Maïmouna
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Maïmouna
VÄRLDSOMRÖSTNING VOTAÇÃO MUNDIAL VOTE MONDIAL VOTACIÓN MUNDIAL EL GLOBO • LE GLOBE • THE GLOBE O GLOBO • • • 2 1 Omslag43.indd 2 GLOBAL VOTE # 43 • 2006 05-11-15 06.25.30 Maïmouna luta pelo TEXTO : ANDRÉ MK ANDAWIRE FOTO : TOR A MÅRTENS – Meus amigos costumam dizer que eu só penso nos direitos da criança, que esta é a única coisa com a qual me importo – diz Maïmouna. Maïmouna trabalha no Clube dos Direitos da Criança. Ela ensina as famílias a registrarem seus filhos e organiza a Votação Mundial do Prêmio dos Amigos Mundiais. Ela também integra o júri das crianças do WCPRC. M aïmouna está sentada na praia e conta como começou seu interesse pelos direitos da criança. Apesar do calor, não há nenhuma criança na água. – A correnteza é muito forte, você pode facilmente ser levado pela água – explica Maïmouna. Há alguns anos, dez crianças se afogaram aqui, em apenas uma semana. No bairro onde moro, muitas crianças frequentam a praia para jogar futebol, tomar chá e nadar nas férias de verão. Mas, depois dos afogamentos, ninguém quer mais nadar nessa época do ano. Após, os afogamentos, algumas pessoas do bairro de Maïmuona fundaram a organização Éden, para 2-8 Senegal port.indd 2 promover boas atividades para as crianças. – Eu tinha oito anos quando entrei para a Éden. No início, fazíamos passeios e outras atividades divertidas. Depois aprendemos sobre os direitos da criança. Hoje, eu passo a maior parte do tempo trabalhando com isto. Faço isto para o meu próprio bem e para o bem de muitas crian- Maïmouna Diouf, 15 Mora: Guédiawaye, na capital do Senegal, Dakar. Hobbies: Caratê, handebol e acima de tudo os direitos da criança. Adora: Minha família, chá e roupas bonitas. Melhor página da web: www.childrensworld.org, lá há muito para ler sobre as crianças do mundo inteiro. Orgulhosa de: Participar do júri das crianças do WCPRC. ças que não conhecem os seus direitos. – O mais importante é que as crianças possam participar e serem ouvidas. Isto também significa ser responsável por suas ações. Minha mãe e meu pai estão orgulhosos de mim. Eu sempre digo o que penso e sinto que minha voz é importante na família. Três copos de chá A irmã de Maïmouna, Binta, é a especialista em chá da família. No Senegal, quase todos bebem chá e o fazem em companhia de outros. Binta ferve a água num pequeno pote e coloca: 05-11-17 13.49.26 los direitos da criança Reunião do clube dos direitos da criança O bem mais precioso de Maïmouna Todos os documentos sobre os direitos da criança! Registre suas crianças ! Maïmouna participou de uma campanha, que encorajava os pais a registrarem suas crianças recém-nascidas. – Eu não me impressionaria se uma, para cada duas crianças nascidas em Guédiawaye, não fosse registrada. Sem a certidão de nascimento, você não pode ir à escola, não pode ter passaporte e viajar para o exterior e nem ser cidadão em seu próprio país – ensina Maïmouna. Ela e seus amigos percorrem o bairro e perguntam aos pais se já registraram seus filhos. Muitos não sabiam que deveriam fazê-lo. – Em apenas uma tarde, em um único quarteirão, eu registrei 54 crianças, e eu visitei apenas uma pequena parte dos que moram lá – relata Maïmouna. – Algumas vezes, crianças não são registradas por pura preguiça, outras vezes por ignorância ou pela falta de dinheiro dos pais – diz Maïmouna. e açúcar chá 2-8 Senegal port.indd 3 hortelã O Clube dos Direitos da Criança, do qual Maïmouna faz parte, se encontra para discutir os direitos da criança e realizar diferentes ações no bairro onde eles moram. – Hoje vamos falar sobre quais direitos da criança são respeitados no local onde moramos e quais direitos não são respeitados. Depois falaremos sobre o que podemos fazer, para que os adultos respeitem estes direitos – diz Maïmouna, enquanto escreve esses dois pontos num bloco de papel. – Eu acho que a paz e o direito à educação são os direitos das crianças mais respeitados no Senegal – opina Ousmane Ndoye. Todos no grupo concordam com ele. – A espuma é importante – explica Maïmouna. É preciso despejar o chá de um copo para o outro muitas vezes, até obter uma boa espuma. Este foi o primeiro copo – diz Maïmouna. Agora vamos tomar mais dois copos. Em cada um deles, vamos colocar mais açúcar. – Na minha escola, alguns alunos trazem consigo uma chaleira e copos para fazer o chá no recreio, mas eu costumo beber apenas quando estou em casa – diz Maïmouna. 05-11-17 13.49.46 Cacto contra fraude TEXTO : ANDRÉ MK ANDAWIRE FOTO : TOR A MÅRTENS Esta é a história do cacto que impede a fraude eleitoral, mas não com seus espinhos... D Hoje é dia da Votação Mundial na escola de Maïmouna, a Pikine Est B. Os alunos responsáveis pela atividade, conferem como tudo irá funcionar. As urnas ficaram prontas na noite anterior. As listas com o nome dos alunos votantes também está pronta. Porém, como garantir que ninguém vote duas vezes? – Eu sei o que podemos fazer- diz Migui. Aqueles que votarem, devem molhar o dedo na tinta. – Mas nós não temos tinta – afirma Maïmouna. – É claro que temos! Mas eu tenho de ir buscar – diz Migui, com ar de mistério. Maïmouna decide ir com ele. Língua com a tinta secreta. 2-8 Senegal port.indd 4 Em busca de tinta Depois de algum tempo, eles encon- tram crianças sorrindo. – De quê vocês estão rindo? – pergunta Maïmouna. As crianças exibem suas línguas coloridas de vermelho, como resposta. – Esta é a tinta sobre a qual eu falei – diz Migui e aponta para língua das crianças. Nós já estamos próximos. Quando eles chegam diante de uma moita de cactos na areia, Migui diz: – É daqui que iremos extrair a tinta. Milhares de espinhos saem do cacto e parece impossível alcançar as frutinhas. Com muito cuidado, Migui estica o braço em direção à moita. Em sua mão, ele tem uma faca e consegue pegar Nada de fraudes aqui. Contagem dos votos. 05-11-17 13.50.12 uma fruta. Ele abre a fruta com sua faca. – Olha quanta tinta! Se nós pegarmos duas frutas como esta, é o suficiente para pintar os dedos de toda a escola. Depois de colherem as frutas, eles se apressam em direção à escola. A votação ainda não começou. Migui e Maïmouna cortam as frutas e as espremem, com um pouco de água, numa bacia. Parece sangue. – Agora a Votação Mundial pode começar – avisa Migui à todos que estão na fila. Não se esqueçam de molhar o dedo na tinta vermelha depois de votarem! Visite sempre o www.childrensworld.org – Eu costumo entrar no www.childrensworld.org, porque lá há muito o que ler sobre crianças de outros países – afirma Maïmouna. As visitas ao cybercafé se tornaram mais freqüentes, desde que ela se tornou membro do júri infantil do WCPRC. – Mal posso acreditar que seja verdade, que eu sou membro do júri. Esta é uma grande chance de levar adiante minhas idéias sobre os direitos da criança, muito além do meu bairro em Dakar. A questão dos direitos das crianças afeta crianças de todo o mundo, por isso nosso trabalho é muito importante. Ora todas as manhãs Maïmouna é muçulmana. Todos os dias, ela se levanta às seis da manhã para orar. Antes das orações, ela se lava de uma maneira especial: 1. As mãos, três vezes 2. A boca, três vezes ➼ 5 2-8 Senegal port.indd 5 05-11-17 13.50.28 TEXTO : ANDRÉ MK ANDAWIRE FOTO : TOR A MÅRTENS Meu direito de escolher o vestido! Doces favoritos de Maïmouna Há dois anos, Maïmouna ganhou um tecido para fazer um vestido que seria usado na mais importante data religiosa dos muçulmanos,o Tabaski (ou Aïd-el-Kébir). – Quando eu voltei da escola, para levar o tecido para a costureira, meu pai já o tinha feito sem tirar as medidas e nem me perguntar sobre o modelo que eu gostaria. Eu sei que ele não fez por mal, mas eu lhe disse que ele havia violado meus direitos. Afinal de contas, o tecido era meu e eu deveria decidir o que fazer com ele. Quando o pai de Maïmouna voltou com o vestido pronto, ela se recusou a vesti-lo. – Eu queria mostrar a eles, que devem me consultar sobre o que eu quero e o que eu gosto – explica Maïmouna. O guarda-roupa d O uniforme do handebol Roupas de inverno Bebida favorita de Maïmouna O vestido que Maïmouna se recusa a usar Xales legais O traje do caratê 5. ...cospe três vezes 3. Gargareja e... 2-8 Senegal port.indd 6 A face, três vezes 4. O nariz, três vezes 6. Os braços, três vezes 05-11-17 13.50.44 a de Maïmouna Traje de festa Roupa para orar Os sapatos favoritos O pai de Maïmouna costura seu vestido para a cerimônia do prêmio na Suécia. Uniforme escolar Com o vestido da cerimônia e suas colegas de júri Laury da Colômbia e Svetlana da República Tcheca. Leia mais sobre as colegas de júri de Maïmouna nas páginas 28–31 e no www.childrensworld.org. 9. 7. A cabeça, Os pés, três vezes três vezes 8. Os ouvidos, três vezes Depois, ela diz três vezes: – Bismillahi (Obrigado Deus)! ➼ 2-8 Senegal port.indd 7 05-11-20 10.50.33 Quer um ministro para as crianças “ Eu gostaria que houvesse um ministro para nós crianças. Um ministro das crianças para garantir que nossos direitos sejam respeitados. Se eu fosse ministra, explicaria à todos os pais do Senegal quais são os direitos dos seus filhos. Agora, quem freqüenta a escola, aprende quais são nossos direitos, mas quando conversamos sobre eles em casa, nossos pais dizem que somos maleducados. Aqui no Senegal, as crianças não têm direito de expressão. Há uma grande diferença na forma como os direitos da criança são respeitados na cidade e no interior. Nas áreas rurais, a vida é mais difícil para as crianças, especialmente em termos de saúde. O direito à educação também não é respeitado. Existe também muitas diferenças entre meninos e meninas. Muitos crêem que as meninas devem permanecer em casa e ajudar com os afazeres domésticos. Os direitos dos meninos são mais respeitados, o que é estranho, pois nossos direitos são iguais. Todas as pessoas sobre as quais nós lemos na revista O Globo são minha fonte de inspiração. É assim que eu quero trabalhar. Quero trabalhar ajudando as crianças ou fazer com que os adultos entendam o que significam os Direitos da Criança. Por isso, acho que o WCPRC é bom, pois nos ensina os Direitos da Criança e o que podemos fazer para melhorar a vida das crianças .” Coumba Niang, 16 Punam o adulto! “ Quando um adulto não respeita os Direitos da Criança, por exemplo quem agride uma criança, deve receber um alerta. Se o fato acontecer outra vez, a pessoa deve ser colocada atrás das grades em um ou dois dias. Se um professor bate numa criança, ele deve ser ameaçado de demissão. Assim, o professor não agrediria a criança de novo. Quase todos no Senegal, já apanharam de seus professores durante algum momento da sua vida escolar. E não estou falando de uma palmada apenas, podem ser quatro, cinco ou seis vezes, diante de toda a classe. Deveria ser proibido aos adultos baterem nas crianças. Eles o fazem, porque sabem que as crianças não podem revidar.” Migui Harame Ndiaye, 17 ➼ Maïmouna ora contando as contas do rosário 8 2-8 Senegal port.indd 8 05-11-20 10.51.56 Não engravide! “Primeiro nós estudamos a revista do prêmio em grupos. Depois tivemos um debate e cada um de nós deu sua opinião. A menina da Bolívia que teve uma filha me fez entender que devemos pensar em nosso futuro antes de engravidar. No Brasil, muitas meninas engravidam cedo demais, quando ainda não sabem como tomar conta de uma criança.” Somos semelhantes Os adultos não acreditam em nós “É importante que votemos. Através de meu voto eu posso ajudar outras crianças e tenho a chance de dizer o que penso. Muitos adultos não acreditam que nós, crianças, tenhamos opiniões sobre assuntos como a sociedade e a escola. Na escola, por exemplo, quando alguém faz alguma coisa contra uma criança e ela reclama, os professores dizem que a criança está mentindo e que deve procurar um adulto que possa dizer o que realmente aconteceu. Todas as crianças têm o direito de estudar, não precisar trabalhar e ter uma família. Quando comemoramos o dia dos pais na escola, muitas crianças choram por não terem um pai. No Brasil não se respeita o direito das crianças à educação. Temos um problema enorme com crianças que usam drogas e armas.” “É interessante poder tomar suas próprias decisões na Votação Mundial. Algo que aprendi com o WCPRC foi que nós, crianças, não somos tão diferentes, a não ser pelas oportunidades que temos na vida. Somos crianças, mas temos os mesmos direitos dos adultos. Eles devem entender que as crianças têm suas próprias opiniões. Aqui o trabalho infantil é a violação mais comum dos direitos da criança.” Rawiporn Rangponsumrit, 11, Tailândia Respeitem os direitos dos negros! Lucas votando. “Eu adorei participar da Votação Mundial. Fiquei muito feliz quando Mandela e Graça ganharam nosso prêmio. Aqui no Brasil os direitos dos negros nem sempre são respeitados. Isto tem de mudar! Crianças com menos de 16 anos não podem trabalhar, mas eu vejo muitas crianças prostituídas ou vendendo coisas nos sinais de trânsito. A coisa mais importante para uma criança é ter uma educação.” Lucas da Silva, 11, Brasil 9 Brasilien.indd 9 TEXTO : CHRISTIANE SAMPAIO FOTO : CARLOS FR ANÇA Samanta Neli Rosa, 12, Brasil As crianças podem tomar suas próprias decisões! “Me sinto orgulhoso pelo fato de nós, crianças, termos direitos e feliz de poder votar. Nós vamos ajudar a divulgar os Direitos da Criança, pois as crianças podem tomar suas próprias decisões. Quero ajudar tantas crianças quanto puder.” Thanadhol Pharnusopon, 12, Tailândia TEXTO : MONWARIN BOONTANG & SAIRUNG R AKSACHORB FOTO : SATHIT SITIRIKIT Carine Garcia dos Reis, 12, Brasil 9 05-11-20 10.09.18 Votando na ilha prisão de Mandela Nelson Mandela A Ilha Robben é uma pequena ilha a 10 km de distância da Cidade do Cabo, na África do Sul. Ali dormiu Nelson Mandela, em um cobertor A caneca e o prato no chão de sua cela, durante 16 de de Mandela. seus 27 anos na prisão. A Ilha Robben era uma ilha-prisão da qual era impossível escapar. Hoje muitos dos que foram presos políticos na ilha estão trabalhando lá. Quando não há tempestades, seus filhos viajam de barco para a pequena escola da ilha todos os dias. Em 2005 eles participaram, pela primeira vez, da Votação Mundial. TEXTO : MARLENE WINBERG FOTO : MARIUS VAN NIEKERK & BO ÖHLÉN Para todas as crianças A cela de Nelson Mandela na Ilha Robben. “O WCPRC defende todos os Direitos da Criança. Todos nós temos os mesmos direitos e o fato do prêmio nos pertencer significa que somos todos iguais. Eu odeio ver pessoas morrendo de AIDS e de fome. Estes são os dois piores problemas que temos na África. Eu não sei como pôr um fim nisso. Mas sei que se soubermos quais são os nossos direitos, seremos mais fortes.” Bulewa Booi, 13 Eu era uma das muitas “Eu me sentia como uma das muitas crianças do mundo que participam de uma votação secreta. Eu aprendi que, mesmo sendo pobre, você pode ajudar muito. Se os adultos conhecessem os Direitos da Criança e paras- sem de abusar delas, suas vidas seriam mais seguras e felizes. Há muita criminalidade e violência na África do Sul. Existem gângsters que maltratam as crianças. Eu quero dizer a esses adultos que eles devem me tratar WCPRC mostra o valor das crianças como eles gostariam de ser tratados quando eram crianças. Eu adoro jogar futebol com meus amigos. Também gosto de um bife bem grande com molho branco e de galinha com batatas e arroz.” Ayanda Ndika, 12 A urna da Votação Mundial da Ilha Robben. “Eu gostei de fazer a urna com conchinhas da praia e também a cabine secreta de votação. Eu acho que o WCPRC tanto mostra como prova o valor das crianças. O prêmio mostra que, se você sabe quais são seus direitos como criança, irá sabê-los também quando crescer. E nós podemos mudar o mundo se nenhum adulto cometer crimes e abusos. Se você não sabe quais são seus direitos, tampouco saberá lutar por eles. Os adultos não devem assustar as crianças. Crianças se assustam com a violência e quando os adultos gritam uns com os outros. Eu odeio o crime e os gângsters e gostaria de morar em um lugar onde não há crimes.” Lefa Kawa, 14 10 10-11 Sydafrika.indd 10 05-11-20 10.20.07 o O helicóptero da ONU aterrisa Sabe dizer NÃO! “O WCPRC me ensinou que eu tenho direito e uma escolha. Eu não preciso fazer aquilo que acho ruim, mesmo que um adulto me mande fazê-lo. Se você conhece seus direitos pode se defender do trabalho infantil ilegal. No lugar onde moro, algumas crianças cuidam do gado ao invés de irem à escola. Os pais delas vão trabalhar e não há ninguém para cuidar do gado. Eu quero mudar isto, de maneira que as crianças possam ir à escola pela manhã e cuidar do gado quando voltarem para casa. Alguns adultos acreditam que as crianças existem para servílos. Eles se esquecem que já foram crianças. Os adultos nos assustam. Eles não querem que tenhamos um futuro melhor!” Msawandile Zungu, 12 “Votando para um mundo novo”, escreveu o jornal The Zululand Observer quando a escola Holy Childhood teve sua Votação Mundial. Os alunos tinham trabalhado muito com o WCPRC e preparado sua votação. Uma pista de pouso foi marcada para –“o helicóptero humano” das Nações Unidas que trouxe os fiscais da eleição. O material para a votação foi emprestado pela Comissão Eleitoral do país e todas as coisas necessárias para uma eleição estavam no local. Msawandili Zungu, da imprensa, entrevista Travis Frank e Khulu Gama. Me ensinou a importância das crianças “O WCPRC me ensinou a importância das crianças do mundo inteiro e o quanto é grave oprimir-nos ou maltratarnos. Na verdade isto é ilegal. Crianças também são pessoas e o WCPRC também me ensinou que sem crianças não haverá futuro. É importante que conheçamos nossos direitos; se uma criança é forçada a fazer algo que não quer, como trabalhar, ela deve saber que tem direito de dizer não. Eu gostaria de dizer aos adultos que nossos direitos são tão importantes quanto os deles. Por isso não façam conosco aquilo que vocês não gostariam que as pessoas fizessem com vocês.” Travis Bamford, 12 Nthando Mlambo Quer iniciar campanha contra o “O WCPRC me ensinou que as crianças do mundo inteiro têm os mesmos direitos. Eu também aprendi que muitas delas não têm seus direitos respeitados. A maioria das crianças apanha de seus pais sem motivo. 10-11 Sydafrika.indd 11 Eu gostaria de perguntar às crianças se os pais delas ou outros adultos as maltratam. Se a resposta for sim, eu iniciaria uma campanha para ajudar essas crianças a contarem os abusos feitos contra elas à polícia. abuso Gostaria de dizer aos adultos o quanto meus direitos são valiosos. Gostaria de dizer também que eles devem sempre respeitar meus direitos.” Khulu Gama, 11 05-11-20 10.20.17 A maior escola do mund A City Montessori School (Escola montessori da Cidade) em Lucknow na Índia é, com seus cerca de 30 000 alunos em 700 classes, a maior escola do mundo. Todos os anos os alunos participam da Votação Mundial. Ouçam-nos! TEXTO & FOTO: EVA BENDZ, BAREFOOT COLLEGE & CMS “Eu me senti forte e orgulhosa de poder participar da Votação Mundial pois o nosso prêmio tem um significado enorme. Toda criança deve ter seus direitos honrados, como poder ir à escola, ter uma boa moradia e não ser tratada com brutalidade. Muitas crianças aqui têm de trabalhar em condições sub-humanas, perdendo, assim, a infância. Os adultos devem aceitar que nós, crianças, temos uma mente própria e nossas idéias merecem ser ouvidas! Eles devem deixar de acreditar que “crianças devem ser vistas mas não ouvidas.” Aradhna Wal, 16 Dêem uma chance às crianças! “Participar da Votação Mundial foi como um sonho que se tornou realidade; uma grande responsabilidade nos foi dada. As crianças não são apenas uma parte da sociedade de hoje, elas são a esperança para o futuro e devem participar e tomar decisões. O pior de tudo é que os adultos nos subestimam. Nós deveríamos ter uma plataforma de onde pudéssemos expressar nossas opiniões, assim como o WCPRC nos permite. As crianças possuem a melhor possibilidade de desenvolvimento para o mundo e devem ter a chance de dizer o que pensam.” Aishwarya Chaturvedi, 14 A primeira-ministra das cr Milhares de crianças da “Escola dos Pés descalços” e suas centenas de escolas noturnas no Rajastão, deserto da Índia, participam todos os anos da Votação Mundial. A maioria das crianças trabalha desde cedo pela manhã e vai à escola à noite. As crianças das escolas elegem o seu próprio “Parlamento Infantil” e seu governo, que ajudam nas decisões nas escolas e vilas. Todo o Parlamento participa e vota na Votação Mundial (encontre-os no www.childrensworld.org). Brincadeiras e pintura 12 12-13 Indien port.indd 12 05-11-18 12.12.21 ndo votou... ... e a menor escola vai votar! Talvez a escola French Pass, na Nova Zelândia, seja a menor escola do mundo. Lá existem apenas quatro alunos. Agora ela é uma Escola Amiga Mundial. Os alunos da escola atrás da placa com o texto central na língua Maori. Os Maoris foram os primeiros a habitar a Nova Zelândia. Eles vieram da Polinésia há 1000 anos. Não discrimine as meninas! “É fantástico poder participar da Votação Mundial. Eu acho que a pior coisa é a discriminação das meninas. Os adultos deveriam tratar meninos e meninas como iguais e dar às meninas as mesmas oportunidades que os meninos. Os adultos também deveriam tratar as crianças com amor e não com autoritarismo. Quando criancas votou A primeira-ministra Santosh, 13 anos, conta: “Os Direitos da Criança são importantes para que as crianças possam se expressar. O direito mais importante é o da educação. O WCPRC ressalta o trabalho das A escola da mágica Kruti votou eu crescer quero trabalhar para melhorar as coisas para as crianças do nosso planeta.” Shweta Srivastava, 13 pessoas pelos Direitos da Criança e nos ensina, os mais pobres entre os pobres, a importância do voto. Durante o dia eu levo as cabras para pastar, busco água, ajunto esterco, cozinho, lavo a louça e limpo a casa. À noite, entre 18:30 e 21:30, vou à escola.” Santosh Kruti Parekh foi o primeiro bebê de proveta da Índia e sua mais jovem mágica. Ela fez parte do júri do WCPRC e hoje é uma Amiga Adulta de Honra. Kruti, hoje com 21 anos, apadrinhou, durante muitos anos uma escola para crianças pobres com o cachê que ganhava fazendo mágicas. A escola se chama Sharada Mandir High School e fica em Mumbai. Este é o quarto ano que a escola participa da Votação Mundial. Muitos de seus alunos trabalham. Fiquei feliz “Fiquei feliz quando soube que poderia participar da Votação Mundial. Mas me entristeço quando vejo as crianças da Índia que não podem ir à escola e moram nas ruas.” Nandini Shirke, 12 Votação Mundial Mais sobre Kruti no www.childrensworld.org 13 12-13 Indien port.indd 13 05-11-18 12.12.43 Jogo de futebol pelos direitos d No Congo Brazzaville, a escola de futebol do Centro Gothia Cups participou, pela primeira vez, da Votação Mundial. A votação ajuda as crianças “Crianças devem se sentir amadas e queridas. Se a Votação Mundial envolvesse todas as crianças em todo o mundo, isto poderia ajudá-las a reinvidicarem seus direitos. Eu gostaria de receber um exemplar da revista “O Globo” todos os anos para saber o que está acontecendo no mundo e, especialmente, com as crianças. Quando votamos, eu escolhi a Ana Maria, pois eu gosto muito de seu trabalho com as crianças de rua. Eu gostaria de fazer o mesmo, pois em países em guerra, há muitas crianças que não têm família.” Goma Makela Emente, 16 Todas as crianças do mundo deveriam participar “Graças à revista “O Globo”, eu tenho aprendido meus direitos como criança. Eu gostaria que todas as crianças do mundo participassem da Votação Mundial todos os anos. Eu conheço muitos adultos em meu país que não conhecem os direitos da criança. Durante o período da Guerra do Congo (1993, 1997, 1998 e 1999), eu conhecia mulheres e crianças que sofreram abusos dos militares. Essas pessoas devem ser punidas pelos crimes que cometeram contra as crianças e nossas mães.” Massala Chanelle, 17 Ah, papai Mandela! “Eu gostaria que houvessem pelo menos dez exemplares do “O Globo” na minha escola. Eu votei em Mandela, ele era um bom pai e sabe como tratar as crianças. Ah, se ele fosse o meu pai!“ Nkoussou Cherita, 13 Boumina Apavorada com a tortura “Eu não sabia que, em um canto do mundo, existiam pessoas que lutavam para que meninas pudessem ir à escola. Eu gostaria de ser como Graça Machel, ela defende os direitos da criança, principalmente os das meninas. Eu espero que o prêmio continue a encorajar pessoas como ela. Eu tenho muito medo de adultos que torturam crianças, como nós, durante a guerra e usam vários tipos de violência. Todos os dias surgem mais crianças de rua em meu país e eu me pergunto o por quê? Eu tenho medo de me tornar como eles. Eles moram em garagens, debaixo de pontes, nas salas de aula...” Boumina Marina, 13 14 14-15 Kongo.indd 14 05-11-16 17.41.56 da criança A escolha das crianças “Eu faço parte de uma escola de futebol e, pela primeira vez em minha vida, participei de uma Votação Mundial pelos direitos da criança. Eu não sabia que podia votar e fazer uma escolha. Eu acho importante que, de um lado, existam adultos que defendam os direitos da criança e que do outro, nós, crianças, possamos fazer escolhas.” Mounkala Essema, 15 Torta pelos direitos da criança Na escola de Vänge, em Uppsala, Suécia, fazem-se sempre tortas WCPRC para comemorar, depois de muitas semanas de trabalho, a Votação Mundial do WCPRC. Significa muito para mim “Trabalhar com o prêmio significa muito para mim. Eu posso aprender sobre a situação de outras crianças e também que existem pessoas que se importam com as crianças e seus direitos. Esta é uma boa maneira de trabalhar com a Convenção dos Direitos da Criança. Eu posso participar de uma votação de verdade, sinto que meu voto tem realmente significado! Eu gostaria que todas as crianças pudessem participar deste trabalho tão importante.” Tine Sundberg, 12, Suécia Sigam os direitos da criança! “Antes eu não tinha idéia do que fosse o Prêmio das Crianças do Mundo. Mas agora eu tenho aprendido bastante, pois trabalhamos com “O Globo”. É divertido. Também é divertido votar. É importante que digamos o que sentimos. Todos devem seguir os direitos das crianças. Quando votamos, comemos bolinhos ou algo gostoso.” Zainab Khamis, 11, Suécia Não desista! Nós existimos! “Esta é a primeira vez na minha vida que eu participo de uma votação. Para nós, esta é uma oportunidade de mostrar aos adultos que nós existimos e que queremos realmente que nossos direitos sejam respeitados por eles. Eu odeio pais que mandam seus filhos morarem nas ruas.” Boukangou Bauzouzi, 17 “É uma pena que crianças devam ser tornar soldados. Nós podemos ajudá-las bastante. Eu aprendi muito com o Prêmio das Crianças do Mundo. Muitos se importam com os pobres e jamais devemos desistir. O Prêmio das Crianças é muito importante.” Pavel Kerim, 10, Suécia Que legal que as crianças votam! “É muito bom que as crianças possam votar e tenham um prêmio. É bom que as crianças do mundo inteiro votem e decidam juntas. Eu acho que é melhor do que quando os adultos votam. Todas as crianças do mundo devem ter os mesmo direitos e o direito mais importante é o de ir à escola, mas nem todas as crianças podem ter essa chance.” Emma Gottfridsson, 10, Suécia 15 14-15 Kongo.indd 15 05-11-16 17.42.03 Meena adora a escola e Os afazares matinais de Meena parecem mais leves hoje. Enquanto ela varre, em frente à casa de sua família, ela pensa sobre a votação em sua escola, no deserto do Paquistão. M TEXTO : BRIT T-MARIE KL ANG FOTO : PAUL BLOMGREN A urna, uma lata de metal velha, que é carregada pelo camelo pelo deserto. eena faz chá, lava a louça, cozinha, busca água, limpa, costura e muito mais. Mesmo assim, ela se sente bem e acha que tem sorte. – Eu posso ir à escola. Minha irmã mais velha não teve a mesma oportunidade, mas sempre me apoiou. Eu quero ter a melhor educação possível. – Não parece que os Direitos da Criança se aplicam à nós. Aqui, as Os xales de Meena para uso cotidiano e para festas. crianças são enviadas ao trabalho o tempo todo. Existem regras diferentes para meninos e meninas. Minha melhor amiga, Sasvi, freqüentou a escola por apenas dois anos. Meena e seus colegas de escola estão bem preparados para a votação de hoje. – Nossa professora nos explicou como ela funciona e nós lemos e aprendemos através da revista do Quando sua irmã mais velha casou, Meena ganhou uma linda roupa azul... 16 16-21 Pakistan.indd 16 05-11-16 17.54.05 a e a Votação Mundial Meena Bai, 12 Mora: Vila Taryano, no deserto de Thar, no Paquistão. Os direitos mais importante: Educação, descansar e brincar. Importante: Que as meninas recebam educação. Minha melhor amiga não pode ir à escola. Quer ser: Professora ou médica. prêmio e suas traduções. Todos os candidatos trabalharam bem pelos Direitos da Criança. Aí vem o camelo! No final da tarde, alguém grita: – Lá vem ele! Lá vem ele! Meena e seus amigos correm até Shiv Lal, seu camelo e a urna de lata. Meena recebe a urna da eleição e a leva até a escola, onde tudo está pronto para a Votação Mundial. Quanta água busca Meena? ...e um xale vermelho. ➼ Aí vem o camelo com a urna das crianças. 16-21 Pakistan.indd 17 05-11-16 17.54.19 As crianças folheiam a revista “O Globo” e lêem os textos traduzidos para o Sindhi. Elas discutem os Direitos da Criança e o trabalho dos candidatos em prol destes direitos Meena vota na cabine composta por duas camas charpay colocadas de pé. Depois da contagem dos votos, o resultado é registrado cuidadosamente e enviado à Suécia. A Votação Mundial é celebrada com chá, biscoitos e dança. TEXTO : BRIT T-MARIE KL ANG FOTO : PAUL BLOMGREN, BRIT T-MARIE KL ANG & BRIC Crianças votantes ajudam senhora de idade Quando Aisha e seus amigos, em Mardan, no Paquistão, foram à escola participar da Votação Mundial, eles tinham tomado banho, vestiam roupas bem passadas e estavam cheios de expectativa. A maioria deles tem pais que são escravos por dívidas e trabalham fazendo tijolos. cer, quero ajudar os doentes. Meu sonho é que pudéssemos ter um hospital para os pobres, bem aqui, na nossa região. Há um tempo atrás, nós ajudamos uma senhora de idade que estava em pé, do lado de fora da escola. Nós vimos que ela era pobre e estava preocu”O dia estava lindo. Eu fazia pada. Ela vinha do parte do comitê da votação. O Afeganistão e morava aqui voto é secreto, assim ninguém com seus parentes, mas ela não pode me forçar a votar por se lembrava do endereço e não alguém que não seja de minha sabia como voltar para casa. escolha. Somos livres para Nós crianças decidimos que decidirmos por nós mesmos. ela poderia morar na escola. Os candidatos ao prêmio são Os vizinhos trouxeram uma um bom exemplo para nós e cama e lhe deram chá e cominos mostram que, mesmo sen- da. Todos os dias organizávado pobres, podemos fazer algo mos suas refeições e todos ajupara mudar. Quando eu cresdavam, inclusive os professo- res. Nós coletamos 1 rupi ( 2 centavos de dólar) de todos que podiam contribuir e a ajudamos a abrir uma lojinha, onde ela podia nos vender biscoitos e doces no recreio. Ela sentia dores nas pernas e nós a acompanhamos até o médico e compramos seu remédio com o dinheiro das coletas. Um garoto sugeriu que nós colocássemos um anúncio em um jornal, depois de algum tempo um homem apareceu com o jornal na mão. Aquela senhora era sua mãe. Ela morou em nossa escola durante um mês. Antes de ir embora, ela deu adeus a cada um de nós, um de cade vez. 18 16-21 Pakistan.indd 18 05-11-16 17.54.32 Meena cuidadosa com água cinco bolsas de couro cheios de água do poço. Em cada bolsa, cabem seis jarras e em cada jarra cabem 14,6 litros – A água é vida. Sem água (L) de água. não sobreviveríamos aqui Meena é cuidadosa com a no deserto – diz Meena. água. Todos os dias, ela usa : Sem o camelo da família, 2L de água para lavar o rosto, Meena e seu irmão não podea boca, mãos, braços e pés, riam trazer toda a água do todas as manhãs. Para o poço que a família precisa. Por banho diário, 8L. Cinco copos causa da seca, três famílias d’água, 1,5L. Sua quota semapobres da vila, que não nal para lavar roupas, 17,5 tinham camelo nem burro, litros ou 2,5 l por dia. Quatro foram forçadas a deixar o copos de chá, 0,6L. Sua parte deserto e procurar emprego. para cozinhar e lavar louça, Elas poderiam ser facilmen2,7L. Lavar as mãos, 0,1L. te vítimas da escravidão por Depois de ir ao dívidas. Foi o que aconteceu banheiro, 1,5L. com a família do membro do júri , Mangha Ram, que se torNa jarra se coloca até nou escrava de um -fazendeiro. 14,6 litros (L). O camelo carrega Cinco canecas de água. Concha para o chá. Ganhe a camiseta do prêmio! Quanta água Meena consome em um dia, em uma semana, em um mês (30 dias) e no ano (365 dias)? Envie a resposta. Conte-nos também quanta água você usa, para quê – para seu uso e no total e também como você consegue obter água. Vamos sortear camisetas do WCPRC. Use o formulário do www.childrensworld.org ou mande por fax ou pelo correio. Crianças trabalhadoras votam Um grupo de jovens do Paquistão começou a organização BRIC. Suas famílias haviam sido escravas por dívidas e quando crianças, foram forçadas a trabalhar fazendo tijolos. Em 2005, a BRIC ajudou crianças de 31 centros de leitura e escolas a participarem da Votação Mundial. Khuram, 13 anos, trabalha fazendo tijolos. É um trabalho pesado. Ele ficou feliz quando lhe perguntaram se gostaria de participar da votação do WCPRC. Ele conta: ”Eu gostaria que todos os que trabalham fazendo tijolos recebessem uma educação. Eu aprendi a ler no centro de lei- Khuram participa da votação e trabalha fazendo tijolos. 16-21 Pakistan.indd 19 tura e sonho com mais lugares como aquele”. “Eu aprendi sobre o trabalho dos candidatos para ajudar as crianças. Nós fi zemos urnas e fomos até às escolas. Explicamos tudo cuidadosamente. Todos puderam ver que as urnas estavam vazias antes da votação e que não havia fraude. Estamos muito felizes, pois sentimos que fi zemos algo de bom”. Local da votação para as crianças trabalhadoras. 05-11-16 17.54.43 Khaliq foi tratado como terrorista ”Eu desejo mudar as coisas, de tal forma que todos nós, meninos e meninas, do povo Marritribe tenhamos educação. Eu espero que a escola jamais acabe e que eu possa continuar a estudar por muito, muito tempo...” “Neste ano, nós aprendemos dos candidatos ao prêmio- sobre a existência de uma séria doença. Quando os pais contraem esta doença, a situação se torna muito difícil para seus filhos. Às vezes os pais morrem, então os candidatos ao prêmio ajudam as crianças.” “Nós decidimos em quem votar e ninguém pode ver quando votamos.” TEXTO : BRIT T-MARIE KL ANG FOTO : PAUL BLOMGREN & BRIT T-MARIE KL ANG Nabi Jahn, 11 anos, Quetta, Paquistão ”Eu quero deixar minha vila limpa e remover o lixo espalhado por toda parte. Eu gosto da votação secreta. Ninguém sabe em quem você vota. Os candidatos ao prêmio fazem boas coisas pelas crianças, eles são exemplos para nós” Suleiman, 13 anos, Mardan, Distrito de Frontier, Paquistão Khaliq Dad, 12 anos, de Quetta, no Paquistão, está morrendo de medo. A polícia veio à região pobre onde sua família mora e destruiu tudo. Os moradores foram acusados de serem terroristas. – A polícia ainda vem aqui todas as noites. Eu estou com tanto medo que não ouso dormir, mas não quero fi car acordado – conta Khaliq. O melhor que aconteceu a Khaliq, desde o ataque da polícia, foi a Votação Mundial. – T odos nós que frequentamos a escola do campo Marri, em Quetta, nos encontramos para votarmos juntos. Foi um dia divertido e maravilhoso. – Meu maior desejo é poder continuar minha educação e que todos do povo Marritribe possamos ter água potável e eletricidade – diz Khaliq. O povo Marritribe veio do Afeganistão para o Paquistão há quinze anos atrás. Lá vem a polícia! ”Era noite quando a polícia veio. Eles estavam em maior número do que nós. Eu acordei, quando dois policiais armados e dois cachorros barulhentos entraram em nossa casa. Eles reviraram nossas coisas, pegaram meus livros escolares e os rasgaram. Nós moramos ao lado da escola e eu escutei quando eles arrombaram a porta. Eles jogaram nossos livros no chão, pegaram o aparelho de audio que nós usamos para aprender inglês, despejaram a bolsa da biblioteca e jogaram todos os livros no andar térreo. Depois tocaram fogo na escola. Eles também jogaram o quadro negro no fogo. – Não temos mais uma porta para trancar à noite. A polícia a destruiu. Eu tenho tanto medo, que nao ouso dormir – explica Khaliq. Haviam policiais por toda a parte. Eles disseram que estavam procurando uma fábrica de armas e nos acusaram de terroristas. Mas nós não temos eletricidade, como poderíamos ter uma fábrica de armas? Eles mandaram as mulheres trazerem suas coisas de valor. Estava frio naquela noite e chovia muito. Quando as mulheres voltaram, a polícia levou suas coisas e o pouco dinheiro que tinham. Os homens haviam fugido para as montanhas, para não serem presos. Um deles não conseguiu fugir a tempo. Ele tinha oitenta anos e estava doente. Ele foi preso. A polícia se comportava como bandidos. Eles não encontraram arma nenhuma, então puseram suas próprias armas em uma pilha e as fotografaram. Mostraram as fotos aos jornais, que escreveram que elas eram nossas armas. Jamais poderei esquecer aqueles dias terríveis. Não existe justiça. Nós protestamos, mas a polícia destruiu nossos cartazes. Nós ainda não recebemos nada daquilo que nos tiraram”. 20 16-21 Pakistan.indd 20 05-11-20 10.55.32 Samina é escrava – Eu trabalho todos os dias da semana tecendo tapetes. Não tenho tempo livre. Eu vou trabalhar quando o sol nasce e só volto quando ele se põe – conta Samina, que mora no deserto de Thar, no Paquistão. A família de Samina pediu dinheiro emprestado ao dono de uma tapeçaria. Isto a faz uma escrava para pagar a dívida, ela não pode se negar a trabalhar para ele. Nihal votou Nihal, 12 anos, da vila de Vakrio, no deserto de Thar, no Paquistão, era forçado a tecer tapetes como escravo por dívida. Hoje, ele freqüenta a segunda série e participa da Votação Mundial. Nihal se sentava todos os dias, quando trabalhava. “ Q uando estávamos prontos para votar, construímos um posto de votação e enfi leiramos algumas camas charpay para serem usadas como cabine. Eu gosto de todos os candidatos ao prêmio, pois eles trabalham bem pelos Direitos da Criança. Nós, crianças, precisamos de amor e de nossos direitos. Devemos conhecer nossos direitos!” “Eu comecei a trabalhar ainda pequeno, tão pequeno que nem sabia onde minhas roupas estavam guardadas... Tecer tapetes era muito difícil. Eu tinha dores nas costas e cortava meus dedos. Eu não queria trabalhar mas nós tínhamos que pedir dinheiro emprestado ao dono da tapeçaria, pois minha mãe estava doente. Eu queria ir à escola, mas eu não podia porque eu era escravo para o pagamento da dívida.” “Durante todo este período, eu sempre sonhava em ser livre. Há três anos, eu fui libertado e hoje vou à escola.” “Se eu pudesse mudar uma coisa, eu acabaria com a escravidão por dívidas na indústria de tapetes daqui e deixaria todas as crianças livres para irem à escola.” “Quando eu crescer, eu vou trabalhar pelos Direitos da Criança, especialmente pelas crianças escravas por dívida e trabalhadoras . Eu quero me Estilete. encontrar com aqueles que decidem sobre as vidas das crianças, e dizer que eles devem respeitar os direitos delas. Eu também quero me encontrar com os pais. Temos de encontrar um sistema que liberte as crianças.” “As crianças têm direito de ter pais, amor, um lar, liberdade, direito de terem sua opinião respeitada e de serem ouvidas de forma apropriada.“ “Quando elegemos nosso conselho estudantil, fi zemos como na Votação Mundial. Tínhamos três candidatos para cada vaga, nos quais podíamos votar.” Pente de tear. 16-21 Pakistan.indd 21 05-11-16 17.55.03 TEXTO E FOTO : BET T Y OKERO Órfãos são discriminados O governo tem que ajudar ”Eu sou órfã e moro com meus irmãos. Muitos órfãos são discriminados por aqui e eu me identifico com eles. Eles têm muitos afazeres domésticos e apanham com frequência. Eles não têm roupas. Se eu pudesse, iria construir uma casa bem grande para eles e fazer com que recebessem comida, roupas e que pudessem ir à escola. Eu gostei de ler a revista do prêmio. A votação foi boa, foi a primeira vez que fizemos algo semelhante – e o voto era secreto! Vou votar de novo no próximo ano.” “A maioria dos órfãos têm seus direitos violados. Quando os órfãos de minha escola vão para a casa, não têm nada para comer e quando eles voltam para a escola, dormem na classe por estarem tão famintos e cansados. O governo tem de ajudar os órfãos. O Globo nos mostra que é importante cuidar dos órfãos. É muito bom que as crianças possam se expressar livremente sobre suas vidas e como receberam ajuda. Foi ótimo ver como as crianças fazem para melhorar suas vidas.” Amina Mwashamu, 14, Quênia Nenhuma propina em nossa eleição! “Eu gostei muito de ler O Globo e mais ainda de participar de uma eleição onde nenhum suborno ou propina foram distribuídos. As histórias da revista tocaram meu coração e me deram a esperança de que, se um dia eu me tornar órfão, alguém tomará conta de mim. Ler sobre pessoas que fazem algo para ajudar as crianças foi bastante encorajador. As pessoas podem realmente ajudar as crianças a ter uma vida melhor.” Mwanaisha Yusuf, 15, Quênia Brian Ouma, 14, Quênia Crianças são mais importantes! TEXTO E FOTO : MAGNUS NORDGREN “É importante que os adultos saibam como as crianças devem ser tratadas, assim eles podem respeitar melhor nossos direitos. Nós somos mais importantes que tudo! As crianças devem ser consultadas por seus pais quando a família tem problemas ou quando vão decidir algo importante. Sem respeito pelos Direitos da Criança, teríamos um mundo que elas jamais poderiam influenciar. É bom que possamos trabalhar com o WCPRC. Nós crianças devemos lutar para termos nossos direitos respeitados. Eu aprendi muito. Nós lemos O Globo, escrevemos nossos próprios textos e conversamos muito sobre os Direitos da Criança. Sinto que agora podemos fazer algo para melhorar nossa situação e eu posso me defender e reinvidicar meus direitos. A votação mundial é importante para que as pessoas do mundo inteiro possam melho- rar em seu respeito pelos Direitos da Criança. Já espero ansiosa pelo WCPRC do próximo ano! Eu quero ser professora e ensinar as crianças sobre seus direitos e como defendê-los. Assim vou poder ajudar outras crianças que são mais pobres que eu.” Ludis Troya Fonseca, 11, Colômbia 22 22 KenyaCol.indd 22 05-11-18 08.55.49 Direitos da Criança Bom para o país! Fila da Votação Mundial na Costa do Marfim. Levem o WPCRC aos países em guerra “Eu gostaria de ver uma revolução de crianças. Nós crianças temos de lutar por nossos direitos, eles não são gratuitos. Não entendo porquê os adultos não respeitam os Direitos da Criança. Ainda que as crianças sejam menores do que os adultos em tamanho, dizem que elas aprendem coisas novas mais rápido do que eles. Os adultos deviam saber que podem aprender conosco. WCPRC é uma boa maneira de mostrar o valor dos Direitos da Criança. Nós crianças temos uma chance de expressar o que pensamos sobre nossos direitos. Por isso, seria bom levar o prêmio aos países em guerra. A guerra é a maior ameaça aos Direitos da Criança. Ao invés de enviar crianças à guerra, os adultos deveriam dar-lhes uma educação. As crianças são o futuro e se alguém maltrata aquilo que vai ser futuro, o que restará?” Wilfried Koffi Blaise, 14 Costa do Marfim “Eu creio que o WCPRC é uma boa maneira de aprendermos o que as pessoas têm feito para defender os Direitos da Criança. Eu não tinha idéia que haviam pobres na América do Sul. A revista O Globo me ensinou sobre lugares e crianças que, talvez, de outra maneira, eu jamais conhecesse . Nós usamos o Globo em trabalhos de equipe. Nós aprendemos como uma eleição funciona e o que a democracia realmente significa. Aprendemos bastante! Eu creio que muitas pessoas não têm idéia do que sejam os Direitos da Criança. É uma pena, pois se as pessoas os conhecessem, seria bom para o país. As crianças não são respeitadas. Os adultos nos batem sem pestanejar. É o que acontece na Costa do Marfi m. Os adultos batem em suas crianças, por acharem que esta é a melhor maneira de educá-los. Para mim, os Direitos da Criança significam poder ir à escola. É importante ir à escola, pois lá as crianças podem aprender sobre seus direitos, senão ninguém lhes ensinaria. Os adultos deviam aprender a colocar as crianças em primeiro lugar. Meu sonho é trabalhar pela justiça, principalmente a das crianças, como advogada ou juíza.” Ester D’urbal, 14 Costa do Marfim 23 23-27 Elfenben.indd 23 05-11-17 13.33.06 “As crianças do mundo têm direito TEXTO : ANDRÉ MK ANDAWIRE FOTO : TOR A MÅRTENS A menina de touca laranja sobe na mesa, no pátio da escola. Com uma voz forte e clara ela começa: – Meus amigos, nós estamos reunidos aqui, nesta manhã, para votar. Vocês sabiam que nós, crianças do mundo, temos o direito de votar? “Muitas crianças realizam trabalhos pesados na Costa do Marfi m. Os adultos têm de aprender que não podem bater nas crianças, é proibido. A vida é muito difícil para as crianças aqui, pois não temos paz. As crianças devem poder brincar e ler ao invés de trabalhar. Eu adoro ler. Meu livro favorito é “Roots” (Raízes), que fala de um garoto capturado por brancos caçadores de escravos. Eles o levam pelo Atlântico. O livro trata da justiça e injustiça. É terrível quando pessoas são maltratadas. Imagine, se Nelson Mandela existisse naquele tempo, ele poderia salvar pessoas da escravidão.” Carimbo contra a fraude. Djénéba se registra e apanha a cédula de voto. Djénéba Quattara Mougpou, 10 Oi amiga! 3 4 1 2 24 23-27 Elfenben.indd 24 05-11-17 13.33.11 to de votar!” Djénéba Quattara Mougpou, 10 Mora: Em Yopougon, Costa do Marfim. Se eu fosse presidente: Djénéba na cabine de votação. Os adultos deviam conhecer nossos direitos Seria proibido bater nas crianças. Nenhuma criança teria de trabalhar. Sonha: Ser médico e ajudar aos doentes e aos que sofrem. Brincadeira favorita: Pular corda. Eu consigo pular cem vezes. Coisa favorita: Minha mochila da escola e meus livros. “Eu moro com meu tio. Ele precisa aprender mais sobre os Direitos da Criança. Ele não é mau, mas eu tenho que ajudar muito em casa. Tenho de limpar, dar banho em minha irmãzinha e ficar em casa. Nós lemos sobre os Direitos da Criança na escola e eu sei que temos direito à algumas coisas. Gostaria que mais adultos conhecessem os Direitos da Criança. O Globo é legal. Eu aprendi sobre a situação das crianças em outros países e a votar. Em todo o mundo, as crianças votam da mesma forma. É bom que as crianças saibam votar. Muitos não sabem.” Se eu fosse Presidente... “Se eu fosse presidente, meu primeiro ato seria criar um fundo para crianças. Metade do salário de todos iria para este fundo. Depois, eu construiria escolas para as crianças, especialmente os órfãos e crianças com AIDS/HIV. Também faria com que as crianças atingidas pela guerra e violência, bem como aquelas que vivem nas ruas, pudessem ir à escola. Como presidente, eu fiscalizaria o respeito pelos Direitos da Criança.” Ismael Karaboue, 15 Costa do Marfim 6 Rébéca Kablan Gnima, 11 Costa do Marfim 7 5 25 23-27 Elfenben.indd 25 05-11-20 10.56.55 O Globo despertou meu interesse p Quando Adou Rodrigue Nguetta,12 anos, da Costa do Marfim, leu a revista O Globo, se interessou pelos Direitos da Criança. Ele queria saber mais e foi de ministério a ministério... E “ u gostaria de viajar para a Guiné, Congo, Libéria e Somália, onde existem crianças soldados , pois creio que se fala pouco sobre os Direitos das Crianças nestes países. É necessário, que isto seja feito assim como em meu país. Estou orgulhoso do meu trabalho, é o que há de mais importante. Eu falo sobre os Direitos da Criança. Tudo começou há pouco mais de um ano, quando meu pai, que é vendedor de jornais, voltou para casa uma noite com uma revista. Era O Globo, que despertou meu interesse pelos Direitos da Criança. Eu li sobre crianças Favoritos Banana e bolinhos de mandioca. 26 23-27 Elfenben.indd 26 05-11-17 13.33.38 que moram nas ruas, sem pais e crianças que eram tão pobres que não tinham nada. Eu reconheci muitas realidades que também existem na Costa do Marfi m, crianças que têm uma uma vida difícil, pior do que a minha. Foi então que decidi fazer o possível para ajudá-las. Quem sabe algo? Primeiro, fui ao Ministério da Criança e Assuntos da Família para descobrir quais direitos as crianças têm. Foi difícil entrar no ministério. Eles me perguntavam porque eu tinha ido até ali e ficaram surpresos ao saberem que eu queria conversar com alguém, que soubesse algo sobre os Direitos da Criança. Não queriam me deixar entrar. Mas eu fui insistente e disse que tinha de falar com alguém. O homem que me recebeu não tinha resposta alguma. Eu fui aconselhado a visitar um outro ministério, mas lá também não encontrei respostas para minhas perguntas. Fui enviado para o escritório da OIT (Organização Internacional do Trabalho) da ONU. Lá, me perguntaram por que eu estava tão interessado em ler mais sobre os Direitos da Criança. Eu disse que muitas crianças são maltratadas e eu queria saber o que está escrito sobre crianças que são forçadas a trabalhar. Eu recebi muitos papéis. Quando eu li sobre as organizações que trabalham pelos Direitos da Criança na Costa do Marfi m, decidi entrar em contato com uma delas. Agora eu sou seu colaborador. Eu percorro as escolas e falo sobre os Direitos da Criança, o Globo e o WCPRC. Eu tenho um crachá com minha foto e nome. Isto faz com que os adultos me respeitem mais, quando estou falando dos Direitos da Criança. Hoje eu posso fazer aquilo que quero: trabalhar para que as crianças tenham uma vida melhor. Todos devemos fazer o possível para que as crianças conheçam seus direitos. Mas também devemos informar os adultos, para que eles também saibam quais direitos, as crianças têm.” TEXTO : ANDRÉ MK ANDAWIRE FOTO : TOR A MÅRTENS e pelos Direitos da Criança Contagem dos votos na Votação Mundial. Oi amigo! 3 4 1 2 5 27 23-27 Elfenben.indd 27 05-11-17 13.33.46 As crianças do júri são especialistas em direitos da criança O júri infantil internacional decide qual pessoa ou organização deverá receber o The World’s Children’s Prize (Prêmio das Crianças do Mundo) por seus esforços pelos direitos da criança. E essas crianças são – por suas experiências pessoais – verdadeiros especialistas em seus direitos! O júri infantil representa, em primeiro lugar, todas as crianças do mundo com experiências semelhantes. Também representa as crianças de seus países ou continentes de origem. Na medida do possível, as crianças de todos os continentes e principais religiões do mundo estão representadas no júri. Ainda serão nomeadas uma ou mais crianças para o júri, antes da premiação do WCPRC 2006. Maïmouna Diouf, 15 SENEGAL Veja as páginas 2–8. Maïmouna representa as crianças que lutam pelos direitos da criança. Railander Pablo Freitas de Souza, 12, BRASIL ”Meu padrasto deixou de trabalhar e começou a usar drogas. Ele e minha mãe discutiam muito e ele nos espancava. Nós também éramos ameaçados porque o meu padrasto tinha dívidas com traficantes. Às vezes minha mãe tinha que pagar as dívidas com seu salário em vez de comprar comida para nós. Não agüentei mais e quando tinha oito anos fugi de casa e fui viver na rua. Roubava o que podia e vendia para comprar comida e outras coisas de que precisava. De noite eu dormia em frente de um banco no centro da cidade, coberto com um pedaço de lona. Muitas vezes eu tinha medo de noite. O meu amigo Washington me 28-31 Jurybarnen PORT.indd 28 Hasana Hamid Hafed, 15 SAARA OCIDENTAL Hasana nasceu em um campo de refugiados no meio do deserto, na Argélia, onde passou toda a sua vida. Os pais dele são do Saara Ocidental, que foi invadido pelo Marrocos há quase trinta anos. Desde então, 170 mil saarianos ocidentais vivem em campos de refugiados no deserto do Saara. “Eu nunca vi o meu país, mas espero poder conhecê-lo um dia. Acho que todas as crianças refugiadas têm que ter o direito de voltar para seus países.” Todas as crianças que vivem no campo de refugiados no deserto vão à escola. Hasana está na sétima série. Porém, é impossível continuar estudando no campo de refugiados. “Mas eu espero continuar meus estudos em uma escola argelina, pois quero me formar. Todos que moram no campo de refugiados têm dentes escuros e estragados. É por causa da água ruim que tomamos. Quando eu crescer quero ser dentista e ajudar o meu povo a ter dentes brancos e saudáveis.” Hasana representa as crianças refugiadas. ensinou a fumar maconha. Eu fumava cada vez mais e também usava outras drogas. Roubava relógios, jóias, óculos e outras coisas no centro. Pedi e consegui uma pistola do intermediário que comprava os meus roubos. Nunca a usei contra pessoas mas atirava para cima. E uma vez atirei em um rato. Voltei para casa, mas lá continuava a violência. Uma noite minha mãe me perguntou se eu queria ficar com ela ou com meu padrasto. Respondi que queria ficar com ela. Ela me disse para esperar. Ouvi um tiro no quarto onde meu padrasto dormia e vi minha mãe sair do quarto. Depois disto fugi de novo. Minha mãe me achou e me bateu para me castigar. Ela não sabia o que fazer comigo. Minha mãe me levou ao Circo de Todo Mundo onde crianças como eu podem aprender as artes do circo. Moro na casa deles e vou à escola. A situação é boa para mim agora. O que as crianças de rua mais precisam é de amor.” Railander representa crianças que vivem ou trabalham na rua. Isabel Mathé, 14 MOÇAMBIQUE Isabel nasceu um ano antes da paz ser firmada em Moçambique. Seus pais, que haviam fugido da zona da guerra, decidiram voltar para sua aldeia natal. Mas as marcas da guerra ainda estavam presentes. Havia pelo menos um milhão de minas espalhadas por todo o país. Quando Isabel tinha quatro anos, pisou em uma delas. A explosão foi intensa e a perna direita de Isabel não pôde ser salva. Ela foi levada ao hospital de Maputo. Lá, recebeu uma prótese, feita de plástico, que pesava quase oito quilos. Isabel não 05-11-20 10.27.04 Veronica Liberzon, 17, ISRAEL ”O conflito no meu país viola os direitos das crianças. Todas as crianças que moram aqui, tanto israelenses como palestinas, são afetadas e vivem com medo constante de serem mortas ou de perderem um ente querido. Eu, por exemplo, já não tenho mais coragem de ir de ônibus para a escola, com medo de que algum homembomba palestino possa atacar. No ano passado, duas meninas da minha escola morreram em um ônibus-bomba. Elas eram totalmente inocentes e eu me senti muito mal com o que aconteceu. Muitas crianças palestinas perderam seus parentes mais próximos ou tiveram suas casas destruídas pelo exército de Israel. Por causa do conflito, muitas vezes as crianças palestinas não podem ir à escola. Tudo isso é muito injusto com as crianças! Não fomos nós que criamos esses problemas. São os adultos que nunca conseguem entrar em acordo. Tanto as crianças palestinas quanto as israelenses estão cansadas deste conflito. Nós queremos a paz! No ano passado, entrei para uma organização pela paz para israelenses e Xola Dubula, 16 ÁFRICA DO SUL Xola luta para que as crianças portadoras do HIV/AIDS, e aquelas cujos pais são portadores da doença, sejam respeitadas e bem tratadas. A mãe dele é portadora do vírus. “As pessoas têm medo da Aids e, por isso, agem de forma injusta. Quando minha mãe, que é professora, contou na tevê que era portadora do vírus, foi demitida pelo diretor da escola. Tivemos que nos mudar para um barraco e não tínhamos dinheiro nem para a comida. Mas ela ago- ra trabalha como conselheira, informando sobre a Aids e nós conseguimos nos mudar para uma casa de tijolos. Quero que as pessoas portadoras do HIV sejam tratadas para que possam sobreviver e que as crianças órfãs tenham um lar digno.” Xola participa de um grupo de crianças que dá apoio a outras crianças cujos familiares foram atingidos pela Aids. Elas fazem campanhas nas escolas para ensinar às outras crianças que não devem ter medo nem tratar mal as pessoas doentes. agüentava sequer levantar sua nova perna e levou seis meses para aprender a andar novamente. No ano passado, depois de oito anos de uso, a prótese começou a machucar a pele da menina, dificultando cada vez mais sua mobilidade. – Tinha ouvido falar sobre um lugar onde se fazem pernas novas. Fica para os lados de lá, ela diz apontando na direção das montanhas. Isabel acordou de manhã cedinho e caminhou um dia inteiro até chegar à Clínica Ortopédica da Cruz Vermelha, instantes antes de o sol se pôr. Sua nova prótese é feita de alumínio e pesa muito menos do que a antiga. Agora, ela pode andar rápido, mas ainda assim, a escola ‘de verdade’ fica muito longe. Na escola primária em que estuda não há paredes nem telhado. Hoje Moçambique está oficialmente livre de minas, mas Isabel sabe que ainda existem muitas delas na região em que vive. – Há lugares aonde não se pode ir ainda. Ninguém pode ter absoluta certeza. Se chove muito, as minas podem escorregar na lama e vão parar em qualquer lugar, diz ela. Isabel representa as crianças com deficiências físicas e as crianças feridas em minas terrestres. Sukumaya Magar, 14, NEPAL ”Quando eu tinha 11 anos, meus pais não podiam mais pagar meus estudos. Uma vez, quando eu buscava feno para os animais, um homem se aproximou de mim e me perguntou se eu queria tra- palestinos. Chama-se Seeds of Peace (Sementes de Paz). Nós visitamos escolas e contamos às crianças que, na verdade, todos somos muito semelhantes e que é possível ser amigo das pessoas ”do outro lado” do conflito. Também fazemos peças de teatro sobre como podemos viver em paz, todos juntos.” Veronica representa crianças em áreas de conflito e crianças que participam do diálogo para a paz. “Quando ouvi falar em Nkosi Johnson e no que ele fez pelas crianças vítimas da Aids, tomei coragem. Quando conversei com os professores e alunos da minha escola, ninguém me tratou mal, como fizeram com a minha mãe.” Xola representa e luta pelos direitos das crianças que tiveram suas vidas, de alguma maneira, modificadas pelo HIV/AIDS. balhar em um hotel, na cidade. Contei aos meus pais sobre o convite, mas eles disseram que não. Por isso, fugi com o homem. Primeiro, viajamos de ônibus e quando entramos em um trem para Mumbai, na Índia, comecei a desconfiar. Fui levada a um bordel. No começo, me puseram em um curso de dança. Mas, depois de um tempo, me disseram que tinha que começar a trabalhar no bordel. Recusei e eles me torturaram. Vivia como uma escrava e era forçada a ficar com homens. Dois meses depois, em um dia maravilhoso, fui libertada e pude voltar para o Nepal. Agora vou à escola de Maiti Nepal. Quando me formar, quero ajudar Maiti a lutar contra o contrabando de meninas e alertá-las para que não sejam enganadas como eu fui.” Sukumaya representa e luta pelas meninas escravas em bordéis e por todas as meninas vítimas de abuso sexual. ➼ 29 28-31 Jurybarnen PORT.indd 29 05-11-20 10.27.14 Mangha Ram Mehajar, 17 PAQUISTÃO Mangha Ram nasceu em uma família de escravos por causa de dívidas, em Sindh, no Paquistão. O proprietário e seu irmão eram políticos que trabalhavam no Câmara Legislativa da província de Sindh. O pai do menino teve que pedir um adiantamento de salário ao patrão e essa dívida forçou a família toda a ser escraThomas Opio, 16, UGANDA ”Os rebeldes chegaram uma noite, quando eu tinha 12 anos, e me raptaram junto com minha irmã e meus dois irmãos. Nos amarraram e nos forçaram a ir com eles. Depois de uma semana, um dos meus irmãos ainda estava amarrado. Uma noite, meu outro irmão pediu para fazer xixi eu o vi ser torturado até a morte, enquanto pedia desculpas por ter feito aquela pergunta. Em outra, fomos atingidos por um fogo cerrado entre os rebeldes e os helicópteros do governo. Três das nossas crianças morreram. Duas meninas que não agüentaram mais andar, pois seus pés estavam inchados, foram mortas. Fui forçado a fazer coisas horríveis, tanto contra outras crianças como contra adultos. Nós seqüestrávamos suas crianças, saqueávamos e queimávamos suas casas. Depois de 14 meses, consegui fugir. Agora voltei à escola. Estudar é muito importante para mim, pois tenho que sustentar minha mãe e minha irmã.” Thomas representa os soldados-crianças e as crianças vítimas da guerra. va até hoje. Atualmente, nove membros da família precisam trabalhar para ajudar no pagamento da dívida, que nunca diminui. Eles não são pagos em dinheiro, mas recebem 180 kg de trigo por mês. Eles têm que vender o trigo para comprar outras coisas. Freqüentemente, o proprietário e seu capataz gritam, insultam e batem nos membros da família. “Quando eu era pequeno soube que as crianças iam a um lugar chamado ‘escola’. Quando vi, na tevê e nos jornais do patrão, que as crianças iam à escola bem vestidas e limpas, disse ao meu pai que queria estudar também. Svetlana Krošténova, 17 REPÚBLICA TCHECA Svetlana é uma cigana. Quando entrou para a escola, ela foi obrigada, assim como muitos outros ciganos, a estudar em uma classe para crianças com necessidades especiais, mesmo obtendo bons resultados. Quando as autoridades da cidade de Ustinad Labem decidiram levantar um muro em volta das residências dos ciganos – sob o pretexto de que estes perturbavam os outros moradores – Svetlana e outras crianças ciganas foram até a cidade plantar flores no lugar onde o muro seria construído. Mesmo assim o muro foi erguido, mas foi demolido mais tarde. – Na Suécia, ninguém achou que eu era mal-criada ou tola, contou Svetlana a um jornal tcheco, quando voltou para casa depois de participar do júri e da cerimônia de premiaçãode 2001, seu primeiro ano como jurada. – Quando eu crescer quero ser médica e ajudar as crianças, diz Svetlana. Svetlana representa as crianças menosprezadas e discriminadas por pertencerem a minorias étnicas. Quando papai perguntou ao patrão se eu poderia ir à escola, de início ele não permitiu. Mas depois ele acabou aceitando, com a condição de que eu trabalhasse depois da escola. Eu trabalhava na plantação todos os dias, incluindo domingos e feriados, até o sol se pôr. Eu e minha irmã mais nova somos os primeiros em nossa família a ir à escola junto com outras crianças de famílias escravas.” Mangha Ram representa as crianças trabalhadoras, as escravas por causa de dívidas e as crianças que ‘não existem’, já que ninguém as registrou. Omar Bandak, 15 PALESTINA “Minha vida tem sido um pesadelo desde a idade de onze anos. Uma noite, quando assistíamos tevê, ouvimos um helicóptero voando em círculos sobre nós. Depois disso um míssil foi disparado contra a casa vizinha à nossa, quartel general da polícia palestina e patrulhas da fronteira. Eles lançaram muitos mísseis e parecia que havia um terremoto. Na noite seguinte, um avião F-16 disparou míssil após míssil. Nossa casa inteira chacoalhou e todas as janelas quebraram. Eu chorei e caí em cima dos pedaços de vidro. O quarto míssil foi o mais forte de todos, eu voei por cima do nosso vizinho,o qual nos dava refúgio. Antes podíamos passear em Jerusalém e Jericó. Hoje só podemos sair de casa para ir à escola em Belém. Às vezes nem podemos ir à escola, mesmo tendo o direito à educação. Quando temos toque de recolher não podemos deixar nossas casas. Um dos direitos da criança é poder sentir-se em segurança, mas isto é algo que nós, crianças palestinas, jamais teremos . Queremos apenas ter paz e viver sem tanques de guerra e soldados. Eu quero poder me sentir como outras crianças do mundo.” Omar representa as crianças em áreas de conflito e sob ocupação. 30 28-31 Jurybarnen PORT.indd 30 05-11-20 10.27.19 Idalmin Santana, 16, EUA Idalmin tinha nove anos, quando seus pais foram presos pela polícia. Um dia, quando ela chegou em casa, depois da escola, o apartamento estava ocupado por policiais. Idalmin, assustada, começou a chorar. ”O que vocês estão fazendo?”, ela perguntou. “Você é pequena demais para entender”, respondeu um oficial. “Para onde vocês vão levar a minha mãe?”, perguntou. “Eu amo a minha mãe, soltem-na.” No começo, Idalmin e suas três irmãs mais novas foram morar com a avó. Todos os dias ela perguntava quando os pais voltariam para casa. A avó sempre respondia: “Amanhã, amanhã...”. Eles, porém, nunca mais voltaram. Laury Cristina Hernández Petano, 15, COLÔMBIA Laury vivia com a mãe e a avó em Carmen de Bolívar, norte da Colômbia, quando um estranho começou a deixar abacates e cocos diante da porta da casa da família. Elas vendiam as frutas na feira, mas sentiam-se ao mesmo tempo ameaçadas. É comum que grupos armados na guerra civil colombiana dêem presentes às famílias pobres para comprar sua fidelidade. No povoado onde Laury morava, havia conflitos entre facções e muito crime organizado. Laury e sua família fugiram dali para o assentamento “Era como se meus pais tivessem morrido.” Os pais de Idalmin foram condenados a penas longas. A penitenciária onde está o pai fica muito longe, por isso ela quase nunca o visita. “A primeira vez que visitei mamãe na prisão, o horário de visita terminou após uma hora apenas. Imagine só, você não vê sua mãe há muito tempo e tem apenas uma hora para ficar com ela. Eu chorava todas as manhãs, durante o primeiro ano. Nos primeiros anos, Idalmin e as irmãs se mudaram para a casa de vários parentes e amigos. Foi uma época muito difícil. Idalmin ficou doente e começou a matar aulas. Tudo começou a melhorar quando ela e as quatro irmãs foram parar na casa da mesma família adotiva. Agora, ela se sai melhor na escola. Uma vez por semana, Idalmin se encontra com outras meninas, cujos pais estão na prisão. Juntas, elas se divertem e, freqüentemente, fazem palestras sobre suas experiências em eventos relacionados à questão dos filhos de presidiários. A mãe de Idalmin foi libertada em 2005, depois de ficar seis anos presa. Idalmin representa os filhos de presidiários. “Nelson Mandela”, como refugiadas internas. Elas construíram um barraco de tábuas, chapas de zinco e papelão. Sempre que chovia elas tinham que construir um novo barraco. Atualmente elas moram em uma casa de concreto situada no sopé de um morro. Todas as vezes que uma chuva forte cai, a casa fica alagada. Laury trabalha muito na escola e pertence a vários grupos de crianças que lutam pela paz. Ela vende diariamente os “Deditos” (salgadinhos de milho) feitos pela mãe na escola, para contribuir na economia da família. “Nós somos pobres e já passamos por muitas dificuldades, mas eu não me envergonho por isso, tenho muito orgulho!” Laury representa as crianças que vivem em áreas de conflitos, refugiadas e as que lutam pelos direitos da criança. Thai Thi Nga, 15 VIETNÃ Nga sempre se sentiu marginalizada. “As outras crianças olhavam para mim como se eu fosse um monstro”, ela conta. “Todos tinham medo e fugiam de mim na escola. Eu tinha tanta vergonha que não queria ir a lugar nenhum. Ficava em casa observando as outras crianças que iam à escola. Sem a força do meu único amigo, Huong, eu nunca teria voltado à escola.” “Certa vez, o professor disse que teríamos uma festa da classe. Eu tinha dinheiro economizado e contribuí mais do que todas as outras crianças para a festa. Estava cheia de expectativas, sonhava em ser compreendida pelos meus colegas e poder me divertir com eles. Mas quando a festa começou, todos se apressaram em pegar os bolos e frutas e trataram de ficar bem longe de mim. Foi o pior momento da minha vida.” Nga mora no interior. Seu pai foi vítima do Agente Laranja, um forte inseticida químico que os EUA usaram como arma na longa guerra do Vietnã. Embora Nga não tenha nascido durante a guerra, também sofreu suas conseqüências. Ela e a irmã foram contaminadas pelo Agente Laranja usado contra o pai. Nga sofreu mutações em seu cromossomo e tem manchas escuras por todo o rosto e corpo. Nga representa crianças com deficiências motoras, crianças vítimas de agentes químicos venenosos utilizados na guerra e crianças maltratadas. 31 28-31 Jurybarnen PORT.indd 31 05-11-21 06.28.54 Votação Mundial 2006 PRÊMIO DOS AMIGOS MUNDIAIS 1 2 JETSUN PEMA TIBETE 3 AOCM RUANDA CRAIG KIELBURGER CANADÁ THE WORLD’S CHILDREN’S PRIZE FOR THE RIGHTS OF THE CHILD Votação Mundial 2006 PRÊMIO DOS AMIGOS MUNDIAIS 1 2 JETSUN PEMA TIBETE 3 AOCM RUANDA CRAIG KIELBURGER CANADÁ THE WORLD’S CHILDREN’S PRIZE FOR THE RIGHTS OF THE CHILD Votação Mundial 2006 PRÊMIO DOS AMIGOS MUNDIAIS 1 2 JETSUN PEMA TIBETE 3 AOCM RUANDA CRAIG KIELBURGER CANADÁ THE WORLD’S CHILDREN’S PRIZE FOR THE RIGHTS OF THE CHILD Votação Mundial 2006 PRÊMIO DOS AMIGOS MUNDIAIS 1 2 JETSUN PEMA TIBETE 3 AOCM RUANDA CRAIG KIELBURGER CANADÁ THE WORLD’S CHILDREN’S PRIZE FOR THE RIGHTS OF THE CHILD Votação Mundial 2006 PRÊMIO DOS AMIGOS MUNDIAIS 1 2 JETSUN PEMA TIBETE 3 AOCM RUANDA CRAIG KIELBURGER CANADÁ THE WORLD’S CHILDREN’S PRIZE FOR THE RIGHTS OF THE CHILD 1 Omslag43.indd 1 05-11-14 12.59.50