SUPLEMENTAÇÃO DE VITAMINAS ADE PARA BOVINOS POR VIA
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SUPLEMENTAÇÃO DE VITAMINAS ADE PARA BOVINOS POR VIA
AT Nº 47 - SUPLEMENTAÇÃO DE VITAMINAS ADE PARA BOVINOS POR VIA PARENTERAL Prof. Dr. Claudio M. Haddad Deptº de Produção Animal - E.S.A. "Luiz de Queiroz" - USP/Piracicaba Vitamina A A vitamina A é considerada pelos técnicos que trabalham em bovinocultura de corte como o nutriente mais esquecido em um programa nutricional para a espécie. A razão básica dessa afirmação prende-se ao fato de que as pastagens apresentam abundância de carotenóides (pró-vitamina A) durante o período quente e chuvoso do ano (águas), caindo drasticamente os teores na forragem durante a seca. Para animais em regime de confinamento, praticamente todos os alimentos passíveis de ser utilizados contêm pouca ou nenhuma vitamina A (fenos, silagem, bagaço, capineiras, concentrados, etc). Estes fatos sugerem que durante o período crítico do ano (seca), o aporte nutricional de vitamina A é muito pequeno ou mesmo nulo, ficando os animais dependentes das reservas hepáticas porventura acumuladas no período favorável do ano (águas). Entretanto, os fatores que governam a deposição e a remoção de vitamina A hepática ainda não são bem conhecidos. Os níveis de zinco, vitaminas A e E da dieta, estresse, excesso de temperatura, consumo excessivo de nitratos, são considerados como fatores mais importantes (NRC, 1996). Em termos práticos, acredita-se que as reservas hepáticas possuam capacidade de ação de 2-4 meses, embora esse tempo não possa ser realmente medido em condições de campo. A vitamina A está envolvida em vários processos metabólicos referentes à participação na membrana celular de células receptoras de luz na retina, proteção do epitélio (pele, mucosa conjuntival, brônquica, vesical e uterina), desenvolvimento e manutenção da integridade do sistema nervoso, desenvolvimento ósseo, embrionário e controle da pressão normal do fluido cérebro-espinhal e envolvimento direto na reprodução e crescimento (CHAPMAN et alii, 1964; CHEN, 1987). Sintomas de deficiência de vitamina A incluem cegueira noturna, xeroftalmia, papiloedemas, convulsões e muitos problemas reprodutivos (CORBETT, 1990). A vitamina A ainda atua com elevada importância na resistência às doenças e ao estresse. Vitamina D A vitamina D também é denominada vitamina anti-raquítica, estimulando a absorção de cálcio e fósforo na mucosa intestinal, seu transporte sanguíneo, mobilização e fixação nos ossos (NRC, 1996). Em condições naturais as necessidades de vitamina D para o animal são supridas por síntese na derme em animais expostos à luz solar. Ocorrência de deficiência de vitamina D no meio tropical e a pasto é muito rara, e sua inclusão na administração parenteral como ADE injetável deve-se ao fato de a vitamina D agir como elemento protetor e moderador da ação de vitamina A. A interação da vitamina A com outras vitaminas é clara, sendo que as vitaminas A e D diminuem os efeitos tóxicos uma da outra. Vitamina E A vitamina E é encontrada em pequenas quantidades em muitas plantas, sementes de oleaginosas, leite integral, gema de ovo, vísceras e gordura animal, sendo que tocoferol é o representante da vitamina E mais encontrado nos alimentos. A vitamina E também não é armazenada em grandes quantidades no organismo, sendo que o fígado e o tecido adiposo apresentam os maiores níveis desta vitamina. Sua principal função é de agir como poderoso antioxidante celular, protegendo as membranas celulares da oxidação (ROCHE, sd). Atua na proteção da vitamina A do organismo, evitando sua oxidação, no metabolismo da energia, nos ácidos nucleicos e aminoácidos e na síntese do ácido ascórbico. Também participa da produção de hormônios tireotróficos, adrenocorticotróficos e gonadotrofinas estando, direta e indiretamente, envolvida com crescimento e reprodução. A vitamina E facilita a absorção da vitamina A e sua estocagem no fígado, sendo que uma deficiência de vitamina E pode induzir a uma deficiência de vitamina A, mesmo em dietas contendo níveis adequados desta (FOX, 1992). Sintomas de deficiência como a doença do músculo branco (distrofia muscular nutricional) em conjunto com o metabolismo do selênio, crescimento retardado, diarréia, abortos e retenção de placenta completam o quadro de sintomas de deficiência da vitamina E. POR QUE SUPLEMENTAR VITAMINAS ADE PELA VIA PARENTERAL? Inicialmente, é importante ressaltar alguns aspectos importantes envolvendo a suplementação de nutrientes: • No caso de vitaminas e de alguns minerais é importante dissociar os fenômenos de deficiência e de carência marginal. Deficiência ocorre quando determinado nutriente apresenta-se em quantidades insuficientes na dieta, e provoca uma sintomatologia específica ou não. Exemplos: a) deficiência de iodo causa bócio ou papeira; b) deficiência de cobre causa anemia. No caso de deficiência, sempre ocorre uma sintomatologia e, por esta, é possível se chegar à causa nutricional. Carência marginal ocorre quando determinado nutriente, embora presente em quantidade insuficiente na dieta. Não provoca sintomatologia alguma, isto é, o animal não exibe fenotipicamente nenhuma anomalia detectável. É a chamada fome surda, pela qual a única alteração de comportamento reside na reprodução. Pode-se afirmar que a carência marginal é um estágio imediatamente anterior à deficiência, em que o nível de desnutrição foi insuficiente para provocar qualquer sintomatologia, mas o animal já manifestou menor eficiência reprodutiva. A única forma prática de se detectar se está havendo carência marginal em um rebanho é ministrar o nutriente suspeito e observar os parâmetros reprodutivos de incremento. Se a eficiência reprodutiva melhorar, isso significa que havia carência marginal, embora, por definição, ela não tenha provocado sintomatologia alguma. A Universidade de Oklahoma, nos EUA, apresentou uma extensa lista de problemas reprodutivos envolvendo a nutrição inadequada do complexo ADE. CAUSA/EFEITO 1- Ausência parcial de vitamina A e E Aborto do 3º ao 7º mês de gestação 2- Ausência parcial de vitamina A Ocorrência de cios silenciosos 3- Ausência parcial de vitamina E Anestro e aumento de infecções do trato reprodutivo 4- Ausência parcial de vitamina A e E Ovário cístico 5- Desbalanço Ca e P e vitamina ADE Necessidade de 3 (três) ou mais serviços por concepção Quadro 1 - Causas e efeitos envolvendo a nutrição inadequada do complexo ADE. Em condições de rebanho a campo no Brasil, a ocorrência da deficiência de alguns nutrientes pode ser rara, mas a carência marginal é um fenômeno presente e que causa sensível prejuízo à reprodução do rebanho. Outro aspecto muito importante é a impossibilidade de se manter a estabilidade de vitaminas em mistura com sal mineral (ANDRIGUETO et alii, 1990; McDOWELL, 1992). Considerando-se então aspectos práticos de relevância, tais como: 1) A suplementação mineral é um péssimo veículo para a suplementação vitamínica, devido ao efeito desestabilizante que a salinidade causa às vitaminas; 2) Animais a pasto, durante o período seco do ano não conseguem atender suas exigências de vitamina A pelo consumo diário de forrageiras; 3) As necessidades de vitamina A são maiores para o rebanho de cria, principalmente com parições na seca ou no final desse período; 4) Animais em estado de carência marginal não exibem sintomatologia alguma, porém os parâmetros de reprodução e potencial de ganho de peso são afetados; 5) Animais em regime de confinamento têm acesso a dietas pobres em vitamina A. Conclusão Pode-se concluir que a administração parenteral de vitamina ADE tem como vantagens: 1) Fornecimento de vitaminas ADE por via parenteral, de forma integrada, resulta no armazenamento de altas doses hepáticas de vitamina A, suficientes para assegurar plena capacidade reprodutiva e ganho de peso no período seco do ano; 2) Coincidência de operações de manejo com a desverminação de início de seca e/ou pré-condicionamento sanitário do rebanho a ser confinado; 3) Certeza do fornecimento e armazenamento hepático de vitaminas A (reservas) sem perda de atividade ou de interações indesejáveis com outros nutrientes e o ambiente. Bibliografia 1. ANDRIGUETO, J.M.; L. PERLY; I. MINARDI, A. GEMAEL; J.S. FLEMMING; G.A. SOUZA e A. BONA FILHO. 1990. Nutrição Animal. As bases e os fundamentos da Nutrição Animal. São Paulo, Nobel 4º ed. 395 p. 2. CHAPMAN, H.L. Jr.; R.L. SHIRLEY; A.Z. PALMER; C.E. HAIVES; J.W. CARPENTER and T.J. CUNHA, 1964. Vitamins A and E in steer fattening rations on pasture. J. Animal Sci 23: 669-673. 3. CHEW, B.P. 1987. Symposium: Immnune function: Relationship of nutrition and disease control: Vitamin A and Beta-carotene on host defense. J. Dairy Sci: 70: 2732-2743. 4. CORBETT, J.L. 1990. Feeding standards for Australian Livestock. Ruminants. East Melbourne: CSIRO 266 p. 5. FOX, D.G. 1992. Vitamin requirements of beef cattle In: Kansas beef cattle handbook, Manhattan Cooperative Extension Service. Kansas State University p. 1200.1-1200.2. 6. McDOWELL, L.R. 1992. Minerals in Animal and Human Nutrition. New York Academic Press. 7. NRC. National Research Council. 1996. Nutrient Requirements of beef cattle. National Academic Press, Washington, 242 p. 8. ROCHE, sd. Pró-Vita Programa de Nutrição vitamínica animal - suplementação vitamínica para bovinos - Prods. Roche Químicos e Farm. Sobre o autor: Claudio M. Haddad é Engenheiro Agrônomo, mestre em Nutrição Animal em Pastagens e Doutor em Agronomia. Com ampla experiência em nutrição animal, é professor do Departamento de Produção Animal da E.S.A. Luiz de Queiróz (ESALQ) - USP, em Piracicaba.