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k _Generalis_Outono2006.qxd 06/11/28 13:52 Page 1 k _Generalis_Outono2006.qxd 06/11/28 13:52 Page 2 editorial Editorial “MITOS” MODERNOS… Queremos que esta edição de Outono continue à altura das suas expectativas e propicie um maior conforto e bem-estar na sua vida e na dos seus. Depois de um merecido descanso, a tendência é voltarmos a um estilo de vida sedentário. É em sentido contrário que têm surgido, cada vez mais, “novas” modalidades nos ginásios portugueses. Damos-lhe a conhecer algumas delas e o modo como nos preparam “neuro-muscularmente” para os movimentos do dia-a-dia. Nesta décima edição destacamos ainda um tema que tantas vezes preocupa os pais: o sono das crianças. Saiba que as perturbações do sono das crianças são comuns e habitualmente desaparecem com a maturação. Descubra que, muitas vezes, algumas dificuldades em iniciar ou manter o sono são originadas e mantidas por uma aquisição deficiente de (maus) hábitos de sono. E, finalmente, tentamos desmistificar alguns “mitos” modernos, no que concerne à alimentação. Sabe mesmo quais os alimentos que lhe fazem mal? E muito, muito mais. Tudo pela sua saúde! Sumário Novidades nos ginásios 3 Dossier: Saúde na Família 8 Entregues nos braços de Morfeu 9 Mitos alimentares 20 Quizz – os jovens aguentam melhor o fumo? 25 Saúde oral infantil 28 Boas ideias para o Natal 32 ? exercício físico AS NOVIDADES NOS GINÁSIOS Teresa Manafaia Lic. FMH (Faculdade de Motricidade Humana), OPT – NASM (National Academy of Sports Medicine), CISSN – ISSN (International Society of Sports Nutrition) Coord. na área de Aval. e Acons. Técnico do GCP (Ginásio Clube Português) Coord. do curso de Cardiofitness e Musculação do CEF (Centro Estudos Fitness) COMO EM TODAS AS ÁREAS, NO MUNDO DO EXERCÍCIO FÍSICO DESENVOLVEM-SE CONSTANTEMENTE NOVAS TENDÊNCIAS. FALAMOS-LHE AQUI DE ALGUMAS, CADA VEZ MAIS CONHECIDAS NOS GINÁSIOS PORTUGUESES Outono 2006 3 exercício físico O MÉTODO PILATES ENTROU NO FITNESS HÁ CERCA 10 ANOS E TEM VINDO A TORNAR-SE UM VERDADEIRO DE FENÓMENO 4 Outono 2006 O aparecimento de “novas” modalidades nos nossos ginásios, entre as quais o Pilates, a Fit Ball, o Ioga e o Tai Chi Chuan, prende-se com uma tendência também “nova”: o wellness. Numa análise ligeira, podemos verificar que não são efectivamente modalidades novas. A implementação do sistema de treino desenvolvido por Joseph Pilates data dos anos 50-60, a Fit Ball é, há muitos anos, conhecida por Bola Suíça no âmbito das terapias físicas de reabilitação, o Ioga é uma prática milenar e o Tai Chi Chuan data de 1820. A actual grande visibilidade destas modalidades deve-se ao facto de terem sido “adoptadas” pelo mundo do fitness e associadas à nova tendência de wellness. PORQUE É TÃO FAMOSO O PILATES? O método Pilates tornou-se famoso quando Joseph Pilates se dedicou a reabilitar doentes hospitalizados. Posteriormente, nos anos 60, ganhou fama e adesão junto da elite de bailarinos nova-iorquinos. O método entrou no fitness há cerca de 10 anos e tem vindo a tornar-se um verdadeiro fenómeno. Em Portugal existem várias escolas habilitadas para formar professores (ex.: Pilates Institute), o que coloca no mercado várias linhas de trabalho em aula de grupo (umas mais próximas do método original, outras já trabalhadas por seguidores de J. Pilates). O método Pilates baseia-se no treino da musculatura que exercício físico A COORDENAÇÃO É UMA QUALIDADE FÍSICA TAMBÉM BASTANTE SOLICITADA TANTO NO TAI CHI CHUAN COMO NO IOGA confere estabilidade ao corpo humano: musculatura profunda central ou do core. Esta musculatura envolve todo o complexo coxo-pélvico-lombar, tal como todo o eixo em torno do qual estabilizamos o corpo para suportar todos os movimentos: a coluna vertebral. Quando treinada e fortalecida, esta musculatura contribui para um maior equilíbrio global, melhor postura, correcção de padrões respiratórios incorrectos, etc., conferindo mais saúde e qualidade de vida aos praticantes. Não sendo uma actividade que privilegie os ganhos cardiovasculares ou a redução da massa gorda, por exemplo, a sua aplicabilidade é no entanto bastante interessante no que respeita ao equilíbrio muscular e ganho de flexibilidade. A maioria dos alunos que frequenta os ginásios urbanos actualmente beneficiaria de uma abordagem com exercícios de Pilates ou de outros métodos com objectivos similares (a técnica de Feldenkrais é referência na área de melhoria da amplitude articular e como terapia neuro-muscular, mas bastante menos conhecida no mundo do fitness). Outono 2006 5 exercício físico PORQUE SE USA TANTO A FIT BALL NOS GINÁSIOS ACTUAIS? A Bola Suíça, como é conhecida originalmente, permite realizar uma solicitação da musculatura de estabilização ao ser utilizada pois, como é esférica e insuflada, provoca instabilidade. Assim sendo, foi introduzida com bastante sucesso porque veio contribuir para o trabalho da musculatura do core. Ao conjunto de exercícios que nos preparam para as tarefas do dia-a-dia, com enfoque no trabalho da musculatura de estabilização (central e profunda), atribuiu-se o nome de “exercícios funcionais”. Muitos exercícios usados no método Pilates, tal como com a Fit Ball, encontram-se nesta categoria de exercícios funcionais que nos preparam “neuro-muscularmente” para os movimentos do dia-a-dia, muitos deles potencialmente lesivos para a 6 Outono 2006 exercício físico A FIT BALL PERMITE REALIZAR UMA SOLICITAÇÃO DA MUSCULATURA DE ESTABILIZAÇÃO coluna, como as torções de tronco (principalmente se acompanhadas de flexão simultânea). Integram ainda uma forte componente educativa no que diz respeito ao padrão respiratório e às posturas prolongadas. PORQUÊ O SUCESSO DAS MODALIDADES ORIENTAIS? Tanto o Ioga como o Tai Chi Chuan são práticas com componente física mas também espiritual, ligadas a uma filosofia. No entanto, muitos ocidentais praticam-nos de uma forma menos integrada tirando partido sobretudo da sua utilidade face ao trabalho de postura, respiratório e de flexibilidade, e nem tanto no que diz respeito à vertente espiritual e filosófica. O benefício do aumento de flexibilidade justifica-se por serem modalidades em que o controlo respiratório é trabalhado em sintonia com movimentos de grande amplitude. A coordenação é uma qualidade física também bastante solicitada tanto no Tai Chi Chuan como no Ioga, pelo que a aprendizagem neuro-muscular é bastante notória nestas modalidades. Existe ainda um efeito bastante notável ao nível da melhoria do autocontrolo e da capacidade de gestão de stress. Numa época em que o stress excessivo é um mal de que muitos sofrem, as modalidades que solicitam controlo e interiorização assumem-se, inclusive, como parte das soluções multidisciplinares na terapêutica de doenças como a depressão. Sabendo que a maior parte da população passa, em média, dez horas por dia sentada, estas “novas” modalidades são uma óptima forma de compensar a falta de resistência da musculatura postural e os desequilíbrios musculares decorrentes de um estilo de vida extremamente sedentário. No entanto, atenção aos exercícios funcionais mais exigentes e complexos! Estes podem ser extremamente lesivos para indivíduos descondicionados fisicamente, devendo por isso realizar-se uma introdução gradual das aprendizagens neuromotoras de forma a que sejam devidamente consolidadas. Outono 2006 7 dossier: a saúde da família 8 Outono 2006 dossier: a saúde da família ENTREGUES NOS BRAÇOS DE MORFEU EMBORA A MAIORIA DOS ADULTOS PAREÇA ADORAR MORFEU, O DEUS DO SONO, AS CRIANÇAS NESTE ARTIGO MOSTRAMOS QUE RARAMENTE APRESENTAM ÀS VEZES POUCA VONTADE DE LHE CAIR NOS BRAÇOS AS PERTURBAÇÕES DO SONO SÃO VERDADEIROS PROBLEMAS Dra. Maria Teresa Lobato de Faria Psicóloga Pediátrica no Hospital Dona Estefânia Outono 2006 9 dossier: a saúde da família SE ESTÁ A PENSAR QUE A RESISTÊNCIA DO SEU FILHO EM IR PARA A CAMA OU A SUA DIFICULDADE EM SER AUTÓNOMO DURANTE A NOITE SÃO RARAS, ESTÁ ENGANADO O SONO E O SEU DESENVOLVIMENTO Sono! Durante a nossa vida esta actividade restabelecedora começa muitas vezes por ser combatida, nomeadamente durante a infância (entre os 12 meses e os 5 anos) quando as perturbações do sono afectam cerca de 25% das crianças. No entanto, mesmo nestes casos e a seu tempo, este reino acaba sendo aceite como um componente imprescindível das nossas vidas e, aí sim, quando entregues finalmente nos braços de Morfeu, estaremos aptos a apreciar todo o prazer de uma boa noite de sono. Até lá, importa conhecer as normais perturbações do sono durante a infância e tentar entregar o mais depressa possível os nossos filhos nos braços desse deus cujo reino continua a ser, demasiadas 10 Outono 2006 vezes, alvo de grandes resistências. Antes de conhecermos as suas perturbações, penso ser imprescindível possuirmos uma compreensão rudimentar do processo normal de sono. Assim, apesar da pessoa adormecida parecer inerte, o seu estado de sono é um processo neurofisiológico complexo e altamente organizado. Sabemos que o sono está dividido em dois estados diferentes: o sono com movimentos rápidos oculares ou sono REM (Rapid Eye Movement) e o sono sem movimentos rápidos oculares ou não REM (NREM). O sono REM é caracterizado, a par dos movimentos rápidos oculares, por uma pulsação e respiração irregulares. Embora os sonhos e os pesadelos ocorram durante o sono REM, muito pouco se nota em termos de comportamento. dossier: a saúde da família Os músculos encontram-se muito descontraídos e o corpo está praticamente inerte, podendo ocorrer pequenos movimentos das mãos, pernas ou face. Um ciclo normal de sono inclui um período de sono NREM seguido de sono REM. A criança passa com muita rapidez pelas fases de sono, o que talvez influencie a sua tendência para acordar durante a noite. O ciclo de sono normal é atingido por volta dos 8 anos. No que diz respeito a quando e quanto devem as crianças dormir, importa salientar que nas últimas décadas os cientistas provaram que a temperatura do corpo, a digestão, a secreção de hormonas e outros processos biológicos, incluindo o sono, variam de acordo com o ritmo de um relógio interior. Assim, o velho conselho que defende um horário regular para as refeições e as horas de dormir pode estar mais certo do que aquilo que alguns de nós imaginamos. Um destes ritmos biológicos mais poderosos é precisamente o ciclo do sono – vigília. RITMOS DE SONO NA INFÂNCIA: O sono NREM compreende quatro fases, que representam níveis de sono entre a sonolência e o sono mais profundo. Durante as duas últimas fases (níveis 3 e 4), a respiração e o ritmo cardíaco tornam-se muito estáveis e os músculos estão extremamente descontraídos. Embora a pessoa normalmente se encontre muito sossegada, pode mover-se e é muito difícil acordá-la. Enquanto o sono REM predomina com o aproximar da manhã, os períodos de níveis de sono mais profundo tornam-se cada vez mais raros. Recém-nascido 16 horas (períodos de 2 a 4 horas) 3 meses 14 horas (períodos de 2 a 8 horas) 6 meses 8–12 horas (com duas sestas de aproximadamente 2 horas) 12 meses 14 horas 2 anos 11 a 12 horas à noite (uma sesta de 2 horas à tarde) 3/5 anos 11 horas de sono nocturno (deixam de fazer a sesta) Outono 2006 11 dossier: a saúde da família A infância é tão cheia de mudanças e de novas situações que podemos afirmar, com segurança, que todas as crianças terão, mais cedo ou mais tarde, algumas noites conturbadas. Embora saibamos que a maioria das perturbações do sono na criança não apresentam gravidade, por vezes representam motivo de preocupação ou mesmo de frustração, para os pais, pois não sabem como enfrentá-las. Por isso, se está a pensar que a resistência do seu filho em ir para a cama ou a sua dificuldade em ser autónomo durante a noite são raras, está enganado. Os estudos demonstram que as perturbações de sono nas crianças são muito mais comuns do que aquilo que se imagina. OS SONHOS, OS PESADELOS E AS CRIANÇAS Comecemos então pelas perturbações que ocorrem durante o sono, ou na fase de transição para a vigília, que incluem, entre outras, os terrores nocturnos, os pesadelos, o sonambulismo e os movimentos rítmicos. Estas perturbações são comuns entre as crianças e, embora atraiam muita atenção, ocorrem de forma irregular, não possuem etiologia definida, não estão associadas a um tipo de psicopatologia e normalmente desaparecem com a maturação. Neste tipo de perturbações, é importante salientar a distinção clara que existe entre terrores nocturnos e pesadelos. Os terrores nocturnos são episódios caracterizados por um choro brusco e inesperado da criança, acompanhado de uma expressão de medo intenso, suores frios, muita agitação e incapacidade de ser consolada. Uma vez acordada, a criança apresenta um estado de confusão e 12 Outono 2006 AS PERTURBAÇÕES DO SONO SÃO COMUNS ENTRE AS CRIANÇAS E NORMALMENTE DESAPARECEM COM A MATURAÇÃO desorientação. Surgem normalmente aos 2, 3 anos, e acontecem durante a primeira metade da noite. Associam-se à transição parcial abrupta do nível 4 do sono NREM para o sono REM, relacionam-se com a maturação do sistema nervoso central e não deixam recordação no dia seguinte. Normalmente desaparecem com o desenvolvimento da criança. Os pais ficam muito assustados quando estes episódios ocorrem, mas o principal tratamento é a informação e o consequente restabele- dossier: a saúde da família cimento da segurança. Se os terrores nocturnos persistirem mais de 4 semanas ou se os pais afirmarem que são tão frequentes que perturbam o sono da família, deve efectuar-se uma avaliação de outros problemas familiares que podem estar associados. Embora clinicamente semelhantes aos terrores nocturnos, os pesadelos ocorrem na fase REM do sono, no último terço da noite. tador sobre qualquer acontecimento do dia anterior, como ter caído da escada, a criança de 2 anos pode ter preocupações com a separação e a criança com 3 a 5 anos tem frequentemente pesadelos com monstros ou criaturas que lhes querem fazer mal. Os pesadelos têm uma frequência maior nos anos pré-escolares e na adolescência, e menor entre os 7 e os 11 anos. Apesar de as crianças NÃO CONFIRME OS MEDOS DO SEU FILHO, FECHANDO AS JANELAS PARA NÃO VIR O LOBO OU FINGINDO QUE PROCURA O LADRÃO São sonhos assustadores que podem acordar a criança deixando-a com sentimentos de profunda ansiedade e medo. Podem distinguir-se facilmente dos terrores nocturnos pelo recordar do sonho e pela ausência de actividade física durante o pesadelo. Os pesadelos parecem reflectir as tensões sofridas durante o dia e o seu conteúdo reflecte uma sequência desenvolvimentista de medos e preocupações. Assim, a criança de um ano pode acordar com um sonho assus- conseguirem descrever o seu sonho logo que sabem falar, a compreensão de que um sonho não é real, de que é invisível para os outros, de que acontece dentro da pessoa e é causado pelos nossos processos de pensamento segue um desenvolvimento específico. Ao contrário das crianças de 8 anos, que já possuem um perfeito entendimento dos sonhos como processos do pensamento, as crianças mais pequenas não são capazes de distinguir entre os sonhos e a realidade. Pela mesma razão, para uma crian- Outono 2006 13 dossier: a saúde da família ça entre os 10 e os 18 meses que não possui ainda o vocabulário suficiente para exprimir o que a preocupa, um pesadelo pode ser uma experiência extremamente perturbadora. Se a criança for acordada no meio de um sonho terá mais probabilidades de se lembrar dele, por isso a criança a representar o sonho, onde desempenha um papel activo no derrotar do objecto gerador de medo, ajudá-la-á a adquirir um sentimento de competência. Nunca minimize os maus sonhos dizendo: “Foi só um sonho pateta!” O SONAMBULISMO É UMA ALTERAÇÃO DE SONO BENIGNA E NÃO É NECESSÁRIO NENHUM TRATAMENTO ESPECIAL se só ouvir queixas ou murmúrios não a acorde, deixe-a dormir e tudo passará. Se o seu filho acordar com um grito súbito vá ter com ele e lembre-se que, se ainda for muito pequeno, não adianta tentar dizer-lhe que o sonho não é real. Ouça-o e acalme-o, exprimindo segurança e carinho. Se a criança tiver 4 anos já podemos dizer-lhe que o sonho não é real, devendo sempre permitir-lhe descrever o conteúdo do seu pesadelo e darlhe apoio, mostrando segurança ao afirmar que nada de mal lhe irá acontecer. Durante o dia podemos ajudar a dessensibilizar a criança do objecto gerador de medo pedindo para ela o desenhar ou mascarando-a deste. Levar 14 Outono 2006 Os medos do seu filho podem parecer insignificantes ou ilógicos para si, mas para ele são importantes e sentir-se-á muito mais seguro se perceber que o leva a sério. Não confirme os medos do seu filho fechando as janelas para não vir o lobo ou fingindo que procura o ladrão. Se o seu filho tem tendência para ter pesadelos, deixe uma luz acesa. Não o deixe ver programas assustadores ou violentos na televisão, especialmente à noite. Se não conseguir perceber o que o assusta à noite, tente falar com ele durante o dia quando já não se encontrar perturbado. Faça um esforço para aumentar a auto-estima do seu filho durante o dia. Para crianças mais dossier: a saúde da família velhas uma conversa sobre o sonho e as suas possíveis causas podem ser suficientes para desenvolver capacidades de confronto. Se os pesadelos aumentam ou se o medo se alastra para o dia, deve consultar o seu pediatra pois os pesadelos persistentes ou repetitivos podem reflectir pressões excessivas durante o dia e deverá ser analisada a possibilidade de existirem outros problemas associados. O SONAMBULISMO O sonambulismo acontece associado ao sono NREM, normalmente ocorre três a quatro horas depois de se ter adormecido, mas também pode ocorrer noutras alturas. Nestes epi- sódios, a criança ou adolescente apresenta uma expressão facial empalidecida e uma indiferença em relação aos objectos e pessoas que se encontram junto de si. Duram geralmente vários minutos e, a menos que se desperte, não se lembrará de nada no dia seguinte. Estes episódios, começam, geralmente entre os 4 e os 8 anos, sendo a sua prevalência mais elevada nas crianças entre os 9 e os 12 anos. Como se trata de uma alteração de sono benigna não é necessário um tratamento especial. A principal precaução por parte dos pais é a de evitar a ocorrência de acidentes durante estes episódios. A privação de sono ou um sono demasiado irregular pode precipitar a ocorrência deste tipo de episódios, e assim os pais devem zelar para que o seu filho durma sempre o suficiente e se deite à hora adequada. Normalmente não devem ser acordados, pois o único resultado é assustálos ou confundi-los; devem, sim, ser conduzidos tranquilamente para a sua cama. Os movimentos rítmicos do corpo referem-se a um conjunto de perturbações que se caracterizam pela presença de movimentos estereotipados, de carácter rítmico, que implicam principalmente a cabeça. A maior parte dos episódios inicia-se no início do sono, embora também possam aparecer na fase 2 do sono NREM. Normalmente prolongam-se por 5-15 minutos, mas por vezes podem durar horas. Podem iniciar-se a partir dos 9 meses e raramente persistem para lá dos 2 anos. Na maioria dos casos não se recomenda qualquer intervenção específica, pois vão desaparecendo à medida que a criança cresce. Se os movimentos forem violentos, durarem mais de 10-15 minutos e ocorrerem frequente- Outono 2006 15 dossier: a saúde da família mente durante a noite, podem existir outros problemas associados. O falar durante o sono é um fenómeno frequente e inofensivo que pode aparecer em qualquer idade. Podem ser palavras isoladas ou frases curtas, que a criança não recorda na manhã seguinte. Aparece geralmente quando a criança começa a frequentar o infantário. Surge no sono REM ou NREM, é um comportamento muito comum, está associado aos pesadelos e ao sonambulismo e não se relaciona com qualquer tipo de psicopatologia. NA HORA DE DEITAR Falemos agora das perturbações em iniciar e manter o sono tais como as lutas para ir para a cama e o acordar de noite. O adiar a hora de ir para a cama e o acordar durante a noite são muito frequentes nas idades pré-escolares e as estatísticas mostram que 25 a 50% das crianças têm problemas para ir para a cama no segundo ano de vida. Estes problemas encontram-se muitas vezes em conjunto e são originados e mantidos por uma aquisição deficiente de hábitos de sono. Esta aquisição desadequada está muitas vezes relacionada com associações ao sono desajustadas, habitualmente desenvolvidas pelo excesso de variedade nas atitudes adoptadas pelos pais no desespero para que o seu filho durma. O tratamento das lutas para ir para a cama e do acordar durante a noite envolve ajudar a criança a aprender a tarefa de adormecer sozinha. O início de qualquer modificação no padrão de sono do seu filho irá implicar um esforço familiar adicional, tendo os pais de estar muito seguros do que irão fazer e de que estão aptos a apoiarem-se mutuamente. As crianças 16 Outono 2006 actuam como se tivessem um radar, e se você estiver confiante em levar avante a rotina do seu filho ele responderá mais facilmente do que se actuar de forma insegura. As abordagens mais eficazes incluem o estabelecer bons rituais/rotinas à hora de deitar e o extinguir a necessidade da presença dos pais para adormecer. Tal como os adultos, muitas vezes as crianças precisam de um tempo de relaxamento depois de um dia cheio para conseguirem adormecer. Além disto, uma rotina fornece à criança uma defesa contra outras possíveis modificações perturbantes na sua vida, como o mudar de casa, o nascimento de um irmão ou até o divórcio dos pais. Devemos estabelecer objectivos realistas para os nossos filhos e a modificação deve ser gradual. Por exemplo: se a criança está habituada a ser adormecida ao colo, o primeiro passo será substituir este comportamento por pegar-lhe ao colo e contar uma história ou cantar, colocando-a na cama mesmo antes de adormecer. Assegurese de que o seu filho está realmente cansado quando vai para a cama. Mantenha uma grande regularidade na hora de ir para a cama e no ritual estabelecido. De manhã tente focar-se sempre nos aspectos positivos do comportamento do seu filho na noite anterior. Para adormecer, ou para quando acordar durante a noite, um boneco, uma fralda ou um pano especial podem transmitir muito conforto e segurança, dispensando assim a presença dos pais. Por isso, leve o seu filho a afeiçoar-se a um objecto/boneco, fralda/pano, antes de o ensinar a dormir sozinho. Procure estimulá-lo o menos possível de cada vez que acordar. Se costuma tirá-lo da cama ou embalá-lo, não o dossier: a saúde da família FALAR DURANTE O SONO É UM FENÓMENO FREQUENTE E INOFENSIVO QUE PODE APARECER EM QUALQUER IDADE z z z z z z ZZ faça, acalme-o com afirmações de segurança e tente confortá-lo até adormecer. Se for necessário deite-se perto dela mas nunca com ela. Crie um ambiente propício ao sono, sem muito barulho, com uma temperatura agradável e na penumbra. A criança não deve ingerir cafeína (Ice-Tea, Coca-Cola ou chocolates) depois do meio-dia. Meia hora antes de se deitar diga não à televisão, computador, discussões de família e livros potencialmente perturbadores. Quando existem vários problemas ao mesmo tempo – por exemplo, uma criança que resiste a ir para a cama, acorda frequentemente e pede biberões durante a noite – foque-se num problema de cada vez. Ao avançar progressivamente, a criança ir-se-á acomodando de forma mais imediata às mudanças em curso. NA CAMA DOS PAIS Um outro comportamento que preocupa demasiado os pais é o pernoitar, total ou parcialmente, juntamente com o filho. Este problema de sono é frequente e reflecte o desenvolvimento da separação e da independência. É interessante verificar que a conotação deste comportamento pode variar, e que em várias culturas as crianças dormem habitualmente com os pais até terem 1 ou 2 anos. Esta questão do partilhar da cama é muito pessoal e cada família possui a sua opinião muito particular. Sabemos que, muitas vezes, na origem do partilhar a cama estão razões como o promover os laços familiares, o aumentar a sensação de segurança no filho ou o aliviar os problemas de sono. No entanto, ao tomar a sua decisão pense com cuidado não apenas no Outono 2006 17 dossier: a saúde da família dele. Se, por outro lado, só dorme na sua cama há pouco tempo, fruto de uma doença ou devido a uma experiência de medo, necessitará apenas de alguns dias para se sentir seguro e confortável na sua própria cama. Não queremos dizer com isto que não pode ter o seu filho na sua cama ocasionalmente, numa manhã de fim-de-semana ou quando está doente ou assustado. Em termos de interven- MEIA HORA ANTES DO DEITAR DIGA NÃO À TELEVISÃO presente mas também nas implicações que esse comportamento irá ter no futuro. Uma criança habituada a dormir na cama com os pais não vai aceitar pacificamente ser colocada de repente na sua própria cama. Por outro lado, ser capaz de ser independente durante a noite ajuda-a a desenvolver uma auto-imagem positiva e transmite-lhe um verdadeiro sentimento de competência durante o dia. Se o seu filho está habituado a dormir consigo desde muito cedo, poderá demorar várias semanas a conseguir pô-lo a dormir na cama 18 Outono 2006 ção, e além dos métodos já referidos para ensinar o seu filho a adormecer sozinho, acrescentamos mais alguns conselhos úteis para conseguir que durma na sua própria cama. Em primeiro lugar, comece por orientar as sestas do seu filho para a sua própria cama e, quando o conseguir, passe a encaminhá-lo também à noite. Certifique-se de que a cama do seu filho é convidativa e confortável, não a utilize como um local de castigo. Se ele acordar de noite e quiser ir ter consigo – certamente vai acontecer – vá ter com ele e dossier: a saúde da família acalme-o sem lhe pegar ou o levar para a sua cama. Quando tomar a decisão de o tirar da sua cama não pode voltar a deixá-lo dormir consigo a não ser quando o hábito de ficar na sua própria cama já estiver firmemente estabelecido. Não substitua um mau hábito por outro, por exemplo passando a dar-lhe um biberão para o adormecer. O que acontece é que, se uma criança adormece com a última recordação de chupar num biberão, ficará condicionada a depender de um biberão para voltar a adormecer quando acorda a meio da noite. Assim, sem o biberão fica agitada e chora. Para mudar este hábito ela tem de ser posta na cama sem biberão e acordada. Para isso, pode começar a diluir gradualmente o leite do biberão, diminuindo, progressivamente a sua quantidade. TENHA SEMPRE EM CONTA QUE: Por vezes o sono é perturbado pelas etapas normais do desenvolvimento da criança (como a angústia de separação, as novas aquisições motoras ou a entrada no infantário) e não pelo hábito. O aspecto positivo deste tipo de perturbação é que, se devidamente encarada, desaparece tão depressa como apareceu. REFLEXÕES FINAIS Temos de tomar consciência que os padrões de sono, bons ou maus, não aparecem do nada. Pelo contrário, tal como outros aspectos do comportamento, foram desenvolvidos através do tempo. Não é por acaso que cerca de um terço das crianças que apresentam perturbações de sono apresentam também problemas de comportamento generalizados. O temperamento da criança, o seu desenvolvimento (neurológico, emocional e social) e o seu ambiente tiveram um papel importante, mas foi a forma como os pais reagiram, noite após noite, desde o seu nascimento, que estabeleceu a diferença. Apesar de tudo, todas as crianças saudáveis podem aprender a dormir bem à noite. Bons hábitos de sono são essenciais tanto para o desenvolvimento pessoal do seu filho como para o seu próprio bem-estar. O sono pode significar a diferença entre uma vida agradável e meses ou mesmo anos de tensão para toda a família. Quando os pais pedem ajuda para os problemas de sono a situação atingiu normalmente uma situação de crise. Existem poucos problemas da infância tão exasperantes para os pais como as perturbações do sono. Se considerar que o seu filho provavelmente sofre de uma perturbação do sono e/ou tem dúvidas em relação a procurar um psicoterapeuta para o ajudar, consulte sempre primeiro o seu pediatra. Outono 2006 19 dossier: a saúde da família ÉS O QUE COMES: SERÁ VERDADE OU APENAS MUITO SE DIZ E PROMETE SOBRE OS EFEITOS DE DETERMINADOS HÁBITOS ALIMENTARES NA SAÚDE, MAS TUDO INDICA “SÁBIAS VERDADES” SÃO IDEIAS QUE MUITAS QUE PODEM GERAR APENAS CONFUSÃO. NESTE ARTIGO AJUDAMOS A CLARIFICAR ESTA QUESTÃO Ao longo dos tempos têm-se estabelecido, acerca de tudo e de nada, verdades irrefutáveis que estão… erradas!… Assim, muitas das “certezas” de todos os tempos, no que concerne à saúde, são falsas verdades que não ajudam ninguém (nem médicos nem pacientes) a lidar com as doenças. Hoje falaremos só do que ingerimos (bebemos e comemos) e dos erros vulgarmente cometidos por estarmos 20 Outono 2006 dossier: a saúde da família UM MITO? tão convictos de que estamos a fazer o melhor. Para desmistificar esta questão vamos tentar expor alguns exemplos do que o nosso senso comum vulgarmente julga ser verdade. Para começar existe o mito de que há muitas alergias alimentares. As confusões aqui são muitas já que todos, sem excepção, pensamos ser alérgicos a um ou dois produtos. Os estudos mais recentes provam que só 1 a 2% da população mundial tem, de facto, alergias alimentares (aumentando para 5% nas crianças). O que aconteceu então?! Uma alergia é uma reacção exagerada do organismo a uma determinada substância (o antigénio). Mas, por exemplo – e isto confunde-se muito – quando uma pessoa não tem uma hormona que decompõe a lactose (enzima presente no leite e seus derivados) produzem-se sintomas como fortes dores abdominais, inchaço e diarreia. Ora, estes sintomas são, muitas vezes, confundidos (ou generalizados) como sendo alergias mas não o são. São, isso sim, a manifestação de uma doença com causas genéticas em que nos falta uma enzima que decompõe a lactose (a lactase). Como no exemplo acima, muitos outros há em que doença e alergia são erradamente associados. Outro factor que desencadeia estas confusões, no que às alergias à comida respeita, é a ligação, quase directa, entre a ingestão de alimentos e a suposta “alergia”. Imagine que janta, calmamente, no seu restaurante favorito. No outro dia, logo de manhã, acorda cheio de dores de barriga, tonto e, ainda por cima, com diarreia! Teria sido o jantar da véspera? Pode ser! Mas: e o que comeu ao almoço? Será que não foi antes aquela fast food comida à pressa?! Ou aquele iogurte à hora do lanche? Criam-se estas associações, muitas vezes erradas, e nascem mitos acerca das alergias. Ora, depois desta associação muitos pacientes ficam agoniados só de pensar em voltar a comer aqueles alimentos e, se o têm de fazer, ficam mesmo enjoados (efeito psicossomático) e com sintomas próprios da dita alergia... Portanto, é necessário ser cuidadoso com o que come mas não atribua imediatamente uma ligeira indisposição a uma alergia a determinado alimento! Outono 2006 21 dossier: a saúde da família Outra “verdade” muito disseminada entre a população é a de que o que comemos causa a acne. Esta doença, característica da adolescência, está, na cabeça das pessoas, associada a um estilo de vida próprio dos teenagers que, embora possa parecer “sinistro”, não é patológico apesar dos muitos hambúrgueres e batatas fritas, refrigerantes e afins… Criou-se rapidez! Resultado? Uma borbulha purulenta, inflamada e infectada. Uma vez mais se faz a associação (errada) entre “causa” (já descrita) e o que pode ser um “factor agravante”. O que se come (gorduras, essencialmente) pode, também, ser expelido pela pele mas não em quantidades significativas. Ainda assim, esta verdade foi-se ampliando… OS ESTUDOS MAIS RECENTES PROVAM QUE SÓ 1 A 2% DA POPULAÇÃO MUNDIAL TEM, DE FACTO, ALERGIAS ALIMENTARES e enraizou-se a ideia de que por comerem tão mal, os adolescentes têm borbulhas. Mas na realidade a acne é uma hipersensibilidade das glândulas sebáceas aos androgénios (hormona derivada da testosterona, presente tanto em rapazes como nas raparigas). Esta hipersensibilidade faz com que os folículos da pele produzam uma grande quantidade de sebo (matéria gorda) que entope o poro. Dentro do poro, num ambiente quente e húmido, ficam bactérias que, neste meio ideal para o seu desenvolvimento e proliferação, se reproduzem com grande facilidade e 22 Outono 2006 Já a doutrina sobre se o que se ingere (enchidos, chocolate, carne de porco, etc.) pode, ou não, piorar o estado da acne não é pacífica. Mas há mais, há muitos mais! Muitas pessoas pensam, sem razão, que o que comemos gera úlceras. Não é verdade! Não é por se comer uma pizza que aquela dor (excruciante!) tem de voltar ou que temos de ouvir o sermão, pregado pela mãe, pelo pai e pela avó do “tem que comer melhor!” A comida é, como dizem os ingleses, um factor “anão” quando comparado com outros no que respeita a uma ulceração específica e dossier: a saúde da família ATÉ AGORA E EM TODOS OS ENSAIOS CLÍNICOS FEITOS NÃO ESTÁ DEMONSTRADA A RELAÇÃO ENTRE A INGESTÃO DE DETERMINADOS NUTRIENTES E A MELHORIA DA ARTRITE REUMATÓIDE determinada ou ao aparecimento de uma nova úlcera. As úlceras pépticas (referentes ao estômago ou, mesmo, à parte superior do intestino, por onde é esvaziado o conteúdo estomacal) estão sobretudo relacionadas com um de dois factores: uma infecção bacteriana (helicobacter pylori) ou uma reacção a anti-inflamatórios não esteróides (como o ibuprofeno e o ácido acetilsalicílico, vulgo aspirina). O mito, insistente, vem persistindo ao longo dos tempos já que a causa verdadeira destas úlceras é uma novidade relativamente recente e, tam- bém, porque ainda nos está muito inculcado que comidas picantes ou muito condimentadas devem fazer mal ao estômago (são ácidas e aumentam, de facto, a acidez no estômago mas não de forma a poderem causar úlceras!) De resto, muitas pessoas pensam, baseando-se naquele velho ditado popular “és o que comes!”, que o desenvolvimento de certas doenças, como a artrite reumatóide, está (muito) relacionado com o que se ingere no dia-a-dia. Neste caso específico, não é verdade! Se pensarmos na gota, outra patologia, é verdade que uma alimentação rica em purinas Outono 2006 23 dossier: a saúde da família entre a ingestão de determinados nutrientes e a melhoria desta enfermidade. Mesmo os ensaios mais promissores, como aqueles que associavam uma melhoria da artrite à maior toma de vitamina D, são decepcionantes. No entanto, note-se que uma perda de peso (quando se está obeso) pode aliviar dores (típicas da artrite) mas apenas isso. Assim, uma boa alimentação (com um pouco de tudo q. b.), A COMIDA É, COMO DIZEM OS INGLESES, UM FACTOR “ANÃO” QUANDO COMPARADO COM OUTROS NO QUE RESPEITA A UMA ULCERAÇÃO ESPECÍFICA E DETERMINADA (uma forma de proteínas que se encontra nas sardinhas, fígados, carnes em geral, etc., e também no álcool) pode, de facto, piorar a condição geral do doente afectado. O mesmo, no entanto, já não se passa na artrite reumatóide! É mais um mito! A artrite é uma doença auto-imune (as defesas do organismo contra os “atacantes” exteriores começam a reagir contra as próprias células, atacando-as e destruindo-as). Assim, até agora e em todos os ensaios clínicos feitos não está demonstrada a relação 24 Outono 2006 algum exercício físico (nem que só meia hora de marcha em ritmo rápido, por dia) e um esclarecimento cabal do que podemos e devemos fazer para melhorar a nossa condição física no geral são muito importantes. Permitem, no fundo, que nos sintamos melhor e que, com um maior conhecimento do nosso corpo e do que fazer com ele, não caiamos em “esparrelas ancestrais” como os mitos e mitozinhos atrás referidos… quizz ? QU ZZ OS JOVENS AGUENTAM MELHOR O FUMO? SE ACREDITA QUE AS PESSOAS MAIS JOVENS SOFREM MENOS COM OS EFEITOS DO TABACO FAÇA O NOSSO QUIZZ E VEJA COMO É URGENTE DESENCORAJÁ-LAS DO HÁBITO DE FUMAR 1. Os adolescentes fumadores deixam de fumar mais facilmente já que o fazem há menos tempo. FALSO Os inquéritos mostram que a maioria dos fumadores adolescentes quer deixar de fumar mas não consegue. Segundo dados de 2000, 70% dos fumadores jovens arrependem-se de ter começado a fumar e, segundo dados de 2004, três em cada quatro fumadores já tentou deixar de fumar, grande parte sem sucesso. 2. Fumar envelhece o aspecto físico de um jovem. VERDADEIRO Fumar envelhece já que a derme fica mais fina e isso causa rugas. À medida que os anos passam, o hábito de fumar e uma excessiva exposição ao sol aceleram este processo. 3. Alguns adolescentes fumadores têm menor fôlego mas isso acontece por não estarem em forma. FALSO Assim que se começa a fumar, tem início um processo de deterioração dos pulmões, mesmo quando se é adolescente. Além disso, é até três vezes mais provável ficar com falta de ar do que se não forem fumadores. Há também uma diminuição na performance dos fumadores que competem em provas de corrida. Outono 2006 25 quizz 4. Fumar ajuda a relaxar. FALSO Muitas pessoas pensam que fumar relaxa. Na verdade, o que acontece é justamente o oposto! Muitos estudos provam que fumar aumenta o esforço cardíaco e a pressão sanguínea, efeitos que podem provocar estragos a longo termo. A razão pela qual se pode pensar que o tabaco relaxa é que, como se está viciado em nicotina, fumar diminui o efeito “ressaca”. 5. O fumo de tabaco faz com que as roupas e o hálito fiquem a cheirar mal. VERDADEIRO Qualquer pessoa que lide com fumadores sabe que isto é verdade, mas os fumadores propriamente ditos podem não ter consciência disto pois fumar danifica o olfacto e o paladar. No entanto, a partir do momento em que se deixa de fumar, estes sentidos voltam ao seu funcionamento normal. 6. A maioria dos adolescentes preferia namorar com um jovem não fumador. Um estudo em 50 000 adolescentes norte-americanos diz que VERDADEIRO destes, uma percentagem entre os 75% e os 81% prefere namorar com não fumadores. 7. Os fumadores ficam doentes mais frequentemente que os não fumadores. VERDADEIRO Fumar pode causar danos não só daqui a algum tempo mas JÁ! Sabe-se que mais do dobro dos não fumadores se sente mais saudável que os fumadores. Os fumadores afirmam que tossem (com expectoração ou sangue) ou que sentem falta de ar numa proporção de 2 e meio para 1, quando comparados com os não fumadores. 8. É necessário um período longo para se ficar viciado no tabaco. FALSO Alguns estudos indicam que os adolescentes ficam mais rapidamente viciados no tabaco que os adultos. Um estudo entre teenagers do Massachussets, revela que 20% dos jovens consumidores sentem uma necessidade urgente de fumar – necessidade do cigarro, irritação forte, etc. – logo no primeiro mês. Mais de um terço dos fumadores por “brincadeira” ou para “experimentar” tornamse fumadores regulares antes de saírem da escola secundária. 26 Outono 2006 quizz 9. Se se é fumador desde a adolescência, a probabilidade de se ficar mais rapidamente doente começa a aumentar a partir desse mesmo momento. VERDADEIRO Pode, às vezes, parecer estranho mas é verdade! Os fumadores formam muito mais facilmente placas a nível das artérias do que os não fumadores. Este estudo foi feito em 1500 jovens, mulheres e homens, entre os 15 e os 34 anos, que morreram em acidentes, homicídios e suicídios. 10. Dos seguintes venenos, quais se encontram nos cigarros? A. Arsénico; B. Nicotina; C. Formaldeído; D. Cianatos; E. Todos os mencionados. HIPÓTESE E A nicotina é, de facto, uma substância que nos torna viciados em tabaco. Mas há outros! Já deve ter ouvido falar neles! O arsénico é o veneno mais usado no “mata-ratos”; o formaldeído é um conservante da matéria orgânica; o cianido de hidrogénio é o veneno que mata nas câmaras de gás. Estão todos nos cigarros. Juntamente com muitos mais … 11. Os fumadores estão sujeitos a maiores e mais regulares problemas dentários que os não fumadores. VERDADEIRO Se fuma, pode esperar ter mais problemas com os dentes! Os fumadores estão mais sujeitos a ter perfurações dentárias e cáries que os não fumadores. 12. Fumar pode causar os seguintes cancros: A. Bexiga; B. Esófago; C. Boca; D. Pulmão E. Garganta; F. Todos os acima mencionados. HIPÓTESE F Fumar está directamente relacionado com TODOS estes cancros. Além destes, também os cancros pancreático, gástrico e prostático podem estar relacionados com hábitos tabágicos. Outono 2006 27 saúde oral nas crianças CRIANÇAS COMO CUIDAR DOS DENTES OS DENTES SÃO UM ELEMENTO FUNDAMENTAL NA SAÚDE DE TODO O ORGANISMO. NESTE ARTIGO CONTAMOS TUDO SOBRE OS DENTES DA CRIANÇA E COMO DEVE SER FEITA A SUA HIGIENE ORAL Dra. Rita Santos Costa Médica Dentista (2ª TEN TSN Hospital da Marinha) Pós-Graduada em Ortodontia pela NYU, EUA 28 Outono 2006 saúde oral nas crianças O QUE É A SAÚDE ORAL? Uma boa saúde oral depende da manutenção das estruturas oro-facias saudáveis: lábios cuidados, dentição completa, dentes, gengiva e osso sãos e uma oclusão equilibrada permitem uma boa estética e boas funções de fonação, mastigação e mímica facial. A cárie dentária e a doença periodontal são as doenças mais frequentes na cavidade oral. A cárie dentária consiste numa destruição progressiva da estrutura dentária. Uma má remoção da placa bateriana, camada branca que contém bactérias e é fortemente aderente às superficies dentárias, é a principal causa da lesão de cárie. A doença periodontal é caracterizada pela destruição dos tecidos que ligam o dente ao osso (ilustração 1). Ambas são doenças bacterianas. É importante ter a noção de que o dente é irrigado e pode ser um ponto de partida para a infecção noutros locais do organismo. IMPORTÂNCIA DE UMA DENTIÇÃO PRIMÁRIA SAUDÁVEL Crianças com dentes sãos mastigam bem os alimentos, aprendem a falar claramente e sentem-se bem com elas próprias e com os outros. A extracção dentária, embora deva ser a última opção, pode ser uma terapêutica necessária. No entanto, a manutenção de todas as peças dentárias até à altura da sua esfoliação é essencial para manter o espaço para os dentes definitivos. A perda precoce de dentes decíduos (vulgarmente designados de leite), principalmente os dentes caninos e posteriores, pode levar a uma migração dos dentes adjacentes para esse espaço encerrando-o parcialmente. Ao retirar o espaço de erupção para o dente definitivo surgem alterações das dimensões da arcada (largura). A cárie dentária, quando associada à dor, interfere com a nutrição e com o comportamento, podendo causar ansiedade e insónias. A cárie de mamadeira é devastadora, destruindo várias faces dos dentes. Resulta da oferta de líquido doces nas chupetas e biberons, sobretudo se for ao adormecer, porque durante o sono há uma diminuição do fluxo salivar, a língua não se move tanto e os açúcar líquidos ficam em contacto com os dentes durante um maior período de tempo. HIGIENE ORAL CORRECTA DOS 0-2 ANOS Quando a criança ainda é desdentada apenas necessita que se higienize e massaje a gengiva com uma gaze húmida ou similar mas, a partir do aparecimento do primeiro dente, deve introduzir-se a escova, de tamanho adequado e macia. Nesta fase começa a utilizar-se uma pasta fluoretada (com baixa concentração de flúor), só uma camada finíssima tipo “escova toca no dentífrico”. Outono 2006 29 saúde oral nas crianças DOS 2-6 ANOS Nesta idade a criança ainda não consegue fazer correctamente a sua higiene oral, no entanto deve escovar os dentes, embora esta escovagem seja, geralmente, apenas uma brincadeira. Cabe aos responsáveis pela criança fazer a “verdadeira” higiene oral. O fio/fita dentária deve ser introduzido à medida que os espaços interdentários vão fechando. A escova eléctrica está indicada como estímulo gem. Os movimentos do adulto, que se posiciona por trás, vão sendo seguidos pela criança. Por volta dos 6 anos erupciona o primeiro molar definitivo. É de realçar que este dente erupciona sem nenhum dente de leite esfoliar, na zona posterior aos últimos molares de leite. Porque é uma zona de difícil higienização, a criança deve ser motivada para a escovagem deste dente com maior cuidado. MAIS DE 6 ANOS A criança já tem destreza para a sua própria higiene oral. Uma abordagem sistemática e rotineira da escovagem torna a aprendizagem mais fácil, para não esquecer de escovar todos os dentes e todas as suas faces. A PARTIR DOS 6 ANOS A CRIANÇA JÁ TEM DESTREZA PARA A SUA PRÓPRIA HIGIENE ORAL para as crianças saudáveis ou como uma ajuda na criança cuja destreza manual esteja reduzida. A posição de starkey, em que a criança está em frente ao espelho com o adulto a fazer a escovagem, é uma boa posição para a aprendiza- 30 Outono 2006 O tempo médio de escovagem deve ser de 3 minutos. A escovagem deve ser feita após as refeições e quando não for possível deve fazer bochechos mesmo que só com água. De referir que saúde oral nas crianças a escovagem à noite é a mais importante. Os agentes reveladores de placa bacteriana são bons orientadores para a criança saber se está a fazer uma higiene oral correcta. Após a escovagem bochecha com o revelador e um pigmento aparece nos locais onde a placa bacteriana não foi bem removida. HÁBITOS DISFUNCIONAIS E MÁ OCLUSÃO HÁBITOS NOCIVOS: Onicofagia Sucção do polegar e/ou outros dedos Sucção da mucosa jugal Interposicão/sucção da língua e/ou lábios Chupeta Respiração bucal Bruxismo A onicofagia (roer as unhas) provoca microfracturas no esmalte. O bruxismo (ranger os dentes) provoca desgaste nas faces dos dentes. Todos os restantes hábitos vão provocar alterações músculo-esqueléticas, sendo muitas vezes a causa de mordidas abertas (dentes que não se tocam ao ocluir). A sucção da chupeta é preferível à sucção de dedos. Este hábito deve ser abolido até aos 3 anos, altura em que a regressão das alterações esqueléticas e/ou dentárias ainda é possível. Estas alterações, provocadas ou não por hábitos nocivos, podem ser motivo para intervenções mais complexas, como a cirurgia maxilo-facial, ortognática, a ortodôncia inter- ceptiva e a ortodôncia. Estabelecer timings de actuação é difícil e cada caso deve ser estudado individualmente. VISITAS PERIÓDICAS AO PROFISSIONAL DE SAÚDE A primeira consulta ao profissional de saúde oral deve ser até aos 12 meses. Até esta idade as orientações poderão ser dadas por outros profissionais de saúde. É importante que o tratamento da lesão de cárie seja o mais precocemente possível, pois quanto mais inicial for a lesão mais simples vai ser a sua abordagem e mais facilmente teremos a colaboração da criança. Crianças pouco ou nada colaborantes e com várias lesões de cárie podem obrigar a recorrer à sedação consciente ou mesmo à anestesia geral. As consultas de rotina têm intervalos de tempo consoante a idade e estado clínico da criança. Devem ser estabelecidas pelo profissional de saúde. Outono 2006 31 boas ideias PELAS PRÓPRIAS MÃOS MESMO QUE NÃO TENHA O HÁBITO DE SE DEDICAR AOS TRABALHOS MANUAIS, EXPERIMENTE TIRAR OS SEUS FILHOS DAS LOJAS E FAZER COM ELES ALGUNS PRESENTES DE NATAL. É UMA BOA FORMA DE COMBATER O EXCESSO DE CONSUMO TÍPICO DESTA ÉPOCA TRABALHAR COM ESTRELAS Motivo que, entre outras lembranças, nos traz sempre o Natal à memória, as estrelas podem ser usadas para decorar e criar mil e um objectos bonitos e fáceis de fazer. BOLACHINHAS Quem é a avó que não gosta de umas bolachinhas para o chá? Experimente esta receita: como as crianças gostam muito de “pôr a mão na massa”, deixe-as trabalhar 250 g de manteiga amolecida com 32 Outono 2006 125 g de açúcar usando apenas as pontas dos dedos. Depois podem juntar 350 g de farinha peneirada (basta usar o coador se não tiver peneira) e formar uma bola. Polvilhe a bancada da cozinha com farinha e estenda a massa com o rolo até ficar com cerca de meio centímetro de espessura. Chegou uma parte muito divertida: com um molde em forma de estrela corte as bolachinhas e coloque num tabuleiro untado (também é um momento divertido – dê à criança um pincel de cozinha e diga-lhe para pintar a forma muito bem pintadinha!) boas ideias Depois é só cortar em forma de estrela e levar ao forno até dourarem. Existem moldes para cortar bolachas nos hipermercados e nas lojas de artigos para cozinha. O embrulho – sugerimos uma ideia muito simples: faça saquinhos em papel celofane e feche-os com um elástico. Recorte uma estrela em cartolina de cor e, com a ajuda de uma agulha de cozer lã, coloque um fio de ráfia ou uma fita. Use para amarrar à volta do saquinho e escreva o nome da pessoa presenteada. As crianças a partir dos 5 anos já são capazes de, com a sua supervisão, fazer esta embalagem pelas próprias mãos. MOLDURA Falta de imaginação? Só se for uma moldura comprada à última da hora, igual a tantas outras, mas a que lhe sugerimos é feita por si e pelas crianças, totalmente personalizada! Escolha primeiro a fotografia com que vai oferecê-la e compre uma moldura simples, de madeira clara e sem verniz (à venda nas lojas de trabalhos manuais e em muitas “lojas dos 300”). Escolha cores que fiquem bem com as da foto e, com tintas acrílicas, pinte a moldura. Recorte estrelas em cartão grosso e pinte-as num tom contrastante com a cor que escolheu. Depois de secas, cole-as na parte de cima da moldura e deixe secar. O embrulho – fica muito festivo se embrulhar o seu presente em papel de embrulho bege e lhe colocar um laço de fita grossa vermelha ou verde. ÁLBUM DE FOTOS Mais uma vez pode recorrer às “lojas dos 300” e comprar álbuns de fotografias. Há de vários tamanhos, por isso escolha o que mais lhe agradar. Para lhe dar um “toque especial”, forre-o com tecido. É fácil: faça SABIA QUE… A TROCA DE PRESENTES DE NATAL PODE TER TIDO ORIGEM NO COSTUME ROMANO DE OFERECER PRENDAS NAS FESTAS EM HONRA DE SATURNO? como se estivesse a forrar os livros da escola e use cola própria para tecido que deve diluir apenas se for estritamente necessário e sempre em muito pouca água. Tenha atenção aos acabamentos. Provavelmente terão de ser feitos por si. E, mais uma vez, pode recortar estrelas num tecido de outra cor e colá-las na capa do álbum. Um truque: para que o tecido não desfie, passe uma camada de cola pelo avesso e corte apenas quando estiver seco. Outono 2006 33 boas ideias SABIA QUE… HÁ PAÍSES EM QUE A ENTREGA DE PRENDAS SE FAZ NO DIA S. NICOLAU (O BISPO QUE DEU ORIGEM À LENDA DO PAI NATAL) EM 6 DE DEZEMBRO? DE O embrulho – escolha um papel com motivos de Natal e faça um laço com papel celofane em cor contrastante. É original e muito fácil. CABIDE PARA A COZINHA A base é uma colher de pau que pode pintar como quiser. Use tintas acrílicas laváveis e deixe que as crianças dêem asas à imaginação. Numa drogaria compre camarões pequenos (leve a colher para que o vendedor possa aconselhar o melhor tamanho) e coloque-os com intervalos de cerca de 3 cm. Para que se possa pendurar facilmente, corte um pedaço de cordel encerado ou guita e ate cada ponta numa das extremidades da colher. Agora é só embrulhar. O embrulho – envolva o presente num papel liso e enfeite com estrelas douradas ou prateadas em papel autocolante. Este embrulho dispensa laços e fitas. IDEIAS QUE VÊM DE UM PASSEIO Uma boa forma de envolver as crianças mais pequenas no fabrico dos presentes é começar por levá-las a dar um passeio e apanharem pinhas, pauzinhos, folhas bonitas e outros “mimos” que a Natureza nos dá. Tudo isto pode servir para enfeitar a mesa de Natal. 34 Outono 2006 PINHAS, ARAME E PAPEL METALIZADO Escolha pinhas de tamanho médio com uma base direita. Com uma tesoura, corte 5 cm de arame do mais fino e enrole uma das extremidades na ponta superior da pinha. Recorte uma estrela em papel metalizado e prenda na outra ponta do arame. Use para enfeitar a mesa de Natal. Se quiser, escreva o nome de cada membro da família na estrela e use para marcar os lugares à mesa. FOLHAS, GRAVETOS E CARTOLINA Recorte dois triângulos de cartolina com cerca de 15 cm de altura e 8 cm de base. Cole-os de cada lado de um graveto muito bem lavado, deixando cerca de 4 cm de fora em baixo. Escolha folhas com tamanhos similares e cole num dos lados, formando uma árvore de Natal. Use o outro lado para escrever uma mensagem. São muito originais como cartões de “Boas-Festas”. Como não contêm metal, podem ser enviados pelo correio em envelopes normalizados. boas ideias CONTO: O PODER DE UMA TENTATIVA Vivia-se mais um Inverno rigoroso. Mas a vida mantém o seu compasso habitual e as tarefas do dia-a-dia têm de ser realizadas. Havia muita neve nas montanhas e Joshua sabia como seria difícil atingir os cumes para reabastecer de mantimentos os seus colegas que ali se encontravam a trabalhar. Mas ele não estava só. Bess, a sua égua, era desde há alguns não apenas o seu meio de transporte mas a sua fiel companheira de vida. Eram inseparáveis. Naquele dia a neve era tanta que Joshua teve de desmontar e conduzir Bess pela mão. Debaixo de um nevão intenso tiveram que parar muitas vezes, recorrendo ao auxílio de árvores e rochas para se protegerem enquanto descansavam e recuperavam o fôlego. Além de abundante, a neve era pouco firme e não permitia caminhar sem que se afundassem até aos joelhos. Ao anoitecer, esgotados, alcançaram o acampamento onde tiveram de ficar diversos dias sem poderem regressar. Joshua sabia que, no regresso, teria de recorrer a uns sapatos próprios para caminhar na neve, mas estava preocupado pois temia que Bess tivesse que ser deixada para trás. Foi então que um dos seus colegas sugeriu fazer-lhe uns “sapatos” para a neve. Cortaram quatro par- tes redondas de madeira e prenderam-nas às pernas da égua com uma corda. Bess ficou, literalmente, calçada. Joshua reagiu a esta ideia de forma céptica recusando-se a acreditar que fosse possível. Achava que estavam apenas a perder um tempo precioso, em vez de procurar uma solução verdadeiramente eficaz. Mas Bess pareceu compreender para que serviam aqueles “sapatos” e esforçou-se para conseguir andar com eles. No início mal podia equilibrar-se e caminhar mas, com um pouco de prática, conseguiu dar os seus primeiros passos. O cepticismo de Joshua deu lugar ao orgulho. A sua égua tinha ultrapassado uma enorme dificuldade. Foi assim que a neve deixou de ser um problema e Joshua pode regressar a casa com a sua companheira. Pelo caminho, quem via Bess a caminhar com aqueles quatro “sapatos” fazia comentários jocosos, gozando com a situação. Mas Joshua estava tão orgulhoso com o sucesso da sua égua que ignorava os comentários. Ele tinha sido o primeiro a não acreditar naquela ideia, mas a verdade é que tinha resultado. E tal nunca se saberia se não tivessem tentado. Outono 2006 35 k _Generalis_Outono2006.qxd 06/11/28 13:52 Page 4 FICHA TÉCNICA Mais Saúde Outono de 2006 Revista Semestral Propriedade Generali Direcção Bárbara Luzes Editor Cláudia Matias/AdvanceCare Concepção Gráfica e Produção White Rabbit – Custom Publishing Depósito legal n.º 178.119/02 Morada Apartado 2216, 1102-001 Lisboa www.advancecare.com