Craniofaringioma
Transcrição
Craniofaringioma
SONESP - SOCIEDADE DE NEUROCIRURGIA DO ESTADO DE SÃO PAULO DIRETORIA 2005-2007 Presidente: Dr. Francisco Carlos de Andrade Neto 1º Vice: Dr. Juan Oscar Alarcon Adorno 2º Vice: Dr. Milton K. Shibata Secretário: Dr. Sergio Listik 2º Secretário: Dr. Rafi Felicio Bauab Dauar Tesoureiro: Dr. Emilio Fontoura 2º Tesoureiro: Dr. José Paulo Montemor COMISSÃO CIENTÍFICA Dra. Nelci Zanon-Collange Dr. José Oswaldo Oliveira Jr. Dr. Luiz Alcides Manreza Dr. Marco Antonio Zanini Dr. Wen Hung Tzu Dr. Mirto Prandini Dr. Aziz Rassi Neto Dr. Guilherme Carvalhal Ribas COMISSÃO DE DEFESA PROFISSIONAL Dr. Clemente Pereira Dr. Cid Célio Jayme Carvalhaes Dr. Modesto Cerioni Jr. Dr. Sylvio da Cunha Marrins Dr. Hiroshi Nakano Dr. Adriano Yacubian Fernandes COMISSÃO DE SINDICÂNCIA E JULGAMENTO Dr. José Antonio Ribeiro Dr. Marcelo Ferraz de Campos Dr. Antonio Sergio Barata Cavalcante Dr. Carlos Tadeu Parisi de Oliveira Dr. Walter Spinelli Junior Dr. José Lotfi Neto CONSELHO DELIBERATIVO Dr. Fernando M. Braga Dr. Benedicto O. Colli Dr. Antonio E Ferrari Dr. Luiz Alcides Manreza Dr. Eduardo Bianco Dr. Aziz Rassi Neto Dr. Juan Adorno Dr. Roberto C. Gabarra Dr. Miguel Giudicissi Filho Dr. Luiz Antonio Araújo Dias PRESIDENTE CONGRESSO NEUROCIRURGIÃO JOVEM Dr. Eduardo Vellutini EDITOR BOLETIM Dr. Roberto C. Gabarra EDITOR SITE Dr. Cláudio Correa EDITOR REVISTA Dr. Benedicto O. Colli PRESIDENTE REUNIÃO CONJUNTA SONESP E SOCIEDADE DA PROVÍNCIA DE BUENOS AIRES Dr. Evandro de Oliveira SECRETARIA PERMANENTE DA SONESP Rua Leandro Dupret, 204 – Conj. 52 – Vila Clementino – São Paulo – SP – CEP 04025-010 Tel.: (11) 5083-6119 Site: www.sonesp.com.br E-mail: [email protected] Apresentação O craniofaringioma é um tumor relativamente incomum, porém, o seu tratamento ainda é um dos assuntos mais controversos na literatura neurocirúrgica. Apesar de ser um tumor histologicamente benigno, o que acena com a possibilidade de cura, a sua ressecção completa, mesmo em mãos experientes, apresenta complicações e não afasta por completo a possibilidade de recidiva. A morbi-mortalidade associada a esta conduta impulsionou o desenvolvimento de novas opções terapêuticas como a radiocirurgia para pequenos tumores sólidos e a implantação de isótopos radioativos para tumores císticos e, posteriormente, a quimioterapia intratumoral com bleomicina e interferon alfa-2. Neste trabalho é apresentada uma revisão da literatura para o tratamento do craniofaringioma com uma análise detalhada dos vários procedimentos empregados, com ênfase na conduta multidisciplinar padronizada para alguns tipos específicos (císticos, por exemplo), mas com flexibilidade suficiente para ser individualizada para outros tipos como os predominantemente calcificados. Com base na revisão da literatura e na experiência pessoal da autora são propostas indicações para terapia intratumoral e indicações para a ressecção cirúrgica dos craniofaringiomas. Além disso, é apresentada, como apêndice, as condutas adotadas pela Unidade de Neuroendocrinologia da Divisão de Neurocirurgia Funcional do HCFMUSP, para as abordagens dos pacientes submetidos a tratamento cirúrgico das lesões selares e para-selares, o que pode ser muito útil para os neurocirurgiões que se propõem a tratar estas doenças. Benedicto Oscar Colli Editor Março de 2006 Craniofaringioma: Atualização Terapêutica Nelci Zanon-Collange Craniofaringioma: Atualização Terapêutica Nelci Zanon-Collange Mestra e Doutora pela Universidade Federal de São Paulo UNIFESP/EPM Especialização em Neurocirurgia Pediátrica na França - Marseille Neurocirurgiã Pediátrica e Preceptora dos Residentes de Neurocirurgia no Hospital Santa Marcelina-Itaquera e no Hospital da Beneficência Portuguesa de São Paulo Chefe do Plantão da Neurociurgia no Pronto Socorro do Hospital São Paulo / UNIFESP Neurocirurgiã Pediátrica no Hospital Samaritano e no Hospital Infantil Darcy Vargas. Craniofaringioma: Atualização Terapêutica Craniofaringioma: Atualização Terapêutica Nelci Zanon-Collange craniofaringioma, Sinopse ao mesmo tempo padronizada para alguns tipos específicos O craniofaringioma é um tumor (císticos, por exemplo), mas com flexibilidade relativamente incomum e poucos casos são suficiente para ser individualizada para outros tratados anualmente mesmo em grandes centros tipos como os predominantemente calcificados. de neurocirurgia. A conduta terapêutica do Neste trabalho é apresentada uma craniofaringioma permanece um dos assuntos revisão da literatura para o tratamento do mais controversos entre os neurocirurgiões craniofaringioma e acrescentada a experiência pediátricos. O objetivo final é o controle de um tumor histologicamente preservação das benigno funções com acumulada nas teses de Mestrado e Doutorado a apresentadas pela autora à UNIFESP/EPM, neurológicas, respectivamente em 1997 e 2003. comportamentais, visuais e endócrinas. A ressecção completa craniofaringiomas, de tratamento alguns ideal dos Palavras-chave tumores intracranianos, mesmo em experientes mãos neurocirúrgicas, complicações e não não é previne isenta 100% de das Craniofaringioma, tratamento cirúrgico, recidivas. A morbi-mortalidade associada a esta radioterapia, bleomicina, interferon alfa. conduta impulsionou o desenvolvimento de novas opções terapêuticas. Yasargil foi um dos pioneiros no uso do microscópio cirúrgico, Abstract possibilitando ressecções mais seguras. No início da década de 1980, a radiocirurgia começou a ser usada para tratar pequenos Craniopharyngiomas: therapeutic tumores sólidos, entre eles o craniofaringioma actualization. e isótopos radioativos para tratar craniofaringiomas císticos. Na década de 1990 Craniopharyngioma is uncommon houve o pico do entusiasmo para a cirurgia do tumor and a few cases are treated annually craniofaringioma. Posteriormente, alternativas even in the major neurosurgical centers. com tratamentos mais conservadores passaram Treatment of craniopharyngiomas remains one a ser estimuladas e publicações referentes á of the most controversial topics among técnica de quimioterapia intratumoral foram pediatrics neurosurgeons. The goal of this feitas por Takahashi et al. (1985) usando treatment is to control a histological benign bleomicina e por Cavalheiro et al., (2005), tumor with preservation of neurological, usando o interferon alfa-2. O desafio é manter behavioral, visual and endocrine functions. uma Total resection of some craniopharyngiomas, conduta multidisciplinar para o 5 Craniofaringioma: Atualização Terapêutica Nelci Zanon-Collange Keywords that is the ideal for intracranial tumors, even in expert hands is not performed without complications and do not prevent 100% the Craniopharyngioma, surgical treatment, recurrence. The morbi-mortality associated to radiotherapy, bleomicin, alpha-interferon. total resection stimulated the development of new therapeutic options. Yasargil was one of the pioneers to introduce the Introdução operative microscope in neurosurgery, allowing more safety resections. In the beginning of 1980th, O craniofaringioma é um tumor radiosurgery start to be used for treating small relativamente incomum e poucos casos são solid tumor including the craniopharyngioma tratados and the radioactive isotopes start to be used for centros de neurocirurgia. A conduta terapêutica treating cystic craniopharyngiomas. In the 1990 do decade there was the enthusiastic peak for assuntos surgical treatment of craniopharyngioma. After neurocirurgiões pediátricos (Tomita, 2005). O that, more conservative alternative treatments objetivo final é o controle de um tumor were more stimulated and reports on the histologicamente benigno com a preservação technique of intratumoral chemotherapy were das funções neurológicas, comportamentais, done by Takahashi et al. (1985) using visuais e endócrinas. A ressecção completa de bleomicin and by Cavalheiro et al., (2005), alguns craniofaringiomas, tratamento ideal dos using the alfa-2 interferon. The challenged is to tumores intracranianos, mesmo em experientes keep mãos a multidisciplinary approach for anualmente craniofaringioma mais complicações e for some specific types of tumors (cystics, for recidivas. example), but with flexibility enough for being for other types as Na that completa This paper presents a review of the on é previne tentativa de dos entre os isenta de 100% das evitar as do craniofaringioma, múltiplas alternativas terapêuticas foram propostas, mas nenhuma é universalmente aceita. Até o final experience da década de 1970, a ressecção completa era o accumulated in the Master and PhD thesis objetivo em todos os casos de craniofaringioma presented by the author to the UNIFESP/EPM, e nos casos em que era impossível, a respectively in 1997 and 2003. radioterapia convencional era o complemento. and treatment não não um of craniopharyngiomas the controversos grandes complicações advindas da ressecção cirúrgica predominantly calcified. literature em permanece neurocirúrgicas, craniopharyngiomas, at the same time adequate individualized mesmo the A morbi-mortalidade associada a esta conduta impulsionou o desenvolvimento de novas opções terapêuticas. Yasargil (Yasargil et al., 6 Craniofaringioma: Atualização Terapêutica Nelci Zanon-Collange 1990) foi um dos pioneiros no uso do apresentadas pela autora à UNIFESP/EPM, microscópio respectivamente em 1997 e 2003. cirúrgico, possibilitando ressecções mais seguras. No início da década de 1980, a radiocirurgia começou a ser usada Histologia para tratar pequenos tumores sólidos, entre eles o craniofaringioma e isótopos radioativos para tratar craniofaringiomas císticos. Na década de O craniofaringioma é um tumor da 1990 houve o pico do entusiasmo para a região selar derivado da bolsa de Rathke. Ele cirurgia do craniofaringioma (Saint Rose et al., está classificado pela Organização Mundial da 2005). Entre os neurocirurgiões pediátricos, os Saúde como grau I, caracterizado como tumor fundadores com da especialidade foram seus baixo ou incerto potencial de maiores ícones e publicaram os resultados de malignização ou malignidade limítrofe. A suas séries de craniofaringiomas tratados origem do craniofaringioma é ainda discutida cirurgicamente (Epstein, 1993; Hoffman, 1994; na literatura. Em 1899, Mott & Barrett (apud Choux et al., 1991; Pierre-Khan et al., 1988; Carmel, 1996), propuseram uma teoria segundo Caldarelli a qual esse tumor origina-se do ducto et começaram al., a 1998). estimular Eles mesmos com hipofisário ou bolsa de Rathke. Em 1904 tratamentos mais conservadores (Choux tratou Erdheim (apud Carmel, 1996), descreveu seus primeiros pacientes com bleomicina semelhanças intratumoral em 1990). Posteriormente outras craniofaringioma e os adamantinomas, tumores publicações de primários da região bucal. Alguns autores quimioterapia intratumoral foram feitas por descreveram diferenças histológicas entre os Takahashi et al. (1985) usando bleomicina e craniofaringiomas por Cavalheiro et al. (2005), usando o podendo indicar origens diversas (Kahn et al., interferon alfa-2. 1973). Para Pertuiset (1975), metade dos referentes alternativas á técnica histológicas de adultos entre e o crianças, O desafio é manter uma conduta tumores dos adultos é formada por epitélio multidisciplinar para o craniofaringioma, ao papilar escamoso. Em crianças, é descrita a mesmo tempo padronizada para alguns tipos presença do epitélio sem paliçadas e sem outras específicos (císticos, por exemplo), mas com características dos adamantinomas. flexibilidade suficiente para ser individualizada Histologicamente as lesões císticas para outros tipos como os predominantemente na região da sela turca são classificadas em calcificados. cistos da bolsa de Rathke, craniofaringiomas, Neste trabalho é apresentada uma cistos epidermóides e dermóides, cistos de revisão da literatura para o tratamento do aracnóide e cistos epiteliais. Harrisson et al. craniofaringioma e acrescentada a experiência (1994) ao estudarem 19 casos destas lesões acumulada nas teses de Mestrado e Doutorado 7 Craniofaringioma: Atualização Terapêutica epiteliais, publicaram Nelci Zanon-Collange as características distintas, ocasionalmente um único tumor pode histológicas que as diferenciam: ter focos separados de ambos os exemplares Cistos da bolsa de Rathke: parede do cisto histológicos (Petito et al., 1976). Nesses casos de lesões selares componente e epitelial os craniofaringiomas são classificados como supra-selares; não mistos invasivo; (Weiner et al., 1994). Os revestimento epitelial predominantemente adamantinomas são apanágios das crianças colunar, com vários graus de tamanhos dos (Arita et al., 1986). O craniofaringioma papilar cílios, e células globosas. ocorre quase exclusivamente no adulto, numa faixa etária de 40 anos até 45 anos (Adamson Cistos epidermóides: qualquer localização; componente epitelial não et al., 1990). Do ponto de vista citogenético, invasivo; estudos falharam em demonstrar ganhos ou revestido pelo epitélio escamoso com uma camada granular revestido também ceratohialina por um perdas linear; feixe na seqüência do DNA nos craniofaringiomas (Yoshimoto et al., 2004) de . queratina. Craniofaringiomas Adamantinomatosos Cistos dermóides: cistos revestidos por epitélio escamoso queratinizado; anexos da Macroscopicamente o pele presentes na parede do cisto; outros tumor é heterogêneo, com parte sólida e parte cística, tipos de tecido podem ser encontrados na superfície lisa, irregularmente lobulada. O parede do cisto. líquido em seu interior é de aspecto marrom ou Cistos epiteliais: não têm localização amarelado, contendo cristais de colesterol. As característica; cisto para-selar com epitélio áreas sólidas têm consistência granulosa, colunar ou cuboidal; sem evidências de contendo micro cistos formados de queratina e epitélio escamoso, formação de queratina cálcio (Gambarelli & Perez-Castillo, 1991). O ou invasão. Não há evidência histológica de tecido cerebral adjacente ao tumor é formado sua origem. por uma gliose densa, rica em fibras de Rosenthal. Ele contém pequenas ilhas de Craniofaringiomas: composto por epitélio escamoso ou componente epitelial adamantinomatoso; células tumorais, distantes do tumor principal, invadindo responsável por uma exérese completa muitas o parênquima cerebral adjacente; formações vezes de recidivas. queratina; camada granular difícil, explicando, em parte, as Craniofaringioma Papilar ceratohialina, não linear e descontínua. Embora existam dois tipos de O craniofaringiomas, o adamantinomatoso e o aspecto macroscópico deste tumor é de um cisto com paredes finas. papilar, descritos como lesões histologicamente (Giangaspero et al., 1984). Histologicamente o 8 Craniofaringioma: Atualização Terapêutica Nelci Zanon-Collange tumor é formado de cordões anastomóticos de papilar ocorre quase exclusivamente no adulto, epitélio pavimentoso no interior de um estroma numa faixa etária preferencial de 40 anos até de tecido conjuntivo frouxo. O epitélio achata- 45 anos (Adamson et al., 1990; Crotty et al., se progressivamente da periferia para o centro, 1995). O craniofaringioma não apresenta onde células prevalência quanto ao sexo (Choux et al., queratinizadas. Esse tipo de tumor não tem 1991). Os casos familiares são excepcionais nódulos queratóides, calcificações ou cristais (Vargas et al., 1981; Combelles et al., 1984; de colesterol. O tecido cerebral peritumoral é Green et al., 2002). são formado encontradas por uma numerosas gliose discreta, mas Quanto à localização, o desprovido de células tumorais, o que explica a craniofaringioma é menor freqüência de recidiva nesse tipo encontrado região tumoral (Gambarelli & Perez-Castillo, 1991). componente intra-selar. Tumores restritos à na mais freqüentemente supra-selar com região intra-selar representam apenas 5% dos Incidência e Localização casos. Extensão para a fossa anterior ocorre em 30%, para a fossa média em 23% e retroclival em 20% (Harwood-Nash, 1994) e para a fossa É a mais freqüente neoplasia posterior em 25% dos casos (Young et al., intracraniana não neuro-epitelial em crianças 1987). O craniofaringioma também pode ter (Adamson et al., 1990). Na literatura, a localizações ectópicas, tais como região pineal, incidência do craniofaringioma é variável, osso esfenóide, fissura silviana, faringe e podendo representar de 1,2% até 10% de todos ângulo pontocerebelar (Thapar & Kovacs, os tumores intracranianos (Adamson et al., 1998). É raro que o craniofaringioma seja 1990, Buning et al., 1998). Nas crianças puramente intraventricular (Rush et al., 1975); japonesas a incidência é o dobro daquela nestes casos subentende-se intraventricular encontrada no ocidente (Kuratsu & Ushio, como dentro do terceiro ventrículo pela 1996) proximidade anatômica. Somente 22 casos tinham A incidência do craniofaringioma sido descritos como unicamente em adultos e crianças foi comparada entre intraventriculares até 1990 (Ikezaki et al 3.202 pacientes envolvendo 30 séries relatadas (1990). Szeifert et al. (1990), descreveram o na literatura, tendo sido encontrados 41,15% caso de um craniofaringioma localizado dentro dos craniofaringiomas em crianças e 58,85% na do quarto ventrículo. população adulta (Choux et al., 1991). Raro, mas não excepcional, o craniofaringioma pode Manifestações Clínicas ter seu diagnóstico realizado intra-útero ou no período neonatal (Freeman et al., 1988; Müller- O craniofaringioma é responsável Scolden et al., 2000). O craniofaringioma por um conjunto de sinais e sintomas que 9 Craniofaringioma: Atualização Terapêutica envolvem Nelci Zanon-Collange predominantemente aspectos endócrinos, visuais e do sistema nervoso central. O déficit endócrino está mais associado ao craniofaringioma papilar do que o adamantinomatoso (Yasargil et al., 1990). A exploração das funções endócrinas revela déficit corticotrófico em 32%, B A déficit Figura 1. TC de crânio cortes axiais. A. Sem contraste, com um craniofaringioma cístico supra-selar e calcificações periféricas Figura B. Após injeção endovenosa de contraste, com um craniofaringioma cístico antes do tratamento. gonadotrófico em 65% em adultos, déficit somatotrófico em 70% em crianças, déficit tireotrófico em 30% e déficit da função Diagnóstico por Imagem antidiurética em 17% (Van Effenterre & Boch, 1997). Excepcionalmente O distúrbio visual é mais comum pode no adulto do que na criança. Em algumas séries 2001). Outras ou posteriores e a presença de calcificações na região visual alterado (Tabela 1). principal selar. sinal neurológico fatos ocorriam com tardio. O craniofaringioma tem aspectos por cefaléia e vômitos. O déficit cognitivo clássicos na tomografia computadorizada (TC) também pode estar presente, manifestado por Estes freqüência maior quando o diagnóstico era descrito é a hipertensão intracraniana, traduzida principalmente numa sela turca, destruição das clinóides anteriores séries evidenciam detalhadamente cada segmento O incidentalmente detectada uma modificação ou ampliação da alterações em 55,5% nas crianças e 66,6% dos (Ribeiro, inferido diagnóstico radiografia simples do crânio quando é as diferenças não são significantes, registrando adultos ser o apatia, distúrbios de crânio (Fitz, 1985). Na maioria das vezes a de localização é supra-selar e com calcificações memória e alteração do comportamento. presentes em até 90% dos casos. Estas Crise convulsiva tem incidência calcificações podem estar em forma de uma variando de 5% a 15% (Ribeiro 2001, fina camada semelhante a um anel envolvendo Matushita a o tumor como se fosse uma cápsula tênue. hipertensão intracraniana pode chegar a 25% Neste caso o conteúdo geralmente é líquido e a (Adeloye et al., 1988) imagem é hipodensa. Após injeção intravenosa 1991). Embora Quando a associada hidrocefalia esteja de contraste iodado, a captação é anelar e o presente em muitos casos, apenas 25% deles conteúdo necessitam de tratamento cirúrgico (Choux (Figura 1). 1991). 10 intracístico continua hipodenso Craniofaringioma: Atualização Terapêutica Nelci Zanon-Collange sólido. A porção sólida do craniofaringioma tem uma captação heterogênea do contraste paramagnético. As paredes finas das porções císticas do tumor geralmente captam contraste. A Figura 2 exemplifica um craniofaringioma B A gigante pré e pós-injeção intravenosa de contraste. Figura 2. RM do encéfalo, cortes sagitais mostrando recidiva de craniofariongioma gigante predominantemente cístico. A. Sem contraste. B. Com contraste. Nos casos em que o Avaliação Anterior Terapêutica craniofaringioma é sólido ou misto (parte cístico e parte sólido), as calcificações podem à Decisão ser grosseiras e com distribuição irregular pelo tumor. Nesses casos a imagem é heterogênea: Além da avaliação clínica de rotina hipodensa em algumas partes e hiperdensa em com anamnese, exame neurológico e exames outras. complementares de rotina, todos os tumores da Na ressonância magnética (RM), o craniofaringioma imagens cístico de hiposinal pode região selar, em especial os craniofaringiomas apresentar deverão ter avaliações endócrina e ou hipersinal nas oftalmológica. A avaliação endócrina, além da aquisições ponderadas em T1. Os cistos podem análise laboratorial de rotina (GH, FSH, LH, ser únicos ou múltiplos, mas respeitam o tecido T3. T4, T4 livre, testosterona, prolactina, cerebral adjacente com um limite bem definido. cortisol Nos casos em que o craniofaringioma cístico potássio), decidirá pela necessidade ou não de apresenta-se com hiposinal nas aquisições um megateste e deve incluir o RX das mãos ponderadas em T1 mais escuro do que para avaliar a idade óssea. Além disso, irá normalmente, o diagnóstico diferencial com o analisar astrocitoma pode ser difícil (Barkovich, 1995). medicamentoso substitutivo e orientar na coleta Os cistos da bolsa de Rathke são lesões císticas de exames laboratoriais no intra-operatório, no da região selar que também têm um hipersinal pós-operatório imediato, na UTI, durante todo nas seqüências ponderadas em T1, podendo o período de internação hospitalar e no assim ser confundidos com o craniofaringioma seguimento cístico. Embora os craniofaringiomas, tanto os oftalmológica de rotina inclui fundo de olho, císticos quanto os sólidos, tendam a ter um acuidade visual, campimetria e estudo da hipersinal nas seqüências ponderadas em T2, o motricidade componente cístico tende a apresentar um recentemente estuda-se a importância de um hipersinal mais evidente do que o componente exame 11 plasmático a e urinário, necessidade ambulatorial. ocular neuropsicológico de sódio e tratamento A extrínseca. avaliação Mais pré-operatório e, Craniofaringioma: Atualização Terapêutica periodicamente no ambulatorial para Nelci Zanon-Collange acompanhamento tratar colocava em evidência potencialmente todos os precocemente as alterações psicossociais nestes possíveis resíduos tumorais pós-operatórios. pacientes. Nem sempre conseguimos fazer a Van Effenterre & Boch (2002) mostraram que diferença das detectar manifestações craniofaringioma daquelas e hipófise, realizado de rotina no pós-operatório, ligadas ao naqueles advindas do microfragmentos de resíduos tumorais que tratamento. casos onde o cirurgião deixa invadiam o parênquima cerebral, a RM inicial realizada três meses após a cirurgia pode não multidisciplinar, neurológico, oftalmológico e detectá-los em até 20% dos casos. A estimativa endocrinológico continuará durante toda a vida do neurocirurgião quanto à qualidade da do ressecção no final da cirurgia, com o máximo Este acompanhamento paciente Dependendo com das craniofaringioma. necessidades de magnificação possível pelo microscópio específicas, ainda serão incluídos neurologistas clínicos ou cirúrgico, é o melhor parâmetro para pediátricos, psicólogos, assistentes sociais e a determinar se a ressecção do craniofaringioma enfermagem hospitalar e / ou domiciliar. foi total ou subtotal. Na série destes autores, a RM pós-operatória mostrou uma ressecção total de 79%, considerando uma ressecção total Tratamento Clássico na descrição cirúrgica, em apenas 59% dos pacientes. É muito antiga a discussão entre Evidências histológicas de invasão remoção total do craniofaringioma (Matson & cerebral não estão relacionadas com um maior Crigler, 1960) versus uma conduta mais índice de recidivas nos casos em que há uma conservadora com cirurgia parcial seguida de ressecção macroscópica total (Weiner et al., radioterapia (Kramer et al., 1968). 1994). Alguns autores relacionam um melhor Nas maiores séries pediátricas de prognóstico do craniofaringioma papilar em craniofaringiomas, a exegese foi possível em relação ao adamantinomatoso (Giangaspero et 55,3% a 90% (Yasargil et al., 1990, Choux et al., 1984; Adamson et al., 1990), enquanto al., 1991). As recidivas após tratamento outros cirúrgico do significantes (Weiner et al., 1994; Crotty et al., craniofaringioma variam de 7% a 53% 1995). A tentativa de ressecção completa do (Yasargil 1994; craniofaringioma pode resultar em dano para o Caldarelli et al., 1998; Sanford, 1994; Zuccaro eixo hipotálamo-hipofisário. O sucesso na et al., 1996). Em praticamente todas as grandes ressecção séries da literatura encontramos recidivas após relacionado à experiência do neurocirurgião remoção total do tumor (Carmel, 1996). Até (Yasargil et al., 1990; Hoffman, 1994; Carmel, 2002 acreditava-se que o exame de RM da 1996). com et al., ressecção 1990; completa Hoffman, 12 não total identificaram do diferenças craniofaringioma está Craniofaringioma: Atualização Terapêutica O Nelci Zanon-Collange pan-hipopituitarismo após a oftalmologistas e neuropsicólogos. A ressecção do craniofaringioma ocorreu em obesidade hipotalâmica está descrita em 14% a aproximadamente 80% dos casos (Paja et al., 62% dos pacientes operados (Sorva, 1988; De 1995). Nesta série, o infundíbulo foi ressecado Vryes et al., 2003). Esta obesidade é resultado em 48% dos casos, levando ao diabetes de uma alteração da regulação do apetite. insipidus em 100% desses pacientes. As lesões Fisiologicamente, maiores do que 6 cm de diâmetro tiveram pior endógena inibe a sensação de fome. No prognóstico. Considerando a mortalidade, os craniofaringioma, o hipotálamo é insensível a tumores com menos do que 2 cm de diâmetro leptina endógena e o nível sérico de leptina está têm mortalidade de 6,3% e os de tamanho aumentado (De Ville et al., 1996). maior do que 6 cm a produção de leptina de diâmetro tem A tendência atual é optar por mortalidade de 87,5% (Yasargil et al., 1990). abordagens menos agressivas no tratamento do Nas craniofaringioma. últimas décadas, craniofaringioma vem a mortalidade O diagnóstico precoce Num facilita uma melhor escolha terapêutica. Nos seguimento de 15 anos, a mortalidade foi de tumores pequenos, com achados incidentais 45% (Ribeiro 2001). De valores como 3,7% a envolvendo 17% (Pierre-Kahn et al., 1988; Choux et al., oftalmológicas e neurológicas normais, é 1991; Matushita, 1991) até próxima de zero possível optar-se por conduta expectante, desde (Albright et al., 2005; Marchal et al., 2005). O que controle hidro-eletrolítico adequado no pós- exames de imagem periódicos muito próximos. operatório (Choux et al., 1991). imediato decrescendo. do pode minimizar a com avaliações avaliações endocrinológicas, multidisciplinares e mortalidade. Após o tratamento cirúrgico, a maior causa de morbidade e mortalidade são os distúrbios endócrinos (Tomlinson et al., 2001). Radioterapia Convencional, Radiocirurgia e Isótopos Radioativos O ideal do acompanhamento são equipes especializadas de neuroendocrinologistas em unidades específicas de tratamento intensivo neurológico, tanto pediátrica quanto Alguns autores têm dúvidas quanto em à utilidade da radioterapia no craniofaringioma adultos. (Weiner et al., 1994); outros a consideram útil, Mesmo adequados logo com níveis após o principalmente após ressecção parcial do tumor hormonais tratamento, (Crotty et al., 1995; Mark et al., 1995; Voges et as al., 1997). deficiências podem manifestar-se ao longo dos anos subseqüentes. Essa é uma das razões da A dose total de radioterapia varia recomendação do acompanhamento em longo entre 45 Grays (Gy) até 65 Gy (Habrand et al., prazo, por equipe multidisciplinar envolvendo 1999). Porém, doses superiores a 51 Gy pode pediatras, causar clínicos, endocrinologistas, 13 danos hipotalâmicos irreversíveis Craniofaringioma: Atualização Terapêutica Nelci Zanon-Collange (Lusting 2003). Deficiência endócrina, neurite ópticas, nervos cranianos e retina (Habrand et óptica e demência foram descritas como al., 1999). complicações relacionadas à radioterapia Os (Carmel, 1979). A ocorrência de astrocitoma correspondem anaplásico de 5 até 14 anos após radioterapia craniofaringiomas (Miles, 1977; Cabezudo et para tratamento do craniofaringioma têm sido al., 1981). Embora séries mais recentes não relatada na literatura (Komaki et al., 1977; façam Sogg et al., 1978; Maat-Schieman et al., 1985; craniofaringiomas císticos e sólidos, o uso Ushio et al., 1987; Habrand et al., 1999; quase universal da ressonância magnética pré- Kranzinger et al., 2001). Recidivas têm sido tratamento pode ter alterado esta estatística descritas num percentual de 15% até 60% para mais ou para menos. A primeira série de (Pierre-Khan et al., 1988; Tomita, 1988; Wara pacientes com tumores cerebrais císticos et al., 1994; Caldarelli et al., 1998), sendo que a tratados por reservatórios subcutâneos foi maioria fica entre 20% até 30%. descrita por Ratcheson & Ommaya (1968), Várias séries enfatizam o impacto craniofaringiomas a 60% referência dos ao císticos casos percentual de de com o relato de 60 casos. O tratamento da radioterapia e os resultados mais favoráveis. endocavitário Para Regine et al. (1993), a sobrevida em 20 começou em 1971 com Leksell, que colocou anos é de 78% quando a criança recebe fósforo radioativo (P32) intratumoral usando radioterapia logo após a primeira cirurgia sem estereotaxia. Desde então, outros autores ressecção total e apenas 25%, quando a também publicaram craniofaringiomas tratados radioterapia é feita na recidiva. Esses achados com isótopos radioativos: Ytrium90 (Frank et não têm similar na população adulta. Em 2002, al., 1995) , Fósforo32 (Hasegawa et al., 2004) , Merchant et al. relataram que a cirurgia Renium186 (Berenger et al., 1993, Marchal et (radical?) causou maior déficit neurológico al., 2005). Os isótopos radioativos não são de permanente (visual, motor e sensitivo) e piores acesso universal e outras opções terapêuticas déficits endócrinos transitórios ou permanentes, foram como o diabetes insipidus, do que a cirurgia intratumoral de bleomicina (Takahashi, et al., limitada seguida de radioterapia. Marchal et al., 1985) e mais recentemente o interferon alfa-2. (2005), (Cavalheiro et al., 2005). descreveram que a radioterapia do craniofaringioma desenvolvidas como a cístico injeção conformacional 3D é mais segura do que a radioterapia convencional e poderá Bleomicina eventualmente substituí-la. Outra opção de tratamento para tumores pequenos ou residuais A bleomicina é um antibiótico e (< do que 2,5cm) é a radiocirurgia (Ulfrarsson antineoplásico e al., 2002), mantendo uma distância de 5 mm verticillus. de estruturas tais como tronco cerebral, vias 14 obtido Foi usado do Streptomyces como droga Craniofaringioma: Atualização Terapêutica Nelci Zanon-Collange anticancerígena descrita por Umezawa et al. complicação fatal (Savas et al., 2000). As doses (1966) contra carcinoma de células escamosas. da bleomicina utilizadas variaram de 1 a 10 mg Hoje a bleomicina é uma droga antineoplásica ao dia totalizando 42 a 180 mg de dose usada para o tratamento de muitos carcinomas e máxima. Os ciclos de bleomicina foram linfomas. Acredita-se que a ação farmacológica distribuídos em diários, dias alternados ou da bleomicina nestas doenças deva-se à divisão semanais. oxidativa no ácido desoxirribonucléico (DNA) Da série de pacientes originários do das células tumorais (Kuramochi et al., 1981). Brasil e da França, estudados na nossa Tese de Takeuchi (1976) relatou que a bleomicina Doutorado, 52 entraram no protocolo com aplicada intracisticamente diminuía a secreção inserção do cateter intratumoral. Somente 39 cística e causava a morte celular. pacientes receberam o tratamento proposto de Takahashi et al., em 1985, bleomicina intratumoral. A maioria das publicaram a primeira série de 7 pacientes com exclusões foi ligada a problemas técnicos de craniofaringiomas tratados com bleomicina má colocação do cateter, cateteres inadequados intratumoral. Desde então, outras 10 séries (por exemplo, cateteres ventriculares com foram publicadas totalizando 99 pacientes múltiplos orifícios em sua extremidade distal). (Takeuchi, 1976; Broggi et al., 1989; Framk et As recomendações para evitar os problemas al., 1995, Zanon, 1999; Hader et al., 2000; técnicos são: independentemente da técnica Mottolese et al., 2001; Jiang et al, 2002; cirúrgica utilizada, o cateter ideal é aquele com Hernandez et al., 2002; Park et al., 2002; um ou dois orifícios na extremidade distal ou, Cáceres, 2005). Num acompanhamento que na ausência deste, secionar os orifícios distais variou de 6 meses a 8 anos os resultados com do cateter do tipo ventricular reto com controle do craniofaringioma foram de 60 a múltiplos orifícios. Outra opção de cateter, 80% de quando colocado através de craniotomia, é o acompanhamento (Zanon, 1999; Mottolese et cateter ventricular de ângulo reto que, após al., 2001). Outros 7 casos foram publicados secção dos orifícios distais, deve ser invertido e individualmente (Haisa et al., 1994; Cavalheiro a porção angulada colocada dentro do tumor. et al., 1996; Sagoh et al., 1997; Rassi Neto et As vezes a porção angulada é muito longa e al., 1998; Savas et al., 1999 e 2000; Alen et al., deverá ser seccionada para não ficar colada na 2002), 4 deles com sucesso no tratamento parede contra-lateral do craniofaringioma. A (Cavalheiro et al., 1996; Rassi Neto et al., Figura 3 mostra a colocação do cateter por 1998; Savas et al., 1999; Alen et al., 2002), craniotomia pterional e microcirurgia. uma Figura 4 mostra a marcação estereotáxica para nas séries com complicação hipotalâmica, Haisa maior reversível et al., tempo (toxicidade 1994), uma A a colocação do cateter intratumoral. complicação assintomática (estenose da artéria Os reservatórios tipo Ommaya com cerebral posterior, Sagoh et al., 1997) e uma saída lateral são os mais indicados. O tamanho 15 Craniofaringioma: Atualização Terapêutica Nelci Zanon-Collange grande tem um amplo domo, com superfície contraste injetado através do reservatório plana para ampliar a área de punções (Figura subcutâneo invade o parênquima no trajeto do 5). Deve-se evitar a colocação do reservatório cateter na Figura 7A. Na Figura 7B, o contraste sob a cicatriz cirúrgica para facilitar as punções preenche o IV ventrículo. Estes exames de repetição e evitar problemas de pele. Os impedem reservatórios com saída inferior, dos tipos intratumoral Ommaya ou Rickhan, são mais indicados nas neurotóxico. a realização por ser um da bleomicina quimioterápico trepanações, sejam elas para estereotaxia ou para endoscopia Dez a quinze dias após a colocação do cateter (por craniotomia e microcirurgia, estereotaxia ou endoscopia) é realizado um A B C D teste com contraste intratumoral. Este teste pode ser realizado com radiografias simples de crânio, TC (contraste hidrossolúvel) ou RM (gadolíneo). Para a aplicação da bleomicina intratumoral, é necessário que o contraste fique Figura 3. Fotos microcirúrgicas. A. Da esquerda para a direita: nervo ótico direito, tumor, artéria carótida Interna direita. B. Cateter em ângulo reto colocado dentro do craniofaringioma. C. Cateter intratumoral passando através da dura-máter para conectarse ao reservatório subcutâneo. D. Reservatório de Ommaya colocado entre o osso e o pericrânio, fora do músculo temporal para facilitar a punção percutânea. retido dentro do tumor. A Figura 6 mostra o procedimento de aspiração percutânea do líquido tumoral antes da injeção do agente utilizado, seja contraste para teste do reservatório, bleomicina ou interferon. Este procedimento poderá ser efetuado ambulatorialmente. Deve ser lembrado que a assepsia deverá ser tão rigorosa como para um procedimento cirúrgico para diminuir as complicações infecciosas. Caso haja vazamento do contraste para o parênquima cerebral, ventrículos ou cisternas da base, a aplicação de bleomicina intratumoral estará contra-indicada por ser neurotóxica. Na Figura 7 vemos TCs de crânio realizadas 10 dias após a inserção do cateter mostrando extravazamento do Figura 4. Marcação estereotáxica para colocação do cateter intratumoral evitando-se a passagem pelos ventrículos laterais. contraste injetado. Nestas situações pode-se utilizar o interferon ou outra abordagem terapêutica. O 16 Craniofaringioma: Atualização Terapêutica A Nelci Zanon-Collange A B B Figura 5. Resevatórios A. De Ommaya com saída lateral, tamanho grande. B. Com menor área de punção. Neste caso, colocado por estereotaxia, não funcionou e foi substituído pelo da figura 5A através de craniotomia. Paciente sem nenhum déficit endócrino. C D F E A B Figura 9. RM do encéfalo, cortes sagitais em T1 A. Sem injeção endovenosa de contraste. Craniofaringioma antes do tratamento com bleomicina. B. Com injeção endovenosa de contraste. Craniofaringioma antes do tratamento com bleomicina. C.T1 com injeção endovenosa de contraste. Craniofaringioma após o término do 1º ciclo de bleomicina intratumoral.D. T2, recidiva cística do craniofaringioma 1 ano após tratamento com bleomicina intratumoral. E. RX simples de crânio, após injeção de contraste intratumoral sem extravazamento, antes do 2º ciclo de bleomicina. F. TC de crânio, após injeção de contraste intratumoral sem vazamento, antes do 2º ciclo de bleomicina. Figura 6 - A. Aspiração percutânea de um craniofaringioma cístico gigante utilizando escalpe nº 25. B. Fotografia do líquido tumoral (70 ml) aspirado do craniofaringioma gigante da Figura 2. A B Figura 7. TCs do crânio, cortes axiais, após a injeção de contraste intratumoral. A. Extrazamento de contraste no trajeto do cateter frontal direito. B. Extravazamento para e espaço ventricular: contraste no IV ventrículo. A A C B B D Figura 10. RM do encéfalo, cortes sagitais. A.T1 logo após término do 2º ciclo bleomicina. B. T2, 1 ano após 2º ciclo de bleomicina intratumoral. C. RM do encéfalo, cortes sagitais T1, 3 anos após 2º ciclo bleomicina intratumoral D. T1, 10 anos após 2º ciclo com bleomicina intratumoral. Figura 8 - A. Controle imediato com contraste intratumoral (escopia intra-operatória) mostrando que não houve extravasamento de contraste. B. Rx simples de crânio com contraste intratumoral no 15º pós-operatório de colocação do cateter itratumoral. Não há extravazamento de contraste fora do tumor. 17 Craniofaringioma: Atualização Terapêutica Nelci Zanon-Collange Na Figura 8A, realizada com a escopia no centro cirúrgico, vemos a colocação adequada do cateter intratumoral. Este teste deverá ser repetido entre o 10º e o 15º dia pósoperatório antes de iniciar o tratamento com B bleomicina intratumoral. Neste período ocorre A a cicatrização e a quase certeza do não vazamento durante o tratamento. Na Figura 8B, a radiografia simples do crânio realizado no 13º dia pós operatório mostra o contraste retido dentro do craniofaringioma. Neste momento pode-se confirmar esta imagem com radiografia simples do ou TC crânio utilizando este mesmo contraste injetado (Figura 9) ou C complementar o exame no dia seguinte com Figura 11. RM do encéfalo, cortes coronais. A. Craniofaringioma sem tratamento prévio em 1997. B. Mesmo paciente de A, após tratamento com bleomicina mostrando quase desaparecimento do craniofaringioma em 2005.C. Paciente 9 anos após o tratamento com bleomicina intratumoral recebendo apenas suplementação com hormônio tireóideo e cortisona. Na foto, com a filha de 1 ano em 2006. aplicação de gadolíneo intra-reservatório, seguido de uma RM do encéfalo. A Figura 10 apresenta um exemplo de um craniofaringioma pré e após o uso da bleomicina intratumoral. Um ano após o tratamento houve recrescimento tumoral (Figura 10C) detectado num exame de rotina. Novamente foi realizado o teste de permeabilidade do sistema implantado (Figura 9) e após um novo ciclo de tratamento com A bleomicina, o craniofaringioma permanece ausente nas imagens de controle seqüencial até 10 anos e sem déficit visual ou endócrino (Figura 10). Outro exemplo de um craniofaringioma tratado está na Figura 11. Em B 1997, um craniofaringioma cístico abriu o C quadro com hipertensão intracraniana (Figura Figura 12 - A. TC do crânio em cortes coronais mostrando um craniofaringioma calcificado numa adolescente que só tem queixa de obstrução nasal. B. RM do encéfalo, corte sagital da mesma paciente da figura A, um craniofaringioma com pequenos cistos e a maioria da lesão é sólida. C. RM do encéfalo corte sagital. Terceira recidiva de um craniofaringioma ressecado inicialmente, recidiva cística tratada com bleomicina intratumoral e nova recidiva sólida. 11A). Aos 11 anos ele foi tratado com bleomicina intratumoral, um único ciclo de 80mg. Desde então os exames mostraram diminuição progressiva do craniofaringioma 18 Craniofaringioma: Atualização Terapêutica Nelci Zanon-Collange (Figura 11B). Agora, aos 20 anos, tem uma cístico. A toxicidade foi reversível. Cavalheiro vida independente, apenas com reposição de et al. (2003), trataram 9 pacientes com hormônio tireóideo e hidrocortisona. Na Figura interferon alfa intratumoral (36 a 108 UM) nos 11C ele está com a filha de um ano no colo. A craniofaringiomas císticos, com redução e / ou maioria dos adolescentes com craniofaringioma desaparecimento das lesões. tem atraso na puberdade. A taxa de fertilidade Enquanto para o tratamento dos sem tratamento específico não é conhecida. De pequenos craniofaringiomas ou os grandes Vries déficit císticos temos várias opções menos invasivas gonadotrófico quando realizado o teste por de tratamento com preservação de parte da estimulação específica. função visual e endócrina, para os outros tipos (2003) A relata 82,5% dosagem desidrogenase de craniofaringiomas avançamos muito pouco láctica no líquido tumoral tem sido descrita nas últimas décadas. Nos exemplos das Figuras como um dos critérios de boa resposta do 12A e B, o craniofaringioma é calcificado e no tratamento intratumoral exemplo da Figura 12C, o maior componente é (Takahashi et al., 1985; Mottolese et al., 2001), sólido. Nestes casos a abordagem direta da mas não é consenso entre os autores (Zanon, lesão parece ser a melhor opção terapêutica no 1999) momento. Acreditamos que a melhor resposta com Os da de bleomicina resultados completos para o tratamento do craniofaringioma ainda deste está por vir. trabalho estão no prelo para publicação. Conclusões Uso do Interferon O interferon alfa é efetivo, in vivo e in vitro, contra várias lesões O tratamento do craniofaringioma malignas, & continua a desafiar os neurocirurgiões. Para Schuwartz, 1990). Ele pode ser administrado avaliar a efetividade de um tratamento é intratumoral ou por via endovenosa e é ativo necessário um segmento de longo prazo. Com contra o carcinoma de células escamosas da as pele interferon incluindo tumores (Lippman cerebrais et al., (Waldler 1992). O terapias ou intratumorais isótopos (bleomicina, radioativos) nos craniofaringioma e o carcinoma de células momentos em que há recidiva clínica ou escamosas têm a mesma origem embriológica imageológica, os ciclos de tratamento poderão (Jakacki et al., 2000). Este autor descreveu 12 ser repetidos, sem cirurgias adicionais, desde pacientes com recidiva de craniofaringioma que o sistema implantado esteja funcionante. tratados com interferon alfa subcutâneo. As Em 3 situações a ressecção cirúrgica ainda é a respostas melhor foram melhores nos opção no tratamento do craniofaringioma: quando não há componente craniofaringiomas maiores e com componente 19 Craniofaringioma: Atualização Terapêutica Nelci Zanon-Collange cístico, quando o cisto não diminui apesar do Broggi G, Giorgi C, Franzini D, Servello D, Solero CL. tratamento Preliminary intratumoral e quando o results of intracavitary treatment of componente sólido do tumor continua a crescer craniopharyngioma with bleomycin. J Neurosurg Sci apesar do tratamento intratumoral (Marchal et 33:145-8, 1989. al., 2005). Buning GR, Surawicz TS, Witman PA, Preston-Martin S, Davis F, Bruner JM. The descriptive epidemiology of craniopharyngioma. J Neurosurg 89:547-51, 1998. Referências Bibliográficas Cabezudo JM, Vaqueiro J, Areitio E, Martinez R, De Sola RG, Bravo G. Craniopharyngiomas: a critical approach to treatment. J Neurosurg 55:371-5, 1981. Adamson TE, Wiestler OD, Kleihues P, Yasargil MG. Cáceres A. Intracavitary therapeutic options in the Correlation of clinical and pathological features in management of cystic craniopharyngioma. Childs Nerv surgically treated craniopharyngiomas. J Neurosurg Syst 21:705-18, 2005. 73:12-7, 1990. Caldarelli M, Di Rocco E, Papacci F. Management of Adeloye A, Nottidge VA, Udi J. Craniopharyngioma in recurrent craniopharyngioma. Acta Neurochir 140:447- Nigerian children. Childs Nerv System 4:128-34, 1988. Albright AL, Hadjipanayis CG, Lunsford 54, 1998. AD, Carmel PW. Craniopharyngiomas in neurosurgery. Kondziolka D, Pollack IF, Adelson PD. Individualized treatment of pediatric craniopharyngioma. Childs Nerv Wilkins RH, Rengachary SS. New York: McGraw-Hill; Syst 21:649-54, 2005. 1996. p 1389-400. Cavalheiro S, Dastoli, P Silva NS, Toledo S, Lederman Alen JF, Boto GR, Lagares A, De La Lama A, Gomes H. Use of interferon alpha in intratumoral chemotherapy PA, Lobato RD. Intratumoral bleomycin as a treatment for cystic craniopharyngioma. Child’s Nerv Syst 21:719- for recurrent cystic craniopharyngioma. Case report and 23, 2003. review of the literature. Neuroch irurgia (Austr) 13:479- Cavalheiro S, Sparapani FVC, Franco JOB, Silva MC, 85, 2002. Arita N, Mori S, Ikeda T. Removal Braga of FM. chemotherapy craniopharyngioma by a unilateral interhemispheric Use for of bleomycin cystic in intratumoral craniopharyngioma. J Neurosurg 84:124-5, 1996. translaminalis approach. Operative procedure and post Chernikova S, Tzekov H, Karakostov V. Comparative operative management. In: Samii M, editor. Surgery in ophthalmologic studies on children and adults with and around the brain stem and the third ventricle. Berlin: craniopharyngioma. Ophthalmologica 201:201-5, 1990. Springer Verlag; 1986. p 389-95. Choux M, Lena G, Genitori L. Le craniopharyngiome de Barkovich AJ. Brain tumors of childhood. In: Barkovich l’enfant. Neurochirurgie 37 Suppl 1:15-20, 1991. AJ. Pediatric Neuroimaging. Nova York: Raven Press; Combelles G, Ythier H, Wemeau JL, Capoesn JP, 1995. p 381-92. Delandsheer JM, Christiaens JL. Craniopharyngiome Berenger N, Lebtahi R, Piketti ML, Munari C, Merienne dans une même fraterie. Neurochirurgie 30:347-9, 1984. L. Endocavitary treatment of craniopharyngioma cystic by 186-rhenium. Med Nucl 17:124-6, 1993. 20 Craniofaringioma: Atualização Terapêutica Nelci Zanon-Collange Crotty TB, Scheithauer BW, Young WF Jr, Davis DH, craniopharyngioma: a 25-year experience and review of Shaw the literature. Int J Radiation Oncology Biol Phys EG, Miller GM, Burger PC. Papillary craniopharyngioma: a clinicopathological study of 48 44(2):255-63, 1999. cases. J Neurosurg 83:206-14, 1995. Hader WJ, Steinbok P, Hukin J, Fryer C. Intratumoral De Ville CJ, Grant DB, Kendall BE, Neville BGR, therapy with bleomycin for cystic craniopharyngiomas Stanhope R, Watkins KE, Hayward RD. Management of in children. Ped Neurosurg 33:211-8, 2000. childhood craniopharyngioma: can the morbidity of Haisa T, Ueki K, Yoshida S. Toxic effects of bleomycin radical surgery be predicted? J Neurosurg 85:73-81, on the hypothalamus following its administration into a 1996. cystic craniopharyngioma. Brit J Neurosurg 8:747-50, De Vries L, Lazar L, Phillip M. Craniopharyngioma: 1994. presentation and endocrine sequelae in 36 children. J Harrisson MJ, Morgello S, Post KD. Epithelial cysts Pediatr Endocrinol Metab 16:110-103, 2003. lesions of the sellar and parasellar region: a continuum Epstein FJ, Handler MH. Craniopharyngioma: the of ectodermal derivates? J Neurosurg 80:1018-25, 1994. answer. Proc Symposium, New York, NY, December 17- Harwood-Nasch 19,1993. Pediatr Neurosurg (Suppl 1)1-132, 1994. craniopharyngioma. Ped Neurosurg 21 Suppl 1:2-10, Fitz CR. Neoplasic disease. In: Gonzales CF, Grosman 1994. CB, Masdeu JC, eds. Head and spine imaging. New Hasegawa T, Kondziolka A, Hadjipanayis CG, Lunsford York: Willey; 1985. p 385-410. LD. Management of cystic craniopharyngiomas with Frank F, Fabrizzi AP, Frank G, Fioravante A. phosphorus-32 intracavitary irradiation. Neurosurgery Stereotactic 54:843-20, 2004. management of craniopharyngiomas. DC. Neuroimaging of childhood Stereotactic Fun Neurosurg 65:176-83, 1995. Hernandes J, Morel C, Gonzales A, Garcia S, Hernandes Freeman TB, Abati AD, Topsis J, Snyder JR, Beneck D, M, Zarate A. Uso de la bleomicina mediante un Lehman LB. Neonatal craniopharyngioma. N Y State J reservorio local en pacientes con craneofaringiomas Med 88:81-3, 1988. quísticos. Med Int Mex 18:272-7, 2002. Gambarelli D, Perez-Castillo M. Histogenèse et Hoffman HJ. Surgical management of anatomopathologie. Le craniopharyngiome de l’enfant. craniopharyngioma. Ped Neurosurg 21 Suppl:144-9, Neurochirurgie 37 Suppl:21-30, 1991. 1994. Giangaspero F, Burger PC, Osborne DR, Stein RB. Ikezaki K, Fujii K, Kishikawa T. Magnetic resonance Suprasellar papillary squamous epithelioma (“papillary imagin craniopharyngioma”). Am J Surg Pathol 8:57-64; 1984. Neuroradiology 1990;32:247-9. of an intraventricular craniopharyngioma. Green AL, Yeh JS, Dias PS. Craniopharyngioma in a Jakaki RI, Cohen B, Jamison C, Matheus VP, Arenson mother and daughter. Acta Neurochir (Wien) 144:403-4, E, Longee DC, Hilden J, Cornelius A, Needle M, 2002. Heilman D, Boaz JC, Luerssen TG. Phase II evaluation Habrand JL, Ganry O, Couanet D, Rouxel V, Levy- of Piedbois C, Pierre-Kahn A, Kalifa C. The role of radiation therapy in the management interferon--2a for progressive or recurrent craniopharyngiomas. J Neurosurg 92:255-60, 2000. of 21 Craniofaringioma: Atualização Terapêutica Nelci Zanon-Collange Jiang R, Liu Z, Zhu C. Preliminary exploration of the Maat-Schieman MLC, Bots GTAM, Thomeer RTWM, clinical effect of bleomycin on craniopharyngiomas. Vielvoye Stereotact Func Neurosurg 2:84-94, 2002. radiotherapy for craniopharyngioma. Br J Radiol Kahn EA, Gosch HH, Seeger JF, Hicks SP. Forty-five 58:480-2, 1985;. years experience with craniopharyngiomas. Surg Neurol Marchal JC, Klein O, Thouvenot P, Bernier V, Moret C, 1:5-12, 1973. Chastagner Komaki S, Komaki R, Choi H, Correa-Raz F. Radiation- craniofaryngioma in children: ways and means. Childs and Nerv Syst 21:655-9, 2005. drug induced intracranial neoplasm with GJ. Malignant P. astrocytoma Individualized following treatment of angiographic demonstration. Neurol Med Chir (Tokyo) Maira G, Anile C, Albanese A, Cabezas D, Pardi F, 17:55-62, 1977. Vignati A. The role of transessphenoidal surgery in the Kramer S, Southard M, Mansfield LM. Radiotherapy in treatment of craniopharyngiomas. J Neurosurg 100:445- the craniopharyngiomas. AJR 103:44-52, 1968. 51, 2004. Kranzinger M, Jones N, Rittinger O, Pilz P, Piotrowski Matson WP, Manzl M, Galvan G, Kogelnik HD. Malignant craniopharyngioma. Ann Surg 152:377-90, 1960. glioma as a secondary malignant neoplasm after Matushita H. Tratamento cirúrgico de craniofaringiomas radiation therapy for craniopharyngioma: report of a case em crianças e adolescentes. Avaliação de fatores de risco and review of reported cases. Onkologie 24:66-72, 2001. operatório [tese]. São Paulo: Universidade de São Paulo; Kuramochi H, Takahasi K, Takita T, Umezzawa H. An 1991. active intermediate formed in the reaction of bleomycin- Merchant TE, Kiehna EN, Sanford RA, Mulhern RK, Fe(II) complex with oxygen. J Antibiot 34:576-82, 1981. Thompson SJ, Wilson MW, Lusting RH, Kun LE. Kuratsu J, Ushio Y. Epidemiological study of primary Craniopharyngioma: The St. Jude Children’s Research intracranial tumors in childhood. A population-base Hospital experience 1984-2001. Int J Radiation Oncol survey in Kuramamoto Prefecture. Japan Ped Neurosurg Biol Phys 53:533-42, 2002. 25:240-6, 1996. Miles J. Stump drainage: a palliative manoeuvre for the Leksell L. Stereotaxis and radiosurgery: an operative treatment of craniopharyngioma. J Neurol Neurosurg system. Thomas Springfield; 1971. p 159. Psychiatr 40:120-6, 1977. Lippman SM, Parkinson DR, Itri LM. 13-cis retinoic Wilkins RH, Rengachary SS. New York: McGraw-Hill; acid and interferon -2: effective combination therapy 1996. p 1389-400. for advanced squamous cell carcinoma of the skin. J Natl Mottolese C, Stan H, Hermier M, Berlier P, Concert J, Cancer Inst 84:235-41, 1992. Frappaz D, Lapras C. Intracystic chemotherapy with Lusting RH, Post SR, Srivannaboon K, Rose SR, Danish bleomycin in the treatment of craniopharyngiomas. RK, Burghen GA, Xiong X, Wu S, Mercnant TE. Risk Child’s Nerv Syst 17:724-30, 2001. factors for the development of obesity in children Müller-Scolden J, Lehrnbecher T, Müller HL, Bensch J, surviving brain tumors. J Clin Endocrinol Metab 88:611- Hengen RH, Sörensen N, Von Stockhausen HB. Radical 6, 2003. surgery in a neonate with craniopharyngioma. Ped DD, Crigler JF. Neurosurg 33:265-9, 2000. 22 Radical treatment of Craniofaringioma: Atualização Terapêutica Nelci Zanon-Collange Paja M, Lucas T, Garcia-Uria J, Salamé F, Barceló B, Rush JL, Kusske JA, De Feo DR. Intraventricular Estrada J. Hypothalamic-pituitary dysfunction in patients craniofaringioma. Neurology 25:1094-6 , 1975. with craniopharyngioma. Clin Endocr 42:467-73, 1995. Saint Rose C, Puget S, Wray A, Zerah M, Grill J, Park DH, Park JY, Kim JH, Chung YG, Lee HK, Lee Brauner KC, Sun JK. Outcome of postoperative intratumoral Craniopharyngioma: bleomycin injection for cystic craniopharyngioma. J management. Childs Nerv System 21:691-5, 2005. Korean Med Sci 17:254-9, 2002. Sagoh M, Murakami H, Hirose Y, Mayanagi K. Pertuiset B. Craniopharyngiomas. In: Handbook of Occlusive cerebrovasculopathy after internal radiation Clinical Neurology. vol 18 Vinken. Tumors of the brain and bleomycin therapy for craniopharyngioma - case and skull, part III. Amsterdam: North Holland. Ed PJ, report. Neurol Med Chir (Tokyo) 37(12):920-3 , 1997. Bruyn GW; 1975. p 531-72. Sanford R. Craniopharyngioma: results of survey of the Petito CK, De Girolami U, Earle R, Boddaert the N, Pierre-Kahn pendulum of A. surgical American Society of Pediatric Neurosurgery. Ped KM. Craniopharyngiomas: a clinical and pathological review. Neurosurg 21 Suppl 1:39-43, 1994;. Cancer 37:1944-52, 1976. Savas A, Arasil F, Batay M, Selecuki M, Kanpolat Y. Pierre-Kahn A, Braunner R, Sainte-Rose C, Gangemi Intracavitary MA, craniopharyngioma with bleomycin. Acta Neurochir Rappaport R, Hirsh JF. Traitement des chemotherapy of policystic craniopharyngomes de l’enfant. Analyse rétrospective de (Wien) 141:547-9, 1999. 50 observations. Arch Fr Pediatr 45:163-7, 1988. Savas A, Erdem A, Tun K, Kanpolat Y. Fatal toxic Rajan B, Ashley S, Gorman C, Jose CC, Horwich A, effect of bleomycin on brain tissue after intracystic Bloom HJ, Marsh H, Brada M. Craniopharyngioma - a chemotherapy for a craniopharyngioma: case report. long term results following limited surgery and Neurosurgery 46:213-7, 2000. radiotherapy. Radiother Oncol 26:1-10, 1993;. Sogg RL, Donaldson SS, Yorke CH. Malignant Rassi Neto A, Oliveira CA, Ferraz F, Madeira M. astrocytoma Craniofaringioma. craniopharyngioma. J Neurosurg 48:622-7, 1978. Tratamento intratumoral com following radiotherapy of a bleomicina - relato de caso. J Bras Neurocir 9:28-31, Sorva R. Children with craniopharyngioma. Early 1998. growth failure and rapid postoperative weight gain. Acta Ratcheson RA, Ommaya AK. Experience with the Paediatr Scand 77:587-92, 1988. subcutaneous cerebrospinal-fluid reservoir: preliminary Szeifert GT, Julow J, Slowik K, Lányi F, Pásztor E. report of 60 cases. N Engl J Med 279:1025-31, 1968. Pathological changes in cystic craniopharyngiomas Regine WC, Mohiuuddin M, Kramer S. Long term following intracavital 90 yttrium treatment. Acta results of pediatric and adult craniopharyngiomas treated Neurochir (Wien) 102:14-8, 1990. with combined surgery and radiation. Radiother Oncol Takahashi H, Shozo N, Shimura T. Evaluation of 27:13-21, 1993. postoperative Ribeiro PRJ. Craniofaringiomas: complicações cirúrgicas craniopharyngioma in children. J Neurosurg 62:120-7, [tese]. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo; 1985. 2001. 23 injection of bleomycin for Craniofaringioma: Atualização Terapêutica Nelci Zanon-Collange Takeuchi K. Effect of bleomycin on brain tumors. In: Voges J, Sturm V, Lehrke R, Truer H, Gauss C, Berthold Carter SK, Ichikawa T, Mathe G. Fundamental and F. Cystic craniopharyngioma: long term results after clinical studies of bleomycin. Gann Monograph on intracavitary irradiation with stereotacticly applied Cancer Research Nº 19. Tokyo. Japan Scientific colloidal Societies Press. 1976. p 117-32. Neurosurgery 35:1001-10, 1997. Thapar K, Kovacs K. Neoplasm of the sellar region. In: Wara WM, Sneed PK, Larson DA. The role of radiation Bigner DD, Mc Lendon RE, Bruner J, eds. Russell and therapy in the treatment of craniopharyngioma. Ped Rubinstein’s pathology of tumours of the nervous system Neurosurg 21(1):98-100, 1994. 6th ed. Arnold, Londres; 1998. p 561-677. Weiner HL, Wisiff JH, Rosemberg ME, Kepersmirh MJ, Tomita T. Editorial on current surgical management of Cohen H, Zagzag D, Shminski M, Flam ES, Epstein FJ, craniopharyngioma. Childs Nerv Syst 21:604-5, 2005. Miller DC. Craniopharyngiomas: a clinicopathological Tomlinson JW, Holden N, Hills RK, Wheatley K, analysis of factors predictive of recurrence and Clayton RN, Bates AS, Sheppard MC, Stewart PM. functional outcome. Neurosurgery 35:1001-10, 1994. Association and Yasargil MG, Curcic M, Kis M, Siegenthaler G, Teddy hypopituitarism. West midlands prospective hypopitui- PJ, Roth P. Total removal of craniopharyngioma. tary study group. Lancet 357(9254):425-431, 2001. Approaches and long-term results in 144 patients. J Ulfrarsson E, Lindquist C, Roberts M, Rhan T, Neurosurg 73:3-11, 1990. Lindquist M, Thoren M, Lippitz B. Gama Knife Yoshimoto M, Toledo SRC, Silva NS, Bayani J, radiosurgery for craniopharyngiomas: long-term results Bertozzi APAP, Stavale JN, Cavalheiro S, Andrade in the first Swedish patients. J Neurosurg 97:613-22, JAD, Zielenska M, Squire JA. Comparative genomic 2002. hybridization analysis of pediatric adamantinomatous Umezawa H, Maeda K, Takeuchi T. New antibiotics, craniopharyngiomas and a review of literature. J bleomycin A and B. J Antibiot (A) 19:200-9, 1966. Neurosurg 101(suppl 1):85-90, 2004. Ushio Y, Arita N, Yoshimine T, Nagatami M, Mogami Young SC, Zimmerman RA, Nowell MA. Giant cyst H. craniopharyngiomas. Neuroradiology 29:468-73, 1987. between Glioblastoma premature after mortality radiotherapy for beta-emitting radioactive sources. craniopharyngioma: case report. Neurosurgery 21:33-8; Zanon N. Craniofaringiomas: quimioterapia intratumoral 1987. com bleomicina em crianças e adolescentes [tese]. São Vadler s, Schwartz EL. Antineoplastic activity of the Paulo: Universidade Federal de São Paulo; 1997. combination of interferon and cytotoxic agents against Zanon experimental and human malignancies. A review. craniopharyngioma. In: Choux M, Di Rocco E, Hockley Cancer Res 50:3473-86, 1990. A, Van Effenterre R, Boch AL. Craniopharyngioma in Churchill Livingstone; 1999. p 541-2. adults and children: a study of 122 surgical cases. J Zuccaro G, Jaimovich R, Mantese B. Complications in Neurosurg 97:3-11, 2002. paediatric craniopharyngioma treatment. Child’s Nerv Vargas JR, Pino JÁ, Murad TM. Craniopharyngioma in Syst 12:385-91, 1996. two siblings. JAMA 16:1807-8, 1981. 24 N. Walker Bleomycin M. Pediatric treatment of Neurosurgery. cystic London: Craniofaringioma: Atualização Terapêutica Nelci Zanon-Collange Agradecimentos: Ao Dr. Maurice Choux que foi o mentor e Co-orientador do trabalho. Agradeço aos colegas neurocirurgiões que gentilmente cederam os pacientes por eles tratados para as minhas teses de Mestrado e Doutorado e parte deste material foi usado nesta publicação: Da França, Dr. Alain Pierre-Kahn, Dr. Christian Saint Rose, Dr. Michel Zerah do Serviço de Neurocirurgia Pediátrica do Necker Enfants Malades de Paris. De Goiânia, Dr. Paulo Ronaldo Jubé Ribeiro. De Belo Horizonte: Dr. Gervásio Teles Cardoso de Carvalho e Dr. Geraldo Pianetti Filho. De São Paulo, Dr. Mario Siqueira e Dr. Sergio Cavalheiro. Ao Dr. Miguel Giudicissi Filho pela revisão final do texto. Agradecimento especial à CAPES que patrocinou parcialmente o doutorado sanduíche na França. 25 Craniofaringioma: Atualização Terapêutica Nelci Zanon-Collange Tabela 1. Alterações visuais em pacientes com cranifaringiomas, adultos e crianças (Chernikova et al., 1990). Função Visual Alterada Crianças Adultos Redução da acuidade visual 69,6% 81,8% Déficit de campo visual 67,7% 81,8% Papiledema 22% 12,5% Atrofia óptica 52% 62,5% Paresia de nervos cranianos 12% 16,7% Nistagmo 8% 4,2% 26 Craniofaringioma: Atualização Terapêutica Nelci Zanon-Collange Anexo I Rotina do Serviço de Neuroendócrino da USP Condutas adotadas pela Unidade de Neuroendocrinologia da Divisão de Neurocirurgia Funcional do HCFMUSP Dra. Nina Musolino, Dr. Malebranche Cunha Neto, Dra. Jandimare de Melo ABORDAGEM PERI-OPERATÓRIA DOS PACIENTES SUBMETIDOS À CIRURGIA HIPOFISÁRIA PELA VIA TRANSESFENOIDAL 1. EM TODOS OS CASOS: - Sempre deixar na prescrição: Hidrocortisona (Solucortef) 200mg IV se houver hipotensão arterial sintomática ou vômitos persistentes. - Desmopressina (DDAVP) 1/8 ampola SC se houver sede intensa, associada à diurese > 600ml/2h, após a coleta de sódio. Nunca administrar DDAVP se houver hipotermia. 2. NO INTRA-OPERATÓRIO E NO PÓS-OPERATÓRIO A. Exceto Doença de Cushing: - Se houver grande manipulação cirúrgica: tumores duros ou sangrantes ou cortisol basal pré-cirúrgico < 9mcg/dl, fazer hidrocortisona 200mg IV no intra-operatório e manter hidrocortisona 50mg a cada 8 horas. A partir do primeiro dia pós-operatório passa-se para prednisona. - 1º PO iniciar prednisona 5mg VO 2x ao dia (8:00h, 16:00h). - 2º e 3º PO passar para prednisona 5mg às 8:00h e 2,5mg às 16:00h. - 4º PO passar para prednisona 5mg às 8:00h e manter após a alta. - Ambulatorialmente suspender a prednisona por 5 dias para reavaliar a dosagem do cortisol. - Nos microadenomas ou pacientes com cortisol pré-operatório >13 mcg/dl, não administrar glicocorticóide no intra e pós-operatório. - Se cortisol 9 a 13 mcg/dl, administrar hidrocortisona (Solucortef) 200mg IV na sala de cirurgia e 50 mg IV de 8/8H, apenas no pós-operatório imediato. B. Nos casos de Doença de Cushing: - Não há necessidade de glicorticóide no intra-operatório nem no PO imediato. - 1º PO iniciar prednisona 10mg VO às 8:00h e 5mg às 16:00h e 22:00h. - 2º PO prednisona 10mg VO às 8:00h e 5mg às 16:00h - 3º PO prednisona 5mg VO às 8:00h e 5mg às 16:00h - 4º PO prednisona 5mg VO às 8:00h (não dar à tarde) - 5º PO colher cortisol antes da dose de prednisona da manhã e dar alta com prednisona 5mg às 8:00 e 2,5mg às 16:00h 3. NA INTERNAÇÃO. Checar: - T4L (para indicar reposição em caso de hipopituitarismo) - Prolactina (para afastar prolactinoma) - Último cortisol dosado para decisão de administração de corticosteróide intra e pós-operatório. Colher cortisol na admissão, se não estiver em uso de glicocorticóide 4. ALTA HOSPITALAR (5º PO) 27 Craniofaringioma: Atualização Terapêutica Nelci Zanon-Collange - No dia da alta colher sódio, cortisol, além do hormônio que o tumor produz (prolactina, nos prolactinomas, GH e IGF1 nos acromegálicos, FSH e LH nos gonadotrofinomas e cortisol nos pacientes com doença de Cushing). - No dia da alta todos os pacientes deverão receber o impresso de orientações pós-operatórias. Os casos de outros serviços deverão levar cópia do resumo de alta e da descrição cirúrgica para seus médicos. Nas cirurgias transcranianas em que há risco de hipopituitarismo (doença hipotálamo-hipofisária), colher os exames hormonais basais antes do início de glicocorticóide. Repor tiroxina quando necessário. Durante o uso de dexametasona, comum nas craniotomias, não é necessário o uso de outros glicocorticóides. Após a redução progressiva da dexametasona, passar para reposição com prednisona 5mg/8hs e 2,5 mg às16hs em adultos. OBS: Para crianças a partir de 9 anos: A dose de glicocorticóide intra operatória e no PO imediato é a mesma utilizada para os adultos, a reposição na alta pode ser iniciada com prednisona 2,5 mg/manhã ou 5mg para crianças maiores. Crianças menores ou com baixo peso devem ter avaliação de endócrino-pediatra. 28