Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.12
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v.12, Ago. – Dez. 2015 ISSN 1982 – 2065 A IMPORTÂNCIA DA MISSÃO, VISÃO E VALORES INSTITUCIONAIS NA IMAGEM ORGANIZACIONAL E NA QUALIDADE DOS SERVIÇOS Miriam Maria Florencio da Silva1 Walkiria Lúcia Simões Ramos2 RESUMO O artigo busca avaliar em que extensão as organizações públicas compartilham com seus clientes internos e externos, sua missão, visão e valores institucionais, em face do consenso atual, segundo o qual, a socialização dessas informações é fundamental para a qualidade dos serviços e a imagem organizacional. Quanto à abrangência e abordagem, a pesquisa de base sobre a qual se constroem os argumentos, segue um plano teórico-descritivo e documental, recorrendo-se aos sites de 17 secretarias de saúde de municípios da Região Metropolitana de Recife. Os resultados indicam ausência de compartilhamento dessas informações, em grande parte dos municípios pesquisados, evidenciando-se claramente que no dia-a-dia do processo de trabalho, a missão, a visão e os valores transmitidos são unicamente aqueles inerentes à visão pessoal de cada funcionário, comprometendo desta forma, a construção da imagem da organização e a qualidade dos serviços. Palavras-chave: Missão. Visão. Valores institucionais. Qualidade serviços. ABSTRACT The article seeks to assess to what extent public organizations share with their internal and external customers, its mission, vision and institutional values in the face of the current agreement, according to which the socialization of this information is critical to the quality of services and the image of the organization. As the scope and approach, the research from which the arguments were built, follows a theoretical descriptive and documentary plan, by consulting to the sites of 17 health departments of the Metropolitan Region of Recife. The results indicate no sharing of such information, in most of the municipalities surveyed, clearly showing up that, in the day-to-day work process, the mission, vision and values transmitted are solely those inherent in the personal vision of each employee, thus compromising the organization's image construction and the quality of services. Keywords: Mission. Vision and institutional values. Quality of Services. 1 Pós graduada em Planejamento e Gestão Pública pela Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco – FCAP/UPE. E-mail: [email protected] 2 Mestre em Gestão Pública pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE. E-mail: [email protected] Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.12, Ago. - Dez. 2015 1 INTRODUÇÃO Em pleno século XXI, em meio a um cenário globalizado, exigente e altamente competitivo, poucas são as organizações que dão o devido valor à sua missão, visão e valores institucionais. Estes três elementos são partes fundamentais na formação da identidade organizacional. Divulga-los, por qualquer veículo, significa promover a empresa, tornando-a mais conhecida pela sociedade, seja quanto ao papel que almeja cumprir, seja quanto às metas, de médio, curto ou longo prazo, que pretende alcançar. Como corolário, significa, enfim, criar uma imagem de transparência, prestando informações ao cidadão sobre quais valores e princípios devem nortear e pautar toda conduta, todo comportamento na empresa, rumo ao cumprimento de seus objetivos. A disponibilização dessas informações ao colaborador, seja este estratégico ou operacional, permite que no decorrer de seu trabalho, tais informações (missão, visão, valores) sejam internalizadas, alinhando-se com os objetivos, estratégias e metas organizacionais. Consolida-se, dessa forma, a imagem da organização no mercado. Toda organização para operacionalizar com eficiência e eficácia, precisa cada vez mais adequar seus serviços às necessidades dos clientes, seja ele, interno ou externo. Com as organizações públicas não é diferente, estas precisam estar preparadas para ofertar serviços cada vez melhores e adequados às necessidades da população. Considerar a esfera pública como objeto de atenção especial neste trabalho, é reforçar nossa crença que um estudo de tal natureza é estratégico na construção de cenários de transformação social, como contribuição para a superação de inúmeros problemas que a sociedade vem enfrentando. Em 2013, pesquisa realizada com os funcionários do setor público de saúde, buscou entender se este trabalhador identificava de maneira clara e objetiva, a missão, visão e os valores institucionais da organização em que trabalhava. Obteve-se como respostas, uma total ausência de conhecimento a esse respeito. Como resultado, a qualidade dos serviços e a imagem da organização Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.12, Ago. - Dez. 2015 ficaram comprometidas, tornando-a alvo constante de inúmeras reclamações e denúncias (CAMELO e SILVA, 2013). Podemos perguntar: quem de nós, ao procurar atendimento nos serviços públicos de saúde, já não sentiu na pele (ou presenciou situações constrangedoras), na forma como somos recepcionadas, acolhidas pelos profissionais desse setor? Atendimentos muitas vezes frios e despersonalizados, serviços oferecidos em condições precárias, falta de compromisso e descaso para com o cliente, ocasionando-lhe diversos agravos e danos à saúde. Tais prerrogativas formam o arcabouço teórico da pesquisa que fundamenta as reflexões desenvolvidas nesse artigo, cujo principal objetivo é refletir e ajudar a consolidar uma visão acerca da importância do compartilhamento da missão, visão e valores institucionais para todo colaborador, como ferramenta promovedora de melhorias na qualidade dos serviços e na imagem organizacional. Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.12, Ago. - Dez. 2015 2 REFERENCIAL TEÓRICO Visando embasamento teórico, foram pesquisados tópicos como: missão, visão, valores institucionais; pertencimento; comunicação; motivação e qualidade dos serviços públicos. 2.1 Definição de Missão A missão é o motivo central da existência da empresa ou organização. Determina quem a organização atende com seus produtos e serviços, explicitando em que área a empresa atua ou poderá atuar, representando-lhe a razão de ser (REBOUÇAS, 2009). É a missão que define a estratégia, e determina a estrutura organizacional, faz-se mister, portanto, que o público a conheça e a compreenda. Surpreendentemente, boa parte das organizações desconsidera este preceito não informando sobre os princípios básicos da missão da empresa sequer aos seus trabalhadores. Conhecer a missão e nela acreditar, ver resultados e sentirse parceiro é fundamental a todos os envolvidos (DRUCKER, 2002). Quando questionados sobre a missão da organização para qual trabalham, provavelmente, muitos funcionários afirmarão desconhecer-lhes. […] Se a missão, visão, valores e os objetivos organizacionais nunca foram expostos pela organização para os colaboradores. […] estes acabam por introjetar seus próprios conceitos, empregando-os na organização (CAMELO e SILVA, 2013, p.20). Johann (2004) enfatiza que se os funcionários não a conhecem ou apresentam pouco conhecimento, a tendência é empenhar-se em atividades que pouco tem a ver com o sucesso da organização, não aderindo às estratégias, agindo diferentemente do que é determinado ou esperado pela organização. Muitas organizações acreditam que basta “por no papel” sua missão institucional e tudo estará resolvido, no entanto, o simples registro não é capaz de solucionar a questão mais ampla que a envolve. É imprescindível que, tanto a participação quanto a interação entre todo o corpo de funcionários seja efetivada, garantindo a propagação do conhecimento dos propósitos institucionais e intenções a que Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.12, Ago. - Dez. 2015 servem, de modo a estreitar os laços que os separam (empresa e funcionários), transformando-os (funcionários). Assim, atuariam, não mais como meramente parte participante, mas como parte envolvida (LOBOS, 2009). Empresas não nascem do nada, e para tanto, devem-se contemplar certas demandas, dentre as quais se pode citar: propósito, visão, estruturas, estratégias, objetivos e metas. Estes, quando compartilhados, proporcionam aos funcionários saber um pouco da história de sua instituição: a que vem, qual a razão de sua existência, e o que de fato a sustenta e move (VERGARA, 2010). 2.2 Definição de Visão A visão representa qual a intenção da organização quanto ao futuro, informando onde a mesma desejará estar. Se a organização não sabe onde almeja chegar, melhor será, ficar onde está. A visão tem por papel buscar comunicar onde a empresa deseja chegar, com prazos determinados, conduzindo todo processo de trabalho, avaliando e controlando todo seu decorrer, observando se os objetivos estão ou não sendo alcançados, possibilitando o suporte necessário para que o sistema possa ser constantemente alimentado, a fim de corrigir possíveis desvios. (CAMELO e SILVA, 2013, p. 26). O ato de declarar para seus funcionários de forma mensurável o que se deseja alcançar num determinado prazo, indicando quais as pretensões da organização, representa a base necessária para que se desenvolva um bom serviço, o ponto de partida para se chegar a algum lugar. A obtenção da adesão e do respeito dos funcionários é de fundamental importância. Entretanto, na maioria das vezes, a visão e os objetivos organizacionais não são conhecidos, colocados à discussão, difundidos e/ou esclarecidos com abrangência junto aos colaboradores (REBELO, 1995). Ao se informar o que a organização almeja ser, promove-se a ideia de futuro. O compartilhamento de tal visão com todos os colaboradores passa a ser fundamental, tornando-se ponto de partida, determinando de forma operacional e clara o alcance dos resultados preestabelecidos, e, de resto, permitindo Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.12, Ago. - Dez. 2015 flexibilidade, caso alguma modificação seja necessária, tornando-a viável e de fácil mensuração (KAPLAN e NORTON, 1997). A existência de uma comunicação clara das estratégias e metas futuras, possibilita aos indivíduos saberem para onde caminha a organização (ROBBINS, 2009). 2.3 Definição de Valores Os valores possibilitam a criação de uma identidade, de uma ideologia organizacional, balizando a conduta e as relações no ambiente de trabalho. Se bem definidos e fundamentados seu cumprimento, os valores funcionam como elemento de apoio na tomada de decisões, estabelecendo o aporte necessário (REBOUÇAS, 2009). Simbolicamente falando, estas representações básicas de um modo específico de conduta, tornam-se socialmente preferíveis a outras, pois contêm elementos de julgamento baseados no que o indivíduo acredita ser correto, certo ou errado, bom ou desejável, justo ou injusto. Atualmente a linha divisória entre o que seria este certo ou errado tem ficado cada vez mais tênue. Basta ver os inúmeros casos de denúncia a que estas instituições estão constantemente expostas. Até hoje, muitas empresas ainda encontram inúmeras dificuldades em definir claramente o que viria a ser um comportamento ético. O conjunto de valores têm por principal papel, auxiliar as organizações nesta definição, representados pelas metas que as pessoas almejam alcançar na vida e pelos modos preferenciais de comportamento (ROKEAACH Apud ROBBINS, 2009). É imprescindível que os valores organizacionais andem atrelados aos dos colaboradores e não o inverso, ou seja, atualmente o que se percebe é que os valores dos colaboradores é que andam, quando muito, junto aos da organização, provocando interferência nos resultados finais quando o produto e/ou o serviço é entregue aos clientes, perpassando assim uma imagem dissociada, distante e irreal da organização (CAMELO e SILVA, 2013, p.26). Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.12, Ago. - Dez. 2015 É necessário que o colaborador tome conhecimento dessas normas, adequando-se a elas. No entanto, na prática, percebe-se que, ou essas normas não são conhecidas ou são obsoletas. E o mais absurdo é que passam a ser usadas rotineiramente mesmo não se observando qualquer correlação com o trabalho desenvolvido. Estes valores são essenciais, precisam ser intensamente compartilhados e assumidos por toda organização, gerando assim adesão, facilitando o comprometimento, de tal modo que cada um saiba exatamente o que se espera dele, definindo identidade, fronteiras, sobrepondo-se aos interesses individuais, auxiliando a organização a se manter coesa. Quando isto não ocorre, prevalece a indefinição, a ambiguidade, ocasionando a falta de adesão, de lealdade, de comprometimento e de pertencimento organizacional (LOBOS, 1996). 2.4 Pertencimento O pertencimento oferece sentido ao trabalho, dá-lhe direcionamento, informando as diversas formas pelas quais as coisas têm valor, importância. Encontrar este sentido motiva os trabalhadores, os incentiva a crescer junto com a organização, compartilhando interesses junto aos objetivos da instituição (VERGARA, 2010). Este pertencimento gerado pelo sentimento de se sentir parte, quando bem internalizado pode alavancar e consolidar toda e qualquer organização, propiciando um ambiente de trabalho criativo e motivador, tornando os colaboradores corresponsáveis pelo sucesso da organização. A ausência desse sentimento, desse pertencer, propicia dentro da organização a criação de inúmeras missões, visões e valores pessoais, irreais e distantes dos organizacionais, perpassando uma imagem muito vaga e dissociada da realidade, do que vem a ser de fato e de direito a organização em si (Camelo e Silva, 2013, p.26). Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.12, Ago. - Dez. 2015 Para melhor servir, o funcionário precisa se sentir cliente. Funcionários satisfeitos estão mais propensos a falar muito bem da organização aonde quer que ele vá, indo muito além de suas atribuições. Compartilhar a visão, missão, valores, objetivos, metas, estruturas, tecnologias e estratégias estimulam, propiciam o comprometimento das pessoas, se isso não acontece, não há como compartilhar o desconhecido. Quando este compartilhamento são comunicados de forma clara, as pessoas sentem-se estimuladas a ter orgulho pelo que fazem, havendo, é claro, coerência entre as ações e os discursos, na atualidade mais do que nunca educar pelo exemplo é primordial. Se isso ocorre, o colaborador sente-se motivado a ofertar para a organização o seu melhor (LOBOS, 1996). 2.5 Motivação A motivação funciona como uma força, uma energia que move ao encontro de algo. Está dentro de cada um. Conhecer e aceitar que cada indivíduo possui vivências bastante diferenciadas, pode ser um dos requisitos fundamentais para que se entenda o processo motivacional inerente a cada contexto (VERGARA 2010). No campo da administração, o estudo da motivação tenta explicar as forças ou motivos que influenciam o desempenho das pessoas em situações de trabalho. Uma vez que o desempenho das pessoas no trabalho depende, em parte, de sua motivação, e o desempenho da organização depende do desempenho dessas pessoas, a compreensão desse processo é de grande importância na administração das organizações (MAXIMIANO, 2008, p.232). As empresas necessitam de pessoas motivadas, capazes de se comprometer com o alcance dos resultados preconizados. Saber lidar com as diferenças, criando um ambiente propício à motivação é papel de toda organização, contribuindo assim para que o sentir-se comprometido e reconhecido possa funcionar como agente ativador dessa motivação (LOBOS, 1996). Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.12, Ago. - Dez. 2015 Para Tamayo e Pachoal (2003), o conhecimento da motivação dentro do ambiente de trabalho é um tema de grande aceitação na literatura, o que talvez possa estar relacionado à íntima ligação da mesma com o desempenho individual e organizacional. Observa-se que o principal problema está entre o que move a organização para o logro de seus objetivos e os interesses do colaborador, posto que, aí, nem sempre se dá a confluência dos interesses. Um indivíduo motivado não faz apenas o que lhe é determinado, caminha bem mais além caso seja necessário, responsabilizando-se pelas possíveis transformações para que os objetivos passem a ser de fato concretizados (SENGE, 2001). Malik (1988) Com relação às organizações públicas a dificuldade existente com relação à motivação é ainda maior que nas demais, muito embora, na maioria das vezes, passe a ser conceituada como uma dificuldade intrínseca apenas de seus integrantes, excluindo a dependência com relação a diversos aspectos voltados ao desenvolvimento das tarefas ou de outros fatores que por ventura possam vir a interferir. Outro ponto relevante diz respeito à indefinição de sua função e de seus clientes, estabelecendo um entrave para o que se deseja alcançar, pois no geral, resumese o cliente como o povo, o produto como a prestação dos serviços e o negócio com o nome da organização (MONTEIRO, 1991). 2.6 Comunicação Comunicação, enquanto código comum de linguagem tem em seu processo de funcionamento a complexidade, no geral é nela que as empresas concentram suas maiores dificuldades. Há quem confunda comunicação com informação, informação por si só não gera aprendizado, ela carece de significados e dar-lhe significado é buscar conectar esta informação a outras informações gerando aprendizado, gerando conhecimento (VERGARA, 2010). Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.12, Ago. - Dez. 2015 Caracterizada pela troca de informações entre as pessoas, a comunicação, tem por objetivo fazer-se entender, utilizada para a realização das mais diversas tarefas, resolução de problemas, monitoramento e tomada de decisões. Uma comunicação organizacional eficiente depende sempre da forma como a mesma é direcionada aos indivíduos (BOWDITCH e BUONO, 2011). Se as pessoas da organização comunicam-se eficazmente, os processos organizacionais de comunicação tendem a ser eficazes também. Para isso deve os administradores organizacionais, além de promover o desenvolvimento das competências pessoais, devem também fazer as comunicações circularem em três direções: para cima, para baixo e para os lados (MAXIMIANO, 2008, p. 308). Las Casas (1999) elenca a “comunicação” como principal canal de relacionamento e interação organizacional, assim, precisa ser muito bem elaborada e estruturada, com flexibilidade e habilidade necessária, evitando sua burocratização. Caso contrário, o processo de transferência das informações exigirá um esforço bem maior de modo a evitar prováveis distorções. Uma comunicação falha, pode propiciar a organização em algumas situações, fantasiar um serviço que não existe, propondo algo que não é coerente e condizente com o que preconiza, repassando tanto para os clientes internos, quanto para os externos, a ideia ou promessa de algo que na verdade não se tem a mínima disposição ou intenção de cumprir, comprometendo assim, toda a organização (LOBOS, 1996). 2.7 Qualidade dos Serviços nas organizações públicas É nos guichês e nas filas das organizações públicas que diariamente os serviços são julgados, é a partir dele que se terá a boa ou má impressão da organização. As organizações podem ser extremamente ineficazes ou ineficientes, ou mesmo ambas concomitantes, incorrendo assim, na criação de problemas e não em suas resoluções. Tudo depende da forma como estas organizações são administradas (MAXIMIANO, 2008). O desempenho de uma organização reflete o desempenho de seus administradores. As pessoas que administram organizações, independente de Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.12, Ago. - Dez. 2015 sua estrutura, são responsáveis pela realização de objetivos e pela utilização adequada dos recursos. A eficiência, medida de utilização dos recursos e a eficácia, medida de realização dos objetivos, são dois critérios básicos para que se avalie o desempenho organizacional. Algumas organizações além de eficientes e eficazes precisam também ser competitivas, porque enfrentam outras organizações que perseguem os mesmos objetivos (MAXIMIANO, 2008, p. 72). Um serviço passa a ter significado quando atende as reais necessidades dos clientes, seja ele externo ou interno. Cumprindo essas determinações muitos erros poderão ser minimizados e ou até mesmos eliminados (NOGUEIRA, 1999). Assim sendo, a qualidade passa a ser interpretada como um conjunto de esforços sistematicamente praticados por todos os membros da organização – do estratégico ao operacional – com o firme propósito de gerenciar tanto as expectativas atuais quanto as futuras dos clientes. A empresa prestadora, na qual os funcionários são constantemente amáveis, gentis, acessíveis, bem informados, fazendo todo o possível para atender muito bem é certamente o sonho de consumo de muito cliente, no entanto, é evidente que, atrelado a isto deve estar a infraestrutura e demais serviços adequados, sendo imprescindível levar em conta o envolvimento de todos esses elementos (LOBOS, 1996). As atitudes e comportamentos dos funcionários encontram-se diretamente associadas à satisfação dos clientes. Considerar a qualidade nos serviços como uma filosofia de gestão é voltar-se constantemente para as necessidades advindas do cliente, utilizando para isso a prática contínua de aprimoramento de todos os processos organizacionais, tendo como características principais: o foco no cliente, melhoria contínua, mensuração dos resultados, o empoderamento e autonomia dos funcionários (ROBBINS, 2009). Na administração pública, a qualidade foi inserida como meio para se atingir o princípio da eficiência, tendo por finalidade servir de parâmetro de valorização da gestão. Um serviço de qualidade provoca satisfação e isso se reflete no reconhecimento do público ao servidor, servindo como elemento de influência e incentivo. Muitas vezes, este servidor, na linha de frente personifica a ineficiência, a incompetência e o descaso da organização para com o usuário, Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.12, Ago. - Dez. 2015 sendo constantemente responsabilizado pela falta de qualidade na prestação desses serviços, no entanto, este passa a ser apenas mais uma vítima de um sistema administrativo engessado, burocrático, sucateado e com vícios. Há a necessidade da implantação de um modelo que venha a beneficiar não apenas o cidadão, mas também o órgão em si, trazendo desenvolvimento, eficiência e eficácia, com o devido envolvimento de quem gerencia e atende (MONTEIRO, 1991). A identificação das fragilidades desses serviços pode ser lograda a partir da análise das aspirações dos contribuintes, demonstrando assim o comprometimento e a preocupação com a instituição. É visível que o setor público, em pleno século XXI, ainda caminha a passos lentos para a qualidade em serviços, oferecendo forte resistência às mudanças necessárias. Além de críticas, pouco se tem feito para sua otimização e modernização, constituindose assim, numa barreira ao desenvolvimento (DEMING, 1990). Karl Albrech (apud Rebelo, 1995) enfatiza que as instituições prestadoras de serviços, em sua grande maioria, têm a sua qualidade comprometida por alguns erros: (1) o apego às regras, evidenciado na burocratização cuja carência de maleabilidade dificulta todo o processo; (2) o passeio, quando no atendimento o cliente é encaminhado de um serviço a outro sem que seus problemas sejam de fato solucionados; (3) a frieza, representada pelo distanciamento, informalidade, tratamento impessoal; (4) a condescendência, com atitudes paternalistas e irresponsáveis que compromete o atendimento; (5) a apatia, evidenciado na falta de interesse com relação ao cliente; (6) na dispensa, quando a responsabilidade pelo atendimento ao cliente é repassada a outro e (7) no automatismo, com uma atuação em que o atendimento ao cliente é despersonalizado. Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.12, Ago. - Dez. 2015 3 METODOLOGIA A pesquisa pode ser definida quanto aos fins e quanto aos meios. Quanto aos fins esta pesquisa foi descritiva porque procurou no decorrer do processo descrever as percepções dos colaboradores do setor público de saúde acerca da missão, visão e valores institucionais da organização para qual trabalham. Quanto aos meios, bibliográfica e documental. Bibliográfica, porque para o embasamento teórico foram pesquisados diversos assuntos, tais como: missão, visão e valores institucionais; pertencimento; comunicação; motivação e qualidade dos serviços públicos. Documental, porque buscou nos sites das organizações públicas municipais de saúde informações documentadas referente ao tema em questão. O universo da pesquisa caracterizou-se pelo setor público de saúde, representado pelas secretarias municipais, responsável por administrar as políticas públicas referentes à Atenção Básica de Saúde, considerada porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS). O SUS é formado pelas Unidades de saúde da família, Maternidades, Policlínicas, Unidades de referências especializadas, entre outros, de modo a organizar sua gestão e acompanhamento,ofertando promoção, prevenção e reabilitação da saúde da população. A amostra foi representada por 17 secretarias de saúde dos municípios da Região Metropolitana do Recife. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2014) é a região mais populosa do nordeste brasileiro, com 3.867,917 habitantes. Considerada uma unidade organizacional, geoeconômica, social e cultural, formada pelos municípios de Abreu e Lima, Araçoiaba, Cabo de Santo Agostinho, Camaragibe, Escada, Goiana, Igarassu, Ipojuca, Itamaracá, Itapissuma, Jaboatão dos Guararapes, Moreno, Olinda, Paulista, Recife, São Lourenço da Mata e Serinhaém. A definição da amostra se deu pelo critério da acessibilidade, não perpassando por procedimentos estatísticos, em função da facilidade de acesso. Os dados foram coletados por meio de pesquisa em rede eletrônica, nos sites governamentais das respectivas secretarias municipais de saúde de cada município, de modo a alcançar subsídios necessários à sua interpretação. Tendo a organização dos dados estabelecida por categorias de análise, facilitando assim seu entendimento. Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.12, Ago. - Dez. 2015 4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Por meio do levantamento da missão, visão e valores institucionais buscou-se identificar a efetivação do seu compartilhamento para com os clientes. Foram pesquisadas 17 secretarias municipais de saúde da região metropolitana do Recife, representadas pelos seus respectivos municípios, organizadas por ordem alfabética e com numeração de 1 a 17 de modo a melhor facilitar a análise e entendimento dos dados, não tendo, portanto, a intenção de qualificar o nível das secretarias ou dos municípios. Na busca por facilitar o entendimento, foram organizadas por categorias de análise os seguintes dados: Tabela 1: Categorias de Análise CATEGORIAS DE ANÁLISE Definição cumprir do OBJETIVOS ESPECÍFICOS papel a Comprovar compartilhamento QUESTÕES o Qual a missão? Projeção futura Comprovar compartilhamento o Qual a visão? Princípios norteadores Comprovar compartilhamento o Quais os valores? O tratamento do material, segundo Bardin (2009) refere-se à codificação dos dados conforme regras precisas do texto, de modo a atingir uma melhor representação, de modo que esta transformação possa ser efetivada por recorte, enumeração ou agregação, fornecendo assim ao conteúdo, subsídios necessários à análise e interpretação. 4.1 Categorias de Análise Com o intuito de proporcionar uma melhor compreensão da análise dos resultados, foram organizadas as seguintes categorias de análise: Definição do papel a cumprir; Projeção futura; Identificação dos princípios norteadores. Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.12, Ago. - Dez. 2015 4.1.1 Definição do papel a cumprir Ao se pesquisar qual a missão, as informações obtidas foram: Quadro 1 Nº 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 MUNICÍPIO Abreu e Lima Araçoiaba Cabo de Stº Agostinho Camaragibe Escada Goiana Igarassu Ipojuca Itamaracá Itapissuma Jaboatão Guararapes Moreno Olinda Paulista Recife São Lourenço da Mata Serinhaém MISSÃO N. consta N. consta Implícita Explícita N. consta N. consta Implícita N. consta N. consta N. consta N. consta Implícita N. consta Explícita Implícita N. consta N. consta Legenda: Explícita= Quando a informação existe e há clareza nas informações; Implícita= quando a informação fica subentendida, subjetiva; N. consta= Quando não há informação referente ao tema. Com relação ao levantamento das informações referentes à Missão para o público externo, constatou-se que: Das 17 secretarias de saúde dos municípios da Região Metropolitana do Recife: Dois(2), têm sua missão declarada de forma explícita; Quatro (4).têm sua missão declarada de forma implícita; E em doze(11), nada consta, não há informação acerca do tema em questão. Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.12, Ago. - Dez. 2015 4.1.2 Projeção futura Ao se pesquisar qual a Visão, as informações obtidas foram: Quadro 2 Nº 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 MUNICÍPIOS Abreu e Lima Araçoiaba Cabo de Santo Agostinho Camaragibe Escada Goiana Igarassu Ipojuca Itamaracá Itapissuma Jaboatão dos Guararapes Moreno Olinda Paulista Recife São Lourenço da Mata Serinhaém VISÃO N. consta N. consta N. consta Implícita N. consta N. consta N. consta N. consta N. consta N. consta N. consta Implícita N. consta N. consta N. consta N. conta N. consta Legenda: Explícita= Quando a informação existe e há clareza nas informações; Implícita= quando a informação fica subentendida, subjetiva; N. consta= Quando não há informação referente ao tema. Com relação à visão: Dois(2), a tem de forma implícita; Quinze(15), nada constam, não há informação. Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.12, Ago. - Dez. 2015 4.1.3 Definição dos princípios norteadores Ao se pesquisar, quais os valores, as informações obtidas foram: Quadro 3 Nº 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 MUNICIPIO Abreu e Lima Araçoiaba Cabo de Stº Agostinho Camaragibe Escada Goiana Igarassu Ipojuca Itamaracá Itapissuma Jaboatão Guararapes Moreno Olinda Paulista Recife São Lourenço da Mata Serinhaém VALORES N. consta N. consta N. consta N. consta N. consta N. consta N. consta N. consta N. consta N. consta N. consta N. consta N. consta N. consta N. consta N. consta N. consta Legenda: Explícita= Quando a informação existe e há clareza nas informações; Implícita= quando a informação fica subentendida, subjetiva; N. consta= Quando não há informação referente ao tema. Com relação aos Valores: Em dezessete (17), nada consta, não há informação. Percebe-se pelos dados apresentados nos quadros 1, 2 e 3 que há pouca ou nenhuma informação referente a missão, visão e valores institucionais. Em grande parte dos municípios, as secretarias de saúde disponibilizam apenas informações referentes aos seus secretariados, atribuições, atividades e ou propagandas, não sendo possível retratar de forma efetiva o compartilhamento da missão, visão e os valores institucionais, seja para com os clientes externos, seja para com os clientes internos. É importante ressaltar que, o fato dessas informações não estarem disponíveis, não quer dizer, necessariamente, que elas não existam. Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.12, Ago. - Dez. 2015 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Conclui-se que, embora, a literatura contribua e enfatize a importância desses elementos acima referidos, como fatores relevantes à existência organizacional, na prática passam despercebidos e desconhecidos por boa parte dos funcionários e clientes, provocando com isso, diversos impactos. Ambos os públicos, interno e externo, sem acesso a estas informações, podem provavelmente encontrar dificuldade em assimilar e se apropriar corretamente dessa identidade organizacional. No caso específico dos funcionários, esta falta de conhecimento os faz projetarem, em suas ações e hábitos no trabalho, Missão, Visão e Valores de ordem pessoal, ao invés de introjetarem os da organização. Transmitem, assim, uma imagem irreal, distante e dissociada da organização para qual trabalham, acolhendo o cliente sem um parâmetro ou referencial organizacional. É nesse contexto que “missão, visão e valores institucionais” se afirmam como elementos da mais alta relevância e que podem, quando bem trabalhados, servir de estímulo, de motivação extra. De resto, considere-se ainda que tais elementos já existem, não precisam ser criados. Toda organização ao nascer traz consigo um objetivo, baseado numa demanda social que busca atender, este objetivo representa sua missão, sua razão de ser. Onde a organização deseja chegar a curto, médio e longo prazo, representa a sua visão, a sua ideia de futuro, e finalmente, a maneira singular segundo a qual, a missão e a visão são operacionalizadas por meio de condutas e atitudes, representa seus valores, seus princípios. A pesquisa evidenciou que esses conhecimentos, mais das vezes, não são compartilhados. Este fato já havia sido constatado em 2013, quando o objeto da pesquisa foi o cliente interno destes serviços (no caso os funcionários), evidenciando-se claramente que no dia-a-dia do processo de trabalho, a missão, a visão e os valores transmitidos são unicamente aqueles inerentes à visão pessoal de cada funcionário, deixando o cliente desses serviços e a organização a mercê das mais diversas interpretações e atuações. Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.12, Ago. - Dez. 2015 Provavelmente os inúmeros casos de reclamações e denúncias tentem chamar atenção para o fato da falta de preparo e cuidado, tão comum infelizmente, em muitos desses serviços. Não é difícil ou impossível tentar colocar em prática um padrão de atendimento atrelado a uma missão, visão e valores institucionais. Quando expostos de forma clara e coerente, a possibilidade de se internalizar o sentimento de pertencimento entre os colaboradores traduz-se numa perspectiva bastante otimista. Nos parece plausível afirmar que é impossível falar bem de algo que não se conhece, que não é bem assimilado, que não deixa claro a que veio e aonde se quer chegar. É preciso desconstruir uma prática muito comum nos serviços públicos, que é a de que ninguém sabe de nada, quem sabe não se responsabiliza e quando se responsabiliza, faltam-lhes recursos para agir. É preciso, enfim, desconstruir esta imagem negativa e tendenciosa. A existência e divulgação da missão, visão e valores institucionais, coerente com os objetivos e estratégias organizacionais pode, certamente, possibilitar mudanças neste cenário, provocando melhorias e valorização, propiciando o fortalecimento da imagem da organização e qualidade dos serviços no setor público, seja, na área da saúde, na educação, ou outras, enfim. Percebe-se que são poucos os trabalhos referentes a essa temática específica. Este campo está certamente carente de novos aprofundamentos e pesquisas que possam subsidiar conhecimentos uteis na criação de importantes mecanismos de aperfeiçoamento e melhoria da qualidade dos serviços. Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.12, Ago. - Dez. 2015 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Portugal, Lisboa: Edições 70, LDA, 2009 BOWDITCH, James L.; BUONO, Anthony F. Elementos do comportamento organizacional. São Paulo: Cengage Learnig, 2011. CAMELO, Maria Amélia Barbosa; SILVA, Miriam Maria da Florencio da. Missão, visão e valores institucionais no cotidiano das organizações. Recife: FSH, 2013. DEMING, W. Edwards. Qualidade: a revolução da administração. Rio de janeiro: Saraiva, 1990. DRUCKER, Peter. Desafios Gerenciais para o Século XXI. 3ª reimpr. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. JCONLINE. 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