lições do `the daily show with jon stewart`
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lições do `the daily show with jon stewart`
14-09-2007 JORNAL 50a53.qxd 11:28 Page 50 sites Por Mário Rui Cardoso > [email protected] www.ajr.org/Article.asp?id=4329 LIÇÕES DO ‘THE DAILY SHOW WITH JON STEWART’ Um interessante artigo na American Journalism Review lança a discussão sobre se os jornalistas terão algo a aprender com o popular programa de comédia The Daily Show With Jon Stewart. “Se está cansado de telejornais fora de moda, se já não suporta a propaganda de assessores e relações públicas com que o bombardeiam, 24 horas por dia, nos canais de notícias, não perca The Daily Show With Jon Stewart, meia hora nocturna de notícias livres do fardo da objectividade, da integridade jornalística ou mesmo do rigor ”. Tirando uns momentos de diversão, à partida um profissional da informação pouco poderá esperar de um programa que se apresenta desta forma. Mas será mesmo assim? Rachel Smolkin, editora da American Journalism Review, ouviu várias opiniões sobre o assunto. E se vários académicos sustentam que os jornalistas, antes de mais, devem comprometer-se com a verdade e não se abandonarem a soluções humorísticas para conseguirem audiências, outros há que entendem que o problema não está em os jornalistas serem engraçados, mas sim honestos. Ou seja, os jornalistas terão ficado demasiadamente espartilhados pelas exigências de equilíbrio, objectividade e rigor, que, em > 50 |Jul/Set 2007|JJ muitos casos, os impedem de ser mais assertivos e acutilantes. Martin Kaplan, professor da Annenberg School for Communication, na Universidade da Califórnia do Sul, coloca assim a questão do equilíbrio, no jornalismo que se pratica hoje em dia: “em vez de lermos uma história em que se diz que o preto é preto, o que lemos é: ‘alguns dizem que é preto, outros dizem que é branco’. E assim é com tudo, como se todas as partes tivessem idênticas aspirações de rigor. É aí que reside o apelo do Daily Show”, diz Kaplan. “As ditas notícias falsas [do programa] ridicularizam essa ideia de equilíbrio. Não há problema em ter um detector de tretas e dizer que as pessoas são demagogas ou mentirosas quando o merecem. Por isso, muitos espectadores acham que o programa é útil e uma pedrada no charco, para além de hilariante”. Dito de outra forma, livres das imposições do jornalismo convencional, Jon Stewart e os seus cinco correspondentes com “zero em credibilidade”, como eles próprios dizem, conseguem, muitas vezes, ser mais incisivos e chegar mais próximo da verdade, por entre o nevoeiro das notícias, do que jornalistas profissionais forçados a manter uma postura séria e obrigados, pela regra do equilíbrio, a transmitirem propaganda. Brooks Jackson, responsável pelo projecto FactCheck.org, do Annenberg Public Policy Center, na Universidade da Pennsylvania, confessa-se “surpreendido com a capacidade de Stewart e de todas as pessoas que trabalham com ele para rastrearem o vasto universo da televisão por cabo e de lá retirarem os agentes políticos no seu pior. E a verdade é que, enquanto a generalidade dos apresentadores de notícias estão com um ar sério a pôr políticos no ar a dizerem as coisas mais absurdas, Stewart fá-lo pondo aquele ar de gozo que diz tudo sobre tais idiotices”. Será, então, o programa de Jon Stewart um produto jornalístico? Estudos citados no artigo de Rachel Smolkin demonstram que muitos americanos, sobretudo jovens, vêem o Daily Show não só para se divertirem para mas também para se informarem. Mais: segundo um inquérito do Pew Research Center (disponível em http://peoplepress.org/reports/display.php3?ReportID=319), 54% dos espectadores regulares do programa encontram-se no nível mais alto de familiaridade com os assuntos nacionais e 50a53.qxd 14-09-2007 11:28 Page 51 internacionais, contra apenas 35%, considerando-se o total de inquiridos. Os estudos indicam, igualmente, que, para os seus espectadores, o Daily Show contém matéria substantiva, então apenas humorística. Corolário da credibilidade que, apesar de tudo, o programa merece, a Associação de Críticos de Televisão decidiu dar-lhe o prémio de jornalismo, em 2004. Na linha do Daily Show, alguns programas de informação na televisão americana têm vindo, entretanto, a incorporar soluções diferentes dos formatos tradicionais. Não defendendo que os media tradicionais abandonem por completo os ideais de equilíbrio, rigor e objectividade e se transformem todos em Daily Shows virados para recuperação dos públicos que têm vindo a perder, os peritos que contestam a sacrossanta objectividade no artigo da American Journalism Review propõem soluções híbridas, que aproveitem o potencial, existente em todas as redacções, de pessoas espertas, capazes e com vontade de escrever de outra maneira. Hub Brown, professor de jornalismo na Universidade de Siracusa, conta, no artigo de Smolkin, que a princípio também desconfiou do Daily Show, mas depois converteu-se, quando, nos primeiros dias da guerra do Iraque, percebeu que a maior parte dos meios convencionais alinhavam com a propaganda da Administração americana, e só Jon Stewart a questionava. “Parem com essa submissão quase canina. Parem de ter tanto medo de tudo. É preciso muito mais coragem. Até há jornalistas que se evidenciam e progridem exactamente pela sua coragem”, exalta Hub Brown, dando o exemplo de Lara Logan, da CBS, autora de reportagens polémicas no Iraque. com destaque e com o título: “Flagra de cibernauta: pessoa pula de prédio em chamas”. Apenas 28 minutos depois, um outro cibernauta avisou que a fotografia era uma fotomontagem e o UOL teve de retirá-la, com um pedido de desculpas. A força da imagem era tal que o portal optou por nela confiar cegamente, sem a sujeitar a qualquer verificação. O caso mereceu um puxão de orelhas da provedora do UOL, Tereza Rangel, que, de resto, recebeu inúmeros protestos pela forma, quase vampiresca, como o portal incentivou o envio de fotografias (ver http://ombudsmandouol.blog.uol.com.br/index.h tml#2007_07-18_16_13_59-124290566-0). Não faltou, também, quem aproveitasse o episódio para assinar a sentença de morte do jornalismo participativo. Mas, como nota Ana Maria Brambilla, editora assistente de conteúdo colaborativo da Editora Abril, em www.jornalistasdaweb.com.br/index.php?pag= displayConteudo&idConteudoTipo=2&idConte udo=2121, “é bom lembrar que aquela imagem não foi parar à homepage do UOL pelas mãos de um internauta, mas de um jornalista”. O que aconteceu foi que alguém que devia ser profissional não fez bem o seu trabalho. De modo que, se este caso serve para provar alguma coisa, é a importância de haver profissionais no jornalismo participativo. Ana Maria Brambilla dá dicas para verificação de conteúdos enviados por cidadãos em http://anabrambilla.com/blog/archives/311. http://vocemanda.fotoblog.uol.com.br PERIGOS DO JORNALISMO PARTICIPATIVO No dia da tragédia com o avião da TAM, no aeroporto de Congonhas, em Julho último, o portal UOL pediu a quem tivesse tirado fotografias do acidente que as enviasse, para eventual publicação no foto-blogue Você Manda. As respostas, como se imagina, chegaram às centenas e, entre as fotografias, uma mostrava alguém preparando-se para se atirar de um edifício em chamas. Foi publicada, > JJ|Jul/Set 2007|51 14-09-2007 JORNAL 50a53.qxd 11:28 Page 52 sites www.cyberjournalist.net/news/000117.php COMO CONTAR HISTÓRIAS ‘ONLINE’ Jonathan Dube, vice-presidente da Online News Association, publica, na CyberJournalist, uma espécie de estado da arte do jornalismo na Net. Desde os clássicos textos acompanhados de fotografias, vídeos e “links” aos grafismos interactivos, passando pela utilização de “slideshows”, registos áudio, animações ou debates em directo moderados por jornalistas (Hillary Clinton e Barak Obama, candidatos à nomeação democrata para as presidenciais americanas de 2008, participaram, recentemente, no primeiro debate na Web, numa iniciativa YouTube/CNN em que as perguntas eram colocadas por cibernautas através de pequenos “clips” de vídeo), o artigo de Dube documenta a imensa variedade de recursos que são hoje utilizados pelos “sites” informativos e que proporcionam aos utilizadores modelos de consumo da informação por norma mais versáteis do que nos media tradicionais. O guia de Dube oferece inúmeros exemplos práticos de diferentes soluções de comunicação “online”. > www.nowpublic.com EXPOENTES DO JORNALISMO PARTICIPATIVO Projectos de jornalismo participativo começam a atrair investimentos significativos. O canadiano NowPublic encaixou, em Julho, cerca de 8 milhões de euros provenientes de um grupo de investidores. Os responsáveis do “site” declararam a intenção de canalizar o dinheiro para a ampliação de uma rede que já é alimentada por mais de 100 mil cidadãos que, a partir de 140 países, contribuem com textos, “links” e fotografias. Em Fevereiro, o NowPublic já tinha anunciado uma parceria com a Associated Press para a colocação de reportagens de cidadãos no fio de telexes da agência. “O modelo de jornalismo participativo do NowPublic está a ser abraçado pelos media convencionais”, regozija-se Leonard Brody, um dos fundadores do serviço. “Durante o furacão Katrina, tínhamos mais repórteres na zona do que o número de jornalistas que existem na maior parte dos meios de comunicação”, acrescenta. Com efeito, esta ampla presença no terreno tem permitido ao NowPublic fazer “breaking news” em vários acontecimentos importantes. Os seus responsáveis garantem, de resto, que já recusaram duas ofertas de aquisição por parte de grandes grupos de media. > 52 |Jul/Set 2007|JJ www.pulitzer.org LEIA OS PULITZERS Um “site” que referencia todos os premiados com o Pulitzer, desde 1917. A partir de 1995, é possível ler, na íntegra, os trabalhos distinguidos. JJ > 14-09-2007 11:29 Page 53 JORNAL 50a53.qxd Portimão homenageia profissionais da Comunicação Social A Câmara Municipal de Portimão promoveu em Junho passado, pelo segundo ano consecutivo, uma sessão de Homenagem a Profissionais da Comunicação Social, com ligação ou não ao Algarve – “um simples gesto de constatação e reconhecimento de uma terra tolerante e aberta à integração e diversidade, com história na luta pela liberdade de expressão”, nas palavras do respectivo presidente, Manuel da Luz. A homenagem – que nasceu da ideia de um particular, D. Maria Olímpia Simões, a que a autarquia soube dar a devida concretização – contemplou Carlos Ventura Martins, Arménio Aleluia Martins, José Marques e, a título póstumo, Ruy do Sacramento, Manuel Beça Múrias e Carlos Gil. O ano passado, os premiados tinham sido Adulcino Silva e Fernando Corrêa dos Santos. Trata-se de uma iniciativa pouco comum entre nós, singela mas de grande significado, que merecia ser seguida por outras autarquias. JJ JJ|Jul/Set 2007|53