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EDITORIAL
EDITORIAL
O editorial deste número da Revista Saúde e Ambiente
tem dois olhares, um voltado para o passado e outro vislumbrando o futuro. Como ambas as miradas são feitas a
partir da visão do editor e de uma dada condição do presente, certamente são passíveis de outras interpretações,
pelos distintos modos de ver dos múltiplos leitores e também à medida que o contexto atual se modifica, em sua
permanente dinâmica.
O olhar para o passado busca ressaltar o papel que o
Programa de Pós-Graduação em Saúde e Ambiente do Instituto de Saúde Coletiva da UFMT teve para a universidade, para o estado e para a sociedade. Neste sentido, é
apresentado neste número da Revista, o produto do último evento regional realizado pelo Programa: o III Simpósio sobre Saúde e Ambiente na Região Amazônica”, bem
como o resumo das dissertações de mestrado defendidas, no programa, ao longo do ano de 2002.
Realizado no período de 27 a 29 de junho de 2002, numa
cooperação conjunta do Instituto de Saúde Coletiva/
UFMT; do Núcleo de Doenças Infecciosas e Tropicais de
Mato Grosso/TROPICA; da Universidade de Cuiabá/
UNIC; da Universidade do Estado de Mato Grosso/UNEMAT e da Secretaria de Estado da Saúde de Mato Grosso, o evento contou com o apoio financeiro do CNPq e
teve como tema central as Doenças Emergentes e Reemergentes. As alterações ambientais e sua repercussão
na saúde humana; os impactos dos projetos de desenvolvimento na Amazônia Legal; a vulnerabilidade da população indígena; a expansão de doenças “tradicionais”, emergentes e re-emergentes no estado e na região; a poluição
do ar, água e solo; e o enfrentamento desses problemas
foram alguns dos vários temas de conferências, mesasredondas e pôsteres, que conformaram esse evento e compõem este número da Revista Saúde Ambiente. Organizados como “Artigos Originais”, “Artigos de Revisão”,
“Artigos de Atualização” e “Palestras”, os nove trabalhos apresentados neste exemplar, fornecem uma amostra
do teor e da importância do evento.
O III Simpósio e a rica discussão e produção dele emanadas, somados às dissertações defendidas em 2002 e ainda
em 2003, são o rico testemunho de que o Programa de
Pós-Graduação em Saúde e Ambiente cumpriu, com efetividade, o seu papel. Se foram as suas concretas limitações ou os rígidos critérios da CAPES, ou a conjunção de
ambos, os fatores conducentes ao seu descredenciamento, isso agora faz parte do passado, e como tal deve se
constituir em base de conhecimento e aprendizagem para
novos passos. Aliás, isso já se verificou, pois das cinzas
dessa fênix duas outras já nasceram e estão em pleno
processo de absorção de experiência passada e de visão
de futuro para, de forma cuidadosa e planejada, preparar
seus primeiros vôos.
This editorial of the Journal of Health and the Environment looks in two directions, to the past and to
the future. Both views are from the editor’s perspective as well as from a given present condition and are
subject not only to other interpretations by other readers’ ways of seeing things but also by the ways in
which the context changes due to the constant dynamics we live in.
The look to the past endeavors to highlight the role
the Graduate Program in Health and the Environment at the Public Health Institute at the Federal
University of Mato Grosso has played in the university, the State and in society. In this sense, this number brings the result of the last regional event promoted by the Program: the III Symposium on Health
and the Environment in the Amazon Region, as well
as the abstracts of master degree dissertations presented during the year of 2002.
The Symposium took place in June 27 to 29, 2002
and was the result of a cooperative effort on the part
of the Public Health Institute/ UFMT; the Nucleus of
Infectious and Tropical Diseases of Mato Grosso/
TROPICA, the University of Cuiabá/UNIC, the Mato
Grosso State University/ UNEMAT, and the Mato
Grosso State Secretary of Health. It received the financial support of CNPq and had as central topic
Emergent and Re-emergent Illnesses. The themes of
conferences, round tables, and poster sessions that
shaped the event were environmental changes and
their consequences in human health, impact of development programs in the State and regions, air, water and soil pollution, and how to face these problems. They also are present in part of this number of the
Journal of Health and the Environment. The nine
papers presented here are organized as “Original
Articles”, Revision Articles”, “Updating Articles”,
and “Speeches” and they give an idea of the meaning and importance of the event.
The III Symposium and the rich discussion and production that resulted from it added to the dissertations presented in 2002 and 2003 testify to the fact
that the Graduate Program in Health and the Environment effectively did its job. The factors that caused it to be discredited, be they the Program’s limitations or the rigid criteria imposed by CAPES, or both,
are now a part of the past and as such should become
a base of knowledge and learning for new steps. In
fact, this is already evident for, from the ashes of this
phoenix, two others are born and are in the process
of absorbing the past experiences and moving towards the future in a careful and planned way, preparing for their first flights.
João Henrique G. Scatena
Editor Científico
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
2
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
Revista Saúde e Ambiente, 6(1/2): 3-11, 2003
ISSN 1516-5787
ARTIGO ORIGINAL
3
Condições sócioeconômicas e exposição ao mercúrio (Hg) através do consumo de peixe: um estudo de caso em Santarém, Pará, Brasil*
ORIGINAL ARTICLE Socioeconomic conditions and mercury (Hg) exposure through fish consumption: a case study in Santarém, Pará, Brazil
* Este trabalho foi realizado no Laboratório de Biologia Ambiental da Universidade
Federal do Pará, em seu campus avançado de Santarém.
Carlos J. PASSOS1
Marc LUCOTTE2
Aldo QUEIROZ3
Donna MERGLER1
Reinaldo PELEJA3
Ynglea GOCH3
Silmara MORAIS1
CORRESPONDÊNCIA/
CORRESPONDENCE:
Carlos J Passos
Tel: (514) 987-3000 ext 4126
Fax: (514) 987-6183
e-mail:
[email protected]
1
Centre d’études des interactions biologiques entre la santé et
l’environnement, Université du Québec à Montréal, Canadá.
2
Institut des sciences de l’environnement, Université du Québec à Montréal,
Canadá.
3
Laboratório de Biologia Ambiental, Universidade Federal do Pará, Brasil.
RESUMO
O presente estudo objetiva investigar o perfil de exposição ao Hg através do
consumo de peixe na cidade de Santarém, Pará, tendo em vista o papel das condições
socioeconômicas. Administraram-se questionários socioeconômicos a dois grupos: moradores do bairro do Mapiri (1) e universitários (2). Foram determinados o consumo de
peixe e as concentrações de Hg total no cabelo dos participantes por Espectrometria de
Fluorescência Atômica (CVAFS). Também coletaram-se amostras de peixe de dois lagos
(Juá e Mapiri), principal fonte do pescado para o grupo 1 e amostras de peixe do Mercado
de Santarém, principal fonte de pescado para o grupo 2. Concentrações de Hg total nos
peixes consumidos pelo grupo 1: 0.01-0.3 mg/g (0.1 ± 0.08); pelo grupo 2: 0.01-0.76 mg/
g (0.1 ± 0.1). Concentrações de Hg total no cabelo dos participantes do grupo 1: 0.6-15.2
mg/g (3.1 ± 3.1); grupo 2: 0.08-1.9 mg/g (0.8 ± 0.4). Para o grupo 1, o número médio de
refeições de peixe foi de treze vezes por mês; no grupo 2, duas vezes por mês. Observouse uma diferença significativa de nível de Hg entre os moradores do Mapiri e os universitários (Mann-Whitney U, p<0.0001), onde aqueles apresentam concentração média superior a estes. Entretanto, a concentração de Hg nos peixes consumidos por ambos os
grupos é similar, sugerindo que a diferença média do nível de Hg é devida ao maior
consumo de peixe no Mapiri, o que por sua vez é fortemente influenciado pelas condições
socioeconômicas de sua população.
ABSTRACT
This paper aims at examining the role of socioeconomic conditions on human
exposure to Hg through fish consumption in the city of Santarém, Pará State, Brazil. Two
groups were established on the basis of their socioeconomic status. The first group
(n=22) included inhabitants of a poor neighborhood, the Mapiri district (Mapiri group)
and the second group (n=22) included students from 2 Universities (students group).
Socioeconomic questionnaires were distributed to both groups. Hair samples were collected from each participant for determination of total mercury concentration. Total mercury was determined by Cold Vapor Atomic Fluorescence Spectrometry (CVAFS). In
addition, fish were collected from two lakes (Juá and Mapiri, n=31; 6 species), which are
the main source of fish consumed by group 1. Fish samples were also obtained (n=30; 5
species) from the Santarém General Market, which is the main source of the fish consumed by group 2. Hair Hg concentrations were significantly different (Mann-Whitney,
p<0.0001) between the Mapiri inhabitants (mean: 3.1 mg/g ± 3.1, ranging from 0.6-15.2
mg/g), and students (mean: 0.8mg/g ± 0.4, ranging from 0.08-1.9mg/g). No differences
were observed in Hg concentrations in fish. At Juá and Mapiri lakes concentrations were
in the range 0.01-0.3 mg/g (0.1 ± 0.08); in fish from the Santarém General Market the
concentrations were 0.01-0.76 mg/g (0.1 ± 0.1). Thus, the mean Hg concentration in fish
consumed by both groups is similar. However, on average, the Mapiri group consumed
fish thirteen times a month, whereas the undergraduate students consumed fish only twice
a month. Fish is a commodity readily available to poor populations, suggesting that the
average difference in hair Hg could be explained by higher fish consumption at Mapiri,
which is strongly influenced by its socioeconomic condition. These findings bear evidence
that socioeconomic conditions can play an important role on the health and well being of
local populations.
Palavras-chave:
Condições
socioeconômicas,
Consumo de
peixe, Mercúrio
em cabelos.
Key words:
Socioeconomic
conditions,
Fish
consumption,
Mercury in
hair.
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
Passos et al.
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INTRODUÇÃO
Na Amazônia Brasileira o mercúrio
(Hg) tem sido utilizado em diversas áreas
de exploração de ouro, conhecidas popularmente como garimpos. Ao longo dos
últimos trinta anos, aproximadamente um
milhão de pessoas foram envolvidas em
atividades rudimentares de extração de
ouro utilizando a técnica de amalgamação
com Hg, através da qual é possível retirar
as finas partículas de ouro presentes nos
sedimentos dos rios e na areia (Cleary,
1990). Estima-se que em torno de 130
toneladas de Hg foram lançadas anualmente na Amazônia Brasileira, depositandose em diversos compartimentos do ecossistema (Martinelli et al., 1988; Malm et
al., 1990; Pfeiffer et al., 1991; Pfeiffer et
al., 1993). Além disso, estudos mais recentes têm mostrado que o desmatamento resultante do processo de ocupação
recente e de práticas agrícolas de corte e
queima tem propiciado a erosão de solos
podzólicos e contribuído, significativamente, para a contaminação mercurial dos
corpos d’água na bacia amazônica (Roulet et al., 1998, 1999; Farella et al., 2001).
Dessa forma, o Hg proveniente tanto dos
garimpos quanto dos processos de desmatamento é convertido em uma forma
orgânica chamada metilmercúrio (MeHg),
a qual contamina os peixes que constituem a principal fonte de proteínas para
muitas comunidades ribeirinhas que vivem
às margens desses rios (Malm et al., 1990;
Pfeiffer et al., 1991; Boischio et al., 1995;
Lebel et al., 1997; Dolbec et al., 2001).
A poluição mercurial dos ecossistemas
amazônicos constitui uma importante preocupação em saúde ambiental na região,
visto que alguns estudos têm sugerido evidências de associações entre níveis elevados de MeHg no cabelo e disfunções
neurológicas e citogenéticas em populações ribeirinhas (Lebel et al., 1996, 1998;
Dolbec et al., 2000; Amorim et al., 2000).
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
Mishra et al (2002) destacam a importância das relações existentes entre o
nível socioeconômico e as taxas de morbidade ligadas ao padrão alimentar de uma
população, onde pessoas de baixo nível
socioeconômico são geralmente mais expostas à agentes prejudicais à saúde através da
alimentação. Sendo a cidade de Santarém
localizada na confluência de dois grandes
rios (Amazonas e Tapajós), o consumo de
peixe é parte integrante da alimentação tradicional, entre outras razões, por ser um
recurso de fácil acesso. Tendo em vista os
níveis de contaminação mercurial dos peixes da região e considerando a importância
das condições socioeconômicas na determinação do consumo de alimentos, o presente estudo objetivou investigar o papel das
condições socioeconômicas na determinação do perfil de exposição ao Hg através
do consumo de peixe em uma amostra da
população de Santarém. O estudo de tais
relações pode gerar importantes dados para
se identificar a camada da população mais
exposta ao Hg e, através disso, desenvolver ações preventivas no ambiente bem
como melhores estratégias de saúde pública.
MATERIAL E MÉTODO
O experimento consistiu, em um primeiro momento, na administração de questionários socioeconômicos em dois grupos,
assim como a coleta de amostras de cabelo
para análise das concentrações de Hg. Em
um segundo momento, coletaram-se amostras de peixe de dois lagos que constituem
a principal fonte do pescado para o consumo do grupo 1 da primeira fase, assim como
amostras provenientes do mercado geral de
Santarém, que constituem a principal fonte
de peixe para consumo do grupo 2 da primeira fase.
A amostragem relativa ao primeiro
grupo da fase I foi realizada em um bairro
periférico de Santarém chamado Mapiri,
Passos et al.
situado às margens do lago Mapiri. Um total
de 22 pessoas respondeu a um questionário socioeconômico no mês de fevereiro de
1997, contendo questões relativas à idade,
sexo, escolaridade, profissão, tamanho da
família, condições de moradia, renda familiar, assistência de saúde e freqüência de
consumo de peixe. No momento da administração do questionário, mechas de cabelo de cada participante foram coletadas
da raiz na região occipital da caixa craniana, acondicionadas em sacos plásticos com
a extremidade grampeada e então levadas
ao laboratório para posterior análise do
conteúdo de Hg total.
Quanto ao segundo grupo, a amostragem foi realizada em duas faculdades de
Santarém, a saber: Faculdades Integradas
do Tapajós (FIT) e Instituto Luterano de
Ensino Superior (ILES). No mês de maio
de 1997, 22 pessoas responderam ao questionário socioeconômico acima citado, concedendo igualmente amostras de cabelo, as
quais foram coletadas e acondicionadas
conforme procedimento acima descrito, sendo posteriormente levadas ao laboratório
para execução das análises.
Para a análise do conteúdo de Hg,
amostras de cabelo com 13 mg de peso seco
foram digeridas, visando degradar e liberar
todo o Hg presente na amostra, com ácido
clorídrico (HCl, 6N), ácido nítrico (HNO3)
e sulfúrico (H2SO4) concentrados. A digestão deu-se em placa quente a 100o C durante duas horas.
Em relação aos peixes, a amostragem
das espécies consumidas pelo grupo Mapiri foi realizada através de pesca experimental nos lagos Juá e Mapiri, onde foram coletados 31 exemplares incluindo as espécies Tucunaré (Cichla temensis), Caratinga
(Geophagus surinamensis), Charuto
(Anodus elongatus), Branquinha (Curimata amazonica), Pacu (Mylesinus schomburgki), e Aracu (Shizodon vittatum). No
campo, os indivíduos foram medidos e pesados assim como procedeu-se a identifi-
5
cação sexual dos mesmos. Finalmente
amostras de músculo foram retiradas da
região dorsal de cada peixe, acondicionadas em sacos plásticos e congeladas até
o momento das análises.
Quanto aos peixes consumidos pelo
grupo de universitários, 30 amostras foram compradas no mercado geral de Santarém, compreendendo as espécies Tucunaré (Cichla temensis), Caratinga (Geophagus surinamensis), Pacu (Mylesinus
schomburgki), Curimata (Prochilodus
nigricans) e Jaraqui (Semaprochilodus
spp.). Os procedimentos de medida e
pesagem assim como a identificação sexual foram realizados em laboratório, após
o que retiraram-se amostras de músculo
da região dorsal e, em seguida, procedeuse como descrito acima. O critério utilizado para a escolha das espécies de peixe, desse estudo, foi orientado pelas informações concedidas nos questionários
socioeconômicos aplicados na primeira
fase. Assim, consideraram-se as espécies mais consumidas pelos dois grupos humanos, o que justifica a presença de espécies diferentes quando comparam-se os
dois grupos.
No laboratório, alíquotas com 130
mg de peso úmido foram digeridas com
HNO3 e HCl (6N) a uma temperatura de
120o C durante 6 horas, em duplicata.
Após os procedimentos de digestão química, as amostras eram então deixadas
esfriar em temperatura ambiente, diluídas
em água ultrapura e depois analisadas por
Espectrometria de Fluorescência Atômica com a técnica do vapor frio. Exercícios de intercalibração utilizando-se amostras de cabelo foram realizados com o
Laboratório da Cátedra de Pesquisa em
Meio Ambiente da Universidade de Quebec em Montreal (UQAM), assim como
a análise de padrões de referência a fim
de garantir a qualidade analítica dos resultados.
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
Passos et al.
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RESULTADOS
Informações sócio-demográficas
dos grupos estudados são apresentadas
na Tabela 1. De acordo com os dados
socioeconômicos relativos ao grupo Ma-
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piri, 75% dos participantes encontram-se em
idade irregular na escola (atrasados); 63.6%
são estudantes, entretanto desenvolvem seus
estudos em condições precárias e com atividades diurnas sempre que possível;
72.7% vivem em humildes casas de madei-
Passos et al.
ra; 86.4% pertencem a famílias cujo número de membros é igual ou superior a cinco e
cuja renda mensal é em média 2.4 salários
mínimos; quanto ao tipo de assistência de
saúde, 100% dos participantes depende do
sistema público de atendimento médico. No
que se refere ao grupo de universitários,
91% dos participantes encontram-se em
idade açdequada nos estudos e desenvolvem suas atividades acadêmicas em condições favoráveis a um bom desempenho; em
termos de moradia 77.3% vivem em boas
casas de alvenaria, 13.6% moram em confortáveis apartamentos e apenas 9.1% habitam em casas de madeira; 77% dos participantes pertencem a famílias cujo número
de membros é igual ou inferior a 6; 27%
das famílias possuem renda mensal entre 10
e 15 salários mínimos e 41% renda superior a 15 salários mínimos; no que tange a
assistência de saúde, 59% das famílias possuem plano particular de assistência médica, odontológica e hospitalar.
As concentrações de Hg total detectadas nos cabelos dos participantes dos grupos Mapiri e Universitários são apresentadas na Figura 1. No grupo Mapiri, as concentrações variaram entre o valor mínimo
de 0.6 µg/g e o máximo de 15.2 µg/g (3.1 ±
3.1); nesta amostra, o número médio de
refeições de peixe foi de treze vezes por
7
mês. Também se observou uma diferença de concentração de Hg entre homens
e mulheres, em que os homens apresentam concentração maior em relação às mulheres (3.8 ± 3.9 vs 2.3 ± 1.5); entretanto
esta diferença não é significativa (MannWhitney U, p > 0.05). Quanto ao grupo
de universitários, detectaram-se concentrações de Hg total no cabelo, variando
entre 0.08 µg/g e 1.9 µg/g (0.8 ± 0.4). O
número médio de refeições de peixe neste grupo foi bem inferior ao grupo Mapiri,
ou seja, duas vezes por mês. Neste grupo não foram observadas diferenças de
concentração entre homens e mulheres.
Além disso, análises de correlação mostram que, somente no grupo Mapiri, as
concentrações de Hg total nos cabelos são
associadas à freqüência de consumo de
peixes, indicando assim a importância de
tal freqüência para a exposição deste grupo (Mapiri: Spearman, r = 0.89; p <
0.0001 Vs. Universitários: Spearman, r =
0.008; p = 0.97).
As Tabelas 2 e 3 apresentam estatísticas descritivas das análises referentes
aos peixes consumidos pelos moradores
do Mapiri e Universitários, respectivamente. Observou-se uma correlação positiva
e estatisticamente significante entre o comprimento dos peixes e seus níveis de Hg,
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Passos et al.
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tanto no grupo Mapiri (Spearman, r = 0.7;
p < 0.01) quanto no grupo Universitário
(Spearman, r = 0.5; p = 0.01).
DISCUSSÃO
No presente estudo observam-se
concentrações de Hg nos cabelos menores que em outros estudos realizados na
região. Em Ponta de Pedras, uma pequena vila localizada aproximadamente 30 km
rio acima de Santarém, encontrou-se concentração média de 11.6 µg Hg/g de cabelo (Lebel et al., 1996); em Brasília Legal, 550 km rio acima de Santarém, encontrou-se concentração média de 16.4
µg/g (Lebel et al., 1996). Nossos resultados são semelhantes a Malm et al. (1995)
que encontraram em torno de 2.7 µg/g na
região de Santarém, provavelmente devido ao menor consumo de peixe em relação às outras comunidades acima citadas.
Na amostra da presente pesquisa, observa-se uma diferença de concentração média estatisticamente significante entre os
dois grupos humanos estudados (Mann-
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Whitney U, p < 0,0001), sendo que o grupo Mapiri apresenta concentração média de
Hg no cabelo superior à média do grupo
Universitário.
Na abordagem do compartimento
aquático observa-se que os peixes consumidos pelo grupo Universitário são significativamente maiores que os peixes consumidos pelo grupo Mapiri (Mann-Whitney
U, p < 0.01), provavelmente devido ao fato
de os primeiros serem adquiridos no mercado, apresentando portanto tamanhos necessários à comercialização. Dentre as espécies estudadas, o Tucunaré destaca-se em
termos de concentração de Hg (média = 0.2
± 0.08, Mapiri; 0.3 ± 0.2, Universitários),
o que pode ser explicado por se tratar de
uma espécie predadora (Figura 2). A maior concentração de Hg em peixes predadores reflete a biomagnificação desse metal
pesado nas cadeias alimentares. Assim, os
predadores no final da cadeia tendem a ter
concentrações maiores que os não-predadores, os quais situam-se mais próximos do
início das cadeias alimentares. Parte da biomagnificação parece ocorrer porque, em
Passos et al.
geral, os predadores têm um tempo de vida
mais longo, acumulando mais Hg em seus
corpos que suas presas (Williams & Weiss,
1973). O valor médio de concentração de
Hg das espécies de peixes aqui estudadas
(0.1 µg/g em ambos os grupos), mostrouse abaixo do nível crítico permitido pela
Organização Mundial de Saúde (OMS)
para consumo humano, isto é, 0.5 µg/g (Brasil, 1975).
Apesar dos resultados mostrarem
que, em média, os participantes do presente estudo estão menos expostos ao Hg do
que ribeirinhos que vivem em Ponta de Pedras ou Brasília Legal (Lebel et al., 1996),
as pessoas jovens que apresentam mais que
6 µg Hg/g de cabelo podem vir a desenvolver, em uma exposição de longo prazo, disfunções neurológicas e citogenéticas (Lebel
et al., 1998; Dolbec et al., 2000; Amorim
et al., 2000). Quanto ao status, no grupo
Mapiri trata-se de pessoas pertencentes a
uma comunidade cujo nível social e econômico apresenta-se baixo; essas pessoas
usam peixe como fonte de proteínas, lipídeos e outros nutrientes muito freqüentemente por ser barato e muitas vezes gratuito, visto que elas mesmas podem adquiri-lo
através da pesca. Por outro lado, no grupo
Universitário encontram-se pessoas perten-
9
centes a famílias cuja situação socioeconômica mostra-se suficientemente boa,
capaz de proporcionar educação, moradia e saúde de qualidade, além de um regime alimentar bastante diversificado, tendo como reflexo um consumo de peixe
mais baixo em relação ao grupo Mapiri.
Desse modo, as pessoas de baixo nível
socioeconômico correspondem ao grupo
de exposição mais forte ao Hg através do
consumo de peixe e, conseqüentemente,
tais pessoas são, a princípio, mais susceptíveis a adquirir problemas neurológicos e
deterioração genética em longo prazo.
Os resultados aqui apresentados
para os lagos Juá/Mapiri assim como para
o mercado geral mostram que, embora em
média os peixes não estejam contaminados a níveis preocupantes de Hg, um consumo elevado de tais peixes pode vir a
representar uma exposição preocupante,
como observado em alguns participantes
do grupo Mapiri. Finalmente, comparando-se o valor médio da concentração de
Hg nos peixes dos lagos com a média dos
peixes do mercado, observa-se que são
rigorosamente iguais (0.1 µg/g). Isso nos
leva a acreditar que a diferença de concentração média de Hg encontrada entre
os dois grupos humanos não é devida a
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
Passos et al.
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diferenças de Hg nos peixes consumidos
por esses grupos, mas sim devido ao maior consumo de peixe no grupo Mapiri, o
que, por sua vez, é fortemente influenciado pelas condições socioeconômicas desse grupo. Os achados do presente estudo indicam que condições socioeconômicas desempenham um importante papel na
determinação dos níveis de exposição ao
Hg na população de Santarém, sugerindo
portanto que tais condições podem influenciar o estado geral de saúde e bem-estar de populações locais.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos a população do bairro
do Mapiri por sua valiosa participação e
contribuição nesta pesquisa. Da mesma
forma, queremos agradecer os estudantes
do Instituto Luterano de Ensino Superior de
Santarém (ILES) assim como aqueles das
Faculdades Integradas do Tapajós (FIT),
por sua participação. Somos gratos ao Programa de Iniciação à Pesquisa (PIPES) da
Universidade Federal do Pará, bem como
ao Centro de Pesquisas para o Desenvolvimento Internacional (CRDI) do Canadá,
pelo apoio financeiro concedido para o desenvolvimento deste trabalho.
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Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
Revista Saúde e Ambiente, 6(1/2): 12-26, 2003
ISSN 1516-5787
12
ARTIGO ORIGINAL
Will the power plant at Rio Manso, Brazil, cause elevated mercury levels of fish and reduced
fish populations?
ORIGINAL ARTICLE
Pode a usina hidrelétrica do Rio Manso, no Brasil, causar elevação do
nível de mercúrio em peixes e reduzir sua população?
Henriette WOLPHER 1
Magdalena TROPP1
Edinaldo C. SILVA1
Lars D. HYLANDER2
Lázaro J. OLIVEIRA1
Elisabeth C. NEIS1
CORRESPONDÊNCIA/
CORRESPONDENCE:
Henriette Wolpher
Stockholm University,
Department of Organic
Chemistry, S-10691
Stockholm, Sweden
Tel.: +46 8 162210; fax: +46
8 154908
E-mail:
[email protected]
1
Departamento de Química – Instituto de Ciências Exatas e da Terra;
Pós Graduação em Saúde Coletiva - Instituto de Saúde Coletiva,
Universidade Federal de Mato Grosso, Brasil.
2
Department of Limnology - Evolutionary Biology Centre, Uppsala
University, Sweden.
RESUMO
Em recentes construções de reservatórios de hidrelétricas tem-se observado o aumento da concentração de mercúrio. Este fenômeno é conhecido principalmente em estudos realizados no hemisfério Norte. No presente estudo, os
níveis de referência de mercúrio em peixes, solo e sedimento em uma área da
região centro-oeste do Brasil, foram determinados antes da área ser inundada
devido a construção de uma usina hidrelétrica. Peixes predadores do rio Manso
e rio Casca foram analisados em relação ao conteúdo de mercúrio (Hg). As concentrações de Hg total em 13 amostras variaram de 72 a 755 ng /g de peso úmido.
Para melhor compreensão sobre os parâmetros que influenciam a geoquímica do
Hg foram determinados em solo e sedimento: Carbono orgânico, nitrogênio e
enxofre, Hg total; e alumínio, ferro e manganês por extração feita com citrato–
ditionito-bicarbonato (cdb). A média das concentrações de Hg em solo e sedimento foram respectivamente de 24,5 e.24,7 ng /g de peso seco, que estão dentro
dos níveis de referência encontrados na região. Tanto o sedimento como o solo
mostraram-se ricos em alumínio e óxidos e hidróxidos de ferro, amorfos. O mercúrio apresentou correlação positiva com esses elementos no sedimento e negativa
no solo. Uma forte correlação positiva entre mercúrio e enxofre foi observada
para o sedimento. Finalmente, a discussão de como a usina hidrelétrica influenciou o ambiente e em especial a população de peixes, indicando uma necessidade urgente de adotar medidas que minimizem deteriorações presentes e futuras.
ABSTRACT
In newly constructed hydroelectric reservoirs, it has been shown
that the mercury concentration in fish rises. This phenomenon is known
mainly from studies in the Nothern Hemisphere. In the present study, the
background levels of mercury in fish, soil, and sediment in an area of
western Brazil were determined before the area was inundated due to the
construction of a hydroelectric power plant. Predatory fish from Rio Manso
and Rio Casca were analysed for mercury (Hg). The total Hg concentration
in the 13 samples ranged between 72 and 755 ng/g w.w. Organic carbon,
nitrogen, and sulphur, total Hg, and citrate-dithionite-bicarbonate (cdb)
extractable aluminium, iron, and manganese of soil and sediment were
also determined to get a better understanding of parameters influencing
Hg geochemistry. The average Hg concentrations in soil and sediment
were 24.5 and 24.7 ng/g dry weight, respectively, which is within the
background levels found in the region. Both sediment and soil were rich in
amorphous aluminium and iron oxy-hydroxides. Mercury correlated positively
to these in sediments and negatively in soil. A strong positive correlation
between mercury and sulphur was found in sediment. Finally, it is discussed
how the hydro power plant has influenced the environment and especially
the fish population, indicating an acute need of measures to minimize
present and future deterioration.
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
Palavras-chave:
Usina
hidrelétrica,
mercúrio em
peixes, mercúrio
em solo.
Key words:
hidroelectric
power plant,
mercury in
fish, mercury
in soil.
Wolpher et al.
INTRODUCTION
Several studies have shown that mercury (Hg) concentrations in fish rise after
flooding of upland areas to form hydroelectric reservoirs (Jackson, 1988; Bodaly et
al., 1984; Lodenius et al., 1983). The elevated Hg levels in fish are thought to result
from an enhancement of the mobility and
bioavailability of Hg following flooding (Jackson, 1988). Methyl mercury (MeHg) is
produced in water and surface sediments of
lakes and reservoirs (Rudd et al., 1983,
Lindquist et al., 1991). Several studies have
shown methylation to appear primarily due
to the activity of sulphate reducing bacteria
or at least under similar environmental conditions (Compeau and Bartha, 1985, Kerry
et al. 1991, Matilainen, 1995). Inundation
of vegetated areas increases the amount of
dissolved organic matter in the water, which
stimulates the methylation process (Furutani and Rudd, 1980).
MeHg is highly toxic and is known to
accumulate in organisms (Lindquist et al.,
1991) and biomagnify in the food chain (Verdon et al., 1991). The main concern about
health effects for humans is the poisoning of
the foetus through the pregnant woman and
breastfeeding of new born children. Even low
MeHg exposure before birth can cause physical and mental retardation (Kjellström,
1989; Grandjean, 2000). Severe poisoning
can cause brain damage and eventually death. The permitted limit in many countries,
including non piscivorous fishes in Brazil, is
500 ng Hg/g fresh weight (fw) fish, while
the limit for piscivorous fishes has recently
been increased to 1000 ng Hg/g fresh weight (fw) in Brazil (Lindquist et al., 1991,
BRASIL,1998). Even in reservoirs with low
Hg levels in water (about 5 ng/L) fish Hg
levels have shown to be significantly elevated (Bodaly et al., 1984). As a result of biomagnification, Hg levels are generally higher in predatory fish.
A large dam and hydroelectric power
13
station named APM-Manso (Aproveitamento Multiplo de Manso) was completed during 1999 in the municipal region of
Chapada in centralwestern Brazil. The reservoir above the station has an extension
of 425 km2 after inundation of land around
the rivers Manso and Casca (Furnas,
1999). Fish is an important source of food
for the local populations in the surrounding areas of the rivers Manso and Casca. Elevated Hg concentrations in fish may
therefore seriously affect the local people.
The knowledge from studies in the Manso
river can be used in assessments of environmental and health impacts when planning future hydroelectric projects in tropical areas.
Most studies indicating a rise in
mercury content in fish have taken place
in temperate areas. Results from tropical
and subtropical areas are scarce but a
Venezuelan study by Rondón and Pérez
(1999) indicates bioaccumulation in fish
also in tropical dams. Rondón and Pérez
(1999) also conclude that the complexity
of internal relationships in tropical aquatic
ecosystems is higher than in those observed in cold and temperate regions. High
mercury levels have also been found in fish
in the Tucuruí reservoir in Pará, Brazil. This
area is polluted by mercury due to gold
mining activities( Porvari, 1995). Studies
in the temperate zone have shown that
both predatory and non predatory fish
species respond with elevated Hg levels
within two years after impoundment (Bodaly et al., 1984, Verdon et al., 1991).
The levels in predatory fish continued to
rise for 5 to 10 years after impoundment,
while in non-predatory species Hg levels
started to decline after 2 to 5 years. Water parameters associated with the decomposition of organic matter, such as dissolved organic carbon DOC and total phosphorous (P), peaked after 3 and 4 years
of impoundment (Verdon et al., 1991).
Data from dams constructed 6 to 67 yeRev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
Wolpher et al.
14
ars ago indicate that it could take 20-30
years before the Hg concentrations in fish
return to preimpoundment levels (Verdon
et al., 1991). The duration and extent of
Hg elevation in fish from new reservoirs
can not be reliably predicted, since there
are differences between regions and several characteristics of the reservoirs (Rodgers et al., 1995).
It has been observed that the postimpoundment Hg levels in predatory fish
appear to be related to the ratio between
the flooded terrestrial area and the preimpoundment lake area, where a higher increase in surface area correlates with higher Hg levels in fish (Bodaly et al., 1984,
Jackson, 1988). Another observation is
significantly higher Hg levels in non-predatory fish just downstream from a reservoir, than in fish within the reservoir (Bodaly et al., 1984).
The preimpoundment terrestrial soil
around the river could be expected to be
of great importance, as the soil is a possible source of Hg in new impoundments.
However, Jackson (1988) concluded that
methylation rates and MeHg concentrations are limited not so much by the total
abundance of inorganic mercury as by environmental variables affecting the activities of methylation microbes and the availability of Hg. The relationship between organic matter and Hg methylation and uptake seems be very complicated. The general idea of increased fish Hg levels after
impoundment, as mentioned above, is that
organic matter from soils and vegetation
stimulates the bacteria that methylate Hg
(Rodgers et al., 1995, Gilmour and Henry, 1991, Morrison and Thérien, 1995,
Jackson, 1988). Obviously, the relationship between organic matter and MeHg
levels cannot be explained easily. Relying
on previous studies on newly inundated
reservoirs, a rise in organic matter as well
as increased concentrations of mercury in
fish can, however, be expected.
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
Sulphur may affect methylation either
in the form of sulphate, serving as a stimulator of sulphate reducing bacteria (Gilmour
et al., 1992), or in the form of sulphide, binding Hg strongly and thereby lowering its
availability (Gilmour et al., 1992, Kerry et
al., 1991, Jackson, 1988). The relationship
seems to be complex, since sulphate reducing bacteria produce sulphide in the process of methylation, almost as a negative
feed-back mechanism.
In acidic lakes, the Hg concentrations in fish are generally higher than in neutral lakes (Björklund et al., 1984, Gilmour
and Henry, 1991). There are many explanations for this positive relationship (Winfrey and Rudd, 1990; Gilmour and Henry,
1991; Miskimmin et al., 1992). It is possible that many of these parameters together
contribute to enhance the methylation process and uptake in organisms or, as Meili
(1990) suggests, these migth be co-variation between pH and other variables that affect
Hg levels in fish. Leaching of flooded soils,
external inflow and decomposition of submerged organic matter following inundation
can affect pH (Hydro-Quebec, 1993) and
hence also affect fish Hg levels.
Mercury is methylated mainly in anoxic conditions (Driscoll et al., 1995, Watras
et al., 1995, Porvari and Verta, 1995). Dissolved oxygen concentrations are forecast
to decline significantly after the impounding,
because of increased concentrations of organic matter consuming oxygen. This contributes to increased methylation and thus
increased Hg levels in fish. Increased temperature has also been shown to stimulate
methylation of mercury in Lake Keha in Finland (Matilainen, 1995). Callister and Winfrey (1986) found that methylation activity
was greatest at a temperature of 35°C in
the sediments and decreased with lower and
higher temperatures. This leads to the conclusion that methylation in tropic reservoirs
with temperatures closer to 35 °C, might be
even more efficient than in temperate areas.
Wolpher et al.
Hg concentration in fish has been reported to increase with body size of the fish.
(Monteiro, 1991, Lindquist et al., 1991).
Driscoll et al. (1995) also observed that fish
Hg concentrations generally increased with
increasing fish weight and length. However,
this relationship seems to exhibit great variation between fish species and sites (Jackson, 1991). Jackson (1991) suggested the
relationship to depend on trophic position,
habitat preference, diet, metabolic rate, growth rate, etc.
There are also other important environmental aspects when constructing a
hydroelectric dam. Changed hydrological
conditions will influence flora and fauna not
only in the reservoir area but also downstream of the dam. The vulnerable ecosystem of Pantanal, the giant floodplain downstream of the studied dam in Rio Manso, is
dependent on large areas being flooded annually during the wet season (Hamilton et
al., 1996). On the other hand, the large rivers must not dry up during the dry season.
This might happen if primary vegetation is
cleared and substituted by farmland, which
results in a faster runoff of rain water, less
infiltration into the soil to replenish the subterranean aqueous reserves, and increased
erosion with subsequent sedimentation and
filling up of depressions otherwise serving
as water reservoirs and retreats for aquous
organisms during the dry season.
A series of small, specific dams along
river courses have succesfully been used to
retard the water flow (Conceição, 2000).
On the contrary, hydroelectrical dams are
often contributing to disastrous floods and
other abnormal hydrological regimes, since
they are operated to get an optimal output
of electric energy rather than preventing floods. The maximum water level of the reservoir must not be exceeded during exceptional rain falls, since this might result in the rupture of the dam. A dam might also break
due to inadequate geological survey, poor
material quality or faults in construction or
15
technology, or due to seismological activities (Grimalt, et al., 1999).
The objective of this work is to increase the knowledge about environmental effects when constructing hydroelectric
reservoirs, especially the influence on fish
mercury levels by mercury becoming bioavailable after inundation at a hydroelectric power station in a tropical area. It is of
great importance to create awareness of
such effects, as the information given to
the local population, in many cases, is poor
and unsatisfactory. In this study, we provide baseline data of fish and other environmental parameters before inundation.
The development of mercury levels in fish
after inundation can then be followed up
in future studies. We have also studied information given to the public regarding
effects of the power station and have included an evaluation about some possible
effects derived from the dam on the
ecosystem in and downstream from the
dam.
METHODS
Study area
The studied area is situated in the
state of Mato Grosso, centralwestern Brazil. The samples were taken before the
construction of the dam. The hydroelectric complex APM-Manso includes two
rivers, Manso and Casca, and the land
around these rivers in the reservoir. The
Casca meets the Manso just before the
constructed dam. The Manso is the main
tributary of the Cuiabá river. The reservoir has an extension of 427 km2, a maximal
depth of about 80 m and is flooding parts
of the land between the coordinates S
14°40’- 15°20’ and W 55°20’- 60°00’
(Figure 1). The total water volume is
73*108, of which 29*108 is usable for production of electricity with a maximal water
column height of 289.8 m. The average
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
Wolpher et al.
16
flux in the Manso before construction of
the dam was 170 m3s-1 and the flux from
the reservoir is 135 m3s-1 (Furnas, 2002).
The climate of the area is tropical with two
distinct seasons; dry (April-August) and
rainy (September-March). The study was
carried out during winter (July), when the
weather is dry. Water and sediment samples were collected on the 19th and 22nd
of July, 1999. This period was unusually
cool, according to the locals, with day temperatures under 30 °C. The landscape is
dry and covered by drought resistant bush
vegetation with sparse higher trees. Cattle
farming exists in the area. Close to the rivers the vegetation is greener, high and very
thick. The soil is generally red in colour
due to iron oxides. There are no known
sources of mercury pollution in the area.
One site was found where gold miners
might have been active. Whether mercury
had been used at this site, it is not known.
The nearest city is Cuiabá, the capital of
Figure 1. Map of Study
area. Sites for water and
sediment samples are
marked and numbered 1-5.
Fish samples were taken in
Rio Manso, Rio Casca and
downstream the
construction area.
(site: www.furnas.com.br)
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
Mato Grosso (around 500 000 inhabitants).
Cuiabá is situated downstream, 70 km to
the south of the area. Fish from the rivers
Casca and Manso is an important source of
food for the locals, who also sell the surplus, thereby generating cash revenues to the
area (Eletronorte, 1998).
Sample collection, preparation and
analysis
Thirteen fishes of various predatory
species were caught in the Manso and Casca rivers between the 4th and 6th of August, 1999. The samples were prepared
according to the method of Malm et al.
(1989). The dorsal muscle from each fish
was removed and grinded in a food mixer.
Three subsamples from each fish were digested with hydrogen peroxide (H2O2), sulphuric acid (H2SO4), potassium permanganate (KMnO4), and potassium persulphate
(K2S2O8) in the mentioned order. Excess
Wolpher et al.
oxidizing agent was neutralised with hydroxyl ammonium chloride (HONH3Cl). The
extracts were analysed for total mercury by
cold vapour generator accessory to a AAS
with sodium borohydride as a reducing agent
(Spectro AA – 200, Varian).
Certified reference material (DORM2
with 4640 ± 260 ng Hg total/g d.w.) and an
internal reference sample from another laboratory (spotted catfish with 13320 ± 2140
ng Hg total/g w.w.) were run parallell with
analyses of the unknown fish samples. Both
reference samples gave consequently a positive deviation of 27% from expected values. Consequently, all Hg values obtained for
the samples with unknown Hg concentrations have been reduced by 27%.
Physical and chemical water parameters were measured with a multipurpose instrument (Horiba U-10) at five points in the
rivers Manso and Casca (see Figure 1),
where water and sediment samples also
were collected. Water was analysed with a
carbon analyser for total carbon (TC) and
organic carbon (TOC) by dry combustion
and an infra red light detector (TOC-5000,
Shimadzu Corporation, 1994). An AquaTester (Orbeco Hellige) was used to measure water colour. Suspended particulate
material in the water was quantified by filtering the water through 0.45 mm filters and
weighing the filters before and after the filtration.
Suspended material was flocculated
by aluminium sulphate (Al2(SO4)3) and sodium hydroxide (NaOH) according to a
method by Hylander (1998) and then dried. Sediment samples were dried (< 50 °C,
for 4-5 days) and sieved (< 74 mm) through a nylon mesh sieve. Three subsamples
(2.0 - 0.2 g) from each sieved sediment sample and from each sample of suspended
material were prepared with 10 ml concentrated nitric acid (HNO3) at a temperature
of 110 °C for two hours. Distilled water (10
ml) was added after cooling and the samples were then analysed for mercury by cold
17
vapour AAS (Spectro AA – 200, Varian).
Sieved sediment subsamples were also
analysed for carbon and sulphur content
by dry combustion and detection with an
IR-detector (CHNS-932 LECOR Corporation, St. Joseph, 1995).
Statistical evaluation was performed
with Excell software using Pearson correlation and a 5% significance level (Excel,
1992).
Information to the public was obtained from web sites, daily newspapers,
and an exhibition at a seminar in Cuiabá
about the Cuiabá basin, of which the Manso river is a part.
RESULTS AND DISCUSSION
Mercury in fish
The average total Hg concentration
in the five studied fish species was 236 ng
Hg/g w.w. with concentrations varying
from 72 to 755 ng Hg/g w.w. (Table 1).
Amazon catfish had the highest Hg concentration, in one case exceeding the maximum permitted Hg content in fish for
consumption in Brazil (500 ng Hg/g w.w.),
which is also the limit recomended by
WHO (Hylander et. al., 1994). All fishes
caught are piscivorous. This can explain
the high Hg levels of mercury in some of
the fishes, since fish from higher trophic
levels contain higher Hg concentrations
than fish from lower levels as a result of
biomagnification (Morrison and Thérien,
1995, Kidd et al., 1995). An older fish
will also accumulate Hg with time. A significant, positive correlation between Hg levels and weight was found (r = 0.711, p =
0.05). The number of samples was not
enough to study such a relationship for
each of the species as suggested by Monteiro et al.(1991). No general relationship
between Hg levels and sex was found.
Although there are no known anRev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
Wolpher et al.
18
thropogenic sources of Hg in the area, the
results are not very different from those
obtained in a study by Hylander et al.
(1994) in the Cuiabá river, into which the
Manso dewaters. There the fish Hg levels
varied between 50 and 950 ng/g w.w. with
the high values influenced by gold mining
activities (Hylander et al., 1994).
Mercury, Aluminum, Iron, and Manganese in soil and sediment
The concentrations of Hg, Al, Fe,
and Mn in soil and sediment are presented in Table 2. The average Hg levels in
soil and sediment are almost the same, 24.5
and 24.7 ng/g d.w., respectively. The values fall in the range of the background levels found in the Pantanal region south of
our sampling site (Nogueira et. al., 1997).
These are lower concentrations than in the
Amazon basin to the north, where the mercury background levels are between 30
and 100 ng/g d.w. (Roulet et. al., 1998).
The low Hg concentrations and the small
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
deviation in Hg-levels between the different
sampling sites indicate that there has not been
any local contaminating source in the construction area.
The average concentration of Alcdb in
the fine soil (< 74 mm) is 1.9 mg/g d.w. both
in the upper (0-10 cm) and lower (10-20
cm) horizon. Also the average Fecdb concentration does not vary between the two
horizons. It is 16 mg/g which is about ten
times higher than the Al concentration. The
average Mncdb concentration in the fine soil
fraction is 0.16 mg/g in the upper horizon
and 0.13 mg/g in the lower horizon, subsequently without great difference between the
upper and lower soil horizon.
In the fine sediment (< 74 mm), cdb
extractable Al and Fe show almost the same
average concentrations as in the soil, 1.7 mg/
g d.w. and 16 mg/g d.w. respectively. The
average concentration of Mncdb on the other
hand is higher than in the soil, 0.35 mg/g
d.w.
The results show that the soil and sediments are rich in Fe and Al oxy-hydroxi-
Wolpher et al.
des. Studies in the Amazon region suggest
that these oxides control the Hg concentrations in soil, especially by Al substituted Fe
oxide (Roulet et. al., 1998). A positive correlation of Hg with Al, Fe, and Mn oxyhydroxides has been found in sediments also
in the Pantanal region (Hylander et. al.,
1999).
In the present study, Hg has a positive correlation with both Al, Fe and Mn oxyhydroxides in sediment. The correlation is
relatively strong with Al (r = 0.94) but weak
for Fe and Mn (r = 0.63).
In contrast a relatively strong negative correlation between Hg and Al (r = 0.95) and between Hg and Fe (r = -0.95)
was found in the soil. The correlation between Hg and Mn was also negative but insignificant (r = -0.39). When the two soil
horizons were treated separately, Hg showed a strong negative correlation with Mn,
Fe and Al with r-values ranging from –0.84
to –1.00. One thing that should be noticed
is that the diagram only consists of three
points when the soil horizons are treated
separately and subsequently does not allow
for solid conclusions. The correlation between Hg/Fe and Al/(Al+Fe) was tested to see
if Al substituted oxy-hydroxides influence
the Hg concentration. A strong positive correlation was found in sediments (r = 0.99),
but a weak negative correlation was found
in soil.
The mass ratio found between Hgtot and Fecdb (1.6*10-6 in soil and sediments)
19
was low compared to earlier studies in the
Amazon region (Roulet et. al., 1998).This
holds also for the mass ratio between Hgtot and Alcdb ( 1.5*10-5 in both soil and
sediments). The average Hg-tot/Mncdb ratio in soil and sediment are 1.6*10-4 and
7*10-5 respectively. All ratios are also three
times lower than in the Pantanal region. It
should be noted that the ratios from Pantanal were calculated with oxalate (pH 3)
extracted ions, which results in higher ratios than cdb since oxalate is a weaker extractant than cdb (Hylander et. al., 1999).
Carbon, nitrogen and sulphur in soil
and sediment
Soil and sediment samples were also
analysed for carbon, nitrogen and sulphur.
The results presented in Table 3 show that
the carbon concentrations are low.
The mean concentration in the upper
soil horizon is 1.4% and in the lower horizon 1.0%. In sediments the mean concentration is 2%. The low C/N-ratio in soil
indicates that the organic material mainly
consists of humic substances. In sediment
the C/N-ratio is also low with values between 14 and 16.
As Hg has high affinity for organic
matter and sulphur in its reduced form or
in organic substances, correlation tests
with the different parameters were performed. The correlation between Hg and C
is positive both in soil and sediment, but
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
Wolpher et al.
20
the correlation is only significant in the sediment (r = 0.98). A very strong correlation between Hg and S was found in sediment (r = 0.99). In the soil this is not observed. The sulphur also correlates positively to the carbon concentration (r =
0.99), and this could indicate that the sulphur is mainly in organic form. The correlation with C/N was not very strong neither in soil or sediment (soil: positive r =
0.87, sediment: negative and insignificant).
Water parameters
Water parameters shown in Table
4, show that the river Casca has acid water while the Manso has neutral water. The
average amount of suspended material in
the Manso is 3.2 mg/L. In the Casca the
average amount is 8.0 mg/L. Compared
to studies downstream in the Pantanal region ( 18-469 mg/ L) our values are very
low. This indicates that erosion from land
areas around and upstream the rivers
Manso and Casca is quite limited, due to
mainly undisturbed vegetation and hardly
any agricultural activities with cultivated fields. Studies in the Amazon show concentrations ranging between 4 and 84 mg/L
(Roulet et. al., 1998).
The Manso river has a higher total
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
carbon concentration (14.9 mg/L ) than the
Casca (2.2-2.3 mg/L ). Also the sampling
site in the construction area has a high total
carbon concentration (15.9 mg/L ). It can
also be seen that these values originate mostly from inorganic carbon that is not present
after acid treatment. The amount of organic
carbon is low in all samples, 1.2 mg/L to
3.0 mg/L. From these values it can be concluded that there is a low concentration of
dissolved organic carbon (DOC) in the rivers. The concentration of dissolved organic material will probably rise after impoundment and effect the Hg levels in fish. Hg
methylation has been shown to increase in
flooded reservoirs as a result of increased
decomposition of organic material from the
flooded land. The specific conductivity is
very different in the two rivers with a ten
times higher conductivity in the Manso than
in the Casca river. The high conductivity in
the construction area and in the Manso river is probably due to a high concentration
of inorganic carbon. This could also explain
the difference in pH in the two rivers. Both
rivers have low turbidity and a large secci
depth, around 1 m, that is consistent with
the low burden of suspended material in the
rivers. As expected there are oxidizing conditions with dissolved oxygen above 6 mg/L
and no sign of oxygen depletion.
The floculating method we used to
Wolpher et al.
determine the Hg content in the suspended
material was not sensitive enough to handle
such small amounts of suspended matter.
According to Roulet et al. (1998), 40-80%
of the mercury in the river water is associated with fine particulate matter. This indicates that, due to the low amount of suspended matter, both the Casca and Manso rivers should have relatively low total Hg levels in the water.
Environmental aspects when planning
and constructing the hydropower station
Eletronorte, a federal company with
the task of supplying the inhabitants of the
northern states of Brazil with electricity, iniciated prospecting for a hydroelectrical station in the Manso river in 1982, commissioned by the Ministry of Mines and Energy,
Ministry of Interior, and The State of Mato
Grosso (Valerio, 1988, p. 21). The idea of
constructing a dam in the Manso river was
proposed for the first time after the gruesome floods in 1974, when parts of the city of
Cuiabá were washed away by the river
water, eroding the river banks, cutting new
river courses, and flooding areas generally
not flooded during the wet season The river
reached 10.9 m depth in March, 1974, while
its depth during the dry season was around
1 m (Eletronorte, 1987; Valerio, 1988).
However, the idea of protecting Cuiabá from
flooding with a dam in the Manso river was
rejected due to the high costs (DNOS,
1976). Valerio (1988) stated that the major
part of the water originated from surface
21
runoff of the Cuiabá main basin itself and
not from the subbasin at the Manso, more
than 260 km away. In the area closer to
Cuiabá the forest and bush land was mainly cleared and substituted by farm lands
with poor retardment on surface water
flow (Conceição, 2000). The limited contribution (20%) from the subbasin of the
Manso river to excessive floods in Cuiabá
was also confirmed in a later survey (Eletronorte, 1987; Valerio, 1988) In spite of
this, Eletronorte used the protection
against excessive floods as the main argument to win the public acceptance for the
construction of the hydroelectrical plant in
the Manso river (Eletronorte, 2000).
When preparing the project plans
for Manso, Eletronorte did not include a
passage for fish to pass the dam (Valerio,
1988, p. 20; ), generally demanded by
Brazilian legislation (Brazil, 1927). Eletronorte refered to an amendment enforced
by the Brazilian hydroelectrical industry,
stating that a passage for fish to pass the
dam may be substituted by other measures to maintain the fish population, such as
fish breeding stations (Brazil, 1938; Eletrobrás, 1995). The state law in Mato
Grosso does not demand a fish passage in
dams with an altitude above 25 m, to which APM Manso belongs (Official at
FEMA/MT, 2002, referring to Código das
águas, article 29 in MATO GROSSO,
2001).
The conditions for the fish downstream from the dam was further deteriorated by Eletronorte’s proposal and subsequent practice to fill the reservoir rapidly by severally restricting the water flow
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
Wolpher et al.
22
in the Manso river once the dam was constructed, leaving a minimal water flux via a
tunnel (Túnel Verde; Sondotécnica, 1980).
Initially, Eletronorte did not elaborate any
study on environmental consequences of
the planned hydroelectrical plant in the
Manso river, but possible negative effects
on fish population and environment was
pointed out by researhers at the university
in Cuiabá and other specialists (Valerio,
1988). The project was paralised until
Eletronorte presented a study on expected environmental consequences (Projeto
Básico Ambiental do APM-Manso), followed by a detailed document addressing
environmental concerns raised by FEMA/
MT, the Mato Grosso State Environmental Agency (Barros, 2000). These documents resulted, in 1998, in the permission
to continue with the original hydroelectrical project (Licença de instalação nº 020/
96 and Licença de Instalação nº 109/98
as related in Barros, 2000). Furnas Centrais Elétricas S. A. took over the hydro
electrical complex from Eletronorte in
1999.
Effects after completed construction
In 2000, fish reproduction was dras-
Figure 2. Maximal
precipitation during a
24-hours period (mm) in
Cuiabá during the
months of 1999 and
2000 compared with
corresponding
averages of the 1961 –
1990-period. Source:
Annuário Estatístico ,
MT-2000 e 2001;
MAA,1992. Elaborated
by E. C. Neis.
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
tically reduced not only in the Manso because of the dam forming an approximately
280m high physical barrier, but also in the
upper Cuiabá river, downstream the dam,
since the fishes, due to lack of water, could
not migrate to their spawning areas at the
onset of the rains in September – October
1999 (Jornal o Estado de Mato Grosso,
1999). This was especially hindering for the
migration of large, carnivorous species, such
as striped and spotted catfishes (Pseudoplatystoma spp.; cachara and pintado)),
who swim upstream during the wet season
to spawn in the source-streams of the large
rivers (Brasil-Estado de Mato Grosso,
1999). Amazon catfish (Paulicea lutkeni;
jaú) has a less regular moving pattern for
the mating season, but still needs water and
flooded river beds for successful breeding
(Brasil-Estado de Mato Grosso, 1999). In
l999 and 2000, precipitation was l.720 mm
and l.360mm, respectively, while the potential evaporation was l.873 mm and l833
(Anuário Estatístico/Mt, 2000; Anuário Estatístico/ MT, 2001). Large precipitation
during a 24-hour period results in large surface runoff and low infiltration of water into
the soil. Figure 2 indicates that maximal precipitation during a 24-hour period was lower than normal in all months during the fi-
Wolpher et al.
lling of the dam, except for November 1999
and March 2000. Consequently, climatic
conditions further aggravated the negative
impacts on fish reproduction, caused by
drastically reduced the river flux when filling
the dam.
The reduced flow from the Manso river, in the future, will influence the inundation of Pantanal a few hundred km downstream. This may have large negative impacts
on the fish populations, especially in combination with completed and ongoing dredging in different places of the large waterways of Pantanal, resulting in a faster drainage, less inundated area and inundated for
shorter period of time (Gottgens et al.,
2001). An objective evaluation is needed of
the effects caused by the dam at the Manso
river on environment, human health, and food
sources such as fish abundance in the whole
basin of the Cuiabá river. In 1998, it was
estimated that 2155 persons had to be removed from the area to become inundated
(Eletronorte, 1998). About 464 families got
new homes, including 15 - 16ha land (Barros, 2000). The produced electricity does
in general not reach the local population,
who had their living conditions deteriorated
after the disappearing income from fishing
(Folha do Estado, 2000b; A Gazeta, 2001),
removing the subsistence from more than
2400 full-time fishermen (Folha do Estado,
2000).
23
eding should avoid eating carnivorous fish
species from the Manso river. Large negative impacts on fish population have been
observed during the first year after completion of the dam. An investigation about
possible environmental impacts and with
proposed, corrective steps should be executed before any future constructions of
hydroelectrical dams in Brazil. The hydroelectrical power companies are obliged to
take measures to minimize negative effects
on fish populations from hydroelectrical
complexes in countries such as Canada,
Sweden, and the US. The additional costs
are small, but reduce the damage on one
of the local population’s most important
food source. Furnas is running Furnas
Hydrobiology and Fish-Farming Station in
order to re-stock the reservoirs of its power plants along the Grande river in southern Brazil with fish (Furnas, 2001). It is
expected that Furnas also counteracts the
negative effects caused at APM Rio Manso.
More research is needed to increase the knowledge of the influence of inundation, changed water fluxes and other parameters on fish populations, ecosystems,
and mechanisms of methylation and uptake. It is important to continue studies after
the inundation in order to verify whether
Hg fish levels will rise as expected. Influencing parameters should also be studied
in order to explain encountered changes.
CONCLUSIONS
ACKNOWLEDGEMENTS
Background mercury levels in carnivorous fish species from the Manso river are
close to the limit for human consumption.
Dissolved organic carbon and waters comparably poor in nutrients could be the main
reasons. The construction of the dam will
most probably cause mercury levels to rise
above the limit in many species. Consequently, pregnant and women who are breastfe-
This study was partly financed by
SIDA (Styrelsen för Internationellt Utvecklingsarbete).
Thanks to Danielle Araujo, Raquel
Neves and Rosalvo Stachiw for help with
laboratory work at UFMT, and to Norma
Pinto, Villela Acyr Gonçalves and Kevi
Soliman at Furnas.
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
Wolpher et al.
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27
ARTIGO ORIGINAL
O controle da hipertensão arterial como atividade de atenção primária à saúde, no município de
Santa Terezinha, MT*
ORIGINAL ARTICLE
The arterial hypertension control such activity of primary attention health.
Santa Terezinha, Mato Grosso state
*Este artigo é parte do trabalho de monografia desenvolvido como exigência da conclusão do curso de especialização em
saúde da família oferecido pela Universidade Federal de Mato Grosso e Escola de Saúde Pública “Agrícola Paes de Barros”,
financiado pelo Ministério da Saúde por meio do Programa de Interiorização dos Trabalhadores de Saúde.
Leonardo GRAEVER 1
Henry M. PEIXOTO2
Alex M. RODRIGUES3
Eliane IGNOTTI4
CORRESPONDÊNCIA/
CORRESPONDENCE:
Eliane Ignotti
Rua Dr. Jonas Correa da
Costa, 210
CEP: 78.030 – 510 - Cuiabá
/ MT
Fone: 65.637 1471 – Fax:
65. 637 7539
e-mail:
[email protected]
1
Médico do PSF de Santa Terezinha/MT.
Enfermeiro do PSF de Santa Terezinha/MT.
3
Médico da rede básica em Chapada dos Guimarães/MT; professor
do Curso de Especialização em Saúde da Família e Universidade de
Cuiabá.
4
Professora do Curso de Especialização em Saúde da Família e da
Universidade Estadual de Mato Grosso; doutoranda na ENSP/
FIOCRUZ.
2
RESUMO
Este estudo tem por objetivo descrever o perfil epidemiológico da população de hipertensos, referidos no Programa do Controle da Hipertensão Arterial
Sistêmica, assim como o impacto do acompanhamento destes indivíduos durante
os 7 primeiros meses de trabalho da Equipe de Saúde da Família urbana do município de Santa Terezinha, estado de Mato Grosso. Foram utilizados os dados
cadastrais do Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB), além dos registros de acompanhamento dos casos com diagnóstico de hipertensão arterial
sistêmica confirmados. Dos 139 casos de hipertensão, 114 indivíduos foram acompanhados em relação a todas as variáveis em estudo. Verificou-se uma prevalência de 5,84% de hipertensão arterial na população acima de 19 anos; o grupo com
idade acima de 59 anos e do sexo feminino apresentou maior prevalência; verificou-se a presença de obesidade em mais de 70% e cardiopatia em 21% dos indivíduos; 47% têm antecedente familiar importante e 15% são diabéticos; 44%
apresentam algum indício de lesão de órgão-alvo; 43% são de alto risco e 39%
têm risco muito alto para complicações cardiovasculares. Os hipertensos atendidos pela Equipe de Saúde da Família constituem um grupo com alta morbidade e
risco cardiovascular considerável a ser priorizado nas atividades de controle da
Hipertensão Arterial. A estratégia de Atenção Básica, como o Programa de Saúde
da Família, mostrou resultado positivo, que possivelmente resultará na redução
da morbidade e do risco cardiovascular.
ABSTRACT
The purpose of this paper is to describe the epidemiological profile of
hypertensive subjects enrolled in the Program of Control of Arterial Hypertension
and the impact of the treatment after seven months of contact with the Family
Health Team in the city of Santa Terezinha, Mato Grosso State. Data from the
System of Basic Care Information, and data from the records of the patients with
confirmed diagnosis of Arterial hypertension were used. We collected data of
all variables from 114 of 139 hypertensive patients. The prevalence of
hypertension was 5,84% in patients older than 19 years; the highest prevalence
of hypertension was in women older than 59 years; more than 70% of the group
are obese, and 21% have heart disease; 47% have a family history of diabetes
and 15% are diabetics; 44% present signs of target organ lesion; 43% have
high risk and 39% have very high risk of cardiovascular complications. The
group of hypertensive patients seen in this Family Health Team is a group of
high morbidity and important cardiovascular risk that need priority in activities
for hypertension control. The strategy of Basic Care, like the Family Health
Program, showed good results, and probably will contribute in reduction of
morbidity and cardiovascular risk.
Palavras-chave:
Hipertensão
arterial, Atenção
primária, Saúde
da família.
Key words:
Arterial
Hypertension,
Primary
attention,
Family Health.
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
Graever et al.
28
INTRODUÇÃO
As doenças do aparelho circulatório constituem a primeira causa de morte
na maioria dos países do mundo. O Brasil
está incluído no grupo de países onde as
doenças circulatórias levam ao maior número de mortes, além de causar grande
incapacidade, por apresentar morbidade
igualmente elevada (MS, 2001). A hipertensão arterial é a doença do aparelho circulatório mais prevalente, e também um
fator de risco importante para as demais
doenças cardiovasculares, como a Doença Arterial Coronariana e o Acidente Vascular Cerebral. Condições igualmente graves como Insuficiência Renal Crônica, Insuficiência Cardíaca e Cegueira estão também relacionadas à hipertensão. Assim,
cada vez mais se tem dado ênfase à importância do controle rigoroso da pressão arterial e dos fatores de risco associados às suas complicações, incluindo a
estratificação de risco cardiovascular,
como medida efetiva e necessária à redução da morbidade e mortalidade associadas a esta doença (JNC VI, 1997). A dificuldade deste controle é fato conhecido
e enfrentado comumente nas unidades de
atenção básica (Pena, 2002). Suas causas são as mais variadas, desde desconhecimento da condição por parte dos
pacientes, até a baixa adesão ao tratamento, mesmo quando estes conhecem o diagnóstico (Trindade, 1998).
No ano de 1999 no Município de
Santa Terezinha, as doenças do aparelho
circulatório constituíram a principal causa
de mortalidade e a terceira maior causa
de internação hospitalar (SES-MT, 2001),
refletindo o padrão nacional de morbimortalidade. Por se tratar de um dos principais problemas de saúde da comunidade, a Hipertensão Arterial constitui prioridade para as ações do Programa de Saúde da Família ou PSF. Desta forma, este
estudo tem por objetivo descrever o perRev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
fil epidemiológico da população de hipertensos referidos1, assim como o impacto do
acompanhamento destes indivíduos pelo
Programa do Controle da Hipertensão Arterial Sistêmica durante os 7 primeiros meses de trabalho da Equipe de Saúde da Família no Município de Santa Terezinha.
A implantação do PSF em Santa Terezinha – MT
Em julho de 2001 teve início a implantação do PSF no Município de Santa
Terezinha, localizado no extremo Nordeste
do Estado de Mato Grosso, a 1.440 Km
da capital Cuiabá. Naquela época, a atenção à saúde estava concentrada em um
Centro Municipal de Saúde e no Hospital
Municipal de Santa Terezinha. Somente em
janeiro de 2002 a Secretaria Municipal de
Saúde disponibilizou uma unidade básica
específica para o trabalho da equipe de saúde da família. O médico e o enfermeiro do
PSF foram contratados pelo Ministério da
Saúde, por meio do Programa de Interiorização dos Profissionais de Saúde (PITS)
(MS, 2001). O município e Secretaria de
Estado de Saúde viabilizaram a contratação dos agentes comunitários de saúde e
auxiliar de enfermagem, além da disponibilização da unidade básica de saúde. A Escola de Saúde Pública “Agrícola Paes de
Barros” em parceria com a Universidade
Federal de Mato Grosso e Ministério da
Saúde ofereceram o programa de capacitação dos profissionais do PSF com um
curso de especialização em saúde da família e tutoria aos profissionais.
Por ocasião do início das atividades
assistenciais da equipe, a princípio no Centro de Saúde existente há vários anos no
município, verificava-se baixa resolubilidade do sistema de atenção básica existente,
observando-se falta de continuidade do
acompanhamento ambulatorial, principalmente no que diz respeito aos portadores
de doenças crônico-degenerativas como,
Graever et al.
por exemplo, a hipertensão. Muitos pacientes apresentavam inadequado controle
pressórico, desconhecimento da necessidade de terapia continuada e dos fatores de
risco associados à doença.
Considerando-se uma população total de 6.270 habitantes, dos quais 54% residentes em área urbana (IBGE, 2001), uma
equipe de saúde da família é suficiente para
garantir 100% de cobertura do programa
em área urbana. Assim, o PSF como estratégia para a atenção à saúde teve como
objetivo reorganizar a prática da atenção
primária à saúde de Santa Terezinha. Seus
princípios e características, incluindo a territorialização e o cadastramento da clientela, o trabalho em equipe incluindo os agentes comunitários de saúde como elo entre a
comunidade e o serviço de saúde e, ainda,
o estabelecimento de uma relação profissional-paciente sólida, permitiria à equipe de
saúde executar ações de promoção, prevenção e assistência à saúde da população
de maneira efetiva e longitudinal, garantindo um vínculo profundo entre o usuário do
serviço e a equipe profissional (MS (b),
2001).
MATERIAL E MÉTODO
Trata-se de um estudo epidemiológico descritivo, a partir de informações referidas pela clientela da área adstrita da Equipe de Saúde da Família da área urbana de
Santa Terezinha, que durante o processo de
cadastramento familiar informou ser hipertensa, além da clientela regular de atendimento pela equipe de saúde. Assim, foram
encontrados e examinados em consulta médica 139 indivíduos com hipertensão arterial sistêmica. Considerando-se a dificuldade
de acesso aos exames laboratoriais mais
extensos para todos os indivíduos, neste
estudo foram levados em consideração apenas os exames laboratoriais básicos, seguindo a recomendação de Reis (1999). Assim, para os casos com confirmação diag-
29
nóstica clínica de hipertensão arterial sistêmica, foi solicitado o exame sumário de
urina e glicemia capilar de jejum.
Do conjunto de 139 hipertensos referidos, 114 foram avaliados e classificados em relação ao seu grau de hipertensão (leve, moderada ou grave) e seu risco
cardiovascular determinado de acordo
com a avaliação realizada na primeira consulta e com os resultados de exames laboratoriais, obtidos em um retorno próximo. Era iniciado então o tratamento adequado ao risco estabelecido. Além do tratamento farmacológico e acompanhamento pela equipe de PSF, os pacientes participaram de atividades educativas em grupo e aconselhamento individual.
Os dados foram retirados da ficha
de avaliação inicial de cada paciente, preenchida pelo médico da equipe de saúde,
contendo anamnese dirigida à doença em
questão, exame clínico, investigação laboratorial, estratificação de risco para complicações e tratamento proposto. Posteriormente esses dados foram organizados
e analisados, a fim de se traçar um perfil
da população em estudo no que diz respeito às suas características clínico-epidemiológicas, como freqüência de sintomas,
presença de fatores de risco para complicações da hipertensão arterial e estimativa de risco cardiovascular baseada em
avaliação clínica e laboratorial.
Considerou-se como variáveis em
estudo: a microárea2 de residência; faixa
etária; sexo; fatores de risco; sintomas;
presença e tipo de lesão em órgão alvo e
ainda, grau de hipertensão. Para tabagismo e etilismo foram considerados presentes quando havia relato do hábito ou história do mesmo. O sedentarismo foi considerado presente quando relatada ausência de atividade física regular, sendo a
mesma proveniente de prática de atividades esportivas ou cotidianas. No caso de
diabetes considerou-se o diagnóstico confirmado por glicemia plasmática, suspeiRev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
Graever et al.
30
tado por glicemia capilar ou paciente em
tratamento regular. A alimentação foi classificada de acordo com a predominância
de componentes da dieta, identificados
por inquérito alimentar qualitativo durante
a avaliação segundo as categorias: Balanceada - quando há ingestão de carboidratos, lipídios e proteínas de origem animal
e vegetal; Protéica – quando há predominância de alimentos ricos em proteínas
(carne, peixe) e carência dos demais elementos da dieta; Calórica – quando há
predominância de carboidratos e lipídios
em detrimento dos outros componentes da
dieta. Para obesidade foi utilizado o indicador Índice de Massa Corpórea (IMC)
maior que 25. Em caso de classificação
como lesão de órgão-alvo presente, foram identificadas as seguintes formas clínicas: cardiopatia, nefropatia, doença arterial periférica, doença cerebrovascular.
O Grau de Hipertensão foi determinado
pelo valor da PA na avaliação inicial, conforme classificação do III Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial (CBHA)
como: leve, moderado ou grave apresentados no Quadro 1. O risco cardiovascular também determinado pela classificação
do Consenso Brasileiro de Hipertensão
Arterial, leva em conta o grau de hipertensão atribuído na avaliação inicial e os
demais parâmetros apresentados no Quadro 2 (Vieira Neto, 2000).
Observou-se finalmente, a distribuição percentual de hipertensos com PA
controlada segundo o número de consultas realizadas, assim como a equação de
regressão linear para a tendência tempo-
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
ral das médias de aferição de pressão sistólica e diastólica realizadas a cada mês.
Utilizamos com base populacional para cálculos de prevalência os registros do Sistema de Informação da Atenção Básica
(SIAB) para habitantes com 20 anos ou
mais, apenas da área urbana do município
de Santa Terezinha. Tais registros foram
coletados entre agosto e outubro de 2001.
RESULTADOS
Foram consolidados os dados referentes a 139 pacientes, caracterizando uma
prevalência de hipertensão arterial na população adulta da área urbana de Santa
Terezinha de 58,4 casos por 1.000 habitantes com mais de 19 anos. Os pacientes
apresentaram idade média de 60 anos. Na
Tabela 1 observa-se a proporção de hipertensos segundo prevalência por microárea
de residência, faixa etária e sexo, utilizando-se por base populacional os registros
SIAB. Pode-se verificar uma variação da
prevalência de hipertensão nas microáreas
adscritas ao PSF, de 31,2 a 66,5 por 1.000
habitante para indivíduos com 20 ou mais
anos. Esta variação possivelmente é decorrente da facilidade de acesso à unidade de
saúde, pela proximidade da mesma com as
micro-áreas 1 e 2, somado a diferenças na
atuação dos agentes comunitários de saúde
no cadastramento familiar, considerando-se
que não foram observadas diferenças na
distribuição por idade segundo microárea.
Quanto à faixa etária, observa-se que a proporção de hipertensos mostra-se em concordância com a distribuição habitual da
Graever et al.
doença pelo avanço da idade, com 43,2%
dos casos entre os indivíduos com 60 anos
ou mais, alcançando uma prevalência de 252
casos de hipertensão arterial sistêmica por
1.000 habitantes. Em relação à distribuição
por sexo, havia no grupo 46 (33,1%) pessoas do sexo masculino e 93 (66,9%) do
sexo feminino. Entretanto, a prevalência resultou em 81,4 e 37,2 por 1.000 habitantes
acima de 19 anos, do sexo feminino e masculino respectivamente.
Dos 139 hipertensos, 114 foram submetidos à avaliação inicial do Programa de
Controle da Hipertensão Arterial. Quanto à
apresentação clínica da doença, 96 pacientes (84,2%) referiram algum tipo de sinto-
31
ma durante a avaliação, enquanto 18
(15,8%) estavam assintomáticos. Na Tabela 2 pode-se observar a distribuição percentual dos sintomas, dos quais a cefalélia
mostrou-se presente em 33,4% dos casos avaliados. Para fatores de risco associados à hipertensão arterial e suas complicações, dos 114 pacientes avaliados, 40
(35,1%) apresentaram história de tabagismo ou afirmaram ser fumantes ativos, 24
(21,1%) apresentaram história de etilismo
ou afirmaram ingerir bebidas alcoólicas
com freqüência, 72 (63,2%) não realizavam atividade física regular e 48 (45,7%)
afirmaram possuir alimentação baseada
em carboidratos e lipídios. Para os fatoRev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
Graever et al.
32
res de risco que dependem de avaliação
clínica, a obesidade foi observada na maioria dos indivíduos, com 71 casos registrados (72,4%), apresentando Índice de
massa corpórea (IMC) acima de 25. Foi
registrada prevalência de diabetes Mellitus tipo II em 18 pacientes (15,8%). DenRev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
tre os pacientes avaliados, 54 (47,5%) relataram histórico de antecedente familiar de
hipertensão, diabetes, doença cardiovascular ou acidente vascular cerebral (AVC).
Para lesão em órgão-alvo dos 114 pacientes, 51 (44,7%) apresentam algum indício.
Desse grupo, 24 (21,1%) mostraram sinais
Graever et al.
clínicos de cardiopatia relacionada à hipertensão, 20 (17,5%) apresentaram alteração
clínica em artérias periféricas ou carótida, 4
(0,06%) apresentaram história ou seqüela
de doença cerebrovascular e ainda 3
(0,03%) apresentam nefropatia (proteinúria). Quanto à classificação do grau de hipertensão, 24 pacientes (21,1%) apresentaram hipertensão arterial leve, 42 (36,8%)
moderada e 48 (42,1%) hipertensão grave.
A estratificação de risco preconizada pelo
Ministério da Saúde e pelo CBHA, quando
aplicada nos pacientes por ocasião da primeira avaliação, revelou apenas 1 paciente
(0,9%) de baixo risco, 20 (17,5%) pacientes de risco médio, 49 (43%) de alto risco
e 44 (38,6%) pacientes de risco muito alto
para complicações.
Na Tabela 3, observamos os resultados de aferição da PA sistólica e diastólica
e na Figura 1, pode-se verificar, por meio
da equação de regressão linear, um
33
r2=0,8665 com tendência descendente ao
longo dos meses de acompanhamento. Os
resultados positivos descritos nestes estudos podem ainda ser observado na Figura 2, que mostra a elevação do percentual de hipertensos com PA controlada
quanto maior o número de consultas médicas de acompanhamento, variando de
18,7% para 1 consulta a 52% para 4 consultas.
DISCUSSÃO
A existência de um Sistema de Informação com dados acerca dos hipertensos da área de abrangência do PSF
ofereceram à equipe um ponto de partida
para o trabalho. O Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB) possui
dados epidemiológicos dinâmicos e acessíveis quando adequadamente atualizados.
Lidar com dados epidemiológicos na prá-
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
Graever et al.
34
tica da atenção primária à saúde é prérequisito para o sucesso desse modelo de
atenção, onde a identificação de problemas de saúde da comunidade resulta na
formulação de programas de saúde coletiva pela equipe de atenção à saúde local
(STARFIELD, 2001). Estudos nacionais
com base em levantamento populacional
têm revelado prevalências de Hipertensão
Arterial em torno de 20% ou mais (TRINDADE, 1998). A baixa prevalência observada (5,84%) possivelmente é explicada pela não realização de busca ativa
de casos novos, porque se concentrou em
identificar casos diagnosticados previamente para avaliação e adequação das
estratégias de controle, o que justifica a
alta morbidade e o perfil de risco observado.
Os resultados revelam um panorama desfavorável à saúde da população estudada. A presença de diversos fatores de
risco para complicações, como obesidade, tabagismo, etilismo, sedentarismo, alimentação inadequada, e ainda a distribuição da população conforme estratificação
de risco, revelando uma grande proporção (82%) classificada em grupos de risco alto e muito alto para complicações cardiovasculares somados a identificação de
lesões em órgãos-alvo, reflete um mau
controle dessa doença, atual e pregresso.
Provavelmente a maioria dos indivíduos identificados neste estudo não teve
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
acesso a informações a respeito de fatores
de risco para a hipertensão e suas complicações, da necessidade de tratamento contínuo e visitas periódicas ao médico, enfim,
da doença como entidade crônica pertencente à rotina diária do indivíduo, necessitando de vigilância contínua. A atenção à
saúde desses pacientes no Centro de Saúde era realizada por meio de demanda espontânea, condicionando as consultas médicas ou de enfermagem à presença de sintomas, o que sabidamente, não é a forma
mais adequada de acompanhamento da
população hipertensa (IV JNC, 1997; MS,
2001; Marvin M., 2002). Embora o controle da hipertensão seja uma tarefa difícil,
seguramente as dificuldades descritas têm
influência na gênese do mau controle da
doença em questão. Destas, a má informação do paciente acerca da sua condição e
as características do modelo de atenção à
saúde têm papel de destaque, já que se
observa uma associação entre a continuidade de cuidados e controle de pacientes
hipertensos (Piccini R. X. & Victora C.G.,
1997).
Neste estudo, apesar do curto período de seguimento realizado durante rotina
dos serviços de saúde, verificaram-se resultados positivos. Embora grande parte dos
pacientes não tenham sido incluídos na análise no mês inicial das atividades da equipe
(novembro), com início do tratamento em
meses como março e abril, sendo, portan-
Graever et al.
35
to, esperado que estes apresentassem valores pressórios elevados, aumentando os
valores médios analisados, foi possível
acompanhar os resultados da estratégia, traçar o perfil epidemiológico do grupo e ainda, verificar a tendência positiva da proporção de pacientes com PA controlada. O
atendimento ao paciente por equipe de PSF
deve ter como característica a humanização
da relação profissional-paciente, o que permite maior vínculo entre estes, gerando uma
relação de confiança e responsabilidade que
melhora a adesão ao tratamento e às medidas com objetivo de controlar fatores de
risco, que podem ser melhor abordadas
quando há mais profundo vínculo entre as
partes, (Starfield B., 1998).
O surgimento de uma nova estratégia, o Programa de Saúde da Família, que
possui características que vão ao encontro
dos princípios básicos da atenção primária,
sendo estes a acessibilidade, o primeiro
contato, a longitudinalidade, a abrangência
e coordenação da atenção à saúde (Starfield, 2001), consiste numa alternativa aqui
apresentada como viável e eficiente.
CONCLUSÃO
No Município de Santa Terezinha a
hipertensão arterial caracteriza-se como
importante problema de saúde pública,
sendo que a população de hipertensos
atendidos pela Equipe de Saúde da Família constitui um grupo com alta morbidade e risco cardiovascular considerável
a ser priorizado nas atividades de controle da Hipertensão Arterial daquele município. A estratégia de Atenção Básica,
como o Programa de Saúde da Família,
mostrou resultado positivo, que possivelmente resultará na redução da morbidade
e do risco cardiovascular.
NOTAS
1 - Os indivíduos que referem ser hipertensos no processo de cadastramento familiar do PSF.
2 - Divisão territorial da área de abrangência do PSF.
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Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
Revista Saúde e Ambiente, 6(1/2): 37-46, 2003
ISSN 1516-5787
37
ARTIGO ORIGINAL
Avaliação das técnicas de coloração para Pneumocystis carinii no lavado gástrico, em crianças
com infecção respiratória internadas no Hospital Universitário Júlio Müller/UFMT/ Cuiabá/
MT*
ORIGINAL ARTICLE
Evaluation of staining techniques for Pneumocystis carinii in gastric lavage, in children with respiratory infection hospitalized at Julio Müller
Universitary Hospital/ UFMT/ Cuiabá, MT
* Artigo baseado em dissertação de Mestrado “Avaliação das técnicas de coloração
para Pneumocystis carinii no lavado gástrico, em crianças com infecção respiratória
internadas no Hospital Universitário Júlio Müller/UFMT/Cuiabá/MT”. Dissertação
defendida em abril de 2001 na Universidade Federal do Mato Grosso/Instituto de
Saúde Coletiva/ Cuiabá/Mato Grosso.
Edna M. C. SANCHES1
Olinda S. SILVA1
Clóvis BOTELHO 2
CORRESPONDÊNCIA/
CORRESPONDENCE:
Edna Maria Cavallini
Sanches
Rua Jaraguá 320/ 401
Bairro Bela Vista
CEP: 90450-140 Porto Alegre/ RS
e-mail:
[email protected]
1
Hospital Universitário Júlio Müller - Universidade Federal de Mato
Grosso.
2
Departamento de Clínica Médica – Faculdade de Ciências Médicas;
Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva – Instituto de Saúde
Coletiva, Universidade Federal de Mato Grosso; Universidade de
Cuiabá.
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo avaliar três diferentes técnicas de
coloração para o diagnóstico da infecção pelo Penumocystis carinii: Gram, Azul
de Toluidina e Gomori. Foram incluídas neste estudo,117 crianças internadas no
Hospital Universitário Júlio Müller, Cuiabá/MT, com suspeita clínica e ou radiológica de doença específica pulmonar, durante o período de janeiro de 1996 a
maio de 1997. Constatou-se uma prevalência de 34,2% de P. carinii, obtida através do resultado positivo detectado em qualquer uma das técnicas de coloração
(padrão ouro). Dentre o total (39,3%) dos pacientes com histórico clínico sugestivo de pneumocistose, 34,8% foram confirmados laboratorialmente. As prevalências do P. carinii detectadas isoladamente, a partir das técnicas utilizadas
foram as seguintes: Gram = 23,9%, Azul de Toluidina = 16,2%, e Gomori = 12,8%.
Também foram detectadas: desnutrição protéico-calórica em 50,4%, sendo 25,6%
de Grau II; 70,1 % de anemia; 52,1% de infiltrado intersticial difuso no exame
radiológico, complicações essas associadas à confirmação laboratorial de pneumocistose em 40,7%, 50,0%, 34,1% e 39,3% respectivamente. Obteve-se uma
positividade total de 44,4% de P. carinii na faixa etária de 0 a 1 ano, de 30,6% na
de 1 a 4 anos e de 7,1% na faixa de 4 a 13 anos. Concluiu-se que a positividade
para P. carinii aumenta com a combinação das técnicas de coloração: Gram e
Azul de Toluidina, para trofozoitas e cistos respectivamente.
ABSTRACT
This study has the aim of evaluating the diagnosis of Pneumocystis carinii by means of Gram, Toluidine blue and Gomori staining techniques. In this
study, 117 children hospitalized at the Julio Müller University Hospital in
Cuiabá/MT presenting clinical and radiologic characteristics of pulmonary
specific disease, between January 1996 and May 1997, were included. A 34.2%
Palavras-chave:
Pneumocystis
carinii, Lavado
gástrico,
Pneumonia,
Diagnóstico.
Key words:
Pneumocystis
carinii,
Gastric lavage,
Pneumonia,
Diagnosis.
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
Sanches et al.
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prevalence of P. carinii was found, obtained by positive test results detected by
any of the staining techniques (golden standard) used. Among the patients
with clinical history of pneumocystosis (39.3%), 34,8% were confirmed by laboratory tests. The prevalence of P. carinii detected isolatedly were the following: Gram 23.9%, Toluidine blue 16.2%, and Gomori 12.8%. 50.4% of the
patients presented caloric-proteic malnutrition, 25.6% presented level II malnutrition, 70.1% presented anemia and 52.1% presented diffuse intersticial
infiltration in the radiological exam. 40.7%, 50.0%, 34.1%, and 39.3% presented laboratory confirmation for pneumocystosis, respectively. A positivity of
44.4% for P. carinii was obtained in the age group from 0 to 1 year, 30.6% for
the group 1 to 4 years old, and 7.1% for the 4 to 13 year old group. We have
concluded that the positivity for P. carinii increases with the association of the
Gram, and Toluidine blue staining techniques for trophozoits and cists, respectively.
INTRODUÇÃO
O Pneumocystis carinii é um microorganismo que se encontra como saprófita no trato respiratório humano e de
outras espécies animais. Somente em baixas condições imunitárias do indivíduo
hospedeiro causa os quadros infecciosos,
as pneumonias ou a pneumocistose disseminada. O aparecimento de doença se
relaciona estritamente com a alteração das
defesas imunológicas, tanto congênitas
como adquiridas, sendo associada, predominantemente, com a alteração da imunidade celular (Benavides,1991; Marin et
al., 1996).
Somente nos últimos anos o P. carinii tem adquirido importância clínica humana, devido, principalmente, aos quadros
de imunodepressão inespecífica e ao aparecimento da síndrome de imunodeficiência adquirida (aids). Nestas condições é
comum o desenvolvimento de infecções
oportunistas e, dentre elas, a pneumocistose (Feldman, 1992).
O quadro clínico do P. carinii é similar ao de outras formas de pneumonias
intersticiais. Por isso, torna-se importante
fazer avaliação cuidadosa, diante de uma
criança com quadro clínico de infecção
respiratória aguda ou subaguda do tipo
intersticial. Deverão ser observados os
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antecedentes pessoais, a presença ou não
de condições predisponentes e a gravidade
dos sinais e sintomas clínicos, para uma boa
orientação diagnóstica (Duarte & Oliveira,
1998).
Estabelecido o diagnóstico presuntivo de pneumonia intersticial pelo P. carinii,
será necessário estabelecer o estudo diferencial com outras possíveis infecções, tais
como: micóticas, bacterianas, virais, parasitárias, ou ações de substâncias tóxicas ou
de drogas (Feldman, 1992; Ho-Yen & Joss,
1995).
Frente às dificuldades de definição
clínica ou sorológica e à impossibilidade de
cultivo do parasita, o diagnóstico de certeza da infecção pelo P. carinii é morfológico, ou seja, pelo encontro de trofozoítos e
cistos em material das vias aéreas (Feldman,
1992; Ponce et al.,1989). Para isso, utilizam-se, normalmente, amostras obtidas por
métodos como o escarro induzido, lavado
brônquico, lavado broncoalveolar, escovado brônquico, material aspirado com agulha fina ou aspirado endotraqueal, secreções
da nasofaringe e o lavado gástrico. Esta última forma é muito utilizada nas crianças,
pela dificuldade de se obter material pelo
escarro, sendo quase nunca usada em adultos (Chan et al., 1977; O’ Brien et al.,
Sanches et al.
1989).
Sabendo das dificuldades quanto à
escolha da melhor técnica para detectar a
presença do P. carinii em materiais orgânicos das vias aéreas, propôs-se, neste estudo, avaliar três diferentes técnicas de coloração do lavado gástrico para o diagnóstico dessa infecção oportunista: Gram, Azul
de Toluidina e Gomori. Assim, com o objetivo de determinar o percentual e a concordância de positividade para P. carinii a partir de diferentes técnicas de coloração, foram estudadas crianças com quadro clínico
e/ou radiológico sugestivos de infecção respiratória, através da análise microscópica do
lavado gástrico.
CASUÍSTICA E MÉTODOS
Casuística
Participaram do estudo crianças de
ambos os sexos, internadas para diagnóstico e tratamento de infecção respiratória, no
Serviço de Pediatria do Hospital Universitário Júlio Müller (HUJM) da Universidade
Federal de Mato Grosso. Foram estudadas 117 crianças, que foram submetidas ao
lavado gástrico, durante o período de janeiro de 1996 a maio de 1997.
Avaliação clínica
Para a avaliação clínica foram obtidas, através da revisão dos prontuários, as
seguintes informações de cada paciente: a)
gênero; b) idade: categorizadas nas seguintes faixas etárias: 0 a 1, 1 a 4 e 4 a 13 anos;
c) diagnóstico provisório de internação:
pneumocistose (taquipnéia, dispnéia, tosse
seca e febre baixa) ou não; d) presença de
anemia ou não: conforme valores de normalidade do hematócrito por idade (Wintrobe, 1998); e) desnutrição protéico-calórica: para crianças menores de 5 anos,
considerando-se os critérios de Gomez
(Carraza, 1999); para crianças maiores de
39
5 anos, consideram-se os critérios de Waterlow (Carraza, 1999); f) presença ou
não de infiltrado radiológico ao exame do
Rx de tórax.
Lavado gástrico
O lavado gástrico foi obtido utilizando-se sonda gástrica de plástico, descartável (sonda de Levine-Ilbrasgamma IBRAS-CBO, Industria Brasileira), a qual
foi introduzida no paciente no período
noturno, à meia noite, inicialmente fechada, e sendo aberta 5:00 horas após, aspirando-se o conteúdo com seringa de 20
ml. Após, foi injetado, em pequenas alíquotas, um total de 50 ml de água destilada estéril, para a realização do lavado gástrico. Esse material foi misturado ao aspirado inicial, constituindo-se de uma só
amostra, e posteriormente foi encaminhado ao laboratório para análise.
Preparação da amostra do lavado gástrico
Inicialmente as amostras foram fluidificadas com solução de N-acetilcisteína
e água destilada, na proporção 1:1(Feldman, 1992; Ho-Yen & Joss, 1995). Após
fluidificação, as amostras foram colocadas em estufa bacteriológica (37ºC), por
30 minutos sob agitação manual, as quais
foram centrifugadas por 15 minutos a
3.000 rpm. Desprezou-se o sobrenadante e foram confeccionadas três lâminas
(esfregaços) do sedimento de cada amostra e estas fixadas em estufa bacteriológica a 37 º C por 24 horas. Cada amostra
foi submetida as colorações de Gram, Azul
de Toluidina e Gomori ( Feldman, 1992;
Ho-Yen & Joss, 1995).
Diagnóstico microscópico
O diagnóstico microscópico foi realizado através da utilização do microsRev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
Sanches et al.
40
cópico Olympus e as leituras das lâminas
foram realizadas separadamente. Após as
leituras, aleatoriamente foram selecionadas lâminas (10% do total) das três colorações, utilizadas e enviadas para controle de qualidade a dois especialistas (LACEN - RS e LACEN - DF), para avaliar
a concordância entre positividade, negatividade e qualidade da coloração.
Análise Estatística
Foi utilizado o teste de Kappa para
detectar a concordância entre as técnicas
(Sackett et al., 1991). Foram utilizados
testes múltiplos (todas as técnicas ao mesmo tempo), considerando positivo em
qualquer um deles como evidência de doença.
Utilizou-se o teste do qui-quadrado para avaliação da associação entre a
positividade do P. carinii em relação as
variáveis: faixa-etária, desnutrição protêico-calórica, infiltrado intersticial difuso no
radiograma do tórax, anemia e gênero,
sendo considerado significante p < 0,05.
RESULTADOS
A distribuição dos resultados da
microscopia do lavado gástrico por todas
as técnicas, segundo o sexo das crianças,
mostrou total de positividade para Pneumocystis carinii de 34,2%, sem haver
diferença significativa da positividade entre os sexos ( p = 0,94) (Tabela 1).
Dos pacientes estudados, 39,3%
apresentaram diagnóstico clínico presuntivo de pneumocistose, mas desses, somente 34,8% foram confirmados laboratorialmente (Tabela 2). Não ocorreu associação estatisticamente significante entre clínica e diagnóstico laboratorial (p
=0,93).
Nas crianças estudadas, foram detectadas 70,1% com anemia e dessas
34,1% tiveram diagnóstico laboratorial de
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pneumocistose (Tabela 3), não havendo
associação da positividade para o P. carinii com a anemia (p = 0,84).
A distribuição dos resultados da microscopia, por todas as técnicas, do lavado
gástrico, segundo a presença ou não de
desnutrição protêico-calórica grau II (DPCII), é apresentada na Tabela 4. Nota-se
que 50% das crianças com microscopia
positiva para todas as técnicas tiveram DPCII associada (p = 0,034).
Dos casos com infiltrado intersticial
difuso (52,1%), 39,3% apresentaram positividade para P. carinii, o que se mostra na
Tabela 5 (p = 0,30).
A distribuição dos resultados da microscopia para o diagnóstico de infecção
respiratória por P. carinii, por todas as técnicas utilizadas, segundo a faixa etária, encontra-se na tabela 6. Vê-se que a positividade foi maior na faixa etária até 1 ano de
idade (44,4%). Entre as crianças de 1 a 4
anos a positividade foi de 30,6%, enquanto que entre crianças acima de 4 anos de
idade a positividade foi de 7,1%. Essa diferença foi estatisticamente significante
(p=0,025). Analisou-se a estratificação das
faixas etárias e observou-se que comparando as faixas até 1 ano e de 1 a 4 anos, 1 a
4 anos e de 4 a 13 anos, não houve diferenças estatisticamente significantes com
p=0,15 e p =0,075, respectivamente.
Ocorreu diferença significante nas faixas etárias de até 1 ano com a de 4 a 13 anos (p
=0,009).
Na Tabela 7 encontram-se os resultados obtidos com as diferentes colorações
microscópicas para o diagnóstico de pneumocistose respiratória. Observa-se que a
coloração pelo Gram obteve uma positividade (23,9%) maior que as das outras colorações estudadas, seguido pela coloração
de Azul de Toluidina (16,2%), e pela coloração de Gomori (12,8%). Aplicou-se o
teste de concordância Kappa entre as colorações empregadas e observou-se que
com as colorações de Gram e Gomori o
Sanches et al.
41
índice foi de 0,246, com as colorações de
azul de toluidina e Gomori o índice foi de
0,519.
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42
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Sanches et al.
Sanches et al.
DISCUSSÃO
As características clínicas da pneumocistose são inespecíficas, não sendo suficientes para diferenciá-la de outras infecções oportunistas que ocorrem em pacientes atendidos em pediatria. O seu diagnóstico é conclusivo quando, aliado ao quadro
clínico e radiológico, detecta-se morfologicamente os trofozoítas e cistos do Pneumocystis carinii em amostras das vias aéreas (Gottlieb & Reyes, 1982; Ponce et al.,
1989; Feldman 1992; Henn & Barreto,
1998; Raab et al., 1994; Kamiya et al.,
1997).
As amostras obtidas através de biópsia transbrônquica, a céu aberto e lavado broncoalveolar, atingem índice de positividade perto de 100% (Kamiya et al.,
1997; Henn & Barreto, 1998). Outras
amostras, obtidas por métodos simples
como o escarro, com ou sem indução, secreções orotraqueais e secreções gástricas
atingem índices que vão de 55% a 92%
(Smith, 1994; Kamiya et al., 1997; Henn &
Barreto, 1998). Assim, levando em consideração as dificuldades de se obter amostras por técnicas mais invasivas, ou mesmo
amostras não invasivas como escarro nas
crianças, optou-se pela realização do lavado gástrico, já que este tem sido padroni-
43
zado como material de rotina para detecção de outras patologias respiratórias infecciosas (Chan et al., 1977; Feldman,
1992; Castillo, 1983; O’Brien et al.,
1989).
Nos últimos anos, têm-se conseguido resultados satisfatórios com técnicas
menos invasivas, utilizando-se mais de métodos de coloração para a detecção do
P. carinii, com isto ocorrendo maior rapidez no diagnóstico e conseqüentemente
introdução precoce da terapia, evitando
assim, a morbidade e mortalidade (Lorca
et al., 1992; Wazir et al., 1994; Kroe et
al., 1997).
O diagnóstico pode ser obtido através de distintas técnicas como a microscopia (Gomori, azul de toluidina, Giemsa), a imunofluorescência indireta com anticorpos monoclonais e a PCR ( Weitz &
Atias, 1990).
Sabe-se que a coloração pelo Gram
cora os trofozoítos, os organismos intracísticos e os cistos de P. carinii, enquanto que os corantes azul de toluidina e o
Gomori mostram unicamente a parede do
cisto. Portanto, orienta-se a realização
dessas duas colorações para aumentar a
positividade do diagnóstico (Feldman,
1992; Ponce et al., 1989; Torres et al.,
1989).
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
Sanches et al.
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A análise dos nossos resultados evidenciou uma positividade maior na coloração de Gram (23,9%), devido à facilidade do encontro dos dois estágios (trofozoítos e cistos) do P. carinii. Dentre as
outras colorações utilizadas, o azul de toluidina mostra uma positividade de 16,2%,
seguida da coloração de Gomori de
12,8%, as quais evidenciaram somente os
cistos do P. carinii, que geralmente são
mais numerosos em tecidos pulmonares
(biópsias) ou secreções brônquicas. Explica-se assim a baixa positividade encontrada nessas colorações.
Considerando-se as sugestões da literatura para se utilizar a reunião de colorações para trofozoítas e cistos, as quais
proporcionam um aumento na detecção
do P. carinii, observa-se neste trabalho o
aumento da positividade para P. carinii
de 34,2%, confirmando outros achados
da literatura (Ponce et al., 1989; Feldman,
1992; Tiley et al., 1994).
O teste estatístico Kappa mostrou
uma maior concordância de positividade
com a coloração de Gram, enfatizando assim seu emprego para a detecção do P.
carinii e que, as colorações de azul de
toluidina e Gomori, assemelham-se entre
si, sugerindo-se deste modo o emprego
da coloração de azul de toluidina como
auxílio ao diagnóstico de P. carinii juntamente com a coloração de Gram.
O índice de positividade na casuística aqui estudada foi relativamente baixo,
possivelmente por influência de antibióticoterapia empírica, empregada para tratamento do quadro de infecção respiratória, que acometia todas as crianças. Como
se sabe, isto pode influenciar no resultado, por diminuir a quantidade de fungos
na amostra.
O encontro de maior positividade
na faixa etária de 0 a 1 ano está concordante com a literatura, a qual refere que
no primeiro ano de vida da criança estão
as maiores taxas de positividade para o P.
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carinii, sendo cinco vezes mais observada
nessa idade que nos demais grupos etários.
Alguns estudos mencionam também a não
associação da positividade com o gênero,
semelhante aos nossos resultados (Walzer
et al., 1973; Hughes et al., 1974; Marin et
al., 1996).
Os fatores de risco mais associados
com a pneumocistose nas crianças são a
anemia e a desnutrição , além, é claro, da
imunodeficiência. Quando a criança encontra-se com suas defesas naturais diminuídas,
propicia a instalação de infecções, principalmente das vias aéreas (Paes et al., 1982).
As crianças deste estudo apresentavam características e condições favoráveis
para o desenvolvimento da pneumonia pelo
P. carinii pois 50,4% possuíam algum grau
de desnutrição e destas, 26,0% com desnutrição protéico-calórica grau II, condição
esta associada à positividade para P. carinii.
A desnutrição protéico-calórica geralmente compromete o sistema imunológico, favorecendo, assim, o desenvolvimento
de infecções oportunísticas, como a pneumonia por P. carinii. Como a freqüência
desta infecção tem sido alta, é importante a
sua suspeição, em crianças desnutridas e
com sintomas pulmonares, possibilitando,
desta forma, o diagnóstico e a instituição
precoce da terapia (Vessal, 1974). A ocorrência de desnutrição grave, alterando a resposta imunitária normal do paciente, possivelmente colabora para a existência de surtos da doença em orfanatos e em outros
estabelecimentos onde existam recém-nascidos prematuros, ou mesmo a termo, mas
subnutridos (Hopkin, 1991).
Apesar da maioria (70,1%) das crianças estudadas apresentarem um grau de
anemia, não ocorreu associação com a positividade para o P. carinii, possivelmente
devido ao comprometimento hematopoético grave, que ocorre nas anemias hemolíticas e aplásticas (Hughes et al., 1974).
As características clínicas e radioló-
Sanches et al.
45
gicas apresentadas pela criança, ao ser atendida pela primeira vez, podem induzir ao
diagnóstico de suspeição de pneumocistose. A dispnéia, a tosse seca e a queda do
estado geral em criança debilitada constituem as principais pistas clínicas. A radiologia
mostra padrão de infiltrado intersticial difuso, que quando presente, mesmo na ausência do diagnóstico definitivo, recomenda iniciar a terapêutica para a doença (Vessal et
al, 1974).
Considerando-se os resultados da
avaliação clínica , mais de um terço das crianças receberam diagnóstico presuntivo de
pneumocistose (39,3%), mesmo sem haver
associação com a positividade da microscopia do lavado examinado através de todas as colorações. Estes resultados mostram que somente a observação clínica não
implica certeza do diagnóstico da doença,
possivelmente devido à inespecificidade dos
sintomas respiratórios encontrados.
Análise radiológica demostrou que
52,1% das crianças possuíam infiltrado intersticial difuso, sugestivo de pneumocistose, porém, em somente uma parcela, o
diagnóstico da doença foi confirmado através da positividade do lavado. Ressaltase que algumas vezes a radiografia pode
ser praticamente normal e inespecífica nas
crianças,devido ao encontro de pneumonias por outras causas (Castillo, 1977; Kamiya et al., 1997) .
Assim, quando uma criança apresentar quadro infeccioso pulmonar, a pneumocistose deve ser investigada como diagnóstico diferencial. Sugere-se, como
parte da rotina propedêutica nestes casos,
a procura do P. carinii em amostras de
lavado gástrico, utilizando-se técnicas de
coloração pelo Gram e azul de toluidina,
para aumentar a positividade do diagnóstico.
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Revista Saúde e Ambiente, 6(1/2): 47-54, 2003
ISSN 1516-5787
47
ARTIGO ORIGINAL
O sistema municipal de saúde de Cuiabá: que
mudanças a descentralização tem produzido?*
ORIGINAL ARTICLE
The Municipal Health System in Cuiabá: what changes has decentralization
brought?
* Pesquisa parcialmente financiada pelo CNPq - PNOPG.
João H. G. SCATENA1
Andrea J. MIRANDA2
CORRESPONDÊNCIA/
CORRESPONDENCE:
João Henrique Gutler
Scatena
Rua Guilherme Victorino
42/703
Miguel Sutil - CEP: 78048233
Cuiabá-MT
e-mail:
[email protected]
1
Departamento de Saúde Coletiva – Instituto de Saúde Coletiva,
Universidade Federal de Mato Grosso.
2
Bolsista PIBIC - Instituto de Saúde Coletiva, Universidade Federal
de Mato Grosso.
RESUMO
Instituído pela Constituição de 1988, o Sistema Único de Saúde (SUS) se normaliza com as Leis Orgânicas da Saúde e se implementa através das Normas Operacionais
Básicas (NOB). O Município de Cuiabá habilitou-se à Gestão Semi Plena (NOB-93), no
final de 1994 e à Gestão Plena do Sistema (NOB-96) no final de 1998. Assim, desde o
início de 1999, Cuiabá é o único município mato-grossense que tem autonomia sobre o seu
Sistema de Saúde, ou sobre o qual se aplica bem o conceito de descentralização como
“transferência de poder” e que o torna interessante objeto de estudo. Objetivando analisar
a descentralização da saúde em Cuiabá, do ponto de vista do financiamento, foram analisados dados do orçamento do município e das transferências federais com assistência
ambulatorial e hospitalar, entre 1995 e 2001. No período analisado elevou-se consideravelmente o orçamento geral do município, e especificamente com saúde elevaram-se: as
despesas per capita (137,1%), as transferências federais (146,7%) e a contrapartida
municipal (106,4%). Concentrando menos de 20,0% da população do estado, Cuiabá
absorveu, em 2001, 37,0% de todos os recursos do SUS transferidos pela União, mas
praticamente 70,0% dos recursos transferidos para assistência ambulatorial. A análise da
assistência ambulatorial revelou que a Atenção Básica foi o componente em que menos se
investiu, uma vez que o nº de atendimentos/hab. reduziu-se em 23,0% e os gastos cresceram apenas 19,5%, comparados ao incremento dos Atendimentos Especializados (173,9%
e 536,2%) e da Alta Complexidade (900,0% e 421,8%). No caso específico de Cuiabá, as
formas mais autônomas de gestão parecem estar conformando um modelo de atenção
distinto do que o SUS preconizava. Isto era previsto? E vai se sustentar?
ABSTRACT
The Single National Health System (SUS), instituted in the 1988 Constitution is
ruled by the Organic Health Laws, which are, in turn, implemented through the Basic
Operational Norms. The municipality of Cuiabá is qualified in the Semi Complete Management since the end of 1994, and in the Full Management of the System since the end of
1998. Thus, since the beginning of 1999, Cuiabá has been the only municipality in Mato
Grosso to have autonomy in its Health System and where is well applied the concept of
decentralization as “transfer of power”. This fact turns this into an interesting study
object. In order to investigate the decentralization of the Health System in Cuiabá, concerning funding, data from the municipality budget and from federal transfers for ambulatory and hospital assistance between 1995 and 2001 were analyzed. In the period under
consideration, the general budget of the municipality grew considerably. Specifically in the
health area, expenses were much higher per capita (137,1%), federal transfers (146,7%),
and the municipal counterpart (106,4%). Less than 20,0% of the population is concentrated in Cuiabá, and the city absorbed, in 2001, 37,0% of all resources from SUS, transferred by the Federal Government, but practically 70,0% of resources transferred were for
ambulatory assistance. Analysis of the ambulatory assistance showed that Basic Attention
was the component that received less investment, considering that the number of persons
attended/inhabitants was reduced in 23,0%, and expenses grew only 19,5%, compared to
the increase in Specialized (173,9 and 536,2%) and High Complexity Attendance (900,0%
and 421,8%). In the specific case of Cuiabá, more autonomous means of management
seem to be conforming to a different attendance model from that which the SUS recommended. Was this foreseen? Will it sustain itself?
Palavras-chave:
Descentralização,
Financiamento do
SUS, Cuiabá.
Key words: Decentralization,
SUS funding,
Cuiabá.
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Scatena & Miranda
48
INTRODUÇÃO
A descentralização da saúde no
Brasil teve como seus principais antecedentes o movimento da Reforma Sanitária, o qual culminou com a VIII Conferência Nacional de Saúde (Brasil, 1986)
e a criação da Comissão Nacional de
Reforma Sanitária; a instituição do Sistema Único de Saúde, pela Constituição de
1988 (Brasil, 1988), que incorporou reivindicações antigas daquele movimento; e
finalmente as Leis Orgânicas de Saúde
(Brasil, 1990a; 1990b).
Regulamenta-se o SUS no final de
1990, porém o processo de descentralização da saúde se inicia, de forma mais
concreta, a partir de 1991, com a edição
da NOB 1/91 (Brasil, 1991) à qual se
seguiram a NOB 1/92 (Brasil, 1992), a
NOB 1/93 (Brasil, 1993) e a NOB 1/96
(Brasil, 1996), estas duas últimas emitidas pelo próprio Ministro da Saúde. Considerando-se que a “transferência de poder” das instâncias centrais para as locais
é o elemento fundamental da concepção
de descentralização defendida por Tobar
(1991), Bobbio (1993) e Junqueira
(1997), pode-se dizer que as NOB gradualmente vêm buscando atingi-lo.
O Sistema Municipal de Saúde de
Cuiabá, desde a constituição do SUS, em
1988, vem sendo implementado gradualmente, com períodos de avanços e retrocessos, na dependência das normalizações
centrais, das distintas administrações municipais, da conjunção de forças que atuam sobre estas e principalmente sobre o
setor saúde e também do papel que tem a
capital no Sistema Estadual de Saúde.
Embora a descentralização da saúde venha sendo regulamentada desde 1991,
com a NOB-91, as mudanças mais evidentes no SUS, em Cuiabá, deram-se com
a NOB-93, a partir da habilitação deste
município à Gestão Semi-Plena, no final
de 1994.
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
Único município de Mato Grosso habilitado em Gestão Semi-Plena, ele assim
permaneceu até final de 1998, quando se
habilitou à NOB-96 na Gestão Plena do Sistema (Mato Grosso, 2000), também situação única no estado, até o final de 2002.
Dessa forma, Cuiabá é o município matogrossense que tem maior autonomia sobre
o seu Sistema de Saúde, ou sobre o qual
melhor se aplica o conceito de descentralização como “transferência de poder”, tornando-o interessante objeto de estudo.
Neste sentido, o presente trabalho
objetiva analisar a evolução dos gastos e
da produção ambulatorial e hospitalar do
SUS-Cuiabá, buscando evidenciar as mudanças que a descentralização da saúde, implementada pelas duas últimas NOB, promoveu nesse município.
MATERIAL E MÉTODO
Foi definido como período de estudo aquele compreendido entre os anos de
1995 e 2001, pelo fato de abarcar a habilitação do município à Gestão Semi-Plena
(NOB-93) e à Gestão Plena do Sistema
Municipal (NOB-96). Para este período
foram coletados dados do orçamento municipal (receitas e despesas correntes), das
transferências federais para a saúde, dos
gastos efetuados com assistência ambulatorial e hospitaslar e da produção desse tipo
de assistência. Como fonte de dados utilizou-se o Banco de Dados do SUS (DATASUS), a Secretaria Estadual e a Secretaria Municipal de Saúde (SIH-SUS e SIASUS), a Secretaria Municipal de Finanças
e o Tribunal de Contas do Estado. Os dados foram manipulados através do programa TABWIN, que processa grande parte
dos Sistemas Nacionais de Informação em
Saúde (Carvalho, 1997).
Os dados dos gastos ambulatoriais
providos pelo SIA-SUS, referentes a todo
o período de estudo, foram convertidos e
agrupados nas categorias “Atenção Bási-
Scatena & Miranda
ca”, “Assistência Especializada” e “Alta
Complexidade”, adotadas por aquele Sistema a partir de outubro de 1999.
Os dados populacionais foram coletados dos recenseamentos do IBGE (FIBGE, 1992, 2001), sendo re-estimados,
para o período de 1995 a 1999, pelo método da Progressão Geométrica (Laurenti
et al., 1987). Tal procedimento procurou
corrigir as distorções dos dados populacionais disponibilizados pelo IBGE, para
aquele período inter-censitário, mas estimados a partir dos censos de 1980 e 1991.
A análise dos dados buscou correlacioná-los às distintas etapas da descentralização e à conformação do modelo de atenção à saúde no município.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No Município de Cuiabá, os dados
dos balanços financeiros de 1995 a 2001
mostram que as receitas correntes gerais per
capita cresceram 507,4% no período (Tabela 1). Este crescimento reflete o aumento
da arrecadação própria, que cresceu
150,0% no período, mas decorre principalmente das transferências inter-governamentais, que em 2001 representaram 75,0% do
orçamento do município.
Acompanhando a evolução do orça-
49
mento geral do município, elevaram-se
também as despesas específicas com saúde: as despesas gerais per capita
(137,1%), as transferências federais –
ambulatoriais (226,4%), hospitalares
(62,5%) – e a contrapartida municipal
(106,4%).
Embora a contrapartida municipal
de 2001 tenha dobrado, em relação a
1995, seu aumento foi aquém daquele observado na arrecadação municipal, revelando, em 2000 e 2001, valores per capita inferiores aos anos de 1996 a 1999.
Isto indica um menor investimento da secretaria municipal, com recursos próprios, na saúde. Comprova essa hipótese o
fato de a contrapartida municipal per capita ter representado, nos dois últimos
anos da série, percentuais próximos a
20,0%, percentuais estes que estiveram
acima de 30,0% entre 1996 e 1999.
Em relação à assistência hospitalar,
os gastos per capita elevaram-se 62,5%,
ainda que no período estudado as normalizações federais já definissem limite para
o número de internações a serem pagas
pelo SUS. O que se observa em Cuiabá,
e também em grande parte dos municípios mato-grossenses (Scatena, Miranda &
Tanaka al., 2002), é que ocorreu um aumento no valor médio de cada internação
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
Scatena & Miranda
50
(112,9%, no caso de Cuiabá). Isso pode
ser explicado: a) pela indicação mais criteriosa das internações, b) pela absorção,
na rede hospitalar do SUS, de procedimentos mais complexos, não atendidos em
Cuiabá, anteriormente (cirugias cardíacas,
transplantes); c) pela “seleção” de AIH,
rejeitando aquelas de menor valor.
Os gastos com assistência ambulatorial foram os que mais cresceram no
período (226,4%), representando, nos
dois últimos anos, mais de 50,0% das despesas efetuadas com saúde, no município.
Por ser o principal componente de dispêndio e por permitir a formulação de hipóteses acerca do modelo de atenção, a
assistência ambulatorial será melhor abordada nesse trabalho.
Concentrando menos de 20,0% da
população do estado, Cuiabá responde
por percentuais pouco maiores de internações e atendimentos ambulatoriais, mas
vem aumentando significativamente sua
participação percentual nos gastos, principalmente ambulatoriais. Em 2001, essa
participação atingiu quase 70,0% (Tabela
2), ainda que uma política estadual de regionalização tenha criado e melhorado as
condições de referência em vários outros
municípios-sede do estado. A Capital já
chegou a absorver 50,0% (em 1999) de
todos os recursos do SUS transferidos
pela União, percentual que em 2001 re-
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
presentou 37,0%, redução influenciada principalmente pela ampliação da oferta de serviços hospitalares em vários municípios, e
da atenção básica (PSF e PACS), na maioria dos municípios. O papel de Cuiabá,
como referência para a saúde é inquestionável, mas a demanda dessa referência muitas vezes não se caracteriza como tal.
A análise dos gastos com assistência
ambulatorial revelou que, de 1995 a 2001,
a Atenção Básica é o componente menos
contemplado, tendo se reduzido, proporcionalmente, 67,6% no período, enquanto os
outros dois componentes – Assistência Especializada e Alta Complexidade – se elevaram consideravelmente (Tabela 3). Ao se
encerrar o ano de 2001, a Atenção Básica
representou apenas 14,6% dos gastos ambulatoriais, enquanto a Atenção Especializada e a de Alta Complexidade consumiram a
maior parte dos recursos.
A evolução do volume de atendimentos e dos gastos efetuados com os atendimentos ambulatoriais revela nitidamente a
conformação de um modelo de atenção que
prioriza a Assistência Especializada e o uso
extensivo de procedimentos de Alta Complexidade. A análise da Assistência Ambulatorial - que responde por 53,8% do total
de gastos com saúde - é melhor conduzida
quando se compara o volume e financiamento dos três componentes analisados, tendo
o ano de 1995 como referência (número de
Scatena & Miranda
atendimentos e valor pago = 100) (Tabela
4 e Figura 1). O volume e os gastos com a
assistência ambulatorial especializada e alta
complexidade elevaram-se muito no perío-
51
do, principalmente após a habilitação do
município à NOB-96, ocorrida no final de
1998. Por outro lado, mantiveram-se praticamente inalterados, ou até reduziram-
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
Scatena & Miranda
52
se, o volume e os gastos com a atenção
básica, apesar da ampliação do número
de equipes de PACS e PSF nos dois últimos anos.
A preocupação que se levanta é
sobre o futuro do modelo de atenção que
os dados apresentados revelam: 25,4%
dos recursos financeiros da saúde, geridos pelo município, já estão comprometidos com a Internação Hospitalar, sendo
diretamente transferidos aos provedores
desse serviço (a maioria do setor privado, credenciado pelo SUS); outros 20,8%
(contrapartida municipal) estão majoritariamente comprometidos com a folha de
pagamento dos Recursos Humanos do
setor saúde, parte expressiva lotada no
Hospital e Pronto Socorro Municipal de
Cuiabá e também em centros especializados, de referência. Finalmente, os restantes 53,8% dos recursos gastos com saúde, cuja maior parcela deveria destinarse à Atenção Básica, estão sendo deslocados para um volume relativamente pequeno de Atendimentos Especializados e
de Alta Complexidade, com consumo de
mais de 85,4% (em 2001) desse recurso.
Tal quadro pode ainda se agravar, dado
que parte deste componente da assistência ambulatorial está em constante processo de incorporação tecnológica, que via
de regra é onerosa, ampliando sobremaneira seus gastos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode-se dizer, com base na evolução da produção e dos gastos assistenciais, que as formas de gestão municipal mais
avançadas, especificamente a Semi Plena
(NOB-93) e Plena do Sistema (NOB96), foram estratégias fundamentais na
implementação da descentralização em
Cuiabá, principalmente ao propiciar maior autonomia na gestão, inclusive financeira, do Sistema Municipal de Saúde. Por
outro lado, os mesmos dados não indiRev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
cam que a descentralização tenha viabilizado a consolidação de um Modelo de Atenção à Saúde condizente com os princípios
do SUS, haja vista a evolução dos dispêndios efetuados com saúde.
Foi indiscutível o aumento significativo dos recursos financeiros para a saúde,
em Cuiabá, de 1995 a 2001, principalmente em decorrência das transferências federais para a Assistência Ambulatorial. Mas
como as necessidades sentidas são (e sempre serão) maiores que os recursos disponíveis para atendê-las (uma vez que atendidas, outras surgirão), há que se buscar o
melhor, mais efetivo e mais justo ponto de
equilíbrio entre demanda e disponibilidade,
inclusive financeira.
Em Cuiabá, não é incomum os gestores e provedores da saúde afirmarem que
grande parte da responsabilidade pela “crise financeira” da saúde nessa localidade é a
invasão de usuários de outros municípios.
Tal afirmação, no entanto, tem que ser analisada à luz do papel de referência para a
saúde exercido pelo município, no âmbito
estadual e mesmo regional, e principalmente pelo tratamento diferenciado que o municípo recebe das instâncias supramunicipais
normalizadoras do SUS.
Concentrando pouco mais de 19,0%
da população do estado, Cuiabá vem respondendo por percentuais de atendimentos
ambulatoriais e internações hospitalares um
pouco acima desse número, o que revela a
influência da invasão de atendimentos ambulatoriais e hospitalares no município. Observa-se, no entanto, uma discreta tendência de queda desses percentuais, provavelmente como reflexo da organização da assistência ambulatorial e hospitalar nos demais municípios do estado
O mesmo não se deu com os gastos
dessa assistência, que se elevaram percentualmente, sendo que em 2001 quase 70,0%
dos gastos com assistência ambulatorial do
estado e quase 40,0% dos gastos com assistência hospitalar ocorriam em Cuiabá, o
Scatena & Miranda
que revela tanto a preocupação das instâncias centrais estaduais (Governo do Estado, Secretaria de Estado da Saúde, Comissão Intergestores Bipartite, Conselho Estadual de Saúde) com o papel que a capital
tem para o Sistema, como também o poder
de pressão que esse município (e suas estruturas de poder) exercem sobre aquelas
instâncias. A desproporção entre o volume
de recursos financeiros consumidos no município e a produção de atendimentos ambulatoriais e hospitalares deve ser objeto
de monitoramento e discussão, especialmente em um quadro em que, até 2002, a
gestão estadual buscou fortalecer a regionalização no restante do estado, diminuindo a demanda para a capital.
É necessário, portanto, discutir a utilização dos recursos atualmente à disposição da saúde, em Cuiabá, com vistas às perspectivas do futuro do SUS no município,
lembrando que este Sistema, em seus princípios doutrinários, privilegia as ações de
promoção e prevenção de saúde.
Desde a constituição dos Conselhos
Municipais de Saúde e criação dos Fundos
Municipais de Saúde, tal utilização deve
estar baseada em critérios definidos e discutidos com a sociedade e controlada por
esta mesma sociedade, em concordância
com os próprios princípios da descentralização (Lobo, 1997). O que norteia a utilização dos recursos são os Planos Plurianuais e Anuais de Saúde que, por sua vez, são
orientados pelos Modelos de Atenção adotados. Modelos estes que surgem, ou são
propostos também a partir da sociedade,
diretamente, através das Conferências Municipais de Saúde, ou indiretamente, através de sua representação no Conselho
Municipal de Saúde.
A evolução dos gastos com saúde
indica que não se está conseguindo modificar o modelo de atenção à saúde em Cuiabá e isto tem comprometido o desenvolvimento e a gerência dos recursos (materiais,
53
humanos e financeiros) do setor. Têm sido
implantados, nesse município, programas
propostos pelo MS e normalizados pela
NOB-96, como o Programa de Agentes
Comunitários de Saúde – PACS e o Programa de Saúde da Família – PSF, orientados na lógica de priorização da atenção
primária à saúde. A tendência observada
na produção e financiamento da assistência ambulatorial, no entanto, é incompatível com a sustentabilidade desses programas, uma vez que a base financeira que
os sustenta, não parece consistente. Mesmo que se elevem as transferências da
União, por conta da maior cobertura do
PSF e PACS, ainda é expressivo o volume de recursos que o próprio município
tem que investir, como sua contrapartida.
Para fazê-lo, a SMS tem algumas opções,
entre outras: a) conseguir aumento da parcela do orçamento municipal destinada à
saúde; b) remanejar recursos de um setor
de atenção para outro; ou c) reestruturar
seus serviços numa lógica que priorize a
atenção voltada para a promoção e prevenção.
Caberá basicamente às estruturas
gestoras e às instâncias de controle social
do SUS-Cuiabá, definir qual o caminho a
ser trilhado nos anos futuros, dada a autonomia viabilizada pela descentralização.
No entanto, como não há perspectivas de
incrementos importantes nos recursos da
saúde, finaliza-se esse trabalho com uma
das perguntas que os dados apresentados
deveriam suscitar nos gestores e conselheiros do Sistema Municipal de Saúde de
Cuiabá: “Se o modelo atual está gerando
redução (absoluta e relativa) do volume
de atividades de Atenção Primária à Saúde e esta redução, em um ciclo vicioso,
fatalmente redundará em maior demanda
à Atenção Especializada e à de Alta Complexidade, até quando este modelo se sustentará?”
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
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Revista Saúde e Ambiente, 6(1/2): 55-65, 2003
ISSN 1516-5787
55
INFORMAÇÃO
TÉCNICA
Roteiro básico da redação científica na área da
saúde
TECHNICAL
INFORMATION
Basic script of scientific redaction in health area
Clovis BOTELHO1
CORRESPONDÊNCIA/
CORRESPONDENCE:
Clovis Botelho
Rua Dr. Jonas Correa da
Costa, 210
CEP - 78.030-510 – Cuiabá /
MT
Fone: 65. 637 1471; Fax: 65.
637 7539
e-mail:
[email protected]
1
Departamento de Clínica Médica – Faculdade de Ciências Médicas;
Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva – Instituto de Saúde
Coletiva, Universidade Federal de Mato Grosso.
RESUMO
Diferentemente da redação literária, a científica tem características próprias e bem peculiares, principalmente na área da saúde. Neste artigo o autor
descreve o roteiro básico a ser seguido para redigir um texto científico, com o
objetivo de ajudar os alunos da pós-graduação a apresentarem os resultados
das suas pesquisas. Traz detalhes da seqüência do formato de artigo que a
maioria das revistas da área adota: introdução, métodos, resultados e discussão.
ABSTRACT
Differently from literary writing, the scientific written production has
its own characteristics that are very peculiar, mainly in the health area. In
this article, the author describes the basic script to be followed in the scientific text, with the objective of facilitating the task of the pos-graduate students when reporting the results of their research. It brings details of the
sequence in the format of the article which follow what the majority of the
periodicals in the health area adopt: introduction, methods, results and
discussion.
INTRODUÇÃO
A redação científica é o reflexo do
modo de pensar e de trabalhar do pesquisador. É a expressão do pensamento,
na forma de linguagem que tem características próprias, refletindo todo o conhecimento do autor acerca daquele assunto
que está sendo tratado. Por isso deve-se
ter um cuidado especial na hora da redação final do trabalho científico, pois, depois de tantas horas gastas no planejamento e na execução da pesquisa, qualquer
deslize neste momento poderá colocar
Palavras-chave:
Redação científica, Área da saúde,
Metodologia.
Key words: Scientific writing,
Health area,
Methodology.
tudo a perder. Lembre-se: escrever bem
faz parte da boa formação profissional,
principalmente para o pesquisador, que é
julgado pelos colegas através dos seus
textos, pelo seu modo de escrever.
Não se deve esquecer que o texto
científico destina-se não apenas à leitura
pura e simplesmente, é também estudado
por alunos e profissionais da área, podendo ser utilizado como referência do tema
em tela. Assim, os princípios da didática
devem prevalecer sobre os literários, fazendo com que o texto científico tenha a
clareza necessária para ser entendido por
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
Botelho
56
todo o público alvo e, ao mesmo tempo,
seja de leitura agradável.
Para que isso aconteça, que o texto seja didaticamente correto e de fácil
leitura, é preciso muito mais que um simples e despretensioso capítulo de manual
de metodologia. No momento da redação o autor, usa toda a sua formação escolar, religiosa e ideológica. A maneira de
escrever é muito pessoal; vai além das
normas gramaticais ou do estilo de redação. O que se pretende neste artigo informar sobre as principais características da
redação científica, destacando que a linguagem deve ser, obrigatoriamente, informativa.
Inicialmente é importante que se esclareça ao leitor sobre o plano da composição
do texto, citando os principais tópicos e
suas subdivisões. Sempre ter em mente a
quem o texto se destina, qual é o público
alvo. O propósito do autor, ao escrever
sobre ciência, é explicar e, por isso, deverá ser o mais claro e didático possível,
sem abrir mão da qualidade de sua pesquisa.
O caráter informativo e técnico deve
prevalecer sobre o literário. A fidelidade
aos dados analisados e a literatura referida é de fundamental importância, tornase imprescindível. Esta é a grande diferença entre o estilo literário e científico:
enquanto o primeiro é subjetivo, inebriase pela elegância dos valores estéticos; o
segundo é objetivo, utiliza-se da força interna dos argumentos dos dados analisados.
sável para a redação final do trabalho. Se
todas as fases da pesquisa, do delineamento à execução, foram bem elaboradas, não
haverá dificuldade em ser claro, pois não é
possível expressar-se claramente quando o
pensamento ainda é confuso. Caso ainda esteja em dúvida com algum ponto da sua
pesquisa, volte atrás; faça revisão da literatura, analise melhor os seus dados, discuta
com especialistas da área. Tente elaborar
mentalmente toda a estrutura do texto e,
quando o pensamento estiver fluindo facilmente, poderá iniciar a escrever.
Lingüisticamente falando, para se escrever com clareza, algumas qualidades são
necessárias: unidade e coerência, entendendo aqui clareza como a capacidade de
transmitir com exatidão uma idéia em cada
frase; a unidade é alcançada quando cada
frase no parágrafo é relevante para o tópico em discussão; coerência é a conexão
lógica das frases no parágrafo.
Em um parágrafo, uma frase inicial
bem escrita deve ter, no seu final, o seu ponto
mais forte: a informação mais importante e
original. Cada frase deve conter apenas uma
idéia e deve ser construída, preferencialmente, com verbos e substantivos concretos.
Evitar adjetivos, advérbios e substantivos
abstratos.
A estrutura do parágrafo é semelhante
à da frase, sendo formado de duas partes.
Primeiro, apresenta a questão que delimita
o espaço conceitual daquele parágrafo; depois a discussão, que é a explicitação, o
desenvolvimento das idéias, a argumentação comprobatória da questão levantada.
Como regra geral, deve-se guardar as informações mais novas e originais para o final do parágrafo. Assim, cria-se um crescendo de interesse e ênfase em cada parágrafo escrito, valorizando-o e facilitando a
sua conexão com o parágrafo seguinte, dando maior coesão ao texto como um todo.
Clareza
Precisão ou concisão
A clareza do raciocínio científico, no
sentido mais amplo da palavra, é indispen-
Precisão ou concisão é a capacidade
de exprimir muitas coisas com poucas pa-
1. Características da redação científica
Informativa
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
Botelho
lavras, é ser breve e, ao mesmo tempo, denso e preciso. Para ser conciso o autor deve
tratar cada tópico ou questão levantada de
modo coerente e lógico. Deve ser simples,
escrever de modo direto, sóbrio, sem uso
de jargão, isento de prolixidade. As divagações literárias, imagens poéticas e o uso
excessivo de termos raros e difíceis de serem entendidos devem ser evitados na redação científica. Naturalmente, para evitar
um texto muito árido e de difícil leitura, liberdades figurativas ou metáforas podem e
devem ser usadas no momento certo. Em
uma dissertação ou tese, o autor sempre é
rigoroso ao escrever a introdução, os objetivos, os métodos e os resultados, porém,
tem maior liberdade de expressão, até poética, no capítulo da discussão.
Objetividade
A objetividade, no sentido metodológico, é a qualidade de ser mais o objetivo
possível, voltando-se para o objeto examinado, sem interferência pessoal. Na verdade é a qualidade mais difícil de ser atingida,
pois o que se faz sempre é uma tentativa de
ser objetivo, o que por si só é inatingível;
porém, sempre desejado. O autor deve indicar como, quando e onde obteve os dados de que se valeu e mostrar conhecer todas as facetas da questão em discussão.
Procurar não se deixar influenciar por vieses de idéias preconcebidas, além de evitar
superestimar a importância do seu trabalho.
Não pode omitir fatos que contradigam a
hipótese sustentada nem tampouco subestimar resultados obtidos por outros investigadores, se tais resultados parecem contrariar os que o próprio autor encontrou.
O leitor compreenderá mais facilmente uma dada mensagem se a informação e
as idéias forem apresentadas em uma ordem lógica. É no momento de dar instruções que se percebe, de modo mais evidente, a necessidade de explicação suficiente, clareza, inteireza, e apresentação or-
57
denada de informações.
Quando não existe informação adicional sobre algum ponto, deve-se mencionar a necessidade de novos trabalhos.
Não se deve confiar na autoridade que argumenta, mas em provas de que o argumento tem autoridade para ser sustentado. Jamais expor opiniões de outros como
se fossem fatos ou descrever opinião da
maioria como se fosse também um fato.
Em ciência tenta-se provar...
Em escritos científicos, nada deverá ficar subentendido ou por conta da imaginação do leitor. Os romancistas, jornalistas e publicitários, para gravar algo na
mente do leitor, podem recorrer à repetição, ao exagero ou à moderação. Nenhuma destas técnicas pode ser utilizada pelo
cientista, que deve seguir um caminho mais
árduo e convencer os leitores com base
em provas, apoiando-se em verdades claramente formuladas e em argumentações
lógicas.
Em linguagem, o autor deve preferir termos isentos de qualquer ambigüidade, evitando expressões como “eu penso”, “parece-me”, “parece ser”.
2. Como escrever
Parte-se do princípio de que não
existem regras fixas de como escrever um
trabalho científico, pois cada autor tem o
seu modo de redigir. Desse modo, far-seá roteiro esquemático que poderá auxiliar
os iniciantes no processo de redação. Inicialmente, é interessante fazer esboço preliminar, como se fosse planta baixa de uma
casa. Primeiro, esquematize toda a estrutura do texto, depois o construa, passo a
passo, podendo voltar em cada segmento
quantas vezes forem necessárias, corrigindo erros, dando melhor acabamento, tratando dos pequenos detalhes. Pode-se seguir as seguintes etapas:
a) fazer um esboço rápido dos principais
tópicos a serem tratados, dispondo-os loRev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
Botelho
58
gicamente: sempre com início, meio e fim;
sempre do geral para o específico;
b) fazer um esboço maior, subdividindo-o
em títulos e subtítulos, com os mesmos
princípios do item anterior;
c) fazer um terceiro esboço, com cada um
dos tópicos ampliados, sob a forma de frases concisas;
d) iniciar a primeira redação, ampliando
cada tópico em parágrafos, concentrando-se no assunto;
e) ultima dica: escrever bastante, depois
ficará mais fácil para fazer as correções e
adaptações.
Nesse processo de redação, a citação das fontes é muito importante. Devese evitar o plágio, reproduzindo o pensamento de um autor. Utiliza-se a construção de frases e de períodos com outras
palavras, dando o mesmo sentido, naturalmente citando o autor nas referências
bibliográficas. O autor deverá descrever
fatos e valores de outros autores com a
garantia da compreensão do pensamento
dos autores originais, redigida com as sua
palavras, sem ter o original diante dos
olhos.
ídas logo após o título. O mesmo acontecendo para a versão em língua estrangeira,
que geralmente nas ciências da saúde é a
inglesa (key words). Vejam os exemplos:
FATORES AMBIENTAIS E HOSPITALIZAÇÕES EM CRIANÇAS MENORES
DE CINCO ANOS COM INFECÇÃO
RESPIRATÓRIA AGUDA (IRA)*
Palavras chave: IRA, fatores ambientais,
hospitalização.
ENVIRONMENTAL FACTORS AND
HOSPITALIZATIONS IN CHILDREN
UNDER FIVE YEARS OLD WITH ACUTE RESPIRATORY INFECTION (ARI).
Key words: ARI, environmental factors,
hospitalization
CARACTERÍSTICAS DE PERSONALIDADE E DEPENDÊNCIA NICOTÍNICA
EM UNIVERSITÁRIOS FUMANTES
DA UFMT.
Palavras chave: tabagismo, características
da personalidade, dependência nicotínica.
Psychological profile and nicotine dependence in smoking students of UFMT.
Keys Words: smoking behavior, psychological profile, nicotine dependence.
Resumo
3. Esquema geral de trabalho científico
Título
Deverá sintetizar toda a idéia central do trabalho e, em poucas palavras,
indicar o conteúdo que mais se deseja salientar. As palavras devem ser escolhidas
com cuidado, para que sejam breves, claras e permitam fácil catalogação. É preciso evitar palavras supérfluas e também não
incluir fórmulas ou abreviaturas arbitrárias. Caso seja necessário, usar título e subtítulo. Em algumas ocasiões é necessário
indicar localização geográfica e o período
estudado.
As palavras-chave devem ser incluRev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
O resumo deverá conter todos os
capítulos do texto: Introdução (tema e objetivos), Métodos, Resultados (incluindo
comentários) e Conclusões. Como deve ser
breve, destacam-se os dados mais relevantes, principalmente aqueles resultados que
serão considerados nas conclusões do trabalho. Para as Dissertações e Teses, geralmente não há limitações quanto ao tamanho
do resumo; porém, para publicação em algum periódico, deverá ter entre 2OO a 250
palavras, dependendo da revista escolhida.
Os resumos podem ser escritos de
duas formas: estruturada e não estruturada.
A primeira forma é a mais utilizada na área
da saúde, por exigência de grande número
de periódicos e de congressos; a segunda é
Botelho
mais usada nas Dissertações e Teses. Vejam os exemplos: o primeiro é a forma padronizada pelo “Cadernos de Saúde Pública” (FIOCRUZ/RJ) o segundo pelo “Jornal de Pneumologia” (SBPT):
FATORES AMBIENTAIS E HOSPITALIZAÇÃO EM CRIANÇAS MENORES DE
CINCO ANOS COM INFECÇÃO RESPIRATÓRIA AGUDA (IRA)*
Considerando a hospitalização como um
indicador de gravidade da Infecção Respiratória Aguda (IRA), objetiva-se estudar a associação de alguns fatores ambientais com a necessidade de tratamento
hospitalar em crianças com diagnóstico
de IRA. Foram analisados todos os prontuários de atendimento do Pronto Socorro Municipal de Cuiabá, das crianças menores de cinco anos, de ambos os sexos,
agrupados por mês do atendimento. Obedecendo as características climáticas da
região, dois períodos climáticos foram
considerados: seco (maio a outubro) e
chuvoso (novembro a abril). As variáveis: temperatura, umidade relativa do
ar, o número de focos de calor (queimadas) foram cotejadas. A prevalência da
IRA foi 49,8% e a necessidade de internação de 7,6%, com percentual de internações maior no período seco. Concluise que o período seco e a umidade relativa do ar estão associados com as hospitalizações das crianças estudadas.
CARACTERÍSTICAS DE PERSONALIDADE E DEPENDÊNCIA NICOTÍNICA
EM UNIVERSITÁRIOS FUMANTES DA
UFMT.
Introdução: Dados sobre a relação entre
perfil de personalidade e dependência nicotínica podem subsidiar o trabalho de
59
profissionais na área de saúde na elaboração e aperfeiçoamento dos programas de tratamento e prevenção da dependência.
Objetivo: Investigar a relação entre
perfil de personalidade e dependência
nicotínica em grupo de universitários
fumantes.
Casuística e Métodos: Foram selecionados aleatoriamente 1.245 universitários, dentre os 10.500 matriculados na
UFMT - campus Cuiabá, em 2001. Foi
aplicado questionário padronizado,
para caracterização social e padrão de
consumo de tabaco, sendo considerados como fumantes 80 universitários.
A seguir, foi aplicada a escala Fargestrom (1978), de dependência nicotínica
e a versão reduzida da Escala Comrey
de Personalidade (CPS), que investiga
dimensões de personalidade.
Resultados: A análise das médias dos
escores (T de Student) revelou associação marginal ou “borderline” inversamente proporcional entre dependência
e a escala de Ordem x Falta de Compulsão (O) (p=0,06) e associação negativa ou inversamente proporcional
entre as escalas de Extroversão x Introversão (E) do CPS (p=0,002) e Controle de Validade (V) (p=0.04). A regressão linear para pontuação na escala
Fargestrom (1978) confirmou a associação “borderline” inversamente proporcional entre dependência e as escalas de Ordem x Falta de Compulsão (O)
(p=0,06) e Extroversão x Introversão
(E) do CPS (p=0,02). Porém, controlando a interferência do consumo diário de cigarros, apenas a escala de Extroversão x Introversão (E) permanece
associada à dependência (p=0,001).
Conclusões: Conclui-se que universitários fumantes e dependentes são menos
extrovertidos que os fumantes não dependentes.
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
Botelho
60
Introdução
Sendo a função da introdução esclarecer o assunto e o tema central do trabalho, deve-se descrevê-la de forma clara e direcionada para os objetivos do trabalho. Parte-se do geral para o específico, sempre. Deixar claro os motivos da
investigação realizada, as justificativas da
aplicação do método escolhido, a finalidade dos resultados e as suas aplicações.
Uma longa revisão bibliográfica histórica era considerada parte essencial da
introdução. Hoje não é bem aceita uma
introdução muito longa, com grande e profunda revisão bibliográfica, pois se torna
cansativa, além de tomar muito tempo do
leitor. O poder de síntese é uma qualidade que todo o pesquisador deve buscar:
ser compreendido, mostrar conhecimento e capacidade de discutir o assunto tratado em poucas laudas, cerca de 10 ou
15 para as monografias, dissertações ou
teses. Para a grande maioria das revistas
especializadas, este capítulo deverá ter no
máximo 4 laudas.
Ressalta-se que, em alguns casos,
por exigência da natureza do trabalho, fazse necessária uma revisão mais extensa.
Nesses casos é bom fazer um subtítulo,
indicando que será elaborada revisão bibliográfica ou construído um marco teórico conceitual sobre o assunto/tema que
será abordado na pesquisa.
Objetivos
Nos artigos escritos para periódicos, os objetivos devem vir no final da introdução, de maneira explicitada, não subentendida nem soltos dentro do parágrafo. Definir bem os seus objetivos, o que
estará implícito na sua hipótese de trabalho, é uma das chaves do sucesso do autor.
Nas monografias, dissertações ou
teses deverão vir em capítulo à parte. PoRev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
dem ser separados em Objetivo Geral e
Objetivos Específicos ou Operacionais, sendo que o primeiro traduz a hipótese central;
o segundo operacionalizará o primeiro, passo a passo, do mais simples ao mais complexo.
Os principais verbos utilizados para
formular os objetivos:
1. Verbos Genéricos: analisar + descrever +
demonstrar + verificar ++ avaliar + compreender + interpretar ++
2. Verbos Específicos: caracterizar++ identificar ++ comparar + categorizar + classificar
+
discriminar + diferenciar + relacionar ++
determinar ++
Por outro lado, vejam os verbos que
deverão ser evitados, pois já estão implícitos na ação que está sendo executada. São
os chamados Verbos Redundantes: estudar,
conhecer, saber, observar, pesquisar, apreciar, investigar.
Vejam os dois exemplos, o primeiro
trata de artigo de revista e o segundo de
Dissertação de Mestrado.
“Assim, a hipótese colocada que as
mudanças climáticas são determinantes
para a dinâmica da asma, justifica-se.
Diante disso, o presente estudo tem o
objetivo de avaliar a influência dos períodos climáticos, seco e chuvoso, na prevalência e na gravidade da asma em crianças”.
OBJETIVOS
1
Objetivo Geral
Avaliar a influência dos fatores ambientais na prevalência da asma em crianças.
2
Objetivos específicos
2.1. Determinar a prevalência da asma
em crianças;
2.2. Categorizar a prevalência da asma,
segundo o tipo atendimento ambulatorial ou hospitalar;
2.3. Verificar a influência do clima seco
ou chuvoso na asma;
Botelho
2.4. Correlacionar as variáveis: Temperatura Máxima, Temperatura Média,
Temperatura Baixa, Umidade Relativa do
Ar e Focos de Calor com a prevalência
de asma e necessidade de tratamento
hospitalar em crianças.
Materiais e métodos ou casuística e
métodos
Neste capítulo, deve-se descrever
minuciosamente cada detalhe utilizado para
a realização da pesquisa, evitando-se comentários a respeito do método ou daquela
técnica. Não se deve defender ou justificar,
aqui neste capítulo, a escolha de determinada técnica ou tal instrumento de coleta de
dados. Atenha-se à descrição, não discuta;
coloque o tempo verbal no passado: foi realizado... as amostras foram coletadas... os
animais foram tratados...etc.
Em regra geral, inicia-se descrevendo o local do estudo: cidade, bairro, universidade, instituto, laboratório, etc. Após
isso descreva a população, como chegou
na amostra ou casuística. Detalhe como foi
selecionada a amostra: aleatoriamente ou
não; quais os critérios de inclusão e de exclusão; como foi o fluxo de pacientes ou de
animais; qual o período estudado.
A seguir, descreva todos os instrumentos de coleta de dados e os materiais
que foram utilizados: equipamentos, formulários/questionários, reagentes, etc. Quando há participação de pesquisadores auxiliares (bolsistas), descreva como foi feito o
treinamento e em que parte da coleta dos
dados eles colaboraram. Em trabalhos que
necessitem mostrar mais detalhes dos instrumentos (fotografias, mapas, esquemas,
manuais de treinamento, formulários ou
questionários) o pesquisador poderá incluílos nos anexos, se forem de autoria de outros pesquisadores; ou nos apêndices, se
forem da sua autoria.
Terminando está parte introdutória,
descreva os métodos: como fez? Cada mé-
61
todo deverá ser descrito com minúcias
para que possa ser reprodutível em qualquer lugar do mundo. A descrição deverá
ser feita na seqüência lógica da coleta dos
dados, do método aplicado no início da
coleta até o último. Como exemplo, citase uma pesquisa que envolve entrevista e
aplicação de alguns exames complementares.
A descrição do método da entrevista deverá ser a primeira, pois foi com
ela que se iniciou toda a coleta dos dados:
“Inicialmente, foi aplicado questionário, especificamente elaborado para
este estudo e validado através de estudo piloto, para levantamento do perfil
sócio-demográfico e padrão de consumo de tabaco dos estudantes. Cada aluno preencheu o questionário, não identificado, em sala de aula, após a explicação dos objetivos do estudo.”
Na seqüência, descreva o método
que foi aplicado após a entrevista, e assim, sucessivamente: peso, altura, espirometria, eletrocardiografia, impedância,
coleta de sangue. Nesta parte deste capítulo não há necessidade de repetir as características dos equipamentos, devendo
o autor ater-se somente à descrição de
como foi feita a coleta daqueles dados.
Destaca-se a importância da descrição dos métodos estatísticos utilizados,
principalmente se for pesquisa quantitativa e com dados que permitam testar uma
ou mais hipóteses, os estudos analíticos.
Descrevem-se sempre as análises mais
simples inicialmente, tipo a análise univariada; a seguir as bivariadas e/ou multivariadas. Deve-se citar o pacote estatístico
aplicado e a fonte bibliográfica pertinente.
Nos casos de pesquisa em seres humanos, deve-se citar a aprovação do projeto junto à Comissão de Ética, colocando o número do processo e a data da
aprovação do mesmo. Declarar que os
pacientes assinaram o Termo de Consentimento e que foram explicitados os objeRev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
Botelho
62
tivos da pesquisa, mantendo o anonimato
dos participantes.
ço, abril e maio (período chuvoso) e menor percentual nos meses de julho, agosto, setembro e outubro (período seco)”.
Resultados
Os resultados devem ser colocados
separados da discussão e apresentados
sem dar interpretações. Incluir os quadros,
gráficos, tabelas, a análise estatística efetuada e a descrição dos resultados, mas
apenas o que for necessário à compreensão das idéias principais, e sem omitir o
que for essencial. Neste capítulo não poderá ter comentários e/ou discussão. Seguir a seqüência lógica dos eventos, que
foi desenhada no capítulo de Material e
Métodos. Tanto as tabelas e gráficos
como as descrições das mesmas devem
ser suficientemente claras para necessitarem um do outro.
Exemplos:
“Na Figura 1 encontra-se o percentual
mensal das crianças com diagnóstico de
asma, que variou de 4 a 14%, onde se
verifica que é maior nos meses de mar-
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
“Na Tabela 1 vê-se a distribuição das crianças estudadas, segundo o diagnóstico
do agravo e o tipo de atendimento (hospitalar ou ambulatorial), onde mostra
que a taxa de hospitalização por asma
foi de 1,3% (336/25.802). Dentre as crianças com diagnóstico de asma, 10,7%
(336/3140) necessitaram de tratamento
hospitalar, enquanto que, para outros diagnósticos, o percentual foi de 7,8%
(1.763/22.662), diferença estatisticamente significante (p =0,001)”.
Discussão
O objetivo principal da discussão dos
resultados é demonstrar a relação entre os
fatos observados e compará-los com a literatura existente sobre o assunto na forma
de progressão ou oposição. Mantenha o
texto livre da simples repetição de dados
Botelho
pormenorizados, que foram apresentados
nas tabelas e gráficos do capítulo de resultados. Tal repetição, exceto quando necessária para demonstrar comparações não
encontradas nos quadros e gráficos, torna
o texto confuso e a leitura enfadonha.
Este capítulo deve ser reservado para
comparações, relações e generalizações.
Deve-se dar particular atenção aos pontos
sobre os quais há diferença de opinião entre os autores, naqueles em que a ciência
ainda não tem clareza sobre o fenômeno em
estudo. Evitar expressões de afirmações
dúbias, capazes de aumentar a polêmica,
não contribuindo para o crescimento do
conhecimento. Indique as aplicações práticas do seu estudo e procure estimular o leitor a examinar e pesquisar o assunto focalizado por sua investigação. Fomente a continuidade daquele assunto tratado, abrindo
novas perspectivas de estudo, lançando
novas hipóteses a serem testadas.
Em algumas revistas são aceitos trabalhos em que o capítulo de Resultados vem
junto com a Discussão. Neste caso o autor
deverá descrever, passo a passo, os resultados e já apresentar a discussão daquela
tabela ou gráfico, contextualizando todo o
corpo do trabalho até o final da apresentação dos resultados.
Conclusões
63
Neste capítulo, que poderá vir no
final da Discussão para publicação em revistas, devem-se salientar as contribuições
que o estudo faz, destacando aquelas conclusões que modifiquem de maneira significativa qualquer hipótese, teoria ou princípio geralmente aceito. Devem-se utilizar
frases sintéticas, sempre de acordo e na
seqüência lógica dos objetivos traçados.
As conclusões deverão ser enumeradas,
baseadas nos resultados analisados, e os
verbos deverão estar no tempo presente.
Vejam os exemplos:
“Conclui-se que, pelos resultados encontrados, existe influência dos fatores
climáticos na dinâmica da asma em crianças, principalmente na determinação
dos casos mais graves. Ficou claro que,
no período considerado como seco, as
crianças menores de cinco anos são
mais predispostas às complicações da
asma, com maior percentual de necessidade de atendimento hospitalar”.
CONCLUSÕES
1.
É alta a prevalência da IRA em
crianças atendidas no Pronto Socorro
Municipal de Cuiabá, correspondendo
a cerca da metade dos atendimentos na
faixa etária estudada.
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
Botelho
64
Referências Bibliográficas – Revista estilo
Vancouver, por ordem de entrada da citação.
ne levels, and mortality during summer
1994, in Belgium. Environ. Res. 1995;
70:,105-13.
2Pimentel A S, Arbella G. Simulação da química da atmosfera poluída por
automóveis movidos a álcool. Química
Nova 1997; 20: 252-60.
3Pastorino AC, Accioly AP, Lanzellotti R, Camargo MCD, Jacob CMA,
Grumach AS. Asma – aspectos clínicoepidemiológico de 237 pacientes de um
ambulatório pediátrico especializado. J
Pediatr 1998; 74:49-58.
4Castro HA. O pulmão e o ambiente: os poluentes do ar e seus efeitos no
aparelho respiratório. J Pneumol 2001;
27(suplemento):3-9.
5Sologuren MJJ, Cunha ACR, Gonçalves FG, Borges JP, O’connel JL, Gomide LC, Paladini LM. Estudo da ocorrência de correlação entre crises de asma
e fatores metereológicos. J. Pneumol
1996; 22 (suplemento):4.
6Mori CJ, Mello LM, Jardim RF,
Mello JF. Asma Brônquica: Controle
Ambiental é Eficaz? J Pneumol 1993;
19:169-174.
7Carvalho L, Rios JBM. A Asma. In:
Conheça sua alergia. Rio de Janeiro: Revinter, 2001. p. 37-84.
8Maitelli GT. Uma abordagem tridimensional de clima urbano em àrea tropical continental: o exemplo de CuiabáMT. Tese de Doutorado, Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas,
Universidade de São Paulo, p. 99/120,
1994.
9Botelho C. Os males da poluição.
Boletim informativo SBPT 1999; 4:11.
10- Camelo-Nunes I, Solé D, Naspitz
CK. Fatores de Risco e Evolução Clinica
da Asma em Crianças. J Pediatr
1997;7:151-60.
1Sartor F, Snacker R, Demuth C,
Walckiers D. Temperature, Ambient ozo-
Referências Bibliográficas – Dissertação –
Normas clássicas da ABNT.
2.
O percentual de IVAI foi alto
(45,2%), diferente da demanda existente
em outros tipos de serviços (não urgência).
3.
A taxa de internação hospitalar
foi considerada alta, principalmente
para as crianças com diagnóstico de
IVAI.
4.
O período do ano considerado
como seco foi determinante na gravidade da IRA, ao estar associado ao
maior percentual de internações.
5.
As variáveis ambientais: temperatura máxima, umidade relativa do ar
e número de focos de calor, estão associadas à maior gravidade da IRA, determinando maior percentual de internações hospitalares.
Referências bibliográficas
Toda a literatura mencionada no texto deve ser relacionada ao final do trabalho. No caso de Monografias, Dissertações e Teses, a lista de obras deve ser
ordenada alfabeticamente, obedecendo ao
sistema de chamada alfabética, com as
citações indicando os documentos pelo
sobrenome do autor e ano de publicação.
As revistas têm normas próprias para listar a bibliografia utilizada, que deverá ser
rigorosamente observada. Lembrar que
este capítulo mostra a preocupação do
autor com as suas fontes de informação,
se estão ou não atualizadas, focadas para
o problema estudado ou se estão com alguma tendência definida.
Vejam os exemplos:
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
Botelho
65
AGARWAL, D.K.; BHATIA, B. D.; AGARWAL, K. N. Simple approch to acute respiratory infection in rural underfive children. lndian Pediatrics. v. 30, n.5, p.629635, 1993.
BATISTA FILHO, M.; FERNANDES, M.
Situação nutricional da criança no Brasil. Boletim Nacional SISVAN, MS/
INAM, v.l, n.2, p.12-3,1991.
BERMAN, S. Epidemiology of acute respiratory infections in children of developing countries. Review Infectology Disease, v. 13, n.6, p.S454-462, 1991.
BÖHM, G.M.; SALDIVA, P.H.N.; PASQUALUCCI, C.A.; MASSAD, E. et alli.
Biological effects of air pollution in São
Paulo and Cubatão. Environment Research. v. 49, p. 208-216, 1996.
BOTELHO, C.; BARROS, M. D.; BARBOSA, L. S. G.; SILVA, M. D. Sintomas respiratórios e tabagismo passivo em crianças. Jornal de Pneumologia, v. 13, n.3,
p. 136-143, 1987.
BOTELHO, C.; BARROS, M.D.; BARBOSA, L.S.B. Sintomas respiratórios e tabagismo passivo em crianças. 2ª parte. Jornal de Pneumologia, v. 15, n. 1, p. 1518, 1989.
BOTELHO, C. A pneumologia ambien-
tal. Jornal de Pneumologia (suplemento), 27: 2, 2001.
Anexos e Apêndices
Os anexos são documentos não
produzidos pelo autor, como transcrições
de figuras ou materiais não relacionados
diretamente com o desenvolvimento da
pesquisa, como questionários, tabelas, gráficos ou quadros utilizados. Se houver mais
de um anexo, deve-se identificá-los em
ordem seqüencial, com algarismos arábicos.
Os apêndices são dados ou documentos produzidos pelo próprio autor e
que não necessitaram entrar no corpo do
trabalho, tais como: questionário, formulário, tabelas descritivas, lista dos dados
brutos, relação com os dados de todos
os participantes do estudo, cálculos estatísticos primários, etc.
AGRADECIMENTOS
Agradeço à Prof a Dr a Marina Atanaka dos
Santos pela excelente e oportuna revisão
crítica do manuscrito.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
A M E R I C A N
P S Y C H O L O G I C A L
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Publicação. 4a ed. Porto Alegre:
ARTMED Editora; 2001.
ANDRADE
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SILVA A.M.C., SILVA C.O.S.,
BOTELHO
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respiratória aguda (IRA) em
crianças menores de cinco anos e
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11:191-6, 2002.
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COMMITTEE OF MEDICAL
JOURNAL EDITORS/ Requisitos
uniformes para manuscritos
apresentados a periódicos
biomédicos. Rev Saúde Pública,
33: 6-15, 1999.
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1998.
VOLPATO G.L. Ciência: da
filosofia
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publicação.
Jaboticabal/SP: FUNEP; 1998.
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
66
TESES
THESIS
ABECH, D. M. D. Avaliação da Influência do Uso da Terapia de Reposição
Hormonal no Tamanho Hipofisário em
Mulheres na Menopausa. Dissertação
(Mestrado). Cuiabá: Instituto de Saúde Coletiva, Universidade Federal de
Mato Grosso, 2003.
Orientador: Prof. Dr. Hélio Borba
Moratelli
Co-Orientadora: Miriam da Costa Oliveira
A hipófise é uma glândula que sofre alterações de seu tamanho decorrentes de várias situações fisiológicas e patológicas. A
variação de tamanho nas diferentes idades
deve ser bem conhecida para evitar dificuldades no diagnóstico diferencial com os
microadenomas hipofisários. Os estrogênios são drogas amplamente utilizadas na
prática clínica e exercem potente estimulação sobre os lactotrofos hipofisários.
Vários autores já relataram em estudos
experimentais a ocorrência de hiperplasia
dos lactotrofos e de neoplasias hipofisárias
durante o estímulo prolongado destas células. Recentemente, um gene identificado
como PTTG (Pituitary Tumor Transforming
Gene), indutor da angiogênese e altamente
expresso nos tumores hipofisários, também
pode ser estimulado pelos estrogênios em
experimentos in vitro. Em humanos, os
estudos que avaliaram a influência do uso
prolongado de estrogênios sobre o tamanho hipofisário não são conclusivos. Os
objetivos deste estudo foram a coleta de
dados sobre o tamanho hipofisário na menopausa, a avaliação dos níveis de prolactina e TSH, em mulheres na menopausa,
com e sem reposição hormonal, e a avaliação da influência do uso da terapia de reposição hormonal no tamanho hipofisário
em mulheres na menopausa. Participaram
desta série 69 mulheres em menopausa, 47
usuárias de TRH e 22 não expostas a este
tratamento, que realizaram a medida da
altura hipofisária, através de cortes sagitais obtidos em ressonância nuclear magnética, além da coleta de sangue para a
dosagem de prolactina e TSH. Na análise
estatística foram utilizados os testes t de
Student, para amostras independentes, a
Correlação de Pearson, para descrever a
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
associação entre duas variáveis quantitativas, e a regressão linear múltipla, para identificar potenciais fatores de confusão. Nas
situações de assimetria, como para as dosagens de prolactina e TSH, foi utilizado o teste U de Mann-Whithney. A avaliação hormonal não evidenciou diferença estatisticamente significativa entre os níveis médios de
prolactina entre os dois grupos (p=0.15), porém, uma diferença significativa foi encontrada entre os níveis de TSH, a maior no grupo exposto (p=0.03). Quando a altura hipofisária média foi comparada entre os dois grupos, encontrou-se uma diferença estimada
em 0.78mm a favor do grupo exposto à TRH
(p=0.04). No entanto, quando foram considerados os potenciais fatores de confusão
como a idade, níveis de prolactina e TSH,
tratamento e tempo de tratamento, a magnitude da diferença não atingiu significância
clássica. Concluiu-se que é possível existir
um efeito da TRH sobre o tamanho da hipófise, com média estimada através dos resultados deste estudo em 0.78mm, apesar deste estudo não ter apresentado poder estatístico suficiente para detectá-lo.
AMARAL, I. B. S. Prevalência de Diabetes Mellitus Tipo 2 em Ribeirão da Ponte, Cuiabá, MT. Dissertação (Mestrado).
Cuiabá: Instituto de Saúde Coletiva,
Universidade Federal de Mato Grosso,
2003.
Orientador: Prof. Dr. Joaquim Gonçalves Valente
O objetivo deste estudo foi estimar a prevalência de Diabetes Mellitus na população dos
bairros de abrangência do Centro de Saúde
Ribeirão da Ponte, em Cuiabá-MT, e detectar os fatores de risco mais importantes na
área de estudo e, secundariamente, a prevalência de obesidade entre as pessoas submetidas a este estudo, assim como a presença de outras patologias auto-referidas associadas, durante uma entrevista. Trata-se de
um estudo de corte transversal, em 704 indivíduos, de ambos os sexos, com idade entre
30 e 69 anos, sorteados em uma população
de 3.615 habitantes, que foram submetidos a
um inquérito epidemiológico, através de resposta de instrumento adrede elaborado. Foram também medidas a circunferência da
cintura, quadril, peso, altura e glicemia capilar, cujo ponto de corte para hiperglicemia
foi de 126mg%. A perda amostral foi de 9,2%.
67
Vinte e oito (4%) pessoas referiram serem
portadoras de diabetes mellitus no momento
da entrevista e 16 indivíduos apresentaramse com hiperglicemia durante a realização
da glicemia capilar, considerados como sendo portadores de diabetes mellitus tipo 2,
perfazendo um total de 44 casos (6,25%). A
prevalência de DM foi maior nas mulheres
do que nos homens (4,4% versus 6,1%:
p=0,14), maior nos indivíduos obesos (12,5%)
do que não obesos (7,5%), com aumento progressivo dos 30 aos 59 anos com, respectivamente, 1,9%, 4,3%, 16,7% e 11,5% de prevalência para cada década de vida. Dezoito
(40.9%) das 44 pessoas portadoras de diabetes referiram ter parentes com diabetes.
A prevalência de glicemia de jejum alterada
foi de 3,1% para os homens e 4,5% para as
mulheres. Na análise univariada e na análise multivariada ter idade maior que 50 anos,
ter um irmão diabético, ganho de peso após
os 25 anos de idade, circunferência da cintura e razão cintura-quadril mostraram-se
como preditores independentes de hiperglicemia. Na análise multivariada, as mulheres
apresentaram um risco 3,5 vezes maior do
que os homens de apresentar hiperglicemia.
Em relação aos hábitos alimentares, indivíduos hiperglicêmicos referiam um hábito 6,7
vezes menos freqüente de ingerir refrigerante
comum, 4,4 vezes mais de não fazer uso de
bebidas alcoólicas, e 3,6 vezes mais de fazer
dieta para controle de peso.
ARAÚJO, J. J. B. Hipertensão Arterial:
Prevalência e Perfil Epidemiológico de
População Adulta e Programa de Saúde
da Família em Cuiabá, Mato Grosso. Dissertação (Mestrado). Cuiabá: Instituto
de Saúde Coletiva, Universidade Federal de Mato Grosso, 2003.
Orientador: Prof. Dr. Luiz César Nazário Scala
O objetivo deste estudo foi estimar a prevalência, e descrever o perfil epidemiológico
da Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) de
População Adulta de Programa de Saúde da
Família de Bairros de Cuiabá-MT. O tipo de
estudo é de prevalência, observacional, analítico, de delineamento transversal e de base
populacional, com processo de amostragem
aleatória proporcional e significativa de população urbana de Cuiabá. Os dados foram
obtidos no domicílio, através de questionário
e determinação de parâmetros físicos em
condições padronizadas. A média de duas
aferições da pressão arterial foi utilizada
nas análises. Foram estudados 550 indivíduos de ambos os gêneros, com idade entre 18 e 74 anos, de uma amostra de 3.615
habitantes residentes em 1.142 domicílios,
da área de abrangência do Centro de Saúde Ribeirão da Ponte, Distrito Centro-Oeste
de Cuiabá. A população, na sua maioria,
foi formada por mulheres negróides, casadas, com escolaridade de primeiro grau
completo, em faixa etária inferior a 40 anos,
metade com renda média de 1 a 6 salários
mínimos. Observou-se prevalência de HAS
de 25% segundo o critério de corte de PAS
igual ou superior a 140mmHg e PAD igual
ou superior a 90mHg para o diagnóstico de
HAS estabelecido pelas IV Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial (2002).
Quanto à classificação dos níveis pressóricos, observou-se predomínio da HAS estágio I (leve = 42,9%) e a HA sistólica
(30,8%) em relação a estágio II (moderado = 18%) e a estágio III (grave = 8,3%).
Em relação ao perfil sócio-demográfico a
idade dos hipertensos foi, em média, 18 anos
superior a dos normotensos. Os de idade
superior a 40 anos apresentam 3,14 vezes
mais HA do que os de idade inferior a 40
anos. Houve maior prevalência de HAS,
com níveis significantes, entre: analfabetos,
fumantes e ex-fumantes, mulheres em uso
de anticoncepcional oral e nos portadores
de diabete melito e dislipidemia. A HA nos
indivíduos com antecedentes familiares de
acidente vascular encefálico foi 1,7 vezes
maior quando comparada aos que não tinham estes antecedentes, achado original
deste estudo. As mulheres em uso de anticoncepcional apresentam 2,17 vezes mais
HA do que as não usuárias. Em relação as
variáveis antropométricas a HAS foi mais
prevalente em mulheres obesas e homens
com sobrepeso, sendo a circunferência
abdominal a variável mais significativa nesta avaliação. Não foram observadas associações entre HA e gênero, etnia, mobilidade residencial, atividade física e hábitos
alcoólicos. A associação entre HA, restrição de sal na alimentação e absenteísmo
apresentaram significâncias estatísticas limítrofes. Os dados deste estudo possibilitam definir um grupo alvo para políticas de
saúde, com risco cardiovascular aumentado: indivíduos com idade superior a 40 anos,
baixa escolaridade, renda inferior a dois
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
68
salários mínimos, antecedentes familiares
de AVES, fumantes ou ex-fumantes, homens com sobrepeso, mulheres obesas e/
ou em uso de anticoncepcional (em especial por tempo superior a quatro anos) e
indivíduos portadores de diabete melito e/
ou dislipedimia. O presente estudo descreveu, de forma inédita, a prevalência e o
perfil epidemiológico da HAS em CuiabáMT, com definição de uma população alvo
para campanhas diagnósticas e planos de
reorganização ao combate e controle da
HAS e de alguns fatores de risco cardiovascular.
ARRUDA, I. S. C. F. Efeito do Tratamento Nutricional Enteral com Glutamina e Probioticos em Pacientes com
Traumatismo Crânio-Encefálico. Dissertação (Mestrado). Cuiabá: Instituto de Saúde Coletiva, Universidade
Federal de Mato Grosso, 2003.
Orientador: Prof. Dr. José Eduardo de
Aguilar Nascimento
Pacientes com traumatismo crânio encefálico (TCE) apresentam gasto energético
e protéico elevado e são mais propensos a
infecções. O objetivo deste estudo foi avaliar os resultados da administração de uma
dieta enteral precoce enriquecida com glutamina e probióticos em pacientes com
TCE. Vinte e três pacientes com TCE
(Glasgow entre 5-12) foram randomizados
para receber uma dieta enteral padrão
(grupo controle; N = 12) ou acrescida de
glutamina (30g/dia) e probióticos (grupo
estudo; N=11) por um mínimo de cinco dias
(5-14 dias). As duas dietas eram isocalóricas e isonitrogenadas (35 kcal/kg/dia e 1,5g
proteína/kg/dia). Registrou-se morbidade
infecciosa, permanência na Unidade de
Tratamento Intensivo e tempo de ventilação mecânica. Não houve mortalidade. Três
pacientes foram excluídos do trabalho, restando dez pacientes em cada grupo. Os
dois grupos foram semelhantes quanto ao
sexo, idade, estado nutricional e escala de
Glasgow. A incidência de infecção foi maior no grupo controle (10/10 casos; 100%)
quando comparado ao grupo estudo (6/10
casos; 60%; p=0,04). O número de infecções por paciente no grupo controle foi
maior que no grupo estudo (3[1-5] vs. 1[03];p<0,01). Tanto o tempo de hospitalização na UTI (22,5[7-57] vs. 10,5[5-20] dias;
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
p<0,001) quanto o de dias de ventilação mecânica (14,5[3-53] vs.7[1-15] dias; p=0,049)
foram maiores no grupo controle que no grupo
estudo. A fórmula enteral com glutamina e
probióticos diminui a morbidade, reduz o uso
de ventilação mecânica e diminui o tempo
de hospitalização na UTI, em pacientes vítimas de TCE.
BORBA, A. M. Plantas Medicinais e
suas Relações com a Saúde Bucal em
Chapada dos Guimarães, Mato Grosso.
Dissertação (Mestrado). Cuiabá: Instituto de Saúde Coletiva, Universidade
Federal de Mato Grosso, 2003.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Miramy Macedo
Em Mato Grosso, populações tradicionais
recorrem ao uso de espécies vegetais como
alternativa terapêutica. Na cidade de Chapada dos Guimarães, o bairro Santa Cruz se
destaca por abrigar famílias nascidas em áreas urbanas ou rurais que conservam conhecimentos transmitidos por gerações. Esta
pesquisa teve como objetivo o levantamento
das plantas medicinais utilizadas pela comunidade deste bairro, suas indicações terapêuticas, bem como preparos e modos de uso
visando a manutenção e recuperação da saúde bucal. Foram entrevistados 40 informantes residentes no bairro, através de abordagem qualitativa, usando entrevista semi-estruturada. As espécies catalogadas foram
depositadas para identificação no UFMT/
Herbário Central. Foram catalogadas, 87
espécies, pertencentes a 48 famílias, utilizadas na saúde bucal, encontradas no bioma
Cerrado ou cultivadas em quintais e jardins.
Conforme os usos, as espécies mais citadas
foram, para erupção dentária: camomila
(Matricaria chamomilla L.), capim-sapé
(Imperata brasiliensis Trin.) e rosquinha
(Helicteres sacarolha St. Hil.); candidíases,
estomatites, gengivites e afta: açafrão (Crocus sativus L.) e mangava-brava (Lafoensia pacari St. Hil.); dor de dente: arnica-daserra (Brickelia brasiliensis (Spreng.) Robinson), batata-doce (Ipomoea batatas (L.)
Lam.) e conta-de-lágrima-de-nossa-senhora (Coix lacrima-jobi L). A indicação terapêutica para afecções da mucosa foi a mais
citada, sendo a folha a parte da planta mais
usada e o chá, por decocção, modo de preparo mais comum. Pessoas idosas, líderes
comunitários, parteiras e benzedeiras entre-
69
vistados apresentaram um maior conhecimento sobre o assunto. Constatou-se que a
comunidade utiliza espécies vegetais, nativas
do cerrado ou exóticas, com finalidade terapêutica para manutenção e recuperação da
saúde bucal, sendo uma alternativa tradicional, econômica e atuante.
BRANCO, P. Z. Restrições Proteicas
Modulam o Mecanismo de Secreção de
Insulina em Ratas Grávidas. Dissertação
(Mestrado). Cuiabá: Instituto de Saúde
Coletiva, Universidade Federal de Mato
Grosso, 2003.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Márcia Queiroz
Latorraca
A desnutrição e a gravidez são condições
associadas a alterações na morfologia e na
função das ilhotas pancreáticas. O presente
estudo teve o objetivo de conhecer o efeito
da restrição protéica sobre as adaptações
estruturais e funcionais do pâncreas endócrino durante a gravidez. Foram avaliados
quatro grupos de ratas adultas da linhagem
Wistar: 1) Grupo normal não grávida: ratas
alimentadas com dieta normoprotéica durante
todo o período experimental; 2) Grupo normal grávida: ratas alimentadas com dieta
normoprotéica durante a gravidez; 3) Grupo
hipoprotéico não grávida: ratas alimentadas
com dieta hipoprotéica durante todo o período experimental; 4) Grupo hipoprotéico grávida: ratas alimentadas com dieta hipoprotéica durante a gravidez. Os procedimentos
experimentais foram conduzidos aos 15 e 19
dias de gravidez. A restrição protéica durante a gravidez não alterou o peso corporal e
do pâncreas, as concentrações séricas de
proteínas totais e de albumina, o tamanho das
ilhotas pancreáticas e o conteúdo de insulina
nas mesmas. A secreção de insulina in vivo
foi significativanente reduzida no grupo hipoprotéico grávida em relação ao grupo normal grávida, indicando a incapacidade do
pâncreas de responder a uma carga de glicose. A secreção de insulina por ilhotas pancreáticas em resposta à glicose basal aumentou em ratas grávidas dos grupos hipoprotéicos e normal. Em concentração fisiológica
de glicose ilhotas dos grupos hipoprotéico e
normal, grávidas exibiram resposta secretória
similar. Verificou-se em ratas grávidas, redução da secreção de insulina no grupo hipoprotéco e um aumento da liberação de insulina no grupo normal em resposta a con-
centração suprafisiológica de glicose, confirmando os resultados da secreção in vivo.
As respostas secretórias ao gliceraldeído
e ao α-cetoisocaproato (KIC) na presença de concentração fisiológica de glicose
foram maiores em ratas do grupo hipoprotéico em relação às do grupo normal grávidas. Não foram observadas alterações nas
respostas à leucina nem ao cloreto de potássio (KCl), indicando a preservação do
metabolismo do aminoácido e do funcionamento dos canais de Ca2+ -voltagem dependentes. Na presença de forbol 12-miristato 13-acetato (PMA), a secreção de
insulina foi maior no grupo de ratas do grupo hipoprotéico em relação às do grupo
normal grávidas. A secreção de insulina na
presença de isobutilmetilxantina (IBMX) foi
similar entre ratas do grupo normal e hipoprotéico grávidas, apenas em concentração
fisiológica de glicose. Portanto, a restrição
durante a gravidez modulou o metabolismo
da glicose e a via da PLC/PKC, garantindo a secreção de insulina normal na presença de concentração de glicose. A via
do AMPc/PKA pareceu preservada na
presença e concentração fisiológica, mas
não de concentração basal de glicose.
CARBO, L. Avaliação do Comportamento de Pesticidas em Solos de Lavouras de Algodão na Região de Primavera do Leste, Mato Grosso. Dissertação
(Mestrado). Cuiabá: Instituto de Saúde Coletiva, Universidade Federal de
Mato Grosso, 2003.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Ermelinda
Maria De-Lamônica-Freire
Co-orientadora: Eliana Freire Gaspar
Carvalho Dores
Diante de constatações sobre o intenso uso
de pesticidas na agricultura e informações
sobre o potencial de contaminação do lençol freático, houve o interesse de realizar
um estudo sobre a sorção de pesticidas em
dois solos da região de Primavera do Leste, Mato Grosso, e o potencial da contaminação de águas. Este trabalho foi realizado numa fazenda da região, onde uma das
principais lavouras é a cultura de algodão.
Primeiramente foi realizado um levantamento através de informações obtidas com
os agrônomos da região sobre os pesticidas que eram utilizados com maior freqüência nesse tipo de cultura. A partir destes
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
70
dados sobre a quantidade e freqüência de
uso e sobre as propriedades físico-químicas dos pesticidas, selecionou-se para o
estudo as seguintes substâncias: acetamiprid, carbendazim, diuron, thiametoxan,
carbofuran, metomil, imidacloprid e azoxistrobin. Para entender o comportamento
desses compostos na região de estudo, coletaram-se amostras representativas de solo
com as quais foram realizados ensaios de
sorção com os pesticidas selecionados. Os
coeficientes de sorção (Koc) encontrados
no solo para o diuron (3969), thiametoxan
(3103), azoxistrobin (3189) e metomil
(1185) foram bem superiores aos relatados
na literatura. Isso pode ser devido às propriedades físicas e químicas de cada tipo
de solo, principalmente aos teores de argila e carbono orgânico e as estruturas de
cada composto. Em seguida, foram realizados ensaios de sorção com o acetamiprid, carbendazim, diuron e thiametoxan
com amostras dos horizontes de dois perfis de solo diferentes: Latossolo e Gleissolo. Para os coeficientes de sorção (Kd e
Kf) dos pesticidas nos horizontes do Latossolo e Gleissolo, o carbendazim apresentou correlação significativa somente com
o teor de carbono orgânico e para o diuron,
thiametoxan e acetamiprid não foi verificada correlação com as propriedades dos
dois tipos de solos. No entanto, verificouse que estes três últimos pesticidas ficaram mais sorvidos nos horizontes mais profundos dos solos, principalmente no Gleissolo, pois à medida que o teor de carbono
orgânico do solo diminui, a argila torna-se
mais importante na sorção de compostos
orgânicos. Entretanto, como os teores de
argila apresentaram-se praticamente constantes nos horizontes dos dois solos, não
foi verificada correlação significativa com
os coeficientes de sorção. Foram coletadas amostras de água do lençol freático e
água de escoamento superficial na área de
estudo, no período de novembro de 2002 a
março de 2003. Nenhum dos pesticidas
estudados foi detectado em amostra de
água de piezômetro, isso pode ser devido
ao fato dessas substâncias apresentarem
Koc relativamente elevados, ficando retidos nos horizontes dos solos, diminuindo o
potencial de contaminação do lençol freático. Já nas amostras de água de escoamento superficial, foram detectados o acetamiprid no mês de fevereiro (2,14 µg/L),
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
diuron nos meses de janeiro e fevereiro (4,62
– 42,60 µg/L), azoxistrobin nos meses de fevereiro e março (1,71 – 86,06 µg/L), carbofuran e metomil no mês de fevereiro (12,15
– 17,70 µg/L e 20,75 – 45,94 µg/L, respectivamente). O aparecimento desses pesticidas
na água de escoamento pode representar um
potencial de contaminação de águas superficiais, pois os córregos e represas próximas
a essas plantações acaba sendo o destino final desses contaminantes.
CHARBEL, S. C. Avaliação do Programa de Saúde da Família pelos Usuários
do Bairro Novo Paraíso. Dissertação
(Mestrado). Cuiabá: Instituto de Saúde
Coletiva, Universidade Federal de Mato
Grosso, 2003.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Ana Maria Canesqui
Este estudo faz uma avaliação da qualidade
da atenção à saúde prestada pelo Programa
de Saúde da Família (PSF), sob o ponto de
vista dos usuários. O PSF pretende introduzir modificações na concepção, gestão e formas de prestação dos serviços de saúde nesse nível de atenção e substituir, gradativamente, o tradicional modelo de atenção que
vigora no sistema de saúde brasileiro. O estudo ora proposto se embasou na obtenção
das opiniões de parcela dos usuários atendidos pelo PSF em relação às dimensões: acesso e acessibilidade; atenção domiciliar; acessibilidade e dificuldades de atendimento;
acesso a medicamentos, exames e procedimentos especializados; intersetorialidade e
acesso aos serviços sociais; intervenções da
equipe de saúde da família; orientações educativas, preventivas e tratamentos alternativos; relacionamento com os profissionais da
equipe de saúde da família; mecanismos de
participação social; o Programa de Saúde da
Família e as expectativas dos usuários. O
trabalho de campo foi realizado com usuários adscritos à equipe de saúde da família I,
do Bairro Novo Paraíso, no município de
Cuiabá, sendo utilizada a entrevista como
principal técnica de coleta de dados, que foram analisados sob a perspectiva da análise
temática. Os dados apontaram que a qualidade da atenção à saúde prestada pelo Programa de Saúde da Família nos aspectos
acima citados, de modo geral, foi avaliada
de forma positiva pelos usuários. Entretanto,
foi apontada a necessidade de algumas mu-
71
danças visando melhorar o funcionamento do
Programa e elevar a qualidade da assistência ofertada pelo mesmo.
CUNHA, M. L. F. Determinação de Resíduos de Pesticidas em Sedimentos dos
Principais Rios do Pantanal Mato-Grossense por CG/EM. Dissertação (Mestrado). Cuiabá: Instituto de Saúde Coletiva, Universidade Federal de Mato Grosso, 2003.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Ermelinda Maria De-Lamônica-Freire
Co-Orientadora: Eliana Freire Gaspar
Carvalho Dores
O Pantanal, localizado no Centro-Oeste brasileiro, é um dos maiores áreas alagadas do
mundo com extensão de aproximadamente
140.000 km2. Ele tem grande significância
ecológica, devido a sua rica biodiversidade,
bem como, importância econômica em relação ao turismo e pesca. No entanto, a agricultura intensiva, pastagem cultivadas, agroindústria, mineração e centros urbanos são
os principais fatores potenciais que podem
estar causando alterações ambientais no
Pantanal. O uso de agroquímicos nos planaltos no entorno do Pantanal, especialmente
pesticidas em intensivas culturas como soja
e algodão é uma grande preocupação. O
objetivo deste trabalho foi avaliar o nível de
contaminação por pesticidas no sedimento de
rio, coletados nos principais rios às bordas
do Pantanal. A amostragem foi feita em duas
épocas, novembro de 2001 e fevereiro de
2002, que corresponde ao início das chuvas
e final das chuvas respectivamente. O número de amostras coletadas nos dois períodos foi igual a 46. Foi usado um método de
multi-resíduos validado para 9 herbicidas e
23 inseticidas. No laboratório, cada amostra
de sedimento foi seca à temperatura ambiente, peneirada e homogeneizada. A análise
consistiu na extração com solventes e agitação mecânica, seguida pela concentração em
evaporador rotatório, mais adiante extração
líquido-líquido, concentração e re-dissolução
do extrato com tolueno, com adição de padrão interno. Os extratos foram analisados
em cromatógrafo a gás acoplado a um espectrômetro de massa (CG/EM). A eficiência do método empregado neste trabalho foi
avaliada pelo teste de recuperação, a mesma se mostrou eficiente para os seguintes
pesticidas, endrin, endosulfan sulfato, sima-
zina, clorpirifós, ditalinfós, p,p DDT e ?cialotrina (recuperação entre 60 e 120%).
Foram detectados nas amostras analisadas,
alaclor, ametrina, clordano, clorpirifós, p,p’
DDE, p,p’ DDT, diazinon, dimetoato, ditalinfós, endosulfan sulfato, â-endosulfan,
metolaclor, metóxicloro, permetrina, simazina, terbutilazina, trifluralina. Em 83% das
amostras pelo menos um pesticida foi detectado. As moléculas mais freqüentemente
detectados foram p,p’ DDT (56%) e seu
metabólito p,p’ DDE (36%), alaclor (27%)
e â-endosulfan (16%). Estes resultados
serão utilizados para orientar planos futuros de monitoramentos.
CUNHA, T. G. Plantas Utilizadas na
Medicina da Comunidade Garimpeira
de Cachoeira Rica (Peba); Chapada dos
Guimarães, Mato Grosso, Brasil. Dissertação (Mestrado). Cuiabá: Instituto de Saúde Coletiva, Universidade
Federal de Mato Grosso, 2003.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Miramy Macedo
A presente pesquisa foi realizada na comunidade garimpeira de Cachoeira Rica,
localizada a 29km da Cidade de Chapada
dos Guimarães, Mato Grosso. Este trabalho visou caracterizar e relacionar a utilização das plantas na medicina popular comunitária e a interação dos moradores com
o seu ambiente. Os dados foram obtidos
por meio de 28 entrevistas semi-estruturadas elaboradas após o primeiro contato com
a comunidade, onde foram abordadas as
variáveis como o perfil sócio econômico dos
entrevistados e os aspectos relacionados
às plantas medicinais empregadas no tratamento dos problemas de saúde local.
Como instrumentos para obtenção destas
informações utilizou-se também a observação participativa, anotações em caderno de
campo, registro fotográfico e a coleta do
material botânico. Foram catalogadas 129
plantas com propriedades terapêuticas, sendo 126 identificadas a nível de famílias e
espécies, distribuídas em 53 famílias botânicas. Dentre as famílias mais citadas registrou-se a Asteraceae, Euphorbiaceae,
Rutaceae, Caesalpiniaceae, Bignoniaceae
e Rubiaceae. As principais formas de usos
são: o chá com (46,70%), banho (19,79%),
a garrafada (7,61%), ingestão do fruto in
natura (3,55%), queimada, sumo e melado
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
72
(2,54%), polvilho na água (2,03%), emplastro, seiva na água e mucilagem (1,52%).
As partes da planta mais utilizadas no preparo dos remédios caseiros são: folhas
(34,29%), cascas (14,29%), a raiz (10,86%),
o fruto (9,71%), toda a planta (5,71%), parte
aérea, seiva, flores, sementes e broto
(3,43%), tubérculo (2,86), rizoma (1,71%),
entrecasca (1,14%) e as demais referências das partes utilizadas como óleo e bulbilho com 0,57%. Registraram-se entre os
moradores 52 tipos de agravos da saúde,
sendo mais freqüentes as inflamações
(5,05%), os problemas estomacais (7,25%),
problemas do rim (6,15%), verminoses
(5,05%), machucaduras (4,40%), as feridas (4,18%), gripe (3,96%), entre
outras.Concluí-se que os entrevistados priorizam o tratamento de seus problemas de
saúde com as plantas encontradas na região, combinando também outras alternativas de cura como a benzeção e que os recursos da biodiversidade local têm sido
importante para atenuar seus problemas de
saúde e contribuindo na permanência do
gripo na região.
DORNAS, P. B. Perfil Clínico e Laboratorial de Crianças Atendidas no Ambulatório de Infecções de Repetição do
Hospital Universitário Júlio Müller. Dissertação (Mestrado). Cuiabá: Instituto de Saúde Coletiva, Universidade
Federal de Mato Grosso, 2003.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Marta Duarte
de Barros
O termo infecções de repetição é freqüentemente associado à recorrência de episódios agudos de comprometimento infeccioso. Aspectos nutricionais, sociais, hábitos
de higiene e alterações anatômicas influenciam no aumento da freqüência das infecções. A maioria dos indivíduos consegue lidar bem com a ocorrência da infecção. Entretanto, alguns pacientes apresentam infecções mais severas, ou que persistem por um período de tempo mais longo ou que não respondem à terapêutica
habitual. A freqüência aumentada de infecções ou a gravidade destas chama a
atenção para a ocorrência de falhas do sistema imune. Uma vez detectadas as imunodeficiências precocemente, aumentam as
chances de tratamento e torna-se melhor
o prognóstico. Em vistas desta possibilida-
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
de é de grande importância a investigação
de crianças com infecções de repetição a
fim de impedir a progressão dos quadros infecciosos, que muitas vezes é fatal. No presente trabalho realizou-se um estudo de série de casos, retrospectivo, utilizando os dados clínicos e laboratoriais existentes nos
prontuários dos pacientes atendidos no ambulatório de infecções de repetição do Departamento de Pediatria do Hospital Universitário Júlio Müller (HUJM), com o objetivo
de traçar o perfil clínico e laboratorial de crianças com infecções de repetição, e relacionar as que foram identificadas como portadoras de imunodeficiência primária. Para
tanto, no período de maio/2000 a agosto/2001
foram estudadas 43 crianças de até 15 anos
de idade que apresentavam um ou mais dos
“Dez sinais de alerta para imunodeficiência
primária” da Jeffrey Modell Foundation,
através de um questionário aplicado ao prontuário, avaliando a história das doenças infecciosas, antecedentes familiares e fisiológicos e dados laboratoriais e radiológicos. Os
resultados mostraram que não há predominância de sexo entre os pacientes com infecções de repetição; a idade de início das
infecções variou de um a 60 meses; as infecções mais freqüentes são as de vias aéreas, em especial as pneumonias. Oitenta e
seis por cento dos pacientes que apresentaram infecções de repetição necessitaram de
internação hospitalar. Dentre os sinais de
alerta para imunodeficiência, o mais freqüente foi a necessidade de uso de antibioticoterapia endovenosa para curar infecções. Dentre os pacientes com infecções de repetição,
18,6% apresentaram diagnóstico de imunodeficiência primária e dentre estes, a imunodeficiência de fagócitos foi a mais freqüente. Os dados ressaltam a importância da investigação das infecções de repetição, e do
estabelecimento da etiologia, para que haja
tratamento específico das patologias e no
caso do diagnóstico de imunodeficiências
primárias haja melhoria do prognóstico e da
qualidade de vida.
DOTTA, A. H. Plástica da Valva Mitral:
Resultados Imediatos. Dissertação (Mestrado). Cuiabá: Instituto de Saúde Coletiva, Universidade Federal de Mato
Grosso, 2003.
Orientador: Prof. Dr. Ronaldo Ducheschi Fontes
73
Foi estudada a evolução imediata de 79 pacientes submetidos a plástica da valva mitral
no período de Fevereiro de 1995 a Maio de
1998. Todos os pacientes foram operados
pela mesma equipe cirúrgica. A idade variou
entre 08 e 65 anos, com média de 28, 7 anos
e desvio padrão de 13, 6 anos. Dos 79 pacientes, 53 (67.1%) eram do sexo feminino e
26 (32.8%) do sexo masculino. Em relação
a etiologia da lesão na valva mitral, 74
(93.6%) pacientes tinham passado de doença reumática, 4 (5%) com lesão valvar por
degeneração mixomatosa e 1 (1.3%) paciente com etiologia isquêmica. Quanto ao diagnóstico funcional 27 (34.2%) pacientes
apresentaram dupla lesão mitral, 24 (30.3%)
pacientes apresentavam insuficiência mitroaórtica, 24 (30.3%) pacientes apresentaram
insuficiência mitral pura, e 4 (5.2%) pacientes, apresentaram insuficiência mitro-tricuspídea. As técnicas cirúrgicas utilizadas foram anuloplastia de Kay em 12 (15.2%) pacientes, técnica de Merendino em 13 (16.4%)
pacientes. Em 54 (68.3%) pacientes houve
necessidade de associação de mais de uma
técnica, sendo a mais freqüente a anuloplastia de Kay em 51 (64.5%) pacientes. Outros
procedimentos cirúrgicos associados foram
realizados em 17 (21.5%) pacientes, em
(10.1%) pacientes foi realizado substituição
da valva aórtica, 4 ( 5.0%) plástica na valva
aórtica, em 4 ( 5.0%) plástica na valva tricúspide e em 1 (1.3%) revascularização do
miocárdio. A mortalidade hospitalar foi de 4
( 5.0%) pacientes. Um necessitou ser operado no pós-operatório imediato. Houve um
caso de endocardite e um caso de tromboembolia. Na avaliação do sopro cardíaco,
comparando-se o pré e o pós-operatório imediato, encontramos diminuição significativa
no sopro (p<0.005). Houve melhora importante na classe funcional no pós-operatório
e 44 (55.77%) paciente encontravam-se no
pós-operatório imediato em classe funcional
I. A análise dos resultados obtidos permitiu
concluir que os pacientes submetidos a plástica da valva mitral apresentaram resultados
imediatos satisfatórios.
ESPÍRITO SANTO, E. R. Rações Adversas ao Tratamento com 5-Fluoracil em
Pacientes Portadores de Câncer Colorretal .Dissertação (Mestrado). Cuiabá: Instituto de Saúde Coletiva, Universidade
Federal de Mato Grosso, 2003.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Luzinete Alves Vanzeler
Foi realizado um estuo prospectivo de corte transversal descritivo, em pacientes portadores de câncer colorretal, tratados no
Instituto de Tumores de Cuiabá- MT, encaminhados pelo Sistema Único de Saúde
(SUS) no período de julho a dezembro de
2001, com o objetivo de identificar e quantificar as reações adversas à quimioterapia por 5-Fluoracil (5-FU) 425mg/m2 e leocovorin (LV) 20 mg/m2 (RA-5FU) com o
esquema Mayo (5 dias de tratamento com
intervalos de 3 a 4 semanas num total de 6
ciclos). A proporção de pacientes com RA5FU evoluíram do seguinte modo, no sentido do 1º par o 4º dia de quimioterapia: ciclo
1 - 25,0%, 37,5%, 62,5% e 50,0%; ciclo 2 63,6% em todos os dias; ciclo 3 - 23,1%,
46,2%, 76,9% e 61,5%; ciclo 4 - 45,5%,
63,6%, 81,8% e 72,7%; ciclo 5 - 36,4%,
54,6%, 72,7% e 54,5%; ciclo 6 - 72,7% em
todos os dias. Esses dados mostraram que
a proporção de pacientes RA-5FU aumenta
à medida que aumenta a quantidade do
quimioterápico administrado na maioria dos
ciclos, sugerindo agravamento das RA5FU por acúmulo da droga no organismo.
Em relação aos sintomas das RA-5FU observou-se que as do trato gastrointestinal
(TGI) estiveram em proporção superior
(70%) em todos os ciclos de quimioterapia, sendo os mais freqüentes: náusea
(28,3%), hiporexia (26,9%) e diarréia
(19,2%). Fora do TGI destacaram-se a hiperpigmentação (12,8%) e a sonolência
(4,6%). Outras reações estiveram presentes em menos de 3,0% dos pacientes. Observou-se que a náusea foi a mais freqüente
RAF, apesar de 100,0% dos pacientes terem sido tratados com antieméticos durante a infusão do 5FU/LV, e posteriormente
à quimioterapia em alguns casos. A freqüência de pacientes que apresentaram
RA-5FU no intervalo dos ciclos variou de
62,5% no ciclo 1 a 90,0% no ciclo 6, sendo
as RA-5FU mais freqüentes: diarréia
(31,0%) hiporexia (22,0%), náusea (19,0%)
e mucosite (17,0%), além de leucopenia
(5,0%), dor abdominal (3,0%) e outras, com
menos de 3,0%. Esses dados mostram que
as RA-5FU se intensificam durante o período de intervalo entre os ciclos. Em relação ao estudo retrospectivo, o ciclo 5 foi o
de maior proporção de pacientes com RA-
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
74
5FU (38,9%) e os ciclos 4 e 6 foram os de
menor freqüência (11,1% em cada), sendo
que as reações mais freqüentes foram: diarréia (50,0%), náusea (18,4%), mucosite
(15,8%), vômito (7,9%), hiporexia (5,3%)
e dor abdominal (2,6%). Comparando o
estudo prospectivo ao retrospectivo, verificou-se que o prospectivo apresentou maior número de RA-5FU em todos os ciclos
estudados. Com esses dados conclui-se
que: as reações adversas apresentadas
pelos pacientes tratados com 5-FU e LV
por meio do esquema Mayo relacionaramse principalmente ao TGI, sendo a náusea
a mais freqüente no estudo prospectivo e a
diarréia no retrospectivo; o estudo prospectivo pode detectar maior proporção de RAF,
bem como reações mais graves e raras,
sugerindo que esse tipo de estudo é melhor
para verificar RA-5FU; os registro das reações adversas nos prontuários podem ser
revistos ou modificados a fim de que sejam mais eficientes.
FERNANDES, C. C. Estudo Químico e
Farmacológico das Raízes de Zanthoxylum riedelianum Engl. (Rutaceae).
Dissertação (Mestrado). Cuiabá: Instituto de Saúde Coletiva, Universidade Federal de Mato Grosso, 2003.
Orientador: Prof. Dr. Paulo Teixeira de
Sousa Junior
Em Mato Grosso, as espécies de Zanthoxylum são conhecidas na medicina popular como “mamica-de-porca” por apresentarem semelhanças morfológicas. São utilizadas contra doenças inflamatórias, reumatismo e mancha na pele. A análise química por via úmida das raízes de Zanthoxylum riedelianum (Engl.), evidenciou a
presença de ácidos fixos fortes, agliconas,
alcalóides, antranóis, bases quaternárias,
cumarinas, esteróides, flavonóis, saponinas,
triterpenóides. O fracionamento dos extratos brutos hexânico e metanólico (EBHex
e EMeOH) foi efetuado por técnicas cromatográficas convencionais. As substâncias isoladas foram identificadas através de
técnicas espectroscópicas (IV, EM, RMN,
13
C e 1H, incluindo técnicas bidimensionais,
1
H, 1H-COSY, 1H - 13CgHSQC). Do fracionamento do EBHex obteve-se o triterpeno Lupeol (72) e um alcalóide benzofenantridínico, 6-acetonildiidroqueleritrina
(38). Do fracionamento do EMeOH, iso-
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
lou-se dois alcalóides do grupo benzofenantridínicos, a saber: 7-metoxi-8-hidroxi-6-acetonil-2,3-metilenodioxi-N-metil-benzofenantridina (87) e 8-acetonildiidroavicina (39) sendo o primeiro inédito. Foram observadas as
seguintes atividades farmacológicas: Toxicidade sobre Artemia salina LEACH:
EBHex uma DL50 {µg/mL} > 1; Atividade
Antimicrobiana contra Staphylococcus aureus e Staphylococcus epidermidis (dose
= 5000 µg/mL): frações SE-BuOH-M, (halo
de inibição = 12 e 13 mm respectivamente);
e DCM-M (halo de inibição 12 e 13 respectivamente); Atividade supresora de radicais
livres (radical 2,2-difenil-1 =picril-hidrazil –
DPPH): EMeOH (10 µg/mL) = 50% descoloração; Inibição da enzima adenina-fosforribosil-transferase (APRT) de Leishmania tarentolae – EBHex, e as frações SEAcoet-H e SE-DCM-H (50 µG/mL) = 88.9
%, 88,2 %, 73.7 %, de inibição, respectivamente; substância (72) (50, 25 e 10 µg/mL)
= 86,3%, 76,3% e 34,6% de inibição, respectivamente.
FERREIRA, D. Modificações das Gonadotrofinas na Pausa de um Anticoncepcional Hormonal Oral com Baixa Dose de
Estrogênio. Dissertação (Mestrado).
Cuiabá: Instituto de Saúde Coletiva,
Universidade Federal de Mato Grosso,
2003.
Orientador: Prof. Dr. Sebastião Freitas
de Medeiros
A proposta deste estudo foi avaliar as variações do FSH e LH com usuárias de um anticoncepcional hormonal oral contendo 20 µg
de etinilestradiol (EE) + 75 µg desogestrel
(DSG). Incluíram-se no estudo 31 mulheres
com idade entre 17 e 36 anos. FSH, LH, PRL
e estradiol foram medidos por imunoquimioluminescência. Os níveis de FSH e LH foram verificados no último dia de ingestão do
comprimido de uma cartela de 21 comprimidos e no 7o dia do intervalo entre as cartelas.
Observou-se um grau de atenuação nos níveis séricos de FSH, LH e estradiol durante
o uso do contraceptivo e uma recuperação
dos níveis destas gonafotrofinas de 300% e
do estradiol de 39% na pausa entre as cartelas. Os níveis de prolactina apresentaram um
decréscimo de 23,5% durante a pausa entre
as cartelas. Como a medida das gonadotrofinas no último dia da pausa entre as cartelas corresponde ao mesmo nível observado
75
na fase folicular precoce das pacientes não
usuárias, poder-se-ia utilizá-la como referência para a suspensão do anticoncepcional
hormonal nas pacientes climatéricas e dar
início à TRH, sem o risco de uma gravidez
nesta fase da vida.
FERREIRA, S. M. B. Fatores Preditivos
de Abandono do Tratamento da Tuberculose Pulmonar Bacilílera, Cuiabá/MTBrasil. Dissertação (Mestrado). Cuiabá:
Instituto de Saúde Coletiva, Universidade Federal de Mato Grosso, 2003.
Orientador: Prof. Dr. Clóvis Botelho
Co-Orientador: Ageo Mário Cândido da
Silva
O abandono do tratamento da tuberculose
relaciona-se diretamente com a persistência
da fonte de infecção na população e ao aparecimento de cepas multirresistentes a fármacos antibuberculose, contribuindo sobremaneira para a manutenção da endemia.
Com o intuito de melhorar o perfil epidemiológico, a OMS declarou, em 1993, emergência mundial para a tuberculose, destacando
o tratamento supervisionado (DOT) como
estratégia para reverter o impacto do problema vigente, diminuindo principalmente os
riscos ascendentes de abandono. Esse trabalho tem o objetivo de analisar os fatores
preditivos de abandono do tratamento da tuberculose pulmonar em pacientes bacilíferos.
Ë um estudo de coorte histórica, realizado a
partir da análise de 481 pacientes com tuberculose pulmonar bacilíferos, inscritos no
Programa de Controle da Tuberculose (PCT)
no Município de Cuiabá, no período de 1998
a 2000. As informações foram obtidas através de prontuários médicos e de registros
existentes na unidade de tratamento com o
preenchimento de formulário padronizado de
cada caso. Considerou-se abandono do tratamento o doente que deixou de tomar os
medicamentos antituberculosoe por mais de
30 dias consecutivos. Foram estudadas variáveis demográficas, clínicas, tratamento prévio, modalidade de tratamento, distrito sanitário de residência e ano de ocorrência do
abandono. A análise bivariada dos tempos de
abandono foi feita pelo método de Kleinbaum
e col. e a análise multivariada pela técnica
de regressão de Cox. Dos 481 pacientes estudados, 64,0% eram do sexo masculino e
36,0% do sexo feminino. Nesta distribuição,
o abandono do tratamento de tuberculose foi
de 27,4%, com maior prevalência entre homens (30,5%) que entre mulheres (22,0%).
A média de duração do seguimento foi de
2,7 meses, com mediana e moda de 3,0
meses. A densidade de incidência global por
pessoas-mês de follow-up foi de 5,1 casos de abandono. Na análise bivariada, os
fatores associados ao abandono com significância estatística foram sexo (p=0,047),
escolaridade (p=0,043), tratamento anterior (p=0,07), abandono prévio (p<0,001),
modalidade de tratamento (TS vs NS)
(p<0,001), distrito sanitário de residência
(Leste/Oeste vs Norte/Sul) (p<0,001), ano
de tratamento (1999/2000 vs 1998)
(p<0,01). Ao final do estudo, os fatores preditivos que melhor indicaram o risco de
abandonar o tratamento de tuberculose, na
análise multivariada, foram: tratamento não
supervisionado (p<0,001), ano de tratamento (1998) (p=0,012), sexo masculino
(p=0,023) e abandono prévio (p=0,047). Os
resultados indicam uma elevada incidência
de abandono de tratamento no município,
com diminuição a partir do ano de implantação do tratamento supervisionado. Por
outro lado, o fator preditivo ligado ao abandono passado reflete a importância da vigilância contínua deste pacientes, para evitar a formação de pacientes crônicos e a
possibilidade do surgimento de multidrogarresistência, levando ao insucesso do programa.
FRANCO,V. A. Prevalência de Hipotireodismo e Características Clínicas Associadas à Hipofunsão Tireoideana entre Mulheres Climatéricas: Um Estudo
de Base Hospitalar, Cuiabá – MT. Dissertação (Mestrado). Cuiabá: Instituto de Saúde Coletiva, Universidade
Federal de Mato Grosso, 2003.
Orientador: Prof. Dr. Sebastião Freitas de Medeiros
O hipotireodismo é uma síndrome complexa, podendo ter manifestação insidiosa e
quadro clínico composto por sinais e sintomas inespecíficos e confundir-se com outras enfermidades, às vezes dificultando ou
retardando o diagnóstico por meses ou
anos. Os métodos atuais para quantificar o
hormônio estimulador da tireóide (TSH), a
tiroxina (T4) e a tiroxina livre (T4l) permitiram o reconhecimento das formas subclí-
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
76
nicas e clínica de hipotireodismo. O objetivo deste estudo, de corte transversal, foi
avaliar a prevalência de hipotireodismo em
168 mulheres de 40 a 65 anos atendidas
nos ambulatórios do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Universitário Júlio Müller de Cuiabá-MT. A idade
média das mulheres foi 48,9 anos, a maioria era de casadas (70,0%), não brancas
(53,6%), não tabagistas (57,7%), abstêmicas de álcool (64,5%), com baixa escolaridade (94,0%) e migrantes de outros estados (51,8%). Em relação à classe social,
encontrou-se que 78,6% pertenciam às
classes “D” e “E”. O peso corporal médio
foi de 68 Kg e a estatura média de 1,55
metros. A análise do índice de massa corpórea mostrou que 31,5% eram obesas e
36,3% apresentavam sobrepeso. A idade
média da menarca foi de 13,3 anos e a média
de gestações foi de 4,8. A ligadura de trompas (72,1%) e a histerectomia (23,0%) foram as cirurgias ginecológicas mais freqüentemente relatadas. Das doenças associadas, destacaram-se a hipertensão arterial (46,5%) e diabetes mellitus (20,2%).
Dos sintomas referidos, diminuição da memória (65,5), nervosismo (64,9%), fogachos
(57,1%) e redução da libido (62,3%) foram os mais freqüentes. A prevalência de
hipotireodidismo foi de 17,9% (IC: 30 - 168).
O hipotireoidismo foi associado à maior
prevalência de depressão (p=0,005), diminuição da memória (p<0,001), sonolência
(p=0,016) e sensação de frio (p<0,001) e à
menor prevalência de fogachos (p=0,012)
e nervosismo (p=0,002). Não mostrou correlação com sudorese (p=0,622), insônia
(p=0,655), tontura (p=0,67), taquicardia
(0,435) e artralgia (p=0,817). Por sua elevada prevalência e íntima relação com idade
e sexo feminino, conclui-se ser importante
o rastreamento do hipotireoidismo no climatério.
GUIMARÃES, F; R. Inquérito SoroEpidemiológico sobre a Hepatite do
Tipo E (VHE - Símile) em Suínos Abatidos nos Abatedouros-Frigoríficos do
Município de Várzea Grande – MT. Dissertação (Mestrado). Cuiabá: Instituto de Saúde Coletiva, Universidade
Federal de Mato Grosso, 2003.
Orientador: Prof. Dr. Francisco José
Dutra Souto
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
Diferentes linhagens do vírus da hepatite E
(VHE) têm sido isoladas de suínos em diferentes países do mundo. A organização genômica do VHE-suína tem se mostrado
muito similar àquelas encontradas em seres
humanos, o que tem trazido suspeitas quanto ao fato dessa espécie animal poder representar um reservatório desta doença. Esta
pesquisa objetivou estimar a soroprevalência de anticorpos contra o VHE-suína em
suínos de diversos municípios mato-grossenses, utilizando rebanhos abatidos nos abatedouros-frigoríficos do município de Várzea
Grande, Mato Grosso, Brasil; buscou também, correlacionar a soroprevalência estimada, com o município de origem dos animais,
o sexo e as características raciais fenotípicas dos mesmos. Neste sentido, foram coletadas amostras de sangue de 260 suínos, com
idade mínima de 4,5 meses, de diversos municípios matogrossenses, as quais foram submetidas a pesquisa de anticorpos IgG antiVHE-suína, através do teste imunoenzimático ELISA. As amostras foram obtidas de
17 propridades rurais situadas em 13 municípios. A taxa geral de soropositividade foi
de 74,2 %, sendo encontrados animais soropositivos (15 a 100%) em todas as propriedades e municípios. Taxas de soroprevalência igual ou superior a 90 % foram detectadas em 52,9 % (9/17) das propriedades rurais e 53,8 % (7/13) dos municípios amostrados. As variáveis sexo e raça (considerando a raça Large White e mestiços Large
White - Duroc) não influenciaram as taxas
de soroprevalência encontradas. Os resultados encontrados indicam que o VHE-suína
está difundido nos rebanhos amostrados e
possivelmente em todo o Estado de Mato
Grosso.
KEITZKE, R. C. Z. Plantas Usadas na
Medicina Tradicional na Cidade de Sorriso, Mato Grosso, Brasil. Dissertação
(Mestrado). Cuiabá: Instituto de Saúde
Coletiva, Universidade Federal de Mato
Grosso, 2003.
Orientador: Prof. Dr. Germano Guarin
Neto
Mato Grosso é um Estado que apresenta uma
reconhecida diversidade em plantas medicinais, que são usadas tradicionalmente por
inúmeras pessoas nas comunidades e nas
cidades. A presente pesquisa teve como objetivo o estudo voltado ao saber medicinal da
77
população na cidade de Sorriso-MT, como
fonte e subsídio para estudos posteriores,
voltados para a relação sociedade-natureza
num contexto da saúde-doença-cura. Para
a coleta dos dados etnobotânicos usou-se
técnicas do método qualitativo através da
amostra intencional que foi representada por
25 informantes, dos quais 68%, vio da região
Sul do País. Foram realizadas entrevistas com
questionário semi-estruturado com perguntas abertas e fechadas. As coletas dos espécimes foram realizadas nos quintais e áreas
de cerrado juntamente com os informantes.
A identificação foi realizada por especialistas do Departamento de Botânica do Instituto de Biociências da UFMT. Das 284 plantas medicinais encontradas na cidade de Sorriso, 197 foram identificadas e estão distribuídas em 74 famílias botânicas. As famílias
mais representativas foram ASTERACEAE
(17 espécies), LAMIACEAE (16 espécies),
CAESALPINIACEAE (10 espécies) e EUPHORBIACEAE (8 espécies). As partes
mais utilizadas com finalidades medicinais
foram as folhas com 40%, seguida da raiz
com 13% e da planta inteira com 9%. As
formas de uso mais indicadas foram a infusão com 44%, seguida do banho com 12% e
do xarope com 8%. Quanto ao hábito das
espécies identificadas, 45% herbáceos, 23%
arbóreos, 17% arbustivos. O habitat mais
freqüente foi o quintal 54%, seguido do cerrado 36%. Foram registrados 174 tipos de
afecções segundo a concepção de doença
dos informantes. As plantas medicinais mais
citadas pelos informantes foram poejo (Mentha pulegium L.), erva de santa Maria (Chenopodium ambrosioides L.), hortelã (Mentha piperita L.), barbatimão (Stryphnodendron adstringens - Mart. Coville). Há uma
relação muito próxima que se estabelece
entre os informantes e as plantas medicinais.
O conhecimento popular coexiste paralelamente com os da medicina oficial, porém está
baseado nos seus próprios valores e na herança cultural e está legitimada pela população.
LIMA, M. P. C. Avaliação dos Hábitos
Alimentares e do Estilo de Vida em Pacientes com Diagnóstico de Câncer ColoRetal. Dissertação (Mestrado). Cuiabá:
Instituto de Saúde Coletiva, Universidade Federal de Mato Grosso, 2003.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Helena
Gaíva Gomes da Silva
O presente estudo teve como objetivo avaliar os hábitos alimentares e outras variáveis relacionadas ao estilo de vida, em pacientes com diagnóstico de câncer coloretal, atendidos no ambulatório de oncologia do HUJM/UFMT/Cuiabá-MT. Consistiu de um estudo descritivo de série de casos, realizado através de entrevista, utilizando-se um questionário roteiro, com elementos de identificação e de hábitos de vida,
e um levantamento da freqüência do consumo alimentar, seguido de um recordatório de 24 horas. Esse instrumento foi aplicado em pacientes com câncer colo-retal
(n=39) e com outros diagnósticos (n=97),
para efeito de comparabilidade, entre setembro de 2001 e fevereiro de 2003. Os
pacientes foram avaliados por antropometria (peso, altura e IMC (Kg/m2), para diagnóstico nutricional habitual e atual. Os
resultados obtidos no estudo foram processados pelo programa estatístico SPSS e
para avaliação dos resultados, aplicou-se
os testes t de Student e o Qui-quadrado.
Observou-se uma proporção significativa
da ocorrência de câncer nos pacientes residentes em zona rural (25,6% vs 11,3%;
p=0,03). Verificou-se que mais de 50,0%
dos pacientes com câncer colo-retal apresentaram sobrepeso e, 79,5% consumiam
dieta de elevado risco-DER (pobre em fibras, rica em gorduras saturadas e grande
consumo de carnes fritas). O consumo diário de frutas foi menor no grupo de pacientes com câncer, tanto no sexo masculino
como no sexo feminino, comparado aos
pacientes sem câncer (5% vs 21,5% e 20%
vs 31%, respectivamente). Quanto ao estilo de vida, o tabagismo foi a única variável com associação positiva para o câncer
colo-retal (69,7% vs 48,5%; p=0,02). Uma
dieta tipicamente ocidental e o tabagismo
foram as variáveis com possibilidade de
serem associadas ao processo da carcinogênese no grupo de pacientes com câncer
colo-retal.
MARASCHIN, L. Avaliação do Grau
de Contaminação por Pesticidas na
Água dos Principais Rios Formadores
do Pantanal Mato-Grossense. Dissertação (Mestrado). Cuiabá: Instituto de
Saúde Coletiva, Universidade Federal
de Mato Grosso, 2003.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Ermelinda
Maria De-Lamonica-Freire
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
78
O uso indiscriminado de pesticidas nas lavouras de soja, arroz, milho e algodão, situadas na Bacia do Alto Paraguai (BAP) é
motivo de constante preocupação com o
meio ambiente e em particular com o Pantanal. O presente estudo teve como objetivo avaliar o nível de contaminação por
pesticidas na água dos principais rios que
fluem para o Pantanal Mato-grossense,
decorrente das atividades agrícolas provenientes do planalto que circunda a região
da planície pantaneira. A área de planalto
localizada na bacia do alto rio Paraguai
apresenta uma intensa atividade agropecuária de grande importância econômica para
os estados de Mato Grosso e Mato Grosso
do Sul, cuja agricultura mecanizada demanda grandes quantidades de insumos, entre
eles os pesticidas. A primeira etapa do estudo consistiu na avaliação do método analítico empregado para análise de multi-resíduos, usando a técnica de extração em
fase sólida, empregando como adsorvente
sílica porosa ligada a radicais octadecil
(C18), onde amostras fortificadas com os
analitos foram extraídas em cartuchos précondicionados e posteriormente eluídos com
acetato de etila e hexano, concentrados em
evaporador rotatório e analisados pela técnica de cromatografiafasosa acoplada a um
detector de massa. Numa segunda etapa,
foram ralizadas duas campanhas de amostragem, uma em Novembro de 2001 e outra em Fevereiro de 2002, nos rios Jauru,
Paraguai, Sepotuba, Cabaçal, Cuiabá, São
Lourenço, Vermelho, Correntes, Itiquira,
Coxim, Taquari, Negro, Apa, Aquidauana,
Salobra e Miranda, em pontos localizados
entre o planalto e a planície pantaneira dentro da área conhecida como borda do Pantanal. As amostras foram enviadas ao Laboratório de Análise de Resíduo de Pesticidas da Universidade Federal de Mato
Grosso, e analisadas pelo método acima
descrito. Das 36 substâncias submetidas ao
teste de avaliação do método, 12 tiveram
níveis de recuperação considerados bons.
Das amostras analisadas nas duas campanhas (n=45), 12 apresentaram o p,p’DDT
com concentração variando de (0,10 a 0,24
µg L-1), uma amostra apresentou ditalinfósna concentração de 0,06 µg L-1 e o metabólito sulfato de endosulfan foi encontrado
em uma amostra na concentração de 0,08
µg L-1, traço s de dieldrin foram encontrados em 6 amostras. Os níveis de contaminação por pesticidas se aprsentaram abaiRev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
xo do limite máximo estabelecido pela legislação brasileira para os princípios ativos analisados. A presença dos organoclorados
p,p’DDT e dieldrin em algumas amostras
evidencia a persistência destes no ambiente,
embora seu uso tenha sido proibido na agricultura em 1985. O número reduzido de pesticidas detectados na água indica que esta
matriz não é a mais recomendável para estudos de contaminação ambiental, pois salvo
alguns princípios ativos, muitos apresentam
baixa solubilidade na água e a maioria é adsorvida nos sedimentos e não sendo detectados pelo método empregado devido à filtração das amostras no início do procedimento analítico.
MARCON, S. R. I Levantamento sobre
Uso de Drogas por Estudantes da Universidade Federal de Mato Grosso, Campus
Cuiabá-MT, 2002. Dissertação (Mestrado). Cuiabá: Instituto de Saúde Coletiva, Universidade Federal de Mato Grosso, 2003.
Orientador: Prof. Dr. Domingos Tabajara de Oliveira Martins
Co-Orientadora: Delma Perpétua Oliveira de Souza
O presente estudo consiste em uma pesquisa de corte transversal, na qual são analisadas as proporções de variáveis relacionadas
ao uso de drogas entre estudantes da UFMT
– Campus Cuiabá, no ano de 2002, e a associação destas com variáveis demográficas e
sociais. O levantamento foi feito mediante a
aplicação de um questionário fechado de
autopreenchimento elaborado pela Organização Mundial de saúde e adaptado no Brasil
por Carlini-Cotrin et al. (1989) e Carlini-Cotrin & Barbosa (1993). Esse instrumento foi
utilizado nos levantamentos nacionais realizados pelo CEBRID (1987;89;93;97) e no
Município de Cuiabá por Souza (1996) e Almeida (1997). Foi aplicado a uma amostra
de 829 universitários matriculados no ano de
2002, obtendo-se as características de uso
de drogas na vida tanto no sexo masculino
(40,0%) como no feminino (30,0%), com falta às aulas (61,7%), sendo a maioria do nível
sócio-econômico “C” (37,5%) e cursando o
período matutino (67,7%). Dessa amostra,
65,5% disseram nunca ter usado drogas para
fins não médicos, verificando-se um intenso
afunilamento quando a análise segue o uso
na vida (34,4%) em direção ao uso pesado
(2,7%), constatando-se que a maioria dos
79
estudantes fez uso experimental de drogas.
Houve uso de drogas em todas as faixas etárias, e a idade média de uso inicial de drogas
foi mais precoce para as substâncias aceitas
socialmente, como álcool (15,7 ± 3,8 anos)
e tabaco (15,9 ± 3,6), depois para as drogas
ilícitas como maconha (18,4 ± 3,2 anos) e
cocaína (19,1 ± 3,0 anos) e mais tardiamente para os medicamentos como anfetaminas
( 20,1 ± 4,1 anos) e ansiolíticos (21,2 ± 5,6
anos). Excetuando-se o álcool e o tabaco, os
solventes foram as substâncias de maior uso
na vida (18,8%), no ano (10,0%), e no mês
(2,7%). Quanto ao uso freqüente, as anfetaminas foram as mais consumidas (0,6%) e
no uso pesado as anfetaminas, solventes e
ansiolíticos mantiveram-se proporcionalmente iguais. O álcool e o tabaco foram, de longe, as drogas mais usadas pelos estudantes,
em qualquer categoria de ususários . Ambos
os sexos fizeram uso de drogas com predominância de uso na vida para o sexo masculino das drogas ilícitas como maconha
(22,0%), alucinógenos (6,8%) e cocaína
(5,9%) e as drogas medicamentosas como
as anfetaminas (12,3%) e os ansiolíticos
(9,4%) para o sexo feminino. Em relação aos
estratos, observou-se que o consumo de drogas existe em todos eles, porém com maior
prevalência de uso na área de Ciências Exatas (46,0%). As drogas mais consumidas
pelos estudantes nos quatro estratos foram
os solventes (lança-perfume, loló, cola e benzidal), as anfetaminas (Dualid®, Desobesix®) e os ansiolíticos (Diazepan®, Lexotan®
e Diempax®), excetuando-se o álcool e o
tabaco. Os resultados desse levantamento
apresentam, de um modo geral, pontos que
se assemelham a outros estudos realizados
com universitários brasileiros, porém, discretamente superiores à população de escolares e à população domiciliar.
MELLO,F. R. Manifestações Clínicas da
Migrânia Crônica em Pacientes Acompanhados em um Serviço Privado da Dor.
Dissertação (Mestrado). Cuiabá: Instituto de Saúde Coletiva, Universidade
Federal de Mato Grosso, 2003.
Orientador: Prof. Dr. Hélio Borba Moratelli
Foram estudados retrospectivamente 107
pacientes, sendo 98 do sexo feminino e 9 do
sexo masculino, com idades entre 15 e 72
anos por ocasião da primeira consulta, aten-
didos em um centro privado especializado
em tratamento de dor, que preencheram os
critérios diagnósticos para migrânea crônica e que apresentavam cefaléia pelo menos 6 dias por semana (24 dias por mês)
há pelo menos seis meses. A média das
idades de início da migrânea episódica entre as mulheres foi 16,6 anos e entre os
homens foi de 24,7 anos com diferença estatisticamente significativa (p=0,009). As
manifestações da dor diária mais observadas foram dor em peso ou pressão, holocraniana, de intensidade leve a moderada.
Os sintomas mais freqüentes, acompanhando a dor diária, foram: náuseas (67%), fotofobia (63,2%) e fonofobia (60,4%). Crises intermitentes foram observadas em
99% dos pacientes da amostra, sendo desencadeadas mais freqüentemente pelo
estresse ou fatores estressantes em 87,7%
dos pacientes. As crises se manifestaram
como iguais à dor diária, porém mais intensas e com sintomas associados mais exacerbados em 70,2% dos pacientes que referiram um componente pulsátil em sua dor
diária (exclusivamente ou associado a peso
ou pressão), diferentes daqueles que referiram dor diária exclusivamente em peso
ou pressão (28,7%), com diferença estatisticamente significante entre estes grupos
(p=0,005). Este tipo de manifestação das
crises intermitentes, também foi mais observada entre os pacientes que relataram
dor diária localizada (70,2%) em relação
àqueles que relataram dor diária difusa ou
holocraniana (28,7%) com diferença estatisticamente significante (p=0,002). O consumo excessivo de medicações sintomáticas foi observado em 70,1% dos pacientes
da amostra e, entre estes, 85,3% referiram
consumo mais de uma medicação. Concluímos que as manifestações clínicas da migrânea crônica são semelhantes àquelas da
cefaléia do tipo tensional no tocante a dor
diária e que as crises intermitentes, exacerbando a dor diária e com sintomas associados foi mais freqüente entre os pacientes que apresentavam dor diária com um
componente pulsátil também naqueles com
dor diária referida como mais localizada em
relação aos que referem dor em peso ou
pressão e difusa ou holocraniana.
MOCCELINI, S. K. Estudo Químico e
Farmacológico das Cascas da Raíz de
Zanthoxylum rigidum Kunth ex Willd.
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
80
Dissertação (Mestrado). Cuiabá: Instituto de Saúde Coletiva, Universidade Federal de Mato Grosso, 2003.
Orientador: Prof. Dr. Paulo Teixeira de
Sousa Junior
Co-orientador: Eliane Augusto Ndiaye
A espécie Zanthoxylum rigidum Kunth ex
Willd é muito comum na Amazônia e Pantanal Mato-Grossense. Na Amazônia é
conhecida popularmente como hualaja e
sua madeira é usada na construção de casas. Apesar de não se ter encontrado indicação na medicina popular, sabe-se que
muitas espécies deste gênero e família são
usadas medicinalmente como antiinflamatório, por exemplo. Com base nesse contexto, e na escassez de estudo químico e
farmacológico de Z. rigidum, optou-se por
seu estudo. As raízes de Z. rigidum foram
coletadas nas margens da estrada Poconé-Porto Cercado (Km 8), Pantanal MatoGrossense. Inicialmente, as raízes foram
submetidas à análise química por via úmida, pela qual evidenciou-se a presença de
alcalóides, flavonóides, ácidos fixos, compostos fenólicos, catequinas, bases quaternárias, triterpenóides, esteróides, chalconas
e auronas. Com o objetivo de isolar e identificar substâncias presentes e possivelmente ativas, das cascas das raízes de Z. rigidum, obteve-se os extratos hexânico
(EBHexR) e metanólico (EBMeOHR) e
procedeu-se o seu fracionamento por técnicas cromatográficas convencionais. Após
o fracionamento do EBHexR, obteve-se o
triterpeno lupeol (1), a mistura dos esteróides campesterol (2), estigmasterol (3), sitosterol (4), e o alcalóide N-metilatanina
(5). Do EBMeOHR isolou-se novamente
o lupeol (1) e a N-metilatanina (5) e também o alcalóide 6-acetonildiidroqueleritrina (8) e um alcalóide do tipo protoberberina, a flavanona hesperidina (7) e a sacarose (6), sendo que essas substâncias são
descritas pela primeira vez em Zanthoxylum rigidum Kunth ex Willd. Foram preparados também os extratos hexânico
(EBHexC) e metanólico (EBMeOHC) do
cerne das raízes que, juntamente aos outros dois, foram submetidos à avaliações
de suas atividades citotóxica (toxicidade
sobre Artemia salina Leach), antioxidante
(por descoloração do radical DPPH), antimicrobiana (por difusão em meio sólido) e
antiinflamatória (através de edema de pata
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
induzido por carragenina). No ensaio antiinflamatório não houve redução do edema de
pata pelos extratos testados. O ensaio antioxidante não apresentou resultados satisfatórios, no qual somente o EBMeOHR apresentou poder inibitório a 100,00 µg/mL que
desapareceu em concentrações inferiores.
No ensaio de citotoxicidade o EBHexC apresentou DE50 46,21 µg/mL e no EBHexR a
DE50 foi inferior a 1,00 µg/mL. Os extratos
metanólicos apresentaram-se inativos. No
ensaio antimicrobiano, os extratos EBMeOHR e EBHexC apresentaram-se ativos contra Staphylococcus aureus (CIM=2500 µg/
mL e 1250 µg/mL, respectivamente) e contra Staphylococcus epidermidis (CIM=2500
µg/mL) para ambos extratos.
MORAES, C. A. Avaliação da Gestão e
Qualidade em Saúde com Base no Sistema de Acreditação — O Caso do Hospital Universitário Júlio Müller. Dissertação (Mestrado). Cuiabá: Instituto de
Saúde Coletiva, Universidade Federal de
Mato Grosso, 2003.
Orientador: Prof. Dr. Hélio Borba Moratelli
Co-orientador: Samuel Goihman
A premissa deste trabalho foi avaliar e consubstanciar a gestão e qualidade em saúde
no Hospital Universitário Júlio Müller
(HUJM), em Cuiabá, Mato Grosso, em conformidade com o Padrão nível 1 - Segurança, requerido pelo Manual das Organizações
Prestadoras de Serviços Hospitalares (versão 2001). O desenho do estudo foi quaseexperimental do tipo antes e depois, fundamentado na epistemologia da dialética materialista e na teoria sistêmica. Propõe duas
avaliações inicial e final, mediadas por uma
intervenção, que consistiu em ministrar dois
cursos Gestão do Crescimento Humano e
Gestão pela Qualidade, e na implantação de
Planos de Ação para corrigir possíveis nãoconformidades. Justifica-se o estudo considerando evidências que nos hospitais há uma
variação da qualidade assistencial, carecendo de um padrão de qualidade entre os vários serviços oferecidos nas unidades hospitalares. Os resultados demonstraram uma complexa rede de relações sociais dinâmicas
marcada por conflitos e contradições em uma
arena de negação e de preservação, em um
processo dialético em transformação. Das
32 seções avaliadas somente duas seções
81
tinham possibilidades de se enquadrarem ao
nível 01, apontando assim 8% de possibilidade do HUJM ser acreditado. A pesquisa adverte para uma profunda reflexão rumo a
mudanças nas dimensões: estrutura, processo e resultados sob a égide de uma gestão
participativa e comprometida com o isomorfismo institucional.
MORAIS, R. G. Plantas Medicinais e
Representações sobre Saúde e Doença na
Comunidade de Angical, Rosário Oeste/
MT. Dissertação (Mestrado). Cuiabá:
Instituto de Saúde Coletiva, Universidade Federal de Mato Grosso, 2003.
Orientador: Prof. Dr. Germano Guarim
Neto
A utilização de plantas medicinais pelo ser
humano é uma necessidade decorrente das
afecções que lhe afligem. Estas se estabelecem como uma conseqüência de suas atividades cotidianas e de suas relações com o
meio (natural e social) que lhe cerca. Assim,
o presente trabalho tem como objetivo relacionar as plantas medicinais utilizadas na
comunidade de Angical (Município de Rosário Oeste, Mato Grosso) e perceber como
são codificados pelos informantes os elementos que permeiam a relação saúde – doenca
- plantas medicinais. Para isso, foram utilizados os métodos de entrevistas estruturadas, semi-estruturadas e abertas, além de
conversas informais. Além das entrevistas,
foi realizada a observação participante e,
quando possível, caminhadas com o informante na vegetação circundante à comunidade
para complementar as entrevistas sobre espécies e as coletas botânicas. Os informantes eram principalmente mulheres ( 75%)
sendo que a faixa etária variou de 19 a 85
anos. Foram citadas 225 etnoespécies, contidas em 176 g6eneros e 72 famílias botânicas. A família com maior número de espécies foi Laminaceae (16 espécies). Os gêneros com maior número de espécies foram
Jatropha, Piper e Solanum com quatro espécies cada um. A maioria das plantas citadas foi arbórea (30,4%) e as partes vegetais
que tiveram maior número de espécies indicadas foram folha (37,0%); raiz, rizoma ou
bulbo (24,0%) casca ou cerne (14,0%); fruto ou semente (12,0%); seiva, resina, sumo
ou látex (5,0%); sendo que as demais partes
somam 8,0%. A camomila (Chrysanthemum
cinerariefolium (Trev.) Vis) teve o maior
número de correlação sendo indicada por
nove informantes para febre. A febre foi a
afecção que obteve um maior número de
citações (20 informantes), as afecções que
tiveram o maior número de plantas medicinais indicadas foram dor de cabeça (31
plantas), seguida por problemas no estômago (30 plantas), gripe (29 plantas) e tosse (29 plantas). A maioria das espécies indicadas como planta medicinal é nativa
(75,0%), sendo encontrada principalmente
como espontânea (62,5%). Os informantes têm uma maneira muito particular de
compreender como as plantas medicinais
atuam no organismo humano e isto explica
uma série de fatos relacionados à aplicação das plantas medicinais. A concepção
de saúde e de doença na comunidade parte da integração entre o que é material e o
que é espiritual. Assim, a saúde se manifesta como “o normal da vida”, ou seja o
normal do corpo (para as atitudes diárias)
ou do espírito (“saúde é quem tem muita
fé em Deus”) e a doença como um indisposição para o trabalho (ou outras atividades cotidianas) ou como um “desagravo a
Deus”. A comunidade procura compreender, com sua visão particular do mundo, o
social e o individual em suas inter-relações
e influências sobre o processo de saúde e
doença. A procura de sentidos sobre as
relações entre saúde/doença/plantas medicinais é uma busca de explicações sobre
a vida e as manifestações cotidianas da
existência, atribuindo valor a representações que auxiliam na atuação sobre o ambiente e na gestão dos recursos naturais.
NADAF, M. I. V. Perfil Epidemiológico
de Adolescentes Vítimas de Acidentes de
Trânsito Atendidas no Pronto Socorro
Municipal de Cuiabá-MT. Dissertação
(Mestrado). Cuiabá: Instituto de Saúde Coletiva, Universidade Federal de
Mato Grosso, 2003.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Olga Akiko
Takano
No presente estudo procurou-se avaliar a
tendência da mortalidade por acidentes de
transporte em adolescentes residentes no
município de Cuiabá-MT, para o período
de 1980 a 2000 e ao perfil de adolescentes
acidentados no trânsito atendidos no Pronto Socorro Municipal de Cuiabá-MT, no
período de fevereiro a maio de 2001. Na
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
82
casuística e método foram utilizados os
dados disponíveis no DATASUS/IBGE,
para o cálculo dos coeficientes de mortalidade sendo a tendência avaliada por regressão polinomial. Para o estudo de perfil, foram levantados um total de 152 acidentados dos quais 139 foram submetidos
a entrevista domiciliar no período de 7 a 15
dias após ocorrido o acidente, havendo uma
perda de 8,6% sendo os resultados descritos segundo frequência e percentagens. A
seguir, dicotomizou-se a população do estudo segundo a qualidade do acidentado em
protagonistas (=condutores de veículos) e
não-protagonistas, e submeteu-se os dados
à análise bivariada, multivariada e regressão logística. O coeficiente de mortalidade
por acidentes de trânsito em adolescentes
residentes no município de Cuiabá-MT
apresentou tendência decrescente para o
total e sexo masculino na década de 80 e
crescente para sexo feminino e total na
década de 90, com tendência estável para
o sexo masculino neste período. O perfil
de adolescentes acidentados no trânsito,
evidenciou na análise descritiva a prevalência do sexo masculino, idade entre 15 a
19 anos, acidentes ocorrendo no período
diurno, finais de semana, a não realização
do boletim de ocorrência e estar na qualidade de ciclistas dentre outros. As variáveis de significância estatística na análise
bivariada associadas a categorização de
protagonistas e não-protagonistas nos acidentes foram: ser do sexo masculino, acidentes no período vespertino, a não realização do boletim de ocorrência, estado de
alerta normal, estar no trânsito por lazer.
Na análise multivariada e o odds ratio bruto e ajustado às variáveis sexo e não estar
acompanhado, mostraram-se associadas
com a ocorrência de acidentes de trânsito
em adolescentes categorizados como protagonistas. Os resultados deste estudo indicam a necessidade de medidas preventivas para acidentes de trânsito na população de adolescentes priorizando a qualidade de ciclistas, motociclistas e pedestres,
implementando-se o uso de equipamentos
de segurança passiva e mudanças ambientais nos bairros.
NEIS, E. C. Mercúrio em Peixes à Jusante de Represas de Usinas Hidrelétricas: Caso Manso – Cuiabá – MT. Dissertação (Mestrado). Cuiabá: Institu-
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
to de Saúde Coletiva, Universidade Federal de Mato Grosso, 2003.
Orientador: Prof. Dr. Edinaldo de Castro e Silva
O represamento de águas de rios para construção de hidrelétricas provoca alterações do
meio aquático, podendo aumentar a concentração de Mercúrio na ictiofauna tanto a jusante como a montante da barragem. Nas
águas alteradas por represamento, devido à
mudança das características físico-químicas
do meio e ao aumento de matéria orgânica o
mercúrio pode ser transformado em sua forma química mais tóxica, o Metilmercúrio e
através da cadeia alimentar bioacumular e
biomagnificar, notadamente nos peixes carnívoros. O presente trabalho teve como objetivo principal avaliar os impactos decorrentes da construção da barragem do APM Manso (Aproveitamento múltiplo de Manso),
MT, através da determinação da concentração de mercúrio em peixes e alterações nas
características fisco -químicas do meio ambiente. Amostras de peixes, sedimentos e
água foram coletadas no trecho compreendido entre as coordenadas l4º51’07" a
14º42’53" S e 55º53’31" a 56º12’40" W, da
barragem até a confluência com o Rio Cuiabazinho. As coletas de amostras iniciaramse em dezembro de 2000 e terminaram em
setembro de 2001. Os peixes amostrados são
de espécies carnívoras predominantemente
piscívoros (Pseudoplatystoma corruscans,
Pseudoplatystoma fasciatum, Salminus maxillosus e Hemissorubim platyrhynchus) e
onívoros (Prochilodus lineatus). A determinação do mercúrio total foi feita por espectrofotometria de absorção atômica e o acessório de vapor frio. Os resultados das médias das concentrações de mercúrio nos peixes piscívoros foram 527,6 ng. g-1 (n=45) e
de 99,1 ng.g-1 (n= 26) para os onívoros. Em
3,0% dos espécimes, o nível de mercúrio ultrapassou o limite máximo permitido para
consumo humano que corresponde a 1000
ng.g-1. As espécies analisadas apresentaram
médias em ng.g-1 iguais a; 440,3 (pintado),
817,17 (dourado), 498,6 (cachara), 518,0 (jurupoca) e de 99,1 (curimbatá). Para as espécies piscívoras analisadas constatou-se a
existência de diferenças estatísticas significantes (α=0,05) entre as concentrações de
Hg ante e depois do represamento. Enquanto que para mercúrio e matéria orgânica no
sedimento não foram constatadas diferenças
83
significativas, antes e depois da formação do
lago. Isto sugere a exportação do mercúrio
do reservatório para jusante. Os resultados
obtidos nesse trabalho sugerem que houve
modificações de alguns parâmetros e que
houve aumento nas concentrações de mercúrio em peixes piscívoros, assim é conveniente que se realize um monitoramento à jusante e no próprio reservatório do APM Manso até que estes níveis de mercúrio em
peixes retornem a normalidade.
NEVES, M. A. B. Integração Ensino Serviços de Saúde: O Caso do Internato
Rural Médico da Universidade Federal
de Mato Grosso. Dissertação (Mestrado). Cuiabá: Instituto de Saúde Coletiva, Universidade Federal de Mato Grosso, 2003.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Angélica
dos S. Spinelli
Este estudo é uma pesquisa avaliativa que
reconstitui e analisa os objetivos do programa de integração ensino – serviços de saúde instituído entre a Universidade Federal de
Mato Grosso, Secretária de Estado de Saúde e o Consórcio Intermunicipal de Saúde
do Teles Pires/ MT no ano de 2000. É um
estudo de caso que utilizou abordagem qualitativa e quantitativa. A coleta de dados se
deu em fontes secundárias e por meio de
entrevistas semi-estruturadas com os gestores e agentes implementadores das instituições. Os resultados demonstram, entre outros aspectos, que: a) não foram definidos
objetivos prévios e comuns entre as instituições para o programa; b) foram elevados os
percentuais de objetivos não alcançados; c)
as atividades desenvolvidas comprometeram
o alcance dos objetivos; d) foi elevado o percentual de não coincidência dos objetivos
entre atores de uma mesma instituição; e)
75,0% dos objetivos reconstituídos eram objetivos de organização de serviços e acadêmicos; f) o programa ora apresentou características de IDA, ora de UNI. O estudo
conclui que o programa não possibilitou a integração das instituições, pois as mesmas
buscaram alcançar objetivos particulares.
Propõe-se a definição formal, coletiva e consensual de objetivos, metas, atividades e indicadores para avaliação sistemática do programa e de responsabilidades e atribuições
para as instituições. Considera-se que a adoção dessas recomendações possibilitará o
alcance dos objetivos do programa, ao tempo que contribuirá na formação dos profissionais médicos e para os serviços de saúde.
OLIVEIRA, J. P. FILHO. Efeitos da
Irrigação com Fibras sobre a Mucosa
do Cólon e do Reto Desfuncionalizados.
Dissertação (Mestrado). Cuiabá: Instituto de Saúde Coletiva, Universidade Federal de Mato Grosso, 2003.
Orientador: Prof. Dr. José Eduardo de
Aguilar Nascimento
Investigou-se, neste estudo, os efeitos da
irrigação, com uma solução de fibras, sobre a mucosa colorretal de pacientes colostomizados. Foram estudados, prospectivamente, onze pacientes adultos jovens (idade mediana = 29,4 [16-49] anos), sendo 10
do sexo masculino e um do sexo feminino.
Todos eram portadores de colostomia em
alça (cólon direito, n=5 e cólon esquerdo,
n=6) decorrentes de trauma, e tiveram avaliado macroscopicamente a mucosa da
boca proximal e distal do estoma e do reto.
Utilizou - se um índice endoscópico (0-10)
para quantificar a intensidade da inflamação da mucosa. Biópsias foram realizadas
a ±5 centímetros da borda proximal e distal do estoma e do reto. O valor médio de 5
criptas (µ), melhor orientadas, foi registrado. Irrigou-se o coto distal da colostomia,
com uma solução de fibras a 5% (10g/dia)
por 7 dias. Após nova avaliação endoscópica e biópsias, as colostomias foram fechadas. O escore inicial da mucosa do
estoma proximal (0 [0-1]) era significantemente menor (p< 0,01) que a do estoma
distal (2 [0-5]) e do reto (4 [2-10]). Após a
infusão de fibras, o escore do estoma distal caiu significativamente (p=0,01) para 1
(0-2). O escore da mucosa retal também
diminuiu após o tratamento (2 [0-4]);
p<0,01). A melhora macroscópica do reto,
após o tratamento, foi mais evidente nas
colostomias situadas à esquerda (p=0,05).
Verificou-se uma profundidade média das
criptas do coto proximal de 292±38µ. A
profundidade média das criptas do coto distal foi de 209±68µ (p<0,01 vs proximal) e,
após uma semana de infusão de fibras,
passou a ser de 276±76µ (p=0,02 vs. distal
antes do tratamento). A profundidade média das criptas do reto, antes e após o tratamento, não foi, estatisticamente, diferen-
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
84
te entre si e nem do coto proximal. A irrigação com fibras melhora a inflamação no
cólon desfuncionalizado. Essa melhora é
mais evidente no cólon do que no reto. A
melhora macroscópica do reto é mais evidente nas colostomias situadas à esquerda.
OLIVEIRA, S. S. Estudos Dos Efeitos
do Stryphnodendron adstringens (Mart.)
Coville (Barbatimão) na Reprodução e
Desenvolvimento Intra-Uterino e PósNatal de Ratos da Linhagem Wistar.
Dissertação (Mestrado). Cuiabá: Instituto de Saúde Coletiva, Universidade Federal de Mato Grosso, 2003.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Luzinete Alves Vanzeler
A casca do caule do Stryphnodendron
adstringens (Mart.) Coville (Barbatimão)
tem sido muito usado na medicina alternativa, por seus efeitos anti-inflamatório, antiúlcera, cicatrizante e adstringente. Estudos
farmacológicos tem confirmado alguns destes efeitos, porém seus efeitos sobre a reprodução e conseqüências sobre as proles
são ainda insipientes. Com este trabalho
objetivou-se estudar os efeitos do extrato
metanólico da casca do caule do S. adstringens (Mart.) Coville (EMSa), no desempenho reprodutivo de ratos adultos
machos e fêmeas e as conseqüências sobre o desenvolvimento de suas proles. Para
isto, os animais foram tratados com EMSa
200, 400 e 800 mg/kg ou água destilada,
sendo as fêmeas tratadas durante o ciclo
estral e prenhez e os machos, por 60 dias
prévios ao acasalamento, sendo avaliados
efeitos sobre as gerações F0 e F1. O tratamento de machos adultos resultou em redução do peso corporal, da ingestão de alimentos, aumentou o peso do baço e fígado
e reduziu o peso do testículo. Estes dados
podem estar relacionados com o grau de
intoxicação. O estudo das fêmeas durante
o ciclo estral, mostrou que 100% das ratas
ciclaram, porém o número de dias do ciclo
estral foi reduzido pela dose de 800 mg/kg.
Também observou-se redução no consumo de ração, porém o consumo hídrico, o
peso corporal, concentração sanguínea de
proteínas, glicose e uréia, bem como o peso
úmido do coração, pulmão, rins, baço, útero e ovário e fígado não foram alterados.
Estes dados mostram que o EMSa não é
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
tóxico a curto prazo para as ratas, porém,
influenciou o número de dias do ciclo estral.
Quanto à avaliação do tratamento durante a
prenhez, o EMSa 800 mg/kg do 1º ao 6º dia,
reduziu o peso do útero e ovário. No tratamento do 8º ao 16º , houve redução do número de fetos vivos com a dose de 800 mg/kg e
peso do útero e ovário com as doses de 800
e 400 mg/kg. O tratamento do 16º ao 19º levou a redução no número de fetos vivos com
a dose de 800 mg/kg, o peso corporal das
fêmeas prenhes foi reduzido por todas as
doses administradas de EMSa. A análise do
desenvolvimento físico e neurocomportamental da prole mostrou redução na largura
e comprimento e no comportamento de lamber para ambos os sexos, no peso corporal
somente para fêmeas. Constatou-se retardo
no aparecimento de pêlo de fêmeas e machos, atraso para erupção dos dentes incisivos e abertura de ouvidos para os machos.
Estes dados mostram que o EMSa provoca
alterações no desenvolvimento físico e neurocomportamental, sendo necessário cautela para emprego em gestantes.
ORIONE, M. A. M. Prevalência de Anticorpos Contra o Vírus da Imunodeficiência Humana e Perfil Epidemiológico de
Puérperas Atendidas no Sistema Único de
Saúde de Cuiabá-MT. Dissertação (Mestrado). Cuiabá: Instituto de Saúde Coletiva, Universidade Federal de Mato
Grosso, 2003.
Orientador: Prof. Dr. Francisco José
Dutra Souto
Realizou-se um inquérito soro-epidemiológico com o objetivo de conhecer a prevalência
do marcador do vírus da imunodeficiência
humana (HIV), os fatores de risco associados à sua transmissão, e as características
que compõe o perfil epidemiológico das puérperas internadas em três grandes Hospitais de Cuiabá conveniados com o Sistema
Único de Saúde, no período de dezembro de
2001 a maio de 2002. Foram incluídas no
estudo 1607 mulheres que concordaram em
participar do trabalho. As mulheres foram
entrevistadas e responderam a um questionário para obtenção de informações sóciodemográficas e informações sobre realização de procedimentos e comportamentos ou
atitudes que poderiam associar-se à transmissão do HIV. Amostras de sangue foram
obtidas para a pesquisa do anticorpo anti-
85
HIV, com realização do teste ELISA (Enzyme-linked immunosorbent assay); nas
amostras com resultado positivo foi realizado um teste confirmatório pelo método de
Imunofluorescência Indireta. A prevalência
de infecção pelo HIV encontrada nesta população foi de 0,5% (IC95%= 0,2 a 1,0). A
amostra estudada apresentou um grande
número de mulheres jovens (73,4% abaixo
de 25 anos e 90% abaixo de 30 anos). A
maioria destas mulheres tinha apenas nível
de ensino fundamental (58,4%), não trabalhava fora do domicílio (68,1%), e mantinha
atualmente relacionamento estável com parceiro fixo (73%). Este estudo não evidenciou associação estatisticamente significante entre a presença de anticorpos anti-HIV
e o nível sócio-econômico, nível de escolaridade, tipo de atividade profissional, uso de
drogas ilícitas, presença de doenças sexualmente transmissíveis, história de realização
de transfusões de sangue ou outro procedimento que envolve possibilidade de transmissão parenteral do vírus. Também não foi demonstrada associação com a presença de
comportamento sexual de risco (relacionamentos com múltiplas parceiras ou bissexualidade) pelos parceiros das mulheres estudadas. Presume-se que atualmente a via de
transmissão heterossexual seja a causa predominante da infecção nas mulheres em idade fértil. A ausência de associação entre
variáveis classicamente relacionadas à infecção pelo HIV e o grupo de mulheres soropositivas demonstra que o reconhecimento atual
da população infectada tornou-se mais difícil, uma vez que esta não apresenta mais um
padrão previsível de comportamento de risco como no passado.
PADILHA, A. P. A. Aspectos Clínicos,
Radiológicos e Prevalência de Câncer de
Mama nas Mulheres Submetidas à Mamografia em Serviço Público do Sistema
Único de Saúde. Dissertação (Mestrado).
Cuiabá: Instituto de Saúde Coletiva,
Universidade Federal de Mato Grosso,
2003.
Orientador: Prof. Dr. Sebastião Freitas
de Medeiros
O câncer de mama é uma doença neoplásica, resultante de alteração da divisão celular, que aparece como primeira causa de óbito
entre as mulheres da região Centro Oeste
do Brasil, com taxa de mortalidade de 7,2/
100.000 (INCA/MS, 2002). A prevalência
está em torno de 10% no mundo. A mamografia é o único exame que diagnostica tumores na fase pré-clínica, reduzindo a mortalidade. Logo, o rastreamento preventivo
com a mamografia é importante para controle do câncer. O objetivo deste estudo é
estimar a prevalência de câncer de mama,
os fatores de risco presentes e os critérios
de solicitações das mamografias. Trata-se
de um estudo transversal, incluindo 665 mulheres com idade entre 20 e 83 anos, submetidas à mamografia na Unidade de Diagnóstico por Imagem do Instituto de Especialidades de Mato Grosso do Sistema
Único de Saúde em Cuiabá – MT – Brasil,
durante o período de maio a outubro de
2002. O serviço faz parte do Programa
Nacional de Prevenção de Câncer de
Mama, com qualidade segundo critérios da
vigilância sanitária. A coleta de dados foi
feita através de preenchimento de formulários, contendo informações de fichas e
questionários previamente validados pelo
INCA/MS. O perfil epidemiológico das
mulheres é descrito. A idade média das
mulheres foi de 47,4 anos. A faixa etária
que predominou foi de 40 a 49 anos (56%).
Predominou pacientes de Cuiabá, porém,
houve 23,3% de mulheres de outras cidades. Cerca de 57% (N = 379) das mulheres com mais de 40 anos não possuíam
mamografia prévia. A prevenção foi a principal indicação clínica encontrada, seguida
de investigação de nódulo já identificado.
Das mulheres com história familiar de câncer na mama, 55,2% realizavam o primeiro exame com idade acima de 40 anos. Na
amostra, 76,5% das mulheres faziam sua
primeira mamografia, 59,4% das mulheres
eram assintomáticas, 13,1% tinham se submetido a procedimento cirúrgico prévio na
mama e 16,5% eram fumantes. A prevalência de câncer encontrada na amostra foi
de 7,1% (N=47), sendo 20 (3,0%) casos
novos diagnosticados no período do estudo
e 27 (4,1%) de pacientes portadoras de
câncer em controle após tratamento. Esta
prevalência é concordante com estudos
internacionais. Analisando-se os fatores de
risco para câncer, encontrou-se associação
entre idade e câncer de mama (p=0,01),
biópsia prévia e câncer de mama (p=0,05)
e mulheres com mais de 4 gestações e câncer de mama (p=0,005). Não se identificou
associação significante entre câncer de
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
86
mama e idade do primeiro filho e história
familiar.
PARIZOTTO, C. A. Contribuição ao
Estudo Químico e Farmacológico do
Cerne das Raízes de Acosmium dasycarpum (Vog.) Yakovlev. Dissertação
(Mestrado). Cuiabá: Instituto de Saúde Coletiva, Universidade Federal de
Mato Grosso, 2003.
Orientador: Prof. Dr. Paulo Teixeira de
Sousa Júnior.
Co-Orientadora: Eliane Augusto Ndiaye.
A família fabaceae (leguminoseae-papilonoideae) possui 400 gêneros, dentre eles
o gênero Acosmium que possui 17 espécies e apresenta ampla distribuição nas regiões tropicais e subtropicais. A espécie Acosmium dasycarpum (Vog.) Yakovlev é restritamente encontrada nas regiões central
e nordeste do Brasil. É popularmente conhecida como perobinha do campo, genciana, perobinha, chapada, pau-paratudo ou
unha-d‘anta, sendo que o chá das cascas
de suas raízes, na medicina popular, é usado contra epilepsia, sífilis, reumatismo e
afecções cutâneas. Na literatura estão relatadas as atividades depressora do sistema nervoso central e de contração da musculatura lisa cardíaca e esquelética, a partir do extrato etanólico e frações alcaloídicas provenientes das cascas do caule de
A. dasycarpum, além de atividade antimicrobiana, antiinflamatória e antioxidante, a
partir do extrato bruto metanólico das cascas das raízes. Foram relatados também o
isolamento das substâncias lupeol, 4-metoxi-6-(p-hidroxiesteril)-á-pirona, dasicarpumina, lupanina, panacosmina, acosmina,
homo-6-epipodopetalina, acosminina e lupanacosmina, a partir do extrato bruto metanólico das cascas das raízes. Com o intuito de isolar e identificar substâncias com
potencial atividade farmacológica do cerne das raízes de A. dasycarpum, foram
preparados o extrato bruto hexânico
(EBHexCR Ad) e posteriormente o metanólico (EMeOHCR Ad), e este fracionado
por técnicas cromatográficas convencionais. Por meio da análise química por via
úmida, constatou-se a presença de ácidos
fixos fortes, alcalóides, esteróides, flavonóides, saponinas, taninos e xantonas. Durante o processo de desengorduramento do
material botânico foi isolado o lupeol (20) e
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
do fracionamento do EMeOHCR Ad foram
isoladas a 4-metoxi-6-(p-hidroxiesteril)-á-pirona (22), a 4’,7 dihidroxi-3’-metoxi-isoflavona) (33), além das substâncias S1, S3, S4,
S5b, S6 e S7c, ainda em processo de determinação estrutural. Através de ensaios farmacológicos “in vitro”, foi determinado a
atividade antioxidante do EMeOHCR Ad,
através da inibição da formação de radicais
livres pelo método do DPPH, obtendo resultado superior a 80% (para as doses de 100 e
50µg/mL) e para inibição da formação do
ânion superóxido foi superior a 88% (para a
dose de 20µg/mL). O EBHexCR Ad não demonstrou tais atividades. Por meio de ensaios farmacológicos “in vivo”, foram constatadas as atividades antiúlcera e analgésica
para o EMeOHCR Ad (para as doses de 20
e 200mg/Kg). Os resultados observados, em
principio confirmam a utilização popular para
A. dasycarpum.
PUERTAS, A. P. Etnofarmacologia e Triagem Antinociceptiva e Antiinflamatória
e Tópica de Plantas Conhecidas Popularmente em Cuiabá e Várzea Grande (MT),
como “Arnica”. Dissertação (Mestrado).
Cuiabá: Instituto de Saúde Coletiva,
Universidade Federal de Mato Grosso,
2003.
Orientador: Prof. Dr. Domingos Tabajara de Oliveira Martins
Em Mato Grosso, diversas espécies de plantas são conhecidas popularmente como “arnica”, sendo utilizadas principalmente em
machucaduras, hematomas, luxações, entorces, pós-traumático e antiinflamatório tópico. O presente trabalho foi desenvolvido visando elencar as espécies usadas em Cuiabá e Várzea Grande com nome de “arnica”
e realizar uma triagem antinociceptiva e antiinflamatória tópica das espécies conhecidas e usadas pela população com o nome
popular “arnica”. Foram citadas 11 nomes
de plantas no levantamento etnofarmacológico: Arnica da Serra, Arnica ou Picão Branco, Arniquinha ou Arnica Branca, Arnica-deBatata ou Arnica Roxa, Arnica Falsa ou
Avuadeira, Arnica-do-Brejo, Arnica-de-Goiás, Arnica ou Atrativo Amarelo, Arnica-deFolha, Arnica-de-Folha Grossa, Arnicão.
Destas, 8 foram coletadas e identificadas:
Arnica ou Picão Branco: Porophyllum ruderale Cass. (Pr); Arniquinha ou Arnica
Branca: Hemipogon acerosus Decne (Ha);
Arnica Falsa: Conyza bonariensis (L.)
87
Cronq. (Cb); Arnica de Goiás: Lychnophora ericoides M. (Le); Arnica ou Atrativo
Amarelo: Solidago chilensis Meyen. (Sc);
Arnica da Serra: Brickelia pinifolia A. Gray
(Bp); Arnica-de-Batata ou Arnica Roxa:
Camarea ericoides St. Hil. (Ca) e Arnicado-Brejo: Macairea sp (Ma). A ação antinociceptiva dos extratos aquosos e metanólicos das espécies coletadas foi testada através do modelo de contorções abdominais induzidas por ácido acético 0,6% nas doses de
10 a 500mg/Kg, sendo que nenhum dos extratos apresentou atividade antinociceptiva.
Fundamentada na informação popular do uso
das “arnicas” em processos inflamatórios
tópicos, foi realizado o teste para verificação da ação antiinflamatória tópica dos extratos no modelo de dermatite tópica induzida por óleo de croton. Os extratos aquosos
(EA) e metanólicos (EM) das plantas foram administrados topicamente nas doses de
0,1 a 5 mg/orelha, 60 min antes da injeção do
agente inflamatório (50 ìl de óleo de croton
a 2,5%). As aplicações tópicas prévias (0,1
a 5 mg/orelha) de EACa (raízes); EMCa
(raízes), EACb (partes aéreas), EABp (partes aéreas), EMHa (toda a planta), EMLe
(partes aéreas), inibiram significantemente
a produção da dermatite tópica induzida pelo
óleo de croton, quando comparados com o
grupo controle, porém menos intensamente
que a dexametasona (0,5ìg/orelha). Estes
resultados ratificam a utilização popular de
Camarea ericoides St. Hil., C. bonariensis, B. pinifolia, H. acerosus e L. ericoides em processos inflamatórios tópicos.
RELVAS,G. R. B. Efeito de Probióticos
sobre a Incidência de Complicações PósOperatórias e na Resposta Imunológica
em Operações do Trato Gastrintestinal.
Dissertação (Mestrado). Cuiabá: Instituto de Saúde Coletiva, Universidade
Federal de Mato Grosso, 2003.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Helena
Gaíva Gomes da Silva
Co-Orientadora: Prof.ª Dr.ªMárcia Queiroz Latorraca
Apesar dos constantes avanços no manejo
de pacientes cirúrgicos, as complicações
pós-operatórias continuam sendo eventos
comuns, e estão geralmente associadas à
imunossupressão e a alterações que ocorrem no trato gastrintestinal (TGI). O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito do uso de
probióticos sobre a incidência de complicações pós-operatórias e na resposta imune em pacientes submetidos a operações
no TGI. Foram avaliados 58 pacientes adultos, distribuídos em dois grupos: grupo probiótico (GP), n=19, que recebeu aproximadamente 2000 ml de leite fermentado contendo Lactobacillus acidophilus La1 durante o pré e pós-operatório, associado à
dieta convencional e, grupo controle (GC),
n=39, que recebeu somente dieta convencional. As variáveis de estudo foram: número de pacientes com complicações infecciosas, número de eventos infecciosos
por paciente, número de pacientes com
complicações graves, contagens de leucócitos totais, neutrófilos, monócitos e linfócitos totais e fator de estresse neutrófilo/
linfócito (NLSF). Os dois grupos foram
comparáveis em relação a idade, sexo, diagnóstico clínico, estado nutricional e variáveis cirúrgicas. A incidência de infecção
não diferiu entre os grupos (GP=37%;
GC=44%; p=0,62), porém, o número de
eventos infecciosos por paciente infectado
foi maior no GC (1,0 [1-1] vs. 1,8 [1-4];
p=0,03). Não houve casos de sepse no GP,
enquanto no GC ocorreram 4 casos, p=0,29.
Quanto à ocorrência de fístulas, o percentual observado foi de 5% no GP e 25,5%
no GC, p=0,08. A alteração nas contagens
de leucócitos totais, neutrófilos e monócitos, entre os períodos pré e pós-operatório,
foi semelhante nos dois grupos. Contudo, o
número de linfócitos totais no GP reduziu
apenas 3% após a cirurgia (1614 ± 584 cels/
mm3 vs. 1567 ± 839 cels/mm3; p=0,99),
sendo que no GC essa redução foi de 34%
(1595 ± 611 cels/mm3 vs. 1051 ± 441 cels/
mm3; p=0,0002). Os pacientes do GP não
apresentaram alteração significativa no
fator de estresse neutrófilo/linfócito (3,8 ±
2,7 vs. 6,0 ± 2,9; p=0,27) enquanto no GC
o NLSF aumentou significativamente (3,6
± 1,9 vs. 8,9 ± 5,6; p=0,0002). Esses resultados sugerem que o uso de probióticos em
pacientes cirúrgicos pode reduzir a gravidade das infecções e favorecer uma melhor adaptabilidade da resposta imunológica ao estresse.
ROSA, E. N. Variáveis Climáticas e a
Mortalidade Cardiovascular em Idosos
do Sistema Único de Saúde na Grande
Cuiabá/Mato Grosso. Dissertação
(Mestrado). Cuiabá: Instituto de Saú-
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
88
de Coletiva, Universidade Federal de
Mato Grosso, 2003.
Orientador: Prof. Dr. Clovis Botelho
Co-Orientador: Ageu Mario Candido
Silva
As variáveis meteorológicas encontram-se
associadas com mortalidade, Doenças
Cardiovasculares (DCV), principalmente
com extremos de temperatura, umidade
relativa do ar, precipitação das chuvas. O
objetivo do trabalho foi avaliar a influência
das variáveis climáticas na mortalidade por
DCV na grande Cuiabá, determinar a taxa
de mortalidade por DCV, a tendência da
sua relação com a mortalidade por DCV.
Foi realizado um estudo de série temporal
no período de 1984 a 1998, analisando a
variável óbito por DCV, com dados obtidos
do DATASUS e classificados através do
CID 09 e 10, para uma população maior
ou igual a 65 anos, e as variáveis climáticas Temperatura Mensal e suas variáveis,
Insolação, Média de umidade relativa do
ar diária, Evaporação total, Precipitação
pluvial total, Número de dias de chuva no
mês, dados obtidos no INMET (Instituto
Nacional de Metereologia). Foram analisados: tendência, sazonalidade, ajustamento da variável, com defasagem de um mês
da variável resposta, submetidas a um alisamento. A análise da série histórica demonstrou tendência crescente a mortalidade por DCV. A correlação de Pearson
mostrou que todas as variáveis climáticas
estão correlacionadas entre si, com os
maiores índices com temperaturas médias,
Dias de Chuva do Mês, Precipitação Total. Análise de correlação destas variáveis
originais e suas variáveis transformadas
com óbito por DCV evidenciou no modelo
final de correlação da mortalidade cardiovascular com Precipitação e Dias de Chuva no mês por serem representativas e estarem intimamente correlacionadas positivamente atuando como fatores de proteção. Evaporação total e Insolação estão
associadas negativamente com óbito por
DCV como fatores de risco, finalmente, a
única variável que se manteve no modelo
final quando consideraram todas as variáveis significativas da análise univariada foi
Número de dias de chuva no mês que se
evidenciou representativa de todas as demais. A análise da série Histórica mostrou
Tendência crescente de mortalidade por
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
DCV, ausência de sazonalidade. A temperatura média através de sua variável logaritmo
natural do mês corrente, Umidade Relativa
do Ar representada por sua variável média
de 03 meses, Dias de Chuva com sua variável média móvel de 03 meses, apresentamse como fator protetor e suas reduções evidenciam aumento de mortalidade por DCV.
A isolação total através da variável quartis
do mês corrente e média móvel de três meses de evaporação demonstram estar diretamente associados ao aumento de óbitos por
DCV
ROSSIGNOLI, P. A. Chumbo Inorgânico como Contaminante Ocupacional e
Ambiental em Recuperadoras de Automotivos, Grande Cuiabá-MT, 2000. Tese
(Doutorado). Cuiabá: Instituto de Saúde Coletiva, Universidade Federal de
Mato Grosso, 2003.
Orientador: Prof. Dr. Edinaldo de Castro e Silva
O xenobiótico chumbo teve sua ocorrência
no ambiente incrementada muitas vezes a
partir da revolução industrial, sendo caracterizada por sua não participação em processos metabólicos conhecidos. Objetivouse neste trabalho verificar a ocorrência deste metal em trabalhadores expostos do setor
de recuperação de acumuladores elétricos e
soldadores de radiadores automotivos em
estabelecimentos dos municípios de Cuiabá
e Várzea Grande, Mato Grosso, Brasil. Foram mapeados e visitados todos os estabelecimentos do setor, procedendo-se à determinação do chumbo inorgânico no solo (dois
níveis) e poeira. Os trabalhadores foram separados em três grupos: expostos ao metal
(EX; n=55), ocasionalmente expostos (OE;
n=63) e grupo controle (GC; n=55), de acordo com o contato dos mesmos com o metal,
sendo determinado o chumbo sanguíneo (PbS), chumbo do cabelo (Pb-C) e verificadas
as condições de funcionamento dos estabelecimentos. As determinações do chumbo
foram realizadas pelo método de espectrometria de absorção atômica. A legislação
brasileira do trabalho estabelece que a plumbemia máxima de tolerância biológica seja
de 40 µg/dL, mas esse nível tem sido contestado por muitas pesquisas na área de
metais pesados. De acordo com dados recentes, o nível de 25 µg/dL pode causar importantes modificações metabólicas que de-
89
vem ser apropriadamente investigadas. Dos
55 trabalhadores expostos, apenas 19
(34,5%) apresentaram plumbemia abaixo de
25 µg/dL. Todos os estabelecimentos visitados apresentaram-se em desacordo com a
legislação em vigor quanto às condições de
segurança do trabalho com solo e poeira,
extensivamente contaminados por chumbo
inorgânico. Estes dados sugerem que uma
parcela importante dos trabalhadores está
contaminado com chumbo, demonstrando
que estudos posteriores serão necessários
para o estabelecimento de interações entre
o clima e a intoxicação pelo metal.
SANTOS, C. E. P. S. Estudo das Reações Adversas ao Amitraz em Cães sem
Raça Definida e Avaliação das Bulas dos
Produtos Contendo este Princípio Ativo.
Dissertação (Mestrado). Cuiabá: Instituto de Saúde Coletiva, Universidade
Federal de Mato Grosso, 2003.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Luzinete Alves Vanzeler
O amitraz, acaricida amplamente utilizado
na linha veterinária, foi utilizado topicamente na dose de 4ml/l, uma vez por semana,
durante 4 semanas consecutivas em dez
animais aparentemente saudáveis do ponto
de vista clínico e laboratorial, e investigouse os efeitos durante este período. As reações adversas iniciaram por volta de 3h após
aspersão, e por volta de 24h estavam ausentes, sendo portanto transitórias e compatíveis com agonistas alfa 2-adrenérgicos.
Ocorreram principalmente nas duas primeiras semanas de tratamento, diminuíram em
freqüência e intensidade nos tratamentos
subseqüentes, e envolveram em alguns animais hipotermia, diminuição na freqüência
do pulso e freqüência respiratória, com marcante depressão no sistema nervoso central
e anorexia. Outros sinais menos freqüentes
foram: vômito, diarréia, movimento de pêndulo, ptose palpebral, ataxia locomotora, paresia e agressividade. Um óbito ocorreu 30h
após o primeiro tratamento. Registrou-se
queda nos valores do hematócrito e hemoglobina após o último tratamento, sendo que
o perfil hematológico e bioquímico demonstrou discretas alterações, exceto significativa hiperglicemia nas primeiras horas após a
aspersão. Em uma amostragem referente às
bulas disponíveis do produto, verificou-se
abordagem insuficiente acerca do compos-
to relativo à ação farmacológica, primeiros
socorros e tratamento de emergência.
Ações de farmacovigilância veterinária no
sentido de racionalizar o uso são necessárias, visando evitar acidentes relativos aos
animais ou pessoas que tenham contato
com a droga.
SANTOS, E. V. Plaquetopenia em Gestantes Normais e com Pré-Eclânpsia.
Dissertação (Mestrado). Cuiabá: Instituto de Saúde Coletiva, Universidade Federal de Mato Grosso, 2003.
Orientador: Prof. Dr. José Meirelles
Filho
Co-Orientador: Prof. Dr. Sebastião
Freitas de Medeiros
Com o propósito de avaliar o plaquetograma em gestantes normais e com préeclâmpsia (PE), realizou-se um estudo retrospectivo transversal controlado. Foram
revisados os prontuários das mulheres que
pariram, no Hospital Universitário Júlio
Müller – Cuiabá/MT, no período de 1º de
janeiro de 2001 a 31 de julho de 2002. Foram elegíveis 94 mulheres divididas em dois
grupos: 36 gestantes com PE e 58 gestantes normais como controle. Todas sem qualquer doença associada. Os índices plaquetários – contagem de plaquetas, volume
médio de plaquetas, (MPV), largura de distribuição de plaquetas (PDW) e razão de
células grandes de plaquetas (P-LCR) –
foram determinados pelo mesmo analisador Sysmex-SF3000 (Rocheâ). Os plaquetogramas foram realizados a partir da vigésima oitava semana de gestação. A contagem de plaquetas não mostrou diferença
entre os grupos, porém todos os demais índices plaquetários (MPV, PDW e P-LCR)
estavam signifivativamente mais elevados
nas pré-eclâmpticas. Detectaram-se correlações negativas entre a contagem das plaquetas e os demais índices plaquetários
(MPV, PDW e P-LCR) e correlações positivas entre MPV e PDW; MPV e P-LCR;
PDW e P-LCR. Observou-se ainda correlação positiva entre MPV, PDW e P-LCR
e as pressões sistólicas e diastólicas máximas. Conclui-se que PE está associada
com estes novos índices plaquetários, sugerindo alterações funcionais das plaquetas, além da possibilidade desses índices –
originalmente opções diagnósticas para a
trombocitopenia – poderem ser utilizados na
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
90
prática clínica como marcadores mais precoces de gravidade da PE.
SANTOS, S. A. R. Doenças de Chagas:
Aspectos Epidemiológicos de Indíviduos com Reação Sorológica Positiva e
Candidatos à Doação de Sangue em
Hemocentro Regional de Cuiabá – Mato
Grosso. Dissertação (Mestrado). Cuiabá: Instituto de Saúde Coletiva, Universidade Federal de Mato Grosso,
2003.
Orientador: Prof. Dr. Luiz César Nazário Scala
A Doença de Chagas constitui um problema de saúde pública. Pode ser transmitida
por sangue e seus derivados. Este estudo
tem como objetivo traçar os Aspectos Epidemiológicos e Eletrocardiográficos de indivíduos com sorologia positiva para a Doença de Chagas e candidatos a doação de
sangue no HEMOCENTRO Regional de
Cuiabá Mato Grosso-Brasil, no período de
janeiro de 1995 a dezembro de 2000. Através dos dados obtidos, se desenha o perfil
dessa população, a maioria do sexo masculino (62,1%), de raça caucasóide (59,1%),
com idade média de 43,13 ± 5,9 anos, todos
migrantes de áreas endêmicas, da Região
Sudeste (34,8%) e Sul (25,8%). Referiam
já ter doado sangue anteriormente ao resultado cerca de 10,60%, e 18,20% tinham
história de conhecer o Barbeiro (inseto
transmissor) e/ou história de familiar
(10,80%) com Doença de Chagas (no estudo, a progenitora), com baixo grau de escolaridade (1º grau completo: 51,5%) e renda familiar inferior a 5 salários mínimos
(75,8%), oligossintomáticos, com baixa incidência de alterações eletrocardio-gráficas
(9,09%).
SCAFF, I. C. Adesão de Pacientes HIVPositivos aos Anti-Retrovirais: Inquérito
Epidemiológico em Cuiabá-MT, 2001.
Dissertação (Mestrado). Cuiabá: Instituto de Saúde Coletiva, Universidade Federal de Mato Grosso, 2003.
Orientador: Prof. Dr. Joaquim Gonçalves Valente
Co-Orientador: Ageu Mario Cândido
da Silva
Foi realizado um inquérito epidemiológico
para avaliar a adesão a medicamentos anti-
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
retroviaris por pacientes HIV-positivos atendidos no Ambulatório de DST/ADS do Instituto de Especialidades (SES-MT). A partir
de um questionário semi-estruturado, aplicado em 246 usuários escolhidos aleatoriamente
foram obtidos dados demográficos, sócio-econômicos, de suporte familiar e social, depressão, estadiamento da doença, esquemas antiretrovirais utilizados assim como a condição
de aderente e não aderente. Desenvolveuse uma metodologia, através de análise bivariada, estratificada e multivariada para
detecção dos fatores preditivos de não adesão. Encontrou-se uma não adesão aos antiretrovirais de 31,3%, 2,21 vezes maior entre
os mais jovens, e uma diferença média de
111 quilômetros a mais entre o local de residência e a farmácia para não aderentes em
relação a aderentes. Indivíduos não aderentes obtiveram menores valores no escore de
suporte social e maiores valores no de depressão situacional. Também encontrou-se
significância estatística ao se analisar as variáveis esperança de cura (RP=1,66), contagem de linfócito TDC4 (RP=1,84) e Carga
Viral (RP=1,79) nos seis meses anteriores à
entrevista, uso de bebida alcoólica (RP=1,50)
e convivência com fumantes (RP=1,92).
Esquecimento foi o motivo principal alegado
pelos participantes para a não adesão
(16,7%). Demostrou-se que em indivíduos
com alto nível de suporte social a presença
de depressão situacional propicia um efeito
adicional na prevalência de não adesão, interação que não foi detectada para indivíduos com baixo suporte social. No modelo final, produzido pela Análise Multivariada dos
dados e uso de Regressão Logística, as variáveis com os Odds Ratio ajustados, IC 95%
e p-valor para o Odds Ratio estimados foram: 1. Depressão situacional (dicotomizada), variável mais importante com OR de
20,08; 2. Dificuldade de condução
(OR=14,68); 3. Suporte Social (dicotomizada) com OR de 4,05; 3. Distância média
entre o município de residência e o local onde
apanha os medicamentos (OR=3,67); 5. Esquema terapêutico (OR=3,63); 6. Faixa etária (dicotomizada) com OR de 2,88; 7. Trabalho nos últimos 12 meses (OR=2,38). Encontrou-se um excesso de risco de 16,0%
para não adesão ao tratamento para cada
pessoa a mais vivendo no domicílio com a
mesma renda, apesar de não ter sido uma
situação estatística limítrofe. Os resultados
obtidos sugerem a necessidade de implemen-
91
tação de uma política de descentralização
tanto em termos do Município de Cuiabá como
do Estado de Mato Grosso.
SILVA, M. D. Fatores Associados à Demora para o Início do Tratamento da Tuberculose Pulmonar em Cuiabá-MT. Dissertação (Mestrado). Cuiabá: Instituto
de Saúde Coletiva, Universidade Federal de Mato Grosso, 2003.
Orientador: Prof. Dr. Clovis Botelho
Co-orientador: Elisabeth Carmen Duarte
A atual situação epidemiológica da tuberculose aponta para uma necessidade de avaliação e reestruturação dos programas de controle em todo o mundo. (Dentre os mais importantes entraves ao seu controle, destacamse: i.) o surgimento da AIDS; ii.) problemas
relacionados ao tratamento e ao desenvolvimento de cepas multirresistentes do bacilo;
iii.) grande contingente de infectados e iv.)
perpetuação de fontes de infecção não identificadas. Problemas relacionados à demora
para o início do tratamento específico, causando demora na eliminação destas fontes,
têm sido identificados. Apesar de vários estudos, realizados em sua maioria em países
africanos e asiáticos, já terem descrito os
longos períodos que antecipam o início do
tratamento a partir da instalação dos sintomas clínicos da tuberculose pulmonar, pouco
se sabe da magnitude deste problema no
Brasil, e nenhum estudo existe em Mato Grosso sobre esta questão. Desta forma, este
estudo teve como objetivo caracterizar clínica e epidemiologicamente os pacientes adultos com tuberculose pulmonar de Cuiabá –
MT, e descrever a demora média para o início do tratamento a partir da instalação do
quadro clínico (DT), bem como identificar
fatores associados à ela. Estudo de corte
transversal foi realizado, incluindo todos os
pacientes recém diagnosticados com tuberculose pulmonar, registrados nas unidades de
saúde com Programa de Controle da Tuberculose (PCT) de Cuiabá no período de Junho de 1999 a Maio de 2000. Entrevista aos
pacientes e revisão de um formulário do PCT
permitiu a coleta das variáveis de interesse
para o estudo, incluindo a demora entre o
início dos sintomas (tosse) e a primeira consulta médica – demora atribuída principalmente ao paciente (DAP), e a demora entre
a primeira consulta médica e o início do tra-
tamento – demora atribuída principalmente ao médico (DAM). As variáveis DAP
(>30 dias e d”30 dias) e DAM (>7 dias e
d”7 dias) foram categorizadas e modelos
hierarquizados de regressão logística multivariada foram usados para identificar fatores associados de maneira independente
a elas. Foram identificados como elegíveis
para o estudo 304 pacientes, sendo estudados 250 (82,2%). A incidência de tuberculose pulmonar estimada para Cuiabá no
período estudado foi de 73,9 por 100 mil
habitantes, e para 10 dos 116 bairros existentes esta incidência superou 150/100.000
habitantes. Pacientes do sexo masculino,
de cor parda e negra, de idade entre 15 e
50 anos, com baixa escolaridade e baixa
renda familiar per capita, foram os mais
prevalentes dentre os estudados. Isoladamente, a condição clínica associada mais
prevalente no grupo estudado foi ser portador de HIV/AIDS. Observou-se baixo
nível de conhecimento sobre a transmissão da tuberculose, mesmo entre aqueles
que possuíam antecedentes familiares e/ou
pessoais da doença. O tempo médio da DT
foi de 13,4 semanas, sendo que a DAP e a
DAM médias observadas foram de 9,4 e
4,2 semanas, respectivamente. No modelo
multivariado, maiores DAPs estiveram associadas aos pacientes com maiores idades (OR=1,02; p=0,010), cor não–branca
(OR=1,98; p=0,052), que moravam em casas que não eram de alvenaria (OR=3,86;
p=0,012), que referiram antecedente pessoal de tuberculose (OR=1,0; p=0,004) e
que referiram uso de drogas ilícitas
(OR=0,32; p=0,014), ainda que controlando outras variáveis relevantes. Maiores
DAMs estiveram associados aos pacientes que referiram tempo de tosse de 4 semanas ou menos (OR=8,88; p<0,001), e
pacientes atendidos por unidades de saúde
que não dispunham do PCT, especialmente aqueles atendidos em unidades ambulatoriais públicas sem PCT quando comparados aos atendidos em unidades ambulatoriais públicas com PCT (OR=29,58;
p=0,002) em modelos multivariados. Concluiu-se que longos períodos de demora para
o início do tratamento da tuberculose pulmonar podem ser observados em Cuiabá,
e recomenda-se que estes sejam abreviados especialmente com intervenções dirigidas aos grupos com as características
identificadas associadas a estas demoras.
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
92
SILVA, S. A. Estudo Preliminar da Concentração de Mercúrio Total em Sedimento de Tanques de Pscicultura do
Município de Alta Floresta, Mato Grosso. Dissertação (Mestrado). Cuiabá:
Instituto de Saúde Coletiva, Universidade Federal de Mato Grosso, 2003.
Orientador: Prof. Dr. Edinaldo de Castro e Silva
A região norte mato-grossense foi um centro de intensa atividade garimpeira do início da década de 80 a meados de 90, do
século passado. O Município de Alta Floresta sofreu conseqüências desta atividade como o uso indiscriminado do mercúrio,
com conseqüentes prejuízos ambientais,
como cavas de garimpos e descarga de
Mercúrio nestes ambientes, representando risco à saúde da população. O consumo
de peixes cultivados em cavas oriundas da
atividade garimpeira propicia uma possível
contaminação de Mercúrio, haja vista que
os peixes são a principal via de contaminação deste metal. Com este trabalho avaliou-se as concentrações de Mercúrio em
sedimento e material particulado de tanques
de pisciculturas que nunca tiveram indícios
de atividade garimpeira, e em tanques de
pisciculturas com descrição de atividade
garimpeira, partindo-se do princípio que o
sedimento disponibiliza o metal para a água,
e que o solo também contribui para o incremento da concentração. Alta Floresta
é um município da região Norte do Estado
de Mato Grosso com uma produção de
peixes elevada. Foram selecionados dois
tanques de piscicultura sem histórico de
garimpo e dois com registro de atividade
garimpeira. As mais altas concentrações
de Mercúrio foram encontradas em sedimentos dos tanques oriundos de garimpo,
como esperado. Os tanques sem registro
de garimpo apresentaram concentrações
baixas. Contudo, as análises mostraram que
as concentrações de Mercúrio em áreas
com e sem histórico de garimpo não apresentaram diferenças significativas. O material particulado em suspensão dos tanques
apresentou valores elevados para os níveis
de Mercúrio total. Embora as diferenças
não tenham sido significativas, os níveis de
mercúrio nos tanques mostraram-se biodisponível no ambiente, requerendo monito-
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
ramento nesses tanques que oferecem uma
atividade economicamente rentável aos pequenos produtores de peixes da região.
SOUSA, G. C. O Uso de Plantas Medicinais no Yle Axé Omo Odara Ode em Passagem da Conceição, Várzea Grande Mato Grosso: Um Estudo de Caso. Dissertação (Mestrado). Cuiabá: Instituto
de Saúde Coletiva, Universidade Federal de Mato Grosso, 2003.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Miramy Macedo
Mesmo distantes de sua terra natal, os africanos que chegaram ao Brasil permaneceram fiéis a seus valores e crenças religiosas.
A contribuição dada por esses diferentes grupos étnicos para o enriquecimento da cultura brasileira pode ser observada em vários
aspectos como alimentação, danças e também através das plantas trazidas para o Brasil. Entre estas, estavam as que faziam parte
do universo médico simbólico africano e que
são utilizadas dentro dos rituais religiosos de
várias maneiras. Com o objetivo de realizar
um estudo etnobotânico que mostrasse este
uso, escolheu-se o candomblé Yle Axé Omo
Odara Ode, pertencente à nação Keto e localizado no distrito de Passagem da Conceição, município de Várzea Grande, Estado de
Mato Grosso. Os dados obtidos foram levantados através de questionário semi-estruturado com perguntas abertas. Os resultados
mostraram a utilização de 84 espécies vegetais distribuídas em 46 famílias botânicas.
Dessas famílias, a que apresentou um maior
número de espécies foi Asteraceae – 7 espécies. Estas espécies foram divididas em
dois grupos. No grupo de utilização das receitas de medicamentos caseiros, a parte da
planta mais indicada foi a folha com 53,25%
e a forma de preparo mais usada foi o chá
com 51,54%. Nos diversos usos no candomblé a folha teve 78,86% das indicações e o
banho foi a forma de utilização que obteve
mais expressividade com 76,62%. A importância das plantas medicinais nos rituais afrobrasileiros é grande e pode ser demonstrada
através de um ditado em iorubá, língua usada nesses rituais, que diz: kosi ewe, kosi orisa significando: sem folha não há orixá, não
há o axé.
93
SOUZA, S. F. Plantas Medicinais e a Escola como Elemento Mediador para o seu
Conhecimento: Estudo de Caso na Comunidade de Tarumà, Município de Nossa Senhora do Livramento, Mato Grosso.
Dissertação (Mestrado). Cuiabá: Instituto de Saúde Coletiva, Universidade
Federal de Mato Grosso, 2003.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Miramy Macedo
sócio-ambiental da comunidade.
Para a escola convergem orientações que
são transmitidas nas fases de formação do
ser humano. Esta pesquisa visa investigar as
experiências dos alunos da Escola Profª Dila
de Campos Maciel, localizada na comunidade de Tarumã, Município de Nossa Senhora
do Livramento, na utilização de plantas medicinais como alternativa terapêutica para
agravos da saúde. Para tanto, utilizou-se as
técnicas de entrevista aberta e semi-estruturada buscando, a partir do cotidiano escolar identificar códigos e frases-chave que
traduzissem as experiências dos alunos a
partir da escola. Foram identificadas 33 famílias botânicas e 53 espécies indicadas para
diversos agravos da saúde. As famílias com
maior número de espécies indicadas foram:
Lamiaceae com 07(13,20%); Asteraceae
com 05 (9,43%), Liliaceae com 03 (5,60%)
das espécies indicadas. As demais indicações
não ultrapassaram o índice de 02 (duas) espécies por família. Entre as espécies indicadas destacam-se o Jenipapo - Genipa americana L, o Boldo – Coleus barbatus Benth, e o Jatobá - Hymenaea stignocarpa
Mart.. Foram observadas indicações para
agravos como catapora, caxumba, sarampo, dor-de-dente e verminose. Todavia há
predominância de indicações para as afecções relacionadas ao aparelho respiratório.
A utilização das plantas medicinais entre os
alunos é uma atividade estimulada na escola
como forma de valorizar as experiências dos
alunos no cotidiano da comunidade. O uso
das plantas medicinais vem estimulando a
valorização da cultura local através das experiências de coleta, preparo e uso das plantas como alternativa terapêutica para agravos da saúde. Desta forma, a construção do
conhecimento, entre os alunos nesta pratica,
a partir da escola, estimula o desenvolvimento
da percepção tátil, olfativa e visual em relação às espécies utilizadas e todo o contexto
A descentralização da saúde, um dos pilares e princípios do SUS, efetivou-se com
as Normas Operacionais, principalmente a
NOB-93, a NOB-96 e mais recentemente
a NOAS. Cuiabá, em Gestão Plena do Sistema desde 1998 e com mais autonomia
para gerir seu sistema de saúde, ampliou
consideravelmente, qualitativamente e
quantitativamente, a oferta de serviços de
saúde, o que se expressa tanto no número
de atendimentos quanto nos gastos despendidos. Destaca-se neste período a tentativa de estruturação pelo município de um
novo modelo de atenção à saúde bucal.
Nesse sentido, objetivou-se analisar tal modelo bem como contextualizar os aspectos
políticos que acompanharam o seu processo de implantação face à descentralização
da saúde. Foi realizado levantamento documental junto à Coordenadoria de Odontologia do município, além de relatórios das
Conferências Municipais de Saúde e atas
do Conselho Municipal de Saúde, cuja análise foi confrontada com dados secundários de produção e gastos dos atendimentos
de saúde bucal informados no SIA-SUS.
Observou-se que a implantação do Modelo de Atenção à Saúde Bucal do Município
de Cuiabá vem se dando em um processo
não linear, com avanços e retrocessos, destacando-se dois períodos distintos: o inicial,
de 1995 a 2000, no qual se observou aumento na produção de serviços odontológicos e de investimentos na área da saúde
bucal; e o segundo momento que abarca o
último biênio 2001-2002 em que, apesar da
implantação de duas novas Clínicas Odontológicas Municipais, totalizando seis dessas unidades, houve concentração e redução da produção odontológica, bem como
dos gastos a ela relacionados. O atual modelo pode não estar atendendo aos princípios de universalidade e integralidade do
VOLPATO, L. E. R. A Descentralização e a Saúde Bucal no Município no
SUS: O Caso do Município de CuiabáMT. Dissertação (Mestrado). Cuiabá:
Instituto de Saúde Coletiva, Universidade Federal de Mato Grosso, 2003.
Orientador: Prof. Dr. João Henrique
Gurtler Scatena
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
94
SUS. Além disso, o quadro observado nos
últimos dois anos pode, em última instância, estar indicando uma perda de espaço
político dos representantes desse setor, na
arena de negociação e no jogo de forças e
interesses que a conforma, a qual pode
comprometer a implementação do modelo
de atenção à saúde bucal no município.
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
95
INFORMAÇÕES AOS COLABORADORES
A Revista Saúde e Ambiente (RSA) tem por finalidade publicar artigos inéditos que contribuam para o conhecimento e subseqüente desenvolvimento da interdisciplinariedade Saúde e Ambiente, principalmente nas áreas de Farmacologia de Produtos Naturais, Farmacovigilância, Etnobotânica, Química de Produtos Naturais, Química Ambiental, Toxicologia Ambiental, Avaliação de Impactos em Saúde e Ambiente, Epidemiologia, Processo Saúde-Doença,
Saúde e Sociedade, Políticas e Planejamento em Saúde,
Diversidade Etnocultural e afins. Serão aceitos trabalhos
para as seguintes seções: 1) Artigos Originais - resultados de pesquisa de natureza empírica, experimental ou
conceitual (máximo de 25 páginas); 2) Revisão - destinada
a englobar os conhecimentos disponíveis sobre determinado tema, mediante a análise e interpretação da bibliografia pertinente (máximo de 25 páginas); 3) Atualização - destinada a relatar informações publicadas sobre tema de interesse para determinada especialidade (máximo de 15 páginas); 4) Notas e Informações - destinada a relatar aspectos novos da Saúde e Ambiente, bem como nota prévia,
relatando resultados parciais ou preliminares de trabalho
de investigação (máximo de 10 páginas); 5) Resumo de
Tese, Dissertação e Livro - resumo de tese, dissertação
ou de livro de interesse da área de Saúde e Ambiente, defendido ou publicado no último ano (máximo de 3 páginas); 6) Cartas ao Editor - inclui comentários de leitores
sobre trabalhos ou notas prévias, publicado na RSA, podendo expressar concordância, ou discordância, explicando as razões (máximo de 3 páginas); 7) Notícias - informes
sobre eventos científicos (máximo de 3 páginas).
Apresentação do manuscrito
Serão aceitas contribuições em português, espanhol ou
inglês. Os manuscritos devem ser datilografados em uma
só face, com letras corpo 12, com espaço duplo, em forma
de papel tamanho carta, paginada, mantendo margens laterais de 3cm e submetidos em três vias. Quando produzidos em equipamentos processador de texto, a impressão
deve ser de “qualidade carta”, com acentos e símbolos
legíveis. Todos os artigos deverão ser encaminhados juntamente com um disquete 31/2 e indicação quanto ao programa e versão utilizados (somente programas compatíveis com DOS ou Windows). Não serão aceitas notas de
rodapé.
Página de Rosto
Deve conter: a) Título do Artigo, que deve ser conciso e
completo, descrevendo o assunto com termos que possam ser adequadamente indexados pelos serviços de recuperação da informação. Palavras supérfluas devem ser
omitidas. Deve ser apresentada a versão do título para o
idioma inglês; b) Primeiro nome e último sobrenome de
cada autor (nomes intermediários devem ser indicados
pelas respectivas iniciais, respeitando-se aqueles já conhecidos na literatura em formato diverso ao exigido). O
último sobrenome deve ser indicado em letras maiúsculas;
c) Indicação da instituição em que cada autor está vinculado; d) Nome do departamento e da instituição no qual o
trabalho foi realizado; e) Indicação do autor/endereço para
troca de correspondência.
Ilustrações
Número de Tabelas e ou Figuras (gráficos, mapas, fotos,
esquemas, etc.) deverá ser mantido ao mínimo (máximo de
5 tabelas e figuras). Os autores deverão arcar com os custos referentes ao material ilustrativo em excesso a este limite. As figuras poderão ser apresentadas em nanquim ou
produzidas em impressão de alta qualidade. As mesmas
deverão ser enviadas em folhas separadas. As fotografias
(somente em preto e branco) deverão ser ampliadas em
papel brilhante, no formato 18 x 24 cm. As legendas deverão vir em separado, obedecendo a mesma numeração das
respectivas ilustrações. Os gráficos deverão estar acompanhados dos parâmetros quantitativos, em forma de tabela, utilizados em sua elaboração. As tabelas deverão ser
confeccionadas no mesmo programa utilizado na elaboração do artigo.
Resumo
Os manuscritos para as seções Artigos Originais, Revisão, Atualização, Notas e Informações, devem ser apresentados contendo dois resumos no formato estruturado,
um em português, no máximo 150 palavras e outro em inglês, recomendando-se nesse caso, que o resumo seja ampliado até 300 palavras. Quando escrito em idioma espanhol, deve ser acrescentado resumo nesta língua. Para sua
redação devem ser observadas as recomendações da UNESCO. Devem conter informações referentes a: objetivo, material e método, resultados e conclusões mais importantes,
enfatizando os aspectos novos e os que merecem destaque.
Palavras-chave
Devem acompanhar os resumos, no mínimo de 3 e máximo
de 5 palavras-chave descritoras do conteúdo do trabalho,
apresentadas na língua original e em inglês.
Nomenclatura
Devem ser observadas as regras de nomenclatura zoológica e botânica, assim como abreviaturas e convenções adotadas em disciplinas especializadas.
Referências
Deverão ser organizadas de acordo com os exemplos a
seguir: no texto, citar o sobrenome do autor e ano de publicação, como em Fries (1980) ou Elward & Larson (1992). No
caso de citações com mais de dois autores, somente o sobrenome do primeiro autor deverá aparecer, como em Ramos et al. (1993). As referências bibliográficas citadas de
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
96
verão ser listadas ao final do artigo, em ordem alfabética,
de acordo com o último sobrenome do autor ou do primeiro
autor. Os títulos dos periódicos devem ser referidos na
forma abreviada, de acordo com o Index Medicus (“List of
Journals Indexed in the Index Medicus” publicada no número de janeiro do Index Medicus). Comunicações pessoais, trabalhos inéditos ou em andamento poderão ser citados quando absolutamente necessários, mas não devem
ser incluídos na lista de referências bibliográficas, apenas
citados no texto. Devem constar o nome de todos os autores. Exemplos:
Artigo
FRIES, J. F. Aging, natural death and the compression of
morbidity. N. Engl. J. Med., 303:130-5, 1980.
ELWARD, K. & LARSON, E. B. Benefits of exercise for
older adults: a review of existing evidence and current recommendations for the general population. Clin. Geriatr.
Med., 8:35-50, 1992.
RAMOS, L. R.; ROSA, T.E.C.; OLIVEIRA, Z.M.; MEDINA,
M.C.G.; SANTOS, F.R. Perfil do idoso em área metropolitana na região sudeste do Brasil: resultados de inquérito
domiciliar. Rev. Saúde Pública, 27:87-94, 1993.
Livro e Tese
CARPMAN, J. R. & GRANT, M. A. Design that cares:
planning health facilities for patients and visitors. 2nd ed.
Chicago, American Hospital Association, 1993.
MACHADO, C.C. Projeções multirregionais da população: o caso brasileiro (1980-2020). Belo Horizonte,
UFMG/CEDEPLAR, 1993. [Tese de Doutorado] - Universidade Federal de Minas Gerais.
Capítulo de Livro
BLOCKLEHURST, J. C. The geriatric service and the day
hospital in the United Kingdom. In: BROCKLEHURST, J.
C.; TALLIS, R. C.; FILLIT, H.M. Textbook of geriatric medicine and gerontology. 4th ed. Edinburgh, Churchill Livingstone, 1993. p. 1005-15.
vestigação científica deve conter as seguintes informações: Introdução - apresenta e discute o problema à luz da
bibliografia, sem pretender incluir extensa revisão do assunto; deve conter o objeto e justificativa da pesquisa;
Material e Método - descreve os procedimentos adotados
abrangendo: variável (eis) incluída (s) na pesquisa, com a
(s) respectiva (s) definição (ões) quando necessária (s) e
sua categorização, a (s) hipótese (s) científica (s) e estatística (s). Deve delinear a população e a amostra, descrever o
(s) instrumento (s) de medida, com a apresentação, das
provas de validade e confiança e os da coleta e processamento dos dados, com a devida referência bibliográfica.
Caso haja alguma modificação de métodos e técnicas introduzidas pelo (s) autor (es), ou mesmo a indicação sobre
método e técnicas publicadas e pouco conhecidas, os procedimentos devem ser descritos. Resultados - devem seguir seqüência lógica do texto, tabelas e ilustrações, não
repetir no texto todos os dados das tabelas e ilustrações,
destacando-se somente as observações mais relevantes,
com um mínimo de interpretação pessoal. Quando necessário, os dados numéricos devem ser submetidos à análise
estatística. Discussão - deve restringir-se aos dados obtidos e aos resultados alcançados, ressaltando os novos
aspectos observados, discutindo as concordâncias e divergências com outros achados já publicados; evitar os
argumentos em comunicação de caráter pessoal ou divulgadas em documentos de caráter restrito e, hipótese e generalizações não inerentes nos dados do trabalho. As limitações, bem como, suas implicações para futuras pesquisas devem ser esclarecidas. Pode-se incluir nesta parte as
conclusões, alicerçadas na discussão e interpretação. Conclusão - deve ser apresentado o conjunto das conclusões
mais importantes, em conformidade com os objetivos do
trabalho. Podem ser apresentadas propostas que contribuam para as soluções dos problemas detectados, assim
como sugerir outras necessárias. É de opção do autor incluir no item “ Discussão” as conclusões, não havendo
necessidade de repetí-las em item à parte. Agradecimentos
- devem ser breves, objetivos, diretos e dirigidos apenas a
pessoas ou instituições que contribuíram substancialmente para a elaboração do trabalho.
INFORMATION FOR AUTHORS
Trabalho de congresso ou similar (publicado)
SALGADO, P.E.T. Valores de referência. In: Congresso
Latino-Americano de Toxicologia, 8º, Porto Alegre. 1992.
Anais, Porto Alegre, 1992.
Estrutura do Texto
Os artigos de investigação científica poderão ser organizados segundo a estrutura formal: Introdução, Material e
Método, Resultados, Discussão e Conclusões. Outros tipos de artigo como: Revisão, Atualizações e Notas devem
seguir outros formatos para a organização da matéria.
Cada uma das partes da estrutura formal do artigo de in-
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
The objective of the Journal Health and the Environment
is to publish articles that will contribute to the development of knowledge and the consequently to the interdisciplinarity between Health and the Environment, mainly
in the areas of Pharmacology of Natural Products, Pharmaco-vigilance, Ethnobotany, Chemistry of Natural Products, Environmental Chemistry, Environmental Toxicology, Evaluation of Impact on Health and the Environment,
Epidemiology, The Health Sickness Process, Health and
Society, Health Polices and Planning, Ethno-Cultural Diversity and other related areas. Contributions
97
are welcome, for the following sections: 1) Original Article – results obtained through experimental or conceptual empirical research (maximum 25 pages); 2) Review –
with the objective of comprising availabe knowledge on
certain subjects through the analysis and interpretation
of bibliographical material (maximum 25 pages); 3) Current Comments - reports on published information on topics of interest for certain areas (maximum 15 pages); 4)
Notes and Information – with the objective of reporting
on new aspects in Health and the Environment, as well as
previous notes about parcial or preliminary results, of
investigations (maximum 10 pages); 5) Summary of Thesis, Dissertations and Books – summary of thesis, dissertations or books of interest in the Health and the Environment area, presented or publislied during the previous; 6) Letters to the Editor – readers´ comments on articles or notes published in the Journal of Health and the
Environment, expressing agreement or disagreement and
explaining it (maximum 3 pages);7) News - reports on
scientific events (maximum 3 pages).
Presentation of Manuscripts
Contributions in Portuguese, Spanish or English will be
accepted. The manuscripts should be typed on one side of
the page, with letters size 12, double space, on letter paper, with numbered pages, margins should be of 3cm and
3 copies of the text should he submitted. When produced
in processor equipment, the print should have “letter
quality”, with legible accents, and symbols. All articles
should be sent together with 3-½ diskette, with the identification of the program and version used (only programs
compatible with DOS or Windows). Nofootnotes will be
accepted.
The First Page
The First Page should include: a) Title of the Article which
should be concise and complete, describing the subject in
words that can be adequately indexed by recovery information services. Unnecessary words should be ommited.
The title should also be presented in the English version;
b) First name and last surname of each author (middle
names should be indicated by their initials, taking into
account those already known in the literature in any format, different from what is established here). The last surname should be in capital letters; c) Name of the Institution to which each author is commited; d) Name of Department and Institution where the research was done; e)
Indication of author/address for correspondence.
Ilustrations
The number of Tables and or Figures/Pictures (graphs,
maps, photos, etc) should be kept at a minimum (maximum of 5). The author(s) will be held responsible for the
expenses of the ilustrations, that exceed this amount. The
pictures can be in nanquin or in high precision print.
They should be sent on separate sheets. The photographs
(always in black and white) should be enlarged in shiny
paper, in size 18 x 24cm. The subtitles should be sent
separately, numbered according to the pictures. The
graphs should show the respective quantitative parameters, in table form. The tables should be in the same program used for the article.
Abstract
The manuscripts for the sections Original Articles, Review, Current Comments, Notes and Information, should
be presented with two abstracts in the structured format,
one in Portuguese, with 150 words and another in English with 300 words. When the manuscript is in Spanish,
an abstract in this language should be added. UNESCO
recommendations should be observed. Information describing objective, material and method, results and most
relevant conclusions, emphasizing new and outstanding
aspects should be present.
Key words
Following the Abstract, between 3 and 5 key words
should describe the content both in Portuguese and English.
Nomenclature
The rules of zoological and botanical denominations
should be observed as well as those for abbreviations
and conventions adapted for specialized areas.
References
These should be organized according to the following
examples: in the body the text, the mention of the author´s
last name and year of publication as in Fries (1980) or
Elward & Larson (1992). In case of citation with more than
ext authors, only the first authors last name should appears, as in Ramos et al. (1993). The bibliographical references cited should be listed at the end of the article, in
alphabetical order, according to the authors last name
or that of the first author when there are more than one.
The titles of the periodicals should be mentioned in abbreviated form, according to the Index Medicus (“List of
Journals Indexed in the Index Medicus” published in the
January edition of the Index Medicus). Personal communication, umpublished paper or those in press can be
mentioned when absolutely necessary, but should not be
included in the list of bibliographical references. The
names of all the authors should be included. Examples:
Article
FRIES, J. F. Aging, natural death and the compression of
morbidity. N. Engl. J. Med., 303:130-5, 1980.
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
98
ELWARD, K. & LARSON, E. 13. Benefits of exercise for
older adults: a review of existing evidence and current recommendations for the general population. Clin. Geriatr.
Med., 8:35-50, 1992.
RAMOS, L. R.; ROSA, T.E.C.; OLIVEIRA, Z.M.; MEDINA,
M.C.G.; SANTOS, F.R. Perfil do idoso em área metropolitana na região sudeste do Brasil: resultados de inquérito
domiciliar. Rev. Saúde Pública, 27:87-94, 1993.
Books, Thesis or Dissertation
CARPMAN, J. W & GRANT, M. A. Design that cares:
plarming health facilities for patients and visitors. 2nd ed.
Chicago, American Hospital Association, 1993.
MACHADO, C.C. Projeções multirregionais da população: o caso brasileiro (1980-2020). Belo Horizonte.
UFMG/CEDEPLAR, 1993. Tese (Doutorado) -Universidade Federal de Minas Gerais.
Book Chapter
BLOCKLEHURST, J. C. The geriatric service and the day
hospital in the United Kingdom. In: BLOCKLEHURST, J.
C.; TALLIS, R. C.; FILLIT, H. M. Textbook of geriatric
medicine and gerontology. 4th Edinburgh, Churchill Livingstone, 1993. p. 1005-15.
Paper presented at Seminar or similar event published
SALGADO P. E. T. Valores de referência. In: Congresso
Latino-Americano de Toxicologia, 8o, Porto Alegre. 1992.
Anais, Porto Alegre, 1992.
Stracture of Text
The articles describing scientific investigation can be
organized according to the formal structure: Introduction,
Material and Method, Results, Discussion and Conclusions. Other types of articles such as: Review, Current
Rev. Saúde e Ambiente, 6(1/2), 2003
Comments and Notes should follow, other formats for the
organization of the information.
Each one of the parts of the formal structure of an article
or scientific investigation should have the following information: Introduction – presentig and discussing the
problem according to bibliography, without extensive
revision of the subject; this part should express the objective and justification of the research: Material and Method – decribing the procedures used: variables included
in the research with their respective definitions and categorizations when necessary, scientific hypothesis and statistics. There should be a description of the population,
sample, instruments of measurement, presentation of proof
of validity and those of collection and processing of data,
along with the corresponding bibliography. If any changes
w´re made in methods or techiniques were introduced by
the author(s), or if any method or technique published
but not generally know was us the procedures should be
described. Results – tables and ilustrations should follow the logical sequence of the text and the information
on them should not all be repeated in the text. Only the
more relevant information should be observed, with a
minimum of personal interpretation. When necessary, numerical data should be submitted to statistical analys.
Discussion – should be restricted to the data and the
results obtained focussing on new aspects that were observed, discussing consonance and divergence with other published findings. Arguments in personal communication or published in restricted documents, hypothesis
and generalizations not inherent in the data presented,
should be avoided. The limitations, as well as their implications for future research should be mentioned. In this
part, any conclusions based on discussion and interpretation should be included. Conclusion – the most important conclusions, according to the objectives of the research, should be presented, as well as proposed solutions that may contribute to the solving of problems disclosed. The author(s) may include the conclusions in the
item Discussion, eliminating this last part. Expressions
of gratitude – these should be brief, objective, direct and
only to persons or institutions that contributed substantialy to the success of the research.
99
COLABORAÇÕES/CONTRIBUITIONS
Os manuscritos (três cópias e um disquete) devem ser encaminhados ao
Editor Científico da Revista e seguir as “Instruções aos Colaboradores”, publicadas no final de cada fascículo.
All manuscripts (copies and one diskette) should be sent to the Editor
and should comply with the “Guide for the Preparation of Manuscripts” in the end of each issue.
ASSINATURAS/SUBSCRIPTIONS
Brasil: Anual, em qualquer época do ano.
Preço: R$ 30,00 para pessoa jurídica, R$ 20,00 para pessoa física.
Foreign: Annual subscription. Price (Supllements included): Institutional rate U$S 30,00; Individual rate U$S 28,00.
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Reprints may be obtained by request to the authors.
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Telefax: (0xx 65) 615-8880/8884
E-mail: [email protected]
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