análise dos elementos da narrativa da 6ª série do

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análise dos elementos da narrativa da 6ª série do
ANÁLISE DOS ELEMENTOS DA NARRATIVA DA 6ª SÉRIE DO ENSINO
FUNDAMENTAL
Odete Ignaczuk (FURB)
([email protected])
Este trabalho apresenta uma análise inicial de dados dos elementos da narrativa de textos
escritos por alunos da 6ª série do ensino fundamental. Seu objetivo é observar quais são os
elementos do domínio dos estudantes e outros que ainda são pouco conhecidos. A partir desta
pesquisa, pretende-se criar condições de conhecimento aos alunos sobre estes elementos e
confeccionar material pedagógico adequado para que este resultado seja alcançado. O artigo é
resultado de estudos no PIBID ((Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência), da
Furb (Universidade Regional de Blumenau), subprojeto de Letras. Os dados são narrativas
produzidas por estudantes de 6ª a 8ª série de uma escola situada no município de Brusque,
escolhida pelo baixo índice Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). Os textos
foram divididos entre os membros do grupo de estudo desta escola, ficando cada série com
um aluno da graduação para posterior análise. Para a geração dos dados, foi apresentado aos
alunos um comando solicitando que escrevessem um texto baseado na sequência de cinco
figuras. As narrativas foram analisadas a fim de verificar a falta dos elementos, título, fórmula
inicial, anafóricos, conectores e ortografia. Observou-se que a maior parte dos estudantes
produziu narrativas curtas, com pouca relação de causa e consequência bem como não
exploraram os elementos da narrativa. Como continuação deste trabalho, o foco principal são
os elementos da narrativa, pois considera-se que, se os alunos possuírem bom conhecimento
sobre esses elementos terão maior facilidade de narrar e, por conseguinte, produzir gêneros
textuais do eixo do narrar.
Palavras-chave: Elementos. Narrativas. Estudantes. Escola.
1 INTRODUÇÃO
Os alunos do ensino fundamental e médio apresentam uma substancial dificuldade
ao escrever na sua própria língua materna, a Língua Portuguesa. Esse problema é constatado
por professores de todos os níveis da educação fundamental e até mesmo na universidade,
onde uma grande parte destes não se apresenta preparado para escrever um bom texto, seja
ele de qualquer esfera.
Baseado nessa constatação, uma pergunta recorrente é o porquê dos estudantes
apresentarem este tipo de carência, e mesmo tendo uma capacidade de imaginação fértil, não
estão preparados para produzir um texto escrito. Vale ressaltar, que escrever não significa
apenas colocar no papel algumas palavras, é preciso ter coerência no que se escreve.
Uma análise mais aproximada deste problema se faz necessária, uma vez que os
alunos deveriam adquirir a habilidade de escrever com competência durante o período escolar.
Partindo deste princípio, é preciso uma pesquisa mais focada na escrita dos estudantes,
mostrando assim quais são as dificuldades apresentadas.
Este artigo é um resultado inicial do programa PIBID - Programa Institucional de
Bolsa de Iniciação à Docência, subprojeto de Letras da FURB - Universidade Regional de
Blumenau. O projeto tem como objetivo qualificar e formar educadores capazes de
diagnosticar e buscar soluções para ajudar os alunos a desenvolverem suas habilidades na área
de produção de textos.
Na primeira fase do subprojeto, os bolsistas tiveram uma formação teórica com base
em narrativas e suas variações. Essa formação teve por base os pesquisadores Stein&Glenn
(1979) e Scliar-Cabral (1991).
Na segunda fase, foi feita uma visita à escola participante do projeto, da cidade de
Brusque, escolhida pela sua nota no IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica).
Foi aplicado um comando com uma série de figuras sequenciais para estudantes de 6ª a 8ª
série e a partir destas, eles produziram sua própria narrativa, sem regras preestabelecidas.
As produções textuais foram digitadas e foi efetuada uma análise que gerou a
organização de dados, levando em consideração o modelo de regras de Stein&Glenn (1979) e
reformulado por Scliar-Cabral e Grimm-Cabral.
Houve uma verificação inicial das principais dificuldades dos estudantes, por isso, a
proposta deste trabalho é a realização de uma pesquisa que pretende visualizar quais são os
pontos que já foram internalizados pelos alunos e quais são aqueles que ainda precisam ser
desenvolvidos em sala de aula. Tem como base a literatura existente sobre o tema e os dados
já coletados entre os alunos e terá especial atenção aos elementos da narrativa, dentre eles
enredo, personagens, tempo, espaço, ambiente e narrador.
2 DESENVOLVIMENTO
A escrita é o modo mais importante de comunicação nos dias atuais, sendo uma
maneira muito importante de manifestar o pensamento e ser entendido pelo outro. Com a
invenção do livro e da imprensa escrita, foi aos poucos tornando-se popular a leitura para
conhecimento, informação e entretenimento. No entanto, para uma comunicação e
entendimento eficazes, o autor do texto precisa conseguir expor suas ideias com clareza, este
necessita saber “contar sua história”. O autor precisa ter conhecimento de algumas regras para
se escrever um texto, sem as quais ele não conseguirá seu objetivo. Neste caso específico,
tratamos de um texto narrativo e os elementos sem os quais ele não irá ter o seu objetivo de
entendimento alcançado:
Contar histórias é uma atividade praticada por muita gente: pais, filhos, professores,
namorados, avós....Enfim, todos contam-escrevem ou ouvem-lêem toda espécie de
narrativa: histórias de fadas, casos, piadas, mentiras, romances, contos,
novelas...Assim, a maioria das pessoas é capaz de perceber que toda narrativa tem
elementos fundamentais, sem os quais não pode existir; tais elementos de certa forma
responderiam às seguintes questões: O que aconteceu? Quem viveu os fatos? Como?
Onde? Por quê? (GANCHO, 1991, p. 1).
Como já referido anteriormente, os estudantes apresentam uma visível dificuldade
para produção de textos escritos, sendo isso observado em diversos níveis do ensino. É
importante ressaltar que estamos falando da língua materna, à qual, tendo as devidas
exceções, eles estão expostos desde os anos iniciais na escola. Isto posto, levanta-se outra
questão importante: Quais são os desafios que não estão sendo ultrapassados pela escola e
seus professores, que resultam em alunos do ensino fundamental que não tem segurança
suficiente e “se assustam” diante de uma produção de texto?
Apesar deste tema já ter sido bastante estudado, ainda não temos um consenso de
como atingir o objetivo de termos alunos seguros da própria língua e desinibidos na hora de
ler, produzir ou interpretar textos. A função da escola seria propiciar aos alunos formas de
aprendizagem a serem entendidos por eles.
Aos alunos caberia absorver a informação e usá-la de forma adequada. No entanto,
sabemos que o ensino da língua portuguesa, suas variações, a realidade sociocultural e mesmo
as diferenças culturais, somado por vezes, a educadores não formados adequadamente e nem
motivados, e ao fato de termos estudantes nem sempre interessados e instigados os suficiente,
resultam em algumas falhas recorrentes e ainda não solucionadas:
Os motivos para o descompasso entre o que se espera da instituição escolar e sua
atuação efetiva são muitos, mas um deles se sobressai: a escola, com o objetivo duplo
de fornecer alternativas para a construção de conhecimentos pelo indivíduo, enquanto
o sociabiliza, e pretendendo ser a porta de entrada para seus primeiros contatos
institucionais externos ao ambiente familiar, impõe-se como autoridade. E de espaço
para trocas, a escola reveste-se com outra máscara: a da inserção na regra e no sistema
estabelecido. (MATENCIO, 1994, p.16).
Neste trabalho, tratamos da língua portuguesa, leitura e produção de textos, mais
especificamente narrativas.
A seguir, observaremos algumas formas de auxiliar os alunos compreender e produzir
textos narrativos, através de algumas regras, chamados os elementos da narrativa. A proposta
deste estudo é fazer uma análise dos elementos da narrativa e sua ligação com o a proposta de
ensino.
2.1 OS ELEMENTOS DA NARRATIVA
Narrar é contar um fato, e como todo fato ocorre em determinado tempo, em toda
narração há, ou deveria ter, sempre um começo, um meio e um fim. São requisitos básicos
para que a narração esteja completa. A narração é um texto dinâmico, que contém vários
fatores de dependência que são extremamente importantes para a boa estruturação do texto.
Tem por objetivo contar uma história real, fictícia ou mesclando dados reais e imaginários.
Baseia-se numa evolução de acontecimentos, de forma a ser entendida pelo leitor. Um
bom autor, tem que prender a atenção daquele que está lendo, portanto, para além de ser bem
estruturado, o texto narrativo deverá conter fatos interessantes ao leitor. Quem narra, “escolhe
o momento em que uma informação é dada e por meio de que canal isso é feito”
(PELLEGRINI, 2003, p.64).
Neste caso, procuramos a ligação que é estabelecida entre os estudantes e as
narrativas, e o que é necessário para que eles internalizem as informações e transmitam seus
conhecimentos claramente nas produções escritas.
Com o objetivo de auxiliar na compreensão e produção de bons textos, propomos uma
pesquisa através de algumas normas, mais sucintamente dos pesquisadores Stein & Glenn
(1979), que criaram um conjunto de regras necessárias para o entendimento das estórias e a
relação entre elas. São: Estória, cenário, sistema de episódios, episódio, evento inicial,
resposta, resposta interna, sequencia de planejamento, plano interno, aplicação do plano,
tentativa, resolução, consequência direta e reação.
Ainda temos por objeto de estudo, Scliar-Cabral e Grimm-Cabral (1991), que
elaboraram um esquema que procura explicar o modo que entendemos as narrativas em geral
e afirmam que as crianças compreendem melhor as estórias se estiverem em contato com as
narrativas. Também estudam o fato de as crianças, mesmo expostas a outras formas do
mesmo conto, geralmente lembram-se daquela já internalizada e diferentes partes serão
lembradas por cada criança. Neste caso específico, observaremos a sequência de cinco
elementos da narrativa, como estes estão estruturados e faremos uma análise tendo como base
os dados pré-coletados. Estes elementos são:
2.1.1 Enredo
Também conhecido por trama, história ou intriga, é o esqueleto da narrativa, aquilo
que dá sustentação à história, ou seja, é o desenrolar dos acontecimentos. Geralmente o
enredo está centrado num conflito, responsável pelo nível de tensão da narrativa. Podemos ter
um conflito entre o homem e o meio natural (como ocorre em alguns romances modernistas),
entre o homem e o meio social, até chegarmos a narrativas que colocam o homem contra si
próprio (como ocorre em romances introspectivos). Em O Ateneu, o enredo desenvolve-se a
partir da entrada do menino Sérgio, aos onze anos de idade, no colégio interno. Colocado
diante de um mundo diferente e sem estar preparado para isso, o menino vivência uma série
de experiências e acontecimentos que culminam com o incêndio e a consequente destruição
do colégio. Ao observarmos um enredo, podemos nos ater a duas questões:
- A Verossimilhança: Pode ser pautada pela referência da causa e consequência, cada
história deve ter um fato motivador, que ocasionará novos um ou uma sucessão de
acontecimentos, gerados a partir dele. Segundo Gancho (1991) os fatos de uma história não
precisam, necessariamente, ser verdadeiros, no sentido de corresponderem exatamente a fatos
ocorridos no universo exterior ao texto, mas devem ser verossímeis, ou seja, mesmo sendo
inventados, o leitor deve acreditar no que lê.
Esta veracidade por ser demonstrada no enredo pela relação causal entre os
acontecimentos que o compõem e seus detalhes e na coerência da matéria narrada à lógica
interna da história.
- A estrutura: Não basta que o enredo tenha meio e fim, é necessário ter o elemento
estruturador, o conflito. “Conflito é qualquer componente da história (personagens, fatos,
ambiente, ideias, emoções) que se opõe a outro, criando uma tensão que organiza os fatos da
história e prende a atenção do leitor.” (GANCHO, 1991, p.10).
Sem o elemento conflito, a história perderia seu fator interessante, pois o leitor
necessita ter a expectativa diante dos fatos do enredo. Este pode ser entre personagens,
personagem e ambiente, morais, religiosos, econômicos ou psicológicos. Com relação à sua
estrutura e baseado no conflito, um enredo pode ser dividido em quatro partes principais:
A- Introdução: É a parte do enredo que situa o leitor diante da narrativa. Aqui são
apresentadas as personagens, fatos iniciais e a situação presente no momento em que a
história se inicia. Muitas vezes, apresenta-se nesta parte também o espaço e o período de
tempo em que a estória se passa.
B- Desenvolvimento: Nesta fase a história toma forma, sendo normalmente a parte
mais extensa do enredo. É durante o desenvolvimento que o conflito (ou conflitos) tornam-se
mais evidentes.
C- Clímax: É o momento em que o conflito atinge seu ponto máximo, digamos, o
momento de tensão da narrativa, sendo o ponto de referência para outras partes do enredo, que
existem em função dele.
D- Desfecho: É a conclusão da história, a resolução dos conflitos, e é comum aqui o
destino dos personagens se revelar. Se ele não aparecer, o leitor certamente ficará perdido e
não saberá a finalidade da narrativa.
Por fim, segundo Gancho, existem enredos em que os acontecimentos estão
organizados de maneira não-linear, são os enredos psicológicos. Nas narrativas psicológicas,
o enredo é estruturado a partir da mente do narrador ou de uma personagem.
Os
acontecimentos de um enredo psicológico nem sempre são evidentes, uma vez que não
correspondem obrigatoriamente a ações concretas das personagens, mas também a
movimentos interiores, da psicologia da mesma: emoções, lembranças, conhecimentos,
sentimentos, sensações... A ordem destes acontecimentos não segue uma coerência
cronológica, mas a vontade do narrador.
A seguir, uma parte de um texto extraído de uma das redações dos alunos da 6ª Série:
“Carlos está plantando uma árvore para ajudar a natureza, a se regenerar, porque ele quer que no
futuro todos vejam que não é para desmatar e sim para preservar....”
Observamos acima um exemplo de verossimilhança, com a relação de causa de
consequência, gerado por um fato motivador, afinal, Carlos está plantando uma árvore por
uma causa maior, ajudar a natureza. A partir deste fato, serão desencadeados os demais.
2.1.2 Personagens
É um ser fictício que é responsável pelo desempenho do enredo. Ele pertence à
história e só existe se participa dela, por exemplo, se ele for somente citado por outro
personagem e não tiver participação direta na narrativa, pode não ser considerado
personagem. Normalmente, o narrador dá características ao personagem para que o leitor
fique conhecendo o mesmo logo no início da trama. Os personagens podem ser classificados:
- Quanto ao papel que desempenham no enredo:
- Protagonista: É aquele que faz o papel principal da trama, pode ser o herói, que é
criado tendo características superiores a do seu grupo e normalmente tem maior empatia junto
ao leitor. O anti-herói é aquele personagem que possui características iguais ou inferiores as
do seu grupo, mas por qualquer motivo é personagem principal. Não se pode deixar de
lembrar um clássico anti-herói nacional, da obra de Mário de Andrade, o romance
Macunaíma, o herói sem nenhum caráter.
- O antagonista: Determinado pelo personagem que se opõe ao protagonista,
normalmente com características opostas as dele. Pode ser melhor entendido como o vilão da
história.
- Personagens secundários: São aqueles que não têm tanta importância na trama, mas
mesmo assim são essenciais para o desenrolar dela.
- Quanto a caracterização:
Personagens planos são facilmente reconhecidos pelo espectador, são pouco
complexos e com número pequeno de atributos. Existem dois tipos básicos de personagens
planos: O personagem tipo; é aquele que possui características típicas, invariáveis, “normais”,
mais parecidos com aqueles que o leitor em geral está acostumado. O personagem caricatura;
como o próprio nome já o diz, é aquele que tem características ridículas e exageradas, mais
presentes geralmente em obras de humor.
Personagens redondos são mais complicados que os planos, apresentando mais
características, sendo elas físicas, sociais, ideológicas e morais. O leitor, deste caso, precisará
de mais atenção para compreender este tipo, pois suas ações dependem de correlações com
suas outras características. “Ao se analisar um personagem redondo, deve-se considerar o fato
de que muda no decorrer da história e que a mera adjetivação, isto é, dizer se é solitário, ou
alegre, ou pobre, às vezes, não dá conta de caracterizar o personagem” (GANCHO, 1991, p.
20).
Exemplo:
“Um dia de sol maravilhoso Pedro, um garoto esperto e alegre...”
Aqui temos um extrato que mostra um personagem caracterizado por ser um “garoto
esperto e alegre”, podendo ser considerado um personagem plano, pois seriam necessárias
mais características para este ser considerado um personagem redondo.
2.1.3 Tempo
Podemos dizer que é na camada temporal que se organizam os acontecimentos de uma
estória em uma sequência passiva de entendimento. Porém, isto nos traz uma questão; Como
conceituar o tempo e de que tempo estamos tratando? Conceituar o tempo de uma obra
narrativa é, na realidade, tratar dos diversos tempos que participam de sua estruturação,
externos ou internos à mesma. Para Cardoso, “no texto narrativo, os eventos passam de um
estado a outro. Esse tipo de texto caracteriza-se por apresentar acontecimentos que se
sucedem no tempo” (CARDOSO, 2001, p. 38).
Ou seja, o acontecimento principal vai se transformando na medida em que um
acontecimento marginal é concluído e aquele que o sucede se inicia. Na análise do tempo
fictício de GANCHO (1991), os fatos de um enredo estão ligados ao tempo em vários níveis:
- Época em se passa a história: É o tempo maior, que abarca todos os acontecimentos
narrados pela história. Ainda que o enredo esteja situado em uma época inexistente, por
exemplo, um passado pré-histórico em que seres humanos e dinossauros coexistem
pacificamente, tal época necessita estar ancorada à história a fim de facilitar sua
contextualização.
- Duração da história: Como já informado, é realmente o período de tempo que
duram as histórias, devendo ficar evidente ao espectador esta passagem do tempo, por
exemplo, se uma personagem sai e passa algumas horas fora de casa, o autor terá que deixar
evidente esta passagem do tempo, seja mostrando um relógio ou uma fase diferente do dia. No
filme Notting Hill, na cena final os personagens principais aparecem caminhando pelo bairro
e as estações do ano se evidenciando, numa clara alusão a passagem do tempo.
- Tempo cronológico: No tempo-cronologia, os acontecimentos se sucedem uns aos
outros organizados no enredo na ordem em que ocorreriam naturalmente. É chamado de
cronológico porque é mensurável em horas, dias, meses, anos, séculos. Deste modo, em um
romance que conte um dia na vida de determinada personagem, os acontecimentos serão
narrados na ordem natural em que acontecem iniciando na parte da manhã (ou quando a
personagem estivesse acordando) e evolvendo até o momento em que esta vai para a cama
dormir, à noite, ordenados pela passagem das horas do dia.
- Tempo psicológico: É aquele em que o tempo se dá de acordo com a vontade do
narrador ou de uma das personagens acontecimentos e não segue uma coerência cronológica.
Está, portanto, ligado a um enredo não-linear, no qual os acontecimentos estão fora da ordem
natural. Uma característica destas narrativas é o emprego de flashbacks como recurso a
serviço do tempo psicológico. O flashback consiste em uma volta no tempo, em relação ao
momento em que o enredo se desenvolve.
Exemplo: “...Dias se passaram elas cresceram fiquei muito feliz ajudei a natureza, e ela me
ajudou também...”
Uma alusão clara a passagem do tempo cronológico, aqui observado em “dias se
passaram”.
2.1.4 Espaço e Ambiente
Com o que vimos anteriormente sobre o tempo, podemos dizer que na narrativa, o
tempo é o elemento invisível e o espaço, o elemento visível. Cardoso afirma que “o espaço é
também aspecto intrínseco do texto narrativo, visto que nele se situam os eventos e os
personagens” (CARDOSO, 2001, P. 40). Espaço é o lugar em que se passa a ação.
A quantidade de espaços dentro de uma história dependerá de como é o enredo, com
mais ou menos acontecimentos. Em narrativas escritas, o espaço pode ser caracterizado como
fechado, aberto, urbano, rural, ou em filmes, por exemplo, o espaço é mostrado pela imagem e
às vezes, também narrado. Portanto, o elemento espaço é o lugar físico da ação, enquanto que
o elemento ambiente tem a incumbência de informar as características sociais, morais,
socioeconômicas em que vivem os personagens.
O ambiente onde o enredo de uma narrativa se desenvolve pode ser real, mesmo sendo
de tempos atrás, será provavelmente baseado em pesquisas, ou pode ser totalmente
imaginário. Gancho identifica quatro possíveis funções para o ambiente na narrativa; Situar os
personagens no tempo e no espaço, para que conheçamos os personagens, ser a projeção dos
conflitos que vivem. Também podem entrar em conflito com os personagens e por fim,
contribuir para o andamento do roteiro, como é muito comum em narrativas policiais, o
ambiente fornecer pistas para solucionar crimes.
Exemplo: “....Assim que chegou em casa, foi logo no jardim plantar as sementes que a
professora tinha lhe dado.”
Temos acima uma descrição do espaço, neste caso o jardim da casa do personagem,
onde ele foi plantar as sementes.
Não foi identificado nenhuma referência ao elemento ambiente.
2.1.5 Narrador
O narrador é o elemento interno à narrativa que conta a história, o elemento
estruturador da história. Entretanto, é importante lembrar que narrador não é autor, pois numa
narrativa, tal como as personagens e os demais elementos de uma obra, o narrador é também
fictício, uma invenção, uma criação linguística do autor. É ele, e não o autor, quem interage
com o apreciador no processo de transmissão da história narrada. A diferença entre o narrador
e o autor está em que é ele quem narra a partir do interior do relato enquanto o autor escreve,
realiza um trabalho, uma atividade real.
Segundo Gancho, os dois termos mais usados para designar a função do narrador na
história são o foco narrativo e o ponto de vista do narrador ou da narração. Os dois referem-se
a posição do narrador frente aos fatos narrados. Sendo assim, temos dois tipos de narrador,
primeira ou terceira pessoa:
- Primeira pessoa ou narrador personagem:
Como o próprio nome diz, é aquele que participa do enredo, por isso, sendo uma
personagem, não pode ter uma visão ampla da história. No entanto, existem algumas
variações do narrador personagem, tais como: Ele pode ser um narrador testemunha, que não
costuma ser a personagem principal do enredo, se limitando a narrar os acontecimentos dos
quais participou por seu ponto de vista de personagem secundária.
Por ser testemunha da ação, e não necessariamente participar ativamente da mesma, o
ponto de vista é, necessariamente, mais limitado. Também pode ser um narrador
protagonista, que é aquele que normalmente é o personagem central do enredo, aqui temos
um narrador que está distanciado dos fatos narrados, tendo assim uma visão mais crítica dos
mesmos.
- Terceira pessoa:
É o narrador observador, que está fora dos fatos narrados e portanto, geralmente, tem
um ponto de vista imparcial. Suas principais características são a onisciência, onde o narrador
sabe tudo o que acontece na estória e a onipresença, onde o narrador está presente em todos
os lugares da estória, a todo momento. O narrador observador é o tipo mais comum
identificado nas narrativas dos mais diversos tipos de narrativas, especialmente nas narrativas
visuais. Temos algumas variações do narrador na terceira pessoa; O narrador intruso, é
aquele que dirige diretamente ao apreciador e/ou julga de maneira direta as personagens e os
acontecimentos. Ou seja, não assume uma posição de neutralidade diante daquilo que narra.
A intrusão é seu traço característico mais marcante, ao passo que narra os
acontecimentos, o narrador intruso faz comentários próprios, entrosados ou não com a estória
narrada, sobre os acontecimentos, a vida das personagens, seus costumes, a moral vigente e
tudo mais que lhe ocorrer. O narrador parcial é o narrador que tem uma identificação com
algum personagem da história, ou seja, “toma partido” na história e dá certa prioridade a esta
personagem.
Exemplo: “Era uma vez um garoto chamado Geovane ele adorava as arvores mais só que ele
estava muito triste com o desmatamento ate que ele...”
Temos então a exemplificação do narrador na terceira pessoa, o observador, que
limita-se a narrar a história do ponto de vista neutro.
“Hoje acordei bem cedo, aproveitei que o sol estava brilhando, decidi plantar duas árvores...”
Neste extrato, observamos então o narrador na primeira pessoa ou personagem e
protagonista.
3 ANÁLISE DE DADOS
Após termos observado a base teórica e explicado alguns pontos sobre os elementos da
narrativa, procederemos a análise de narrativas escritas pelos alunos da 6ª série, escolhidas
por obterem, de forma apenas previamente visual, alguns elementos que não estariam
presentes nas demais. Pretendemos, a partir desta análise, verificar quais são os elementos que
já são do conhecimento dos estudantes e outros que precisam ser melhor trabalhados em sala
de aula. As redações foram fielmente digitalizadas e serão analisadas em seguida.
A – Sem título
Um dia de sol maravilhoso Pedro, um garoto esperto e alegre, decidio plantar duas arvore no
seu quintal. regou –as e ao insperou crecererem e depois colocou uma rede para descançar na sombra
em que as arvores faziam com suas folhas. mais ainda continuou a rega-la pois não tinha ese formado,
mais tarde foi para escola e quando voltou ese deitou para descançar na sua rede, e no dia seguinte de
manhã foi ao mercado para comprar mais pezinhos de arvores pois chegar em casa platou as cinco
cementes que avia comprado regou-as e as esperou crecer.
Elementos presentes:
- Personagem plano: Pedro, um garoto esperto e alegre.
- Enredo: Identificado, porém precário, apenas com uma breve introdução,
desenvolvimento e pobre desfecho.
- Narrador: Terceira pessoa, observador, apesar de uma caracterização insuficiente da
personagem.
- Tempo: Um dia de sol maravilhoso.
Elementos ausentes: Enredo com estrutura marcada. Ambiente. Tempo.
B – Sem título
Em um dia lindo Joamzinho viu uma arvore linda e teve ideias de cuidalas ele foi regando ate
que dia ele ele colocou semente de outro lado ele cuidou cuido ate que deu duas arvores bonitas ele
ficou feliz e colocou uma rede para apresiar a natureza que ele tava construindo vamos nos
consentisar.
Elementos presentes:
- Personagem plano: Joamzinho, presente mas não caracterizado.
- Enredo: Identificado, no entanto, sem estrutura marcada e falta de dados.
- Narrador: Terceira pessoa, observador, apesar de ser bastante sucinto.
Elementos ausentes: Enredo com estrutura marcada. Ambiente. Tempo. Espaço.
C- O meio ambiente por Geovane
Era uma vez um garoto chamado Geovane ele adorava as arvores mais só que ele estava muito
triste com o desmatamento ate que ele se desidio ajudar o meio ambiente prantando aroes apremeira
que ele pratol ele ficou alegre depois ele prantol outra de quanto parece ele mesmo utilizar para tomar
sombra e descansar alegre sabendo que ele esta ajudando e ele que sempe de ajuda a derota a
desmataca
Elementos presentes:
- Personagem plano: Geovane, que adorava plantar árvores mas estava muito triste.
- Enredo: Identificado, com uma rápida relação de causa e consequência, mas bastante
breve.
- Narrador: Terceira pessoa, observador.
Elementos ausentes: Enredo com estrutura marcada. Ambiente. Espaço. Tempo.
D - AS ARVORES
Hoje acordei bem cedo, aproveitei que o sol estava brilhando, decidi plantar duas árvores.
Como o dia estava muito bonito, cavei um buraco bem fundo e plantei uma árvore, no lado dela
plantei outra árvore, regar coloquei água fresca pra elas crescerem, fortes, e bonitas. Dias se passaram
elas cresceram fiquei muito feliz ajudei a natureza, e ela me ajudou também., coloquei uma rede sobre
as duas árvores, ficou uma boa sombra, aproveitei e tirei uma soneca.
Elementos presentes:
- Enredo: Identificado, porém sem qualquer conflito motivador.
- Narrador: Primeira pessoa, personagem.
- Espaço: O dia estava muito bonito.
- Tempo: Dias se passaram.
Elementos ausentes: Enredo com estrutura marcada. Ambiente.
E - Pensando no futuro
Carlos está plantando uma árvore para ajudar a natureza, a se regenerar, porque ele quer que
no futuro todos vejam que não é para desmatar e sim para preservar.
Mais Carlos não plantou só uma árvore ele plantou, duas, todos os dias ele regava as árvores
para que elas cresçam.
Cada dia elas ficavam mais grandes ele ficou feliz não só pela natureza, mas sim porque agora
tinha sombra, e podia colocar uma rede para se deitar quando tivesse calor, brincar com os amigos,
fazer um piquenique, etc.....
Mais Carlos também sabia que as árvores absorvem o gás carbônico e soltam o gás oxigênio
no ar, mas também sabia que a noite as árvores soltam gás carbônico, por isso ele plantou elas longe
de sua casa.
Mas ele sabe que plantando árvores ele ajuda a preservar a natureza, para que as gerações
futuras possam ter o verde das florestas para apreciar e usufruir de toda a sua beleza.
Mas Carlos quer, que todas as pessoas colaborem também, plantando árvores na natureza, não
desmatando e nem jogando lixo no meio em que vivemos, para que no futuro todos tenham uma vida
sustentável.
Elementos presentes:
- Personagem plano: Carlos.
- Enredo: Com estrutura e relação de causa e consequência.
- Narrador: Terceira pessoa, observador, com personagem bem caracterizado.
- Espaço: Um dia de sol maravilhoso.
- Ambiente: Mas ele sabe que plantando árvores ele ajuda a preservar a natureza.
Elemento ausente: Tempo.
F – Sem título
Num dia lindo de sol, um menino Pegou suas ferramentas e foi plantar uma arvore, na
Verdade 2, depois de plantar Pegou seu regador e foi molhar suas plantas.
Depois de anos o menino foi Ver e as arvores estavam grandes ele ficou feliz estendeu uma
rede sobre as arvores e foi deitar.
Elementos presentes:
- Enredo: Identificado.
- Narrador: Terceira pessoa, observador, mas bastante breve.
- Tempo: Depois de anos...
Elementos ausentes: Personagem, Enredo com estrutura marcada. Ambiente. Espaço.
G - As arvores
Era uma vez um menino chamado antonio ele gostava muito de arvores um dia antonio teve a
ideia de plantar uma arvore atraz da casa dele foi atraz da casa pegou uma pá cavou e colocou algumas
sementes e regou o tempo passou depois de alguns meses a arvore cresceu ai ele pode descançar e
brincar tranquilamente.
Elementos presentes:
- Personagem plano: Antônio, embora muito pouco caracterizado.
- Enredo: Identificado.
- Narrador: Terceira pessoa, observador.
- Tempo: Depois de alguns meses...
Elementos ausentes: Enredo com estrutura marcada. Ambiente. Espaço.
H- Pedro
Era uma vez um menino chamado Pedro, ele era inteligente e gostava muito da natureza, um
ele quis Planto 2 arvore, então ele plantou-as, e rego elas, foi cuidando todos os dias Para que elas
ficassem Bem grandes e fortes
Passaram dias apos dias em fim elas ficaram lindas e grande.
E ali ele descobril que era um lugar ideal Para descansar
Elementos presentes:
- Personagem plano: Pedro, inteligente e gostava da natureza.
- Enredo: Identificado.
- Narrador: Terceira pessoa, observador.
Elementos ausentes: Enredo com estrutura marcada. Ambiente. Tempo. Espaço.
4 CONCLUSÃO
Sabemos que escrever um texto bem estruturado não é tarefa fácil, principalmente para
alguns estudantes, conforme citamos no decorrer do estudo, no qual argumentamos sobre as
principais dificuldades dos alunos e a relevância da escola e dos educadores neste assunto.
Deste modo, a partir da observação de parte da literatura existente sobre o tema
elementos da narrativa e com uma visão mais ampla deste, como interagem entre si e
principalmente, como se estruturam para formar um texto interessante para o leitor, obtivemos
algumas conclusões iniciais.
Podemos afirmar que, baseado nos textos narrativos dos estudantes da 6ª série, os
alunos ainda não possuem conhecimento suficiente dos elementos para a produção de textos
bem estruturados. Lembramos ainda que alguns elementos são mais lembrados, como
personagem e sua caracterização, embora às vezes precária, e o enredo, porém, nem sempre
com sua estrutura e verossimilhança.
Notamos também a fraca argumentação por parte dos estudantes, decorrentes da falta
de leitura e pouco contato com narrativas, seja no âmbito familiar ou meio escolar.
Embora este seja um problema bastante recorrente e com raízes já profundas no meio
escolar, poderíamos afirmar que alguns mecanismos seriam bastante úteis para os estudantes
na área de produção de textos. Um dos passos iniciais seria tornar o ambiente escolar ligado a
leitura, prazeroso e interessante aos estudantes.
Outro ponto seria a elaboração de um trabalho didático diretamente ligado às
necessidades dos alunos, com mensagens claras de como escrever de forma a atingir o
interesse dos leitores. Por fim, seria essencial formar educadores bem estruturados, reflexivos
e conscientes da sua responsabilidade social.
REFERÊNCIAS
CARDOSO, João Batista. Teoria e Prática de Leitura, Apreensão e Produção de Texto.
Brasília: Universidade de Brasília, 2001.
CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e Linguística. 10 ed. São Paulo: Scipione, 1999.
GANCHO, Cândida Vilares. Como Analisar Narrativas. São Paulo: Ática. 1991.
MATENCIO, Maria Lourdes Meirelles. Leitura Produção de Textos e a Escola. Campinas:
Autores Associados, 1994.
PELLEGRINI, Tania. Literatura Cinema e Televisão. São Paulo: Senac São Paulo, 2003.
SCLIAR-CABRAL, Leonor. Introdução à psicolinguística. São Paulo: Ática, 1991.

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