Janelas Abertas (Uziel de Jesus)

Transcrição

Janelas Abertas (Uziel de Jesus)
J a n e l a s
a b e r t a s
1ª Edição
Agosto- 2011
Above Publicações
Vila Velha - ES
Revisão
Fernanda Rizzo
Capa
Melissa Roncete
Diagramação
Fabricio Trindade Ferreira
Copyright © 2011 — Above Publicações
1ª edição
ISBN — 978856308059-2
Todos os direitos reservados pela autor.
É proibida a reprodução parcial ou total
sem a permissão escrita do autor.
www.aboveonline.com.br
Este livro é dedicado a minha mãe, Vera Lúcia Campos Durso e ao meu pai, Braz Ferolla Durso (in memoriam). Ambos foram fundamentais na
construção do meu pensar e na minha maneira de
viver. Os textos presentes neste livro são, portanto,
um reflexo direto do amor e da educação que recebi.
dedIcaTóRIa
Editor Responsável
Uziel de Jesus
3
Janelas abertas ..............................................................9
Quem permanece na sua vida?................................11
Qual é o seu reflexo no espelho...............................14
Contra a ideia da força, a força das ideias .............17
O que nos faz feliz: o futuro nem sempre é o que
imaginamos.................................................................21
Não espere para dar o seu melhor ..........................24
Das telas do cinema para a vida real.......................26
Mais Platão, menos Prozac: a filosofia aplicada ao
cotidiano......................................................................29
Transforme o que era para ser ruim em uma nova
oportunidade .............................................................33
Entendendo os porquês da Luana Piovani ...........36
Não viva a sua vida cheia de ressentimentos.........40
Vampiros sociais ........................................................43
Sou maior que meu corpo .......................................46
A evolução da razão .................................................48
Transpondo o imaginário..........................................51
A expressão corporal ................................................54
Quando menos é mais ..............................................57
O julgamento..............................................................60
Pontos zero de nossa vida .......................................63
As novas teorias do relacionamento.......................66
Desmedida: a falta de limites....................................70
Formas particulares de fuga ....................................73
SUMÁRIO
Conteúdo
5
Escrever... Registrar em palavras algo, alguém,
um sentimento, um pensamento, uma estória. Nada
pode ser mais simples e complicado ao mesmo tempo.
Crônicas são assim, têm isso tudo, são um
reflexo da vida sob o ponto de vista de alguém, e
quanto mais expostas, quanto mais sentidas, vividas,
melhores..
Um cronista é um observador implacável.
Mas para isso não se pode ter medo.
Braz não tem.
Em cada texto nos dá a impressão de que abre
e rasga seu coração se for preciso para que entendamos os medos, amores, dores, enfim, a vida.
Desde o primeiro momento que tive contato
com suas palavras percebi que Braz tem a inquietude do artista, quer ir além, precisa conhecer mais e
tem a necessidade de dividir o que descobre, o que
vê.
Aos olhos menos atentos pode parecer que ele
nos fala do cotidiano de forma simples e quase convencional, mas entre as linhas que ele traça existem
tantos romances, poesias e prosas quanto se pode
imaginar.
Fico feliz por ter sido escolhido para escrever
algo sobre seu trabalho, por saber que motivei um
artista, pois ele insiste em dizer que sou uma espécie
de mestre.
O que Braz não sabe é que na verdade eu é que
aprendo com ele.
Marco Rodrigo Aguiar da Silva
Ator, músico e diretor da rede globo
PREFÁCIO
Reconheça o fracasso e passe por cima dele..........77
O lado escuro de ser conciso na comunicação......79
Como você sabe quando encontrou a pessoa certa
para um relacionamento?..........................................82
A hora de saber deixar as coisas para trás .............85
Somos sete bilhões agora: estamos preparados para
enfrentar o futuro? ....................................................88
O signo de Áries: impulsividade, exagero e paixão . ......................................................................................93
Por que existe saudade?.............................................97
Mulher: esse ser fantástico........................................99
Insensata esperança ................................................101
Não me leve .............................................................102
Perdoar.......................................................................103
Meu coração te espreita...........................................104
Convivência ..............................................................105
Palavras são só palavras...........................................107
Doce Realidade ........................................................109
Quantas vezes...........................................................110
O seu sorriso encanta .............................................111
Um sonho ainda presente ......................................112
Filme mudo...............................................................113
Distantes de nós.......................................................114
Valeu a pena? ...........................................................115
A fórmula do sucesso .............................................119
Brinde à Vida........................................................... 122
Portas fechadas.........................................................123
Hei, liberdade............................................................126
7
Janelas Abertas
Toda vez que me pego preso a algum receio
do passado, esqueço que a vida é dinâmica. Esqueço que as pessoas são diferentes e principalmente
que existem vários finais diferentes para o filme da
vida. Preso nesses receios, acabo por não acreditar
na diversidade humana das pessoas. Tranco-me em
receios e medos criados em um tempo que passou e não voltará. Crio o erro de julgar todos os
atos da vida, como se fossem sempre iguais. Erro
ainda por achar que as pessoas também são iguais.
Quando estou cercado por um muro de concreto
que eu mesmo construí, acabo por afastar as pessoas que estão ao meu redor. Perco experiências e
situações mágicas da vida. Isolo-me dentro da solidão dos meus próprios receios. Deixo de saborear
as energias positivas que o universo está tentando
me enviar, pois insisto em morar nas experiências
passadas. Esqueço do fundamental: que o passado
é algo que já foi e não existe mais. Sim, sei que todos nós temos um passado, isso não se pode negar.
Mas não devemos viver presos a ele. Devemos tirar
desse tempo passado apenas o fundamental para o
nosso crescimento pessoal. Não podemos viver no
passado, esse tempo não nos é viável mais. Também
não posso deixar de estar vivendo o presente, o agora, por pensar em construir um futuro. As pessoas
que deixam tudo para o futuro, esquecem que esse
tempo sempre estará distante. Tantas pessoas passam tanto tempo na vida se dedicando a pensar no
futuro que este acaba por nunca chegar de verdade.
As pessoas vivem pensando e se guardando para fazerem algo no futuro e simplesmente se esquecem
CRÔNICAS
Janelas abertas
9
No seriado Gossip Girl a personagem Serena
Van Der Woodsen solta a seguinte frase: “Se eu tivesse de tirar da minha vida todos que já cometeram
erros, não sobraria ninguém”. Se prestarmos atenção
em todas as pessoas com as quais nós nos relacionamos ou já nos relacionamos, vamos verificar que
isso é a mais pura verdade. Afinal errar, independente
dos motivos, é algo inerente ao ser humano. Erramos
para aprender, crescer e até mesmo para viver. Errar
faz parte do nosso dia a dia. É interessante nesse seriado, como os personagens se interagem e sempre
alguém falha com o outro. Contudo, a capacidade de
eles se perdoarem é notória. Talvez por essa razão
todas as tramas que são desenvolvidas no seriado
fazem tanto sucesso. Nessas estórias, o perdão e a
aceitação de um erro é sempre evidente. No fundo,
gostamos de saber que o ser humano ainda é capaz
de saber perdoar.
Na vida real a coisa não é tão fácil assim. Achamos que o erro é sempre do outro. O mais interessante é que esquecemos que não são somente os
outros que erram. Nós também erramos, e muito.
A dificuldade de podermos nos analisar durante as
ações da vida é que nos fazem imaginar que os outros sempre são os errados.
Devemos lembrar que podemos ser aquele
que erra na vida de outra pessoa e que não gostaríamos de ser excluídos da vida de ninguém. A lição
que temos de aprender aqui é a de que precisamos
Janelas Abertas
Quem permanece
na sua vida?
CRÔNICAS
Braz Campos Durso
10
de viver o presente. Estão se matando aos poucos
no sentido literário da emoção.
Acho um erro deixar o barco da vida navegar
à mercê da maré. Afinal, se eu posso conduzir o
barco para o que é o essencial no presente, por que
devo esperar o barco achar seu próprio caminho no
futuro? Construo o meu presente vivendo o hoje.
Alimentando a cada instante a alma do meu corpo. Aprendendo a ser a cada dia uma pessoa que
procura retribuir ao universo toda a energia positiva
que me é enviada. Aprendo no presente que cada
instante é fundamental na vida. Que cada ação é
única. Que o momento é o essencial para dentro
de segundos sermos nós mesmos. Que aquilo que
pude viver agora ficará marcado para sempre dentro
da minha história.
Não posso viver sempre atrás do muro de concreto do passado, escondendo a minha vida e as muitas possibilidades que poderão existir apenas por ter
criado e alimentado diversos receios. Isso não é precaução ou se reservar... isso é cometer o seu próprio
suicídio de forma lenta e cruel, semelhante a tomar
uma dose diária de veneno. Esse veneno pode matar
a sua alegria, a sua essência e a sua liberdade. Prefiro
sempre ter janelas abertas nesse muro que me separa
de tudo que está ao meu redor. As janelas sempre
abertas permitem o sol entrar e iluminar a minha
vida. Através delas também posso olhar e aprender
além de mim mesmo. Somente deixando as janelas
abertas eu posso me permitir amar. Através destas
poderá entrar a coisa que me é mais preciosa: o presente, o agora, o que posso ser e viver na plenitude.
11
e como tais, devemos ser capazes de querer sempre ir em direção do acerto e do bem comum. Se
sou capaz de perceber meus erros e aceitar os erros dos outros, serei capaz de manter sempre todas
as pessoas que erram próximas a mim, pois saberei
perdoá-las e pedir desculpas. Perdoar, portanto, é de
suma importância no convívio social.
Agradeço sempre a Deus quando consigo ter a
serenidade de perceber meus erros e a humildade de
me desculpar por eles. Somente dessa forma posso
seguir em frente em um amplo e saudável convívio social. É a única maneira com a qual posso ser
honesto comigo mesmo. É a forma como poderei
subir aos poucos cada um dos degraus da longa escada da jornada da vida. A todos que um dia eu cometi algum erro, aproveito para pedir minhas mais
sinceras desculpas.
Janelas Abertas
Braz Campos Durso
12
perdoar para podermos sobreviver de modo coletivo na vida. Achar que o erro está do outro lado
é muito fácil, e o que é pior, nem sempre é a verdade, nem sempre nos leva a uma solução. Termos
consciência de que erramos também, e ter serenidade para saber que o erro pode ser nosso e não do
outro é um privilégio daqueles que compreendem
que a vida deve ser vivida de forma coletiva e que
não somos melhores do que ninguém. Somente coletivamente poderemos ser maiores do que somos
na realidade. Compartilhar da capacidade que cada
pessoa do nosso convívio possui é altamente benéfico para a nossa evolução.
Trabalhar a nossa humildade é um dos fundamentos da vida. Infelizmente, a forma como se
conduz a educação das pessoas não prioriza esse importante ponto. Somos programados para ganhar e
vencer. Dessa forma, não temos opção para reconhecer que podemos errar. O errar ficou estigmatizado
como derrota e fomos educados para vencer.
A ideologia do que é um vencedor é que deveria ser modificada. Deveríamos ter consciência de
que reconhecer um erro, pedir desculpas ou qualquer outra ação visando a consertar uma falha não
significa perder. Pelo contrário, pode significar o
início da direção de uma harmonia social, fundamental para quem quer ser um vencedor. A humildade conduz ao sucesso.
Perdoar e ser perdoado faz parte da vida. As
pessoas que possuem o bem dentro delas sabem o
quanto isso é importante. Dessa forma, temos sempre nosso círculo de amizade formado. Não ter ganância por poder social é também de suma importância. Não estamos disputando um posto político.
Estamos nos relacionando como seres humanos,
13
14
A simbologia do espelho é algo bem interessante, devido à diversidade de significados que
pode assumir. Desde instrumentos de reflexão do
universo até o pensamento de si mesmo, passando
também pelo narcisismo e sentidos ambíguos como
verdade e mentira. Essa duplicidade de sentidos
pode ser explicada pela distorção da imagem que
vemos no espelho. Muitas vezes vemos o que queremos ver e não o que realmente deveríamos estar
vendo. Os sentidos ambíguos vão mais além, representando desde a pureza e sinceridade devido à sua
limpidez até a vaidade em formato pejorativo de um
dos pecados mortais do homem.
Existe um pensamento baseado no reflexo dos
espelhos que é “Nada me mostras, a não ser o fundo, o mais profundo de mim”. Será que sabemos
mesmo qual é o nosso mais profundo eu? Será que
ao nos vermos refletidos no espelho podemos compreender o nosso real significado nessa vida? Vejo
tantas pessoas apenas vendo seus semelhantes, que
tenho certeza que esquecem de se observarem e fazerem uma autoanálise.
Outras vezes procuram apenas se autocontemplar, esquecem que existe um universo ao seu redor.
O mundo não é somente nós mesmos. Existe uma
realidade maior acontecendo lá fora. Não podemos
querer ser maiores do que a realidade da vida. Não
podemos apenas nos ver no mundo. Não somos o
único reflexo que a vida oferece ao espelho.
Nossa importância também não está na nossa
imagem, apesar de muitos viverem julgando pela aparência. Nossa real qualidade está naquilo que poucos
podem enxergar e que talvez a maioria de nós nem
consiga captar: a forma como pensamos e a maneira
pela qual tomamos nossas decisões na vida.
O grande cirurgião plástico Ivo Pitanguy, em
uma entrevista intitulada “viver é mais complicado que morrer...”, de agosto de 2009, afirmou: “O
sentido da beleza para mim é um sentido diferente,
é o bem-estar da pessoa. Não há dúvida nenhuma
de que a beleza se impõe, a beleza ocupa. Mas não
sozinha. O belo e o bom se confundem, os dois
são muito próximos. E o tipo de beleza que você
admira não é necessariamente o tipo com o qual
você quer conviver. Você convive com a beleza que
transcende”. Podemos analisar isso naquela pessoa
linda fisicamente, que não é necessariamente a pessoa com a qual teremos as maiores afinidades no dia
a dia. Todos nós conhecemos pessoas que deixaram
de viver com alguma pessoa linda para ser muito
mais feliz com uma outra não tão bela fisicamente,
mas muito mais bela emocionalmente. Trocaram a
beleza física pela beleza que transcende. Mais uma
prova da distorção da imagem no espelho da vida.
Esse espelho muitas vezes mascara e distorce o que
de melhor uma pessoa pode apresentar; afinal, bondade, caráter, emoção, ética, ainda não são representados através de uma imagem no espelho.
Todos os dias, ao me levantar, procuro pensar
em qual a imagem vou ver refletida ao olhar-me no
espelho. Será a melhor imagem minha que estará ali
formada? Terei a capacidade de saber aprender com
Janelas Abertas
CRÔNICAS
Braz Campos Durso
Qual é o seu
reflexo no
espelho
15
O doutor em filosofia da educação pela USP,
José Sérgio Fonseca, na seção contraponto da revista Educação, ano 12, número 148, de agosto 2009,
contou a história reproduzida a seguir, induzindonos a pensar sobre o assunto da força sobrepondo
as ideias. Um tema muito forte e que merece uma
análise na nossa vida e na nossa conduta ética no
dia a dia.
Em outubro de 1936, Miguel de Unamuno, então reitor da Universidade de Salamanca, encontravase em uma cerimônia ao lado do bispo de Salamanca,
da mulher do ditador espanhol Francisco Franco e
do general mutilado de guerra Millán Astray. Na audiência, falangistas gritavam periodicamente sua saudação fascista: “Viva a morte!”. A ela, Astray respondia
com força e entusiasmo: “Viva a morte!”.
Unamuno não se conteve em face da barbárie
e proferiu o que viria a ser a sua última lição: “Conheceis-me bem e sabeis que sou incapaz de permanecer em silêncio. Por vezes ficar calado equivale
a mentir. Porque o silêncio pode ser interpretado
como consentimento... De um mutilado de guerra
que careça da grandeza espiritual de Cervantes, é de
se esperar que encontre terrível alívio vendo como
se multiplicam a sua volta os mutilados”. Nesse
preciso momento, Astray responde com um grito
bárbaro e irracional: “Abaixo a inteligência! Viva a
Janelas Abertas
Contra a ideia
da força, a força
das ideias
CRÔNICAS
Braz Campos Durso
16
a imagem que estarei vendo? Conseguirei enxergar
por meio da imagem tudo o que está representado
verdadeiramente no meu olhar? Poderei aprender a
captar o meu mais profundo eu ali dentro? Não sei
ainda qual o meu verdadeiro e mais profundo eu que
poderei ver refletido no espelho. Sigo caminhando
nessa busca, sem saber qual a profundidade do que
poderei encontrar. Só sei que não poderei deixar de
me arriscar nessa aventura. A vida é um processo de
crescimento e de autoconhecimento. Creio que quanto mais os anos passam, maior fica a minha capacidade de saber a real profundidade da minha imagem
refletida. Já não tenho medo do que poderei ver.
Sou aquilo que procurei aprender na vida com
o somatório de todos os meus dias. Sou um somatório do que aprendi com meus pais, do que reparti
com meus amigos e sou atualizado diariamente pelos meus alunos ao exercer a profissão de professor.
Sou um verdadeiro processo de aprendizado. Ainda não estou pronto e isso me deixa feliz.
Tenho mais espaço para continuar me vendo no
espelho e curtir a descida rumo à profundidade
do meu verdadeiro eu. Será que você já começou
também a sua descoberta? Faça essa viagem agora
se ainda não a fez. A cada dia que passa sua descoberta é mais prazerosa. Seja o que você realmente
pode ser. Reflita a sua verdadeira essência. Nunca
deixe se afastar na difícil jornada da vida do que
você um dia soube que seria. Nosso reflexo pode
ser modificado e pode sim ser modificado cada vez
mais para melhor. Cresça, viva e reflita sempre o
seu melhor para o universo. Reconheça o seu espaço e também o espaço dos outros reflexos na vida.
Tudo deverá estar sempre em harmonia. Felicidade
é uma questão de saber ser muito mais do que ter.
17
e dia, calor e frio, terra e mar, diversos exemplos
estão aí para provarem.
Saber conviver com as diferenças pessoais
pode ser a maior virtude de um ser humano. Aceitar
nosso amigo que gosta das mesmas coisas que nós,
é muito fácil. Aceitar quem tem ideias diferentes é
mais difícil. Contudo, não devemos nunca esquecer que é justamente nas ideias diferentes que poderemos ter algum tipo adicional de crescimento e
conhecimento. Afinal, aprendemos com o que desconhecemos. Ter a humildade para aceitar todas as
ideias e respeitar pensamentos divergentes é a maior
força que um ser humano pode ter.
A base da democracia é justamente respeitar o
direito das pessoas de expressarem as suas opiniões,
principalmente aquelas que não são iguais às nossas.
Se eu aprendo a respeitar, dificilmente vou achar normal o uso da força. Se você possui uma ideia boa,
tenha a certeza de que ela vai perdurar muito mais
tempo do que qualquer opressão induzida pelo uso
da força. O pensamento fica eternizado assim como
as ideias que ele carrega consigo. A opressão pode até
trazer algum resultado, mas a história vai se ocupar
em sufocar seus efeitos.
Finalizo com as sábias palavras escritas por
Nietzsche em Humano, demasiadamente humano: “Por
falta de tranquilidade e do prazer, nossa civilização
se transformou em uma nova barbárie. Em nenhum
outro tempo os ativos, isto é, os intranquilos, valeram tanto. Mas desde já o indivíduo que é tranquilo
e constante de cabeça e coração tem o direito de
acreditar que possui não apenas um bom temperamento, mas uma tal virtude, e que, ao preservá-la está realizando uma tarefa superior”. Que possamos, dentro de nossas constâncias e serenidade,
Janelas Abertas
Braz Campos Durso
18
morte!”.
Os falangistas apontaram uma arma contra a
cabeça de Unamuno que, não obstante, prosseguiu
seu discurso: “Este é o templo da inteligência. Sou
seu sumo sacerdote. Estais a profanar seu recinto
sagrado. Vencereis porque vos sobra a força bruta.
Mas não convencereis. Para convencer há de persuadir. E para persuadir seria necessário algo que vos
falta: razão e direito na luta... Tenho dito”. Unamuno foi condenado à prisão domiciliar e algum tempo
depois morreu.
Utilizar da força nunca foi a melhor forma de
se educar ou conquistar algo duradouro. A história nos mostra que as conquistas baseadas na força possuem duração limitada. O uso da força gera
medo nas pessoas, não respeito. E sem respeito não
se consegue prosperar. Você só prospera com ideias.
Nietzsche já nos chamava a atenção para o fato
de que a maneira mais fácil de corromper um jovem
é ensiná-lo a ter mais respeito por aqueles que pensam igual do que por aqueles que pensam diferente.
Não ensinar nossos jovens a aceitarem as diferenças
é algo que pode levar ao preconceito e à discriminação. Pode causar consequências desastrosas para
o futuro da humanidade. Diferente não quer dizer
errado. As divergências propiciam o crescimento
da humanidade. Muitas vezes, por não ensinarmos
nossos jovens a dialogarem diante de situações divergentes, e por não estarem acostumados a respeitarem o lado oposto, a utilização da força bruta
pode parecer uma opção. Contudo, não podemos
esquecer que a força não gera e nunca vai gerar respeito. O ódio por diferenças raciais, religiosas, ou
qualquer outro tipo de situação, deveria ser abolido
da humanidade. O mundo é feito de opostos: noite
19
20
Apesar do título do livro, não se trata de um
texto no estilo autoajuda, mas sim de um livro superinteligente com muitos ensinamentos sobre o
cérebro humano (com destaque para o nosso lobo
frontal e sua capacidade de imaginar). Acabei de
ler esse livro na viagem que fiz do Rio de Janeiro
para Brasília e a parte aqui comentada é a que achei
mais interessante (provavelmente por causa de um
momento particular, mas isso não interessa agora).
Como o autor do livro O poder da inteligência emocional, Daniel Goleman diz: “Você terá muitas doses
de alegria se tropeçar neste livro”. Então vamos aos
comentários:
No capítulo 7, O Bombardeiro do Tempo,
no item: “A comparação e o PRESENTISMO”, o
autor explica o porquê de adorarmos as coisas que
acabamos de comprar há pouco tempo (vai me dizer que você nunca sonhou em comprar determinado objeto e logo depois de conseguir, perdeu todo
o tesão?).
O autor aborda o assunto contando uma situação de uma pessoa que, viajando pela França,
encontra um casal da sua cidade e logo todos se
tornam amigos íntimos. Isso ocorre porque se compararmos o casal da nossa cidade de origem a todos
Janelas Abertas
O que nos faz
feliz: o futuro
nem sempre é o
que imaginamos
CRÔNICAS
Braz Campos Durso
propagar nossas ideias, sem violentar o direito de
nossos semelhantes. A força nunca vai superar a razão. A agressividade dói e corrói o coração. Nunca
perca a sua razão, pois a força nunca vai superar a
eternidade do pensar.
21
O problema todo está na repercussão que nossas atitudes feitas com base nessas comparações
terão no nosso futuro. E cometemos esse mesmo
“erro” constantemente (em parte por culpa do nosso lobo frontal muito ativo – leia imaginação fértil
– e por tentar preencher o futuro com a nossa visão
individualizada e única das coisas). Tudo pode se
complicar ainda mais quando nos deixamos cair em
uma teia de situações (entenda aqui o tal “dar corda”
que as pessoas fazem) que nos influencia e nos leva
a fazer as comparações baseadas exclusivamente no
PRESENTISMO. Contudo, o mais surpreendente
é que realizamos essas comparações baseadas no
presentismo a todo instante, e não nos damos conta
desse processo que acontece diariamente com nós
mesmos. Tenho certeza que mesmo sabendo disso,
teremos imensa dificuldade em analisar as coisas baseadas em análises que não ficam restritas apenas ao
momento agora (PRESENTISMO).
Para finalizar, as palavras que o autor usou de
forma muito lúcida no fim do capítulo: “Quando
não percebemos que as comparações que fazemos
hoje não são as mesmas que faremos amanhã, subestimamos como é diferente o que vamos sentir
no futuro daquilo que sentimos no presente”.
Espero que esta pequena explanação tenha feito você pensar sobre algumas atitudes que tomamos
no dia a dia (baseadas nas comparações do Presentismo) e principalmente que tenha despertado a
vontade de ler o livro na sua íntegra (vale a pena
mesmo), para aprender algumas curiosidades do
nosso cérebro e principalmente do poder de imaginação do lobo frontal.
Janelas Abertas
Braz Campos Durso
22
aqueles franceses, que nos odeiam quando não tentamos falar a língua deles, o casal parece ser excepcionalmente caloroso e interessante. Até aqui tudo
normal. Qual seria então o erro que ocorre? Provavelmente você não consegue pensar em nada de
errado. Mas vamos continuar para que você possa
perceber o que o autor quer dizer com a comparação e o PRESENTISMO.
Um mês depois de voltar da França, a pessoa
convida o casal para ir à sua casa. Aí então ela se surpreende ao descobrir que, se comparados aos seus
amigos de sempre, o casal é tão chato (sim, o mesmo
casal que na França lhe pareceu ser tão caloroso e interessante), que deveria ser agraciado com a cidadania
francesa (pelo visto o autor não deve ter tido uma boa
experiência na sua estada na França).
O erro não ocorreu durante a viagem, quando ela se prestou a passear com os dois chatos
(o casal que era tão caloroso e interessante), mas
sim quando não percebeu que a comparação
feita no presente (o casal é tão mais gentil do
que o garçom do Le Grande Colbert) não seria a
mesma que ela faria no futuro (o casal não é tão
interessante quanto os meus amigos A e B). Isso
ocorre porque fazemos comparações diferentes
em momentos distintos - sem perceber - esclarecendo, em parte, algumas questões intrigantes
que não fossem pelas circunstâncias, ficariam
sem explicações.
Quem nunca se perguntou: “Mas como eu fui
me apaixonar por ela(e)?” “Como eu tive coragem de
ficar com uma pessoa como ela(e)?” “Como pude ter
sido tão burro(a) assim?” Com certeza, todos já se
fizeram essas perguntas e a resposta é simples: fazemos comparações no PRESENTISMO.
23
24
Existem pessoas que ficam esperando por um
determinado momento para poder dar o seu melhor.
Será que isso é uma opção viável na vida? Penso que
o tempo é algo que pode nos surpreender, deixando-nos muitas vezes sem uma segunda oportunidade. Tente se imaginar esperando para dizer o quanto
gosta de uma pessoa e de repente essa pessoa morre
antes que você possa dizer. Já pensou no ressentimento que isso poderia causar dentro do seu próprio
peito? Já parou para refletir no que você sentiria se
isso acontecesse na sua vida? Tente também imaginar quantas coisas você gostaria de ter feito com seus
pais, mas, por medo ou por achar que não era ainda o
momento, não o fez e quando quis fazer, já era tarde
demais. Todos nós escutamos pessoas falando que à
medida que os anos passam elas percebem com mais
propriedade o valor dos pais e, consequentemente,
a falta que eles fazem quando partem. Quantos não
falam que gostariam de ter conversado mais e aprendido mais com seus pais? Essas situações servem
para demonstrar que deixar o seu melhor para depois
pode fazer o depois realmente ser tarde demais. Deixar de receber o melhor de alguém também pode trazer consequências desastrosas. Por não recebermos o
melhor de nossos pais deixamos sábios aprendizados
escaparem de nossa vida. Adiar o seu melhor, pode
significar nunca dar o seu melhor para alguém. E se
esse alguém for especial para você, o sentimento de
remorso e culpa pode tomar conta da sua vida por
muito tempo. Alguns até mesmo não conseguem superar essa situação e ficam aprisionados dentro do
pensamento “mas eu podia ter...”. Viver conjugando
os verbos no passado em muitas situações não resolve o problema.
Se eu posso dar o meu melhor para as pessoas
com as quais convivo, não encontro explicação lógica para que eu tenha de deixar esse meu melhor para
depois. Devo procurar ser sempre o meu melhor para
aqueles que convivem comigo. O primeiro ponto para
dar o seu melhor é simplesmente ser você mesmo. Ser
sincero para com os seus sentimentos. Ser sincero para
com suas condutas. Eu não preciso ou devo me esconder, o tempo não permite brincadeiras de pique-esconde. Pode parecer fácil, mas dar o seu melhor não é algo
assim tão simples. Ficamos cercados por pessoas que
nos julgam fracos por demonstrarmos publicamente o
que sentimos. Quantas vezes vejo filhos com vergonha
de beijarem seus pais em público ou andarem de mãos
dadas com eles pela rua. Alguns chegam a achar isso
“careta”. Muitas famílias estão se desintegrando aos
poucos, justamente porque seus membros têm vergonha de dar o seu melhor uns aos outros. Querer dar o
seu melhor pode significar conviver em grupo. Saber
respeitar o espaço de cada um. Respeito e convivência estão se tornando sentimentos cada vez mais raros
entre as pessoas nos dias atuais. Estamos trocando o
relacionamento real por condutas virtuais, mais fáceis
de nos escondermos sem sermos ou darmos o nosso
melhor naquele momento.
Janelas Abertas
CRÔNICAS
Braz Campos Durso
Não espere
para dar o seu
melhor
25
26
Acabei de reparar que quase todas as histórias
que as pessoas vibram ao assistirem numa tela de
cinema são aquelas nas quais os protagonistas são
capazes de ficar juntos no final. Ficamos sentados
aguardando o momento em que a história de vida
dos personagens vai se cruzar de forma definitiva.
Aguardamos ansiosos pelo instante em que todas as
confusões, brigas e desencontros terão um final. Torcemos pelo “Final Feliz” dos casais ao término do
filme. Percebi que desde as comédias até os dramas,
o sentimento do telespectador é o mesmo: a torcida
pelo amor e a busca pela felicidade atrelada ao relacionamento a dois. Talvez o significado real disso seja
a dificuldade que as pessoas possuem nos dias atuais
de serem capazes de se doarem. A magia do cinema é
para muitas pessoas a última esperança de que a vida
imaginária das telas também possa ser reproduzida
no campo pessoal, na vida real. Muitas passam por
decepções amorosas e acabam se fechando para novas oportunidades. Acovardam-se diante da possibilidade de amar novamente. Algumas se encontram nas
brigas e desencontros assistidos nas telas, mas não
têm coragem de dar o passo rumo a um final feliz.
Como podem se imaginar felizes se estão se fechando? Como podem se ver em um final feliz se não
conseguem deixar novas pessoas participarem da sua
vida? Sempre ouvi dizer que a arte imita a vida, mas
creio que em se tratando de amor a história não é
bem essa. As pessoas, em vez de se doarem, estão se
escondendo cada vez mais. Relacionar-se virou um
jogo de estratégia mais difícil do que disputar um
campeonato mundial de xadrez. As pessoas passam a
analisar tanto suas “jogadas amorosas” que o ato de
amar não é mais sincero. Amor é sentimento, não um
jogo de estratégia. As pessoas deveriam amar para
estarem vivas. Para poderem crescer. Mas, em vez
disso, as pessoas estão se relacionando apenas por
fraqueza. Para suprir uma necessidade pessoal egoísta. Estão amando pensando apenas em si próprias.
Esse sentimento em que prevalece o único, no lugar
do par, não pode ser considerado amor. Talvez, por
essa razão, ao vermos nas telas as pessoas tendo a
coragem de se desculparem, de se doarem, de irem
em direção ao conjunto, isso nos faça vibrar, torcer e
até nos permitir chorar de emoção. Afinal, ali na tela
está o que gostaríamos de sermos capazes de fazer e
que na grande maioria das vezes não temos coragem.
Por que amar ficou tão difícil? O mundo está
nos dando tanto conforto, melhorando tanto nossa qualidade de vida, e como estamos retribuindo?
Estamos ficando cada vez mais mimados e egoístas.
Querendo tudo apenas para nós mesmos. Esquecemos que respeito, doação, liberdade, confiança fazem parte do real sentimento de amar. O que vemos
nas telas deveria nos servir de guia para a vida real.
Sim, a vida real também pode ser maravilhosa como
observada nas telas. A diferença é que ali existe o
objetivo de querer ser dois, e na vida real estamos
olhando apenas para nós mesmos. Não existe amor
em um mundo onde só existe um. Deixe a pessoa
amada entrar no seu mundo. Não tenha medo de
tentar. Tentando você sempre poderá acertar. Estando fechado ou jogando, ou, pior ainda, sendo
Janelas Abertas
CRÔNICAS
Braz Campos Durso
Das telas do
cinema para a
vida real
27
28
A seguir, uma parte do livro de Lou Marinoff e comentários sobre o tema. Lou Marinoff
(Ph.D e professor de filosofia no City College de
Nova York) é o principal líder nos EUA de uma
nova corrente de pensamento que retira a filosofia do seu castelo acadêmico e a devolve ao dia a
dia, utilizando as obras dos maiores pensadores da
história para ajudar as pessoas a resolverem seus
próprios problemas. Segundo o autor, as terapias
atuais não passam de “farmacologia neural”e são
feitas prescrições para pessoas que precisam tão
somente de uma discussão.
Buda deixou o texto As Quatro Verdades
Nobres, onde expõe um caminho importante
para atravessar as provações mais árduas da vida,
de modo que possam ser úteis às pessoas em circunstâncias extremamente penosas. A PRIMEIRA
VERDADE é que a vida envolve sofrimento. A
SEGUNDA é que o sofrimento é causado, não
acontece por acaso. A TERCEIRA, que podemos
descobrir a causa e romper a cadeia causal para impedir o sofrimento. Remova a causa e removerá
o efeito. A QUARTA, e mais importante, é que
devemos praticar para alcançar o fim explicado no
terceiro ponto.
Janelas Abertas
Mais Platão,
menos Prozac: a
filosofia aplicada
ao cotidiano
CRÔNICAS
Braz Campos Durso
egoísta nos seus sentimentos, a certeza será sempre
de erro. Não pode haver felicidade se você só consegue se enxergar. O mundo não foi feito apenas em
função da sua existência. Aprenda a somar, em vez
de dividir. Afirmo: isso é muito mais divertido em
todos os sentidos da vida. Seja capaz de contribuir
com sua parte. Isso fará a diferença no filme da sua
vida. Pense nisso e construa o tão aguardado final
feliz para seu mundo.
29
comprou um iglu no polo norte ou sul e se isolou
do restante do mundo.
Estamos desenvolvendo uma característica
em nossa espécie que não enxergo como verdadeira evolução. Na rua, fechamos nossos olhos para
as pessoas passando fome, ou até mesmo para as
pessoas que enfrentam algum tipo de dificuldade
diária, como por exemplo, um pneu furado. Enxergamos apenas o que nos interessa no momento.
Viramos escravos dos horários e do trabalho. Não
raro, os pais não acompanham o crescimento e desenvolvimento de seus filhos, devido à famigerada
falta de tempo. Esses fatos acabam fazendo com
que pessoas de uma mesma família não se conheçam mais. E se dentro de uma mesma família já
não é possível conhecer as pessoas na sua essência,
imagina então conhecer uma pessoa estranha ao
convívio familiar! Talvez por esses motivos os relacionamentos matrimoniais estejam dando tão errado entre pessoas nos dias atuais. Estamos tão habituados a fazer tudo tendo como direcionamento
nossa visão “seletiva” que o ser humano está se
tornando cada vez mais individualista e também
frio, afinal não é a era GLACIAL que estamos vivendo hoje em dia?
O que me deixa mais preocupado é que não
estamos mais sabendo saborear as melhores coisas da vida e que nos são dadas de graça. Não
temos mais tempo para olhar a paisagem, ouvir o
som da natureza e, principalmente, aproveitar as
amizades e nossa família. Dizer um simples bom-dia a um vizinho, dar um abraço em uma pessoa querida ou mesmo dizer te amo para a pessoa amada, viraram quase frases e atos obsoletos
Janelas Abertas
Braz Campos Durso
30
Segundo o pensamento budista, tudo que fazemos tem consequências, inclusive o nosso comportamento moral, embora não possamos dizer
quanto tempo leva para uma consequência se manifestar ou que forma assumirá quando isso acontecer. Talvez não possamos escolher estar ou não
em uma situação específica, mas temos escolhas
quanto ao que fazer com a situação em que nos encontramos. Escolhemos entre o bem e o mal, e se
fizermos boas escolhas, acontecerão boas coisas.
Se fizermos más escolhas, coisas ruins acontecerão. Isso transfere parte da responsabilidade e do
controle às pessoas.
O budismo encara a existência como uma série de instantes, e o que acontece em um influência
o que acontece no seguinte. É uma postura otimista e que exige mais responsabilidade pessoal. A
ênfase está no desenvolvimento moral.
Realmente é interessante a forma como as
pessoas estão deixando o desenvolvimento moral
de lado nas atividades diárias. Estamos nos acovardando atrás de máscaras de medicamentos, pois
isso é muito mais fácil do que ter uma atividade reflexiva de nossos atos. Chego a pensar se hoje em
dia o ser humano ainda consegue realmente pensar e refletir. Creio que na maioria das vezes nos
movemos por influência da massificação cultural,
independente do nível e forma de conteúdo que se
possa denominar cultura nos dias atuais.
Algo que realmente chama minha atenção
é para o aquecimento global. Aquecimento esse
apenas no clima, pois na vida diária dos seres humanos parece que estamos vivendo a maior era
GLACIAL da história. Parece que cada pessoa
31
32
No discurso de formatura, na Universidade de
Stanford, nos EUA, no ano de 2005, o CEO da Apple, Steve Jobs, conta-nos uma história sobre amor e
perdas, relatando que em determinado momento de
sua vida tudo parecia ruir. Ele foi mandando embora da empresa que simplesmente criara. Isso poderia
representar o fundo do poço para muitos, mas para
ele foi o início de uma trajetória de sucesso. Ele continuava amando o que fazia e isso fez o diferencial.
Justamente por ter sido mandado embora ele fundou as empresas Next e Pixar, que criou o primeiro
grande filme de animação por computador chamado
“Toy Story” e que é hoje o estúdio de animação mais
bem-sucedido do mundo. Essas empresas foram responsáveis pelos avanços que ele pôde ter na volta a
Apple. Se não fosse essa nova tecnologia, a Apple
não seria hoje o que é. E mais, talvez se ele tivesse permanecido na Apple não teria sido forçado a
criar essa nova tecnologia e nada do que conhecemos
hoje seria realidade, nem a Apple seria essa gigante
da tecnologia. Após sua saída da Apple, Jobs também
conheceu a mulher que se tornaria mais tarde sua esposa. Segundo ele, nada dessas coisas maravilhosas
teriam sido possíveis se ele não tivesse sido mandado
Janelas Abertas
Transforme
o que era
para ser ruim
em uma nova
oportunidade
CRÔNICAS
Braz Campos Durso
nesta era glacial. Às vezes, tudo é feito de forma
impessoal, o que é pior ainda; afinal, não se deve
brincar com sentimentos nesta vida. Talvez tudo
isso esteja ocorrendo porque nos dias atuais não
temos mais a preocupação de achar soluções para
nossos problemas e também para explicar nossas
atitudes. Não paramos para pensar antes de fazer.
A preocupação moral tem ficado relegada a segundo ou até terceiro plano, infelizmente.
Creio que somente através da prática da filosofia em nossa vida é que conseguiremos sair
da era glacial humana. Devemos buscar o calor
de observar o brilho no olhar de uma pessoa que
acabamos de fazer feliz. Aproveitar cada momento com as pessoas que gostamos. Curtir até o
simples respirar em silêncio lendo o que está escrito no olhar de uma pessoa. Priorizar o pessoal
ao impessoal. Devemos e podemos. E isso pode
ser muito fácil: basta querermos!!!
33
(no caso, a garota tê-lo abandonado). Enquanto a
maioria iria remoer a perda da amada, Cazuza também enxergou a liberdade e as diversas realidades
que isso pôde proporcionar. Às vezes, estamos tão
cegos que nos esquecemos que as oportunidades
estão aí para serem conquistadas. No exemplo da
letra, outras pessoas existem, mas só estarão disponíveis se pararmos de ver a face da ex-amada. Viver
preso ao passado nunca é uma opção que possibilita
a liberdade da vida. Quem ainda está preso, nunca
será capaz de dar um passo adiante e se reinventar.
Aqueles que assassinam a própria vida com pesares
do passado nunca vão viver na plenitude. Trancafiar-se no próprio mundo de sofrimento do passado não vai possibilitar a visão das novas realidades
nem tampouco do tamanho da liberdade que a vida
poderá nos permitir. Cazuza, nas suas letras, conseguia repassar alguns lições que muitos estudiosos
não teriam capacidade. Cazuza soube de modo extraordinário repassar ensinamentos do como “ser
feliz”, de como “viver o presente” de uma forma
alto-astral, jovem, como nenhum outro foi capaz
até então.
Sempre falo que se você fizer a sua parte e gerar uma energia positiva o universo vai retribuir da
mesma forma. Por essa razão, não devemos ocupar
nossa mente com atitudes ruins e negativas. Isso
não passa de uma verdadeira perda de tempo. A
maturidade vem por sabermos que vamos cair, mas
que não ficaremos no chão para sempre, pois só fica
no chão quem realmente assim desejar. Saiba e acredite que você é capaz de se reinventar. Seja forte,
seja você mesmo. Sua vida não é em vão, nem suas
atitudes. O mundo está liberto para você crescer.
Faça a sua parte, pois a vida já fez a dela.
Janelas Abertas
Braz Campos Durso
34
embora da empresa que criara e fundara. Se pensarmos, o que para muitos teria sido motivo suficiente
para se achar no fundo do poço, para ele foi o ponto
marcante da vida para novas oportunidades e a completa realização profissional e pessoal. A única coisa
que o fez seguir adiante foi amar o que fazia. Temos
de procurar fazer o que amamos, isso sempre nos
dará forças para continuarmos.
Quantos de nós não teriam se afundado numa
crise existencial sem fim devido a acontecimentos
profissionais semelhantes aos que ocorreram na
vida de Steve Jobs? A maioria, creio eu, iria se afundar na depressão achando que a vida havia chegado
ao fim. Muitos iriam passar o restante dos anos tentando achar algum culpado para o fato de ter sido
mandado embora, esquecendo que às vezes também
falhamos e temos de aprender a crescer com nossas
falhas. Outros iriam assumir o papel de maior vítima
do mundo e contariam uma triste história buscando
causar comoção em seus pares. O que fez com que
Steve Jobs desse a volta por cima foi justamente o
fato de ter seguido adiante. De ter se reinventado.
De ter acreditado que poderia fazer algo. De não ter
se dado ao luxo de ser vencido pelos altos e baixos
da vida. Ele acreditou e isso fez toda a diferença.
Uma letra do disco Ideologia, de Cazuza,
chamada Obrigado (por ter se mandado), encaixa-se neste contexto. Ela fala: “Obrigado por ter se
mandado/ ter me condenado a tanta liberdade”,
e em outro trecho continua: “Obrigado por ter se
mandado/ ter me acordado para realidades/ das
pessoas que eu já nem lembrava/ pareciam todas
ter a sua cara”. São muito fortes essas partes da letra. Cazuza soube retratar as várias possibilidades
que se abrem após um fato desagradável acontecer
35
36
Ser uma pessoa pública é algo definitivamente difícil para qualquer um. Sua vida pessoal passa
a ser misturada com seu trabalho e com sua imagem. Aliado a tudo isso, ainda tem o que as pessoas
querem que você seja. Ser o que todos querem que
você seja não é uma tarefa fácil. Afinal, a pessoa
pública não é um personagem fictício. Ela é real
como todos nós. Ela também está em processo de
crescimento. Tem desejos, anseios, sonhos, como
qualquer pessoa normal. Ela também acerta e erra.
Mais do que tudo, também merece ser respeitada.
A pessoa pública se parece mais conosco do que
podemos imaginar.
Talvez uma das pessoas que mais tenham sofrido com isso seja a atriz Luana Piovani. Ela é a típica
mulher brasileira: é forte, assertiva, e não se esconde
na hora de emitir as suas opiniões. Talvez por ela ser
tão humana e doce dentro daquele corpo de mulherão, as pessoas não consigam compreender quem
realmente ela é. Essa incompreensão, contudo, não
nos dá o direito de julgá-la. Devemos lembrar que
o julgamento ocorre onde não existe compreensão
e amor. Julgar uma pessoa que está exposta é fácil,
saber respeitar seus direitos é mais difícil. É o que
deve ser trabalhado por todos nós.
Existe uma certa mídia no Brasil que adora
invadir a privacidade das pessoas públicas, muitas
vezes até em momentos de dificuldades. Essas pessoas têm sua vida revirada de forma às vezes desumanas. Na busca por notícias sensacionalistas,
alguns simplesmente desrespeitam o que existe por
detrás de uma pessoa pública: o sentimento. Esquecemos que todas as pessoas possuem um coração,
que todos nós somos seres humanos de carne e
osso. Alguma vez você já se colocou no lugar de
uma dessas pessoas famosas em algum momento
de sofrimento para pensar em como teria sido a sua
reação diante da invasão da mídia? Provavelmente
não, pois a posição por nós assumida de telespectadores do sofrimento alheio é muito confortável
para nos permitir uma reflexão real sobre a condição humana.
Às vezes, a mídia cria estereótipos que não
condizem com a verdade. Nesse ponto, a imagem
que muitas pessoas possuem de Luana Piovani não
é a imagem real, e sim aquela vendida por uma parte
da mídia. O maior erro das pessoas que criam dentro de si uma imagem desfavorável contra uma pessoa pública, como no caso da Luana por exemplo,
é simplesmente, a partir de uma edição de ideias direcionadas em uma matéria, tentar fazer uma leitura
completa da obra. Todos deveriam saber que isso
é impossível de ser feito, mas na verdade passam
a fazer e a acreditar em frases soltas muitas vezes
deslocadas do contexto real.
Torno a chamar a atenção para a necessidade
de não nos permitirmos julgar alguém público apenas pelo impulso de uma informação muitas vezes
maldosa e direcionada de uma determinada parte da
mídia. É difícil entender o motivo de existirem pessoas que sentem prazer em destilar veneno por meio
de palavras escritas, capazes de causar tanto mal ao
Janelas Abertas
CRÔNICAS
Braz Campos Durso
Entendendo
os porquês da
Luana Piovani
37
nós aprendermos a respeitar que existem pessoas
que podem não agir ou pensar da mesma forma que
pensamos. Isso não as torna, contudo, pessoas ruins
ou merecedoras de qualquer outro adjetivo pejorativo. O fato de uma pessoa ser pública não nos permite brincarmos de julgar. Vamos nos permitir respeitar, isso transforma a vida em algo muito melhor.
Janelas Abertas
Braz Campos Durso
38
seu semelhante. Também tenho certeza que o universo nos devolve tudo o que doamos a ele. Todos
aqueles que tentam vender uma imagem negativa da
atriz Luana devem estar se remoendo dentro da sua
própria maldade interior. Cada vez mais, essa mulher brasileira, que sempre batalhou para conseguir
seus objetivos, está tendo mais sucesso e encontrando mecanismos para satisfazer suas vontades.
Será que já paramos para pensarmos nos porquês da Luana? Devíamos saber que no mundo não
existe apenas o nosso modo de pensar. No mundo
existem várias formas de imaginar, interagir e viver. Permitir a divergência de expressão deveria ser
a primeira coisa a se ensinar na escola. O respeito
é a maior forma de amor de um ser humano pelo
seu semelhante. Numa entrevista dada no programa
Gabi, Luana citou uma expressão usada pelo saudoso Bussunda que quando era questionado sobre
algum assunto polêmico falava “eu infelizmente não
posso responder a sua pergunta porque me tornei
uma pessoa pública e qualquer declaração que eu
dê, perde um vínculo pessoal e se transforma numa
coisa muito maior”. Seria muito fácil para ela usar
essa mesma expressão toda vez que fosse solicitada
a sua opinião sobre assuntos polêmicos. Contudo,
ela prefere, pelo seu caráter e pela sua honestidade,
exprimir suas opiniões. Deveríamos agradecer por
existirem pessoas que se doam e dão a cara à tapa.
A cultura deve ser feita por pessoas que expressam
o que pensam. Deveríamos procurar entender os
porquês de cada uma. Entender, em vez de julgar.
Respeitar, em vez de julgar.
Sim, opiniões não são regras nem verdades.
São a forma como as pessoas livres podem expor
o que acham sobre determinado assunto. Cabe a
39
40
É interessante como podemos ver pessoas que
têm tudo para ser feliz e não o são. Elas só precisam
acreditar nelas mesmas, mas acabam tão cheias de
mágoas que não conseguem. Vejo constantemente
pessoas que se ocupam em se dedicar ao ressentimento, fazendo dessa tarefa uma prática diária. Vivem encontrando uma desculpa para algo que não
dá certo. Sentem raiva, ódio, rancor e querem sempre reclamar e brigar, como se essas atitudes e sentimentos fossem realmente mudar alguma coisa, o
que não acontece.
Nossa vida é tão curta, tão momentânea, e mesmo assim alguns passam a maior parte dela mergulhados em ressentimentos. Devemos procurar sempre seguir em frente. Levantar e ir adiante. Mesmo as
pessoas que apresentam várias dificuldades na vida
podem acreditar nelas mesmas e ser vencedoras.
Muitas necessitam de um direcionamento na
vida para seguirem em frente. Nesse ponto a religião pode ser um fator determinante. Não importa
qual o tipo de religião, desde que o objetivo seja o de
fazer o bem. A religião pode ser, em muitos casos, o
início de um novo círculo de amizade, de um novo
sentido na vida pessoal e profissional, uma verdadeira âncora de apoio para as pessoas que ainda não
conseguem acreditar no seu próprio potencial de
seguir em frente. Servem também para mostrar às
pessoas que existem sofrimentos e perdas maiores.
Mostram às pessoas que elas podem sim, ao contrário do que se pensa, ser solidárias e sinceras umas
com as outras e se ajudar.
Nesse sentido único, a religião pode se tornar
um fator determinante na mudança de atitude das
pessoas. Isso não quer dizer que pessoas que adotam algum tipo de religião não vão mais errar nem
deixar de sentir algum tipo de ressentimento. Significa sim, que encontraram o apoio necessário para
superar as barreiras que esses sentimentos podem
causar ao ser humano. E tudo na nossa vida é um
verdadeiro aprendizado. Aprender a superar esses
sentimentos de raiva e ressentimento é uma das coisas mais fundamentais nos dias atuais.
Vejo muitas pessoas morrendo aos poucos por
guardarem rancor no coração. Pessoas envelhecem
rapidamente por guardarem ressentimentos no coração. Essas pessoas se esquecem da transitoriedade
da vida. Da rapidez dos momentos. Da brevidade
da felicidade. Por tudo isso não conseguem aproveitar nada. São pessoas que carregam uma energia
negativa. Não se sentem feliz, pois estão tão absorvidas pela inveja, raiva e qualquer outro sentimento
ruim, que não conseguem adquirir espaço próprio.
É como se não houvesse espaço para todos brilharem, cada qual com a sua intensidade de luz própria!
Essas pessoas esquecem que esse espaço existe
e está dentro de nós mesmos. Só depende de nós
querer ir em frente e ser feliz. Definir o nosso trajeto e nossas conquistas e, lógico, batalhar por elas.
Depende principalmente do desapego material. Esquecemos que amizade não se compra. Amor não
se compra. Família não se compra. Caráter não se
compra. Ideais de vida também não são comprados.
Janelas Abertas
CRÔNICAS
Braz Campos Durso
Não viva a sua
vida cheia de
ressentimentos
41
42
A música Vai a Luta de Cazuza tem uma parte que nos conduz para uma boa reflexão do relacionamento humano. O trecho a que me refiro é
o seguinte: “O pessoal gosta de escrachar/de ver a
gente por baixo/pra depois aconselhar/ dizer o que
é certo e errado”. Acho isso de uma profundidade
quase sublime. Uma verdadeira poesia sobre o que
é o dia a dia do ser humano e a forma com a qual
mantemos nossas relações sociais.
As pessoas esperam que nos aconteça algum
fato desarmônico no nosso cotidiano para depois
vir, de modo cruel e vil, ditar todo o roteiro que
deveríamos tomar na nossa vida. Acham-se no direito de saber o que é o melhor para nossa vida.
Acham-se no direito de, a partir do seu ponto de
vista, tentar traçar o nosso caminho, como se isso
fosse normal. Depois do fato ocorrido a análise se
torna fácil. Analisar o passado é fácil, assim como
prever o futuro pode ser uma missão impossível.
Essas pessoas não conseguem perder a chance de se
mostrar superiores depois, fazendo uma análise da
sua vida e de seus atos.
Pior ainda quando pessoas ao nosso redor e do
convívio pessoal, tentam nos “fazer a cabeça” apenas pelo seu próprio egoísmo. Escutamos no nosso
dia a dia essas pessoas nos aconselhando a “não ligar quando no nosso coração desejamos telefonar
para alguém”, “a não procurar quando gostaríamos
de ir ao encontro de outra pessoa”. Se analisarmos
a fundo esses “conselhos” poderemos perceber que
essas pessoas não estão priorizando nossa felicidade
Janelas Abertas
Vampiros sociais
CRÔNICAS
Braz Campos Durso
O tempo que passou e que não existirá mais também não se compra. Aceitar as coisas que não podemos mudar é uma grande sabedoria. Aceitar a diferença de momentos entre as pessoas é outra grande
sabedoria. Aceitar que nosso coração deve ser uma
moradia para coisas boas deveria ser uma filosofia
de vida. Nosso órgão vital não deve ter espaço para
rancor ou ressentimento. O espaço do coração deve
ser ocupado em sua totalidade com o amor e sentimento de fazer o bem. Quanto mais eu valorizo
as coisas que vivo e o meu dia a dia, maior a minha
felicidade.
43
na sua cabeça dizendo que você está sempre certo;
afinal, ninguém nesta vida está 100% certo. Amigo
de verdade é aquele capaz de entendê-lo, de querer
a sua verdadeira felicidade e aceitar que a distância não significa o fim. Amigo que é amigo é assim. Cuidado com quem está do seu lado. Amizade
não se constrói baseada em interesses de momento.
Amizade não aceita intrigas e invejas. Amizade é
bem querer, não apenas querer. Pense nisso e procure analisar com mais profundidade as pessoas que
estão do seu lado. Existem muitos vampiros “profissionais” sugando a sua energia positiva, não deixe
isso prejudicar o seu dia a dia nem sua busca pela felicidade. Também se policie para você não estar sendo um vampiro para seus amigos. Respeite sempre
a liberdade das pessoas, ela é fundamental. Nunca
dite as regras para aqueles do seu convívio baseado
no que você quer. Lembre-se, a vida se constrói caminhando de diversas formas e todas podem levar
aonde se deseja chegar. Respeite as diversidades e
liberte-se do seu egoísmo.
Janelas Abertas
Braz Campos Durso
44
e sim o próprio egoísmo delas. Afinal, se você não
ligar nem procurar outra pessoa, poderá deixá-la sozinha, ilhada, sem a sua companhia. Essas atitudes
não são baseadas no seu bem-estar. São baseadas
no sentimento de posse e na carência pessoal destes
ditos “nossos amigos”. Alguns poderiam até achar
essa atitude decorrente do ciúme, mas a influência
pode ser tão cruel para a sua felicidade que eu prefiro chamar esse tipo de atitude de possessividade
egoísta.
Poucos dos que estão ao nosso lado sabem entender e respeitar a felicidade alheia. São incapazes
de ficar feliz ao verem o outro feliz. Muitos podem
pensar que essa felicidade significa o seu próprio
fracasso; afinal, se a pessoa está feliz, ela também
deveria estar e, na maioria das vezes, isso não ocorre; afinal, cada um de nós se encontra num estágio
diferente nesse universo. Talvez as pessoas passem
tanto tempo remoendo o fato de o outro estar feliz
que não conseguem ser felizes, ou pior, não enxergam o que poderia levá-las à felicidade.
Sim, sei que é difícil descobrirmos quais são as
pessoas que estão do nosso lado, que atuam como
vampiros sugando todas as nossas possibilidades
de sermos felizes e nossa energia positiva. Normalmente elas nos submetem a uma esfera de relacionamento que pensamos tratar-se de uma amizade
verdadeira. Sempre digo: o amigo é aquele que
quer o melhor para você e não o que quer que o
seu melhor seja o mais confortável para ele. Amigo
não deseja sugar sua energia e suas possibilidades
de felicidade. Amigo não vai deixar algo acontecer
para depois fingir que já sabia, vir com falsos moralismos e culpá-lo sem nenhuma compreensão dos
seus atos. Amigo também não precisa passar a mão
45
46
O jornalista americano Charles Fletcher Lummis brilhantemente disse que ele era maior do que
qualquer coisa que pudesse acontecer com ele. Que
todas as coisas: tristeza, desgraça e sofrimento, estavam além da sua porta. Dizia que estava dentro de
sua casa e que possuía a chave.
Devemos, quando qualquer dificuldade nos
abater, lembrar desse pensamento. Todas essas coisas
que achamos “ruins” estão do nosso lado de fora.
Basta não deixarmos entrar no nosso interior. Sim,
é muito difícil evitar que isso aconteça. Mas também
temos de lembrar que todas as dificuldades podem
abrir um novo mundo para nós. Podem liberar a nossa capacidade de superação. Basta querermos dar o
primeiro passo rumo à superação.
Muito do nosso sofrimento vem da nossa incapacidade de admitirmos nossas fraquezas. É tão
difícil admitir que temos de mudar (afinal nos achamos sempre tão perfeitos!), que erramos (sim, nós
também erramos), e procurar trabalhar a nossa humildade (já reparou o bloqueio que sentimos quando temos de procurar alguém para pedir desculpas?).
Todos esses pontos de aceitação são necessários antes de podermos dar esse passo adiante.
Todos nós já passamos por diversos momentos
em que pensamos que o mundo iria desabar nas nossas costas. Que tudo parecia ter chegado a um ponto
sem volta. Que não teríamos mais força para continuar. Qual não é a nossa surpresa quando olhamos para
trás e verificamos que tivemos como seguir adiante
e deixamos essas mesmas dificuldades fora da nossa
porta. Não deixamos que elas entrassem e se apoderassem da nossa casa. A maior dificuldade é que para
cada situação desconfortável teremos de procurar a
solução. Não existe uma regra padrão para seguirmos. Os caminhos são diferentes para cada pessoa.
A luz no fim do túnel pode se manifestar de diversas
formas. O importante é saber que para nossas dificuldades, a vida não apresenta uma padronização de
solução. Muitos se perdem justamente por não saberem aceitar a existência de diversos caminhos, cada
qual individualizado nessa vida para propiciar uma
solução. Nenhuma receita de vida poderá ser aplicada
à sua dor. Cabe a você enxergar a saída. Aceitar esse
momento. Saber ceder. Dar o primeiro passo rumo
à solução do problema. Precisamos trabalhar a nossa
humildade de forma mais realista. Se não percebemos que precisamos mudar, reinventar-nos, não conseguiremos enxergar as opções que a estrada da vida
nos propicia para seguir adiante.
Todas essas dificuldades que a vida nos impõe
não existem dentro de nós. Estão do lado de fora
da nossa casa. Basta sabermos que estamos seguros
e que possuímos a chave da porta. Não vamos deixar nada disso entrar e se apoderar de toda a nossa
vida. As dificuldades são barreiras que podem nos
atrapalhar de irmos adiante, mas não podem ser um
fator determinante para que fiquemos parados na
vida. Nosso destino é seguir em frente. O aprendizado nos espera. A cada dia há uma nova descoberta na vida. A cada momento um novo aprendizado
interior. E tudo isso é possível porque possuímos a
chave da nossa vida.
Janelas Abertas
CRÔNICAS
Braz Campos Durso
Sou maior que
meu corpo
47
48
Um dos capítulos do livro “Não espere pelo
epitáfio... provocações filosóficas”, de Mário Sergio Cortella, me fez refletir muito. Principalmente
pelo assunto abordado: a razão.
Cortella faz duas citações maravilhosas nesse
capítulo para nos despertar a reflexão sobre a razão.
Uma delas é de Romain-Roland: “A razão é um sol
impiedoso; ela ilumina, mas cega”. Às vezes ficamos tão centrados na nossa razão que perdemos o
lado sentimental. Acho a emoção muito importante
para se levar a vida a um sentido mais amplo. Não
tem como fazer as coisas sem sentimento. Talvez
por essa razão eu admire tanto os artistas.
Já fiz muitas coisas na minha vida priorizando
a razão. Consegui muitos dos meus objetivos, mas
às vezes me pego pensando como teria sido o fim
de várias histórias na minha vida se o meu lado
emocional tivesse se sobressaído. Provavelmente
nunca terei essas respostas, mas hoje sei que o momento de dar espaço para a emoção pode representar muito e ser até mesmo o fator determinante
do processo de crescimento.
A outra citação é de G.B. Shaw “o homem
razoável se adapta ao mundo; o homem que não
é razoável se obstina a tentar fazer com que o
mundo se lhe adapte”. Segundo o filósofo Cortella qualquer progresso, portanto, depende do homem, que não é razoável. Não ser razoável pode
ser muitas vezes interpretado como um ato de
rebeldia ou loucura. Mas já dizia o grande músico Arnaldo Baptista “mas louco é quem me diz
que não é feliz... eu sou feliz”. Sábias palavras que
foram eternizadas para sempre na história da música brasileira. A busca pela felicidade não deve ser
encarada como um ato de loucura. Se normalmente as pessoas têm medo de serem felizes, isso não
significa que você não deva tentar ser. Se alguma
situação já fez alguém se arrepender de um ato parecido, não quer dizer que esse ato vai repercutir
da mesma forma. As pessoas, os locais e as situações são diferentes, a forma de agrupar tudo isso
é diferente. O seu mundo e o seu pensar também
são diferentes.
Muitos pensam: “Ah...fui querer ser romântico e não me dei bem”. Esse fato não quer dizer
que devemos agir de forma fria e insensível ou
que devemos ser guiados apenas pela razão nos
nossos envolvimentos. Sempre falo que relacionamento não é uma equação racional. Relacionamento é uma chance de nos reinventarmos na
busca da felicidade. É a nova chance que temos
de viver novas situações na vida, de nos doarmos
para aprendermos a curtir a felicidade da outra
pessoa. Relacionamento é não ser racional. Razão
não combina com emoção. Uma palavra se sobrepõe à outra. Não se deve ficar pensando, quando
se quer comprar um buquê de flores para mandar para a pessoa amada. Devemos ser apenas
coração. Devemos nos permitir voar em direção
à felicidade, revolucionar nossos atos, de modo
que os olhos brilhem e a face expresse um sorriso de felicidade. Devemos, portanto, não priorizar a vida somente por atos racionais. No que
Janelas Abertas
CRÔNICAS
Braz Campos Durso
A evolução
da razão
49
50
A transição do que pensamos para o que realmente ocorre é muitas vezes algo cruel. Nossa
mente tem a brilhante capacidade de nos levar a
lugares e situações que provavelmente nunca vão
existir na nossa trajetória sem que seja necessário
batalharmos para que se torne real. Será então um
erro sonharmos e deixarmos por alguns momentos
esse imaginário ser algo vívido na nossa história? A
essa pergunta cada um deve pesar e procurar sua
própria resposta. Sei apenas que no mundo imaginário que criamos, muitas vezes podemos ter fugas
necessárias para o tão imprescindível seguir adiante
na vida. O mundo imaginário também pode se tornar real se tivermos força e determinação suficiente
para que isso ocorra.
Dos nossos sonhos imaginários podemos traçar metas para que possam se tornar reais. Embora
acredite que a maioria dos sonhos sejam irreais,
penso que uma pequena parte possa vir sim, com
esforço e dedicação, a se tornar possíveis. Não é
fácil, mas nada nesta vida o é, portanto, saber que
demandará determinação é o primeiro passo rumo
à essa transposição do imaginário para o real. Muitos param no meio do caminho. Outros acham
loucura tentar realizar seus sonhos. Mas uma pequena parte, na qual acho que me incluo, prefere
tentar e lutar para torná-los possíveis. O mundo
é feito para os que sonham e não têm medo de
tentar. Certa vez, Maria Evangelina Monerat me
disse que é preferível ficarmos vermelhos uma vez
Janelas Abertas
Transpondo o
imaginário
CRÔNICAS
Braz Campos Durso
diz respeito ao campo do amor, devemos querer
tremer sempre que passarmos perto da pessoa
amada. Devemos permitir não saber como agir
ou o que fazer quando nos encontrarmos com a
pessoa amada. Devemos nos permitir recomeçar
sempre na busca pela felicidade. Devemos nos
permitir amar sempre. Razão é importante, mas
posso afirmar: no amor não é fundamental!!!!
51
altos e baixos, e você precisa aprender isso. Alguns
podem até ter desistido de aprender devido a um
tombo. Mas você, que continuou tentando e aprendeu a andar de bicicleta, sabe o quanto isso é bom.
Pequenos obstáculos não devem nos deter. Caímos
porque podemos levantar, agora deixar de tentar
não nos possibilitará, na maioria das vezes, outra
chance. A história é dinâmica. O tempo segue sempre em frente, assim como a vida. O primeiro passo
para não fazer pode começar com um simples adiamento. Seja sempre determinado nos seus objetivos.
Sonhe e tente realizar suas ambições. A felicidade
existe para os que doam sua vida ao desafio.
Janelas Abertas
Braz Campos Durso
52
do que amarelo para o resto da vida. É a mais pura
verdade. Muitos preferem a comodidade de uma
vida sem emoção e sonhos, simplesmente por terem medo de lutar para que estes possam se tornar
realidade. Eu prefiro os desafios da vida, mesmo
que não possa vencê-los sempre. Contudo, para
mim, uma única vitória alcançada será muito mais
útil e importante do que passar uma vida inteira
preso ao conformismo da mediocridade.
Existe chance de dar errado? Sim sempre, e
provavelmente algumas vezes isso acontecerá. Mas
se eu não tentar, nunca saberei se iria dar certo.
Tentando, tenho certeza de que não passarei meus
dias pensando: “Mas...” e “se...”. Esses pensamentos para mim significam uma derrota e um fracasso
muito maiores do que uma tentativa que não deu
certo. Pensar que você poderia, significa que o medo
superou suas forças e o fez ficar imóvel diante das
diversas possibilidades que a vida estaria lhe proporcionando. Cair não é vergonha, mas ter medo de
ir em frente, isso sim é vergonhoso. A mediocridade
oriunda da comodidade é algo lastimável na vida de
um ser humano.
Talvez a diferença entre você e aquela pessoa
que conseguiu um objetivo seja justamente essa: o
medo de tentar. O que uma pessoa sonha, outra será
capaz de realizar. Não deixe ninguém realizar seus
sonhos, realize-os você mesmo. Não tenha medo
de tentar. Não tenha medo de cair. Lembre-se de
quando estava aprendendo a andar de bicicleta. Alguns tombos aconteceram. Alguns machucados podem ter aparecido no seu corpo. Mas nada disso foi
suficiente para impedir que você aprendesse. Essas
quedas e machucados na verdade fizeram parte do
seu processo de aprendizado. A vida é cíclica, com
53
54
O corpo é responsável por 55% da mensagem, o tom de voz por 38% e as palavras por
apenas 7% - reportagem da revista Men’s Health
“Sim, você pode ler...”
Nesse mesmo seguimento temos também o
seriado LIE TO ME (se você ainda não assistiu,
não fique de fora: é um seriado muito bom), que
trata desse assunto de forma interessante durante
uma investigação criminal.
Se o nosso corpo é responsável por 55% da
mensagem, por que então as pessoas não valorizam esse ponto durante uma conversa? Nos
dias atuais passamos a valorizar a comunicação
virtual, o que segundo o texto da revista indica
que apenas 7% da mensagem é transmitida dessa forma. Talvez por essa razão, tenhamos tantas dúvidas no que lemos no msn, nos chats, no
google talk ou qualquer outro tipo de programa
de mensagem instantânea. Passando a nos comunicar dessa forma, estamos dando liberdade para
o lobo frontal do cérebro fazer diversas suposições sobre o que foi lido. Afinal, você pode estar
brincando ao escrever determinada mensagem,
mas a pessoa que vai ler não verá a sua expressão
facial para saber disso e, se levar a sério a brincadeira, as consequências podem ser desastrosas.
Tenho colegas que se iludiram em conversas via
computador pensando que a outra pessoa estava
apaixonada e na verdade não havia sentimento
nenhum, apenas interpretações equivocadas. Por
outras vezes, pensa-se que alguém está com raiva,
quando na verdade também não existe tal sentimento. Tudo culpa da falta da expressão facial, o
que possibilita o lobo frontal de entrar em ação
novamente. Não sou contra esse tipo de mecanismo de comunicação, afinal, essas tecnologias
são muito úteis também, principalmente para
unir pessoas que estão longe, mas devemos saber
limitar o seu uso a um patamar que não atropele
a relação humana.
É impressionante como as pessoas estão
fugindo do olho no olho durante suas conversas. Casais discutem sem se olharem nos olhos.
Profissionais atendem pacientes sem nem mesmo olhar sua fisionomia. Para mim, esse tipo de
atitude demonstra a frieza com que as pessoas
estão se acostumando. Gritando em favor da individualidade, na verdade, estão regredindo como
pessoas, como seres humanos.
Por mais fantástica que a tecnologia possa
ser, ela nunca vai reproduzir os sentimentos que
podemos perceber ao vivo, pessoalmente, durante uma conversa.
Antes, eu não reparava tanto nas expressões
faciais nem procurava enxergar um significado
para cada uma delas. Atualmente, procuro observar as feições das pessoas. Surpreendo-me cada
vez que consigo ler uma informação antes de a
pessoa deixá-la clara com sua fala. Isso tem feito com que eu fique observando mais, em vez de
tomar qualquer outra atitude. Talvez essa dificuldade de reparar tenha a ver com o fato de estarmos deixando as coisas simples de lado. A pressa
Janelas Abertas
CRÔNICAS
Braz Campos Durso
A expressão
corporal
55
56
Vamos começar fazendo você usar a sua imaginação. Digamos que você está diante de um tabuleiro de xadrez. Existe algo que você não consiga ver? Não. Mas é garantido que você vença o
jogo? Não, porque você não pode ver o que o outro sujeito está pensando. Ficamos aprisionados no
mundo atual, cercados de tantas informações, que
ao querer saber de tudo, acabamos inertes. Nunca
se poderá saber tudo. Quanto mais aprendemos,
mais chegamos à conclusão que ainda falta muito
para sabermos tudo nesta vida. Nem todas as informações adicionais são necessárias para se chegar a uma vitória ou realizar alguns dos nossos objetivos nesta vida. Às vezes, fugir das rígidas regras,
permitindo-se novos caminhos, pode representar
esse diferencial e determinar o seu sucesso, tanto
profissional como pessoal. Se você não souber todas as informações, vai usar o seu discernimento
para fazer suas escolhas. Isso possibilitará que o
seu lado criativo possa se manifestar. Nesse ponto, você terá uma certeza: terá começado a viver
realmente. Nossa capacidade de sermos criativos
é muito grande, quase infinita. Vamos então aproveitá-la ao máximo. Ela existe. Está viva dentro de
nós. Vamos deixá-la se manifestar.
Lembre-se sempre do pensamento de Goethe, que afirma que ideias ousadas são como as
peças de um jogo de xadrez que se movimentam
para a frente; podem ser comidas, mas podem começar um jogo vitorioso. Na vida, nunca teremos
Janelas Abertas
Quando menos
é mais
CRÔNICAS
Braz Campos Durso
está nos consumindo cada vez mais. Estou em um
momento de parar um pouco, de deixar as coisas
simples acontecerem e reparar cada detalhe desta
simplicidade. Repensar é necessário, assim como
saber parar. Esse sou EU hoje: parado, reparando
na sua expressão corporal.
57
A sábia Clarice Lispector já falava: “O difícil
é ser simples”. Ela estava coberta de razão. Vamos
procurar simplificar o nosso pensar. A máxima aqui
é quando menos é mais.
Janelas Abertas
Braz Campos Durso
58
a certeza se vamos ganhar ou não, mas temos
a certeza de que devemos tentar, pois só dessa
forma podemos ter a chance de vencer. Muitas
pessoas esperam por tantas respostas antes de tomarem uma decisão que simplesmente não saem
do lugar. Devemos ter plena convicção de que a
incerteza faz parte da vida. Saber lidar com ela é
uma das etapas fundamentais rumo à realização
de nossos objetivos.
Se você se envolver demais na produção de informações, vai se afogar e se dispersar nos dados.
Sobrecarregar nossa mente com muitas informações dificulta a identificação de qual a melhor decisão a tomar, em vez de facilitar. Para tomar decisões
de sucesso, precisamos editar. Por mais incoerente
que possa parecer, simplificar o processamento das
informações ajuda a termos certeza. Quanto mais
informações você acrescentar sem real necessidade,
mais vai dificultar a atuação de seu cérebro. As pessoas injetam informações extras numa equação já
superlotada que estão construindo em sua cabeça,
ficando tudo ainda mais confuso.
Todos nós já passamos pela situação de termos de resolver uma questão em determinado teste
e optamos por uma letra no gabarito. Depois, ao
voltarmos na questão e ficarmos pensando novamente nas diversas informações ali presentes, acabamos mudando a opção da resposta. O que frequentemente acontece nessas situações? Na grande
maioria das vezes, quando conferimos o gabarito
do teste, passamos raiva ao verificar que tínhamos
acertado anteriormente e que na última hora mudamos para a opção errada. Devemos lembrar da frase
de Goethe de que quem pensa muito, nem sempre
escolhe o melhor. Isso é a mais pura verdade.
59
60
Constantemente as pessoas julgam. Parece ser
algo nato do ser humano: julgar seu semelhante. Julgamos com tanta ênfase que esquecemos que podemos nos tornar réus e sermos julgados também.
Existem diversas formas de se julgar, mas, invariavelmente, acabamos por julgar algo em alguém.
O julgamento do aspecto físico é talvez o que causa
maior frustração, tanto para quem é julgado como
para quem julga. Quem é julgado porque fica exposto a comentários maldosos e quem julga porque
pode cometer erros e equívocos imperdoáveis.
Recentemente num programa de talentos da
televisão britânica (reality show Britain’s Got Talent) tivemos uma prova disso. Uma das participantes, a candidata Susan Margaret Boyle, que externamente não se enquadrava no perfil de beleza, foi
vítima do JULGAMENTO. Antes de abrir a boca e
soltar uma voz maravilhosa ela foi ridicularizada pelos jurados do programa. Mas, como tudo na vida,
quando fazemos um prejulgamento acabamos por
ter uma surpresa depois. E com esta candidata não
foi diferente, fazendo com que ela chegasse à final
do reality show.
Não consigo entender por que o ser humano
tem essa necessidade de julgar. Julgamos com tanta
veemência que esquecemos que erramos também.
Já cansei de prejulgar alguém e me arrepender depois. Na verdade, aprendi que antes de julgar temos
de dar tempo para entender cada pessoa e principalmente saber respeitar as diferenças. Apenas por alguém não pensar da mesma forma que eu, não quer
dizer que essa pessoa esteja errada e que mereça ser
julgada. Quem garante que na verdade não é ela a
correta e eu o errado?
Quantas vezes, também, uma pessoa que é
considerada “feia” não se torna a principal companhia e aquela que mais nos entende? Nessas horas
não é melhor nos perguntar se o importante é o julgamento do aspecto físico ou o caráter e a amizade?
Acho que caráter e amizade sobrepõem em valor
qualquer beleza física. De que adianta o físico se o
conteúdo é vazio?
Lembro de ter lido uma vez uma crônica na
internet em que uma menina entra numa loja de
animal e se apaixona por um cachorrinho que tem
um defeito na perna. Ela fala para o vendedor
que vai querer levar aquele pequeno animal com
o defeito e o dono da loja responde que ela não
deveria escolher aquele e sim outro animal, pois
aquele apresentava um defeito. Mais uma vez vemos como as pessoas julgam pelo físico (no caso
o dono da loja). Nessa hora a criança fala que quer
aquele mesmo, pois como ela também tem um defeito na perna, aquele animal vai ser perfeito e eles
vão andar na mesma marcha. Acho maravilhosa
essa crônica, pois ela valoriza o significado do interior dos seres vivos.
Essa lição de moral serve de alerta para entendermos a forma como nós, seres humanos, estamos
conduzindo os relacionamentos nos dias de hoje: valorizando apenas o físico. Essa forma de agir e pensar
faz com que relacionamentos com pessoas incríveis
sejam perdidos. Quantas amizades sinceras não entram na nossa vida por culpa do modo como agimos?
Antes de julgarmos alguém devemos sempre
nos perguntar se estamos dando tempo suficiente
Janelas Abertas
CRÔNICAS
Braz Campos Durso
O julgamento
61
62
É fácil conceber e começar projetos. Fazemos
isso todo dia ao acordar. Estamos sempre envolvidos em algum projeto que sonhamos anteriormente.
Nossas conquistas podem ser sempre do tamanho
da imensidão de nossos sonhos. Difícil é mantê-los
sem que se degradem com o passar do tempo. Difícil é manter a nossa integridade, a nossa essência
diante de tanta mutação que ocorre ao nosso redor.
Difícil é aceitar que podem existir vários pontos zeros em nossa vida. Várias etapas marcadas por um
novo reinício.
Tente responder quais os projetos que você
está fazendo para a sua vida hoje. Esses projetos são
os mesmos que você fazia ontem? São os projetos
que irá querer fazer amanhã? Será capaz de levá-los
adiante? Temos de nos lembrar que não dependemos apenas de nós mesmos na realização dos nossos projetos pessoais. O mundo é dinâmico e está
repleto de pessoas, todas elas em constante evolução. Mudar é algo inerente ao planeta em que vivemos. Inerente das pessoas com quem convivemos.
Os interesses mudam e com as mudanças as pessoas
se vão. Sábio é aquele que consegue reconhecer isso
e sabe se reinventar. A cada novo dia podemos deparar com um novo ponto zero na nossa vida. Não
devemos encarar esses novos pontos zeros como
algo ruim e sim como novas chances de irmos em
frente. Recomeçar é uma bênção diante de tantos
que preferem ficar pelo caminho. Thiago Melo já falava de forma sábia: “Não tenho um caminho novo.
Janelas Abertas
Pontos zero de
nossa vida
CRÔNICAS
Braz Campos Durso
para conhecermos o interior dessa pessoa. Provavelmente não estaremos dando tempo suficiente
para isso. Portanto, devemos escutar mais, entender mais, respeitar mais, ajudar mais e julgar menos.
Dessa forma seremos mais felizes e faremos a todos
do nosso convívio felizes. Antes de julgar, vamos
aprender a aceitar as diferenças.
O diferente não precisa ser julgado (lembre-se,
o diferente pode ser você). O exterior é apenas uma
casca. Para ver o interior precisa-se de tempo. Para
se aprender leva-se tempo. Então, para que correr?
63
que um projeto humano é um ato coletivo. É feito
de pessoas. É feito por pessoas em contínua aprendizagem. Tal como no mito de sísifo, a continuidade
de um projeto dependerá da capacidade de cada um
e de todos os participantes serem capazes de recomeçar. Numa efetiva cooperação, na recíproca aceitação das diferenças – omnia in unum – e sem deixar
de interrogar as evidências...
Janelas Abertas
Braz Campos Durso
64
O que tenho de novo é o jeito de caminhar”. Vamos
então nos permitir esses novos modos de caminhar
durante o trajeto da nossa vida. Durante os novos
pontos zeros que teremos pela frente.
Devo saber mudar os rumos do meu projeto de
vida sempre que necessário. Devo saber apenas onde
quero ir; pois o caminho a seguir pode ser repleto
de novas oportunidades. Mudar a direção não significa desistir de seu projeto. Pode significar apenas
uma inversão de prioridade. Afinal, você é humano
e está em crescimento. Tudo está sendo modificado
ao seu redor. Não seja apenas um espectador dessas transformações. Seja um ser atuante. Invista em
você e no seu crescimento. Tire as raízes da sola de
seus pés e comece a se movimentar também. Não
aceite os términos. Passe a enxergá-los como ponto
zero na sua vida. O momento de iniciar algo novo.
Algo que possa deixá-lo mais satisfeito. Procure ter
talento para a vida. Talento para se reinventar sempre que necessário for. Não se deixe preso ao passado. Viva o que importa, que é o agora. Não se perca em lástimas pelo que não existe. Prenda-se nas
esperanças do novo e nas oportunidades que você
poderá ter pela frente. Quando surgir o momento
de um novo ponto zero temos de estar preparados
para seguirmos. Ter medo do desconhecido e do
que poderá ser criado por um novo projeto não é
algo útil na vida. Arriscar na busca pelo crescimento
é essencial. Einstein já falava: “Entre as dificuldades se esconde a oportunidade”. Não se entregue
às barreiras que surgirem na sua vida. Atrás do obstáculo pode ser encontrado o caminho da vitória.
Seu novo, e por que não melhor, projeto ainda pode
estar por vir. Procure ir em frente sempre.
José Pacheco, educador e escritor, deixou claro
65
66
Quando se fala em relacionamento, a única
certeza é que em algum momento teremos algumas
divergências entre o casal. Isso na vida é mais que
natural. A forma como o ser humano se relaciona
é algo que propicia um duelo, ou melhor dizendo,
uma luta pelo poder. Isso não é diferente em um
relacionamento, em que não temos certeza do que
poderá acontecer, mas podemos minimizar os riscos de ferir nosso coração ou entrar em um ciclo de
deterioração emocional. Para que isso não ocorra
os pesquisadores das relações pessoais observaram
as novas teorias do amor, se assim podemos chamá-las. Tenho medo de expor regras, pois acredito
sempre que a emoção é mais forte que a razão quando pensamos em amor.
A afirmação de que um casal feliz nunca discute deve ser revista. Ninguém gosta de casais melosos demais. Não discutir pode representar a falta de
abordar assuntos importantes durante a convivência a dois. Não discutir assuntos importantes não
quer dizer que eles simplesmente não existem. Pode
significar que estamos protelando até um momento
em que várias coisas vêm à tona ao mesmo tempo. Quando isso ocorrer, pode ser tão forte a ponto
de desestabilizar permanentemente um relacionamento. Nunca devemos deixar o copo transbordar
nem devemos tentar retirar a água de uma só vez
quando está cheio. Dá muito menos trabalho fazer
essa tarefa aos poucos. Isso também ocorre no dia a
dia. Conversar e tentar esclarecer pontos importantes, aos poucos, pode ser muito mais coerente do
que tentar resolver várias coisas ao mesmo tempo.
Quanto mais coisas, mais confuso o nosso raciocínio, e com isso maior a chance de acharmos tudo
complicado e chato e colocarmos tudo a perder.
Palavras arremessadas de forma inadequada podem
quebrar o vibro que recobre o coração. Se você não
pensa em quebrar esse vidro nunca atire a primeira
pedra, pois se ela for atirada, uma certeza é óbvia:
o vidro será quebrado. Tirar a proteção do coração
pode fazê-lo ficar frio. Pode deixar a razão aparecer
para ocupar aquele espaço tão especial que existia
anteriormente naquele local. Não tenho nada contra a razão, apenas acho que nos relacionamentos
ela faz com que nos tornemos menos acessíveis e
menos dispostos a ceder em prol do bem conjunto.
Na razão passamos a ponderar vendo apenas o nosso lado. Ver apenas um lado torna a coisa toda egoísta. E ser egoísta em um relacionamento é decretar
o fim do mesmo. A partir do momento que você
não é mais uma pessoa disposta a ceder, saiba que
não será mais capaz de amar. Também não adianta
discutir demais se você não transformar tudo que
foi dialogado em atitudes procurando solucionar os
pontos-chave. Sem essa atitude tudo fica sem uma
razão para ter sido ou ocorrido. Procurar apenas
por beleza é outra faca de dois gumes. A atração
física pode acelerar, mas não necessariamente vai
significar a manutenção de uma relação. Afinidades nas coisas que gostamos ou fazemos é que são
fundamentais. Não posso ser apaixonado por música e estar envolvido por uma pessoa que detesta
Janelas Abertas
CRÔNICAS
Braz Campos Durso
As novas teorias
do
relacionamento
67
dúvidas. Sei apenas que sendo eu mesmo, estarei
disposto a permitir que alguém conviva comigo ao
meu lado. O meu melhor sempre será visível. Está
disposta a me aceitar? Se estiver, venha para o meu
mundo. Deixo as portas e janelas sempre abertas
para a vida e, consequentemente, para a felicidade.
Janelas Abertas
Braz Campos Durso
68
música. Cuidado maior devemos ter se a pessoa diz
que está mudando por nossa causa. Uma coisa que
tenho plena convicção é que a essência de ninguém
é modificada baseada apenas na palavra de que “eu
irei mudar por você”. Essa mudança transitória
pode até ocorrer por um determinado tempo, mas
um dia as necessidades essenciais da pessoa voltam à tona. Se uma pessoa adora uma determinada
coisa, ela não pode simplesmente falar um dia que
não vai mais gostar. As coisas não são nem funcionam assim na vida. No campo do amor a razão não
consegue falar mais alto. Devemos, em vez disso,
gostar da forma como a outra pessoa é e gosta de
ser. Se você consegue isso já tem um grande passo
em direção a um relacionamento estável. Quanto
mais afinidade tiverem, maior a chance de ambos
curtirem o tempo que vão passar juntos. Programas
devem ser prazerosos em um relacionamento. Ninguém muda o seu verdadeiro eu. Isso não quer dizer
que eu não acredite que as pessoas podem errar e
procurar acertar depois. Ou que ninguém merece e
pode ter uma segunda chance. Acredito apenas que
em se tratando de relacionamento, essas coisas não
são fáceis de acontecer. E sabe o porquê? Porque a
razão nunca consegue sobrepor a emoção. Atração
física não quer dizer dedicação ou carinho para com
outra pessoa. Físico não é emoção. Físico não é a
fatia maior de uma relação amorosa verdadeira.
Também sei que não se deve brincar com os
sentimentos de ninguém. E de uma coisa eu sei:
devo, desde o início, ser eu mesmo em um relacionamento se quero dar certo com alguém. Se não me
aceitar como sou, não procure ser minha. Sei de todos os meus defeitos, mas minhas qualidades também existem. Vou errar e acertar, disso não tenho
69
70
Muitas pessoas sonham conseguir fama. Será
que ser famoso é realmente uma necessidade ou um
objetivo de vida? Devemos nos perguntar primeiro o porquê de querermos ser famosos. Creio que
muitos vão responder que é pelo status, dinheiro,
poder, enfim, coisas materiais. Caímos aqui numa
ilusão de que os bens materiais estão associados ao
bem-estar e à felicidade. Conheço muitas famílias
que possuem tanto poder e fama, mas que são cercadas de tragédias ou infelicidades afetivas.
Esquecemos que a felicidade não depende de
bens materiais, mas sim do que sentimos em nosso
coração, de sabermos valorizar as pequenas coisas
da vida e que estas não dependem de nenhum bem
material. Quanto maior a nossa capacidade de desapego, maior nossa chance de ser feliz. A maior
armadilha da fama vem do que as pessoas envoltas
por ela acabam fazendo: cometendo excessos e se
achando superiores a todo mundo.
Um psicanalista argentino radicado no Brasil
chamado Alberto Godim, na reportagem da revista
Isto É “A Fama Mata”, de 1 julho, alerta para o fato
de os famosos viverem em um estado de paranoia.
Segundo ele, “o paranoico acha que todo mundo está
olhando para ele. O famoso tem de lidar com isso
na vida real; de fato está todo mundo olhando para
ele. Isso causa o afastamento do comum e acentua
o narcisismo, o que acaba levando à solidão e, consequentemente, à busca por suportes: drogas, álcool
e remédios para a frustração por ter de lidar com a
insignificância humana.”
Todo esse pensamento do psicanalista realmente nos leva a refletir sobre a busca pela fama e
poder. Se pensarmos bem, a clássica frase “dinheiro
não é tudo” neste contexto parece ter a sua fundamentação mor.
O sociólogo Muniz Sodré, nessa reportagem,
chama a atenção para o fato de a morte acabar sendo
o limite para quem vive uma vida sem limites. E isso
pode facilmente ser observado, pois normalmente os famosos acabam por terem mortes trágicas e
muitos ainda jovens. Acabamos por transformar em
mitos pessoas que filosoficamente e espiritualmente
são vazias. Passamos a idolatrar pessoas não pelo
seu caráter ou por sua capacidade de fazer o bem,
mas sim pela sua capacidade de ser cada vez mais
excêntrica. Ocorre uma grande inversão de valores
morais na sociedade na hora da criação de mitos.
O autor do livro O autoengano, professor Eduardo Gianetti, explora a tese de que o caminho do
excesso extravasa as fronteiras da nossa condição
mortal, agride a ordem divina ou natural das coisas
e, por tudo isso, não termina bem. As pessoas absorvidas pela condição de celebridade acabam por
se colocar acima de tudo e de todos. Esquecem que
existe algo maior que nos rege. Esquecem que nossa
missão terrena deve ser baseada em fazer o bem.
Esquecem que o importante é sermos nós mesmos.
É necessário saber reconhecer nossas limitações.
Saber respeitar os espaços das diferentes pessoas.
Entender que sempre existirão estágios diferentes
e momentos diferentes entre nossos semelhantes e
que nem por isso deixaremos de ser felizes e de ter
nosso espaço.
Janelas Abertas
CRÔNICAS
Braz Campos Durso
Desmedida: a
falta de limites
71
Tenho a minha forma peculiar de pensar e refletir sobre vários acontecimentos que percebo e
tenho a possibilidade de vivenciar ao meu redor.
Apesar dessa minha forma sui generis de poder ver
e analisar a vida, também apresento diversas falhas,
receios, medos, ansiedades, angústias como qualquer pessoa normal.
Talvez meu grande diferencial seja como processo todos esses acontecimentos. Sou sempre muito mais emoção. Gosto de viver intensamente todas
as coisas que me propiciam estar e sentir-me vivo.
O agora sempre é o palco da minha vida. Não tenho
vergonha de ser humano. Não tenho medo de amar.
Não me arrependo dos meus tombos. Estou sempre disposto a tentar. Não me escondo diante de
novos desafios que podem aparecer. Sei que posso
me reerguer e seguir sempre adiante, independente
do que tenha me ocorrido. Aprendi que o processo
de crescimento se dá dessa maneira. Sei que só posso ser eu mesmo sendo honesto antes de qualquer
coisa com a forma como acho ser correta nas tomadas das decisões da vida. Posso errar, mas procuro
ter a humildade de me desculpar e me corrigir. Não
sou perfeito, muito pelo contrário. Nesta vida, enquanto houver espaço para aprender e crescer, estarei sempre me reinventando e me aperfeiçoando.
Tenho consciência que o meu nirvana hoje ainda
Janelas Abertas
Formas
particulares
de fuga
CRÔNICAS
Braz Campos Durso
72
A grande maioria acaba confundindo o que é
buscar espaço com a fama. Confundem reconhecimento profissional e pessoal com poder. Nada disso
deveria ser fundamental em uma vida harmoniosa.
Tudo isso deveria ser uma trajetória normal. Posso conseguir reconhecimento profissional cada vez
que um paciente, por exemplo, gosta de como é tratado de forma humana. Posso conseguir o reconhecimento pessoal cada vez que dou um abraço em
algum membro da família ou ajudo alguém, mesmo
que desconhecido.
Para conseguir esses reconhecimentos, não
preciso depender de ninguém, mas sim da minha
paz interior. Esse tipo de reconhecimento vem com
a satisfação própria. Eu mesmo tenho de me realizar
com o que fiz e não depender de um reconhecimento de alguém. Para eu ter esses reconhecimentos, eu
não preciso ser famoso. Nenhuma excentricidade é
necessária para ser feliz.
O grande valor das coisas está justamente na
sua simplicidade. Demorei a perceber isso, mas
quando o fiz consegui estar em paz comigo mesmo
e seguir meu caminho. Aprendi que mais importante do que fama e poder é ter amigos ao nosso lado.
A solidão só existe para quem se torna vazio por
dentro. Aprendi que mais importante do que ser um
excêntrico, é procurar fazer o bem. Mais importante
do que querer ser, é saber respeitar os semelhantes.
Fundamental, acima de tudo, é ter em Deus uma
referência primordial e fazer do bem a nossa meta.
73
dispostos a seguir adiante. Olhar para baixo ou para
cima pensando que ainda falta muito para se chegar
não vai resolver nada. Temos de ter a determinação
para nos superarmos para ir rumo aos objetivos traçados. Sempre podemos vencer, desde que estejamos
dispostos a pagar o preço necessário. Nenhuma batalha é vencida sem treinamento e dedicação. O que
o leigo chama de sorte, o vitorioso chama de esforço.
Para quem está capacitado o sucesso vai acontecer.
Essa fuga, muitas vezes, a qual me permito ter,
propicia o tempo necessário para recompor-me e
liberar novamente toda a emoção sufocada dentro
do meu peito. Sempre tomo cuidado para nas perdas e nos tombos da vida não transformar todo o
sentimento de bem que sinto em sentimento ruim.
É muito difícil, mas sempre conduzo minha vida
procurando evitar que essa transformação sentimental possa ocorrer. Para mim, o afastamento propicia a cura. É o remédio para não deixar
que algo mesquinho da minha parte possa aflorar.
Nesses momentos, em que a nossa energia pode
não ser tão positiva, devemos saber parar, respirar
e voltar a seguir sempre dentro da nossa essência.
Buscar o bem, tanto o nosso, como das pessoas
que estão ao nosso redor, é sempre a melhor opção. Sei que é difícil, não tenho dúvida, mas também é verdade que é a única solução que podemos
encontrar rumo à felicidade.
Quando perceber que estou longe, não me
ache perdido. Estou apenas trancado no meu próprio universo aguardando o momento certo. Manter
uma essência de troca de energias positivas com o
universo é algo que procuro sempre fazer. Sei que
de uma forma ou de outra, toda a energia que destinamos ao universo será voltada para nós mesmos.
Janelas Abertas
Braz Campos Durso
74
não seja possível, pois ainda estou aprendendo. Minha busca pelo nirvana pode até mesmo ser utópica,
mas é a direção que sigo no trajeto da vida.
Muitas vezes, fico recolhido no meu próprio
mundo e na minha forma de pensar. Nem todos
podem ou devem compreender esse meu espírito.
Talvez seja uma das maneiras de fugir de algo que
não me trouxe felicidade ou me arremeteu a uma
situação de desconforto. Sim, minha vida como
a de qualquer um de vocês, apresenta altos e baixos. Sou um ser errante na procura do acerto. Sei
que nos momentos de baixa preciso ter a força
necessária para poder subir novamente. A vida é
cíclica nesse sentido.
Aprendi que na nossa trajetória encontraremos
diversas montanhas. Não posso me cansar apenas
por olhar em direção ao cume da mesma, enquanto
estou lá embaixo. Muito menos me sentir derrotado ao verificar que a escalada rumo ao topo vai ser
árdua e complicada. Procuro sempre agradecer por
ter forças novamente para subir aliado à capacidade
da livre escolha do caminho mais adequado.
O nosso livre-arbítrio é uma benção dada por
Deus. Por meio dele, podemos subir montanhas de
diversas formas e isso torna o desafio da vida e das
montanhas presentes durante nossa jornada algo
maravilhoso e desafiador. Podemos nos reinventar a
cada necessidade de uma nova escalada. As diversas
opções com as quais deparamos antes de escolhermos como subir rumo ao topo da montanha é algo
que depende apenas do que somos e do que pensamos. Podemos escolher caminhos mais duros e árduos de se escalar, mas sempre teremos a capacidade de
superarmos esses desafios e chegarmos ao topo. A
nossa força é sempre superior, desde que estejamos
75
76
Um diálogo do seriado House, no início da
sexta temporada, chamou minha atenção. O médico que estava cuidando do dr. Gregory House perguntou para ele: “Por que ele valoriza mais os seus
fracassos do que as conquistas”, e o dr. House respondeu: “As conquistas só duram até alguém as estragarem, já os fracassos duram pra sempre”. Nesse
momento, o médico soltou a lição para o dr. House:
“Reconheça o fracasso e passe por cima dele”.
Concordo plenamente com essa afirmação.
Devemos superar nossos fracassos. Não podemos
deixar a nossa vida ser direcionada pelos fracassos.
Devemos aprender a cair e a levantar. Na verdade,
acho até que não exista fracasso na vida. Tudo pode
ser uma questão de interpretar um momento determinado da vida. Não posso admitir uma pessoa que
deixa sua vida passar como um passageiro que observa uma viagem pela janela, apenas porque algo não
saiu da forma como ele planejou.
Não podemos deixar uma dor tomar conta
de todo o nosso corpo. Não podemos deixar nossa mente ser controlada pela ideia de uma derrota,
afinal, o sucesso está logo ali na frente... basta irmos buscá-lo. A trajetória da vida é muito curta e
o tempo é precioso demais para ser desperdiçado
com uma situação considerada como fracasso. Não
podemos olhar com tanta ênfase e nos apegar a uma
Janelas Abertas
Reconheça o
fracasso e passe
por cima dele
CRÔNICAS
Braz Campos Durso
Se despendo uma energia positiva, algo bom vai
retornar como feedback pelo universo. Quando uma
porta se fecha não fique se lastimando. Faça a sua
parte. Siga em frente. Continue sempre agindo de
forma correta. Em breve, o universo fará a sua parte
também, e tudo estará resolvido. Saiba esperar, controle a ansiedade que existe dentro de si. A minha
forma é me retirando e afastando. Esse tempo faz e
propicia a minha cura. Sempre sigo adiante depois.
Ainda tenho muitas montanhas para escalar e esses
desafios me motivam cada vez mais. Esse sou eu:
humano, com falhas, mas dotado de uma vontade
enorme de seguir adiante de forma assertiva.
77
A concisão é uma virtude em jogo na era eletrônica e seu espaço sem limites. Ser conciso é fundamental, mas não podemos esquecer o pensamento de Aristóteles de que com as mesmas letras se
pode compor uma tragédia e uma comédia. A maior
dificuldade que vejo no resumo da escrita é justamente de capacitar um espaço para a imaginação.
O leitor sempre poderá, na falta de uma explicação
mais lógica, fazer a sua interpretação. Toda interpretação reflete um lado de espírito pelo qual alguém
está atravessando. Uma pessoa apaixonada pode
pensar que todas as palavras são provas de amor ou
indícios de um amor presente. O contrário também
é verdadeiro, uma pessoa que está carente ou deprimida pode achar nas palavras que lê algum motivo
para se afundar ainda mais na tristeza.
Nem sempre o que lemos é realmente o que se
quis dizer. Essa é a grande dificuldade do resumo
das ideias em poucas palavras. A comunicação fica
afetada. Todos nós já percebemos isso ao termos alguma resposta dada via e-mail ou pensamento postado no twitter, interpretado de forma diferente do
real significado para nós.
Talvez diante das novas tecnologias e restrições impostas por elas aliado à falta de tempo das
pessoas, usar miniconversas, minirrespostas possa
ser uma realidade. Não concordo, contudo, que essa
Janelas Abertas
O lado escuro
de ser conciso
na comunicação
CRÔNICAS
Braz Campos Durso
78
situação desfavorável, pois dessa forma deixaremos
passar por nós várias situações favoráveis. Devemos
sempre estar seguindo adiante, procurando fazer o
nosso próprio caminho. Devemos sempre encontrar forças para nos reinventarmos o tempo todo.
Quando alguém achar que você perdeu, simplesmente mostre que o jogo não acabou ainda e que
você vai ganhar. Acredite em si mesmo. Temos de ser
fortes e determinados; afinal, sucesso só vem antes
de trabalho no dicionário. Devemos entender que a
vida não é feita apenas de realizações. Não podemos
ser mimados e egoístas a ponto de acharmos que
tudo tem de ser à nossa maneira e no momento em
que queremos. Aceitar essa forma de pensar e saber
da importância de se dedicar aos seus objetivos elimina os fracassos da vida.
Devemos saber que podemos simplesmente
passar por cima de qualquer obstáculo que encontrarmos pelo caminho. Somos capazes, desde que
estejamos dispostos a isso. Todo caminho possui
uma encruzilhada, só temos de escolher qual direção seguir. Se não gostarmos de um caminho, simplesmente podemos voltar e seguir por outro. Ninguém pode definir para onde você deve ir. Apenas
o seu coração.
Carregar dentro do seu coração o bem e acreditar em Deus fará você tomar sempre as decisões
corretas na vida. E a principal decisão é justamente
a de reconhecer seus fracassos e passar por cima deles. Então, mãos à obra. Comece a construir agora o
seu futuro repleto de sucessos, pois você já sabe que
pode passar por cima dos seus fracassos.
79
é que ao me tornar conciso, passo a depender da
capacidade da outra pessoa interpretar também de
modo conciso o que lhe foi transmitido. A partir do
momento que as pessoas passam a ler menos, obviamente a sua capacidade de interpretação também
fica alterada. Quanto mais limitado meu raciocínio,
maior a minha dificuldade de interpretação. Maior
a chance de “viajar” nas ideias transmitidas naquilo
que será lido. Isso pode mudar muitos acontecimentos. Pode fazer você sonhar e cair. Na dúvida, procure dedicar o seu tempo para estar e falar pessoalmente com seus semelhantes. Não se esqueça de
que o seu tempo deve ser destinado ao ser humano
e não às máquinas. Ambiente de trabalho nunca será
um ambiente social completo. Sua habilidade de se
socializar é fundamental. Muito do que acontecerá
de bom na sua vida está associado à sua capacidade
de manter relações pessoais. Nunca tenha medo de
parar e se dedicar a uma pessoa. Lembre-se: você é
dono do seu próprio tempo e assim pode determinar as suas prioridades. Seja sempre social.
Janelas Abertas
Braz Campos Durso
80
forma de comunicação seja a melhor. Deveríamos
buscar tempo para as pessoas e não nos adequarmos à falta dele. Vejo um futuro no qual as pessoas cada vez mais terão dificuldades nas relações.
Se eu não tenho tempo para o meu semelhante eu
não posso me relacionar de forma adequada. Nada
contra a necessidade de trabalho, mas daí a nos tornarmos reféns do trabalho na nossa vida não acho
adequado. Meu tempo mais precioso deve ser gasto
com as pessoas e não com papéis ou máquinas. O
ser humano precisa de contato, precisa se manifestar, expressar seus sentimentos. Nada disso é possível se você não se dedicar às pessoas que gosta e que
convivem com você. Atualmente, muitas famílias
nem se encontram mais. Os horários que saem de
casa, que fazem as refeições e que se recolhem para
dormir são diferentes. Muitas vezes nem nos fins de
semana conseguem se reunir, pois até as formas de
lazer não são as mesmas.
Cada vez menos temos tempo para as pessoas
que convivemos. Alguns se tornam reféns do trabalho e, consequentemente, de suas máquinas. Passam mais tempo diante dos computadores do que
com as pessoas que gostam. Chegam ao absurdo de
usarem as ferramentas de minitextos para se comunicarem dentro da própria casa. O impessoal está
imperando cada vez mais em nossa vida. Tenho de
ter cuidado ao restringir o uso das palavras para não
restringir o meu contato com as pessoas. O meu
sentimento não pode ser suprido apenas por meio
do virtual. O contato físico, o calor de um abraço, o
sentimento de um beijo, uma longa carta de amor...
nada disso será superado por ferramentas com limitação de caracteres.
A maior dificuldade na comunicação rápida
81
Normalmente estamos sempre buscando uma
pessoa que nos complete, tornando assim nossa vida mais feliz. A grande pergunta que fica é:
“Como ter a certeza de que conseguimos encontrar essa pessoa?”. Infelizmente nunca teremos.
Não existe nenhum indício de que isso possa vir a
se concretizar de verdade, até porque na vida nem
sempre a lógica prevalece.
Quantas e quantas vezes não vemos uma pessoa responsável se envolver com uma irresponsável? Isso ocorre porque não conseguimos controlar
o que move o ser humano: o sentimento. Por essa
razão, às vezes, fala-se que o amor é cego. Na verdade, ele não é cego, é sincero. Amar não é combinar
1+1 = 2. Amar é aprender. E vamos aprender com
o que não sabemos, ou seja, com o diferente. Lógico
que algumas afinidades são necessárias, mas estas
apenas permitem que o relacionamento dê certo.
Na verdade, todos os relacionamentos dão
certo, nem que por um curto período de tempo
(como disse Jabor numa crônica). Mas naquele período deram certo e valeram a pena. E o melhor:
sempre saímos de relacionamentos anteriores com
uma maior bagagem de aprendizado do que quando entramos neles. Só por isso qualquer relacionamento já vale a pena, minimizando quaisquer
riscos decorrentes do mesmo.
Quando percebi isso, passei a me entregar de
peito aberto a qualquer oportunidade de me relacionar. Afinal, relacionar-se é sentir e aprender. Uma
combinação maravilhosa. Essa combinação nos faz
nos sentirmos vivos.
Acredito que não devemos pensar no relacionamento como um jogo, no qual temos de pensar
antes de movermos qualquer peça no tabuleiro. Já
pensei assim por um tempo (e me arrependi), mas
atualmente tenho certeza de que devemos deixar o
sentimento nos dominar. Não devemos jogar, pois
em um jogo alguém ganha e alguém perde. Para um
relacionamento dar certo, deve existir equilíbrio e
harmonia. Ninguém deve ganhar. Lembre-se do ditado: sorte no jogo, azar no amor.
Na verdade, devemos saber ceder mais do que
ganhar. No relacionamento estamos querendo perder (ceder) para ganhar. Ganhar o crescimento da
pessoa amada. Ser irredutível em questões amorosas só pode demonstrar que a pessoa não está preparada para amar. O egoísmo não faz parte do amor
verdadeiro. Se eu apenas penso em mim, não estou
preparado para pensar no outro. Relacionamento é
feito para que a pessoa amada possa se sentir protegida. Que ela sinta que tem seu apoio, que mesmo
no escuro poderá encontrar a sua mão para apoiá-la.
Quando me falam que devemos ir devagar no
início de um relacionamento, eu discordo. Como ir
devagar? Afinal, ninguém até hoje soube precisar
qual a verdadeira velocidade do amor. Como frear
Janelas Abertas
CRÔNICAS
Braz Campos Durso
82
Como você
sabe quando
encontrou
a pessoa
certa para um
relacionamento?
83
84
Tem uma música que o Oswaldo Montenegro
canta chamada A lista. Essa letra é legal porque dá
o real sentido das coisas nessa vida, ou seja, a constante evolução. Essa evolução acaba por significar
mudar, o que para muita gente pode ser uma coisa
temível só de se pensar. Mas não tem como fugir.
Nossa vida está sempre em constante transformação e as mudanças são necessárias.
Não conheço ninguém que se mantém o mesmo durante toda a vida. Estamos sempre procurando
evoluir, melhorar e conseguir novas coisas. Isso tudo
acaba se traduzindo em MUDANÇA. E mudar significa deixar para trás algumas coisas que achamos
que seriam imutáveis. Quem nunca achou que seria
feliz para sempre ao lado de uma namorada e algum
tempo depois vê que a vida continua e está até melhor com outra pessoa que talvez nunca pensasse que
estaria junto? E aquela pessoa com quem ele achou
que passaria toda a sua vida e que hoje simplesmente
não faz mais parte de nenhum momento atual? Isso
se traduz em MUDANÇA e, lógico, as perdas a ela
associada.
Mas o que pode ser mais complicado é quando
você percebe que precisa dessa mudança e tem de
fazer coisas contra o seu coração, justamente por
saber que a evolução rumo ao futuro será mais importante para você. E evoluir rumo ao futuro sólido
Janelas Abertas
A hora de saber
deixar as coisas
para trás
CRÔNICAS
Braz Campos Durso
se o que importa não é o tempo, e sim a intensidade
do momento? Esperar até ter certeza pode significar o fracasso do relacionamento. Afinal, essa certeza pode nunca vir.
Para mim o que importa é a vontade de querer
estar perto. De compartilhar meus momentos com
outra pessoa. Isso já é o suficiente para eu saber que
encontrei a pessoa com a qual devo me relacionar.
Se valerá a pena? Não saberei se não tentar. Por esse
motivo prefiro arriscar. Tenho apenas uma certeza,
quando estou disposto a arriscar: aprenderei um
pouco mais.
85
e principalmente PERDOAR. Devemos saber que
somos imperfeitos e que erramos constantemente. Mas é importante apesar de tudo, termos consciência da constante evolução e das mudanças. E
direcionar tudo isso rumo ao nosso futuro sólido.
Chega de deixar as coisas acontecerem ao nosso redor de forma aleatória. Devemos tomar o rumo das
situações e sermos HUMANOS.
Devemos principalmente acreditar que é hora
de deixar alguma coisa ou alguém para trás e seguir
em frente. Chega do passado... Viva o seu PRESENTE. Se irei sofrer ou não, isso já não me importa. Sei
que essa é a minha hora. Você sabe quando é a sua?
Janelas Abertas
Braz Campos Durso
86
significa muitas vezes deixar para trás alguém que
algum dia nos fez tremer, fez nosso coração bater
mais forte, fez nosso corpo experimentar algo totalmente diferente, nos fez sentir um carinho muito
grande e sincero. Mas, ao mesmo tempo, nos fez
enxergar o momento de deixar tudo para trás para
procurar ser feliz. E posso ser sincero, como é DIFÍCIL saber que temos de deixar alguma pessoa
para trás para seguirmos em frente. Talvez seja uma
das decisões mais difíceis que tomamos em nossa
vida, pois irá repercutir em vários aspectos no nosso futuro. Mas é uma decisão que temos de tomar e
invariavelmente a tomamos.
O mais importante é saber que mesmo com alguma dor decorrente das decisões, elas existem para
que possamos crescer e principalmente seguir em
frente. Devemos acreditar sempre nas coisas boas e
nos bons sentimentos das pessoas que nos cercam.
Para cada sentimento desprezado por alguém, existirá sempre outra porta aberta esperando ser trespassada para permitir esse sentimento sincero ser
colhido de forma natural. Muitas pessoas não conseguem ser felizes (independente de estarem com
alguém ou não) justamente pelo fato de estarem
sempre jogando, sempre envolvidos numa brincadeira com a coisa mais pura e brilhante da humanidade que é o SENTIMENTO.
Nunca devemos brincar com isso em hipótese alguma. Valorizar os sentimentos das pessoas é
essencial para idealizarmos um futuro construído
com respeito e AMOR.
Por isso, acho que devemos pensar muito antes de lidarmos de forma inadequada com o sentimento de alguma pessoa. Devemos nos esforçar
sempre para compreender as diferenças, respeitar
87
Qual o futuro que nos espera? Fiz essa pergunta após ler a reportagem de capa da revista
Época com o título: “Agora somos sete bilhões nosso planeta aguenta?”.
A revolução industrial deveria marcar o início
de um novo período geológico, batizado, em homenagem ao homo sapiens, de Antropoceno. A Era dos
Humanos. Passamos a ter mais alimentos. O avanço
da medicina, propiciando uma melhor saúde à população com a introdução das vacinas e antibióticos,
aumentou a expectativa de vida.
Isso propiciou um aumento considerável na
população mundial com projeções conservadoras
das Nações Unidas de sermos 8 bilhões em 2025,
e chegarmos a 9 bilhões em 2043. A grande preocupação despertada por esse aumento populacional
tão expressivo é poder garantir aos humanos condições dignas de vida e acesso aos bens de consumo.
Essa preocupação é real, visto que descontando os
desertos, as altas montanhas e as calotas polares, a
humanidade se apropriou de dois terços das terras
aráveis do planeta. O terço restante é o último refúgio de milhões de espécies animais e vegetais ameaçados de extinção. O que fazer então para conseguir
garantir essas condições ao ser humano no futuro?
Brincarmos de Deus e eliminarmos o espaço das
outras espécies pode trazer consequências que nós
mesmos desconhecemos. Quais as alterações de dizimar a biodiversidade do planeta? Essa resposta
não possuímos, mas podemos prever baseados nas
mudanças climáticas pelas quais nosso planeta tem
passado nos últimos tempos. Estamos na pressa de
nos desenvolvermos, minando as reservas do nosso
planeta. Talvez por essa razão exista tantos filmes
de ficção imaginando a descoberta de outros planetas, onde o ser humano poderá sobreviver. Talvez
já estejamos prevendo que teremos de achar outro
lugar para a humanidade viver se continuarmos a
minar a energia do planeta terra.
No futuro, ou a população dos países ricos
mudará seus hábitos alimentares passando a aderir
a uma dieta vegetariana, ou a área mundial de terras aráveis precisará crescer 50%. Para ter uma noção, a reportagem apresenta um dado muito curioso: 1 hectare de terra rende 45 quilos de soja. Mas
a mesma área só produz 2,5 quilos de carne. Isso
demonstra claramente o porquê da necessidade da
mudança alimentar a qual a população deverá passar no futuro. A grande dificuldade é que a partir
do momento que você passa a usufruir determinado padrão de vida, raramente consegue voltar a um
padrão inferior sem que isso traga alguma consequência. Basta nos imaginarmos sem poder saborear um churrasco, por exemplo. Imagine não ter
mais algum tipo de carne na sua refeição diária.
Muitos acham inimaginável, mas isso poderá ser
Janelas Abertas
CRÔNICAS
Braz Campos Durso
88
Somos sete
bilhões agora:
estamos
preparados para
enfrentar o
futuro?
89
consciente o nosso futuro no planeta Terra. Talvez
por morarmos num país tão rico de recursos naturais como o Brasil, não conseguimos perceber como
esses recursos são escassos no restante do mundo.
Talvez os filmes de ficção possam se tornar a mais
cruel realidade num futuro não tão distante assim.
Talvez o momento em que o que vemos nas telas
do cinema possa ser o que vamos viver no dia a dia
não seja tão ficcional assim. Estamos preparados
para que a espécie humana possa ter continuidade
na Terra? Acredito que dentro do nosso egoísmo
não estamos pensando no futuro. Afinal, o nosso
hoje está muito confortável. Estamos utilizando a
energia para nosso divertimento. Nossa alimentação
está rica e variável. Os avanços tecnológicos estão
nos propiciando conforto nunca antes visto. Talvez, o nosso maior erro como seres humanos seja
nos fecharmos no nosso egoísmo material. Afinal,
se está bom para mim por que devo me preocupar
com outras pessoas ou outros lugares do planeta?
Esquecemos que tudo gira de modo ordenado e que
os desastres podem ser em grande escala, afetando
de forma inimaginável todo o planeta.
Os antropólogos Cochran e Harpending observaram que a evolução humana também se acelerou nos últimos 10 mil anos. Ela acontece 100
vezes mais rápido. Atualmente, o que conta numa
civilização tecnológica é o cérebro. Qual mãe não
sonha ter filhos inteligentes? Vivemos o primeiro
momento na história em que o cérebro se tornou
mais sexy que os músculos. Segundo a reportagem,
se esse padrão persistir em meia dúzia de séculos,
seremos todos gênios. Tomara que isso seja verdade e que os novos gênios possam saber preservar o
planeta. Que eles possam encontrar mecanismos de
Janelas Abertas
Braz Campos Durso
90
uma realidade não muito distante. Estaremos, contudo, preparados para esse sacrifício alimentar? Não
vejo nenhum tipo de preparação sendo direcionada
nesse sentido. Talvez seja mais fácil estarmos nesse
momento fechando nossos olhos, imaginando que
esse futuro não vai acontecer ou não vai nos atingir.
Mero engano a que estamos nos submetendo. Mas
não é apenas os alimentos que estarão escassos. A
água é outro item que chama a atenção. Teremos de
passar pelo desafio de produzir comida para mais
três bilhões de humanos usando menos água que
hoje. Voltando aos dados da reportagem: um ser
humano precisa de 2 a 5 litros de água por dia. Para
produzir 1 quilo de grãos, usa-se de 500 a 2.000 litros. Para produzir 1 quilo de carne, consome-se até
15.000 litros. Mais um ponto que mostra a necessidade da mudança alimentar pela qual teremos de
passar. A produção de carne também consome mais
água. Nesse ponto, nós, brasileiros, podemos nos
sentir privilegiados. Dos grandes produtores, somos
os único que ainda têm água em abundância. Mas
não será suficiente, contudo, para abastecermos o
mundo todo. Muitos países já estão começando,
mesmo tendo a capacidade de produzir, a importar
alimentos. Isso faz com que a sua reserva natural
seja preservada. Mais uma vez os países ricos estão
se favorecendo do poder econômico para manterem suas reservas naturais. Temos uma falsa ilusão
de acharmos que estamos evoluindo ao exportamos
mais grãos, carnes e outros produtos. Será que estamos mesmo evoluindo ou estamos exportando as
nossas reservas naturais a preço baixo e acabando
com as mesmas de forma acelerada? Será que nosso planeta está sendo preparado para se renovar?
Creio que não estamos ainda discutindo de forma
91
92
Áries é o primeiro signo astrológico do zodíaco, situado entre Peixes e Touro, e associado à constelação de Áries. Seu símbolo é um carneiro. Forma,
com Leão e Sagitário, a triplicidade dos signos do
Fogo. É também um dos quatro signos cardinais,
juntamente com Câncer, Libra e Capricórnio. Sou
do mês de abril e, portanto, sou um típico ariano.
Várias coisas que são descritas para esse signo se
encaixam no que sou e penso e, principalmente, nas
minhas atitudes.
Os estudiosos desse signo definem os arianos em relação aos contatos sociais como “aqueles
que costumam ser honestos e diretos em suas relações pessoais. São bons amigos de seus amigos,
ainda que, às vezes, sejam irritantes e possam ferir
a sensibilidade dos demais”. Sempre defendo meus
amigos e acho a lealdade da amizade fundamental.
A única coisa que importa na vida é poder fazer e
manter as amizades que construímos pelo caminho.
Sou capaz de me doar de diversas formas em prol
dos meus amigos, e isso me faz muito bem. Essa
lealdade às amizades faz parte do meu caráter. Para
mim, amigo é amigo e isso é tudo.
Janelas Abertas
O signo de Áries:
impulsividade,
exagero e paixão
CRÔNICAS
Braz Campos Durso
salvar as reservas naturais e toda a biodiversidade
existente aqui. No mundo tudo se completa e não
somos os únicos que merecem viver! Todos os seres
vivos devem ser preservados. Cada um possui uma
função nesse ciclo vital.
Apesar desse cenário crítico que se aproxima
e parece querer se tornar realidade num futuro não
tão distante, devemos lembrar que somos humanos
e que conforme Paramahansa Yogananda: “Jamais se
deve desistir da esperança de melhorar”.
“Os arianos costumam ter uma libido alta e
amam com grande paixão. Tanto que, às vezes, equivocam-se em suas primeiras relações e lhes custa ser
93
94
“O ariano é uma pessoa cheia de energia e entusiasmo. Pioneiro e aventureiro, lhe encantam as
metas, a liberdade e as ideias novas.” Sinto-me totalmente assim, sempre necessito de novos desafios,
pois a rotina, profissionalmente falando, acaba me
sufocando. As mudanças me atraem e revigoram a
minha vida. O novo é fascinante. As oportunidades existentes são enormes para os que como eu
estão abertos aos desafios da vida. Minha mente
não consegue se adequar à mesmice e à falta de novos aprendizados. Alguma coisa tem de me motivar
para que eu possa estar e ser feliz. No meu caso,
a remuneração financeira não é fator determinante
para o que eu queira fazer. A alegria do fazer é o
que importa. Preciso me sentir bem para que possa
continuar. Preciso da liberdade para poder criar.
“Os arianos são impulsivos e, às vezes, têm
pouca paciência. Tendem a se arriscar muito.” Em
uma entrevista ao programa do Jô Soares, no ano de
1998, Cazuza comentou sobre o fato de ser do signo de Áries: “Eu sou muito passional, eu sou ariano,
e Áries não pensa muito, é um signo meio burro,em
vez de abrir a porta, ele chuta...”. Incrível, pensei
por um momento que era eu quem estava sendo
descrito naquela entrevista. Sou muito passional.
Posso até me prejudicar, mas é a forma como costumo agir. Vivo a vida intensamente, dentro da minha
essência e sinceramente. Estou tão satisfeito assim
que não pretendo mudar. A minha vida é movida
pelo agora. Prefiro a intensidade a quantidade. Acho
melhor viver pouco tempo bem aproveitado do que
viver muitos anos contemplados pela inércia. Não
sei o dia de amanhã, mas tenho o tempo agora ao
meu dispor, para construir a minha vida e a minha
felicidade, isso sim é essencial e talvez me motive a
ser intenso.
A madrugada é para os arianos o período mais
perfeito para libertar as ideias. Tenho descoberto recentemente o quanto a madrugada é fértil e produtiva. Ela liberta o meu pensar e a minha capacidade
de reflexão. Muito do que tenho produzido é fruto
da lucidez que tenho nesse período. Novamente Cazuza, em uma entrevista dada à Rede Manchete, em
1986, relatou que também só tinha inspiração para
trabalhar nas suas letras durante a madrugada. Esse
período do dia é essencial para nós, arianos.
O signo influencia como somos e a forma
como vivemos. Eu, como bom ariano, sou totalmente transparente, sincero e intenso. Não sei brincar de jogar nem sou de fazer tipo. A minha forma
de ser é essa e isso me basta, pronto. Não posso ser
outro apenas para agradar alguém. Em toda ilusão,
existe um sonho e uma decepção. Basta escolher o
Janelas Abertas
Braz Campos Durso
fiel ou encontrar o amor de sua vida”. Sempre vivo
as minhas relações de forma intensa e no tempo presente. Não sei nem penso no dia de amanhã, muito
menos estou aprisionado em um passado. Vivo os
relacionamentos amorosos no agora. Quando uma
paixão não dá certo, não fico triste, pois tenho para
mim que vivi aqueles momentos da forma mais intensa que meu coração poderia almejar. Esses momentos amorosos que tenho guardado na memória
são sempre preciosos. Em cada um dos relacionamentos que tive, aprendi alguma coisa, e muito do
que sou hoje tem grande influência das pessoas que
passaram pela minha vida. Sou sempre grato a todas
elas por terem me proporcionado tanto aprendizado quanto gostaria ou poderia ter.
95
96
Você já parou para pensar por que existe o sentimento de saudade nos seres vivos? Digo seres vivos
porque os animais também sentem saudade. Existem
vários filmes e histórias de animais que ficam esperando por seus donos quando eles já partiram desta
vida. Saudade é, portanto, um sentimento inerente de
quem está vivo. Saudade é a falta que faz. Saudade é
um espaço sem resposta no coração. Saudade é maior
do que nós mesmos. Saudade não se explica por si só.
Saudade se sente.
Pensei bastante e pude concluir que saudade
existe para sabermos dar valor durante a presença. Deixar para depois alguma atitude diante de
alguém nunca foi uma das opções mais sensatas.
Se você não demonstrar no agora, pode não poder demonstrar no depois. Aproveite ao máximo
o agora, só ele pode minimizar a saudade quando
você, por fim, puder perceber a falta, que muitas
vezes é a noção exata de que recebemos mais do
que demos a alguém. É a certeza de que estamos
em dívida sentimental. A saudade pode significar que estamos carentes emocionalmente. Muitas vezes, achamos que damos mais, quando na
verdade estamos recebendo muito mais conforto.
Pensamos que damos, quando na verdade recebemos. A ausência causada pela morte é o maior
exemplo de que sentimos carência. Achamo-nos
fortes quando, na verdade, somos emocionalmente fracos.
Janelas Abertas
Por que existe
saudade?
CRÔNICAS
Braz Campos Durso
caminho ideal dentro da sua ilusão. Seja feliz, seja
louco, seja você mesmo sempre! Essa é a minha
dica.
97
98
Sorte do homem que consegue respeitar uma
mulher. Esse ser mágico que nós, homens, não
conseguimos captar a plenitude da alma, tamanha
a imensidão da beleza ali guardada. Conhecer o íntimo de uma mulher talvez seja a tarefa mais difícil
enfrentada pelo homem.
As mulheres, por serem totalmente diferentes
do universo masculino, possuem uma espécie de vida
própria. O pensamento dessas belas criaturas jamais
poderá ser entendido pelo homem em sua máxima
concepção, visto a capacidade ímpar de elas se reinventarem diante das dificuldades impostas pela vida,
aliado a uma forma própria de amar. As mulheres são
únicas nesse sentido e, como tais, devem ser valorizadas pelo homem de verdade.
São divinas por natureza e capazes de entender
o que é a vida no seu sentido mais humano. Elas cedem o corpo para gerar dentro de si um novo indivíduo, fruto do amor entre um homem e uma mulher.
A mulher aceita desde o início se doar em prol do
amor. Talvez por esse motivo não exista no mundo
um sentimento mais real do que aquele que a mãe
sente por seu filho. Ela já começou esse amor pelo
filho se doando e o protegendo dentro do seu próprio corpo. Talvez seja esse o único AMOR VERDADEIRO que exista no fim de toda a história.
As mulheres amam de um modo totalmente
diferente da forma como nós homens imaginamos.
Elas conseguem amar no sentido mais amplo da
Janelas Abertas
Mulher: esse ser
fantástico
CRÔNICAS
Braz Campos Durso
Saudade significa também ausência. Ausência
porque na saudade percebemos que deveríamos ter
feito algo que não fizemos. Saudade existe para sabermos que nosso coração é algo maior do que nós
mesmos e que precisa ser habitado por outras pessoas. Saudade existe para derrubar nossos muros de
concreto diante da vida e nos permitir nos entregar
à emoção. Saudade existe para nos permitir viver.
Quando sentimos saudades, muitas vezes nos
pegamos a chorar. É uma manifestação comum nas
pessoas saudosas. Alguns acham o choro uma forma desesperada de manifestar essa ausência. Outros, consideram as lágrimas a verdadeira expressão
da dor. William P. Young, autor de A cabana, nos
diz para jamais desconsiderarmos a maravilha das
nossas lágrimas. Elas podem ser águas curativas e
uma fonte de alegria. Algumas vezes são as melhores palavras que o coração pode falar. Penso que as
lágrimas são o ponto de vista do nosso coração. Externam nos olhos a falta que faz ao coração. Se faz
falta e causa saudade, quer dizer que existe dentro
de nós mesmos. Está dentro do coração. Quer dizer que existe um sentimento. Existe uma emoção.
Estamos vivos e por esse motivo a saudade me faz
acreditar em viver.
99
Não há jogos de palavras
Para poder acalmar
Insensata esperança
Que na mente tranquila
Repousa em serena lembrança
Janelas Abertas
Na distância só existe o pensar
Na ausência do tempo
Faz-se o silêncio
Fere-se em pensamentos
Sem possibilidade de escapar
POESIAS
Insensata
esperança
Braz Campos Durso
palavra amor. Desde o início, elas se doam e se entregam de forma única ao sentimento mais puro e
belo da humanidade: o amor. O coração da mulher
é mais honesto do que o coração dos homens. A
pureza do sentimento de uma mulher é único no
mundo. Talvez a maioria de nós, homens, morrerá
sem conseguir vislumbrar toda a real beleza que repousa nesse ser chamado mulher.
Sorte do homem que consegue entender tudo
isso e sabe valorizar bem como se entregar a uma
só mulher. Esse ser mágico que nos fascina tanto é
único, assim como devemos ser para elas. Somente
o homem que se dedica apenas a uma única mulher,
poderá ter a chance de conhecer a sua real beleza.
Poderá usufruir na íntegra sua verdadeira essência
feminina. Quantidade não é sinal de qualidade. A
variação não permitirá que nós, homens, consigamos a completa visualização do que em apenas uma
única mulher poderemos contemplar e achar: o verdadeiro amor.
100
101
Você ainda nem descobriu
Toda a força do amor
Nem sabe ao menos
Reconhecer qual o valor
Momentos fecundos
Calados em seu coração
Aprisionados dentro
De uma única canção
Por isso não me leve
Aonde não possa desejar
Desafios nascidos
Nas incertezas do pensar
Perdoar
Saber doar
Ficar sem ar
Olhando o mar
Perdoar
Ou mesmo esperar
Sem medo de errar
Na certeza de encontrar
Perdoar
Sinônimo de chorar
Pode o coração até parar
Perdoar
Pode a alma transformar
Sua vida modificar
O verdadeiro caminho retomar
Perdoar
Saber doar
Seu próximo respeitar
Em Deus acreditar
Janelas Abertas
POESIAS
Braz Campos Durso
Não caminhe por caminhos
Que o destino não nos levará
Não permita-me te encontrar
Onde não mais possa te tocar
Perdoar
POESIAS
Não me leve
Perdoar
Só pode significar
Amar
102
103
104
Acho que estou
Dentro de um sonho
A realidade não pode ser
Assim tão perfeita
Da visão ao toque
Da sua pele aveludada
No meu peito
Meu coração te espreita
Convivência:
Um somatório
De paciência, cumplicidade
Lealdade e amizade
Ou significa conhecimento
Segurança ou mesmo bonança?
Convivência:
Na esperança de certezas
Na maioria das vezes
Encontramos surpresas
Convivência:
Acreditamos representar
Os ideais de dois
Contudo pode mascarar
O egoísmo de apenas um
Convivência:
Valorizando-a tanto assim
Esquecemos da verdadeira
Natureza do ser humano
Repleta de pensamentos e vontades
Em detrimento de uma
Consistente felicidade
Janelas Abertas
Não sei o que é
Mas a saudade existe e é real
Não sei onde vai chegar
Mas me faz em você pensar
Convivência
POESIAS
POESIAS
Braz Campos Durso
Meu coração
te espreita
105
Braz Campos Durso
Convivência:
Fica aqui uma indagação
Será ela o mais importante
Para sermos realmente felizes
Durante todo e qualquer instante?
Acredito plenamente que não
Posso até não ter a razão
106
Palavras expressam
Através de textos
Sentimentos
Mesmo quando
Não existe mais
Sentimento
Nas palavras
Que foram expressas
Deixam, contudo,
Registrado
Pensamentos
Relacionamentos
Sentimentos
Que não se encontram mais
Nas palavras que podemos ler
Às vezes não conseguimos perceber
Que mal cabe no papel
Seu significado real
Janelas Abertas
Convivência:
Buscamos a experiência
Mas será esta uma confiável
Fonte de referência
Para com o passar da idade
Mantermos a nossa felicidade?
Palavras são
só palavras
POESIAS
Convivência:
Até onde poderemos ir
Num jogo de palavras
Existe até o ato de mentir
E como fica a dignidade
Na busca dessa tal felicidade?
Apesar dessa ambiguidade
Fugindo totalmente da realidade
Somente palavras existem
Às vezes, contam a verdade
Outras, simplesmente mentem
107
Doce Realidade
Aprisionam-se os pensamentos
Além da fútil imaginação
Vidas transformadas
Realizações decodificadas
Braz Campos Durso
Oh! Doce realidade
Não mascare sua identidade
Expulse da vida a dor
Permita fluir sempre o amor
Janelas Abertas
Oh! Doce realidade
Que por hora transpõe a serenidade
Muito além de qualquer verdade
Cativa com pura simplicidade
POESIAS
Libertando meus pensamentos
Brincando com meus sentimentos
Percorro, assim, novos caminhos
Afinal, não há o que compreender
Palavras são só palavras
108
109
110
Sua marca mais profunda
Na sua face está impressa
É seu sorriso encantador
Que fascina e faz sonhar
Sem nem entender o porquê
Você consegue surpreender
Como posso me perder
Simplesmente ao te ver
Não há como explicar
O que você pode causar
Sonho ou receio
Medo ou desejo
Sim, seu sorriso encanta
Vai além do olhar
Mostra um desejo intenso
De uma mulher perspicaz
Sobretudo capaz de amar
Janelas Abertas
Quantas vezes tive medo de amar e me
entregar de verdade
a quem jurava me amar
Quantas vezes escutei palavras fortes no meu ouvido, respirações aceleradas coladas ao meu corpo, e
mesmo assim tive medo de me entregar
Quantas vezes deixei o pensamento fluir para bem
longe enquanto o que deveria fazer era dizer apenas uma sentença: EU TE AMO!
Quantas vezes por fraqueza preferi fugir a lutar
por você
Quantas vezes relutei em escrever o que escrevo
por não ter maturidade para entender o que sentia
Quantas vezes me deixei levar por comentários, em
vez de escutar meu coração
Quantas vezes relutei em aceitar que encontrei por
não acreditar que era você
Quantas vezes agi quando devia pensar e pensei
quando deveria agir
Quantas vezes joguei xadrez num tabuleiro de
emoções e te pus em xeque-mate
Quantas vezes fiz perguntas sabendo que não poderia entender suas respostas
Quantas vezes precisarei acordar para entender que
um dia você partiu, e que poderia ter te impedido
dizendo apenas: EU TE AMO!
O seu sorriso
encanta
POESIAS
POESIAS
Braz Campos Durso
Quantas vezes
111
112
Mas na alma existe uma certeza
Que a chama pode reacender
Ao imaginar aquele sonho resplandecente
No peito se torna presente
Atravessa a porta da vida
Caminhando sem medo e receio
Existe ainda muita emoção
De permeio no seu coração
Naquela noite você
Apareceu
Entrou tão de repente
Pela porta da frente
Minha vida virou
Um filme mudo
Não existem cenas
Ninguém me entende
O balcão do bar
É a casa das emoções
O uísque desce
Calando o coração
Baby, você chegou
Baby, você se foi
Baby, eu nem sei seu nome
E eu aqui ainda estou...
Janelas Abertas
O tempo pode passar
E a distância pode corromper
Diversas expectativas
Que não puderem viver
Filme mudo
POESIAS
POESIAS
Braz Campos Durso
Um sonho ainda
presente
113
Distantes de nós
Percorremos caminhos
Não sabemos
Aonde ir
Olhamos ao redor
e não nos enxergamos
Não estamos
Mais ali
O tempo passou
E não mais voltou
Na ausência do amor
Restou a dor
Sentimentos são palavras
Ditas por ninguém
Se distantes do olhar
Perde-se a razão
Seguimos juntos presos
Na mesma canção
Capturados na essência
Não temos transparência
Subversão emocional ou
Sobrevivência existencial
Seremos solitários
Verdadeiros otários
Cade a razão
Vazio mundo cão
Percebo que a vida que levamos é grandemente
marcada por 3 coisas básicas: pensamentos, emoções e ações.
Básicas, porque são inerentes ao ser humano; mas
não necessariamente simples.
Temos nossas próprias razões para fazermos
nossas escolhas, e estas estão ligadas à nossa
complexidade única.
Criamos uma rotina, um método de vida, às vezes baseado nas necessidades do momento, às vezes como
reação a algo do passado. Às vezes sentimos a necessidade da mudança, uma nova forma de encarar a
vida, uma perspectiva diferente e renovada.
Creio que (quase) todo ser humano um dia passa
por isso;
Questionamos e imaginamos infinitas possibilidades de como nossa vida poderia ser se fizéssemos
escolhas diferentes.
Para alguns é apenas uma fase, para outros uma
eterna busca.
Quanto mais analiso a vida e o comportamento das
pessoas, mais sinto que deveríamos analisar menos
o que não podemos mudar e sim viver mais o que
nos cabe explorar.
Mas como nos livrar de intensas emoções e pensamentos desnecessários ao nosso desenvolvimento?
Como aceitar acontecimentos que a vida traz sem
questionar por quê?
114
POESIAS
Braz Campos Durso
(BRAZ CAMPOS DURSO)
(Renata Lima)
Janelas Abertas
Valeu a pena?
PARTICIPAÇÕES
DISTANTES DE NÓS
115
aprendizado, paixões inesquecíveis; realizações que
nos dão força, perdas que nos permitem nos encontrar.
Em cada experiência, em cada gesto, em cada palavra, mostramos quem somos.
Expressamos o eu individualista, não acabado,
não pronto...
Um “eu” a ser lapidado, explorado, expressado de
muitas outras formas; infinitas formas.
A liberdade que buscamos está dentro de nós.
Nossa reação a cada acontecimento depende da
pessoa que queremos ser.
Há tanto a se buscar; tanto a se ensinar; tanto a se
aprender; tantos para se amar.
Em cada dia há uma oportunidade de tentarmos
mais uma vez;
De ir além dos padrões atuais, dos limites impostos.
Em cada dia está a chama que precisa ser mantida acesa.
As desculpas que criamos para não irmos em busca do que achamos ser importante e fascinante, são
nossas principais barreiras.
Obviamente, nem todos os nossos sonhos se tornam reais; talvez estejamos querendo algo que não
é para acontecer (ainda). Mas nem por isso devemos
desistir e estagnar.
As coisas se transformam, o mundo se transforma,
a gente se transforma. Podemos adaptar, podemos
criar, podemos encontrar formas de fazer aquilo
que nos dá alegria na alma, por mais simples que
isso seja.
No dia a dia ninguém precisa estar feliz o tempo
todo. Um pouco de tristeza também nos faz mais
Janelas Abertas
Braz Campos Durso
116
Como aceitar que algo especial se acabou?
Infelizmente só o tempo e as experiências para nos
fazer aprender.
Felizmente, somos livres para aprender ao nosso modo,
nos limites que definimos para nós mesmos.
Penso que a vida, com seu mais puro denodo nos
preenche com o todo necessário para se viver.
Que não sejamos simplesmente o que esperam de
nós. Que não sejamos sujeitos a etiquetas com vagas definições. Que a liberdade mais pura e real nos
permita ser nós mesmos nas infinitas possibilidades
que a vida nos apresenta.
Encanta-me, às vezes, poder perceber o extraodinário
em cada fase de nossa vida. Cada um tem sua história,
cada um se expressa de uma forma, cada um passa por
dificuldades e conquistas em sua jornada.
Seres de carne, alma e ardor se encontram, se satisfazem, se ensinam, se enaltecem, se completam.
Corpos que se tocam, carinhos trocados, palavras
sublimes, olhares profundos, beijos ardentes, amores incondicionais.
Há uma força invisível que, muitas vezes, não percebemos, não entendemos.
A emoção não julgada, não dilarcerada, a liberdade
do ser;
A expressão do que somos, a cada momento, sem
culpa, sem medo, sem competição.
Simplesmente ser... Essa é a beleza da alma.
Encontramos desafios, situações desconfortáveis,
injustiças talvez incompreensíveis; desapontamentos, dúvidas, dor, perdas, quedas...
Mas também encontramos compreensão, gentileza, algumas certezas, pessoas insubstituíveis,
117
118
(Lisa Curvelo)
A literatura de autoajuda toma cada vez mais
espaço nas livrarias, nos computadores, nas bolsas e cabeceiras das pessoas. Houve um tempo em
que autoajuda era para malucos, maníacos-depressivos, gente fraca e sem amigos para conversar. Se
bem que pensando bem talvez ainda seja, porque
fizeram questão de colocar uns codinomes mais
aceitáveis e menos taxativos como autoaperfeiçoamento, autoaprimoramento e o mais elegante que
temos até agora, o desenvolvimento pessoal. No
fim é tudo autoajuda.
O que acontece é que as pessoas estão buscando fórmulas, métodos e sistemas para atingirem seu
objetivo final, que é o da realização pessoal, como
já dizia Maslow e sua pirâmide da hierarquia das necessidades humanas. A Pirâmide de Maslow. Só que
essa realização pessoal não está em objetos, posses e
outras pessoas como muitos equivocademente pensam. Marido, filho, Ferrari e cargos executivos não
significam realização pessoal. Realização pessoal é
também um outro termo elegante que inventaram,
mas no fundo o que todo mundo busca é uma boa
autoestima e paz de espírito. Casamo-nos, temos filhos, compramos iates, vamos à academia e à igreja
para no fim termos amor-próprio e paz de espírito.
Só que, apesar dessa maior busca pelo autoaprimoramento, não vemos as pessoas sendo
mais felizes de acordo com o número de livros de
Janelas Abertas
A fórmula do
sucesso
PARTICIPAÇÕES
Braz Campos Durso
fortes, nos faz crescer como ser humano. Mas que
a tristeza seja temporária e não deixemos que ela
nos defina. Que ela seja uma forma de reflexão e
nos faça perceber que ainda há caminhos a serem
explorados, pois a vida continua; e independente
de qual seja a razão de estarmos aqui, que possamos ver de tudo isso como crescimento e sigamos
com esperança a jornada que cabe a cada um de
nós viver.
Se um dia você se pegar questionando se algo valeu a pena, lembre-se dessa frase do grande poeta
Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena, se a alma não
é pequena”.
119
que faça os preguiçosos de repente sentirem vontade
de malhar, mas quando se tem que botar um biquini
e ir à praia, a preguiça vai logo embora e sua segunda casa vira a academia. Quantas vezes uma mulher
só começa a cuidar de sua saúde e vitalidade quando
nasce o primeiro neto, porque agora ela quer poder
brincar com ele quando ele crescer.
Essas pessoas não leram livros ou fizeram cursos, elas simplesmente foram automotivadas por um
desejo ardente. Então da próxima vez que eu quiser
emagrecer eu não vou mais querer saber sobre a última dieta da moda ou pílula revolucionária. Também não vou confundir mais a minha cabeça lendo
fórmulas mirabolantes do sucesso da vida de outras
pessoas. Agora eu vou olhar para dentro. Eu vou conhecer os desejos autênticos do meu coração e trocar
o uso da força de vontade por uma motivação intrínseca. Eu sei que quando estamos vivendo a conquista
de um desejo autêntico do coração, o trabalho vira
prazer, a antecipação da meta já nos faz sentir prazer
no aqui e agora.
Para que eu quero emagrecer? Hoje eu não
preciso, mas quando eu precisar, a qualidade da
resposta a essa pergunta será a chave da certeza do
meu sucesso.
Janelas Abertas
Braz Campos Durso
120
autoajuda que leem. Se repararmos bem, cada autor
ou guru tem sua própria história de sucesso, depoimentos de seguidores que copiaram sua fórmula e
também obtiveram sucesso, e muitos deles condenam as outras fórmulas dos outros autores, que por
sua vez também possuem sua própria história de
sucesso e seus seguidores com depoimentos emocionantes do quanto sua vida mudou para melhor.
Que confusão. É igual dieta e religião. Cada um diz
uma coisa e o que não faltam são evidências para
apoiar suas respectivas convicções e seguidores satisfeitos. Aí chega eu e você, tentamos as duzentas
dietas infalíveis, os cem métodos de enriquecer, as
trezentas receitas de como aumentar nossa autoestima e seguimos passo a passo os cinquenta métodos
de como melhorar nosso relacionamento, somente
para ver que entramos numa corrida de rato. Aquela
rodinha que se corre, corre mas não se sai do lugar.
E os tantos depoimentos e casos impossíveis que
foram solucionados? Pois é, não é de se estranhar
que tanta autoajuda assim em vez de ajudar acaba
por nos fazer sentir um fracasso.
Mas por que somente algumas pessoas conseguem emagrecer, ficar ricas, mudar de comportamento e atingir metas com facilidade? Elas são melhores
que as outras? Talvez elas realmente tenham algo que
as outras não têm, mas eu não diria que sejam neurônios ou sorte, eu diria motivação. Sim, um motivo em
ação, ou uma motivação se preferir. Por que quando
estamos apaixonados fazemos coisas que normalmente não faríamos? Por que nos meses de janeiro e
fevereiro as academias enchem mais? Por que quando
estamos envolvidos em um projeto pessoal prazeroso, dormimos e nos alimentamos pouco, sem chamar
isso de sacrifício? Não há nada de místico em janeiro
121
122
Acorde…
E pense em alguém que você ama
Ainda que esse alguém não o ame tanto assim
Porque mesmo o sol insistindo em não aparecer
Contemple a beleza de um céu nublado
Brinde, baile, dance e cante
Brinde a vida
Baile com alegria
Dance com amor
E cante, cante sua canção
E mesmo que nunca a tenha escrito
Cante mesmo assim
Toque a sua música, ou a música de alguém
Porque a música é um brinde à vida
É a alegria do baile
É o motivo da dança
É o amor tocado e cantado dentro de nós
(Raul Carneiro
Filho)
José saiu de casa muito cedo. A mulher e os
três filhos ainda dormiam nos dois cômodos que
fez nos fundos da casa de sua sogra. Sem tempo e
zelo para o café ralo e puro, caminhou apressado
rumo ao ponto da única linha de coletivos que serve sua comunidade. O bruto veio atrasado, lotado e
malcuidado. Tarifado pela ida e pela volta por meio
dia de serviço que José nem tem.
Horas intermináveis, com fumaça e buraco,
pigarros e bocejos. Parecia uma coreografia mal ensaiada com bailarinos como ele. Fim do primeiro
trecho, numa Central do Brasil muito longe de ser
“róliude”. José entre centenas, milhares talvez, de
outros josés, manés e bonés. As portas fechadas por
preocupação, o dia começando lá fora e a cidade
descobrindo seus sons e sonhos urbanos. Camelôs e prostitutas; menores abandonados; ladrões e
trabalhadores; todos em um mesmo fundo de tela.
Vários josés, centenas de marias, outros tantos anônimos, disputando uma corrida sem chegada, sem
pódio, sem nada.
José confere o recorte de jornal: “Temos vagas”. Sonha novamente, pensa na mulher, nos filhos, na cachaça e no farto almoço. Na marmita,
abobrinha frita e carne de pescoço. Mais lotação,
mais condução, mais confusão. De novo lotado, de
novo mais caro, José sacudindo rumo ao endereço
Janelas Abertas
(Daniel Benvindo
de Carvalho)
Portas fechadas
PARTICIPAÇÕES
PARTICIPAÇÕES
Braz Campos Durso
BRINDE À VIDA
123
abordado por um PM fardado, os documentos mostrados, a dúvida, o esculacho, o desrespeito, a vergonha e a porta fechada.
José pensa no bairro, na rua, na vila. Lembra
do barro, do mato, dos ratos. Imagina ambulância,
hospital, doutor, vacina, saneamento, escola, condução, jornal, prefeito e polícia no seu bairro distante,
feudo de traficante. Ri sozinho do dengo, do Mengo e da vida. Vasculha a memória, se lembra de um
sorriso que deu na infância, doce lembrança no sal
da avenida cinzenta que mantém portas fechadas.
Porta aberta, José se assanha, se apressa e se
apresenta para o mestre de obras que tem emprego e
afilhado, José chegou tarde. Porta fechada. Mais uma
na cara. José desde cedo na rua, procurando trabalho, não quer ser bandido, não quer sem mendigo,
não quer ver seus filhos chorando ou no crime, quer
trabalho e cidadania, quer respeito e cafuné na nuca.
José chora pra dentro, soluça escondido.
Seis da tarde, hora de ir embora, gente com
pressa andando ligeiro, esse é o Rio de Janeiro. Na
volta pra casa, o pensamento distante, a promessa
quebrada, um guarda safado, um bandido estirado,
dois ônibus lotados, os últimos trocados, o santo
xingado, sua rua esburacada, sem poste, sem ambulância, sem segurança, um cachorro enjoado lhe
morde o calçado, José chuta o bicho para o lado.
Nesse instante surge a vizinha: “Não chuta o cachorro, José, violência não!”
José nem responde. Não tem nem por onde.
Em casa, porta fechada.
Janelas Abertas
Braz Campos Durso
124
recortado, malcortado. No ônibus, um grito, um
susto, um assalto, um beijo, um pastor e duas putas. Um motorista rude, um cobrador sem alma, um
ponto final longe da calçada. Desce José, com o papelzinho na mão e uma esperança na cabeça. Fosse
ele um cineasta do cinema novo, faria um daqueles
filmes que não são compreendidos.
Desembola o papel e confirma o endereço.
“Há Vagas”. José sorri, mas nem percebe. Tempo
não tem, mas lhe deram. Porta fechada. Reabre depois, quando o chefe quiser. José vê a obra, João
olha as horas, caminha na calçada para o tempo
passar, mas a fome não passa. Espera na banca,
lendo manchetes com outros josés, algumas marias:
Palestinos e atentados, Congo e campos da morte, Grécia e desespero, dólar despenca, demissão de
metalúrgicos, assassinatos de sem-terra, mandantes
absolvidos, explosões de bueiros, topetes e jogadores de futebol, frutas e mulheres, impunidade, crime
organizado e polícia desorganizada, seca malvada,
chuvas ingratas, padres pedófilos e comunistas ungidos, políticos canalhas e descuido ou descaso, maracutaias e deputados, besteiras e mulheres peladas.
Os sons da rua, uma rua do Centro, ambulância e pedintes, freadas e discussão, vitrines e ofertas,
estudantes e secretárias, gravatas e apertos. José confere a porta fechada, fila de dez, 12 talvez. Mais uma
vez, a porta fechada se abre para o aviso – “ficha só
depois do almoço! – procurem o dotô!”, que vai ver,
nem se formou, mas é doutor. José ganhou tempo
sem pedir, pensa na mulher, pensa nos meninos, dois
na escola sem professor, um com a avó. A mulher na
lida, na luta, faxinando o sustento em casas vizinhas.
Lembrou da promessa: “Só volto empregado!” Perdeu meio dia, mas não a marmita. Almoça sentado, é
125
126
Serás mesmo tu, o caminho?
Fizeste-me esquecer de ter saudades
é verdade...
E hoje livre, sou também sozinho
Libertaste-me da dor
devo saber
Mas o que tu não sabes
É quanta saudade
eu tenho desse doer
Dai-me força, liberdade
para ser livre
Diga-me como é que se vive
sob teus devaneios
Se é que tu existes
por favor, diga-me a que vieste
É liberdade...
como te quis, e como não te quero mais
Hoje, lhe peço: Deixa-me em paz
Aliás,
Mudarei teu nome ao me livrar dessa ilusão
Passarei chamar-te solidão!
Se liberdade é quem livra
Livrai-me então, liberdade
de ser livre
Livrai-me de ser só
e de ser só, ser teu refém
Livrai-me de todo o mal,
Amém!
Janelas Abertas
(Ludmilla abreu)
PARTICIPAÇÕES
PARTICIPAÇÕES
Braz Campos Durso
Hei, liberdade
127
Above Publicações
Publicando Sonhos!
FONE - (27) 4105-3374
[email protected]
www.aboveonline.com.br

Documentos relacionados