjunto são variadas: 46% são lascas unipolares, 21% são fragmentos de núcleo, 11% são lascas bipolares, 11% são núcleos, 7% são fragmentos de lasca e 4% são detritos. A maior parte das peças (67%) é de meta-lamito. Os artefatos de basalto estão representados em 18% da amostra, os de calcedônia em 11% e os de quartzo em 4%. Foto 306: Lascas bipolares de Foto 307: Lascas unipolares de calcedônia (peças nº. 4 e 23). meta-lamito (peças nº. 15, 20 e 07). Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 184 a) b) Desenho: Adelson André Brüggemann Figura 33: a) Lasca unipolar de meta-lamito (peça nº. 1), face 1, perfil e face 2; b) Lasca unipolar de meta-lamito (peça nº. 26), face 1, perfil e face 2. 4.2.3.5.7. Sítio SC-AI-22 Foram encontrados 07 objetos líticos na área do sítio SC-AI-22. As lascas unipolares representam 67% do conjunto e os núcleos, 14%. Fragmentos cerâmicos inexistentes no local. Basalto e meta-lamito foram as matérias-primas utilizadas na confecção de 43% das peças. As rochas silicosas foram verificadas em apenas 14% da amostra. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 185 Fotos 308 e 309: Núcleo de rocha silicosa (peça nº. 03): face 1 (esq.) e face 2 (dir.). 4.2.3.5.8 Área de Ocorrência Arqueológica Discreta AI-01 Neste sítio foram coletadas apenas 03 peças: 01 lasca unipolar de calcedônia, 01 lasca bipolar de quartzo e 01 fragmento de lasca de quartzo. Foi registrada a ausência de fragmentos cerâmicos. Ainda proveniente desta área há a doação de um machado polido em basalto, com lascamentos na parte distal. Suas dimensões são 14 x 6,5 e 4,3 cm. 4.2.3.5.9. Área de Ocorrência Arqueológica Discreta AI-02 O conjunto de objetos líticos deste sítio é formado por 02 peças: uma lasca unipolar e um núcleo, ambos de basalto. Ausência de fragmentos cerâmicos. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 186 Fotos 310, 311 e 312: Núcleo de basalto (peça nº. 02). 4.2.4. Considerações finais Na região oeste do Estado de Santa Catarina, para a implantação das PCH's Alto Irani e Plano Alto, identificaram-se materiais líticos a céu aberto e em profundidade, agregados ou isolados, ao longo das margens do rio Irani. Na área de impacto de Alto Irani foram identificados sete sítios arqueológicos e três sítios com baixa densidade de material arqueológico ou mini-sítios (Isaac, 1981). Dentre os sítios arqueológicos, apenas um (SC-AI-17) apresentou material lítico em profundidade. Distante aproximadamente 13 km de Alto Irani, na área de impactação de Plano Alto, foram identificados seis sítios arqueológicos e dois mini-sítios. Assim como ocorrido na área de Alto Irani, também em Plano Alto evidenciou-se apenas um sítio em profundidade (SC-PA-04). O conjunto de objetos líticos da área de Alto Irani totalizou 2.531 peças. Todavia, apenas o sítio SC-AI-17, que se localiza na média vertente e dista em torno de 700 m do rio, é numericamente mais expressivo e quantificou 2.178 peças. Além deste, somente outros três sítios (SC-AI-02, SC-AI-03 e SC-AI-19) apresentam fragmentos cerâmicos associados a esses conjuntos. Na área de Plano Alto, o conjunto de objetos líticos compõe-se de 1.510 peças. Mas, também nessa área há um único sítio que responde por quase a totalidade da indústria: o sítio SC-PA-04, que se localiza na margem esquerda do rio Irani, e está representado por 1.377 peças. Este sítio e outros três (SC-PA-08, SC-PA-11 e SC-PA-12) são igualmente litocerâmicos. Por apresentarem indústrias líticas mais representativas, os sítios SC-AI-17 e SC-PA-04 podem contribuir para uma melhor compreensão da ocupação pré-histórica da área. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 187 O sítio SC-AI-17 atingiu 80 cm de profundidade, porém, é estéril dos 60 aos 70 cm. Até os 50 cm evidenciaram-se materiais líticos associados a fragmentos cerâmicos. Contudo, observa-se que os objetos líticos são mais freqüentes de 30 a 40 cm (35%) e a cerâmica de 10 a 20 cm. Após os 50 cm de profundidade, não somente a cerâmica desaparece, como também os materiais líticos decrescem abruptamente, restando somente 20 peças. Nos distintos níveis as formas básicas se repetem; em ordem decrescente de popularidade foram identificadas lascas unipolares, fragmentos de lasca, lascas bipolares, fragmentos de núcleo, artefatos bifaciais/unifaciais, núcleos, detritos e artefatos brutos. A baixa freqüência de núcleos e de lascas corticais ou semicorticais sugere que os lascamentos iniciais da produção não ocorreram dentro do sítio; nesse caso, as matériasprimas teriam sido adquiridas e processadas em seu local de origem ou em outro local, mas fora da área de assentamento. Sempre com mais de 50% da amostra, as lascas unipolares são as mais freqüentes até 50 cm. Dos 50 aos 60 cm tem-se 33% de lascas unipolares e de fragmentos de lasca, o restante corresponde a fragmentos de núcleo e a lascas bipolares. As lascas unipolares em todos os níveis são, na sua maioria, de meta-lamito (em torno de 60%) e desprovidas de córtex (em média, 90%). Da superfície aos 20 cm essas lascas unipolares são principalmente de preparação (56%), a partir desse nível até os 60 cm predominam as lascas de biface (61%). Quanto às suas dimensões variam de 0,6 x 0,3 x 0,1 cm a 6,5 x 4,3 x 1,8 cm. Embora em todos os níveis desse sítio as peças bifaciais/unifaciais sejam pouco representativas (5%), evidenciam-se pontas de projétil pedunculadas dos 10 aos 40 cm. Tais pontas são de pequenas dimensões (variam entre 1,5 x 1,1 x 0,3 cm e 4,8 x 3,1 x 0,6 cm) e foram confeccionadas de meta-lamito e de calcedônia. As evidências do sítio SC-AI-17 sugerem que a sua ocupação iniciou-se aos 50 cm de profundidade - a pequena quantidade de materiais encontrados abaixo desse nível pode ser o resultado de processos naturais (bioperturbação). Por sua vez, a alta concentração de objetos líticos de 20 a 40 cm, dentre eles pontas de projétil pedunculadas, e de fragmentos cerâmicos acima deste, de 10 a 20 cm, permitem formular a hipótese de que o local represente assentamentos de populações culturalmente distintas: primeiramente de caçadores coletores e, posteriormente, de horticultores. Já o sítio SC-PA-04 atingiu 120 cm de profundidade e nenhum desses níveis mostrouse estéril. Até os 80 cm há materiais líticos e fragmentos cerâmicos associados. Após essa profundidade, apenas objetos líticos estão presentes. Entretanto, se destaca a maior freqüência, tanto de objetos líticos quanto de cerâmica, entre 30 e 60 cm. Nos distintos níveis, indiferente à presença de cerâmica, as formas básicas se repetem, sendo identificadas, em ordem decrescente de porcentagem, lascas unipolares, detritos, Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 188 fragmentos de lasca e de núcleos, núcleos, termóferos e, por fim, uma peça bifacial. No entanto, chama a atenção que nos níveis de baixa densidade de materiais (da superfície aos 30 cm) as rochas de meta-lamito tenham sido mais utilizadas do que as rochas de basalto. A partir dos 30 cm essa relação se inverte, tem-se uma alta densidade de materiais e as rochas basálticas tornam-se mais freqüentes. Até os 30 cm as lascas unipolares são as peças mais representativas e, nos níveis mais profundos, os detritos tornam-se mais numerosos. Ressalta-se que esses detritos correspondem a pequenos blocos naturais e, provavelmente, não se trata de materiais antrópicos. As lascas unipolares são, na sua maioria, de preparação, recobertas com menos de 1/3 de superfície natural e de pequenas dimensões, variando entre 0,4 e 14,3 cm. O pequeno número de núcleos (14 peças) deve ser destacado. Essa evidência, somada à presença de apenas um instrumento, sugere que as debitagens iniciais ocorreram fora do sítio e que as lascas de preparação foram transportadas até ele ou então os núcleos foram transportados do sítio para outros locais. Por sua vez, as lascas bipolares são também de pequenas dimensões (variando entre 0,7 e 4,4 cm), mas na sua maioria, de quartzo e calcedônia, e, talvez, por esse motivo, tenham sofrido debitagem bipolar – mais adequada a esse tipo de matéria-prima. Quanto a essas lascas bipolares, observa-se que são peças que não se encontram a partir dos 80 cm de profundidade, justamente nos níveis onde também não há fragmentos cerâmicos. Entretanto, exceto por essa ausência, não se verifica qualquer outra alteração entre os objetos líticos nos distintos níveis. As evidências do sítio SC-PA-04, ao contrário do observado no sítio SC-AI-17, sugerem que os objetos líticos e os fragmentos cerâmicos correspondem a um mesmo conjunto e, portanto, pertenceriam a um ou a vários grupos, mas de uma mesma tradição cultural. Os demais sítios encontram-se próximos aos sítios SC-AI-17 e SC-PA-04 e, por apresentarem indústrias líticas idênticas a um desses dois, é provável que façam parte de um mesmo contexto arqueológico, cada um em sua área respectiva. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 189 5. PROGRAMA DE EDUCAÇÃO, DIVULGAÇÃO E VALORIZAÇÃO PATRIMONIAL Elaine Arnold Ana Lucia Herberts As atividades previstas e desenvolvidas a partir do Programa de Educação, Divulgação e Valorização Patrimonial, vinculado ao projeto “Arqueologia Preventiva na área de intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC”, abrangeram os municípios de Xavantina, Faxinal dos Guedes, Arvoredo e Xanxerê no vale do rio Irani. As atividades educativas foram realizadas em duas etapas, contemplando a comunidade escolar dos municípios abrangidos pelo empreendimento, que serão a seguir apresentadas. Ainda apresenta-se também a elaboração e distribuição do folder “Arqueologia nas PCHs de Plano Alto e Alto Irani”, bem como o release elaborado para informar a mídia local sobre os trabalhos de pesquisa realizados. 5.1. ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL REALIZADAS NA ETAPA I As atividades realizadas na Etapa I envolveram ações educativas aplicadas aos discentes e docentes da Escola Reunida Santa Teresinha, situada na comunidade de Santa Teresinha, município de Arvoredo. O objetivo primordial era sensibilizar, tanto o corpo docente como o discente, sobre a importância da preservação e a valorização do patrimônio arqueológico regional. Estas atividades foram executadas entre os dias 10 e 14 do mês de julho do corrente ano, paralelamente às atividades de resgate arqueológico do sítio SC-AI17. A Escola Reunida Santa Teresinha foi escolhida para a realização desta atividade por estar situada próxima ao sítio arqueológico em escavação, o que possibilitava envolver a comunidade e socializar os procedimentos utilizados pelos pesquisadores para o estudo dos vestígios arqueológicos. 5.1.1. Contato com a Prefeitura Municipal O Secretário de Educação do município de Arvoredo, Sr. Jacir Nardi, foi contatado Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 190 em 26 de junho de 2006 para a apresentação do Programa de Educação Patrimonial e do cronograma de atividades previstas. Nesta ocasião, foram abordados os seguintes assuntos: • Apresentação do projeto; • Levantamento do universo escolar do município de Arvoredo; • Solicitação de auxílio na infra-estrutura para a realização das atividades (transporte, recursos audiovisuais, entre outros); e • Definição da agenda e do cronograma para desenvolvimento das atividades. No levantamento do universo escolar, constatou-se que na localidade de Linha Santa Teresinha há uma única unidade escolar administrada pela rede municipal, a Escola Básica Municipal, que conta no seu quadro com duas professoras e 34 alunos, sendo 9 da préescola e 25 do Ensino Fundamental (1° a 4° séries). Outras questões abordadas neste levantamento foram referentes ao conhecimento das professoras com relação ao tema Arqueologia e Patrimônio e dos conteúdos que estavam sendo tratados em sala de aula. Estas informações foram importantes para nortear o planejamento das atividades educativas pela equipe de Educação Patrimonial. 5.1.2. Atividades de Educação Patrimonial realizadas junto à Escola Reunida Santa Teresinha As ações foram planejadas em três etapas, de acordo com o público alvo. A primeira etapa constou de atividades dirigidas às professoras, com a apresentação da ciência Arqueologia, de noções de Patrimônio Cultural e da metodologia de Educação Patrimonial. Para a segunda etapa, envolvendo os discentes da pré-escola, foi aplicada uma atividade lúdica envolvendo pintura, trabalhando um tema livre a ser interpretado posteriormente pelas crianças do ensino fundamental. A terceira etapa, envolvendo os alunos de 1ª a 4ª série do ensino fundamental, foi desenvolvida uma oficina com atividades ludo-pedagógicas (FANTIN, 2000 e MURCIA, 2005), incluindo a visita a um sítio arqueológico da região. 5.1.2.1. Atividades de preparação e orientação do corpo docente A atividade envolvendo as professoras foi realizada no dia 10 de julho, nas dependências da Secretaria de Educação do município, tendo como temática norteadora a Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 191 instrumentalização destas quanto à Arqueologia, o Patrimônio Cultural e a metodologia de Educação Patrimonial (FARIAS, 2001). Na ocasião, foi exibido o vídeo “A arqueologia vai à Escola: uma experiência com escavação simulada” (BEZERRA DE ALMEIDA, 2001), como exemplo e instrumento para discussão e demonstração da escavação simulada, que seria aplicada aos alunos na seqüência dos trabalhos. Após a projeção do vídeo, foram sanadas dúvidas e distribuída uma coletânea de textos selecionados sobre preservação do patrimônio, educação patrimonial e arqueologia. Este material de apoio visou suprir as professoras com material que servisse para o ensino em sala de aula. A coletânea de texto foi composta por trechos extraídos de livros ou artigos, a saber: 1) ATAÍDES, J. M., MACHADO, Laís Aparecida, SOUZA, Marcos André Torres de. Cuidando do Patrimônio Cultural. Goiânia: Ed. UCG, 1997. p 11-13. 2) MORLEY, Edna June. O Presente do Passado. O que é Arqueologia? Empreendimento Habitasul / Jurerê Internacional, 1992. 3) ITAQUI, José e VILLAGRÁN, María Angélica. Educação Patrimonial: A Experiência da Quarta Colônia. Santa Maria: Palloti, 1998. 4) VERSIGNASI, Alexandre. Como é a escavação de um sítio arqueológico? In: Superinteressante Especial: Mundo Estranho. Edição 06. São Paulo: Editora Abril, 2002, p. 32-33. 5) STALLYBRASS, P. O casaco de Marx. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. p 10-13. Realizou-se, na seqüência, a explanação de como seria desenvolvida a oficina junto às crianças e a participação das professoras neste processo. Foi solicitado à professora do pré-escolar que desenvolvesse junto à sua turma a atividade de pintura em vasilhas de cerâmica, adequando-se ao tema abordado no programa curricular, cujo tópico central era a família. À professora da turma de 1ª a 4ª série, foi solicitada a aplicação de um questionário baseado em Bezerra de Almeida (2002), que procurava avaliar, por meio de perguntas, o conhecimento dos alunos sobre a arqueologia e a noção de preservação, tratando “de um universo com três dimensões: a informação, a representação e a atitude” (MOSCOVICI apud BEZERRA DE ALMEIDA, 2002, p. 93) (Anexo 4A). 5.1.2.2. Atividades com os discentes: educação básica – pré-escolar Embora o programa tenha sido planejado para atingir o universo dos alunos de 1ª a 4ª série (25 alunos), por tratar-se de atividades com maior apreensão de conceitos, empregando a observação e o registro escrito, optou-se em envolver, também, os alunos do Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 192 pré-escolar no processo, a fim de proporcionar a interação e a reflexão sobre o “outro”. A forma encontrada para incluir os alunos do pré-escolar (09 alunos) nas atividades, foi envolvê-los na atividade de pintura em vasilhas de cerâmica, que serviriam posteriormente de objeto para a escavação simulada junto à turma de 1ª a 4ª séries. Para esta ação foram abordados temas sobre a família (casa, pais, irmãos, parentes, etc.), que estavam sendo trabalhados pela professora. Como material de apoio foram utilizadas vasilhames de cerâmica, giz de cera, pincéis e tinta guache. Cada aluno recebeu uma vasilha com o objetivo de representar os membros da família. A escolha das cores das tintas (preto, vermelho e branco), baseou-se nos tons possivelmente utilizados pelos antigos grupos indígenas no passado. Fotos 313 e 314: Alunos do pré-escolar mostrando os vasilhames com as suas pinturas. 5.1.2.3. Atividades com os discentes: ensino fundamental Com os alunos do ensino fundamental foram realizadas diversas atividades programadas em dias diferentes, buscando propiciar uma seqüência de ensino-aprendizado. Estas atividades iniciaram com uma oficina e culminaram com uma visita guiada à escavação de um sítio arqueológico. A oficina iniciou com uma aula expositiva, com auxílio de lâminas e retro-projetor, utilizando uma história em quadrinhos (Anexo 4B), com texto e imagens adaptadas do gibi “Arqueologia: uma viagem ao passado” (HERBERTS; COMERLATO, 2003), que trata do trabalho do arqueólogo (campo e laboratório), do que é sítio arqueológico, onde podem ser encontrados e quais as suas principais características. Posteriormente foi realizada uma atividade prática através da execução de uma escavação arqueológica simulada, buscando fornecer uma experiência prática da pesquisa Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 193 arqueológica, para a fixação dos conceitos apreendidos em sala com a exposição inicial. A escavação simulada buscou propiciar às crianças a experimentação de uma das atividades de campo do arqueólogo, preparando-os para que compreendam durante a visita ao sítio arqueológico as atividades desenvolvidas no resgate do mesmo. Para a escavação arqueológica simulada foram produzidas três caixas de madeira15 de 1m² com 20 cm de altura. As caixas foram preenchidas com areia para facilitar a escavação para as crianças. Nestas caixas foram enterradas as vasilhas pintadas pelos alunos do pré-escolar. Para o início da atividade, os alunos foram divididos em três equipes, por meio de sorteio iconográfico16, representando as diversas ferramentas utilizadas pelos arqueólogos no trabalho de campo. Na oportunidade, foi discutida qual a função de cada um dos equipamentos representados e utilizados pelo arqueólogo na pesquisa de campo. Na seqüência, os alunos realizaram a escavação simulada, que consistiu na descoberta e evidenciação dos objetos enterrados, com a retirada cuidadosa do solo. A etapa seguinte foi o registro, através de desenhos, dos objetos encontrados na caixa de areia (Anexo 4C). Como material de apoio para esta atividade foram utilizados, além das caixas de areia, pincéis, pás pequenas, pranchetas e lápis. Após a escavação simulada, os alunos retornaram à sala de aula, onde se procurou salientar a importância da preservação do patrimônio arqueológico e quais os critérios empregados pelos arqueólogos na coleta dos artefatos arqueológicos. Fizeram-se ainda recomendações de como proceder quando encontrassem algum vestígio ou soubessem de algum achado arqueológico, destacando a importância do arqueólogo neste trabalho. 15 Foram adotadas caixas de madeira com 1m², já que esta medida corresponde ao espaço delimitado, respeitando a metodologia utilizada pelos arqueólogos na escavação do sítio arqueológico. 16 Sorteio iconográfico: a partir de cartões coloridos com imagens referentes aos instrumentos utilizados pelos arqueólogos nas pesquisas de campo. Após a distribuição individual, as equipes foram agrupadas tendo como base as cores dos cartões nas imagens impressa. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 194 Fotos 315 e 316: Escavação arqueológica simulada com as crianças. Em seguida, foi desenvolvida a atividade chamada “Baú da Arqueologia”. Esta atividade consistiu na apresentação de um baú de vime no qual havia peças arqueológicas reais (fragmentos cerâmicos e instrumentos líticos), de uma coleção de referência com fins educativos, material este sem procedência e sem interesse científico. O objetivo principal desta atividade foi proporcionar às crianças a observação e o manuseio dos artefatos arqueológicos. Através deste material, elas puderam perceber quais os vestígios mais freqüentes nos sítios arqueológicos da região. Nesta brincadeira, cada aluno escolheu o objeto que mais lhe interessou e o registrou através de desenho (Anexo 4C). Foto 317: Descoberta e registro dos Foto 318: Detalhe de um aluno realizando artefatos na escavação arqueológica o registro do objeto escavado. simulada. Após a conclusão destas atividades, os alunos receberam orientação e recomendações de conduta durante a visita ao sítio arqueológico, realizada no dia seguinte. Como encerramento da oficina, foram ainda distribuídos caça-palavras para colorir, com o objetivo de fixar os conceitos trabalhados (Anexo 4D). No dia seguinte, os alunos foram guiados ao sítio arqueológico SC-AI-17, para observar e participar do ambiente da pesquisa arqueológica. Primeiramente, receberam orientações e informações sobre o sítio. O roteiro incluiu visitas às quadrículas que estavam sendo escavadas no sítio, onde os estagiários responsáveis mostraram o material arqueológico coletado e responderam às perguntas das crianças. Após as explicações, os alunos ficaram à vontade para percorrerem a área de pesquisa e explorarem aquilo que havia lhes chamado mais a atenção. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 195 Fotos 319 e 320: Visita ao sítio arqueológico SC-AI-17, onde os alunos conheceram na prática do trabalho de escavação arqueológica. Neste momento, dividiram-se entre a observação da escavação das quadrículas, o acompanhando do trabalho de peneiramento do solo e triagem do material na peneira e a identificação dos vestígios arqueológicos coletados. Alguns alunos executaram as etapas de triagem e identificação das coletas, sempre sob orientação de membros da equipe de arqueologia. Foto 321: Crianças recebendo orientação Foto 322: Crianças observando dos estagiários nas quadrículas sendo artefatos arqueológicos resgatados. escavadas. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. os 196 Foto 323: Observação de vestígio Foto 324: Os alunos auxiliando arqueológico encontrado durante a acondicionamento e identificação escavação do sítio. material coletado. no do Ao final das atividades, foi realizada a avaliação e fixação do conhecimento apreendido com a aplicação do mesmo questionário respondido no início das atividades do dia anterior. A partir deste foi possível verificar se houve alguma alteração na percepção dos alunos em relação à visão que tinham do arqueólogo e da arqueologia, ou seja, o antes e o depois das ações educativas (Anexo 4E). Da mesma forma que o inicial, o questionário final também foi aplicado pela professora responsável e entregue à equipe de arqueologia no dia seguinte ao da visita. Fotos 325 e 326: As crianças participando da triagem e coleta de material na peneira. 5.1.3. AVALIAÇÃO DAS ATIVIDADES O ato de avaliar a execução das ações educativas é muito importante para melhor planejar a seqüência do programa educativo, corrigir possíveis falhas e, sobretudo, procurar Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 197 aperfeiçoar as futuras atividades de Educação Patrimonial. A avaliação deve ser realizada em vários estágios, tanto pelo corpo docente e discente envolvido nas atividades quanto pela equipe responsável pelo programa em relação ao alcance dos objetivos, destacando os resultados positivos e identificando os negativos e suas causas para poder saná-los. Nas ações junto aos alunos do ensino fundamental, estavam previstas as atividades de coleta, limpeza e reconstrução dos fragmentos de vasilhames cerâmicos proveniente da escavação simulada, cujos cacos estavam misturados nas caixas de areia. Os vasilhames deveriam ter sido quebrados após a secagem da pintura e usados na escavação simulada. Estes fragmentos propiciariam subsídios para a simulação de atividades de laboratório, como por exemplo, a remontagem dos vasilhames para análise, tentando identificar quais eram os desenhos pintados, quem eram os seus autores e o significado das representações (HORTA, 1999). No entanto, várias foram as dificuldade enfrentadas que impossibilitaram a execução da atividade conforme o previsto. Primeiramente, os alunos do pré-escolar quiseram levar para casa os vasilhames pintados e mostrá-los aos pais, guardando-os como lembrança, inviabilizando a seqüência prevista de atividades simuladas em laboratório, com a remontagem das peças, já que diante desta situação, as vasilhas não poderiam ser fragmentadas. A segunda dificuldade enfrentada foi detectada no momento da aula expositiva, em que os alunos do ensino fundamental já tinham conhecimento da pintura dos vasilhames cerâmicos realizada pelo pré-escolar, o que não propiciava mais o elemento surpresa pretendido na etapa de análise em laboratório. Com relação às perguntas empregadas nos questionários, percebeu-se que as mesmas não foram interpretadas em sua totalidade. Atribui-se este resultado, em parte, ao uso de linguagem diferente da realidade da região e em parte por terem sido aplicadas pelas professoras sem acompanhamento da equipe de arqueologia. Portanto, não foram repassadas interpretações e explicações sobre a forma como deveriam ser preenchidas. O objetivo principal era evitar que os alunos fossem influenciados ao responderem as perguntas. A intenção era averiguar o quanto os alunos sabiam a respeito da arqueologia e, no final, as perguntas serviriam como exercício de fixação e fechamento do assunto. Muitos dos alunos não possuem televisor em suas casas e o vínculo atribuído à arqueologia e a personagens como “Indiana Jones” não foram percebidos. Além disso, ficou evidente o fato de que a personagem “Indiana Jones”, tão popular há alguns anos, é muito antiga para as crianças que participaram das atividades, não constituindo mais uma referência de profissional de arqueologia para esta faixa etária. No questionário inicial, apenas cinco alunos disseram conhecer arqueólogos através da TV, sem mencionar mais Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 198 informações. No entanto, ao estabelecer o diálogo com a turma durante a exposição teórica, não foi percebido nenhum relato relacionado ao personagem ou a paleontologia, normalmente citada e vinculada à arqueologia. Embora os alunos conhecessem artefatos arqueológicos fortuitamente encontrados na região, as atividades práticas aplicadas proporcionaram o primeiro contato com o universo da pesquisa arqueológica, reforçando a importância da preservação. Mesmo diante das dificuldades enfrentadas, o objetivo principal das atividades foi alcançado, que era informar as crianças sobre a arqueologia e a atividade do arqueólogo, além de envolver e sensibilizá-las para a importância da preservação do patrimônio arqueológico regional. Embora não tenha existido maior tempo para o amadurecimento das questões tratadas, percebeu-se através da avaliação dos questionários, uma alteração positiva na percepção das crianças em relação ao que é patrimônio arqueológico, sobre esta ciência e o trabalho do arqueólogo. Nas perguntas realizadas para aferir se havia mudado algo do que se pensava ou se sabia a respeito da arqueologia, a maioria dos alunos respondeu positivamente, relatando que havia mudado o conceito que possuíam antes das atividades. Um aluno da 3ª série escreveu: “mudou, agora eu sei que é estudar o passado”. A equipe de arqueologia e as professoras avaliaram a experiência como sendo muito proveitosa, destacando-se o grande envolvimento das crianças e o interesse despertado por uma ciência até então desconhecida. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 199 5.2. ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL REALIZADAS NA ETAPA II 5.2.1. Contato com as Secretarias de Educação As Secretarias de Educação dos municípios de Arvoredo, Faxinal dos Guedes, Xavantina e Xanxerê foram contatadas no mês de setembro de 2006 para a apresentação do Programa de Educação Patrimonial e do cronograma de atividades previstas. Nesta oportunidade, foram abordados os seguintes assuntos: • Apresentação do projeto; • Levantamento do universo escolar do município; • Verificação da infra-estrutura das escolas para a realização das atividades (recursos audiovisuais); e • Definição da agenda e do cronograma para desenvolvimento das atividades. No levantamento do universo escolar, constatou-se uma quantidade significativa de escolas isoladas em que as turmas de Ensino Fundamental de 1ª a 4ª séries estão reunidas e são trabalhadas ao mesmo tempo por um único professor. A Secretaria Municipal de Educação do município de Xanxerê não respondeu às solicitações enviadas, embora tenha confirmado o recebimento das informações. Portanto, não conseguimos realizar as atividades neste município por ausência de dados e retorno para agendar as atividades. 5.2.2. Seleção das escolas contempladas e planejamento das atividades Diante do levantamento escolar realizado, que mostrou um grande número de alunos, superior a 1.200 nos três municípios (Arvoredo, Faxinal dos Guedes e Xavantina) optou-se em desenvolver as atividades com uma parte da comunidade escolar. Para tanto, com o auxílio das Secretarias de Educação, estabeleceu os critérios para a escolha das escolas que foram os seguintes: a) Escolas do Ensino Fundamental com turmas de 1° a 4° séries quando isoladas e turma de 4ª série em escolas municipais seriadas; e b) Proximidade com as áreas em que foram localizados os sítios arqueológicos e com o empreendimento. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 200 MUNIC. ESCOLA Arvoredo Escola Municipal Isolada Chapada Alta TURMA 1ª a 4ª série Nº. DE ALUNOS 18 alunos 1 professora Escola Municipal Isolada Lomba Grande 1ª a 4ª série 16 alunos 1 professora Escola Municipal Isolada Duque de Caxias 1ª a 4ª série 13 alunos Xavantina 1 professora Escola Municipal Isolada Reduto 1ª a 4ª série 10 alunos 1 professora Escola Municipal Isolada Plano Alto 1ª a 4ª série 11 alunos Faxinal dos Guedes 1 professora 4ª série Escola Municipal Santa Teresinha 64 alunos 6 professoras Quadro 8: Escolas selecionadas e atendidas na segunda etapa. As atividades foram planejadas de modo distinto da etapa anterior. Em virtude da quantidade de escolas a serem contempladas pelas ações educativas e do encerramento da etapa de resgate dos sítios arqueológicos, não haveria a possibilidade de visita guiada a escavação. Deste modo, as atividades foram elaboradas para ocorrer exclusivamente no espaço da sala de aula, sem envolver o auxílio e a infra-estrutura externa das escolas, o que possibilitou maior agilidade no desenvolvimento das atividades. Outro aspecto que diferenciou a metodologia nas duas etapas foi o material utilizado na exposição teórica. Com o objetivo de padronizá-lo e diante da dificuldade de infra-estrutura e recursos audiovisuais por parte de algumas escolas, buscou-se utilizar o mesmo material em todos os municípios. Algumas das escolas escolhidas para as atividades não puderam ser atendidas diante de dificuldades enfrentadas para a execução do programa, alheias à equipe, como a falta de transporte dos alunos e o passeio de confraternização realizado em virtude do encerramento do ano letivo, sem alteração das atividades já agendadas. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 201 5.2.3. Material fornecido ao Corpo Docente Nesta etapa, assim como na anterior, foi distribuída uma coletânea de textos selecionados, sobre preservação do patrimônio, educação patrimonial e arqueologia, assim como sugestões de atividades para serem desenvolvidas, envolvendo a temática patrimônio. Este material de apoio tem por objetivo instrumentalizar as professoras para o ensino em sala de aula sobre o tema. A coletânea de texto foi composta por trechos extraídos de livros ou artigos, a saber: 1) ATAÍDES, J. M., MACHADO, Laís Aparecida, SOUZA, Marcos André Torres de. Cuidando do Patrimônio Cultural. Goiânia: Ed. UCG, 1997. p 11-13. 2) MORLEY, Edna June. O Presente do Passado. O que é Arqueologia? Empreendimento Habitasul / Jurerê Internacional, 1992. 3) ITAQUI, José e VILLAGRÁN, María Angélica. Educação Patrimonial: A Experiência da Quarta Colônia. Santa Maria: Palloti, 1998. 4) VERSIGNASI, Alexandre. Como é a escavação de um sítio arqueológico? In: Superinteressante Especial: Mundo Estranho. Edição 06. São Paulo: Editora Abril, 2002, p. 32-33. 5) HORTA, M.L.P.; E. GRUNBERG; A. Q. MONTEIRO Guia Básico de Educação Patrimonial. Brasília, IPHAN, 1999. 6) MUSEU DE ARQUEOLOGIA E ETNOLOGIA DA USP. Brasil 50 mil anos: Uma viagem ao passado pré-colonial. (Guia temático para professores). 2000. 5.2.4. Atividades de Educação com Discentes As atividades com os alunos seguiram três momentos distintos, divididos entre as atividades e a avaliação, sendo precedidas pela aplicação de um questionário baseado em Bezerra de Almeida (2002), que procurava avaliar, por meio de perguntas, o conhecimento dos alunos sobre a arqueologia e a noção de preservação (Anexo 4F). 5.2.4.1. Atividade I – História dos objetos e a relação com a Arqueologia Inicialmente foi realizada uma dinâmica de grupo, baseada na proposta de Francisco Ramos (2004), que sugere a escolha de um “objeto gerador” para motivar reflexões e para “perceber a vida dos objetos, entender e sentir que os objetos expressam traços culturais [...] tal exercício deve partir do próprio cotidiano, pois assim se estabelece o diálogo, o conhecimento do novo na experiência vivida: conversa entre o que se sabe e o que se vai saber [...]” (p. 32). Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 202 Neste sentido, foi solicitado à turma que escolhesse um objeto em suas mochilas, bolsas, bolsos ou no ambiente da sala de aula e que os organizassem e os colocassem reunidos. Cada grupo17, por sua vez, utilizando a imaginação, criou uma narrativa a partir do conjunto de objetos escolhidos, sobre o modo de vida, quem poderiam ser as pessoas (ou pessoa) que utilizavam aqueles objetos escolhidos, qual a história e o contexto histórico em que estão inseridos (cultura) etc., procurando a partir dos objetos selecionados responder questões como: Quem são? O que fazem? Qual o significado ou importância deste objeto para estas pessoas? Fotos 327 e 328: Alunos reunidos para execução da atividade com os “objetos geradores”: Escola Municipal Santa Teresinha, Faxinal dos Guedes (esq.) e Escola Municipal Isolada Reduto, Xavantina (dir.). A partir desta narrativa, objetivou-se demonstrar como o arqueólogo trabalha, analisando os artefatos do passado para compreender o modo de vida de quem os usou; qual a importância da ciência e sua metodologia para a reconstituição do modo de vida e da cultura dos povos que viveram no passado. 17 As equipes foram divididas em pequenos grupos de no máximo cinco integrantes, conforme a quantidade de alunos presentes em classe. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 203 Fotos 329 e 330: Grupos construindo uma história a partir dos objetos selecionados: Escola Municipal Santa Teresinha, turma matutina, Faxinal dos Guedes (esq.) e Escola Municipal Isolada Chapada Alta, Arvoredo (dir.). Ao mesmo tempo, buscou-se fazer com que os alunos percebessem a diferença entre a narrativa no modo da ficção, por eles produzida, e os dados gerados pela ciência. Portanto, a intenção foi fazer uma ligação entre objetos do seu cotidiano e o estudo desses objetos, buscando “potencializar o campo de percepção diante [destes], por meio da ‘pedagogia da pergunta’, [...] aprender a refletir a partir da ‘cultura material’” (RAMOS, 2004, p. 28). A partir da dinâmica de grupo, foram utilizadas pranchas iconográficas18 como recurso para a explanação da metodologia (Anexo 4G) e das práticas arqueológicas, realizando a relação entre a narrativa criada pelos alunos, abordando os seguintes temas: ! A História dos objetos e a relação destes com o homem; ! A relação dos objetos com a Arqueologia; ! Conceito de Arqueologia; ! Como é o trabalho do arqueólogo (campo e laboratório); ! O que é sítio arqueológico e os tipos de sítios da região; ! Onde se encontram os sítios e suas principais características; e ! Preservação do patrimônio arqueológico. 5.2.4.2. Atividade II: Escavação Simulada Na seqüência, foi realizada uma atividade prática, ainda em equipe, através da 18 As pranchas iconográficas são cartazes em tamanho 50 x 65 cm, com perguntas e imagens que facilitam o diálogo e servem como material para-didático. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 204 execução de uma escavação arqueológica simulada, que objetivava a fixação dos conceitos apreendidos no exercício anterior e buscava proporcionar às crianças a experimentação do dia-a-dia do arqueólogo em uma escavação, embora as atividades deste não se restrinjam somente a esse tipo de pesquisa. Baseada na experiência de Ademir José Machado (2004), a partir de uma caixa-sítio (caixa de papelão e papel picado em diferentes cores para diferenciar as camadas arqueológicas), foram dispostos objetos (louças, fragmentos de cerâmica, material lítico19, dentre outros) do mesmo período em cada caixa, produzindo assim registros de “sítios” diferentes. Logo depois, as equipes realizaram a escavação simulada, que consistiu na descoberta e evidenciação dos objetos “enterrados”, com a retirada dos papéis, tomando cuidado e seguindo a metodologia análoga à utilizada em campo. A etapa seguinte passou ao registro, através do desenho dos objetos encontrados na caixa-sítio, culminando com a coleta e análise destes, assim como a constatação da diferença existente entre os objetos de cada sítio pesquisado pelas equipes. (Anexo 4H). 19 Foram utilizados materiais da coleção de referência da empresa, que em grande parte é proveniente de acervos particulares sem contextualização arqueológica, doadas à empresa em trabalhos de campo. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 205 Fotos 331 a 334: Alunos realizando a atividade de escavação simulada com a caixasítio: Escola Municipal Isolada Duque de Caxias (sup. esq.) e Escola Municipal Isolada Chapada Alta (sup. dir.), em Arvoredo e Escola Municipal Santa Teresinha, turma matutina (inf. esq.) e turma verpertina (inf. dir.), Faxinal do Guedes. 5.2.4.3. Atividade III: Encerramento e avaliação No encerramento da oficina foram aplicadas as perguntas baseadas em Bezerra de Almeida (2002), com o objetivo de fixar as informações e os conceitos trabalhados (Anexo 4I). Por fim, foi entregue a cada aluno o folder intitulado: “Arqueologia nas PCHs de Plano Alto e Alto Irani” e a folha de atividades contendo um caça-palavras para colorir e um enigma arqueológico (Anexo 4J), buscando a fixação do conteúdo apreendido. Fotos 335 e 336: Alunos respondendo as perguntas ao final das atividades: Escola Municipal Isolada Plano Alto, Xavantina (esq.) e Escola Municipal Santa Teresinha, Faxinal dos Guedes (dir.). Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 206 5.2.5. Avaliação das atividades da Etapa II Reiterando a importância do ato de avaliar a execução das ações educativas como forma de aperfeiçoamento para futuras atividades de Educação com o patrimônio, objetivouse realizar a mesma avaliação utilizada na etapa anterior. Esta foi feita em vários estágios, tanto pelo corpo docente e discente envolvidos nas atividades, quanto pela equipe responsável pelo programa em relação ao alcance dos objetivos, destacando os resultados positivos e identificando os negativos e suas causas, podendo aperfeiçoá-los. Como já citado anteriormente, após a avaliação das atividades realizada na Etapa I, algumas ações foram modificadas em virtude de aspectos observados tanto no universo escolar, quanto na região trabalhada: 1) realidade econômica e social das comunidades visitadas; 2) linguagem utilizada pelos alunos; e 3) intervenção das professoras no processo de avaliação antes e depois das atividades (auxílio nas respostas dos questionários aplicados). Diante disso, pode-se avaliar que poucas foram as dificuldades encontradas na execução das atividades nesta etapa, embora algumas ações tenham sido adaptadas. A saber: 1) as fichas de campo foram preenchidas em equipe e não individualmente, diante da dificuldade de escrita de alguns alunos que ainda cursavam a 1ª série do ensino fundamental; e 2) a análise dos objetos pesquisados após a atividade de escavação simulada foi realizada sem o auxílio do formulário individual que havia sido produzido, tendo o objetivo de enriquecer a discussão, fomentando perguntas e participação dos alunos. Portanto, deu-se de forma oral e com a participação do grande grupo. Tais adaptações foram consideradas como adequadas e eficazes no desenvolvimento da atividade em sala de aula. Quanto às perguntas formuladas antes e depois das ações (Anexos 4F, 4I), como forma de avaliação do conhecimento a respeito da arqueologia, nesta etapa estas foram aplicadas pela equipe de Educação Patrimonial, o que favoreceu um maior controle sobre a interpretação e garantiu o retorno sem influências e sugestões a respeito de uma “resposta correta”. Dessa forma, procurou-se mostrar que o conhecimento é construído e que não existe a obrigação de “saber a respeito de tudo” e sim que os alunos estejam dispostos e motivados a aprender. Um aspecto observado e considerado pela equipe muito importante foi a grande dificuldade dos alunos diante da possibilidade de responder “não sei”. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 207 Nas questões mais específicas, verificou-se que a definição do que era a arqueologia era desconhecida para a maioria dos alunos e para alguns professores. Além disso, não identificamos uma imagem estereotipada do arqueólogo, vinculando ao personagem Indiana Jones, assim como mencionado e identificado por Bezerra de Almeida (2002). È preciso, no entanto, como mencionado anteriormente, que este personagem é muito antigo para a faixa etária das crianças que participaram da atividade, e nenhum outro o substituiu na mídia desde então. Outro aspecto observado também foi a inexistência da relação entre paleontologia e a arqueologia, vinculando fósseis e dinossauros a esta última. 5.3. COMPARAÇÃO E AVALIAÇÃO DA METODOLOGIA DA ETAPA I E ETAPA II Nas etapas I e II, dois conjuntos distintos de atividades constituíram a metodologia empregada, realizadas em períodos diferentes, embora norteadas por objetivos comuns. Diante disso, é possível avaliar comparativamente as ações da Etapa I como eficientes, porém não tão eficazes; ao contrário da Etapa II em que todas as ações foram eficientes e eficazes. Esta leitura é realizada ao confrontar, por exemplo, o tempo empregado em ambas as etapas e o resultado a respeito da compreensão dos conceitos e dos temas abordados. Na primeira fase, houve um convívio maior com os alunos e as atividades foram desenvolvidas ao longo de uma semana. Já na segunda etapa, as atividades foram concentradas e realizadas em um único encontro. Isto demonstra que a Etapa I, mesmo com maior tempo disponível, não foi suficiente para que os assuntos fossem compreendidos em sua totalidade. Chegou-se a esta conclusão baseado na percepção e na participação dos alunos, assim como na interação entre eles no momento da escavação simulada, quando os conceitos explicados eram postos em prática e reforçados. Percebeu-se também que a falta do contato direto com os alunos e com a realidade escolar da região na fase de levantamento (linguagem, situação sócio-econômica, dentre outros), comprometeu a eficácia das ações na primeira etapa. Na segunda fase, munidos da avaliação realizada na etapa I, foi possível adequar Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 208 todas as atividades para a realidade a ser enfrentada. Neste aspecto, levou-se em consideração não só as informações a respeito de faixa etária, dos currículos, dos temas abordados pelos professores, mas todos os aspectos mencionados anteriormente. Desta forma, considera-se primordial em futuros levantamentos do universo escolar realizar alguma forma de observação ou de contato com o público alvo para melhor avaliar o contexto antes do desenvolvimento das ações de Educação Patrimonial, para que todos os aspectos identificados sejam considerados no momento do planejamento das atividades e do material para esse público. Embora a avaliação com os docentes tenha sido feita oralmente, como sugestão para atividades posteriores de Educação Patrimonial, propõe-se a criação de um questionário de avaliação para o professor que acompanha as atividades, aferindo sobre a metodologia utilizada, o tempo empregado, os resultados e demais questões. Este questionário serviria como instrumento de avaliação do docentes em relação à atuação da equipe de Educação Patrimonial. 5.4. ELABORAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DO FOLDER 5.4.1. Elaboração do Folder Com intuito de divulgar as pesquisas arqueológicas realizadas na região em virtude do empreendimento e abordar a importância da preservação do patrimônio arqueológico, foi produzido um folder, em linguagem acessível, para distribuição ao público da região durante as atividades educativas. O material produzido, intitulado “Arqueologia nas PCHs de Plano Alto e Alto Irani” (Anexo 4K) contém esclarecimentos sobre o licenciamento ambiental e os resultados produzidos sobre a arqueologia regional. Além disso, apresenta a definição sobre esta ciência, os sítios arqueológicos, a pesquisa de campo e o trabalho em laboratório. Aborda, ainda, o que fazer quando ocorre uma descoberta arqueológica fortuita e qual local procurar para obter mais informações. O folder foi impresso em papel couché, colorido, tamanho A4, apresentado em três dobraduras. A tiragem foi de 2.000 exemplares de distribuição gratuita. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 209 5.4.2. Distribuição do Folder A distribuição dos folders buscou atender a comunidade escolar, assim como as instituições regionais, como veículos de informação local: LOCAL UNIDADES Centro de Memória do Oeste – CEOM / UNOCHAPECÓ 200 11ª SR/IPHAN/SC – Santa Catarina 20 12ªSR/IPHAN/RS – Rio Grande do Sul 20 Secretaria de Educação do Município de Arvoredo 240 Oficinas no Município de Arvoredo 50 Secretaria de Educação do Município de Faxinal dos Guedes 627 Oficinas em Faxinal dos Guedes 70 Secretaria de Educação do Município de Xavantina 100 Casa de Cultura do Município de Xavantina 100 Oficinas em Xavantina 23 Secretaria de Educação do Município de Xanxerê 100 Secretaria de Cultura - Museu de Xanxerê 100 Secretaria de Educação do Município de Xaxim 100 Scientia – acervo e distribuição em eventos científicos 100 Empreendedor - ETS 150 TOTAL 2.000 Quadro 9: Distribuição dos folders por instituição. 5.5. DIVULGAÇÃO DAS ATIVIDADES NA MÍDIA LOCAL Após as atividades de Educação Patrimonial realizadas na localidade de Santa Teresinha, município de Arvoredo, foi providenciada a divulgação através de jornais da região, sendo elaborado um release sobre as ações (Anexo 4L). Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 210 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Solange Bezerra Caldarelli As avaliações arqueológicas feitas nos locais indicados como sítios arqueológicos pelo diagnóstico realizado para o EIA do empreendimento demonstraram que sete desses locais constituíam efetivamente sítios arqueológicos (sendo três na PCH Plano alto e quatro na PCH Alto Irani); três correspondiam a uma ocorrência discreta de material arqueológico (um na PCH Plano Alto e dois na PCH Alto Irani) e dois não apresentaram qualquer tipo de vestígio arqueológico, sendo, portanto, descartados. Os quadros 10 e 11, nas páginas seguintes, sintetizam os trabalhos realizados e os resultados das avaliações, descritos em maiores detalhes no capítulo dois deste relatório. Os trabalhos de resgate arqueológico compreenderam oito sítios arqueológicos, sendo cinco na PCH Plano Alto e três na PCH Alto Irani, conforme se pode ver no capítulo três deste relatório. Sobre os sítios resgatados, verificou-se que sua implantação se deu preferencialmente em patamares, situados entre baixas e médias vertentes. Apenas dois sítios foram registrados em alta vertente, um deles também em patamar. Um único sítio arqueológico foi registrado em topo. O quadro 10, abaixo, mostra a relação entre as áreas estimadas dos sítios resgatados, a profundidade da camada arqueológica e a densidade de material registrada em cada um. Sítio Área Profundidade Densidade de material PA-04 1.200 m² 1,20m Alta AI-17 5.000 m² 0,80m Alta AI-03 6.000 m² 0,20m Média PA-08 7.500 m² superficial Baixa PA-11 8.500 m² superficial Baixa AI-08 9.000 m² superficial Baixa PA-12 9.600 m² superficial Baixa PA-09 14.400 m² superficial Baixa Quadro 10 – relação entre sítio, área, profundidade e densidade de material. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 211 Uma análise do quadro 12 permite observar que as maiores densidades de material arqueológico foram registradas exatamente nos sítios não superficiais, com camada arqueológica relativamente bem preservada (sítios PA-04 e AI-17) ou no qual ainda havia alguma matriz de sustentação do material arqueológico, mesmo que bastante comprometida (sítio AI-03). Nos demais sítios, pode-se considerar que a destruição da matriz arqueológica causou a destruição dos sítios e sua área atual não corresponde à área originalmente ocupada, devendo ser resultante da dispersão do material arqueológico. Processos pós-deposicionais, sejam eles naturais ou antrópicos, afetam tanto a matriz do sítio arqueológico (o solo) quanto os materiais arqueológicos. Dentre esses fatores, podem ser destacados: a) os que levam à erosão do solo, expondo materiais enterrados: desmatamento, ravinamento, aragem da terra (em especial mecanizada), etc.; b) os que levam a perturbações estratigráficas: raízes (em especial as de grande porte); animais invertebrados (formigas, cupins, minhocas, etc.) e vertebrados (tatus, coelhos, etc.) e ações construtivas antrópicas; c) os que fragmentam e dispersam os materiais arqueológicos: pisoteamento (por humanos e animais de criação), passagem de veículos (em especial os pesados), abertura de cavas e valas, etc. Enfim, após o abandono de um sítio por seus ocupantes, os remanescentes materiais da ocupação são afetados por uma série de fatores naturais e antrópicos, que os deslocam, horizontal e verticalmente, alterando sua situação espacial do momento do abandono, o que dificulta, em maior ou menor grau, a interpretação dos dados (Schiffer, 1996). Considerando-se, portanto, apenas os sítios mais bem preservados dentre os resgatados (PA-04 e AI-17), pode-se dizer que se tratavam de sítios de pequenas dimensões (entre 1.200 e 5.000 m² de área), ocupados por um período prolongado, que permitiu a formação de uma camada arqueológica espessa, da ordem de ao menos 0,80 (AI-17) e 1,20m (PA-04) de espessura, uma vez que a camada mais superficial deve ter sido erodida por ações antrópicas. No que concerne a uma estimativa de densidade populacional desses sítios, é preciso considerar que ambos esses sítios apresentam camadas líticas onde não ocorre material cerâmico. No sítio PA-04, o material cerâmico é encontrado até 0,80m de profundidade, enquanto que o material lítico ocorre até 1,20m de profundidade. Não foi notada diferença qualitativa entre o material lítico das diversas camadas escavadas. Já no sítio AI-17, o material cerâmico, apesar de ocorrer até 0,50m de profundidade, é muito pouco expressivo abaixo de 0,30m. O que torna este sítio singular na área de Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 212 estudo é a existência comprovada de um nível lítico mais antigo, certamente de caçadorescoletores produtores de pontas de flechas lascadas bifacialmente, possivelmente pertencentes à denominada Tradição Umbu (fotos 337 e 338). Fotos 337 e 338 – Pontas de projétil bifacias triangulares, com pedúnculo e aletas, coletadas no Sítio SC-AI-17, a primeira confecionada em calcedônia e a segunda em meta-lamito. O material cerâmico, em ambos os sítios, é muito pouco expressivo em relação ao material lítico: 39 fragmentos de cerâmica para 1.377 objetos líticos, no sítio PA-04 e 74 fragmentos de cerâmica para 2.177 objetos líticos, no sítio AI-17, o que dá para a cerâmica uma proporção, em relação ao material lítico desses sítios, de apenas 2,8 a 3,3%, conforme gráfico abaixo. 97,2% 96,7% 100,0% 80,0% 60,0% 40,0% 20,0% 2,8% 3,3% 0,0% PA-04 Cerâmica AI-17 Lítico Gráfico 55 – Proporção do material cerâmico em relação ao material lítico, no conjunto das coleções arqueológicas dos sítios PA-04 e AI-17. Utilizando-se da fórmula de Naroll (1962) para estimar a densidade populacional desses sítios (aos quais se acrescenta, aqui, o sítio AI-03), pode-se inferir uma população pequena, entre 12 (PA-04) a 50/60 indivíduos (AI-17 e AI-03) apenas. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 213 Nesse sentido, o sítio PA-04 corresponderia a um sítio de atividades específicas, provavelmente destinado à produção de artefatos líticos. Como se trata de um sítio localizado num patamar estreito e curto, na baixa vertente, caracterizado como um terraço de inundação que recebe tanto depósitos das cheias do Rio Irani como das vertentes situadas acima dele (capítulo três deste relatório), tal interpretação parece ser legítima, pois o local não reuniria as características necessárias a um assentamento de longa duração. Isso explicaria também a ausência ou baixo número de fragmentos cerâmicos. Segundo consta do capítulo quatro deste relatório, dezoito cacos apresentaram marcas de uso consistentes com restos de alimentação carbonizada no interior das vasilhas, indicando que estas foram utilizadas para cozinhar alimentos durante a permanência do grupo no local. O sítio deve ter sido reocupado para atividades de lascamento e talvez processamento de material de caça ao menos algumas vezes, conforme indica a alta espessura do depósito arqueológico, devida também ao aporte de sedimentos trazidos pelas constantes inundações. O sítio AI-17, por sua vez, com área de aproximadamente 5.000 m² e população estimada em cerca de 50 indivíduos, é coerente com uma ocupação um pouco mais densa, ocorrida num topo de colina, ou seja, numa área mais protegida de inundações e com melhor visibilidade dos arredores. Esta situação parece ter sido considerada favorável não apenas pelos horticultores ceramistas Itararé, mas também pelos caçadores-coletores Umbu que os antecederam no local. Situados no Oeste Catarinense, tais sítios parecem corresponder ao que já foi observado na UHE Quebra-Queixo (Caldarelli, 2002), de uma área ocupada por populações pouco reduzidas numericamente, possivelmente refugiadas no extremo oeste catarinense, já em período histórico avançado, uma vez que a ocupação do oeste do Estado de Santa Catarina pela denominada “sociedade nacional” vai-se dar efetivamente apenas no último quartel do século XIX, “com a delimitação final da fronteira entre Brasil e Argentina, em 1885” (Rossetto, 1996). Este seria o cenário correspondente aos sítios da tradição Itararé estudados, não sendo valido, evidentemente, para o cenário da ocupação mais antiga, de caçadorescoletores da Tradição Umbu, dos quais uma ocupação de curta duração foi identificada no sítio SC-AI-17. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 214 . SÍTIO ARQUEOLÓGICO Sigla SC – PA – 01 SC – PA – 02 Nome Linha Tiradentes 1 Linha Tiradentes 2 Município Xavantina Xavantina ATIDADES DESENVOLVIDAS Tipo de Sítio Cerâmico Cerâmico UTM - Registro Avaliação Resultado Resgate 20 Não --- --- 20 Não --- --- 20 Não --- --- Amaral, 2002 Amaral, 2002 SC – PA – 03 Linha Trevisan 1 Xavantina Lítico - SC – PA – 04 Linha Santa Teresinha 1 Xavantina Lito-cerâmico 369841 / 7015833 Amaral, 2002 Sim Positivo Sim SC – PA – 05 Linha Plano Alto 1 Xavantina Lito–cerâmico 369854 / 7015993 Amaral, 2002 Sim Positivo --- SC – PA – 06 Linha Plano Alto 2 Xavantina Lito-cerâmico 370895 / 7017824 Amaral, 2002 Sim Positivo --- Linha Duas Palmeiras 1 Faxinal dos Guedes Lítico – OAD21 369725 / 7015752 Amaral, 2002 Sim Positivo – reclassificado como OAD-PA-01 --- SC – PA – 07 Linha Duas Palmeiras 2 Faxinal dos Guedes Lito-cerâmico 367071 / 7016926 Cardeal, 200522 --- Sim Linha Duas Palmeiras 3 Faxinal dos Guedes Lito-cerâmico 367224 / 7017187 Cardeal, 200522 --- Sim 366740 / 7017035 Cardeal, 200522 Positivo – reclassificado como OAD-PA-02 Sim Sim SC – PA – 08 SC – PA – 09 Linha Santo Isidoro 1 SC – PA – 10 SC – PA – 11 SC – PA – 12 Linha Santo Isidoro 2 Linha Santo Isidoro 3 Xavantina Lítico Xavantina Lito-cerâmico Xavantina Lito-cerâmico Amaral, 2002 ----- 366704 / 7017100 Cardeal, 200522 --- --- Sim 366792 / 7017417 22 --- --- Sim Cardeal, 2005 Quadro 10: Relação dos sítios identificados na PCH Plano Alto e as atividades desenvolvidas 20 Levantado por Maria Madalena Velho do Amaral em 2002 e não contemplado no presente projeto desenvolvido pela Scientia Consultoria Científica. OAD - Ocorrência Arqueológica Discreta 22 Sítio novo registrado no âmbito deste projeto por Alfredo Cardeal Filho. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 21 215 SÍTIO ARQUEOLÓGICO Sigla ATIDADES DESENVOLVIDAS Nome Município Tipo de Sítio UTM Registro Avaliação 20 Resultado Resgate SC-AI-01 Linha Teresinha 1 Arvoredo Cerâmico 358348 / 7010375 Amaral, 2002 Não --- --- SC-AI-02 Linha Teresinha 2 Arvoredo Lito-cerâmico 358122 / 7010525 Amaral, 2002 Sim Positivo Sim SC-AI-03 Linha Teresinha 3 Arvoredo Lito-cerâmico 358545 / 7010991 Amaral, 2002 Sim Positivo Sim SC-AI-04 Linha Teresinha 4 Arvoredo Histórico 358545 / 7010991 Amaral, 2002 Sim Positivo Não SC-AI-05 Linha Teresinha 5 Arvoredo Lito-cerâmico 358131 / 7010955 Amaral, 2002 Sim Positivo – reclassificado como OAD-AI-01 SC-AI-06 Linha Teresinha 6 Arvoredo Lito-cerâmico 359366 / 7011931 Amaral, 2002 Sim Positivo – reclassificado como OAD-AI-02 Não SC-AI-07 Linha Teresinha 7 Arvoredo Cerâmico 357804 /7009945 Amaral, 2002 Não --- --- SC-AI-08 Linha Teresinha 8 Arvoredo Lito-cerâmico 358279 / 7011084 Amaral, 2002 SC-AI-09 Linha Reduto 1 Xavantina Cerâmico 360040 / 7011332 Sim Positivo Sim 20 Não --- --- 20 Amaral, 2002 SC-AI-10 Linha Reduto 2 Xavantina Cerâmico 359825 / 7011463 Amaral, 2002 Não --- --- SC-AI-11 Linha Reduto 3 Xavantina Cerâmico 360337 / 7012196 Amaral, 200220 Não --- --- 20 SC-AI-12 Linha Reduto 4 Xavantina Cerâmico 360415 / 7012577 Amaral, 2002 Não --- --- SC-AI-13 Linha Pinhalzinho 1 Xavantina Cerâmico 362556 / 7013995 Amaral, 200220 Não --- --- SC-AI-14 Linha Pinhalzinho 2 Xavantina Cerâmico 360821 / 7013534 Amaral, 2002 SC-AI-15 SC-AI-16 Linha Bom Jardim 1 Linha Bom Jardim 2 Xanxerê Xanxerê Cerâmico Cerâmico 359085 / 7012137 358863 / 7011968 Sim Negativo --- 20 Não --- --- 20 Amaral, 2002 Amaral, 2002 Não --- --- 22 --- --- Sim SC-AI-17 Linha Teresinha 9 Arvoredo Lito-cerâmico 357830 / 7010624 Cardeal, 2005 SC-AI-18 Linha Teresinha 10 Arvoredo Lítico 358193 / 7010320 Cardeal, 200522 --- --- Sim 22 --- --- Sim --- --- Sim SC-AI-19 Linha Teresinha 11 Arvoredo Lito-cerâmico 358390 / 7010745 Cardeal, 2005 SC-AI-20 Linha Bom Jardim 3 Xanxerê Lítico 358361 / 7011397 Cardeal, 200522 Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 216 SC-AI-21 SC-AI-22 SC-AI-23 Linha Teresinha 12 Linha Teresinha 13 Linha Teresinha 14 Arvoredo Arvoredo Arvoredo Lítico Lítico Lítico 358580 / 7011411 Cardeal, 200522 --- --- Sim 357092 / 7005888 Cardeal, 2005 22 --- --- Sim Cardeal, 2005 22 --- --- Sim 357425 / 7009850 Quadro 11: Relação dos sítios identificados na PCH Alto Irani e as atividades desenvolvidas. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC – Relatório Final. 217 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDREFSKI, W. Lithics: macroscopic approachs to analysis. Cambridge University Press, 1998. ATAÍDES, J. M.; MACHADO, L. A.; SOUZA, M. A. T. Cuidando do Patrimônio Cultural. Goiânia: Ed. UCG, 1997, p 11-13. BEZERRA DE ALMEIDA, M. Arqueologia vai à escola: uma experiência com escavação simulada. Rio de Janeiro: CPTV, 2001. 1 videocassete (30 min.): VHS, NTSC, son., color. Port. (Didático). __________. O Australopiteco Corcunda: as crianças e a Arqueologia em um projeto de Arqueologia Pública na escola. Tese (Doutorado em Ciências – Concentração em Arqueologia). Programa de Pós-Graduação em Arqueologia, USP, São Paulo, 2002. BINFORD, L. R. A Proposed Attribute List for the Description and Classification of Projectile Points. Anthropological Papers. Miscellaneous Studies in Tipology and Classification, University of Michigan, p.193-221, 1963. BRÉZILLON, M. N. La Dénomination des Objets de Pierre Taillée : Matériaux pour un Vocabulaire es Préhistoriens de Langue Française. Paris : Gallia Préhistoire, 1977. 423p. CAILLEUX, A. Code des Couleurs des Sols. Paris, Boubée, s/d. CALDARELLI, S. B. Discussão dos Dados. In : Projeto de Resgate Arqueológico na Área Diretamente Afetada da UHE Quebra-Queixo, SC – Relatório Final. Florianópolis, Scientia Ambiental, 2002. CHIMYZ, I. Considerações sobre duas novas Tradições Ceramistas Arqueológicas no Estado do Paraná. In: Anais do Segundo Simpósio de Arqueologia da Área do Prata. Pesquisas, Antropologia, n° 18. Estudos Leopoldenses, nº. 19. São Leopoldo, 1968, p. 115-123. CHMYZ, I. (Ed.). Terminologia Arqueológica Brasileira para a Cerâmica. Manuais de Arqueologia nº. 1. Centro de Ensino e Pesquisas Arqueológicas. Curitiba, Gráfica Vicentina, 1966, 22 p. __________. Terminologia Arqueológica Brasileira para a Cerâmica. Parte II. Manuais de Arqueologia nº. 1. Centro de Ensino e Pesquisas Arqueológicas. Curitiba, Universidade Federal do Paraná, 1969, 8 p. COLLINS, M. B. Una Propuesta Conductual para el Estudio de la Arqueología Lítica. Etnia. Buenos Aires, nº. 34-35, p. 47-65, 1989/1990. CRABTREE, D. E. An Introduction to Flintworking. Occasional Papers of the Idaho State University Museum 28. Pocatello, 1972. DANA, J. D.; HURLBUT, C. S. Manual de Mineralogia. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos Editora S. A., 1976, 642 p. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC. – Relatório Final. 218 DIAS, A. S.; HOELTZ, S. E. Proposta Metodológica para o Estudo das Indústrias Líticas do Sul do Brasil. Revista do CEPA, Santa Cruz do Sul, v. 21, n. 25, 1997, p. 21-62 FANTIN, M. No mundo da Brincadeira: Jogo, Brinquedo e Cultura na Educação Infantil. Florianópolis: Cidade Futura, 2000. FARIAS, D. S. O trabalho de Educação Patrimonial no contexto arqueológico. In: Anais do I Encontro Sul Brasileiro de Educação Patrimonial. Tubarão, UNISUL, Edição em CDROM, 2001. HAYDEN, B.; KAMINGA, J. Na Introduction to Use-Wear: The First CLUW. In: HAYDEN, B. (Ed.) Lithic Use-Wear Analysis. New York: Academic Press, 1979, p. 1-13. HEINZELIN DE BRAUCOURT, J. De. Manuel de Tipologie des Industries Lithiques. Bruxelles, 1962, 74 p. 50pl. In : BRÉZILLON, M. N. La Dénomination des Objets de Pierre Taillée : Matériaux pou un Vocabulaire es Préhistoriens de Langue Française. Paris: Gallia Préhistoire, 1977, 423 p. HERBERTS, A. L.; COMERLATO, F. Uma Viagem ao passado. Florianópolis, Eletrosul, Scientia Ambiental, 2003. HORTA, M. L. P.; GRUNBERG, E.; MONTEIRO, A. Q. Guia Básico de Educação Patrimonial. Brasília, IPHAN, 1999. ISAAC, G.; HARRIS, J. N. K.; MARSHALL, F. Small is informative: the application of the study of mini-sites and least effort criteria in the interpretation of the early Pleistocene Archaeological record at Koobi For a, Kenya. Union International de Ciências Préhistóricas y Protohistóricas, X Congresso, Comision VI, 1981, p. 102-119. ITAQUI, J.; VILLAGRÁN, M. A. Educação Patrimonial: A Experiência da Quarta Colônia. Santa Maria: Palloti, 1998. LA SALVIA, F.; BROCHADO, J. P. Cerâmica Guarani. 2ªed. Porto Alegre: Posenato Arte e Cultura, 1989. LAMING-EMPERAIRE, A. Guia para o Estudo das Indústrias Líticas da América do Sul. Manuais de Arqueologia. Curitiba: Centro de Ensino e Pesquisas Arqueológicas, Universidade Federal do Paraná, nº. 2, 1967, 155 p. LAVINA, R. Informações etnográficas sobre os Kaingang do Brasil Meridional. In: CALDARELLI, S. B. (Org.). Projeto de resgate arqueológico na área diretamente afetada da UHE Quebra-Queixo, SC. Relatório Final. Volumes I. Florianópolis, Scientia Ambiental / ETS, mai./2002, p. 251-270. MACHADO, A. J. Arqueologia na sala de aula: uma experiência realizada na rede municipal de ensino de Ibarama, RS. Revista do CEPA, vol. 28, nº. especial. Santa Cruz, UNISC, 2004, p. 7-18. MANSUR, M. E. Instrumentos Líticos: Aspectos da Análise Funcional. Arquivos do Museu de História Natural. Belo Horizonte, Universidade de Minas Gerais, V.11, 1986/1990, p. 115-171. MARTINS, C.C.; NETTO, C. X. A. Atualização e Indexação das Fases e Tradições Arqueológicas Brasileiras. In: KERN, A. A.; HILBERT, K. (Org.). Arqueologia do Brasil Meridional. PUC, 2002. CD-Rom. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC. – Relatório Final. 219 MEGGERS, B. J.; EVANS, C. Como Interpretar a Linguagem da Cerâmica. Manual para Arqueólogos. Washington: Smithsonian Institution, 1970, 111 p. MILLER JR, T. O. Tecnologia cerâmica dos caingang paulistas. Arquivos do Museu Paranaense. Nova Serie Etnologia, n°. 2, 1978, p. 3-51. MORAES, J. L. A. Propósito do Estudo das Indústrias Líticas. Revista do Museu Paulista. Nova Série. São Paulo, Universidade de São Paulo, V. 32, 1987, p. 155-184. MORLEY, E. J. O Presente do Passado. O que é Arqueologia? Florianópolis: Empreendimento Habitasul, 1992, 35 p. MURCIA, J.A.M. Aprendizagem através do jogo. Porto Alegre: Artmed, 2005. MUSEU DE ARQUEOLOGIA E ETNOLOGIA DA USP. Brasil 50 mil anos: Uma viagem ao passado pré-colonial. (Guia temático para professores). 2000. NAROLL, R. Floor. Area and Settlement Population. American Antiquity, 1962, 27: 587– 589. NIMUENDAJU, C. Mapa Etno-Histórico do Brasil. Rio de Janeiro, IBGE, 1987. NOELLI, F. S. A ocupação humana na Região Sul do Brasil: arqueologia, debates, perspectivas 1872-2000. Revista da USP, São Paulo, nº. 44, 1990-2000, p. 218-269. (Antes de Cabral: Arqueologia Brasileira II). PLOETZ, H. La Civilisation Materielle et la Vie Sociele et Religieuse des Indiens et du Brésil Meridional et Oriental. Revista del Instituto de Etnologia de la Universidad de Tucuman. Tucuman, 1930, p. 107-236. PROUS, A. Arqueologia Brasileira. Brasília: Unb, 1992. PROUS, A. Os Artefatos Líticos: Elementos Descritivos e Classificatórios. Arquivos do Museu de História Natural. Belo Horizonte, Universidade Federal de Minas Gerais, V. 11, 1986/1990, p.1-88. PROUS, A.; LIMA, M. A Tecnologia de Debitagem do Quartzo no Centro de Minas Gerais: Lascamento Bipolar. Arquivos do Museu de História Natural. Belo Horizonte, Universidade Federal de Minas Gerais, V. 11, 1986/1990, p. 91-111. RAMOS, F. R. L. A danação do Objeto: o museu no ensino de História. Chapecó: Argos, 2004. RIBEIRO, P. A. M. Pré-história do Vale do Rio Pardo: a historia dos primeiros habitantes. Santa Cruz do Sul: Gráfica Kirst, 1993. __________. Manual de Introdução à Arqueologia. Porto Alegre: Sulina, 1977, 63 p. RIBEIRO, P. A. M.; RIBEIRO, C. T. Levantamento Arqueológico no município de Esmeralda, Rio Grande do Sul, Brasil. Revista do CEPA. Santa Cruz do Sul, Faculdades Integradas de Santa Cruz do Sul, vol. 12, nº. 14, 1985, p. 13-105. RICE, P. M. Pottery Analysis. London, Univ. Of Chicago Press. 1987. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC. – Relatório Final. 220 ROSSETTO, Santo. Síntese histórica da região oeste. In: Para Uma História do Oeste Catarinense – 10 anos de CEOM. Chapecó, UNOESC, 1996, p. 7-15. RÜTSCHILLING, A. L. B. Pesquisas arqueológicas no baixo rio Camaquã. Documentos. Nº. 03. São Leopoldo, 1989, p. 7-106. SCHEIBE, L. F. Meio físico: geologia e petrografia. In: CALDARELLI, S. B. (Org.) Projeto de resgate arqueológico na área diretamente afetada da UHE Quebra-queixo, SC. Relatório Final. Florianópolis: Scientia Ambiental, 2002, p. 203-210. SCHMITZ, P. I. As Tradições ceramistas do planalto sul-brasileiro. Arqueologia do Rio Grande do Sul, Brasil. Documentos. N° 02. São Leopoldo,1988, p. 75-130. SCHUMANN, W. Rochas e Minerais. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico S.A. 1985. 223 p. SCIENTIA AMBIENTAL. Projeto de Arqueologia Preventiva na área de intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC. Florianópolis, 2005. SEMENOV, S. A. Tecnologia Prehistorica: Estudio de las Herramientas y Objetos Antiguos a Través de las Huellas de Uso. Madrid: Akal Ed., 1981, 376 p. SENIOR, L. M.; BIRNIE III, D. P. Accurately estimating vessel volume from profile illustrations. American Antiquity. Vol. 60, 1995, 2, p. 319-334. SIMOES, M. F. Índice das fases arqueológicas brasileiras. Publicações avulsas Museu Paranaense Emílio Goeldi, Belém, 1972. SOUZA, A. M. Dicionário de Arqueologia. Rio de Janeiro: ADESA, 1997, 140 p. STALLYBRASS, P. O casaco de Marx. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. TIXIER, J.; INIZAN, M. L.; ROCHE, H. Préhistoire de la Pierre Taillée I: Terminologie et Technologie. Paris: Cercle de Recherches et d’Études Préhistoriques, 1990, 120 p. VERSIGNASI, A. Como é a escavação de um sítio arqueológico? In: Superinteressante Especial: Mundo Estranho. Edição 06. São Paulo: Editora Abril, 2002, p. 32-33. VIALOU, A. V. Tecno-Tipologia das Indústrias Líticas do Sítio Almeida em seu Quadro Natural, Arqueo-Etnológico e Regional. São Paulo, 1980. 341 p. Tese de Doutorado, Fac. de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Univ. de São Paulo, 1980. WUST, I. Sistemas de procura, produção, uso, reciclagem e descarte e técnicas de analise. Apostila do curso de cerâmica. Datiloscrito. Porto Alegre, s./d. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC. – Relatório Final. 221 EQUIPE TÉCNICA: Coordenação científica: Dra. Solange Bezerra Caldarelli Responsáveis pelo campo: Alfredo Cardeal Filho Francesco Palermo Neto Responsável pelo Laboratório e análise do material cerâmico: Ms. Ana Lucia Herberts Responsáveis pela análise do material lítico: Adelson André Brüggemann Dra. Sirlei Hoeltz Responsáveis pelo Programa de Educação Patrimonial Elaine Arnold Ms. Ana Lucia Herberts Técnico: Felipe Matos Estagiários: Ademir Salini23 Bruno Labrador24 Elaine Arnold24 Leandro Siqueira23 Leandro Gasperini23 Marcondes Bialeski23 Sidinei Agostini23 Silvano Silveira da Costa23 Rodrigo do Carmo23 Yan Sant’Ana Soares24 Organização e montagem do relatório: Ms. Ana Lucia Herberts Revisão do relatório: Dra. Solange Bezerra Caldarelli 23 24 Indicados pelo NEEA / CEOM / UNOCHAPECÓ. Scientia Consultoria Científica. Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC. – Relatório Final. 222 ANEXO 1: FICHAS DE CADASTRO DOS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS - CNSA ANEXOS 2: CROQUIS E PLANTAS DOS SÍTIOS PESQUISADOS ANEXO 4: PROGRAMA DE EDUCAÇÃO, DIVULGAÇÃO E VALORIZAÇÃO PATRIMONIAL Anexo 4A: Fichas da pré-avaliação com perguntas sobre o conhecimento dos alunos a respeito da arqueologia e a noção de preservação. Anexo 4B: Exemplo de uma das lâminas utilizadas na aula expositiva a partir da história em quadrinhos, com texto e imagens adaptadas do gibi “Arqueologia: uma viagem ao passado” (HERBERTS; COMERLATO, 2003). Anexo 4B: Exemplo de uma das lâminas utilizadas na aula expositiva a partir da história em quadrinhos, com texto e imagens adaptadas do gibi “Arqueologia: uma viagem ao passado” (HERBERTS; COMERLATO, 2003). Anexo 4B: Exemplo de uma das lâminas utilizadas na aula expositiva a partir da história em quadrinhos, com texto e imagens adaptadas do gibi “Arqueologia: uma viagem ao passado” (HERBERTS & COMERLATO, 2003). Anexo 4C: Exemplo de “Ficha de Registro” usada na escavação simulada preenchida por uma aluna. No primeiro espaço há o desenho dos objetos que foram encontrados na escavação simulada. Na segunda imagem foi representado o objeto escolhido, uma cerâmica ungulada. Anexo 4C: Exemplo de “Ficha de Registro” usada na escavação simulada preenchida por um aluno. No primeiro espaço há o desenho dos objetos que foram encontrados na escavação simulada. Na segunda imagem foi representado o objeto escolhido, uma cerâmica corrugada. Anexo 4D: Caça-palavras para colorir distribuído ao final das atividades. Anexo 4E: Ficha com perguntas baseadas em Bezerra de Almeida (2002), com objetivo de fixar as informações e os conceitos trabalhados, além de registrar a impressão do aluno sobre as atividades executadas. Anexo 4E: Ficha com perguntas baseadas em Bezerra de Almeida (2002), com objetivo de fixar as informações e os conceitos trabalhados além de registrar a impressão do aluno sobre as atividades executadas. Anexo 4F: Fichas da pré-avaliação aplicadas na Etapa II, com perguntas sobre o conhecimento dos alunos a respeito da arqueologia e a noção de preservação. HOMEM Anexo 4G: Exemplo de uma das pranchas iconográficas utilizadas na aula expositiva. Anexo 4G: Exemplo de uma das pranchas iconográficas utilizadas na aula expositiva. Anexo 4G: Exemplo de uma das pranchas iconográficas utilizadas na aula expositiva. Anexo 4H: Exemplo de ficha de registro utilizada na realização da escavaçãosimulada, com objetivo de estimular a observação ao método utilizado em pesquisas arqueológicas de campo. Anexo 4I: Ficha aplicada na Etapa II, com perguntas baseadas em Bezerra de Almeida (2003), com objetivo de fixar as informações e os conceitos trabalhados além de registrar a impressão do aluno sobre as atividades executadas. Anexo 4I: Ficha aplicada na Etapa II, com perguntas baseadas em Bezerra de Almeida (2003), com objetivo de fixar as informações e os conceitos trabalhados além de registrar a impressão do aluno sobre as atividades executadas. Anexo 4J: Caça-palavras para colorir e enigma arqueológico distribuído ao final das atividades. Anexo 4K: Folder “Arqueologia nas PCHs de Plano Alto e Alto Irani” (frente). Anexo 4K: Folder “Arqueologia nas PCHs de Plano Alto e Alto Irani” (verso). Anexo 4L: Matéria veiculada na imprensa, “Pequenas Centrais Hidrelétricas conscientizam alunos sobre Patrimônio Arqueológico”, Folha Regional, 09/08/06. Anexo 4L: Matéria veiculada na imprensa, “Hidrelétrica desenvolve projeto de salvamento do patrimônio arqueológico”, Jornal Sul Brasil, 09/08/06.