Texto revisado final

ETNOMATEMÁTICA E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES: UM
OLHAR SOBRE A PRODUÇÃO CIENTÍFICA DE 2005 A 2009
38027836204
Eixo Temático: Etnomatemática e as relações entre tendências em educação
matemática
Resumo
Este trabalho analisa as abordagens/contribuições da Etnomatemática na Formação de
Professores a partir da produção científica entre os anos de 2005 a 2009. Trata-se de
uma pesquisa qualitativa do tipo documental, na qual foram analisados resumos de teses
e dissertações disponíveis no Banco de Teses da CAPES. A aproximação entre as
temáticas é adotada na perspectiva de compreender como têm sido abordadas nas
pesquisas brasileiras as contribuições da Etnomatemática na Formação de professores.
As implicações deste trabalho suscitam reflexões aos modelos de formação de
professores pensados e exercidos pelas instituições formadoras.
PALAVRAS CHAVES: Formação de professores, Etnomatemática, Ensino superior.
Introdução
A motivação para a realização deste trabalho surgiu de meus interesses
acadêmicos em nível de mestrado (BELO, 2012), sobre Professores formadores de
professores de matemática. A aproximação entre Etnomatemática e a Formação de
Professores é adotada na perspectiva de compreender como têm sido abordadas nas
pesquisas brasileiras as implicações entre as temáticas.
A formação de professores tem feito parte das discussões das mais diversas
instituições e órgãos governamentais. A preocupação é capacitar os docentes para
educarem a sociedade atual, composta das mais diversas realidades de cunho social,
ambiental, econômico, e outras. Porém, que formação tem sido oferecida a estes
profissionais de maneira que, estes possam atender a demanda que lhes é imposta? Sob
que olhar, tem se trabalhado os saberes necessários à prática profissional destes
sujeitos?
A temática deste trabalho surge a partir das contribuições da Etnomatemática na
Formação de Professores. Como tem sido feita essa aproximação? Quais as
contribuições esperadas por tal relação? Nossa intenção é compreender através dos
trabalhos realizados no Brasil, nos mais diversificados contextos, como são abordadas
as contribuições da Etnomatemática na Formação de Professores.
Caminhos metodológicos: a pesquisa das teses e dissertações
A opção da pesquisa nos resumos das teses e dissertações parte do princípio que,
podemos visualizar de maneira geral como tem se relacionado as duas questões
Etnomatemática e Formação de Professores, nos últimos cinco anos. A pesquisa nos
resumos nos remete a um panorama entre os dois temas já mencionados. Conrado
(2005) nos remete a experiência com este tipo de investigação:
Se por um lado, resumos omitem dados significativos ao nosso trabalho, por
outro, carregam alguma capacidade de traduzir e evidenciar aspectos
considerados valiosos pelo autor que o elaborou, ainda que em um momento
localizado (CONRADO 2005, p.70).
Adotamos o Banco de Teses da CAPES para a coleta das teses e dissertações por
considerarmos que o mesmo representa um acervo das pesquisas dos programas de pósgraduação
brasileiros.
Então,
inicialmente
inserimos
como
palavras
chaves
Etnomatemática e Formação de Professores, porém obtemos um número reduzido de
trabalhos, e em alguns anos nenhum resultado, optamos então por utilizar em um
segundo momento apenas a palavra Etnomatemática e a partir dos resultados analisar,
além dos títulos, as palavras chaves e os resumos, e buscar perceber em quais destes
estavam relacionados de alguma forma os temas de nosso interesse, mesmo que não
estivesse explicita a intenção de relacionar Etnomatemática e Formação de professores.
Assim buscamos perceber de que maneira a Etnomatemática é abordada na prática
do professor ou como ela pode contribuir na formação de professores.
Destaco que este trabalho mostra um recorte escolhido por mim, onde as leituras
realizadas com toda certeza não abarcam toda a dimensão de cada uma das pesquisas ou
suas finalidades e implicações quanto a Formação do Professor.
Após a coleta de todos os resumos que emergiam de acordo com o ano
selecionado, realizei uma leitura buscando identificar aspectos que representassem uma
ligação entre os temas, algumas vezes a relação era explícita e fazia parte do objetivo do
trabalho, porém na maioria das vezes esta relação estava implícita, mas ao final de
várias leituras decidimos incluí-las ou não em nosso trabalho, considerando sempre a
relação entre etnomatemática e formação de professores.
Elenco a seguir os trabalhos apontados no decorrer dos anos de 2005 a 2009, que
relacionam, dentro da delimitação já explicitada, os temas Etnomatemática e Formação
de Professores.
Quadro 1 – Trabalhos que relacionam Etnomatemática e Formação de Professores
Natureza
Ano
Título
Origem
Autor (a)
Orientador
(a)
Tese 01
2005
As concepções de lógica e a educação
matemática: reflexões e práticas.
Práticas etnomatemáticas no liceu do
Paracuri: a propósito dos ornamentos
geométricos da cerâmica.
Etnomatemática e formação de
professores indígenas: um encontro
necessário em meio ao diálogo
intercultural.
Universidade de São
Paulo – Educação
Universidade Federal
Do Rio Grande Do
Norte - Educação
Universidade De São
Paulo - Educação
Dissertação 01
2005
Tese 01
2006
Tese 02
Adilson
de
Morais
Rodrigo Bozzi
Ferreti
Maria do Carmo
Santos Domite
Iran
Abreu
Mendes
José
Pedro
Machado
Ribeiro.
Ubiratan
D’Ambrosio
2006
Espaços transversais em educação
matemática: uma contribuição para a
formação de professores na perspectiva
etnomatemática.
Universidade Federal
Do Rio Grande Do
Norte – Educação
José Ricardo E
Souza Mafra
John
Fossa
Dissertação 01
2006
O Discurso de Professores de Prática
de Ensino e a Perspectiva da
Etnomatemática.
Pontifícia
Universidade
Católica de São Paulo
Educação
Matemática
Pontifícia
Universidade
Católica de São Paulo
Educação
Matemática
Universidade de São
Paulo – Educação
Elza Da Silva
Campos
Laurizete
Ferragut Passos
Dissertação 02
2006
Atividade
de
Marcenaria
e
Etnomatemática: Possibilidades num
Contexto de Formação de Professores.
Evanilton Rios
Alves
Ubiratan
D’Ambrosio
Dissertação 03
2006
Dissertação 04
2006
Interpretações do Papel, Valor e
Significado da Formação do Professor
Indígena do Estado de São Paulo.
Ressignificando Práticas Docentes
numa Abordagem Etnomatemática.
Katia Cristina
De Menezes
Domingues
Miriam
Benedetti
Narvaz
Maria
Do
Carmo Santos
Domite
João Bernardes
Da Rocha Filho
Pontifícia
Universidade
Católica
do
Rio
Grande do Sul –
Educação
em
Ciências
e
Matemática
Andrew
Dissertação 05
2006
A etnomatemática das práticas
cotidianas no contexto de formação de
profissionais indígenas no Xingu.
Interdisciplinaridade e Modelagem
Matemática: Saberes Docentes em
Movimento
na
Formação
de
Professores.
Investigação
Etnomatemática
em
Contextos Indígenas: Caminhos para a
Reorientação da Prática Pedagógica.
Universidade de São
Paulo - Educação
Claudio Lopes
de Jesus
Maria do Carmo
Santos Domite
Dissertação 01
2007
Universidade Federal
de
UberlândiaEducação
Maria Fátima
Cursino
Borges
Arlindo José De
Souza Junior
Dissertação 02
2007
Universidade Federal
do Rio Grande do
Norte – Educação
Iran
Mendes
2007
Formação continuada dos professores e
professoras do município de Barueri:
compreendendo para poder atuar
Universidade de São
Paulo - Educação
Elisângela
Aparecida
Pereira
de
Melo.
Regis
Luis
Lima de Souza
Dissertação 03
Dissertação 04
2007
O Professor de Matemática enquanto
sujeito e sua relação com a cultura.
Universidade
Cruzeiro do Sul Ensino de Ciências e
Matemática
José Joaquim
Batista Neto
Regina
Bocchese
Guazzelli
Dissertação 01
2008
Etnomatemática no Ensino Brasileiro:
Alcances e Limites
Universidade
São
Marcos - Educação,
Administração
e
Comunicação
Universidade
Est.Paulista Júlio de
Mesquita Filho/Rio
Claro - Educação
Matemática
Fundação
Universidade Federal
de Mato Grosso do
Sul
Educação
Matemática
Universidade de São
Paulo – Educação
Cleber
Faustino
Santos
Joaquim
Gonçalves
Coelho Filho
Dissertação 02
2008
A Etnomatemática no Contexto do
Ensino Inclusivo: Possibilidades e
Desafios.
Dissertação 01
2009
Dissertação 02
2009
Dissertação 03
2009
Práticas Vivenciadas na Constituição
de um Curso de Licenciatura Indígena
em Matemática para as Comunidades
Indígenas Guarani e Kaiowá de Mato
Grosso Do Sul.
O Professor de Matemática na
Periferia: acertando o passo para o
conhecimento (primeiro) do educando.
Formação
de
professores
de
matemática: espaço de possibilidades
para produzir formas de resistência e
singularidade docente.
Dissertação 04
2009
A didática da matemática na formação
do professor indígena: possibilidades
de relação com a etnomatemática.
dos
Abreu
Maria
do
Carmo Santos
Domite
Thiago Donda
Rodrigues
Pedro
Paulo
Scandiuzzi
Maria
Aparecida
Mendes
de
Oliveira
José
Luiz
Magalhães de
Freitas
Keli
Mota
Bezerra
Maria do Carmo
Santos Domite
Universidade Federal
do Rio Grande do Sul
- Educação
Dionara
Teresinha da
Rosa Aragon.
Samuel
Edmundo
Lopez Bello
Univ. Regional do
Noroeste do Estado
do Rio Grande do Sul
Educação
Nas
Ciências.
Giovana
Maciel
Amorim.
Cátia
Nehring
de
Fonte: Resumos das Teses e dissertações do banco da CAPES, entre os anos de 2005 a 2009.
Maria
A Formação de Professores e as implicações da Etnomatemática
Vários modelos têm sido propostos para a formação de professores, entre os
quais alguns bem pouco voltados para a formação do professor/a enquanto
sujeito social de suas ações e, por isso mais do tipo transmissivo/impositivo outros, já mais centrados no professor/a como sujeito constituído,
especialmente centrados nos tipos de processos de transformação e na própria
dinâmica formativa (Domite, 2004, p.422).
Dentre as perspectivas sobre o ensino e os modelos de formação docente
podemos citar conforme Gómez (1998)1, quatro perspectivas básicas sob as quais
podemos compreender o ensino e a concepção da prática docente, são elas:
• Perspectiva acadêmica: o ensino é concebido como transmissão de
conhecimentos e de aquisição da cultura, o professor é visto como um
especialista em sua disciplina e sua formação supõe o domínio para o repasse
dos conteúdos;
• Perspectiva Técnica: esta perspectiva propõe dá ao ensino o status e o rigor dos
quais carecia a prática tradicional, enquadrada assim como ciência aplicada, o
professor é um técnico que domina as aplicações do conhecimento científico
produzido por outros e transformados em regras de atuação, segundo ao autor é
o que Schön denomina de racionalidade técnica (grifos do autor), a formação
do professor se dá num modelo de treinamento baseado nas competências
profissionais;
• Perspectiva Prática: nesta perspectiva o ensino é uma atividade complexa, que
se desenvolve em cenários de acordo com o contexto, imprevisíveis e
carregados de conflitos de valor que requerem opções éticas e políticas, o
docente é visto com um profissional clínico, um artista, que desenvolve sua
experiência e criatividade para enfrentar as situações únicas, incertas e
conflitantes, sua formação é baseada prioritariamente na aprendizagem da
prática, para a prática e a partir da prática, o autor inclui nesta perspectiva a
prática reflexiva oposta à racionalidade técnica. E por último a;
1
Neste trabalho são feitas apenas uma pequena referência frente às perspectivas abordadas pelo autor de
maneira a visualizarmos as concepções de ensino e a formação do professor, para um maior
aprofundamento consultar a obra.
• Perspectiva de reflexão na prática para a reconstrução social: aqui o ensino é
concebido com uma atividade crítica, uma prática social saturada de opções de
caráter ético, o professor é considerado um profissional autônomo que reflete
criticamente sobre a prática cotidiana para compreender tanto as características
dos processos de ensino-aprendizagem quanto do contexto em que o ensino
ocorre, facilitando assim o desenvolvimento autônomo e emancipador dos que
participam do processo, nesta perspectiva três aspectos são fundamentais à
formação do professor: a aquisição de uma bagagem cultural de clara orientação
política e social; o desenvolvimento de capacidades de reflexão crítica sobre a
prática, para desmascarar as influências ocultas da ideologia dominante na
prática cotidiana da sala de aula, no currículo, nos sistemas de avaliação etc; e o
desenvolvimento de atitudes que requer o compromisso político do professor
como intelectual transformador na aula, na escola e no contexto social.
Entendemos que apesar das distinções apresentadas sobre o ensino e a prática do
professor, podemos perceber atualmente na formação de professores uma mistura dos
vários modelos de formação, onde diversos fatores influenciam que determinados
modelos estejam mais presentes do que outros. Na pesquisa realizada por Gonçalves
(2006) surgiram, por exemplo, como fatores que repercutiam sobre a formação dos
professores formadores de professores de matemática: a formação técnico-formal com
ênfase na exclusivamente na formação matemática; a formação geral e a formação
pedagógica reduzidas e dissociadas; e a experiência discente ou docente como
formadora dos saberes da profissão (p.191-192).
Levando em consideração as perspectivas eleitas por Gómez (1998) refletimos a
Formação de Professores numa abordagem Etnomatemática. Domite (2004) salienta que
“a formação de professores (de matemática) numa perspectiva etnomatemática
considera pelo menos dois movimentos: a ênfase dada aos princípios quando a busca é
levar em conta a cultura no terreno da educação e o próprio movimento de formação (p.
419)”. Segundo a autora dentro de uma perspectiva da etnomatemática algumas
iniciativas dentro da formação reflexiva têm sido preciosas. A investigação do contexto
pelo professor leva-o a refletir criticamente sobre os processos e as finalidades do
ensino-aprendizagem, e de sua própria prática docente. Esta reflexão pode redirecionar
o seu fazer político-social-ético dentro do modelo de formação que foi formado. Não
estamos aqui considerando que a formação específica deva ser substituída ou
pormenorizada, afinal nenhum professor pode ensinar aquilo que não domina, porém
em contrapartida, um fazer alienado, repetitivo e sem significado em nada contribui,
nem pessoalmente, nem coletivamente.
A aquisição dinâmica da matemática, ou de qualquer outra disciplina, integrada
nos saberes e fazeres do futuro depende de oferecer aos alunos experiências
enriquecedoras. Cabe ao professor do futuro idealizar, organizar e facilitar essas
experiências. Mas para isso o professor deverá ser preparado com outra dinâmica
(D’Ambrosio 2005, p.46), esta implicação da Etnomatemática suscita um desafio à
formação de professores, quebrando a visão de formação conteudista, especialista,
técnica, reprodutiva, alienada, paternalista, acrítica, consciente de seus deveres e
direitos. Capazes de lutar por melhores condições de trabalho e por políticas que
busquem um objetivo de educação que não esteja centrada na formação de mão de obra
ou de consumidores para o mercado capitalista. Somente assim poderemos sonhar com
uma educação que valoriza o ser humano em todas as suas dimensões.
As abordagens que emergiram da pesquisa
Nosso recorte contabilizou 19 trabalhos, sendo 03 teses e 16 dissertações.
Conforme mencionado buscamos perceber quais abordagens e quais contribuições
foram elencadas nas pesquisas relacionado à Formação de Professores e a
Etnomatemática. Percebemos algumas aproximações entre os trabalhos os quais
dividimos em alguns tópicos:
• Práticas Pedagógicas numa abordagem etnomatemática – o foco é a abordagem
da etnomatemática no intuito de compreensão do educando, de seus saberes
compreendendo e respeitando as diversidades sócio-geográfico-cultural. Além
de proporcionar a reflexão do próprio docente sobre os saberes observados.
(MORAIS, 2005); (CAMPOS, 2006); (RODRIGUES 2008) e (BEZERRA,
2009).
•
Conhecer as práticas de algum grupo social, exemplo: marceneiros, índios; ou
abordar situações do cotidiano, para utilizar os conhecimentos matemáticos nas
aulas de matemática, modelando-os. E também estabelecendo um trabalho
colaborativo
entre
professores
e
artesãos/marceneiros/índios
e
outros.
(FERRETI, 2005); (ALVES, 2006); (MAFRA, 2006) e (BORGES, 2007).
•
Interculturalidade e etnomatemática em cursos de formação para professores
indígenas, para compreender as contradições e os progressos que ocorrem no
processo
ensino-aprendizagem
quando
olhadas
nestas
perspectivas.
(DOMINGUES, 2006); (JESUS, 2006); (RIBEIRO, 2006); (MELO, 2007),
(AMORIM, 2009) E (OLIVEIRA, 2009).
•
Ressignificar práticas docentes tendo como suporte a geometria numa
abordagem etnomatemática. ( MARUAZ, 2006)
•
A etnomatemática para olhar matemática presente nos currículos e documentos
como PCN, LDB. Discussão entre a matemática abstrata e concreta. (SANTOS,
2008).
•
Formação Continuada docente numa perspectiva etnomatemática. A proposta é
que através das concepções da etnomatemática os docentes possam refletir
acerca dos cursos de formação continuada, valorizando os conhecimentos dos
professores e alunos, além de poder reconhecer nos docentes a constituição de
formas de resistência e de singularidades docentes, orientadas ao fazer
pedagógico nos âmbitos pedagógico, social e cultural.
(SOUZA, 2007);
(ARAGON, 2009).
•
A subjetividade docente e sua relação com a cultura e as perspectivas de
mudanças que influenciam na subjetividade do professor, tomando como uma
das categorias/campo teórico a etnomatemática, (NETO, 2007);
Dentro de nossa análise podemos perceber que estes tópicos podem ser
compreendidos de forma plural semelhante aos agrupamentos que Conrado (2005)
elencou em sua pesquisa, é claro que nosso olhar aqui se volta quanto à questão da
Formação do Professor.
O mais presente nos resumos das teses e dissertações é a abordagem da
Etnomatemática compreendida como possível de desenvolver uma educação
interdisciplinar e transcultural para assim compreender seu próprio grupo em relação
a outros, como por exemplo, os grupos indígenas, aqui são ressaltados que a formação
do professor deve estar atenta para o caráter global, mas também local de cada grupo, e
interagindo entre estes diferentes contextos, garantindo suas particularidades culturais,
mas também garantindo a inclusão num mundo globalizado.
Outro caráter que surge é o caráter de conhecer os saberes de algum grupo, de
situações que ocorrem no cotidiano para assim utilizá-los nas aulas de matemática,
modelando-as matematicamente. Este caráter é mencionado como sendo capaz de levar
o professor a refletir quanto ao cotidiano do aluno, porém em alguns casos também é
enfatizado a utilização desta contextualização como estratégia metodológica juntamente
com a resolução de problemas, modelagem matemática, mídias tecnológicas e história
da matemática.
Percebemos também uma abordagem do currículo, enfatizando que este deve
ser voltado as características locais e assim contribuir com uma formação mais realista e
significativa ao professor. Notamos também a preocupação de enfatizar que a prática
pedagógica da matemática não deve se prender a tarefas apenas concretas e sim ir além
destas, e que o objetivo é alcançar a matemática abstrata.
Considerações Finais
Neste trabalho buscamos perceber as aproximações entre Etnomatemática e a
formação de professores, através das pesquisas científicas realizadas entre 2005 a 2009,
utilizando os trabalhos que constam no Banco de Teses da Capes.
Algo que pudemos notar foi a inexistência de pesquisas nas regiões Norte e
Nordeste, e a concentração de pesquisas em nível de mestrado, obtivemos apenas três
teses, uma no ano de 2005 e duas no ano de 2006.
Ao delinear as contribuições que a Etnomatemática traz a formação de
professores encontradas nas pesquisas, como: a investigação dos saberes de grupos e
contextos diversos, o desenvolvimento de uma educação interdisciplinar e transcultural,
o comprometimento ético e político do docente; nos faz pensar em uma formação
docente onde apenas os conteúdos, as técnicas não as únicas dimensões privilegiadas,
onde a dimensão humana se torne chave para uma educação que transcenda a sala de
aula e possa realmente contribuir para a formação de uma sociedade justa e igualitária.
Nesse sentido podemos suscitar que os modelos de formação docente que hoje
ainda se encontram no cerne das instituições formadoras, entre as quais a universidade,
precisam voltar-se para a superação dos modelos técnicos, práticos dos profissionais
docentes. Proporcionando assim uma formação profissional embasada em princípios
norteadores que possam contribuir na formação de docentes mais preparados para lidar
com os desafios que atualmente a sociedade apresenta.
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