UM OLHAR SOBRE A ITÁLIA - Camera di Commercio Italiana per il
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UM OLHAR SOBRE A ITÁLIA - Camera di Commercio Italiana per il
UM OLHAR SOBRE A ITÁLIA Apresentação Esta publicação sobre Itália vem no seguimento de outra, editada há dois anos, neste caso sobre Portugal e dirigida ao mundo empresarial italiano, tal como esta se destina aos empresários portugueses. O intuito é o mesmo, dar a conhecer melhor os nossos dois países. E se, com a primeira, procurámos contribuir para quebrar a barreira de uma certa falta de interesse que os operadores económicos italianos manifestam em relação a Portugal (apesar das muitas afinidades e semelhanças), com esta queremos desfazer alguns preconceitos que ainda persistem junto dos empresários portugueses acerca de pretensas dificuldades que o mercado italiano supostamente apresenta. E se conhecer-se melhor ajuda a relacionar-se melhor, não há dúvida que uma atitude livre de condicionamentos que, em nosso entender, são mais psicológicos do que reais, permitiria aos operadores portugueses concretizar as potenciais vantagens que podem advir de um relacionamento mais estreito com a Itália. De facto, é nossa opinião que o modelo de desenvolvimento industrial e comercial italiano pode representar para Portugal o mais ajustado ponto de referência na busca de um modelo produtivo mais competitivo País praticamente sem matérias-primas, com uma estrutura produtiva predominantemente transformadora, articulada numa malha de pequenas e médias empresas, muitas vezes organizada em "distritos industriais" (em certa medida o equivalente aos "clusters"), com sectores de excelência a nível mundial (motorística, metalo-mecânica, moda, mobiliário, agro-alimentar, artigos para o lar, para referir os principais) e com uma balança comercial sempre e largamente activa desde o início dos anos '90, a Itália apresenta hoje o modelo produtivo que poderia vir a ser o de Portugal, se se conseguir entrar no mesmo caminho. E criar parcerias, estabelecer acordos de produção e de comercialização, adquirir patentes, colaborar, por outras palavras, com empresários italianos não apresenta desafios diferentes dos que se enfrentam normalmente quando se pretende internacionalizar a actividade de uma empresa. Filippo Montera Presidente da Câmara de Comércio Italiana em Portugal A GEOGRAFIA A península italiana, com as suas ilhas adjacentes, desenvolve-se na direcção da costa africana, ocupando uma posição central na Europa mediterrânica. É graças a esta posição geográfica que a Itália teve, desde sempre, relações directas com as mais diversas esferas culturais e étnicas tanto do Velho Mundo (neolatino, germânico e eslavo-balcânico), como dos países do norte de África, ou seja, com o mundo árabe muçulmano e com a sua cultura. A Itália pode, assim, ser considerada como o elo de ligação ideal entre a Europa e os povos do norte de África e do Médio Oriente, virados todos para o mesmo mar e herdeiros de laços histórico-culturais seculares. O território italiano constitui a 35ª fracção da Europa e ocupa uma superfície de 301.278 Km2. A sua fronteira setentrional é constituída pelos Alpes, através dos quais a Itália confina com a França, Suíça, Áustria e a Eslovénia. Todo o restante território italiano é circundado pelas águas do Mar Mediterrâneo. A península itálica é atravessada por uma longa coluna vertebral - os Apeninos - e do país fazem também parte duas grandes ilhas, a Sicília e a Sardenha, além de vários outros pequenos arquipélagos. A Itália apresenta uma morfologia bastante variada, com cerca de um quarto do seu território (23%) constituído por planícies, um terço (35%) por áreas montanhosas e 42% por áreas de colinas. Os Alpes constituem uma frente com cerca de 110 km, ao longo de toda a zona setentrional da Itália, de Ocidente para Leste. A planície padana tem cerca de 42 Km2 tendo sido formada, hidrogeograficamente, pela acção secular do Rio Pó, o maior da Itália. Os Apeninos têm mais de 1200 km de comprimento. Devido à sua posição geográfica situada no centro da zona temperada, a Itália apresenta uma grande variedade de condições climatéricas. De facto é influenciada tanto pelas correntes atmosféricas húmidas e temperadas provenientes do Oceano Atlântico, como pelas correntes frias e secas provenientes do Leste da Europa. As diferenças de temperatura entre os meses de Inverno e os meses de Verão são muito marcadas na área setentrional e menos nas áreas meridionais e costeira. 1 Quanto à precipitação, ela é mais elevada nos Alpes e nos Apeninos (mais de 3000 mm), enquanto que as planícies, incluindo a formada pelo Rio Pó, registam fraca precipitação (geralmente menos de 800-900 mm). Por fim, no Sul da Itália, a precipitação desce para menos de 600 mm. No que se refere aos cursos de água são poucos os que ultrapassam os 100 km. O Rio Pó, com os seus 652 km de comprimento, é o maior de todos. Os restantes rios são muito influenciados pelas condições climatéricas, alternando entre os regimes de cheia no Inverno e de seca no Verão. A Sicília e a Calábria são as regiões mais atingidas por este tipo de estio. Os mares italianos assumem diferentes denominações: a) Mar Adriático b) Mar da Ligúria c) Mar Jónio d) Mar Tirreno 2 O SISTEMA POLÍTICO ITALIANO Após o Referendo de 2 de Junho de 1946 a Itália transformou-se numa República, regendo-se a partir de então por uma Constituição - em vigor desde 1 de Janeiro de 1948 - cujo artigo 1º afirma que: “A Itália é uma República democrática assente no trabalho». O ordenamento republicano garante, de acordo com um modelo que é comum às democracias ocidentais, um Sistema Político inspirado no princípio da repartição de poderes (legislativo, executivo, judicial). O PARLAMENTO: A estrutura do Parlamento é composta por duas Câmaras, a Câmara dos Deputados (formada por 630 membros) e o Senado da República (composto por 315 elementos). A duração do mandato parlamentar é de 5 anos. O GOVERNO: O Primeiro-ministro não é eleito pelo povo, mas sim pelo Presidente da República; todavia, na sua qualidade de garante da unidade nacional, o Presidente da República não pode eximir-se de respeitar a vontade popular expressa nas urnas. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA: é eleito pelo Parlamento reunido em sessão ordinária na qual participam também os representantes das Regiões. O seu mandato é de 7 anos. O Presidente da República promulga as leis, é o Chefe das Forças Armadas e preside ao Conselho Superior de Magistratura, órgão através do qual os próprios Magistrados gerem a classe. Como se pode ver, a Itália não optou nem por um sistema presidencial (modelo americano), nem por um sistema semipresidencial (modelo francês ou português), na medida em que o Chefe do Estado desempenha “apenas” funções de controlo e garante do respeito pela Constituição na vida política da Nação. A MAGISTRATURA: detentora do poder judicial, a magistratura italiana é independente de qualquer outro poder e tem o seu próprio órgão de gestão no Conselho Superior da Magistratura. ÓRGÃOS AUXILIARES DO ESTADO: ¾ TRIBUNAL CONSTITUCIONAL: é o garante da constituição em todas as divergências relacionadas com a legitimidade constitucional das leis e dos actos com força de lei do Estado e das Regiões. 3 ¾ TRIBUNAL DE CONTAS: exerce o controlo prévio da legitimidade dos actos de governação, para além de controlar a gestão das contas do Estado. ¾ CONSELHO DE ESTADO: é um órgão de consultoria jurídico- administrativa e de defesa dos princípios de justiça na administração pública. ¾ CONSELHO NACIONAL DA ECONOMIA E DO TRABALHO (CNEL): é o órgão de consultoria das Câmaras e do Governo, nomeadamente no que se refere às matérias de carácter económico e social. AS AUTONOMIAS LOCAIS: do ponto de vista administrativo e territorial o País está dividido em Regiões, Províncias e Concelhos. ¾ REGIÕES: A Itália está dividida em 20 Regiões (Art.º 131): Piemonte, Valle d'Aosta, Lombardia, Trentino-Alto Adige, Veneto, Friuli-Venezia Giulia, Ligúria, Emilia-Romagna, Toscânia, Umbria, Marche, Lazio, Abruzzo, Molise, Campania, Puglia, Basilicata, Calábria, Sicília e Sardenha. Cinco delas (Sicília, Sardenha, Valle d'Aosta, Trentino Alto Adige e Friuli-Venezia Giulia) são regiões que (por razões étnico-geográficas) detêm um estatuto especial, gozando de autonomia política, administrativa e financeira. As Regiões italianas são governadas por um Conselho Regional e por um Presidente da Região que, à frente da Junta Regional, detém o poder executivo. O Presidente da Região é eleito directamente pelo povo. O território regional está, por sua vez, dividido em PROVÍNCIAS, cada uma das quais está subdividida em CONCELHOS. As PROVÍNCIAS e os CONCELHOS são entidades autónomas organizadas politicamente de forma similar às Regiões. 4 A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Não é por acaso que a Administração pública italiana sempre teve a reputação de elefantíaca, vexatória e inimiga do cidadão. Dos Ministérios nacionais aos Departamentos públicos territoriais, o leitmotiv sempre foi o de filas intermináveis, tempos de espera excessivos, extrema complexidade da burocracia e custos muito elevados na obtenção de certidões e outros documentos. A partir da segunda metade dos anos noventa foi lançado um processo que visava conferir autonomia e descentralização em matéria de administração pública. Na prática quotidiana, as principais novidades que esta reforma global trouxe ao cidadão italiano e estrangeiro são as seguintes: 1. AUTOCERTIFICAÇÃO: graças à qual deixou de ser necessário requerer dezenas de certidões e de pagar os respectivos emolumentos. Deste modo, sob responsabilidade penal por falsas declarações, é possível proceder à autocertificação dos seguintes elementos: - dados pessoais e estado civil, - títulos académicos e qualificações profissionais, - situação económica, física e rendimentos, - situação jurídica, - outros dados Não é possível autocertificar: - atestados sanitários e veterinários, - certificados de conformidade CE, - certificados de marcas e patentes. Como se faz a autocertificação: - é apresentada em papel simples, assinado pelo interessado, sem reconhecimento de assinaturas e sem selo, - pode ser apresentada por outra pessoa ou ser enviada por correio ou fax. Quem a pode efectuar: - os cidadãos italianos, - os cidadãos da União Europeia, - os cidadãos extracomunitários residentes em Itália apenas podem autocertificar os dados e factos passíveis de verificação junto de entidades públicas ou privadas italianas. 5 A autocertificação permitiu que a administração pública reduzisse o número de certificados emitidos de 70.641.741 em 1996 para 30.658.516 em 2000. 2. BILHETE DE IDENTIDADE ELECTRÓNICO (ainda em fase experimental) permite aos cidadãos aceder directamente aos serviços da Administração Pública sem sair de casa, podendo usufruir, entre outras coisas, da “assinatura digital”. 3. BALCÃO ÚNICO (tipo Centro de Formalidades das Empresas ou Loja do Cidadão): a sua tarefa é fornecer às Empresas um interlocutor único para todo o conjunto de actos administrativos relativos à vida de uma qualquer actividade económica. Deste modo, basta um só procedimento para o arranque das actividades, ficando assim assegurada a redução dos tempos de resposta da Administração (de 2 a 5 anos antes da reforma, para 3 a 11 meses garantidos pelo Balcão Único). Actualmente os Balcões Únicos servem 69% da população italiana. ADMINISTRAÇÃO NA INTERNET: com base no plano de acção do “e-government”, o Governo dotou toda a Administração Pública de sites na Internet nos quais é assegurada a máxima informação ao utente, ao mesmo tempo que possibilita o relacionamento directo entre o cidadão e a própria Administração. 6 AS ASSOCIAÇÕES SINDICAIS, PATRONAIS E OUTRAS O sindicalismo italiano tem as suas raízes nas lutas operárias do começo do século XX. Foi em 1906 que nasceu a CGIL - Confederazione Generale del Lavoro (Confederação Geral do Trabalho), organização que se propõe representar todas as aspirações das classes trabalhadoras. Ilegalizada pelo regime fascista, a organização sindical dos trabalhadores italianos reaparece no segundo pós-guerra, sendo afectada pelas divisões resultantes do novo clima imposto pela guerra fria. Em 1950, após as cisões internas da CGIL, nasceram a Confederação Italiana dos Sindicatos dos Trabalhadores (Cisl - Confederazione Italiana Sindacati Lavoratori) e a União Italiana do Trabalho (Uil - Unione Italiana del Lavoro). A Cisl reúne a tradição do sindicalismo católico e republicano, agrupando assim as forças políticas do governo e a hegemónica Democracia Cristã. A Uil, ao contrário, rege-se por ideias laicas, democráticas e socialistas, alinhando-se, também ela na frente anticomunista. A Cgil, portanto, sendo inicialmente um sindicato unitário, reduz-se à posição de bastião do sindicalismo comunista, próximo do PCI, com uma fortíssima capacidade de mobilização das massas. Embora continuando a manter, no seu conjunto, a hegemonia da representação dos trabalhadores, estas três organizações não esgotam o panorama sindical italiano, que contínua pontuado por uma miríade de organizações substancial ou formalmente apartidárias, autónomas e independentes. As mais importantes destas são: A CISAL - Confederação Italiana dos Sindicatos Autónomos dos Trabalhadores (Confederazione Italiana Sindacati Autonomi Lavoratori): bem implantada sobretudo no sector público, isto é, junto dos funcionários do Estado. A Ugl - União Geral do Trabalho (Unione Generale del Lavoro): formada por diversas forças sindicais de menor peso, mas de tendência aproximada, situase politicamente na área do centro-direita. Os Cobas - Confederação dos Comités de Base (Confederazione dei Comitati di Base): nascem da auto-organização do mundo sindicalista da extrema- 7 esquerda. Actualmente os Cobas representam a realidade mais combativa do sindicalismo italiano. Se, com efeito, o mundo do trabalho se caracteriza por um grande fraccionamento organizativo, a área patronal apresenta-se bastante mais coesa, com as grandes empresas perfeitamente identificadas com a Confindustria. A Confindustria nasce em 1910 com a finalidade de representar o emergente empresariado italiano. A sua longa história faz com que seja, actualmente, a principal organização representativa das empresas de serviços e manufactureiras em Itália, com uma rede associativa da qual fazem parte 18 federações regionais, 105 associações territoriais, 13 federações sectoriais, 111 associações sectoriais, 257 organizações associadas, envolvendo um total de 111.000 empresas e 4.200.000 empregados. A Confindustria apresenta-se perante o poder político administrativo e as organizações sindicais e sociais como o principal interlocutor para o sistema económico empresarial italiano. Importa ainda destacar algumas organizações fundamentais para a vida associativa do mundo do trabalho: • A Confcommercio que, com as suas 750.000 empresas associadas, dá voz ao mundo das Pequenas e Médias Empresas (comércio, turismo e serviços). • A Confagricoltura, cujas empresas associadas cobrem 70% das jornadas de trabalho do sector agrícola. • A Confartigianato dá voz a cerca de 521.000 empresas artesanais. • A Unioncamere é a organização que coordena as 102 Câmaras de Comércio italianas operantes no território nacional e as 60 Câmaras de Comércio italianas existentes no estrangeiro. Esta estrutura representa um importante instrumento ao serviço das mais de 360.000 empresas italianas inscritas, tanto no que se refere à sua presença e às suas necessidades no mercado interno e externo, como no tocante à representação das suas exigências junto dos órgãos do poder político e da administração pública. 8 O TURISMO As civilizações que se foram sucedendo ao longo dos tempos – da etrusca, à grega e à romana, para continuar na Idade Média, com a Itália “dei comuni” (as cidades-estado), a Renascença – deixaram um património artístico inestimável: monumentos, igrejas, palácios, castelos, museus e cidades são testemunhos desta riqueza ímpar. E sem pretender fazer uma lista exaustiva (que encheria páginas e páginas) citamos apenas os locais, as cidades, as obras e os artistas mais famosos. *** Com base nas civilizações a que aludimos acima, pode ser traçado um mapa das mais importantes cidades de arte italianas: Vestígios da Civilização Etrusca encontram-se em Volterra, Arezzo, Perugia, Orvieto, Tarquinia, Ancona, Chieti. A “Magna Grécia” (do Século VIII a.C.), com a sua arquitectura civil e religiosa, em Nápoles, Paestum, Reggio, Taranto, Siracusa, Agrigento, Selinunte, Segesta, Taormina, Palermo, Catania, Messina. A Roma imperial (do Século VIII a.C. ao Século V d.C.), deixou-nos quase intactos até aos nossos dias importantes edifícios e estradas em Pompeia, Hercolano, Turim, Milão, Trieste, Aquileia, Verona, Bolonha, Spoleto, Cagliari. A concepção urbanística da Alta Idade Média (Século IV-XI d.C.) modelou Ravena e principalmente Siena, exemplo único da arquitectura da Itália “dei Comuni” (as cidades-estado). O ressurgimento do gosto clássico pode ser encontrado no estilo Românico (Séculos XI-XIII d.C.) de Ferrara, Pisa, Lucca, Assis. Do Gótico (Séculos XII-XIV d.C.) são símbolos cidades como Florença, Siena, Pisa, Pistoia, Arezzo, Veneza, Pádua, Verona, Vicenza, Jesi. Além disso, todos estes centros italianos - dos maiores aos mais pequenos conservam inúmeras obras que testemunham os mais diversos paradigmas pictóricos, escultóricos e arquitectónicos. 9 Estes são: O Gótico (Séculos XII e XIV d.C.): da arquitectura dos irmãos Pisano, aos frescos do toscano Giotto, considerado o génio do Século XIV. A Renascença (Séculos XV e XVI d.C.): entre os centros da Toscânia e do Veneto trabalham os maiores artistas de todos os tempos: Brunelleschi, Donatello, Masaccio, Paolo Uccello, Piero della Francesca, Botticelli, Perugino, Mantegna, Giorgione, Leonardo da Vinci, Michelangelo, Raffaello, Bramante, Tiziano. O Maneirismo (Séculos XVI e XVII d.C.): da chama da Renascença desenvolvem-se as obras arquitectónicas do Palladio e escultóricas de Sansovino e do Cellini. Na pintura destacam-se Tintoretto, Veronese, Vasari, Correggio, Parmigianino. O Barroco (Séculos XVII-XVIII d.C.) : a Roma do arquitecto Borromini e o Veneto dos colegas Canaletto e Tiepolo, além de Canova, expoente do neoclassicismo e romantismo (XVIII-XIX sec. d.C.). Esta breve síntese demonstra que o património artístico a que se pode ter acesso em Itália é ímpar no mundo. Segundo dados da UNESCO, 50% das riquezas histórico-artísticas do Planeta encontram-se em Itália. Contudo, não é só a arte que faz da Itália um destino único para os milhões de visitantes que, anualmente, chegam de todo o mundo. A natureza oferece também uma vasta série de oportunidades, tanto para os amantes da montanha como para os apreciadores do mar. No tocante ao panorama das montanhas, basta recordar a riqueza do sistema alpino italiano. De facto, os Alpes se numa das encostas se repartem pela França, Suíça, Áustria e Eslovénia, na outra pertencem por inteiro à Itália. Ao longo dos 110 km da frente montanhosa, encontram-se estâncias de neve famosas em todo o mundo, não só para os que praticam desportos de Inverno, mas também para os amantes do excursionismo. A oferta turística italiana, por outro lado, é completada pela rede de lagos que existem um pouco por toda a península e que oferecem destinos preciosos para os amantes da cultura, do desporto e para quem procura tranquilidade e diversão. A norte encontra-se o Lago de Garda (368 km2), Lago Maggiore, Lago de Lugano, Lago de Iseo e Lago de Como. Na Itália central encontram-se os lagos vulcânicos de Albano, Nemi, Bracciano, Vico Trasimeno e Bolsena. 10 Val d’Aosta Courmayeur e Valle del Gran San Bernardo são localidades famosas pela neve e pelo folclore. A Lombardia abriga a zona do Val Camonica. O Veneto as localidades de Arabba, Asiago, com os seus 7 concelhos, Cortina d’Ampezzo e Sapada. O Trentino Alto Adige é famoso pelas localidades da Província de Bolzano: Gruppo Ortles, Val Gardena, Alpe di Siusi, Val Pusteria e Val Senales; e as localidades da província de Trento: Altipiani di Folgaria, Madonna di Campiglio, San Martino di Castrozza, Val di Fassa, Val di Fiemme, Val di Non, Val Sugana. Em Friuli-Venezia Giulia, enfim, toda a região de Piancavallo. Entre as localidades referidas aparecem as verdadeiras jóias que são os Dolomitas, 200 km de paredes rochosas que representam não só uma paisagem única de alta montanha, mas que oferecem também uma rede de pistas de ski de altíssima qualidade. Os principais locais dos Dolomitas são, apenas para dar alguns exemplos, Alleghe (com 270 km de pistas de ski), Cortina d’Ampezzo (160 km), San Martino di Castrozza, Sappada (50 km), para além de Marmolada e das Valli. Ao longo de mais de 7000 km de costa, partindo de Noroeste, encontra-se a Riviera da Ligúria, com Cinque Terre, San Remo e a Costa dei Fiori; a Toscânia, com as várias localidades marítimas da costa tirrénica e particularmente a Versilia (Forte dei Marmi); a Campânia com a sua Costa Amalfitana, o Golfo de Sorrento e as Ilhas de Capri e Ischia; a Costa Jónica na Calábria, toda a costa insular Sicíliana e em particular as ilhas Égadas, as Eólias e a Ilha de Panarea; na Sardenha o Arquipélago da Madalena e a Costa Esmeralda. Do lado do Adriático, ao longo da costa pugliese encontra-se Santa Maria di Leuca, as Ilhas Tremiti e toda a zona de Gargano (Peschici e Vieste); a marchegiana Riviera del Conero; as famosíssimas estâncias balneárias da riviera romagnola: os Lidi Ferraresi, Rimini e Riccione; Jesolo na Lagoa Veneta e Lignano Sabbiadoro no golfo de Trieste. A importância do sector turístico é também sublinhada pelo facto de o mesmo contribuir com 5,5% para o PIB italiano, com uma dinâmica em constante aumento. 11 A DEMOGRAFIA Segundo os dados do ISTAT a 1 de Janeiro de 2000, a população italiana era de 57.679.895 pessoas, continuando a verificar-se predominância da população feminina (29.676.583, ou seja, 51,4%) sobre a masculina (28.003.312, cerca de 48,6%). O número de famílias era de 22.226.115, com uma média de 2,6 membros por cada uma. O factor que mais influencia este trend da demografia italiana, que não é propriamente positivo, é o baixo índice de natalidade que se situa numa média de 1,5 filhos por mulher. Do ponto de vista territorial, o Noroeste alberga 26,2% da população italiana, a pouca distância do Sul (24,4%). Abaixo dos 20% está o Centro com 19,3%, o Nordeste com 18,5% e as Ilhas com apenas 11,6% da população italiana. Homens Mulheres 28.003.312 29.676.583 57.679.895 Nados vivos 279.953 263.086 543.039 Mortos 280.671 279.570 560.241 -718 -16.484 -17.202 Registados 807.712 764.900 1.572.612 Cancelados 715.449 675.839 1.391.288 92.263 89.061 181.324 28.094.857 29.749.160 57.844.017 População residente a 1 de Janeiro Saldo natural Saldo migratório População residente a 31 de Dezembro Total As previsões do ISTAT apontam um aumento dos residentes em Itália para 57.777.000. Este ligeiro crescimento demográfico não dependerá, porém, dos chamados “naturais”. Tal como em muitas outras realidades europeias, este aumento de sinal positivo é dado não pelos cidadãos autóctones, mas sim pelas comunidades de emigrantes residentes no território nacional. Se, com efeito, a taxa de crescimento (por 1000 habitantes) é de -0,2 para os naturais, a correcção para positivo acontece graças aos emigrantes que, com a sua taxa de crescimento de +1,9, estabilizam a taxa de crescimento total em +1,7. Nos próximos 10 anos o ISTAT prevê que perante a estabilização da taxa de crescimento dos estrangeiros (sempre em torno de 1,9), assistir-se-á a uma progressiva deterioração do mesmo valor para os naturais italianos, até atingir uma taxa de crescimento demográfico, prevista para 2010, de -1,6. 12 O SISTEMA CONTRATUAL ITALIANO O sistema contratual italiano é constituído por um sistema bidimensional, baseado em dois níveis contratuais (nacional e local), acompanhados por uma “terceira dimensão" (interconfederal). TIPO DE NÍVEL Contratação Nacional CONTRATO Interconfederal QUEM CONTRATA Confederações sindicais (Cgil, Cisl, Uil) e Organizações patronais (Confindustria, etc) O QUE SE CONTRATA - Protocolos de entendimento sobre as relações industriais - Constituição de entidades bilaterais - Formação profissional - Ambiente - Previdência complementar CONTRATAÇÃO DE PRIMEIRO NÍVEL Contratação triangular (ou Nacional Confederações sindicais (Cgil, Cisl, Colectivo de Trabalho Uil), concertação) Contrato Nacional Organizações (CCNL): patronais - sistemas de e Governo - salários mínimos das (Confindustria, etc.) qualificação categorias - promoções - horários - direitos sindicais - férias - etc. CONTRATAÇÃO Contratação NÍVEL integrativa DE SEGUNDO empresarial Empresa Representações Matérias remetidas empresa (RSU*) sindicais, informação, ou grupo sindicais de pelos CCNL, direitos salário variável, reestruturação, “cassa integrazione”, formação Contratação territorial Província Organizações ou região sindi- Salários variáveis, cais de território e representações respectivas contra- sindicais partes de categoria ou associativas 13 * RSU: são as Representações Sindicais Unitárias, nascidas em 1991 graças ao acordo celebrado entre Cgil, Cisl e Uil. Garantem, através de eleição por parte dos trabalhadores no seio das empresas, a unicidade sindical, principal garante do papel de primeiro plano dos sindicatos confederados e da sua política nacional a nível de contratação de segundo nível. AS NOVAS FORMAS DE TRABALHO A evolução das novas tecnologias e a expansão da new economy determinaram, nos últimos anos, em Itália como no resto da Europa, um forte desenvolvimento das chamadas novas formas de trabalho, caracterizadas por um acentuado grau de flexibilidade tanto em entrada como em saída. Os principais contratos a que estão sujeitas estas novas figuras profissionais são: TIPO DE O QUE É OS SUJEITOS NOTAS CONTRATO ESTÁGIOS E Não constituem relações de Os Sujeitos Prómo- A tendência dos TIROCÍNIOS trabalho entre entidades de tores tanto podem Estágios e Tirocínios acolhimento (empresas) e ser entidades está em forte estagiários públicas como crescimento organismos privados TRABALHO “INTERINALE” É um contrato de “trabalho Agência de trabalho Este trend encontra- de aluguer por tempo de cedência de determinado" estipulado mão-de-obra -se em alta entre a empresa de cedência de mão-de-obra e o Trabalhador trabalhador que deverá prestar serviço numa empresa privada O PART-TIME O trabalhador presta A Empresa serviço apenas uma parte São as grandes e médias empresas as do horário normal de O trabalhador em mais interessadas trabalho part-time nos contratos em part-time. O part-time em Itália está em crescimento, lento mas constante O TRABALHO É designado como um ATÍPICO "contrato de colaboração Empresas Os "colaboradores" não têm vínculos em coordenada e continuada” Trabalhadores ou “contrato de trabalho “colaboradores” para-subordinado". Não representa uma relação de trabalho estável no seio da organização da empresa 14 termos de horários TELE-TRABALHO Típico de quem desenvolve Empresas uma actividade, inclusive a O seu crescimento em Itália foi signi- partir de casa, através da Administração utilização das novas Pública ficativo tecnologias surgidas com a difusão da Internet Trabalhadores PRÁTICAS EM Contrato de trabalho que Empresas CONTEXTO DE visa a formação profissional TRABALHO dos jovens trabalhadores (aprendizagem) O Contrato de Aprendizagem tem Aprendizes: jovens uma duração com- dos 16 aos 24 anos preendida entre 18 meses e 4 anos (5 Tutor: é a figura que anos funciona como elo artesanato) de ligação entre os Assistiu-se dois sujeitos acentuada diminui- ção tipo no deste contrato 15 caso a do uma de AS SOCIEDADES O sistema societário italiano é regulamentado pelo Código Civil, no seu Título V do Livro V ("Do Trabalho”). O artigo 2249º indica os vários “tipos de sociedade": As sociedades comerciais, que têm por objecto o exercício de uma actividade comercial tal como: - actividade industrial direccionada à produção de bens e serviços - actividade intermediária na circulação de bens - actividade de transporte terrestre, aéreo e marítima - actividade bancária e seguradora - actividades subsidiárias das actividades anteriores Estas sociedades são: SOCIEDADE EM NOME COLECTIVO (SNC) SOCIEDADES EM COMANDITA SIMPLES (SAS) SOCIEDADES POR ACÇÕES (SPA) SOCIEDADES EM COMANDITA POR ACÇÕES (SAPA) SOCIEDADES DE RESPONSABILIDADE LIMITADA (SRL) As sociedades simples que não têm por objecto o exercício das actividades atrás indicadas, mas que funcionam, juntamente com a SOCIEDADE SIMPLES (SS), como modelo tanto para as Sociedades em Nome Colectivo, como para as Sociedades em Comandita Simples, constituindo com as mesmas o subgrupo denominado por “SOCIEDADES EM NOME PESSOAL”, subgrupo das SOCIEDADES DE CAPITAIS (SPA, SRL e SAPA) 16 paralelamente ao As sociedades cooperativas AS SOCIEDADES EM NOME PESSOAL SOCIEDADE SIMPLES (SS) RESPONSABILIDADES POR NOTAS DÍVIDAS A sociedade com o seu Particularmente utilizadas património e subsidiaria- nas actividades agrícolas e mente os sócios pessoal- profissionais. mente, solidariamente em medida ilimitada. O credor o seu e Para a formação da SS não poderá, é social necessário um capital assim, ressarcir-se de todo mínimo. Nem tão pouco sobre o são exigidas formas espe- sobre o resultam da especificidade crédito, património da sociedade e, cíficas, a não ser as que posteriormente, património de qualquer um dos bens conferidos à dos sócios. Estes deverão sociedade pagar ao depois recuperar, respectivas do credor, débito, para pelas Este tipo de sociedade é quotas-partes obrigada a matrícula no dos sócios. outros Registo das Empresas. Em caso de entrada de um novo sócio, este responde também pelos débitos já existentes. SOCIEDADES EM NOME COLECTIVO (SNC) Os sócios são responsáveis pessoalmente, subsidiariamente e ilimitadamente. O credor da sociedade deverá ressarcir-se sobre o capital social. Logo, sobre qualquer um dos sócios, o qual é obrigado a saldar a dívida todo o na proporção seu de património, indo depois recuperar dos restantes respectivas do débito. sócios, pelas quotas-partes 17 SOCIEDADES EM COMANDITA SIMPLES (SAS) O credor social deverá ser Compõe-se de dois tipos ressarcido, antes de mais, de sócios: pelo património da socie- dade, depois, sobre qual- Sócios Comanditários: resquer um sócios ponsáveis dos pela adminis- comanditários. Este deverá tração da sociedade e pelas extinguir a totalidade do dívidas com débito e, posteriormente, ponsabilidade poderá restantes ilimitada, dos subsidiária, pessoal. recuperar sócios res- coman- Entram em falência com a ditários, na proporção das falência da SAS. respectivas quotas-partes Sócios comanditados: res- da dívida. Os comanditados ponsabilidade limitada. sócios respondem dívidas Não entram em falência pelas apenas com a quota que com a falência da SAS. detêm no património da sociedade. AS SOCIEDADES DE CAPITAIS SOCIEDADES POR ACÇÕES (SPA) Pelas obrigações sociais Para a constituição da SPA Sociedade com o seu mínimo de 100.000 Euros. responde exclusivamente a património. é necessário um capital Neste sentido, a responsabilidade dos sócios é limitada ao capital detido. SOCIEDADE DE Pelas LIMITADA (SRL) sociedade SOCIEDADES EM Os (SAPA) mitadamente RESPONSABILIDADE COMANDITA POR ACÇÕES obrigações sociais Para a constituição da SRL responde exclusivamente a é património com sócios o respondem solidária e iliobri- gações sociais, enquanto que os sócios comanditados respondem apenas na proporção da quota de capital subscrita. 18 um capital seu mínimo de 10.000 Euros comanditários pelas necessário AS SOCIEDADES COOPERATIVAS SOCIEDADES COOPERATIVAS Cooperativas Para constituir uma Socie- Sociedades de Responsabilidade Limi- dade Cooperativa são tada: os sócios respondem necessários, pelo menos, 9 pelas obrigações sociais membros proporcionalmente à quota por eles subscrita sociedade. na Sociedade Cooperativa de Responsabilidade Ilimitada: às obrigações sociais res- ponde a Sociedade com o seu património. Em caso de falência ou coerciva liquidação administrativa, respondem também os sócios ilimitada e solidariamente PEQUENA SOCIEDADE COOPERATIVA Apenas é admitida a Para constituir responsabilidade limitada. Pequena Sociedade uma Coo- Os sócios respondem pelas perativa é necessário um obrigações sociais limita- número de sócios damente apenas à quota compreendido entre 3 e 8, por eles Sociedade. detida na sendo necessário existir uma Assembleia de Sócios a qual procede à nomeação do Presidente. COOPERATIVA SOCIAL A regulamentação é igual à Têm a finalidade exclusiva das Sociedades Cooperati- de promover a comunidade do ponto de vista social, no vas interesse colectivo. Tipos Sociais: de Cooperativas -Tipo A: podem gerir exclusivamente sócio-sanitários serviços e educativos -Tipo B: podem gerir várias actividades, com objectivos de inserção de pessoas particularmente desfavore- cidas (deficientes, toxicodependentes, presos, etc.) 19 O SISTEMA PENSIONISTA ITALIANO Como noutros sectores da Administração Pública, nos anos 90 o sistema pensionista foi modificado através de duas reformas estruturais: a Reforma Amato de 1992, que procedeu sobretudo à integração do sistema, exclusivamente público, com o sistema privado do fundo de pensões; a segunda foi a Reforma Dini de 1995, que lançou as bases do sistema pensionista futuro, criando um interregno entre o antigo Sistema Retributivo e o novo Sistema Contributivo. Actualmente, portanto, o Sistema pensionista italiano, que continua a ser objecto de reformas, encontra-se em plena fase de transição, com as Instituições políticas italianas a tentar responder aos imperativos que o futuro da previdência social impõe: 1) Crescimento demográfico negativo 2) Desequilíbrio entre trabalhadores em saída e trabalhadores em entrada 3) Aumento da esperança de vida Os actuais regimes de cálculo das pensões são: SISTEMA RETRIBUTIVO TRABALHADORES COM: CÁLCULO Pelo menos 18 anos de Multiplicando o número de 31/12/1995 quota de rendimento (2%) contribuições a anos de trabalho pela obtém-se a percentagem de retribuição a que se tem direito como pensão. A retribuição que pode ser atribuída acordo é com avaliada dados de do ISTAT. A antiguidade contributiva a multiplicar pela quota de rendimento não exceder os 40 anos. pode A idade da reforma é de 65 anos para os homens e de 60 anos para as mulheres. 20 CONTRIBUTIVO Nenhuma contribuição 31/12/1995 a É fixada a quota de cálculo em 33% (igual à percentagem de contribuições pagas por cada trabalhador dependente). Esta percentagem multiplicada pelos anos de trabalho dá o Montante, reajustável proporcionalmente à evolução do PIB do último quinquénio. No momento da pensão, o Montante por é um multiplicado coeficiente de transformação, tanto mais elevado quanto maior for a idade de reforma (que varia entre os 57 e os 65 anos). Para ter acesso à mesma deve ter-se, pelo menos, 5 anos de contribuições, tempo de com um valor de, pelo menos, 1,2 vezes o rendimento mínimo garantido. MISTO Menos de 18 contribuições anos 31/12/1995 de É calculada a ambos os através de sistemas: retributivo para os anos decorridos até 31/12/95; o contributivo para os anos seguintes O INPS (Istituto Nazionale della Previdenza Sociale): é o Instituto que gere os fundos de pensão dos trabalhadores dependentes privados, dos trabalhadores autónomos e dos reformados por invalidez. O INPDAP (Istituto Nazionale Previdenza Dipendenti Amministrazione Pubblica): é o novo Instituto que gere a totalidade dos fundos de pensão dos empregados do Estado. 21 BREVE HISTÓRIA DA ECONOMIA DO PÓS-GUERRA AOS NOSSOS DIAS A Itália é hoje a sexta potência industrial do mundo, com um PIB que corresponde a 7,5% do produto total do G7 e a 15% da área do Euro. A actual posição foi atingida através de um processo de crescimento iniciado no pós-guerra, processo este que comportou alterações de fundo no sector produtivo: o maior desenvolvimento ocorreu na década de sessenta, na época em que um programa de investimentos em infra-estruturas conduziu ao denominado período do “milagre económico”. Nesses anos, a Itália foi protagonista de uma transformação económica centrada principalmente no desenvolvimento das pequenas e médias empresas e nos resultados destas na vertente das exportações. Entre 1965 e 1975, a economia italiana prosseguiu o seu caminho, apesar dos problemas da inflação e da balança de pagamentos até que, com a crise petrolífera, a situação se desmoronou em meados dos anos setenta: o desemprego, a dívida pública e a inflação explodiram, ao mesmo tempo que a lira se desvalorizava. O processo de reestruturação industrial só foi retomado nos anos 80, com investimentos em tecnologia que permitiram o crescimento dos sectores electrónico, informático e químico e, com ele, uma relativa estabilidade ao longo de toda a década. Em 1992, a crise do SME (European Monetary System) levou à desvalorização da lira em 22% e à intervenção maciça do Estado para preservar a estabilidade, tendo-se então o SME revelado inútil e muito dispendioso. Com os Governos Amato e Ciampi começou um rigoroso programa de estabilização, cujo objectivo era baixar a inflação, baixar as taxas de juro dos títulos públicos e, sobretudo, reduzir o défice público para níveis considerados aceitáveis. Analisando a situação, agora que a economia parece ter absorvido o impacto das inesperadas reformas estruturais, regista-se um crescimento médio nos anos 90 de 1,5%, média esta que é cerca de um ponto percentual mais baixa que a de países como a França e a Alemanha. 22 O PIB NOS ANOS 90 variações percentuais 4 2 0 -2 crescimento anual 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 0,8 -0,9 2,2 2,9 1,1 2 1,8 1,6 2,9 2,1 2,5 anos Nos últimos anos, graças à debilidade do câmbio e à forte procura externa, foram sobretudo as exportações que permitiram resultados positivos na balança de pagamentos. Apesar do aumento de valor das importações, devido ao aumento do preço do petróleo, as exportações aumentaram contudo de molde a permitir um saldo ligeiramente positivo. E é somente a partir do ano de 2002 e seguintes que se aguarda uma inversão da tendência; prevê-se a descida das exportações em resultado da crise do comércio internacional, mas existem todas as premissas para que a economia italiana possa contar consigo própria. As expectativas são as melhores: diminuição da pressão fiscal, estabilização da inflação em torno dos 2% e aumento do emprego previsto para os próximos anos deverão incentivar a componente interna do crescimento. A fazer fé nestas considerações, vários centros de pesquisa prevêem que, em 2002, enquanto as exportações se manterão mais ou menos invariáveis, tanto as importações como os investimentos irão crescer, respectivamente, 2 e 4 pontos percentuais. 23 A AGRICULTURA O peso da agricultura na economia italiana tem vindo a descer drasticamente ao longo dos anos, seguindo por um caminho que depois do pós-guerra não tem parado de diminuir. Entre 1960 e 1999 no sector primário, o número de postos de trabalho passou de 6.600.000 para 1.340.000, descendo de um terço do total da mão-de-obra para menos de 4%; o valor acrescentado do sector desceu de aproximadamente 10% para menos de 3%. No conjunto, o emprego e o valor acrescentado do sector agrícola em Itália estão hoje alinhados pelos valores que se registam nos principais países europeus. Do processo de transformação do sector emergiram empresas modernas e eficientes, mas continuam também a existir actividades marginais, localizadas principalmente nas regiões do Sul, onde se encontram mais arreigadas antigas e novas formas de trabalho descontínuo e irregular. O fraccionamento dos terrenos em pequenas propriedades, que desempenhou um papel historicamente importante ao pôr termo aos latifúndios, pode, em alguns casos, ser penalizante do ponto de vista económico. A agricultura italiana apresenta um carácter tipicamente familiar tanto nos aspectos da gestão como do trabalho prestado no seio das empresas agrícolas. A Itália figura entre os cinco primeiros exportadores mundiais de azeite, vinho e produtos horto-frutícolas, mas não atingiu a auto-suficiência agroalimentar: o seu défice estrutural foi, em 1999, de cerca de 15 mil milhões de Liras. Em consequência da Política Agrícola Comum (PAC), mais de dois terços das trocas comerciais da Itália são realizadas com a União Europeia. 24 Anexo 1 CULTURAS VALORES ABSOLUTOS INCIDÊNCIA PERCENTUAL 1493 66,3 Cereais 842 37,4 / Trigo mole 237 10,5 / Trigo rijo 321 14,3 / Milho 330 14,7 Batata 92 4,1 Beterraba sacarina 62 2,8 Plantas industriais 118 5,2 Produtos hortícolas 266 11,8 Plantas forrageiras rotativas 395 17,5 1563 69,4 Vinha 782 34,7 / para vinhos DOC 166 7,4 / para outros vinhos 607 27 / para uva de mesa 49 2,2 Oliveira 1011 44,9 Citrinos 117 5,2 Árvores de fruta 324 14,4 PRADOS PERMANENTES E PASTOS 470 20,9 55 2,4 2251 100 CHOUPOS 17 0,8 FLORESTA 470 20,9 ÁREA AGRÍCOLA NÃO UTILIZADA 402 17,9 DIVERSAS 1533 68,1 ÁREA TOTAL 2251 100 SEMENTEIRAS CULTURAS LENHOSAS E AGRÁRIAS CASTANHEIRO SUPERFÍCIE AGRÍCOLA UTILIZADA 25 A INDÚSTRIA A partir de meados do Século XX, a Itália sofreu transformações radicais da sua estrutura produtiva, passando de País fundamentalmente agrícola, para potência industrial, actualmente entre as primeiras da Europa. O sistema industrial italiano ocupa hoje cerca de 40% da mão-de-obra nacional. As características da indústria italiana são sobretudo geográfico-dimensionais. Do ponto de vista dimensional, as pequenas e médias empresas (de 1 a 20 empregados) ocupam 60% da mão-de-obra industrial, enquanto que a média e a grande indústria (mais de 20 empregados) emprega 40% da força de trabalho. Este último segmento, a grande indústria (mais de 250 empregados), ocupa apenas 17,7% da força de trabalho total. A espinha dorsal da indústria italiana é, portanto, constituída por PME’s, nas quais está particularmente desenvolvido o trabalho autónomo, na sua dimensão individual ou familiar. O trabalho dependente propriamente dito é típico, ao contrário, das médias e das grandes empresas. Os pontos de força da produção industrial italiana são, para a média/grande empresa, os sectores manufactureiro, especialmente o do fabrico dos meios de transporte e o sector químico. A pequena e média empresa, pelo seu lado, garante a enorme diversidade de oferta do made in Italy, sobretudo no sector alimentar, têxtil, couro, calçado, madeira e móveis em madeira. O dinamismo histórico das PMI italianas, todavia, só nos últimos anos começou a enfrentar o seu grande limite, representado pela escassa internacionalização. De facto, o acesso aos mercados estrangeiros, até finais dos anos 90, sempre foi uma prerrogativa da grande indústria, principalmente a metalomecânica. Geograficamente, mais do que as diferenças Norte-Sul, a indústria italiana caracteriza-se pela compartimentação dos sectores produtivos. O tecido industrial está organizado de acordo com a especificidade produtiva: os chamados Distritos Industriais. A organização racional dos Distritos, característica sobretudo das regiões do Norte e da faixa adriática, permitiu que o próprio sistema enfrentasse com maiores benefícios os custos resultantes da competição. 26 Assim, a Noroeste verifica-se uma concentração de médias e grandes empresas, a Nordeste de pequenas empresas, além das médias e das grandes empresas do sector da construção; o Centro está principalmente vocacionado para as médias/grandes empresas de serviços; por fim, o Sul, alberga as pequenas empresas do sector terciário e o sector das construções. Finalmente é necessário sublinhar, nos últimos anos, a saída do Estado de muitos sectores da produção industrial, com a privatização de grandes grupos, como foi o caso da energia e dos telefones. Há ainda a registar a crescente terciarização das empresas italianas, cujo ponto de força se está progressivamente a deslocar para o sector dos serviços. 27 O PROBLEMA DO “MEZZOGIORNO” O “Mezzogiorno” (Sul) é uma área composta por duas ilhas (Sardenha e Sicília) e por seis regiões peninsulares (Abruzzi, Molise, Campania, Puglia, Basilicata e Calábria), que abrange uma superfície de 123.000 km quadrados, ou seja, cerca de 40% do território nacional. Embora registando grandes diferenças internas de região para região, tanto económicas como geográficas e culturais, o termo “ Mezzogiorno” é sobretudo utilizado para referir problemas e necessidades específicas e comuns das áreas abrangidas e que são, necessariamente, diferentes dos do Norte. Economicamente o Sul é mais pobre e menos industrializado que o Norte, a agricultura e o sector terciário de base têm um peso muito mais elevado, as pequenas e médias empresas do made in Italy e os distritos industriais são praticamente inexistentes; socialmente existem muitos problemas de criminalidade organizada ou não, problemas de mau funcionamento do sector público e todos os problemas sociais inevitavelmente ligados à pobreza. Tabela 1 Números índice, Italia=100 Norte Centro Sul Itália (fonte: Istat) PIB per capita (1997) Rendimento per capita (1998) Distribuição percentual da pobreza 123,8 107,5 66,9 100 123 110,2 66,5 100 19,9 14,2 65,8 100 5,4 9,2 22 11,4 (1999) Taxa de desemprego (1999) Infelizmente, o fosso entre o “Mezzogiorno” e Centro/Norte acentuou-se ainda mais nos anos ‘90-’97, tendo sido a partir deste ano que a situação começou a apresentar sinais de mudança. Finalmente, no Sul, as taxas de crescimento são muito mais elevadas do que as médias nacionais e as taxas de emprego e actividade, embora continuando afastadas das do Norte, revelam uma tendência positiva. Também as exportações melhoraram, tendo duplicado de 1993 para 2000. Nasceram novas empresas e o turismo está organizado de forma mais eficiente, muito embora respeitando o equilíbrio ambiental. O peso do sector agrícola é ainda elevado, o do sector industrial é inferior ao nacional, são demasiados os serviços privados de baixa produtividade e excessiva a taxa de ocupação nas pequenas empresas. 28 Finalmente, refiram-se os problemas sociais decorrente da pobreza e da criminalidade, a desorganização e a gestão pouco eficaz do sector público. Para melhorar a situação foi reconhecida a inutilidade das ajudas baseadas somente na transferência de dinheiro público e a necessidade de um plano de desenvolvimento baseado na descentralização administrativa, na procura de instrumentos para incentivar os investimentos e na luta contra a criminalidade. E, para já, este parece ser o caminho certo. 29 INCENTIVOS AOS INVESTIMENTOS As principais etapas para uma análise dos incentivos ao desenvolvimento da estrutura produtiva são: • A lei 488/92, importante tanto pelo apoio ao desenvolvimento local como pelo volume do empenhamento financeiro público. Graças a esta lei, por exemplo, em 1999 foram distribuídos directamente 310 milhões de contos (dos quais 80% se destinaram ao Sul) e foram assumidos compromissos em ajudas por cerca de. • Um decreto de alteração datado de 1999, tendente a garantir maior flexibilidade das intervenções nos três sectores das políticas de desenvolvimento local, políticas de consolidação de alguns sectores especiais de elevado conteúdo tecnológico e intervenções de pesquisa e desenvolvimento. • O Orçamento Geral do Estado para 2001, através ¾ da introdução do “crédito de imposto”. Este benefício tem por objecto os investimentos realizados pelas empresas (de qualquer natureza, tanto italianas como estrangeiras, que operam em todos os sectores excluindo a agricultura e os transportes) no período compreendido entre 31/12/2000 e 31/12/2006. De acordo com o estabelecido, às empresas que invistam em bens corpóreos (ainda que produzidos em conta própria) e incorpóreos (estes últimos, porém, apenas se adquiridos a terceiros a preços de mercado) nas áreas fiscais relacionados com o valor dos novos investimentos. admissíveis serão concedidos benefícios automáticos As áreas-alvo são a totalidade das seguintes regiões: Campania, Puglia, Basilicata, Calábria, Sicília e Sardenha. Estão também incluídas algumas zonas do centro-norte da Itália. O montante do crédito de imposto calcula-se multiplicando o investimento líquido pela respectiva percentagem (ver tabela) Tax credit= net investment X percentage due 30 Tabela das percentagens Área Pequenas Médias Grandes empresas empresas empresas Calábria 65% 65% 50% Campania, Basilicata, Puglia, Sicília e 50% 50% 35% Abruzzo e Molise 30% 30% 20% Centro-Norte 18% 14% 8% Sardenha ¾ Crédito de imposto para novas contratações. São pagos 400 euros mensais por cada novo empregado a tempo indeterminado ou por cada novo contrato a tempo determinado, transformado em tempo indeterminado entre Outubro de 2000 e Dezembro de 2003. Para ter acesso a este crédito, basta que se verifiquem as seguintes 4 condições: a) sejam respeitados os contratos colectivos de trabalho nacionais; b) os novos contratados não tenham desenvolvido actividades de trabalho dependente por tempo indeterminado há, pelo menos, 24 meses; c) os novos contratados tenham mais de 25 anos; d) sejam respeitadas as normas sobre saúde e segurança dos trabalhadores. O crédito de imposto é acumulável com outros benefícios eventualmente concedidos. Está previsto um benefício suplementar de 200 euros se a contratação se realizar nas áreas da Calábria, Sicília, Basilicata, Campania. Puglia, Sardenha, Abruzzo e Molise ¾ Redução da taxa de IRPEG (IRC) O nível de tributação, embora seja ainda elevado, tem estado nestes anos em constante decréscimo. Em 2001 a percentagem de IRPEG foi de 36%, um por cento a menos que no ano anterior. Esta percentagem irá ainda diminuir, chegando aos 35% em 2003. ¾ Pactos territoriais Para o triénio 2001-2003, o orçamento do Estado disponibilizou, para 2001, 370 milhões de contos para os “pactos territoriais”. Os pactos 31 nasceram para desenvolver de forma sustentada e coerente com as necessidades e as especificidades locais uma determinada área. O primeiro passo deve ser uma proposta de desenvolvimento territorial integrado efectuada por sujeitos promotores (que podem ser entidades locais, parceiros económicos e sociais, entidades públicas ou privadas) que, formando uma parceria com o sector público, se concretizam num acordo e na assunção dos respectivos compromissos. O projecto é financiado, monitorizado e verificado a nível público. • Actividades de “ Sviluppo Italia” “Sviluppo Italia” é uma agência estatal para o desenvolvimento, nascida em 1999 e participada a 100% pelo Ministério do Tesouro. Esta agência oferece suporte a projectos de investimento em todo o território nacional, promove o desenvolvimento de sistemas económicos e industriais integrados e sobretudo encoraja e apoia as empresas estrangeiras a instalarem-se em Itália. Tudo isto através de uma vastíssima gama de informações, serviços e benefícios. Outra actividade é o serviço financeiro: “Sviluppo Italia” pode fazer-se sócia minoritária, comprando um pacote de acções (habitualmente com direito de opção incorporado, pelo que as mesmas podem ser de seguida resgatadas) até 49%. 32 INCENTIVOS À AGRICULTURA ¾ Resolução Quadro nº 90, de 4 de Agosto de 2000 “Sviluppo Italia” intervém no sector da transformação e da comercialização dos produtos agrícolas, zootécnicos e florestais, através de critérios e modalidades fixados pelo CIPE com a Resolução Quadro nº 90, de 4 de Agosto de 2000. Objectivos As intervenções destinam-se à reorganização das fileiras agro-alimentares do “Mezzogiorno” e às iniciativas que favoreçam mecanismos de integração norte/sul. A quem se destina As intervenções “bonificadas” destinam-se a operadores interessados em levar a cabo e desenvolver actividades em empresas para a transformação e a comercialização de produtos agrícolas, zootécnicos e florestais. O que se pode fazer A intervenção destina-se a: • • Implementação de novas iniciativas; Reorganização e reordenamento produtivo e comercial de empresas já em actividade; • Consolidação e desenvolvimento de empresas e/ou grupos de empresas. O que oferece “Sviluppo Italia” pode beneficiar os projectos de investimento através de: a. aquisição de participações minoritárias no capital social da empresa que efectua os investimentos com duração máxima de 5 anos. b. concessão de empréstimos bonificados às sociedades participadas, com duração máxima de 15 anos. N.B. Para o sector agro-alimentar estão também previstas operações financeiras de aquisição de participações sociais em condições de mercado, para as quais “Sviluppo Italia” opera com base no disposto pelas normas comunitárias e nacionais vigentes. 33 Prioridade na avaliação dos projectos Os projectos de investimento, que devem ser compatíveis com a normativa comunitária em matéria de ajudas do Estado, são avaliados dando prioridade às iniciativas que: a. contribuam para o desenvolvimento económico e para um novo equilíbrio nas fileiras agro-industriais; b. tenham por objectivo o desenvolvimento e a manutenção dos níveis ocupacionais directos e induzidos; c. prevejam a criação e o reforço de pequenas e médias empresas; d. sejam implantadas em áreas deprimidas do país, nomeadamente nas incluídas no Objectivo 1; e. prevejam significativas inovações de processo ou de produto; f. apresentem uma significativa participação no capital de operadores agrícolas; g. requeiram menor intensidade de facilidades; h. prevejam um co-financiamento regional, nacional e/ou comunitário; i. apresentem requisitos de maior sustentabilidade ambiental; j. utilizem energias renováveis ou de autoprodução e introduzam ou implementem ciclos integrados dos recursos hídricos; k. apresentem a possibilidade de promover a cotação na bolsa da empresa participada. 34 O SECTOR TERCIÁRIO Em Itália, as empresas da indústria e dos serviços aproximadamente 3,8 milhões de unidades, empregam 13,6 milhões de pessoas e realizam um valor acrescentado de 88.500 milhões de contos. Nos vários agrupamentos dos serviços (excluindo os bancos e os intermediários financeiros) estão activas mais de 2,5 milhões de empresas, que empregam, globalmente, mais de 7 milhões de pessoas: estas empresas geraram, em 1997, uma facturação de 167 400 milhões de contos e um valor adicional de 41.600 milhões de contos. As empresas italianas de serviços caracterizam-se pelas suas dimensões e grau de concentração, geralmente inferior à média da UE. Se excluirmos alguns sectores dos transportes e das comunicações, as grandes empresas representam reduzidas percentagens do emprego. A realidade estrutural do sector terciário italiano é tudo menos homogénea: uma análise mais detalhada revela significativas diversidades na estrutura e nos resultados económicos das empresas. Além dos sectores de contacto directo com o consumidor, onde predominam as pequenas e as micro-empresas (que representam 71% do emprego do sector terciário), existe um tecido de actividade de tipo infra-estrutural. Isto mostra alguns sinais distintivos importantes: significativa presença de empresas de médias e grandes dimensões; níveis de remuneração e de custo do trabalho relativamente elevados, melhor qualidade dos modelos organizacionais e de gestão, testemunhados por um maior recurso a despesas de publicidade e de análise dos mercados. As empresas italianas gastaram, na compra de serviços, mais de 172 milhões de liras por cada mil milhões facturados. Nas empresas manufactureiras exportadoras a incidência das aquisições de serviços sobre os custos variáveis é, em média, de 23%, sendo sensivelmente superior ao resto das empresas manufactureiras. Esta diferença é mais evidente nas empresas com menos de 20 empregados, sendo porém também significativa nas empresas de maiores dimensões. A maior concentração de emprego do sector terciário regista-se nos centros urbanos, o qual congrega cerca de 37% do total de empregados. Os serviços virados para a inovação concentram-se principalmente em sistemas locais que detêm uma fraca especialização manufactureira e uma elevada concentração urbana. No “Mezzogiorno”, em especial, a presença de serviços virados para a inovação é extremamente baixa, representando apenas 14% de empregados sobre o total nacional de empregados nos serviços vocacionados para a inovação. (Fonte: Istat, relatório anual 2000) 35 O SISTEMA BANCÁRIO ITALIANO Embora nos últimos anos esteja em curso um fortíssimo processo de concentração, o sistema bancário italiano continua, fundamentalmente, a ser um sistema segmentado e fragmentado, com uma presença muito forte de intermediários que operam a nível local. Esta peculiaridade deriva historicamente da necessidade, por parte das corporações e organizações de classe locais, de uma gestão interna do crédito, que lhes esteja próxima e que seja capaz, graças a uma cooperação mútua, de oferecer serviços com condições mais vantajosas. Por esta razão, em Itália, dos 841 bancos activos em 2000, 581 são bancos populares ou de crédito cooperativo. Quase que cada cidade tem o seu banco e a relação de confiança que historicamente se consolidou com os cidadãos é um elemento fundamental para compreender a sobrevivência de microbancos dentro de um trend europeu que tende à concentração e aos grandes grupos. Esta tendência, porém, não está a passar ao lado da Itália: o número de fusões anuais passou de 19 em 1990 para 33 em 2000. Além disso, aumentou também quer o número de bancos estrangeiros presentes em Itália (em 2000 eram 58) e o dos grupos italianos que decidem operar no estrangeiro (26 unidades), quer a presença de bancos de gestão de poupanças e de sociedades financeiras. Formaram-se grupos creditícios de grandes dimensões; os primeiros cinco representam 54 por cento da actividade, face aos 36% de 1995. Os lucros do sistema bancário italiano provêm de serviços prestados às famílias, particularmente no campo da gestão das poupanças. A forte expansão do crédito reduziu o grau de ajustamento patrimonial do sistema bancário, cujo nível mínimo está fixado em 8% de actividades de risco. O novo Acordo sobre o capital exige que os bancos desenvolvam métodos para uma avaliação mais precisa do ajustamento patrimonial e que apliquem políticas de gestão idóneas para a sua manutenção ao longo do tempo; recomenda que se opere com meios próprios superiores aos mínimos exigidos; alarga o leque de informações a tornar públicas sobre as técnicas utilizadas para a gestão dos riscos. No que se refere aos bancos italianos a operar em Portugal foi efectuada, nos anos noventa, uma participação da Intesa e Banco Comercial Português, com quotas iguais, no Banco de Investimento Imobiliário. De uma maneira geral, o ordenamento bancário italiano é disciplinado pelo Texto Único das leis em matéria bancária e creditícia (decreto-lei nº 385, de 1 36 de Setembro de 1993): à Banca d'Italia é atribuída a função de vigilância dos bancos, dos grupos bancários e dos intermediários financeiros. É a Banca d'Italia que autoriza a actividade bancária, que controla e que tem direito a todas as informações que considera necessárias e que pode ordenar o encerramento dos intermediários. A Banca d'Italia é formalmente independente do Governo, sendo o CICR o órgão institucional para a alta vigilância em matéria de créditos e poupanças. Este órgão é composto pelo Ministro do Tesouro, que o preside, pelo Ministro das Finanças, pelo Ministro da Indústria, Comércio e Artesanato, pelo Ministro das Obras Públicas e pelo Ministro das Políticas Comunitárias. É a este órgão que é necessário dirigir-se quando se pretende apresentar recurso contra os despachos emanados pela Banca d'Italia. Anexo : Os principais Bancos Italianos (Fonte: Centro de Estudos da Mediobanca, valores em milhões de milhares de Euros) Lucros (Exercício 1999) Resultado do exercício Banca Intesa 8,262 0,904 Unicredito Italiano 8,273 1,639 Sanpaolo IMI 5,966 1,112 Banca di Roma 4,431 0,401 Banca Monte dei Paschi di Siena 4,444 0,51 Banca Nazionale del Lavoro 4,451 0,404 Banca Antoniana-Popolare Veneta 1,589 0,084 Gruppo Bancario Banco di Napoli 1,58 0,116 1,122 0,175 1,092 0,171 1,159 0,207 1,126 0,17 Banca Popolare di Bergamo-Credito Varesino Banca Popolare di Verona-Banco di San Geminiano Mediobanca-Banca di Credito Finanziario Banca Popolare di Milano 37 IMPOSTOS E DESPESA PÚBLICA • Impostos sobre as sociedades: 1. IRPEG (IRC) (Imposto sobre o rendimento das pessoas jurídicas) O IRPEG é um imposto sobre o rendimento e só é aplicado em caso de lucro. O IRPEG devido pelas sociedades é dado pela soma do imposto que incide sobre o rendimento normal do capital (com percentagem bonificada de 19 %) e o imposto sobre os "extra-lucros" (com taxa normal de 36% em 2001). Portanto, se o capital social for de 1000, com um rendimento ordinário de 10 % e a base colectável da sociedade for de 250 teremos: IRPEG = 19% * ( 10% * 1000) + 36% * (250-100) Para calcular a base colectável calcula-se: (R-L-M-F-A+D(1+36/64)+∆S+∆W), onde: R= rendimento L= salários e outros custos do trabalho M= custos de matérias primas e intermédias A= quota de amortização D= dividendos distribuídos S= existências (calculados com o método LIFO) W= rendimentos resultantes da venda de imobilizações financeiros Da base colectável é concedida uma dedução de 36/64 dos dividendos. Estão ainda previstas outras deduções e créditos de imposto para incentivos aos investimentos. 2. IRAP (Imposto regional sobre actividades produtivas) O IRAP é um imposto sobre o valor acrescentado, produzido por uma actividade produtiva: aplica-se uma taxa única de 4,25% sobre o rendimento líquido, correspondente à diferença entre o valor da produção (lucros e variações positivas das existências) e a soma dos 38 custos de aquisição de bens intermédios a outras empresas, da variação negativa das existências e das amortizações. O imposto tem carácter real e não é dedutível para efeitos dos impostos sobre os rendimentos. O pressuposto para o imposto é o exercício habitual de uma actividade autonomamente organizada direccionada para a produção ou para o intercâmbio de bens ou para a prestação de serviços. • Imposto sobre o valor acrescentado (IVA) O IVA é um imposto que se aplica às transmissões de bens efectuadas em Itália pelos titulares de código de IVA. É necessário registar-se no IVA (obtendo assim o respectivo número que, em Itália, é diferente do código fiscal) quando se exerce actividade económica tanto de tipo autónomo como empresarial. O IVA é regulamentado pelo DPR 633/72. As operações sujeitas a IVA são as transmissões de bens e as prestações de serviços e dividem-se em: Operações sujeitas a IVA: aplica-se normalmente o IVA e são sujeitas às formalidades de registo e declaração. Operações não sujeitas: Não se aplica o IVA, mas são, em todo o caso, sujeitas a outras obrigações formais. São geralmente as transmissões intracomunitárias e não todas as operações semelhantes à exportação (como, por exemplo, a venda de navios destinados a actividades comerciais e de pesca) e os serviços internacionais (como os transportes de pessoas). Operações isentas: São as operações indicadas pela lei, às quais não se aplica qualquer taxa e não podem ser levadas em dedução do imposto sobre as compras. Estão, por exemplo, englobadas nesta categoria os arrendamentos de edifícios e terrenos, as operações de seguro e o transporte urbano de pessoas. 39 A percentagem geral para todas as operações é de 20% Todavia existem alguns serviços para os quais a lei prevê taxas inferiores (4% ou 10%). Bens sujeitos à taxa de 4%: Produtos alimentares de primeira necessidade, fruta, legumes, lacticínios, pão, biscoitos, etc.. Por outro lado, também os jornais e os livros, os fertilizantes e as rações, casas de habitação não de luxo, cadeiras e veículos para deficientes. Serviços sujeitos à taxa de 4% Impressão e actividades de encadernação de jornais e livros, serviços de saúde, educacionais, sociais e de assistência em comunidade. Bens e serviços sujeitos à taxa de 10% Carne, ovos, mel, chá, citrina, salsichas, iogurte, água e cerveja, produtos de pastelaria, lenha para fogões, energia eléctrica e gás, medicinais, hotelaria e restaurantes, locação de imóveis, obras de urbanização e espectáculos teatrais. Em Itália o IVA é aplicado através do método em vigor em toda a Europa e é reconduzível a uma base do tipo rendimento de consumo: portanto, o IVA pago sobre os investimentos é totalmente dedutível. • IRPEF - Imposto sobre o rendimento das pessoas singulares (IRS) O IRPEF é um imposto sobre o rendimento das pessoas singulares e funciona através de um sistema de escalões. Antes de mais calcula-se o rendimento global. Abatem-se depois as deduções (apenas possível para os trabalhadores independentes) e acrescenta-se o crédito de imposto sobre os dividendos distribuídos (36/64 dos dividendos). Sobre esta base calcula-se o IRPEF ilíquido de acordo como os seguintes escalões: 40 Escalões de rendimento (em milhões de liras) Taxas 0-20 18% 20-30 24% 30-60 32% 60-135 39% Mais de 135 45% A seguir, procede-se do seguinte modo: IRPEF LÍQUIDO = IRPEF ILÍQUIDO - DEDUÇÕES (filhos e cônjuges a cargo, despesas médicas, montante dependente do rendimento bruto para trabalhadores autónomos e dependentes). IRPEF A PAGAR = IRPEF LÍQUIDO - 36/64 DIVIDENDOS • Impostos substitutivos Outros rendimentos devem - ou podem, consoante os tipos - não ser inscritos na declaração de rendimentos, mas serem apenas sujeitos a um regime de impostos substitutivos. Exemplos disso são os juros de c/correntes bancárias (imposto de 27%), juros de obrigações (imposto de 12,5%) e as mais valias resultantes da venda de imóveis (imposto de 12,5%). • Impostos locais Nos últimos anos o processo de descentralização e a autonomia fiscal das entidades locais sofreu uma aceleração. O dinheiro de muitos impostos é destinado às organizações locais, as quais podem gerir de forma autónoma e, dentro de certos limites, decidir as respectivas percentagens. Fazem parte destes impostos: - O ICI (imposto municipal sobre imóveis) - Eventuais taxas adicionais ao IRPEF, municipais ou regionais - A TARSU (Taxa para a eliminação dos resíduos) - A COSAP (Renda pela ocupação de espaços e áreas públicas) 41 ÍNDICE Apresentação A geografia 1 O sistema político italiano 3 A administração pública 5 As associações sindicais, patronais e outras 7 O turismo 9 A demografia 12 O sistema contratual italiano 13 As sociedades 16 O sistema pensionista italiano 20 Breve história da economia do pós-guerra aos nossos dias 22 A agricultura 24 A indústria 26 O problema do "mezzogiorno" 28 Incentivos aos investimentos 30 Incentivos à agricultura 33 O sector terciário 35 O sistema bancário italiano 36 Impostos e despesa pública 38 ISSN 0872-3850 Publicação: Junho de 2001 Edição, composição e impressão: CAMERA DI COMERCIO ITALIANA PER IL PORTOGALLO - Avenida 5 de Outubro, 95 - 4º Dtº - 1050-051 LISBOA Telef.:(00351) 21 7950263* - Telefax:(00351) 217931984 Email: [email protected] - Web: www.ccitalia.pt Director: Dr. G.M. 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