Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia

Transcrição

Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia
ISSN 0104-1843
REVISTA BRASILEIRA DE
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista • ANO 16 - Nº 2 - SUPLEMENTO 2 - ABR/MAI/JUN 2008
Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia –
Intervenção Coronária Percutânea e
Métodos Adjuntos Diagnósticos em
Cardiologia Intervencionista (II Edição – 2008)
Órgão Oficial da Sociedade
Brasileira de Hemodinâmica e
Cardiologia Intervencionista
www.rbci.org.br
REVISTA BRASILEIRA DE
PUBLICAÇÃO TRIMESTRAL • Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista
Editora
Áurea Jacob Chaves
Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP
Co-Editores
Carlos Augusto Cardoso Pedra
Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP
Cristiano de Oliveira Cardoso
Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul,
Fundação Universitária de Cardiologia, Porto Alegre, RS
Eduardo Missel
José de Ribamar Costa Junior
Hospital Ecoville, Curitiba, PR
Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP
Assessoria Editorial
Rosangela Monteiro
Tradução
Norah Ethel Coleman
Gráfica e Editora
Ipsis Gráfica e Editora S.A
Secretaria de Publicações
Natalia Mariotto
Revisão
CEV - Casa Editorial Ventura
Conselho Editorial Nacional
Adriano Caixeta
Instituto do Coração - Fundação Zerbini
Brasília, DF
Alexandre Abizaid
Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia
São Paulo, SP
Alexandre Schaan de Quadros
Instituto de Cardiologia do Rio Gde. do Sul,
Fundação Universitária de Cardiologia
Porto Alegre, RS
Amanda G. M. R. Sousa
Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia
São Paulo, SP
Carlos A. C. Pedra
Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia;
Hospital do Coração - Associação
do Sanatório Sírio
São Paulo, SP
Costantino R. F. Costantini
Hospital Cardiológico Costantini
Curitiba, PR
Edgar Guimarães Victor
Universidade Federal de Pernambuco;
Real Hospital Português de Beneficência em
Pernambuco
Recife, PE
Eulógio E. Martinez
Instituto do Coração do Hospital das
Clínicas da Faculdade de Medicina da USP
São Paulo, SP
Expedito E. Ribeiro
Instituto do Coração do Hospital das
Clínicas da Faculdade de Medicina da USP
São Paulo, SP
Fábio S. Brito Jr.
Hospital Israelita Albert Einstein
São Paulo, SP
Fábio Vilas-Boas
Hospital Espanhol
Salvador, BA
Francisco R. M. Laurindo
Instituto do Coração do Hospital das
Clínicas da Faculdade de Medicina da USP
São Paulo, SP
José Armando Mangione
Hospital de Beneficência Portuguesa
de São Paulo
São Paulo, SP
José Klauber R. Carneiro
Hospital do Coração de Sobral
Sobral, CE
Luiz Alberto P. Mattos
Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia
São Paulo, SP
Gilson Soares Feitosa
Hospital Santa Izabel da Santa Casa de
Misericórdia da Bahia
Salvador, BA
Paulo Caramori
Hospital São Lucas, PUCRS;
Hospital Mãe de Deus
Porto Alegre, RS
Hans J. F. Dohmann
Hospital Pró-Cardíaco
Rio de Janeiro, RJ
Pedro A. Lemos
Instituto do Coração do Hospital das
Clínicas da Faculdade de Medicina da USP
São Paulo, SP
Helio Roque Figueira
Clínica São Vicente;
Hospital CardioTrauma Ipanema
Rio de Janeiro, RJ
J. Antonio Marin-Neto
Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina
da USP
Ribeirão Preto, SP
J. Eduardo Sousa
Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia;
Hospital do Coração - Associação do
Sanatório Sírio
São Paulo, SP
Rogério Sarmento-Leite
Instituto de Cardiologia do Rio Gde. do Sul,
Fundação Universitária de Cardiologia
Porto Alegre, RS
Valter C. Lima
Hospital São Paulo Universidade Federal de São Paulo
São Paulo, SP
Wilson A. Pimentel Filho
Hospital de Beneficência Portuguesa
de São Paulo
São Paulo, SP
Conselho Editorial Internacional
Daniel Berrocal
Hospital Italiano de Buenos Aires
Buenos Aires, Argentina
Daniel I. Simon
Case Western Reserve University School
of Medicine
Cleveland, OH, USA
David Kandzari
Scripps Clinic
La Jolla, CA, USA
Eberhard Grube
HELIOS Heart Center Siegburg
Siegburg, Germany
Emerson C. Perin
Texas Heart Institute at
St. Luke’s Episcopal Hospital
Houston, TX, USA
Manel Sabaté
Saint Paul University Hospital
Barcelona, Spain
Marco A. Costa
Case Western Reserve
University School of Medicine
Cleveland, OH, USA
Michael Lincoff
Cleveland Clinic Foundation,
Cleveland, OH, USA
Myeog K. Hong
Asan Medical Center, University of Ulsan
College of Medicine Seoul, Korea
Pim de Feyter
Thoraxcenter, Erasmus Medical Center,
Rotterdam, The Netherlands
Ricardo Seabra-Gomes
Hospital de Santa Cruz
Lisboa, Portugal
Ron Waksman
Washington Hospital Center, Washington,
DC, USA
Órgão Oficial da
Sociedade Brasileira
de Hemodinâmica e
Cardiologia Intervencionista
PUBLICAÇÃO TRIMESTRAL • Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista
SOCIEDADE BRASILEIRA DE HEMODINÂMICA E CARDIOLOGIA INTERVENCIONISTA
Presidente
Luiz Alberto Mattos (SP)
Diretor Administrativo
Marcelo Antônio Cartaxo Queiroga Lopes (PB)
Diretor Financeiro
Hélio Roque Figueira (RJ)
Diretor Científico
Pedro Alves Lemos Neto (SP)
Diretor de Comunicação
Rogério Eduardo Gomes Sarmento-Leite (RS)
Diretor de Qualidade Profissional
Luiz Antônio Gubolino (SP)
Diretor de Educação Médica Continuada
José Antonio Marin-Neto (SP)
Diretor de Intervenções Extracardíacas
Marcos Antonio Marino (MG)
Diretor de Intervenção em Cardiopatia Congênita
César Augusto Esteves (SP)
Comissão Científica
Conselho Fiscal
Amanda Guerra Moraes Rego Sousa (SP)
Cláudia Maria Rodrigues Alves (SP)
Expedito Eustáquio Ribeiro da Silva (SP)
Fábio Sândoli de Brito Jr. (SP)
Gilberto Lahorge Nunes (RS)
Júlio César Machado Andréa (RJ)
Marco Vugman Wainstein (RS)
Maurício Rezende Barbosa (MG)
Pedro Alves Lemos Neto (SP)
Wilson Albino Pimentel Filho (SP)
Itamar Ribeiro de Oliveira (RN)
João Paulo Zouvi (RS)
Viviana de Mello Guzzo Lemke (PR)
Conselho Deliberativo
Alexandre do Canto Zago (RS)
Antonio José Muniz (MG)
Bruno Moulin Machado (ES)
Eduardo Lúcio Nicolella Júnior (SP)
Flávio Roberto Azevedo de Oliveira (PE)
Luiz Antônio Ferreira Carvalho (RJ)
Marcelo de Freitas Santos (PR)
Ricardo César Cavalcanti (AL)
Roberto José de Alvarenga Freire (GO)
Salvador André Bavaresco Cristóvão (SP)
Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia –
Intervenção Coronária Percutânea e
Métodos Adjuntos Diagnósticos em
Cardiologia Intervencionista (II Edição – 2008)
SBHCI – Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista
Editores
Luiz Alberto Mattos
Pedro Alves Lemos Neto
Editores Associados
Anis Rassi Jr.
José Antonio Marin-Neto
Amanda Guerra de Moraes Rego Sousa
Fernando Stucchi Devito
Expedito E. Ribeiro da Silva
Fábio Sândoli de Brito Jr.
Conselho Nacional de Diretrizes
Sociedade Brasileira de Cardiologia
Jadelson Pinheiro Andrade (coordenador)
Anis Rassi Jr.
Antonio Carlos de Camargo Carvalho
Carisi Anne Polanczyk
José Antonio Marin-Neto
Júlio César Vieira Braga
Mário Sérgio Coutinho
Max Grinberg
Renato Abdala Karam Kalil
Roberto Bassan
Esta diretriz deverá ser citada como: Mattos LA, Lemos Neto PA, Rassi A Jr, Marin-Neto JA, Sousa AGMR, Devito FS, et al.
Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia – Intervenção Coronária Percutânea e Métodos Adjuntos Diagnósticos
em Cardiologia Intervencionista (II Edição – 2008). Rev Bras Cardiol Invas. 2008;16(supl.2):9-88.
Grupos de Trabalho
Grupo 1
Vias de Acesso, Definições e Indicações Clínicas
Jamil A. Saad (coordenador)
Alexandre S. de Quadros
André Labrunie
Antonio Carlos Camargo Carvalho
Carlos A. M. Gottschall
César Rocha Medeiros
Heitor Maurício de Medeiros Filho
José Breno de Souza Filho
Luiz Alberto Mattos
Marco V. Wainstein
Marcos A. Marino
Renato G. Serpa
Grupo 2
Farmacologia Adjunta e
Grupamentos Clínicos
José Antonio Marin-Neto (coordenador)
Alexandre D. Asmuz
Edgar G. Victor
Gilson S. Feitosa
Itamar R. Oliveira
João Paulo Zouvi
Jorge Pinto Ribeiro
José Armando Mangione
José Carlos Nicolau
Luciano Baracioli
Maria Fernanda Zuliani
Marinella P. Centemero
Nelson Durval G. Matos
Grupo 3
Grupamentos Angiográficos e
Métodos Adjuntos Diagnósticos
Rogério Sarmento-Leite (coordenador)
Alcides J. Zago
Costantino Ortiz Costantini
Fernando Mendes Sant'Anna
Fernando S. Devito
Gilberto Lahorgue Nunes
Helman Campos Martins
Ibraim M. F. Pinto
Marcelo Freitas Santos
Marco Antonio Perin
Maurício Rezende Barbosa
Ricardo Pontes de Miranda
Sérgio Tarbine
Vinicius D. Vaz
Wilson A. Pimentel Filho
Grupo 4
Stents Coronários e Manejo das Complicações
Expedito E. Ribeiro da Silva (coordenador)
Alexandre A. Abizaid
Amanda G. M. R. Sousa
Áurea J. Chaves
Costantino Roberto F. Costantini
Dimitry A. Siqueira
Eduardo Missel Silva
Eulógio Martinez Filho
Hélio Roque Figueira
José Carlos Raimundo Brito
Júlio Cesar M. Andrea
Fábio Sândoli de Brito Jr.
Luiz Antonio Carvalho
Marcelo A. Cartaxo Queiroga Lopes
Paulo Márcio Nunes
Pedro Alves Lemos Neto
Definições das Recomendações e Evidências
Recomendações
Classe I:
Condições para as quais há evidências conclusivas ou, na sua falta, consenso geral de que o procedimento é seguro e útil/eficaz.
Classe II: Condições para as quais há evidências conflitantes e/ou divergência de opinião sobre segurança e
utilidade/eficácia do procedimento.
Classe IIa: Peso ou evidência/opinião a favor do procedimento. A maioria aprova.
Classe IIb: Segurança e utilidade/eficácia menos bem estabelecidas, não havendo predomínio de opiniões a favor.
Classe III: Condições para as quais há evidências e/ou consenso de que o procedimento não é útil/eficaz e, em
alguns casos, pode ser prejudicial.
Evidências
Nível A:
Nível B:
Nível C:
Dados obtidos a partir de múltiplos estudos randomizados de bom porte, concordantes e/ou de
metanálise robusta de estudos clínicos randomizados.
Dados obtidos a partir de metanálise menos robusta, a partir de um único estudo randomizado ou de
estudos não-randomizados (observacionais).
Dados obtidos de opiniões consensuais de especialistas.
Declaração Obrigatória de Conflito de Interesses
Declaração Obrigatória de Conflito de Interesses
Se nos últimos três anos até Março de 2008 o autor e/ou colaborador das Diretrizes
Nome do médico
Participou de estudos clínicos e/ou
experimentais subvencionados pela
indústria farmacêutica ou
de equipamentos relacionados
à diretriz em questão
Foi palestrante
em eventos ou atividades
patrocinados pela indústria
relacionados à diretriz
em questão
Foi (é) membro do
conselho consultivo
ou diretivo da
indústria farmacêutica
ou de equipamentos
Luiz Alberto Mattos
Cordis, Medtronic e Biosensors
Abbott, Boston Scientific,
Cordis Biotronik e Medtronic
Não
Pedro A. Lemos Neto
Cordis, Boston Scientific, Volcano,
Sahajanand, Scitech
Cordis, Boston Scientific,
Sahajanand, Scitech
Boston Scientific, Scitech
Amanda G. M. R. Sousa
Não
Não
Não
Anis Rassi Jr.
Não
Não
Não
Alcides José Zago
Não
Não
Não
Alexandre D. Azmus
Não
Não
Não
Alexandre S. de Quadros
Não
Não
Não
André Labrunie
Não
Não
Não
Sanofi-Aventis, AstraZeneca
Não
Não
Cordis, GSK, X-Cell Medical, Reva Medical
Não
Não
CMS, Sahajanand
Não
Não
Dimytri Alexandre de Alvim Siqueira
Não
Não
Não
Edgar G. Victor
Não
Não
Não
Eduardo Missel Silva
Não
Não
Não
Cordis, Sahajanand, CMS
Boston Scientific, CMS,
Cordis, Sanofi-Aventis
CMS
Cordis J&J, Boston Scientific, GSK, CMS
Medical (Sahajanand Medical), Biotronik
Cordis J&J, Boston Scientific,
CMS Medical, Biotronik
Não
Antonio Carlos Carvalho
Áurea Jacob Chaves
César Rocha Medeiros
Expedito E. Ribeiro da Silva
Fábio Sândoli de Brito Jr.
Fernando Mendes Sant’Anna
Não
Não
Não
Fernando Stucchi Devito
Não
Não
Não
Gilberto Lahorgue Nunes
Biotronik, Boston Scientific, Cordis
Biotronik, Terumo
Biotronik
Sanofi-Aventis
Sanofi-Aventis, Boston Scientific,
Medtronic
Novartis
Gilson Soares Feitosa
Heitor Mauricio de Medeiros Filho
Hélio Roque Figueira
Helman Campos Martins
Ibraim Masciarelli Francisco Pinto
Não
Não
Não
Boston Scientific
Não
Não
Não
Não
Não
Siemens Medical,
Siemens Medical, Philips
Siemens Medical
Philips Medical, Toshiba Medical
Medical, Toshiba Medical
Itamar Ribeiro de Oliveira
Não
Não
Jamil Abdalla Saad
Não
Não
Não
José Armando Mangione
Não
Não
Não
José Breno de Sousa Filho
José Carlos Nicolau
Não
Não
AstraZeneca, Bayer, BMS,
J&J, GSK, Lilly, MSD, Pfizer,
Schering-Plough, Sanofi-Aventis
BMS, Sanofi-Aventis
Não
Não
AstraZeneca, Lilly, Sanofi-Aventis
José Maria P. Gomes
Não
Não
Não
Júlio César Machado Andréa
Não
Não
Não
BMS, Lilly, MSD, Sanofi-Aventis
BMS
Não
Não
Não
Não
Cordis
Cordis, Biotronik
Não
Sim
Sim
Não
Luciano Moreira Baracioli
Luiz Antonio Ferreira Carvalho
Marcelo A. Cartaxo Queiroga Lopes
Marco V. Wainstein
Marcos Antonio Marino
Maria Fernanda Zuliani Mauro
Marinella Patrizia Centemero
Não
Não
Não
Sanofi-Aventis
Não
Não
Biosensors, Medtronic
Não
Não
CMS Medical, Sahajanand Medical
Não
Não
Renato Giestas Serpa
Não
Não
Não
Ricardo Pontes de Miranda
Não
Não
Não
Biotronik, Cordis
Boston Scientific, Biotronik,
B-Braun, Cordis
Biotronik
Vinicius Daher Vaz
Não
Não
Não
Paulo Márcio Sousa Nunes
Não
Não
Não
Maurício Rezende Barbosa
Rogério Sarmento-Leite
Declaração Obrigatória de Conflito de Interesses
Continuação da Declaração Obrigatória de Conflito de Interesses
Se nos últimos três anos até Março de 2008 o autor e/ou colaborador das Diretrizes
Nome do médico
Participou de comitês normativos
de estudos científicos patrocinados
pela indústria
Recebeu auxílio pessoal
Elaborou textos
ou institucional
científicos em periódicos
da indústria
patrocinados pela indústria
Temações
da indústria
Luiz Alberto Mattos
Não
Não
Não
Não
Pedro A. Lemos Neto
Sahajanand, Scitech
Não
Não
Não
Amanda G. M. R. Sousa
Não
Não
Não
Não
Anis Rassi Jr.
Não
Não
Não
Não
Não
Alcides José Zago
Não
Não
Não
Alexandre D. Azmus
Não
Boston Scientific, Medtronic
Não
Não
Alexandre S. de Quadros
Não
B Braun, Medtronic, Boston Scientific
Não
Não
André Labrunie
Não
Não
Não
Não
Antonio Carlos Carvalho
Não
Não
Não
Não
Áurea Jacob Chaves
Não
Não
Não
Não
César Rocha Medeiros
Não
Não
Não
Não
Dimytri Alexandre de Alvim Siqueira
Não
Não
Não
Não
Edgar G. Victor
Não
Não
Não
Não
Eduardo Missel Silva
Expedito E. Ribeiro da Silva
Fábio Sândoli de Brito Jr.
Não
Não
Não
Não
Sahajanand
Não
BMS, MSD, Cordis
Não
Boston Scientific, CMS Medical
Cordis J&J (institucional)
Não
Não
(Sahajanand Medical)
Fernando Mendes Sant’Anna
Não
Não
Não
Não
Fernando Stucchi Devito
Não
Não
Não
Não
Gilberto Lahorgue Nunes
Não
Biotronik, Boston Scientific,
Não
Não
Gilson Soares Feitosa
MSD
Cordis, Medtronic, Terumo
Não
Novartis, Bayer
Não
Heitor Mauricio de Medeiros Filho
Não
Não
Não
Não
Hélio Roque Figueira
Não
Boston Scientific, Cordis J&J,
Não
Não
Biotronik
Helman Campos Martins
Não
Não
Não
Não
Ibraim Masciarelli Francisco Pinto
Não
Institucional: Siemens Medical,
Toshiba Medical, General Electric
Não
Não
Não
Itamar Ribeiro de Oliveira
Não
Não
Não
Jamil Abdalla Saad
Não
Não
Não
Não
José Armando Mangione
Não
Não
Não
Não
José Breno de Sousa Filho
Não
Não
Não
Não
José Carlos Nicolau
Não
AstraZeneca, Pfizer,
Schering-Plough, Sanofi-Aventis
BMS
Não
José Maria P. Gomes
Não
Não
Não
Não
Júlio César Machado Andréa
Não
Não
Não
Não
Luciano Moreira Baracioli
Não
Não
Sim
BMS
Não
Luiz Antonio Ferreira Carvalho
Não
Sanofi-Aventis, Pfizer,
MSD, BMS
Sim
Marcelo A. Cartaxo Queiroga Lopes
Não
Cordis, Biotronik
Não
Não
Marco V. Wainstein
Sim
Sim
Não
Não
Não
Marcos Antonio Marino
Não
Não
Não
Não
Maria Fernanda Zuliani Mauro
Não
Não
Não
Não
Marinella Patrizia Centemero
Não
Não
Não
Não
Maurício Rezende Barbosa
Não
Não
Não
Não
Renato Giestas Serpa
Não
Não
Não
Não
Ricardo Pontes de Miranda
Não
Não
Não
Não
Biotronik
Biotronik, Boston Scientific, Cordis, Abbot
Não
Não
Vinicius Daher Vaz
Não
Não
Não
Não
Paulo Márcio Sousa Nunes
Não
Não
Não
Não
Rogério Sarmento-Leite
Sumário
Introdução
Organização
9
9
1
Definições
1.1
Sucesso
1.2
Oclusão Aguda
1.3
Classificação Temporal da Oclusão do Vaso-Alvo
1.4
Reestenose Angiográfica e Clínica
9
10
10
10
11
2
Vias de Acesso
2.1
Hemostasia Manual e Utilização de Dispositivos para Reparo Femoral
11
12
3
Indicações Clínicas da Intervenção Coronária Percutânea
3.1
Angina Estável e Isquemia Miocárdica Silenciosa
3.2
Angina Instável e Infarto Agudo do Miocárdio sem Supradesnível do Segmento ST
3.2.1
Comparação das Estratégias Invasiva e Conservadora
3.3
Infarto Agudo do Miocárdio com Supradesnível do Segmento ST
3.3.1
Comparação com os Fibrinolíticos
3.3.2
Intervenção Coronária Percutânea Primária com Implante de Stent Coronário
3.3.3
Suporte de Equipe de Cirurgia Cardíaca
3.3.4
Experiência do Centro e do Operador
3.3.5
Indicações de Transferência para Realização da
Intervenção Coronária Percutânea Primária
3.4
Intervenção Coronária Percutânea no Infarto Agudo do Miocárdio após a Fibrinólise
3.4.1
Resgate
3.4.2
Intervenção Coronária Percutânea Facilitada
3.4.3
Intervenção Coronária Percutânea Eletiva Após a Fibrinólise
3.4.4
Intervenção Coronária Percutânea no Infarto do Miocárdio
de Apresentação Tardia (> 24 horas)
3.5
Intervenção Coronária Percutânea no Choque Cardiogênico
14
14
17
17
20
20
20
20
21
4
Subgrupos Especiais – Variáveis Clínicas
4.1
Sexo Feminino
4.2
Diabete Melito
33
33
33
5
Subgrupos Especiais – Angiográficos
5.1
Oclusão Coronária Crônica
5.2
Bifurcações Coronárias
5.3
Doença Coronária Multiarterial e Tronco da Artéria Coronária Esquerda
5.3.1
Ensaios Randomizados – Intervenção Coronária Percutânea
versus Cirurgia de Revascularização
5.3.2
Registros Controlados – Intervenção Coronária Percutânea com Implante
de Stents Não-Farmacológicos e Cirurgia de Revascularização do Miocárdio
5.3.3
Registros com Intervenção Coronária Percutânea com Implante
de Stents Farmacológicos e Cirurgia de Revascularização do Miocárdio
5.3.4
Tronco da Artéria Coronária Esquerda Não Protegido
por Revascularização Cirúrgica do Miocárdio
35
35
37
38
Métodos Adjuntos de Imagem e Diagnóstico Invasivo
6.1
Ultra-som intracoronário
6.2
Medida de Pressão Intracoronária e Reserva Fracionada de Fluxo do Miocárdio
44
44
45
6
21
23
23
25
28
30
31
39
41
41
42
Sumário - Continuação
7
Dispositivos Percutâneos Adjuntos
7.1
Aterectomia Rotacional (RotablatorTM)
7.2
Cateter-Balão Cortador (Cutting BalloonTM)
7.3
Dispositivos de Proteção Distal da Circulação Coronária e Aspiração Intracoronários
7.3.1
Aplicação nos Enxertos de Veia Safena
7.3.2
Aplicação no Infarto Agudo do Miocárdio
7.4
Balão Intra-aórtico
46
46
47
48
48
48
50
8
Stents Coronários
8.1
Stents Não-Farmacológicos
8.2
Stents Farmacológicos
8.2.1
Critérios para Análise e Seleção de Stents Farmacológicos
8.2.2
Pesquisas com os Stents Farmacológicos
51
51
51
52
53
9
Recomendações Comparativas – Implante de Stents Farmacológicos
versus Não-Farmacológicos nas Diversas Variáveis Clínicas e Angiográficas
9.1
Diabete Melito
9.2
Síndrome Coronária Aguda Com ou Sem Supradesnível do Segmento ST
9.3
Diâmetro e Extensão da Estenose Coronária
9.4
Topografia Coronária
9.4.1
Óstio e Bifurcação Coronária
9.4.2
Enxertos de Veia Safena
9.5
Morfologia Coronária
9.5.1
Oclusão Crônica
9.5.2
Reestenose Intra-stent
9.6
Doença Coronária Multiarterial e Tronco da Artéria Coronária Esquerda
55
55
56
57
58
58
59
60
60
61
63
10
Complicações Agudas
10.1 Perfuração Coronária
10.2 Isquemia Miocárdica Aguda
10.3 Disponibilidade de Cirurgia Cardíaca
64
64
64
64
11
Complicações Tardias – Trombose Tardia e Muito Tardia
65
12
Farmacologia Dedicada à Intervenção Coronária Percutânea
12.1 Ácido Acetilsalicílico
12.2 Tienopiridínicos
12.3 Cumarínicos
12.4 Heparinas
12.4.1 Heparina Não-Fracionada
12.4.2 Heparina de Baixo Peso Molecular
12.5 Inibidores do Complexo IIb/IIIa
12.6 Hipolipemiantes e Antiproliferativos Sistêmicos
12.7 Proteção à Nefrotoxicidade dos Meios de Contraste
67
67
68
69
69
69
69
71
73
75
13. Manejo Clínico da Intervenção Coronária Percutânea
77
14. Manuseio de Pacientes Submetidos a Cirurgia Não-Cardíaca
79
Rev Bras Cardiol Invas 2008;16(supl.2)
INTRODUÇÃO
A Cardiologia Intervencionista, área de atuação reconhecida da Sociedade Brasileira de Cardiologia e habilitada para certificar novos profissionais, tem também o
reconhecimento do Conselho Federal de Medicina e da
Associação Médica Brasileira. Desde a fundação do Departamento, em 1975, até os dias atuais, o crescimento do
número de profissionais habilitados e de procedimentos
diagnósticos e terapêuticos tem sido exponencial1.
O pioneirismo de Andreas Gruntzig, que completou 30 anos desde a realização da primeira angioplastia
coronária com cateter-balão em setembro de 2007, demarca a transição do Departamento de Hemodinâmica
e Angiocardiografia para a constituição de uma Sociedade independente, com habilidade terapêutica e intervencionista, no início dos anos 902.
Hoje, esta Sociedade reúne 869 profissionais, que
praticam diferentes procedimentos intervencionistas nas
afecções cardiovasculares em mais de 500 hospitais,
distribuídos por todo o nosso País.
Destaca-se a necessidade sempre premente da revascularização do miocárdio, insidiosa e crescente constatação clínica da doença arterial coronária, com sua
morbidade e sua mortalidade associadas. A intervenção coronária percutânea (ICP) constitui eficiente opção terapêutica, ombreando-se com o tratamento clínico e a cirurgia cardíaca. Em 2006, mais de 60 mil
procedimentos foram efetivados no Brasil e o crescimento é inequívoco1.
A primeira diretriz relacionada à prática da ICP,
redigida em 2002, foi publicada em 20033. Os avanços
tecnológicos, tanto na farmacologia como na adoção de
novos dispositivos percutâneos, com destaque para os
stents farmacológicos, tornou essa diretriz obsoleta. A
elaboração de um novo documento foi necessária, com
o objetivo de balizar e consolidar as indicações clínicas
e angiográficas da revascularização miocárdica percutânea,
assim como normatizar e hierarquizar as inúmeras possibilidades e alternativas existentes na prática diária e
contemporânea da ICP, diante do tratamento das diversas manifestações da doença arterial coronária.
Estas recomendações refletem o consenso deste grupo
de especialistas, baseado em evidências dos ensaios clínicos
mais recentes e registros nacionais com repercussão internacional. Foi recomendado aos relatores que seguissem
critérios específicos para inclusão de novos dados e
atualização dos anteriores:
• Publicação de artigos em revistas médicas indexadas na base de dados MEDLINE;
• Estudos controlados, aleatorizados e/ou multicêntricos;
• Estudos não-randomizados (registros), fornecedores
de dados consistentes acerca da eficácia e da segurança das diversas possibilidades terapêuticas;
• Impacto significativo na prática clínica.
Esta Diretriz tem por finalidade servir à população
de pacientes tratados no Brasil com medicamentos e
dispositivos aprovados pelos órgãos reguladores de Saúde
competentes. O objetivo é auxiliar e substanciar todos
aqueles envolvidos com a realização da ICP no Brasil,
sejam eles médicos, profissionais da Saúde, provedores
de serviços médicos ou pacientes.
O julgamento final para a aplicação de um procedimento terapêutico a um paciente deve ser efetivado pelo
médico, amparado nas evidências reconhecidas, com o
devido esclarecimento de todas as possibilidades existentes. Muitas vezes, será possível utilizar estas recomendações para a aplicação do melhor tratamento ao enfermo; porém, em determinadas situações, particularidades
alheias a este documento devem ser valoradas.
A experiência e o local da aplicação do procedimento
terapêutico também devem ser valorados e não podem
ser estratificados em recomendações; assim, os provedores de serviços de Saúde devem utilizar como referência estas recomendações, mas sempre cientes de que o
objetivo maior é a qualidade de atendimento, oferecendo o melhor ao paciente no ambiente social em que ele
vive.
ORGANIZAÇÃO
Os médicos relatores destas recomendações manifestaram seus conflitos de interesses. O processo de elaboração deste documento teve início com a reunião do
material redigido, atualizado e referenciado pelos relatores
aqui mencionados. Todos os profissionais listados participaram ativamente e executaram a atividade solicitada.
O recebimento dos diversos textos teve início em junho
de 2007 e foi encerrado em outubro do mesmo ano. O
texto final foi redigido e atualizado, compreendendo as
publicações consolidadas em periódicos indexados na
base de dados MEDLINE, até o final do primeiro quadrimestre de 2008.
1. Definições
As características anatômicas e o grau de estenose
das lesões obstrutivas coronárias são preditores importantes da evolução imediata e da ocorrência de reestenose após uma ICP4-6. Previamente à utilização dos stents
coronários, o risco de insucesso imediato da ICP poderia
ser previsto por meio da análise de determinadas características angiográficas ordenadas em classificação proposta pelas sociedades norte-americanas de cardiologia,
em 19937.
Com o advento dos stents coronários, uma equalização das diversas morfologias angiográficas foi atingida, reduzindo significativamente as taxas de complicações agudas, tornando tal classificação obsoleta8. Consideram-se, no presente momento, apenas as lesões de
alto risco (tipo C) listadas na Tabela 1.
A SCAI (Society for Cardiovascular Angiography
and Interventions) sugeriu uma classificação distinta,
9
Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia – Intervenção Coronária Percutânea e Métodos Adjuntos Diagnósticos em
Cardiologia Intervencionista (II Edição – 2008)
reunindo as lesões em uma combinação de presença
das variáveis dos tipos C ou não-C, com o vaso-alvo
patente ou ocluído (Tabela 2). Essa classificação tem
sido considerada mais eficiente em discriminar as taxas
de sucesso e complicações de uma ICP, quando comparada às anteriores9.
1.1 Sucesso
O sucesso de uma ICP deve ser obtido pelo somatório
do sucesso tanto angiográfico como do procedimento,
assim definidos:
• angiográfico: redução da estenose-alvo para um
diâmetro de estenose < 30%, com manutenção
ou restabelecimento do fluxo anterógrado normal (grau 3 TIMI)3,8,10;
• procedimento: obtenção de sucesso angiográfico
e ausência de complicações clínicas maiores (morte,
infarto agudo do miocárdio [IAM] com supradesnível do segmento ST e cirurgia de revascularização
miocárdica de emergência). A definição de IAM
após um procedimento leva em consideração o
desenvolvimento de novas ondas Q e/ou a elevação da CK-MB (> 3 vezes seu valor basal), com
ou sem a presença de precordialgia associada.
Elevação das troponinas após uma ICP ocorre
mais freqüentemente que da CK-MB, e seu signi-
TABELA 1
Características da estenose coronária de
alto risco (tipo C)
Comprimento da lesão > 20 mm
Calcificação maciça
Tortuosidade excessiva do segmento proximal
Segmento-alvo com angulação extrema (> 90 graus)
Oclusão crônica em ponta romba
Impossibilidade de proteção de ramo lateral
significativo (≥ 2,5 mm) e estenótico (> 50%)
Enxertos venosos degenerados
ficado, quando discreta, é irrelevante clinicamente; contudo, é considerada balizadora da ocorrência de infarto quando ultrapassa o percentil
99 do limite de referência superior11.
1.2 Oclusão Aguda
É definida como a súbita oclusão do segmento-alvo
ou de segmento adjacente no vaso submetido a ICP
durante ou até 24 horas após o procedimento. Até 90%
das oclusões agudas ocorrem com o paciente ainda na
sala de procedimento e dentre as oclusões agudas fora
de sala, mais de 80% ocorrem nas primeiras 6 horas
após o procedimento12. Os mecanismos mais comuns
das oclusões agudas após uma ICP sem o uso dos stents
são as dissecções coronárias e o desenvolvimento de
trombose local13. As dissecções, em sua maioria, podem
ser prontamente resolvidas com o implante de stent. A
oclusão aguda após implante de stents coronários está
relacionada a expansão incompleta de suas hastes metálicas,
estenoses subjacentes ao vaso-alvo não tratadas e/ou
ocorrência de fenômenos trombóticos agudos, relacionados
a anticoagulação e/ou antiagregação plaquetária incorreta ou resistência medicamentosa não identificada ou desconhecida previamente ao operador14.
1.3 Classificação Temporal da Oclusão
do Vaso-Alvo
Os stents farmacológicos reduzem de maneira significativa hiperplasia intimal cicatricial compensatória à
injúria endotelial inicial e, portanto, promovem o retardo
da endotelização nas hastes metálicas14,15. Com a incorporação do implante sistemático de stents farmacológicos
à prática clínica, a partir de 2002, e à medida que esses
pacientes foram adquirindo longevidade clínica, foram
documentados casos de oclusões tardia e muito tardia,
sempre com características trombóticas, e manifestação
clínica similar àquelas de ocorrência precoce15.
Com o objetivo de classificar sua ocorrência, o Consórcio Acadêmico de Pesquisa, composto por estudiosos reconhecidos na elaboração, gerência e análise de
estudos e registros clínicos dedicados à prática da ICP e
TABELA 2
Classificação gradativa sugerida pela SCAI
(Society for Cardiovascular Angiography and Interventions)
para as estenoses coronárias submetidas a intervenção coronária percutânea
Graduação
Sucesso Angiográfico/Complicações
Variáveis
1
Muito alto (> 95%)/Muito baixo (< 0,5%)
2
Alto (> 85%)/Baixo (< 1%)
3
4
Moderado (> 70%)/Baixo (< 1%)
Reduzido (> 50%)/Moderado (< 5%)
Ausência de características tipo C
Vaso-alvo pérvio
Uma característica tipo C
Vaso-alvo pérvio
Vaso-alvo ocluído crônico (> 3 meses)
Uma característica tipo C
Vaso-alvo ocluído crônico (> 3 meses)
10
Rev Bras Cardiol Invas 2008;16(supl.2)
ao implante de dispositivos coronários, deliberou a classificação exposta na Tabela 3, que ordena sua ocorrência temporal e, da mesma forma, determina a confirmação de sua ocorrência em três possibilidades (definitiva,
provável e possível)16.
fluxo anterógrado. Essa classificação demonstrou implicações prognósticas, quais sejam: quanto mais proliferativa
até a oclusão do vaso-alvo, maior será a nova recorrência17.
1.4 Reestenose Angiográfica e Clínica
A escolha da via de acesso a ser empregada deve
ser individualizada e levar em conta tanto as características do paciente como do procedimento proposto
e da apresentação clínica vigente, já que as complicações podem ocorrer em até 3% dos procedimentos
percutâneos (Tabela 4)8.
A reestenose angiográfica é definida pela presença de
uma nova estenose maior ou igual a 50% no local do
vaso previamente tratado, identificada e avaliada por meio
de cinecoronariografia e angiografia quantitativa, respectivamente. Sua constatação nem sempre é manifesta clinicamente ou acompanhada de isquemia miocárdica17.
A reestenose clínica é definida pelo retorno dos sinais e sintomas de isquemia miocárdica, seja pela volta
da dor ou pela presença de provas funcionais detectoras
de isquemia miocárdica, após uma ICP, associada à comprovação de reestenose angiográfica, requerendo um novo
procedimento de revascularização para a lesão-alvo18.
A reestenose dos stents coronários está relacionada
ao excesso de hiperplasia intimal cicatricial. Sua aferição
considera não somente o segmento com o implante
prévio de um stent (intra-stent) como também as bordas
proximal e distal, 10 mm de suas extremidades (segmentar). A classificação mais utilizada é: focal, quando menor que 10 mm de comprimento; difusa intra-stent, com
comprimento superior a 10 mm, porém ainda restrita ao
dispositivo metálico; difusa-proliferativa, com comprimento
superior a 10 mm e invasão das margens do stent, seja
proximal ou distal; e oclusiva, quando não existe mais
TABELA 3
Classificação proposta pelo Consórcio Acadêmico
de Pesquisa para a ocorrência de oclusão após
implante de stents coronários
Oclusão
Retardo após o Final do Procedimento
Aguda
Subaguda
Tardia
Muito tardia
0-24 horas
1-30 dias
30-365 dias (1 ano)
> 1 ano
Confirmação
Variáveis
Definitiva
Provável
Possível
Comprovação angiográfica
ou por meio de anatomia
patológica (necropsia)
Morte não explicada
com retardo < 30 dias
Infarto agudo do miocárdio
documentado no segmento
eletrocardiográfico relacionado
ao vaso-alvo previamente tratado
Morte não explicada
com retardo > 30 dias
2. Vias de Acesso
O acesso arterial ideal deve preencher diversos requisitos, entre os quais proporcionar abordagem à circulação sanguínea de forma rápida e fácil e ser versátil para
permitir a utilização dos diversos materiais e dispositivos
utilizados, além de promover hemostasia eficaz, a fim de
minimizar as complicações neuromusculares.
Os fatores de risco para ocorrência de complicações vasculares são: elevação da pressão arterial sistólica
no momento da retirada do introdutor, insuficiência aórtica, baixo índice de massa corpórea, longevidade, presença de coagulopatias, anticoagulação intensa, emprego de fibrinolíticos, utilização de inibidores do complexo
IIb/IIIa, introdutores de maior calibre, e doença vascular
periférica preexistente8-19.
Para prevenir complicações vasculares é fundamental obter-se a história clínica pregressa do paciente,
observar sinais ou sintomas de doença vascular periférica e conhecer antecedentes de complicações no acesso
vascular em procedimentos anteriores.
As principais vias de acesso utilizadas na ICP são
femoral, radial e braquial.
A via femoral é atualmente o acesso utilizado em
cerca de 90% dos procedimentos no Brasil2. Apresenta como vantagens o uso consagrado, sendo uma
técnica considerada fácil, com ampla disponibilidade
de material, utilizada em vasos de grande calibre. As
desvantagens dessa abordagem são o desconforto do
paciente, pela necessidade de compressão local durante a retirada do introdutor, além da maior permanência em decúbito dorsal. As complicações pela
utilização da via femoral são os hematomas e sangramentos, com ou sem necessidade de transfusão sanguínea, pseudo-aneurisma, fístula arteriovenosa, trombose e infecção.
Os fatores de risco específicos para ocorrência de
tais complicações são: sexo feminino, idosos, obesos,
pacientes com baixo peso, portadores de hipertensão
arterial, utilização de anticoagulantes, fibrinolíticos, plaquetopenia, creatinina elevada, utilização de introdutores
mais calibrosos (> 8 French), longa permanência do
introdutor, utilização do balão intra-órtico, acesso venoso concomitante e necessidade de repetição da intervenção com intervalo inferior a 12 horas.
11
Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia – Intervenção Coronária Percutânea e Métodos Adjuntos Diagnósticos em
Cardiologia Intervencionista (II Edição – 2008)
Deve ser considerado um acesso alternativo à via
femoral quando houver história clínica de claudicação
dos membros inferiores, ausência de pulso pedioso, tibial posterior, poplíteo, presença de sopro na região
inguinal, cirurgia prévia com enxerto femoral, fibrose
inguinal expressiva (radioterapia, cirurgia, procedimentos percutâneos), doença arterial ou tortuosidade ilíaca
significativa, assim como incapacidade para manter o
decúbito após o procedimento.
A via radial, pelas suas características, constitui-se
atualmente em uma alternativa bastante interessante à
via femoral. Em nosso meio, é utilizada em cerca de
8% dos procedimentos2. Antes de se optar pelo acesso radial, deve-se realizar o teste de Allen para demonstrar circulação ulnar satisfatória para manter a
perfusão da mão, caso a artéria radial seja comprometida com o procedimento. Apresenta como vantagens
acesso fácil e rápido ao leito arterial, pela superficialidade do vaso, além de não haver grandes nervos e
veias em sua proximidade. As complicações neurovasculares e hemorrágicas são raras (sangramentos, fenômenos isquêmicos, hematomas, fístulas arteriovenosas,
pseudo-aneurismas). Outros pontos favoráveis desse
acesso são o conforto e a preferência do paciente,
com diminuição dos custos hospitalares, pois, dependendo do procedimento realizado, a deambulação e
a alta hospitalar são mais precoces20,21.
São critérios de exclusão para utilização da via radial: ausência de pulso radial ou enchimento do mesmo
por meio de circulação colateral (dissecção arterial prévia), assim como a presença de doença arterial periférica
do membro superior (síndrome de Raynaud e doença de
Buerger).
As complicações, embora raras, são: oclusão arterial (média de 5%, nos 30 dias), usualmente com compensação por meio de circulação da artéria palmar; espasmo arterial durante o procedimento em cerca de 10%
dos pacientes; e hematomas, que incidem em menos
de 1% dos pacientes. A curva de aprendizado exerce
influência nessa técnica, reduzindo a ocorrência dessas
complicações20,21.
A via braquial tem sido considerada um sítio alternativo de acesso. Sua utilização em nosso meio representa
cerca de 2% dos procedimentos2. A punção braquial é
controversa, pela dificuldade de compressão, sendo utilizada preferencialmente a dissecção arterial. Quando
comparada à via radial, apresenta maior ocorrência de
complicações neurovasculares e hemorrágicas. Sua grande
vantagem está relacionada também à deambulação precoce dos pacientes.
2.1 Hemostasia Manual e Utilização de Dispositivos
para Reparo Femoral
Nos procedimentos realizados pelas vias radial e
braquial, a hemostasia é obtida na maioria das vezes
por compressão mecânica (bandagem com relaxamento
progressivo). Na técnica femoral, a compressão manual é a forma mais comumente utilizada para se obter
a hemostasia. Dispositivos de compressão mecânica
(FemostopTM) e de reparo percutâneo da artéria femoral
(AngiosealTM, VasosealTM e PercloseTM) são raramente
empregados em nosso meio, principalmente pela limi-
TABELA 4
Comparação do desempenho dos acessos femoral, radial e
braquial para a efetivação de uma intervenção coronária percutânea
Técnica
Punção percutânea
Dissecção
Repetição do acesso
Tempo de observação
Experiência do operador
Treinamento atual
Experiência existente
Manipulação
Exposição radiológica
Seletividade
Complicações
Hemorragias
Perda de pulso
Transfusão
Cirurgia vascular
12
Femoral
Radial
Braquial
Sim
Não
Múltiplo
6-12 horas
Sim
Não
Moderado
< 4 horas
Não
Sim
Restrito
< 4 horas
Mais comum
Consagrado
Fácil
Menor
Difícil
Mais comum
Mais recente
Moderado
Maior
Fácil
Em declínio
Consagrado
Difícil
Maior
Fácil
Mais comum
Raro
Mais comum
Ocasional
Raro
Ocasional
Raro
Raro
Incomum
Ocasional
Raro
Ocasional
Rev Bras Cardiol Invas 2008;16(supl.2)
tação econômica. Metanálise reuniu cerca de 30 ensaios com mais de 4 mil pacientes, concluindo que
sua vantagem é marginal em relação à compressão
arterial manual, observando-se, ainda, aumento do
risco de hematomas e de surgimento de pseudoaneurisma com o emprego desses dispositivos22.
Recomendação e Nível de Evidência
Hemostasia da Via de Acesso após Punção Arterial Femoral
Dispositivos de hemostasia e reparo percutâneo
Recomendação
Nível de Evidência
IIb
A
13
Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia – Intervenção Coronária Percutânea e Métodos Adjuntos Diagnósticos em
Cardiologia Intervencionista (II Edição – 2008)
2.287 pacientes em 50 hospitais norte-americanos e
canadenses, no período de junho de 1999 até janeiro
de 2004, incluindo pacientes portadores de estenoses
coronárias superiores a 70% e com evidências objetivas de isquemia miocárdica significativa, randomicamente encaminhados para uma estratégia inicial de
ICP associada a tratamento clínico otimizado ou tratamento clínico otimizado isolado24.
3. Indicações Clínicas da Intervenção Coronária
Percutânea
3.1 Angina Estável e Isquemia Miocárdica Silenciosa
A aplicação da ICP em pacientes portadores de
angina estável e/ou assintomáticos portadores de provas detectoras de isquemia miocárdica é factível e
possibilita, na maioria dos pacientes, melhora dos sintomas e dos índices de qualidade de vida e redução
da utilização de farmacologia antianginosa, porém com
menor impacto na redução de desfechos maiores, como
a mortalidade23.
No seguimento clínico de 4,6 anos, não houve diferença no desfecho primário do estudo (composição entre morte e IAM não-fatal), embora os pacientes tratados
com a estratégia invasiva tenham apresentado melhora
significativa da freqüência de angina e da qualidade de
vida. O tratamento clínico otimizado envolveu uso intensivo de diversas medicações e rigorosa correção dos
fatores de risco (interrupção do tabagismo e exercícios
físicos regulares), além da elevada aderência tardia aos
medicamentos prescritos24.
As séries controladas utilizando a comparação pelo
método randômico reuniram pacientes submetidos a
diversas tecnologias já disponíveis para a aplicação da
ICP, desde os balões até os stents e, com menor freqüência, os stents farmacológicos. Metanálise agregou 11
estudos controlados apresentados até 2005, que compararam ICP com o cateter-balão ou implante de stents
coronários com diversas modalidades de tratamento
clínico (doses elevadas de estatinas e exercícios físicos),
em um total de 2.950 pacientes (Tabela 5). A análise
conjunta desses estudos demonstrou que a ICP não
promoveu modificação na ocorrência dos desfechos
tardios mais significativos, como mortalidade, ocorrência
de IAM e realização de cirurgia de revascularização do
miocárdio (Tabela 6)23.
Os resultados favoráveis do tratamento médico
devem ser considerados no contexto de que 32% dos
pacientes foram submetidos a um procedimento de
revascularização durante o seguimento do estudo, pela
incapacidade de controlar a angina somente com as
medidas terapêuticas clínicas (Tabela 7)25.
A busca por evidências do benefício proposto para
ambas as modalidades terapêuticas proporcionou a
efetivação de uma análise dedicada desse estudo com
o emprego da cintilografia do miocárdio. Cerca de 14%
dos pacientes reunidos no estudo COURAGE (n = 314)
foram submetidos de modo sistemático a exames de
perfusão miocárdica por meio da medicina nuclear,
antes e após o tratamento randomicamente selecionado
O ensaio COURAGE (Clinical Outcomes Utilizing
Revascularization and Aggressive Guideline-Driven Drug
Evaluation) constitui-se na referência para balizamento
da realização da ICP em pacientes portadores de angina
estável, até o presente momento. Esse estudo alocou
TABELA 5
Perfis clínico e angiográfico dos 11 estudos controlados reunidos em metanálise comparativa
entre intervenção coronária percutânea em pacientes portadores de angina estável
e/ou isquemia miocárdica silenciosa e tratamento clínico otimizado
Estudo
Tratamento
Clínico/ICP
(n)
Ano da
Inclusão
Média de Idade Sexo
Diabéticos
(anos)
Masculino
(%)
(%)
RITA-2
514/504
1992-1996
58
82
ACME-1
ACME-2
AVERT
Dakik et al.
MASS
MASS II
ALKK
Slevers et al.
Hambrecht et al.
Bech et al.
115/112
50/51
164/177
22/19
72/72
203/205
151/149
44/44
51/50
91/90
1987-1990
1987-1990
1995-1996
1995-1996
1988-1991
1995-2000
1994-1997
1997-2001
-
60
60
59
53
56
60
58
56
61
61
100
100
84
59
58
68
87
100
64
n = número de pacientes; ICP = intervenção coronária percutânea.
14
Infarto do
Miocárdio
Prévio (%)
Vasos
Acometidos
1/2/3
9
47
60/33/7
18
18
16
18
30
16
0
23
12
31
41
42
100
0
41
100
55
46
25
100/0/0
0/100/0
56/44/0
44/41/5
100/0/0
0/42/58
100/0/0
100/0/0
58/27/15
66/28/6
Fração de Seguimento
Ejeção
Clínico
(%)
(anos)
93%
(Normal)
68
67
61
46
76
67
63
65
7
5
5
1,5
1
5
1
4,7
2
1
2
Rev Bras Cardiol Invas 2008;16(supl.2)
TABELA 6
Sumário dos riscos relativos para ocorrência de desfechos adversos maiores nos pacientes reunidos em
metanálise comparativa entre intervenção coronária percutânea em pacientes portadores de angina
estável e/ou isquemia miocárdica silenciosa e tratamento clínico otimizado
Desfecho Analisado
(n = 2.950 pacientes)
Redução de Risco
(IC 95%)
Mortalidade
Mortalidade cardíaca ou infarto do miocárdio
Infarto do miocárdio não-fatal
Cirurgia de revascularização
Nova intervenção coronária percutânea
0,94
1,17
1,28
1,03
1,23
Valor
de p
(0,72-1,24)
(0,88-1,57)
(0,94-1,75)
(0,80-1,33)
(0,80-1,90)
0,68
0,28
0,12
0,82
0,34
IC 95% = intervalo de confiança de 95%.
TABELA 7
Eventos clínicos cumulativos aos 4,6 anos de seguimento clínico do estudo COURAGE
(Clinical Outcomes Utilizing Revascularization and Aggressive Guideline-Driven Drug Evaluation)
Desfecho/Tratamento
(Pacientes)
Morte
Infarto do miocárdio não-fatal
Morte e/ou infarto do miocárdio
Acidente vascular cerebral
Internação hospitalar
(síndrome coronária aguda)
Nova revascularização miocárdica
Intervenção Coronária
Percutânea (n = 1.149)
Tratamento Clínico
(n = 1.138)
Risco Relativo
(IC 95%)
7,6%
13,2%
19,1%
2,1%
8,3%
12,3%
18,5%
1,8%
0,87
1,13
1,05
1,56
12,4%
21,1%
11,8%
32,6%
1,07 (0,84-1,37)
0,60 (0,51-0,71)
(0,65–1,16)
(0,89-1,43)
(0,87-1,27)
(0,80-3,04)
Valor de p
0,38
0,33
0,62
0,19
0,56
< 0,001
n = número de pacientes; IC 95% = intervalo de confiança de 95%.
(6 até 18 meses). A análise dos resultados demonstra que
aqueles submetidos a ICP apresentavam número menor de
áreas de isquemia miocárdica (-2,7%; intervalo de confiança de 95% [IC 95%] = -1,7% a -3,8%), quando cotejados com os pacientes submetidos a tratamento médico
otimizado (-0,5%; IC 95% = -1,6% a -0,6; p < 0,0001). Um
porcentual mais expressivo de pacientes tratados invasivamente
exibiu significativa redução da isquemia miocárdica (33%
versus 19%; p = 0,0004), especialmente aqueles com
evidência de áreas isquêmicas de moderada a significativa relevância. Como conseqüência, os pacientes alocados
no tratamento intervencionista usufruíram taxas não ajus-
tadas menores relacionadas à ocorrência de óbito ou
IAM (p = 0,037), em especial aqueles portadores de
evidência prévia ao tratamento de isquemia miocárdica
de graus moderado a significativo (p < 0,001)26.
O conjunto de evidências reunidas até o momento
demonstra que a ICP está associada a maior redução dos
sintomas anginosos, melhor tolerância ao exercício e
melhor qualidade de vida, quando comparada ao tratamento clínico, embora não haja benefício na redução de
eventos cardiovasculares maiores até a evolução de cinco anos, período analisado até este momento na maioria
dos estudos já apresentados27.
15
Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia – Intervenção Coronária Percutânea e Métodos Adjuntos Diagnósticos em
Cardiologia Intervencionista (II Edição – 2008)
Recomendações e Níveis de Evidência
Intervenção Coronária Percutânea na Angina Estável e Isquemia
Miocárdica Silenciosa
Recomendação
Nível de Evidência
Angina limitante (inaceitável para o paciente) a despeito de tratamento medicamentoso otimizado em pacientes uni ou multiarteriais, com anatomia favorável à intervenção coronária percutânea
e com baixo risco de complicações
Arritmia ventricular potencialmente maligna inequivocamente associada à isquemia miocárdica em pacientes uni ou multiarteriais,
com anatomia favorável à intervenção coronária percutânea e com
baixo risco de complicações
Angina limitante (inaceitável para o paciente) a despeito de tratamento medicamentoso otimizado em pacientes com estenose grave de tronco da artéria coronária esquerda, não-elegíveis para cirurgia de revascularização miocárdica
Grande área de isquemia ou miocárdio em risco em pacientes uni
ou multiarteriais assintomáticos
I
A
I
C
I
C
IIa
A
IIb
C
III
A
III
C
III
B
III
C
Estenose grave do tronco da artéria coronária esquerda em pacientes assintomáticos ou com sintomas anginosos leves, não-elegíveis
para cirurgia de revascularização miocárdica
Pequena a moderada área de isquemia ou miocárdio em risco em
pacientes uni ou multiarteriais assintomáticos ou com sintomas
anginosos aceitáveis após tratamento medicamentoso otimizado
Lesões com baixa probabilidade de sucesso ou alta morbidade ou
mortalidade para intervenção coronária percutânea
Estenose do tronco da artéria coronária esquerda em pacientes
candidatos a cirurgia de revascularização miocárdica
Intervenção coronária percutânea em estenoses < 50%
16
Rev Bras Cardiol Invas 2008;16(supl.2)
3.2 Angina Instável e Infarto Agudo do Miocárdio
sem Supradesnível do Segmento ST
A estratificação de risco é fundamental na tomada
de decisão quanto à indicação de ICP em pacientes
portadores de síndromes isquêmicas miocárdicas instáveis (SIMI), recomendando-se um processo contínuo,
desde a avaliação clínica inicial e exames subsidiários,
culminando com os métodos complementares28,29.
Dois sistemas de escores gradativos qualificativos e
preditores de risco prognóstico são utilizados e reconhecidos como capazes de agrupar os pacientes portadores de SIMI em três grupamentos distintos (baixo,
moderado e alto risco), relacionados à ocorrência de
desfechos adversos maiores (escore TIMI e GRACE).
Após sua devida classificação, se oferecem estratégias
diagnósticas confirmatórias e terapêuticas distintas28,29.
A realização da cinecoronariografia e da ventriculografia esquerda permite a precisa identificação da extensão e da gravidade das obstruções e análise da função ventricular. Desde muitos anos, graças à facilidade
e à rapidez diagnóstica proporcionada pela realização
desse exame diagnóstico, duas estratégias emergem para
o tratamento dos enfermos acometidos de SIMI: “estratégia invasiva precoce” e “estratégia conservadora”28,29.
Pacientes submetidos à denominada “estratégia invasiva”, usualmente, realizam a cinecoronariografia em
quatro até 72 horas após a admissão hospitalar, e quando
evidenciada a necessidade procede-se à revascularização
do miocárdio de imediato por meio de ICP ou à indicação de cirurgia com brevidade. Essa conduta pode
ainda ser dividida em dois grupos: o primeiro, relacionado a enfermos com instabilidade hemodinâmica, elétrica
ou sinais e sintomas de isquemia miocárdica persistente, em que é necessária urgência na submissão a esse
exame diagnóstico. O segundo grupo, bem mais freqüente, é constituído por pacientes submetidos a estratificação de risco inicial e que por determinação clínica se submetem a cinecoronariografia com brevidade
(< 72 horas), mas sem a urgência mencionada no
primeiro grupo28-31.
O uso rotineiro dessa estratégia, com até 72 horas
de admissão hospitalar por ocorrência de uma SIMI,
proporciona a identificação de 10% a 20% dos pacientes isentos de obstrução coronária significativa, assim
como a mesma proporção de pacientes de mais alto
risco portadores de doença coronária múltipla grave,
estenoses no tronco da artéria coronária esquerda
associada ou não a disfunção ventricular esquerda.
Para os restantes 60% a 70%, a realização de uma ICP
no vaso culpado pela SIMI significará melhor prognóstico tardio28-32.
Excluindo-se aqueles que necessitam da estratégia
emergencial, duas alternativas relacionadas à “estratégia invasiva” são factíveis: imediata (< 12 horas) ou
protelada (12-72 horas). As evidências favoráveis à adoção
de uma estratégia imediata são provenientes do estudo
ISAR-COOL (Intracoronary Stenting with Antithrombotic
Regimen Cooling-off Study), controlado por investigadores da Universidade de Munique. Nesse estudo, 410
pacientes foram tratados com terapia médica máxima,
incluindo ácido acetilsalicílico, heparina, clopidogrel
(600 mg de bolus), e administração intravenosa de
inibidores do complexo IIb/IIIa. Metade foi randomicamente selecionada para a performance de cinecoronariografia e ICP, se necessária, com retardo de 2,4
horas, e a outra metade, para uma estratégia mais expectante, com efetivação da cinecoronariografia com retardo médio de 86 horas. Aqueles randomizados para a
estratégia ultra-rápida, quase emergencial, apresentaram taxa significativamente menor de IAM e mortalidade ao final de 30 dias (5,9% versus 11,6%; p < 0,04).
É importante salientar que essas taxas foram obtidas à
custa da redução de eventos prévios à cinecoronariografia.
Análises adicionais são bem-vindas para fortalecer ou
não a adoção dessa estratégia, visto que o número
total de pacientes tratados com essa sistemática não
foi expressivo32.
A “estratégia conservadora” está reservada para aqueles
pacientes estratificados como de baixo risco, principalmente com ausência de alterações significativas ao eletrocardiograma e marcadores bioquímicos dentro dos limites
da normalidade. Nesses pacientes, se não existir a disponibilidade logística para a realização de cinecoronariografia com brevidade, é possível prescrever provas
detectoras de isquemia miocárdica e avaliação objetiva
da função contrátil do ventrículo esquerdo. Na evidência
de alterações compatíveis com isquemia miocárdica,
procede-se então a cinecoronariografia.
3.2.1 Comparação das Estratégias Invasiva e
Conservadora
Metanálise previamente publicada concluiu que a
estratégia invasiva é superior à conservadora (Figuras
1 e 2)31. O único estudo controlado que não obteve
concordância plena com os demais foi o estudo ICTUS
(Invasive versus Conservative Treatment in Unstable
coronary Syndromes), que recomendou a utilização
de uma estratégia invasiva, porém mais seletiva. O
grupo “invasivo” efetivou a cinecoronariografia entre
24 e 48 horas após a admissão hospitalar e aqueles
“invasivos seletivos” somente realizaram angiografia
coronária e eventual revascularização do miocárdio
na evidência de angina refratária ao tratamento clínico
máximo, instabilidade hemodinâmica ou elétrica, ou
comprovação de isquemia miocárdica significativa em
provas detectoras funcionais efetivadas previamente à
alta hospitalar. Esse estudo recrutou 1.200 pacientes
e os comparou com uma abordagem invasiva rotineira
e outra seletiva. Ao final de um ano de seguimento
clínico, não se observaram diferenças no objetivo composto do referido ensaio, e sustentadas até o seguimento
de três anos. Esse ensaio requereu a positividade das
troponinas, e esses marcadores, de maneira isolada,
não configuram o critério mais adequado para a estra17
Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia – Intervenção Coronária Percutânea e Métodos Adjuntos Diagnósticos em
Cardiologia Intervencionista (II Edição – 2008)
tégia seletiva, além de terem propiciado a elevação
das taxas de infarto após a ICP, um critério rigoroso
e em desacordo com a definição universal de infarto11.
Além disso, cerca de metade do grupo de pacientes
selecionados como “invasivos seletivamente” (47%)
foi submetida a um procedimento de revascularização
miocárdica33.
Sete estudos incluíram 8.375 pacientes, com uma
média de seguimento clínico de dois anos, e a incidência
de mortalidade aferida foi de 4,9% para aqueles alocados
na estratégia invasiva, comparativamente a 6,5% daqueles selecionados para estratégia conservadora (risco relativo [RR], 0,75; IC 95%, 0,63 a 0,90; p = 0,001).
A redução da ocorrência de IAM tardio também foi
expressiva e favorável à estratégia invasiva, 7,6% versus
9,1% (RR, 0,83; IC 95%, 0,72 a 0,96; p = 0,012),
respectivamente. No seguimento clínico de 13 meses,
observou-se também redução das taxas de re-hospitalização em ocorrência de nova SIMI (RR, 0,69; IC
95%, 0,65 a 0,74; p = 0,0001).
A análise em conjunto desses estudos também
demonstrou que a realização da estratégia invasiva muito
precoce (média, 9,3 horas) não ofereceu vantagem muito
expressiva em relação à redução adicional da mortalidade, comparativamente àqueles submetidos a cinecoronariografia e revascularização (quando necessária) com
intervalo maior (média, 39,4 horas). Em contraste, quando
grande proporção dos pacientes previamente selecionados para estratégia conservadora foi submetida à
estratégia invasiva, por recorrência dos sintomas anginosos
ou isquemia miocárdica persistente, observou-se grande benefício na elevação das taxas de sobrevida tardia
(Figuras 1 e 2).
O conjunto desses ensaios é favorável à prescrição
da “estratégia invasiva”, pois reduziu a mortalidade e a
ocorrência de IAM tardio assim como a re-hospitalização
por SIMI28-31.
Figura 1 - Risco relativo comparativo para ocorrência de desfechos
adversos maiores entre a estratégia conservadora ou invasiva em
pacientes portadores de síndromes isquêmicas miocárdicas instáveis
(SIMI) (seguimento de dois anos): em (A), risco de mortalidade global;
em (B), risco de ocorrência de infarto do miocárdio; em (C), risco de
nova hospitalização por SIMI (seguimento de 13 meses). FRISC-II =
FRagmin and fast Revascularization during InStability in Coronary artery
disease; ICTUS = Invasive versus Conservative Treatment in Unstable
coronary Syndromes; ISAR-COOL = Intracoronary Stenting with Antithrombotic
Regimen COOLing-off study; RITA-3 = Third Randomized Intervention
Treatment of Angina trial; TIMI-18 = Thrombolysis In Myocardial Infarction18; TRUCS = Treatment of Refractory Unstable angina in geographically
isolated areas without Cardiac Surgery; VINO = Value of first day
angiography/angioplasty In evolving Non-ST segment elevation myocardial
infarction: Open multicenter randomized trial.
18
Figura 2 - Taxas de mortalidade e infarto agudo do miocárdio em seis
estudos controlados comparando a estratégia invasiva precoce (barras
preenchidas) e conservadora (barras vazias). IC de 95% = intervalo
de confiança de 95%; NNT = número necessário para tratamento para
evitar a ocorrência do efeito verificado.
Rev Bras Cardiol Invas 2008;16(supl.2)
Recomendações e Níveis de Evidência
Cinecoronariografia e Intervenção Coronária Percutânea na Síndrome Coronária Aguda Sem Supradesnível do Segmento ST
Recomendação
Nível de Evidência
Cinecoronariografia emergencial em pacientes com angina refratária
ou recorrente, com alterações dinâmicas do segmento ST ou sinais
de insuficiência cardíaca, instabilidade hemodinâmica ou elétrica
I
C
Pacientes classificados como de moderado a alto risco, realização
de cinecoronariografia precoce (< 72 horas) associada a intervenção coronária percutânea para aqueles com anatomia favorável
I
A
Pacientes classificados como de moderado a alto risco, realização
de cinecoronariografia muito precoce (< 12 horas) associada a intervenção coronária percutânea para aqueles com anatomia favorável
IIb
B
Pacientes classificados como de baixo risco, realização de cinecoronariografia precoce (< 72 horas) na ausência de evidências de
isquemia miocárdica
IIb
B
19
Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia – Intervenção Coronária Percutânea e Métodos Adjuntos Diagnósticos em
Cardiologia Intervencionista (II Edição – 2008)
3.3 Infarto Agudo do Miocárdio com Supradesnível
do Segmento ST
A ICP primária é a utilização de cateter-balão ou
o implante do stent coronário sem uso prévio de fibrinolítico, com o objetivo de restabelecer o fluxo coronário anterógrado de maneira mecânica. Essa técnica, quando disponível, constitui-se na melhor opção
para a obtenção da reperfusão coronária, se iniciada
até 90 minutos após o diagnóstico do IAM34,35. Para os
pacientes com contra-indicação para fibrinólise ou na
vigência do choque, a ICP primária é também a opção
preferencial34,35.
Os critérios de inclusão para a realização da ICP
primária são amplos, favorecendo quase todos os
pacientes acometidos pelo IAM. A cinecoronariografia
realizada imediatamente antes do procedimento
terapêutico determina os critérios de exclusão:
• Impossibilidade de identificar com clareza o
vaso coronário responsável pelo infarto;
• Infarto relacionado à oclusão de ramos secundários responsáveis pela irrigação de pequenas
áreas do miocárdio;
• Presença de doença coronária multiarterial grave, em paciente assintomático, com o vasoalvo com fluxo coronário TIMI grau 3, evidenciando indicação para revascularização cirúrgica do miocárdio;
• Constatação de fluxo coronário normal (TIMI
grau 3) associado a estenose coronária ≤ 70%
no vaso-alvo.
3.3.1 Comparação com os Fibrinolíticos
Inúmeras séries consecutivas, registros e ensaios
randomizados comprovaram as vantagens desse método, se comparado à fibrinólise. A ICP primária é capaz
de restabelecer o fluxo coronário epicárdico normal
(TIMI grau 3) em mais de 90% dos pacientes, associado
a reduzidas taxas de isquemia recorrente e reinfarto,
sem o risco da ocorrência de complicações hemorrágicas
graves, como acidente vascular cerebral (AVC)34-36.
Até o momento, 23 ensaios compararam os dois
métodos, utilizados em 7.739 pacientes, agregados em
uma revisão sistemática, em que 76% dos pacientes
submetidos a fibrinólise receberam alteplase34. Ao final
dos primeiros 30 dias, a ICP primária reduziu a mortalidade (7% versus 9%; p = 0,0002), o reinfarto (2,5%
versus 6,8%; p < 0,0001) e o AVC (1% versus 2%;
p = 0,0004). A estreptoquinase foi utilizada em 1.837
pacientes, nos quais o gradiente favorável à redução da
mortalidade foi ainda maior, comparativamente àqueles
submetidos a ICP primária (10% versus 5%; p < 0,0001)34,35.
3.3.2 Intervenção Coronária Percutânea
Primária com Implante de Stent Coronário
O implante de stents coronários pode ser efetivado com segurança, de acordo com o perfil angiográfico,
20
após a realização da cinecoronariografia. Sua utilização reduziu significativamente as taxas de nova revascularização do vaso-alvo tardia, porém sem reduzir a
mortalidade ou o reinfarto, quando comparado à aplicação do cateter-balão, que tenha proporcionado resultado considerado ótimo (estenose residual < 30%,
ausência de linhas de dissecção residuais e fluxo coronário grau 3). Contudo, análise conjunta de todos esses
estudos (13 ensaios e 6.922 pacientes incluídos) evidenciou benefícios adicionais não aquilatados na apresentação individualizada de cada um desses ensaios. A
aplicação de escores de risco demonstrou significativa
redução da mortalidade naqueles rotulados como de
alto risco, alocados para o implante sistemático de stents
coronários37.
Não é recomendado implantar stent coronário na
vigência de IAM na evidência de:
• Estenose em ramo secundário calibroso (≥ 3,0 mm),
não passível de tratamento percutâneo;
• Forte possibilidade da ocorrência do fenômeno
de no reflow, quando do implante do stent em
vasos com grande quantidade de trombo não
tratado adequadamente (defeito de enchimento
globular duas vezes maior que o diâmetro de
referência do vaso-alvo);
• Tortuosidade e/ou calcificação de grau elevado, que impeçam a progressão da endoprótese
até a lesão-alvo.
Mais recentemente, a aplicação de stents farmacológicos foi também estendida a pacientes infartados. Essa
nova geração de endopróteses impede ou reduz a divisão celular no local do implante (lesão-alvo), proporcionando taxas reduzidas de reestenose tanto clínica como
angiográfica. Os resultados serão expostos na seção dedicada aos stents coronários.
3.3.3 Suporte de Equipe de Cirurgia Cardíaca
Diretrizes anteriores recomendavam a realização do
método em um centro terciário, com uma equipe treinada e disponível diariamente, 24 horas, associado à presença de equipe de cirurgia cardíaca7,38. Algumas dessas
premissas passaram por revisão e, na vigência do procedimento no IAM a recomendação formal presencial de
equipe de cirurgia cardíaca foi modificada38-40.
Uma única série randomizada norte-americana comparou a ICP primária realizada em um centro primário,
sem suporte cirúrgico presencial (n = 225) com a alteplase
(n = 226), demonstrando bons resultados imediatos (óbito: 5,3% versus 7,1, p = 0,44; reinfarto: 4,9% versus 8,8%,
p = 0,09; e AVC: 1,3% versus 3,5%, p = 0,13) para ICP
e alteplase, respectivamente. A ICP primária foi efetivada sem a presença de um centro cirúrgico no local do
procedimento, e os operadores foram submetidos a
treinamento prévio39.
Na vigência do IAM, o procedimento pode ser
realizado sem suporte cirúrgico presencial, desde que
Rev Bras Cardiol Invas 2008;16(supl.2)
exista um sistema de suporte à distância, funcionante
e ativo, com funcionalidade plena e retardo inferior a
60 minutos38-40.
3.3.4 Experiência do Centro e do Operador
Em relação à experiência do operador, registro norteamericano evidenciou que os centros que realizaram
mais de 33 ICPs primárias por ano exibem menores
taxas de mortalidade, quando comparados a hospitais
com experiência anual menor38.
O número de casos realizados na vigência do IAM
por um centro, anualmente, não preconiza contra-indicação. Centros com maior experiência proporcionaram
tendência a resultados melhores. É recomendação desta Diretriz que cada centro verifique, periodicamente,
seu desempenho em relação à ocorrência dos desfechos adversos maiores41.
3.3.5 Indicações de Transferência para
Realização da Intervenção Coronária
Percutânea Primária
Em pacientes admitidos em hospitais sem facilidades adequadas para a realização de ICP primária, pode
ser feita uma seleção no sentido de tratá-los imediatamente com fibrinolítico ou proceder a transferência para
um centro que realize ICP primária.
Uma revisão sistemática, englobando 3.750 enfermos incluídos em ensaios randomizados dedicados à
análise da transferência para ICP primária ou do tratamento imediato com fibrinolíticos, demonstrou benefícios favoráveis à estratégia de transferência em comparação à administração de fibrinolíticos (mortalidade: 7,8%
versus 10,0%, p = 0,086; reinfarto: 1,5% versus 5,1%,
p < 0,0001; e AVC: 0,6% versus 1,9%, p = 0,015), para
transferência para ICP primária ou fibrinólise, respectivamente. O retardo para transferência variou de 70 minutos até 3 horas42.
Nessa metanálise, está incluso um estudo controlado francês que utilizou a fibrinólise de forma préhospitalar. Quando esses enfermos são retirados da
análise (n = 840), a mortalidade da ICP primária é
significativamente menor (6,7%), mesmo com o tempo
gasto para a transferência, quando comparada à fibrinólise hospitalar (8,9%; p = 0,035)42.
Essa modalidade de tratamento, a transferência para
ICP primária, ainda enfrenta dificuldades e restrições
logísticas para sua universalização, em decorrência do
perfil heterogêneo e particular das mais diversas comunidades, e de um país para outro, mas cresce progressivamente sua organização nas diferentes comunidades e meios urbanos na esfera mundial, assim como no
meio rural43-45.
Os pacientes preferenciais para a transferência são:
• Início dos sintomas do IAM > 3 horas até < 12
horas;
• Contra-indicação para fibrinólise;
• Expectativa da transferência, do diagnóstico até
o início da ICP primária, inferior a 120 minutos;
• Transporte rodoviário ou aéreo em ambiente de
terapia intensiva com monitoramento médico
treinado.
A viabilidade da criação de um sistema de transferência amplo suficiente para atender às diversas comunidades ainda é um desafio a ser implementado. Apenas um
desses estudos dedicados de transferências estratificou os
resultados de acordo com o risco prévio dos enfermos
infartados transferidos. Dos 1.527 pacientes recrutados,
1.134 (73,8%) foram classificados como de baixo risco,
de acordo com a classificação TIMI (0-4 pontos), e os
demais, como de alto risco (> 5 pontos). A mortalidade
aos 30 dias desses pacientes transferidos para ICP
primária ou submetidos a fibrinólise imediata, de acordo com o risco prévio, apresentou redução significativa naqueles classificados como de alto risco (25,1%
versus 36,2%; p = 0,0002). Na maioria dos demais pacientes de baixo risco, a redução da mortalidade foi limítrofe (5,6% versus 8,0%; p = 0,11)46.
Diversos registros e esforços comunitários têm sido
apresentados, no Canadá e nos Estados Unidos, corroborando os resultados da metanálise que validou e estimulou a implementação dessa estratégia, e todos em
uníssono salientam a necessidade de integração multiprofissional, que proporciona a redução do retardo para
o tratamento com a ICP primária, com altos níveis de
segurança e evidenciando conquistas expressivas na oferta
de um tratamento mais eficaz para o IAM, com morbidade
e mortalidade semelhantes às de infartados submetidos
a ICP primária em um centro terciário47-49.
21
Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia – Intervenção Coronária Percutânea e Métodos Adjuntos Diagnósticos em
Cardiologia Intervencionista (II Edição – 2008)
Recomendações e Níveis de Evidência
Intervenção Coronária Percutânea no Infarto Agudo do Miocárdio com Supradesnível do Segmento ST
Recomendação
Nível de Evidência
Pacientes com diagnóstico de infarto agudo do miocárdio com
sintomas iniciados < 12 horas e com a viabilidade de efetivar o
procedimento com retardo < 90 minutos após o diagnóstico*
I
A
Transferência para um centro de cardiologia intervencionista dos
infartados com contra-indicação formal para a fibrinólise, com
retardo superior a 3 horas do início dos sintomas, expectativa de
realizar intervenção coronária percutânea primária em < 90 minutos
e com disponibilidade logística, reconhecida e ativa, de um sistema
de transporte (aéreo ou rodoviário) com retardo de deslocamento
entre o centro diagnóstico e o intervencionista < 120 minutos
I
A
Transferência de um centro clínico para um de cardiologia intervencionista de todos os infartados com disponibilidade logística,
reconhecida e ativa, de um sistema de transporte (aéreo ou rodoviário) com retardo de deslocamento entre o centro diagnóstico
e o intervencionista < 120 minutos
IIa
A
Submeter pacientes infartados a transferência para um centro de
cardiologia intervencionista sem a devida preparação logistica para
a execução dessa prescrição e/ou diante de expectativa de retardo
> 120 minutos
III
A
* Suporte cirúrgico presencial não é obrigatório, desde que exista um sistema de suporte à distância, funcionante e ativo, com sua
ativação com retardo inferior a 60 minutos; a classificação recomenda que os centros intervencionistas pratiquem > 75 casos de
intervenção coronária percutânea/ano e > 12 casos no IAM/ano.
22
Rev Bras Cardiol Invas 2008;16(supl.2)
3.4 Intervenção Coronária Percutânea no Infarto
Agudo do Miocárdio após a Fibrinólise
A ICP pode ser realizada após a fibrinólise em três
situações distintas: salvamento ou resgate, facilitadora da
reperfusão mecânica ou imediata (eletiva), após a administração de fibrinolíticos.
3.4.1 Resgate
A ICP de resgate foi aferida em menor número de
ensaios clínicos desde a introdução da angioplastia
coronária praticada na vigência do IAM. Previamente ao
advento dos stents coronários e da farmacologia adjunta
contemporânea (tienopiridínicos, inibidores da trombina
e do complexo IIb/IIIa), os resultados foram insatisfatórios
em algumas séries, evidenciando taxas de sucesso inferiores a 70%, com repercussão na elevação da mortalidade ao final do primeiro mês (Figuras 3 e 4)50,51.
Após o advento dos stents coronários e da farmacologia antiplaquetária, dois ensaios clínicos dedicados foram efetivados, reunindo aproximadamente 600
pacientes. Os mesmos apresentaram recrutamento lento
e um deles, interrupção prévia à conclusão da amostra inicialmente desejada (Figuras 3 e 4).
O ensaio REACT (Rescue Angioplasty after Failed
Thrombolytic Therapy for Acute Myocardial Infarction)
efetivou a comparação randômica entre as três possibilidades terapêuticas para os infartados com evidências
de insucesso da fibrinólise. O critério de inclusão maior
desses dois ensaios foi a persistência da elevação do
segmento ST > 50%, em comparação ao eletrocardiograma inicial prévio à fibrinólise. Os pacientes foram
aleatoriamente comparados entre realização da ICP de
resgate, nova administração de fibrinolítico e tratamento
conservador. A mortalidade foi reduzida em 50% naqueles submetidos a ICP de resgate, comparados àqueles com nova fibrinólise51.
Na mais recente metanálise que reuniu todos esses
ensaios, foi possível observar uma tendência para a
redução das taxas de mortalidade naqueles enfermos
submetidos a ICP de resgate, de 10,4% para 7,3% (RR,
0,69; IC 95%, 0,46 a 1,05; p = 0,09), das taxas de
reinfarto de 10,7% para 6,1% (RR, 0,58; IC 95%, 0,35
a 0,97; p = 0,04), e da ocorrência de insuficiência
cardíaca de 17,8% para 12,7% (RR, 0,73; IC 95%,
0,54 a 1,00; p = 0,05). Esses benefícios recomendam
o procedimento em pacientes de alto risco, inclusos
nesses ensaios, mas não respondem ao questionamento
naqueles de menor risco. Além disso, um balanço dos
riscos e benefícios deve ser efetivado, pois a ocorrência de sangramento maior não é desprezível e promove morbidade associada36,51.
Figura 3 - Risco para ocorrência de óbito em pacientes submetidos a intervenção coronária percutânea (ICP) de resgate comparada ao tratamento
conservador ao final de 30 dias dos estudos randômicos. Os pacientes alocados para a realização de ICP de resgate exibiram mortalidade
significativamente menor.
23
Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia – Intervenção Coronária Percutânea e Métodos Adjuntos Diagnósticos em
Cardiologia Intervencionista (II Edição – 2008)
Figura 4 - Risco para ocorrência de óbito e reinfarto em pacientes submetidos a intervenção coronária percutânea (ICP) de resgate comparada
ao tratamento conservador ao final de 30 dias dos estudos randômicos. Os pacientes alocados para a realização de ICP de resgate exibiram
mortalidade significativamente menor.
Recomendações e Níveis de Evidência
Intervenção Coronária Percutânea de Resgate após Fibrinólise
Recomendação
Nível de Evidência
Pacientes submetidos a fibrinólise que exibem falência ventricular
e/ou edema pulmonar (Killip III) ou arritmias que promovam comprometimento hemodinâmico
I
B/C
Pacientes com persistência de dor precordial e elevação > 50% do
segmento ST > 1 derivação eletrocardiográfica (não regressão ou
nova elevação < 12 horas do início do infarto do miocárdio)
I
A
Pacientes com evidência de falência da fibrinólise em decorrência
de resolução do segmento ST < 50% aos 90 minutos após o tratamento na derivação eletrocardiográfica com maior elevação inicial e com área de miocárdio em risco de moderada a grande (anterior e inferior com comprometimento do ventrículo direito)
IIa
B
24
Rev Bras Cardiol Invas 2008;16(supl.2)
3.4.2 Intervenção Coronária Percutânea
Facilitada
ICP facilitada é uma intervenção planejada, efetivada nas primeiras 12 horas após o início dos sintomas
do infarto, logo após a administração de fármacos que
dissolvam o trombo oclusivo (fibrinolíticos e/ou inibidores
do complexo IIb/IIIa), reduzindo o retardo entre o contato médico e a efetivação da ICP52.
Com o advento de fibrinolítico administrado em
bolus e dos inibidores do complexo IIb/IIIa intravenosos,
associado aos stents coronários, retomou-se o conceito
de tratamento conjunto, isto é, associação planejada de
estratégias farmacológicas e intervencionistas para ampliar e refinar a reperfusão no IAM. Esse conceito é
rotulado como “estratégia fármaco-invasiva”.
Diversos estudos dedicados já foram efetivados
administrando inibidores do complexo IIb/IIIa, fibrinolíticos ou inibidores com metade da dose de fibrinolíticos, de modo sistemático, prévio à realização da
ICP, nesses pacientes infartados. Todos os estudos
planejados, desde aqueles exploratórios das vantagens dessa estratégia (amostra menor de pacientes) até
dois estudos pivôs, com mais de 3 mil pacientes recrutados, já foram apresentados. Até o momento, os
resultados foram similares ou mesmo inferiores, quando comparados com a estratégia reconhecida de ICP
primária52,53.
Os resultados da maioria desses ensaios foram reunidos em metanálise e publicados em 2006, abrangendo
4.500 pacientes. Destes, 1.148 pacientes foram randomizados para facilitação apenas com a administração de
inibidores do complexo IIb/IIIa (abciximab e peptídeos
de cadeia pequena) e ICP primária. Os desfechos adversos maiores não foram modificados, seja a mortalidade
(3,0%), o reinfarto (1,0%), uma nova revascularização
de emergência (2,0%) e sangramentos maiores (5,0%
versus 7,0%; p = NS). Portanto, a administração sistemática de inibidores do complexo IIb/IIIa previamente
à ICP não fornece benefícios adicionais, mantendo inalteradas as taxas de ocorrência de eventos adversos
maiores (Figuras 5 a 7)52.
Figura 5 - Mortalidade a curto prazo em pacientes submetidos a intervenção coronária percutânea facilitada ou primária.
25
Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia – Intervenção Coronária Percutânea e Métodos Adjuntos Diagnósticos em
Cardiologia Intervencionista (II Edição – 2008)
Figura 6 - Revascularização emergencial do vaso-alvo em pacientes submetidos a intervenção coronária percutânea facilitada ou primária.
Figura 7 - Sangramento significativo a curto prazo em pacientes submetidos a intervenção coronária percutânea facilitada ou primária.
26
Rev Bras Cardiol Invas 2008;16(supl.2)
Nesta mesma metanálise, 2.963 pacientes receberam fibrinolíticos em dose plena (tenecteplase) ou metade
da dose (tenecteplase ou reteplase). Os desfechos
adversos maiores contabilizaram um efeito deletério,
isto é, aqueles randomicamente selecionados para
admissão de fibrinolíticos apresentam maiores taxas
de mortalidade (6,0% versus 4,0%; p = 0,042), reinfarto
(4,0% versus 2,0%; p = 0,006), necessidade de reintervenção emergencial (5,0% versus 1,0%; p < 0,0001)
e ocorrência de AVC (1,6% versus 0,3%; p = 0,002)52
(Figuras 5 e 6).
O mais recente ensaio dedicado à avaliação dessa estratégia apresentou seus resultados em 2.452 pacientes infartados, alocados randomicamente em três grupos de tratamento. Os pacientes submetidos a combi-
nação com fibrinolítico e inibidores do complexo IIb/
IIIa prévio à realização da ICP exibiram uma taxa mais
expressiva de resolução imediata da elevação do segmento ST (43,9%), comparados àqueles somente tratados com abciximab e ICP (33,1%) ou da ICP primária (31,0%; p = 0,01 e p = 0,003, respectivamente). O
objetivo primário do estudo (óbito de qualquer causa,
fibrilação ventricular > 48 horas após a randomização,
choque cardiogênico e insuficiência cardíaca diagnosticados < 90 dias da inclusão) foi similar entre as
duas estratégias facilitadoras e a prática rotineira da
ICP primária (9,8%, 10,5% e 10,7%; p = 0,55; combinação fibrinolítico e inibidores do complexo IIb/IIIa,
abciximab e ICP primária, respectivamente). A mortalidade aos 90 dias aferida foi de 5,2%, 5,5% e 4,5%
(p = 0,49), respectivamente53.
Recomendação e Nível de Evidência
Intervenção Coronária Percutânea Facilitada
Administração sistemática de inibidores do complexo IIb/IIIa e/ou
fibrinolíticos previamente à intervenção coronária percutânea no
infarto agudo do miocárdio
Recomendação
Nível de Evidência
III
A
27
Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia – Intervenção Coronária Percutânea e Métodos Adjuntos Diagnósticos em
Cardiologia Intervencionista (II Edição – 2008)
3.4.3 Intervenção Coronária Percutânea Eletiva
após a Fibrinólise
À semelhança dos resultados clínicos observados
com a aplicação da ICP de resgate, a prescrição de
angioplastia coronária, de modo sistemático, em pacientes submetidos a fibrinólise com sinais clínicos de
reperfusão satisfatória, isto é, assintomáticos e sem sinais objetivos de isquemia miocárdica aguda, era considerada contra-indicação, na disponibilidade única dos
cateteres-balão e farmacologia antiplaquetária simples50.
Novas séries randômicas, já incorporando os stents
coronários e farmacologia contemporânea, evidenciaram
resultados mais favoráveis. Metanálise reuniu e comparou
as duas fases distintas descritas e demonstrou que, nos
três estudos mais recentes (n = 832), a aplicação sistemática e precoce (< 72 horas após a fibrinólise) promoveu
tendência a menor mortalidade (3,8% versus 6,7%; p =
0,07; RR, 56%), quando cotejada com o tratamento conservador (indicação de ICP apenas diante de sinais e
sintomas de isquemia miocárdica aguda). A redução da
recorrência do IAM foi significativamente menor naqueles
selecionados para estratégia sistemática (7,4% versus 13,2%;
p = 0,0067; RR, 53%) (Figuras 8 e 9)50.
Novos ensaios foram publicados (CARESS-in-AMI) e
outros estão em fase de recrutamento (TRANSFER e
STREAM), que poderão substanciar de maneira mais
consistente as dúvidas persistentes relacionadas à busca
da prescrição temporal mais precisa da ICP após a realização da fibrinólise (sistemática) ou sua aplicação prévia à ICP (facilitação) nas primeiras 24 horas do IAM,
além das indicações já sedimentadas da ICP de resgate.
Até este momento, controvérsias ainda persistem, e séries menores com recrutamento penoso e interrupção
precoce do estudo concluíram favoravelmente para uma
indicação mais liberal e sistemática da ICP após a fibrinólise
bem-sucedida, porém sem ainda demonstrar evidências
irrefutáveis para sua prescrição sistemática e universal54.
Os novos ensaios pretendem permear com evidências mais robustas qual será a mais precisa indicação da ICP após submissão à fibrinólise considerada bem-sucedida, seja na seleção de todos os infartados ou não, daqueles de mais alto risco ou somente
dos enfermos com sinais de isquemia miocárdica,
induzida ou espontânea.
As evidências obtidas até este momento demonstram a eficácia e a segurança do método intervencionista
Figura 8 - A intervenção coronária percutânea (ICP) sistemática e precoce foi associada à redução não-significante do número de óbitos em
comparação com a ICP guiada por evidência de isquemia miocárdica (RC = 0,56; IC 95%, 0,29 a 1,05; p = 0,07; análise de heterogeneidade nãosignificante; p = 0,71), ao passo que se observou aumento da taxa de óbitos nos estudos somente com a aplicação do cateter-balão (RC = 1,44;
IC 95%, 0,69 a 3,06; p = 0,33; análise de heterogeneidade não-significante; p = 0,74). A análise global mostrou tendência não-significante de redução
do número de óbitos com aplicação da ICP sistemática e precoce (RC = 0,83; IC 95%, 0,52 a 1,35; p = 0,47; análise de heterogeneidade nãosignificante; p = 0,41).
28
Rev Bras Cardiol Invas 2008;16(supl.2)
Figura 9 - A intervenção coronária percutânea (ICP) sistemática e precoce foi associada à redução não-significante do número de óbitos ou infarto
do miocárdio em comparação com ICP por evidência de isquemia miocárdica (RC = 0,53; IC 95%, 0,33 a 0,83; p = 0,0067; análise de
heterogeneidade não-significante; p = 0,95), ao passo que o procedimento foi considerado prejudicial nos estudos somente com a aplicação do
cateter-balão (RC = 1,76; IC 95%, 0,97 a 3,21; p = 0,064; análise de heterogeneidade não-significante; p = 0,74). A análise global mostrou tendência
não-significante de redução do número de óbitos ou de infarto do miocárdio com aplicação da ICP sistemática e precoce (RC = 0,85; IC 95%,
0,47 a 1,55; p = 0,42; análise de heterogeneidade significante; p = 0,062).
aplicado sistemática e precocemente após a realização de fibrinólise com sinais de reperfusão positivos
(< 24 horas), proporcionando redução significativa dos
desfechos adversos tardios (morte e reinfarto) quando
cotejado a uma estratégia de observação ou de busca
ativa de isquemia miocárdica. No entanto, comparação
com retardos maiores (< 96 horas) ainda não foi consumada, não sendo possível rotular como incorreto
retardo um pouco maior para efetivação da cinecoronariografia e da possível ICP50,54.
Recomendação e Nível de Evidência
Intervenção Coronária Percutânea Eletiva após a Fibrinólise
Recomendação
Nível de Evidência
Evidência de isquemia miocárdica espontânea (dor ou alterações
eletrocardiográficas do segmento ST) ou induzida
I
A
Estratégia invasiva de rotina após a fibrinólise (cinecoronariografia
e intervenção coronária percutânea para o vaso-alvo com evidência de estenose coronária < 100% e > 50%) com retardo < 96 horas
após a fibrinólise
IIa
A
29
Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia – Intervenção Coronária Percutânea e Métodos Adjuntos Diagnósticos em
Cardiologia Intervencionista (II Edição – 2008)
3.4.4 Intervenção Coronária Percutânea no Infarto
do Miocárdio de Apresentação Tardia (> 24 horas)
O fundamento da recanalização tardia (> 24 horas
após o IAM) de vasos coronários ocluídos compõe o
conceito da “teoria da artéria aberta”. Essa atuação estaria
associada a benefícios como melhoria da função contrátil
global, maior estabilidade elétrica e fornecimento futuro
de colaterais em caso de evento futuro em outro território
coronário55. O ensaio OAT (Occluded Artery Trial) testou
essa hipótese em oclusões coronárias de 3 até 28 dias
após o IAM, com o objetivo de benefício com redução de
eventos compostos (óbito, reinfarto e insuficiência cardíaca classe 4). Foram reunidos 2.166 pacientes estáveis
com uma artéria ocluída após ocorrência de IAM (20%
receberam fibrinolítico previamente), randomizados para
ICP com implante de stent ou terapia farmacológica
otimizada. O tempo mínimo do início dos sintomas até a
cinecoronariografia diagnóstica foi de 24 horas. Foram
critérios de exclusão a presença de angina classe 3 ou 4,
insuficiência cardíaca, angina de repouso, creatinina >
2,5 mg/dl, estenose no tronco da artéria coronária esquer-
da ou doença multiarterial tripla, e presença de isquemia
miocárdica em provas funcionais diante da evidência de
segmento miocárdico ainda acinético ou discinético56.
A evolução clínica ao final de quatro anos evidenciou a ocorrência do desfecho composto em 17,2%
dos pacientes submetidos a ICP e em 15,6% (p = 0,20)
daqueles tratados clinicamente. As taxas de reinfarto
apresentaram tendência a ser maiores no grupo alocado
para a ICP, o que pode ter atenuado o benefício proposto para melhoria da função ventricular. Não foi
observada nenhuma interação positiva entre o tratamento e os diversos subgrupos analisados56.
Esse e outros estudos demonstraram que a prescrição eletiva de ICP para uma artéria coronária ocluída
com 1 até 28 dias após a ocorrência de IAM em pacientes estáveis não propiciou nenhum benefício superior àquele oferecido pela terapêutica clínica composta
de ácido acetilsalicílico, betabloqueadores, inibidores
da enzima conversora e estatinas, na preservação da função contrátil do ventrículo esquerdo e de novos eventos
cardiovasculares55,56.
Recomendação e Nível de Evidência
Intervenção Coronária Percutânea após Infarto do Miocárdio de
Apresentação Tardia
Recomendação
Nível de Evidência
Intervenção coronária percutânea de vaso coronário ocluído com
retardo > 24 horas após a ocorrência do infarto agudo do miocárdio, em paciente assintomático, com doença coronária de um ou
dois vasos, hemodinamicamente estável e sem evidência de isquemia miocárdica
III
B
30
Rev Bras Cardiol Invas 2008;16(supl.2)
3.5 Intervenção Coronária Percutânea no Choque
Cardiogênico
O choque cardiogênico é o resultado do desequilíbrio temporário ou permanente de todo o sistema circulatório. A falência da contração do ventrículo esquerdo
é a injúria primária na maioria dos casos, mas outras
partes do sistema circulatório podem contribuir, seja para
a descompensação final como adicionando efeitos deletérios. Muitas dessas variáveis são reversíveis, até por
completo, o que justifica a boa melhora funcional da
maioria dos sobreviventes. A mortalidade atual não é tão
elevada como se divulgava, mas de limites muito amplos,
de 10% até 80%, na dependência de múltiplas variáveis
e co-morbidades57.
O tratamento farmacológico antitrombótico deve ser
iniciado prontamente como recomendado, com ácido
acetilsalicílico e heparina. Clopidogrel deve ser administrado somente após a cinecoronariografia, pois alguns
achados dramáticos podem recorrer de cirurgia de revascularização ou corretiva de modo imediato (vasos derradeiros, estenose complexa em tronco da artéria coronária
esquerda, rupturas e/ou defeitos mecânicos)36,57.
Um cateter de monitorização central hemodinâmica
(Swan-Ganz) é recomendado para confirmação diagnóstica e para monitoração da evolução do tratamento.
A mensuração dos índices cardíacos e os dados hemodinâmicos se constituem em preditor robusto do prognóstico hospitalar desses pacientes. Cateteres de mensuração individual da pressão arterial são recomendados para pacientes gravemente hipotensos, apesar de
não serem mandatórios57.
A administração de agentes inotrópicos positivos
é recomendada para manutenção da perfusão coronária,
seja antes ou depois do apoio do balão intra-aórtico,
apesar do risco da elevação do consumo de ATP
miocárdico. A melhoria inicial se deve ao aumento do
consumo de oxigênio em um momento em que a
falência ventricular não foi revertida e o suprimento
de oxigênio é limitado. Evidências e análise comparativa de sua administração nesse cenário são escassas.
Os fármacos mais recomendados são a dopamina e a
norepinefrina e, muitas vezes, a adição da dobutamina. Novos agentes estão em pesquisa, mas ainda sem
validação para aplicação na prática clínica57.
A adição da contrapulsação central por meio da
instalação do balão intra-aórtico é imperativa. Sua utilização fornece evidente e comprovada melhoria na
perfusão tanto coronária como periférica, por meio de
deflação sistólica e inflação diastólica do balão, elevando a performance miocárdica e reduzindo a póscarga. Nem todos os pacientes exibem resposta positiva a sua instalação, mas aqueles em que se inicia
com maior brevidade são os mais beneficiados57.
A aplicação de métodos de reperfusão e seus
benefícios foram comprovados pelo estudo controla-
do SHOCK ( SHould We Emergently Revascularize
Occluded Coronaries for Cardiogenic ShocK ), com
redução de 13% na mortalidade imediata daqueles
enfermos submetidos a estratégia de revascularização
precoce. O tratamento de 8 pacientes já promove o
salvamento de um óbito57.
O tratamento com fibrinolítico é de menor eficácia, mas deve ser implementado sempre que a abordagem intervencionista com ICP não estiver disponível no local ou a transferência for inviável, ou diante
de choque de início recente (< 3 horas) e inviabilidade
técnica para realizar ICP36,57.
No estudo SHOCK, a estratégia de revascularização
imediata foi aplicada em média de 2,7 horas. A utilização de cirurgia foi menor (10%), mas promoveu
redução de mortalidade semelhante à ICP57.
A seleção de uma estratégia de revascularização
miocárdica em pacientes portadores de doença coronária multiarterial ainda promove controvérsia, visto
que a maioria desses pacientes exibe aterosclerose
extensa. No IAM, na ausência do choque, a intervenção em vasos coronários não relacionados ao evento
agudo não é recomendada e promove maiores taxas
de complicações57. Em média, 30% desses enfermos
serão portadores de doença multiarterial e serão encaminhados para a realização de ICP e não para cirurgia
de revascularização do miocárdio. A recomendação
para ICP multiarterial em pacientes em choque é também de um procedimento estagiado, abordando inicialmente apenas o vaso-alvo culpado38,57.
Contudo, em pacientes que persistem em choque e
na presença de outra estenose coronária significativa em
vaso suprindo grande área de miocárdio, principalmente
associada à redução do fluxo coronário epicárdico, está
então recomendada a revascularização miocárdica
percutânea completa, no mesmo procedimento, sem
necessidade de realizar procedimento estagiado38,57.
A mortalidade está diretamente relacionada à extensão do dano miocárdio, à precocidade do atendimento, à aferição dos índices miocárdicos e ao sucesso da revascularização. Os métodos de revascularização
bem-sucedidos são abrangentes e fornecem benefício
a todos os subgrupos de enfermos. Os preditores independentes são a idade, o retardo para o tratamento e
a graduação do fluxo coronário anterógrado ao final
do procedimento (método TIMI)57.
O resultado inicial do estudo SHOCK disseminou
o conceito de que os idosos deveriam ser deferidos
do tratamento ativo56. A análise posterior demonstrou
que a justificativa estaria localizada nos desequilíbrios
entre as diversas frações de ejeção prévias ao procedimento55,56. Registro e análise detalhada comprovam
redução da mortalidade, que varia de 20% a 30%
naqueles pacientes com idade superior a 75 anos57,58.
A recomendação é de que uma seleção apropriada
31
Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia – Intervenção Coronária Percutânea e Métodos Adjuntos Diagnósticos em
Cardiologia Intervencionista (II Edição – 2008)
dos candidatos nessa faixa etária seja efetivada, evitando os casos derradeiros, com falência de múltiplos
órgãos e dano cerebral irreversível. Para os pacientes
longevos em choque é mais recomendável uma seleção avaliando a classe funcional que baseada apenas
nos índices hemodinâmicos57.
Recomendações e Níveis de Evidência
Intervenção Coronária Percutânea no Choque Cardiogênico
Pacientes com < 75 anos candidatos a revascularização (intervenção coronária percutânea ou cirurgia)
Pacientes com ≥ 75 anos aptos a serem submetidos a revascularização (intervenção coronária percutânea ou cirurgia)
32
Recomendação
Nível de Evidência
I
B
IIa
B
Rev Bras Cardiol Invas 2008;16(supl.2)
4. Subgrupos Especiais – Variáveis Clínicas
4.1 Sexo Feminino
Aproximadamente 33% das revascularizações percutâneas efetivadas no Brasil são dedicadas a pacientes do sexo feminino2.
Na análise comparativa com o gênero masculino, as
pacientes do sexo feminino submetidas a ICP são mais
idosas, portadoras de hipertensão arterial, dislipidemia, e
diabete melito, e exibem número mais significativo de
co-morbidades. Em relação à apresentação clínica, as
mulheres, com maior freqüência, apresentam-se com angina instável e com classe funcional mais elevada (III e
IV). Apesar da maior incidência de fatores de risco, a
extensão da doença coronária epicárdica é semelhante
entre homens e mulheres59.
Revisão sistemática demonstrou resultados similares
em relação à taxa de sucesso da ICP e à ocorrência de
desfechos adversos maiores na análise comparativa entre homens e mulheres59. Apesar dos avanços contemporâneos, tanto na farmacologia adjunta como nos dispositivos utilizados, o sexo feminino exibe evolução clínica
com maior ocorrência de eventos se comparado ao gênero
masculino. Uma das justificativas está relacionada ao
perfil clínico adverso do gênero feminino. A maior mortalidade hospitalar observada nos procedimentos eletivos
e efetuados na vigência do IAM comparativamente ao
sexo masculino, apesar de não ser consistente, é persistente em alguns registros e deve estar relacionada a
complexa interação entre apresentação tardia das infartadas, idade mais avançada, menor superfície corporal e
morbidades associadas.
Os resultados mais contemporâneos, sejam de ICPs
eletivas ou na vigência do IAM, com o implante de
stents farmacológicos ou não, e efetuados os ajustes
para os diversos fatores de risco, erradicaram o rótulo
de maior risco para procedimentos intervencionistas
em enfermas do sexo feminino, tanto nos resultados
imediatos como na evolução tardia, no cotejamento
entre ambos os gêneros59.
Assim, as recomendações atuais estão direcionadas
aos cuidados descritos sendo adequada e sustentada
a prescrição de ICP, independentemente do gênero do
paciente.
4.2 Diabete Melito
O diabete melito é uma síndrome de etiologia múltipla, decorrente da falta e/ou da incapacidade da insulina
de exercer adequadamente seus efeitos, caracterizandose por hiperglicemia crônica associada a distúrbios do
metabolismo dos carboidratos, lipídios e proteínas60.
A prevalência de diabete melito tem aumentado
rapidamente em todo o mundo nos últimos anos, chegando a atingir proporções epidêmicas. Estudos projetam que, nos Estados Unidos, haverá aumento de 198%
no número de indivíduos portadores de diabete melito,
passando de 16,2 milhões, em 2005, para 48,3 milhões, em 205060.
Nos pacientes portadores de doença arterial coronária, a presença de diabete melito aumenta em mais de
duas vezes o risco de mortalidade em cinco anos,
comparativamente à população não-diabética61. Apesar
dos avanços tecnológicos e farmacológicos verificados
nos últimos anos, o diabete melito permanece como um
preditor independente de eventos cardíacos adversos no
seguimento clínico após a ICP6,62.
Esses resultados desfavoráveis são explicados pela
presença de hiperglicemia, metabolismo lipídico anormal e resistência à insulina associada à ocorrência de
hipertensão arterial sistêmica presente nesses pacientes.
A hiperglicemia provoca alteração da função endotelial
por bloquear a produção de óxido nítrico e leva ao
aumento do estresse oxidativo63. As anormalidades do
metabolismo lipídico resultam freqüentemente em elevação dos níveis de triglicérides e de colesterol de lipoproteína
de baixa densidade (C-LDL) e diminuição do colesterol
de lipoproteína de alta densidade (C-HDL)64. A resistência à insulina induz a liberação de ácidos graxos livres
do tecido adiposo, aumenta o estresse oxidativo e reduz
a produção de óxido nítrico65. A hipertensão arterial
associada ao diabete melito favorece a disfunção renal.
Além disso, a ativação plaquetária está aumentada e a
atividade fibrinolítica diminuída, facilitando a agregação
plaquetária e a formação de trombos66,67. A presença
desses múltiplos fatores resulta em rápida progressão da
aterosclerose e maior tendência à formação de placas
instáveis, que resultam em eventos cardíacos nessa população de pacientes.
A redução dos desfechos adversos tardios em pacientes diabéticos submetidos a ICP está relacionada ao
advento dos stents farmacológicos. Esses dispositivos inibem a hiperplasia neo-intimal com conseqüente redução expressiva das taxas de reestenose quando comparados aos stents não-farmacológicos, elevando a durabilidade do procedimento intervencionista68. Metanálise
reuniu os principais estudos controlados dedicados a
esse subgrupo ou que explicitaram a análise de pacientes portadores dessa doença. No total, oito estudos congregaram 1.520 pacientes. As variáveis analisadas exibiram
os seguintes resultados, quando da comparação entre
stents farmacológicos e não-farmacológicos: perda tardia
luminal (0,18 mm versus 0,93 mm; IC 95%, 0,088 a
0,446), reestenose coronária (5,9% versus 42%; RR, 0,14;
IC 95%, 0,10 a 0,22; p < 0,001) e nova revascularização
da lesão-alvo tardia (7,5% versus 22,9%; RR, 0,34; IC 95%,
0,26 a 0,45; p < 0,001) (Figuras 10 e 11)68.
O efeito positivo e marcante, com redução do
desfecho clínico tardio relacionado à reestenose coronária e manifesto pela necessidade de repetir novos
procedimentos de revascularização para a lesão-alvo,
foi de 63% e abrangente, sendo observado tanto naqueles pacientes submetidos a implante de stents
33
Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia – Intervenção Coronária Percutânea e Métodos Adjuntos Diagnósticos em
Cardiologia Intervencionista (II Edição – 2008)
Figura 10 - Razão de risco para ocorrência de reestenose intra-stent em stents farmacológicos versus stents não-farmacológicos em pacientes
diabéticos, incluídos nos relatos de pesquisas controladas randomizadas.
IC de 95% = intervalo de confiança de 95%.
Figura 11 - Razão de risco para necessidade de nova revascularização da lesão-alvo com stents farmacológicos versus stents não-farmacológicos
em pacientes diabéticos, incluídos em pesquisas controladas randomizadas.
IC de 95% = intervalo de confiança de 95%.
34
Rev Bras Cardiol Invas 2008;16(supl.2)
farmacológicos com eluição de sirolimus ou de paclitaxel,
e também em pacientes insulino-dependentes ou não68.
Esses resultados justificam a indicação primária e
mandatória desses dispositivos em pacientes diabéticos submetidos a ICP, desde que apresentem condições clínicas para administração de terapia antiplaquetária por um período mínimo de um ano.
As recomendações para os pacientes diabéticos
submetidos a ICP estão discriminadas nas diversas sessões que se sucedem.
5. Subgrupos Especiais – Angiográficos
5.1 Oclusão Coronária Crônica
A oclusão coronária crônica é caracterizada por
estreitamento significativo da luz arterial e ausência
total de fluxo anterógrado (fluxo TIMI 0).
As principais definições desse grupamento são a
suposição clínica da perda do fluxo anterógrado há mais
de três meses, com incidência de até 15% a 20% das
cinecoronariografias diagnósticas, sendo 30% compostas de infartados com insucesso após tentativa de reperfusão com fibrinólise e na seqüência decrescente afeta
mais a artéria coronária direita, a artéria circunflexa e,
por fim, a artéria descendente anterior69.
As indicações para a tentativa de restaurar o fluxo
coronário anterógrado podem ser compiladas nas seguintes situações clínicas38:
• Após a ocorrência de IAM para completar a revascularização miocárdica;
• Alívio da angina aos esforços incontrolável com
a farmacologia otimizada, principalmente em pacientes com acometimento de apenas um vaso;
• Oferecer uma alternativa à cirurgia de revascularização do miocárdio, com a eficaz oferta,
por meio do tratamento percutâneo, de fluxo
anterógrado em todos os vasos coronários gravemente comprometidos;
• Presença de sinais ou sintomas de isquemia
miocárdica e viabilidade funcional na área afetada pela oclusão do vaso epicárdico.
Com a evolução técnica dos materiais e dos dispositivos dedicados à ICP, diversos conceitos e preditores
para indicação de tentativa de recanalização de oclusão
crônica sofreram modificações38,69.
Consideram-se três os principais preditores de maior adversidade para o possível insucesso em sua recanalização: presença de calcificação maciça (na radioscopia), oclusão em ponta romba e oclusão terminal com
ramo lateral pérvio. A variável relacionada ao tempo de
oclusão não é mais considerada obstáculo formal ou
motivo de contra-indicação à realização de ICP.
Para se obter a recanalização pretendida de uma
oclusão crônica, duas estratégias básicas estão disponíveis: utilização de manipulação de diversos guias
dirigíveis ou utilização de dispositivos dedicados para
tal finalidade. A associação de ambas as estratégias é
possível, mas no consenso atual predomina a estratégia
com os novos fios-guias dirigíveis69,70.
A estratégia com fios-guias dirigíveis de diversos
graus de rigidez em sua extremidade distal, assim como
de diversos calibres crescentes, associada à utilização
de microcateteres, dupla cateterização coronária, injeções retrógradas, acesso retrógrado por meio de perfuração de colaterais ou sinergismo entre o acesso anterógrado convencional e o retrógrado, depreendem a
existência de operadores muito experientes em um ambiente hospitalar dotado do armamentário moderno
disponível para tal finalidade69,70.
A utilização na prática clínica desses materiais ablativos e com força extrema em suas extremidades para
a criação de canais de passagem diante de oclusões
previamente estabelecidas e consolidadas, por meio de
operadores com pouca experiência, poderá acarretar
graves complicações, principalmente perfurações, que
motivem o tamponamento cardíaco e desfechos maiores adversos de grave morbidade69-71.
A abordagem de oclusões crônicas pode ser dividida em casos de baixa e alta complexidades, rotulados
pelos preditores descritos acima. A recomendação é de
que os operadores não experientes e afeitos à utilização dos novos fios e dispositivos dedicados e idealizados para essa finalidade utilizem apenas a guia convencional 0,014 mm dirigível. Diante do insucesso, somente
deve-se avançar para técnicas avançadas mediante treinamento prévio. A recomendação dos grupos de estudo dedicados a essas novas técnicas preconiza que,
como primeiro operador, o cardiologista intervencionista
realize ao menos 50 casos por ano de oclusões crônicas, com taxas de sucesso acima de 80% e com taxa
de desfechos adversos maiores mecânicos (perfuração
e/ou tamponamento) inferiores a 0,5%70,71.
As recomendações técnicas para a realização de
ICP na tentativa de recanalização de oclusão crônica
são as seguintes70,71:
• Programar um procedimento eletivo e jamais
na seqüência imediata à cinecoronariografia;
• Operador experiente com a realização em média
de 50 casos por ano;
• Ampla disponibilidade de materiais e dispositivos dedicados para essa finalidade;
• Cinecoronariografia diagnóstica prévia esclarecedora do leito distal do vaso ocluído, utilizando dupla injeção coronária, se necessário (injeção no vaso coronário contralateral para opacificar o leito distal até o ponto mais próximo da
oclusão por meio da circulação colateral);
35
Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia – Intervenção Coronária Percutânea e Métodos Adjuntos Diagnósticos em
Cardiologia Intervencionista (II Edição – 2008)
• Evitar ao máximo a administração de inibidores
do complexo IIb/IIIa;
• Utilização de balões com deslizamento sobre a
guia (over the wire);
• Implante de stents coronários após a recanalização mecânica e dilatação preparatória com
cateteres-balão de muito baixo perfil.
Naqueles enfermos em que se obtem sucesso no
procedimento proposto, os benefícios são evidentes,
com redução da mortalidade tardia. Em análise retrospectiva de uma instituição norte-americana, que incluiu 2.007 pacientes submetidos a ICP de uma oclusão
crônica, houve maior sobrevida tardia naqueles com
recanalização com sucesso quando comparados aos
que permaneceram com a artéria ocluída (73,5% versus
65,0%; p = 0,001)69.
Após a recanalização, a recomendação formal é para
o implante de stents coronários, não-farmacológicos ou,
mais recentemente, farmacológicos. Metanálise reuniu nove
estudos randomizados, totalizando 1.409 pacientes portadores de oclusão crônica recanalizados percutaneamente
e tratados com angioplastia coronária com balão ou implante de stents não-farmacológicos. Essa revisão não
demonstrou inferioridade ou superioridade de um dispositivo cotejado com o outro, na análise do desfecho mortalidade; contudo, aqueles enfermos submetidos a implante de stents não-farmacológicos apresentaram taxas
de reestenose (41,1% versus 60,9%; razão de chances
[RC] = 0,36; IC 95%, 0,23 a 0,57; p < 0,0001) e de
reoclusão (6,8% versus 16,0%; RC = 0,36; IC 95%, 0,22
a 0,59; p < 0,0001) significativamente menores, manifestas pela menor necessidade de repetir procedimentos
de revascularização para lesão-alvo (17% versus 32%;
RC = 0,41; IC 95%, 0,31 a 0,53; p < 0,0001) (Figura 12)72.
Figura 12 - Taxas de necessidade de nova revascularização do vaso-alvo na análise comparativa entre séries controladas pelo método
randômico, com a aplicação da intervenção coronária percutânea com o balão ou implante de stent não-farmacológico.
Apesar do advento dos stents coronários, depreende-se desses resultados que o tratamento percutâneo das oclusões crônicas ainda necessita de apri-
moramento para reduzir de maneira mais significativa
os desfechos tardios, manifestos por meio de reestenoses
angiográfica e clínica.
Recomendações e Níveis de Evidência
Intervenção Coronária Percutânea para a Oclusão Crônica
Recomendação
Nível de Evidência
Oclusão crônica presumida (> 3 meses) associada à presença de sinais
e sintomas de isquemia miocárdica (angina ou prova funcional positiva)
e/ou viabilidade funcional na área relacionada ao vaso ocluído nativo*
IIa
C
Oclusão crônica presumida (> 3 meses) em enxerto de veia safena
III
B
Oclusão crônica presumida (> 3 meses) em pacientes assintomáticos e/ou
sem sinais de isquemia e/ou viabilidade miocárdica
III
B
* Recomenda-se que o operador tenha experiência prévia com a realização de 50 casos/ano (oclusão crônica presumida),
principalmente se optar por utilização de técnicas de acesso retrógrado ou misto.
36
Rev Bras Cardiol Invas 2008;16(supl.2)
5.2 Bifurcações Coronárias
A ICP nas lesões localizadas em bifurcações
coronárias compõe aproximadamente 15% a 18% de
todas as estenoses submetidas a uma ICP. Em comparação com lesões coronárias não-bifurcadas, a ICP em
estenoses localizadas em uma bifurcação é mais laboriosa, apresenta maior custo, requer curva de aprendizado, e ocasionalmente promoverá menor taxa de
sucesso angiográfico imediato e maior taxa de reestenose angiográfica e eventos cardíacos adversos tardios, principalmente repetição de procedimentos de
revascularização 73,74.
O termo bifurcação é conceituado quando a artéria coronária se subdivide em dois ramos igualmente
importantes (simétricos) ou quando o ramo principal
origina um ramo lateral de menor calibre (assimétrico),
mas funcionalmente significante (diâmetro de referência ≥ 2,5 mm). Portanto, ramos laterais de calibre
reduzido (diâmetro < 2,0 mm) são menos utilizados
pelos cardiologistas intervencionistas como lesões
coronárias bifurcadas74.
A doença arterial coronária não apresenta morfologia idêntica, e com freqüência se aloja em localizações de alta oscilação de fluxo (estímulo aterogênico),
como as encontradas nas bifurcações75. Esse fato torna
as bifurcações coronárias um sítio de iniciação, progressão, ativação e instabilização das lesões ateroscleróticas coronárias. As lesões coronárias bifurcadas
são classificadas de acordo com a angulação do ramo
principal com o ramo lateral ou conforme a distribuição da placa coronária76. Apesar da diversidade de
apresentações morfológicas, existem diversas classificações que pretendem reunir em grupamentos semelhantes, com o objetivo da análise da melhor estratégia
terapêutica percutânea. Em relação ao ângulo, as bifurcações são classificadas como em “Y”, caracterizadas
pelo ângulo < 70 graus entre os ramos principal e
lateral (ramos de mais fácil acesso, mas alta taxa de
deslocamento de placa com maior chance de comprometimento do óstio do ramo lateral) ou em “T”, caracterizadas pelo ângulo > 70 graus entre os ramos principal e lateral (ramos laterais de mais difícil acesso e
pouco deslocamento de placa com menor chance de
comprometimento do óstio do ramo lateral)74.
Até o momento, não se fundamentou um consenso
acerca da escolha de somente uma dessas normatizações
(Figura 13), porém a de Medina, a mais recente, tem sido
uma das mais utilizadas entre os intervencionistas77.
Nenhuma das diversas técnicas existentes é capaz
de solucionar todas as variações anatômicas contempladas exibidas pelas lesões coronárias bifurcadas. Entretanto, evidências indicam que o uso indiscriminado
de técnicas que empregam dois stents (ramo principal
e ramo lateral) apresentam resultados inferiores ao emprego de técnicas que utilizam um único stent no
ramo principal e apenas a efetivação da angioplastia
com balão para o ramo lateral74,78-80.
Na análise de séries consecutivas de diversos centros
intervencionistas já publicadas, observa-se variação significativa dos resultados tardios. As taxas de reestenose
angiográfica oscilam desde 25% até 62%, principalmente
quando da inclusão de casos com maior complexidade
anatômica e implante de múltiplos stents coronários74.
O advento dos stents farmacológicos também fez
florescer a prescrição da ICP para aquelas bifurcações
dotadas de maior potencial de complexidade. As taxas
de reestenose, em comparação ao implante de stents
não-farmacológicos, foram reduzidas expressivamente, seja com a utilização de stent único ou duplo79,80.
Duas pesquisas dedicadas à análise do implante
de stents farmacológicos para o tratamento das bifurcações coronárias foram apresentadas e, até o momento,
apenas uma delas foi publicada. Nesta pesquisa, com
cerca de 400 pacientes randomicamente alocados para
implante de stent farmacológico com eluição de sirolimus somente para o ramo principal ou duplo stent, as
taxas de nova revascularização para a lesão-alvo aos
seis meses foi similar para ambas as estratégias (1,9%
versus 1,0%; p = 0,36). Novas pesquisas mais robustas
são aguardadas e com seguimento clínico mais alargado, mas a recomendação persistente até este momento
é a preferência para implante de stent apenas no ramo
principal e realização de angioplastia com balão no
ramo lateral, reservando as técnicas com duplo stent
para apresentações angiográficas de relevância e maior
complexidade anatômica (ramo secundário de calibre
semelhante ao principal, grande área de músculo
miocárdico envolvida e estenose ostial associada)80.
Recomendações e Níveis de Evidência
Intervenção Coronária Percutânea para a Bifurcação Coronária
Recomendação
Nível de Evidência
Implante de stent coronário para o ramo principal e intervenção
coronária percutânea com o balão para o ramo secundário
IIa
B
Implante de dois stents coronários de modo sistemático*
IIb
B
* Esta recomendação exclui as situações clínicas e angiográficas relacionadas à evidência de distúrbio de fluxo coronário no ramo
lateral (dissecções e/ou deslocamento de placa aterosclerótica), associado a sinais ou sintomas de isquemia miocárdica aguda.
37
Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia – Intervenção Coronária Percutânea e Métodos Adjuntos Diagnósticos em
Cardiologia Intervencionista (II Edição – 2008)
Figura 13 - Demonstração gráfica das diversas classificações morfológicas propostas para análise da apresentação das estenoses coronárias
localizadas em bifurcações.
5.3 Doença Coronária Multiarterial e Tronco da
Artéria Coronária Esquerda
O acometimento multiarterial é um dos principais
preditores de prognóstico adverso em pacientes portadores de doença arterial coronária81. Seu tratamento tem o
objetivo de aliviar sintomas derivados da isquemia mio38
cárdica, preservar a função ventricular esquerda e reduzir
a incidência de eventos adversos cardíacos, promovendo
maiores taxas de sobrevivência tardia naqueles submetidos a procedimento de revascularização miocárdica38,81.
O grupamento de pacientes portadores da doença multiarterial reúne um porcentual heterogêneo de
Rev Bras Cardiol Invas 2008;16(supl.2)
casos. Cerca de 40% a 60% das cinecoronariografias,
em média, revelam a presença de doença multivascular.
É importante estratificar em subgrupos mais homogêneos esses enfermos, analisando a presença das diversas variáveis que os relacionam, que auxiliam na indicação do método mais adequado de revascularização
miocárdica, seja percutâneo ou cirúrgico, quando a
opção clínica não é mais recomendada19,38.
Dentre as variáveis valoradas como determinantes
preferenciais para a escolha de uma das técnicas existentes para a revascularização (percutânea ou cirúrgica) destacam-se a idade progressivamente maior, a presença de
diabete melito, a realização de cirurgia cardíaca prévia,
a função renal e a presença de doença arterial periférica,
além do quadro clínico, angina estável ou síndrome coronária aguda, e a possibilidade de efetuar uma revascularização do miocárdio a mais completa possível.
Na análise angiográfica, em um extremo encontram-se pacientes portadores de estenoses múltiplas,
porém focais (< 30 mm de extensão), evoluindo em
complexidade, com a inclusão de oclusões crônicas,
bifurcações com diversos graus de complexidade, doença múltipla e extensa no mesmo vaso e calcificação
de graus variados, acometimento do tronco da artéria
coronária esquerda, comprometimento diverso da função ventricular esquerda, até a presença de doenças
valvares associadas e falha de ICP prévia, além da discussão da necessidade de revascularizar por completo
todos os vasos gravemente acometidos ou não, na
interdependência das variáveis citadas82.
Como se depreende, há um leque muito extenso
de opções e associações clínicas e angiográficas, que
requer balizamento clínico inicial rigoroso, com a devida análise de todas as variáveis existentes, para a
aplicação da melhor recomendação ao paciente. Essas
ofertas de revascularização miocárdica também variam de acordo com o local do tratamento (experiência do grupo cirúrgico e do intervencionista) e o sistema de saúde ofertado ao paciente (público ou suplementar), tendo em vista a possibilidade de emprego
dos stents farmacológicos38,83.
Quando da falha do tratamento clínico inicial, farmacológico, a opção de revascularizar o miocárdio isquêmico, invasivamente, de paciente portador de doença
arterial coronária múltipla requer uma decisão quase
particular, tendo em vista a análise de tantas possibilidades e associações, com o objetivo de oferecer aos pacientes a opção mais eficaz e duradoura, e que pretensamente promova o menor risco de ocorrência de morbidades maiores.
5.3.1 Ensaios Randomizados – Intervenção
Coronária Percutânea versus Cirurgia de
Revascularização
Estudos randomizados compararam os dois métodos de revascularização miocárdica, percutâneo ou
cirúrgico. Os mesmos já foram reunidos em várias metanálises previamente publicadas ao longo dos últimos
15 anos. A mais recente reuniu cerca de 23 ensaios
e aproximadamente 9 mil pacientes. A maior crítica à
análise desses resultados está relacionada aos comentários prévios, quais sejam a diversidade tanto clínica
como angiográfica preexistente, entre aqueles portadores de doença coronária múltipla, a necessidade de
obter o consentimento e a viabilidade técnica de ambos os operadores envolvidos na seleção randômica.
Isso promoveu expressiva redução da amostra de pacientes selecionados, demonstrando um número muito maior de pacientes excluídos que não se enquadraram em viabilidade técnica para ambas as técnicas, o
que, por si só, já reduz o impacto da aplicação desses
ensaios, de modo perene, na prática clínica diária84.
Contudo, nesses enfermos randomizados para esses
ensaios, incluídos assim diabéticos e não-diabéticos, em
que predominam pacientes com função ventricular preservada, a maioria composta de doença biarterial (70%)
com porcentual reduzido de triarteriais (30%), sem acometimento do tronco da artéria coronária esquerda e
procurando ofertar a revascularização miocárdica mais
completa possível (exclusão das oclusões crônicas consideradas tecnicamente ruins), os resultados ao final de
10 anos revelaram mortalidade e taxas de ocorrência de
IAM semelhantes, com uma diferença entre ambos os
métodos de revascularização inferior a 1%84.
A utilização de stents coronários ampliou o escopo de benefício da ICP, reduzindo a necessidade de
repetição de procedimentos de revascularização
miocárdica tardios em decorrência de reestenose, em
até 50%85-87. A metanálise que reuniu apenas os estudos comparativos entre implante de stents coronários
e cirurgia de revascularização (n = 3.051 pacientes)
também não demonstrou diferença entre as duas
modalidades de tratamento. Nos pacientes tratados
percutaneamente, a incidência de AVC relacionado ao
procedimento foi menor (0,6% versus 1,2%; p < 0,01),
porém o alívio dos sintomas foi inferior, quando comparado ao grupo cirúrgico (em cinco anos: 79% versus
84%; p < 0,01). A necessidade de nova revascularização
também foi mais freqüente em pacientes tratados com
stents, sendo essa diferença de sobrevida livre de eventos adversos decorrente de nova revascularização, aos
cinco anos de seguimento clínico, de 19,9% para os
pacientes não-diabéticos e para aqueles diabéticos, de
33% (p < 0,0001)86,87.
A metanálise mais recente reuniu todos esses ensaios citados (n = 23), com mais de 10 mil pacientes
randomicamente pesquisados. Ao final de cinco anos
de seguimento clínico, não foi observada diferença
significativa na mortalidade entre aqueles que receberam implante de stents ou que foram submetidos a
cirurgia de revascularização do miocárdio. Este último
método, o cirúrgico, promoveu taxas significativamente maiores de ocorrência de AVC, mas, por outro lado,
forneceu maior durabilidade tardia da revascularização,
com taxas menores de repetição de novos procedimentos (Figuras 14, 15 e 16)84.
39
Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia – Intervenção Coronária Percutânea e Métodos Adjuntos Diagnósticos em
Cardiologia Intervencionista (II Edição – 2008)
Figura 14 - Sobrevida de cinco anos após intervenção coronária percutânea (ICP) com balão ou implante de stents versus cirurgia de
revascularização do miocárdio em pacientes portadores de doença coronária multiarterial.
IC de 95% = intervalo de confiança de 95%; n = número de pacientes.
Figura 15 - Incidência acumulada de acidente vascular cerebral após intervenção coronária percutânea (ICP) com balão ou implante de stents
versus cirurgia de revascularização do miocárdio em pacientes portadores de doença coronária multiarterial.
IC de 95% = intervalo de confiança de 95%; n = número de pacientes.
Figura 16 - Sobrevida de cinco anos após intervenção coronária percutânea (ICP) com balão ou implante de stents versus cirurgia de
revascularização do miocárdio em pacientes diabéticos portadores de doença coronária multiarterial.
IC de 95% = intervalo de confiança de 95%; n = número de pacientes.
40
Rev Bras Cardiol Invas 2008;16(supl.2)
5.3.2 Registros Controlados – Intervenção
Coronária Percutânea com Implante de
Stents Não-Farmacológicos e Cirurgia de
Revascularização do Miocárdio
Diversos registros nacionais apresentaram resultados e alguns obtiveram relevância na sua divulgação
pelo volume de pacientes analisados e pela qualidade
dos dados aferidos. Esses registros têm a propriedade
de observar os resultados na prática clínica diária sem
a seleção e exclusão dos estudos de metodologia randômica. Entre eles, salienta-se o Registro de Procedimentos Cardiovasculares do Estado de Nova Iorque. Esse
registro relatou os resultados, a longo prazo, em cerca
de 60 mil pacientes submetidos a revascularização do
miocárdio, sendo 22 mil com ICP por meio do implante de stents não-farmacológicos.
Por se tratar de um registro, a análise das variáveis
entre ambos os métodos evidencia diferenças significativas, sendo o grupo cirúrgico mais grave, como a expectativa. A mortalidade sem ajustes estatísticos ao final de
três anos de evolução, em três grupos anatômicos distintos, revelou que aqueles submetidos a revascularização
com stents coronários em dois vasos sem envolvimento
da artéria descendente anterior apresentaram maior sobrevida se comparados aos submetidos a cirurgia (92,4%
versus 90,6%; p = 0,03). O mesmo foi observado quando foram tratados dois vasos epicárdicos, incluso o tratamento da artéria descendente anterior (91,4% versus
91,2%; p = NS), e o oposto quando foram tratados três
vasos epicárdicos, incluso a artéria descendente anterior,
isto é, maior sobrevida para aqueles enfermos submetidos a cirurgia de revascularização (84,9% versus 89,2%;
p = 0,001)88.
Quando os autores ajustam as variáveis por meios estatísticos, na busca de equalização clínica e angiográfica, observam-se diferenças na mortalidade tardia,
sendo a mesma maior em todos os três subgrupos
anatômicos descritos, favorável à cirurgia de revascularização88. Esse ajuste certamente promoveu uma situação hipotética, que está em desacordo com a realidade clínica enfrentada pelos pacientes que compuseram esse registro. Os enfermos submetidos a cirurgia
exibiam maior porcentual de insuficiência renal (3,4%
versus 2,2%), de doença pulmonar obstrutiva crônica
(16,4% versus 5,9%) e de disfunção ventricular esquerda (12,3% versus 7%), o que contribuiu para significativa e maior mortalidade hospitalar88.
O propósito de um registro é documentar a prática
clínica diária, e assim foi feito. De modo objetivo, demonstrou que, em pacientes multiarteriais submetidos
a implante de stents não-farmacológicos cotejados com
a cirurgia de revascularização, os resultados foram superiores para o tratamento de biarteriais sem envolvimento
da artéria descendente anterior, similar quando dois
vasos são tratados e um deles foi a artéria descendente
anterior, e que a cirurgia ainda ofereceu durabilidade
superior, com maior sobrevida, quando o tratamento
envolver até três vasos e a artéria descendente anterior.
Os resultados díspares observados entre os registros e ensaios randômicos encontram justificativas. A
extensão da doença arterial coronária, o grau de disfunção ventricular esquerdo e as co-morbidades são os
mais poderosos preditores da evolução clínica tardia
desses pacientes. Os ensaios randômicos agregaram
enfermos considerados de risco intermediário e os registros da prática clínica diária, porcentual bem mais
expressivo de casos classificados como de alto risco.
Análises estatísticas, por mais sofisticadas que sejam,
não anulam o efeito intrínseco associado ao perfil do
paciente e o tratamento escolhido.
5.3.3 Registros com Intervenção Coronária
Percutânea com Implante de Stents
Farmacológicos e Cirurgia de Revascularização
do Miocárdio
Os mesmos autores do Registro de Procedimentos
Cardiovasculares do Estado de Nova Iorque atualizaram sua pesquisa após o advento dos stents farmacológicos. Reuniram, em um período de pouco mais de
um ano, 17.400 pacientes, dos quais cerca de 10 mil
foram submetidos ao implante desses dispositivos e
acompanhados por um período de 18 meses. Os resultados tardios demonstraram melhoria na elevação da
sobrevida tardia dos pacientes submetidos a ICP com
stents farmacológicos. Na análise da mortalidade, sem
ajuste estatístico, a mortalidade entre os dois métodos
de revascularização foi similar, seja para o tratamento
com stents farmacológicos ou cirurgia em três vasos
(93,4% versus 93,7%; p = NS) ou dois vasos coronários
(95,0% versus 94,9%; p = NS). Com o ajuste estatístico,
a diferença favorável à cirurgia novamente foi observada na sobrevida tardia, seja para dois vasos tratados
(94,0% versus 92,7%; p < 0,05) ou três vasos coronários
(96,0% versus 94,6%; p < 0,05)89.
Contudo, depreende-se desse registro que, na prática clínica diária, os stents farmacológicos promoveram melhoria na sobrevida tardia, elevando a durabilidade do procedimento de revascularização percutâneo,
ombreando-se com a cirurgia de revascularização do
miocárdio, ofertando resultados mais próximos daqueles já reconhecidos para esta última modalidade de
tratamento89,90.
Estudos controlados com comparação entre esses
dois métodos de revascularização do miocárdio ainda
estão em andamento. Contudo, séries unicêntricas relatam seus resultados, progressivamente, na comparação entre o implante de stents farmacológicos e a
submissão à cirurgia de revascularização. Dentre esses estudos, destaca-se a experiência de grupo cardiológico coreano (n = 3.042), que evidenciou o implante de stents coronários para uma população de risco
intermediário a grave, comprovada pela presença de
41
Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia – Intervenção Coronária Percutânea e Métodos Adjuntos Diagnósticos em
Cardiologia Intervencionista (II Edição – 2008)
mais da metade de enfermos com acometimento de
dois vasos epicárdicos, pouco mais de 10% com
envolvimento do tronco da artéria coronária esquerda, e associado ao tratamento concomitante da artéria descendente anterior. Nos pacientes submetidos a cirurgia cardíaca, observou-se predomínio de
enfermos portadores de acometimento coronário triplo
(> 70%) e oclusões crônicas (> 40%). A mortalidade
ao final de três anos sem ajustes para as variáveis clínicas e angiográficas favoreceu os pacientes tratados
com implante de stents (4,4% versus 7,0%; p = 0,01).
Com os ajustes de variáveis, as mortalidades se equipararam. Nos subgrupos de diabéticos e portadores de
disfunção contrátil do ventrículo esquerdo (fração de
ejeção < 40%), não foram encontradas diferenças significativas, com ou sem esses ajustes91.
Somente em séries controladas e com equiparação prévia dos grupos tratados de modo distinto, por
meio randômico, será possível exarar uma recomendação distinta das atuais. Esses estudos ainda estão
em andamento e em fase de seguimento clínico após
o término de seu recrutamento84.
Neste momento, a cirurgia de revascularização
segue como o procedimento de revascularização preferencial, de um modo geral e não particularizado,
daqueles portadores de acometimento trivascular, associado ou não a tronco da artéria coronária esquerda, acometidos de diabete melito e portadores de disfunção contrátil do ventrículo esquerdo. Nos demais,
a prescrição da ICP é uma prática estabelecida e baseada
nas evidências descritas.
Contudo, deve-se salientar que a melhor opção
terapêutica diante da escolha de um método de revascularização do miocárdio para pacientes portadores de doença
coronária múltipla deve ser sempre particularizada,
envolvendo o esclarecimento e aptidões do paciente
para cada uma das possibilidades terapêuticas, assim
como a minuciosa avaliação clínica, a experiência do
operador e o local da efetivação do procedimento.
5.3.4 Tronco da Artéria Coronária Esquerda
Não Protegido por Revascularização Cirúrgica
do Miocárdio
A presença de estenose significativa alojada no
tronco da artéria coronária esquerda promove uma
propensão a elevado risco para ocorrência de desfechos adversos significativos, como morte súbita e IAM
fatal, pelo expressivo porcentual de miocárdio adjacente à estenose38.
Baseado em estudos clínicos comparativos entre
o tratamento clínico e a submissão a cirurgia de revascularização do miocárdio, o método cirúrgico foi considerado a recomendação para a prática clínica corrente diante desse diagnóstico angiográfico38.
Tendo em vista o passado já conhecido e os dispositivos percutâneos previamente testados para a efetivação
42
de uma ICP, a revascularização percutânea de pacientes
acometidos de estenoses graves no tronco coronário
esquerdo ficou reservada somente para candidatos considerados de alto risco cirúrgico, como no IAM com
supradesnível do segmento ST, na presença de grave
disfunção contrátil do ventrículo esquerdo ou em paciente
já operado previamente, com a proteção cirúrgica de ao
menos um enxerto ainda funcionante, para uma das
duas artérias originadas da sua bifurcação38.
O advento dos stents coronários reativou o interesse
em sua utilização nesse subgrupo angiográfico, especialmente os modelos farmacológicos. Esse dispositivo tem
a capacidade de oferecer taxas de reestenose significativamente menores e, portanto, torna-se foco de estudo,
como uma opção viável. As séries até o momento apresentadas reúnem um ou poucos centros recrutadores ou
evidenciam exclusões direcionadas à complexidade
anatômica, não analisando o envolvimento da estenose
na bifurcação distal do tronco esquerdo92,93.
Ensaio randômico com 102 pacientes comparou
o implante de stents com a cirurgia de revascularização,
no tratamento de estenoses localizadas no tronco da
artéria coronária esquerda não-protegido por cirurgia
de revascularização prévia, em que 38% dos casos
receberam implante de stents farmacológicos. No seguimento clínico ao final de dois anos, as taxas de eventos adversos maiores foram similares em ambos os
métodos de tratamento, com tendência a maior sobrevida naqueles alocados para ICP94.
A série consecutiva mais expressiva reuniu a experiência de 12 centros da Coréia do Sul acumulada
durante seis anos, demonstrando os resultados ao final de três anos em pouco mais de mil pacientes,
sendo 396 tratados com implante de stents farmacológicos e mais de 500, no total, com stents coronários.
Destes, metade apresentava acometimento da bifurcação. Ao final do período trienal de análise clínica, as
taxas de sobrevida livre de eventos maiores (óbito,
IAM e AVC) foram quase idênticas para aqueles tratados com stents ou submetidos a cirurgia (90,7% versus
90,8%; p = NS). Mesmo com a utilização de stents
farmacológicos em mais de 70% dos pacientes, estes
necessitaram de nova revascularização do miocárdio
tardia, em quase 7%, diferença significativa, favorável
àqueles submetidos a cirurgia de revascularização do
miocárdio92.
A recomendação para o tratamento de estenoses
significativas localizadas no tronco coronário esquerdo
(> 50%) ainda sinaliza a preferência para o tratamento
cirúrgico, principalmente se envolve a bifurcação. Contudo, uma maior liberalidade já é granjeada para as
estenoses de localização ostial e no corpo, sem envolver
a bifurcação, associada à disponibilidade da utilização
de stents farmacológicos. Os resultados futuros devem
promover maior esclarecimento.
Rev Bras Cardiol Invas 2008;16(supl.2)
Recomendações e Níveis de Evidência
Intervenção Coronária Percutânea Multiarterial
Recomendação
Nível de Evidência
Pacientes com estenoses coronárias múltiplas, anatomia coronária,
favorável, função ventricular esquerda preservada e não-diabéticos
I
A
Doença arterial coronária múltipla, diabéticos ou não, com evidências de alto risco cirúrgico, como reoperação, disfunção ventricular esquerda significativa (fração de ejeção < 35%) e/ou morbidades clínicas associadas, com expectativa de vida < 5 anos
IIa
B
Pacientes com estenoses coronárias duplas ou triplas, associadas
à estenose proximal da artéria descendente anterior, com função
ventricular esquerda reduzida (fração de ejeção < 50%), diabéticos,
mas com anatomia coronária favorável para abordagem percutânea
IIb
B
Intervenção Coronária Percutânea para o Tronco da Artéria Coronária Esquerda Não Protegido por Revascularização Cirúrgica Prévia
Recomendação
Nível de Evidência
Estenose no tronco da artéria coronária esquerda com evidências
de alto risco cirúrgico, como reoperação, disfunção ventricular
esquerda significativa (fração de ejeção < 35%) e/ou morbidades
clínicas associadas, com expectativa de vida < 5 anos
IIa
C
Estenose no tronco da artéria coronária esquerda em pacientes
desprovidos de fatores de risco promotores de alto risco cirúrgico
IIb
B
43
Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia – Intervenção Coronária Percutânea e Métodos Adjuntos Diagnósticos em
Cardiologia Intervencionista (II Edição – 2008)
6. Métodos Adjuntos de Imagem e Diagnóstico
Invasivo
6.1 Ultra-som intracoronário
O ultra-som intracoronário é uma técnica de acesso
invasivo que permite a aquisição de imagens tomográficas
dinâmicas, in vivo, da luz e da parede vascular, sendo
considerado, até o presente momento, um dos melhores métodos de imagem invasivos para a devida análise
clínica das características (quantitativas e qualitativas)
da aterosclerose coronária95,96.
Sua utilização se estende desde o auxílio diagnóstico até o monitoramento de uma ICP. Como método
diagnóstico, estudos seriados demonstraram que é capaz de predizer o prognóstico e melhor selecionar a
terapêutica de pacientes com lesões coronárias intermediárias (50%-70%) e duvidosas localizadas no tronco da
artéria coronária esquerda, nas quais a interpretação isolada
da cinecoronariografia não é elucidativa97. Em relação às
estenoses moderadas (50%-70% na cinecoronariografia),
uma série controlada com seguimento clínico de um ano
evidenciou que aqueles pacientes com estenoses coronárias
quantificadas nesses limites, em que o ultra-som revela
uma área luminal mínima maior que 4,0 mm2, usufruíram evolução clínica significativamente melhor, com maior
isenção da ocorrência de desfechos maiores que aqueles
enfermos com valores de área luminal inferiores. Segundo
os autores, esses critérios são válidos e consistentes para
vasos coronários de calibre moderado (diâmetro de referência médio de 3,0 mm) e não são considerados aplicáveis a vasos muito calibrosos (> 3,5 mm) ou reduzidos
(< 2,5 mm). Nos pacientes que apresentam áreas luminais
reduzidas e estenose moderada, uma ICP, se factível,
estaria indicada, reduzindo as taxas de eventos adversos
maiores ao final de um ano98.
No auxílio ao implante dos stents coronários como
um dos componentes de uma estratégia combinada com
a ICP, diversos estudos controlados avaliaram o ultrasom como um método adjunto para guiar seu implante.
Em metanálise que incluiu nove estudos (2.972 pacientes), sua utilização não proporcionou redução das taxas
de óbito ou infarto após seis meses (RC = 1,13; IC 95%,
0,79 a 1,61; p = 0,5)99. No entanto, aqueles pacientes em
que o implante dos stents foi orientado por meio do
ultra-som intracoronário apresentaram taxas de necessidade de repetição de procedimentos de revascularização
(reestenose clínica) menores (RC = 0,62; IC 95%, 0,49 a
0,78; p = 0,00003), além de taxas de reestenose angiográfica
também mais reduzidas (RC = 0,75; IC 95%, 0,60 a 0,94;
p = 0,01), em comparação aos implantes monitorados
somente por meio de angiografia99.
Com o advento dos stents farmacológicos, a complexidade dos casos submetidos a ICP com esses dispositivos se tornou progressivamente maior. Para tanto, com freqüência, se faz necessário o implante de
múltiplos dispositivos, por vezes sobrepostos ou localizados em bifurcações. Tendo em vista a preocupação com a segurança tardia, identificou-se, por meio
do ultra-som intracoronário, que um porcentual variável de casos com esse perfil de maior complexidade
(10% a 30%) não logra obter, somente com o controle
angiográfico, os critérios ótimos desejados, e esses
casos estariam assim mais propensos à ocorrência de
fenômenos de trombose tardia15. Portanto, sua utilização rotineira em casos que denotem maior complexidade pode se constituir em ferramenta consistente para
a elevação da segurança tardia. Estudos controlados,
em andamento, pretendem definir a robustez dessa
recomendação 38.
Recomendações e Níveis de Evidência
Ultra-Som Intracoronário na Cardiologia Intervencionista
Recomendação
Nível de Evidência
Avaliação de estenose coronária de grau moderado (50%-70% do
porcentual de estenose) à cinecoronariografia*
IIa
B
Monitoração rotineira da intervenção coronária percutânea com
implante de stents coronários
IIa
A
Avaliação da presença de doença arterial coronária em pacientes
submetidos a transplante cardíaco
IIb
C
* Mensurada por meio de angiografia coronária quantitativa.
44
Rev Bras Cardiol Invas 2008;16(supl.2)
A mensuração da pressão intracoronária é efetivada de maneira invasiva, à semelhança da realização
de uma ICP, por meio da ultrapassagem de fio-guia
0,014" com sensor de pressão localizado a 3 cm de
sua extremidade distal.
são média da aorta mensurada pelo cateter-guia, durante
hiperemia máxima100. Estudos experimentais e clínicos
demonstram que a reserva fracionada de fluxo miocárdico
é um índice confiável e robusto, específico para cada
vaso e obstrução, útil para avaliar o fluxo colateral, de
determinações rápidas, reprodutíveis, sem sofrer influência de outros fatores hemodinâmicos e pouco dependente
do estado funcional da microcirculação coronária101.
A reserva fracionada de fluxo do miocárdio é definida como a relação entre o fluxo de sangue no vaso
coronário estenótico e o fluxo nesse mesmo vaso na
ausência de estenose, durante hiperemia máxima (induzida por adenosina intracoronária ou sistêmica). Esse
índice representa a fração do fluxo miocárdico máximo
normal que poderá ser atingido, a despeito da presença
da estenose. Para fins práticos, o cálculo da reserva
fracionada é obtido dividindo-se a pressão média distal
da artéria coronária (pressão distal à estenose) pela pres-
A mensuração da reserva fracionada permite a identificação de pequenas alterações na resistência ao fluxo
coronário, podendo ser utilizada para guiar a realização
de procedimentos de ICP ou a investigação de possíveis
obstruções coronárias duvidosas19,38,100-104. Considera-se
que a reserva fracionada apresenta valor normal de 1,
que valores menores que 0,75 são indicativos de isquemia,
e que valores maiores que 0,94 são indicativos de sua
normalização, objetivos almejados por uma ICP rotulada
como bem-sucedida100-102.
6.2 Medida de Pressão Intracoronária e Reserva
Fracionada de Fluxo do Miocárdio
Recomendações e Níveis de Evidência
Medida de Pressão Intracoronária e Reserva Fracionada de Fluxo
do Miocárdio na Cardiologia Intervencionista
Recomendação
Nível de Evidência
Alternativa à realização de teste não-invasivo detector de isquemia
miocárdica (caso seja inviável ou inconclusivo) para determinar a
necessidade de realizar intervenção coronária percutânea
IIa
B
Avaliação de estenose coronária de grau moderado (50%-70% do
porcentual de estenose) à cinecoronariografia*
IIa
B
Monitoração rotineira da intervenção coronária percutânea com o
implante de stents coronários
IIb
B
* Mensurada por meio de angiografia coronária quantitativa.
45
Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia – Intervenção Coronária Percutânea e Métodos Adjuntos Diagnósticos em
Cardiologia Intervencionista (II Edição – 2008)
7. Dispositivos Percutâneos Adjuntos
7.1 Aterectomia Rotacional (RotablatorTM)
A presença de calcificação acentuada localizada
nos vasos coronários é um dos principais fatores para
o insucesso ou a obtenção de resultado desfavorável
de uma ICP. Por vezes, as estenoses com alto grau de
rigidez, não dilatáveis por meio da insuflação a alta
pressões de balões não complacentes, impedem a
finalização do procedimento com o implante do stent
coronário 19,38,103.
A utilização da aterectomia rotacional previamente à efetivação da ICP, após a constatação da rigidez
excessiva de uma obstrução coronária, auxilia na modificação da composição da placa calcificada, facilitando o processo de dilatação mecânica103. Esse dispositivo pode superar a placa de ateroma calcificada,
na medida em que a oliva de diamante, girando a altas
velocidades (14,0000-18,0000 rpm), promove a pulverização da placa. Podem ocorrer fenômenos de espasmo significativo e comprometimento do fluxo coronário,
devendo-se dominar o tratamento farmacológico adequado desses transtornos 38,103-109.
A aterectomia rotacional também tem sido sugerida
como um método adjunto para o tratamento da reestenose intra-stent, já que a ablação de tecido neointimal excessivo poderia ser mais eficaz que a compressão e extrusão desse tecido, por meio da dilatação
com balão. Contudo, as séries controladas agruparam
número limitado de pacientes, e encontraram resultados divergentes, não sendo possível, até o momento,
exarar recomendações consistentes que valorizem sua
utilização no tratamento dessa complicação angiográfica
tardia107-110.
Recomendação e Nível de Evidência
Intervenção Coronária Percutânea com Aterectomia Rotacional
(Rotablator™)
Recomendação
Nível de Evidência
Tratamento adjunto de lesões fibróticas ou com extensa calcificação
que não podem ser ultrapassadas ou dilatadas com balão
I
B
46
Rev Bras Cardiol Invas 2008;16(supl.2)
7.2 Cateter-Balão Cortador (Cutting Balloon™)
O cateter-balão cortador, ou Cutting Balloon™ (CB),
consiste de um cateter dotado de três ou quatro lâminas
cortantes, aderidas longitudinalmente sobre um balão
não complacente. Dessa forma, o alinhamento das lâminas permite que a ruptura da placa possa ser executada
de modo mais progressivo e controlado111.
Esse dispositivo encontra um nicho de prescrição
como método adjunto à ICP, nas situações em que se
antecipa ou se encontra maior resistência à dilatação
com o balão, principalmente diante de calcificação coronária maciça19,38,111. O CB pode ser assim utilizado
efetuando-se a pré-dilatação dessas estenoses rígidas.
Recomenda-se evitar sua utilização com a evidência de
trombo intracoronário ou estenoses de contorno muito
irregular e ulceradas, assim como diante da localização
de estenoses em curvaturas acentuadas.
A outra recomendação para sua prescrição é no
tratamento da reestenose intra-stent112,113. A associação dessas lâminas com o balão em um mesmo dispositivo permite que o CB obtenha melhor estabilidade e controle da dilatação da reestenose de stents
previamente implantados, sem o deslizamento abrupto e de difícil controle observado quando do emprego
apenas do cateter-balão. Contudo, estudo controlado
e comparativo por meio randômico não logrou demonstrar benefícios tardios significativos, como a redução das taxas de nova revascularização tardia. Nesse estudo, o CB demonstrou apenas algumas vantagens secundárias, como a menor necessidade de utilizar múltiplos balões e redução do implante de stents
adicionais, assim como maior estabilidade desse dispositivo em comparação ao cateter-balão, quando da
insuflação (6,5% versus 25,1%; p < 0,01)110.
Recomendações e Níveis de Evidência
Intervenção Coronária Percutânea com o Cateter-Balão Cortador
(Cutting Balloon™)
Recomendação
Nível de Evidência
Tratamento adjunto de lesões fibróticas ou com extensa calcificação
que não podem ser ultrapassadas ou dilatadas com balão
Tratamento da reestenose intra-stent
IIa
C
IIb
B
47
Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia – Intervenção Coronária Percutânea e Métodos Adjuntos Diagnósticos em
Cardiologia Intervencionista (II Edição – 2008)
7.3 Dispositivos de Proteção Distal da Circulação
Coronária e Aspiração Intracoronários
Os pacientes submetidos a ICP estão expostos ao
risco de embolização distal relacionado à liberação
não-controlada de material aterotrombótico originado
da estenose coronária, seja antes ou após o implante
de stents coronários, em pacientes tratados na vigência
de síndromes estáveis como instáveis114.
Esse fenômeno pode determinar alterações no fluxo
coronário (no-reflow e slow flow) com conseqüente comprometimento da perfusão miocárdica, evidência de isquemia
miocárdica aguda, IAM de graus variáveis, instabilidade
hemodinâmica e aumento da mortalidade38,114.
Os mecanismos envolvidos na fisiopatologia desse
comprometimento do fluxo coronário ainda não são
completamente conhecidos. Sabe-se que são resultados
de disfunção endotelial provocada pela liberação de
radicais livres e fatores humorais, vasoespamo, embolização
de material trombótico, fibrina e fragmentos ateromatosos,
além de edema intersticial com hemorragia intramural114.
Esse risco é mais elevado no tratamento intervencionista
dos enxertos de veia safena e em pacientes submetidos
a ICP nas primeiras horas do IAM114,115.
Existem duas modalidades de protetores da circulação distal coronária, quais sejam: filtros de captura
mediante a oclusão por meio da insuflação de um
balão (n = 3) proximal e/ou distal à oclusão (o mais
comum) e os modelos por captura passiva, isto é, dotados
de uma rede na extremidade distal do cateter (n = 4).
Os primeiros promovem isquemia miocárdica tanto mais
prolongada for a insuflação do balão de bloqueio distal.
Esses modelos requerem curva de aprendizado para
que esse processo seja expedito o suficiente para que
não desencadeie sinais e sintomas de isquemia miocárdica
expressivos. O segundo modelo tem utilização mais
amigável e de aprendizado mais rápido. Nas séries
comparativas e controladas entre as duas modalidades
de filtros, apesar de não lograrem um consenso absoluto, não se encontrou diferença significativa relacionada à ocorrência de desfechos adversos maiores entre
os dois modelos que justifique recomendar a superioridade de um em relação ao outro115.
Os dispositivos de aspiração intracoronários também exibem duas modalidades de funcionamento dos
cateteres, uma com auxílio de motorização mecânica a
baixas rotações e outra por meio de aspiração manual,
com seringa, a critério e controle do operador116.
7.3.1 Aplicação nos Enxertos de Veia Safena
Seis estudos controlados já foram efetivados com
esses dispositivos dedicados e aplicados exclusivamente em enxertos degenerados de veia safena, somando cerca de 4 mil pacientes (n = 3.992) subme48
tidos a ICP com implante de stents coronários, com ou
sem proteção distal. Essas séries também incluem a
análise comparativa entre filtros oclusivos e passivos,
e análise comparativa randômica entre os dois modelos de filtros descritos115.
A grande variação do perfil angiográfico é uma
constatação freqüente nesse tipo de conduto, com
enxertos tratados de diâmetro desde 2,8 mm até 6,0
mm, e a incidência relatada de eventos adversos maiores
nessas séries variou bastante também, de 4% até 50%115.
A ocorrência de eventos adversos maiores, ao
final de 30 dias, foi significativamente menor nos pacientes submetidos a ICP com implante de stent associado à proteção distal da circulação coronária (9,6%;
n = 3.286) que nos submetidos sem dispositivo de
proteção distal (13,8%; n = 672; p = 0,001). Essa
redução está relacionada à prevenção da ocorrência
de IAM, principalmente sem onda Q, sem contudo
alterar o desfecho maior, a mortalidade115.
Registros e relatos da prática clínica evidenciam
que, mesmo diante desse benefício, apenas 50% dos
procedimentos com implante de stents coronários em
enxertos de veia safena são amparados com dispositivos de proteção distal. Em alguns casos a justificativa
é anatômica, pela exigüidade de vaso epicárdico distal
com calibre suficiente para abrigar o cateter, seja para
acomodação do balão oclusivo ou rede protetora, estenoses suboclusivas e calcificadas, que dificultam a
passagem do dispositivo de proteção e mesmo a evidência de estenoses focais e ostiais, que, na interpretação do intervencionista responsável, demandam menor risco para a ocorrência de embolização de material
aterotrombótico115,117.
Estudo efetuando um modelo de predição de risco, reunindo e analisando esses mesmos pacientes,
identificou as duas variáveis independentes para a
ocorrência de desfechos adversos maiores em procedimentos efetivados em enxertos de veia safena, com
ou sem filtro de proteção distal, quais sejam o volume
de placa angiográfico e o escore de degeneração117.
Quanto mais elevados forem esses dois escores,
elaborados e obtidos por meio da relação entre o
diâmetro de referência do enxerto e a extensão da
lesão, maiores as chances para ocorrência de eventos
adversos maiores combinados, variando de 8% até
35,5% nos pacientes que não utilizaram filtros, e de
5% a 22,8% naqueles protegidos por filtro. Denota-se
que o efeito protetor é homogêneo, consistente e significativo em toda a gama de escores de degeneração,
com redução de risco variando de 39% em graus
menores de risco até 36% no extremo oposto117.
7.3.2 Aplicação no Infarto Agudo do Miocárdio
Diversos estudos controlados randômicos foram
realizados, a maioria sem lograr reunir o número de
Rev Bras Cardiol Invas 2008;16(supl.2)
pacientes necessário para aferir possível impacto nos
desfechos maiores, como mortalidade e reinfarto116.
similar, com ou sem proteção de dispositivo filtrante
(5,4% versus 3,2%; p = 0,17)118.
Até 2007, 21 estudos clínicos comparativos e
randômicos (ICP primária nas primeiras 12 horas do
IAM, com implante de stents, com ou sem proteção
distal) foram reunidos em uma metanálise, totalizando
mais de 3 mil pacientes com seguimento clínico imediato, isto é, até 30 dias de evolução (n = 3.721). Dentre
esses estudos, oito reuniram séries com filtros de proteção distal e os demais com aspiradores de material intracoronário, sejam eles passivos ou ativos, movidos por
algum dispositivo motorizado ou manual116.
O segundo estudo é a pesquisa TAPAS (Thrombus
Aspiration during Primary Percutaneous Coronary Intervention), que reuniu 1.017 infartados e comparou, por
meio randômico, pacientes submetidos a ICP primária
(com implante de stents coronários) com ou sem a utilização de aspiração manual distal prévia ao implante da
endoprótese. A aspiração foi efetivada em todos os infartados selecionados para essa estratégia, com ou sem evidência de carga angiográfica trombótica. Os objetivos
primários foram de relevância secundária e foram favoráveis àqueles tratados com aspiração distal coronária sistemática, substanciado pela obtenção de maior índice de
perfusão tecidual de grau 3 (46% versus 32%; p < 0,001)
e resolução superior a 70% do segmento ST (57% versus
44%; p < 0,001) aferida até três horas após o final do
procedimento. Os dados de um ano de seguimento demonstram que os resultados obtidos aos 30 dias foram
sustentados, com redução da mortalidade consistente de
acordo com o índice de perfusão tecidual final do procedimento (grau 3: 3,7% versus 6,1%; grau 2: 4,7% versus
7,6%; grau 0 ou 1: 11,0% versus 14,8%; p = 0,001)119.
Nessa revisão sistemática, não foi possível detectar
modificação nos desfechos adversos maiores, principalmente na variável mortalidade, seja naqueles que
realizaram ICP primária com implante de stents com
proteção ou aspiração distal (2,5%; n = 1.877) ou sem
esses dispositivos (2,6%; n = 1.844; p = NS). Desfechos
secundários foram beneficiados com a utilização dos
dispositivos, com maiores taxas de restabelecimento do
fluxo coronário anterógrado (TIMI grau 3) entre os pacientes randomicamente selecionados para proteção e/ou
aspiração (89,4% versus 87,1%; p = 0,03)116.
Após a publicação dessa metanálise, dois ensaios
foram apresentados. O primeiro deles é o ensaio DEDICATION (Drug Elution and Distal Protection in STElevation Myocardial Infarction), que comparou randomicamente o implante de stents farmacológicos na
vigência do IAM com ou sem proteção distal de filtro
não-oclusivo (n = 626 pacientes). A ocorrência de
desfechos adversos maiores aos 30 dias após a realização do procedimento em pacientes infartados foi
A recomendação neste momento é que novas
pesquisas corroborem e sustentem os achados do estudo
citado, permitindo então sua prescrição e incorporação na prática clínica diária. No cenário do IAM, outras
estratégias distintas da ICP primária, como a facilitação, também motivaram entusiasmo inicial em ensaios
unicêntricos e com amostra reduzida de enfermos,
avaliando desfechos de quilate secundário, porém ao
serem ampliadas e aferidas em ensaios multicêntricos
e com amostra expressiva não lograram a comprovação esperada52,53.
Recomendações e Níveis de Evidência
Intervenção Coronária Percutânea com a Assistência de Dispositivos de Proteção Distal e Aspiração Intracoronários
Recomendação
Nível de Evidência
Dispositivo de proteção para a circulação coronária distal na intervenção coronária percutânea com implante de stents em enxertos
de veia safena coronários
I
A
Dispositivo de aspiração manual intracoronário na intervenção
coronária percutânea primária
IIa
B
Dispositivo de proteção à circulação coronária distal na intervenção
coronária percutânea primária
IIb
A
Dispositivo de aspiração intracoronário manual ou motorizado
na intervenção coronária percutânea em enxertos de veia safena
coronários
III
B
Dispositivo de aspiração motorizado intracoronário na intervenção
coronária percutânea primária
III
A
49
Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia – Intervenção Coronária Percutânea e Métodos Adjuntos Diagnósticos em
Cardiologia Intervencionista (II Edição – 2008)
7.4 Balão Intra-aórtico
É o dispositivo mais utilizado na cardiologia intervencionista para fornecer suporte circulatório em pacientes portadores de disfunção ventricular esquerda significativa (fração de ejeção < 30%), por meio da contrapulsação aórtica, de manuseio universal, e a manu-
tenção por vários dias, se necessária. Sua instalação
requer não só o treinamento do cardiologista intervencionista quanto a suas indicações e contra-indicações,
mas também de toda a equipe que o manuseará posteriormente a sua prescrição, com a finalidade de obter o
melhor desempenho e evitar complicações57,120,121.
Recomendações e Níveis de Evidência
Intervenção Coronária Percutânea com Assistência do Balão Intra-aórtico
Recomendação
Nível de Evidência
Choque cardiogênico
I
A
Intervenção coronária percutânea com insucesso, evidência de isquemia
miocárdica aguda e instabilidade hemodinâmica
I
C
Instalação profilática em pacientes de alto risco para realização de intervenção coronária percutânea (fração de ejeção < 30% e estenose no tronco
de artéria coronária esquerda não-protegido, multiarteriais complexos e
vaso coronário de circulação anterógrada derradeira)
IIa
B
50
Rev Bras Cardiol Invas 2008;16(supl.2)
8. Stents Coronários
8.1 Stents Não-Farmacológicos
O stent coronário é uma órtese destinada ao implante definitivo no leito arterial coronário, com o objetivo de ampliar o diâmetro do vaso obstruído, consistindo em uma malha metálica expansível confeccionada a partir da matéria-prima de aço inoxidável ou outras
ligas, cortada a laser com precisão submilimétrica. Esse
dispositivo é acoplado a um cateter-balão de entrega
para o implante nos vasos coronários3,19,38.
O primeiro stent coronário expansivo por balão foi
implantado por Sousa e equipe, em colaboração com
os idealizadores de um dos primeiros modelos desse
tipo de dispositivo coronário, Júlio Palmaz e Richard
Schatz, em dezembro de 1987, em São Paulo, SP, no
Hospital do Coração. Esse dispositivo pioneiro aprimorado com algumas modificações (haste articulada central de 1 mm conectando duas porções de uma prótese
de aço inoxidável com desenho sinusoidal) foi patenteado como stent de Palmaz-SchatzTM e, a partir de
1991, foi liberado para a prática clínica no Brasil3.
A introdução do conceito de implante ótimo do
stent coronário, por Colombo et al., em 1995, ampliou de maneira expressiva a segurança do procedimento122. Os autores evidenciaram, com o auxílio do
ultra-som intracoronário, que insuflações adicionais
com altas pressões (≥ 12 atm), praticadas após a liberação do stent, proporcionavam ganhos expressivos
na sua expansão, na geometria da luz e na aposição
das hastes, reduzindo os distúrbios provocadores de
anormalidades no fluxo coronário epicárdico e, com
isso, o fenômeno da trombose protética. Associada a
essas mudanças técnicas importantes, foi proposta uma
simplificação da farmacoterapia adjunta, tanto no prétratamento como após o procedimento, demonstrando o benefício superior dos antiplaquetários (associação de ácido acetilsalicílico e tienopiridínicos) na prevenção da trombose dos stents122-124.
Desta feita, sua utilização tornou-se crescente e
consistente, e em diversos registros nacionais e internacionais o porcentual de sua participação como dispositivo finalizador de revascularização do miocárdio
percutânea atinge cifras superiores a 95%1.
No Brasil, essa robusta evidência acerca de sua
segurança imediata e eficácia tardia também foi constatada, reduzindo drasticamente a morbidade hospitalar do procedimento (oclusão do vaso tratado, cirurgia
de revascularização de emergência e óbito após ICP
somente com o cateter-balão) e promovendo um procedimento previsível, seguro (taxas de sucesso > 95%),
tornando-se equalizador das diversas apresentações
clínicas e angiográficas relacionadas à doença arterial
coronária. Além dos benefícios imediatos, o implante
dos stents, de maneira abrangente, reduziu a reestenose
coronária em 30%, quando comparado à ação isolada
do cateter-balão 2,3,125-128.
Em janeiro de 2000, no Brasil, os stents coronários
foram incorporados à lista de procedimentos reembolsados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Existem
registrados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) mais de 20 marcas distintas de stents
coronários expansíveis por balão, metálicos e nãofarmacológicos2,3.
Até o presente momento, existem poucas evidências
dentre os stents não-farmacológicos que promovam diferenças significativas de desempenho entre os inúmeros
modelos disponíveis. São utilizados, na prática clínica
atual, stents metálicos de aço inoxidável, cromo-cobalto
e titânio, que apresentam diferenças de desempenho de
acordo com a característica própria desses materiais, não
sendo, contudo, demonstrado por meio de estudos
controlados, multicêntricos e randômicos, que exista
inferioridade ou superioridade entre esses stents em relação às taxas de reestenose coronária128.
Contudo, pesquisas passadas evidenciaram com
consistência que stents com estrutura em mola, revestidos com ouro e auto-expansíveis, exibiam resultados
inferiores, promovendo taxas mais elevadas de reestenose
coronária que aqueles tubulares, não revestidos e
expansíveis por balão128,129. Estudos controlados também evidenciaram que stents coronários com hastes de
espessura superior a 0,10 mm promoviam cifras mais
elevadas de reestenose, devendo também ser evitados130,131. Os modelos de stents com essas características ou foram retirados da prática clínica ou sofreram
rejeição por parte dos cardiologistas intervencionistas e
progressivamente foram abandonados132.
Com os avanços tecnológicos, um número crescente e diverso de stents encontra-se à disposição
para utilização na prática clínica brasileira. É importante manter critérios para seleção desses stents, procurando utilizar produtos que atendam às necessidades básicas de segurança imediata e eficácia tardia,
padronizadas nos ensaios clínicos consagrados.
O stent coronário escolhido deve ser montado sobre
um balão com capacidade de atingir altas pressões de
insuflação (12-20 atm), com característica de pouca ou de
semicomplacência, com radiopacidade suficiente para que
seja visualizado sem, entretanto, ser excessivo, que perturbe a análise angiográfica do procedimento, com hastes
de espessura inferior a 0,10 mm, proporcionando cobertura do vaso superior a 0,70 mm, com perfil de cruzamento inferior a 1,10 mm, que possibilite a prática do
implante sem pré-dilatação, com recolhimento e encurtamento mínimo (inferior a 3%) e que seja compatível com
cateteres de calibre maiores ou iguais a 5 French132,133.
8.2 Stents Farmacológicos
A reestenose intra-stent é uma limitação dos stents
coronários. O mecanismo principal é a ocorrência de
51
Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia – Intervenção Coronária Percutânea e Métodos Adjuntos Diagnósticos em
Cardiologia Intervencionista (II Edição – 2008)
hiperplasia mio-intimal excessiva, reobstruindo a luz do
vaso em cerca de 15% a 45% dos casos134. O processo
sofre múltiplas influências, seja de variáveis clínicas, como
a presença de diabete melito, seja de variáveis angiográficas, como o diâmetro do vaso-alvo inferior a 2,5 mm
ou de estenoses com extensão superior a 35 mm. Também sofre influência de variáveis relacionadas ao procedimento, como o comprimento do stent ou a verificação
de resultados finais imperfeitos6,17,18,135,136.
Todas as tentativas de reduzir a reestenose na era
do balão, com administração de fármacos de diversas
naturezas, não lograram sucesso nos estudos randomizados, nos quais houve a comparação do princípio
ativo com o placebo. Após o advento dos stents, os
fármacos novamente mostraram-se ineficientes quando
administrados por via sistêmica137,138.
Os stents farmacológicos fundamentam-se no princípio da administração local, utilizando o próprio stent
como plataforma para carrear o princípio bioativo. Ao
aplicar a substância diretamente sobre a lesão a ser
tratada, possibilita que o fármaco seja liberado de modo
controlado, em altas concentrações locais, porém com
baixas concentrações sistêmicas, elevando a ação sobre o vaso-alvo e minimizando os riscos de efeitos
colaterais sistêmicos. São dispositivos metálicos semelhantes àqueles não-farmacológicos, porém revestidos
com polímeros aos quais são adsorvidas substâncias
antiproliferativas, possibilitando a liberação controlada
de medicamentos na estenose-alvo, concentradas nos
primeiros 15 a 30 dias após o procedimento. Pesquisas
demonstraram que os stents farmacológicos com a impregnação dos fármacos diretamente nas hastes metálicas, sem a utilização de polímeros, proporcionavam
resultados significativamente inferiores e não obtinham
a redução desejada da hiperplasia intimal, ou seja, ausência da eficácia pretendida137,139.
Os stents farmacológicos disponíveis são dispositivos que foram idealizados objetivando a prevenção
e o tratamento da reestenose coronária (redução da
hiperplasia mio-intimal). Os fármacos utilizados atuam
sobre os mecanismos fisiopatológicos que determinam a hiperplasia neo-intimal intra-stent, com o intuito de reduzir o risco de reestenose tardia140-142.
O estudo pioneiro a testar a eficácia e a segurança
de stents farmacológicos, com liberação de sirolimus,
foi realizado no Brasil, sendo o primeiro stent farmacológico implantado em termos internacionais, em dezembro de 1999, no Instituto Dante Pazzanese de
Cardiologia de São Paulo, SP, por Sousa et al.143-144
Foram recrutados 30 pacientes portadores de doença
coronária uniarterial, e a eficácia tardia, com a redução
da hiperplasia mio-intimal, foi documentada em estudos seqüenciais angiográficos e também por meio de
ultra-som intracoronário, aos 4, 12, 24 e 48 meses pósimplante. Não foram observados casos de reestenose
52
intra-stent até dois anos de seguimento, e apenas um
paciente apresentou reestenose no segmento tratado,
necessitando de nova ICP. Essa série foi responsável
pela viabilização desse dispositivo e impulsionadora
dos passos seguintes na pesquisa clínica143,144.
8.2.1 Critérios para Análise e Seleção de Stents
Farmacológicos
Diversos stents farmacológicos foram projetados,
desde o primeiro momento, porém a maioria não
apresentou resultados comprobatórios de segurança
imediata e eficácia tardia suficientes que permitissem
sua aplicação em séries com número mais amplo de
pacientes, sendo abandonados após a demonstração
de sua ineficiência137,145-148.
Dentre eles, dois stents farmacológicos poliméricos
lograram ultrapassar os estudos iniciais de segurança
e eficácia e seguiram um programa sistemático com a
elaboração de séries controladas, multicêntricas, com
comparação randômica e dotadas de poder estatístico
suficiente para uma análise comparativa com os stents
não-farmacológicos, incluindo estudo angiográfico
seriado tardio (nove meses de evolução), e em grande
parte também com análise ultra-sonográfica tardia (porcentual predeterminado do grupo total de pacientes
recrutados por estudo)137,145-148.
Esses dispositivos carreiam no stent polimérico a
eluição de sirolimus (rapamicina) e de paclitaxel, o
primeiro um antibiótico macrolídeo utilizado na imunossupressão de transplantes e o segundo, um quimioterápico potente prescrito no tratamento de neoplasia
de mama e aparelho reprodutor feminino. Ambos são
confeccionados de aço inoxidável137,145-148.
Após essas séries, diversos outros dispositivos já
foram produzidos, contendo a tríade de fundamentos
básicos desses dois projetos iniciais, quais sejam: um
stent de liga metálica expansível por balão, dotado da
eluição de um fármaco com ação antiproliferativa eficaz e liberado por meio de polímero durável ou mesmo
biodegradável 137,145-148.
No Brasil, a ANVISA concedeu o registro e a liberação para a utilização na prática clínica da cardiologia
intervencionista de 12 modelos distintos de stents farmacológicos, até o final do primeiro trimestre de 2008.
A recomendação para escolha de um desses dispositivos para a aplicação clínica está fundamentada
na comprovação de sua segurança manifesta por evidências consistentes de baixas taxas de trombose, sejam
imediatas até muito tardias, e a documentação da eficácia necessária, compreendendo a redução das taxas
de reestenoses angiográficas e clínicas, em ensaios
clínicos comparativos de superioridade (comparação
com stents não-farmacológicos) ou não inferioridade
(comparação com um stent farmacológico com segurança e eficácia já comprovadas)149.
Rev Bras Cardiol Invas 2008;16(supl.2)
Além disso, e diante da preocupação existente
com a segurança tardia e o risco da ocorrência de
fenômenos trombóticos protéticos muito tardios (mais
de um ano após o procedimento), recomenda-se que
os novos ensaios clínicos dedicados à pesquisa dos
stents farmacológicos ampliem o seguimento clínico
de seus protocolos para um período mínimo de dois
anos de evolução, com a confirmação da sobrevida
livre de eventos adversos maiores tardios, quais sejam,
novos procedimentos de revascularização (lesão-alvo),
ocorrência de IAM e óbito, quando comparados com
os respectivos grupos de controle randômico ou em
registros controlados, com os devidos ajustes, de acordo
com as variações clínicas e angiográficas analisadas
(Tabela 8)149-151.
8.2.2 Pesquisas com os Stents Farmacológicos
Os ensaios RAVEL (Randomized Comparison Of a
Sirolimus-Eluting Stent With a Standard Stent For Coronary
Revascularization), SIRIUS (Sirolimus-Eluting Stents versus
Standard Stents in Patients with Stenosis in a Native
Coronary Artery) e seus satélites (C-SIRIUS e E-SIRIUS)
demonstram de modo marcante a eficácia tardia do
stent farmacológico com eluição de sirolimus em comparação ao não-farmacológico, reunindo 1.791 pacientes. Essas séries incluíram pacientes com angina estável
e instável, diabéticos e não-diabéticos, com estenoses
em artérias coronárias naturais e sem tratamento
percutâneo prévio, de extensão < 30 mm, localizadas
em vasos com diâmetros de referência superiores a
2,50 mm e menores ou iguais a 3,50 mm. A reestenose
angiográfica foi reduzida em média para taxas inferiores
a 10% (versus 35%, em média, dos quatro estudos
citados versus os stents não-farmacológicos; p < 0,001)
e a necessidade de repetir um novo procedimento de
revascularização para taxas inferiores a 5% (versus 18%,
em média, dos quatro estudos citados versus os stent
não-farmacológico; p < 0,001). Na análise por meio do
ultra-som intracoronário e da angiografia coronária quantitativa, a perda luminal tardia relacionada à hiperplasia
mio-intimal cicatricial foi drasticamente menor (0,01 ±
0,33 mm versus 0,80 ± 0,53 mm; p < 0,001), justificando a repercussão clínica observada. O benefício clínico
foi comprovado e mantido por quatro anos de se-
guimento clínico. Com esses resultados, o stent
farmacológico com eluição de sirolimus foi o primeiro
a ser liberado na prática clínica brasileira, em maio de
2002 152,153.
O stent com eluição de paclitaxel seguiu um programa de pesquisa clínica também sistemático e progressivo
(Estudos TAXUS I até VI), desde pacientes de perfil de risco
menor até aqueles de complexidade maior, reunindo 3.445
enfermos portadores de doença arterial coronária, comparados a um stent não-farmacológico, também de modo
randômico152,153. Esses protocolos contemplaram enfermos com angina estável, instável, diabéticos e não-diabéticos, portadores de estenoses localizadas em artérias
coronárias naturais, sem tratamento percutâneo prévio,
com diâmetro de referência superior a 2,25 mm e inferior
a 4,0 mm e com extensão de até 46 mm. A reestenose
angiográfica segmentar (intra-stent e bordas) também foi
reduzida de modo significativo (12,3% versus 29,9%; p
< 0,001), comprovada com menor perda luminal tardia
intra-stent (0,41 + 0,54 mm versus 0,89 + 0,58 mm; p
< 0,001), no cotejamento entre pacientes que receberam implante de stents com eluição de paclitaxel versus
não-farmacológicos, respectivamente154. A redução das
taxas de reestenose foi aferida com uma necessidade significativamente menor de submeter os pacientes a novos
procedimentos de revascularização em decorrência do
retorno da angina sintomática ou de evidência de isquemia
miocárdica silenciosa (5,8% versus 14,8%; p < 0,001).
Diante desses resultados, o stent farmacológico com
eluição de paclitaxel tornou-se o segundo dispositivo
a ser incorporado à prática clínica, quase 12 meses
após o primeiro152,153.
A análise controlada do seguimento clínico de quatro
anos desses dois dispositivos foi apresentada em conjunto e evidenciou taxas de mortalidade (6,7% versus
5,3%; p = 0,23), IAM (6,2% versus 6,4%; p = 0,86) e
trombose dos stents (1,2% versus 0,6%; p = 0,20) similares, e redução significativa e sustentada da necessidade de repetir novos procedimentos de revascularização para a lesão-alvo (7,8% versus 23,6%; p < 0,001)
nos pacientes tratados com stents com eluição de
sirolimus, comparado com stents não-farmacológicos.
Taxas de mortalidade (6,6% versus 6,1%; p = 0,68),
TABELA 8
Critérios e recomendações para a seleção de um stent farmacológico
1
2
3
4
5
Versatilidade e Flexibilidade (plataforma)
Segurança Tardia
(endotelização)
Uso de Antiplaquetários
Certificação do Produto
(qualificação da origem)
Eficácia
(nova revascularização da lesão-alvo)
Baixo Perfil do Dispositivo
Mínimas Taxas de Trombose em Estudos
Controlados e Registros
Administração ≤ 1 ano
Estudo Controlados, Independentes, Robustos, Adjudicados
e com Seguimento Clínico a Longo Prazo (≥ 2 anos)
Redução da Reestenose com Fornecimento
de Durabilidade Tardia
53
Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia – Intervenção Coronária Percutânea e Métodos Adjuntos Diagnósticos em
Cardiologia Intervencionista (II Edição – 2008)
IAM (7,0% versus 6,3%; p = 0,60) e trombose dos
stents (1,3% versus 0,9%; p = 0,30) também foram
similares, tendo sido observada evidência de significativa e sustentada redução na necessidade de repetir
novos procedimentos de revascularização para a lesãoalvo (10,1% versus 20,0%; p < 0,001) naqueles que
receberam stents com eluição de paclitaxel comparados aos stents não-farmacológicos17.
Mais recentemente, outros dois stents farmacológicos comprovaram segurança e eficácia, com uma
programação de pesquisa clínica com sistemática e
critérios semelhantes aos dois dispositivos pioneiros,
demonstrando séries robustas de pacientes e dotadas
de seguimento tanto clínico como angiográfico. Podem ser considerados a segunda geração de dispositivos dessa categoria, com balões e stents de menor
perfil, polímeros e fármacos que proporcionam eficiência semelhante à da primeira geração, mas com
evidências de menor risco para ocorrência de trombose tardia, elevando a segurança tardia155,156.
O stent com eluição de zotarolimus é uma endoprótese metálica, de cromo-cobalto, com polímero durável de fosforilcolina e o fármaco eluído, um análogo
sintético do sirolimus, com mecanismo de ação similar e ação antiproliferativa155. As séries de ensaios clínicos (ENDEAVOR II até IV) foram projetadas para a
análise comparativa por meio randômico, inicialmente
versus um stent não-farmacológico (ENDEAVOR II), e
as seguintes com outros stents farmacológicos mencionados (ENDEAVOR III, comparativo com stent eluidor
de sirolimus e ENDEAVOR IV, comparativo com stent
eluidor de paclitaxel). Na soma total desses estudos
controlados foram reunidos 3.181 pacientes155.
À semelhança ao padrão da linha de pesquisa dos
demais stents farmacológicos, foi selecionada série com
enfermos portadores de angina estável, instável, diabéticos e não-diabéticos, com estenoses localizadas em
artérias coronárias naturais, isentas de ICP prévia, com
estenoses de comprimento superior a 14 mm e inferior
a 27 mm, dispostas em vasos com diâmetro de referência superior a 2,25 mm e inferior a 3,50 mm. As séries
ENDEAVOR devem ser analisadas de dois modos distintos, pois no ensaio II o objetivo foi a aferição da
superioridade comparativa com os stents não-farmacológicos e nas séries III e IV, de não-inferioridade na
comparação com outro stent farmacológico155,157,158.
Na série II, o stent eluidor de zotarolimus reduziu
em 62% a reestenose intra-stent segmentar (13,3%
versus 34,7%; p < 0,001) e a conseqüente necessidade de repetição de procedimentos de revascularização
miocárdica ao final de nove meses em comparação a um
stent não-farmacológico (4,6% versus 11,8%; p < 0,001).
A perda luminal tardia foi significativamente menor
naqueles alocados para o tratamento com esse tipo de
stent farmacológico (0,61 ± 0,46 mm versus 1,03 ±
0,58 mm; p < 0,001)157.
54
Na série III, ficou evidenciada a inferioridade na
redução da reestenose angiográfica em comparação
com o stent eluidor de sirolimus (11,7% versus 4,3%;
p = 0,04), porém com reestenose clínica similar (6,3%
versus 3,5%; p = 0,34)158. Na série IV, as reestenoses
angiográfica (15,3% versus 10,4%; p = 0,20) e clínica
(4,2% versus 2,7%; p = 0,31) foram similares na comparação com o stent eluidor de paclitaxel155. Cerca de
700 pacientes, inclusos na série II, já completaram três
anos de evolução clínica e evidenciaram baixas taxas
de eventos adversos tardios, como a ocorrência de
morte (3,1% versus 4,5%; p = NS) e/ou IAM e óbito
cardiológico (2,7% versus 4,3%; p = NS), para ambos
os dispositivos, farmacológico ou não, respectivamente, denotando a segurança tardia até o período anotado, com manutenção do efeito desejado, qual seja
a redução de novos procedimentos de revascularização
para a lesão-alvo (7,2% versus 14,6%; p < 0,001),
naqueles pacientes que efetivaram ICP com implante
do stent eluidor de zotarolimus ou não155.
Os estudos da série SPIRIT documentam a comparação de um stent eluidor de everolimus, um análogo semi-sintético do macrolídeo sirolimus, também
portador de ação imunossupressora, eluído por meio
de um polímero biocompatível, mas durável, montado
em um stent de cromo-cobalto de perfil muito baixo
e balão expansível156. O mesmo foi estudado em séries
de não inferioridade cotejado com o stent eluidor de
paclitaxel (SPIRIT II e III), que reuniu 1.301 pacientes159,160. Os enfermos dessas séries, à semelhança dos
estudos prévios, também eram portadores de angina
estável, instável, diabéticos e não-diabéticos, com evidência de estenoses significativas ainda isentas de tratamento percutâneo prévio, localizadas em artérias
coronárias naturais com diâmetro variável de 2,50
mm a 3,75 mm e comprimento inferior a 28 mm156,159,160.
Na série III, o stent eluidor de everolimus demonstrou redução significativa da perda luminal aos oito
meses, na análise angiográfica, após o procedimento
inicial, em comparação ao eluidor de paclitaxel (0,16
+ 0,41 mm versus 0,30 + 0,26 mm; p = 0,002), revelando tendência para menores taxas de reestenose
segmentar (4,7% versus 8,9%; p = 0,07), respectivamente. Contudo, a necessidade de repetir novos procedimentos de revascularização para a lesão-alvo ao
final de um ano de evolução clínica foi similar (3,4%
versus 5,6%; p = 0,12), com taxas de desfechos adversos maiores também equivalentes (ocorrência de óbito
ou IAM: 3,7% versus 5,0%; p = 0,39) assim como da
ocorrência de trombose (qualquer evento suspeito:
1,7% versus 1,3%; p = 0,73), na respectiva comparação entre pacientes submetidos a ICP com stents com
eluição de everolimus e paclitaxel156.
Um outro análogo semi-sintético do sirolimus, o
biolimus A9, também foi preparado para eluição em
stent de aço inoxidável, por meio de um polímero
biodegradável constituído de ácido polilático. Sua afe-
Rev Bras Cardiol Invas 2008;16(supl.2)
rição inicial, na comparação direta com um stent nãofarmacológico, demonstrou a eficácia em 122 pacientes com seguimento inicial de seis meses, reduzindo
a perda da luz de maneira significativa (0,14 + 0,45 mm
versus 0,40 + 0,41 mm; p = 0,004)161,162.
Novos projetos e pesquisas com stents farmacológicos estão em pleno andamento, seja com novos
dispositivos, fármacos, polímeros, assim como aferição
de sua durabilidade tardia, ocorrência de eventos clínicos adversos a longo prazo e deliberação da estratégia terapêutica antiplaquetária mais adequada147,148.
9. Recomendações Comparativas – Implante de
Stents Farmacológicos versus Não-Farmacológicos
nas Diversas Variáveis Clínicas e Angiográficas
Esses dispositivos foram idealizados com a finalidade primeira de reduzir a hiperplasia mio-intimal excessiva, principal promotora da reestenose coronária143.
As recomendações a seguir são efetivadas mediante a
análise comparativa com os stents não-farmacológicos,
em que a indicação clínica para a realização de uma
ICP já está estabelecida e não é mais motivo de discussão. Portanto, não se trata de outras recomendações
para as mesmas síndromes clínicas e subgrupos angiográficos já dispostos nas sessões anteriores. O objetivo
é orientar quais seriam as melhores recomendações
para a aplicação dos dois tipos de stents, até este momento, fornecendo maiores taxas de segurança e eficácia para os pacientes submetidos a ICP.
Sua fundamentação refere-se aos diversos estudos citados na sessão anterior e compreendem pa-
cientes tratados no amplo espectro clínico da doença
arterial coronária, desde a angina crônica desencadeada
pelo esforço físico até o tratamento intervencionista
do IAM, com estenoses coronárias com ou sem ICP
prévia, já submetidos a cirurgia de revascularização
do miocárdio no passado, e com variação angiográfica
desde os diâmetros de referência do vaso-alvo de
2,25 mm até 3,75 mm e com lesões de comprimento
mínimo de 10 mm até 40 mm153.
9.1 Diabete Melito
O diabete melito é reconhecido como a única
variável clínica com poder independente para a ocorrência de maiores taxas de reestenose coronária. O
sinergismo potencial da associação com o tratamento
de estenoses mais longas localizadas em vasos de
menor calibre eleva progressivamente os riscos para
sua ocorrência6,128,154.
É achado constante que os pacientes dependentes
do tratamento com insulina exibem maiores taxas de
proliferação mio-intimal, assim como aqueles que apresentam controle irregular da glicemia ao longo dos
anos, com baixa aderência ao tratamento farmacológico
e controle dos fatores de risco, manifestos pela elevação das taxas de hemoglobina glicosilada163.
O advento dos stents farmacológicos promoveu significativo impacto na redução das taxas de reestenose e
da necessidade de repetir procedimentos de revascularização do miocárdio para a lesão-alvo, como demonstra
metanálise já descrita em sessão anterior68.
Recomendação e Nível de Evidência
Stent Não-Farmacológico versus Farmacológico
Diabete Melito
Implante de stent farmacológico
Recomendação
I
Nível de Evidência
A
55
Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia – Intervenção Coronária Percutânea e Métodos Adjuntos Diagnósticos em
Cardiologia Intervencionista (II Edição – 2008)
9.2 Síndrome Coronária Aguda Com ou Sem
Supradesnível do Segmento ST
de revascularização da lesão-alvo (5,1% versus 12,6%;
RR, 0,36; IC 95%, 0,28-0,47; p < 0,001)164.
A análise comparativa dedicada entre os dois tipos de stents (farmacológicos ou não), por meio de
estudos controlados em pacientes submetidos a ICP
na vigência de uma síndrome coronária aguda sem
supradesnível do segmento ST, não foi efetivada até
este momento. Da mesma forma, não existem estudos
dedicados em pacientes com angina crônica. Considera-se que ambas as síndromes clínicas foram atendidas na necessidade do fornecimento de uma recomendação, nos ensaios que validaram a superioridade
dos stents farmacológicos, pois alocaram enfermos
portadores desse perfil clínico152,153.
Registros multicêntricos reportaram sinais de alarme relacionados a sua utilização nessa síndrome clínica, com taxas de trombose que chegavam a 7,3%.
O que se depreende da análise minuciosa dos dados,
porém, é que o principal fator preditor da ocorrência
de trombose tardia esteve relacionado à prescrição
médica precária e/ou à não-aderência ao tratamento
antiplaquetário recomendado165.
No cenário emergencial do IAM com supradesnível
do segmento ST, o implante de stents farmacológicos
promove interesse na pesquisa dedicada, por se tratar
do ápice da gravidade das apresentações clínicas da
doença arterial coronária. Onze estudos controlados
analisaram a utilização dedicada dos stents farmacológicos em comparação àqueles não-farmacológicos
e reuniram 3.605 pacientes. Não ocorreram diferenças significativas no seguimento clínico de até dois
anos em relação à mortalidade (4,1% versus 4,4%; p
= NS), ao reinfarto (3,1% versus 3,4%; p = NS) e à
ocorrência de trombose dos stents (1,6% versus 2,2%;
p = NS), proporcionando a esperada redução das taxas
Cabe ressaltar que o tratamento do IAM é uma
emergência médica, e que a perda de tempo adicional
para efetuar análise clínica minuciosa ou submeter o
enfermo a entraves burocráticos é absolutamente não
recomendada, sendo prioridade absoluta o mais rápido restabelecimento do fluxo anterógrado coronário
no vaso ocluído. A recomendação expressa é de que
os candidatos a ICP com implante de stents farmacológicos, na vigência das primeiras 24 horas do IAM,
sejam efetivamente esclarecidos e analisados quanto à
aderência tanto social como clínica ao tratamento antiplaquetário adequado, seja na dosagem como no tempo
de manutenção. Nessa análise, devem obrigatoriamente
ser pesquisadas a presença de morbidades associadas, as perspectivas de realizar procedimentos cirúrgicos não-cardíacos de médio e alto riscos, já prescritos, além da análise do perfil socioeconômico.
Recomendação e Nível de Evidência
Stent Não-Farmacológico versus Farmacológico
Infarto Agudo do Miocárdio
Implante de stent farmacológico
56
Recomendação
Nível de Evidência
IIa
A
Rev Bras Cardiol Invas 2008;16(supl.2)
9.3 Diâmetro e Extensão da Estenose Coronária
Lesões coronárias em vasos com diâmetros de referência extremos, sejam menores (≤ 2,5 mm) ou maiores
(≥ 3,75 mm), assim como estenoses com comprimento
segmentar (> 20 mm), compõem um grupamento significativo de estenoses submetidas a tratamento intervencionista percutâneo. Cabe a menção que esses valores
que configuram a qualidade mecanística da ICP devem
ser aferidos por meio de angiografia coronária quantitativa e/ou de ultra-som intracoronário.
Estenoses coronárias com freqüência se localizam
em vasos de pequeno calibre, conceituados como
aqueles com diâmetro de referência inferior a 2,5 mm.
A utilização de stents coronários não-farmacológicos
nessa morfologia se constitui em fator de risco independente para a ocorrência de maiores taxas de reestenose6. Como esperado, os stents farmacológicos foram
eficazes em estudos dedicados, comprovando sua
eficácia nesse subgrupo morfológico, seja do stent
com eluição de sirolimus ou paclitaxel.
As pesquisas cotejando o implante de stent eluidor
de sirolimus ao modelo sem liberação de fármaco
comprovaram a redução das taxas de reestenose angiográfica e, em conseqüência, da necessidade de repetir
procedimentos para revascularização da lesão-alvo,
como nas séries SIRIUS (352 pacientes; 5,09% versus
42,3%; p = 0,001; 8,0% versus 22,6%; p = 0,001,
respectivamente) e no estudo dedicado SES-SMART
(257 pacientes; 9,8% versus 53,1%; p < 0,01; 7,0
versus 21,1%; p < 0,01, respectivamente)166,167.
Resultados favoráveis também foram observados
com a aplicação de stents com eluição de paclitaxel.
Na série de estudos TAXUS, foram reunidos 1.166
pacientes com vasos de diâmetro inferior a 2,5 mm,
que foram comparados ao stent sem eluição de fármaco, observando-se significativa redução da reestenose
tanto angiográfica como clínica (19,5% versus 42,4%;
8,3% versus 20,7%; p < 0,001, respectivamente para
ambas as comparações)168-170.
No sentido oposto, o implante de stents farmacológicos em lesões localizadas em vasos de diâmetro
superior a 3,75 mm carece de sustentação. Apenas o
stent com eluição de paclitaxel recebeu um estudo
dedicado para a aferição dos resultados nesse subgrupo.
Apesar da redução da reestenose angiográfica, não se
observou repercussão significativa na queda das taxas
de revascularização da lesão-alvo (202 pacientes; 3,5%
versus 14,4%; p = 0,02; 0% versus 5,0%; p = 0,06)168.
As estenoses de comprimento segmentar (> 20 mm)
também são mais propensas à reestenose e, desta feita,
também são beneficiadas com o implante de stents farmacológicos. O impacto dos stents farmacológicos no
tratamento dessas lesões foi avaliado em diversos estudos randomizados168,169,171 e séries consecutivas172,173,
que demonstraram o benefício desses stents, seja com a
eluição de sirolimus quanto do paclitaxel.
Duas séries dedicadas compararam o dispositivo com
eluição de paclitaxel e um convencional (963 pacientes).
A análise dos resultados foi apresentada em dois subgrupos
(estenoses de 18 mm até 26 mm e > 26 mm de comprimento), e evidenciou o benefício significativo em ambos,
e a transparente evidência de que quanto mais longa a
estenose a ser tratada maior a expectativa para a ocorrência de reestenose, com a aplicação de stents nãofarmacológicos (extensão da estenose coronária de
18-26 mm: 17,5% versus 37,1%; 5,5% versus 15,7%;
> 26 mm: 16,3% versus 51,2%; 10,3% versus 22,1%;
p < 0,001 para as comparações entre as reestenoses
angiográfica e clínica, respectivamente)168,169.
É importante salientar que é muito freqüente a somatória
de adversidades morfológicas relacionadas à diversidade
de apresentações anatômicas da doença arterial coronária,
que irão potencializar ou não a propensão para a ocorrência
de reestenose após ICP com implante de stents.
Recomendações e Níveis de Evidência
Stent Não-Farmacológico versus Farmacológico
Diâmetro de Referência do Vaso-Alvo
Vasos coronários com diâmetro de referência ≤ 2,5 mm
Vasos coronários com diâmetro de referência ≥ 2,50 mm e < 3,75 mm
Vasos coronários com diâmetro de referência ≥ 3,75 mm
Recomendação
Nível de Evidência
I
I
IIb
A
A
B
I
I
A
B
Extensão da Estenose-Alvo
Estenoses coronárias com comprimento ≥ 10 mm e < 20 mm
Estenoses coronárias com comprimento ≥ 20 mm e ≤ 40 mm
57
Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia – Intervenção Coronária Percutânea e Métodos Adjuntos Diagnósticos em
Cardiologia Intervencionista (II Edição – 2008)
9.4 Topografia Coronária
9.4.1 Óstio e Bifurcação Coronária
Estenoses de localização ostial (aórticas ou em bifurcações de ramos coronários) são reconhecidamente
mais propensas a reestenose após implante de stents
não-farmacológicos, em comparação àquelas de outra
localização, principalmente em decorrência do maior
recolhimento elástico e rigidez, no caso de estenoses
óstio-aórticas6.
Até o momento, o emprego de stents farmacológicos
em lesões ostiais foi avaliado somente em registros mostrando resultados favoráveis quando comparados aos
obtidos com stents não-farmacológicos. Nesse grupo, estão
incluídas também aquelas lesões localizadas no tronco da
artéria coronária esquerda, sejam ostiais ou em sua bifurcação. Em registro asiático recente, a utilização de stents
farmacológicos reduziu em 50% a necessidade de repetição de novos procedimentos de revascularização, comparativamente à utilização de stents não-farmacológicos
(RC = 5,96 – 2,51 a 14,10; p < 0,001 versus RC = 10,70
– 3,80 a 29,90; p < 0,001, respectivamente)92,174-178.
O tratamento de bifurcações coronárias com stents
farmacológicos associa-se a maior risco de reestenose
que o tratamento de estenoses não-bifurcadas. Como
demonstrado em seção anterior, o advento dos stents
farmacológicos reduziu significativamente as taxas de
recorrência para pacientes submetidos a ICP com estenoses bifurcadas 79,80.
A melhor técnica intervencionista para a correção
percutânea das estenoses alojadas nas bifurcações é ainda
matéria de controvérsia. Múltiplas técnicas com implante
de dois stents coronários têm sido descritas. No entanto,
os resultados de estudos randomizados sugerem que a
evolução dos pacientes com lesões de bifurcação tratados com uma estratégia de implante único de stent
farmacológico (reservando o implante duplo somente
para casos de alta complexidade ou falha da dilatação
com o balão) é semelhante à evolução de pacientes
tratados com implante sistemático de dois dispositivos74,80.
Recomendações e Níveis de Evidência
Stent Não-Farmacológico versus Farmacológico
Topografia Coronária* – Implante de Stent Farmacológico
Estenose em bifurcação coronária
Estenose ostial
* Inclui o tronco da artéria coronária esquerda.
58
Recomendação
Nível de Evidência
I
B
IIa
C
Rev Bras Cardiol Invas 2008;16(supl.2)
9.4.2 Enxertos de Veia Safena
A ICP de pacientes já submetidos a cirurgia de
revascularização do miocárdio e portadores de enxertos de veia safena degenerados é um constante desafio38,115. Com a longevidade após o procedimento cirúrgico, a degeneração é progressiva quanto pior for o
controle dos fatores de risco do enfermo, além de surgirem obstruções relacionadas ao acúmulo de cristais
de colesterol, somados a processos de trombose intermitentes, que se alojam muitas vezes em um enxerto de
calibre exageradamente amplo e desprovido de endotélio
funcionante. Essa associação promove a detecção de
estenoses longas, friáveis, e com elevada carga de material
aterotrombótico presente179.
Diversas séries consecutivas relataram os resultados da aplicação dos stents farmacológicos em enxertos de veia safena180-184. Apenas um ensaio comparativo de modo randômico utilizando os stents nãofarmacológicos, com amostra pequena (75 pacientes e
96 lesões), foi apresentado até o momento. As taxas
de reestenose foram reduzidas em 58% (13,6% versus
32,6%; p = 0,03), com conseqüente redução da revascularização do vaso-alvo em 80% (5,3% versus 27,0%;
p = 0,01). Não foram observadas diferenças entre os
grupos com relação ao risco de óbito ou infarto nos
seis primeiros meses de seguimento; no entanto, na
análise aos três anos de evolução, maior taxa de mortalidade tardia foi detectada naqueles que receberam
stents farmacológicos185,186. As justificativas podem ser
diversas, desde a interrupção precoce da terapia dupla antiplaquetária até aquela de âmbito técnico, em
decorrência da má aposição das hastes diante de enxertos calibrosos e a redução da endotelização nesses
condutos 187.
A seleção de casos para utilização de stents farmacológicos deve ser rigorosa. Estenoses aorto-ostiais e
distais apresentam etiologia distinta, seja com o predomínio de fibrose ou com progressão da aterosclerose
no vaso nativo, respectivamente. Em relação às estenoses
localizadas no corpo do enxerto, estas sim degeneradas na maioria das vezes, a variável que baliza a seleção de um dispositivo farmacológico ou não está
vinculada ao diâmetro de referência do vaso-alvo, recebendo a mesma recomendação relacionada à aplicação em vasos coronários naturais com diâmetro de
referência igual ou superior a 3,75 mm.
Recomendação e Nível de Evidência
Stent Não-Farmacológico versus Farmacológico
Enxertos de Veia Safena (corpo/segmento médio)
Implante de stent farmacológico
Recomendação
Nível de Evidência
IIb
B
59
Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia – Intervenção Coronária Percutânea e Métodos Adjuntos Diagnósticos em
Cardiologia Intervencionista (II Edição – 2008)
9.5 Morfologia Coronária
Duas apresentações morfológicas das estenoses
coronárias são reconhecidas como potenciais para o
desenvolvimento de taxas mais elevadas de recorrência
tardia: oclusões crônicas e estenoses com implante
prévio de stent coronário (reestenose intra-stent).
9.5.1 Oclusão Crônica
Os estudos controlados comparativos entre a realização de angioplastia coronária com balão ou o
implante de stents não-farmacológicos demonstraram
a superioridade do implante de stents; contudo, as
taxas de reestenose variaram de 32% a 55%, sendo
10% delas, em média, já reconhecidas como reoclusão
do vaso previamente tratado72. Essas cifras estão entre
as mais elevadas cifras de recorrência observadas após
o implante de stents não-farmacológicos, similares àquelas verificadas em pacientes diabéticos.
Os stents farmacológicos apresentam o potencial
para beneficiar esse subgrupo morfológico em especial. Apenas um estudo clínico controlado foi dedicado
à comparação entre os stents farmacológicos ou não,
reunindo e cotejando de modo randômico 200 pacientes, confirmando o potencial benefício do stent com
eluição de sirolimus (11% versus 41%; p < 0,01), que
se traduziu em reduzida incidência de novas intervenções tardias (4% versus 19%; p < 0,01)188.
Recomendação e Nível de Evidência
Stent Não-Farmacológico versus Farmacológico
Oclusão Crônica
Implante de stent farmacológico
60
Recomendação
Nível de Evidência
I
B
Rev Bras Cardiol Invas 2008;16(supl.2)
9.5.2 Reestenose Intra-stent
Essa é uma das principais complicações tardias
relacionadas à ICP com implante de stents, sejam
farmacológicos ou não 6,136,137,154 . O implante das
endopróteses metálicas promove a reação cicatricial
manifesta com a proliferação mio-intimal134. O excesso
desse processo de endotelização promoverá perda da
permeabilidade da luz arterial. Seu tratamento pode
dispor de diversos dispositivos existentes no universo
da cardiologia intervencionista38,189. De comprovada
eficácia restam duas opções percutâneas disponíveis
no Brasil: a redilatação com balão ou um novo implante de stent, farmacológico ou não.
Para uma simples redilatação com balão recomenda-se selecionar aqueles pacientes com reobstruções com morfologia focal (extensão < 10 mm) e de
localização intra-stent. Naqueles que apresentam padrão proliferativo envolvendo bordos e até promovendo oclusão do vaso, o resultado inicial pode até ser
bem-sucedido (ICP com cateter-balão), porém as taxas
de nova recorrência são elevadas, acima de 50%,
atingindo até 70% dos enfermos assim tratados17.
O implante de um stent não-farmacológico adicional
é restrito a um único estudo controlado, que evidenciou, em análise de subgrupos angiográficos, que naqueles vasos com diâmetro igual ou superior a 3 mm,
associado à reestenose extensiva às bordas, sua utilização proporcionou melhores resultados tardios que
a simples redilatação com balão190,191.
Pesquisas iniciais utilizando implante de stents
farmacológicos para o tratamento de reestenose intrastent demonstraram achados promissores, com marcante
redução das taxas de recorrência192. Estudos randomizados subseqüentes comprovaram que os stents farmacológicos se mostraram superiores a outros dispositivos utilizados.
Metanálise reuniu quatro estudos randomizados
comparativos entre o tratamento com implante de stents
farmacológicos (sirolimus ou paclitaxel) e a repetição
da angioplastia com balão ou aplicação da braquiterapia
intracoronária, em um total de 1.230 pacientes portadores de reestenose intra-stent. A análise dos resultados
aos nove meses evidenciou redução significativa das
taxas de novas intervenções tardias para aqueles pacientes tratados com stents farmacológicos (RR = 0,35;
IC 95%, 0,25 a 0,49; p < 0,01). Não houve diferença
entre os dois grupos de tratamento com relação às
taxas de mortalidade ou à ocorrência de infarto durante
o seguimento de nove meses aplicado nesses estudos
(RR = 1,04; IC 95%, 0,54 a 2,03; p = 0,6)193.
Os stents farmacológicos também podem apresentar perda de eficácia tardia manifesta pela ocorrência de reestenose, à semelhança dos não-farmacológicos194. Os estudos têm demonstrado que cerca de
dois terços dessas reestenoses são focais, porém as
demais se apresentam com características diversas,
difusas e proliferativas195. Os fatores associados são
múltiplos, desde perda de continuidade do polímero,
visto que possuem característica elastométrica, até ruptura
de hastes, estenoses em bordas e ineficiência do
fármaco 196,197.
As pesquisas analisando essa ocorrência são de
amostra ainda reduzida, reflexo do impacto positivo
observado com esses dispositivos na prática clínica da
cardiologia intervencionista. Predominam os mesmos
fatores reconhecidos como adversos para os stents nãofarmacológicos, quais sejam vasos de calibre menor,
longos segmentos e pacientes diabéticos194.
As séries iniciais recomendam o implante de um
novo stent farmacológico, de fármaco distinto daquele
que apresentou falha inicial. No entanto, ainda não
existe um consenso advindo de análise mais consistente. O primeiro relato, em 125 pacientes consecutivos com evidência de reestenose do stent com eluição
de sirolimus (140 lesões), analisou apenas a evolução
clínica tardia após o tratamento efetivado exclusivamente com implante de outro stent farmacológico com
a eluição de um fármaco distinto (paclitaxel). Após
sete meses de seguimento clínico, a incidência de
reestenose clínica foi de 14%198. Em outra série com
116 pacientes previamente tratados com stents com
sirolimus ou paclitaxel, que se apresentaram com
reestenose intra-stent, uma nova taxa de recidiva clínica foi detectada em 12,2% dos enfermos, sem diferenças significativas entre aqueles que receberam novo
stent farmacológico com eluição do fármaco semelhante ou diferente do implantado inicialmente 199.
Resultados semelhantes foram relatados em um estudo
observacional com 174 pacientes (201 lesões), que
evidenciou taxa de reestenose clínica próxima de 16%,
também sem diferença entre os tipos de stents
farmacológicos escolhidos para o novo tratamento200.
Portanto, ainda não é possível efetivar uma recomendação mais consistente para o tratamento da reestenose de um stent farmacológico. As reestenoses focais (< 10 mm) devem ser submetidas a angioplastia
com balão e nas demais, longas e proliferativas, devese considerar o implante de um novo stent farmacológico. A escolha do novo modelo de stent com eluição
de medicamentos ainda é controversa. Considera-se
que a análise por meio do ultra-som intracoronário,
quando possível, é útil, permitindo identificar os motivos
da falência do tratamento inicial. A evidência de perda
de continuidade das hastes pode amparar a utilização
de um mesmo stent farmacológico previamente utilizado, por exemplo, e talvez, reservando para aqueles
casos em que foi descartada a evidência de motivos
mecânicos que justifiquem a falha, o implante de um
modelo distinto de stent farmacológico em relação ao
inicialmente utilizado.
61
Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia – Intervenção Coronária Percutânea e Métodos Adjuntos Diagnósticos em
Cardiologia Intervencionista (II Edição – 2008)
Recomendações e Níveis de Evidência
Intervenção Coronária Percutânea para o Tratamento da Reestenose
Reestenose de Stent Não-Farmacológico
Implante de stent farmacológico
Recomendação
Nível de Evidência
I
A
Intervenção coronária percutânea com cateter-balão em reestenose
de padrão focal
IIa
B
Intervenção coronária percutânea com cateter-balão em reestenose
de padrão angiográfico difuso e/ou proliferativo
IIb
B
Intervenção coronária percutânea com balão cortador (Cutting BalloonTM)
IIb
B
Reestenose de Stent Farmacológico
Recomendação
Nível de Evidência
Intervenção coronária percutânea com cateter-balão
IIa
C
Implante de stent farmacológico
IIb
C
62
Rev Bras Cardiol Invas 2008;16(supl.2)
9.6 Doença Coronária Multiarterial e Tronco da
Artéria Coronária Esquerda
Atualmente, a utilização dos stents farmacológicos
em pacientes portadores de doença coronária multiarterial foi avaliada somente em estudos não-randomizados, como descrito na sessão dedicada a esse
subgrupo nesta Diretriz. Os estudos randomizados
SYNTAX, FREEDOM e CARDIA encontram-se em andamento e sem resultados preliminares conhecidos
que permitam expressar recomendações consistentes137,147,148. Em relação ao tratamento do tronco da
artéria coronária esquerda por meio do implante de
stents farmacológicos, apenas uma série randomizada
com 102 pacientes foi apresentada até o momento,
com resultados favoráveis, porém estudos dedicados
e com maior longevidade são necessários para fornecer recomendação consistente94,201.
O questionamento da segurança tardia dos stents
farmacológicos depara-se neste momento com um
aparente contraditório relacionado ao impacto nas taxas
de mortalidade tardia. Registros controlados (National
Heart, Lung, Blood Institute Dynamic Registry), que
coletaram informações detalhadas entre os anos 2004
e 2006, apresentaram os resultados clínicos ao final
de um ano de evolução e evidenciam o oposto dos
temores relacionados à ocorrência de trombose tardia
destes dispositivos. Neste registro, foram reunidos 6.521
pacientes, sendo 2.663 submetidos a ICP com implante de stents não-farmacológicos e os demais, com
stents farmacológicos202.
Os resultados são analisados de acordo com as
regras de prescrição norte-americana, quais sejam, de
acordo “com o bulário” e “fora do bulário”. Compreendem-se como indicações de acordo com o bulário,
aquelas reunidas nos estudos controlados que forneceram o fundamento para sua liberação na prática
clínica. As indicações “fora do bulário” agregam justamente aqueles subgrupos angiográficos de maior
complexidade, foco de controvérsia acerca da segurança tardia quais sejam, reestenose de stents nãofarmacológicos (16%), enxertos de veia safena (13,5%),
vasos com diâmetro de referência inferior a 2,50 mm
(9,2%), estenoses no tronco da coronária esquerda
(25%), tratamento de bifurcações coronárias (24,5%),
estenoses com comprimento superior a 30 mm (19%)
e oclusões crônicas (22,4%), sendo tratados 1,3 vasos
por paciente. As taxas combinadas de morte e ocorrência de infarto do miocárdio foram significativamente maiores naqueles pacientes submetidos a ICP com
implante de stents não-farmacológicos rotulados como
“fora do bulário” (11,6%), em comparação com os
stents farmacológicos (7,5%; p < 0,001), sendo similares entre os dois dispositivos, quando foram seguidas as recomendações “do bulário” (5,8% vs. 6,4%,
stent farmacológico versus não-farmacológico; p = 0,42).
Estes achados sinalizam que a prescrição de stents
farmacológicos exerce um potencial benefício significativo, inclusive com evidência da redução de desfechos adversos principais (morte e infarto do miocárdio),
principalmente quando prescritos, em pacientes que
apresentam maior complexidade angiográfica202.
Recomendação e Nível de Evidência
Stent Não-Farmacológico versus Farmacológico
Intervenção Coronária Percutânea Multiarterial
Implante de stent farmacológico
Recomendação
IIa
Nível de Evidência
B
63
Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia – Intervenção Coronária Percutânea e Métodos Adjuntos Diagnósticos em
Cardiologia Intervencionista (II Edição – 2008)
10. Complicações Agudas
As complicações agudas estão relacionadas a
ocorrências dentro das primeiras 24 horas da realização do procedimento e todas elas podem promover a
oclusão do vaso-alvo ou mesmo perfuração coronária,
necessitando de cirurgia de revascularização do miocárdio em caráter emergencial3,19,38.
10.1 Perfuração Coronária
É a evidência de ruptura da integridade da parede
arterial estendendo-se até a camada adventícia. As
perfurações são mais freqüentes após o uso de técnicas ateroablativas, em idosos e em mulheres. Outros
fatores de risco incluem uso de cordas-guias rígidas,
hidrofílicas, e relação balão/artéria acima de 1,116,38.
Em um grande registro multicêntrico com 12.900
pacientes, sua ocorrência foi observada em 62 (0,5%)
pacientes. Classifica-se em três tipos, de acordo com
a gravidade crescente: I, evidência de retenção de
contraste extraluminal, porém sem extravasamento; II,
extravasamento localizado e de pequena monta para
o miocárdio ou para o pericárdio; e III, vazamento
franco, com jato claramente visível (≥ 1 mm de diâmetro) para o espaço pericárdico38.
Nas perfurações tipo I não ocorreram óbitos ou IAM
e a taxa de tamponamento cardíaco foi de 8%, sendo a
incidência desses eventos adversos de 0%, 14% e 13%
nas perfurações tipo II e de 19%, 50% e 63% no tipo
III, respectivamente. Em 13% dos casos que evoluíram
com tamponamento, a complicação manifestou-se tardiamente (nas primeiras 24 horas após o término do procedimento), sugerindo a necessidade de observação cuidadosa dos pacientes com perfuração coronária por pelo
menos um dia após a intervenção38.
Na presença de perfuração coronária, medidas
conservadoras devem ser implementadas de imediato,
como insuflação prolongada de cateter-balão, reversão da anticoagulação, embolização com micromola
ou esponja estéril de gelatina absorvível e/ou implante
de stents recobertos com politetrafluoretileno (PTFE)203.
Embora os segmentos coronários proximais e médios
sejam acessíveis ao implante de stents recobertos com
PTFE, as perfurações distais podem eventualmente ocorrer, como resultado de trauma relacionado ao fio-guia,
especialmente as hidrofílicas. Nessa situação, a opção
seria a embolização com uso de micromolas, álcool
absoluto ou gelatina absorvível através do lúmen do
cateter-balão.
Naqueles pacientes na vigência de administração
de inibidores plaquetários do complexo IIb/IIIa, como
tirofiban, a suspensão é suficiente, porém no caso do
abciximab a infusão de concentrado de plaquetas deve
ser considerada. Um ecocardiograma (transtorácico ou
transesofágico) deve ser realizado para avaliar o extravasamento no saco pericárdico; na evidência de tamponamento cardíaco, deve-se proceder imediatamente
64
à pericardiocentese para evitar o colapso circulatório.
Caso todas as medidas descritas sejam insuficientes
para selar a perfuração coronária e se houver instabilidade tanto clínica como hemodinâmica, a correção
cirúrgica é obrigatória.
10.2 Isquemia Miocárdica Aguda
Compreende-se por isquemia miocárdica aguda a
evidência de sofrimento miocárdio de início até as primeiras 24 horas após o procedimento, seja iniciado na
sala de procedimentos ou imediatamente após. As motivações são de múltiplas origens, envolvendo vaso(s)alvo, ramos secundários, vasos adjacentes e/ou leito
distal, desde a permanência de dissecções perilesão até
a trombose aguda, que provoquem a súbita redução do
fluxo coronário anterógrado ou mesmo a interrupção
completa, com a conseqüente manifestação de dor,
alteração eletrocardiográfica ou instabilidade hemodinâmica súbita.
A freqüência da indicação de cirurgia de revascularização miocárdica de urgência foi drasticamente reduzida com a introdução dos stents coronários. No
Brasil, o registro CENIC (Central Nacional de Intervenções Cardiovasculares) demonstrou, na comparação entre
as ICPs efetivadas em 1997 (16 mil vasos tratados) e em
2000 (27.665 vasos), que a necessidade de realizar
cirurgia de revascularização emergencial foi reduzida
de 0,51% para 0,15%, respectivamente (p < 0,001),
certamente fundamentada na crescente utilização dos
stents coronários1,3.
A dificuldade em reverter, por meio das diversas
técnicas intervencionistas, uma oclusão aguda do vasoalvo que está promovendo isquemia miocárdica aguda
deve motivar o cardiologista intervencionista responsável
pelo procedimento a prescrever rapidamente a realização
de cirurgia de revascularização do miocárdio emergencial.
A decisão final estará relacionada à quantidade de músculo em risco, a sua viabilidade, e à localização das
estenoses, proximais e mediais, assim como à morbidade
clínica inerente ao próprio paciente, como idade e notificação de cirurgia cardíaca prévia, principalmente3.
10.3 Disponibilidade de Cirurgia Cardíaca
Apesar dos avanços tecnológicos observados com o
advento dos stents coronários e da farmacoterapia antiplaquetária, a realização de casos eletivos em centros hospitalares desprovidos de serviço de cirurgia cardíaca atuante
no mesmo ambiente físico não é recomendada3,19,38.
A exceção está relacionada ao procedimento
percutâneo primário, isto é, àquele utilizado como
método de reperfusão coronária mecânica nas primeiras horas do início do IAM40. Esse é um posicionamento
mais recente, em vista da possibilidade de ampliar o
número de pacientes tratados. Um sistema viável de
transferência para um serviço de cirurgia cardíaca
localizado em outro ambiente físico que aquele do
Rev Bras Cardiol Invas 2008;16(supl.2)
serviço de cardiologia intervencionista, com o devido
suporte hemodinâmico, deve ser presente e funcionante,
com retardo até a chegada inferior a uma hora38,40.
11. Complicações Tardias – Trombose Tardia e
Muito Tardia
O conceito de ocorrência de oclusão trombótica tardia
após implante de stent não-farmacológico não era considerado, pois ao final de 30 dias esses dispositivos já
apresentavam endotelização plena14. A identificação precisa da ocorrência de trombose tanto tardia como muito
tardia em pacientes submetidos a implante de stents nãofarmacológicos foi despertada pela incidência no modelo
farmacológico. Estudos seriados dotados de metodologia
rigorosa analisaram a manifestação clínica da reestenose
até 10 anos após o procedimento inicial. Em 4.503 pacientes registrados no instituto de saúde norte-americano,
observa-se que, à medida que os anos passam, a manifestação clínica da reestenose com sintomas de IAM cresceu progressivamente. No primeiro ano, a manifestação
de reestenose por meio da ocorrência de IAM foi observada em 10,6% desses pacientes, em 12,1% aos cinco
anos, e em 27,6% aos 10 anos de evolução, quase um
terço do total204.
O advento dos stents farmacológicos promoveu
redução expressiva das taxas de reestenose angiográficas
e clínicas. À medida que as casuísticas iniciais desses
dispositivos foram adquirindo maior longevidade, inquietudes foram manifestas, sobretudo de que os mesmos poderiam promover a ocorrência de fenômenos
trombóticos tardios e muito tardios (> um ano)204.
Até esta publicação, a metanálise mais completa
incluiu todos os estudos publicados até março de 2007,
com estudos randômicos e controlados publicados na
base de dados MEDLINE e que continham evolução
tardia. A conceituação correta da trombose tardia foi
inserida e, dessa forma, o estudo contém a análise de
38 artigos publicados com seguimento tardio e com
18.023 pacientes submetidos a implante de stents nãofarmacológicos e farmacológicos, com eluição de
sirolimus ou paclitaxel153.
A Tabela 9 demonstra os resultados com até quatro
anos de seguimento clínico. A mortalidade foi similar
nos três grupos. Os pacientes que implantaram stents
com eluição de sirolimus estiveram associados a menor
risco para a ocorrência de infarto do miocárdio, não
TABELA 9
Compilação dos resultados cumulativos ao final de quatro anos de evolução clínica em pacientes
incluídos em 38 ensaios controlados que reuniram 18.023 pacientes, cotejados entre o
implante de stents não-farmacológicos e de stents com eluição de sirolimus e de paclitaxel
Trombose Definitiva* (n)
SNF
SEP
SES
Número de Pacientes
4.003
4.327
4.643
SNF x SES
SNF x SEP
SES x SEP
RR (IC 95%; valor de p)
0-4 anos
50
(1,25%)
72
66
(1,66%) (1,42%)
1,00
(0,68-1,63; 1,00)
1,38
(0,96-2,24; 0,14)
0,71
(0,48-1,13; 0,21)
0-30 dias
28
(0,70%)
30
(0,70%)
36
(0,77%)
1,02
(0,46-2,67; 0,96)
0,9,5
(0,38-2,53; 0,90)
1,05
(0,46-3,17; 0,90)
> 30 dias-4 anos
22
(0,55%)
42
(0,97%)
30
(0,67%)
1,14
(0,62-2,26; 0,71)
2,11
(1,19-4,23; 0,017)
0,54
(0,26-0,98; 0,041)
> 30 dias-1 ano
14
(0,35%)
16
(0,37%)
16
(0,34%)
1,14
(0,45-2,88; 0,78)
1,61
(0,65-4,04; 0,23)
0,68
(0,26-1,64; 0,43)
> 1-4 anos
8
(0,20%)
26
(0,60%)
14
(0,30%)
1,43
(0,27-6,24; 0,64)
3,57
(0,86-16,85; 0,071)
0,39
(0,09-1,32; 0,10)
1,00
(0,82-1,25; 0,89)
0,81
(0,66-0,97; 0,030)
1,03
(0,84-1,22; 0,75)
1,00
(0,81-1,23; 0,99)
0,96
(0,83-1,24; 0,80)
0,83
(0,71-1,00; 0,045)
Mortalidade
Infarto Agudo
do Miocárdio
Trombose Definitiva*
Nova Revascularização
do Vaso-Alvo
1,00
1,38
0,71
(0,68-1,63; 1,00)
(0,96-2,24; 0,14)
(0,48-1,13; 0,21)
0,30
0,42
0,70
(0,24-0,37; < 0,0001) (0,33-0,53; < 0,0001) (0,56-0,84; 0,0021)
n = número de pacientes; IC 95% = intervalo de confiança de 95%; SES = stent com eluição de sirolimus; SEP = stent com eluição
de paclitaxel; SNF = stent não-farmacológico. * Definição do Consórcio Acadêmico de Pesquisa.
65
Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia – Intervenção Coronária Percutânea e Métodos Adjuntos Diagnósticos em
Cardiologia Intervencionista (II Edição – 2008)
sendo observadas diferenças nas taxas de trombose
entre os três grupos. Contudo, os stents com eluição
de paclitaxel apresentaram taxas de trombose tardias
definitivas (> 30 dias) mais elevadas que os stents nãofarmacológicos e os stents com eluição de sirolimus.
Esse achado já havia sido mencionado em revisão
dedicada somente à análise tardia desse modelo de
stent farmacológico205. A eficácia foi demonstrada com
a redução da ocorrência de novos procedimentos de
revascularização para o vaso-alvo significativamente
maior naqueles submetidos a implante de stents farmacológicos, principalmente naqueles com eluição de
sirolimus153.
Os stents farmacológicos já provaram sua eficácia
tardia, porém a trombose tardia pode ocorrer em dois até
cinco de cada mil pacientes tratados. Contudo, essa ocorrência não promoveu elevações consistentes nos desfechos maiores tardios comparados aos stents nãofarmacológicos, como também comprova outras análises
tardias153,204. Os pacientes estão trocando o risco adicional de realizar um novo procedimento de revascularização
tardio não-fatal por um risco muito baixo de trombose
muito tardia (> um ano). A aderência à prescrição da
correta farmacologia antiplaquetária é determinante da
manutenção e durabilidade do procedimento inicial, efetivando a profilaxia da ocorrência dessa complicação206.
Recomendações e Níveis de Evidência
Complicações da Intervenção Coronária Percutânea e Assistência de Serviço de Cirurgia Cardíaca
Perfuração Coronária
Recomendação
Nível de Evidência
I
B
I
C
I
C
Intervenção coronária percutânea primária (infarto agudo do miocárdio com supradesnível do segmento ST) realizada em centros
sem serviço de cirurgia cardíaca presencial, efetuados por operador
experiente (> 12 IAM/ano) e com possibilidade de suporte hemodinâmico durante a transferência emergencial para um serviço de
cirurgia cardíaca próximo (< 1 hora)
IIa
B
Intervenção coronária percutânea eletiva em hospitais sem serviço
de cirurgia cardíaca ou realizados no infarto agudo do miocárdio
sem plano de transferência para um serviço próximo com cirurgia
cardíaca disponível
III
C
Implante de stent recoberto com politetrafluoretileno
Isquemia Miocárdica Aguda
Cirurgia de revascularização do miocárdio de emergência na isquemia miocárdica aguda persistente com ou sem sinais de instabilidade hemodinâmica, com evidência de leito arterial coronário
distal adequado
Disponibilidade de Serviço de Cirurgia Cardíaca
Intervenção coronária percutânea eletiva (realizada na ausência de
infarto agudo do miocárdio com supradesnível do segmento ST)
66
Rev Bras Cardiol Invas 2008;16(supl.2)
12. Farmacologia Dedicada à Intervenção Coronária
Percutânea
O tratamento antiplaquetário duplo utilizando ácido
acetilsalicílico associado a um dos tienopiridínicos disponíveis (ticlopidina ou clopidogrel) é condição fundamental para garantir a segurança do tratamento percu-
tâneo com implante de stents coronários e evitar complicações isquêmicas relacionadas (trombose). Deve
obrigatoriamente ser iniciado antes do procedimento,
quer seja eletivo ou emergencial, sendo as doses dos
medicamentos acima mencionados adaptadas à situação
em questão e também de acordo com a utilização
prévia ou não desses fármacos123,124.
Recomendação e Nível de Evidência
Prescrição do Tratamento Antiplaquetário Duplo (ácido acetilsalicílico e tienopiridínico) para a realização da Intervenção Coronária Percutânea
Recomendação
Nível de Evidência
Paciente em que se antecipa dificuldade clínica e/ou social para a
aderência à administração oral por um longo período (> 30 dias)
de tratamento antiplaquetário duplo deve ser desconsiderado para
o implante de stents farmacológicos
I
C
12.1. Ácido Acetilsalicílico
No uso crônico de ácido acetilsalicílico, a dose
mínima a ser utilizada pré-intervenção não está estabelecida; entretanto, recomenda-se que seja entre 75 mg e
325 mg diários. Se o paciente não estiver utilizando a
medicação cronicamente ou se existir qualquer dúvida
a esse respeito, sugere-se a administração empírica de
300 mg a 500 mg por via oral pelo menos duas horas
antes do procedimento (de preferência nas 24 horas que
antecedem o procedimento) ou 300 mg por via endovenosa
imediatamente antes da intervenção. Após o procedi-
mento, o fármaco deve ser utilizado indefinidamente, em
doses que variam de 100 mg/dia a 200 mg/dia123,124.
No caso de o paciente apresentar contra-indicação
absoluta ao ácido acetilsalicílico, este pode ser substituído pelo clopidogrel na dose de 300 mg no mínimo
seis horas pré-procedimento, podendo-se utilizar em
associação aos inibidores do complexo IIb/IIIa. Estratégias de dessensibilização ao ácido acetilsalicílico podem ser utilizadas em determinados subgrupos de forma segura e simples, desde que haja concordância do
paciente e tempo hábil para sua realização pré-intervenção (no mínimo um dia)207.
Recomendações e Níveis de Evidência
Ácido Acetilsalicílico
Recomendação
Nível de Evidência
Prescrição mínima de 75 até 325 mg/VO/dia (em uso crônico prévio)
I
A
Prescrição empírica de 300 a 500 mg/VO 2 horas previamente ao início
da intervenção coronária percutânea (de preferência nas 24 horas prévias)
Prescrição de 100 a 200 mg/VO/dia indefinidamente após a intervenção
coronária percutânea
I
C
I
B
67
Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia – Intervenção Coronária Percutânea e Métodos Adjuntos Diagnósticos em
Cardiologia Intervencionista (II Edição – 2008)
12.2 Tienopiridínicos
Devem obrigatoriamente ser utilizados em associação ao ácido acetilsalicílico antes e após o implante
de stents, farmacológicos ou não, para a prevenção de
eventos isquêmicos após a ICP. Estudos randomizados
realizados na década de 90 revelaram a superioridade
da terapia antiplaquetária dupla (ácido acetilsalicílico
e tienopiridínico) na prevenção da trombose aguda e
subaguda da prótese em comparação ao uso isolado
do ácido acetilsalicílico ou à combinação deste com
anticoagulantes orais123,124,208.
Após o surgimento do clopidogrel, vários estudos
demonstraram que sua eficácia é semelhante à da ticlopidina, com algumas vantagens adicionais: reduzido índice
de efeitos colaterais, particularmente aqueles associados
aos sistemas digestivo e hematológico, e, portanto, melhor tolerabilidade208. Paralelamente possui início de ação
mais rápido quando utilizado em doses ditas de ataque
(300 mg a 600 mg), o que lhe confere vantagem no
tratamento de pacientes portadores de síndrome coronária
aguda com e sem supradesnivelamento do segmento ST,
na qual a obtenção de antiagregação plaquetária rápida
e vigorosa é fundamental209.
Nos pacientes submetidos a ICP, a ticlopidina deve
ser administrada na dose de 250 mg/dia em duas tomadas pelo menos dois a três dias prévios ao procedimento, tendo em vista seu platô de ação farmacológica ser
mais lento. Se a escolha recair sobre o clopidogrel, este
deverá ser administrado na dose de 300 mg pelo menos
seis horas antes do procedimento, preferencialmente no
dia anterior ao implante do stent por meio da ICP. Caso
isso não seja possível, uma dose ainda maior (600 mg)
poderá ser empregada pelo menos duas horas antes,
abreviando o tempo necessário à obtenção de níveis
adequados de antiagregação plaquetária, o que é desejável em situações emergenciais (síndrome coronária aguda
e complicações no laboratório de cateterismo cardíaco
requerendo intervenção imediata)209.
Após a realização de ICP eletiva com implante de
stents não-farmacológicos, o tratamento com tienopi-
ridínicos deve ser mantido por quatro semanas. Excepcionalmente, esse tempo poderá ser reduzido para
duas a três semanas no caso de ocorrerem graves efeitos colaterais relacionados a sua utilização, tais como
plaquetopenia, leucopenia ou sangramentos38.
A administração dos tienopiridínicos deverá ser
prolongada no caso de implante de stents farmacológicos. Inicialmente, o bulário dos primeiros dispositivos disponíveis na prática clínica recomendava três
meses para o stent com eluição de sirolimus e para o
stent com eluição de paclitaxel seis meses de duração
mínima dessa prescrição152. Contudo, a manifestação
observada do risco existente para a ocorrência de fenômenos trombóticos tardios dessas endopróteses promoveu a recomendação formal por parte do FDA (Food
and Drug Administration), órgão regulador de produtos
dedicados à alimentação e à saúde no território norteamericano, em dezembro de 2006, de que se deve
estender por um ano, de modo indiscriminado, a prescrição da dupla terapia antiplaquetária, principalmente
do clopidogrel. Essa decisão não foi baseada em evidência científica fornecida por meio de estudos controlados, e sim de modo balizador, fundamentada no retardo
inerente à endotelização desses stents, relacionado a
seu mecanismo de ação intrínseco150,151.
Com o intuito de diminuir a incidência de complicações hemorrágicas associadas à terapia antiplaquetária dupla por períodos prolongados, recomendase que a dose de ácido acetilsalicílico seja reduzida
para 100 mg diários. É importante ressaltar que, nos
pacientes que requeiram cirurgia de revascularização
miocárdica, o clopidogrel deve ser suspenso pelo menos
cinco dias antes do procedimento, com o objetivo de
reduzir as taxas de sangramento210.
Estratégias de dessensibilização ao clopidogrel
podem ser utilizadas em determinados subgrupos de
forma segura e simples, desde que haja concordância
do paciente e tempo hábil para sua realização préintervenção211.
Recomendações e Níveis de Evidência
Tienopiridínicos
Ticlopidina 500 mg/VO/dia com 48 horas de antecedência da intervenção coronária percutânea
Clopidogrel 300 mg/VO/dia com até 6 horas de antecedência da
intervenção coronária percutânea
Clopidogrel 600 mg/VO/dia com até 2 horas de antecedência da
intervenção coronária percutânea emergencial e não planejada
Prescrição de tienopiridínico
(ticlopidina 500 mg/VO/dia ou clopidogrel 75 mg/VO/dia)
por até 30 dias após implante de stent não-farmacológico
Prescrição de tienopiridínico
(ticlopidina 500 mg/VO/dia ou clopidogrel 75 mg/VO/dia)
por até 365 dias após implante de stent farmacológico
68
Recomendação
Nível de Evidência
I
A
I
A
I
A
I
A
I
C
Rev Bras Cardiol Invas 2008;16(supl.2)
12.3 Cumarínicos
Para os enfermos em uso de cumarínicos, sugerese que o anticoagulante seja suspenso temporariamente de modo a permitir a utilização da terapia antiplaquetária dupla (ácido acetilsalicílico e tienopiridínico)
associada a ICP, evitando a exposição a riscos adicionais de sangramento. A anticoagulação poderá ser novamente prescrita após o término do período estabelecido para a administração dos tienopiridínicos.
Caso se considere que o risco de eventos tromboembólicos seja excepcionalmente alto com a suspensão
dos anticoagulantes orais, devemos examinar as seguintes possibilidades: não realizar a revascularização percutânea, pois a relação risco-benefício não se justifica;
realizar o procedimento com implante de stents nãofarmacológicos, abreviando o tempo necessário para
a utilização dos tienopiridínicos (duas a três semanas);
utilizar heparinas de baixo peso molecular associadamente à terapia antiplaquetária dupla, observando
de forma cuidadosa a ocorrência de sangramentos; e
manter a anticoagulação oral em níveis inferiores
àqueles habitualmente desejados (valores de INR entre
1,5 e 2,0), com a finalidade de evitar o desenvolvimento
de sangramentos maiores.
12.4 Heparinas
12.4.1 Heparina Não-Fracionada
A utilização de heparina não-fracionada (HNF)
intravenosa é tipicamente recomendada durante a performance de uma ICP, para que não haja oclusão aguda
do vaso por trombose ou mesmo formação de trombos
nos fios-guia ou nos cateteres utilizados212. Essa prática
foi iniciada desde os procedimentos iniciais de ICP sem
implante de stents, e sua utilização permaneceu com o
uso rotineiro das próteses intracoronárias. Entretanto, não
existem estudos placebo-controlados no contexto específico da ICP, pois a não utilização de anticoagulação é
considerada má prática médica.
A monitorização da HNF durante a ICP deve ser
realizada com o tempo de coagulação ativado (TCa),
e não com o tempo de tromboplastina parcial ativado
(TTPa), pois geralmente este permanece muito prolongado com as altas doses de HNF utilizada no procedimento. Doses empíricas de HNF durante o procedimento foram inicialmente propostas, mas logo se constatou que os níveis de TCa apresentavam variações
consideráveis conforme o peso do paciente e o uso
de medicações concomitantes, incluindo nitroglicerina intravenosa, e na vigência de síndrome coronária
aguda 213,214.
O alvo recomendado do TCa para os pacientes
submetidos a ICP é de 250 a 350 segundos naqueles
que não utilizam o inibidor do complexo glicoproteíco
IIb/IIIa, ou de 200 a 250 segundos se for utilizado esse
composto. A HNF deve ser iniciada em bolus de 70
a 100 UI/kg, e se o TCa não for atingido devem ser
realizados bolus adicionais de 2.000 UI a 5.000 UI até
atingir-se o alvo preconizado. Nos pacientes em uso
de inibidores do complexo IIb/IIIa o bolus deve ser
reduzido para 50 UI/kg a 70 UI/kg. Níveis elevados de
TCa (> 400-600) estão associados a aumento do risco
de complicações hemorrágicas. O uso rotineiro da
HNF após o procedimento sem complicações não está
recomendado, em especial quando está sendo usado
inibidor do complexo IIb/IIIa215.
12.4.2 Heparina de Baixo Peso Molecular
No Brasil, estão disponíveis três heparinas de baixo
peso molecular (HBPM) para uso clínico, todas testadas em estudos internacionais, multicêntricos, prospectivamente desenhados para comparar sua eficácia clínica com a HNF no tratamento de pacientes com SIMI
sem elevação do segmento ST, a saber: nadroparina,
dalteparina e enoxaparina.
Sua administração dedicada à ICP foi aferida no
estudo SYNERGY (Superior Yield of the New Strategy of
Enoxaparin, Revascularization and Glycoprotein IIb/IIIa
Inhibitors) , sendo 92% dos pacientes submetidos a
angiografia coronária e 47% (n = 4.687), a ICP precoce,
com utilização de inibidores do complexo IIb/IIIa em
84% deles. A análise específica do grupo submetido a
ICP demonstrou similaridade em termos de eficácia e
ausência de diferenças significativas nos grupos de
enfermos submetidos a enoxaparina ou HNF em relação às incidências de oclusão aguda do vaso (1,3%
versus 1,7%), ameaça de oclusão aguda do vaso (1,1%
versus 1,0%), ICP sem sucesso (3,6% versus 3,4%),
cirurgia emergencial de revascularização do miocárdio
(0,3% versus 0,3%), óbito/IAM não-fatal (13,1% versus
14,2%). A aferição da ocorrência de sangramento importante detectou incidências similares de acordo com
o critério GUSTO (1,5% versus 1,6%; p = 0,688), porém
maiores (no grupo enoxaparina) de acordo com o critério TIMI (3,7% versus 2,5%; p = 0,028). A necessidade
de prescrever transfusão sanguínea foi de maior incidência no grupo tratado com enoxaparina (6,8% versus
5,4%; p = 0,047). Importante salientar que o aumento
da incidência de sangramentos ocorreu à custa do grupo
que necessitou de cruzamento entre as heparinas, devido ao método randômico utilizado na referida pesquisa, não tendo sido observadas diferenças significativas entre os pacientes alocados para enoxaparina ou
HNF, quando apenas uma das heparinas foi utilizada.
Esse achado salienta a recomendação para os cuidados
na prescrição concomitante ou alternada das heparinas
nesses pacientes216-218.
A prescrição de enoxaparina para os pacientes
submetidos a ICP recomenda que dentro das oito horas
da última aplicação subcutânea esses pacientes não
devem receber dose adicional de heparina, porém
69
Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia – Intervenção Coronária Percutânea e Métodos Adjuntos Diagnósticos em
Cardiologia Intervencionista (II Edição – 2008)
aqueles submetidos a ICP entre a oitava e a décima
segunda horas após a aplicação subcutânea devem
receber bolus adicional intravenoso de 0,3 mg/kg de
enoxaparina, no momento do procedimento.
Na realização da ICP primária na vigência de IAM,
admite-se que a HNF intravenosa deva ser administrada
a todos os pacientes no sentido de prevenção de oclusão
aguda do vaso, apesar da ausência de estudos randomizados comparando HNF com placebo nessa situação,
jamais realizados por motivos éticos. Por outro lado,
inexistem estudos randomizados comparando HBPM e
HNF em pacientes submetidos a ICP primária.
O estudo ExTRACT (Enoxaparin versus Unfractionated Heparin with Fibrinolysis for ST-Elevation Myo-
cardial Infarction), com mais de 20 mil pacientes recrutados, comparou a enoxaparina à HNF em pacientes
submetidos a terapêutica fibrinolítica. Destes, 4.673 (23%
da população global) foram submetidos a ICP durante
o período de internação hospitalar. Nesse grupamento,
a enoxaparina foi dotada de maior eficácia que a HNF
em relação às incidências de óbito ou reinfarto aos 30
dias de evolução (10,7% para enoxaparina versus 13,8%
para HNF; p = 0,001). Importante salientar que o modo
de utilização da enoxaparina, no ExTRACT, contemplou a não utilização de bolus, com diminuição de
25% da dose de manutenção (0,75 mg/kg SC a cada 12
horas) em idosos (≥ 75 anos), e diminuição da dose de
manutenção pela metade em pacientes com depuração
de creatinina ≤ 30 (1 mg/kg uma vez por dia)219.
Recomendações e Níveis de Evidência
Heparinas
Recomendação
Nível de Evidência
Heparina não-fracionada em pacientes submetidos a intervenção
coronária percutânea eletiva ou emergencial
I
C
Enoxaparina subcutânea como alternativa à heparina não-fracionada
em pacientes submetidos a intervenção coronária percutânea nas
síndromes coronárias agudas sem supradesnível do segmento ST
IIa
A
Enoxaparina intravenosa como alternativa à heparina não-fracionada
em pacientes submetidos a intervenção coronária percutânea eletiva
IIa
B
Enoxaparina subcutânea como alternativa à heparina não-fracionada
em intervenção coronária percutânea com supradesnível do segmento ST após fibrinólise
IIa
B
Heparina de baixo peso molecular como alternativa à heparina
não-fracionada em pacientes submetidos a intervenção coronária
percutânea primária
IIb
C
70
Rev Bras Cardiol Invas 2008;16(supl.2)
12.5 Inibidores do Complexo IIb/IIIa
Esses fármacos são agentes antiplaquetários que
bloqueiam a via final comum da agregação plaquetária,
independentemente do estímulo que as ativou. Após
fase inicial de emprego desses agentes por via endovenosa, criou-se intensa expectativa quanto ao potencial uso desses bloqueadores por via oral, mas todos
os estudos, com vários fármacos diferentes dessa categoria, mostraram falta de eficácia e/ou malefício nítido, sendo essa linha de pesquisa virtualmente abandonada. Embora os estudos revistos a seguir se refiram
aos quatro compostos utilizáveis por via endovenosa
abciximab, tirofiban, eptifibatide e lamifiban, apenas
os dois primeiros estão disponíveis no Brasil220.
O abciximab é anticorpo monoclonal que atua
como bloqueador não-competitivo e irreversível dos
receptores de glicoproteína IIb/IIIa, perdurando seus
efeitos por vários dias. Com doses terapêuticas, consegue-se o bloqueio de 80% a 90% dos receptores de
superfície, e a metade deles permanece bloqueada até
cerca de uma semana após sua utilização. A dose
recomendada é de 0,25 μg/kg inicialmente, seguida da
administração de 0,125 μg/kg durante 12 horas. Já o
tirofiban é derivado sintético, não-peptídeo, de estrutura molecular diminuta, contendo a seqüência RGD
(arginina-glicina-aspartato), sítio de reconhecimento das
integrinas, presente nas proteínas adesivas do tipo fibrinogênio, fator de von Willebrand e vetronectina, entre
outras. A capacidade da glicoproteína IIb/IIIa de enlaçar as proteínas adesivas é decorrente da presença
dessa seqüência comum. O tirofiban age bloqueando
reversivelmente o receptor celular IIb/IIIa, impedindo
sua ligação ao fibrinogênio. Na sala de hemodinâmica,
deve-se iniciar com a dose de 10 μg/kg administrada
por três minutos, seguida de 0,15 μg/kg/min durante
48-96 horas. Genericamente, os bloqueadores da
glicoproteína IIb/IIIa tendem a aumentar o risco de
hemorragia, e trombocitopenia é complicação rara, mas
não negligível221.
Os inibidores do complexo IIb/IIIa, como parte da
terapêutica adjuvante à ICP, podem ser empregados
no contexto de SIMI sem supradesnível do segmento
ST e também de IAM com supradesnível de ST. Em
pacientes submetidos a ICP eletiva, e sem o devido
pré-tratamento com terapia antiplaquetária, análise
randômica e comparativa entre a administração de
abciximab e clopidogrel com duas horas de antecedência do início do procedimento (600 mg por via
oral) revelou resultados similares, retirando a recomendação para a prescrição desses fármacos222.
Em pacientes submetidos a ICP na vigência de
síndrome coronária aguda sem supradesnível do segmento ST, estudo controlado e randômico demonstrou
que sua prescrição é imperativa naqueles enfermos
submetidos ao procedimento em caráter emergencial
(< duas horas da admissão), sem a confirmação de
prescrição prévia de antiplaquetários, principalmente
de tienopiridínicos, e com presença de marcadores de
necrose miocárdica alterados223.
A realização de ICP primária na vigência de IAM
demanda a ação de farmacologia adjunta antiplaquetária
atuante e eficiente. Como fármacos facilitadores da
reperfusão, isto é, administrados de rotina em pacientes que serão submetidos a ICP, metanálise não demonstrou benefício até o momento em 1.148 pacientes analisados52,53.
Sua aplicação após a admissão na sala de cardiologia intervencionista em pacientes infartados submetidos a ICP primária foi reunida em metanálise congregando 3.912 pacientes, tratados com ou sem abciximab.
Sua administração sistemática reduziu significativamente
a mortalidade e o reinfarto ao final de 30 dias (4,4%
versus 6,2%; p = 0,01 e 1,0% versus 1,9%; p = 0,03,
respectivamente). Deve-se enfatizar que nesses estudos, do início desta década, ainda não se tratava os
infartados de modo sistemático com tienopiridínico,
sendo este administrado apenas após implante de stent
coronário. A recomendação que se depreende dos
diversos estudos é de que se a intenção é a prevenção
de fenômenos isquêmicos relacionados à prática da
ICP primária na vigência do IAM, com ou sem implante de stents coronários, a prescrição correta desses
fármacos seria profilática, isto é, no início do procedimento, não estando definidos até o momento os
benefícios de sua administração apenas condicionada
ao insucesso inicial da reperfusão mecânica224.
71
Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia – Intervenção Coronária Percutânea e Métodos Adjuntos Diagnósticos em
Cardiologia Intervencionista (II Edição – 2008)
Recomendações e Níveis de Evidência
Inibidores do Complexo IIb/IIIa
Recomendação
Nível de Evidência
Na vigência de síndrome coronária aguda sem supradesnível do
segmento ST em pacientes não tratados previamente por um período superior a 6 horas com clopidogrel
I
B
Na vigência de infarto agudo do miocárdio com supradesnível do
segmento ST em pacientes tratados previamente com clopidogrel
IIa
A
Intervenção coronária percutânea de resgate após insucesso da
administração de fibrinolíticos no infarto agudo do miocárdio
IIa
C
Em pacientes submetidos a intervenção coronária percutânea eletiva com a prévia administração de clopidogrel (retardo mínimo
de prescrição < 2 horas)
III
B
72
Rev Bras Cardiol Invas 2008;16(supl.2)
12.6 Hipolipemiantes e Antiproliferativos Sistêmicos
Pacientes que se submetem a ICP são considerados de alto risco para ocorrência futura de novos
eventos coronários e devem ser conduzidos na perspectiva de tratamento antidislipidêmico225. Evidências
se acumulam demonstrando os benefícios do enfoque
terapêutico na redução de C-LDL a níveis mais exigentes que os outrora considerados. Com o fundamento
de estudos recentes tem-se como meta a redução do
C-LDL aquém dos 100 mg/dl e mais ainda, ao redor
ou mesmo abaixo dos 70 mg/dl226.
Raramente se encontram pacientes nessa condição que apresentem C-LDL naturalmente nessa faixa.
Além disso, é infreqüente o sucesso em atingir essa
meta com base em medidas de caráter higieno-dietético
apenas, tais como dieta restritiva de gorduras saturadas
e calorias, se há excesso de peso, e prática regular de
atividade física, embora tais medidas devam sempre
ser estimuladas. Dessa forma, é comum a utilização de
medicamentos que promovam a redução do C-LDL a
níveis considerados ideais226.
Dentre esses se destacam sobremaneira as vastatinas,
drogas inibidoras da hidroximetil coenzima A redutase,
que reduzem a síntese do colesterol intracelular, proporcionando estímulo ao surgimento e à ativação de
maior número de receptores tipo BE, específicos para
LDL, na superfície do hepatócito, retirando dessa forma o C-LDL circulante e reduzindo sua concentração
plasmática226.
Dependendo da dose utilizada e de variações individuais, tem-se a expectativa de redução de C-LDL
de 18% a 55% e de triglicérides de 7% a 30% e
aumento de C-HDL raramente ultrapassando 10%. Vastatinas de diferentes tipos têm sido demonstradas como
fármacos muito eficazes em promover essa redução e
com bom perfil de tolerância. Efeitos colaterais eventuais se restringem a dores musculares, que afetam um
porcentual variável de 4% a 5%. A ocorrência de
elevação da isoenzima creatinofosfoquinase em mais
que 10 vezes o limite superior da normalidade foi
observada em 0,4% a 1,3% dos pacientes, e raramente a forma mais temível de rabdomiólise e suas conseqüências, que se constitui felizmente em ocorrência
muito rara, em menos de 0,1%. Tais efeitos são mais
freqüentes com doses mais elevadas226.
Doses habituais de vastatinas são capazes de atingir uma meta de C-LDL menor que 100 mg/dl em pouco
mais que 50% dos casos. Metas mais exigentes, como,
por exemplo, menor que 70 mg/dl, necessitarão de
ajustes da terapêutica com freqüência. Quando tais metas
não são atingidas com doses plenas ou quando o efeito
colateral das vastatinas não permite seu uso pleno, é
desejável que se associem outros medicamentos. No
momento, a preferência recai sobre a associação de
vastatina com ezetimiba, um inibidor da absorção intestinal do colesterol de boa tolerância, ao contrário de
outros medicamentos já utilizados com o mesmo propósito, que, porém se revelaram de difícil utilização em
decorrência de seus efeitos colaterais, a exemplo das
resinas seqüestrantes de ácidos biliares. Trabalhos recentes sugerem maior potência da combinação de vastatina com ezetimiba em comparação às vastatinas, mesmo as consideradas mais potentes. Uma argumentação
contrária ao seu uso inicial diz respeito à falta de estudos clínicos que validem a superioridade dos resultados com essa combinação em comparação ao emprego isolado das vastatinas226.
Várias evidências se acumulam, no entanto, apontando para o papel preponderante que desempenha a
redução de per si do colesterol, deixando pouca margem ao conceito de outros efeitos próprios, pleiotrópicos,
das vastatinas. Pacientes submetidos a ICP devem fazer uso, sempre que possível, dessas medicações, seja
na vigência de síndrome coronária aguda como em
situações mais eletivas226.
Evidências recentes sugerem o potencial benefício do uso da vastatina já se iniciando antes do procedimento, se o paciente ainda não a estivesse usando, sendo considerado o possível mecanismo de atenuação da inflamação conferido pela vastatina227.
Por outro lado, enquanto as evidências se voltam
para o controle do C-LDL, outras surgem reconhecendo
papel relevante que desempenham o C-HDL baixo e os
triglicérides aumentados. Desejavelmente, o C-HDL deverá estar acima de 45 mg/dl e os triglicérides, abaixo de
150 mg/dl. Se após atingir a meta do C-LDL o colesterol
não-LDL (que se obtém subtraindo o C-HDL do colesterol
total) for maior que 30 mg/dl em relação ao C-LDL, recomenda-se atuação farmacológica na redução dos níveis
de triglicérides, caso estejam elevados, ou no aumento do
C-HDL, caso esteja abaixo do limite desejado226.
Elevações modestas dos triglicérides (até 500 mg/
dl) são abordadas inicialmente com medidas de dieta
hipolipemiante e hipocalórica, além da prática de exercícios regulares. Na situação em que as metas de
redução dos triglicérides não são atingidas com as
vastatinas, que possuem leve efeito redutor dessas
elevações, adicionam-se fibratos ou ácido nicotínico.
Quando o C-HDL é persistentemente baixo, mesmo
com a prática regular de exercícios, recomenda-se
associar ácido nicotínico ou fibratos226.
A ocorrência da reestenose coronária após a realização de ICP constitui-se na limitação principal ao
fornecimento de revascularização do miocárdio durável. Diversas intervenções farmacológicas foram avaliadas com o intuito de prevenir essa ocorrência. Medicamentos administrados sistematicamente, via oral, foram
testados em numerosos ensaios, incluindo-se aqui os
antiplaquetários e anticoagulantes, como ácido acetilsalicílico, dipiridamol, enoxaparina e outros, as vastatinas,
como lovastatina, probucol e outros, os derivados, como
ômega 3, os antagonistas da angiotensina, como cilazapril
73
Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia – Intervenção Coronária Percutânea e Métodos Adjuntos Diagnósticos em
Cardiologia Intervencionista (II Edição – 2008)
e valsartan, além de medicamentos antiinflamatórios,
como corticóide e colchicina, não havendo provas consistentes de sua eficácia138.
O cilostazol, um agente de ação antiplaquetária de
administração oral, apresenta efeitos pleiotrópicos que incluem a redução da hiperplasia intimal. Entre todos os
fármacos citados, o cilostazol ainda apresenta resultados
favoráveis que estimulam pesquisa dedicada futura, tendo
em vista seu baixo custo e a ausência de efeitos colaterais
significativos, como demonstra metanálise recente228.
Com o advento dos stents farmacológicos e a confirmação da eficácia de seu mecanismo de ação na redu-
ção da reestenose (excesso de hiperplasia mio-intimal)
por meio da eluição de fármacos antiproliferativos, ensaios
randômicos analisaram a possibilidade da administração sistêmica da rapamicina, tendo como fundamento
o menor custo comparativo dessa estratégia. Os resultados desses ensaios têm demonstrado relativa eficácia
(perda luminal tardia de 0,6 mm a 0,7 mm), porém
associada a freqüentes efeitos colaterais, especialmente
quando administrada em dose com atividade imunossupressora. Não existe consenso quanto à posologia
ou à duração do pré e pós-tratamento. Sua utilização
na prática clínica para o controle da reestenose não
está apoiada em estudos clínicos consistentes229-232.
Recomendações e Níveis de Evidência
Hipolipemiantes e Antiproliferativos
Recomendação
Nível de Evidência
Vastatinas para a redução do C-LDL > 100 mg/dl
I
A
Vastatinas para a redução do C-LDL > 70 mg/dl e < 100 mg/dl
I
B
Fibratos para reduzir triglicérides > 500 mg/dl
I
A
Fibratos ou ácido nicotínico para elevar o C-HDL < 45 mg/dl
I
B
Prescrição de fármacos por via sistêmica para redução das
taxas de reestenose após intervenção coronária percutânea
com implante de stents coronários
IIb
A
74
Rev Bras Cardiol Invas 2008;16(supl.2)
12.7 Proteção à Nefrotoxicidade dos Meios de
Contraste
A associação de doença cardíaca e disfunção renal
é freqüente, especialmente em idosos e diabéticos. A
doença renal crônica (DRC) é um importante fator de
risco para eventos em pacientes submetidos a ICP. A
DRC é definida pela presença de taxa de filtração
glomerular estimada menor ou igual a 60 ml/min ou
pela presença de um marcador de dano renal, como
a proteinúria.
Não há consenso da estratégia ideal para ICP nos
pacientes portadores de DRC, já que são freqüentemente
excluídos dos ensaios clínicos. A escolha do procedimento deve ser individualizada, baseada em aspectos
anatômicos, morbidades associadas e a melhor oportunidade de oferecer revascularização miocárdica
completa.
A utilização de antitrombóticos e antiplaquetários
potencializa a ocorrência de complicações hemorrágicas.
O abciximab pode ser utilizado com precaução em
pacientes com DRC, não havendo necessidade de ajuste
de dose, porém o tirofiban é depurado pelo rim e sua
utilização pode ser preocupante, mesmo com o ajuste
da dose220.
A degradação da função renal associada à exposição aos contrastes iodados é um dos desfechos nos
pacientes com DRC submetidos a ICP. É arbitrariamente definida como aumento relativo de 25% a 50%
ou absoluto de 0,5 mg/dl da creatinina basal após
exposição ao contraste. Além de DRC, outros fatores
estão associados a maior incidência de nefrotoxicidade,
como idade, diabete melito, insuficiência cardíaca,
hipovolemia, hipotensão, associação de drogas nefrotóxicas e administração de grande volume de contraste. A incidência de disfunção renal é de aproximadamente 1% a 3% na população geral, podendo chegar
a 50% em subgrupos. Essa piora da função renal é
reconhecida como fator de maior mortalidade a curto
e longo prazos. A necessidade de diálise é rara, mas
está associada a incremento maior de morbidade e de
mortalidade.
As estratégias de prevenção incluem medidas obrigatórias e opcionais. A estimativa da função renal é
mais bem estabelecida pelo cálculo da depuração da
creatinina por meio da fórmula de Cockcroft-Gault, que
deve ser calculada para todo paciente exposto a contraste. O risco é inversamente proporcional à taxa de
filtração glomerular estimada, especialmente quando
abaixo de 60 ml/min. Nesses pacientes, medidas de
proteção devem ser especialmente aplicadas233.
As medidas básicas incluem diminuição da exposição, com utilização do menor volume necessário de
contraste. Além disso, havendo necessidade de novo
procedimento, este deve ser idealmente adiado por
três até sete dias. A exclusão de fármacos sabidamente
nefrotóxicos também deve ser considerada. Embora
não sendo considerada nefrotóxica, a metformina deve
ser suspensa entre 24 e 48 horas antes e depois do
procedimento, em decorrência de relatos de acidose
lática em pacientes com insuficiência renal aguda. Não
há consenso sobre efeito deletério dos inibidores da
enzima conversora da angiotensina233.
Após o procedimento, a monitorização da função
renal deve ser realizada preferencialmente até as primeiras 48 horas. O consenso identificou que a desidratação é o principal fator de risco para nefrotoxicidade
aos contrastes. A hidratação por via intravenosa é
imperativa nos pacientes de maior risco. Os protocolos propostos variam conforme o tipo de volume infundido e o período de tempo. A solução fisiológica
a 0,9% mostrou-se melhor que a 0,45%, sendo geralmente prescrita 12 horas antes e 12 horas depois. A
solução de bicarbonato pode ser eficiente, especialmente em situações de urgência. A suspensão de
diuréticos deve ser também considerada234,235.
Os contrastes denominados como de alta osmolalidade (> 1.500 mOsm/kg) apresentam incidência maior
de nefrotoxicidade quando comparados aos de baixa
osmolalidade (< 700 mOsm/kg), representando aumento
do custo em aproximadamente três vezes. Recentemente, contrastes de osmolalidade semelhante ao plasma
(~ 300 mOsm/kg) foram comparados aos de baixa
osmolalidade. Metanálise reuniu 16 ensaios randomizados comparativos da nefrotoxicidade entre um agente
isosmolar (iodixanol) e agentes de baixa osmolalidade
(n = 2.727 pacientes). O aumento máximo da creatinina
até três dias após a exposição ao meio de contraste foi
significativamente menor no grupo que recebeu iodixanol, e mais marcante ainda foi o benefício naqueles
portadores de DRC236.
Três novos ensaios randomizados foram apresentados até o final de 2007, comparando meios de contraste
distintos, procurando demonstrar superioridade na profilaxia da nefropatia induzida por esses meios de opacificação radiológicos. O primeiro ensaio reuniu 25 centros
intervencionistas, randomizando 466 pacientes para
administração de iodixanol (isosmolar) ou iopamidol (baixa
osmolalidade), não encontrando diferença significativa
na redução da incidência de nefropatia induzida por
meios de contraste237. O segundo ensaio comparou o
iodixanol versus o ioxaglato (baixa osmolalidade), reunindo 145 pacientes em sete diferentes centros, e novamente não foram observadas diferenças no pico da creatinina após a exposição237. O terceiro reuniu 300 pacientes estudados em um único serviço médico, e comparou o iodixanol (isosmolar) versus o ioxaglato (baixa
osmolalidade), demonstrando significativa redução da
ocorrência de nefropatia naqueles pacientes submetidos a exposição com o meio de contraste isosmolar,
o iodixanol (7,9% versus 17,0%; p = 0,021)238. Esses
achados demonstram consistência favorável à utilização de meios de contraste isosmolares em pacientes
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Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia – Intervenção Coronária Percutânea e Métodos Adjuntos Diagnósticos em
Cardiologia Intervencionista (II Edição – 2008)
portadores de DRC ou com fatores preditores para sua
ocorrência239.
zação de estatinas e trimetazidina requer evidências
mais definitivas 234,235.
A utilização alternativa do gadolínio como uma
opção distinta aos contrastes iodados não logrou
demonstrar superioridade na comparação com os
contrastes iodados, até o presente momento239.
As membranas utilizadas em diálise são capazes
de depurar os contrastes com eficácia. No entanto, a
aplicação de hemodiálise após a administração de
contraste não se mostrou eficaz em diminuir a
nefrotoxicidade. Um ensaio clínico mostrou benefício
da hemofiltração utilizada antes e após a exposição.
O desfecho principal desse estudo avaliou a variação
da creatinina que sabidamente é também depurada
pela diálise. Além disso, esse procedimento apresenta
riscos e aumenta custos234,235.
Em relação à proteção renal e à profilaxia da
ocorrência da nefrotoxicidade, a N-acetilcisteína foi
o fármaco mais pesquisado. Apesar dos inúmeros
ensaios clínicos e metanálises apresentados, sua eficácia ainda permanece indefinida. Em razão do baixo
custo e dos raros efeitos adversos, constituiu opção
de prescrição freqüente. A aminofilina e o ácido ascórbico são alternativas menos estudadas. Deve-se considerar, no entanto, a possibilidade de paraefeitos
cardiológicos, principalmente das teofilinas. A utili-
Estas recomendações devem ser aplicadas principalmente em pacientes portadores de DRC, diabéticos, com insuficiência cardíaca, idosos, hipotensos
(choque) e anêmicos.
Recomendações e Níveis de Evidência
Proteção à Nefrotoxicidade dos Meios de Contraste (pacientes com taxa
de filtração glomerular < 60 ml/min)
Recomendação
Nível de Evidência
Administração de soro fisiológico 0,9% (1.000 ml) intravenoso 12 horas
antes e após a realização da intervenção coronária percutânea
I
C
Utilização de meio de contraste isosmolar (iodixanol)
IIa
A
Administração de solução de bicarbonato de sódio (150 ml)
IIa
B
Administração de N-acetilcisteína (600-1.200 mg/VO) em duas tomadas,
24 horas antes e após a realização da intervenção coronária percutânea
IIa
A
Administração de ácido ascórbico (3-6 g/VO) antes e após a intervenção
coronária percutânea
IIa
B
Administração de aminofilina (200 mg) intravenosa 30 minutos antes do
início da intervenção coronária percutânea
IIb
B
e água destilada (850 ml) intravenosa 1 hora previamente (3 ml/kg/hora)
à intervenção coronária percutânea e por 6-12 horas após (1 ml/kg/hora)
76
Rev Bras Cardiol Invas 2008;16(supl.2)
13. Manejo Clínico da Intervenção Coronária
Percutânea
Imediatamente após a finalização da ICP, recomenda-se a efetivação de um eletrocardiograma com a finalidade de identificar alterações isquêmicas relevantes (supra
ou infradesnivelamentos do segmento ST não presentes
previamente), que, associadas à presença de angina, sugerem as seguintes possibilidades: espasmo coronário
(controlado pela administração de nitratos por via
sublingual associados ou não a bloqueadores dos canais de cálcio) com reversão das alterações eletrocardiográficas ao padrão prévio ou oclusão aguda do vasoalvo. Nos casos em que não ocorre a melhora rápida
dos sintomas com a administração de nitratos e as alterações eletrocardiográficas, em geral supradesnivelamento
do segmento ST, persistem, deve-se encaminhar o paciente
ao laboratório de cardiologia intervencionista para a confirmação do diagnóstico e sua correção por meio de
nova intervenção. A eventual oclusão de ramos secundários deve ser controlada por meio do tratamento farmacológico com betabloqueadores, nitratos e/ou bloqueadores de cálcio, além da sedação necessária.
Os marcadores de lesão miocárdica (CK total e
CKMB) devem ser monitorados 18 a 24 horas pósintervenção, com a finalidade de verificar a ocorrência
de infarto periprocedimento. Suas causas relacionamse à embolização distal de fragmentos da placa ateromatosa e agregados plaquetários durante a realização
do procedimento e também à oclusão ou enjaulamento de ramos secundários, aprisionados quando
do implante de stents.
Esse diagnóstico é realizado quando há aumento
da CKMB de pelo menos três vezes acima do limite
superior considerado normal11. Nesses casos, o tratamento consiste na observação do paciente, coleta seriada dos marcadores de lesão até sua normalização
(comumente nas primeiras 24-36 horas) e otimização
da terapia farmacológica, sendo a evolução hospitalar
favorável. Outros marcadores mais sensíveis e específicos para lesão miocárdica, como as troponinas T e
I, alteram-se freqüentemente após o implante eletivo
de stents, entretanto seu significado clínico ainda não
está estabelecido. Estudos revelam que pequenas elevações pós-procedimento não estão associadas a pior
prognóstico clínico, desde que não estejam acima de
cinco vezes os valores considerados normais11,38.
A alta hospitalar do paciente submetido a ICP
eletiva com sucesso angiográfico e clínico pode ocorrer no dia seguinte ao procedimento, após a verificação das condições clínicas e dos exames laboratoriais
(CK total e CKMB). Nessa ocasião, deverão ser feitas as
recomendações relativas à medicação, com ênfase na
aderência ao tratamento farmacológico, particularmente
no que diz respeito à terapia antiplaquetária dupla
pelo período previamente determinado, de acordo com
o tipo de stent implantado (farmacológico ou não) e
com a condição clínica subjacente.
Sugere-se que o paciente retorne para avaliação
clínica ainda no primeiro mês após a realização de ICP,
com a finalidade de avaliar suas condições clínicas gerais e queixas cardíacas específicas (presença de angina
ou sintomas de disfunção ventricular esquerda), além de
verificar a aderência ao tratamento farmacológico instituído e observar eventuais efeitos colaterais relativos à
utilização dos tienopiridínicos. Se o tratamento antiplaquetário duplo for prolongado (6 a 12 meses), sugere-se
a realização de hemograma a cada seis meses e a observação clínica atenta, de modo a surpreender sintomas
relacionados ao sistema digestivo e ao aparecimento de
hematomas e sangramentos espontâneos.
O relato de angina do peito aos esforços ou equivalente ainda no primeiro mês de evolução, relacionado
ao retorno às atividades laborais ou rotineiras prévias,
fundamenta a hipótese de revascularização miocárdica
incompleta240. Nesse caso, deve-se planejar o tratamento
das lesões remanescentes, caso sejam adequadas à ICP.
Após o primeiro mês de evolução da ICP, devese monitorar a possibilidade do aparecimento de reestenose coronária. O retorno da angina ou de sintomas equivalentes de natureza limitante, entre o terceiro e o sexto mês após o procedimento, recomenda a
realização de nova cinecoronariografia, para a confirmação angiográfica da mesma, sem a necessidade de
realização de provas funcionais prévias. Entretanto,
estudos revelam que as taxas de recorrência de angina
pós-intervenção são variáveis (entre 50% e 60%) e
podem ser atribuídas a outras causas, tais como revascularização incompleta ou mesmo progressão acelerada
da aterosclerose coronária, reduzindo sua sensibilidade e especificidade. Por outro lado, um porcentual
menor de pacientes portadores de reestenose, cerca
de 25%, pode ser completamente assintomático241.
Em decorrência desse fato, alguns pesquisadores
defendem a realização sistemática de provas funcionais,
como o teste ergométrico, para a identificação da reestenose coronária sob o argumento de que a presença
de isquemia, silenciosa ou não, tem impacto negativo no
prognóstico do paciente. Entretanto, essa abordagem
merece reparos, pois vários estudos revelam baixa sensibilidade do teste (40%-55%) e sua incapacidade de
localizar o território isquêmico. Em razão das limitações
apontadas, a cintilografia miocárdica ou a ecocardiografia
de estresse podem ser alternativas, proporcionando maior
acurácia diagnóstica38.
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Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia – Intervenção Coronária Percutânea e Métodos Adjuntos Diagnósticos em
Cardiologia Intervencionista (II Edição – 2008)
Recomendações e Níveis de Evidência
Realização de Provas Funcionais Detectoras de Isquemia Miocárdica após a Intervenção Coronária Percutânea
Recomendação
Nível de Evidência
Avaliação de angina do peito recorrente
Detecção de reestenose coronária em paciente assintomático (seis
meses para pacientes com implante de stents não-farmacológicos
e 12 meses para farmacológicos)
I
IIa
C
C
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Rev Bras Cardiol Invas 2008;16(supl.2)
14. Manuseio de Pacientes Submetidos a Cirurgia
Não-Cardíaca
Aproximadamente 5% dos pacientes submetidos
a ICP necessitarão de cirurgia não-cardíaca ao longo
do primeiro ano após a revascularização miocárdica
percutânea. Nesse contexto, pode-se estabelecer um
dilema assistencial entre a continuidade do tratamento
antiplaquetário no período perioperatório, com a inerente elevação do risco hemorrágico, ou sua interrupção,
com a conseqüente magnificação do risco de trombose coronária38,242.
Pacientes submetidos a ICP com implante de stent
e precocemente expostos a cirurgia sujeitam-se a complicações. Sua taxa de morbidade e de mortalidade
pode ser 5 a 10 vezes superior à encontrada em pacientes submetidos às mesmas cirurgias na vigência da
terapia antiplaquetária máxima ou que tenham cumprido o prazo necessário para a reendotelização após o
implante de stents, podendo atingir mortalidade perioperatória entre 30% e 86%210,215.
O ácido acetilsalicílico não deve ser suspenso quando indicado para prevenção secundária, exceto em intervenções em cavidades fechadas. Mesmo nessa circunstância, há controvérsia sobre sua manutenção ou
suspensão 215,242.
Para cirurgias não-cardíacas eletivas, recomenda-se
um intervalo a ser respeitado após a realização de ICP,
sendo de no mínimo 30 dias quando da utilização de
stents não-farmacológicos e de 180 dias para aqueles
submetidos a implante de stents farmacológicos243.
Na impossibilidade de espera desse período, em
situações de baixo risco, seria possível descontinuar
clopidogrel por uma semana, porém sem interrupção
do ácido acetilsalicílico. Pacientes de baixo risco incluem os submetidos a ICP com implantes de stents
não-farmacológicos com mais de três meses da data
da efetivação do procedimento, infartos não-complicados e ICP sem implante de stents. Os resultados
recentes com a aplicação dos stents farmacológicos
tendem a sugerir que stents farmacológicos provavelmente nunca irão configurar uma classificação de baixo
risco242.
Somente cirurgias vitais ou emergenciais devem ser
realizadas na vigência de terapia antiplaquetária dupla.
Em combinação com o cirurgião, após a intervenção, a
mesma deve ser reinstituída com a maior brevidade possível.
Em cirurgias realizadas em espaços fechados, como as
intracranianas, no canal medular ou na câmara oftálmica
posterior, mesmo pequenos sangramentos podem promover grave morbidade. Circunstancialmente, pode-se
considerar a discussão sobre a manutenção do ácido
acetilsalicílico e a suspensão do clopidogrel por sete dias
antes da cirurgia. Nesses casos, uma ponte com tirofiban
pode ser uma opção, embora de fundamento meramente mecanístico e de caráter empírico. Vale recordar que
essas medicações não são licenciadas para essa finalidade. Em cirurgias estereotáxicas intracranianas, mesmo o
ácido acetilsalicílico deve ser suspenso. Nesses pacientes, como em todos os demais, é significativa a otimização
do tratamento medicamentoso, incluindo betabloqueadores, alfabloqueadores, nitratos e, se necessários, antihipertensivos. Nos pacientes com doença arterial coronária
estabelecida, as estatinas devem ser mantidas no período
perioperatório, com vistas à redução de mortalidade
inclusive a longo prazo. A incidência de rabdomiólise é
muito baixa (0,15/milhão de prescrições), mas casos
perioperatórios têm sido descritos242.
A transfusão de plaquetas frescas pode eventualmente ser a única forma de restabelecimento da coagulação sanguínea em pacientes na vigência da terapia
antiplaquetária que necessitem de cirurgia não-eletiva.
Após seis até oito horas da última ingesta de clopidogrel,
as plaquetas transfundidas não serão significativamente
afetadas pela medicação. Em relação aos inibidores do
complexo IIb/IIIa, a transfusão de plaquetas é imperativa nas primeiras 48 horas após a administração do
abciximab. Naqueles que receberam tirofiban, em torno de seis horas após sua suspensão a função plaquetária
reassume níveis de 60% até 90% da normalidade, raramente demandando transfusão de plaquetas242.
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REVISTA BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA INVASIVA
Ano 16 - Número 2 - Volume 16 - Suplemento 2 - Abril/Maio/Junho 2008

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