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Lições do portal
ISSN 2014-0576
Modelos da comunicação
Autoria
Miquel Rodrigo
Professor de Teoria da Comunicação na Universidade Pompeu Fabra (Barcelona). Forma parte do grupo de pesquisa da
UNICA da Universitat Pompeu Fabra. Publicou mais de cem artigos em livros e revistas especializadas nacionais e
internacionais, e diferentes monografias. Foi pesquisador e professor em várias universidades: Universitat Autònoma de
Barcelona, Indiana University, Saint Louis University, Université René Descartes (Paris V), Universidad de Sonora, Universidad
de Temuco, entre outras.
Conteúdo
Abstract
Introdução
Criar a legitimação académica
A consolidação sociológica
A viragem semiótica
Acerca de um diálogo disciplinar: O modelo socio-semiótico da comunicação
Epílogo
Bibliografía
Abstract
"Comecemos com uma história de Jorge Luís Borges (1981: 143-144): “Naquele império, a arte da
cartografia atingiu tal perfeição que o mapa de uma só província ocupava toda uma cidade, e o mapa do
império, toda uma província. Com o tempo, esses mapas desmesurados não bastaram e os colégios de
cartógrafos fizeram um mapa do império, que tinha o tamanho do império e coincidia exactamente com
ele. Menos interessadas no estudo da cartografia, as gerações seguintes entenderam que esse extenso
mapa era inútil e sem piedade entregaram-no à inclemência do sol e dos invernos. Nos desertos do oeste
permanecem despedaçadas ruínas do mapa, habitadas por animais e por mendigos; em todo o país não
há outra relíquia das disciplinas geográficas. Suárez Miranda: Viajes de varones prudentes, livro quarto,
Cap. XLV, Lérida, 1658.” Recordemos que o título da narração de Borges é, significativamente, “Do rigor
na ciência”. Aquí está o paradoxo: se o rigor da ciência leva a fazer um modelo que reproduz ponto por ponto a realidade, a
ciência torna-se inútil." […]
IntroduÇÃo
Comecemos com uma história de Jorge Luís Borges [1] (1981: 143-144):
“Naquele império, a arte da cartografia atingiu tal perfeição que o mapa de uma só província ocupava toda uma cidade, e
o mapa do império, toda uma província. Com o tempo, esses mapas desmesurados não bastaram e os colégios de
cartógrafos fizeram um mapa do império, que tinha o tamanho do império e coincidia exactamente com ele. Menos
interessadas no estudo da cartografia, as gerações seguintes entenderam que esse extenso mapa era inútil e sem
piedade entregaram-no à inclemência do sol e dos invernos. Nos desertos do oeste permanecem despedaçadas ruínas
do mapa, habitadas por animais e por mendigos; em todo o país não há outra relíquia das disciplinas geográficas.
Suárez Miranda: Viajes de varones prudentes, livro quarto, Cap. XLV, Lérida, 1658.”
Recordemos que o título da narração de Borges é, significativamente, “Do rigor na ciência”. Aqui está o paradoxo: se o rigor da ciência
leva a fazer um modelo que reproduz ponto por ponto a realidade, a ciência torna-se inútil.
Um modelo é um plano da realidade [2] . Não se pode pedir a um modelo que tenha em conta todos os elementos existentes na
realidade porque seria desnecessário e inútil. Seria desnecessário, porque não vale a pena fazer uma cópia exacta da realidade se já
temos a própria realidade. Seria inútil, porque a realidade é tão completa que um modelo que desse conta de todos os seus elementos
seria impraticável. Assim, deve ser claro que um modelo é uma representação simplificada da realidade. A um modelo não se lhe pode
pedir para ser mais do que é: um instrumento que atesta determinados elementos que considera significativos do fenómeno analisado.
Por isso, todo o modelo constitui uma visão reducionista da realidade. O problema não é tanto este reducionismo em si, mas que não
se tenha consciência do mesmo e que o modelo se auto-apresente como uma proposta omni-compreensiva da realidade. Além do
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mais, graças a esta focalização, lança também um olhar esclarecedor sobre certos aspectos da realidade.
Recordemos que um modelo implica não só uma descrição simplificada da realidade, seria o propósito do conto com que iniciámos
este texto, mas também uma explicação da realidade descrita, que seria o princípio racional que sustenta o modelo. Sucintamente, um
modelo não é mais do que um instrumento de interpretação da realidade. Os modelos são construções feitas por investigadores. Não
deixa de ser significativo que os modelos, na maioria dos casos, são conhecidos pelo nome dos investigadores que os propõem.
Evidentemente, os investigadores têm interesses e objectivos diferentes, por isso os seus modelos são distintos. Para compreender
uma realidade heteróclita, em que intervêm muitos elementos comunicativos distintos, e complexa, é necessário um instrumento
organizador que permita descobrir a estrutura desta realidade para torná-la apreensível. Um modelo é uma construção teóricohipotética da realidade. É um postulado de interpretação da realidade: descreve e explica a realidade definida. Esta descrição e
explicação fazem-se a partir de um princípio racional que fornece congruência ao modelo. Este princípio racional determinará quais
são os elementos significativos para o modelo e quais não serão tidos em conta.
Em cada momento histórico os modelos cumpriram diferentes funções. Por um lado, cada modelo tentava fornecer uma explicação às
questões que o seu objecto de estudo abordava. Por outro, cada modelo reflectia e coadjuvava a evolução das teorias da
comunicação.
Torna-se difícil fazer uma selecção dos principais modelos da comunicação por vários motivos. Em primeiro lugar porque os modelos
existentes da comunicação são bastante numerosos e em segundo lugar porque os critérios de relevância podem sempre ser
discutíveis. Neste texto irei seleccionar quatro modelos que me parecem representativos da evolução das teorias da comunicação.
Assim, veremos brevemente a história da investigação, o papel que teve cada modelo no seu momento e a perspectiva a partir da qual
se abordou o estudo da comunicação.
2. Não vou entrar numa discussão ontológica sobre o conceito de realidade, mas tenha-se em conta que as ciências constroem os seus objectos de
estudo. Por conseguinte, sobretudo a partir de uma perspectiva interpretativa, é claro que a realidade é uma realidade construída (Rodrigo 2001:163182).
Criar
a leGitimaÇÃo académica
As teorias da comunicação necessitarão, como qualquer disciplina académica, de uma legitimação para ser consideradas no âmbito
do campo cientifico. Em meados do século XX o sistema dos meios de comunicação de massas (imprensa, rádio e televisão)
constituía já um fenómeno social digno da máxima atenção. Iniciava-se então a abordagem do mesmo a partir do meio científico
(Moragas 1993). Daí a importância do modelo de Shannon [3] e Weaver [4] , que através da teoria matemática da comunicação,
abordaram o primeiro modelo, em 1949, que ajudaria a consolidar a teoria da comunicação no âmbito das ciências sociais. Em
meados do século XX, de acordo com os princípios da modernidade, para que uma disciplina fosse considerada científica devia
aproximar-se das ciências naturais, embora também se aceitasse a existência de outro campo, o das humanidades, no qual os
requisitos eram diferentes. No campo da comunicação existem ambas as tradições: a científica e a humanística. Segundo esta última,
a comunicação seria uma forma de conhecimento e de expressão, como a filosofia ou a arte. Mas para os que consideravam que a
ciência da comunicação era uma das ciências sociais, como a sociologia ou a economia, tornava-se imprescindível a legitimação
científica que poderia trazer um modelo matemático da comunicação.
Para compreender melhor a génese deste modelo devemos destacar dois factores. Em primeiro lugar, recordemos a influência do
matemático Norbert Wiener [5] , que é considerado o fundador da cibernética e que foi um dos mestres de Shannon. A cibernética
estuda como um estímulo se transforma em informação (input) e como o sistema receptor reage com uma resposta (output).
Em segundo lugar há que ter em conta o contexto. Em 1966, Wiener (1972: 50) observava: “Se os séculos XVII e a primeira parte do
XVIII foram a idade dos relógios e o final do século XVIII e o século XIX foram a idade das máquinas a vapor, o presente é a idade da
comunicação e controlo.” Em meados do século XX o desenvolvimento das telecomunicações é fundamental e torna-se necessária a
existência de um modelo científico que dê conta desta nova realidade.
A proposta de Shannon e Weaver, baseada no paradigma da teoria matemática da comunicação, foi pioneira e influenciou
notavelmente os estudos da comunicação e muitos dos modelos que se seguiram são seus devedores, tais como por exemplo os dois
próximos modelos.
Uma das causas do êxito do modelo de Shannon e Weaver deve-se a terem acertado claramente com o esquema Estímulo-Resposta
do behaviorismo, aproximação dominante no início do século XX. O esquema E-R pode facilmente converter-se no modelo canónico
da comunicação E-M-R que tem dominado amplamente a teoria da comunicação funcionalista. Como escreve Abril (1997: 21) “As
correntes funcionalistas e behavioristas da sociologia e da psicologia social foram especialmente sensíveis ao feitiço ‘económico’ do
modelo ‘E -MR’…”
O modelo de Shannon e Weaver ainda se centrava num aspecto concreto da comunicação: a eficácia na transmissão da mensagem,
no entanto partia de uma concepção ampla do fenómeno comunicativo. Weaver (1981: 20) considerava a comunicação como o
“conjunto de procedimentos por meio dos quais um mecanismo (…) afecta outro mecanismo.”. Como se pode considerar, esta ideia
capta perfeitamente um dos elementos fundamentais do processo de comunicação como a sua capacidade de influência. Ainda que
para Weaver (1981: 20) na comunicação tenhamos que distinguir três problemas distintos e sucessivos. Em primeiro lugar, na
comunicação, temos um problema técnico: Com que exactidão se podem transmitir os sinais da comunicação? O segundo problema é
semântico: Com que exactidão as mensagens são recebidas com o significado desejado? Por último estaria um problema de eficácia:
Com que eficácia o significado recebido afecta a conduta do destinatário no sentido desejado pela Fonte da informação? Para a teoria
matemática da comunicação o problema técnico é o problema fundamental, porque se a transmissão não se produz eficazmente, de
facto, os outros problemas nem se apresentam. Brevemente, como aponta Weaver (1972:36) “os problemas que se têm que estudar
num sistema de comunicação têm que ver com a quantidade de informação, a capacidade do canal de comunicação, o processo de
codificação que se pode utilizar para alterar uma mensagem num sinal e os efeitos do ruído.”
Gráfico 1. Fonte: Shannon i Weaver (1981)
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Como se pode constatar, o processo de comunicação inicia-se na fonte da mensagem, gerando a mensagem ou mensagens a
comunicar. A fonte de informação selecciona a partir de um conjunto de possíveis mensagens a mensagem escolhida. De seguida, o
transmissor actua sobre a mensagem e codifica-la-á transformando-a num sinal capaz de ser transmitido através de um canal. O
canal é simplesmente o meio utilizado para a transmissão do sinal desde o transmissor até ao receptor. É o meio que permite a
passagem do sinal, e é precisamente no canal onde pode incidir a fonte do ruído. É possível que no processo de transmissão do sinal,
através do canal, se juntem a este uma série de elementos que não são fornecidos intencionalmente pela fonte de informação, isto é, o
ruído. Quando o sinal é recebido pelo receptor leva-se a cabo a operação inversa à do transmissor, reconstruindo a mensagem através
do sinal. O receptor recebe o sinal transforma-o de novo na sua natureza original de mensagem, ao que terão eventualmente sido
acrescentados os ruídos anteriormente assinalados. O destinatário é o ponto final do processo de comunicação. O destinatário é a
entidade à qual a mensagem é dirigida. O importante neste modelo é que o sinal se descodifique no transmissor de forma adequada
para que a mensagem codificada pelo emissor seja a mesma que a recebida pelo destinatário.
Um dos problemas que nos apresenta este modelo é o próprio êxito que teve além do seu campo disciplinar. As extrapolações para
outras disciplinas fizeram que, em muitas ocasiões, não cumprisse as expectativas depositadas na sua capacidade explicativa de um
fenómeno tão complexo como a comunicação.
No entanto, uma perspectiva que o modelo de Shannon e Weaver não desenvolve explicitamente mas que seria seguramente a sua
projecção lógica dentro das ciências da comunicação é o determinismo tecnológico: desde as propostas de Marshall Mc Luhan [6] até
à invasão da Internet no mundo da comunicação [7] .
A
consolidaÇÃo sociolÓGica
Uma das disciplinas que tem desempenhado um papel muito importante na consolidação dos estudos da comunicação tem sido a
sociologia. Assim, durante muito tempo, a distinção entre sociologia da comunicação e teoria da comunicação era bastante confusa.
Como assinala Moragas (1985:15) “Durante muitos anos, ‘investigação da comunicação de massas’ foi sinónimo de ‘sociologia da
comunicação de massas’ e vice-versa. Isto foi assim sobretudo no meio norte-americano, sem dúvida o de maior influência
internacional.”
Um dos autores precursores na investigação da comunicação a partir das ciências sociais foi Harold Lasswell [8] que, em meados do
século XX, abordava o estudo da comunicação a partir das suas conhecidas perguntas: “Quem diz o quê, através de que canal, a
quem e com que efeitos”. Mas temos que recordar que entre estas cinco perguntas a que vai dominar as aproximações à sociologia da
comunicação é a que faz referência aos efeitos.
Como indica Schramm (1982:19) "As investigações sobre comunicação, como consequência, referem-se a como se pode ser eficaz
na comunicação, como ser compreendido, como ser claro, como utilizam as pessoas os meios efectivos de comunicação, como
podem entender-se entre si as nações, como pode usar a sociedade os meios de massa com maior proveito e, em geral, como
funciona o processo básico da comunicação”. Como se pode constatar muitos destes problemas fazem referência à influência da
comunicação.
O modelo que talvez exemplifique melhor a marca da sociologia nos estudos da comunicação foi proposto por Wilbur Schramm [9] ,
em 1954. Schramm foi sem dúvida um dos principais divulgadores da Mass Communication Research, a investigação dominante da
comunicação de massas norte-americana. Paul F. Lazarsfeld [10] foi um dos autores mais marcantes desta tradição de investigação,
cujas contribuições dá conta o modelo de Schramm.
Schramm propõe diferentes modelos que vão desde o mais simples da comunicação interpessoal até ao da comunicação de massas.
Pela minha parte comentarei, simplesmente, este último.
Gráfico 2. Fonte: Schramm (1954)
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Para Schramm, o meio de comunicação de massas é um sujeito comunicador que, como uma pessoa, é um descodificador, intérprete
e codificador. Quer dizer, um mass media é um receptor de acontecimentos que codifica e interpreta, de acordo com as lógicas
produtivas do jornalismo. Os inputs que recebe a organização produtiva são acontecimentos provenientes de diferentes Fontes,
inclusivamente o feedback da própria audiência. De seguida, dá-se forma ao acontecimento convertendo-o em notícia. Assim, o
comunicador codifica a mensagem que vai transmitir (Rodrigo 2005). A organização comunicativa transmite uma variedade de
mensagens idênticas. Na recepção destas mensagens têm que se distinguir três níveis. Em primeiro lugar, estas mensagens são
recebidas por uma audiência massiva. Quando falamos de meios de comunicação de massas, as massas são a audiência. Em
segundo lugar, cada receptor individual, ainda que seja parte da audiência massiva, vai descodificar, interpretar e codificar as
mensagens que recebe. Quer dizer, a interpretação destas mensagens é um acto individual feito por cada um dos
leitores/ouvintes/telespectadores dos mass media. Por último, temos que recordar que esta pessoa tem múltiplos contactos sociais na
sua vida quotidiana. Os indivíduos relacionam-se com diferentes grupos nos quais comentam as mensagens transmitidas pelos mass
media. Terá de se ter em conta que muitos dos temas que comentamos nos nossos diferentes grupos sociais (família, amigos, colegas
de trabalho, etc.) nos foram apresentados pelos meios de comunicação, mas é precisamente nestes grupos que se reinterpretam as
mensagens mediáticas. Nos grupos há que destacar a existência dos líderes de opinião. Os líderes de opinião têm um maior contacto
com os meios ou um nível de educação mais alto; isto permite-lhes actuar como um filtro entre os meios de comunicação e os outros
membros do grupo. A eficácia da sua reinterpretação deve-se a vários factores: a) tem uma competência reconhecida pelo grupo, b)
são dignos de confiança, por serem membros do grupo e não representarem nenhum interesse externo c) no contacto cara a cara
podem adaptar a sua mensagem às características de cada destinatário e d) pode recompensar de forma pessoal e imediata os que
concordam com ele.
A influência do líder de opinião e de grupo, sobre os seus membros, é muito importante. O grupo actua como: a) canal de informação,
b) fonte de pressão para se adaptar ao modo de pensar e actuar do grupo e c) base de apoio social ao indivíduo. Assim se considera
que a influência interpessoal é um dos fenómenos chave para estudar, em última instância, a influência dos mass media.
A importância deste modelo baseia-se no facto de se ter feito eco das teorias dominantes sobre os efeitos da comunicação dos anos
50 aos 70. Assim, achava-se que a influência dos meios de comunicação estava muito condicionada pela diversidade de variáveis que
intervinham no processo comunicativo, que o comunicador só controlava a mensagem e a sua distribuição, mas não a interpretação, a
recepção nem a reinterpretação por parte do grupo. Por isso, acreditava-se que, salvo casos muito específicos, os meios de
comunicação não podiam por si mesmos conseguir uma mudança de atitude ou de opinião nos membros da audiência.
À sociologia da comunicação, a partir dos anos 70, junta-se uma nova disciplina: a semiótica. No entanto, temos que destacar que as
preocupações que incitava a comunicação de massas também não mudaram com a nova perspectiva. É certo que a semiótica estuda
fundamentalmente a mensagem, mas como se verá, no próximo modelo, demonstra uma grande preocupação pela interpretação e
recepção da mesma.
A
viraGem semiÓtica
Ferdinand de Saussure [11] (1857- 1913) e Charles Sanders Peirce [12] (1839-1914) podem ser considerados os pais da semiótica
moderna. O primeiro iniciou uma semiologia ou semiótica estruturalista a partir do estudo da linguística. Peirce, pelo contrário, partiu
da filosofia pragmática para estudar qualquer classe de sinais, não só os linguísticos. Durante muitos anos estas duas correntes
semióticas seguiram caminhos paralelos sem terem pontos de contacto, dado que partiam de princípios distintos. Actualmente, depois
de muitos anos de desencontro, estabeleceram pontes entre ambas as correntes.
Nos anos setenta a semiótica converteu-se numa disciplina importante no estudo da comunicação. Passou-se de uma semiótica que
estudava os sinais para uma semiótica discursiva. Durante muitos anos o objecto básico de estudo da semiótica centrou-se nos sinais.
As virtudes deste objecto eram claras. Tratava-se de uma entidade empírica, evidente e manejável. Assim os semióticos dedicam-se
ao árduo trabalho da sua classificação (Eco 1976). Apesar disso, rapidamente o objecto passou ao enunciado e daí ao discurso. Desta
forma aproximava-se da comunicação, já que na comunicação existem discursos, não simplesmente sinais. Devemos entender que o
sentido do discurso é mais que a soma dos significados dos sinais que o compõem, o sentido é global. Além disso, quando se fala de
discurso não nos referimos somente ao linguístico, mas também, por exemplo, ao televisivo. Por outro lado os limites do discurso são
determinados pelo próprio discurso. Por exemplo, o “Stop” numa estrada pode ser considerado um discurso, tal como uma novela de
muitas páginas.
Em 1973, Paolo Fabbri [13] , no seu conhecido artigo da revista Versus, “La communicazioni di masse in Italia: sguardo semiotico e
malocchio de la sociologia”, anunciava a decadência da perspectiva sociológica frente à semiótica no estudo da comunicação de
massas. Para Fabbri a sociologia tradicional entra em crise ao passar da ciência dos factos à ciência do sentido. Por isso a semiótica é
a disciplina mais idónea para o estudo da comunicação de massas.
Este confronto entre a semiótica e a sociologia no estudo da comunicação de massas deve ser matizado. Em primeiro lugar, não é
pertinente conceber um campo de estudo como um campo de batalha no qual se enfrentam diferentes disciplinas. Pelo contrário,
podem apreciar-se bastantes pontos em comum entre sociologia e semiótica, como veremos no último modelo exposto.
O modelo semiótico proposto por Umberto Eco [14] gira em torno do conceito de código e da descodificação do destinatário. Como se
pode apreciar tem uma clara influência do modelo de Shannon e Weaver, por um lado, e, por outro lado, retoma as preocupações
explícitas no modelo de Schramm sobre os efeitos das mensagens.
Gráfico 3. Fonte: Eco (1977)
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Neste modelo não se aborda a existência de um só código partilhado entre emissor e destinatário, mas sim uma multiplicidade de
códigos. No esquema de Shannon e Weaver o código era o elemento comum entre emissor e receptor, que permitia que se
produzisse a descodificação da mensagem. Para Eco (1977: 249) o processo de codificação e de descodificação complica-se: “a
própria multiplicidade de códigos e a infinita variedade de contextos e de circunstâncias faz com que uma mesma mensagem se possa
codificar a partir de pontos de vista diferentes e por referência a sistemas de convenções diferentes.” Além disso, os sub-códigos são
independentes no emissor e no receptor, considerando que seria condição necessária que houvesse uma certa coincidência no
código. Esta necessidade de uma certa coincidência de códigos revê-se muito claramente na comunicação intercultural [15] . Os subcódigos são vários: ideológico, estético, afectivo, etc. Todos estes sub-códigos incidem sobre os processos de codificação e
descodificação trazendo uma nova informação além da simples denotação da mensagem. Mas intervêm também na codificação e
descodificação os elementos contextuais e circunstanciais.
O contexto refere-se aos elementos do ambiente em que se produz a mensagem. Segundo o contexto em que aparece uma
mensagem, mantendo-se a expressão, poderá alterar totalmente o seu conteúdo. Recordemos a cena do filme Tempos Modernos na
qual Charles Chaplin recolhe uma bandeira vermelha que caiu de um camião carregado de madeira e, apesar dos seus esforços, não
consegue voltar a colocar, no veículo que se afasta, este sinal de perigo. Exactamente no momento em que Charlot permanece
vacilante com a bandeira na mão, surge atrás dele, dobrando a esquina, uma manifestação de trabalhadores que é, nesse instante,
dissolvida pela polícia. Inevitavelmente Charlot é detido pela polícia como porta-estandarte da revolução, já que neste contexto a
bandeira tem um conteúdo diferente do da situação original.
Fragmento de Tempos modernos, Charles Chaplin (1936)
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Pelo contrário, a circunstância refere-se às relações que se estabelecem entre o emissor e o destinatário. Por exemplo, se um emissor
envia a seguinte mensagem a um destinatário, o seu conteúdo pode ser muito diferente segundo duas possíveis circunstâncias:
“Desejo que tenhas toda a felicidade que mereces”. Se o emissor é a melhor amiga do destinatário o conteúdo é um, mas se o emissor
é a ex-namorada do destinatário, com quem acabou depois de uma tormentosa relação para se ir embora com a sua irmã,
poderíamos pensar que o significado é outro totalmente diferente.
Um elemento muito importante neste modelo é a diferenciação da mensagem como fonte de informação (expressão) e o texto
interpretado como o conteúdo da mensagem, depois do destinatário o ter interpretado de acordo com os seus códigos e sub-códigos,
e o contexto e as circunstâncias existentes.
Esta alteração no modelo é deveras relevante porque demonstra que o receptor leva a cabo uma leitura pessoal da mensagem. Eco
(1977: 252) assinala que se podem fazer descodificações aberrantes. Mas entendendo por “aberração” exclusivamente a traição às
intenções do emissor. Por exemplo, podem-se considerar, actualmente, absolutamente risíveis os discursos do general Franco ou
sentir uma íntima ternura para com o anoréctico vampiro da película Nosferatus, que dificilmente causaria medo a uma pessoa adulta,
como se pretendeu na época. Quer dizer, além da intencionalidade comunicativa do emissor temos as emoções não programadas por
este, mas que se produzem no receptor. Isto demonstra que, na comunicação, nem sempre é evidente a compreensão da mensagem
e/ou partilha do conteúdo da mensagem. Os estudos de recepção [16] demonstram, precisamente, como se negoceiam os significados
dos discursos compartilhados.
Este modelo preocupa-se principalmente com o processo de descodificação do receptor. Eco (1985: 175) preocupou-se com a forma
como a audiência reinterpreta as mensagens mediáticas, assim assinala: a) por si só os mass media não podem definir a forma pensar
de uma geração e b) se esta geração actua de forma diferente do sistema de conduta proposto pelos mass media, isto significa que o
conteúdo dos mesmos foi descodificado de forma diferente da dos produtores das mensagens e parte dos que os consumiam de outro
modo.
Este modelo de Eco baseia-se fundamentalmente numa teoria dos códigos. Mas, posteriormente fizeram-se uma série de
considerações (Eco e Fabbri 1978: 570-571): a) os destinatários não recebem mensagens sem conjuntos textuais, b) os destinatários
não comparam as mensagens com códigos sem um conjunto de práticas textuais depositadas e c) os destinatários não recebem
nunca uma só mensagem, mas muitas, tanto em sentido sincrónico como diacrónico. No sentido sincrónico porque um mesmo
acontecimento pode ser transmitido por diferentes mass media. No sentido diacrónico porque uma mesma informação é recebida de
forma redundante ainda que de um modo diferente ao longo do tempo. Em muitas ocasiões, um texto remete-nos, explícita ou
implicitamente, para outros textos, produzindo-se um processo de intertextualidade.
Eco (1987:10) recorda-nos que as teorias semióticas da recepção apareceram nos anos sessenta como reacção: a) ao endurecimento
de algumas metodologias estruturais que pretendiam dar conta do texto objectivamente como objecto linguístico, b) à rigidez de
algumas semânticas formais que pretendiam abstrair-se de qualquer referência a situações, a circunstâncias e ao contexto da emissão
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dos enunciados e c) o empirismo de algumas abordagens sociológicas.
Assim, o confronto disciplinar entre a semiótica e a sociologia, nos finais dos anos 80, dá lugar a um diálogo interdisciplinar. Isto faz
com que no campo da comunicação as fronteiras disciplinares se diluam. Em 1993, no Journal of Communication (Verão vol.43 nº3 e
Outono vol.43 nº4) abordou-se uma nova revisão do campo, uma década depois do seu número especial de 1983 “Ferment in the
Field” (A agitação no campo), Journal of Communication (Verão, vol.33 nº3). Neste caso fizeram-se dois números monográficos com o
título “The Future of the Field – Between Fragmentation and Cohesion” (O futuro no campo - entre a fragmentação e a coesão). Na
minha opinião, o fermento, a agitação no campo, permanece actualmente, mas desenham-se três cenários futuros (Shepherd
1993:88-91):
a) O indisciplinar: “Este ponto de vista defende a comunicação como um objectivo académico mas que não é em si mesmo uma
disciplina, já que é transdisciplinar [crossdisciplinaire]” (Shepherd 1993:88). Quer dizer, os estudos de comunicação são um campo em
que se produz a convergência de diferentes disciplinas.
b) O antidisciplinar: para Shepherd (1993:89- 90) está é a atitude mais pós-moderna. Nela se nega que a comunicação seja uma
disciplina, mas também se questiona que o sejam a filosofia ou a física. Assim o campo da comunicação não teria fronteiras e poderia
desenvolver-se em qualquer meio académico.
c) O disciplinar: os autores que defendem este ponto de vista tratam de estabelecer o estatuto disciplinar dos estudos de
comunicação, diferenciando-o de outras disciplinas.
Em relação aos modelos da comunicação, talvez o mais produtivo passe por uma postura que tente trazer o diálogo às disciplinas, que
até então se tinham virado as costas.
Acerca
de um diÁloGo disciplinar:
O
modelo socio-semiÓtico da comunicaÇÃo
Apesar dos diálogos interdisciplinares serem difíceis é cada vez mais evidente a necessidade de estabelecer pontes entre disciplinas.
Uma das propostas poderá passar por procurar os pontos de contacto entre, por exemplo, a sociologia e a semiótica. Assim se pode
considerar que uma sociologia interpretativa, que se centre no significado das acções sociais da vida quotidiana, e uma semiótica,
próxima da pragmática (Rodrigo 1995: 145-150), possam facilmente propor uma relação bidisciplinar socio-semiótica. Nesta linha está
o modelo socio-semiótico da comunicação (Rodrigo 1995: 101-145).
Gráfico 4. Fonte: Rodrigo (1995)
O modelo socio-semiótico mostra o processo da comunicação de massas como três fases interligadas: a produção, a circulação e o
consumo.
A produção corresponde à fase de criação do discurso dos mass media. A circulação acontece quando o discurso entra no mercado
competitivo da comunicação de massas. O consumo refere-se à utilização por parte de utilizadores destes discursos.
Em primeiro lugar, temos que assinalar a existência de condições político-económicas que correspondem a circunstâncias históricas
que vão permitir o desenvolvimento das indústrias comunicativas com determinadas características. Em cada momento histórico, nas
diferentes sociedades, estabelecem-se condições de ordem política e económica que vão permitir ou impedir o desenvolvimento dos
meios de comunicação com determinadas tendências.
Ainda que seja certo que as indústrias da comunicação possam influenciar as condições político-económicas, constituindo-se num
lobby, são estas últimas que desenham um cenário possível para a estrutura da comunicação. As características mais gerais que
podemos detectar na estrutura da comunicação ocidental são: a transnacionalização do mercado dos meios, a integração das
diferentes tecnologias da comunicação e a multiplicação de canais. A comunicação de massas caracteriza-se pelo carácter industrial
da sua produção. Nas empresas de comunicação, como em qualquer outro tipo de empresa há grupos de pressão e centros de
decisão política e económica. Mas também temos de ter em conta que ao ser um sistema produtivo profissionalizado os produtos
comunicativos se tornam homogéneos. Isto leva-nos a abordar o seguinte ponto do modelo: a organização produtiva. Há que
reconhecer que as indústrias da comunicação levam a cabo uma produção bem especial: produzem discursos. Discursos que, se
aceitarmos as funções clássicas, informam, educam e entretêm. Assim, poderíamos dizer que a lógica produtiva das organizações
produtoras são três. Há uma lógica informativa que procura a actualidade e que se baseia na credibilidade do meio para que estes
discursos cumpram a sua função. Há também uma lógica de serviço que, além das pressões do mercado ou das audiências, procura
objectivos educativos e de ajuda às comunidades. Por último há uma lógica do entretenimento que se centra no desenvolvimento de
uma cultura de massas. Cada organização produtora gera uma proporção distinta de cada uma destas três lógicas.
Assim, vão-se fazendo produtos comunicativos a partir das características tecno-comunicativas do meio e das estratégias discursivas
do programa. As características tecno-comunicativas de cada meio determinarão o plano de expressão do discurso, enquanto as
estratégias discursivas se vão situar no plano do conteúdo. Ainda que ambas estejam indissoluvelmente interrelacionadas, vamos
explicá-las separadamente. Cada meio de comunicação clássico – imprensa, rádio e televisão – tem umas características tecnocomunicativas próprias. Assim a palavra escrita da imprensa pode ampliar uma informação que a rádio e a televisão não podem
desenvolver, enquanto que a rádio permite estar em qualquer lugar que onde haja um telemóvel e a televisão tem o impacto das
imagens. A imprensa, a rádio e a televisão constroem os seus discursos mediante diferentes semioses sincréticas. Cada uma joga
com possibilidades expressivas diferentes.
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Para além disso, entrando no conteúdo do produto comunicativo, podemos descobrir estratégias discursivas que determinarão um
modelo de narração, um modelo de enunciador e um modelo de enunciatário. Cada narração tem implícita ou explicitamente um
sujeito de enunciação. Evidentemente não é a mesma coisa um locutor de um noticiário de televisão e o repórter que relata um jogo
de futebol. Cada modelo de relato reclamará um modelo de enunciatário distinto, ainda que em certas ocasiões haja algumas
variações interessantes nos modelos clássicos. Por exemplo, poder-se-á introduzir humor nas transmissões dos partidos, criando
géneros híbridos. Toda a narração tem, mesmo assim, implícita ou explicitamente um destinatário. O modelo de enunciatário aparece
no próprio discurso, por vezes explicitamente, como quando na rádio se estabelece um simulacro de relação dialógica com o suposto
ouvinte que escuta o programa ou, implicitamente, a partir das competências que o próprio texto outorga ao destinatário. Assim,
supõe-se que o ouvinte entende o idioma em que se faz o programa.
Na comunicação mediática estes produtos comunicativos sofrem uma intervenção tecnológica que facilita a sua difusão e que lhes
permite entrar no ecossistema comunicativo dos mass media. Evidentemente esta intervenção tecnológica tem uma incidência
comunicativa importante. Sem cair num determinismo tecnológico, é claro que cada tecnologia propicia determinados usos
comunicativos. Para não me alargar excessivamente só quero recordar a importância do processo de digitalização das comunicações.
A revolução digital supõe uma alteração importantíssima no ecossistema comunicativo, ainda não estejamos totalmente conscientes
do seu real alcance.
O ecossistema é o espaço no qual circulam os discursos dos mass media e no qual se desenvolvem relações complexas. Deparamonos com um sistema diferenciado, por um lado, mas bastante homogéneo, por outro. Neste ecossistema intervêm meios com
diferentes características tecno-comunicativas (imprensa, rádio, televisão…) e com políticas editoriais diferenciadas (por exemplo,
diários conservadores, liberais, etc.) [17] . Mas por outro lado é um sistema bastante homogéneo porque rege-se por uma lógica
produtiva e de consumo semelhante. Isto pode constatar-se, por exemplo, na tematização.
Será interessante ter em conta as relações de concorrência e cooperação que se produzem neste ecossistema. Por exemplo, no caso
da Internet. Por um lado, diz-se que pode ser o quarto meio que põe em crise os meios clássicos: rádio, imprensa e televisão. Mas, por
outro lado, os meios clássicos introduziram a Internet na sua prática produtiva e utilizam-no, por exemplo, para estar em contacto com
a sua audiência. Tal sucedeu ao longo da história dos meios de comunicação – a aparição de qualquer novo meio supõe uma
reestruturação do ecossistema em busca de um novo equilíbrio.
No âmbito do consumo, o modelo socio-semiótico quer deixar claro que não se trata de um modelo inerente. Quer dizer que no
processo comunicativo há elementos anteriores à comunicação que nela incidem. Nesta situação pré-comunicativa destacam-se três
aspectos: o contexto, a circunstância e a competência.
O contexto refere-se ao momento histórico e cultural de cada sociedade. As sociedades são corpos vivos e em cada momento
histórico vão interpretar os fenómenos sociais de uma forma diferente. Há a destacar que, em Espanha, a violência de género não
entrava nos discursos mediáticos, porque se considerava que fazia parte do foro privado. Assim, a interpretação de um mesmo
fenómeno, como a violência, pode mudar ao longo da história. Isto também se pode constatar no jornalismo bélico [18] .
A circunstância é a situação concreta de consumo da comunicação. As teorias da recepção evidenciam a importância de onde e com
quem se consomem os meios de comunicação. O uso dos meios de comunicação inscreve-se dentro de outras práticas culturais
quotidianas.
A competência comunicativa é o conhecimento e aptidão necessária para que um individuo possa utilizar todos os sistemas semióticos
que estão ao seu alcance como membro de uma determinada comunidade sociocultural. Teremos também que esclarecer que a
competência comunicativa de emissor não terá de coincidir necessariamente com a dos receptores, e a destes poderá ser, por sua
vez, diferente entre si. Também há que ter em conta a competência intertextual, já que nenhum texto se lê independentemente da
experiência que o leitor tem de outros textos. O receptor, mediante a sua enciclopédia, interpreta o discurso mediático.
A interpretação é um processo complexo realizada por cada um dos membros das audiências dos meios de comunicação. O autor do
discurso mediático propiciará uma interpretação do mesmo, no entanto isto não significa que, ainda que esta seja inicialmente a
prioritária, seja a interpretação feita pelo receptor. Faz-se, assim, uma negociação dos significados propostos.
Nos efeitos temos que salientar que, no modelo socio-semiótico, se diferenciam os efeitos da reacção, que noutros modelos seria o
efeito comportamental. A ideia é que os efeitos são cognitivos e emotivos e que estes efeitos podem dar lugar a uma reacção, que
seria o efeito comportamental. Diferencio-os porque me parece que estão em níveis distintos. O efeito comportamental necessita de
efeitos emotivos-cognitivos anteriores, mas não vice-versa. Finalmente, temos que determinar que as reacções podem ser individuais,
de grupo, institucionais e/ou da opinião pública, através dos meios de comunicação.
EpÍloGo
Como o leitor já sabe, existem outros modelos de comunicação. Inevitavelmente tive que fazer uma selecção. Como toda selecção,
baseia-se em determinados critérios. O que pretendi, como já referi no início, foi mostrar como ao longo da história da teoria da
comunicação se foram propondo diferentes modelos de comunicação, que estavam intimamente relacionados com os momentos
históricos dos estudos da comunicação e do seu futuro como disciplina. Creio que se pode apreciar claramente esta evolução e como
cada modelo faz uma aproximação diferenciada ao fenómeno da comunicação. Ainda que também se possa constatar a existência de
uma continuidade, já que existem notáveis relações entre todos eles.
Para compreender um fenómeno é necessário delimitá-lo, mostrando igualmente os elementos que se consideram significativos e
dignos de ser estudados. Cada modelo é uma aproximação ao fenómeno a partir de critérios de pertinência que vão dar uma nova
inteligibilidade determinada ao mesmo. Assim, segundo os aspectos que desejo estudar da comunicação, um modelo será mais
adequado que outro. Quer dizer, a adequação de um modelo dependerá dos objectivos de estudo.
Como escreve Muchielli (1998:65) “Nenhum deles pode pretender ter a exclusividade e por isso a ‘verdade’. Cada um traz uma
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Modelos da comunicação
Miquel Rodrigo
aproximação específica. Todos os modelos, este conjunto de teorias, de princípios e de práticas expostas a partir de esquemas,
funcionam como uns óculos que nos permitem ver a comunicação a partir de diferentes ângulos.” Os modelos têm diferentes olhares
sobre o mesmo objecto: a comunicação. Mas como se sabe, toda a forma de ver é uma forma de ocultar.
Finalizemos com uma narração de Bernardo Atxaga (1997: 10-11): “Pois sucedeu que em meados do século XII se criou uma nova,
quer dizer, que nasceu uma destas estrelas que agora mesmo vemos a partir daqui” (…) “Nasceu além disso, igual às outras estrelas,
depois de violentas explosões, provocando a aparição de sinais luminosos no céu; sinais que, pelos vistos, foram perfeitamente
visíveis a partir da Terra sem ajuda de qualquer instrumento. Pois bem: os astrónomos chineses observaram o fenómeno e deixaram
registo nos seus anais, coisa que também fizeram, segundo provaram os historiadores, os astrónomos persas e os astecas. E os
astrónomos europeus? Que fizeram os astrónomos de Florença ou de Paris? Pois não fizeram absolutamente nada. Não deixaram
registo do fenómeno. Não viram os sinais, ou não concederam importância ao que tinham visto. Por que razão? Por causa do
preconceito que tinham. Eles, os astrónomos europeus, eram aristotélicos, seguidores da Física de Aristóteles, e estavam convencidos
da imutabilidade das estrelas: as estrelas estavam rodeadas de uma substância incorruptível chamada éter e eram fixas, estavam
como que pregadas no céu. No que se referia a elas, nenhum movimento ou alteração de estado era possível. Cegados por esse
preconceito, ou essa previsão, não repararam em nada.” Certamente que o grande desafio que enfrenta uma disciplina é descobrir
qual é, em cada momento histórico, a sua “física aristotélica”, que a impede ver um fenómeno social que se produz quotidianamente
sem que os modelos sejam capazes de detectá-lo.
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Modelos da comunicação
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Miquel Rodrigo
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