PCH , SC - Sistema do CEOM

Transcrição

PCH , SC - Sistema do CEOM
SPE PLANO ALTO ENERGIA S/A
SPE ALTO IRANI ENERGIA S/A
Escritório Regional Sul
ARQUEOLOGIA PREVENTIVA NA ÁREA
DE
INTERVENÇÃO DAS PCHS PLANO
ALTO E ALTO IRANI, SC
PCH Plano Alto
PCH Alto Irani
RELATÓRIO FINAL: ATIVIDADES DE CAMPO, DE
LABORATÓRIO E DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL.
Florianópolis, abril de 2007.
PROJETO:
ARQUEOLOGIA
PREVENTIVA
NA
ÁREA
INTERVENÇÃO DAS PCHS PLANO ALTO E ALTO IRANI, SC.
R E L A T Ó R I O F I N A L : ATIVIDADES
EDUCAÇÃO PATRIMONIAL.
DE
CAMPO,
DE
LABORATÓRIO
DE
E DE
PROCESSO IPHAN Nº 01510.000026/2005-83.
Permissão: Portaria IPHAN nº. 81 de 25/03/2005.
EXECUÇÃO:
Scientia Consultoria Científica Ltda.
Escritório Regional Sul
Rua 23 de Março, 536
Itaguaçu
88085-440 - Florianópolis – SC
CNPJ: 60.911.542/0001-48
Tel/Fax: (48) 3248-8450
E-mail: [email protected]
EMPREENDEDOR:
SPE Alto Irani Energia S.A e SPE Plano Alto Energia S.A
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04.734-003 – São Paulo - SP
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APOIO INSTITUCIONAL:
Núcleo de Estudos Etnológicos e Arqueológicos - NEEA
Centro de Memória do Oeste de Santa Catarina – CEOM
Universidade Comunitária Regional de Chapecó – UNOCHAPECÓ
Rua Líbano, 111 – D - 2º Andar Rodoviária
89805-510 – Chapecó – SC
Tel: (49) 3323 4749
E-mail: [email protected]
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
2
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
04
1. COMPLEMENTAÇÃO DO LEVANTAMENTO ARQUEOLÓGICO
05
1.1. PCH PLANO ALTO
05
1.2. PCH ALTO IRANI
17
2. AVALIAÇÃO ARQUEOLÓGICA
30
2.1. PCH PLANO ALTO
30
2.2. PCH ALTO IRANI
42
3. RESGATE ARQUEOLÓGICO
55
3.1. PCH PLANO ALTO
55
3.2. PCH ALTO IRANI
64
4. ANÁLISE DO MATERIAL ARQUEOLÓGICO
77
4.1. CERÂMICA
77
4.2. LÍTICO
128
5. PROGRAMA
PATRIMONIAL
DE
EDUCAÇÃO,
DIVULGAÇÃO
E
VALORIZAÇÃO
190
6. CONSIDERAÇÕES E RECOMENDAÇÕES FINAIS
211
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
218
EQUIPE TÉCNICA
222
ANEXOS
223
! Fichas de Cadastro dos Sítios Arqueológicos - CNSA
" Croquis e Plantas dos Sítios Pesquisados
# Lista de Análise do Lítico
$ Programa de Educação, Divulgação e Valorização Patrimonial
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
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INTRODUÇÃO
Solange Bezerra Caldarelli
O presente relatório encerra o Projeto de Arqueologia Preventiva nas áreas de
intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, no Estado de Santa Catarina.
Os objetivos expostos no projeto aprovado pelo IPHAN, abaixo reproduzidos, foram
plenamente atingidos, a saber:
•
Prevenir a destruição de sítios arqueológicos nas áreas de intervenção das PCHs Plano
Alto e Alto Irani.
•
Atender as exigências contidas no Parecer Técnico (Ofício nº 312/2002) da
11ª.SR/IPHAN/SC.
•
Complementar informações técnicas relativas aos sítios arqueológicos (tamanho das
áreas de ocorrência das evidências, profundidade e cultura material), confirmando se os
sítios registrados como “prováveis” na etapa de diagnóstico constituíam ou não sítios
arqueológicos.
•
Executar o salvamento de todos os sítios arqueológicos em risco por causa do
empreendimento, fosse direta, fosse indiretamente.
•
Realizar atividades de educação patrimonial, compatíveis com a magnitude dos
empreendimentos e com as características das comunidades às quais tais atividades
seriam dirigidas, de modo a fomentar atitudes de valorização e defesa do patrimônio
arqueológico regional.
Além dos sítios arqueológicos apresentados no projeto aprovado pelo IPHAN, foram
identificados mais 10 sítios arqueológicos na área de estudo, cinco deles na área da PCH
Plano Alto e cinco na área da PCH Alto Irani.
Os resultados dos trabalhos desenvolvidos, em campo e laboratório, são expostos a
seguir, conforme itens indicados no sumário e relatados nos próximos capítulos.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
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1. COMPLEMENTAÇÃO DO LEVANTAMENTO ARQUEOLÓGICO
Alfredo Cardeal Filho
Ana Lucia Herberts
Conforme previsto no projeto de pesquisa autorizado pelo IPHAN (Scientia Ambiental,
2005, p. 23), este relatório vem apresentar os resultados obtidos durante a complementação do
levantamento arqueológico das áreas projetadas para a instalação dos canteiros obras das
PCHs Alto Irani e Plano Alto.
As atividades de campo desenvolvidas serão descritas a seguir, distinguindo-se aquelas
relativas à PCH Plano Alto e à PCH Alto Irani.
1.1. PCH PLANO ALTO
O projeto de construção da PCH Plano Alto delimitou uma área de pouco mais de 55
hectares, onde será instalado o projeto de engenharia, dividida em duas porções. A menor
destas, com cerca de 19 hectares, situa-se na margem direita do Rio Irani, sendo denominada
de área “A”. A segunda porção, denominada de área “B”, situa-se na margem esquerda do Irani
e possui área de aproximadamente de 35 hectares.
A paisagem predominantemente se apresenta com vertentes em declive que varia do
médio ao acentuado, terraços ou degraus geralmente estreitos, alongados ou curtos, platôs
nos divisores de águas, estreitas faixas de mata ciliar e uma atividade econômica agrícola
variada, desenvolvida nos últimos 50 anos, com limitado uso de mecanização.
Com a predominância de vertentes acentuadas, o relevo foi um critério considerado
importante para a escolha dos pontos de implantação dos poços-teste utilizados para avaliação
da área. Uma vistoria do local possibilitou definir os pontos mais propícios. Desta forma, as
sondagens foram abertas geralmente nos platôs dos divisores de águas ou nos terraços das
vertentes.
No levantamento arqueológico foram observados os procedimentos metodológicos
recomendados no projeto de pesquisa (Scientia Ambiental, 2005), que constam de execução
de poços-teste de 0,50 m x 0,50 m x 0,40 m, abertos a cada 20 metros, em eixos traçados
obedecendo a orientação geográfica conforme os pontos cardeais Norte-Sul (N-S) e LesteOeste (E-W), escavados em níveis artificiais controlados de 10 centímetros. Cabe informar que
em campo decidiu-se por abrir poços-teste também nas linhas colaterais (Noroeste-Sudeste e
Nordeste-Sudoeste), quando se julgou necessário à pesquisa. Caminhamentos pela área
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também foram realizados, principalmente em locais onde a visualização da superfície do solo
possibilitasse a visualização de material arqueológico. Cada poço-teste teve sua coordenada
de UTM registrada com GPS, tendo sido os resultados anotados em ficha de campo.
Os primeiros poços-teste foram abertos na área “A”, correspondente à margem direita
do Rio Irani, em um terraço na baixa vertente. A projeção deste local no mapa do
empreendimento, entretanto, revelou que os poços-teste abertos estão fora da área “A”. Estes
estão situados no limite sul desta área. Os resultados foram positivos, sendo localizados dois
novos sítios, registrados com as siglas SC-PA-08 e SC-PA-09.
Na segunda área, denominada área “B”, situada na margem esquerda do rio, deverá ser
construído o túnel projetado para transportar a água que vai girar as turbinas desta PCH. Três
locais foram selecionados para implantação de poços-teste. Todos situam-se na parte mais
alta, no divisor de águas, com orientação aproximada no sentido Norte/Sul.
As três áreas resultaram positivas, apresentando material arqueológico superficial e em
profundidade, sendo registrados três novos sítios nesta área, assim denominados: SC-PA-10,
SC-PA-11 e SC-PA-12. Salienta-se que os sítios SC-PA-10 e SC-PA-11 são muito próximos e,
talvez possam ser interpretados como um único sítio arqueológico apresentando duas áreas
contíguas de ocorrência de material arqueológico.
Nos levantamentos realizados, apenas três poços-teste apresentaram material em
profundidade, no estrato 0-10 cm, caracterizando, com isso a predominância de material
arqueológico em superfície. A distribuição de material arqueológico nos sítios, por sua vez,
apresenta baixa densidade. Desta maneira, estes sítios se caracterizam como superficiais e de
baixa densidade.
Ainda no âmbito da PCH Plano Alto, nas imediações do sítio SC-PA-06 – Linha Plano
Alto 2, foi percebida a existência de uma pequena ilha, que não consta nos mapas consultados.
Em razão da cheia do rio, não houve condições de acesso para a sua vistoria na época do
levantamento arqueológico. Este levantamento só pode ser realizado em dezembro de 2005,
sendo este resultado agora apresentado.
O trabalho foi dificultado pela cobertura vegetal alta e fechada existente na ilha, que
exigiu limpeza prévia dos pontos de sondagem (fotos 01 e 02). Foram abertas 13 sondagens
de 0,50 m x 0,50 m x 0,40 m de profundidade, dispostas no sentido do maior comprimento da
ilha e em sua parte mais alta. Cada sondagem foi registrada com suas coordenadas UTM
correspondentes, obtidas com a utilização de aparelho GPS com margem de erro estimada em
25 m, devido à vegetação fechada que cobre a ilha. As sondagens executadas possuem as
seguintes UTM: S01: 371162/7017743; S02: 371153/7017737; S03: 371147/7017732; S04:
371137/7017706; S05: 371143/7017684; S06: 371130/7017667; S07: 371093/7017636; S08:
371084/ 7017627; S09: 371070/7017591; S10: 371047/7017568; S11: 371050/7017549; S12:
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371043/7017513 e S13: 371036/ 7017508.
Foto 01 e 02: Vista geral de pontos de prospecção de ilha situada no Rio Irani.
Foto 03 e 04: Vista geral da escavação de poços-teste para avaliação da ilha.
Foto 05 e 06: Detalhe dos trabalhos de prospecção de poço-teste.
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As prospecções realizadas resultaram negativas quanto à existência de vestígios
arqueológicos no local.
A seguir encontram-se descritos os sítios arqueológicos localizados no levantamento
das áreas “A” e “B”.
1.1.1 – SC-PA-08 – Linha Duas Palmeiras 2
Tipo: Lito-cerâmico.
Proprietário: Alexandre Trevisan.
Localização: Linha Duas Palmeiras, Faxinal dos Guedes.
UTM: 367071/7016926.
O sítio se situa em um terraço plano, estreito e alongado, na baixa vertente, junto a uma
curva do Rio Irani, no limite sul da área “A”. O solo é areno-argiloso com coloração marrom
avermelhada e presença de blocos de basalto. A área está ocupada por lavoura de milho
recém plantado. O proprietário, Sr. Alexandre Trevisan, informou que nunca havia percebido a
existência de material arqueológico nos quarenta anos de uso do local para plantação.
Foto 07: Vista geral do sítio SC-PA-08, situado em um patamar estreito na baixa
vertente.
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Foto 08: Vista geral dos trabalhos de Foto 09: Detalhe da abertura de poçoexecução de poços-teste na área do sítio.
teste no sítio.
Dos 21 poços-teste realizados, 2 tiveram resultado positivo, apresentando três
fragmentos de cerâmica simples e decorada no estrato 0-10 cm. Superficialmente, foi
percebido material lítico e cerâmico esparso por uma área definida pelas seguintes UTM:
367058/7016993; 367088/7016846; 367100/7016930 e 367052/7016921.
Foto 10: Artefato lítico em arenito Foto 11: Fragmento cerâmico decorado
silicificado identificado em superfície.
localizado superficialmente no sítio.
Devido à proximidade desse sítio com a área “A”, providenciou-se uma sinalização
preventiva do mesmo, por solicitação do empreendedor, de modo a evitar qualquer
movimentação de pessoas ou máquinas sobre a área do sítio (fotos 12 e 13).
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Fotos 12 e 13: Sinalização preventiva, feita nas quatro extremidades do sítio SC-PA-08,
para evitar trânsito dos operários envolvidos com as obras.
1.1.2 – SC-PA-09 – Linha Duas Palmeiras 3
Tipo: Lito-cerâmico.
Proprietário: Alexandre Trevisan.
Localização: Linha Duas Palmeiras, Faxinal dos Guedes.
UTM: 367224/7017187.
Dentro da área “A”, foi também registrado o sítio SC-PA-09, situado em um patamar
levemente inclinado entre a meia e a baixa vertente. O solo é areno-argiloso, de coloração
marrom avermelhada, com grande quantidade de blocos de basalto. A área encontra-se
cultivada, com milho recentemente plantado.
Foto 14: Vista geral do sítio SC-PA-09, situado em meia e baixa vertente.
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Foto 15: Vista geral do sítio SC-PA-09 na Foto 16: Vista parcial do sítio SC-PA-09
paisagem.
durante a definição dos pontos de
abertura dos poços-teste.
Os 23 poços-teste realizados resultaram todos negativos, porém, fragmentos de
cerâmica simples e decorada, assim como material lítico, foram localizados superficialmente
por uma área definida pelas seguintes UTM: 367216/7017310; 367107/7017366;
367154/7017246 e 367227/7017251.
Foto 17 e 18: Detalhe da execução dos poços-teste para avaliação do sítio SC-PA-09.
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Foto 19: Fragmento cerâmico decorado Foto 20: Artefato lítico localizado em
localizado na superfície do sítio.
superfície.
1.1.3 – SC-PA-10 – Linha Santo Isidoro 1
Tipo: Lítico.
Proprietário: Ademar Trevisan.
Localização: Linha Santo Isidoro, Xavantina.
UTM: 366740/7017035.
Este sítio está localizado na parte sul da área “B”, na vertente leste, em um degrau
levemente inclinado para leste. O solo é o argilo-arenoso de coloração marrom avermelhada,
com presença de blocos de basalto. A camada arqueológica é pouco espessa em quase toda a
extensão do sítio. O uso do terreno, quando do levantamento, era de cultivo de milho e a
cobertura apresentava pallhada de milho recém colhido. O uso agrícola do local recua há mais
ou menos cinqüenta anos segundo informações do proprietário, Sr. Ademar Trevisan.
Foto 21: Vista geral da localização do sítio SC-PA-10, na vertente leste.
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Foto 22: Definição de pontos para Foto 23: Detalhe da abertura de poçoabertura de poços teste no SC-PA-10.
teste no sítio SC-PA-10.
Dos 10 poços-teste executados, um resultou positivo, com a presença de uma lasca em
arenito no estrato 0-10 cm. Superficialmente, algumas peças líticas foram registradas na área
definida pelas seguintes UTM: 366780/7017048; 366735/7017073; 366708 /7017027 e
366760/7016983.
1.1.4 – SC-PA-11 – Linha Santo Isidoro 2
Tipo: Lito-cerâmico.
Proprietário: Não identificado.
Localização: Linha Santo Isidoro, Xavantina.
UTM: 366704/7017100.
Este sítio está situado em local próximo ao SC-PA-10 e separado deste pela parte mais
alta do divisor de águas. Localiza-se na vertente oeste, em um degrau estreito, alongado e
levemente inclinado para o oeste. O solo é o predominantemente areno-argiloso, apresentando
coloração marrom avermelhada e com presença de blocos de basalto.
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Foto 24: Vista geral do sítio SC-PA-11, situado em degrau estreito e alongado na
vertente oeste.
Os 11 poços-teste realizados resultaram negativos em profundidade, mas
superficialmente, foram efetuadas 15 coletas, tendo sido registrados fragmentos de cerâmica
simples e decorada e artefatos líticos em uma área definida pelas seguintes UTM:
366730/7017109; 366699/7017118; 366706/7017071 366682/7017092 e 366656/7017032.
Foto 25 e 26: Vista dos trabalhos de abertura de poços-teste para avaliação do sítio
SC-PA-11.
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Foto 27: Detalhe da escavação de poço- Foto 28: Artefato lítico em superfície no
teste.
sítio SC-PA-11.
Foto 29: Material lítico localizado Foto 30: Fragmento de borda cerâmica
superficialmente no sítio SC-PA-11.
sem decoração, in situ.
1.1.5 – SC-PA-12 – Linha Santo Isidoro 3
Tipo: Lito-cerâmico.
Proprietário: Valter Luiz Bongiorno.
Localização: Linha Santo Isidoro, Xavantina.
UTM: 366792/7017417.
O sítio SC-PA-12 está situado na vertente leste, junto à crista do divisor de águas. O
solo é areno-argiloso, marrom avermelhado e apresenta grande quantidade de blocos de
basalto. O uso do terreno quando do levantamento era para cultura de milho, apresentando
uma cobertura superficial de palhada de milho. Os 11 poços-teste efetuados resultaram todos
negativos. Superficialmente, no entanto, foram realizadas 19 coletas, tendo sido registrados
fragmentos de cerâmica simples e decorada e artefatos líticos em arenito, que se distribuem
por uma área definida pelas seguintes UTM: 366770/7017497; 366814/7017338;
366811/7017422 e 366772/7017411.
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Foto 31: Vista geral da abertura do sítio SC-PA-12, situado em vertente junto ao divisor
de águas.
Foto 32 e 33: Vista geral da abertura dos poços-teste no sítio SC-PA-12.
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Foto 34: Detalhe da abertura de poço- Foto 35: Artefato lítico
teste no sítio SC-PA-12.
localizado em superfície.
em
arenito,
1.2 PCH ALTO IRANI
Os trabalhos de campo no âmbito da PCH Alto Irani seguiram a solicitação do
empreendedor para que se priorizassem as investigações nas áreas “A”, “B” e “C”, a fim de que
estas fossem liberadas para as instalações do projeto de engenharia.
O primeiro procedimento foi o de identificar, em campo, os polígonos das referidas
áreas, demarcadas em mapa fornecido pelo empreendedor. De posse das coordenadas UTM
de cada vértice dos polígonos, a equipe foi a campo para a identificação destes pontos.
A área “A” (foto 36) está situada na margem direita do rio Irani, possuindo 8,76 ha. de
área e 1.341,91 m de perímetro, estando em grande parte coberta com mata, capoeirão e uma
pequena área de pastagem (“potreiro”, na denominação local).
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Foto 36: Vista Geral da área ”A”, com sítio SC-AI-20 sinalizado (elipse em vermelho).
O relevo é composto por declives que variam do médio ao acentuado, principalmente na
faixa que contorna o rio. Um estreito e curto degrau foi o local definido como mais propício para
a implantação de uma linha de poços-teste. No total, foram abertos doze, todos com resultados
negativos.
Foto 37: Vista parcial da área “B”.
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Um caminhamento foi realizado no entorno da linha de poços-teste, com a finalidade de
verificar a presença de material arqueológico. O resultado foi positivo, tendo sido identificadas
e coletadas peças líticas em 10 pontos de coleta, durante o mapeamento do local. O sítio foi
denominado SC-AI-20.
A identificação em campo da área “B” seguiu os mesmos procedimentos da área “A”. A
foto 36 dá uma idéia aproximada do traçado da área “B”, na vertente onde se distribuem a
maioria dos sítios da PCH Alto Irani.
Com a identificação do local, foi possível definir três pontos favoráveis à implantação de
poços-teste. O primeiro está entre a meia e a baixa vertente. É um estreito patamar coberto por
plantação de erva-mate e vegetação herbácea (foto 38). Todos os poços-teste resultaram
negativos e não foi localizado material arqueológico em superfície.
Um segundo local favorável, está entre a alta e a média vertente, caracterizado por um
pequeno degrau com cobertura de palhada de milho e vegetação herbácea. Os poços-teste
também resultaram negativos e não foi localizado material arqueológico em superfície (foto 39).
Foto 38: Abertura de poço-teste no cultivo Foto 39: Abertura de poços-teste.
de erva-mate.
Ainda na área “B”, na margem esquerda do rio Irani e na confluência de um riacho sem
denominação, foi localizado material arqueológico, concentrado superficialmente numa área
com raio de 5 metros. Este ponto de concentração de material recebeu a denominação de SCAI-21. O material superficial foi coletado e registrado com GPS.
A área “C” com 31,96 ha. e perímetro de 2.679,51 m está situada a jusante da barragem
e será impactada com a instalação dos geradores de energia. A topografia é a mesma
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predominante na região, com vertentes cuja declividade varia de média a acentuada. Os
pontos escolhidos para implantação de poços-teste foram os degraus estreitos, de superfície
levemente inclinada que estão situados entre a meia e a baixa vertente. A cobertura vegetal é
de lavouras plantadas com aveia para forragem, apresentando ainda capões de mato e mata
ciliar (foto 40).
Dois pontos foram prospectados com poços-teste. Os dois resultaram negativos, porém
um deles apresentou material em superfície, coletado em três pontos. Foi denominado de sítio
SC-AI-22 (foto 64).
Um caminhamento em área recém arada, situada em uma vertente, resultou positivo,
com a localização de duas peças líticas, coletadas com o uso de GPS. O local foi denominado
como área de Ocorrência Arqueológica Discreta 02 (OAD-AI-02), (foto 68).
Foto 40: Vista geral da área “C”.
Todos estes sítios arqueológicos são superficiais, apresentando baixa densidade de
material, composto basicamente por objetos líticos. As coletas foram efetuadas, porém não
quantificadas.
A seguir encontram-se descritos os sítios arqueológicos localizados:
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1.2.1 – SC-AI-17 – Linha Teresinha 9
Tipo: Lito-cerâmico.
Proprietário: Orlando Busnello.
Localização: Linha Santa Teresinha, Arvoredo.
UTM: 3578830/7010624.
O sítio arqueológico SC-AI-17 é um sítio lito-cerâmico instalado em uma área plana,
situada em topo de um divisor de água (fotos 40 a 48). Possui área estimada em 5.000 m². O
material arqueológico encontra-se distribuído desde a superfície até a profundidade de 50 cm.
A maior concentração deste ocorre no nível 30-40 cm.
Foto 41: Vista geral do sítio SC-AI-17 situado no topo de um divisor de águas. À direita
da foto situa-se a vertente que leva ao eixo da barragem.
Durante os trabalhos de identificação deste sítio arqueológico, foi realizada uma coleta
total dos vestígios em superfície, somando 417 artefatos, sendo 412 peças líticas e 5
fragmentos de cerâmica.
Foram executados 31 poços-teste de 0,50 x 0,50m, eqüidistantes 10 m, dos quais 16
apresentaram material arqueológico lítico. Não foram encontrados vestígios cerâmicos nas
sondagens.
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Foto 42: Visão geral do sítio SC-AI-17.
Foto 43: Localização aproximada do
alinhamento dos pontos cardeais no sítio
SC-AI-17.
Foto 44: Vista da face norte do sítio Foto 45: Abertura de poço-teste na
arqueológico.
extremidade da linha SW, dentro de um
capão de mato situado na borda do sítio.
Foto 46: Abertura de poço-teste no sítio Foto 47: Acompanhamento da abertura do
arqueológico SC-AI-17.
poço-teste NE 1, positivo, apresentando
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significativo material arqueológico.
Foto 48: Poço-teste NE 1 escavado no Foto 49: Ponta de projétil localizada no
sítio arqueológico SC-AI-17.
sítio arqueológico SC-AI-17.
1.2.2 – SC-AI-18 – Linha Teresinha 10
Tipo: Lítico.
Proprietário: João Sandrim.
Localização: Linha Santa Teresinha, Arvoredo.
UTM: 358193/7010320.
Este sítio está localizado na crista de um divisor de águas, em área atualmente ocupada
por lavouras e mata secundária. Foram realizados 13 poços-teste na área, todos eles
apresentando resultado negativo. Porém, o caminhamento realizado constatou a presença de
material lítico esparso em superfície.
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Foto 50: Vista geral do sítio SC-AI-18 Foto 51: Realização de poço-teste no sítio
situado na crista de um divisor de águas.
arqueológico SC-AI-18.
Foto 52: Abertura de poço-teste no sítio Foto 53: Vista geral do sítio SC-AI-18,
arqueológico SC-AI-18.
desde a vertente oeste.
1.2.3 – SC-AI-19 – Linha Teresinha 11
Tipo: Lito-cerâmico.
Proprietário: Augusto Menin
Localização: Linha Santa Teresinha, Arvoredo.
UTM: 358390/7010745.
O sítio situa-se em média vertente, em um terraço situado próximo da alta vertente (foto
54), em área de plantio com cobertura de palhada de milho e vegetação herbácea. Uma
primeira série de 17 poços-teste realizados tiveram resultado negativo. Outra série de 26
poços-teste realizados no local produziu quatros poços-teste positivos, apresentando artefatos
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Irani, SC – Relatório Final.
24
líticos e fragmentos cerâmicos.
Em superfície também foram localizados artefatos líticos e fragmentos de cerâmica
simples, somando 32 coletas (fotos 54 a 57).
Foto 54: Abertura de poços-teste no sítio Foto 55: Coleta mapeada no sítio SC-AISC-AI-19.
19.
Foto 56 e 57: Detalhe da abertura de poços-testes no sítio SC-AI-19.
1.2.4 – SC-AI-20 – Linha Bom Jardim 3
Tipo: Lítico.
Proprietário: Nilson Pessoal da Silva.
Localização: Linha Bom Jardim, Xanxerê.
UTM: 358361/7011397.
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Irani, SC – Relatório Final.
25
Este sítio arqueológico está situado em um patamar alongado sobre uma curva do rio
Irani, em área ocupada por lavoura e por mata ciliar. A série de 12 poços-teste realizados teve
resultado negativo.
Foi realizado caminhamento no entorno da linha de poços-teste, com a finalidade de se
verificar a presença de material arqueológico. O resultado foi positivo, mesmo com a limitação
imposta pela cobertura vegetal. Durante o mapeamento do local foram efetuadas 10 coletas de
material lítico.
Foto 58: Travessia do rio em direção ao Foto 59: Limpeza da vegetação para
sítio SC-AI-20.
abertura de poços-teste.
Foto 60: Abertura de poço-teste.
Foto 61: Detalhe de poço-teste.
1.2.5 – SC-AI-21– Linha Teresinha 12
Tipo: Lítico.
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Irani, SC – Relatório Final.
26
Proprietário: Não identificado.
Localização: Linha Teresinha, Arvoredo.
UTM: 358590/7011411.
Este sítio arqueológico está situado na margem esquerda do rio Irani, junto à
confluência de um riacho sem denominação, com cobertura de mata ciliar. O material
arqueológico foi localizado superficialmente, concentrado em uma área com 5 metros de raio
(fotos 62 e 63).
Foram coletados 28 núcleos e lascas confeccionadas em metalamito, quartzo,
calcedônia e basalto. Este material foi também registrado com o auxílio de GPS.
Fotos 62 e 63: Vista geral do sítio SC-AI-21, situado na margem esquerda do Rio Irani.
1.2.6 – SC-AI-22 – Linha Teresinha 13
Tipo: Lítico.
Proprietário: Santo Concolatto.
Localização: Linha Teresinha, Arvoredo.
UTM: 357092 / 7005888.
Este sítio arqueológico, localizado em uma baixa vertente, em área ocupada por
lavoura.
A área foi prospectada por meio de 20 poços-teste, todos negativos, porém percebeu-se
material arqueológico lítico lascado em superfície, composto por 7 lascas e um núcleo, que
foram coletados com o auxílio de GPS (foto 64).
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27
Foto 64: Vista geral do sítio SC-AI-22.
Foto 65: Abertura de poços-teste no sítio
SC-AI-22.
Foto 66 e 67: Detalhe da abertura de poços-teste no sítio SC-AI-22.
1.2.7 – OAD-AI-02 – Linha Teresinha 14
Tipo: Lítico.
Proprietário: Não identificado.
Localização: Linha Teresinha, Arvoredo.
UTM: 357425/7009850.
Esta área de ocorrência arqueológica discreta está situada em uma vertente ocupada
atualmente por lavoura. O caminhamento sistemático realizado em uma área recém arada
resultou positivo, com a localização de 3 peças líticas, coletadas com o uso de GPS.
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28
Foto 68: Vista geral da área da OAD-AI-02.
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2. AVALIAÇÃO ARQUEOLÓGICA
Conforme previsto no projeto de pesquisa autorizado pelo IPHAN (Scientia Ambiental,
2005, p. 23), foi realizada a avaliação arqueológica de doze sítios arqueológicos situados na
área diretamente afetada (ADA) e na área de entorno das PCHs Alto Irani e Plano Alto, de
acordo com o quadro abaixo:
PCH
Área Diretamente Afetada
-----
Plano Alto
----AI-02 – Linha SantaTeresinha 2
AI-03 – Linha Santa Teresinha 3
Alto Irani
AI-07 – Linha Santa Teresinha 7
– “provável sítio”
AI-08 – Linha Santa Teresinha 8
Área de Entorno
PA-04 – Linha Santa Teresinha 1
PA-05 – Linha Plano Alto 1 – “provável
sítio”
PA-06 – Linha Plano Alto 2 – “provável
sítio”
PA-07 – Linha Duas Palmeiras 1 –
“provável sítio”
AI-04 – Linha SantaTeresinha 4
AI-05 – Linha Santa Teresinha 5 –
“provável sítio”
AI-06 – Linha Santa Teresinha 6 –
“provável sítio”
AI-14 – Linha Pinhalzinho 2 – “provável
sítio”
Quadro 1: Relação de sítios arqueológicos alvos de prospecção.
As atividades de campo desenvolvidas encontram-se descritas a seguir, distinguindo-se
aquelas relativas à PCH Plano Alto e à PCH Alto Irani.
2.1. PCH PLANO ALTO
Os trabalhos desenvolvidos em campo, nas áreas de entorno da PCH Plano Alto,
tinham como objetivo a avaliação arqueológica de quatro sítios, localizados durante a execução
do projeto de levantamento arqueológico denominados PA-04 – Linha Santa Teresinha 1, PA05 – Linha Plano Alto 1; PA-06 – Linha Plano Alto 2 e PA-07 – Linha Duas Palmeiras 1.
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Irani, SC. - Relatório Final.
30
Foram observados os procedimentos metodológicos recomendados no projeto de
pesquisa (Scientia Ambiental, 2005), que previam a execução de poços-teste de 0,50 m x 0,50
m x 0,40 cm, abertos a cada 20 m, em eixos traçados conforme os pontos cardeais Norte-Sul
(N-S) e Leste-Oeste (E-W) e rebaixados em níveis artificiais controlados de 10 cm. Em campo,
decidiu-se pela abertura de poços-teste também nas linhas colaterais (Noroeste-Sudeste e
Nordeste-Sudoeste), quando se julgou necessário à pesquisa. Caminhamentos também foram
realizados em locais onde a visibilidade superficial possibilitava o registro de ocorrência de
material arqueológico. Cada poço-teste teve suas coordenadas UTM registradas com GPS e
anotadas em ficha de campo própria.
O material arqueológico coletado, tanto superficialmente quanto em profundidade, foi
identificado e embalado. Foram elaborados croquis dos sítios, que foram plotados, em carta
topográfica com escala 1:50.000 da DSG-ME do Ministério do Exército e em plantas municipais
fornecidas pelas prefeituras dos municípios de Xavantina e Faxinal dos Guedes.
Os resultados desta avaliação apontaram para a existência de material arqueológico em
todos os quatro sítios. No sítio SC-PA-05, foi localizado somente material lítico em superfície,
em baixa densidade, o que o caracteriza como um mini-sítio (Isaac et al., 1981). Todo o
material foi coletado.
2.1.1. SC-PA-04 – Linha Santa Teresinha 1
Tipo: Lito-cerâmico.
Proprietário: Celeste Siqueira.
Localização: Linha Santa Teresinha, Xavantina.
UTM: 369841/7015833.
Este sítio arqueológico está localizado na confluência do Lajeado Barra Pequena
(localmente denominado de Siqueira) com o Rio Irani, em um estreito terraço de inundação
coberto por mata ciliar.
A avaliação realizada na área onde o levantamento arqueológico anterior indicara a
localização deste sítio, área esta aqui denominada Caminhamento I, não constatou a presença
de material arqueológico. Porém, nas proximidades, com a continuação da verificação
(Caminhamento II), houve a identificação do sítio descrito.
Neste local foi percebida a presença de material cerâmico e lítico disperso em uma
área de 20 m x 30 m. Optou-se em campo por uma coleta mapeada, devido ao risco de
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31
carreamento do material arqueológico pelas águas do rio ou de sua destruição devido ao
pisoteio do gado.
Para o procedimento de coleta, foram definidos dois eixos – Norte-Sul (Y) e Leste-Oeste
(X) que receberam valores arbitrários de 1000Y e 500X. A partir destes eixos, formou-se uma
malha de pontos com coordenadas topográficas para auxílio à coleta.
Foto 69 e 70: Vista geral da vistoria por caminhamento l da superfície da área do sítio
SC-PA-04.
Foto 71 e 72: Vista geral do local onde foi identificado material arqueológico, na
confluência do Lajeado Barra Pequena com o Rio Irani.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
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32
Foto 73: Vista geral do estaqueamento Foto 74: Execução de sondagem para
para apoio da coleta.
avaliação do sítio.
Foto 75: Barranca na confluência do Rio Foto 76 e 77: Material cerâmico e lítico em
Irani com o Lajeado Barra Pequena, onde superfície erodida da barranca do rio
afloram artefatos arqueológicos.
Irani.
Em superfície, foram recolhidos 7 fragmentos de cerâmica e 30 artefatos líticos,
classificados como seixos lascados em arenito, artefatos líticos e lascas de arenito.
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Irani, SC. - Relatório Final.
33
Além desta coleta mapeada, foram feitos 28 poços-teste de 50 cm x 50 cm, com
profundidades variadas, para a verificação de material em profundidade. Também foi feito o
perfil da sondagem W01, que atingiu 75 cm de profundidade, onde foram coletados fragmentos
de cerâmica, pré-formas líticas e lascas.
2.1.2. SC-PA-05 – Linha Plano Alto 1
Tipo: Lito-cerâmico
Proprietário: José Fachinello.
Localização: Linha Plano Alto, Xavantina.
UTM: 369854/7015993.
Este sítio arqueológico está localizado em um patamar situado em média vertente, em
área coberta por vegetação arbórea e lavoura.
A área avaliada foi subdividida em dois pontos centrais, tendo sido realizados 55 poçosteste, todos apresentando resultado negativo. O material arqueológico, encontrado apenas em
superfície, era composto por lascas, seixos lascados e pré-formas. O proprietário informou que,
no passado, neste local eram achados “cacos de cerâmica”.
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Irani, SC. - Relatório Final.
34
Figura 1: Dados obtidos com GPS, indicando os locais dos poços-teste no sitio SC-PA04 / PA04a (Beira Rio - P0 ponto inicial). Devido à cobertura vegetal, não foi possível a
obtenção de outras coordenadas.
Foto 78: Vista geral da área do possível Foto 79: Determinação do alinhamento
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35
sítio arqueológico.
colateral Nordeste – Sudoeste (NE-SW).
Figura 2: Dados obtidos do GPS, com as indicações dos locais dos poços de sondagem
do sitio SC-PA-05.
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36
Foto 80 e 81: Execução de poço-teste para avaliação arqueológica da sub-superfície da
área.
Foto 82: Execução de poço-teste.
Foto 83: Detalhe de poço-teste escavado.
2.1.3. SC-PA-06 – Linha Plano Alto 2
Tipo: Lito-cerâmico.
Proprietário: João Seghetto.
Localização: Linha Plano Alto, Xavantina.
UTM: 370895/7017824.
Este sítio arqueológico está localizado em um estreito terraço plano situado na margem
esquerda do Rio Irani, ocupado por pastagem. O solo do local é areno-argiloso com coloração
variando do marrom escuro ao marrom claro.
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37
A avaliação na área foi realizada por meio de 16 poços-teste, executados no entorno do
ponto definido no levantamento anterior, que resultaram negativos. Para completar a
investigação, optou-se por duas novas linhas de poços-teste, orientadas em direção ao terraço
acima descrito (ver figura 3). Dois dos 22 poços-teste executados apresentaram-se positivos.
Em um deles, distante cerca de 20m do rio, situado em um terraço plano inundável nas cheias
acentuadas, ocupado por pastagem, foram evidenciadas duas lascas no nível 50-60 cm. O
outro poço-teste positivo, situado em terraço não inundável, também ocupado por pastagem,
apresentou cinco lascas no nível 10-20 cm.
Foto
84:
Equipe
demarcando
o Foto 85: Execução de poços-teste junto à
alinhamento NE dos poços-teste. até a margem esquerda do Rio Irani.
margem do Rio Irani.
Foto 86: Detalhe da abertura de poço- Foto 87: Poço-teste escavado em terraço
teste no sítio SC-PA-06.
fluvial.
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Irani, SC. - Relatório Final.
38
O terraço inundável do Rio Irani também foi examinado, constatando-se em superfície a
presença de fragmentos de cerâmica, seixos de arenito silicificado com vestígios de
lascamento e um artefato lascado elaborado em basalto, que foram registrados e coletados.
No passado, esta área foi atingida por um deslizamento que recobriu uma faixa de
aproximadamente 50 metros de extensão, abrangendo o local dos poços-teste NE7 e NW1 a
NW5.
Figura 3: Dados obtidos do GPS, com as indicações dos locais dos poços de sondagem
do sitio SC-PA-06.
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2.1.4. SC-PA-07 – Linha Duas Palmeiras 1
Tipo: Lítico, área de Ocorrência Arqueológica Discreta – OAD-PA-01.
Proprietário: Maximino Pagnunssatto.
Localização: Linha Duas Palmeiras, Faxinal dos Guedes.
UTM: 369725/7015752.
O sítio situa-se em declive suave, em um degrau não inundável da margem direita do
Rio Irani. O solo é areno-argiloso com presença de blocos de basalto em decomposição,
apresentando coloração variando entre marrom escuro e claro. A área era ocupada por lavoura
de aveia para forragem. Em pontos que permitiram a visualização superficial da superfície do
solo, constatou-se a presença de dois seixos de arenito silicificado com vestígios de
lascamento. Este material foi registrado e coletado.
Foto 88: Vista parcial da área pesquisada.
Foto 89: Vista parcial da área avaliada,
propriedade de Maximino Pagnunssatto.
Para a avaliação desta área, foram demarcados 32 poços-teste orientados no sentido
Norte-Sul (N-S) / Leste-Oeste (E-W) e Noroeste-Sudeste (NW-SE) / Nordeste-Sudoeste (NESW) (ver figura 4). Todos resultaram negativos.
As linhas NE e SW, ambas com quatro sondagens cada, foram escavadas até 40 cm de
profundidade, com exceção da NE2 que foi escavada até 27 cm, devido à existência de rochas
que impediram o aprofundamento.
Devido à baixa densidade de artefatos existentes na área, esta foi desconsiderada
quanto sítio arqueológico e denominada como área de Ocorrência Arqueológica Discreta PA01.
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Irani, SC. - Relatório Final.
40
Fotos 90 e 91: Vista geral dos trabalhos de execução de poços-teste na OAD-PA-01.
Figura 4: Dados obtidos do GPS, com as indicações dos locais dos poços de sondagem
da OAD-PA-01.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC. - Relatório Final.
41
Fotos 92 e 93: Material lítico em superfície na área da mesma área.
2.2 PCH ALTO IRANI
Os trabalhos de campo realizados na área de instalação da PCH Alto Irani, por
orientação do empreendedor, priorizaram a reavaliação de oito áreas, a principio consideradas
sítios arqueológicos e identificadas pelas siglas AI-02, AI-03, AI-04, AI-05, AI-06, AI-07, AI-08 e
AI-14. A região apresenta relevo predominantemente acidentado, com vertentes de declive
variando de médio a acentuado. A ação do Rio Irani, entre outros fatores ambientais,
proporcionou a formação de um vale encaixado em “V”. A maior resistência ao processo
modelador da superfície faz surgir ao longo das vertentes “degraus” que se apresentam, quase
sempre, estreitos e alongados. Nestes degraus, onde se encontra instalada grande parte das
residências atuais, também foi registrada a presença de material arqueológico (foto 94).
Os procedimentos de avaliação utilizados neste trabalho consistiram na abertura de
poços-teste com 0,50 m x 0,50 m x 0,40 m para investigação de material em profundidade,
além do registro de material em superfície nos locais em que a cobertura do solo permitia a
visualização da superfície.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC. - Relatório Final.
42
Foto 94: Vista geral da distribuição dos sítios arqueológicos na vertente.
Como a configuração do terreno nem sempre permitiu a execução dos procedimentos
propostos (poços-teste orientados nos sentidos Norte-Sul/Leste-Oeste a cada 20 metros,
procurou-se explorar melhor os locais pesquisados com a abertura de poços-teste também em
linhas colaterais no sentido NE/SW – NW/SE. Nos casos em que o local de implantação de
poços-teste se apresentava com área reduzida, a eqüidistância dos poços foi reduzida para
10m.
Com base nas avaliações realizadas, cinco das oito áreas investigadas foram
reconhecidas como sítios arqueológicos, uma como Área de Ocorrência Arqueológica Discreta
(SC-AI-05) e duas não foram confirmadas como sítios arqueológicos, a saber: AI-07 e AI-14.
2.2.1. SC-AI-02 – Linha Santa Teresinha 2
Tipo: Lito-cerâmico.
Proprietário: Ângelo Pugnussatto e Adelcio Pugnussatto.
Localização: Linha Santa Teresinha, Arvoredo.
UTM: 358122/7010525.
Este sítio está situado entre a média e a alta vertente (fotos 95, 96 e 97), ocupando um
estreito patamar cultivado com milho, com declividade variando de média a acentuada. A
opção pela realização de duas linhas de poços-teste foi ditada por esta feição topográfica.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC. - Relatório Final.
43
Estas linhas foram demarcadas no sentido de maior comprimento do terreno e distantes entre
si cerca de 100 m (fotos 98 e 99).
Foto 95: Sítio arqueológico SC-AI-02, situado área com declividade média a
acentuada.
Foto 96: Vista geral dos trabalhos de Foto 97: Abertura de poço-teste no sítio
avaliação arqueológica no sítio SC-AI-02.
SC-AI-02.
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Irani, SC. - Relatório Final.
44
Foto 98: Abertura de poço-teste no sítio Foto 99: Abertura de poço-teste no sítio
SC-AI-02.
SC-AI-02.
Foto 100: Artefato confeccionado em Foto 101: Artefato em arenito silicificado
arenito silicificado na superfície do sítio na superfície do sítio SC-AI-02.
SC-AI-02.
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Irani, SC. - Relatório Final.
45
Foto 102: Fragmento de cerâmica simples Foto 103: Fragmento de cerâmica
localizado na superfície do sítio SC-AI-02. decorada na superfície do sítio SC-AI-02.
Foto 104: Abertura de poços-teste no sítio Foto 105: Abertura de poços-teste no sítio
SC-AI-02.
SC-AI-02.
Foto 106: Abertura de poços-teste no sítio Foto 107: Abertura de poço-teste no sítio
SC-AI-02.
SC-AI-02.
As duas séries de poços-teste realizadas, somando 22 poços-teste, receberam a
denominação AI-02/A e AI-02/B (fotos 104 a 107). Em cada uma delas, apenas 1 poço-teste
apresentou material arqueológico lítico em profundidade, caracterizado como 12 artefatos e
lascas. Há, no entanto, registro de material lítico (6 peças) e cerâmico (2 fragmentos), em baixa
densidade, disperso em superfície nas imediações (fotos 100 a 103).
2.2.2. SC-AI-03 – Linha Santa Teresinha 3
Tipo: Lito-cerâmico.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC. - Relatório Final.
46
Proprietário: Augusto Menin.
Localização: Linha Santa Teresinha, Arvoredo.
UTM: 358545/7010991.
O sítio SC-AI-03 está implantado em um patamar estreito e alongado entre a média e a
baixa vertente, a pouco mais de 300 m da margem esquerda do Rio Irani e a cerca de 30 m da
residência do proprietário do terreno. O local está ocupado por lavoura de aveia para forragem,
apresentando afloramento de material arqueológico devido à ação do arado.
Foto 108: Vista geral do local de abertura dos poços-teste AI-03/C no sítio SC-AI-03,
sinalizado com uma elipse amarela.
Foram realizados poços-teste em três pontos distintos, distantes entre si 250 m. Estes
pontos foram denominados de AI-03/A, AI-03/B e AI-03/C (fotos 108 a 110).
O ponto AI-03/A, apresentou resultado negativo em todos os 9 poços-teste. Entretanto,
nas imediações, foi localizado em superfície um raspador confeccionado em arenito silicificado,
na foz de um pequeno córrego no Rio Irani. O ponto AI-03/B, apresentou resultado negativo em
todos os 16 poços-teste, não tendo sido localizado material arqueológico em superfície (foto
111). O ponto AI-03/C, situado a 30 m da residência do proprietário, apresentou um poço-teste
positivo (N-3), com 2 fragmentos de cerâmica. Superficialmente, entretanto, foram realizadas
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC. - Relatório Final.
47
78 coletas de material em uma área de 100 m x 60 m, reduzidas durante a análise em
laboratório para 2 artefatos líticos lascados (núcleos) em arenito e metalamito, além de 30
fragmentos de cerâmica simples e decorada (foto 112).
Foto 109: Local de abertura dos poços- Foto 110: Local de abertura dos poçosteste AI-03/A, no sítio SC-AI-03.
teste AI-03/B, no sítio SC-AI-03.
Foto 111: Abertura de poço-teste na Foto 112: Artefato lítico em basalto
segunda seção do sítio SC-AI-03 (AI-03/B). localizado superficialmente na primeira
seção do sítio SC-AI-03 (AI-03/A).
2.2.3. SC-AI-04 – Linha Santa Teresinha 4
Tipo: Histórico.
Proprietário: Augusto Menin.
Localização: Linha Santa Teresinha, Arvoredo.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
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48
UTM: 358545/7010991.
Ao lado da residência do Sr. Augusto Menin, percebeu-se um engenho de açúcar,
construído há 30 anos em madeira cabriúva, segundo o proprietário. Realizou-se somente o
registro fotográfico (fotos 113, 114 e 115).
Foto 113: Vista geral da estrutura de moagem remanescente do engenho de açúcar,
sítio SC-AI-04.
Fotos 114 e 115: Engenho para moagem de cana-de-açúcar montado em madeira ao
lado da residência do Sr. Augusto Menin, Linha Santa Teresinha, Arvoredo.
2.2.4. SC-AI-05 – Linha Santa Teresinha 5
Tipo: Lito-cerâmico, área de Ocorrência Arqueológica Discreta – OAD-AI-01.
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Irani, SC. - Relatório Final.
49
Proprietário: Ivaldo Sandrin.
Localização: Linha Santa Teresinha, Arvoredo.
UTM: 359131/7010955
Este sítio está localizado em um amplo platô, levemente alongado no sentido
Leste/Oeste, com vertentes de declividade média que descem até o rio Irani. A área é
atualmente ocupada por cultivo de milho e aveia para forragem, pastagem, reflorestamento de
eucalipto, instalação de galpões de criação de suínos, pomar e uma estreita faixa de mata
ciliar.
Foto 116: Vista geral da OAD-AI-01 Foto 117: Abertura de poço-teste na OADsituado em um platô na média vertente.
AI-01.
Foto 118: Cerâmica decorada localizada Foto 119: Artefato lítico localizado
superficialmente na OAD-AI-01.
superficialmente na OAD-AI-01.
Foram abertos 29 poços-teste distribuídos em dois locais, distantes entre si cerca de
700 m. Apenas um deles resultou positivo, com duas lascas recolhidas no estrato 20-30 cm.
Superficialmente, foram localizadas 4 lascas em quartzo e calcedônia e um artefato lascado,
além de 2 fragmentos de cerâmica simples e 1 fragmento com decoração carimbada,
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC. - Relatório Final.
50
distribuídos por uma área de 700 m x 500 m. Devido à baixa densidade de artefatos, que
também se apresentaram pouco diagnósticos, o local passou a ser considerado como área de
Ocorrência Arqueológica Discreta AI-01, e não mais como sítio arqueológico. Esta área possui
as seguintes coordenadas UTM: 359077E/7010660; 359379/7010778; 359512/7011149 e
359131/7010955.
2.2.5. SC-AI-06 – Linha Santa Teresinha 6
Tipo: Lito-cerâmico, área de Ocorrência Arqueológica Discreta – OAD-AI-02.
Proprietário: Ari Zatta.
Localização: Linha Santa Teresinha, Arvoredo.
UTM: 359366/7011931.
Este sítio está situado em um patamar inclinado na baixa vertente, a cerca de 150 m da
margem esquerda do rio Irani, em uma plantação de eucalipto. Todos os 7 poços-teste
resultaram negativos. Superficialmente, foi localizado 1 fragmento cerâmico decorado e 1
artefato lítico lascado, distribuído em uma área definida pelas coordenadas UTM
359366E/7011931; 359375/7011873; 359331/7011899 e 359386/7011916. Como estes
vestígios se apresentaram pouco diagnósticos em uma área de muito baixa densidade de
material, o local passou a ser considerado como área de Ocorrência Arqueológica Discreta AI02, e não mais como sítio arqueológico.
Foto 120: Vista da localização da OAD-AI- Foto 121: Abertura de poço-teste na OAD02 (seta amarela).
AI-02, em área de plantio de eucalipto.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC. - Relatório Final.
51
Foto 122: Material lítico localizado Foto 123: Fragmento de borda cerâmica
superficialmente na OAD-AI-02.
decorada localizada superficialmente na
OAD-AI-02.
2.2.6. SC-AI-08 - Linha Teresinha 8
Tipo: Lito-cerâmico.
Proprietário: Angelo Pavan e Sebastião Vieira.
Localização: Linha Santa Teresinha, Arvoredo.
UTM: 358279/7011084.
O sítio localiza-se em um patamar estreito e alongado entre a média e a baixa vertente,
a 210 m da margem esquerda do Rio Irani, na área diretamente afetada pela implantação do
projeto de engenharia da PCH Alto Irani. Parte da área está coberta por reflorestamento de
eucalipto, encontrando-se o restante coberto com palhada de milho (fotos 124 e 125).
Foram abertos 32 poços-teste de 0,50 m x 0,50 m x 0,40 m, somando 18 nas linhas NS/E-W e 14 nas linhas NE-SW/NW-SE (fotos 129 a 131). Apenas um deles, o central, resultou
positivo, apresentando 3 fragmentos de cerâmica e 1 lasca no nível 0-10 cm. Entretanto,
superficialmente, foram recolhidas 63 coletas de artefatos líticos em arenito silicificado e
basalto (foto 127), lascas e também 20 fragmentos de cerâmica simples e decorada (fotos
128). Esse material ocorreu de maneira esparsa e com baixa densidade em uma área medindo
200 m x 40 m.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC. - Relatório Final.
52
Foto 124: Em primeiro plano o sítio SC-AI- Foto 125: Vista parcial do sítio SC-AI-08
08 em área coberta por eucalipto e em área de cultivo de milho.
lavoura.
Foto 126: Lâmina-de-machado no sítio Foto 127: Artefato
SC-AI-08.
silicificado.
lítico
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC. - Relatório Final.
em
arenito
53
Foto 128: Fragmentos de cerâmica Foto 129: Fechamento de poço-teste no
decorada na superfície do sítio SC-AI-08.
sítio SC-AI-08.
Foto 130: Abertura de poço-teste no sítio Foto 131: Poço-teste central no sítio SCSC-AI-08.
AI-08.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC. - Relatório Final.
54
3. RESGATE ARQUEOLÓGICO
Alfredo Cardeal Filho
Ana Lucia Herberts
3.1. PCH PLANO ALTO
Com base na avaliação arqueológica executada na etapa anterior, foram definidos para
resgate, na área de implantação do canteiro de obras da PCH Plano Alto, os seguintes sítios
arqueológicos: Linha Duas Palmeiras 3 (SC-PA-09), Linha Santo Isidoro 1 (SC-PA-10), Linha
Santo Isidoro 2 (SC-PA-11) e Linha Santo Isidoro 3 (SC-PA-12). Como estes sítios
apresentaram as mesmas características, com material arqueológico superficial e pouco denso,
optou-se pelo resgate com a utilização de coleta mapeada.
Na área de reservatório da PCH Plano Alto, foram selecionados os seguintes sítios
arqueológicos: Linha Santa Teresinha 1 (SC-PA-04) e Linha Duas Palmeiras 2 (SC-PA-08),
ambos lito-cerâmicos.
O resgate dos sítios citados acima foi dificultado pela presença de lavoura de milho, já
em fase de formação de grãos, o que dificultava a visualização dos artefatos na superfície do
solo.
Foto 132: Vista geral da área em setembro Foto 133: Vista geral da mesma área em
de 2005, com terreno recém arado.
dezembro de 2005, com cultivo de milho.
55
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
Para realizar a coleta do material arqueológico existente em superfície, identificado em
campo na fase anterior, empregou-se um aparelho GPS.
Cada ponto de coleta teve suas UTM registradas e posteriormente plotadas em um
gráfico com pontos de apoio.
3.1.1. SC-PA-04 – Linha Santa Teresinha 1
Sítio lito-cerâmico localizado em um patamar estreito e curto, na baixa vertente,
caracterizado como um terraço de inundação que recebe tanto depósitos das cheias do Rio
Irani como das vertentes situadas acima dele. Este sítio apresentou material arqueológico tanto
em sua superfície quanto em profundidade.
Foto 134: Vista geral do sítio SC-PA-04 situado na margem esquerda do rio Irani, junto
à foz do lajeado Barra Pequena.
56
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
Foto 135: Detalhe de material cerâmico e Foto 136: Detalhe de material lítico
lítico exposto no talude erodido.
exposto a cerca de 50 cm de
profundidade em talude erodido.
Foto 137 e 138: Fragmentos cerâmicos expostos a cerca de 40 cm de profundidade
em talude erodido.
As peças localizadas em superfície, distribuídas em uma área de 60 x 20 m, foram
objeto de coleta mapeada na fase anterior (conforme Relatório Parcial 02).
Para o resgate arqueológico deste sítio, o procedimento seguido foi o de abertura de
quadras de 1 x 1 m no local em que se verificou a maior ocorrência de material. Para a
implantação das quadras, foi determinado o alinhamento Norte-Sul, com auxílio de bússola e
de balizas, a cerca de 3 m da margem esquerda do Rio Irani. Foram definidos os pontos de
implantação de 9 quadras de 1 x 1 m, com 5 m de distância entre si.
Um segundo alinhamento foi definido a 5 m de distância, em direção à vertente, onde
foram demarcadas outras 9 quadras. Uma última quadra, de número 19 foi definida
posteriormente, em função de ter ocorrido maior concentração de material na porção norte do
57
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
sítio. No total, foram coletados durante o resgate 1.377 líticos e 39 fragmentos de cerâmica.
Foto 139 e 140: Vista dos trabalhos de demarcação das quadras no sítio SC-PA-04.
Foto 141 e 142: Vista dos trabalhos de demarcação e limpeza da superfície das
quadras no sítio SC-PA-04.
Foto 143: Vista dos trabalhos de Foto 144: Vista dos trabalhos de
escavação no sítio arqueológico SC-PA- escavação no sítio arqueológico SC-PA58
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
04.
04.
A escavação da quadra de nº. 1 revelou uma estrutura de combustão, percebida no
estrato 30-40 cm. Para evidenciar esta estrutura, foram também abertas as quadras contíguas
1A, 1B e 1C (fotos 147 e 149). A estrutura estava situada nas quadras 1A e1B, entre 40-70 cm
de profundidade, definida por um agrupamento de blocos de rocha apresentando lascas
térmicas, fragmentos de cerâmica simples e decorada, carvão e cinza vegetal (fotos 149 e
150).
Foto 145: Detalhe dos trabalhos de Foto 146: Detalhe dos trabalhos de
escavação no sítio SC-PA-04 - Quadra 1.
abertura da quadra 1, no sítio SC-PA-04.
Foto 147: Detalhe da escavação da quadra Foto 148: Detalhe da finalização das
1B no sítio SC-PA 04.
quadras 1, 1A, 1B e 1C no sítio SC-PA-04.
59
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
Foto
149:
Detalhe
da
estrutura Foto
150:
Detalhe
da
estrutura
evidenciada na Quadra 1, a 60 cm, no sítio evidenciada na Quadra 1B, nível 50-60 cm,
SC-PA-04.
no sítio SC-PA-04.
3.1.2. SC-PA-08 – Linha Duas Palmeiras 2
Este sítio lito-cerâmico, apresentando baixa densidade de material, está situado em um
estreito patamar na baixa vertente, sujeito à inundação durante as cheias mais significativas do
Rio Irani. O local atualmente é destinado ao uso agrícola. O material arqueológico,
predominantemente cerâmico, estava distribuído na superfície de uma área medindo 150 x 50
m.
O material superficial foi coletado em dez pontos, totalizando 15 artefatos líticos e
lascas e 43 fragmentos de cerâmica simples e decorada (Fotos 151 e 152).
Foto 151: Vista do local de implantação Foto 152: Procedimentos de coleta no
do sítio SC-PA-08.
sítio SC-PA-08.
60
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
3.1.3. SC-PA-09 – Linha Duas Palmeiras 3
Este sítio superficial e de baixa densidade, está localizado em um patamar estreito e
alongado, situado entre a baixa e a média vertente. Apresentou material lítico e cerâmico
distribuído por uma área medindo 160 x 90 m.
A coleta foi realizada em quatro pontos distintos e resultou na documentação e
recolhimento de 6 peças líticas e 3 fragmentos de cerâmica.
Foto 153: Vista do sítio SC-PA-09 situado Foto 154: Detalhe das atividades de coleta
entre a baixa e a média vertente.
de material arqueológico no sítio SC-PA09, dificultada pela cultura de milho.
3.1.4. SC-PA-10 – Linha Santo Isidoro 1 (OAD-PA-02)
Sítio lítico superficial, localizado em um estreito patamar na alta vertente, atualmente
utilizado para cultivo de milho e/ou pastagem de inverno. Suas dimensões foram estimadas em
50 x 40 m.
Não foi possível localizar as duas peças arqueológicas identificadas durante o
levantamento, devido à área ter sido lavrada ao menos duas vezes durante o período de tempo
decorrido entre o levantamento, realizado em setembro de 2005, e o resgate arqueológico, que
ocorreu no mês de dezembro de 2005. Nesta segunda etapa foi encontrado somente um lítico,
o que descaracterizou esta área como sítio, passando a ser considerado uma ocorrência
Arqueológica Discreta (OAD-PA-02).
61
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
Foto 155: Vista da OAD-PA-02, situado em Foto 156: Detalhe da área de implantação
alta vertente.
da OAD-PA-02, com plantação de milho
em sua superfície.
Foto 157: Vista dos trabalhos de coleta Foto 158: Detalhe dos trabalhos de coleta
superficial na OAD-PA-02.
superficial no sítio OAD-PA-02.
3.1.5. SC-PA-11 – Linha Santo Isidoro 2
Sítio lítico superficial localizado em um patamar estreito e alongado em alta vertente, em
uma área de 170 x 50 m. Atualmente o local é destinado ao uso agrícola. A coleta, realizada
em 15 pontos, resultou no mapeamento e coleta de 35 artefatos líticos e lascas. (Fotos 159 e
160).
62
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
Foto 159: Vista da área ocupada pelo sítio Foto 160: Detalhe dos procedimentos de
SC-PA-11.
coleta no sítio SC-PA-11.
3.1.6. SC-PA-12 – Linha Santo Isidoro 3
Sítio lito-cerâmico superficial e de baixa densidade, localizado em alta vertente, em uma
área estimada em 160 x 60m. O material arqueológico registrado e coletado somou 44 peças
líticas, caracterizadas como artefatos e lascas, além de 3 fragmentos de cerâmica (Fotos 161 a
164).
Foto 161: Vista do sítio SC-PA- 12, situado Foto 162: Detalhe da área do sítio, situado
em alta vertente.
em área ocupada por cultivo de milho.
63
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
Foto 163: Vista dos procedimentos de Foto 164: Detalhe dos procedimentos de
coleta realizados no sítio SC-PA-12.
coleta realizados no sítio SC-PA-12.
3.2. PCH ALTO IRANI
Na PCH Alto Irani, foram definidos para resgate, com base na avaliação arqueológica
executada na etapa anterior, dois sítios arqueológicos: Linha Teresinha 3 (SC-AI-03) e Linha
Teresinha 8 (SC-AI-08). Além destes, foi resgatado também o sítio SC-AI-17, devido ao seu
grande interesse científico. Trata-se de um sítio referência na área de estudo, tanto em termos
quantitativos quanto qualitativos.
3.2.1. SC-AI-03 – Linha Teresinha 3
Para o resgate deste sítio, cuja descrição está apresentada no capítulo 2, foi definida
uma malha de pontos de apoio com auxílio de teodolito e com 5m de eqüidistância, que
formaram quadras de 5m de lado (fotos 165 e 166). O material arqueológico identificado dentro
da quadra foi coletado, resultando num total de 79 pontos de coleta (fotos 167 e 168),
apresentando quatro fragmentos de cerâmica e 125 líticos.
64
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
Foto 165: Instalação de pontos de apoio Foto 166: vista geral dos trabalhos de
no sítio.
coleta mapeada.
Foto 167: Detalhe da equipe realizando a Foto 168: Atividade de coleta do material
coleta.
arqueológico em superfície.
Foto 169: Fragmento de mão-de-pilão.
65
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
3.2.2. SC-AI-08 – Linha Teresinha 8
Sítio localizado em um patamar estreito e alongado entre a média e a baixa vertente,
parcialmente coberto com reflorestamento de eucalipto e com palhada de milho. Nele foi
realizada coleta mapeada dos artefatos de superfície com a instalação de pontos de apoio,
utilizando-se teodolito (foto 170). Foram demarcados 30 pontos de coleta distribuídos em uma
área de cerca de 180 x 50 m. O material coletado é composto por 21 fragmentos de cerâmica
simples e decorada e 63 artefatos líticos, classificados como raspadores, lâminas, seixos de
arenito com vestígios de lascamento e lascas de sílex (foto 171)
Foto 170: Detalhe da demarcação de pontos de apoio Foto 171: Artefato lítico recolhido
para a realização da coleta, com o uso de teodolito.
no sítio SC-AI-08.
3.2.3. SC-AI-17 – Linha Teresinha 9
Francesco Palermo Neto
O sítio arqueológico SC-AI-17 é um sítio lito-cerâmico instalado em uma área plana,
situada em topo de colina. Possui área estimada em 5.000 m². O material arqueológico
encontra-se distribuído desde a superfície até a profundidade de 50 cm. A maior concentração
deste ocorre no nível 30-40 cm.
66
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
Durante os trabalhos de identificação deste sítio arqueológico, foi realizada a coleta total
dos vestígios em superfície, totalizando 417 artefatos, sendo 412 peças líticas e 5 fragmentos
de cerâmica.
Procedeu-se então à complementação do resgate dos vestígios de subsuperfície, sendo
que as atividades de campo foram executadas durante o mês de julho de 2006.
N70
11
00
0
P-01
E
N
D-38
P-02
P-03
E-29
N70
10
50
0
E-29/B-06
E-29/B-05
E35
65
00
L
E-29/B-04
E-29/B-07
E-29/B-01
E-29/B-03
E-29/B-02
S
D-37
TÚNEL DE DESVIO
BARRAGEM / VERTEDOURO
TÚNEL DE DESVIO
AI03
D-36
E-29
ENSECADEIRA DE JUSANTE
D-35
PONTE PROVISÓRIA
TOMADA D'ÁGUA
E-24
ENSECADEIRA
DE MONTANTE
AI08
E-27
E-28
E-
35
70
00
P-04
E-25
AI04
P-03
N70
10
00
0
TÚNEL ADUTOR
P-06
P-05 AI02
ÁREA DE BOTA FORA
A = 4.000 m²
P-07/B-05
P-07/B-04
P-08/B-05
P-08/B-04
P-08/B-03
P-08/B-02
P-08/B-01
P-08/B-06
P-08/B-08
P-07
P-06/B-01
P-07/B-01
P-07/B-02
P-07/B-03
P-07/B-06
AI01
Figura 5: Localização do sítio SC-AI-17, em relação à PCH Alto Irani (Escala: malha
quadriculada de quinhentos metros).
67
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
Foto 172: Vista geral do sítio SC-AI-17 com a localização de sua área escavada, em relação à PCH Alto Irani (Vista de Norte para Sul).
Foto 173: Vista geral do sítio SC-AI-17 com a localização de sua área escavada, em relação à PCH Alto Irani. (Vista de Leste para Oeste)
68
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
Os procedimentos metodológicos aplicados durante o resgate se basearam nas
informações obtidas com o levantamento arqueológico de campo anteriormente realizado, em
que foram escavados 31 poços-teste de 50 x 50 cm, eqüidistantes 10 metros entre si,
complementados por uma ampla coleta mapeada do material de superfície, a partir do que foi
possível estimar a área do sitio e determinar os locais com maior incidência de material
arqueológico.
A escolha dos locais que seriam escavados foi determinada pela maior concentração de
material arqueológico, que indicou os locais preferenciais para intervenção.
W3
W2
W1
2 1
4 3
S1
1 14151617
4 2 5 11 12 13
6 7 8 9 10
2 1
Lesma
S4 S2
S5 S3
3
Figura 6: Malha quadriculada de 1 x 1 metro no Sítio Arqueológico SC-AI-17, com as
quadras que foram escavadas (em azul) e as em que somente foi feita a coleta de
superfície (em verde). O P0 (ponto zero) se refere ao local que foi utilizado como centro
na etapa anterior.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC.
– Relatório Final.
69
Foto 174: Vista geral das quadras SE (1, 2, 4 a 10), local com grande concentração de
fragmentos cerâmicos.
Foto 175: Detalhe de fragmento cerâmico
evidenciado na quadrícula SE5.
Durante os trabalhos de resgate do sítio, foram escavadas 24 quadrículas medindo 1 x
1 metro e eqüidistantes 10 metros, sobre eixos traçados obedecendo à orientação geográfica
Norte-Sul (N-S) / Leste-Oeste (E-W), tendo como P0 (ponto zero) o mesmo ponto utilizado no
levantamento anterior. As quadrículas foram escavadas em níveis artificiais de 10 cm.
A 10 m a oeste do ponto zero, em área de solo argilo-arenoso ocupada por lavoura de
milho, foram escavadas três quadrículas, distantes 10 m entre si, denominadas W1, W2 e W3.
Em todas elas era predominante a presença de material lítico, distribuído desde a superfície do
solo até a profundidade de 60 cm, com exceção da quadrícula W3, interrompida aos 40 cm de
profundidade devido ao afloramento de uma soleira de basalto. Foi percebido apenas um
fragmento cerâmico no nível 0-10 cm da quadrícula W2.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC.
– Relatório Final.
70
Foto 176: Vista geral da quadrícula W2 Foto 177: Vista geral da quadrícula W3.
sendo escavada.
Foto 178: Escavação da quadrícula W3.
Foto 179: Detalhe da quadricula W3
escavada.
A sudoeste do ponto zero, a uma distância de 10 m da quadrícula W3, em área com as
mesmas características das sondagens anteriores, foram escavadas quatro quadrículas
contíguas, denominadas SW1, SW2, SW3 e SW4, formando um corte com 4 m² de área. O
solo variou entre argiloso e argilo-arenoso, tendo a soleira de basalto aflorado a 50 cm de
profundidade. O material lítico apresentou-se distribuído desde 10 cm até 50 cm de
profundidade. Foram também recolhidos fragmentos de cerâmica nas quadrículas SW1 e SW4,
nos níveis 0-10 e 10-20 cm.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC.
– Relatório Final.
71
Foto 180: Escavação da quadrícula SW1, Foto 181: Vista geral das quadriculas SW1
nível 20-30 cm.
e SW2.
Foto 182: Escavação das quadrículas Foto 183: Vista geral da quadra SW
SW3, SW2 e parte de SW1.
escavadas.
Ao sul do ponto zero, foram abertas cinco quadrículas, distantes a primeira (S1) 10 m do
PO e as outras quatro (S2, S3, S4 e S5), 20 metros do PO. A quadrícula S1, localizada em
área de lavoura de milho, com solo variando entre argiloso e areno-argiloso, apresentou
material lítico entre os níveis 10-20 cm e 50-60 cm, tendo aflorado a soleira basáltica a 70 cm
de profundidade. Fragmentos cerâmicos foram percebidos no nível 40-50 cm
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC.
– Relatório Final.
72
Foto 184 e 185: Vista geral da escavação da quadrícula S1.
As demais quadrículas (S2, S3, S4 e S5), foram escavadas de forma contígua,
formando um corte com 4 m² de área. Estas quadrículas, situadas em área de lavoura de milho
e apresentando solo variando de argiloso a argilo-arenoso, apresentaram material lítico
distribuído entre os níveis 0-10 cm e 30-40 cm, com uma soleira de basalto aflorando a 50 cm
de profundidade. Estas quadrículas não apresentaram vestígios cerâmicos.
A NW deste corte, distante aproximadamente 2 m, foi localizado em superfície um
artefato lítico classificado como raspador unilateral.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC.
– Relatório Final.
73
Foto 186: Vista geral da escavação das quadras S2 a S5.
Foto 187: Vista geral das S2 a S5 já Foto 188: Detalhe da mancha escura na
escavadas.
quadricula S5, nível 10-20 cm.
A sul-sudoeste do ponto zero, distante deste 16 m e a uma distância de 3 m do corte S,
também situadas em área ocupada por lavoura de milho e com solo variando entre argiloso e
argilo-arenoso, foram escavadas duas quadrículas contíguas, medindo 2 X 1 m e denominadas
SSE1 e SSE2. Ambas apresentaram material lítico distribuído pelos níveis 0-10 cm a 40-50 cm,
sendo que na quadrícula SSE2, a 30-40 cm, foi percebido um agrupamento de lascas. Não
foram percebidos vestígios cerâmicos nestas quadrículas.
Foto 189: Vista gral das quadrículas SSE 1 e SSE2 já escavadas.
A sudoeste do ponto central, distando deste 10 m e a 8 m da quadrícula S4, foi
demarcado um corte com 16 quadrículas contíguas, das quais foram escavadas as quadrículas
SE1, SE2, SE4, SE5, SE6, SE7, SE-8, SE9 e SE 10. A quadrícula denominada SE3 foi
escavada fora deste agrupamento, distante 7 m ao sul da quadrícula SE6. As demais
quadrículas, denominadas SE11, SE12, SE13, SE14, SE15, SE16 e SE17, tiveram apenas
coleta superficial de material arqueológico, não foram escavadas. Este corte apresentou
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC.
– Relatório Final.
74
material lítico distribuído desde a superfície até o nível 50-60 cm. Na quadrícula SE6 verificouse a maior profundidade em que ocorreu material lítico, no nível 50-60 cm. Foram percebidos
fragmentos cerâmicos em todas as quadrículas escavadas, com exceção da SE-4, tendo este
material sido percebido desde a superfície do solo até ao nível 50-60, na SE-6.
Foto 190: Vista geral da quadrícula SE1
Foto 191: Vista geral da escavação das
quadrículas SE1 a SE10.
Foto 192: Vista geral da escavação das Foto 193: Detalhe de fragmentos
quadrículas SE1 a SE10.
cerâmicos na quadrícula SE6.
Na quadrícula SE3, escavada 7 m ao sul da SE6, em área também ocupada por lavoura
de milho e com solo variando de argiloso a argilo-arenoso, foi percebido material lítico
distribuído desde o nível 20-30 cm até o nível 70-80 cm. Não foram percebidos fragmentos
cerâmicos.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC.
– Relatório Final.
75
Foto 194: Detalhe das quadrículas SE7 e Foto 195: Detalhe das quadrículas SE9 e
SE8 já escavadas.
SE10 já escavadas.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC.
– Relatório Final.
76
4. ANÁLISE DO MATERIAL ARQUEOLÓGICO
O material arqueológico coletado em campo foi encaminhado para o Escritório Regional
da Scientia Consultoria Científica, em Florianópolis, onde foram desenvolvidas as atividades
laboratoriais de curadoria (limpeza, numeração, remontagem...), análise e acondicionamento
do material arqueológico cerâmico e lítico. Os resultados do processo de análise deste material
serão apresentados a seguir:
4.1. CERÂMICA
Ana Lucia Herberts
O material arqueológico cerâmico é procedente de 11 sítios lito-cerâmicos a céu aberto,
sendo seis situados na área de abrangência da PCH Plano Alto, e cinco na PCH Alto Irani.
Primeiramente, apresentar-se-á uma revisão bibliográfica das tradições arqueológicas
ceramistas do planalto meridional relacionado ao grupo Macro-Gê, situando a coleção
analisada neste contexto.
Em seguida, será descrito o processo de analise do material cerâmico, apresentando as
definições e vocábulos técnicos empregados.
4.1.1. As Tradições Ceramistas: Taquara, Itararé e Casa de Pedra
As tradições arqueológicas ceramistas Taquara, Itararé e Casa de Pedra foram
nomenclaturas criadas pelos arqueólogos a partir de meados do século XX no Brasil, para
diferenciar os conjuntos de cultura material pré-histórica de populações ceramistas
relacionadas ao grande grupo Macro-Gê, os então denominados “não Guaranis” no sul do
Brasil. Estas terminologias foram estabelecidas pelos pesquisadores vinculados ao Programa
Nacional de Pesquisas Arqueológicas – PRONAPA (1965-1970), sendo seus criadores Eurico
Miller (Taquara) e Igor Chmyz (Itararé e Casa de Pedra)1.
1
Tradição é o termo usualmente empregado na arqueologia para designar “grupos de elementos ou técnicas, com
persistência temporal. Uma seqüência de estilos ou de culturas que se desenvolvem no tempo, partindo uns dos
outros, e formando uma continuidade cronológica” (Souza, 1997, p. 124.). Esta normalmente é subdividida em
subtradições e fases arqueológicas. A subtradição representaria uma variedade dentro de uma mesma tradição.
Segundo Chmyz (1966, p. 14), a fase é definida como “qualquer complexo de cerâmica, lítico, padrões de
habitação, etc., relacionada no tempo e no espaço, num ou mais sítios”. A noção de fase foi utilizada então para
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Irani, SC – Relatório Final.
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A distinção entre estas tradições arqueológicas foi baseada na cerâmica, como aponta
Prous (1992, p. 322), “a cerâmica é o elemento diagnóstico da tradição”. Ocupando o planalto,
numa extensão que vai desde o Rio Grande do Sul até o oeste paulista, existe um complexo
arqueológico ceramista meridional, no qual quase todos os achados arqueológicos se integram
em dois conjuntos que seus criadores chamaram de tradição Taquara e tradição Itararé. Prous
(1992, p. 310), em sua obra clássica Arqueologia Brasileira, acha mais prático “considerar
como uma mesma tradição, a que denominaremos ‘Taquara-Itararé’, considerando como
subtradição meridional a Taquara e subtradição meridional a Itararé”.
O autor (id., p. 322) relaciona geograficamente a Tradição Itararé à porção setentrional
e a Taquara à porção meridional do planalto sul-brasileiro, “que apresentam algumas
diferenças, principalmente na decoração” (ibid).
Mesma distinção geográfica é apresentada por Schmitz (1988, p. 75) para as três
tradições regionais:
A mais meridional, coincidindo com o Rio Grande do Sul e a porção
meridional de Santa Catarina foi batizada tradição Taquara. A do planalto do
Paraná, litoral do Paraná e parte setentrional e central do litoral de Santa
Catarina foi denominada de tradição Itararé. O sul do Paraná e o planalto
catarinense contíguo abrigaria a tradição Casa de Pedra.
Em seguida, será apresentada uma breve descrição de como a literatura arqueológica
pertinente define cada uma destas tradições ceramistas e quais as distinções apresentadas na
descrição da cerâmica em ambas as tradições, procurando justificar o uso do termo Tradição
Taquara-Itararé, relacionada às culturas meridionais que ocuparam o planalto sul-brasileiro,
distintas da conhecida Tradição Tupiguarani.
A Tradição Taquara, segundo Ribeiro (1993, p. 71), é “caracterizada principalmente por
uma cerâmica simples e, quando decorada, o é plasticamente (ponteada, pinçada, incisa,
ungulada, cestaria impressa), por lítico lascado por percussão direta (talhadores bifaciais,
grandes raspadores), polido (lâminas de machado, mãos-de-pilão) e casas subterrâneas nas
fases do planalto”.
Por outro lado, a Tradição Itararé é definida principalmente pelas características da
cerâmica, apresentado como o aspecto mais marcante desta tradição. Conforme Chmyz (1968,
p. 118) “os recipientes são de pequeno porte, não havendo muita variação nas formas.
Predominam as formas: de meia calota, cônica, meia esfera, esférica e reforçada
externamente. As bases são arredondadas, planas e côncavas”.
Nesta tradição se inclui a chamada Tradição Casa de Pedra criada por Chmyz (1968),
descrever os aspectos locais de uma mesma tradição ou subtradição (Prous, 1992, p.111). As diversas fases e
subtradições de cada uma destas Tradições foram sintetizadas em Simões (1972), Schmitz (1988) e Martins e
Netto (2002).
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Irani, SC – Relatório Final.
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que também foi definida e descrita em seus aspectos mais característicos, baseados
exclusivamente na cerâmica, como traço marcante de distinção: a existência de outra tradição
de cerâmica simples e com tratamento de superfície polida encontrada em abrigos do Paraná.
Segundo o autor, “foi-nos possível reconhecer, até o momento, duas tradições distintas da
chamada cerâmica simples. Com base nas ocorrências iniciais e mais características das duas
variedades cerâmicas, convencionamos chamá-las, como: Tradição Itararé e Tradição Casa de
Pedra” (Chmyz, 1968, p. 115).
Conforme Prous (1992, p. 322) a cerâmica Itararé se caracteriza:
...pela raridade da decoração, que nunca atinge 10% dos cacos, e raramente
5%. É uma cerâmica simples que utiliza um antiplástico de areia com quartzo
e grãos de hematita de tamanho e quantidade por vezes tão grandes que
chegam a prejudicar a qualidade das paredes, que tendem a se desagregar.
A quase totalidade dos cacos evidencia uma queima redutora. Os recipientes
são pequenos (quase todos têm entre 12 e 20 centímetros de diâmetro
maior), com paredes finais (de três até 11 milímetros, e em certas regiões
sempre menos de sete); as formas, pouco numerosas, são simples e
geralmente mais altas do que largas; existem vasos cônicos, hemisférico,
quase cilíndricos, com base arredondada. A cor das paredes vai de tijolo a
cinza, geralmente escura, quase preta. A queima é boa e a forma dos cacos
sugere que os potes eram normalmente modelados, não roletados.
Quando existe decoração, esta parece restrita às partes superiores de vasos
particularmente pequenos (menos de 14 centímetros de diâmetro), sendo
exclusivamente plástica. O ungulado domina amplamente (41% dos
decorados na maior coleção, reunida pelo Pe. Rohr), havendo vários tipos de
inciso, ponteado e impressões de cestaria. A presença de engobo vermelho é
assinalada, muito raramente, em um ou outro caco.
A cerâmica da Tradição Taquara, segundo o mesmo autor (Id., 324), apresenta:
... muitas características em comum; também usando antiplástico de areia,
apresenta uma cor tijolo, marrom ou cinza, com um miolo sempre reduzido.
As formas se mantêm as mesmas, mas a pasta é mais fina e homogênea do
que a dos sítios Itararé. Os vasos não-decorados ainda são modelados, mas
E. Miller observa que os decorados foram fabricados com roletes. O fundo
interno pode ser plano, apesar de a forma externa ficar arredondada (fase
Guatambu). Nos cemitérios sob abrigo há uma porcentagem significativa de
engobo vermelho limitado a face interna de vasos abertos.
A freqüência da decoração nos cacos é bem maior do que na região
setentrional, apesar de não se dispor de dados quantitativos precisos; parece
que ultrapassa 50% dos fragmentos coletados em alguns lugares (62% na
fase Erveiras). Deve-se levar em conta, porém, que esta alta proporção não
significa somente um maior número relativo de potes ornamentados, mas que
ela corresponde também ao fato de que quase toda a superfície dos
vasilhames é tratada, permanecendo liso apenas o fundo e uma estreita faixa
ao longo dos lábios. Os diferentes sistemas de decoração plástica aparecem
tanto isolados como combinados, o que é uma particularidade da tradição
Taquara-Itararé em relação às outras culturas não-amazônicas.
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Irani, SC – Relatório Final.
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No caso da tradição Casa de Pedra, a cerâmica, de acordo com Chmyz (1968, p. 121),
possui as seguintes características:
A técnica utilizada para a confecção dos recipientes foi a acordelada. Os
antiplásticos usados foram: areia e grânulos de quartzo hialino entre 1 e 4
mm; aparecem também, bolas de argila queimada, até 3 mm. Os recipientes
são em forma de esfera, meia esfera, meia calota e ovóide. Predominam as
bases arredondadas e levemente planas. As bordas são extrovertidas,
diretas, introvertidas e inclinadas externamente. Os lábios são, na maioria
arredondados. Raros apresentam-se apontados.
A superfície dos recipientes foi simplesmente alisada. Alguns cacos
correspondentes a uma pequena peça, mostrem estrias, talvez acidentais, e
somente um, com incisões. Poucos cacos apresentam-se com uma coloração
negra brilhante. Mais comum, entretanto, é a cor marrom escuro. Ocorre,
ainda, as seguintes tonalidades: amarela, marrom-clara, cinza clara e cinzaescura.
A dureza da cerâmica da Casa de Pedra, oscila entre 2,5 e 3,5 predominando
a ultima (escala de Mohs). A espessura das paredes varia entre 3 e 23 mm,
predominando entre 6 e 7 mm.
No entanto, a dificuldade em distinguir estas tradições arqueológicas ou então reunir em
uma única tradição, a partir da análise da cultura material, é apontada por vários autores
(Schmitz, 1988), pois as informações disponíveis ainda são poucas, aliada a escassez de datas
e a existências de lacunas nas pesquisas arqueológicas que contemplem todo o sul do Brasil.
Apesar de não haver ainda pesquisas sistemáticas que confirmem a hipótese de se
tratar de uma única tradição ceramista, tal teoria tem sido discutida em alguns trabalhos
pontuais, como de Miller (1978) que documentou a tecnologia cerâmica dos Kaingang paulista,
confrontando com a cerâmica proveniente de sítios arqueológicos do estado de São Paulo. Em
sua hipótese de pesquisa, Miller (1978, p. 5) propôs que: “a cerâmica preta lisa, observada [por
ele] em sítios arqueológicos no estado de São Paulo, pertence à mesma tradição cerâmica que
produzida em tempos históricos pelos índios caingáng paulistas”. Conforme o autor (id., p. 32),
as diferenças entre a cerâmica das Tradições Itararé e Casa de Pedra, propostas por Chmyz,
se resumem ao antiplástico, no tratamento de superfície e na cor da superfície. “As formas são
muito semelhantes entre si, e contrastantes com as Tradições Tupiguarani”. Na conclusão
desta pesquisa, o autor (id., p. 30) considera a hipótese como verificada e confirma que “a
cerâmica arqueológica não-tupiguarani encontrada no interior paulista e pertencente à tradição
cerâmica denominada por I. Chmyz (1968) de Tradição Casa de Pedra, pertence àquela
mesma presente entre os índios caingáng paulistas”. Desta forma, estas tradições devem ser
pensadas como a mesma tradição, com pequenas diferenças regionais, na medida em que as
distinções não se sustentam com tão poucos dados, pois, de acordo com proposta de Miller
(1978, p. 33), “as Tradições Cerâmicas Itararé e Casa de Pedra são sub-tradições de uma
única tradição cerâmica associada com a utilizada pelos povos de fala caingáng-xokleng
conhecidos historicamente”.
Prous (1992, p. 230) alerta que a cerâmica arqueológica das tradições Taquara e Itararé
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possuem muitos pontos em comum (dimensões e forma de vasilhames, tipos de decoração), e
as diferenças se refletem mais de forma quantitativa do que qualitativa.
Neste sentido, Prous (id., p. 312) adota o termo Tradição Taquara/Itararé que
“caracteriza-se pela presença de uma cerâmica simples de pequenas dimensões, com parca
decoração plástica, e de casa (semi) subterrâneas como forma habitual de residência”.
Nos últimos anos, esta questão tem sido levantada e abordada freqüentemente. Neste
sentido, Miller (1978, p. 31) considera que devido à “razões de (1) tecnologia, (2) formas e (3)
distribuição em espaço e em tempo, estamos mais do que inclinados a considerar que todas as
tradições regionais não-tupiguaranis desde o planalto riograndense (incluindo o litoral sul-riograndense) até a bacia do Tietê, devem ser consideradas como uma única tradição cerâmica”.
Atualmente, há a tendência de se considerar estas tradições ceramistas como uma
grande tradição meridional com subtradições regionais, sendo comumente empregado o termo
Itararé/Taquara ou vice-versa. Para Prous (1992, p. 230):
...esta cerâmica escura simples, de vasos pequenos, geralmente bem
queimados e textura densa, parece integrar uma ‘onda’ que ultrapassa de
longe o Brasil meridional e o norte argentino para se estender no Brasil
central, onde se associa a padrões culturais distintos. Provavelmente, um dia
será possível associar esta grande ‘onda’ à dispersão antiga dos Jês:
meridionais (Taquara-Itararé) e centrais (tradição Una e formas aparentadas).
Concordando com Schimtz (1988, p.75), conclui-se que:
Apesar de comumente se usarem estes nomes, como identificadores de três
tradições cerâmicas, não todos os pesquisadores estão de acordo em que as
diferenças na técnica de produção, na forma e na decoração dos vasilhames
sejam suficientemente distintos para fundamentar tradições.
(...)
Por enquanto é bastante claro que o conjunto forma uma tradição tecnológica
e cultural, que ocupa diferentes ambientes contíguos..
4.1.2. Processo de análise e lista de atributos
O processo de análise do material cerâmico consta da avaliação de uma série de
critérios tecno-tipológicos sintetizados na “Lista de Atributos para Análise Cerâmica”, adaptada
para o material cerâmico em questão, associado na arqueologia brasileira à Tradição
Taquara/Itararé. Esta lista foi organizada em quatro grupos principais de atributos: informações
básicas, modo de produção, acabamento de superfície e morfologia; estes atributos estão
subdivididos em itens com as respectivas variações.
Para cada variante de um item de análise, atribui-se um número-código em ordem
crescente, o qual é empregado na “Tabela de Análise do Material Cerâmico”, correspondendo
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
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ao atributo identificado na análise.
Os critérios tecno-tipológicos empregados na análise deste material serão apresentados
a seguir, com suas respectivas definições, conforme a terminologia arqueológica adotada,
baseada em Chmyz (1966 e 1969), La Salvia e Brochado (1989) e Souza (1997).
No item informação básica, são identificados os dados referentes à peça analisada:
Nº. de fragmentos: quantidade de cacos;
Remontagem ou conjunto: número dos fragmentos que foram agrupados;
Quadrícula, poço teste ou trincheira: identificação horizontal do local de procedência da
peça;
Nível: profundidade, localização vertical da peça; e
O modo de produção engloba os seguintes itens:
A) Técnica de confecção: são “as ações exercidas para a fabricação de uma vasilha”
(La Salvia e Brochado, 1989, p. 11). Cada técnica deixa suas marcas. No caso do modelado,
os fragmentos cerâmicos quebram-se de forma irregular; enquanto que, no acordelado a
fratura é regular, com fragmentos retangulares, evidenciando os pontos de junção dos roletes,
sendo muitas vezes visíveis o positivo e o negativo do rolete. A técnica de confecção compõese dos seguintes subitens:
1-Indefinido: quando não é possível identificar a técnica de confecção devido,
principalmente, ao tamanho diminuto do fragmento cerâmico;
2-Acordelado, também conhecido por roletado ou anelado. “Técnica de confecção da
cerâmica que consiste na superposição helicoidal de roletes de pastas de comprimento
variável, partindo da base ou de uma porção de barro modelado para tal fim, até construir a
parede do vaso. Mais de 90% da cerâmica pré-histórica brasileira (excluindo-se a Amazônia),
foi confeccionada com esta técnica” (Souza, 1997, p. 12);
3-Modelado: “Técnica de manufatura, à mão livre, a partir de massa informe, até atingir
a forma desejada” (Chmyz, 1966, p. 16); e
4-Outro: se for identificada outra técnica de confecção que não as típicas da Tradição
Taquara.
B) Antiplástico ou tempero: “Matéria introduzida, intencionalmente ou não, na pasta para
conseguir condições técnicas propícias a uma boa secagem e cocção, como cacos triturados,
areia fina, quartzo, conchas, cauixi, cariapé, osso, etc.” (Chmyz, 1966, p. 20). Identifica-se a
composição dos elementos não-plásticos, se continha elementos minerais, cacos cerâmicos
moídos ou outros elementos e sua respectiva espessura. Compõem-se dos seguintes
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subitens:
1 - Mineral fino (< 5mm);
2 - Mineral grosso (> 5mm);
3 - Caco moído;
4 - Hematita; e
5 - Mica.
C) Composição: No caso do tipo mineral, o antiplástico mais comum, identificou-se
quais os minerais que foram encontrados:
1 - Hematita;
2 - Quartzo Branco;
3 - Quartzo Hialino;
4 - Calcedônia;
5 - Mica;
6 - Feldspato;
7 - Indefinido; e
8 - Basalto.
D) Queima: “Processo físico-químico que consiste em transformar a pasta em cerâmica,
por meio de elevação de temperatura, durante o qual a maior ou menor presença de oxigênio
determina a oxidação ou redução, evidenciada pela textura e cor da cerâmica” (Chmyz, 1966,
p. 18).
O resultado do processo de queima da argila depende de uma série de variáveis: tipo
de fogueira, tipo de combustível e temperatura, tempo da queima e tratamento pós-queima,
conforme Wust (s./d.) explica:
A maioria dos grupos nativos da América desconhece fornos, em lugar disso
se usam fogos abertos. O fogo queima durante várias horas, sendo que
poucos recipientes se perdem se são adequadamente secados e
corretamente empilhados dentro da fogueira. Pode-se aquecer a cerâmica
antes da queima. Após a queima também se deixa esfriar bem antes de tirar
da fogueira.
Os tipos de combustão empregados na queima da cerâmica podem fornecer
temperaturas mais ou menos quentes. Chamas altas ou baixas, mais ou
menos fumaça etc. Estas escolhas dependem das variáveis anteriores e das
técnicas da queima (aberto ou fechada). Podem se empregar também no
processo de queima diversos tipos de madeiras diferentes, conforme o
estágio da queima.
Os tipos de queima redutora ou oxidante indicam o processo como a argila foi
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Irani, SC – Relatório Final.
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queimada, resultando na cerâmica. A fase inicial da queima é reduzida. Somente quando da
retirada da cobertura de lenha, já na fase final do processo de queima, é que acontece a
oxidação. A queima reduzida é quando acontece em atmosfera abafada, sem a presença de
oxigênio. Neste caso, “os pigmentos de ferro, quase sempre presentes, tornam-se escuros, e a
pasta torna-se preta em toda a sua espessura” (Prous, 1992, p. 94). Se a retirada da cobertura
de lenha for realizada rapidamente “a cerâmica terá sofrido uma queima quase que totalmente
redutora: somente no último instante terá havido entrada suficiente de oxigênio para reoxidar
os pigmentos de ferro, e apenas na superfície, que começa a clarear. A cerâmica obtida dessa
maneira terá um miolo preto que ocupa quase toda a secção da parede (...). A textura está
intrínseca ao processo de queima, pois ”não tendo o calor chegado a ser muito grande, a
textura da cerâmica costuma apresentar-se ainda algo porosa, e a sua resistência à quebra
será relativamente grande” (Id). Mas se por outro lado, “for facilitada uma entrada prolongada
de ar, a oxidação vai progredir da superfície até o miolo, podendo ser total. Se isso chegar a
acontecer, o corte dos cacos se mostrará claro, da mesma cor que a superfície, (...) e o
vasilhame será mais frágil” (Id.).
A queima redutora pode ser parcial, ou seja, com oxidação parcial, quando o perfil do
fragmento apresentar um miolo escuro com faixas claras em ambas as faces, pois a oxidação
ocorre da superfície em direção ao miolo, e neste caso não o clareando totalmente. Compõemse dos seguintes subitens, conforme descrição acima:
1 - Oxidação total;
2 - Oxidação externa/interna com presença de núcleo;
3 - Oxidação externa com núcleo interno;
4 - Oxidação interna com núcleo externo; e
5 - Redutora.
Em caso de oxidação parcial, foi medida a espessura do núcleo, da faixa clara na face
externa e na face interna.
E) Espessura do núcleo
F) Espessura da faixa clara face externa
G) Espessura da faixa clara face interna
H) Espessura máxima do fragmento: A espessura da parede foi medida com o auxílio
de um paquímetro.
O terceiro grupo analisado é o acabamento da superfície2, no qual foram avaliadas as
2
“Tratamento aplicado à superfície das paredes dos recipientes cerâmicos” (La Salvia & Brochado,
1989, p. 25).
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seguintes categorias:
A) Dureza: “Determinação ou julgamento do grau de resistência da cerâmica ao risco,
quebra ou choque” (Chmyz, 1966, p. 13). O grau de dureza da parede da cerâmica é medido
segundo a Escala Mineralógica de Friedrich Mohs, entre as faixas de 2 a 5 (2 - Gipsita, 3 –
Calcita, 4 – Fluorita e 5 – Apatita). Na ausência do mineral Gipsita, indicativo do grau 2,
convencionou-se o emprego de “< 3” para indicar dureza inferior ao grau 3, podendo tratar-se
do grau 2 ou 2,5. Compõem-se dos seguintes subitens:
1 - grau < 3;
2 - grau 3;
3 - grau 4; e
4 - grau 5.
B) Estado de conservação: é avaliado se o fragmento encontrava-se com a superfície
erodida ou não. Em caso positivo, identifica-se em qual superfície o processo de desagregação
ocorreu, na face externa, na face interna ou em ambas as faces, e qual a intensidade; se foi
parcial, ou seja, se a superfície está parcialmente erodida, possibilitando ainda verificar alguns
itens; ou se é total, em que a superfície está totalmente erodida em ambas as faces. Neste
caso, em que a desagregação da superfície foi total, impossibilitou analisar qualquer item, pois
a superfície estava inexistente, sendo assim classificado como missing3. Compõem-se dos
seguintes sub-itens:
0 - Não erodido;
1 - Missing (Ambas as Faces Totalmente Erodidas);
2 - Ambas as Faces Parcialmente Erodidas;
3 - Face Interna Totalmente Erodida;
4 - Face Interna Parcialmente Erodida;
5 - Face Externa Totalmente Erodida;
6 - Face Externa Parcialmente Erodida;
7 - Face Interna Parcialmente e Face Externa Totalmente Erodida; e
8 - Face Interna Totalmente e Face Externa Parcialmente Erodida.
C) Cor da face externa: é somente indicada a cor correspondente na face externa dos
fragmentos cerâmicos analisados, baseado no Code des Couleurs des Sols (Cailleux, s/d).
D) Código da cor face externa: código empregado para identificar a cor, segundo o
Code des Couleurs des Sols.
3
Palavra de origem do inglês que significa perdido, ausente, que falta.
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E) Cor da face interna: igual ao item “C”, somente referente à face interna.
F) Código da cor face interna: igual ao item “d”, somente referente à face interna.
No tratamento da superfície4, analisa-se a ocorrência e em qual superfície (face externa,
interna ou ambas as faces) dos seguintes itens:
G) Alisamento: “Processo de nivelação da superfície das peças cerâmicas podendo
variar em grau, como superfícies bem alisadas, regulares e irregulares” (Chmyz, 1966, p. 7);
H) Brunidura: “É um revestimento (geralmente após a queima) de cera e fuligem para
dar uma cor preta ou melhorar a impermeabilidade” (Prous, 1992, p. 92).;
I) Barbotina: “É um revestimento superficial de argila mais refinada, aplicada à cerâmica
antes da queima” (La Salvia e Brochado, 1989, p. 17); e
J) Engobo: É um banho que não é de argila, mas de tinta, e que recobre a totalidade da
superfície” (Prous, 1992, p. 92).
K) Marca de uso: neste item é verificada a presença de sinais de queima na superfície
da cerâmica e em qual face (externa, interna ou em ambas as faces), segundo os seguintes
subitens:
1 - Fuligem externa;
2 - Queima interna;
3 - Restos de alimentação carbonizados no interior;
4 - Gordura Externa;
5 - Gordura interna;
6 - Queima interna e externa; e
7 – Queima externa.
L) Decoração: A decoração é avaliada e identificada se é do tipo:
1 - Simples: sem decoração, com superfície lisa;
2 - Plástica: “É aquela que resulta da modificação tridimensional da superfície da parede
de uma vasilha com argila ainda moldável e anterior à queima” (La Salvia e Brochado, 1989, p.
35); e
3 - Não Identificável.
M) Tipo de decoração plástica: em caso da decoração plástica, classifica-se qual o tipo:
4
Tratamento de superfície - “Processo de acabamento das superfícies” (Chmyz, 1966, p. 20)
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1 - Ungulado horizontal5: “Tipo de decoração composta de incisões produzidas pelas
unhas sobre a superfície cerâmica” (Chmyz, 1969, p. 20);
2 - Ungulado vertical6;
3 - Pinçado vertical (beliscado): “Tipo de decoração que consiste em imprimir marcas
espaçadas pela ação contrátil e simultânea das pontas de unha dos dedos, em sentido oposto,
na superfície da cerâmica, como se fosse beliscada” (Ribeiro, 1977, p. 56);
4 - Pinçado horizontal;
5 - Ponteado: “Tipo de decoração feito com pontas, deixando marcas independentes,
podendo ser de várias formas e tamanhos“ (Ribeiro, 1977, p. 56);
6 - Ponteado arrastado: “Tipo de decoração executada com um instrumento interligando
ponto e sulco (ao realizar a decoração ponteada houve uma pressão lateral sem levantar o
instrumento)” (Ribeiro e Ribeiro, 1985, p. 65);
7 - Impressão de corda ou marcado com corda: “Tipo de decoração em que a cerâmica,
antes de ser queimada, é marcada com cordas” (Chmyz, 1969, p. 16);
8 - Impressão de malha, marcado com malha ou malha impressa: “Tipo de decoração
em que se imprime na superfície externa da cerâmica marcas de malhas de rede” (Chmyz,
1966, p. 16);
9 - Impressão de cestaria ou marcado com cestaria: Tipo de decoração em que a
cerâmica é marcada por cestaria, antes de ser queimada, podendo ser do tipo espiralado;
10 - Digitado: “Tipo de decoração que consiste em imprimir a ponta do dedo na
superfície do vasilhame” (Souza, 1997, p. 45);
11 - Inciso: “Tipo de decoração plástica que consiste em incisões praticadas por meio
da extremidade aguçada de instrumentos de diferentes formatos e dimensões na superfície da
pasta ainda úmida. Estas incisões de dimensões variadas, em comprimento, largura e
profundidade, podem apresentar secções regulares ou irregulares, dependendo da resistência
da superfície no momento da operação e das características da extremidade do instrumento
utilizado” (Chmyz, 1969, p. 15);
12 - Inciso zig-zag: “Tipo de decoração em que se imprime marcas contínuas, em zigzag, conseguidas fazendo avançar um instrumento em forma de lâmina com movimento de
semirotação. Alternada, da direita para a esquerda e vice-versa” (Chmyz, 1966, p. 15);
13 - Inciso losangulado: Conjunto de incisões oblíquas em relação ao eixo da peça,
para direita e para esquerda, cruzando-se, formando losângulos;
14 - Inciso oblíquo: Conjunto de traços incisos paralelos realizados no sentido oblíquo
ou para direita ou para a esquerda, sem se cruzar;
5
6
Horizontal – A decoração foi realizada em posição horizontal em relação ao eixo longitudinal da peça.
Vertical – A decoração foi realizada em posição vertical em relação ao eixo longitudinal da peça.
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Irani, SC – Relatório Final.
87
15 - Estocado retangular vertical: Carimbo impresso sobre a pasta da cerâmica, com
conjunto de motivos que se repetem, podendo ser com forma de retângulos, quadrados,
círculos, etc...;
16 - Estocado retangular horizontal;
17 - Inciso paralelo: Conjunto de traços incisos realizados paralelos horizontalmente ao
eixo da peça. Há uma série de variações para este tipo de decoração, podendo compor com
outros padrões decorativos;
18 - Ungulado com posição oblíqua em relação à borda;
19 - Estocado quadrangular;
20 - Ungulado arrastado vertical;
21 - Ungulado arrastado horizontal;
22 - Carimbado: “Tipo de decoração em que se imprime, na pasta úmida, a marca de
um instrumento ou objeto: concha, taquara, folhas, etc.” (Souza, 1997, p. 33);
23 - Impossível definir: “Os fragmentos que, por um processo de erosão e/ou
pequeníssimas dimensões, não permitiram uma identificação segura” do motivo da decoração
(Ribeiro e Ribeiro, 1985, p. 67);
24 - Inciso losangulado acrescido de linhas paralelas;
25 - Inciso xadrez: Conjunto de incisões verticais e horizontais em relação ao eixo da
peça, com linhas que se cruzam formando um tabuleiro de xadrez;
26 - Inciso não identificado: Tipo de incisão que poder ser atribuído a vários padrões,
não sendo possível identificar com certeza o tipo;
27 - Inciso paralelo vertical: Conjunto de traços incisos realizados paralelos verticalmente ao eixo da peça. Há uma série de variações para este tipo de decoração, podendo
compor com outros padrões decorativos;
28 - Inciso paralelo horizontal;
29 - Estocado semi-circulo vertical; e
30 - Estocado oval.
Tem-se ainda, além da decoração plástica, a pintada7, com uma grande gama de
variações, mas que é inexistente na cerâmica da Tradição Taquara. Nos fragmentos com
decoração plástica na superfície, esta é encontrada somente na superfície da face externa.
N) Localização da decoração: identificação da superfície da vasilha coberta com a
7
Pintado – “Tipo de decoração executada antes ou depois da queima, com pigmentos minerais ou
vegetais, diretamente sobre a superfície a preparar ou sobre engobo ou banho, previamente aplicado.
Pode ser executada tanto na superfície interna como na externa, cobrindo toda ou parte das mesmas”
(Chmyz, 1969, p. 17).
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88
decoração plástica:
1 - Todo corpo;
2 - Em faixa cobrindo 50% da peça;
3 - Em faixa cobrindo 25% da peça;
4 - Impossível determinar; e
5 - Zonal (sem identificar porção).
O quarto grupo que é avaliado no estudo de um fragmento cerâmico é a morfologia, que
analisa basicamente a tipologia do fragmento e, no caso de reconstrução gráfica da forma da
vasilha, uma série de itens relacionados à forma. A morfologia divide-se em:
A) Natureza da peça: neste item o fragmento é classificado segundo a parte da vasilha
a que a peça corresponde:
1 - Borda: “Parte superior do vaso” (Ribeiro, 1977, p. 51);
2 - Base: “Parte inferior, de sustentação do vaso” (Chmyz, 1969, p. 8);
3 - Bojo: “Parte de maior diâmetro externo do vaso” (Chmyz, 1969, p. 10);
4 - Ombro: “Parte de maior diâmetro externo do vaso” (Chmyz, 1969, p. 10);
5 - Ponto de inflexão;
6 - Perfil completo;
7 - Indefinido;
8 - Tortual de fuso;
9 - Vasilha (inteira);
10 - Pescoço: ”Parte estrangulada intermediária entre a boca e o corpo de uma peça
cerâmica” (Chmyz, 1969, p. 17);
11 - Parte de Vasilha Inferior (Base e Bojo); e
12 - Parte de Vasilha Superior (Bojo e Borda).
B) Forma da borda: A borda tem a seguinte variedade:
1 - Direta8 vertical;
2 - Direta inclinada externa;
3 - Direta inclinada interna;
4 - Extrovertida vertical;
5 - Extrovertida inclinada externa;
8
“Borda direta ou não modificada, que continua a curvatura da parede do corpo” (Meggers & Evans,
1970, p. 45)
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89
6 - Introvertida vertical;
7 - Cambada; e
8 - Expandida.
C) Abertura da borda:
1 - Restringida; e
2 - Não restringida.
D) Reforço de borda: “Borda reforçada pela adição de uma camada de argila, a qual é
atenuada até obliterar a união” (Meggers e Evans, 1970, p. 45).
1 - Ausente;
2 - Externo;
3 - Interno; e
4 - Externo e interno.
E) Forma do lábio9: A extremidade superior da borda é chamada de lábio, que possui a
seguinte variedade, segundo sua aparência:
1 - Plano;
2 - Arredondado; e
3 - Apontado.
F) Forma da base: As bases podem ser dos seguintes tipos, segundo a aparência:
1 - Plana;
2 - Arredondada;
3 - Côncava;
4 - Convexa;
5 - Pedestal;
6 - Cônica; e
7 - Indefinida.
H) Forma do ombro:
1 - Simples; e
2 - Convexo.
9
Lábio – “É a extremidade da borda, por onde corre o conteúdo quando a vasilha fica inclinada” (Prous,
1992, p. 95).
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90
J) Forma do pescoço:
1 - Côncavo;
2 - Anguloso; e
3 - Retilíneo.
As categorias ombro e pescoço não são muito comuns na cerâmica da Tradição
Taquara. Muitas das categorias de borda, lábio e base não estão representados no material
cerâmico estudado.
K) Apêndices:
1 - Asa: “Apêndice compacto para suspender o vaso, podendo ser vertical ou horizontal,
mas usualmente colocado lateralmente, podendo ser único ou duplo (em lados opostos)”
(Souza, 1997, p. 20); e
2 - Furo de suspensão: Furo realizado na parede da vasilha próximo a borda com a
finalidade de suspendê-la.
L) Diâmetro da boca10: Para medir o diâmetro ou abertura de boca, usa-se a Escala de
Círculos Concêntricos, também chamada de Ábaco, que é graduada em intervalos de 2 cm.
M) Reconstrução gráfica da vasilha: A reconstrução da forma da vasilha só é possível
quando se obtém o diâmetro da boca e a inclinação da borda.
1 - Sim; e
2 - Não.
N) Contorno: O contorno da vasilha pode ser do tipo:
1 - Simples;
2 - Inflectido;
3 - Composto; e
4 - Complexo.
O) Forma da vasilha: Quando a forma da vasilha é reconstituída através de desenho
técnico, mede-se a respectiva altura, o maior diâmetro do bojo e do pescoço. A forma da
vasilha é identificada segundo a sua aparência:
1 - Esférica;
2 - Meia esfera;
3 - Cônica;
10
Boca – Abertura do vaso.
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91
4 - Ovóide;
5 - Elipsóide;
6 - Meia Calota;
7 - Semi-Ovóide, e
8 - Cilíndrica.
P) Volume da vasilha: O volume que a vasilha comportaria é calculado a partir da
fórmula descrita em Rice (1987) e Senior e Birnie (1995, p. 323).
Q) Categoria de volume: segundo o volume:
1 - 0-1 litro;
2 - 1-2 litros;
3 - 2-5 litros;
4 - 5-10 litros;
5 - 10-20 litros; e
6 - 20-50 litros.
Os resultados da análise do material cerâmico, segundo as categorias anteriormente
descritas, serão apresentados a partir da tabulação dos dados obtidos e da elaboração de
gráficos demonstrativos dos índices constatados.
4.1.3. PCH Plano Alto
Dos dez sítios arqueológicos estudados na PCH Plano Alto, seis apresentaram material
cerâmico, que foram os sítios: SC-PA-04, SC-PA-05, SC-PA-06, SC-PA-08, SC-PA-09 e SCPA-12, que totalizaram 83 fragmentos cerâmicos coletados, distribuídos conforme o gráfico 1.
3
SC-PA-04
3
SC-PA-05
39
SC-PA-06
SC-PA-08
35
SC-PA-09
1 2
SC-PA-12
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92
Gráfico 1: Distribuição do material cerâmico por sítio arqueológico na PCH Plano Alto.
O quadro 2 expressa a quantificação do material cerâmico por sítio arqueológico e por
morfologia e decoração.
Decor.
Morfologia
Tipo
Sítio
SC-PA-04
SC-PA -05 SC-PA-06 SC-PA-08 SC-PA-09 SC-PA-12 TOTAL
Bojo
30
2
1
28
3
3
67
Borda
6
0
0
7
0
0
13
Base
2
0
0
0
0
0
2
Indefinido
1
0
0
0
0
0
1
Decorado
12
2
1
24
2
0
54
Simples
25
0
0
8
1
3
24
Indefinido
2
0
0
3
0
0
5
39
2
1
35
3
3
83
11
Total
Quadro 2: Quantificação do material cerâmico por morfologia e decoração nos sítio
arqueológicos na PCH Plano Alto.
Conforme o quadro 2, no sítio SC-PA-04 coletaram-se 81 fragmentos cerâmicos, que
remontados reduziram para 39 o total de peças analisadas. No sítio SC-PA-05 foram coletados
somente três fragmentos cerâmicos, sendo que dois remontaram, reduzindo para dois cacos
procedentes de um poço teste. Nos sítios SC-PA-06, SC-PA-09 e SC-PA-12 a situação é a
mesma, somente três fragmentos, sendo que no sítio SC-PA-06 todos foram remontados. No
sítio SC-PA-08, a cerâmica é procedente de coletas de superfície, sendo possível remontar oito
fragmentos cerâmicos, reduzindo a amostra para um total de 35 fragmentos.
.
11
Fragmentos isolados ou remontados.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
93
40
35
30
25
20
15
10
5
0
S
1
2
6
7
30
28
2
PA
C-
4
-0
40
35
30
25
20
15
10
5
0
A
-P
SC
-0
Bojo
5
S
3
1
PA
C-
6
-0
Borda
S
PA
C-
Base
8
-0
S
PA
C-
9
-0
S
3
PA
C-
2
-1
S
PA
C-
2
3
8
25
24
12
2
4
-0
S
Indefinido
PA
C-
5
-0
A
-P
SC
Decorado
Gráfico 2: Quantificação do material
cerâmico por morfologia nos sítios
arqueológicos na PCH Plano Alto.
1
2
1
6
-0
A
-P
SC
Simples
8
-0
A
-P
SC
9
-0
A
-P
SC
3
2
-1
Indefinido
Gráfico 3: Quantificação do material
cerâmico por decoração nos sítios
arqueológicos na PCH Plano Alto.
4.1.3.1. SC-PA-04
O sítio SC-PA-04 totalizou 39 fragmentos cerâmicos, distribuídos entre a superfície e o
nível 70-80 cm, conforme apresentado no gráfico 4. Chama a atenção que a maior parte do
material concentra-se entre 30-40 e 50-60 cm, profundidade esta não comum em sítios litocerâmicos da Tradição Taquara/Itararé.
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
10
9
9
7
2
1
0
1
0
c ie
cm
cm
cm
cm
cm
cm
cm
cm
r fi
0
0
0
0
0
0
0
0
e
-8
-7
-6
-5
-4
-3
-2
-1
p
0
0
0
0
0
0
0
0
u
7
6
5
4
3
2
1
s
Gráfico 4: Distribuição do material cerâmico por nível no sítio SC-PA-04.
A técnica de confecção foi na maioria dos fragmentos do tipo modelado (24), apesar de
não ter sido possível identificá-la em 15 casos, classificados como indefinidos. O antiplástico é
do tipo mineral fino (< 5 mm) e um caso com mineral grosso (> 5 mm).
A queima apresentou-se na maioria dos fragmentos como oxidação total (32), e nos
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94
demais como redutora (6) e oxidação externa/interna com presença de núcleo (1).
O estado de conservação dos fragmentos cerâmicos é no geral razoável, conforme
demonstrado no gráfico 5, apresentando índices consideráveis de não erodidos e somente em
pequena quantidade têm-se ambas as faces parcialmente erodidas; face externa parcialmente
erodida e face externa totalmente erodida.
Não erodido
8
Ambas Faces Parcialmente
Erodidas
Face Externa Totalmente
Erodida
Face Externa Parcialmente
Erodida
2
1
28
Gráfico 5: Estado de conservação do material cerâmico.
A espessura da parede dos fragmentos variou entre 0,5 cm e 1,2 cm, conforme o
gráfico 6, sendo a maioria com espessura entre 0,5 cm e 0,8 cm.
12
12
10
8
7
7
6
4
3
2
1
1
1
1
0
5
0,
cm
6
0,
cm
7
0,
cm
8
0,
cm
9
0,
cm
1
cm
1
1,
cm
2
1,
cm
Gráfico 6: Espessura do material cerâmico.
Quanto ao tratamento de superfície, observou-se brunidura em apenas três fragmentos,
sendo um na face externa e dois na face interna. A barbotina se apresenta na maioria dos
casos em ambas as faces (31).
As marcas de uso observadas foram de resto de alimentação carbonizada no interior
em 18 cacos, indicando que estas vasilhas foram utilizadas para cozinhar alimentos.
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Irani, SC – Relatório Final.
95
Fotos 196 e 197: Fragmentos cerâmicos com resto de alimentação carbonizada na
face interna, formando uma crosta escura.
A decoração plástica foi identificada em 12 fragmentos neste sítio, sendo os demais
simples (25) e não identificado (2). Os tipos decorados existentes foram: beliscado ou pinçado,
inciso com linhas paralelas verticais ou oblíquas, ungulado, carimbado e ponteado. Em alguns
fragmentos observou-se que a decoração era zonal, desenhos “h”, “i” e “j” da figura 07.
Destaca-se na foto 201, a decoração zonal ponteada formando uma faixa próxima do lábio e
outra faixa vertical em direção a base. O conjunto de fragmentos decorados zonal carimbado
(foto 203) apresenta uma larga faixa entre o lábio e próximo da base, ocupando a maior parte
do bojo da vasilha.
Foto 198: Fragmentos com superfície Foto 199: Fragmento de borda com
simples, sendo um brunido (inf. dir.).
decoração pinçada ou beliscada.
O conjunto de fragmentos com decoração incisa obliqua (foto 202 e figura 8) é
composto de pelos menos três faixas decorativas, seguindo a ordem do lábio em direção à
base: 1ª) linhas incisas paralelas obliquas para a direita, 2ª) linhas incisas paralelas obliquas
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Irani, SC – Relatório Final.
96
para a esquerda, e 3ª) faixa incisa de linhas se cruzando formando losangulados. Observa-se
neste caso que a decoração ocupa toda a área da porção da vasilha existente, não havendo
uma faixa de intervalo nem próxima ao lábio.
Foto 200: Fragmentos cerâmicos com Foto 201: Borda com decoração zonal
decoração beliscada (inf.) e ungulada ponteada.
“arrastada” (sup.).
Foto 202: Conjunto
cerâmicos
incisos
losangulado.
de fragmentos Foto 203:
oblíquos
e cerâmicos
carimbada.
Conjunto de fragmentos
com
decoração
zonal
Quanto à morfologia dos fragmentos cerâmicos, segundo o gráfico 2 (ver pág. 90), a
grande parte é composta por bojo, perfazendo um total superior a 70%, até porque a vasilha
possui uma área muito maior de corpo que nas demais áreas. Enquanto que poucas são as
bordas (6), e menos ainda as bases (2). Os tipos de borda encontrados foram direta vertical
(3), direta inclinada externa (1), direta inclinada interna (1) e extrovertida vertical (1), todas com
abertura não restringida. Quanto ao item reforço de borda, na maioria das bordas é ausente, e
na única em que há, este se encontra na face externa. O lábio apresentou formato
arredondado (4) e apontado (2). Os dois fragmentos de base têm forma plana (ver figura 9).
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97
c)
b)
a)
e)
f)
g)
d)
i)
h)
j)
Desenho: Ana Lucia Herberts
Figura 7: Fragmentos decorados no sítio SC-PA-04: a-c) beliscado ou pinçado, d) inciso
paralelo vertical, e) inciso oblíquo, f – g) ungulado, h) carimbado, i – j) ponteado.
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98
Desenho: Ana Lucia Herberts
Figura 8: Fragmentos de uma mesma vasilha combinando decoração incisa obliqua
direita, esquerda e losangulada.
Desenho: Ana Lucia Herberts
Figura 9: Desenho de base plana.
O diâmetro das bordas nas quais tal inferência foi possível, foi de 8 cm, 12 cm e 24 cm.
Estas três tiveram sua forma reconstituída, apresentando formato ovóide (1) e elipsóide (2), e
contorno simples, conforme se observa na figura 10.
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99
c)
b)
a)
Desenho: Ana Lucia Herberts
3D: Letícia Morgana Müller
Figura 10: Formas reconstituídas das vasilhas: a) ovóide, b-c) elipsóide.
As informações referentes ao diâmetro da boca, ao tipo de borda, a forma e o volume
das vasilhas reconstruídas são apresentadas no quadro 3.
Desenho
Nº. da peça
Decoração
Diâmetro da
boca
Tipo de borda
Forma
Volume em
ml.
a
12 e outros
Comp. Incisos
24 cm
Direta vertical
Ovóide
6.807
b
15 e outros
Carimbado
12 cm
Extrov. vertical
Elipsóide
890
c
43 e outros
Ponteada
8 cm
Direta inclin. ext.
Elipsóide
288
Quadro 3: Relação das vasilhas reconstruídas graficamente com o respectivo volume.
4.1.3.2. SC-PA-05
Os dois fragmentos cerâmicos deste sítio são partes de bojos decorados,
provavelmente pertencentes a mesma vasilha, com espessura que varia de 5 a 6 mm. A
decoração é do tipo ponteada. A técnica de confecção é modelada, o antiplástico mineral, e a
queima do tipo oxidação total.
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100
Desenho: Adelson André Brüggemann
Foto 204: Fragmentos cerâmicos de
bojos decorados.
Figura 11: Reprodução da
decoração ponteada.
4.1.3.3. SC-PA-06
Os três fragmentos cerâmicos remontados deste sítio são partes de bojos decorados,
com espessura de 7 mm. A decoração é do tipo incisa não identificada, apresentando
pequenos “riscos” oblíquos e verticais. A técnica de confecção é modelada, o antiplástico
mineral, a queima do tipo oxidação interna (3 mm) com núcleo externo (4 mm), com a presença
de barbotina em ambas as faces.
Desenho: Ana Lucia Herberts
Foto 205: Fragmentos cerâmicos de
bojos decorados, sítio SC-PA-06.
Figura 12: Reprodução da
decoração do tipo incisa não
identificada.
4.1.3.4. SC-PA-08
O sítio SC-PA-08 totalizou 35 fragmentos cerâmicos, distribuídos entre a superfície e o
0-10 cm. Portanto, trata-se de um sítio lito-cerâmico bastante raso. A técnica de confecção foi
na maioria dos fragmentos do tipo modelado (34) e um acordelado, tratando-se de uma borda.
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101
O antiplástico é do tipo mineral fino (< 5 mm) e um caso com mineral grosso (> 5 mm).
A queima apresentou-se na maioria dos fragmentos como oxidação total (29), e os
demais como oxidação externa com núcleo interno (3) e oxidação externa/interna com
presença de núcleo (2).
O estado de conservação dos fragmentos cerâmicos é no geral razoável, conforme
demonstrado no gráfico 7, apresentando índices consideráveis de não erodidos e somente em
pequena quantidade têm-se ambas faces parcialmente erodidas; face externa parcialmente
erodida e face interna parcialmente erodida e externa totalmente erodida.
1
6
Ambas Faces Parcialmente
Erodidas
2
Face Externa Parcialmente
Erodida
26
Face Interna Parcialmente e Face
Externa Totalmente Erodida
Gráfico 7: Estado de conservação do material cerâmico.
A espessura da parede dos fragmentos variou entre 0,3 cm e 1 cm, conforme o gráfico
8, sendo a maioria com espessura entre 5 cm e 7 cm.
12
11
10
8
7
6
6
4
4
3
2
2
1
1
0
3
0,
cm
4
0,
cm
5
0,
cm
6
0,
cm
7
0,
cm
8
0,
cm
9
0,
cm
1
cm
Gráfico 8: Espessura do material cerâmico.
Quanto ao tratamento de superfície, observou-se brunidura em apenas três fragmentos,
sempre na face interna. A barbotina se apresenta na maioria dos casos em ambas as faces
(29).
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102
As marcas de uso observadas foram de queima interna (6) e resto de alimentação
carbonizada no interior (1).
A decoração plástica foi identificada em 24 fragmentos neste sítio, sendo os demais
simples (8) e não identificado (3). A decoração plástica obteve índices elevados em relação a
fragmentos simples, isto indica que a maior parte da parede da vasilha entre a base e o lábio
era decorada, e não somente uma faixa.
Os tipos decorados identificados foram: inciso zig-zag (3), inciso losangulado (3), inciso
obliquo (10), inciso xadrez (1), inciso não identificado (7), e impossível definir (1). Chama a
atenção a grande quantidade de decorados, empregando somente variações do padrão inciso,
na sua grande maioria composta por linhas paralelas. Em dois fragmentos observou-se que a
decoração era zonal, desenhos “w” e “z” da figura 13.
Foto 206: Fragmentos de cerâmica com Foto 207: Fragmento com decoração
decoração incisa não identificada.
incisa não identificada.
Foto 208: Fragmentos cerâmicos com Foto 209: Fragmentos com decoração
decoração incisa em zig-zag.
incisa losangular.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
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103
Foto 210: Fragmento de borda com Foto 211: Fragmentos com decoração
decoração incisa oblíqua.
incisa obliqua.
a)
b)
h)
c)
i)
j)
d)
l)
r)
p)
e)
m)
f)
g)
n)
o)
t)
s)
u)
q)
z)
z)
y)
* w)
v)
Desenho: Ana Lucia Herberts e Adelson André Brüggemann (*)
Figura 13: Variações de fragmentos com decoração incisa: a-c) inciso em zig-zag; d-m, v)
inciso oblíquo; n-u) inciso não identificado; w) inciso xadrez; z-y) inciso losangulado.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
104
O fragmento “v” da figura 13 é composto por várias linhas incisas oblíquas tanto para a
direita quanto para a esquerda.
Quanto à morfologia dos fragmentos cerâmicos, segundo o gráfico 2 (ver pág. 90) a
grande parte é composta por bojo, perfazendo um total superior a 80%, poucas são as bordas
(7), e nenhuma base.
Os tipos de borda encontrados foram direta vertical (5) e direta inclinada externa (2),
todas com abertura não restringida. Quanto ao item reforço de borda, na maioria das bordas é
ausente (4), e três possuem reforço na face externa. O lábio apresentou formato arredondado
(5) e plano (2).
A única vasilha reconstituída apresentou diâmetro de boca de 10 cm, borda direta
vertical, forma elipsóide, decoração incisa obliquo e volume de 800 ml. As demais bordas não
permitiram inferir a o diâmetro da boca, não sendo possível assim reconstituir a forma.
Figura 14: Forma de vasilha elipsóide reconstituída
no sítio SC-PA-08.
Desenho: Ana Lucia Herberts
3D: Letícia Morgana Müller
4.1.3.5. SC-PA-09
Os três fragmentos cerâmicos deste sítio são partes de bojos provenientes de coleta de
superfície, com espessura de 5, 7 e 8 mm. A técnica de confecção é modelada, o antiplástico
mineral, composto de calcedônia, basalto e quartzo hialino. A queima do tipo oxidação total (2)
e oxidação interna e externa com presença de núcleo externo (1). O estado de conservação é
precário, apresentado um das faces ou ambas as faces erodidas. Dois fragmentos possuem
ainda a barbotina na face interna e um, restos de alimentação carbonizados no interior. Dois
são decorados, mas não sendo possível identificar o tipo devido a superfície erodida.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
105
Foto
212:
Fragmentos
cerâmicos do sítio SC-PA-09,
sendo dois decorados (centro
e
dir.),
mas
totalmente
erodidos.
4.1.3.6. SC-PA-12
Os três fragmentos cerâmicos deste sítio são partes de bojos simples, isto é, sem
decoração plástica, com espessura de 7 e 8 mm. A técnica de confecção é modelada, o
antiplástico mineral, composto de hematita e basalto. A queima se apresenta do tipo oxidação
total, oxidação externa/interna com presença de núcleo e oxidação externa com núcleo interno.
O estado de conservação é regular, apresentado um das faces ou ambas as faces
parcialmente erodidas. Os fragmentos possuem ainda a barbotina e alisamento na face interna
ou em ambas as faces.
Foto
213:
Fragmentos
cerâmicos do sítio SC-PA12: bojos simples com a
superfície
parcialmente
erodida.
4.1.4. PCH Alto Irani
Na PCH Alto Irani, cinco sítios arqueológicos apresentaram material cerâmico, a saber:
SC-AI-02, SC-AI-03, SC-AI-08, SC-AI-17 e SC-AI-19. O material desses sítios totalizou uma
amostra de 125 fragmentos cerâmicos, distribuídos conforme o gráfico a seguir.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
106
3
SC-AI-02
27
4
SC-AI-03
SC-AI-08
SC-AI-17
17
74
SC-AI-19
Gráfico 9: Distribuição do material cerâmico por sítio arqueológico na PCH Alto Irani.
O quadro 4 expressa a quantificação do material cerâmico por sítio arqueológico e por
morfologia e decoração.
Decor.
Morfologia
Tipo
Sítio
SC-AI-02 SC-AI-03 SC-AI-08 SC-AI-17 SC-AI-19
TOTAL
Bojo
22
4
10
55
3
94
Borda
3
0
4
11
0
18
Base
1
0
3
8
0
12
Indefinido
1
0
0
0
0
1
Decorado
16
1
8
53
1
79
Simples
10
3
4
18
2
37
Indefinido
1
0
5
3
0
9
27
4
17
74
3
125
Total12
Quadro 4: Quantificação do material cerâmico por morfologia e decoração nos sítio
arqueológicos na PCH Alto Irani.
Conforme o quadro 4, no sítio SC-AI-02 coletaram-se 30 fragmentos cerâmicos que,
remontados, diminuíram para 27 fragmentos, todos provenientes de coletas de superfícies. No
sítio SC-AI-03, foram apenas coletados quatro fragmentos cerâmicos, assim como no sítio SCAI-19, onde foram três fragmentos coletados, todos procedentes de coleta de superfície. No
sítio SC-AI-08 foram coletados 21 fragmentos que remontados diminuíram para 17 a amostra
estudada. Já no sítio SC-AI-17, o com maior densidade de material arqueológico, foram
coletados 99 fragmentos, que remontados diminuíram para 74 fragmentos cerâmicos. Estes
são procedentes de coleta de superfície e de escavação do sítio.
12
Fragmentos isolados ou remontados.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
107
80
80
8
70
11
60
50
40
40
55
1
1
3
20
10
18
60
50
30
3
70
4
0
SC-AI-02
SC-AI-03
Bojo
20
3
4
10
22
SC-AI-08
Borda
Base
30
10
3
SC-AI-17
1
10
53
16
31
0
SC-AI-02
SC-AI-19
SC-AI-03
Decorado
Indefinido
Gráfico 10: Quantificação do material
cerâmico por morfologia nos sítios
arqueológicos na PCH Alto Irani.
5
4
8
SC-AI-08
Simples
12
SC-AI-17
SC-AI-19
Indefinido
Gráfico 11: Quantificação do material
cerâmico por decoração nos sítios
arqueológicos na PCH Plano Irani.
4.1.4.1. SC-AI-02
A técnica de confecção da maior parte do material coletado nesse sítio é o modelado
(25) e somente dois casos apresentou-se como acordelado. O antiplástico é do tipo mineral
fino em todos os fragmentos.
Os tipos de queima identificada foram: oxidação total (13), oxidação externa/interna com
presença de núcleo (2), oxidação externa com núcleo interno (2) e redutora (10).
O estado de conservação é no geral bom, apresentando baixo índice de erodidos
conforme o demonstrado no gráfico 12.
Não erodido
1 1
2
Missing
23
Ambas Faces Parcialmente
Erodidas
Face Externa Parcialmente
Erodida
Gráfico 12: Estado de conservação do material cerâmico do sitio SC-AI-02.
A espessura da parede dos fragmentos variou entre 0,3 cm e 0,8 cm, estando a maioria
entre 0,5 cm e 0,7 cm.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
108
12
11
10
9
8
6
5
4
2
1
1
0
0,3 cm
0,5 cm
0,6 cm
0,7 cm
0,8 cm
Gráfico 13: Espessura do material cerâmico do sitio SC-AI-02.
Relativamente aos processos de tratamento, não foi observada a presença de brunidura
ou engobo nas superfícies externa ou interna dos fragmentos. Constatou-se o uso de barbotina
em ambas as faces, alisamento em uma das faces ou em ambas e fuligem externa em apenas
um fragmento.
A maior parte dos fragmentos apresenta decoração (16) conforme o apresentado no
gráfico 11 e no quadro 4. A decoração se apresenta com grande quantidade de tipos
carimbados e ponteados, variando a forma e a composição, e a ausência completa de incisos
com linhas paralelas ou cruzadas conforme se observa na figura 15. Os tipos decorados foram:
ungulados (2), apresentando como variante ungulado em várias direções (fig. 15, “a” e foto
219) e ungulado vertical (fig. 15, “b”); ponteados (2), estocado retangular vertical (1) (fig. 15,
“e”); e carimbados (10), além de impossível definir (1). Os tipos carimbados variam de formas
triangulares (fig. 15, “g”, “h”, “j”, “l” e “m”); seqüência de círculos (fig. 15, “n”) ou quadrados (fig.
15, “i” e “o”). Em nove fragmentos observou-se tratar-se de decoração zonal, não sendo
possível avaliar a extensão da decoração no bojo da vasilha.
* b)
c)
*e)
* d)
* a)
* f)
* g)
* h)
i)
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
* j)
109
* m)
n)
* o)
* p)
* l)
Desenho: Ana Lucia Herberts e Adelson André Brüggemann (*)
Figura 15: Tipos decorados no sítio SC-AI-02: a-b) ungulado; c-d) ponteado; e) estocado;
d-p) carimbado.
As três bordas apresentaram forma extrovertida vertical (1) e extrovertida inclinada
externa (2), com abertura não restringida, reforço de borda externo (2) e lábio arredondado,
não sendo reconstituída a forma. O único fragmento de base apresentou forma plana.
Foto
214:
Fragmentos
cerâmicos Foto 215: fragmento de borda simples
simples, com superfície parcialmente com reforço externo.
erodida.
Foto 216: Fragmento com estrias na face Foto
217:
Fragmentos
interna.
carimbado e ponteado (dir.).
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
decorados
110
Foto
218:
carimbados.
Fragmentos
decorados Foto 219: Fragmentos decorados de
ungulado (esq.) e carimbado (dir.).
4.1.4.2. SC-AI-03
No sítio SC-AI-03 foram coletados somente quatro fragmentos cerâmicos, que
apresentaram técnica de confecção moldada (3) e acordelado (1), antiplástico mineral fino (< 5
mm) (3) e mineral grosso (> 5mm) (2). A queima foi do tipo redutora (3) e oxidação total (1).
Quanto ao estado de conservação dos fragmentos, estes se apresentaram não erodidos
(2) e com ambas as faces totalmente erodidas (2). A espessura da parede foi de 0,5 cm (3) e
0,9 cm (1).
Apenas um fragmento apresentou decoração, e esta foi do tipo ungulado zonal. Todos
os fragmentos eram partes de bojo (figura 16).
Desenho: Adelson André Brüggemann
Foto 220: Fragmentos cerâmicos do Figura
16:
Desenho
de
sítio SC-AI-03.
fragmento
decorado
zonal
ungulado.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
111
4.1.4.3. SC-AI-08
O sítio SC-AI-08 totalizou 17 fragmentos cerâmicos, distribuídos entre a superfície e o
0-10 cm; também um sítio lito-cerâmico bastante raso. A técnica de confecção foi na maioria
dos fragmentos do tipo modelado (15) e dois acordelados. O antiplástico é do tipo mineral fino
(< 5 mm), com um caso com mineral grosso (> 5 mm).
A queima apresentou-se na maioria dos fragmentos como oxidação total (12), e os
demais como oxidação externa/interna com presença de núcleo (2), oxidação externa com
núcleo interno (1) e redutora (2).
O estado de conservação dos fragmentos cerâmicos é no geral ruim, conforme
demonstrado no gráfico 14, apresentando índices consideráveis de erodidos ou parcialmente
erodidos em uma ou em ambas faces.
Não erodido
Missing
2
3
1
3
1
Ambas Faces
Parcialmente Erodidas
Face Interna Parcialmente
Erodida
Face Externa Totalmente
Erodida
Face Externa
Parcialmente Erodida
7
Gráfico 14: Estado de conservação do material cerâmico.
A espessura da parede dos fragmentos variou entre 0,4 cm e 0,9 cm, conforme o
gráfico 15, sendo a maioria com espessura entre 5 cm e 7 cm.
6
6
5
4
3
3
2
3
2
1
1
1
0
0,4 cm
0,5cm
0,6 cm
0,7 cm
0,8 cm
0,9 cm
Gráfico 15: Espessura do material cerâmico.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
112
Quanto ao tratamento de superfície, observou-se barbotina na maioria dos casos, em
ambas as faces. Brunidura e engobo não foram constatados.
As marcas de uso observadas foram de queima interna (1) e fuligem externa (1).
A decoração plástica foi identificada em oito fragmentos neste sítio, sendo os demais
simples (4) e não identificado (5). Os tipos decorados identificados foram: ponteado (1),
estocado retangular horizontal (1), carimbado (5), e impossível definir (1).
Em um fragmento observou-se que a decoração carimbada foi executada com utensílio
deixando como negativo um semi-círculo, desenho “a” da figura 17.
* b)
a)
c)
d)
Desenho: Ana Lucia Herberts e Adelson André Brüggemann (*)
Figura 17: Fragmentos decorados: a-b) carimbado; c) ponteado; d) estocado retangular
horizontal.
Foto 221: Fragmentos decorados do tipo Foto
222:
Fragmentos
decorados:
carimbado.
estocado (inf. esq.) e carimbados.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
113
Foto 223: Fragmento de borda decorado Foto
224:
Fragmentos
decorados:
carimbado, mas com a superfície carimbado (esq.), ponteado e impossível
erodida.
definir (dir.).
Somente foi possível reconstituir uma forma de vasilha (figura 18). Esta possui diâmetro
de boca 10 cm, borda inclinada direta, forma esférica, decoração carimbada e volume de 880
ml.
Figura 18: Forma reconstituída da vasilha: esférica.
Desenho: Ana Lucia Herberts
3D: Letícia Morgana Müller
4.1.4.4. SC-AI-1713
O material cerâmico do sítio SC-AI-17 totalizou 74 fragmentos cerâmicos, distribuídos
entre a superfície e o nível 40-50 cm, conforme o apresentado no gráfico 16. A maior parte do
material concentra-se nos primeiros níveis, entre a superfície e 10-20 cm.
13
O material cerâmico do sítio SC-AI-17 foi analisado por Rodrigo Lavina e Letícia Morgana Müller.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
114
30
27
25
23
20
16
15
10
4
3
5
0
Superf
0-10 cm
10-20 cm
30-40 cm
40-50 cm
Gráfico 16: Distribuição do material cerâmico por nível no sítio SC-AI-17.
A técnica de confecção foi na grande maioria dos fragmentos do tipo modelado (68),
tendo ainda um caso de acordelado; outros cinco foram classificados como indefinidos. O
antiplástico é do tipo mineral fino (< 5 mm) na maioria dos fragmentos (70), sendo os demais:
um caso com mineral grosso (> 5 mm) e três com hematita. Na composição mineral foi possível
identificar a presença de quartzo branco e hematita.
A queima, como se pode observar no gráfico 17, apresentou-se na maioria dos
fragmentos como redutora (27), seguido do tipo oxidação total (15), e as variantes de oxidação
externa ou interna ou ambas, com presença de núcleo.
O estado de conservação dos fragmentos cerâmicos é no geral razoável, conforme
demonstrado no gráfico 18, apresentando índices consideráveis de não erodidos e somente em
uma pequena quantidade têm-se ambas faces totalmente erodidas (missing); as demais variam
de uma das face ou ambas parcialmente erodida e outra face totalmente erodida.
Oxidação total
3
Oxidação externa/interna com presença
de núcleo
Oxidação externa com núcleo interno
15
27
11
3
15
Oxidação interna com núcleo externo
Redutora
Não identificado
Gráfico 17: Tipo de queima do material cerâmico.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
115
Não erodido
Missing
1 2
13
Ambas Faces Parcialmente Erodidas
27
2
Face Interna Totalmente Erodida
Face Interna Parcialmente Erodida
7
Face Externa Totalmente Erodida
1
9
17
Face Externa Parcialmente Erodida
Face Interna Parcialmente e Face Externa Totalmente Erodida
Face Interna Totalmente e Face Externa Parcialmente Erodida
Gráfico 18: Estado de conservação do material cerâmico.
A espessura da parede dos fragmentos variou entre 0,4 cm e 0,9 cm, conforme se
apresenta no gráfico 19, sendo a maioria com espessura fina entre 0,5 e 0,6 cm.
25
25
21
20
15
12
10
6
5
7
3
0
0,4 cm
0,5 cm
0,6 cm
0,7 cm
0,8 cm
0,9 cm
Gráfico 19: Espessura da parede do material cerâmico.
Quanto ao acabamento de superfície pode-se observar em muitos fragmentos sinais de
alisamento de ambas as faces (18), da face interna (21) ou da face externa (4). Relativamente
à presença de barbotina, esta foi observada tanto em ambas as faces (7), quanto na face
interna (9) e na face externa (3). Em muitos fragmentos não foi possível observar o alisamento
ou a barbotina devido ao estado de conservação, estando uma das faces erodidas.
A presença de brunidura foi constatada em alguns fragmentos, principalmente na face
externa (8) e um caso em ambas as faces (ver foto 225).
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
116
Foto 225: Fragmentos cerâmicos com Foto 226: Fragmentos
resquícios de brunidura na face externa.
externa erodida.
com
a
parte
Outro aspecto observado foi a presença de engobo vermelho no acabamento de dois
fragmentos cerâmicos, sendo um somente na face externa e outro em ambas as faces (ver
fotos 227, 229 e 230). O uso de engobo é pouco comum na cerâmica relacionada à Tradição
Taquara-Itararé.
Foto 227: Fragmento com
vermelho na superfície externa.
engobo Foto 228: Fragmentos com as superfícies
erodidas (missing).
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
117
Fotos 229 e 230: Fragmento de bojo com engobo vermelho em ambas as faces.
Com relação a marcas de usos, observaram-se no material analisado vestígios de
fuligem externa (8), queima interna (7) e restos de alimentação carbonizados no interior (4). Os
sinais de restos de alimentação carbonizada no interior constatam-se em forma de uma
“crosta” situada na parede interna dos fragmentos de base ou próximos ao fundo dos
vasilhames (ver fotos 231 a 234).
Fotos 231 e 232: Fragmentos com resto de alimentação carbonizada na face interna.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
118
Fotos 233 e 234: Parte interna do fragmento de vasilha com vestígios de resto de
alimentação carbonizada.
Neste material analisado a quantidade de fragmentos com decoração chama a atenção,
representando mais de 70% do total, conforme o quadro 4 e gráfico 11.
a)
d)
c)
b)
h)
f)
g)
e)
j)
l)
m)
i)
o)
q)
p)
n)
r)
s)
Desenho: Ana Lucia Herberts
Figura 19: Tipos de decorados: a-c) ungulado; d-f) carimbado; g-j) inciso losangular; l)
inciso losangulado com linhas paralelas; m) inciso não identificado; n) estocado; o-p)
inciso paralelo; q) inciso obliquo; r) inciso losangular e ungulado; s) inciso paralelo
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
119
vertical e horizontal.
Os tipos decorados, de acordo com o gráfico 20, variam entre tipos incisos e variantes
(obliquo, paralelo, losangulado, paralelo vertical, horizontal, e não identificado), ungulados,
carimbados e estocados, além de alguns fragmentos que combinam mais de um tipo decorado
na mesma superfície formando padrões mistos.
Na figura 19, observa-se alguns fragmentos com mais de um motivo de decoração
plástica combinada, como o caso do fragmento “r”, que apresenta bojo com os motivos incisos
losangular e ungulado; e o “s” que possui linha paralela horizontais, verticais e obliquas. O
fragmento com decoração estocada, o “n” possui o carimbo em seqüência de um objeto com
forma em semi-círculo.
Ungulado vertical
Ungulado arrastado
Inciso oblíquo
10
9
Inciso losangulado
11
11
2
Inciso losangulado com linhas paralelas
Inciso paralelo
3
5
15
1 1
2 1
Inciso não identificado
Estocado semi-circulo vertical
Carimbado
Ungulado vertical e Inciso paralelo
Ungulado vertical e Inciso losangulado
Inciso paralelo horizontal, vertical e obliquo
Inciso paralelo horizontal, vertical e estocado oval
Impossível definir
Gráfico 20: Tipos de decoração plástica.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
120
Desenho: Ana Lucia Herberts
Figura 20: Fragmento superior de vasilha com decoração plástica em toda a sua
superfície formada por motivos combinados de linhas horizontais paralelas, verticais
paralelas e estocado.
Foto 235: Fragmentos do fundo de uma Foto 236: Fragmento cerâmico com
vasilha com decoração ungulada.
decoração ungulada e sinais de queima
externa.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
121
Foto 237: Fragmento de borda com Foto 238: Fragmentos cerâmicos com
decoração carimbada e forma de semi- decoração carimbada, sendo um zonal
circulo.
(dir.).
Foto 239: Fragmento cerâmico
decoração incisa losangular.
com Foto 240: Fragmentos com decoração
incisa oblíqua.
Foto 241: Fragmento com decoração Foto 242: Fragmentos cerâmicos com
incisa com linhas verticais e horizontais decoração carimbada.
paralelas.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
122
Foto 243: Fragmentos de vasilha com Foto 244: Fragmento de bojo
decoração incisa, com linhas verticais e decoração incisa e ungulada.
horizontais paralelas e estocado.
com
Foto 245: Fragmentos cerâmicos com Foto 246: Fragmentos cerâmicos com
decoração carimbada.
decoração ungulada.
Nesta coleção cerâmica, destaca-se a existência de um perfil superior de uma vasilha
decorada em toda a sua superfície (figura 20 e foto 243). Esta possui a combinação formada
por motivos de linhas paralelas horizontais intercaladas com linhas paralelas verticais e área
com estocado em forma oval.
Das 11 bordas existentes, somente três permitiram reconstituir a forma da vasilha
conforme o apresentado na figura 21 e quadro 4. As bordas apresentaram as seguintes formas:
direita vertical (8), extrovertida inclinada externa (2) e uma não identificada. A abertura
apresentou como não restringida em pelo menos oito bordas, e nas demais não foi possível
identificar este atributo. Quanto a reforço de borda este foi identificado como ausente (8) e
externo (3). A forma do lábio varou entre os tipos plano (3) e arredondado (8). O diâmetro da
boca das bordas, naqueles fragmentos passíveis de identificação, variaram entre 10 cm (2), 14
cm (1) e 16 cm (2).
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
123
c)
b)
a)
Desenho: Rodrigo Lavina
3D: Letícia Morgana Müller
Figura 21: Forma reconstituída da vasilha: a) cilíndrica, b) semi-ovoide e c) ovóide.
As informações referentes ao diâmetro da boca, ao tipo de borda, a forma e o volume
das vasilhas reconstruídas são apresentadas no quadro 5.
Desenho Nº. da peça
a
06 e outros
b
33
c
92
Decoração
Diâmetro da
boca
Tipo de borda
Forma
Volume em
ml.
Incisa e
Estocado
16 cm
Direta Vertical
Cilíndrica
3.469
14 cm
Direta Incl. Ext.
Semiovoide
1.543
10 cm
Extrovertida Incl.
Externa
Ovóide
1.036
Simples
Quadro 5: Relação das vasilhas reconstruídas graficamente com o respectivo volume.
Nos fragmentos relativos às bases, nas quais foi possível identificar a forma, estas
apresentaram forma plana (1) e arredondada (1), sendo que as demais foram indefinidas (6).
4.1.4.5. SC-AI-19
Neste sítio, apenas três fragmentos cerâmicos foram coletados. Dois apresentam a
técnica de confecção modelada e um acordelado. O antiplástico é mineral fino (2) e mineral
grosso (1). A queima foi do tipo oxidação total (2) e redutora (1). Estado de conservação bom,
com nenhuma face erodida. A espessura em todos foi de 0,5 cm. Não foram constatadas
brunidura ou marcas de uso. Alisamento e barbotina foram identificados em uma face ou
ambas. Os três fragmentos são bojos, sendo dois simples e um decorado do tipo estocado
(figura 22).
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
124
Desenho: Ana Lucia Herberts
Foto
247:
decorado
estocado.
Fragmento
com
o
Figura 22: reprodução do
motivo
decorativo:
estocado.
4.1.5 Discussão dos resultados
A pequena quantidade do material cerâmico nos sítios arqueológicos das PCHs Alto
Irani e Plano Alto se explica pela ocorrência de um ou vários motivos, a saber:
1) Sítios com densidade de material arqueológico baixa, principalmente de material
cerâmico, pois podem estar relacionados a sítios de atividades especificas como sítios de
acampamento, onde o uso de vasilhas cerâmicas deveria ser mais restrito;
2) O uso de agricultura mecanizada há bastante tempo na região, contribuindo para a
redução do material cerâmico no sítio, pois os cacos vão sendo “picados” pelo arado e assim
seu tamanho vai diminuindo e se desagregando;
3) A metodologia empregada em alguns sítios, como coleta amostral mapeada de
superfície, não sendo realizado o resgate do sítio arqueológico, proporcionou poucos
fragmentos cerâmicos para a análise.
A partir da análise geral do material cerâmico de todos os sítios arqueológicos das
PCHs Plano Alto e Alto Irani, pode-se tecer algumas considerações e observações.
No modo de produção, foi verificado que a maior quantidade do material cerâmico de
todos os sítios foi confeccionado pela técnica de confecção modelada a mão livre, o que é uma
das características da Tradição Taquara-Itararé; e em mínima quantidade pelo acordelado. A
técnica de confecção é identificada a partir das marcas que cada uma das técnicas deixa, por
exemplo, “um pote modelado quebra-se em cacos irregulares, enquanto um anelado terá cacos
retangulares, havendo uma quebra nos pontos fracos, que são as juntas dos antigos roletes”
(Prous, 1992, p. 92).
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
125
O emprego das técnicas de modelagem e acordelamento pode também ocorrer
combinado em uma mesma vasilha, em partes diferentes, ou algumas vasilhas serem
totalmente modeladas ou acordeladas. Tem sido observado que alguns vasilhames da
Tradição Taquara-Itararé são produzidos inicialmente modelando o fundo do vasilhame a mão
livre, resultando em bases modeladas que, quando fraturadas, possuem forma irregular.
Depois é empregada a sobreposição de roletes, até obter a forma desejada. Em alguns casos
deste material, pôde-se observar que os fragmentos que apresentavam a técnica do
acordelado referiam-se a bordas; outro aspecto comum, o uso da técnica de modelagem na
base e acordelamento na parte superior da vasilha.
O antiplástico ou tempero são os elementos não-plásticos adicionados à argila e que
não irão sofrer modificação de volume durante o processo de queima. Segundo Prous (1992, p.
91), os antiplásticos “formarão uma espécie de armação estável, evitando o rachamento
enquanto as argilas vão se ressecando. Este material é freqüentemente silicosos (grãos de
areia, cascas de árvores ou espículas de esponjas), podendo ser também conchas ou cacos
moídos, etc. Eventualmente trata-se de material encontrado na própria argila, que é recolocado
em dose controlada”.
Neste material cerâmico foi utilizado o antiplástico do tipo mineral, não sendo
encontrada outra variedade. O antiplástico mineral fino, ou seja, com espessura menor que 5
mm, foi o predominante. Mas alguns fragmentos, em pequena escala, apresentaram minerais
com espessura grossa (>5 mm). Isto indica que os artesões empregaram areia peneirada no
antiplástico para obter paredes com melhor acabamento.
A queima da pasta interna dos fragmentos cerâmicos é identificada a partir do exame
do miolo da parede, mostrando uma variação na cor do núcleo. Neste material a maioria dos
fragmentos apresentou o núcleo interno de cor clara ou alaranjada, indicando que a queima foi
do tipo oxidação total, ou seja, durante a queima a vasilha esteve exposta à presença de
oxigênio durante todo o processo. No tipo de queima com oxidação total, a cerâmica apresenta
um miolo com coloração clara, devido à presença de oxigênio no processo de queima.
Segundo Meggers e Evans (1970, p. 29) “estas diferenças de cor refletem diferenças em
ventilação, temperatura, e duração da queima: corte de perfil mostrando um núcleo totalmente
alaranjado resulta de uma queima com boa ventilação, realizada durante tempo suficiente para
completar a oxidação da argila”.
A parede das vasilhas possui na maioria do material uma espessura fina que variou
entre 0,5 cm e 0,8cm, e em raros casos ultrapassou 1 cm de espessura. Isto indica vasilhas de
paredes finas, mas também de tamanho pequeno a médio, pois vasilhas maiores necessitam
de paredes mais espessas para se sustentarem.
As marcas de uso observadas foram do tipo fuligem externa, queima interna e resto de
alimentação carbonizada no interior. A localização da fuligem na vasilha indica a maneira como
foi usada no fogo: nas paredes indica uso dentro do fogo e na base indica uso suspenso sobre
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Irani, SC – Relatório Final.
126
fogo (Wust, s/d). Um fragmento da metade superior de uma vasilha no sítio AI-17 (foto 243)
possui vestígios de queima em forma de uma faixa na parte superior do bojo e junto à borda,
indicando possivelmente que a vasilha foi levada ao fogo, provavelmente apoiada sobre
pedras, numa fogueira estruturada, tratando-se provavelmente de uma vasilha com a função de
cozer alimentos. A presença de uma crosta resultante de restos de alimentação carbonizada na
face interna de alguns fragmentos cerâmicos, também indica que estas vasilhas foram
utilizadas para cozinhar alimentos.
O tratamento pós-queima na cerâmica para obter fechamento intencional dos poros
poderia ser obtido com a aplicação de sucos de plantas, esfregando folhas, com aplicação de
engobos e através da brunidura. A brunidura teria a função de impermeabilizar o vasilhame,
caracterizando-se por uma superfície escura e lustrosa. A brunidura foi detecta na superfície de
alguns fragmentos cerâmicos deste material. O uso de engobo é pouco comum na cerâmica
relacionada à Tradição Taquara-Itararé, sendo identificada em dois fragmentos do sítio AI-17.
A maneira como a brunidura seria efetuada no processo de confecção da vasilha
cerâmica é descrita por Ploetz (1930, p.172-173), e apresentada por Lavina (2002) no
levantamento das Informações Etnográficas sobre os Kaingang do Brasil Meridional: “uma vez
terminada esta operação, elas colocam o vasilhame em um cesto e o expõe à fumaça até
adquirir a cor negra característica. Só depois é que a submetem à cocção. Uma vez cozida,
elas a esfregam com punhados de liquens”. Esta poderia ser uma das formas de se obter a
brunidura.
Na maioria dos sítios, constatou-se que há mais fragmentos decorados do que simples,
isto indica que a maior parte da parede da vasilha entre a base e o lábio era decorada, e não
somente uma faixa. A elevada quantidade de fragmentos decorados também se reflete na
profusão de tipos e padrões decorativos. Alguns sítios apresentaram algumas particularidades,
como no o caso do SC-PA-08, que possui somente variações de tipos de incisos; e outros com
a ausência de tipos incisos feitos por linhas, como no sítio SC-AI-02 e SC-AI-08, mas por outro
lado, uma grande quantidade de decorados do tipo ponteado e carimbado. Na maioria dos
sítios observa-se a abundância de combinação de mais de um padrão decorativo numa mesma
peça, sendo muito comum o uso de linha paralelas em vários sentidos (horizontal, vertical,
obliqua) combinadas e em alguns casos agregadas com o tipo ungulado, ponteado ou
estocado, como observado no material dos sítios SC-PA-04, SC-PA-08 e SC-AI-17.
Na maioria dos casos a decoração onde foi possível observar a extensão da decoração,
esta ocupava quase toda á área do bojo da vasilha entre o lábio e a base. Raros casos de
decoração zonal em apenas uma faixa, e neste caso provavelmente na parte do bojo superior
da vasilha. Este dado, grande quantidade de fragmentos decorados corrobora a hipótese de as
vasilhas possuíram a maior parte da sua coberta com decoração.
Quanto à morfologia dos fragmentos cerâmicos, segundo os gráficos apresentados, a
grande parte é composta por bojo, até porque a vasilha possui uma área muito maior de corpo
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
127
que nas demais áreas. Enquanto que poucas são bordas, e menos ainda as bases.
Quanto ao item reforço de borda, na maioria das bordas é ausente, e nas em que há,
este se encontra na face externa, além daqueles em que não foi possível identificar. Sobre o
reforço externo nas bordas, há um dado interessante de Moreira Pinto (apud Lavina, 2002,
265), que diz que os Kaingang fabricam vasilhames cerâmicos de forma troncônica com bordas
salientes para poderem ser suspensos. Observando-se as poucas formas reconstruídas e os
perfis de borda, pode-se perceber em geral vasilhas bojudas com gargalos e bordas
reforçadas, o que poderia estar relacionado ao objetivo de serem suspensas, conforme
informação do autor.
4.2. LÍTICO
Adelson André Brüggemann
Sirlei Hoeltz
Os trabalhos arqueológicos desenvolvidos nas áreas de abrangência das PCH’s de
Plano Alto e Alto Irani, vale do rio Irani, no oeste do Estado de Santa Catarina, resultaram no
estudo de 19 conjuntos líticos.
Tais materiais foram identificados em sítios a céu aberto, associados ou não a
fragmentos cerâmicos, e também como ocorrências arqueológicas discretas ou isoladas. Tratase de locais impactados pelas atividades agrícolas, cujos objetos foram, na sua maioria,
identificados em superfície, exceto na prospecção de seis sítios, onde um deles chegou a
atingir 1,20 metros de profundidade.
O resgate totalizou 4.041 peças líticas, porém 87,95% do material provêm apenas de
dois sítios: 34,08% do sítio SC-PA-04, na área de Plano Alto, e 53,87% do sitio SC-AI-17, na
área de Alto Irani.
Na tentativa de esclarecer a dinâmica da vida dos grupos caçadores coletores e
ceramistas que habitaram a região, procurou-se verificar, entre outros fatores, a variabilidade
de seus registros arqueológicos a partir do estudo da cadeia operatória dos objetos líticos, e os
associar a sistemas de assentamentos de grupos pré-históricos como índice de identidade e
identificação cultural.
Elaborou-se, para tanto, uma lista de análise que permite comparar os vários conjuntos
líticos e apontar o que é que se modifica no que diz respeito às estratégias adotadas pelos
grupos na organização do uso dos espaços.
Embora se tenha, na maioria dos sítios, verificado a associação de fragmentos
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
128
cerâmicos aos objetos líticos, as descrições que seguem dizem respeito somente à análise do
material lítico.
4.2.1. Aspectos Teóricos da Tecnologia Lítica
Considera-se que cabe ao artesão, até chegar ao produto final de sua produção lítica,
efetuar uma seqüência de gestos técnicos que reflete a característica técnica de um grupo
como um todo. É somente através da análise particular dos lascamentos e retoques que as
diversas indústrias líticas se diferenciam. A tecnologia lítica, segundo Vialou (1980, p. 65), é
invariável na sua organização sistemática e universalmente idêntica. A originalidade ocorre
somente quando os elementos são vistos separadamente, "[...] uma matéria prima nova, um
artesão diferente, daí o estilo".
A tipologia, a saber, o reconhecimento dos utensílios e sua classificação em tipos,
quando se fundamenta em dados tecnológicos, têm acesso tanto ao particular como ao
universal; sabe reconhecer em que uma indústria é original, única mesmo; sabe
simultaneamente mostrar em que se inscreve num contexto geral, local, regional ou mais vasto
ainda (...) (Vialou, op cit.).
Seguindo semelhante raciocínio, Collins (1989/90, p. 51-52) afirma que “a tecnologia
está marcada pelas limitações impostas pelo comportamento da fratura conchoidal, da
natureza das rochas e minerais possuidores de propriedades para o lascamento e da
capacidade das culturas primitivas para executar e controlar as forças. (...) qualquer tecnologia
lítica específica está estruturada em resposta às necessidades da cultura, escolha, qualidade e
conhecimento dos artesãos, assim como os fatores, classe, quantidade e qualidade da matériaprima. Quando o acesso à matéria-prima ou as necessidades culturais trocam, se produzirão
trocas na tecnologia”.
Para o autor (Collins, op cit.), a manufatura dos instrumentos, embora siga um
procedimento linear, não invalida a possibilidade de analisá-la em etapas, mesmo que essas
etapas não sejam suficientemente distintas, em termos de procedimento e rendimento, a ponto
de individualizá-las. Assim, refere-se a essas etapas como "grupo de produtos", onde cada
grupo contém características próprias com qualidades de rendimento diferentes entre si, mas
de forma que o rendimento de dada etapa ou grupo dependa do rendimento anterior. Seu
modelo de análise é composto de cinco etapas, que são: obtenção da matéria-prima,
preparação e redução inicial de núcleos, lascamento primário opcional (modificação primária),
lascamento secundário e formatização opcional (modificação secundária) e conservação ou
modificação opcional de peças desgastadas pelo uso. Acrescenta ainda que cada grupo de
produtos, exceto o primeiro, consiste de duas classes de materiais: os produtos de dejetos
(resíduos de lascamento) e os objetos destinados a maior redução ou uso.
A primeira etapa é a obtenção da matéria-prima, que, na concepção do autor, refere-se
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
129
às rochas ou minerais que são lascáveis de modo que o artesão as seleciona entre os recursos
disponíveis. Os meios mais comuns de adquirir a matéria-prima são a coleta, a exploração de
afloramentos e alguma forma de importação. Nos locais em que a matéria-prima ocorre em
superfície (depósitos coluviares, praias, peças soltas deixadas pela erosão de uma matriz), a
única atividade de obtenção necessária é a coleta seletiva. Pode ocorrer que a matéria-prima
desejada deva ser extraída de afloramentos e muitas vezes o material está exposto na
superfície em quantidade insuficiente ou de qualidade inferior, indicando que mais e melhor
material poderia ser obtido em depósitos profundos. Outra situação diz respeito ao fato do
material desejado para lascar não se encontrar disponível localmente. Nesse caso, alguma
forma de importação deve ser empregada. Em resumo, a obtenção da matéria-prima pode
ocorrer de várias formas e os artesãos se abastecem dos materiais necessários ou desejados
para a produção de artefatos líticos através da articulação direta ou indireta com o ambiente
físico. Uma vez que a matéria-prima tenha sido obtida, a redução inicial pode ocorrer
imediatamente no local de obtenção ou então ser transportada para o sítio arqueológico e lá se
dar continuidade ao processo de produção dos artefatos (Collins, op cit., p. 53-55).
A segunda etapa é a de preparação e redução inicial de núcleos, onde o artesão deve
transformar a matéria-prima em uma forma apropriada para usar como ferramenta ou para uma
maior redução (Collins, op cit., p. 55-56). As lascas obtidas nessa etapa são denominadas de
lascas primárias (corticais), que apresentam a face externa e/ou o talão total ou parcialmente
cortical (Prous, 1986/90, p.17). Essa etapa constitui-se de três opções básicas:
1. Pode concentrar-se na formatização do núcleo, utilizando-o como base para a
produção de um artefato, e descartar todas as lascas que se desprendem desta formatização;
2. Pode otimizar o desprendimento das lascas, utilizando-as como base para a
produção de artefatos, e descartar o núcleo esgotado; ou ainda;
3. Pode reter ambos, o núcleo e as lascas desprendidas, de forma a utilizá-los
imediatamente após a redução inicial sem sofrerem qualquer tipo de modificação (retoques).
A terceira etapa diz respeito ao lascamento primário opcional (modificação primária),
onde as lascas e os núcleos da atividade anterior podem ser lascados antes de usados ou
reduzidos ainda mais. O principal objetivo desta atividade é dar forma ao artefato. Esta
formatização pode ocorrer de diversas maneiras, mediante a modificação por retoques nas
bordas dos núcleos e das lascas (Collins, 1989/90: 56). Essa modificação primária de núcleos
e lascas produz também resíduos de lascamento, onde com a retirada de novas lascas sobre
as cicatrizes das primeiras retiradas obtêm-se lascas sem córtex, cuja face externa e/ou talão
apresentam cicatrizes dos lascamentos anteriores: são as lascas secundárias (Prous, 1986/90,
p.18).
O lascamento secundário e formatização opcional (modificação secundária)
correspondem à quarta etapa de produção e as pré-formas do grupo anterior constituem o
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
130
ponto de partida desta atividade. Para Collins (1989/90, p. 56), as pré-formas são lascadas
bifacialmente exibindo as formas do produto acabado e esta etapa inclui, predominantemente,
o processo do lascamento bifacial. O autor observa que esta etapa corresponde à produção de
instrumentos mais complexos, como as pontas de projétil, cujas pré-formas anteriores recebem
uma modificação secundária ou refinamento através de retoques por pressão, antes de se
tornarem funcionais.
A quinta e última etapa corresponde à conservação ou modificação opcional de peças
desgastadas pelo uso, cujos artefatos com bordas desgastadas podem ser reciclados. Ou as
bordas são reativadas de forma a manterem sua função original, ou os artefatos são totalmente
modificados, transformando-se em novas peças com outra funcionalidade (Collins, op cit., p.
57).
4.2.2. Análise dos Objetos Líticos
Considerando os pressupostos teóricos acima descritos, o estudo das indústrias líticas
desenvolveu-se a partir da análise tecno-tipológica dos objetos, que enfoca tanto a procedência
da matéria-prima, quanto às tecnologias de produção empregadas na transformação destas
diferentes matérias-primas em artefatos, além da distribuição quantitativa e qualitativa dos
resíduos de lascamento e a análise funcional dos artefatos relacionadas a retoques e marcas
de utilização.
Conforme Andrefski (1988, p.134) a produção da debitagem é sensível a um número
variado de diferentes tipos de comportamento tecnológico e a combinação dos atributos pode
variar dependendo das limitações associadas à produção, uso, manutenção e descarte dos
artefatos. Não existe uma fórmula do tipo “livro de receitas” para o tipo e escala de análise que
deve ser conduzida na debitagem para se obter um tipo específico de interpretação de
comportamento. Para o autor, as interpretações mais convincentes são aquelas que usam
resultados derivados de diferentes atributos de debitagem e/ou tipos de debitagem.
Sob essa perspectiva, adequou-se o modelo de Dias e Hoeltz (1997) para efetivar as
análises.
Segue a apresentação dos atributos analisados na lista individualmente.
Lista de Análise do Material Lítico14:
Dados de identificação:
A. Número de Catálogo: identificação do material arqueológico de um sítio em
14
Ver o anexo 3.
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Irani, SC – Relatório Final.
131
laboratório.
B. Setor: divisão do sítio conforme as coordenadas geográficas.
C. Quadrícula: subdivisão do sítio de 1m2 .
D. Nível: altura da camada arqueológica escavada.
E. Nº. de Coleta: identificação do material arqueológico de um sítio em campo.
Atributos para caracterização dos dados básicos
Aqui são indicados todos os artefatos líticos produzidos durante o seu processamento,
em suas formas básicas e os atributos que são comuns a todas as peças.
Os atributos que compõem esta lista baseiam-se nos trabalhos de Tixier et al (1980),
Laming-Emperaire (1967), Brezzilon (1977) e Moraes (1987), sendo os seguintes:
F. Forma Básica
Bloco Natural: rocha natural que não sofreu ação antrópica.
Lasca: fragmento de rocha, debitado por uma percussão, aplicada em um ponto
periférico determinado do núcleo. A lasca apresenta, tipicamente, uma face externa dorsal (a
que se encontrava no exterior do núcleo antes da debitagem), uma face interna ventral (a que
se encontrava no interior do núcleo antes da debitagem) e um talão (a superfície sobre a qual
foi aplicada a percussão), (Laming-Emperaire, 1967, p. 35).
Dependendo do tipo das técnicas de lascamento o produto resulta em lascas unipolares
ou bipolares. São lascas que, por apresentarem características bastante peculiares, são
perfeitamente identificáveis.
Crabtree (1972, p. 11-12) também denomina o lascamento unipolar de lascamento por
percussão direta ou lascamento controlado. Os passos técnicos associados ao lascamento
unipolar são descritos da seguinte forma por Prous:
Segundo a técnica mais clássica, dita de lascamento unipolar, o
artesão ou o experimentador segura um bloco (núcleo) de matériaprima na mão direita. Escolhendo uma superfície adequada (plano de
percussão), bate nestas para retirar lascas de um bloco. Esta operação
deve ser feita em função de normas estritas, sendo uma delas a de que
o ângulo entre o plano de percussão e a parte externa do bloco a ser
lascado seja igual ou inferior a 90º (senão não haverá lascamento)
(Prous, 1986/1990, p. 17-18).
Em função dos sucessivos golpes desferidos em sua superfície, os núcleos unipolares
apresentam-se vincados de cicatrizes que correspondem ao negativo da face interna das
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Irani, SC – Relatório Final.
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lascas que se desprenderam. Tanto a cicatriz deixada no núcleo, quanto à face interna da
lasca unipolar apresentam evidências da dispersão do impacto que provocou o lascamento, na
forma de ondas de força. A força do golpe faz com que parte da plataforma percutida
desprenda-se do núcleo, formando o talão da lasca. A percussão também produz, na lasca
unipolar, um bulbo marcado de onde divergem as ondas de força, conferindo a sua face interna
uma conformação levemente côncava.
Quanto ao lascamento bipolar, Rütschilling (1989, p. 47) diz que proporciona o
rompimento de pequenos núcleos de matéria-prima, a partir de percussão com apoio. O termo
bipolaridade dá-se em função dos dois pólos de força em ação no processo de produção de
lascas. O golpe no plano de percussão direta produz uma contra-força no ponto de apoio
(plano de percussão indireto), gerando dois pólos de força em oposição linear, cuja ação
acarreta a ruptura do núcleo.
As lascas bipolares, para a autora, geralmente tem duas faces planas, ou ligeiramente
planas, onde nas extremidades são visíveis plataformas opostas correspondentes às zonas de
impacto direto e indireto. A face mais plana quase sempre é interna. A face externa apresenta
freqüentemente irregularidades provocadas por lascamentos ou desprendimentos anteriores.
Acrescenta ainda que quando a direção do golpe se faz em um ângulo diferente de 90º com a
superfície do núcleo, a propagação do mesmo não atingirá a extremidade oposta apoiada. O
golpe se dissipará em outra direção, podendo gerar lascas com bulbo positivo ou sem ponto de
percussão indireto (Rütschilling, op cit., p. 50).
Prous e Lima descrevem os procedimentos técnicos associados ao lascamento bipolar
da seguinte forma:
A peça a ser debitada é colocada verticalmente sobre a face
plana de uma bigorna de rocha, preferencialmente resistente (...). O
batedor é segurado em uma das extremidades, mas será usada uma
parte próxima ao centro da face (nunca as extremidades; sob pena de
machucar a mão que segura o bloco a ser debitado). Algumas
percussões leves devem provocar a saída de lasquinhas curtas do
bloco, tanto do lado proximal (o que recebe o impacto do batedor),
quanto do lado distal (em contato com a bigorna); estes golpes
preliminares esmagam ambas as zonas percutidas e visam assentar a
peça melhor sobre a bigorna (...) e a debitagem pode ser iniciada com
golpes mais violentos. É geralmente aconselhável provocar um
rachamento total do bloco núcleo com uma pancada violenta,
apertando o núcleo entre os dedos. Assim sendo, o bloco se separa em
duas metades (por vezes um seixo pode rachar em 3 ou 4 gomos)
[que] (...) podem servir de núcleos para obter lascas finas e muito
cortantes (Prous e Lima, 1986/1990, p. 97-98).
O estudo da dispersão dos resíduos de bipolaridade pelos autores revelou que “a
dispersão dos produtos de debitagem a partir da bigorna se faz em um ângulo de no máximo
110º à frente e a direita do experimentador. As peças maiores ficam entre os dedos, as de
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tamanho médio saltam até 30 cm e os estilhaços podem ir até 1 metro de distância” (Prous e
Lima, op cit., p. 98).
Desse modo, as lascas podem ser:
Unipolares: lascas com um ou mais pontos de percussão obtidas através da percussão
unipolar. Na face ventral da lasca pode formar-se um bulbo e cicatrizes dependendo do tipo de
matéria-prima, do peso do percutor e da força e velocidade do impacto.
Bipolares: lascas com dois pontos opostos de impacto. Segundo Heinzelin, são lascas
"obtidas por debitagem bipolar. As ondas de impacto se propagam às vezes em dois pontos
opostos da mesma lasca, mas nem sempre" (Heinzelin de Braucourt, 1962, p. 13 apud
Brézillon, 1977, p. 101). Segundo Prous e Lima, as lascas bipolares não apresentam, em
muitos casos, nem talão, nem face interna, nem face externa no sentido habitual. "São
produtos de debitagem finos, com gumes agudos, cujo talão é substituído por uma linha de
esmagamento (...) Em conseqüência, lascas bipolares têm tendência a serem mais retas que
as unipolares" (Prous e Lima, 1986/90, p. 100).
Núcleo: a designação de núcleo envolve contradições entre os vários autores. Vialou o
define como "o que resta do bloco da matéria-prima após o lascamento, um resíduo" (Vialou,
1980, p. 64). Entende que um núcleo somente tem por função fornecer uma quantidade relativa
de lascas e que é comum, seja por confusão de formas ou por hipóteses de funcionamento, vêlo designado como raspador, peça bifacial, utensílio com reentrância, etc. Brézillon afirma
serem as definições de núcleos em geral constantes e cita Leroi-Gourhan, dizendo que "toda
massa de matéria prima-debitada toma forma de núcleo" (Leroi-Gourhan, 1964, p. 9 apud
Brézillon, 1977, p.87).
Laming-Emperaire (1967, p. 35) conceitua núcleo de uma forma similar, dizendo ser um
bloco de matéria-prima preparado para que dele se possa tirar uma ou uma série de lascas. No
entanto, cita um tipo de núcleo "re-utilizado", que se caracteriza como um núcleo que não é
mais utilizado como tal, mas no qual um ou vários cantos foram retocados e utilizados como
utensílio. Por esse motivo, quando alguns autores referem-se a "raspador sobre núcleo" ou
"raspador sobre lasca" subentende estarem eles se referindo à forma básica original deste
raspador.
Fragmento de Lasca: lasca incompleta, sem a parte proximal.
Fragmento de Núcleo: núcleo incompleto no seu comprimento, largura ou espessura.
Detrito: "[...] peça sem forma definida que não possuem retiradas ou retoques ou ainda
uma morfologia que lhes defina a função." (Moraes, 1977, p. 45 apud Moraes , 1987, p. 56).
Artefato Bifacial/Unifacial: artefatos bifaciais são os que apresentam lascamentos
bifaciais, isto é, retiradas sobre duas faces a partir de uma mesma borda; e artefatos unifaciais,
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
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são os que apresentam lascamentos unifaciais, isto é, retiradas sobre uma única face a partir
da borda.
Artefato Polido: peça que apresenta superfícies polidas.
Artefato Bruto: peça que apresenta ao menos uma superfície destinada a servir de base
de percussão ou fricção ao material a ser trabalhado, por isso são evidentes em suas
superfícies as marcas de utilização.
Termófero: peça com ou sem ação antrópica, destacada da rocha original pelo
aquecimento.
G. Matéria-prima
Das qualidades físicas, mecânicas e químicas da matéria-prima dependem as técnicas
de lascamento que são empregadas. Assim, a matéria-prima está intimamente associada a
processos produtivos específicos e à formação de instrumentos característicos. Identificou-se a
utilização das seguintes matérias-primas, as quais são definidas segundo Dana e Hurlbut
(1976, p. 530-573) e Schumann (1985, p. 50-52/114):
Basalto: rocha vulcânica de coloração escura e granulação fina, por vezes amigdalóides
(cavidades preenchidas) ou vesiculares (cavidades vazias). Geralmente são rochas maciças e,
por isso, oferecem lascamento precário; porém, em outros casos, existem estruturas de fluxo
ígneo que marcam descontinuidades físicas e propiciam maior facilidade de lascamento.
Arenito Silicificado: também chamado de metaquartzito ou arenito intertrápico e oriundo
do pirometamorfismo entre lava (basáltica) e arenito. São rochas extremamente endurecidas
junto ao contato com o derrame sotoposto e de fratura conchoidal cortante.
Arenito: rocha sedimentar onde as camadas de areia se consolidaram em massas
rochosas. Os grãos de areia podem ser cimentados por sílica, carbonato, óxido de ferro ou
material argiloso. O quartzo é o principal componente na formação dos arenitos. A cor da rocha
depende da natureza do cimento.
Calcedônia: variedade criptocristalina fibrosa do quartzo. Apresenta variada coloração,
brilho céreo, translúcida. Freqüentemente reveste ou preenche cavidades nas rochas. A
calcedônia apresenta bom lascamento em virtude de características estruturais oriundas de
suas cristalizações. A formação destes minerais dá-se pela precipitação química em camadas,
resultando em descontinuidades físicas, permitindo deste modo um fácil lascamento.
Quartzo leitoso e hialino: os cristais de quartzo leitoso são comumente prismáticos, com
as faces do prisma estriadas horizontalmente. Fratura concóide, brilho opaco e dureza 7 na
escala de Mohs. O quartzo hialino possui as mesmas características do quartzo leitoso. É uma
variedade cristalina do quartzo de granulação grossa. Quartzo incolor - cristal de rocha.
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Meta-Lamito: lamito recristalizado por metamorfismo termal. Rocha formada em
ambiente sedimentar, de baixa energia de transporte, tendo como área fonte os derrames
basálticos e que sofreu metamorfismo termal, com a recristalização da matriz em calcedônia,
quando da ocorrência de novo derramamento.
H. Estado de Preservação
Apresentação geral da peça, podendo ela estar completa (inteira) ou incompleta
(fragmentada). Se incompleta, pode estar fragmentada em seu comprimento e/ou largura e/ou
espessura.
I. J. K. Medidas
As dimensões são tomadas nas três direções da peça e informam seu comprimento,
largura e espessura. O comprimento para as lascas é medido segundo o seu eixo de
lascamento (longitudinal), isto é, perpendicular ao plano de percussão da peça. Largura e
espessura são medidas perpendicularmente ao comprimento. Para os núcleos, o comprimento
é mensurado paralelamente ao eixo longitudinal dos negativos de lascamentos predominantes.
A largura (maior medida) e a espessura (menor medida) são também tomadas
perpendicularmente ao comprimento. Quando não é possível definir predominância de
negativos, estabelece-se como comprimento o seu maior eixo de lascamento. Esse
procedimento permite comparar dimensões entre núcleos e lascas.
L. Quantidade de Superfície Natural (córtex)
Total: A superfície natural corresponde à camada externa da peça, cuja espessura
depende simultaneamente da duração da exposição aos agentes atmosféricos, das condições
climáticas e da natureza da matéria-prima empregada pelo artesão. A quantidade de superfície
natural presente numa peça é variável, podendo cobrir algumas partes, ser totalmente coberta
ou ainda não apresentar córtex.
M. Origem da Matéria-Prima
Sua classificação depende da presença de superfície natural na peça. Desse modo,
pode ser:
Sem informação: não apresenta mais nenhum vestígio da camada externa, não sendo
possível, dessa forma, determinar sua origem, se de seixo ou de bloco.
Seixo: são fragmentos destacados há algum tempo da rocha-mãe, com as arestas
desgastadas, formas arredondadas e superfície geralmente lisa, devido ao transporte (ação
mecânica). Nesse trabalho consideramos seixo as peças obtidas nos leitos dos rios (córtex liso
pela ação da água).
Bloco: presença da camada externa de alteração de uma rocha, que, nesse caso, indica
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ser a matéria-prima proveniente de afloramentos. Afloramentos são os locais naturais das
rochas, sendo, portanto, a matéria-prima destacada diretamente da rocha-mãe. A superfície
não é lisa e nem as arestas são tão desgastadas quanto as de um seixo.
Placa: Fragmentos destacados da rocha-mãe com formas geralmente retangulares,
onde ambas as faces (dorsal e ventral) são planas.
Indicadores Tecnológicos
Este item procura decompor o material lítico lascado em suas características
tecnológicas básicas. Como a confecção de artefatos líticos baseia-se em uma tecnologia
extrativa, produz grande quantidade de resíduos diferenciados de acordo com a etapa de
produção. Sua análise, portanto, permite a reconstituição da cadeia operatória por trás dos
artefatos, mesmo quando estes se encontram ausentes. A arqueologia experimental, bem
como a etno-arqueologia, auxilia-nos a compreender esta categoria de fenômenos de forma
particularizada, decomposta em diferentes indicadores (Dias e Hoeltz, 1997). Esta etapa de
análise abrange quatro grupos, envolvendo as formas básicas: lascas, núcleos, bifaces e
artefatos brutos.
Atributos para Caracterização de Lascas
Tendo como orientação básica a seqüência de produção definidas por Collins (1975) entre produtos de redução inicial (preparação inicial da matéria prima para a extração de
córtex), modificação primária (pré-formatação das bases de produção de artefatos, sejam
esses produzidos sobre núcleos ou sobre lascas através de tecnologia unipolar ou bipolar) e
modificação secundária (associado à finalização e acabamento por retoque), as lascas foram,
segundo atributos técnicos característicos, divididas em várias categorias - variando também
segundo os critérios adotados pelos pesquisadores.
Laming-Emperaire (1967, p. 36) e Collins (1975) as dividem nos seguintes tipos:
Dados de Lascas Unipolares
N. Tipo de Lascas
Lascas unipolares iniciais ou corticais – segundo Leroi-Gourhan (1966 apud LamingEmperaire, 1967, p. 36), correspondem à primeira lasca destacada do núcleo, ainda revestida
de córtex. A parte dorsal é completamente coberta por córtex e o plano de percussão, quando
existente, é de uma plataforma natural da rocha. São lascas primárias (Prous, 1986/90, p. 17).
Correspondem aos resíduos de lascamento resultantes da segunda etapa de produção de
Collins (1989/90).
As lascas citadas a seguir podem tanto ser o produto dos resíduos de lascamento
obtidos na terceira quanto na quarta etapa de produção de Collins.
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Lascas unipolares primárias ou de preparação – São lascas retiradas após o primeiro
lascamento de uma massa de matéria-prima. Apresentam no seu dorso marcas dos
lascamentos precedentes ou até restos de córtex (Laming-Emperaire, 1967, p. 36).
Apresentam um plano de percussão pronunciado, largo, indiferente ao tamanho da lasca.
Também denominadas, segundo Leroi-Gourhan (1966 apud Laming-Emperaire, 1967, p. 36),
lascas de descortinamento; ou, segundo Prous (1986/90, p. 18), lascas secundárias.
Lascas unipolares secundárias ou de redução de biface – Lascas derivadas da
produção de artefatos bifaciais. São de pequena espessura e seu perfil longitudinal,
geralmente, apresenta uma leve curvatura. Apresentam o plano de percussão estreito e, por
vezes, formando um lábio em seu canto ventral. A lasca bifacial é produto de uma retirada
posterior à de preparação, sendo mais própria à finalização e ao acabamento, podendo ser até
mesmo o produto dos lascamentos de retoque.
Lâminas – São definidas como lascas cujo comprimento é igual ou superior a duas
vezes sua largura (Brëzillon, 1977, p. 99).
Microlascas ou lasca de retoque – Também produto de lascamentos de retoque, mas
diferenciam-se das lascas bifaciais por serem pequenas, finas, talão reduzido, puntiforme ou
ausente e sem formação de lábio. Associam-se à última etapa de refino ou acabamento do
artefato, designado de modificação secundária por Collins.
Lasca de machado polido – Lascas derivadas de machados polidos; reconhecidas pelo
polimento existente na sua face dorsal.
O. Tipo de Plano de Percussão Direto
É a superfície que recebeu o golpe que destacou a lasca de seu núcleo (LamingEmperaire, 1967, p. 51). Tixier et al (1980, p. 41) denomina-o "talão" ou "parte destacada do
plano sobre o qual se deu o golpe". Este plano pode ser natural da rocha ou preparado pelo
artesão, podendo apresentar-se:
Liso: Superfície plana, regular, com negativo de apenas um lascamento.
Facetado: Superfície irregular, com negativos de dois ou mais lascamentos. É completo
quando no negativo se evidencia o ponto de percussão; e incompleto, quando o ponto de
percussão foi retirado devido a lascamento ou redução sobreposta.
Linear/Puntiforme: Plano muito estreito, linear, onde se observa o ponto de impacto do
golpe.
Superfície natural (córtex): O plano de percussão é a própria superfície natural da
rocha.
P. Canto Dorsal do Plano de Percussão Direto
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É o canto externo do plano de percussão. Segundo Laming-Emperaire, “é aquele que,
antes da debitagem, constituía a borda do plano de percussão do núcleo" (Laming-Emperaire,
1967, p. 51). Este canto pode ser preparado para a retirada da lasca, recebendo vários golpes
e ficando reduzido; neste caso, temos um canto com redução dorsal. Ou não ser preparado e,
portanto, não apresentar redução dorsal. Esta redução pode apresentar-se escalonada,
macerada (idem item anterior), ou ainda, apresentar somente uma cicatriz de lascamento
(redução não intensa). Se não houver redução, o canto pode apresentar superfície natural.
Dados de Lascas Bipolares
São lascas com dois pontos opostos de impacto. Segundo Heinzelin, são lascas
“obtidas por debitagem bipolar. As ondas de impacto se propagam às vezes em dois pontos
opostos da mesma lasca, mas nem sempre” (Heinzelin, 1962, p.13 apud Brézillon, 1977, p.
101). Segundo Prous e Lima, as lascas bipolares não apresentam, em muitos casos, nem
talão, nem face interna, nem face externa no sentido habitual. “São produtos de debitagem
finos, com gumes agudos, cujo talão é substituído por uma linha de esmagamento (...) Em
conseqüência, lascas bipolares têm tendência a serem mais retas que as unipolares” (Prous e
Lima, 1986/90, p. 100). Morfologicamente, se dividem em: cônicas, laminares, angulares e
prismáticas.
(N) Tipo de Plano de Percussão Direto: Podem ser os mesmos planos definidos para
lascas unipolares, acrescentando apenas mais um tipo:
Macerado/esmagado: Superfície irregular, com uma seqüência de negativos truncados,
formando uma série de pequenos degraus, ou ainda apresentar marcas consecutivas de
picoteamento, umas sobre as outras, provocando uma área irregular, resultado de um
picoteado intenso.
(O) Tipo de Plano de Percussão Indireto: Relacionado apenas às lascas bipolares. A
reflexão do golpe no apoio/bigorna bipolar produz pontos de percussão indiretos na região
distal da lasca. Os tipos produzidos são idênticos aos descritos no item dos tipos de plano de
percussão direta.
Atributos para Caracterização de Núcleos
O núcleo, para Vialou:
é um resíduo, quaisquer que sejam sua forma, o número e o
arranjo dos negativos do lascamento (...) a obtenção de planos de
percussão é o objetivo máximo no momento da preparação do bloco de
matéria prima, à medida que o núcleo se transforma pelas retiradas
sucessivas (Vialou, 1980, p. 70).
O núcleo, deste modo, pode apresentar-se de várias formas, dependendo da posição e
quantidade de planos de percussão (plataformas) presentes. Plataforma é o plano de
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percussão, ou melhor, o plano de retirada, é a superfície à margem da qual o golpe do percutor
é dado para lascar - debitar a lasca. Ocorre algumas vezes do núcleo apresentar retoques e/ou
marcas de utilização, o que indica que, após ser explorado como fonte de matéria prima
(esgotada ou não esta fonte), foi empregado para algum fim, transformando-se num artefato.
Resta, neste caso, apenas o núcleo como forma básica da peça. Vialou (1980, p. 70) refere-se
a alguns núcleos do sítio Almeida (SP) com arestas nitidamente entalhadas e que podem ter
servido como um denticulado ou uma lasca com reentrâncias. Diz serem estas utilizações
ocasionais, ou estas peças tiveram uma outra possibilidade técnica, servindo o núcleo para
uma finalidade diferente da original, onde o artesão aproveitou-se dos dados morfológicos
resultantes de um outro processo tecnológico. Talvez aqui semelhante situação tenha ocorrido,
pois não é raro encontrá-los utilizados de alguma forma.
N. Tipo de Núcleo
Tomando por base os tipos15 de núcleos apresentados por Vialou (1980, p. 71-74), mas
considerando certas diferenças, identificamos:
Núcleo unipolar com uma plataforma definida: Todas as retiradas são efetuadas a partir
de um único plano de percussão (plataforma). Este plano de percussão pode ser uma face
plana, uma fratura do bloco de matéria prima ou o negativo de uma retirada que extraiu a
calota de um núcleo. Estas retiradas, na maioria das vezes, tendem a concentrarem-se na
extremidade do núcleo, dando-lhe então uma forma piramidal ou de cone. Ou, ao invés de
convergirem a um ápice, as retiradas sempre unidirecionais ganham uma face oposta, que num
plano é quase que paralelo ao plano de percussão - "núcleo troncônico", segundo Vialou (1980,
p. 74). Neste caso tendem a uma forma retangular.
Núcleo unipolar com duas plataformas opostas: As retiradas são efetuadas a partir de
dois planos de percussão opostos entre si, de forma que estas retiradas tenham direções
paralelas e sentidos contrários.
Núcleo unipolar com duas plataformas em ângulo: Presença no núcleo de dois planos
de percussão que formam um ângulo entre si, de forma que tanto a direção quanto o sentido
das retiradas sejam variáveis.
Núcleo com várias plataformas em outras posições – poliédrico: As retiradas parecem
ser efetuadas em todas as faces do núcleo. Leroi-Gourhan (1964, p. 9 apud Brézillon, 1977, p.
90) denomina-o comumente de "núcleo globular", dizendo apresentar, às vezes, uma aparência
de plano de percussão irregular.
Núcleo bipolar: Núcleos que apresentam duas plataformas, uma direta e outra indireta.
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Não os classificamos como tipos, na verdade, representam diferentes técnicas e opções para
a obtenção de lascas que resultam em determinadas formas.
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Podem apresentar diversas formas.
O. Tipo de Plataforma
Os tipos de plataformas identificadas nos núcleos são os mesmos tipos de planos de
percussão identificados e descritos para lascas (item O). Evidencia-se, porém, mais um tipo de
plataforma: superfície ventral. Quando uma lasca é destacada de qualquer massa de matéria
prima e esta mesma lasca continua sendo fonte de uma série de outros lascamentos, ela passa
a ser um núcleo apresentando uma plataforma ventral (parte interna da primeira lasca retirada
da massa de matéria prima). Esta plataforma ventral pode ainda apresentar um negativo de
lascamento sobreposto ao seu bulbo e, neste caso, tem-se uma plataforma denominada de
superfície ventral com rebaixamento de bulbo. Observa-se que um único núcleo com mais de
uma plataforma pode apresentar vários tipos de plataformas.
P. Canto da Plataforma
Da mesma forma que o canto dorsal do plano de percussão das lascas (item P), as
plataformas do núcleo podem ser preparadas ou não: sem redução ou com redução.
Atributos para Caracterização de Artefatos Bifaciais/Unifaciais
Esta lista refere-se àqueles artefatos que apresentam lascamentos bifaciais e unifaciais.
Os artefatos bifaciais apresentam lascamentos tanto dorsais quanto ventrais numa mesma
zona da borda de uma peça; e os unifaciais apresentam lascamentos dorsais ou ventrais numa
mesma zona da borda da peça. São peças que apresentam uma técnica de confecção que
lhes é peculiar: uma seqüência de modificações (reduções e retoques) ao longo de toda a
borda dorsal e/ou ventral da peça (neste caso: face 1, com maior quantidade de negativos de
lascamento e, face 2, com menor quantidade de negativos de lascamento). Consideramos
também para análise a forma das extremidades da peça, isto é, se a sua terminação se dá em
ponta ou não. Deste modo, a análise dos negativos das modificações e da forma da peça
permitiu definir se os artesãos de um mesmo grupo de caçadores coletores, ao confeccionarem
seus artefatos bifaciais e unifaciais, obedeciam a uma seqüência de gestos técnicos préestabelecidos. Portanto, nosso objetivo é verificar a existência de um padrão de produção de
artefatos bifaciais.
Fugiria aos objetivos deste trabalho a tentativa de classificação das pontas de projétil.
Seguiu-se apenas a análise de seus aspectos técnicos, procurando constatar possíveis
diferenças locais.
N. Suporte:
Corresponde à forma básica inicial da massa de matéria-prima empregada para a
confecção dos artefatos bifaciais e unifaciais. Estes podem ser:
Bloco: A massa de matéria-prima utilizada provém de afloramentos.
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Seixo: A massa de matéria-prima utilizada provém de fragmentos há algum tempo
destacados da rocha-mãe e que foram transportados pela água.
Placa: Fragmento destacado da rocha-mãe, com formas geralmente retangulares, onde
ambas as faces (dorsal e ventral) são planas.
Lasca: Lasca proveniente de lascamentos por percussão direta, onde se observa
somente um único pólo no qual o golpe foi efetuado.
O. Tipos Tecnológicos
Classificados segundo a posição dos lascamentos (retiradas) bifaciais ou unifaciais, a
presença na parte proximal de superfície natural e a forma das extremidades, podem ser:
Tipo 1: Retiradas periféricas unifaciais em todo o contorno (ou apenas em uma lateral) e
sem terminação em ponta.
Tipo 2: Retiradas bifaciais em apenas uma extremidade e com terminação em ponta.
Tipo 3: Retiradas bifaciais com terminação em ponta e uma extremidade cortical.
Tipo 4: Retiradas periféricas bifaciais em todo o contorno e uma terminação em ponta.
Tipo 5: Ponta de projétil com pedúnculo.
Atributos para Caracterização de Peças Brutas e Polidas
Esta lista refere-se àqueles materiais que sofrem a ação dos materiais a serem
trabalhados. Estes artefatos apresentam uma superfície destinada a receber ou servir de base
de percussão ou fricção ao material a ser trabalhado, por isso são evidentes em suas
superfícies as marcas de utilização ou polimento.
N. Tipo de Artefato Bruto
As peças podem ser denominadas de:
Percutor: Seixos, geralmente de formas arredondadas, ovaladas ou elipsóides, cujas
superfícies apresentam-se alisadas. As superfícies da peça servem para bater, lascar, triturar
ou moer um outro material, de forma a apresentarem um picoteamento.
Percutores multifuncionais: Idem a um percutor onde as superfícies centrais, quando
apresentam uma leve depressão, servem como apoio a materiais destinados a serem triturados
ou quebrados.
Bigorna (apoio): Bloco de forma natural, não trabalhado, sendo que seu uso é evidente
por marcas de golpes impressos em sua face plana. São blocos que servem de apoio a
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materiais destinados a serem batidos, quebrados ou triturados por meio de um percutor
(Laming-Emperaire, 1967, p. 85).
Polidor Manual: Geralmente sobre plaquetas de arenito, raramente blocos. Apresentam
ambas ou apenas uma de suas faces alisadas. Sem um estudo das marcas de uso é
impossível determinar se estas plaquetas teriam servido para polir uma peça (por exemplo,
desgastar uma borda, produzindo uma plataforma de retoque) ou para moer e esmagar um
material mole (por exemplo, grãos).
Peça com depressão semi-esférica: Seixo ou pedra que apresenta uma ou várias
depressões situadas em uma ou em duas faces opostas.
Seixo sem modificação: massa de matéria prima transportada pela água sem ação
antrópica.
Alisador de Cerâmica: Pequenos seixos com superfície lisa para polir a cerâmica.
Possuem, como marcas de utilização, ranhuras e uma superfície brilhosa.
Mós (moedor): Pedra cuja parte útil é constituída por uma superfície plana ou, então,
ligeiramente côncava em virtude do uso. É parte complementar da mão de mó, utilizada na
moagem de alimentos.
Mão de Pilão: Semelhante à Mão de mó, é maior e atua por percussão, triturando grãos
ou minerais com sua extremidade distal.
Machado Polido: São peças que se apresentam totalmente polidas ou semi-polidas ou
com polimento apenas na sua extremidade distal (parte ativa). Sua borda distal geralmente é
convexa e a proximal convexa ou plana.
Atributos para Caracterização de Material Lítico com Modificação
O artesão, na intenção de confeccionar um dado artefato, executa uma série de gestos
técnicos tendo em mente uma forma já pré-estabelecida de seu produto final. Deste modo, o
artesão age intencionalmente na escolha da matéria prima, na seleção e produção da forma
básica do material e nos gestos técnicos que desencadeará para chegar ao produto final - o
artefato.
Segundo Moraes (1987, p. 170), artefato é todo objeto talhado com a finalidade de
apropriação de uma forma pré-concebida mentalmente e que se qualifica como tal pela
presença de retoque. Porém, as marcas de uso, quando existentes, não necessariamente
ocorrem somente em bordas retocadas, podendo ocorrer nas bordas "cruas" sem o
acompanhamento de retoques, ou mesmo nos materiais não retocados. Desta forma, Mansur
(1986/1990, p. 116) define artefatos pela evidência de utilização que apresentam. Nesta
análise, o artefato tem forma e/ou função definidas evidentes pelos retoques e/ou utilização
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que apresenta.
Não é nosso objetivo denominar artefatos e diferenciá-los em tipos (morfológicos ou
funcionais), procedimento da maioria dos pesquisadores. Interessa-nos, isto sim, a análise dos
aspectos técnicos que deram forma ao artefato, desde sua forma básica até as modificações
ocorridas, entendidas aqui como retoques e marcas de uso. Assim, não se fala, por exemplo,
em raspadores sobre lascas, raspadores sobre núcleos, facas, lesmas, etc, Deste modo,
tentamos evitar erros de terminologia apontados por Vialou (1980, p. 64), que afirma que não
só as tipologias funcionais como as morfológicas chegam, às vezes, aos mesmos erros.
Baseada na tecnologia dos retoques e marcas de utilização, a análise das modificações
é que dá suporte às definições morfológicas e funcionais. Segundo Hayden e Kaminga tal
análise: "busca as chaves de compreensão da evolução comportamental e do desenvolvimento
cultural através da identificação de quais comportamentos (atividades) estão nos artefatos
arqueológicos" (Hayden e Kaminga, 1979, p. 1).
O início da análise funcional remonta aos trabalhos desenvolvidos por Semenov (1981)
e seus colaboradores na década de 50. Sua principal contribuição foi ter demonstrado que as
peças líticas conservam vestígios indestrutíveis depois da utilização e que é possível identificálos ao se empregar um equipamento ótico adequado. Semenov (1981, p. 13), referindo-se à
elaboração do método de seleção dos instrumentos com marcas de utilização, diz ser preciso
distinguir as particularidades de tais marcas, diferenciando-as daquelas feitas pela ação de
agentes naturais, assim como dos sinais falsos produzidos pelo homem contemporâneo, pela
intencionalidade ou ainda pela casualidade.
Para a análise funcional, dispunha-se apenas de uma lupa binocular de baixo aumento
(20X), não sendo possível, por isso, uma análise mais criteriosa dos vestígios de utilização. É
preciso, sem dúvida, além de microscópios de altos aumentos (eletrônicos), estudos
experimentais controlados com matérias-primas semelhantes, para obter uma análise segura.
Identificamos apenas aquelas marcas possíveis de serem vistas com a lupa e freqüentemente
questionamos se as marcas como as microfaturas correspondiam à utilização ou,
simplesmente, a retoques intencionais feitos pelo artesão. Semenov atentou para esta questão
quando identificava sinais de desgaste em ferramentas de sílex paleolíticas: "(...) com
freqüência estes sinais de uso não se diferenciam dos deixados pelo retoque feito pelo homem
para aguçar a borda desgastada ou para retirar o filo de uma borda demasiado aguda"
(Semenov, 1981, p. 14).
Convém ressaltar que a análise tecno-tipológica e funcional enfoca um processo que é,
acima de tudo, dinâmico, onde os atributos do material lítico não podem ser analisados
isoladamente. Os atributos que compõem esta lista estão baseados nos trabalhos de Brézillon
(1977), Mansur (1986/90), Tixier et al (1980), Vialou (1980), Laming-Emperaire (1967), Moraes
(1987), Semenov (1981) e Binford (1963).
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Dados de Modificação
R. Tipo de Modificação
São as peças que podem apresentar retoques e/ou marcas de uso. Os retoques
constituem a última fase da confecção dos artefatos e as marcas de utilização correspondem
ao emprego do artefato antes do seu descarte (abandono). Alguns materiais são simplesmente
utilizados sem terem sido retocados, nem por isso deixando de ser artefatos. Ainda assim é
preciso ressaltar a importância dos retoques, uma vez que eles podem transformar-se num
atributo tecnológico diferenciador dos grupos pré-históricos e servirem diretamente na definição
dos tipos de artefatos (ainda que nem sempre o retoque seja a sua parte ativa).
Segundo Vialou, retocar "é transformar, totalmente ou em parte, um produto de
lascamento, em suas faces ou em suas bordas (ou as duas juntas), efetuando retiradas
quaisquer que sejam sua forma, direção, tecnologia" (Vialou, 1980, p. 88). Os retoques
consolidam o gume dos artefatos, tornando-os mais espessos, ou então reavivam os gumes já
gastos pelo uso. Podem igualmente transformar uma borda cortante em uma borda não
cortante, na intenção de utilizá-la como borda de preensão ou de encabamento, fato observado
em alguns bifaces. Observa-se ser, algumas vezes, muito difícil distingui-los de certas marcas
de uso, necessitando-se, nestes casos, de experimentações e instrumental eficientes.
Tixier et al definem os retoques como "as extrações obtidas por percussão ou pressão
com a finalidade de realizar ou acabar os artefatos" (Tixier et al, 1980, p. 59). Semenov (1981,
p. 92-94) destaca que os retoques por percussão direta implicam em efetuar numerosos e
freqüentes golpes destinados a eliminar pequenas porções da superfície do artefato em
elaboração e que estes retoques também poderiam ser aplicados com a ajuda de um "punção"
intermediário de pedra ou osso. Este tipo de retoque com instrumento intermediário, só
conhecido por dados etnográficos, tornaria possível destacar partículas do material em
confecção em lugares precisos. Outro tipo de retoque seria por contra-golpe, também efetuado
por um "punção" onde o artefato em elaboração encontrava-se apoiado sobre uma outra pedra.
Diz o autor que este tipo de técnica, por não apresentar resultados muito satisfatórios, não
poderia ser empregada na produção de retoques finos como na produção de pontas de projétil;
mas teria sido largamente empregada no preparo de percussão na técnica de redução de
peças bifaciais.
Semenov (1981, p. 94-111) refere-se também aos retoques por pressão,
caracterizando-os por produzirem bordas finas e delicadas, pressionando a ponta de um
instrumento (de osso, madeira ou pedra, dependendo da tenacidade da matéria prima que
sofre o retoque) sobre a borda do artefato em elaboração. O autor destaca a possibilidade de
retoque por pressão, utilizando-se a técnica do contra-golpe com percutor brando; porém, é
praticamente impossível determinar a presença desta técnica no material arqueológico.
É muito difícil, no que se refere ao material em estudo, determinar o procedimento
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empregado na confecção de seus retoques sem desenvolver experimentações com matériasprimas afins. As matérias-primas respondem diferentemente aos retoques, dependendo de
suas propriedades físicas, sendo, portanto, difícil diferenciar, por exemplo, retoques produzidos
por percussão direta com percutor brando de retoques produzidos por pressão. Concordamos
com Vialou, que diz:
Não há mil maneiras de retocar lascas: as soluções técnicas de percussão ou pressão
são limitadas, encontram-se poucos tipos de retoques; porém, há várias formas, posições, etc.,
de modo que os fatos tecnológicos são fundamentais, sempre primeiros quando se
compreende a relação tecnológica - tipológica (Vialou, 1980, p. 94).
Já a análise das marcas de utilização permite constituir o tipo de atividade processada
pelo artesão quando no emprego de determinado artefato, como raspar, cortar, furar, etc.
Pesquisas mais aprofundadas relacionadas a estas análises funcionais começaram somente a
se desenvolver a partir do final da década de 70 e início da década de 80 na Europa, através
do uso de microscópios de reflexão para estudar micropolidos, com resultados muito
satisfatórios. A maioria dessas pesquisas, no entanto, referem-se às marcas de uso presentes
nos gumes de artefatos confeccionados em sílex. Como nem todas as matérias-primas
respondem da mesma forma às marcas de utilização, concordamos com Mansur (1986/90, p.
126-127) quando ela afirma ser necessário realizar, em cada caso, toda uma fase de estudo
experimental que permita definir estas marcas de modo preciso.
Os atributos técnicos empregados para a análise das modificações são os
seguintes:
Retoque: Este primeiro atributo diz respeito à disposição e extensão dos retoques,
baseando-se em Moraes (1987, p. 177) e Laming-Emperaire (1967, p. 58-59). Quanto à
disposição, estes retoques podem ser: regulares, que se encontram perpendiculares ou
oblíquos à borda, mas paralelos entre si; e irregulares/escalariformes, que se encontram
perpendiculares e oblíquos ao mesmo tempo em relação à borda, de forma a não haver
paralelismo entre si ou, inclusive, estarem superpostos uns aos outros. Podem ainda ser
rasante (com um ângulo de 10º), semi-abrupto (entre 30º e 70º) ou abrupto (80º-90º).
Arredondamento: É possível identificar com a lupa binocular ou até algumas vezes a
olho nu um arredondamento nas bordas das peças. Isto ocorre principalmente nas peças de
arenito ou arenito silicificado, onde seus grãos de quartzo se gastam após serem friccionados
em objetos resistentes e as bordas ganham um aspecto arredondado. Este aspecto ficou bem
evidente na análise experimental.
Polimento (brilho): Associado ao arredondamento ocorre um brilho característico nas
bordas utilizadas.
S. Localização da Modificação
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Segundo Laming-Emperaire (1967, p. 58), os retoques podem ser feitos na face interna
(lado ventral da lasca), na face externa (lado dorsal da lasca) ou em ambas. Para os artefatos
bifaciais e unifaciais, denominamos face 1 (maior quantidade de negativos de lascamento) e
face 2 (menor quantidade de negativos de lascamento) Desta forma, os retoques podem ser:
Dorsal: Também denominados externos ou diretos, quando os golpes ou a pressão do
retocador foram aplicados sobre a face interna da lasca, sendo que os lascamentos afetam a
face externa.
Ventral: Também denominados internos, indiretos ou inversos, quando a ação foi
aplicada sobre a face externa da lasca e, portanto, os lascamentos afetam a face interna.
T. Posição da Modificação
Esta pode ser proximal, mesial, distal, ou a combinação destas.
4.2.3. Resultados das Análises Tecno-Tipológicas das Indústrias Líticas
Foram analisados os conjuntos líticos de modo a compará-los, na tentativa de
compreender a dinâmica de organização do espaço pelos grupos pré-históricos que ocuparam
a região, considerando as suas estratégias de escolha e obtenção de matéria-prima, as
tecnologias de produção por eles selecionadas e os tipos de artefatos resultantes destas
escolhas.
Na região em estudo, identificaram-se 19 conjuntos com um total de 4.041 peças líticas.
Desses, nove se encontram na área de Plano Alto com um total de 1.511 peças e 10 na área
de Alto Irani, com um total de 2.530 peças.
Em Plano Alto, seis conjuntos são lito-cerâmicos e três são exclusivamente líticos. O
sítio SC-PA-04, lito-cerâmico, apresenta 91,13% do total de objetos líticos identificados na área
de Plano Alto, e o restante dos sítios compõem menos de 3,0% do total. Na sua maioria tratase de sítios superficiais a céu aberto, apenas três sítios atingiram níveis mais profundos, como
os sítios SC-PA-04 (120 cm), SC-PA-05 (70 cm) e SC-PA-06 (60 cm).
Em Alto Irani, cinco conjuntos são lito-cerâmicos e cinco são exclusivamente líticos. O
sítio SC-AI-17, lito-cerâmico, apresenta 86,05% do total de objetos líticos identificados na área
de Alto Irani, e o restante dos sítios compõem menos de 5,5% do total. Assim como na área de
Plano Alto, também na sua maioria trata-se de sítios superficiais a céu aberto, apenas 03 sítios
atingiram níveis mais profundos, caso dos sítios SC-AI-02 (10 cm), SC-AI-03 (20 cm) e SC-AI17 (80 cm).
Alguns sítios apresentam entre 5 e 10 peças e, portanto, foram considerados como
sítios com baixa densidade de material arqueológico – um sítio em Plano Alto (SC-PA-09) e um
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
147
sítio em Alto Irani (SC-AI-22).
Segue a apresentação dos sítios, com as respectivas localizações e quantidade de
peças líticas (ver quadro 6 e 7).
Quantidade de
Objetos Líticos
Presença de
Cerâmica
Profundidade
máxima (cm)
SC-PA-04
1.377
Sim
120
SC-PA-05
18
Sim
70
SC-PA-06
13
Sim
60
SC-PA-08
15
Sim
superfície
SC-PA-09
06
Sim
superfície
SC-PA-11
35
Não
superfície
SC-PA-12
43
Sim
superfície
OAD-PA-01
03
Não
superfície
OAD-PA-02
01
Não
10
Total
1.511
-
-
Sítio
Quadro 6: Relação dos sítios lito-cerâmicos, líticos e ocorrências discretas identificadas na PCH
de Plano Alto.
Quantidade de
Objetos Líticos
Presença de
Cerâmica
Profundidade
máxima (cm)
SC-AI-02
14
Sim
10
SC-AI-03
127
Sim
20
SC-AI-08
63
Sim
Superfície
SC-AI-17
2.177
Sim
80
SC-AI-19
94
Sim
Superfície
SC-AI-20
15
Não
Superfície
Sítio
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
148
SC-AI-21
28
Não
Superfície
SC-AI-22
07
Não
Superfície
OAD-AI-01
03
Sim
30
OAD-AI-02
02
Não
Superfície
Total
2.530
-
-
Quadro 7: Relação dos sítios lito-cerâmicos, líticos e ocorrências discretas identificadas na PCH
Alto Irani.
4.2.3.1. Estratégias para a obtenção das matérias-primas: Geologia e Geomorfologia
Os sítios arqueológicos resgatados localizam-se em altitudes inferiores a 800m. A área
de estudo faz parte da Bacia do Paraná, onde predomina a formação Serra Geral, constituída
basicamente das lavas basálticas e das lavas intermediárias entre derrames básicos e ácidos.
O estudo dos aspectos físicos da região é fundamental para que se compreenda a
organização tecnológica das culturas pré-históricas, pois a matéria-prima lítica interfere na
organização e na sobrevivência desses grupos.
Conforme Scheibe (2002, p. 203):
A área faz parte do contexto de ocorrência das rochas efusivas
da Formação Serra Geral, recentemente estudadas por Paiva Filho
(2000), o qual propôs a denominação de "Membro Goio-En" para um
"possante derrame de riodacito pórfiro, completamente distinto dos
demais, situado discordantemente no topo do pacote de [rochas]
vulcânicas ácidas da Bacia do Paraná" (Paiva, 2000, p. 110 apud
Scheibe, 2002, p. 203).
O membro Goio-En foi classificado petrograficamente como riodacito pórfiro ou riólito,
cujas características litológicas e estruturais são constantes em toda a área em estudo. Esta
rocha apresenta coloração parda a cinza-esverdeada quando não sofreu alteração, e cinzaclara esverdeada, ou tonalidades mais escuras, quando intemperizada. Na superfície
encontram-se vários afloramentos que apresentam fenocristais intemperizados, que com o
decorrer do tempo são retirados pela erosão, formando uma superfície esburacada. Scheibe
(2002, p. 204) afirma que também estão presentes nestas rochas fenocristais de
clinopiroxênios e poucos de apatita, em uma matriz praticamente vítrea, em estágios diversos
de alteração, descrita como constituída especialmente por micrólitos de feldspato alcalino,
plagioclásio, quartzo e opacos, como argilo-minerais intersticiais, do grupo das esmectitas.
Além destas, encontram-se na região rochas basálticas típicas da Formação Serra
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
149
Geral. Normalmente, estão bastante fraturadas e não formam grandes blocos na superfície.
O arenito recozido de coloração avermelhada (meta-lamitos) também foi evidenciado
em outros estudos na região (Scheibe, 2002). Essa matéria-prima é caracterizada como uma
rocha muito resistente, e também nos sitos em estudo foram amplamente utilizadas,
especialmente na confecção de pontas de projétil pedunculadas e de peças bifaciais/ unifacias.
Os basaltos são compostos basicamente por plagioclásios, piroxênios, magnetita e
minerais secundários. Os plagioclásios, que aparecem em maior quantidade, são plagioclásios
cálcicos e piroxênios, que têm estabilidade muito baixa. Dessa forma, alteram-se quase que
totalmente em minerais argilosos, com alta liberação de óxidos, notadamente os de ferro. A
grande abundância de cátions e a escassez de sílica conduzem à formação de caulinita,
auxiliada pela drenagem e lixiviação.
O intemperismo, ao longo do tempo, transformou o material de origem em solos, os
quais herdaram características inerentes à rocha que, ao transformar-se, liberou grandes
quantidades de minerais secundários (argilas) e óxidos de ferro.
Os rios são sinuosos, com vales encaixados e patamares nas vertentes. O controle
estrutural é marcado por segmentos retilíneos dos rios, pelos cotovelos e pela grande
ocorrência de lajeados, saltos, quedas e ilhas. Os rios apresentam, muitas vezes, corredeiras e
pequenas cachoeiras resultantes das diferenças internas nos derrames das rochas efusivas.
A região está inserida em duas grandes unidades geomorfológicas: Planalto dos
Campos Gerais e Planalto Dissecado do Rio Iguaçu/Rio Uruguai.
A primeira apresenta-se distribuída pelo estado em blocos de relevos isolados pelo
Planalto Dissecado Rio Iguaçu/Rio Uruguai. Os blocos que constituem esta unidade são
conhecidos como planalto de Palmas, planalto de Capanema, planalto de Campos Novos e
planalto de Chapecó. Estes blocos estão situados topograficamente acima das áreas
circundantes (Planalto Dissecado Rio Iguaçu/Rio Uruguai) e correspondem a restos de uma
superfície de aplanamento.
As cotas altimétricas mais elevadas ocorrem na porção leste da unidade, ultrapassando
1.200 metros, nas proximidades da “cuesta” da Serra Geral, enquanto as menores são
encontradas no planalto de Chapecó, atingindo 600 metros.
A situação estável do relevo favorece a infiltração da água no solo, salvo regiões de
ocorrência de diaclasamento horizontal da rocha. Com isso, aceleram-se os processos de
intemperismo resultando em solos profundos, de texturas argilosas e bem drenadas, porém
com baixa a média fertilidade natural.
A Unidade Geomorfológica Planalto Dissecado Rio Iguaçu/Rio Uruguai caracteriza-se
pelo domínio de um relevo dissecado e constituído por uma sucessão de encostas em
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
150
patamares e terraços que constituem superfícies geomórficas policíclicas. Assim, após
sucessivos derrames de lavas, formou-se uma sucessão de rochas com diferentes graus de
resistência à alteração.
A decomposição seletiva dessas rochas subjacentes, associadas à ação da erosão,
originou superfícies em degraus ou patamares, típica de áreas de derrames basálticos,
justificando desta forma, a característica do relevo da região. Como indicativo de instabilidade e
imaturidade da paisagem, dominam vales estreitos e profundos (tipo "v"), como por exemplo, a
“calha” do rio Uruguai.
Os vales em geral variam de pouco a medianamente encaixados e apresentam uma
drenagem condicionada pelas falhas geológicas dos maciços. A dissecação do relevo é
moderada com amplitudes altimétricas na média de 100 m.
A geologia e a geomorfologia da região demonstram que os grupos pré-históricos
habitantes dessas áreas tinham à disposição matérias-primas de qualidade e em abundância
para a produção de seus objetos líticos.
A ação antrópica contribui através da modificação da cobertura vegetal original, das
culturas, reflorestamentos e retiradas de madeiras nativas, alterando as características físicas,
químicas e biológicas dos horizontes superiores do solo.
Os principais mecanismos de erosão pluvial nessa unidade geomorfológica são o
escoamento superficial e o escoamento subsuperficial. O escoamento superficial é considerado
o mais generalizado e mais importante na esculturação do relevo, devida às características
estruturais e texturais das formações superficiais, que se apresentam, de forma geral,
profundas.
A cobertura vegetal original da região do vale do rio Chapecó encontra-se bastante
descaracterizada, em função da forte exploração dos recursos naturais da região, aliada às
condições de declividade, que vem a dificultar sua recuperação. Soma-se a isso as atividades
agrícola que acabam por impactar diretamente os sítios arqueológicos.
4.2.3.2. Descrição dos Objetos Líticos da Área da PCH Plano Alto
4.2.3.2.1 Sitio SC-PA-04
O Sítio SC-PA-04 é um sítio lito-cerâmico a céu aberto, com 120 cm de profundidade.
Os objetos líticos, com um total de 1.377 peças, ocorrem invariavelmente até os níveis mais
profundos, diferentemente dos fragmentos cerâmicos que são evidentes apenas até a
profundidade de 80 cm.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
151
Como um todo, o conjunto encontra-se representado por núcleos, lascas unipolares,
lascas bipolares, artefatos bifaciais, artefatos unifaciais, termóferos, artefatos brutos e
fragmentos de lasca e de núcleos. Entretanto, há variações no que diz respeito às suas
freqüências para os diferentes níveis.
Segue, portanto, a apresentação dessas variações:
Nível superficial
O conjunto lítico desse nível superficial é composto por 30 peças (associadas à
cerâmica), que estão representadas na sua maioria por lascas unipolares (42%) e fragmentos
de núcleo (22%). O restante das peças corresponde, em menores proporções, a fragmentos de
lasca (10%), a núcleos (10%), a termóferos (7%), a lascas bipolares (3%), a artefatos bifaciais
e unifaciais (3%) e, por fim, a artefatos brutos (3%).
Quanto às estratégias de obtenção das matérias-primas, constata-se que houve uma
seleção das rochas segundo a categoria de forma básica. As lascas unipolares são de metalamitos (50%), de basaltos (33%) e de calcedônias (17%). Os núcleos (3 peças) são todos de
basalto e recobertos por córtex (mais da metade da peça) e as lascas bipolares (1 peça) são
de calcedônia. A única peça bifacial de grandes dimensões (14,1 X 5,6 X 3,1cm) presente no
conjunto é de basalto, indicando retiradas periféricas bifaciais em todo o contorno, uma
terminação em ponta e possuindo um bloco como suporte.
3% 3%
50%
7%
22%
42%
10%
10%
33%
3%
17%
Lasca unipolar
Lasca bipolar
Núcleo
Frag de lasca
Frag de núcleo
Art bifacial ou unifacial
Bruto
Termofero
Gráfico 21: Forma básica: superfície.
Basalto
Calcedônia
Meta-lamito
Gráfico 22: Lasca unipolar x matériaprima: superfície.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
152
Fotos 248 e 249: Biface de basalto (peça nº. 26): face 1 (esq.) e face 2 (dir.).
Foto 250: Artefato Bruto de basalto (peça
nº. 17)
Nível de 0 a10 cm
Nesse nível de 0-10 cm tem-se apenas 8 peças líticas (associadas à cerâmica). As
lascas unipolares são as peças mais populares do conjunto (49%), seguidas pelas lascas
bipolares (38%) e pelos fragmentos de núcleo (13%).
13%
50%
25%
38%
49%
Lasca unipolar Lasca bipolar Frag de núcleo
Gráfico 23: Forma básica: 0 – 10 cm.
25%
Basalto
Rochas silicosas
Meta-lamito
Gráfico 24: Lasca unipolar x matériaprima: 0 – 10 cm.
As lascas unipolares são preferencialmente de meta-lamito (50%), seguidas de basaltos
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
153
e de rochas silicosas (ambas formando 25% das peças). As 3 lascas bipolares existentes são
de calcedônia. Em relação ao nível superficial, nota-se a ausência dos núcleos e das peças
bifaciais.
Nível de 10 a 20 cm
Entre 10 e 20 cm de profundidade, apesar da existência de fragmentos cerâmicos, as
formas básicas mais freqüentes permanecem sendo lascas unipolares, que compreendem 60%
do total (15 peças). Compõem também o conjunto, os detritos (20%), os fragmentos de lasca
(13%) e os termóferos (7%).
20%
7%
13%
22%
45%
11%
60%
Lasca unipolar Frag de lasca Detrito Termofero
Gráfico 25: Forma básica: 10 – 20 cm.
11%
11%
Basalto
Calcedônia
Quartzo
Meta-lamito
Rochas silicosas
Gráfico 26: Lasca unipolar x matériaprima: 10 – 20 cm.
Dentre as lascas unipolares observa-se que, diferentemente dos níveis anteriores, elas
são em sua maioria de basaltos (45%), seguidas em menores proporções pelos meta-lamitos
(22%), pelas rochas silicosas, pelas calcedônias e pelo quartzo (todas com 11%). Contudo, os
núcleos, assim como no nível 0-10 cm, permanecem ausentes. E as lascas bipolares
desaparecem no nível 10-20 cm.
Nível de 20 a 30 cm
A essa profundidade, 20-30 cm, as formas básicas do conjunto, num total de 13 peças,
assemelham-se às formas presentes no nível superficial. As lascas unipolares são ainda
predominantes (38%), seguidas pelos fragmentos de lasca (31%), pelos detritos (23%) e pelo
núcleo, do qual há apenas uma peça. Os fragmentos cerâmicos são ainda evidentes.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
154
40%
23%
38%
20%
31%
40%
8%
Lasca unipolar Núcleo Frag de lasca Detrito
Gráfico 27: Forma básica: 20 – 30 cm.
Basalto Quartzo Meta-lamito
Gráfico 28: Lasca unipolar x matériaprima: 20 – 30 cm.
As lascas unipolares são tanto de basalto quanto de meta-lamito (ambas com 40%),
havendo também algumas lascas de quartzo (20%). O único exemplar de núcleo consiste em
uma peça bipolar de quartzo.
Nível de 30 a 40 cm
Entre 30 e 40 cm de profundidade o conjunto lítico torna-se significativamente mais
numeroso, com 284 peças. Os fragmentos cerâmicos seguem associados. Esse nível compõese por todas as formas básicas relacionadas na superfície do sítio.
Contudo, os detritos
tornam-se mais freqüentes (43%) do que as lascas unipolares (28%). Existem ainda
fragmentos de lasca (21%) e, em pequenas proporções, lascas bipolares, fragmentos de
núcleo, artefatos brutos e termóferos.
Novamente chama a atenção a predominância de quase todas as formas básicas em
basalto (75%), em detrimento das outras matérias-primas como os meta-lamitos (16%), o
quartzo (6%) e as calcedônias (3%). Apenas as lascas bipolares foram produzidas em quartzo
e calcedônia. Essa recorrência de relação entre bipolaridade e calcedônia/quartzo, deve-se,
provavelmente, às pequenas dimensões dos blocos, seixos ou geodos dessas matériasprimas.
0%4% 1%
3% 6%
28%
16%
43%
3%
21%
Lasca unipolar Bruto
Lasca bipolar
Detrito
Termofero
Frag de lasca
75%
Frag de núcleo
Basalto
Calcedônia Quartzo
Meta-lamito
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
155
Gráfico 29: Forma básica: 30 – 40 cm.
Gráfico 30: Lasca unipolar x matériaprima: 30 – 40 cm.
Nível de 40 a 50 cm
Entre 40 e 50 cm de profundidade o conjunto torna-se ainda mais numeroso do que o
do nível anterior, passando a compor 303 peças, com fragmentos cerâmicos associados. Tanto
os tipos quanto as quantidades de formas básicas equivalem-se aos dados indicados no nível
anterior, ou seja, os detritos e as lascas unipolares são mais numerosos do que os outros tipos,
com 32% e 24% respectivamente. Os termóferos, com 24%, tornam-se mais populares do que
no nível anterior. As peças bifaciais e unifaciais permanecem ausentes desde o nível 0-10 cm.
Quanto às matérias-primas, observa-se que as estratégias dos artesãos permaneceram
concentradas na obtenção dos basaltos (89%) para a produção não somente das lascas
unipolares, mas também para a maioria de seus objetos. O quartzo e a calcedônia novamente
se relacionam à produção de lascas bipolares.
0%
1%1%1%1%
24%
32%
7%
1%
15%
Lasca unipolar
Frag de núcleo
Lasca bipolar
Detrito
24%
1%3%
89%
Núcleo
Bruto
Frag de lasca
Basalto
Arenito
Calcedônia
Termofero
Quartzo
Rochas silicosas
Meta-lamito
Gráfico 31: Forma básica: 40 – 50 cm.
Gráfico 32: Lasca unipolar x matériaprima: 40 – 50 cm.
Nível de 50 a 60 cm
Nesse nível de profundidade, dos 50 aos 60 cm, o sítio apresenta a maior quantidade
de objetos líticos – um total de 422 peças. Ressalta-se que os fragmentos cerâmicos, assim
como os objetos líticos, são mais numerosos entre 30 e 60 cm de profundidade. Os tipos mais
freqüentes de formas básicas permanecem sendo, assim como no nível 40-50 cm, os detritos
(43%), as lascas unipolares (20%) e os termóferos (19%). O restante é composto por
fragmentos de lasca, fragmentos de núcleo, lascas bipolares e núcleos.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
156
1%4%
43%
0%
6%
16%
0%
19%
2%
20%
Lasca unipolar Lasca bipolar
Termofero
Frag de núcleo Detrito
Núcleo
Frag de lasca
Gráfico 33: Forma básica: 50 – 60 cm.
89%
Basalto Calcedônia Quartzo Meta-lamito
Gráfico 34: Lasca unipolar x matériaprima: 50 – 60 cm.
O basalto, com 89%, continuou sendo a matéria-prima preferencialmente obtida para a
produção dos objetos. A calcedônia e o quartzo permanecem relacionados à produção de
lascas bipolares. O núcleo existente é unipolar e de basalto.
Foto 251: Termófero de basalto (peça nº
596), nível 50-60cm.
Nível de 60 a 70 cm
A essa profundidade, de 60 a 70 cm, o conjunto lítico, formado por 95 peças é
quantitativamente menor do que os conjuntos encontrados entre 30 e 60 cm. A partir desse
nível, a quantidade de peças irá diminuindo até a profundidade máxima do sítio – 120 cm. Os
fragmentos cerâmicos encontram-se também associados ao lítico nesse nível. Embora
numericamente menor, esse conjunto contém, proporcionalmente, os mesmos tipos de formas
básicas que os evidenciados nos conjuntos maiores. Ou seja, os detritos continuam sendo as
peças mais populares (42%), seguidos pelos termóferos (38%) e pelas lascas unipolares
(14%). O restante constitui-se por fragmentos de lasca e de núcleos e lascas bipolares.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
157
8%
42%
38%
4% 1%
14%
92%
1%
Lasca uniplar
Lasca bipolar
Frag de lasca
Termofero
Detrito
Frag de núcleo
Gráfico 35: Forma básica: 60 – 70 cm.
Basalto
Meta-lamito
Gráfico 36: Lasca unipolar x matériaprima: 60 – 70 cm.
Em relação ao tipo de matéria-prima os basaltos são as rochas preferenciais, com 92%
do total. A única lasca bipolar é de quartzo.
Desenho: Adelson André Brüggemann
Figura 23: Lasca unipolar de meta-lamito com retoque nas faces (peça nº. 55):
face 1 (esq.), perfil (centro) e face 2 (dir.).
Nível de 70 a 80 cm
A essa profundidade o conjunto se apresenta menos numeroso, apresentando apenas
53 peças. Ainda há a presença de fragmentos cerâmicos. Embora com uma quantidade maior
de lascas unipolares (49%), as outras formas básicas continuam sendo evidentes, como os
detritos, os fragmentos de lasca, as lascas bipolares e os termóferos. Os basaltos foram
preferencialmente selecionados, seguidos pelos meta-lamitos e as calcedônias.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
158
12%
32%
49%
9%
Lasca unipolar
12%
76%
8%
Lasca bipolar
Frag de lasca Detrito Termofero
Gráfico 37: Forma básica: 70 – 80 cm.
Basalto
Calcedônia
Meta-lamito
Gráfico 38: Lasca unipolar x matériaprima: 70 - 80 cm.
Desenho: Adelson André Brüggemann
Figura 24: Lasca unipolar de basalto com retoque nas faces (peça nº. 101): face
1 (esq.), perfil (centro) e face 2 (dir.).
Nível de 80 a 90 cm e de 90 a 100 cm
Nos níveis seguintes, de 80 a 100 cm, os fragmentos cerâmicos não são mais
evidentes. Embora quantitativamente mais numeroso do que o nível 70-80 cm (o conjunto
compõe 89 peças – 48 peças de 80 a 90 cm e 41 peças de 90 a 100 cm) os tipos e freqüências
de formas básicas não se alteram se comparados com os conjuntos dos níveis onde a
cerâmica está presente. No nível 80-90 cm, encontram-se novamente os detritos (44%) e as
lascas unipolares (31%) como as formas mais freqüentes, seguidas dos fragmentos de lasca e
núcleos, termóferos e artefatos brutos. E no nível 90-100 cm a freqüência de peças permanece
praticamente a mesma, com 46% de detritos e 22% de lascas unipolares, seguidas de
termóferos, fragmentos de lasca e núcleos.
As peças, em ambos os níveis, são na sua maioria de basaltos (em torno de 75%). As
calcedônias também aparecem, com 7% (80-90 cm) e 22% (90-100 cm), e os meta-lamitos,
freqüentes nos níveis superiores a esses, estão presentes no nível 80-90 cm e correspondem a
lascas unipolares.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
159
Nível de 100 a 110 cm e de 110 a 120 cm
Os dois últimos níveis do sítio permanecem sem a presença de fragmentos cerâmicos.
Totalizam 24 peças – 15 peças entre 100 e 110 cm e somente 09 peças no último nível. O nível
100-110 cm apresenta os detritos (46%) e as lascas unipolares (27%) como as formas mais
freqüentes, seguidas pelos fragmentos de lasca e núcleos (20%) e dos termóferos. Finalmente,
o último nível compõe-se por detritos (45%), lascas unipolares (33%) e fragmentos de lasca
(22%). Trata-se de peças produzidas em basaltos e meta-lamitos, ou seja, não há diferença de
matéria-prima se comparadas com as peças dos níveis superiores a esses.
4.2.3.3. Sítios com baixa densidade de material arqueológico isoladas na área do Plano
Alto:
4.2.3.3.1. Sítio SC-PA-05
No sítio SC-PA-05 foram coletados 18 objetos líticos, não havendo evidências de
fragmentos cerâmicos. As lascas unipolares representam 38% das peças. Os fragmentos de
lasca (28%), os detritos (17%), as lascas bipolares (11%) e os artefatos bifaciais/unifaciais
completam o conjunto de objetos líticos encontrados neste sítio.
O basalto foi a matéria-prima utilizada em 89% das peças. No restante foi empregado o
meta-lamito.
Fotos 252 e 253: Núcleo de basalto (peça nº. 06).
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
160
Fotos 254 e 255: Artefato bifacial em basalto (peça nº. 05): face 1 (esq.) e face 2 (dir.).
4.2.3.3.2. Sítio SC-PA-06
O conjunto é formado por 13 peças de objetos líticos. O índice de detritos (30%)
encontrado nessa área é bastante grande. Em proporções menores (23%), encontram-se as
lascas unipolares e as lascas bipolares. Cada uma das formas básicas compreendidas pelos
fragmentos de núcleo, os núcleos e os artefatos bifaciais/unifaciais, representam 8% do
conjunto.
A matéria-prima empregada na confecção desses objetos é diversificada. Há peças de
quartzo (46%), basalto (31%), meta-lamito (15%) e calcedônia (8%).
4.2.3.3.3. Sítio SC-PA-08
O sítio caracteriza-se pela existência de um conjunto de 15 objetos líticos e a presença
de fragmentos cerâmicos em superfície. As formas básicas apresentam-se nas seguintes
proporções: 54% de lascas unipolares, 13% de núcleos, 13% de fragmentos de núcleo, 13% de
fragmentos de lasca e 7% de artefato bruto. A matéria-prima empregada em 53% das peças é
o basalto e o restante é de meta-lamito.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
161
Fotos 256 e 257: Núcleo unipolar de meta-lamito.
Fotos 258 e 259: Mão de pilão de basalto.
4.2.3.3.4. Sítio SC-PA-09
O conjunto de objetos líticos deste sítio é composto por 06 peças, todas em metalamito. As lascas unipolares representam 67% das peças e os núcleos 33%. Ausência de
fragmentos cerâmicos.
Foto 260: Lasca unipolar Fotos 261 e 262: Núcleo unipolar de meta-lamito.
em meta-lamito (peça nº.
06).
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
162
4.2.3.3.5. Sítio SC-PA-11
Neste sítio não foram encontrados fragmentos cerâmicos. Os 35 objetos líticos que
foram coletados em superfície distribuem-se nas seguintes proporções: 46% são lascas
unipolares, 20% são fragmentos de lasca, 20% são fragmentos de núcleo, 11% são núcleos e
3% são artefatos brutos.
A matéria-prima empregada com maior freqüência (80%) é o meta-lamito. Em
proporções menores foram utilizados o basalto (17%) e as rochas silicosas (3%).
Fotos 263 e 264: Lasca unipolar em meta- Fotos 265 e 266: Lasca unipolar em metalamito com retoque nas duas faces (peça lamito com retoque (peça nº. 26).
nº. 05).
Fotos 267 e 268: Núcleo unipolar em meta-lamito (peça nº. 13).
4.2.3.3.6. Sítio SC-PA-12
Na área deste sítio foram coletados 43 fragmentos cerâmicos associados a objetos
líticos. O conjunto desses objetos é formado por lascas unipolares (56%), fragmentos de lasca
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
163
(23%), fragmentos de núcleo (12%) e lascas bipolares (9%).
Quanto à matéria-prima usada para o lascamento, o meta-lamito é o mais popular
(84%). Foi constatada a utilização de basalto em 16% das peças.
Fotos 269 e 270: Núcleo unipolar de basalto (peça nº. 07).
Foto 271: Perfil do núcleo unipolar Foto 272: Lascas de biface de
de basalto (peça nº. 07).
meta-lamito (peças nº. 13 e 18).
Fotos 273 e 274: Núcleo unipolar de meta-lamito (peça nº. 03).
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
164
4.2.3.3.7. Área de Ocorrência Arqueológica PA-01
Foram encontradas 3 peças líticas na OAD-PA-01. Todas são de basalto: 2 núcleos e
uma lasca unipolar. Foi observada a ausência de fragmentos cerâmicos.
4.2.3.3.8. Área de Ocorrência Arqueológica PA-02
O conjunto de objetos líticos dessa área é formado por apenas uma peça. Esta possui
as seguintes características: lasca unipolar de preparação em metalamito, com plano de
percussão liso e com até 1/3 de superfície natural.
4.2.3.4 Descrição dos Objetos Líticos da Área de Alto Irani
4.2.3.4.1. Sitio SC-AI-17
Os elementos que compõem o sítio SC-AI-17 caracterizam um sítio lito-cerâmico. A
área escavada a céu aberto alcançou a profundidade máxima de 80 cm. Os objetos líticos, que
totalizam 2.178 peças, encontram-se, preferencialmente, entre a superfície e o nível 40-50 cm.
Os fragmentos cerâmicos foram encontrados até a profundidade de 50 cm.
O conjunto de objetos líticos desse sítio está representado, em ordem decrescente de
popularidade, por lascas unipolares, fragmentos de lasca, lascas bipolares, fragmentos de
núcleo, detritos, artefatos bifaciais/unifaciais, núcleos, artefatos brutos e termóferos. Contudo, a
quantidade e a diversidade dessas formas alteram-se nos diferentes níveis artificiais de
escavação do sítio.
Segue a apresentação dos objetos nos distintos níveis:
Nível superficial
No nível superficial foram resgatadas 275 peças. A quantidade de lascas unipolares
(52%) sobrepõe-se sobre as demais formas: fragmentos de lasca (12%), fragmentos de núcleo
(11%), lascas bipolares (8%), detritos (7%), núcleos (6%), artefato bifacial/unifacial (3%) e
artefato bruto (1%).
A análise das estratégias de obtenção de matéria-prima para o lascamento destaca a
predominância do meta-lamito e do basalto. Entre as lascas unipolares 48% são de metalamito, 26% de basalto, 14% de arenito, 6% de calcedônia, 4% de rochas silicosas e 1% de
arenito silicificado. Dentre elas, 75% não apresentam superfície natural, 19% possuem até 1/3,
4% são totalmente recobertas e, em apenas 2% verificou-se a presença de até 2/3 de córtex.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
165
8%
6%
52%
26%
48%
12%
4% 1% 6%
11%
1%
14%
1%3% 7%
Lasca unipolar
Lasca bipolar
Frag de lasca
Frag de núcleo
Núcleo
Basalto
Arenito silicificado
Arenito
Detrito
Calcedônia
Quartzo
Rocha silicosa
Meta-lamito
Artefato bifacial ou unifacial Bruto
Gráfico 39: Forma básica: superfície.
29%
47%
6%
Basalto
6%
Arenito
Gráfico 41:
superfície.
Gráfico 40: Lasca unipolar x matériaprima: superfície.
19%
2% 4%
75%
12%
Calcedônia
Núcleo
Rochas silicosas
x
Meta-lamito
sem superfície natural
1/3 de superfície natural
2/3 de superfície natural
total superfície natural
matéria-prima: Gráfico
42:
Lascas
unipolares
quantidade de superfície natural.
x
Os núcleos são preferencialmente de basalto (47%) e de meta-lamito (29%). Há
também núcleos de arenito (12%), rochas silicosas (6%) e calcedônia (6%).
Quanto ao tipo de lasca unipolar, na superfície do sítio, de todas as lascas, 79% são de
preparação e 15% são de biface. Menos populares são as lascas corticais (4%), as de retoque
(1%) e as lâminas (1%).
Os artefatos bifaciais/unifaciais, representados neste nível por 8 peças, onde apenas
uma é de calcedônia e as demais de meta-lamito, são, em grande parte (43%), os que
apresentam retiradas bifaciais com terminação em ponta e uma extremidade cortical. As peças
que possuem retiradas periféricas bifaciais em todo o contorno e uma terminação em ponta
representam 29% desses artefatos. Há também, na mesma proporção (14%), peças com
retiradas periféricas unifaciais em todo o contorno (ou apenas em uma lateral) e sem
terminação em ponta e outras com retiradas bifaciais em apenas uma extremidade e com
terminação em ponta.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
166
Foto 275: Lascas
(peças nº. 01 e 268).
de
meta-lamito Foto 276: Lascas de calcedônia
(peças nº. 407 e 273).
Foto 277: Núcleo de meta-lamito (peça Foto 278: Percutor de basalto (peça
nº. 67).
nº. 92).
a)
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
167
b)
Desenho: Adelson André Brüggemann
Figura 25: a) Fragmento de artefato bifacial em meta-lamito (peça nº. 55),
b) Artefato unifacial em meta-lamito (peça nº. 65).
a)
b)
c)
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
168
d)
e)
Desenho: Adelson André Brüggemann
Figura 26: a-c) Artefatos unifaciais em meta-lamito (peça nº. 72, 112 e
323); d-e) Artefatos bifaciais em meta-lamito (peça nº. 109 e 102).
Nível de 0 a 10 cm
Neste nível foram encontradas 193 peças líticas. As lascas unipolares correspondem a
59% da amostra. Os fragmentos de lasca (34%), as lascas bipolares (3%), os fragmentos de
núcleo (2%) e os artefatos bifaciais/unifaciais (2%) completam o conjunto de objetos
analisados.
O meta-lamito foi a matéria-prima utilizada em 62% das lascas unipolares. Para a
obtenção desse tipo de lasca também foram empregadas outras rochas: a calcedônia (13%),
as rochas silicosas (10%), o arenito (10%), o quartzo (4%) e o basalto (1%).
2%
2% 2%
20%
34%
6%
60%
59%
12%
3%
Lasca unipolar
Lasca bipolar
Frag de núcleo
Art bifacial ou unifacial
Frag de lasca
Gráfico 43: Forma básica: 0 – 10 cm.
Basalto
Calcedônia
Quartzo
Rochas silicosas
Meta-lamito
Gráfico 44: Lasca unipolar x matéria-
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
169
prima: 0 – 10 cm.
A presença de superfície natural foi constatada em poucas lascas unipolares. Apenas
4% das lascas possuem até 1/3 de superfície natural; 1% do conjunto possui até 2/3 ou é
totalmente coberto por córtex. As lascas unipolares são do tipo de preparação em 41% da
amostra, de biface em 35%, de retoque em 18%, de lâmina em 5%, e em 1%, as do tipo
cortical em apenas 1%.
Os artefatos bifaciais/unifaciais ou são de meta-lamito (67%) ou são de rochas silicosas
(33%). Todas as 3 peças desse grupo possuem retiradas periféricas bifaciais em todo o
contorno (ou apenas em uma lateral) e não apresentam terminação em ponta.
Nível de 10 a 20 cm
Duzentas e setenta e quatro (274) peças perfazem o conjunto de objetos líticos
coletados neste nível. Nele também foi coletado o maior número de fragmentos cerâmicos (27)
no sítio. As lascas unipolares representam 51% desse conjunto. Em menores proporções, os
fragmentos de lasca (38%), as lascas bipolares (5%), os fragmentos de núcleo (2%), os detritos
(2%), os artefatos bifaciais/unifaciais, os artefatos brutos e os termóferos formam o restante do
conjunto de peças líticas.
As lascas de meta-lamito (60%) representam a maior parte de todas as lascas
unipolares desse nível. Também é expressivo o número de lascas unipolares de calcedônia
(20%) e de basalto (12%). Em menores quantidades, encontram-se as lascas de quartzo (6%)
e de rochas silicosas (2%).
1%
10%
17%
13%
Basalto
Arenito
17%
4%
62%
66%
10%
Calcedônia
Quartzo
Rochas silicosas
Meta-lamito
Calcedônia
Rochas silicosas
Meta-lamito
Gráfico 45: Lasca unipolar x matéria-prima: Gráfico 46: Artefato bifacial ou
10 – 20 cm.
unifacial x matéria-prima: 10 - 20 cm.
Quanto à presença de superfície natural nas lascas, destacam-se aquelas que não
possuem córtex (93%). No restante, 5% contêm até 1/3 de superfície natural e as lascas que
possuem até 2/3 ou totalmente cobertas por córtex representam 1% da amostra.
A variabilidade dos tipos de lascas unipolares neste nível é bastante semelhante ao
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
170
nível anterior. As lascas do tipo de preparação (48%) predominam. Porém, as lascas
provenientes da confecção de artefatos bifaciais também apresentam altos índices (34%).
Menos populares são as lascas de retoque (14%), as lâminas (3%) e as lascas corticais (1%).
No conjunto dos objetos líticos formado pelos artefatos bifaciais/unifaciais, há uma
predominância do meta-lamito (66%) sobre as demais matérias-primas, pois as rochas
silicosas e a calcedônia, compreendem apenas 17% desse grupo. Dentre essas peças há
uma ponta de projétil com pedúnculo e o restante corresponde ao tipo com retiradas periféricas
bifaciais em todo o contorno (ou apenas em uma lateral) e sem terminação em ponta.
Nível de 20 a 30 cm
Durante a escavação deste nível foram encontrados 491 objetos líticos. Assim como
nos níveis anteriores, há, neste nível, uma freqüência maior de lascas unipolares (52%) em
relação às outras formas. Os fragmentos de lasca representam 37% da amostra. Em menores
proporções têm-se as lascas bipolares (4%), os fragmentos de núcleo (3%), os detritos (2%),
os núcleos (1%) e os artefatos bifaciais/unifaciais (1%).
O emprego do meta-lamito para a obtenção de lascas unipolares é bastante expressivo
(66%). E pequenas proporções, também foram utilizados os geodos de calcedônia (12%), o
quartzo (8%), as rochas silicosas (6%), o arenito (4%) e o basalto (1%).
3% 2%1%
1% 4%
37%
12%
8%
52%
1%4%
6%
69%
Lasca unipolar
Lasca bipolar
Núcleo
Frag de lasca
Frag de núcleo
Detrito
Art bifacial ou unifacial
Gráfico 47: Forma básica: 20 – 30 cm.
Basalto
Arenito
Calcedônia
Quartzo
Rochas silicosas
Meta-lamito
Gráfico 48: Lasca unipolar x matériaprima: 20 – 30 cm.
No entanto, a proporção de matéria-prima entre os núcleos encontrados neste nível é
desigual. Apenas 17% são de meta-lamito e 83% são de quartzo. Os primeiros caracterizam-se
como núcleos unipolares com duas plataformas de percussão em ângulo e os últimos são
todos núcleos bipolares.
As lascas unipolares coletadas nesse nível apresentaram índices de quantidade de
superfície natural bastante semelhantes ao nível anterior. De todas as lascas, 92% não
possuem superfície natural e apenas 8% possuem até 1/3 de córtex.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
171
Contudo, a proporção dos tipos de lascas unipolares não se manteve o mesmo. Neste
nível as lascas de biface (49%) é que predominam. As lascas de preparação representam 40%
do conjunto, as lascas de retoque 6% e as lâminas 5%.
Entre os artefatos bifaciais/unifaciais não há predomínio de um tipo de matéria-prima. O
meta-lamito e a calcedônia foram utilizados na mesma proporção (50%). Neste conjunto, 60%
das peças são pontas de projétil com pedúnculo. O restante apresenta retiradas periféricas
bifaciais em todo o contorno e uma terminação em ponta. Na mesma profundidade também foi
coletado um fragmento de ponta de projétil.
Nível de 30 a 40 cm
Nesse nível encontra-se o maior conjunto de objetos líticos, com 766 peças. Ao mesmo
tempo, o número de fragmentos cerâmicos encontrados neste nível é o menor de todos, com
apenas 3 fragmentos.
Esse conjunto lítico também apresenta o maior índice de lascas unipolares (62%)
quando comparado aos outros níveis. Os fragmentos de lasca, que correspondem a 31% da
amostra, foram encontrados em proporções semelhantes aos dois níveis anteriores. Perfazem
esse conjunto de objetos líticos, porém, em menores quantidades, as lascas bipolares (2%), os
artefatos bifaciais/unifaciais (2%), os núcleos (1%), os fragmentos de núcleo (1%) e os detritos
(1%).
A escolha da matéria-prima para o lascamento assemelha-se aos níveis anteriores. É
expressivo o número de lascas unipolares de meta-lamito (73%). Completam o grupo de lascas
unipolares peças de basalto e de calcedônia, as duas com 10% da amostra, de rochas
silicosas (4%), de quartzo (2%) e de arenito (1%).
A maioria das lascas unipolares encontradas neste nível está desprovida de superfície
natural (92%). Do restante das lascas, 6% apresentaram até 1/3 de córtex, 1% a metade da
peça e 1% são totalmente corticais.
A proporção dos tipos de lascas unipolares é semelhante ao nível anterior. O índice de
lascas de biface (49%) é o mesmo. As lascas de preparação representam 42% do conjunto, as
lâminas e as lascas de retoque, representam ambas 4%, e as lascas corticais 1%.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
172
1%1%0% 2%
4% 4% 1%
31%
42%
49%
1%
2%
62%
Lasca unipolar
Lasca bipolar
Núcleo
Frag de lasca
Frag de núcleo
Detrito
Termofero
Art bifacial ou unifacial
Gráfico 49: Forma básica: 30-40 cm.
Lasca cortical
Lasca de preparação Lasca de biface
Lamina
Lasca de retoque
Gráfico 50: Tipo de lasca unipolar.
Os núcleos, contudo, não apresentaram a mesma diversidade no que diz respeito à
matéria-prima para o lascamento. Os núcleos de quartzo, com 40% do conjunto, prevalecem
sobre os demais. Em proporções iguais (20%), há também núcleos de calcedônia, de metalamito e de rochas silicosas. Os núcleos são bipolares (40%), unipolares com duas plataformas
bidirecionais em ângulo (40%) e unipolar com uma plataforma (20%).
No conjunto de objetos líticos bifaciais/unifaciais destacam-se os de meta-lamito (58%).
Há também objetos de calcedônia (25%) e de rochas silicosas (19%). São mais comuns neste
grupo os artefatos que possuem retiradas periféricas bifaciais em todo o contorno e uma
terminação em ponta (46%). As peças que apresentam retiradas periféricas bifaciais em todo o
contorno e sem terminação em ponta são constatadas em 24% da amostra. As pontas de
projétil representam 18%. Com retiradas periféricas unifaciais em todo o contorno (ou apenas
em uma lateral) e sem terminação em ponta ou com retiradas periféricas bifaciais em todo o
contorno e duas terminações em ponta, representam, ambas, 6% desse conjunto.
Fotos 279 e 280: Ponta de projétil de calcedônia (peça nº.
176).
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
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173
Foto 281: Ponta de projétil
de meta-lamito.
Desenho: Adelson André Brüggemann
Figura 27: Artefato bifacial em meta-lamito (peça nº. 145).
Nível de 40 a 50 cm
O conjunto de objetos líticos deste nível constitui-se de 157 peças. A proporção das
diversas formas básicas desse conjunto é comparável com os níveis anteriores. Com alta
freqüência apresentam-se as lascas unipolares (51%) e os fragmentos de lasca (37%). Em
frações menores encontram-se as lascas bipolares (4%), os fragmentos de núcleo (3%), os
artefatos bifaciais/unifaciais (1%), os núcleos (1%), os detritos (1%) e os objetos brutos (1%).
Os dados relativos quanto ao uso da matéria-prima para o lascamento não diferem
muito dos níveis anteriores. No conjunto das lascas unipolares, as de meta-lamito são as mais
comuns (59%). Em menores proporções foram utilizadas as rochas silicosas (16%), a
calcedônia (12%), o arenito (11%) e o quartzo (2%).
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
174
3%
1%
1%
1%
1%
59%
37%
51%
16%
1% 4%
2%
Lascas unipolares
Lascas bipolares
Núcleo
Frag de lasca
Frag de núcleo
Detrito
Art bifacial ou unifacial
Bruto
Termofero
Gráfico 51: Forma básica: 40-50 cm.
Arenito
Calcedônia
11%
12%
Quartzo
Rochas silicosas
Meta-lamito
Gráfico 52: Lasca unipolar x matériaprima: 40-50cm.
A presença de superfície natural nas lascas unipolares é bastante escassa. Assim como
nos níveis anteriores, neste nível o número de lascas desprovidas de córtex (90%) é
expressivo. As lascas que possuem até 1/3 de superfície representam apenas 7% da amostra.
Ao mesmo tempo, são raras as lascas que possuem até 2/3 de córtex (2%) e as que são
totalmente cobertas por superfície natural (1%).
As lascas de biface (47%) e as lascas de preparação predominam sobre as demais. As
lâminas representam 5%, as lascas de retoque 4% e as lascas corticais 2% do conjunto de
lascas unipolares.
Nível de 50 a 60 cm
Nesse nível foram coletadas apenas 17 peças líticas. Esse conjunto de objetos líticos
apresenta o menor índice de lascas unipolares (33%) e pouca diversidade de formas básicas.
Os fragmentos de lasca representam 33% da amostra, os fragmentos de núcleo 24% e as
lascas bipolares 10%.
Entre as matérias-primas utilizadas para o lascamento destaca-se novamente o metalamito. Evidenciou-se esse tipo de rocha em 43% das lascas unipolares. Porém, também é
expressivo o número de lascas unipolares de calcedônia (29%), de rochas silicosas (14%) e de
quartzo (14%).
6%
29%
41%
43%
41%
14%
12%
Lasca unipolar
Lasca bipolar
Frag de lasca
Frag de núcleo
Calcedônia
Quartzo
14%
Rochas silicosas
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Irani, SC – Relatório Final.
Meta-lamito
175
Gráfico 53: Formas básicas: 50-60 cm.
Gráfico 54: Lasca unipolar x matéria
prima: 50-60cm.
De todas as lascas unipolares neste conjunto, somente 14% delas apresentaram até 1/3
de superfície natural. O restante (86%) não mostrou vestígio de córtex.
O que diz respeito ao tipo de lasca unipolar, todas as lascas deste nível são de biface.
Nível de 60 a 70 cm
Durante a escavação deste nível, não foram encontradas evidências arqueológicas.
Nível de 70 a 80 cm
Do nível mais profundo da escavação foram resgatados somente 3 objetos líticos,
compreendidos por 1 lasca unipolar cortical, 1 núcleo e 1 fragmento de núcleo. A matéria-prima
dos 3 objetos é o meta-lamito. Quanto às lascas unipolares, todas as lascas do último nível de
escavação são corticais. Considerando-se a baixa freqüência de material arqueológico
encontrado nesse nível e a esterilidade do nível superior, não se pode descartar a possibilidade
de que esses materiais tenham alcançado tal profundidade por processos de bioperturbações.
4.2.3.5 Sítios com baixa densidade de material arqueológico na área do Alto Irani:
4.2.3.5.1 Sítio SC-AI-02
Este sítio atingiu a profundidade de 10 cm e dele foram coletados 14 objetos líticos.
Também foram encontrados fragmentos cerâmicos em sua área. A análise do conjunto de
objetos líticos destacou o predomínio de lascas unipolares (44%). Os núcleos, os fragmentos
de lasca e os detritos, reunidos, abrangem 14% da amostra. As lascas bipolares e os
fragmentos de núcleo, ambos correspondendo a 7%, completam o conjunto.
O meta-lamito foi a matéria-prima utilizada em 65% das peças. Em algumas peças,
foram também empregados arenito (21%) e a calcedônia (14%).
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
176
Foto 282 e 283: Núcleo unipolar de meta-lamito (peça nº. 02).
Desenho: Adelson André Brüggemann
Figura 28: Lasca unipolar de meta-lamito.
4.2.3.5.2 Sítio SC-AI-03
Foram escavadas, neste sítio, quadrículas com 20 cm de profundidade. Foram aí
encontrados 127 objetos líticos. A presença de lascas unipolares (48%) e o emprego do
basalto (74%) são significativos. Perfazem o conjunto de objetos líticos os núcleos (21%), os
fragmentos de núcleo (10%), os fragmentos de lasca (10%), os artefatos brutos (5%), os
detritos (3%), os artefatos bifaciais/unifaciais (2%) e as lascas bipolares (1%).
As lascas unipolares são, preferencialmente, de preparação (98%). Ao mesmo tempo,
os núcleos apresentam maior variedade: 42% são do tipo unipolar com duas plataformas
bidirecionais em ângulo; 38% são do tipo unipolar, com uma plataforma; 12% são do tipo
unipolar com várias plataformas em outras posições e 4% são do tipo unipolar com duas
plataformas bidirecionais opostas e do tipo bipolar.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
177
a)
b)
Desenho: Adelson André Brüggemann
Figura 29: a) artefato unifacial de calcedônia (peça nº. 37) e b) lasca unipolar de metalamito com retoque (peça nº. 86).
4.2.3.5.3 Sítio SC-AI-08
O conjunto de objetos líticos deste sítio é composto por 63 peças. Não houve presença
de fragmentos cerâmicos. As lascas unipolares representam 56% da amostra. Em proporções
menores, destacam-se os núcleos (13%), os fragmentos de lasca e os fragmentos de núcleo,
ambos na proporção de 8%, as lascas bipolares e os artefatos polidos, ambos abrangendo 5%,
e por fim, os artefatos brutos (2%) e os artefatos bifaciais/unifaciais (2%).
A matéria-prima empregada na confecção dessas peças foi o basalto (62%), o metalamito (25%), a calcedônia (11%) e o quartzo (2%).
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
178
Fotos 284 e 285: Fragmento de ponta de projétil de calcedônia (peça nº. 12).
Foto 286: Lascas unipolares de meta- Foto 287: Lascas unipolares de metalamito (peças nº. 54 e 28).
lamito (peças nº. 24, 39, 26 e 41).
Foto 288: Lasca bipolar de quartzo (peça Foto 289: Lascas bipolares de calcedônia.
nº. 21).
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
179
Fotos 290 e 291: Lâmina de machado polido de basalto (peça nº. 55): face 2 (esq.) e
face 1 (dir.),
Fotos 292, 293 e 294: Lâmina de machado de basalto (peça nº. 07): face 1 (esq.), perfil
(centro) e face 2 (dir.).
Desenho: Adelson André Brüggemann
Figura 30: Fragmento de ponta de projétil de calcedônia (peça nº. 12), face 1 (esq.),
perfil (centro) e face 2 (dir.).
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
180
a)
b)
Desenho: Adelson André Brüggemann
Figura 31: a) Lasca unipolar de basalto (peça nº. 10), face 1 (esq.), perfil (centro) e face
2 (dir.) e b) Lasca unipolar de meta-lamito (peça nº. 57), face 1 (esq.), perfil (centro) e
face 2 (dir.).
4.2.3.5.4. Sítio SC-AI-19
O conjunto lítico deste sítio é formado por 94 peças, e está associado à presença de
fragmentos cerâmicos. Apresenta-se composto por lascas unipolares (49%), fragmentos de
lasca e detritos (11%), lascas bipolares (11%), núcleos (9%), fragmentos de núcleo (7%) e
artefatos polidos (1%).
Em 65% das peças o meta-lamito foi a matéria-prima utilizada. Completam o conjunto
os artefatos de calcedônia (22%), os de basalto (10%), os de arenito (2%) e os de arenito
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
181
silicificado (1%).
Foto
295:
Lasca
unipolares de metalamito (peças nº. 29, 42,
20 e 45).
Fotos 296 e 297: Lasca unipolar de meta-lamito (peça nº. 78): face 1
(esq.) e face 2 (dir.).
Fotos 298 e 299: Núcleo de meta-lamito (peça nº. 68).
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
182
Fotos 300 e 301: Núcleo de calcedônia (peça nº. 69).
Desenho: Adelson André Brüggemann
Figura 32: Lasca unipolar de meta-lamito (peça nº. 46), face 1, perfil, face 2.
4.2.3.5.5. Sítio SC-AI-20
Na área do sítio SC-AI-20 foram coletados 15 objetos líticos. Destes, 40% são lascas
unipolares, 27% são núcleos, 20% são artefatos brutos e 13% são fragmentos de núcleo.
Observou-se a inexistência de fragmentos cerâmicos.
O basalto foi empregado na confecção de 80% das peças e o meta-lamito em 20% dos
objetos.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
183
Fotos 302 e 303: Fragmento de mão-de-pilão de basalto (peça nº. 05).
Fotos 304 e 305: Percutor de basalto (peça nº. 14).
4.2.3.5.6 Sítio SC-AI-21
Neste sítio foram coletadas 28 peças líticas. Notada a ausência de fragmentos
cerâmicos. As formas básicas desse conjunto são variadas: 46% são lascas unipolares, 21%
são fragmentos de núcleo, 11% são lascas bipolares, 11% são núcleos, 7% são fragmentos de
lasca e 4% são detritos. A maior parte das peças (67%) é de meta-lamito. Os artefatos de
basalto estão representados em 18% da amostra, os de calcedônia em 11% e os de quartzo
em 4%.
Foto 306: Lascas bipolares de Foto 307: Lascas unipolares de
calcedônia (peças nº. 4 e 23).
meta-lamito (peças nº. 15, 20 e 07).
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
184
a)
b)
Desenho: Adelson André Brüggemann
Figura 33: a) Lasca unipolar de meta-lamito (peça nº. 1), face 1, perfil e face 2; b)
Lasca unipolar de meta-lamito (peça nº. 26), face 1, perfil e face 2.
4.2.3.5.7. Sítio SC-AI-22
Foram encontrados 07 objetos líticos na área do sítio SC-AI-22. As lascas unipolares
representam 67% do conjunto e os núcleos, 14%. Fragmentos cerâmicos inexistentes no local.
Basalto e meta-lamito foram as matérias-primas utilizadas na confecção de 43% das
peças. As rochas silicosas foram verificadas em apenas 14% da amostra.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
185
Fotos 308 e 309: Núcleo de rocha silicosa (peça nº. 03): face 1 (esq.) e face 2 (dir.).
4.2.3.5.8 Área de Ocorrência Arqueológica Discreta AI-01
Neste sítio foram coletadas apenas 03 peças: 01 lasca unipolar de calcedônia, 01 lasca
bipolar de quartzo e 01 fragmento de lasca de quartzo. Foi registrada a ausência de fragmentos
cerâmicos. Ainda proveniente desta área há a doação de um machado polido em basalto, com
lascamentos na parte distal. Suas dimensões são 14 x 6,5 e 4,3 cm.
4.2.3.5.9. Área de Ocorrência Arqueológica Discreta AI-02
O conjunto de objetos líticos deste sítio é formado por 02 peças: uma lasca unipolar e
um núcleo, ambos de basalto. Ausência de fragmentos cerâmicos.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
186
Fotos 310, 311 e 312: Núcleo de basalto (peça nº. 02).
4.2.4. Considerações finais
Na região oeste do Estado de Santa Catarina, para a implantação das PCH's Alto Irani e
Plano Alto, identificaram-se materiais líticos a céu aberto e em profundidade, agregados ou
isolados, ao longo das margens do rio Irani.
Na área de impacto de Alto Irani foram identificados sete sítios arqueológicos e três
sítios com baixa densidade de material arqueológico ou mini-sítios (Isaac, 1981). Dentre os
sítios arqueológicos, apenas um (SC-AI-17) apresentou material lítico em profundidade.
Distante aproximadamente 13 km de Alto Irani, na área de impactação de Plano Alto,
foram identificados seis sítios arqueológicos e dois mini-sítios. Assim como ocorrido na área de
Alto Irani, também em Plano Alto evidenciou-se apenas um sítio em profundidade (SC-PA-04).
O conjunto de objetos líticos da área de Alto Irani totalizou 2.531 peças. Todavia,
apenas o sítio SC-AI-17, que se localiza na média vertente e dista em torno de 700 m do rio, é
numericamente mais expressivo e quantificou 2.178 peças. Além deste, somente outros três
sítios (SC-AI-02, SC-AI-03 e SC-AI-19) apresentam fragmentos cerâmicos associados a esses
conjuntos.
Na área de Plano Alto, o conjunto de objetos líticos compõe-se de 1.510 peças. Mas,
também nessa área há um único sítio que responde por quase a totalidade da indústria: o sítio
SC-PA-04, que se localiza na margem esquerda do rio Irani, e está representado por 1.377
peças. Este sítio e outros três (SC-PA-08, SC-PA-11 e SC-PA-12) são igualmente litocerâmicos.
Por apresentarem indústrias líticas mais representativas, os sítios SC-AI-17 e SC-PA-04
podem contribuir para uma melhor compreensão da ocupação pré-histórica da área.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
187
O sítio SC-AI-17 atingiu 80 cm de profundidade, porém, é estéril dos 60 aos 70 cm. Até
os 50 cm evidenciaram-se materiais líticos associados a fragmentos cerâmicos. Contudo,
observa-se que os objetos líticos são mais freqüentes de 30 a 40 cm (35%) e a cerâmica de 10
a 20 cm. Após os 50 cm de profundidade, não somente a cerâmica desaparece, como também
os materiais líticos decrescem abruptamente, restando somente 20 peças.
Nos distintos níveis as formas básicas se repetem; em ordem decrescente de
popularidade foram identificadas lascas unipolares, fragmentos de lasca, lascas bipolares,
fragmentos de núcleo, artefatos bifaciais/unifaciais, núcleos, detritos e artefatos brutos.
A baixa freqüência de núcleos e de lascas corticais ou semicorticais sugere que os
lascamentos iniciais da produção não ocorreram dentro do sítio; nesse caso, as matériasprimas teriam sido adquiridas e processadas em seu local de origem ou em outro local, mas
fora da área de assentamento.
Sempre com mais de 50% da amostra, as lascas unipolares são as mais freqüentes até
50 cm. Dos 50 aos 60 cm tem-se 33% de lascas unipolares e de fragmentos de lasca, o
restante corresponde a fragmentos de núcleo e a lascas bipolares. As lascas unipolares em
todos os níveis são, na sua maioria, de meta-lamito (em torno de 60%) e desprovidas de córtex
(em média, 90%). Da superfície aos 20 cm essas lascas unipolares são principalmente de
preparação (56%), a partir desse nível até os 60 cm predominam as lascas de biface (61%).
Quanto às suas dimensões variam de 0,6 x 0,3 x 0,1 cm a 6,5 x 4,3 x 1,8 cm.
Embora em todos os níveis desse sítio as peças bifaciais/unifaciais sejam pouco
representativas (5%), evidenciam-se pontas de projétil pedunculadas dos 10 aos 40 cm. Tais
pontas são de pequenas dimensões (variam entre 1,5 x 1,1 x 0,3 cm e 4,8 x 3,1 x 0,6 cm) e
foram confeccionadas de meta-lamito e de calcedônia.
As evidências do sítio SC-AI-17 sugerem que a sua ocupação iniciou-se aos 50 cm de
profundidade - a pequena quantidade de materiais encontrados abaixo desse nível pode ser o
resultado de processos naturais (bioperturbação). Por sua vez, a alta concentração de objetos
líticos de 20 a 40 cm, dentre eles pontas de projétil pedunculadas, e de fragmentos cerâmicos
acima deste, de 10 a 20 cm, permitem formular a hipótese de que o local represente
assentamentos de populações culturalmente distintas: primeiramente de caçadores coletores e,
posteriormente, de horticultores.
Já o sítio SC-PA-04 atingiu 120 cm de profundidade e nenhum desses níveis mostrouse estéril. Até os 80 cm há materiais líticos e fragmentos cerâmicos associados. Após essa
profundidade, apenas objetos líticos estão presentes. Entretanto, se destaca a maior
freqüência, tanto de objetos líticos quanto de cerâmica, entre 30 e 60 cm.
Nos distintos níveis, indiferente à presença de cerâmica, as formas básicas se repetem,
sendo identificadas, em ordem decrescente de porcentagem, lascas unipolares, detritos,
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
188
fragmentos de lasca e de núcleos, núcleos, termóferos e, por fim, uma peça bifacial. No
entanto, chama a atenção que nos níveis de baixa densidade de materiais (da superfície aos
30 cm) as rochas de meta-lamito tenham sido mais utilizadas do que as rochas de basalto. A
partir dos 30 cm essa relação se inverte, tem-se uma alta densidade de materiais e as rochas
basálticas tornam-se mais freqüentes.
Até os 30 cm as lascas unipolares são as peças mais representativas e, nos níveis mais
profundos, os detritos tornam-se mais numerosos. Ressalta-se que esses detritos
correspondem a pequenos blocos naturais e, provavelmente, não se trata de materiais
antrópicos.
As lascas unipolares são, na sua maioria, de preparação, recobertas com menos de 1/3
de superfície natural e de pequenas dimensões, variando entre 0,4 e 14,3 cm.
O pequeno número de núcleos (14 peças) deve ser destacado. Essa evidência, somada
à presença de apenas um instrumento, sugere que as debitagens iniciais ocorreram fora do
sítio e que as lascas de preparação foram transportadas até ele ou então os núcleos foram
transportados do sítio para outros locais.
Por sua vez, as lascas bipolares são também de pequenas dimensões (variando entre
0,7 e 4,4 cm), mas na sua maioria, de quartzo e calcedônia, e, talvez, por esse motivo, tenham
sofrido debitagem bipolar – mais adequada a esse tipo de matéria-prima. Quanto a essas
lascas bipolares, observa-se que são peças que não se encontram a partir dos 80 cm de
profundidade, justamente nos níveis onde também não há fragmentos cerâmicos. Entretanto,
exceto por essa ausência, não se verifica qualquer outra alteração entre os objetos líticos nos
distintos níveis.
As evidências do sítio SC-PA-04, ao contrário do observado no sítio SC-AI-17, sugerem
que os objetos líticos e os fragmentos cerâmicos correspondem a um mesmo conjunto e,
portanto, pertenceriam a um ou a vários grupos, mas de uma mesma tradição cultural.
Os demais sítios encontram-se próximos aos sítios SC-AI-17 e SC-PA-04 e, por
apresentarem indústrias líticas idênticas a um desses dois, é provável que façam parte de um
mesmo contexto arqueológico, cada um em sua área respectiva.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
189
5. PROGRAMA DE EDUCAÇÃO, DIVULGAÇÃO E VALORIZAÇÃO PATRIMONIAL
Elaine Arnold
Ana Lucia Herberts
As atividades previstas e desenvolvidas a partir do Programa de Educação,
Divulgação e Valorização Patrimonial, vinculado ao projeto “Arqueologia Preventiva na
área de intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC”, abrangeram os municípios de
Xavantina, Faxinal dos Guedes, Arvoredo e Xanxerê no vale do rio Irani.
As atividades educativas foram realizadas em duas etapas, contemplando a
comunidade escolar dos municípios abrangidos pelo empreendimento, que serão a seguir
apresentadas.
Ainda apresenta-se também a elaboração e distribuição do folder “Arqueologia nas
PCHs de Plano Alto e Alto Irani”, bem como o release elaborado para informar a mídia local
sobre os trabalhos de pesquisa realizados.
5.1. ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL REALIZADAS NA ETAPA I
As atividades realizadas na Etapa I envolveram ações educativas aplicadas aos
discentes e docentes da Escola Reunida Santa Teresinha, situada na comunidade de Santa
Teresinha, município de Arvoredo. O objetivo primordial era sensibilizar, tanto o corpo
docente como o discente, sobre a importância da preservação e a valorização do patrimônio
arqueológico regional. Estas atividades foram executadas entre os dias 10 e 14 do mês de
julho do corrente ano, paralelamente às atividades de resgate arqueológico do sítio SC-AI17.
A Escola Reunida Santa Teresinha foi escolhida para a realização desta atividade
por estar situada próxima ao sítio arqueológico em escavação, o que possibilitava envolver a
comunidade e socializar os procedimentos utilizados pelos pesquisadores para o estudo dos
vestígios arqueológicos.
5.1.1. Contato com a Prefeitura Municipal
O Secretário de Educação do município de Arvoredo, Sr. Jacir Nardi, foi contatado
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
190
em 26 de junho de 2006 para a apresentação do Programa de Educação Patrimonial e do
cronograma de atividades previstas. Nesta ocasião, foram abordados os seguintes
assuntos:
•
Apresentação do projeto;
•
Levantamento do universo escolar do município de Arvoredo;
•
Solicitação de auxílio na infra-estrutura para a realização das atividades
(transporte, recursos audiovisuais, entre outros); e
•
Definição da agenda e do cronograma para desenvolvimento das atividades.
No levantamento do universo escolar, constatou-se que na localidade de Linha Santa
Teresinha há uma única unidade escolar administrada pela rede municipal, a Escola Básica
Municipal, que conta no seu quadro com duas professoras e 34 alunos, sendo 9 da préescola e 25 do Ensino Fundamental (1° a 4° séries).
Outras questões abordadas neste levantamento foram referentes ao conhecimento
das professoras com relação ao tema Arqueologia e Patrimônio e dos conteúdos que
estavam sendo tratados em sala de aula. Estas informações foram importantes para nortear
o planejamento das atividades educativas pela equipe de Educação Patrimonial.
5.1.2. Atividades de Educação Patrimonial realizadas junto à Escola Reunida
Santa Teresinha
As ações foram planejadas em três etapas, de acordo com o público alvo. A primeira
etapa constou de atividades dirigidas às professoras, com a apresentação da ciência
Arqueologia, de noções de Patrimônio Cultural e da metodologia de Educação Patrimonial.
Para a segunda etapa, envolvendo os discentes da pré-escola, foi aplicada uma
atividade lúdica envolvendo pintura, trabalhando um tema livre a ser interpretado
posteriormente pelas crianças do ensino fundamental.
A terceira etapa, envolvendo os alunos de 1ª a 4ª série do ensino fundamental, foi
desenvolvida uma oficina com atividades ludo-pedagógicas (FANTIN, 2000 e MURCIA,
2005), incluindo a visita a um sítio arqueológico da região.
5.1.2.1. Atividades de preparação e orientação do corpo docente
A atividade envolvendo as professoras foi realizada no dia 10 de julho, nas
dependências da Secretaria de Educação do município, tendo como temática norteadora a
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
191
instrumentalização destas quanto à Arqueologia, o Patrimônio Cultural e a metodologia de
Educação Patrimonial (FARIAS, 2001).
Na ocasião, foi exibido o vídeo “A arqueologia vai à Escola: uma experiência com
escavação simulada” (BEZERRA DE ALMEIDA, 2001), como exemplo e instrumento para
discussão e demonstração da escavação simulada, que seria aplicada aos alunos na
seqüência dos trabalhos. Após a projeção do vídeo, foram sanadas dúvidas e distribuída
uma coletânea de textos selecionados sobre preservação do patrimônio, educação
patrimonial e arqueologia. Este material de apoio visou suprir as professoras com material
que servisse para o ensino em sala de aula. A coletânea de texto foi composta por trechos
extraídos de livros ou artigos, a saber:
1) ATAÍDES, J. M., MACHADO, Laís Aparecida, SOUZA, Marcos André Torres de.
Cuidando do Patrimônio Cultural. Goiânia: Ed. UCG, 1997. p 11-13.
2) MORLEY, Edna June. O Presente do Passado. O que é Arqueologia? Empreendimento
Habitasul / Jurerê Internacional, 1992.
3) ITAQUI, José e VILLAGRÁN, María Angélica. Educação Patrimonial: A Experiência da
Quarta Colônia. Santa Maria: Palloti, 1998.
4) VERSIGNASI, Alexandre. Como é a escavação de um sítio arqueológico? In:
Superinteressante Especial: Mundo Estranho. Edição 06. São Paulo: Editora Abril, 2002,
p. 32-33.
5) STALLYBRASS, P. O casaco de Marx. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. p 10-13.
Realizou-se, na seqüência, a explanação de como seria desenvolvida a oficina junto
às crianças e a participação das professoras neste processo. Foi solicitado à professora do
pré-escolar que desenvolvesse junto à sua turma a atividade de pintura em vasilhas de
cerâmica, adequando-se ao tema abordado no programa curricular, cujo tópico central era a
família.
À professora da turma de 1ª a 4ª série, foi solicitada a aplicação de um questionário
baseado em Bezerra de Almeida (2002), que procurava avaliar, por meio de perguntas, o
conhecimento dos alunos sobre a arqueologia e a noção de preservação, tratando “de um
universo com três dimensões: a informação, a representação e a atitude” (MOSCOVICI
apud BEZERRA DE ALMEIDA, 2002, p. 93) (Anexo 4A).
5.1.2.2. Atividades com os discentes: educação básica – pré-escolar
Embora o programa tenha sido planejado para atingir o universo dos alunos de 1ª a
4ª série (25 alunos), por tratar-se de atividades com maior apreensão de conceitos,
empregando a observação e o registro escrito, optou-se em envolver, também, os alunos do
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
192
pré-escolar no processo, a fim de proporcionar a interação e a reflexão sobre o “outro”.
A forma encontrada para incluir os alunos do pré-escolar (09 alunos) nas atividades,
foi envolvê-los na atividade de pintura em vasilhas de cerâmica, que serviriam
posteriormente de objeto para a escavação simulada junto à turma de 1ª a 4ª séries.
Para esta ação foram abordados temas sobre a família (casa, pais, irmãos,
parentes, etc.), que estavam sendo trabalhados pela professora. Como material de apoio
foram utilizadas vasilhames de cerâmica, giz de cera, pincéis e tinta guache. Cada aluno
recebeu uma vasilha com o objetivo de representar os membros da família. A escolha das
cores das tintas (preto, vermelho e branco), baseou-se nos tons possivelmente utilizados
pelos antigos grupos indígenas no passado.
Fotos 313 e 314: Alunos do pré-escolar mostrando os vasilhames com as suas
pinturas.
5.1.2.3. Atividades com os discentes: ensino fundamental
Com os alunos do ensino fundamental foram realizadas diversas atividades
programadas em dias diferentes, buscando propiciar uma seqüência de ensino-aprendizado.
Estas atividades iniciaram com uma oficina e culminaram com uma visita guiada à
escavação de um sítio arqueológico.
A oficina iniciou com uma aula expositiva, com auxílio de lâminas e retro-projetor,
utilizando uma história em quadrinhos (Anexo 4B), com texto e imagens adaptadas do gibi
“Arqueologia: uma viagem ao passado” (HERBERTS; COMERLATO, 2003), que trata do
trabalho do arqueólogo (campo e laboratório), do que é sítio arqueológico, onde podem ser
encontrados e quais as suas principais características.
Posteriormente foi realizada uma atividade prática através da execução de uma
escavação arqueológica simulada, buscando fornecer uma experiência prática da pesquisa
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
193
arqueológica, para a fixação dos conceitos apreendidos em sala com a exposição inicial.
A escavação simulada buscou propiciar às crianças a experimentação de uma das
atividades de campo do arqueólogo, preparando-os para que compreendam durante a visita
ao sítio arqueológico as atividades desenvolvidas no resgate do mesmo.
Para a escavação arqueológica simulada foram produzidas três caixas de madeira15
de 1m² com 20 cm de altura. As caixas foram preenchidas com areia para facilitar a
escavação para as crianças. Nestas caixas foram enterradas as vasilhas pintadas pelos
alunos do pré-escolar. Para o início da atividade, os alunos foram divididos em três equipes,
por meio de sorteio iconográfico16, representando as diversas ferramentas utilizadas pelos
arqueólogos no trabalho de campo. Na oportunidade, foi discutida qual a função de cada um
dos equipamentos representados e utilizados pelo arqueólogo na pesquisa de campo.
Na seqüência, os alunos realizaram a escavação simulada, que consistiu na
descoberta e evidenciação dos objetos enterrados, com a retirada cuidadosa do solo. A
etapa seguinte foi o registro, através de desenhos, dos objetos encontrados na caixa de
areia (Anexo 4C). Como material de apoio para esta atividade foram utilizados, além das
caixas de areia, pincéis, pás pequenas, pranchetas e lápis.
Após a escavação simulada, os alunos retornaram à sala de aula, onde se procurou
salientar a importância da preservação do patrimônio arqueológico e quais os critérios
empregados pelos arqueólogos na coleta dos artefatos arqueológicos. Fizeram-se ainda
recomendações de como proceder quando encontrassem algum vestígio ou soubessem de
algum achado arqueológico, destacando a importância do arqueólogo neste trabalho.
15
Foram adotadas caixas de madeira com 1m², já que esta medida corresponde ao espaço delimitado,
respeitando a metodologia utilizada pelos arqueólogos na escavação do sítio arqueológico.
16
Sorteio iconográfico: a partir de cartões coloridos com imagens referentes aos instrumentos utilizados pelos
arqueólogos nas pesquisas de campo. Após a distribuição individual, as equipes foram agrupadas tendo como
base as cores dos cartões nas imagens impressa.
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Irani, SC – Relatório Final.
194
Fotos 315 e 316: Escavação arqueológica simulada com as crianças.
Em seguida, foi desenvolvida a atividade chamada “Baú da Arqueologia”. Esta
atividade consistiu na apresentação de um baú de vime no qual havia peças arqueológicas
reais (fragmentos cerâmicos e instrumentos líticos), de uma coleção de referência com fins
educativos, material este sem procedência e sem interesse científico. O objetivo principal
desta atividade foi proporcionar às crianças a observação e o manuseio dos artefatos
arqueológicos. Através deste material, elas puderam perceber quais os vestígios mais
freqüentes nos sítios arqueológicos da região. Nesta brincadeira, cada aluno escolheu o
objeto que mais lhe interessou e o registrou através de desenho (Anexo 4C).
Foto 317: Descoberta e registro dos Foto 318: Detalhe de um aluno realizando
artefatos na escavação arqueológica o registro do objeto escavado.
simulada.
Após a conclusão destas atividades, os alunos receberam orientação e
recomendações de conduta durante a visita ao sítio arqueológico, realizada no dia seguinte.
Como encerramento da oficina, foram ainda distribuídos caça-palavras para colorir,
com o objetivo de fixar os conceitos trabalhados (Anexo 4D).
No dia seguinte, os alunos foram guiados ao sítio arqueológico SC-AI-17, para
observar e participar do ambiente da pesquisa arqueológica. Primeiramente, receberam
orientações e informações sobre o sítio. O roteiro incluiu visitas às quadrículas que estavam
sendo escavadas no sítio, onde os estagiários responsáveis mostraram o material
arqueológico coletado e responderam às perguntas das crianças. Após as explicações, os
alunos ficaram à vontade para percorrerem a área de pesquisa e explorarem aquilo que
havia lhes chamado mais a atenção.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
195
Fotos 319 e 320: Visita ao sítio arqueológico SC-AI-17, onde os alunos conheceram na
prática do trabalho de escavação arqueológica.
Neste momento, dividiram-se entre a observação da escavação das quadrículas, o
acompanhando do trabalho de peneiramento do solo e triagem do material na peneira e a
identificação dos vestígios arqueológicos coletados. Alguns alunos executaram as etapas de
triagem e identificação das coletas, sempre sob orientação de membros da equipe de
arqueologia.
Foto 321: Crianças recebendo orientação Foto 322: Crianças observando
dos estagiários nas quadrículas sendo artefatos arqueológicos resgatados.
escavadas.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
os
196
Foto 323: Observação de vestígio Foto 324: Os alunos auxiliando
arqueológico encontrado durante a acondicionamento e identificação
escavação do sítio.
material coletado.
no
do
Ao final das atividades, foi realizada a avaliação e fixação do conhecimento
apreendido com a aplicação do mesmo questionário respondido no início das atividades do
dia anterior. A partir deste foi possível verificar se houve alguma alteração na percepção dos
alunos em relação à visão que tinham do arqueólogo e da arqueologia, ou seja, o antes e o
depois das ações educativas (Anexo 4E). Da mesma forma que o inicial, o questionário final
também foi aplicado pela professora responsável e entregue à equipe de arqueologia no dia
seguinte ao da visita.
Fotos 325 e 326: As crianças participando da triagem e coleta de material na peneira.
5.1.3. AVALIAÇÃO DAS ATIVIDADES
O ato de avaliar a execução das ações educativas é muito importante para melhor
planejar a seqüência do programa educativo, corrigir possíveis falhas e, sobretudo, procurar
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
197
aperfeiçoar as futuras atividades de Educação Patrimonial. A avaliação deve ser realizada
em vários estágios, tanto pelo corpo docente e discente envolvido nas atividades quanto
pela equipe responsável pelo programa em relação ao alcance dos objetivos, destacando os
resultados positivos e identificando os negativos e suas causas para poder saná-los.
Nas ações junto aos alunos do ensino fundamental, estavam previstas as atividades
de coleta, limpeza e reconstrução dos fragmentos de vasilhames cerâmicos proveniente da
escavação simulada, cujos cacos estavam misturados nas caixas de areia. Os vasilhames
deveriam ter sido quebrados após a secagem da pintura e usados na escavação simulada.
Estes fragmentos propiciariam subsídios para a simulação de atividades de laboratório,
como por exemplo, a remontagem dos vasilhames para análise, tentando identificar quais
eram os desenhos pintados, quem eram os seus autores e o significado das representações
(HORTA, 1999).
No entanto, várias foram as dificuldade enfrentadas que impossibilitaram a execução
da atividade conforme o previsto. Primeiramente, os alunos do pré-escolar quiseram levar
para casa os vasilhames pintados e mostrá-los aos pais, guardando-os como lembrança,
inviabilizando a seqüência prevista de atividades simuladas em laboratório, com a
remontagem das peças, já que diante desta situação, as vasilhas não poderiam ser
fragmentadas.
A segunda dificuldade enfrentada foi detectada no momento da aula expositiva, em
que os alunos do ensino fundamental já tinham conhecimento da pintura dos vasilhames
cerâmicos realizada pelo pré-escolar, o que não propiciava mais o elemento surpresa
pretendido na etapa de análise em laboratório.
Com relação às perguntas empregadas nos questionários, percebeu-se que as
mesmas não foram interpretadas em sua totalidade. Atribui-se este resultado, em parte, ao
uso de linguagem diferente da realidade da região e em parte por terem sido aplicadas pelas
professoras sem acompanhamento da equipe de arqueologia. Portanto, não foram
repassadas interpretações e explicações sobre a forma como deveriam ser preenchidas.
O objetivo principal era evitar que os alunos fossem influenciados ao responderem as
perguntas. A intenção era averiguar o quanto os alunos sabiam a respeito da arqueologia e,
no final, as perguntas serviriam como exercício de fixação e fechamento do assunto.
Muitos dos alunos não possuem televisor em suas casas e o vínculo atribuído à
arqueologia e a personagens como “Indiana Jones” não foram percebidos. Além disso, ficou
evidente o fato de que a personagem “Indiana Jones”, tão popular há alguns anos, é muito
antiga para as crianças que participaram das atividades, não constituindo mais uma
referência de profissional de arqueologia para esta faixa etária. No questionário inicial,
apenas cinco alunos disseram conhecer arqueólogos através da TV, sem mencionar mais
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
198
informações. No entanto, ao estabelecer o diálogo com a turma durante a exposição teórica,
não foi percebido nenhum relato relacionado ao personagem ou a paleontologia,
normalmente citada e vinculada à arqueologia.
Embora os alunos conhecessem artefatos arqueológicos fortuitamente encontrados
na região, as atividades práticas aplicadas proporcionaram o primeiro contato com o
universo da pesquisa arqueológica, reforçando a importância da preservação.
Mesmo diante das dificuldades enfrentadas, o objetivo principal das atividades foi
alcançado, que era informar as crianças sobre a arqueologia e a atividade do arqueólogo,
além de envolver e sensibilizá-las para a importância da preservação do patrimônio
arqueológico regional. Embora não tenha existido maior tempo para o amadurecimento das
questões tratadas, percebeu-se através da avaliação dos questionários, uma alteração
positiva na percepção das crianças em relação ao que é patrimônio arqueológico, sobre esta
ciência e o trabalho do arqueólogo. Nas perguntas realizadas para aferir se havia mudado
algo do que se pensava ou se sabia a respeito da arqueologia, a maioria dos alunos
respondeu positivamente, relatando que havia mudado o conceito que possuíam antes das
atividades. Um aluno da 3ª série escreveu: “mudou, agora eu sei que é estudar o passado”.
A equipe de arqueologia e as professoras avaliaram a experiência como sendo muito
proveitosa, destacando-se o grande envolvimento das crianças e o interesse despertado por
uma ciência até então desconhecida.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
199
5.2. ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL REALIZADAS NA ETAPA II
5.2.1. Contato com as Secretarias de Educação
As Secretarias de Educação dos municípios de Arvoredo, Faxinal dos Guedes,
Xavantina e Xanxerê foram contatadas no mês de setembro de 2006 para a apresentação
do Programa de Educação Patrimonial e do cronograma de atividades previstas. Nesta
oportunidade, foram abordados os seguintes assuntos:
•
Apresentação do projeto;
•
Levantamento do universo escolar do município;
•
Verificação da infra-estrutura das escolas para a realização das atividades
(recursos audiovisuais); e
•
Definição da agenda e do cronograma para desenvolvimento das atividades.
No levantamento do universo escolar, constatou-se uma quantidade significativa de
escolas isoladas em que as turmas de Ensino Fundamental de 1ª a 4ª séries estão reunidas
e são trabalhadas ao mesmo tempo por um único professor.
A Secretaria Municipal de Educação do município de Xanxerê não respondeu às
solicitações enviadas, embora tenha confirmado o recebimento das informações. Portanto,
não conseguimos realizar as atividades neste município por ausência de dados e retorno
para agendar as atividades.
5.2.2. Seleção das escolas contempladas e planejamento das atividades
Diante do levantamento escolar realizado, que mostrou um grande número de
alunos, superior a 1.200 nos três municípios (Arvoredo, Faxinal dos Guedes e Xavantina)
optou-se em desenvolver as atividades com uma parte da comunidade escolar. Para tanto,
com o auxílio das Secretarias de Educação, estabeleceu os critérios para a escolha das
escolas que foram os seguintes:
a) Escolas do Ensino Fundamental com turmas de 1° a 4° séries quando isoladas e
turma de 4ª série em escolas municipais seriadas; e
b) Proximidade com as áreas em que foram localizados os sítios arqueológicos e
com o empreendimento.
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Irani, SC – Relatório Final.
200
MUNIC.
ESCOLA
Arvoredo
Escola Municipal Isolada Chapada Alta
TURMA
1ª a 4ª série
Nº. DE ALUNOS
18 alunos
1 professora
Escola Municipal Isolada Lomba Grande
1ª a 4ª série
16 alunos
1 professora
Escola Municipal Isolada Duque de Caxias
1ª a 4ª série
13 alunos
Xavantina
1 professora
Escola Municipal Isolada Reduto
1ª a 4ª série
10 alunos
1 professora
Escola Municipal Isolada Plano Alto
1ª a 4ª série
11 alunos
Faxinal
dos
Guedes
1 professora
4ª série
Escola Municipal Santa Teresinha
64 alunos
6 professoras
Quadro 8: Escolas selecionadas e atendidas na segunda etapa.
As atividades foram planejadas de modo distinto da etapa anterior. Em virtude da
quantidade de escolas a serem contempladas pelas ações educativas e do encerramento da
etapa de resgate dos sítios arqueológicos, não haveria a possibilidade de visita guiada a
escavação. Deste modo, as atividades foram elaboradas para ocorrer exclusivamente no
espaço da sala de aula, sem envolver o auxílio e a infra-estrutura externa das escolas, o que
possibilitou maior agilidade no desenvolvimento das atividades. Outro aspecto que
diferenciou a metodologia nas duas etapas foi o material utilizado na exposição teórica. Com
o objetivo de padronizá-lo e diante da dificuldade de infra-estrutura e recursos audiovisuais
por parte de algumas escolas, buscou-se utilizar o mesmo material em todos os municípios.
Algumas das escolas escolhidas para as atividades não puderam ser atendidas
diante de dificuldades enfrentadas para a execução do programa, alheias à equipe, como a
falta de transporte dos alunos e o passeio de confraternização realizado em virtude do
encerramento do ano letivo, sem alteração das atividades já agendadas.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
201
5.2.3. Material fornecido ao Corpo Docente
Nesta etapa, assim como na anterior, foi distribuída uma coletânea de textos
selecionados, sobre preservação do patrimônio, educação patrimonial e arqueologia, assim
como sugestões de atividades para serem desenvolvidas, envolvendo a temática patrimônio.
Este material de apoio tem por objetivo instrumentalizar as professoras para o ensino
em sala de aula sobre o tema. A coletânea de texto foi composta por trechos extraídos de
livros ou artigos, a saber:
1) ATAÍDES, J. M., MACHADO, Laís Aparecida, SOUZA, Marcos André Torres de.
Cuidando do Patrimônio Cultural. Goiânia: Ed. UCG, 1997. p 11-13.
2) MORLEY, Edna June. O Presente do Passado. O que é Arqueologia? Empreendimento
Habitasul / Jurerê Internacional, 1992.
3) ITAQUI, José e VILLAGRÁN, María Angélica. Educação Patrimonial: A Experiência da
Quarta Colônia. Santa Maria: Palloti, 1998.
4) VERSIGNASI, Alexandre. Como é a escavação de um sítio arqueológico? In:
Superinteressante Especial: Mundo Estranho. Edição 06. São Paulo: Editora Abril, 2002,
p. 32-33.
5) HORTA, M.L.P.; E. GRUNBERG; A. Q. MONTEIRO Guia Básico de Educação
Patrimonial. Brasília, IPHAN, 1999.
6) MUSEU DE ARQUEOLOGIA E ETNOLOGIA DA USP. Brasil 50 mil anos: Uma viagem
ao passado pré-colonial. (Guia temático para professores). 2000.
5.2.4. Atividades de Educação com Discentes
As atividades com os alunos seguiram três momentos distintos, divididos entre as
atividades e a avaliação, sendo precedidas pela aplicação de um questionário baseado em
Bezerra de Almeida (2002), que procurava avaliar, por meio de perguntas, o conhecimento
dos alunos sobre a arqueologia e a noção de preservação (Anexo 4F).
5.2.4.1. Atividade I – História dos objetos e a relação com a Arqueologia
Inicialmente foi realizada uma dinâmica de grupo, baseada na proposta de Francisco
Ramos (2004), que sugere a escolha de um “objeto gerador” para motivar reflexões e para
“perceber a vida dos objetos, entender e sentir que os objetos expressam traços culturais
[...] tal exercício deve partir do próprio cotidiano, pois assim se estabelece o diálogo, o
conhecimento do novo na experiência vivida: conversa entre o que se sabe e o que se vai
saber [...]” (p. 32).
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
202
Neste sentido, foi solicitado à turma que escolhesse um objeto em suas mochilas,
bolsas, bolsos ou no ambiente da sala de aula e que os organizassem e os colocassem
reunidos. Cada grupo17, por sua vez, utilizando a imaginação, criou uma narrativa a partir do
conjunto de objetos escolhidos, sobre o modo de vida, quem poderiam ser as pessoas (ou
pessoa) que utilizavam aqueles objetos escolhidos, qual a história e o contexto histórico em
que estão inseridos (cultura) etc., procurando a partir dos objetos selecionados responder
questões como: Quem são? O que fazem? Qual o significado ou importância deste objeto
para estas pessoas?
Fotos 327 e 328: Alunos reunidos para execução da atividade com os “objetos
geradores”: Escola Municipal Santa Teresinha, Faxinal dos Guedes (esq.) e Escola
Municipal Isolada Reduto, Xavantina (dir.).
A partir desta narrativa, objetivou-se demonstrar como o arqueólogo trabalha,
analisando os artefatos do passado para compreender o modo de vida de quem os usou;
qual a importância da ciência e sua metodologia para a reconstituição do modo de vida e da
cultura dos povos que viveram no passado.
17
As equipes foram divididas em pequenos grupos de no máximo cinco integrantes, conforme a quantidade de
alunos presentes em classe.
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Irani, SC – Relatório Final.
203
Fotos 329 e 330: Grupos construindo uma história a partir dos objetos selecionados:
Escola Municipal Santa Teresinha, turma matutina, Faxinal dos Guedes (esq.) e Escola
Municipal Isolada Chapada Alta, Arvoredo (dir.).
Ao mesmo tempo, buscou-se fazer com que os alunos percebessem a diferença
entre a narrativa no modo da ficção, por eles produzida, e os dados gerados pela ciência.
Portanto, a intenção foi fazer uma ligação entre objetos do seu cotidiano e o estudo desses
objetos, buscando “potencializar o campo de percepção diante [destes], por meio da
‘pedagogia da pergunta’, [...] aprender a refletir a partir da ‘cultura material’” (RAMOS, 2004,
p. 28).
A partir da dinâmica de grupo, foram utilizadas pranchas iconográficas18 como
recurso para a explanação da metodologia (Anexo 4G) e das práticas arqueológicas,
realizando a relação entre a narrativa criada pelos alunos, abordando os seguintes temas:
!
A História dos objetos e a relação destes com o homem;
!
A relação dos objetos com a Arqueologia;
!
Conceito de Arqueologia;
!
Como é o trabalho do arqueólogo (campo e laboratório);
!
O que é sítio arqueológico e os tipos de sítios da região;
!
Onde se encontram os sítios e suas principais características; e
!
Preservação do patrimônio arqueológico.
5.2.4.2. Atividade II: Escavação Simulada
Na seqüência, foi realizada uma atividade prática, ainda em equipe, através da
18
As pranchas iconográficas são cartazes em tamanho 50 x 65 cm, com perguntas e imagens que facilitam o
diálogo e servem como material para-didático.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
204
execução de uma escavação arqueológica simulada, que objetivava a fixação dos conceitos
apreendidos no exercício anterior e buscava proporcionar às crianças a experimentação do
dia-a-dia do arqueólogo em uma escavação, embora as atividades deste não se restrinjam
somente a esse tipo de pesquisa.
Baseada na experiência de Ademir José Machado (2004), a partir de uma caixa-sítio
(caixa de papelão e papel picado em diferentes cores para diferenciar as camadas
arqueológicas), foram dispostos objetos (louças, fragmentos de cerâmica, material lítico19,
dentre outros) do mesmo período em cada caixa, produzindo assim registros de “sítios”
diferentes.
Logo depois, as equipes realizaram a escavação simulada, que consistiu na
descoberta e evidenciação dos objetos “enterrados”, com a retirada dos papéis, tomando
cuidado e seguindo a metodologia análoga à utilizada em campo. A etapa seguinte passou
ao registro, através do desenho dos objetos encontrados na caixa-sítio, culminando com a
coleta e análise destes, assim como a constatação da diferença existente entre os objetos
de cada sítio pesquisado pelas equipes. (Anexo 4H).
19
Foram utilizados materiais da coleção de referência da empresa, que em grande parte é proveniente de
acervos particulares sem contextualização arqueológica, doadas à empresa em trabalhos de campo.
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Irani, SC – Relatório Final.
205
Fotos 331 a 334: Alunos realizando a atividade de escavação simulada com a caixasítio: Escola Municipal Isolada Duque de Caxias (sup. esq.) e Escola Municipal Isolada
Chapada Alta (sup. dir.), em Arvoredo e Escola Municipal Santa Teresinha, turma
matutina (inf. esq.) e turma verpertina (inf. dir.), Faxinal do Guedes.
5.2.4.3. Atividade III: Encerramento e avaliação
No encerramento da oficina foram aplicadas as perguntas baseadas em Bezerra de
Almeida (2002), com o objetivo de fixar as informações e os conceitos trabalhados (Anexo
4I).
Por fim, foi entregue a cada aluno o folder intitulado: “Arqueologia nas PCHs de
Plano Alto e Alto Irani” e a folha de atividades contendo um caça-palavras para colorir e um
enigma arqueológico (Anexo 4J), buscando a fixação do conteúdo apreendido.
Fotos 335 e 336: Alunos respondendo as perguntas ao final das atividades: Escola
Municipal Isolada Plano Alto, Xavantina (esq.) e Escola Municipal Santa Teresinha,
Faxinal dos Guedes (dir.).
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Irani, SC – Relatório Final.
206
5.2.5. Avaliação das atividades da Etapa II
Reiterando a importância do ato de avaliar a execução das ações educativas como
forma de aperfeiçoamento para futuras atividades de Educação com o patrimônio, objetivouse realizar a mesma avaliação utilizada na etapa anterior. Esta foi feita em vários estágios,
tanto pelo corpo docente e discente envolvidos nas atividades, quanto pela equipe
responsável pelo programa em relação ao alcance dos objetivos, destacando os resultados
positivos e identificando os negativos e suas causas, podendo aperfeiçoá-los.
Como já citado anteriormente, após a avaliação das atividades realizada na Etapa I,
algumas ações foram modificadas em virtude de aspectos observados tanto no universo
escolar, quanto na região trabalhada: 1) realidade econômica e social das comunidades
visitadas; 2) linguagem utilizada pelos alunos; e 3) intervenção das professoras no processo
de avaliação antes e depois das atividades (auxílio nas respostas dos questionários
aplicados).
Diante disso, pode-se avaliar que poucas foram as dificuldades encontradas na
execução das atividades nesta etapa, embora algumas ações tenham sido adaptadas. A
saber: 1) as fichas de campo foram preenchidas em equipe e não individualmente, diante da
dificuldade de escrita de alguns alunos que ainda cursavam a 1ª série do ensino
fundamental; e 2) a análise dos objetos pesquisados após a atividade de escavação
simulada foi realizada sem o auxílio do formulário individual que havia sido produzido, tendo
o objetivo de enriquecer a discussão, fomentando perguntas e participação dos alunos.
Portanto, deu-se de forma oral e com a participação do grande grupo. Tais adaptações
foram consideradas como adequadas e eficazes no desenvolvimento da atividade em sala
de aula.
Quanto às perguntas formuladas antes e depois das ações (Anexos 4F, 4I), como
forma de avaliação do conhecimento a respeito da arqueologia, nesta etapa estas foram
aplicadas pela equipe de Educação Patrimonial, o que favoreceu um maior controle sobre a
interpretação e garantiu o retorno sem influências e sugestões a respeito de uma “resposta
correta”. Dessa forma, procurou-se mostrar que o conhecimento é construído e que não
existe a obrigação de “saber a respeito de tudo” e sim que os alunos estejam dispostos e
motivados a aprender. Um aspecto observado e considerado pela equipe muito importante
foi a grande dificuldade dos alunos diante da possibilidade de responder “não sei”.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
207
Nas questões mais específicas, verificou-se que a definição do que era a arqueologia
era desconhecida para a maioria dos alunos e para alguns professores. Além disso, não
identificamos uma imagem estereotipada do arqueólogo, vinculando ao personagem Indiana
Jones, assim como mencionado e identificado por Bezerra de Almeida (2002). È preciso, no
entanto, como mencionado anteriormente, que este personagem é muito antigo para a faixa
etária das crianças que participaram da atividade, e nenhum outro o substituiu na mídia
desde então. Outro aspecto observado também foi a inexistência da relação entre
paleontologia e a arqueologia, vinculando fósseis e dinossauros a esta última.
5.3. COMPARAÇÃO E AVALIAÇÃO DA METODOLOGIA DA ETAPA I E ETAPA II
Nas etapas I e II, dois conjuntos distintos de atividades constituíram a metodologia
empregada, realizadas em períodos diferentes, embora norteadas por objetivos comuns.
Diante disso, é possível avaliar comparativamente as ações da Etapa I como
eficientes, porém não tão eficazes; ao contrário da Etapa II em que todas as ações foram
eficientes e eficazes. Esta leitura é realizada ao confrontar, por exemplo, o tempo
empregado em ambas as etapas e o resultado a respeito da compreensão dos conceitos e
dos temas abordados.
Na primeira fase, houve um convívio maior com os alunos e as atividades foram
desenvolvidas ao longo de uma semana. Já na segunda etapa, as atividades foram
concentradas e realizadas em um único encontro. Isto demonstra que a Etapa I, mesmo
com maior tempo disponível, não foi suficiente para que os assuntos fossem compreendidos
em sua totalidade.
Chegou-se a esta conclusão baseado na percepção e na participação dos alunos,
assim como na interação entre eles no momento da escavação simulada, quando os
conceitos explicados eram postos em prática e reforçados.
Percebeu-se também que a falta do contato direto com os alunos e com a realidade
escolar da região na fase de levantamento (linguagem, situação sócio-econômica, dentre
outros), comprometeu a eficácia das ações na primeira etapa.
Na segunda fase, munidos da avaliação realizada na etapa I, foi possível adequar
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
208
todas as atividades para a realidade a ser enfrentada. Neste aspecto, levou-se em
consideração não só as informações a respeito de faixa etária, dos currículos, dos temas
abordados pelos professores, mas todos os aspectos mencionados anteriormente.
Desta forma, considera-se primordial em futuros levantamentos do universo escolar
realizar alguma forma de observação ou de contato com o público alvo para melhor avaliar o
contexto antes do desenvolvimento das ações de Educação Patrimonial, para que todos os
aspectos identificados sejam considerados no momento do planejamento das atividades e
do material para esse público.
Embora a avaliação com os docentes tenha sido feita oralmente, como sugestão
para atividades posteriores de Educação Patrimonial, propõe-se a criação de um
questionário de avaliação para o professor que acompanha as atividades, aferindo sobre a
metodologia utilizada, o tempo empregado, os resultados e demais questões. Este
questionário serviria como instrumento de avaliação do docentes em relação à atuação da
equipe de Educação Patrimonial.
5.4. ELABORAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DO FOLDER
5.4.1. Elaboração do Folder
Com intuito de divulgar as pesquisas arqueológicas realizadas na região em virtude
do empreendimento e abordar a importância da preservação do patrimônio arqueológico, foi
produzido um folder, em linguagem acessível, para distribuição ao público da região durante
as atividades educativas.
O material produzido, intitulado “Arqueologia nas PCHs de Plano Alto e Alto Irani”
(Anexo 4K) contém esclarecimentos sobre o licenciamento ambiental e os resultados
produzidos sobre a arqueologia regional. Além disso, apresenta a definição sobre esta
ciência, os sítios arqueológicos, a pesquisa de campo e o trabalho em laboratório. Aborda,
ainda, o que fazer quando ocorre uma descoberta arqueológica fortuita e qual local procurar
para obter mais informações.
O folder foi impresso em papel couché, colorido, tamanho A4, apresentado em três
dobraduras. A tiragem foi de 2.000 exemplares de distribuição gratuita.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
209
5.4.2. Distribuição do Folder
A distribuição dos folders buscou atender a comunidade escolar, assim como as
instituições regionais, como veículos de informação local:
LOCAL
UNIDADES
Centro de Memória do Oeste – CEOM / UNOCHAPECÓ
200
11ª SR/IPHAN/SC – Santa Catarina
20
12ªSR/IPHAN/RS – Rio Grande do Sul
20
Secretaria de Educação do Município de Arvoredo
240
Oficinas no Município de Arvoredo
50
Secretaria de Educação do Município de Faxinal dos Guedes
627
Oficinas em Faxinal dos Guedes
70
Secretaria de Educação do Município de Xavantina
100
Casa de Cultura do Município de Xavantina
100
Oficinas em Xavantina
23
Secretaria de Educação do Município de Xanxerê
100
Secretaria de Cultura - Museu de Xanxerê
100
Secretaria de Educação do Município de Xaxim
100
Scientia – acervo e distribuição em eventos científicos
100
Empreendedor - ETS
150
TOTAL
2.000
Quadro 9: Distribuição dos folders por instituição.
5.5. DIVULGAÇÃO DAS ATIVIDADES NA MÍDIA LOCAL
Após as atividades de Educação Patrimonial realizadas na localidade de Santa
Teresinha, município de Arvoredo, foi providenciada a divulgação através de jornais da
região, sendo elaborado um release sobre as ações (Anexo 4L).
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
210
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Solange Bezerra Caldarelli
As avaliações arqueológicas feitas nos locais indicados como sítios arqueológicos
pelo diagnóstico realizado para o EIA do empreendimento demonstraram que sete desses
locais constituíam efetivamente sítios arqueológicos (sendo três na PCH Plano alto e quatro
na PCH Alto Irani); três correspondiam a uma ocorrência discreta de material arqueológico
(um na PCH Plano Alto e dois na PCH Alto Irani) e dois não apresentaram qualquer tipo de
vestígio arqueológico, sendo, portanto, descartados.
Os quadros 10 e 11, nas páginas seguintes, sintetizam os trabalhos realizados e os
resultados das avaliações, descritos em maiores detalhes no capítulo dois deste relatório.
Os trabalhos de resgate arqueológico compreenderam oito sítios arqueológicos,
sendo cinco na PCH Plano Alto e três na PCH Alto Irani, conforme se pode ver no capítulo
três deste relatório.
Sobre os sítios resgatados, verificou-se que sua implantação se deu
preferencialmente em patamares, situados entre baixas e médias vertentes. Apenas dois
sítios foram registrados em alta vertente, um deles também em patamar. Um único sítio
arqueológico foi registrado em topo.
O quadro 10, abaixo, mostra a relação entre as áreas estimadas dos sítios
resgatados, a profundidade da camada arqueológica e a densidade de material registrada
em cada um.
Sítio
Área
Profundidade
Densidade
de material
PA-04
1.200 m²
1,20m
Alta
AI-17
5.000 m²
0,80m
Alta
AI-03
6.000 m²
0,20m
Média
PA-08
7.500 m²
superficial
Baixa
PA-11
8.500 m²
superficial
Baixa
AI-08
9.000 m²
superficial
Baixa
PA-12
9.600 m²
superficial
Baixa
PA-09
14.400 m²
superficial
Baixa
Quadro 10 – relação entre sítio, área, profundidade e densidade de material.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
211
Uma análise do quadro 12 permite observar que as maiores densidades de material
arqueológico foram registradas exatamente nos sítios não superficiais, com camada
arqueológica relativamente bem preservada (sítios PA-04 e AI-17) ou no qual ainda havia
alguma matriz de sustentação do material arqueológico, mesmo que bastante comprometida
(sítio AI-03).
Nos demais sítios, pode-se considerar que a destruição da matriz arqueológica
causou a destruição dos sítios e sua área atual não corresponde à área originalmente
ocupada, devendo ser resultante da dispersão do material arqueológico.
Processos pós-deposicionais, sejam eles naturais ou antrópicos, afetam tanto a
matriz do sítio arqueológico (o solo) quanto os materiais arqueológicos. Dentre esses
fatores, podem ser destacados:
a) os que levam à erosão do solo, expondo materiais enterrados: desmatamento,
ravinamento, aragem da terra (em especial mecanizada), etc.;
b)
os que levam a perturbações estratigráficas: raízes (em especial as de grande
porte); animais invertebrados (formigas, cupins, minhocas, etc.) e vertebrados (tatus,
coelhos, etc.) e ações construtivas antrópicas;
c) os que fragmentam e dispersam os materiais arqueológicos: pisoteamento (por
humanos e animais de criação), passagem de veículos (em especial os pesados),
abertura de cavas e valas, etc.
Enfim, após o abandono de um sítio por seus ocupantes, os remanescentes
materiais da ocupação são afetados por uma série de fatores naturais e antrópicos, que os
deslocam, horizontal e verticalmente, alterando sua situação espacial do momento do
abandono, o que dificulta, em maior ou menor grau, a interpretação dos dados (Schiffer,
1996).
Considerando-se, portanto, apenas os sítios mais bem preservados dentre os
resgatados (PA-04 e AI-17), pode-se dizer que se tratavam de sítios de pequenas
dimensões (entre 1.200 e 5.000 m² de área), ocupados por um período prolongado, que
permitiu a formação de uma camada arqueológica espessa, da ordem de ao menos 0,80
(AI-17) e 1,20m (PA-04) de espessura, uma vez que a camada mais superficial deve ter sido
erodida por ações antrópicas.
No que concerne a uma estimativa de densidade populacional desses sítios, é
preciso considerar que ambos esses sítios apresentam camadas líticas onde não ocorre
material cerâmico. No sítio PA-04, o material cerâmico é encontrado até 0,80m de
profundidade, enquanto que o material lítico ocorre até 1,20m de profundidade. Não foi
notada diferença qualitativa entre o material lítico das diversas camadas escavadas.
Já no sítio AI-17, o material cerâmico, apesar de ocorrer até 0,50m de profundidade,
é muito pouco expressivo abaixo de 0,30m. O que torna este sítio singular na área de
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
212
estudo é a existência comprovada de um nível lítico mais antigo, certamente de caçadorescoletores produtores de pontas de flechas lascadas bifacialmente, possivelmente
pertencentes à denominada Tradição Umbu (fotos 337 e 338).
Fotos 337 e 338 – Pontas de projétil bifacias triangulares, com pedúnculo e aletas, coletadas
no Sítio SC-AI-17, a primeira confecionada em calcedônia e a segunda em meta-lamito.
O material cerâmico, em ambos os sítios, é muito pouco expressivo em relação ao
material lítico: 39 fragmentos de cerâmica para 1.377 objetos líticos, no sítio PA-04 e 74
fragmentos de cerâmica para 2.177 objetos líticos, no sítio AI-17, o que dá para a cerâmica
uma proporção, em relação ao material lítico desses sítios, de apenas 2,8 a 3,3%, conforme
gráfico abaixo.
97,2%
96,7%
100,0%
80,0%
60,0%
40,0%
20,0%
2,8%
3,3%
0,0%
PA-04
Cerâmica
AI-17
Lítico
Gráfico 55 – Proporção do material cerâmico em relação ao material lítico, no
conjunto das coleções arqueológicas dos sítios PA-04 e AI-17.
Utilizando-se da fórmula de Naroll (1962) para estimar a densidade populacional
desses sítios (aos quais se acrescenta, aqui, o sítio AI-03), pode-se inferir uma população
pequena, entre 12 (PA-04) a 50/60 indivíduos (AI-17 e AI-03) apenas.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
213
Nesse sentido, o sítio PA-04 corresponderia a um sítio de atividades específicas,
provavelmente destinado à produção de artefatos líticos. Como se trata de um sítio
localizado num patamar estreito e curto, na baixa vertente, caracterizado como um terraço
de inundação que recebe tanto depósitos das cheias do Rio Irani como das vertentes
situadas acima dele (capítulo três deste relatório), tal interpretação parece ser legítima, pois
o local não reuniria as características necessárias a um assentamento de longa duração.
Isso explicaria também a ausência ou baixo número de fragmentos cerâmicos.
Segundo consta do capítulo quatro deste relatório, dezoito cacos apresentaram marcas de
uso consistentes com restos de alimentação carbonizada no interior das vasilhas, indicando
que estas foram utilizadas para cozinhar alimentos durante a permanência do grupo no
local. O sítio deve ter sido reocupado para atividades de lascamento e talvez processamento
de material de caça ao menos algumas vezes, conforme indica a alta espessura do depósito
arqueológico, devida também ao aporte de sedimentos trazidos pelas constantes
inundações.
O sítio AI-17, por sua vez, com área de aproximadamente 5.000 m² e população
estimada em cerca de 50 indivíduos, é coerente com uma ocupação um pouco mais densa,
ocorrida num topo de colina, ou seja, numa área mais protegida de inundações e com
melhor visibilidade dos arredores. Esta situação parece ter sido considerada favorável não
apenas pelos horticultores ceramistas Itararé, mas também pelos caçadores-coletores Umbu
que os antecederam no local.
Situados no Oeste Catarinense, tais sítios parecem corresponder ao que já foi
observado na UHE Quebra-Queixo (Caldarelli, 2002), de uma área ocupada por populações
pouco reduzidas numericamente, possivelmente refugiadas no extremo oeste catarinense, já
em período histórico avançado, uma vez que a ocupação do oeste do Estado de Santa
Catarina pela denominada “sociedade nacional” vai-se dar efetivamente apenas no último
quartel do século XIX, “com a delimitação final da fronteira entre Brasil e Argentina, em
1885” (Rossetto, 1996).
Este seria o cenário correspondente aos sítios da tradição Itararé estudados, não
sendo valido, evidentemente, para o cenário da ocupação mais antiga, de caçadorescoletores da Tradição Umbu, dos quais uma ocupação de curta duração foi identificada no
sítio SC-AI-17.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
214
.
SÍTIO ARQUEOLÓGICO
Sigla
SC – PA – 01
SC – PA – 02
Nome
Linha Tiradentes 1
Linha Tiradentes 2
Município
Xavantina
Xavantina
ATIDADES DESENVOLVIDAS
Tipo de Sítio
Cerâmico
Cerâmico
UTM
-
Registro
Avaliação
Resultado
Resgate
20
Não
---
---
20
Não
---
---
20
Não
---
---
Amaral, 2002
Amaral, 2002
SC – PA – 03
Linha Trevisan 1
Xavantina
Lítico
-
SC – PA – 04
Linha Santa Teresinha 1
Xavantina
Lito-cerâmico
369841 / 7015833
Amaral, 2002
Sim
Positivo
Sim
SC – PA – 05
Linha Plano Alto 1
Xavantina
Lito–cerâmico
369854 / 7015993
Amaral, 2002
Sim
Positivo
---
SC – PA – 06
Linha Plano Alto 2
Xavantina
Lito-cerâmico
370895 / 7017824
Amaral, 2002
Sim
Positivo
---
Linha Duas Palmeiras 1
Faxinal dos
Guedes
Lítico – OAD21
369725 / 7015752
Amaral, 2002
Sim
Positivo – reclassificado como OAD-PA-01
---
SC – PA – 07
Linha Duas Palmeiras 2
Faxinal dos
Guedes
Lito-cerâmico
367071 / 7016926
Cardeal, 200522
---
Sim
Linha Duas Palmeiras 3
Faxinal dos
Guedes
Lito-cerâmico
367224 / 7017187
Cardeal, 200522
---
Sim
366740 / 7017035
Cardeal, 200522
Positivo – reclassificado como OAD-PA-02
Sim
Sim
SC – PA – 08
SC – PA – 09
Linha Santo Isidoro 1
SC – PA – 10
SC – PA – 11
SC – PA – 12
Linha Santo Isidoro 2
Linha Santo Isidoro 3
Xavantina
Lítico
Xavantina
Lito-cerâmico
Xavantina
Lito-cerâmico
Amaral, 2002
-----
366704 / 7017100
Cardeal, 200522
---
---
Sim
366792 / 7017417
22
---
---
Sim
Cardeal, 2005
Quadro 10: Relação dos sítios identificados na PCH Plano Alto e as atividades desenvolvidas
20
Levantado por Maria Madalena Velho do Amaral em 2002 e não contemplado no presente projeto desenvolvido pela Scientia Consultoria Científica.
OAD - Ocorrência Arqueológica Discreta
22
Sítio novo registrado no âmbito deste projeto por Alfredo Cardeal Filho.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
21
215
SÍTIO ARQUEOLÓGICO
Sigla
ATIDADES DESENVOLVIDAS
Nome
Município
Tipo de Sítio
UTM
Registro
Avaliação
20
Resultado
Resgate
SC-AI-01
Linha Teresinha 1
Arvoredo
Cerâmico
358348 / 7010375
Amaral, 2002
Não
---
---
SC-AI-02
Linha Teresinha 2
Arvoredo
Lito-cerâmico
358122 / 7010525
Amaral, 2002
Sim
Positivo
Sim
SC-AI-03
Linha Teresinha 3
Arvoredo
Lito-cerâmico
358545 / 7010991
Amaral, 2002
Sim
Positivo
Sim
SC-AI-04
Linha Teresinha 4
Arvoredo
Histórico
358545 / 7010991
Amaral, 2002
Sim
Positivo
Não
SC-AI-05
Linha Teresinha 5
Arvoredo
Lito-cerâmico
358131 / 7010955
Amaral, 2002
Sim
Positivo – reclassificado como
OAD-AI-01
SC-AI-06
Linha Teresinha 6
Arvoredo
Lito-cerâmico
359366 / 7011931
Amaral, 2002
Sim
Positivo – reclassificado como
OAD-AI-02
Não
SC-AI-07
Linha Teresinha 7
Arvoredo
Cerâmico
357804 /7009945
Amaral, 2002
Não
---
---
SC-AI-08
Linha Teresinha 8
Arvoredo
Lito-cerâmico
358279 / 7011084
Amaral, 2002
SC-AI-09
Linha Reduto 1
Xavantina
Cerâmico
360040 / 7011332
Sim
Positivo
Sim
20
Não
---
---
20
Amaral, 2002
SC-AI-10
Linha Reduto 2
Xavantina
Cerâmico
359825 / 7011463
Amaral, 2002
Não
---
---
SC-AI-11
Linha Reduto 3
Xavantina
Cerâmico
360337 / 7012196
Amaral, 200220
Não
---
---
20
SC-AI-12
Linha Reduto 4
Xavantina
Cerâmico
360415 / 7012577
Amaral, 2002
Não
---
---
SC-AI-13
Linha Pinhalzinho 1
Xavantina
Cerâmico
362556 / 7013995
Amaral, 200220
Não
---
---
SC-AI-14
Linha Pinhalzinho 2
Xavantina
Cerâmico
360821 / 7013534
Amaral, 2002
SC-AI-15
SC-AI-16
Linha Bom Jardim 1
Linha Bom Jardim 2
Xanxerê
Xanxerê
Cerâmico
Cerâmico
359085 / 7012137
358863 / 7011968
Sim
Negativo
---
20
Não
---
---
20
Amaral, 2002
Amaral, 2002
Não
---
---
22
---
---
Sim
SC-AI-17
Linha Teresinha 9
Arvoredo
Lito-cerâmico
357830 / 7010624
Cardeal, 2005
SC-AI-18
Linha Teresinha 10
Arvoredo
Lítico
358193 / 7010320
Cardeal, 200522
---
---
Sim
22
---
---
Sim
---
---
Sim
SC-AI-19
Linha Teresinha 11
Arvoredo
Lito-cerâmico
358390 / 7010745
Cardeal, 2005
SC-AI-20
Linha Bom Jardim 3
Xanxerê
Lítico
358361 / 7011397
Cardeal, 200522
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
216
SC-AI-21
SC-AI-22
SC-AI-23
Linha Teresinha 12
Linha Teresinha 13
Linha Teresinha 14
Arvoredo
Arvoredo
Arvoredo
Lítico
Lítico
Lítico
358580 / 7011411
Cardeal, 200522
---
---
Sim
357092 / 7005888
Cardeal, 2005
22
---
---
Sim
Cardeal, 2005
22
---
---
Sim
357425 / 7009850
Quadro 11: Relação dos sítios identificados na PCH Alto Irani e as atividades desenvolvidas.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto
Irani, SC – Relatório Final.
217
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Apostila do curso de cerâmica. Datiloscrito. Porto Alegre, s./d.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC.
– Relatório Final.
221
EQUIPE TÉCNICA:
Coordenação científica:
Dra. Solange Bezerra Caldarelli
Responsáveis pelo campo:
Alfredo Cardeal Filho
Francesco Palermo Neto
Responsável pelo Laboratório e
análise do material cerâmico:
Ms. Ana Lucia Herberts
Responsáveis pela análise do
material lítico:
Adelson André Brüggemann
Dra. Sirlei Hoeltz
Responsáveis pelo Programa de
Educação Patrimonial
Elaine Arnold
Ms. Ana Lucia Herberts
Técnico:
Felipe Matos
Estagiários:
Ademir Salini23
Bruno Labrador24
Elaine Arnold24
Leandro Siqueira23
Leandro Gasperini23
Marcondes Bialeski23
Sidinei Agostini23
Silvano Silveira da Costa23
Rodrigo do Carmo23
Yan Sant’Ana Soares24
Organização e montagem do relatório:
Ms. Ana Lucia Herberts
Revisão do relatório:
Dra. Solange Bezerra Caldarelli
23
24
Indicados pelo NEEA / CEOM / UNOCHAPECÓ.
Scientia Consultoria Científica.
Projeto: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção das PCHs Plano Alto e Alto Irani, SC.
– Relatório Final.
222
ANEXO 1: FICHAS DE CADASTRO DOS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS - CNSA
ANEXOS 2: CROQUIS E PLANTAS DOS SÍTIOS PESQUISADOS
ANEXO 4: PROGRAMA DE EDUCAÇÃO, DIVULGAÇÃO E VALORIZAÇÃO PATRIMONIAL
Anexo 4A: Fichas da pré-avaliação com perguntas sobre o conhecimento dos alunos
a respeito da arqueologia e a noção de preservação.
Anexo 4B: Exemplo de uma das lâminas utilizadas na aula expositiva a partir da
história em quadrinhos, com texto e imagens adaptadas do gibi “Arqueologia: uma
viagem ao passado” (HERBERTS; COMERLATO, 2003).
Anexo 4B: Exemplo de uma das lâminas utilizadas na aula expositiva a partir da
história em quadrinhos, com texto e imagens adaptadas do gibi “Arqueologia: uma
viagem ao passado” (HERBERTS; COMERLATO, 2003).
Anexo 4B: Exemplo de uma das lâminas utilizadas na aula expositiva a partir da
história em quadrinhos, com texto e imagens adaptadas do gibi “Arqueologia: uma
viagem ao passado” (HERBERTS & COMERLATO, 2003).
Anexo 4C: Exemplo de “Ficha de Registro” usada na escavação simulada preenchida
por uma aluna. No primeiro espaço há o desenho dos objetos que foram encontrados
na escavação simulada. Na segunda imagem foi representado o objeto escolhido,
uma cerâmica ungulada.
Anexo 4C: Exemplo de “Ficha de Registro” usada na escavação simulada preenchida
por um aluno. No primeiro espaço há o desenho dos objetos que foram encontrados
na escavação simulada. Na segunda imagem foi representado o objeto escolhido,
uma cerâmica corrugada.
Anexo 4D: Caça-palavras para colorir distribuído ao final das atividades.
Anexo 4E: Ficha com perguntas baseadas em Bezerra de Almeida (2002), com
objetivo de fixar as informações e os conceitos trabalhados, além de registrar a
impressão do aluno sobre as atividades executadas.
Anexo 4E: Ficha com perguntas baseadas em Bezerra de Almeida (2002), com
objetivo de fixar as informações e os conceitos trabalhados além de registrar a
impressão do aluno sobre as atividades executadas.
Anexo 4F: Fichas da pré-avaliação aplicadas na Etapa II, com perguntas sobre o
conhecimento dos alunos a respeito da arqueologia e a noção de preservação.
HOMEM
Anexo 4G: Exemplo de uma das pranchas iconográficas utilizadas na aula expositiva.
Anexo 4G: Exemplo de uma das pranchas iconográficas utilizadas na aula expositiva.
Anexo 4G: Exemplo de uma das pranchas iconográficas utilizadas na aula expositiva.
Anexo 4H: Exemplo de ficha de registro utilizada na realização da escavaçãosimulada, com objetivo de estimular a observação ao método utilizado em pesquisas
arqueológicas de campo.
Anexo 4I: Ficha aplicada na Etapa II, com perguntas baseadas em Bezerra de Almeida
(2003), com objetivo de fixar as informações e os conceitos trabalhados além de
registrar a impressão do aluno sobre as atividades executadas.
Anexo 4I: Ficha aplicada na Etapa II, com perguntas baseadas em Bezerra de Almeida
(2003), com objetivo de fixar as informações e os conceitos trabalhados além de
registrar a impressão do aluno sobre as atividades executadas.
Anexo 4J: Caça-palavras para colorir e enigma arqueológico distribuído ao final das
atividades.
Anexo 4K: Folder “Arqueologia nas PCHs de Plano Alto e Alto Irani” (frente).
Anexo 4K: Folder “Arqueologia nas PCHs de Plano Alto e Alto Irani” (verso).
Anexo 4L: Matéria veiculada na imprensa, “Pequenas Centrais Hidrelétricas
conscientizam alunos sobre Patrimônio Arqueológico”, Folha Regional, 09/08/06.
Anexo 4L: Matéria veiculada na imprensa, “Hidrelétrica desenvolve projeto de
salvamento do patrimônio arqueológico”, Jornal Sul Brasil, 09/08/06.

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