Relatórios 2006 - Universidade Federal do Paraná
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Relatórios 2006 - Universidade Federal do Paraná
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA E CONSERVAÇÃO ECOLOGIA E CONSERVAÇÃO DA FLORESTA ATLÂNTICA NA RESERVA NATURAL SALTO MORATO: Relatório da disciplina Ecologia de Campo - 2006 APRESENTAÇÃO Dentro da formação do Ecólogo, o treinamento em atividades de pesquisa em campo é fundamental para a solidificação dos conceitos. A percepção do ecossistema como palco para a ação dos processos evolutivos é uma habilidade em geral pouco desenvolvida no estudante recém-formado e que, portanto, precisa ser aprimorada através de atividades de aproximação e vivência de tal situação. Da mesma forma, os conceitos ecológicos teóricos somente podem ser percebidos e testados se aplicados aos mais variados sistemas naturais. Somente desta maneira é possível se prever efeitos da ação antrópica e propor planos de conservação e manejo. A disciplina Ecologia de Campo do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação da Universidade Federal do Paraná foi concebida com o intuito de atender a estas expectativas. Durante 15 dias são desenvolvidas atividades de planejamento de campo e desenho experimental, definição de métodos de amostragem e análise de dados e prática em comunicação científica (oral e escrita). O método de trabalho consiste no desenvolvimento de projetos orientados, projetos livres e projetos individuais, sob a orientação de um corpo de professores de diferentes áreas de atuação dentro da ecologia. A disciplina é desenvolvida na Reserva Natural Salto Morato, de propriedade da Fundação O Boticário de Proteção à Natureza, instituição esta que oferece um importante apoio logístico para este curso. O cenário á a Floresta Atlântica, um dos biomas mais importantes em termos de conservação no mundo, justamente por apresentar alguns dos maiores valores de biodiversidade e sofrer as maiores ameaças devido à ação do homem. Neste ano de 2006, a disciplina contou com a participação de 15 estudantes e 7 professores. O resultado das atividades é aqui apresentado na forma de 39 relatórios de pesquisa, sendo 24 projetos orientados e livres e 15 projetos individuais. Embora os projetos em geral consistam de trabalhos preliminares, em função da exigüidade de tempo em que foram desenvolvidos (os projetos orientados e livres são desenvolvidos ao longo de um dia e os projetos individuais, ao longo de três dias), são importantes instrumentos para orientar futuros estudos na Reserva e eventualmente auxiliar no manejo da unidade. Guaraqueçaba, 16 a 31 de outubro de 2006. Márcia C. M. Marques Coordenadora da Disciplina Ecologia de Campo 2 LISTA DE PARTICIPANTES Alunos Instituição Ana Luiza Gandara Martins PPGECO/UFPR André Magnani Xavier de Lima PPGECO/UFPR Augusto Lisboa Martins Rosa UFMS Cibele Munhoz Amato PPGECO/UFPR Cristiane Hiert PPGECO/UFPR Denilson Roberto Jungles de Carvalho PPGECO/UFPR Fábio Bertolini Gonçalves PPGECO/UFPR Gabriela de Menezes Cortellete PPGECO/UFPR Kelly Dayane Aguiar PPGECO/UFPR Manuela Dreyer da Silva PPGECO/UFPR Marco Aurélio Bregenski PPGECO/UFPR Michel Varajão Garey PPGECO/UFPR Paloma Kachel Gusso PPGECO/UFPR Rafael Eduardo Serathiuk PPGECO/UFPR Renata Ribas Zacarias PPGECO/UFPR Professores Instituição Eduardo Arcoverde Mattos UFRJ Fernando Passos PPGECO/UFPR James Joseph Roper PPGECO/UFPR Márcia Cristina Mendes Marques PPGECO/UFPR Marco Antônio Batalha UFSCar Marília Terezinha Hartmann PPGECO/UFPR Maurício Moura PPGECO/UNICENTRO 3 ÍNDICE Projetos orientados e livres MORFOLOGIA DE AVES DEFINE GUILDAS? página 6 IMPLICAÇÕES DOS PADRÕES DE COLORAÇÃO DE FOLHAS JOVENS NA TAXA DE HERBIVORIA DE PLANTAS LENHOSAS DE SUB-BOSQUE DA MATA ATLÂNTICA 9 A TEORIA DE BIOGEOGRAFIA DE ILHAS SE APLICA À FAUNA BROMÉLIAS EM ÁREAS ABERTAS? 12 DENSIDADE DE FLORES E SUA INFLUÊNCIA NA TAXA DE VISITAÇÃO DE Heliconia vellosiana POR BEIJA-FLORES 15 ALOCAÇÃO DE RECURSOS EM Miconia cinerascens Miq.var. robusta 18 O CANTO DE Dendropsophus berthalutzae INDICA CARACTERÍSTICAS DO MACHO? 22 DEPENDÊNCIA DE DIVERSIDADE E HERBIVORIA EM Marlierea tomentosa 25 A HETEROGENEIDADE ESPACIAL ESTRUTURA A COMUNIDADE DE PEIXES? 28 DIVERSIDADE DE ANFÍBIOS ANUROS EM TRÊS AMBIENTES DIFERENTES DA MATA ATLÂNTICA 32 DIVERSIDADE FUNCIONAL DE ESPÉCIES ARBÓREAS EM CAPOEIRA E CAPOEIRINHA 37 EFEITO DE BORDA NA MORFOFISIOLOGIA DE MICONIA CINERASCENS 41 SÍNDROMES DE DISPERSÃO DE ESPÉCIES ARBÓREAS DE CAPOEIRA E CAPOEIRINHA NA MATA ATLÂNTICA 45 COMPARAÇÃO DE EFICIÊNCIA DA CAPTURA POR TEIAS DE ARANHAS EM FLORESTA OMBRÓFILA DENSA 49 ABUNDÂNCIA DE GIRINOS E SUA INTERAÇÃO COM FATORES BIÓTICOS E ABIÓTICOS 53 ESTRATÉGIAS DE ESTABELECIMENTO DE PLANTAS EM UM GRADIENTE ALUVIAL 56 O AMBIENTE INFLUENCIA NA DISTRIBUIÇÃO DAS ESPÉCIES DE ANFÍBIOS ANUROS? 60 DIVERSIDADE TAXONÔMICA EM DIFERENTES ESTÁDIOS SUCESSIONAIS DE FLORESTA PLUVIAL DE MATA ATLÂNTICA 64 ESTUDO PRELIMINAR DA FAUNA DE QUIROPTEROS DA RESERVA NATURAL DE SALTO MORATO 69 RIQUEZA DE MACROINVERTEBRADOS ASSOCIADA A DIFERENTES DENSIDADES DE Brachiaria spp. EM UM TRECHO DO RIO MORATO 73 SIMILARIDADE DE ESPÉCIES ARBÓREAS ENTRE ESTRATOS FLORESTAIS EM DOIS ESTÁDIOS SUCESSIONAIS 77 ESTÁDIOS SUCESSIONAIS INICIAIS EM FLORESTAS TROPICAIS APRESENTAM 4 PLANTAS COM MAIORES TAXAS DE CRESCIMENTO? 80 A DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DE ANUROS É PRODUTO DE COMPETIÇÃO? 84 A PARTILHA DE RECURSOS OCORRE ENTRE ESPÉCIES DE TYRANNIDAE COM O MESMO NICHO APARENTE? 88 O IMPACTO DE MATERIAL ALÓCTONE NA ESTRATÉGIA DE FORRAGEIO DE CHARACIFORMES 92 Projetos individuais COMPARAÇÃO ENTRE O INDÍCE DE DIVERSIDADE TAXONÔMICA E DE SHANNONWIENER PARA UM GRADIENTE DE FLORESTA OMBRÓFILA DENSA 95 RIQUEZA E ABUNDÂNCIA DA MACROINVERTEBRADOS TERRESTRES EM UM GRADIENTE DA FLORESTA ATLÂNTICA 100 MUDANÇAS DE CONDUTA EM PASSERIFORMES (AVES) COMO EFEITO SECUNDÁRIO DE TÉCNICAS DE CAPTURA 104 A INFLUÊNCIA DO GRADIENTE LONGITUDINAL NA ASSEMBLÉIA DE PEIXES DO RIO MORATO, GUARAQUEÇABA – PR 111 COMPARAÇÃO DO CUIDADO PARENTAL ENTRE AVES DE SUB-BOSQUE DA FLORESTA ATLÂNTICA, GUARAQUEÇABA, PARANÁ 116 CARACTERIZAÇÃO DAS CONDIÇÕES ECOLÓGICAS DO RIO MORATO, UTILIZANDO GRUPOS DE ALIMENTAÇÃO FUNCIONAL DE MACROINVERTEBRADOS 120 EFICIÊNCIA DA CAPTURA DE PRESAS POR ARANHAS TECEDORAS DA MATA ATLÂNTICA 126 A VOCALIZAÇÃO É DETERMINANTE NA PREDAÇÃO DE ANUROS? 130 EFEITO DE BORDA SOBRE A PREDAÇÃO DE LARVAS ARTIFICIAIS 134 AVALIAÇÃO DE COMUNIDADES DE FORMIGAS DA MATA ATLÂNTICA EM UM GRADIENTE DE ALTERAÇÃO ANTRÓPICA 138 HERBIVORIA EM Cecropia sp E SUA RELAÇÃO COM A PRESENÇA DE FORMIGAS, NA RESERVA NATURAL SALTO MORATO 143 EXISTE SUBSTITUIÇÃO DA ICTIOFAUNA AO LONGO DE UM GRADIENTE ANTRÓPICO? 147 EXISTE VARIAÇÃO ESTRUTURAL E FLORÍSTICA EM UM GRADIENTE DE UMIDADE DO SOLO DA FLORESTA ATLÂNTICA? 153 ESTRATÉGIAS DE FORRAGEAMENTO DE Thalurania glaucopis: EXPERIMENTAÇÃO COM DIFERENTES CONCENTRAÇÕES DE AÇÚCAR 157 COBERTURA DE DOSSEL INFLUENCIA A INVASÃO DE Musa rosacea? 161 5 MORFOLOGIA DE AVES DEFINE GUILDAS? Augusto Lisboa Martins Rosa, Cibele Munhoz Amato, Gabriela de Menezes Cortellete & Manuela Dreyer da Silva Projeto Orientado – Prof. James Roper Resumo A morfologia pode indicar características associadas ao modo de vida dos animais – a guilda. Estas características podem ser utilizadas para testar vários aspectos das relações entre membros das mesmas comunidades, como a estrutura da comunidade influenciada por competição exclusiva.. Os aspectos que melhor deveriam indicar o nicho seriam as características associadas à locomoção e à forma alimentar. Essa possibilidade foi testada com dados de capturas de várias espécies de aves por meio de análises de correlação. Com esses dados foram definidas guildas e grupos de espécies, suportando a possibilidade de uso dessas medidas para o estudo de composição de comunidades. Palavras-chave: análise de fatores, guilda, interações comunitárias, morfometria. Introdução Uma forma de se estimar a diferenciação do nicho dentro de um grupo é utilizar a morfologia das espécies como um indicador de seus papéis ecológicos, onde diferenças estruturais entre espécies aparentadas revelam diferentes caminhos de vida (Ricklefs 1993). Esta idéia sugere que guildas determinam a morfologia das espécies tanto quanto a morfologia está associada com a definição de guildas. Assim, e com a proposta competição entre espécies mais próximas, esperamos ver, em comunidades naturais, aproximação de espécies com relação às guildas, porque espécies mais comuns devem concorrer mais pelos mesmos recursos. Este conceito de guildas pode fornecer um meio para entender processos evolutivos como competição exclusiva, entre outros. Uma feição comum existente dentro de uma mesma guilda, que aparentemente segrega ao longo de uma única dimensão de recurso, é que as espécies adjacentes tendem a exibir diferenças regulares no tamanho do corpo ou no tamanho das estruturas de alimentação (Begon, 2006). As relações de características morfométricas com características de nicho de uma comunidade podem ser representadas por meio de um gráfico, onde os eixos são as dimensões morfológicas. O volume ocupado pelo espaço morfológico corresponde à variedade de papéis ecológicos representados pelas espécies (Ricklefs, 1993). Aqui foi analisada a morfologia de um grupo de aves para testar se morfologia indica a formação de guildas e se pode definir outros aspectos de composição das comunidades. 6 Métodos Aves foram capturadas por redes ornitológicas de malha 30mm e de 28mm. Cada indivíduo foi medido, e variáveis associadas ao modo de vida foram analisadas, incluindo comprimento do bico , largura do bico , espessura do bico , comprimento do cúlmen do bico , comprimento da asa , comprimento da cauda , comprimento do metatarso e peso. Para a definição de guildas por meio de características morfométricas foram realizados testes de correlação, análise de componentes principais e de fatores, visando determinar qual o tratamento estatístico ofereceria a melhor visualização das guildas. A rotação de fatores gerados pela análise de fatores foi o método que possibilitou uma melhor explicação da variabilidade das variáveis. Resultados A correlação das medidas morfológicas permitiu a formação de três novas variáveis, que explicaram mais de 90% da variabilidade das variáveis originais. O primeiro fator é explicado principalmente por características relacionadas ao tamanho (metatarso, peso, cauda, asa, espessura do bico). O segundo fator foi mais influenciado por comprimento do bico, e o terceiro por largura do bico. A plotagem dos fatores em três dimensões ilustra bem a separação das espécies em guildas (Fig. 1). Figura 1. Fatores das morfologias, demonstrando a separação das guildas (indicadas pelos círculos). Discussão É possível interpretar os eixos da análise de fatores como indicadores de guildas. O primeiro eixo, associado com tamanho, também indica forma do bico e asas. Desde que as espécies incluídas nesta análise variam pouco em relação ao tamanho, podemos interpretar este eixo como uma combinação entre dieta e a procura do alimento. O segundo e o terceiro eixo refinam a identificação do modo alimentar, caracterizado pela base do bico. Com estes dados, foram definidos uma guilda alimentar, um grupo 7 representado por uma espécie e pontos dispersos, que também sugerem guildas, mas que não tiveram melhor definição em função da necessidade de maior amostragem para melhorar sua consistência. A guilda de beija-flor (Trochilidae) foi definida pelo maior comprimento relativo do bico que está relacionado com sua alimentação nectarívora. O grupo de Furnarius rufus foi identificado por características referentes ao maior tamanho dos indivíduos e a forma do bico, mas estas não são suficientes para definir a guilda insetívora da qual essas aves fazem parte. O formato do bico de F. rufus também é influenciado pelo fato de ser uma ferramenta de construção de ninhos, o que pode implicar em uma forma um pouco diferente de bicos de outros insetívoros ou onívoros. Os pontos dispersos se referem a espécies com poucos indivíduos e por isso a dificuldade de visualizar outras guildas. Entretanto, pela posição de várias espécies, podem ser identificados outros grupamentos, tal como a guilda das andorinhas (Tachycineta leucorrhoa). Essa espécie insetívora faz a coleta de suas presas voando, enquanto muitos outros insetívoros procuram insetos sobre substratos. Este agrupamento de quatro andorinhas sugere que a inclusão de outras espécies, por exemplo o saí-andorinha (Tersina viridis), que apresenta o mesmo modo de vida, deve ser agrupado nessa região do gráfico. Em uma regressão de tamanho e (como era), podemos ver também especialização em guildas pelos resíduos (Fig. 2). Demonstrou-se que morfologia pode ser usada para determinar guildas. A despeito da possibilidade de uso dessas medidas para a identificação de processos evolutivos e ecológicos, esta relação tem sido pouco utilizada em estudos de composição de comunidades de qualquer taxa. Referências Bibliográficas Begon, M.; Townsend, C. R. & Harper, J. L. 2006. Ecology: from individuals to ecosystems. Blakwell Publishing, Oxford. Ricklefs, R. E. 1993. A economia da natureza. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro. 8 IMPLICAÇÕES DOS PADRÕES DE COLORAÇÃO DE FOLHAS JOVENS NA TAXA DE HERBIVORIA DE PLANTAS LENHOSAS DE SUB-BOSQUE DA MATA ATLÂNTICA Augusto Lisboa Martins Rosa, Cibele Munhoz Amato, Gabriela de Menezes Cortellete, Manuela Dreyer da Silva Projeto orientado – Prof.: Eduardo Arcoverde Mattos Resumo As plantas apresentam diferentes estratégias para minimizar os efeitos da herbivoria. Nesse estudo sugere-se que o padrão de coloração de folhas jovens pode estar relacionado com essas estratégias. Analisou-se se há diferenças morfológicas e fisiológicas entre espécies de plantas com folhas jovens avermelhadas ou verdes, e a relação desses padrões com a herbivoria. Não foram observadas diferenças morfológicas. No entanto, as espécies com folhas jovens vermelhas apresentavam um menor investimento no aparato fotossintético do que as espécies de folhas verdes. Sugerimos que folhas jovens vermelhas apesar de apresentarem um grau de herbivoria similar às folhas jovens verdes, minimizam a perda de nutrientes durante o desenvolvimento foliar. Palavras-chave: Estratégias de escape, herbivoria; padrão foliar de coloração; taxa fotossintética. Introdução Os herbívoros consomem, em média, 10 a 20% da produção primária bruta anual de ecossistemas terrestres. O impacto da herbivoria no desempenho das plantas depende da fenologia, da parte da planta atacada e sua idade, da intensidade de predação e da freqüência. As respostas das plantas aos danos causados pela herbivoria são bastante variáveis. A redistribuição de compostos fotossintéticos da produção de novas folhas para outras estruturas pode ser uma das formas de compensação encontrada por espécies vegetais para diminuir o prejuízo causado pela herbivoria (Crawley, 1997). A fotossíntese é fundamental para o funcionamento das plantas, provendo a estrutura e a energia necessária à formação de biomassa e para a síntese de uma grande gama de produtos utilizados pelas espécies vegetais em seu metabolismo. Apesar das plantas não variarem muito nos mecanismos básicos utilizados na fotossíntese, elas diferem radicalmente nas formas de aquisição de recursos necessários para o processo. Essas diferenças podem existir entre as plantas e entre a distribuição e o estágio de maturação de suas folhas. e em função de variações em fatores ambientais no curto e no longo prazo (Larcher, 2000). Considerando que folhas com altas taxas fotossintéticas geralmente têm altos níveis de conteúdo protéico, a capacidade fotossintética das plantas pode estar diretamente relacionada às taxas de herbivoria. A qualidade nutricional e a digestibilidade dos alimentos vegetais são críticos para os herbívoros. Os herbívoros normalmente selecionam alimentos vegetais de acordo com seu conteúdo nutricional, 9 escolhendo freqüentemente folhas jovens e flores, devido ao seu baixo conteúdo de celulose (Ricklefs, 1993). Tendo em vista que diferenças nos padrões de coloração das folhas jovens podem implicar em diferenciações atreladas ao desenvolvimento de estratégias de redução de investimento energético, o presente estudo teve como objetivo verificar se há diferenças morfológicas e fisiológicas entre espécies de plantas com folhas jovens avermelhadas e folhas jovens verdes e se há relação entre esses padrões de coloração com a pressão de herbivoria. Material e métodos O estudo foi realizado em um trecho de Floresta Ombrófila Densa, localizado na RPPN Reserva Natural do Salto Morato, com 2340 hectares, município de Guaraqueçaba, Paraná. Foram coletados dois ramos de seis espécies que apresentavam folhas jovens verdes e de seis espécies com folhas jovens avermelhadas. Estudamos plantas lenhosas de sub-bosque localizadas na trilha do Salto, mata caracterizada como de estádio primário alterado. De cada ramo foi retirado aleatoriamente uma folha ou folíolo (no caso de folhas compostas) jovem e outra adulta, a partir das quais foram feitos moldes, desenhados em folha sulfite. Os moldes foram desenhados pelo contorno da folha, quando apresentavam áreas com herbivoria o contorno original foi mantido para se estimar a taxa de herbivoria. A diferença entre os pesos dos moldes, sem e com herbivoria, indicou a proporção de folha consumida, ou seja, uma estimativa da herbivoria. A área foliar (cm2) foi estimada por meio de uma relação linear entre moldes de área conhecida (4cm2, 16cm2 e 100cm2) e suas massas. As folhas foram secas em estufa, e então pesadas. Considerando os dados do peso seco de cada folha e a estimativa da área foliar, foi calculada a massa foliar por unidade de área (MFA, g.m-2). Cálculos efetuados para comparar o estágio de desenvolvimento das folhas Para estimar o potencial fotossintético de cada espécie foram medidas a fluorescência basal (Fo) e a florescência máxima (Fm) de folhas jovens e adultas de ambos os grupos. Foram calculadas, então, a razão entre as medidas de Fo das folhas verdes e avermelhadas e as maduras, e a fluorescência variável (Fv) de cada folha (Fv = Fm – Fo). Para a medida do potencial fotossintético das folhas (Fo e Fm) foi utilizado um Fluorômetro (FMS2, Hansatech, UK). Para a comparação entre o estádio de desenvolvimento foliar entre os dois grupos foi utilizada a razão da área foliar entre e a razão das medidas de MFA de adultos e jovens. Para comparação das características morfológicas (Área Foliar; MFA) e fisiológicas (Fo e Fv) entre as folhas jovens e maduras e entre os grupos de espécies com folhas jovens verdes e com folhas jovens avermelhadas foi utilizado teste-t de Student. Para analisar a relação dessas características com a taxa de herbivoria nos dois grupos foi utilizado correlação de Pearson. Considerou-se, para esses testes, um alfa de 5%. 10 Resultados Não foi encontrada diferença entre as espécies de folhas jovens verdes e avermelhadas para área foliar, quando comparadas às medidas das folhas adultas (t0,05;10=0,48; p>0,05). Também não foram encontradas diferenças entre os grupos quando comparadas as medidas de MFA dos adultos (t0,05;10=1,74; p>0,05) e os valores de Fv dos adultos (t0,05;10=0,48; p>0,05). Já para a razão do Fo entre as folhas maduras e jovens da mesma espécie foi verificada diferença na comparação deste índice entre os grupos (t0,05;10=2,35; p<0,05). Não foram encontradas diferenças entre os grupos quando comparadas a razão da área foliar entre adultos e jovens (t0,05;10=0,97; p>0,05) e a razão entre as medidas de MFA de adultos e jovens (t0,05;10=0,48; p>0,05). A herbivoria de folhas maduras e jovens dos dois grupos foi similar (t0,05;10=0,56; p>0,05) (t0,05;10=1,42; p>0,05) respectivamente. Não foi verificada correlação entre as taxas de hervivoria das folhas adultas dos dois grupos com a área foliar (r=-0,12; p>0,05); com MFA (r=-0,07; p>0,05) e com Fv (r=-0,57; p>0,05). Discussão As plantas podem apresentar diferentes síndromes de proteção à herbivoria. A síndrome de escape consiste no desenvolvimento de estratégias que minimizem o impacto do ataque por meio da diferenciação na alocação de recursos voltados ao crescimento vegetativo. A diferença encontrada na fluorescência basal (Fo) entre as folhas jovens verdes e avermelhadas corrobora a hipótese de que as folhas jovens avermelhadas apresentam um retardo no desenvolvimento do aparato fotossintético, podendo indicar o desenvolvimento da síndrome de escape. Apesar de não ter sido encontrada relação entre o padrão de coloração das folhas jovens com o grau de herbivoria e características morfológicas foliares, a estratégia de atraso de desenvolvimento no aparato fotossintético pode ocorrer para minimizar as perdas causadas por herbivoria, considerando que esse retardo acarreta em menor investimento energético por parte da planta na fase mais suscetível à predação nesses tecidos. Agradecimentos: Agradecemos ao Prof. Eduardo Arcoverde pelo auxílio na coleta de dados e discussões. Referências bibliográficas Crawley, M. J. 1997. Plant ecology. Blackwell Science, Londres. Ricklefs, R. E. 1993. A economia da natureza. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro. Larcher, W. 2000. Ecofisiologia Vegetal. RiMa Artes e Textos, São Carlos. 11 A TEORIA DE BIOGEOGRAFIA DE ILHAS SE APLICA À FAUNA BROMÉLIAS EM ÁREAS ABERTAS? Augusto Lisboa Martins Rosa, Cibele Munhoz Amato, Gabriela de Menezes Cortellete & Manuela Dreyer da Silva Projeto Livre Resumo A teoria de biogeografia de ilhas propõe que o número de espécies é resultado de equilíbrio dinâmico entre taxa de imigração e de extinção na ilha. A riqueza seria positivamente relacionada com a área e negativamente com distância até a fonte. O trabalho avaliou se riqueza de espécies em bromélias depende do tamanho e distância. Foi observada relação positiva entre volume da bromélia e riqueza. A distância das bromélias à fonte não demonstrou relação com o número de espécies. Palavras-chave: Biogeografia de Ilhas; bromélia; riqueza de espécies. Introdução A teoria de biogeografia de ilhas de baseia-se em um modelo que estabelece que o número de espécies nas ilhas equilibra os processos regionais que governam a imigração, contra os processos locais que governam a extinção. O modelo propõe que o número de espécies presentes numa ilha é o resultado de um equilíbrio dinâmico entre a taxa de imigração de espécies novas à ilha e a taxa de extinção das espécies já presentes (MacArthur & Wilson, 1967). A partir destas correlações de imigração e extinção, o modelo prediz que o valor constante de equilíbrio seria positivamente correlacionado com a área da ilha e negativamente correlacionado com a distância entre a ilha e a área fonte. Sendo assim, o ponto do equilíbrio biótico dependerá do tamanho da ilha e de sua distância até a fonte de colonizadores (MacArthur & Wilson, 1967). As bromélias (Bromeliaceae) têm suas folhas arranjadas em uma roseta, com abertura na parte interior central da base das folhas formando um tanque, ou copo, que coleta e armazena água e restos orgânicos (Ricklefs, 1993). Considerando as bromélias “tanque” como ilhas pelo relativo isolamento a animais a que estão sujeitas em áreas abertas, estas poderiam seguir os princípios da teoria de MacArthur & Wilson (1967). A proposta deste trabalho foi testar se a riqueza de espécies encontradas nas bromélias varia de acordo com o seu tamanho (volume do copo) e sua distância da área fonte. 12 Material e métodos O presente estudo foi desenvolvido em uma área de pastagem localizada no entorno imediato da Reserva Natural do Salto Morato. Foram sorteadas aleatoriamente 10 árvores com diferentes tamanhos de bromélia, sendo que em cada uma delas foi coletada a bromélia mais basal, que foi armazenada em um recipiente plástico. Foi medida a distância (m) de cada bromélia até a borda da área fonte, considerada a área de mata mais próxima das árvores. No laboratório foram medidas a altura e o diâmetro de cada bromélia, para cálculo do volume na base nas flores (cm3), área de reserva de água formada pela imbricação das rosetas. As espécies possíveis de serem identificadas macroscopicamente (mínimo de 2,0mm) foram coletadas de cada bromélia, após lavagem de suas folhas e análise da água armazenada na planta. Para testar a relação da riqueza de espécies com a distância das bromélias à área fonte e com seu tamanho (volume) foi utilizada regressão linear, com alfa de 5%. Resultados Foi observada uma relação positiva entre o tamanho da bromélia (volume do copo) e a riqueza de espécies (r2=0,68; F=14,71; p<0,05) (Fig. 1). A distância das bromélias à área fonte não demonstrou relação com o número de morfo-espécies encontradas (r=0,05; p>0,05). Log Volume(cm (cm 3) 3) Figura 1. Relação entre riqueza de log do volume (cm3) de bromélias. Discussão Segundo a teoria da biogeografia de ilhas, a riqueza de uma ilha é a resultante da interação das forças impostas pela área e pelo isolamento. No experimento realizado, houve relação entre o tamanho da 13 ilha e sua riqueza, mas a independência entre o isolamento e a riqueza, indica que a teoria não se aplica às bromélias nesta situação. A relação espécie-área encontrada pode ser resultado tanto da diversidade de habitats quanto do tamanho da área per se, enquanto que a ausência de relação entre distância da área fonte e a riqueza pode ser devido a outros fatores que não apenas as taxas de imigração e extinção dessas “ilhas”. Entre esses fatores podem ser consideradas a idade da bromélia e a indefinição de qual a escala adequada para considerar a bromélia realmente uma ilha. Além disso, a comunidade da fonte não foi avaliada, foi assumido que a fonte era a floresta. Se existirem, porém, espécies exclusivas de áreas abertas, a premissa de floresta agindo como fonte poderia não se aplicar para essas espécies. Também não foi avaliado o histórico da área de estudo ignorando se o tempo de isolamento das bromélias seria realmente suficiente para que houvesse mudanças na estrutura da comunidade. Referências bibliográficas Mac Arthur, R. H. & Wilson, E. O. 1967. The Theory of Island Biogeography. Princeton, Princeton Univ. Press. Ricklefs, R. E. 1993. A economia da natureza. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro. 14 DENSIDADE DE FLORES E SUA INFLUÊNCIA NA TAXA DE VISITAÇÃO DE Heliconia vellosiana POR BEIJA-FLORES Augusto Lisboa Martins Rosa, Cibele Munhoz Amato, Gabriela de Menezes Cortellete & Manuela Dreyer da Silva Projeto Livre Resumo A polinização é um processo simbiótico no qual as plantas oferecem néctar, pólen ou ambos para os polinizadores que transportam seu pólen. O presente estudo teve como objetivo testar a importância de densidade de flores para as visitações de beija-flores nas inflorescências de Heliconia vellosiana. Foi observado que a taxa de visitação é independente da densidade de agrupamento. As diferentes densidades de inflorescências também não demonstraram relação com o número de morfo-espécies de beija-flor (taxa de visitação x espécies). Sugerimos que outras interações, potencialmente comportamentais, entre as beija-flores podem interferir no forrageamento das espécies, limitando elas e reduzindo ou eliminando a importância de densidade. Experimentos controlando densidade são recomendados. Palavras-chave: polinização; beija-flores; Heliconia vellosiana Introdução A polinização é um processo simbiótico no qual as plantas oferecem néctar, pólen ou ambos para os agentes polinizadores que transportam seu pólen. A evolução da especialização das flores envolvendo os animais polinizadores é favorecida, visto que o animal precisa reconhecer e discriminar as diferentes flores, transportando assim, o pólen para indivíduos da mesma espécie (Begon et al. 2006).A maioria das aves, assim como os beija-flores tem alta sensibilidade à cor vermelha que é invisível aos insetos polinizadores, dessa maneira as plantas com flores vermelhas podem favorecer a ornitofilia (Faegri & Pijl, 1979). Os beija-flores são territorialistas e um dos pré-requisitos para a escolha de uma área para defesa é a ocorrência concentrada de flores com muito néctar, tanto que eles realizam migrações para áreas com maior concentração de flores, especialmente em períodos reprodutivos. Esse comportamento reflete uma alta necessidade de energia para o vôo e para pairar no ar (Faegri & Pijl, 1979). O presente estudo teve como objetivo testar se o agrupamento de inflorescências de Heliconia vellosiana afeta o número de visitações de beija-flores por inflorescência. A pesquisa foi realizado para testar se existe uma a relação entre número de inflorescências e a taxa de visitação, que demonstraria a falta de interações entre as espécies de beija-flores. 15 Material e métodos Esta pesquisa foi desenvolvida na Reserva Natural do Salto Morato, no estado de Paraná, Brasil, em uma área de Floresta Ombrófila Densa. Esta floresta tem muitas áreas com agrupamentos da espécie Heliconia vellosiana, que é frequentemente visitada por uma variedade de beija-flores. Foram selecionados quatro pontos focais ao longo da Trilha do Salto, com diferentes tamanhos de grupos de plantas de Heliconia vellosiana, visando amostrar um gradiente de densidade de inflorescências. Em cada um desses pontos focais foram contados o número de inflorescências, o número de visitas do beija-flor à área e a morfo-espécie do beija-flor, com um esforço amostral de três horas em cada ponto. Para testar a influência da densidade da população de H. vellosiana na taxa de visitação dos beijaflores (número de visitação / número de inflorescência), foram estimadas inicialmente as densidade das inflorescências nos pontos focais (número de inflorescências no campo visual). Para testar se o número de inflorescências influencia a taxa de visitação foi utilizada regressão linear, com alfa de 5%. Resultados As densidades dos quatro tratamentos no campo visual do pesquisador foram: 35, 18, 9 e 5 inflorescências, onde foram observadas quatro, três, uma e duas morfoespécies de beija-flor e 45, 19, 8 e 8 visitas às inflorescências, respectivamente. Foi observado que a taxa de visitação por flor é independente da densidade de inflorescências (F = 0,01, p > 0,05). Discussão Os beija-flores podem ser considerados espécies-chave, sendo os principais agentes polinizadores dentro dos vertebrados. Apesar da evolução da especialização das flores envolver o desenvolvimento de atrativos para os animais polinizadores, visto que o animal precisa reconhecer e discriminar as diferentes flores, uma maior densidade de inflorescências talvez não represente uma estratégia para aumentar a visitação e consequentemente a polinização no caso da H. vellosiana. Ainda que os agrupamentos de indivíduos com inflorescência possa facilitar a visualização da flor pelos beija-flores, considerando que a cor vermelha e amarela das inflorescências são bastante perceptíveis para esse grupo de polinizadores, essa característica não aumenta as chances da planta ser visitada. Isso pode indicar que um menor número de inflorescências seja suficiente para que a planta tenha eficiência na polinização por meio dos beija-flores, o que mostra que a existência de diferentes densidades de florescências esteja relacionada a outros processos que não os de polinização. A ausência de relação das diferentes densidades de inflorescências com o número de morfoespécies de beija-flor pode ser explicada também pelas características do uso do espaço pelos beija-flores, que com frequência demonstram comportamentos de territorialidade. Uma maior aglomeração de inflorescências poderia, por disponibilidade de recursos, sustentar maior número de espécies, porém esse 16 caso representaria um aumento das chances das diferentes espécies territorias, ou indivíduos da mesma espécie territorial, se encontrarem e apresentarem comportamentos agonísticos. De qualquer modo, a defesa de um território está associada ao custo benefício para o indivíduo territorial e essas relações podem influenciar diretamente o comportamento para espécies polinizadoras. Considerando que a H. vellosiana apresenta também crescimento por raízes, a densidade das plantas poderia ser apenas uma característica desse crescimento. No caso de plantas que resultam de reprodução vegetativa, a estratégia poderia ser oferecer pouco recurso para forçar a visita dos beija-flores em diferentes plantas, garantindo a sua polinização. Referências bibliográficas Begon, M.; Townsend, C. R. & Harper, J. L. 2006. Ecology: From individuals to ecosystems. Blakwell Publishing, Oxford. Faegri, K. & van der Pijl, L. 1979. The principles of Pollination Ecology. Pergamon Press, Oxford. 17 ALOCAÇÃO DE RECURSOS EM Miconia cinerascens Miq.var. robusta Augusto Lisboa Martins Rosa, Cibele Munhoz Amato, Gabriela de Menezes Cortellete & Manuela Dreyer da Silva Projeto orientado –Profa. Márcia Marques Resumo Trade off é uma relação negativa entre características de um organismo. O trabalho analisou alocação diferencial de recursos para Miconia cinerascens e relação do tamanho dos indivíduos com distribuição dos recursos para reprodução e crescimento. Não foram observadas relações entre tamanho das folhas jovens e das inflorescências, indicando ausência de alocação de recursos diferenciados; e entre o tamanho e o número de inflorescências, flores, folhas jovens e seus tamanhos, sugerindo que tamanho não influencia investimento energético nesses processos. Palavras-chave: Trade off; Fenologia; alocação diferencial de recursos. Introdução A relação ecológica (trade off) é uma relação negativa entre duas características da história de vida de um organismo, onde o aumento de alocação de recursos em uma função implica na diminuição de energia destinada a outra. Quando um organismo aloca recursos para reprodução, ele geralmente diminui seu investimento no crescimento (Begon et al. 2006). Essas relações não são fáceis de observar na natureza uma vez que pode haver uma ótima combinação dessas características de maneira a dificultar a visualização dessas variações (Begon et al. 2006). Em ambientes com recursos limitantes a relação ecológica é mais severa e portanto mais fácil de ser observada (Crawley, 1997). Para as plantas de modo geral, além da relação do trade off, é necessário considerar que padrões fenológicos variam espacial e temporalmente entre espécies e entre indivíduos de uma população. Não se sabe quais fatores definem a variação fenológica dentro de uma mesma população, mas Hadley & Bawa (1990) sugerem que possam estar relacionados à alocação diferencial de recursos nos indivíduos. Seguindo esse contexto, o presente trabalho objetivou analisar se há alocação diferencial de recursos na população e se o tamanho dos indivíduos influencia a distribuição dos recursos despendidos na reprodução e crescimento vegetativo. A proposta é que indivíduos de maior tamanho (considerados os de maior idade na população) possuam maior investimento em número de inflorescências, maior número de folhas jovens, podendo investir em floração e brotamento mais cedo. Miconia cinerascens var. robusta (Melastomataceae) é uma espécie arbustiva pioneira em áreas de Mata Atlântica em regeneração do Paraná. 18 Material e métodos O estudo foi realizado em um trecho de Floresta Ombrófila Densa, localizado na Reserva Natural do Salto Morato, município de Guaraqueçaba, Paraná. Dez indivíduos adultos de M. cinerascens foram analisados em uma área de capoeira próxima às instalações do alojamento da reserva. De cada indivíduo foram medidos, em campo, o diâmetro do caule à altura do solo (cm), a altura de cada indivíduo (m), e o número de inflorescências. O volume da copa (m3) foi estimado a partir dos dados de altura e diâmetro da copa. De cada organismo foram coletados seis ramos com flores. Em laboratório, de cada um dos ramos foram medidos o comprimento da folha basal (cm), o comprimento da maior folha jovem em expansão (cm), isto é, aquelas que ainda apresentavam tricomas, a quantidade de folhas jovens em expansão, o comprimento do eixo da inflorescência (cm) e o número de flores de cada inflorescência. A partir desses dados foram estimados o início do período de brotamento (comprimento de folhas jovens/adultas), dado utilizado no estudo da relação do tamanho da planta com período de brotamento, e o esforço reprodutivo (número de flores/comprimento da inflorescência; número de inflorescência/volume da copa). Para o tamanho da planta foi considerado o diâmetro do caule à altura da base (DAB). Para testar a relação ecológica de investimento em reprodução ou crescimento vegetativo foi utilizada análise de correlação de Pearson, considerando-se todos os ramos dos 10 indivíduos.Para testar as relações entre os indivíduos foram utilizadas regressões lineares, a partir da média das diferentes características foliares e reprodutivas dos ramos de cada organismo. Para todos os testes foi considerado alfa de 5%. Resultados Em relação à análise da alocação diferencial de recursos na população de M. cinerascens não foi verificada correlação entre o número de folhas em expansão com o número de flores/comprimento da inflorescência (r = 0,06; p > 0,05). Nas análises entre o tamanho dos indivíduos (DAB) e distribuição dos recursos despendidos na reprodução e crescimento vegetativo, não foi encontrada relação entre o tamanho das plantas e número de inflorescência/volume da copa (r2=0,08; F0,05;9=0,60; p > 0,05); com número de flores/comprimento da inflorescência (r2=0,00; F0,05;9=0,03; p > 0,05) e com número de folhas em expansão nos diferentes indivíduos (r2=0,05; F0,05;9=0,36; p > 0,05). Também não foi encontrada relação do tamanho do indivíduo com o comprimento relativo da folhas jovens (comprimento das folhas jovens/adultas) (r2=0,02; F0,05;9=0,01; p > 0,05). Já para o tamanho dos indivíduos com o tamanho das inflorescências foi encontrada relação inversa (r2=0,54; F0,05;9=8,40; p < 0,05) (Fig. 1). 19 Comprimento da inflorescência (cm) 16,0 14,0 r2 = 0.5454 12,0 10,0 8,0 6,0 4,0 2,0 0,0 0 5 10 15 20 25 30 DAB (cm) Figura 1. Relação inversa do tamanho da planta (diâmetro da base) com comprimento da inflorescência de Miconia cinerascens. Discussão Um aumento em uma das funções do organismo impõe a ele um aumento no gasto de energia e nutrientes ou sua alocação de produção para aquela função. Energia, nutrientes e produção ocorrem de forma limitada. Logo, qualquer acréscimo num componente de demanda, tal como aquele gerado pela reprodução, resulta num decréscimo na entrega de outro componente de demanda (Ricklefs, 1993). No estudo realizado não foi observada relação entre o tamanho das folhas em expansão e o das inflorescências, indicando a ausência de alocação de recursos diferenciados no processo reprodutivo e de crescimento vegetativo. O resultado obtido no presente experimento pode sugerir que a disponibilidade de nutrientes ou energia não limita a reprodução de Miconia cinerascens. Outra possibilidade é que o período de amostragem utilizado pode retratar um momento pontual da fenologia, fato que pode ocultar uma possível existência na alocação diferencial de recursos na escala temporal. Além disso, não foram observadas relações entre o tamanho da planta e o número de inflorescências, o número de flores, o número de folhas jovens e o tamanho das folhas jovens, sugerindo que a idade não influencia o investimento energético nos processos de crescimento e reprodução. Entretanto, quando considerados o tamanho da planta e o comprimento da inflorescência observase uma relação inversa entre essas variáveis. Assumindo que toda a população está submetida aos mesmos fatores ambientais que desencadeariam o processo de floração, essa diferença de tamanho indica um atraso no início da fenofase dos indivíduos mais velhos. Plantas perenes devem distribuir os recursos destinados à reprodução e às funções de prolongar a vida ou crescer em tamanho. Considerando a relação encontrada de que quanto maior o indivíduo, menor o tamanho médio da inflorescências, pode-se inferir que os indivíduos mais velhos iniciaram sua floração tardiamente. Sendo o esforço reprodutivo entre as diferentes idades o mesmo, no caso de uma permanência da fenofase similar ao restante da população, a defasagem temporal em seu início pode representar para os indivíduos mais velhos de Miconia cinerascens uma estratégia de prolongamento de 20 sua duração pela alocação de recursos em processos de manutenção do indivíduo, e conseqüentemente uma prorrogação de seu tempo de vida reprodutiva. Para a confirmação da existência dessa estratégia seria necessário estudo mais prolongado visando o acompanhamento de todo o período da fenofase. Agradecimentos: Agradecemos à professora Márcia Marques pelo auxílio na coleta de dados e discussões. Também agradecemos ao professor James Roper pelo auxílio nas análises estatísticas. Referências bibliográficas Begon, M.; Townsend, C. R. & Harper, J. L. 2006. Ecology: from individuals to ecosystems. Blakwell Publishing, Oxford. Crawley, M. J. 1997. Plant Ecology. Blakwell Science, Londres. Hadley, M. & Bawa, K. S. 1990. Reproductive ecology of tropical forest plants. Parthenon Publishing Group, Paris. Joly, A. B. 2002. Botânica: Introdução à taxonomia vegetal. Companhia Editora nacional, São Paulo. Ricklefs, R. E. 1993. A economia da natureza. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro. 21 O CANTO DE Dendropsophus berthalutzae INDICA CARACTERÍSTICAS DO MACHO? Augusto Lisboa Martins Rosa, Cibele Munhoz Amato, Gabriela de Menezes Cortellete & Manuela Dreyer da Silva Projeto orientado – Profa. Marília Hartmann Resumo Anuros utilizam a vocalização para diferentes situações, tais como corte e territorialidade. O presente estudo teve como objetivo analisar se os atributos do canto (intensidade, número de cantos por tempo, duração de cada canto, e número de notas do canto) estão relacionados ao tamanho dos indivíduos e /ou à altura do poleiro. Foi observada relação direta apenas entre a altura do poleiro e o comprimento do canto, indicando que os machos podem vincular sua vocalização à localização do sítio de campo. Palavras-chave: vocalização, territorialidade, corte, sucesso reprodutivo. Introdução A evolução da seleção reprodutiva é uma área bastante instigante da biologia evolucionária. Fêmeas de várias espécies freqüentemente mostram preferência ao acasalamento com machos que apresentem formas de caracteres extremos, tais como cor brilhante, caudas longas e chifres mais longos. Estudos recentes sugerem que é comum a preferência da fêmea variar dentro da população e entre populações diferentes, podendo representar comportamento diferencial, diferenças fenotípicas relativas à preferência ou variação individual na escolha. Essa escolha pode ainda depender de fatores associados como o risco à predação, complexidade ambiental e tempo e custos energéticos da procura (Lea, 2000). Para os anfíbios anuros a vocalização é utilizada para diferentes situações, tais como corte e territorialidade (Lea, 2000). A vocalização neste grupo é espécie-específica e é considerada um dos principais mecanismos de isolamento reprodutivo pré-zigótico (Abrunhosa, 2001). A presença de ouvido tonado em anuros garante às fêmeas o reconhecimento e a seleção dos machos com melhor fitness. Dendropsophus berthalutzae é uma pequena perereca, de cor parda com uma marca mais escura em forma de X na região dorsal. Habita a vegetação das bordas e regiões de clareira, com ampla distribuição nas áreas litorâneas do Sul e Sudeste do país. A vocalização do macho é composta por notas agudas (Abrunhosa, 2001). A fêmea de D. berthalutzae tem como hábito depositar seus ovos sobre folhas da vegetação que tenham proximidade com corpos d’água, para promover, na ocasião da eclosão dos ovos, o acesso rápido e direto dos girinos à poça, para o desenvolvimento dos filhotes. O presente estudo teve como objetivo analisar se os atributos do canto (intensidade, número de cantos por tempo, duração de cada canto, e número de notas do canto) estão relacionados ao tamanho dos 22 indivíduos e /ou à altura do poleiro. Material e métodos O estudo foi realizado em um trecho de Floresta Ombrófila Densa, localizado na RPPN Reserva Natural do Salto Morato, com 2340 hectares, município de Guaraqueçaba, Paraná. Em uma poça semipermanente, por meio de procura ativa, foram localizados indivíduos adultos de Dendropsophus berthalutzae. Para o estudo do canto desse anuro, foram gravados dez indivíduos adultos machos em vocalização. O canto de cada indivíduo foi gravado por um período de 30 segundos. Após a gravação, cada indivíduo foi capturado, sendo medidos o comprimento rostro-cloacal (CRC - cm) e a altura do poleiro (sua posição em relação ao espelho d’água - cm). Feitas as medidas, os indivíduos foram colocados em um saco plástico até o término das observações, para que não houvesse recaptura, sendo soltos ao final da coleta de dados. As gravações dos cantos foram analisadas no programa Raven. No sonograma de cada macho foi medida a intensidade (decibéis), número de cantos por segundo e duração de cada canto. A altura do poleiro foi uma medida utilizada para testar se o território utilizado pelos machos indicava algum vigor físico, que poderia ser escolhido pela fêmea e que não tivesse relação com o CRC. Para testar as relações entre o tamanho dos indivíduos e os atributos da vocalização, foram utilizadas regressões, com alfa de 5%. Resultados Não foram observadas relações entre tamanho e intensidade do canto ((r=-0,20, p=0,58), tamanho e comprimento do canto (r=-0,01, p=0,97), tamanho e número de cantos por segundo ((r=-0,37, p=0,29), altura do poleiro e tamanho (r=-0,21, p=0,57) e altura do poleiro e número de cantos por segundo (r=0,13, p=0,51). Foi observada relação direta entre altura do poleiro e duração do canto (r 2 = 0,46 ; p< 0,05) (Fig. 1). 23 14 Altura do poleiro 12 10 y = 0,0313x + 4,9191 r2 = 0,46 8 6 4 2 0 0 50 100 150 200 250 Comprimento do canto (ms) Figura 1. Relação positiva entre altura do poleiro e duração do canto de Dendropsophus berthalutzae (r2=0,46, F=6,75; p<0,05). Discussão Independentemente de como a escolha das fêmeas surge, uma vez estabelecida em uma população ela intensifica as diferenças de ajustamento entre machos. Naturalmente, os machos devem fazer tudo que podem para explicitar a sua qualidade (Ricklefs, 1993). A variação da duração do canto de D. berthalutzae indica uma diferenciação entre os machos para a ocupação de determinados sítios de campo. Essa variação pode estar relacionada com uma indicação para a fêmea de um vigor físico do macho. Considerando que as fêmeas de D. berthalutzae realizam ovoposição sobre folhas e que os ovos necessitam de umidade, a diferenciação na intesidade do canto pode indicar que o macho esteja sinalizando um local ideal para reprodução, próximo ao corpo d’água. A ausência de relação entre as outras variáveis pode ser explicada pelo fato da modificação dos atributos de vocalização ser densidade-dependente e a amostragem ter sido realizada em um período com baixo número de indivíduos na poça. Como a vocalização demanda energia, em uma baixa densidade talvez não seja vantajoso modificar as características do canto para atrair fêmeas. Além disso, as fêmeas podem escolher os machos por outras características, como a sinalização visual, fato observado, mas não estudado, para a espécie. Agradecimentos: Agradecemos à professora Marília Hartmann pelo auxílio na coleta de dados e discussões. Referências bibliográficas Abrunhosa, P. A.; Wogel, H. & Pombal Jr., José P. 2001. Vocalização de quatro espécies de anuros do estado do Rio de Janeiro, Sudeste do Brasil (Amphibia, Hylidae, Leptodactylidae). Boletim do Museu Nacional 472:1-12. Lea, J.; Halliday, T. & Dyson, M. 2000. Reprodutive stage and history affect the phonotatic preferences of female midwife toads, Alytes muletensis. Animal behaviour 60: 423-427. Ricklefs, R. E. 1993. A economia da natureza. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro. 24 DEPENDÊNCIA DE DIVERSIDADE E HERBIVORIA EM MARLIEREA TOMENTOSA Kelly Dayane Aguiar; Marco Aurélio Bregenski; Michel Varajão Garey & Rafael Eduardo Serathiuk Projeto livre Resumo Para testar um efeito de dependência de densidade, na taxa de herbivoria foi medida em Marlierea tomentosa . As variáveis que podem indicar densidade (altura, área basal, distância entre indivíduos e proporção de danos às folhas) foram independentes da taxa de herbivoria/patógenos e densidade, provavelmente pela amostragem restrita e pela possível influência da umidade, que favorece uma alta densidade da espécie no local. Palavras-chave: herbivoria, Marlierea tomentosa, Reserva Natural Salto Morato. Introdução Dependência de densidade pode limitar populações (Ricklefs, 1996). Entre esses fatores, estão a limitação de recursos e locais de estabelecimento, os predadores e os parasitas. Para as plantas, o aumento da densidade pode produzir efeitos sobre a dispersão de sementes, germinação, estabelecimento da plântula, sobrevivência durante a fase vegetativa, sobrevivência da folha, formação de flores e o número de sementes produzidas por planta (Crawley, 1986). Herbívoros de plantas podem influenciar indiretamente na arquitetura, fisiologia, bioquímica e fenologia delas. Por exemplo, insetos e patógenos podem funcionar como reguladores das comunidades vegetais, aumentando a diversidade de espécies, pois consomem as espécies vegetais mais abundantes do sistema, diminuindo a dominância das mesmas, permitindo que outras espécies possam se estabelecer, segundo a hipótese de Janzen-Connel 1970 e 1971 (Crawley, 1997; Begon et al.,2006). Aqui testamos que a dependência de densidade de Marlierea tomentosa (Myrtaceae) causa o aumento nas taxas de herbivoria e patogenia (danos estruturais). . Material e métodos O trabalho foi desenvolvido em uma área de capoeira da Reserva Natural do Salto Morato, PR no dia 19/10/2006, onde a amostragem foi realizada através da estimativa de densidade por proximidade. Dessa forma, 12 árvores com perímetro à altura do peito (PAP) superior a 5 cm foram avaliadas, dentre as quais, cinco tiveram todas as folhas classificadas e sete, de três ramos coletados em três diferentes estratos verticais da copa. 25 Danos (herbivoria e outros) foram estimados em quatro classes: nenhum, 0-30%, 30-60% e > 60%. Além da classificação de folhas quanto à proporção relativa de danos, mediu-se o PAP e a altura de cada um dos indivíduos, bem como a distância entre cada indivíduo e todos os outros. A partir dos dados coletados em campo, padronizou-se a classificação por indivíduo para 100 folhas, onde aqueles com número maior de folhas tiveram seu valor total reduzido para 100 e aqueles com valor menor, aumentado para 100 a fim de obter um índice de herbivoria absoluto (IHA) e outro relativo (IHR), os quais são calculados com base nas seguintes equações: IHA Nenhum 1 Pouco 2 Médio 3 Severo 4 IHR IHA 100 IHAmax Onde IHAmax é o valor do IHA máximo encontrado entre os indivíduos. Para testar que dependência de densidade influencia herbivoria, a regressão foi utilizada com densidade como a variável independente. Resultados Foram mensurados 12 indivíduos de M. tomentosa, Conforme análise de regressão, não houve relação (r²=0,01; F1,11=0,1; P > 0,05) entre a herbivoria e patogenia e a distância aos indivíduos mais próximos (Fig. 1). 100 IHR (%) 80 60 40 20 0 0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 Distância do indivíduo mais próximo (m) Figura 1. Distribuição dos dados da regressão (IHR = 33,32 + 1,63 IndProx) entre o Índice de Herbivoria Relativo e a distância do indivíduo mais próximo. Discussão Aparentamente, a herbivoria não está associada com densidade nesta população, provavelmente pela amostragem ter sido realizada em uma área restrita e estabelecida dentro de um agrupamento de 26 Marlierea tomentosa. O local de estudo está estabelecido em uma faixa de aproximadamente 30 metros na margem do rio Morato, fato que contribui para uma umidade do solo relativamente alta (sem ocorrência de saturação hídrica). Essa umidade favorece o estabelecimento de Marlierea tomentosa no local, visto que a espécie ocorre preferencialmente em solos úmidos, contribuindo para a densidade da espécie verificada na área. Embora não se tenha obtido resultados com a distância entre indivíduos e o IHR, sugere-se que ocorra diferenças na herbivoria e patogenia entre os diferentes estratos verticais da copa. Além disso, indivíduos mais próximos do rio possuem maior quantidade de liquens nas folhas, possibilitando uma diminuição nas taxas de herbivoria e patogenia. Referências bibliográficas Begon, M.; Townsend, C. R. & Harper, J. L. 2006. Ecology: From Individuals to Ecosystems. Blackwell Publishing, Oxford. Crawley, M. J. 1997. Plant Ecology. Blackwell Science, Oxford. Ricklefs, R. E. 2003. A Economia da Natureza. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro. 27 A HETEROGENEIDADE ESPACIAL ESTRUTURA A COMUNIDADE DE PEIXES? Kelly Dayane Aguiar; Marco Aurélio Bregenski; Michel Varajão Garey & Rafael Eduardo Serathiuk Projeto livre Resumo A associação entre heterogeneidade espacial dos substratos vegetação e pedra foi estudada para a ictiofauna do rio Morato, partindo do pressuposto que a diversidade está relacionada à maior heterogeneidade espacial e à disponibilidade de recursos da vegetação marginal. Riqueza, abundância, diversidade, equitatibilidade e similaridade foram avaliados, resultando em maior diversidade em pedra, pela maior uniformidade. A dominância de P. caudimaculatus na vegetação influenciou a diversidade. A alta similaridade entre os ambientes é devida à ocorrência de várias espécies pouco abundantes. Palavras-chave: diversidade, dominância, peixes, rio Morato. Introdução A distribuição dos organismos aquáticos é limitada pelo gradiente de habitats distintos. Espécies são geralmente restritas a subgrupos relacionados a regiões particulares deste gradiente, conduzindo a uma alta mudança de características na estrutura de comunidades. Mudanças na estrutura da comunidade ao longo do gradiente de habitats aquáticos, são determinadas por (a) fatores ambientais físicos que limitam o potencial de distribuição de espécies e (b) interações bióticas que determinam o sucesso realizado pelas espécies (Wellborn et al. 1996). Acredita-se que ao longo do gradiente longitudinal processos a montante em rios determinam os de jusante, causando uma alteração na paisagem e principalmente na estrutura alimentar, com possíveis implicações para a heterogeneidade e disponibilidade de recursos (Romanuk et al. 2006). Ambientes mais heterogêneos espacialmente podem acomodar mais espécies, pois apresentam maior quantidade de micro-habitats, associados a maior variação de micro-climas e refúgios. Além disso, mais espécies podem ocorrer em uma comunidade do que outra devido à maior quantidade de recursos (Townsend, et al. 2006). Os rios e riachos são ambientes lóticos, com fluxo unidirecional, cujas características se alteram ao longo de seu curso, influenciando fortemente a composição das comunidades aquáticas (Caramaschi et al. 1999). A vegetação terrestre que margeia um riacho tem dois tipos de influência sobre a disponibilidade de recursos: sombreamento do leito do riacho, reduzindo a produtividade de algas e outras plantas e a perda de folhas contribuindo para o suprimento de organismos (Caramaschi et al. 1999; Townsend, et al. 2006). 28 Dentre os diferentes micro-habitats dos rios e riachos, o substrato de vegetação confere maior proteção às espécies e disponibiliza uma gama maior de recursos alimentares, estando relacionada a uma maior riqueza e abundância de espécies, enquanto um substrato com pedras (seixos) apresenta espécies menor quantidade de espécies e abundância devido a menor oferta de recursos. Os peixes de riacho apresentam padrões evolutivos característicos de estrutura de comunidade e estratégia de ciclo de vida que propiciaram uma maior diversidade de espécies associada aos diferentes micro-habitats (Caramaschi et al. 1999; Lowe-McConnell, 1999). Desta forma, pode-se esperar que no ambiente de vegetação exista maior riqueza e abundância de peixes relacionados à heterogeneidade deste ambiente quando comparado ao substrato de pedras. Neste contexto, o objetivo do presente estudo foi comparar a riqueza, abundância, diversidade, equitatibilidade de espécies e a similaridade entre os substratos de vegetação e pedras. Material e Métodos O trabalho foi desenvolvido no substrato de vegetação marginal e pedra do rio Morato, Reserva Natural do Salto Morato, PR (Coordenadas UTM 772161 S; 7212393 W, Datum horizontal SAD69). A captura dos peixes foi realizada utilizando uma peneira (60 cm de diâmetro) e uma rede de arrasto (70x150 cm), em esforço padronizado de 20 peneiradas e nove arrastos em cada local. Os indivíduos foram identificados e contados, sendo acondicionados em recipiente com água e depois liberados. Para testar se existe diferença entre os dois substratos calculou-se a diversidade de Shannon, a Equitatibilidade de Pielou (Magurran, 1988). Para o cálculo da similaridade de Chao (Chao et al. 2004) utilizou-se o Aplicativo Estimate Swin 7.51 (Colwell, 2005). Resultados Dentre as 10 morfo-espécies coletadas, duas foram exclusivas do substrato pedra, quatro espécies ocorreram apenas no substrato de vegetação e quatro espécies foram comuns a ambos os substratos (Tab. 1). Os exemplares distribuíram-se respectivamente entre as famílias Loricariidae, quatro morfoespécies de Siluriformes, Calichthyidae (Siluriformes), Crenuchidae e Characidae (Characiformes), Poeciliidae (Ciprinodontiformes) (Tab. 1). 29 Tabela 1. Lista de espécies de peixes e respectivas abundâncias nos substratos pedra e vegetação do rio Morato, da Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba-PR. Ordens Siluriformes Characiformes Ciprinodontiformes Espécies Ancistrus multispinnis Cascudo morfo 1 Cascudo morfo 2 Cascudo morfo 3 Cascudo morfo 4 Coridoras barbatus Characidium lanei Deuterodon lanei Mimagoniates microleps Phalloceros caudimaculatus total pedra 1 2 1 1 1 1 7 vegetação 1 1 2 3 1 3 2 14 27 total 1 1 1 4 1 3 1 4 3 15 34 O micro ambiente de vegetação apresentou maior abundância, variando entre 1 e 14 indivíduos. Foram encontradas seis espécies no substrato de pedra e oito no substrato de vegetação, cuja abundância foi mais representativa. O barrigudinho, P. caudimaculatus, representou 52% da amostra na vegetação, onde a uniformidade foi mais baixa. Houve elevada similaridade entre os substratos (Tab. 2). Tabela 2. Indicadores ecológicos para os substratos pedra e vegetação do rio Morato, Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba-PR. Indicadores ecológicos Riqueza Abundância Diversidade Equitatibilidade Similaridade (Chao) pedra 6 7 0.76 0,98 vegetação 8 27 0,68 0,76 0,833 Discussão Neste estudo foram encontradas 10 morfo-espécies, que representam mais de 30% da ictiofauna registrada para o rio Morato (Barreto & Aranha, 2005). A ordem Siluriformes (cascudos) foi o grupo mais freqüente, corroborando com os resultados encontrados por Barreto & Aranha (2005). A dominância de P. caudimaculatus associado ao substrato de vegetação influenciou nos valores da diversidade, diminuindo a equitatibilidade, tornando a diversidade maior no substrato de pedra dado à maior uniformidade da população. A alta similaridade de Chao (2004) entre substratos vegetação e pedra está relacionada à ocorrência de várias espécies pouco abundantes, pois este índice considera as espécies raras não identificadas na amostragem. Apesar do substrato com pedras (seixos) apresentar menor oferta de recursos, deve estar relacionado à maior partição de recursos, evidenciada pela maior uniformidade. O substrato de vegetação de um modo geral, que deveria estar relacionado a uma maior riqueza e abundância de espécies, apresentou alta dominância de apenas uma espécie, provavelmente devido à influência do tipo de 30 vegetação marginal Brachiaria sp., com características homogêneas, as quais poderiam estar controlando a estrutura da comunidade. Assim, conclui-se que o habitat promove condições específicas para a ictiofauna, e pode ser um indicador de como a comunidade de peixes é influenciada pela alteração no ambiente aquático e principalmente nas mudanças nas vegetações ripárias. Referências bibliográficas Barreto, A. P. & Aranha, J. M. R. 2005. Assembléia de peixe de um riacho de Floresta Atlântica: composição e distribuição espacial (Guaraqueçaba, Paraná, Brasil). Acta Scientia Biological Scientarum 27(2): 153-160. Caramaschi, E. P.; Mazzoni & Peres-Neto, P. R. (eds.) 1999. Ecologia de peixes de riacho VI. Oecologia Brasiliensis, Rio de Janeiro. Chao, A.; Chazdon, R. L.; Cowell, R. K. & Shen, T. 2004. A new statistical approach for assessing similarity of species composition with incidence and abundance data. Ecology Letters 7: 148-159. Colwell, R. K. 2005. Estimate S: Statistical estimation of species richness and shared species from samples. Version 7.5. Lowe-McConnell, R. H. 1999. Estudos ecológicos de comunidades de peixes tropicais. Edusp, São Paulo. Magurran, A. E. 1988. Ecological diversity and its measurement. Princeton University, Princeton. Romanuk, T. N.; Jackson, L. J.; Post, J. R.; McCauley, E. & Martinez, N. D. 2006. The structure of food webs along river networks. Ecography 29:1-8. Townsend, C. R.; Begon, M.; Harper, J. L. 2006. Fundamentos em ecologia. Artmed, Porto Alegre. Wellborn, G. A.; Skelly, D. K. & Werner, E. E. 1996. Mechanisms creating community structure across a freshwater habitat gradient. Annual Review of Ecology and Systematics 27:337-363. 31 DIVERSIDADE DE ANFÍBIOS ANUROS EM TRÊS AMBIENTES DIFERENTES DA MATA ATLÂNTICA Kelly Dayane Aguiar; Marco Aurélio Bregenski; Michel Varajão Garey & Rafael Eduardo Serathiuk Projeto orientado – Marília Teresinha Hartmann Resumo A diversidade de anfíbios foi comparada entre três ambientes distintos da Reserva Natural do Salto Morato; avaliando riqueza, abundância, diversidade, eqüidade e similaridade entre os ambientes para adultos e girinos. Maior diversidade foi encontrada na área de borda de floresta para formas adultas e larvais; enquanto, a similaridade foi maior entre a área aberta e de interior de floresta. A maior diversidade observada na borda é explicada pelo distúrbio intermediário. Palavras-chave: diversidade, anfíbios, poças, riqueza, Salto Morato. Introdução A distribuição dos anfíbios compreende todas as regiões tropicais e temperadas da Terra, devido às adaptações fisiológicas, morfológicas e de comportamento. Com isso, a maioria das espécies está concentrada em regiões tropicais e subtropicais (Eterovick & Sazima, 2004). Apesar dessa grande diversidade, os estudos populacionais de longo prazo são quase inexistentes, representando um dos principais problemas para o conhecimento da ecologia da anurofauna nos diferentes biomas brasileiros (Juncá, 2001). A estrutura e o funcionamento de comunidades agrupam um complexo de interações, unindo direta ou indiretamente todos os membros da comunidade em uma intrincada teia (Rickflefs, 2003). A heterogeneidade espacial das florestas tropicais propiciam um aumento da diversidade (Townsend et al., 2006), sendo esse um fator determinante na comunidade de anfíbios que exploram a área (Cardoso et al., 1989). Desta forma, espera-se que exista maior diversidade de espécies em um ambiente com maior heterogeneidade, como o ambiente de floresta, cujos micro-habitats oferecem abrigos e refúgios para os animais (Townsend et al., 2006). O presente trabalho pretende verificar a diferença entre a diversidade de anfíbios entre três ambientes distintos: área aberta, borda florestal e interior da floresta. Constatado a diferença, o objetivo foi comparar a diversidade nos três ambientes e caracterizar a composição da anurofauna em cada ambiente. 32 Material e métodos Foram selecionadas três poças semi-temporárias onde ocorrem anfíbios anuros: uma em cada ambiente: área aberta, borda florestal e interior da floresta na Reserva Natural Salto Morato (Coordenadas UTM 22J; 772161 S; 7212393 W, Datum horizontal WGS84). Em cada poça, foi realizado um levantamento da anurofauna, das 22h às 24 horas do dia 16 de outubro de 2006. Os ambientes foram percorridos de acordo com a amostragem por sítio reprodutivo (Scott & Woodward, 1994), onde foram anotadas as espécies e os respectivos números de indivíduos, utilizando um gravador portátil (PANASONIC RN-305). A estimativa da abundância foi realizada visualmente, sendo contado todos os indivíduos visualizados em atividade de vocalização e para as espécies que são difíceis de localizar os machos foi feita apenas um registro da espécie. No dia 17/10/2006 entre 7h30min e 9h30min, formas larvais (girinos) foram coletadas utilizando três peneiras de dimensões diferentes (duas circulares – 1 m de diâmetro e 20 cm; uma retangular – 2 m²). Em cada ambiente, realizaram-se cinco capturas com cada peneira (totalizando 15 capturas). Cada captura foi colocada em sacos plásticos com água do ambiente e depois levada ao laboratório para triagem. Os indivíduos foram quantificados por local de coleta e por morfo-espécie. Após as análises, os exemplares foram devolvidos para as respectivas poças. Para cada ambiente foi calculada a riqueza, abundância, diversidade de espécies de Shannon, eqüitabilidade de Pielou. A similaridade de Sørensen foi utilizada entre os ambientes amostrados (Magurran, 1988). Resultados Foram encontrados 44 indivíduos de dez espécies de anfíbios adultos (Tab. 1), pertencentes a duas famílias: Hylidae (nove espécies) e Leptodactylidae (uma espécie), sendo nove por identificação visual e duas por senso auditivo que não foram incluídas para o cálculo dos índices. A análise dos girinos identificou nove morfo-espécies. A maior diversidade foi encontrada na área de borda tanto para adultos quanto para girinos (Tab. 2 e 3). A equidade dos adultos foi maior no interior da floresta, seguido pela borda, já para os girinos a maior equidade foi observada para a borda seguida da área aberta (Tab. 2 e 3). A abundância dos adultos foi maior na área aberta, seguido pela borda e por fim o interior da floresta, já para os girinos foi observado o inverso, o interior da floresta foi ambiente com a maior abundância, e a menor foi encontrada na área aberta (Tab. 2 e 3). A maior similaridade de espécies ocorreu entre o ambiente de área aberta e interior de floresta, tanto para anfíbios adultos, como para girinos (Tab. 4). 33 Tabela 1. Relação das espécies de anuros registradas na Reserva Natural Salto Morato e suas respectivas abundâncias em cada ambiente. Espécies Área aberta Borda florestal Interior da floresta Total Dendropsophus berthalutzae 18 2 0 20 Dendropsophus microps 0 0 1 1 Dendropsophus minutus 0 8 0 8 Hypsiboas faber 0 1 0 1 Phyllomedusa distincta 0 2 2 4 Physalaemus spinigerus 0 0 * * Scinax alter 0 3 0 3 Scinax fuscovarius 0 0 1 1 Scinax littoralis 2 0 4 6 Scinax sp. 0 * 0 * Total 20 16 8 44 * - espécies registradas apenas auditivamente. Tabela 2. Atributos quantitativos da comunidade de anfíbios adultos em três ambientes da Reserva Natural de Salto Morato, Guaraqueçaba, Paraná. ÁREA RIQUEZA ABUNDÂNCIA DIVERSIDADE EQUIDADE ABERTA 2 20 0,325 0,469 BORDA 5 16 1,354 0,841 INTERIOR 4 8 1,213 0,875 Tabela 3. Atributos quantitativos da comunidade de anfíbios em fase larval em três ambientes da Reserva Natural de Salto Morato, Guaraqueçaba, Paraná. ÁREA RIQUEZA ABUNDÂNCIA DIVERSIDADE EQUIDADE ABERTA 4 28 0,761 0,549 BORDA 7 194 1,436 0,738 INTERIOR 4 212 0,681 0,492 34 Tabela 4. Similaridade da comunidade de anfíbios entre três ambientes da Reserva Natural de Salto Morato, Guaraqueçaba, Paraná. ADULTO – Cs GIRINOS - Cs ABERTA – BORDA 0,286 0,364 ABERTA – INTERIOR 0,333 0,750 BORDA – INTERIOR 0,222 0,545 Discussão Florestas tropicais apresentam uma grande complexidade estrutural, consequentemente tendem a ter uma elevada riqueza de espécies (Townsend et al., 2006). Desta maneira, espera-se uma maior diversidade no interior da floresta. No entanto, neste trabalho foi verificada maior diversidade na borda, explicada pelo distúrbio intermediário (Townsend et al., 2006). Verificou-se uma diversidade maior na área de borda, descartando a hipótese de associação entre diversidade e heterogeneidade estrutural inicialmente proposta. Este fato pode ser explicado devido à condição intermediária da área de borda de floresta, que possibilita uma maior coexistência de espécies, tanto daquelas pertencentes ao ambiente mais heterogêneo como daquelas do ambiente de área aberta (Townsend et al., 2006). A maior riqueza no ambiente de borda de floresta pode ser explicada pela biologia de algumas espécies presentes nesse ambiente, como Dendropsophus minutus, e Hypsiboas faber, que são típicas de ambientes antropizados (Eterovick & Sazima, 2004; Ramos & Gasparini, 2004) e que devido à fragmentação acabam colonizando este tipo de ambiente (Lima & Gascon, 1999). A maior similaridade entre os ambientes de área aberta e floresta foi influenciada pelo pequeno número de espécies (duas) que estiveram presentes em todos os ambientes, dificultando a análise relacionada ao padrão de diversidade caracterizado no estudo. Referências bibliográficas Cardoso, A. J.; Andrade, G. V. & Haddad, C. F. B. 1989. Distribuição espacial em comunidades de anfíbios (Anura) no sudeste do Brasil. Revista Brasileira de Biologia 49: 241-249. Chao, A.; Chazdon, R. L.; Cowell, R. W. & Shen, T. 2004. A new statistical approach for assessing similarity of species composition with incidence and abundance data. Ecology Letters 7:xxx-xxx. Eterovick, P. & Sazima, I. 2004. Anfíbios da Serra do Cipó: Minas Gerais – Brasil. Ed. PUC Minas. Belo Horizonte. Juncá, F. A. 2001. Declínio mundial das populações de anfíbios. Sitientibus (Ci. Biol.) 1(1): 84-87. Lima, m. g. & Gascon, C. 1999. The conservation value of linear forest remnts in central Amazonia. Biological Conservation 91: 241-247. 35 Magurran, A. E. 1988. Ecological diversity and its measurement. Princeton University Press, New Gersey. Ramos, A.. D. & Gasparini, J. L. 2004. Anfíbios do Goiapa-Açu, Fundão, Estado do Espírito Santo. Gráfica Santo Antônio, Vitória. Ricklefs, R. E. 2003. A Economia da Natureza. Ed. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro. Scott Jr., N. J. & Woodward, B. D. 1994. Standart techniques for inventory and monitoring: Surveys at breeding sites, pp.118-125. In: Heyer, W. R.; Donnelly, M. A.; McDiarmid, R. W.; Hayek, L. C. & Foster, M. S. Measuring and Monitoring Biological Diversity. Standart Methods for Amphibians. Smithsonian Institution Press, Washigton D. C. Townsend, C. R.; Begon, M. & Harper, J. L. 2006. Fundamentos em Ecologia. Artmed Ed. Porto Alegre. 36 DIVERSIDADE FUNCIONAL DE ESPÉCIES ARBÓREAS EM CAPOEIRA E CAPOEIRINHA Kelly Dayane Aguiar; Marco Aurélio Bregenski; Michel Varajão Garey & Rafael Eduardo Serathiuk. Projeto orientado - Prof. Marco Batalha. Resumo Comparamos a diversidade funcional entre dois ambientes em estádios sucessionais diferentes da Reserva Natural do Salto Morato, partindo do pressuposto que uma maior diversidade funcional está relacionada a uma maior estabilidade ambiental. Os atributos altura, área foliar e área basal de espécies arbóreas foram avaliados, resultando em uma maior diversidade funcional na área com estádio sucessional menos avançado, provavelmente por apresentar tanto espécies iniciais quanto tardias, fato que resulta em uma maior diversidade. Palavras-chave: diversidade funcional; Salto Morato; Capoeira, Capoeirinha. Introdução As medidas de diversidade tradicionais comumente utilizadas estão relacionadas a observações que não têm um efeito direto do número de espécies sobre os processos ecossistêmicos (Ricotta, 2005). Alguns desses efeitos no ecossistema surgem exatamente das diferenças funcionais entre as espécies. A maior diversidade funcional está relacionada a uma maior eficiência em termos de produtividade, resiliência e resistência a invasores, relacionada à maior estabilidade ambiental (Townsend, 2006). Neste sentido, a diversidade funcional torna-se uma alternativa aos índices tradicionais, pois agrega características funcionais das espécies que indicam como as comunidades operam dentro do ecossistema e não apenas a presença e abundância de espécies (Ricotta, 2005; Petchey & Gaston, 2006). Desta maneira, espera-se que a diversidade funcional seja maior na área em estádio sucessional mais avançado, quando comparada à outra área em estádio sucessional menos avançado. Portanto, este estudo objetiva comparar a diversidade funcional entre duas áreas sucessionais distintas em floresta pluvial atlântica, procurando prever como a diversidade funcional (DF) varia ao longo desse processo. Materiais e Métodos A pesquisa foi realizada na Reserva Natural Salto do Morato – Guaraqueçaba – PR, onde se estudou a vegetação de dois ambientes pertencentes a diferentes estádios sucessionais da Mata Atlântica (Capoeira e Capoeirinha). A capoeira se caracteriza visualmente pela dominância de Tibouchina pulchra no estrato superior e por Miconia cinerascens no estrato inferior. Já a capoeirinha por ter uma diversificação de ambientes, formada por áreas abertas de composição arbórea esparsa com Brachiaria 37 sp. (resultante de pastagens existentes anteriormente na área) e por alguns núcleos de dispersão composto de espécies iniciais e tardias remanescentes. No levantamento da vegetação arbórea, foi percorrida uma transecção em cada ambiente, e a cada 10 metros foi lançado um ponto-quadrante para a seleção das espécies a serem amostradas, totalizando 12 pontos-quadrantes. O critério utilizado para a seleção de indivíduos foi o perímetro à altura do peito (PAP) superior a 10 cm, tendo sido coletado um ramo de cada espécie para a identificação e cálculo da área foliar de todas as folhas do ramo. Para cada indivíduo amostrado, foi estimada a altura e com auxílio de uma fita métrica foi medido o PAP, para o cálculo da área basal. Calculou-se a diversidade funcional segundo Petchey & Gaston (2002), cujos parâmetros utilizados para a construção da matriz foram: altura, área foliar, área basal e se era leguminosa ou não. Com esses dados se construiu uma matriz de similaridade com o software JMP 5.0 (SAS) para o cálculo da análise de agrupamento, gerando um dendrograma com base na distância euclidiana com a matriz padronizada. Posteriormente foram somados os comprimentos de cada ramo do dendrograma, e assim obtendo o valor da diversidade funcional. Resultados Foram encontradas 19 espécies na capoeirinha e 14 espécies na capoeira (Tab. 1 e 2 respectivamente). A área de capoeira (DF = 699) apresentou uma menor diversidade funcional do que a capoeirinha (DF = 2742) (Fig. 1). Tabela 1. Lista de espécies e atributos mensurados na Reserva Natural Salto Morato para o cálculo da diversidade funcional na capoeirinha. Espécie Andira fraxinifolia Casearia obliqua Cecropia glaziovii Citharexylum mirianthum Dalbergia brasiliensis Jacaranda puberula Lauraceae 01 Leguminosa 01 Machaerium acutifolium Miconia cinerascens Morfo 01 Morfo 02 Morfo 03 Myrsine coriacea Piper sp. Psidium guajava Senna multijuga Solanum sp. Tibouchina pulchra Altura (m) Área basal (cm²) Área foliar (cm²) Leguminosae 6 472,53 18,41 1 5 33,47 23,07 0 10 314,71 224,32 0 4 13,46 16,22 0 16 150,66 5,15 1 8 47,26 5,72 0 5 10,53 49,12 0 6 15,61 7,07 1 8 38,54 1,33 1 6 407,01 142,47 0 4 10,53 2,66 0 11 418,49 4,91 0 15 894,59 89,14 0 9 73,75 15,54 0 4 32,68 51,40 0 6 35,43 31,91 0 7 60,29 1,46 1 4 20,95 28,44 0 6 103,60 13,96 0 38 Tabela 2. Lista de espécies e atributos mensurados na Reserva Natural Salto Morato para o cálculo da diversidade funcional na capoeira. Espécie Andira fraxinifolia Casearia obliqua Cecropia glaziovii Endlickeria paniculata Inga edulis Lauraceae 01 Miconia cinerascens Morfo 03 Morfo 04 Myrsine coriacea Myrtaceae 01 Psidium guajava Rubiaceae 01 Tibouchina pulchra Altura (m) Área basal (cm²) Área foliar (cm²) Leguminosae 6 221,44 20,04 1 9 46,27 21,85 0 9 47,75 88,58 0 14 172,15 55,35 0 11 152,44 55,37 1 4 18,44 56,78 0 8 76,27 133,72 0 7 58,04 17,23 0 3 8,78 30,11 0 10 37,39 21,93 0 5 25,80 58,57 0 5 14,51 14,56 0 6 16,74 47,77 0 13 149,51 19,00 0 1 1 a 15 9 17 7 6 5 14 10 3 12 7 8 10 11 5 2 8 6 13 3 16 4 4 13 b 18 2 9 11 12 Figura 1. Dendrograma de similaridade entre as espécies amostradas nos ambientes, capoeirinha (a) e capoeira (b). Discussão Encontrou-se maior diversidade funcional na capoeirinha, provavelmente por apresentar espécies em diferentes estádios sucessionais, constituindo-se em um ambiente de condição intermediária de desenvolvimento, que possibilita a ocorrência de espécies tanto em estádios sucessionais mais avançados como em estádios menos avançados, sugerindo que a sucessão não é um processo linear (Ricotta, 2005). 39 Entretanto, num primeiro momento espera-se que ocorra o aumento da diversidade funcional ocasionada pelo acréscimo da quantidade de espécies tardias. Com a evolução do processo sucessional, a redução no número de espécies iniciais ocasiona a redução da diversidade. Um dos problemas relacionados ao índice de diversidade funcional é que não leva em conta a abundância dos indivíduos, subestimando a importância das espécies dominantes para o controle dos processos ecossistêmicos, enquanto os índices tradicionais são calculados com base na dominância das espécies (Ricotta, 2005). Pode-se contornar isso fazendo uso concomitante do índice de diversidade taxonômica, o qual além de considerar as espécies presentes no ambiente, atende à abundância dessas espécies (Clarke & Warwick, 1998). A escolha dos atributos utilizados para o cálculo da diversidade funcional deve estar relacionada diretamente aos objetivos do estudo, de modo que possam contribuir para a compreensão dos processos envolvidos (Ricotta, 2005; Petchey & Gaston, 2006). Atributos morfofisiológicos, ocorrência de epífitismo e espécies de agentes polinizadores são de grande valia para um ajuste adequado da diversidade funcional. Referências Bibliográficas Clarke, K. R. & Warwick, R. M. 1998. A taxonomic distinctness index and its statistical properties. Journal of Applied Ecology, 35:523-531. Petchey, O. L. & Gaston, K. J. 2006. Functional diversity: back to basics and looking forward. Ecology letters, 9: 741-758. Ricotta, C. 2005. Through the jungle of biological diversity. Acta Biotheoretica 53: 29-38. Townsend, C. R.; Begon, M. & Harper, J. L. 2006. Fundamentos em Ecologia. Artmed Ed., Porto Alegre. 40 EFEITO DE BORDA NA MORFOFISIOLOGIA DE MICONIA CINERASCENS Kelly Dayane Aguiar; Marco Aurélio Bregenski; Michel Varajão Garey & Rafael Eduardo Serathiuk Projeto orientado – Prof. Eduardo Arcoverde Resumo Foi avaliado o efeito de borda florestal sobre os indivíduos de Miconia cinerascens em dois ambientes: borda e interior de capoeira. Foram coletados ramos foliares de 20 espécimes para análise de parâmetros morfofisiológicos, tais como: área foliar, razão foliar, espessura da folha, fluorescência basal e taxa de herbivoria. A espessura da folha foi maior na área de borda, enquanto a fluorescência basal foi maior no interior da capoeira. Para os demais parâmetros não foi observado diferença entre os indivíduos. Esta pesquisa sugere que efeitos de borda podem ser sutis, ou inexistentes. Palavras-chave: efeito de borda, morfofisiologia, capoeira, fluorescência basal, Miconia cinerascens. Introdução A borda florestal pode ter duas origens distintas, uma delas natural e outra antropogênica. A borda natural tem origem nas margens de rios, ecótones e na sucessão ecológica os ambientes em estádios iniciais funcionam como borda para ambientes em estádios mais avançados. Já as bordas antropogênicas têm origem na fragmentação do ambiente (Primack & Rodrigues, 2001). O microambiente numa borda de floresta é bem diferente do seu interior. Alguns dos efeitos mais importantes são alterações nos níveis de luz, temperatura, umidade. (Kapos, 1989; Bierregaard et al., 1992; Rodrigues, 1998). Uma vez que determinadas espécies de plantas são adaptadas a uma certa amplitude de temperatura, umidade e níveis de luz, a mudança desses fatores tornaria o ambiente desfavorável para elas (Primack & Rodrigues, 2001). As plantas de sombra aproveitam melhor a radiação em comparação com as plantas de sol (heliófilas), e alcançam bem mais rapidamente o ponto de saturação à radiação enquanto plantas de sol estão aptas a utilizar melhor altas intensidades de radiação (Larcher, 2000). A cobertura vegetal fechada funciona como um sistema de assimilação, no qual as camadas de folhas estão sobrepostas e se sombreiam mutuamente. A cada profundidade da cobertura vegetal, a radiação que penetra é interceptada e utilizada gradualmente (Larcher, 2000). Esse ambiente acaba sendo mais desfavorável a espécies pioneiras. Miconia cinerascens é uma planta perenifólia, heliófita, característica da vegetação secundária da Floresta Pluvial Atlântica, muito comum em capoeiras, aonde chega a ser a espécie predominante (Lorenzi, 2002). 41 O objetivo do presente estudo foi avaliar o efeito da borda florestal sobre os atributos morfofisiológicos da espécie. Espera-se que as plantas do interior da floresta sejam diferentes morfofisiologicamente das que habitam a borda, devido às diferenças que existe entre esses dois microambientes. Material e Métodos O trabalho foi desenvolvido em uma área de capoeira da Reserva Natural do Salto Morato, PR (Coordenadas UTM 772161 S; 7212393 W, Datum horizontal SAD69). Foram amostrados 20 espécimes de Miconia cinerascens, 10 deles na borda da capoeira e 10 no interior. A borda foi considerada a distância com até cinco metros a partir da área aberta. Os indivíduos amostrados no interior da capoeira estavam distantes 30 a 40 metros da borda. Para cada indivíduo amostrado foi retirado um ramo terminal com folhas para a determinação de parâmetros morfofisiológicos dos indivíduos. Em laboratório os ramos foram desfolhados e de cada um deles foi selecionado aleatoriamente uma folha para a medição da fluorescência basal com o auxílio de um fluorômetro (FMS2, Hansatech, UK) para a estimativa de quantidade da clorofila, e a espessura da folha com um paquímetro digital com precisão de 0,01cm. Todas as folhas dos ramos foram medidas no seu comprimento e largura com o auxílio de uma régua com precisão de 1mm para o cálculo da área foliar utilizando a fórmula da elipse. Os ramos e as folhas foram secados em estufa para a obtenção do peso seco para calcular a razão de área foliar, que é a porcentagem de tecido fotossintético. Para o cálculo da taxa de herbívoria as folhas foram dividas em cinco classes de acordo com o grau de herbívoria, através de uma estimativa visual: (1) de 0 a 5% da folha foi perdida na herbivoria; (2) 6 a 15%; (3) 16 a 25%; (4) 26 a 50%; (5) 51 a 100%. Para cada folha selecionada do ramo foi feito um molde com a área total (excluindo danos causados pela herbivoria) em papel sulfite e pesada. Posteriormente foram recortados os pontos marcados com herbivoria e novamente pesados, desta forma, pode-se aferir a taxa de herbivoria. Essa metodologia foi aplicada para verificar a validade do método de estimativa visual. Para análise dos dados foi utilizado teste t pareado para comparação das metodologias de avaliação da taxa de herbivoria. Para os atributos morfofisiológicos dos espécimes tanto de borda como do interior da capoeira utilizou-se teste t. A taxa de herbivoria foi medida através do teste do x2. O intervalo de confiança (a) foi de 5%. Resultados Dos dados mensurados e comparados entre borda e interior apenas dois aspectos foram diferentes entre os ambientes. A fluorescência basal é maior no interior da capoeira (t=2,55; GL=18; P<0,05; Fig. 1). A espessura das folhas é maior na borda (t=2,13; GL=18; P<0,05; Fig. 2). 42 A área foliar (t=0,13; GL=18; P>0,05) e a razão da área foliar (t=1,44; GL=18; P>0,05) não apresentaram diferenças. A metodologia de estimativa visual da taxa de herbivoria mostrou-se eficiente quando comparada com a de modelos em papel (t=1,15; GL=10; P>0,05), não sendo necessário a utilização de técnicas mais acuradas, quando se pretende classificar categorias de herbivoria. A taxa de herbivoria não foi diferente entre os ambientes ( 2=2,54; GL=3; P>0,05). 0.35 0.3 0.25 0.2 0.15 0.1 0.05 0 Borda Mata Figura 1. Média da espessura foliar dos indivíduos analisados da borda e do interior da capoeira da Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba-PR. 470 460 450 440 430 420 410 400 390 Borda Mata Figura 2. Média da fluorescência basal das folhas dos indivíduos de M. cinerascens da borda e do interior da capoeira da Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba-PR. Discussão Tanto a estimativa da quantidade de clorofila quanto à espessura foliar foram diferentes entre a borda e o interior da capoeira, fato que evidencia o efeito da borda nas características morfofisiológicas da espécie. Plantas em ambientes com pouca incidência de luz geralmente apresentam uma maior quantidade de clorofila (Lambers et al., 1998), e isso foi evidenciado para os indivíduos de M. cinerascens do interior da capoeira. 43 Indivíduos do interior da mata geralmente apresentam uma menor capacidade de assimilação de carbono em comparação a exemplares de áreas mais abertas, o que deveria afetar negativamente o investimento em defesa contra herbívoros (Lambers et al., 1998). Este fato não foi observado, apesar de M. cinerascens ser uma espécie pioneira, teoricamente exigente de luz, o grau de herbivoria foi similar entre as áreas. Foi caracterizado que as respostas em M. cinerascens não ocorrem no tamanho foliar nem no nível do ramo. Além disso, embora não tenha sido testado, observamos um maior número de ramos nos indivíduos de borda. Referências bibliográficas Bierregaard Jr., R. O.; Lovejoy, T. E.; Kapos, V.; Santos, A. A. & Hutchings, R. W. 1992. The biological dynamics of tropical rainforest fragments. Bioscience 42: 859-866. Kapos, V. 1989. Effects of isolation on the water status forest patches in the Brazilian Amazon. Journal of Tropical Ecology 5: 173-185. Lambers, H.; Chapin III, F. S.& Pons, T. L. 1998. Plant Physiological Ecology. Springer, New York. Larcher, W. 2000. Ecofisiologia vegetal. RiMa Editora, São Carlos. Lorenzi, H. 2002. Árvores brasileiras: Manual de Identificação e Cultivo de Plantas Arbóreas Nativas do Brasil. Vol 1. Instituto Plantarum, Nova Odessa. Primack, R. B. & Rodrigues, E. 2002. Biologia da Conservação. Gráfica e Editora Midiograf, Londrina. Rodrigues, E. 1998. Edge effects on the regeneration of forest fragments in north Paraná. Tese de PhD. Harvard University. 44 SÍNDROMES DE DISPERSÃO DE ESPÉCIES ARBÓREAS DE CAPOEIRA E CAPOEIRINHA NA MATA ATLÂNTICA Kelly Dayane Aguiar; Marco Aurélio Bregenski; Michel Varajão Garey & Rafael Eduardo Serathiuk Projeto orientado - Profa. Márcia Marques Resumo As síndromes de dispersão foram comparadas entre dois ambientes em estádios sucessionais diferentes na Reserva Natural do Salto Morato, partindo do pressuposto que a dispersão por animais é maior na área em estádio sucessional mais tardio, quando comparada a outra área em estádio sucessional inicial. Analisando as síndromes de dispersão de 24 espécies arbóreas investigadas, a zoocoria foi encontrada com maior freqüência em ambiente de capoeira enquanto os outros tipos de dispersão como anemocoria e autocoria ocorreram na capoeirinha. Palavras-chave: síndrome de dispersão, zoocoria, Mata Atlântica, sucessão Introdução A dispersão de sementes, processo pelo qual sementes são removidas das imediações da plantamãe para distâncias “seguras”, possui grande importância para o ciclo de vida da maioria das plantas (Howe & Miriti, 2004 apud Jordano et al, 2006), pois levará ao estabelecimento de novas plantas adultas. No aspecto reprodutivo, o conjunto de características morfológicas dos propágulos indica uma adequação entre a planta e os vetores de dispersão. Quanto mais eficiente for esse ajuste mais otimizada será a dispersão e consequentemente as condições para germinação da semente e o estabelecimento da planta serão melhores. Como as interações bióticas e abióticas variam entre os ambientes, espera-se que os modos de dispersão também variem nas comunidades vegetais e tais ajustes poderiam explicar os processos de colonização e regeneração de espécies vegetais (Marques & Oliveira, 2005). Desta forma, objetivou-se testar com o presente estudo se a freqüência das síndromes de dispersão em espécies arbóreas está relacionada com o estádio sucessional da comunidade. Materiais e métodos O trabalho foi desenvolvido na Reserva Natural Salto Morato – Guaraqueçaba–PR. Foi estudada a vegetação de dois ambientes pertencentes a diferentes estádios sucessionais da Mata Atlântica (Capoeira e Capoeirinha). No levantamento da vegetação arbórea, foram utilizados os dados de Aguiar et al. (2006), onde foi traçada uma transecção em cada comunidade e a cada 10 metros foi lançado um ponto-quadrante para a escolha dos indivíduos a serem amostrados. O critério utilizado para a seleção de indivíduos foi o 45 perímetro à altura do peito (PAP) superior a 10 cm. A partir da lista de espécies, foram tomados dados da morfologia de frutos e sementes na literatura (Barroso et al., 1999; Lorenzi, 2002; Marques & Oliveira, 2005) com base em que foi feita a classificação da espécie de acordo com a síndrome de dispersão (zoocórica, anemocórica ou autocórica), de acordo com os critérios de Pijl, 1972. O teste de contingência foi utilizado para calcular as diferenças nas freqüências de zoocoria, anemocoria e autocoria entre as comunidades. O intervalo de confiança (a) foi de 5%. Resultados Das 34 espécies analisadas na capoeira e capoeirinha a maior parte (79,4%) tinha dispersão zoocórica e uma menor proporção era anemocórica (14,7%) e autocórica (5,9%) (Tab. 1). No estádio sucessional mais avançado a zoocoria foi a síndrome de dispersão mais freqüente (G=3,81; GL=1; P=0,05). Na capoeirinha, a dispersão não zoocórica (anemocoria e autocoria) é proporcionalmente mais evidente que no estádio mais avançado (Fig 1). Tabela 1. Espécies amostradas na capoeira e capoeirinha e as síndromes de dispersão correspondentes. Espécie Alchornea glandulosa Andira fraxinefolia Aniba firmula Apocynaceae sp 1 Casearia obliqua Cecropia glaziovii Chrysophyllum marginatum Citharexylum mirianthum Cupania oblongifolia Dalbergia brasiliensis Endlicheria paniculata Euterpe edulis Fabaceae sp 1 Guapira opposita Hyeronima alchornoeides Inga edulis Jacaranda puberula Lauraceae sp 1 Machaeriu maculeatum Marlieria tomentosa Miconia cinerascens Myrsine coriacea Myrtaceae sp 1 Ocotea sp 1 Ormosia arborea Pera glabrata Piper sp 1 Psidium guajava Rubiaceae sp 1 Rubiaceae sp 2 Rubiaceae sp 3 Senna multijuga Solanum sp 1 Tibouchina pulchra Síndrome de dispersão Zoocórica Zoocórica Zoocórica Anemocórica Anemocórica Zoocórica Zoocórica Zoocórica Zoocórica Anemocórica Zoocórica Zoocórica Zoocórica Zoocórica Zoocórica Zoocórica Anemocórica Zoocórica Anemocórica Zoocórica Zoocórica Zoocórica Zoocórica Zoocórica Zoocórica Zoocórica Zoocórica Zoocórica Zoocórica Zoocórica Zoocórica Autocórica Zoocórica Autocórica 46 Não Zoocórica 25 Zoocórica Frequência 20 15 10 5 0 capoeirinha capoeira Figura 1. Freqüência de ocorrência das síndromes de dispersão em comunidades de capoeira e capoeirinha, Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba, PR. Discussão O mecanismo de dispersão por animais, a zoocoria é comum nas regiões tropicais, cujos diásporos possuem características como substâncias químicas atrativas e tecido carnoso. De modo oposto, a anemocoria, dispersão pelo vento, é proporcionalmente mais importante em formações vegetacionais abertas, onde os diásporos são transportados a longas distâncias, podendo ser voadores, em forma de balão, alados ou plumosos. A dispersão autocórica está relacionada a um mecanismo de dispersão próprio, sem depender de outros vetores (Pijl, 1972). A diferenciação na composição florística e diversidade da vegetação, bem como as variações nas formas de crescimento, reprodução e estabelecimento das plantas estão relacionados aos estádios da sucessão dos quais as espécies participam. Plantas de estádios iniciais apresentam sementes pequenas e frutos secos, com maior proporção de anemocoria em relação a plantas de estádios mais avançados. Já as plantas tardias em geral apresentam sementes maiores e frutos carnosos, com grande proporção de espécies zoocóricas (Pijl, 1972). Com base nos resultados obtidos, observa-se que a evolução do processo sucessional na Reserva Natural Salto Morato resulta na redução da quantidade de espécies com síndromes de dispersão não zoocóricas e aumento daquelas zoocóricas. Isso evidencia que espécies pioneiras são eficientes colonizadores e se reproduzem rapidamente, ao passo que espécies tardias se reproduzem de forma mais lenta e dependem do mutualismo dispersivo com a fauna. Da mesma forma, plantas zoocóricas são as que mais contribuem para a colonização de ambientes iniciais e aumentam em proporção conforme a sucessão ocorre. O acréscimo em plantas zoocóricas mostra um processo conjunto de aumento em espécies zoocóricas e aumento da fauna no local, resultando na ampliação das interações mutualísticas. 47 Referências Bibliográficas Barroso, G. M.; Morim, M. P.; Peixoto, A. L. & Ichaso, C. L. F. 1999. Frutos e sementes: morfologia aplicada à sistemática de dicotiledôneas. Editora UFV, Viçosa. Jordano, P.; Galetti, M.; Pizo, M. A. & Silva, W. R. 2006. Ligando frugivoria e dispersão de sementes à biologia da conservação. In: Rocha, C. F. D.; Bergalo, H. G.; Sluys, M. V. & Alves, M. A. S. 2006. Biologia da conservação: essências. RiMa, São Carlos. Lorenzi, H. 2002. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Vol. 1, Ed. Plantarum, Nova Odessa. Lorenzi, H. 2002. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Vol. 2, Ed. Plantarum, Nova Odessa. Marques, M. C. M. & Oliveira, A. M. 2005. Características reprodutivas das espécies vegetais da planície costeira. In: Marques , M. C. M. & Britez, R. M. História Natural e Conservação da Ilha do Mel. Editora UFPR. Curitiba. Pijl, L.1972. Principles of dispersal in higher plants. Springer Verlag, New York. Rocha, C. F. E.; Beragallo, H. G.; Sluys, M. V.; Alves, M. A. S. 2006. Biologia da Conservação: Essências. RiMa Editora. São Carlos. 48 COMPARAÇÃO DE EFICIÊNCIA DA CAPTURA POR TEIAS DE ARANHAS EM FLORESTA OMBRÓFILA DENSA Ana Luiza Gandara Martins, Cristiane Hiert & Denilson Roberto Jungles de Carvalho Projeto Livre Resumo As teias são armadilhas que reduzem o gasto energético da caça A estratificação, forma, tamanho e distribuição de diferentes teias e a sua eficiência foram comparados em 15 teias. No total, quatro observações de forrageio em cada teia com intervalos de 20 min foram realizadas. Taxas de captura das teias são baixas, e a variabilidade das teias escolhidas foi alta. Assim, não foram comprovadas diferenças nas eficiências delas. Recomendamos uma maior precisão de medidas e maior número de amostras. Palavras-chave: aracnídeos, teia de aranha, predação, forrageo ótimo. As aranhas pertencem a um grupo diverso que ocorre em todos os ambientes no Brasil, sendo particularmente abundantes em áreas de vegetação densa, sendo que a maioria das espécies vive em ambientes bem definidos, como por exemplo, a serrapilheira e variados estratos da vegetação (Buzato et al, 2003). A combinação entre heterogeneidade de ambientes e recursos alimentares pode influenciar a composição de comunidades de espécies. Assim, a diversidade de aranhas pode tender a acompanhar a estrutura e a complexidade da fisionomia vegetal (Paiva et al, 2002). Varias adaptações possibilitam às aranhas a captura das presas que, geralmente são muito móveis, como por exemplo, a existência de glândulas de veneno e a confecção de teias de captura para as espécies que possuem a tática de “senta e espera” para obtenção de alimento (Buzato et al, 2003). As teias são armadilhas para aumentar a eficiência na captura do alimento, minimizando o gasto de energia e otimizando o tempo de manipulação da presa (Buzato et al, 2003). E as glândulas de veneno podem imobilizar rapidamente as presas. A combinação dos dois fatores pode influenciar a eficiência de captura. Para testar esta hipótese, este trabalho teve dois objetivos: (1) testar se a forma e a estratificação das teias variam. (2) testar se a eficiência das teias na captura de presas, está relacionada à sua forma e estratificação vertical. Material e Métodos O estudo foi realizado em uma trilha na Reserva Natural Salto Morato, Paraná, em uma área de estágio intermediário de sucessão de Floresta Ombrófila Densa de Mata Atlântica. A trilha foi percorrida na procura de teias até que 15 teias fossem encontradas. O comprimento, diâmetro vertical e altura do solo foram medidos em cada teia, que também foi designada em duas classes: circular e irregular. As capturas de presas por teia foram registradas, tanto novas quanto velhas. Após esta caracterização, as teias foram visitadas a cada 20 minutos durante uma hora para avaliar a predação durante este intervalo. 49 Para testar se forma influencia forrageio, diâmetro e altura, o Teste t de Student foi usado. Para testar se eficiência na captura (ausente/presente) foi influenciada por diâmetro e altura da teia, a regressão logística foi usada. O alfa utilizado foi de 0,05 (Fowler & Cohen, 1990). Resultados A taxa de captura total foi baixa. Em total, 18 eventos de captura foram registradas, com menos de dois registros no total por teia. Forma da teia não foi associada com forrageio (t=0,48; GL=13; P > 0,05) nem altura ( t=0,59; GL=13; P > 0,05, Figs. 1, 2). Captura de presas também não foi associado com altura (F, P > 0,05), diâmetro vertical da teia (F, P > 0,05), nem comprimento (F, P > 0,05; Fig. 3). 1 0,9 Registro de Forrageioabi 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0 irregular circular Formas Figura 1. Comparação entre as médias de forma e registro de atividades de forrageio nas teias amostradas. 120 Distância do Soloabi 100 80 60 40 20 0 irregular circular Formas Figura 2. Comparação entre as médias de forma e distância do solo nas teias amostradas. 50 Figura 3. Relação entre distância do solo (A), altura da teia (B) e largura da teia (C) com o registro das atividades de forrageio respectivamente nas teias amostradas. Discussão A relação entre as características das teias e eficiência de captura não foi visível nesta pesquisa. Isso pode ser por várias razões que listamos aqui no interesse de proporcionar informações para pesquisas futuras. 1) Desde que teias são bem complexas, deve-se escolher um tamanho amostral maior, de cada tipo de teia; 2) A precisão das medidas deve ser otimizada de forma que permita estimar a área de captura da teia; 3) um intervalo maior entre revisão das teias é importante, para se ter tempo de captura. A taxa de captura é baixa em geral, então é importante ou mais tempo entre capturas, ou ter um número muito maior de teias. Baseado em uma análise de poder, se o projeto futuro for realizado durante apenas uma noite, seria necessário um número mínimo de 50 teias para representar a variabilidade dessas. Em adição, vistorias podem ser feitas no primeiro momento para estabelecer a quantidade de presas iniciais e no final da pesquisa, para contar os itens novos. Embora a variabilidade de eficiência não tenha sido observada, as teias são energéticamente caras e podem variar conforme a espécie. Então, acredita-se que este projeto piloto funcionou na obtenção de informação de como fazer a pesquisa, desde que o esforço amostral foi subestimado e a variabilidade das teias foi maior do que esperado. 51 Referências Bibliográficas Buzato, S; Pivello, V.R. & Mantovani, W. 2003. Livro da disciplina ecologia de campo. Instituto de Biociências, São Paulo. Fowler, J.F. & Cohen, L. 1990. Practical statistics for field biology. Open University Press, Philadelphia. Paiva, L.V.; Amaral, P.P.; Santos, C.C.; Bueno, P.A.A.; Araújo, A.C.; Souza, F.L. & Fischer, E. 2002. Ecologia do Pantanal – curso de campo. Editora Oeste, Campo Grande. 52 ABUNDÂNCIA DE GIRINOS E SUA INTERAÇÃO COM FATORES BIÓTICOS E ABIÓTICOS Ana Luiza Gandara Martins, Cristiane Hiert & Denílson Roberto Jungles de Carvalho Projeto Livre Resumo O trabalho objetivou avaliar a influência de parâmetros químicos e estruturais de seis poças em ambientes de mata, borda e área aberta em relação à abundância de girinos. Foram realizadas 10 amostragens com peneira, distribuídas uniformemente em cada uma das poças. Não foi encontrada qualquer relação entre as características das poças e a abundância de girinos, sendo que a ausência de padrão pode refletir a influência da historia natural das espécies de anfíbios na escolha dos sítios de desova. Palavras-chave: girinos, anuros, mata atlântica, sítios de desova. Introdução O declínio global de determinadas populações de anfíbios é freqüentemente relacionado à grande sensibilidade a alterações ambientais, como também pelo uso de habitats aquáticos e terrestres por larvas e adultos respectivamente (Blaustein & Kiesecker, 2002). O sucesso reprodutivo das espécies está ligado a diversos fatores bióticos e abióticos, como o sítio de vocalização e características do canto, escolha do macho pela fêmea para o amplexo, localização do sítio de desova (em decorrência do modo reprodutivo da espécie), cuidado parental (observado em algumas espécies) e também pelas condições do ambiente de desova (Duellman & Trueb, 1986). Alguns parâmetros químicos podem influenciar as formas de vida aquática, pois causam perturbações ambientais e conseqüentes alterações na composição das comunidades. Comparando-se com o ar, a água possui pouco oxigênio dissolvido (pois se trata de um gás pouco solúvel), que cumpre papel importante na decomposição da matéria orgânica. Assim, quanto maior a quantidade de matéria orgânica na água, menos oxigênio dissolvido, e conseqüentemente as espécies devem possuir capacidade de adaptação a esses meios para sobreviver (Dias et al, 2000). As poças temporárias e permanentes, usadas como sítios de desovas pelos anfíbios, diferem quanto à composição de espécies, especialmente pela ocorrência de espécies ditas oportunistas, ou pela presença de espécies que apresentam reprodução explosiva (Skelly, 2003). Os girinos são caracterizadas por uma grande diversidade morfológica, o que dificulta seu enquadramento taxonômico em nível específico (Heyer, 1973). A taxa de sobrevivência dos girinos varia de acordo com a espécie e depende de alguns fatores como: durabilidade da poça onde foi colocada a desova, características estruturais da poça e presença de predadores no ambiente (McDiamird & Altig, 1999). Dessa forma, este trabalho teve como objetivo avaliar a relação da abundância de girinos em poças localizadas em diferentes ambientes, a partir de parâmetros estruturais e químicos. 53 Material e Métodos O estudo foi realizado em seis poças na Reserva Natural Salto Morato, município de Guaraqueçaba, Paraná. Foram escolhidas duas poças em cada ambiente sendo: duas em mata, duas em local aberto e duas em áreas de borda. Todas as poças foram medidas quanto a sua largura, comprimento e profundidade. Para as análises químicas utilizou-se de Kit de análises físico-químicas para campo, o qual utiliza de métodos colorimétricos para medição, sendo analisados dois parâmetros, oxigênio dissolvido (OD) e demanda química de oxigênio (DQO). O levantamento da abundância foi realizado com o auxílio de duas peneiras, uma redonda com 1m de diâmetro e malha de 0,05cm e outra retangular com 200cm2 de área e malha de 0,005cm. Foram efetuadas 10 amostragens em cada poça, cinco com cada peneira, ao redor de toda a poça e quando possível próximo ao centro da mesma. Os indivíduos capturados foram contados e guardados em sacos plásticos, para evitar a recontagem, e liberados ao final da amostragem. Para verificação da relação entre os parâmetros químicos e a abundância de girinos, bem como entre a área total de cada poça e a abundância, foram utilizados testes de correlação de Pearson. Já para testar a abundância de girinos entre os três ambientes amostrados, foi utilizada a análise de variância (ANOVA). O alfa utilizado para os testes foi de 0,05 (Fowler & Cohen, 1990). Resultados A abundância de girinos foi independente das variáveis abióticas (todas as correlações P > 0,05). Porém, na análise da relação entre a área da poça e a densidade de girinos, pôde-se observar uma tendência à relação inversa entre tais variáveis (r=- 0,57), o que poderia ser evidenciado com o aumento do número amostral. Comparando-se os três tipos de ambiente, observou-se que não houve diferença na abundância de girinos (F2,3=0,51; p>0,05; Fig. 1). Fig. 1: Abundância de girinos em poças nos ambientes de mata, borda e área aberta. 54 Discussão A ausência de um padrão nos três ambientes estudados pode refletir de certa maneira alguns aspectos interessantes que podem ser explorados na busca de um entendimento melhor da comunidade de girinos. Um dos aspectos é que a comunidade de girinos das poças amostradas possui grande adaptação ao meio, não sofrendo grande influência dos fatores abióticos amostrados, e desta maneira não variando de uma poça para outra ou de um ambiente para outro. A tendência observada quanto à menor densidade de girinos em poças maiores pode ser explicada pela maior dispersão dos indivíduos no ambiente, como também pela presença de predadores de maior porte como peixes, que utilizam amplamente os girinos como suas presas. De outra forma, a estratégia reprodutiva de cada espécie deve atuar fortemente com relação a abundância de girinos, visto que o número de ovos colocados por cada espécie de anuro, varia enormemente. A falta de um enquadramento melhor dos ambientes que cercam os locais amostrados quanto à região que pertencem (borda, mata ou aberta) e de uma classificação das poças quanto a aspectos como permanência no ambiente e disposição espacial em relação ao ecossistema da área, podem de certa maneira ter influenciado os resultados obtidos. Seriam necessárias também vistorias noturnas para registro dos indivíduos adultos em atividade de vocalização, o que indicaria a provável utilização do ambiente como sítio reprodutivo e de certa maneira uma maior previsibilidade da situação que seria encontrada em campo. Referências Bibliográficas Blaustein, A.R. & Kiesecker, J.M. 2002. Complexity in conservation: lessons from the global decline of amphibian populations. Ecology Letters 5: 597-608. Dias, M.C.O.; Trindade, A.V.C. & Boscardin, C.R. 2000. Manual de avaliação e classificação da qualidade da água. Prefeitura Municipal de Curitiba, Curitiba. Duellman, W.E. & Trueb, L. 1986. Biology of amphibians. McGraw-Hill, New York. Fowler, J.F. & Cohen, L. 1990. Practical statistics for field biology. Open University Press, Philadelphia. Heyer, W.R. 1973. Ecological interactions of frog larvae at a seasonal tropical location in Thailand. Journal of Herpetology 7(4): 337-361. McDiamird, R.W. & Altig, R. 1999. Tadpoles: the biology of anuran larvae. University of Chicago Press, Chicago. Skelly, D.K.; Yurewickz, K.L.; Werner, E.E. & Relyea, R.A. 2003. Estimating decline and distributional changein amphibians. Conservation Biology 17(3):744-751.2003 55 ESTRATÉGIAS DE ESTABELECIMENTO DE PLANTAS EM UM GRADIENTE ALUVIAL Ana Luiza G. Martins, Cristiane Hiert & Denilson Jungles de Carvalho Projeto orientado – Profa. Márcia Marques Resumo As margens rios de corredeira são ambientes expostos a diversos distúrbios naturais como, solo pobre e com baixa profundidade e ações físicas da água freqüentes. No rio Morato três parcelas em gradiente perpendiculares à margem foram analisados para avaliação dos efeitos destas condições na morfologia, formas de vida e estratégia de propagação da vegetação. Os resultados demonstraram que conforme varia a distância em relação à margem, a comunidade vegetal apresenta variações em suas estruturas morfológicas como forma de adaptação. Palavras – chave: Alocação de recursos, comunidades vegetais, reprodução, nutrientes, ambientes lóticos Introdução Em qualquer momento na vida de um organismo, há uma quantidade limitada de energia a ser gasta ou de recurso disponível a ser consumido. As plantas apresentam exigências muito similares quanto aos mesmos recursos, potencialmente limitados. Quando as espécies vegetais competem, há repercussões recíprocas entre raízes e partes aéreas. Enquanto as raízes extraem água e minerais essenciais do solo e estão associadas a fixação, caules e folhas promovem absorção de luz e expansão (Townsend et al, 2006). Plantas individuais mostram uma habilidade em ajustar sua razão raiz/parte aérea de acordo com a condição que prevalece de disponibilidade de luz, água e nutrientes. As características mais evidentes das plantas em ambientes com pouco nutriente são seu pequeno tamanho, folhas pequenas, fortes e de vida longa e sua maior razão entre raiz e parte aérea ( Chapin, 1980, Vitousek, 1982; apud Crawley, 1997). Plantas apresentam pronunciados polimorfismos, que podem também se manifestar na sua forma de vida. As plantas herbáceas possuem diferentes formas de crescimento, cuja manutenção demanda uma relativa baixa quantidade de energia, quando comparadas com espécies de hábito lenhoso. Outra vantagem é a habilidade de mudar continuamente a eficácia dos rizomas, estolões e brotamentos (Crawley, 1997). Por outro lado, a possibilidade de um maior crescimento em extensão faz com que organismos lenhosos possam ter maior eficiência na obtenção de luz, promovendo maior habilidade competitiva em ambientes pouco iluminados. Portanto se as condições do ambiente mudam, é possível que haja uma variação nas formas de crescimento de espécies de uma comunidade. Plantas herbáceas têm a capacidade de se propagar radialmente, formando grupos extensos e clonados (Crawley, 1997), como ocorre com algumas espécies de reprodução vegetativa. A reprodução vegetativa é a multiplicação assexuada de um indivíduo originário de um zigoto de formação sexuada em unidades espacialmente separadas. Geralmente, pode-se assumir que estes novos indivíduos são de natureza clonada e geneticamente idênticos a seus pais (Richards, 1986). Esta forma de reprodução 56 permite a ocupação mais rápida de um ambiente com um menor consumo de energia, dado que esta não necessita investir na produção de gametas. A característica mais evidente da reprodução sexuada é a criação de combinações infinitas de diversidade genética. A variabilidade genética permite respostas evolucionárias a mudanças ou novas condições ambientais, no entanto o gasto necessário para este tipo de reprodução é alto, podendo ser menos eficiente do que a assexual em condições limitantes de polinização cruzada. No entanto, plantas de reprodução sexual podem vir a apresentar reprodução vegetativa, sendo esta variação comum em ambientes marginais. Isto pode ocorrer em situações limites para as plantas ou em ambientes muito severos, podendo ser vantajoso se reproduzir assexualmente (Richards, 1986). Os riachos e rios são caracterizados por sua forma linear, fluxo unidirecional, escoamento oscilante e leitos instáveis, sendo estes intimamente conectados ao ambiente terrestre de entorno. (Townsend et al., 2006). Rios de corredeira influenciam constantemente s características do substrato, a disponibilidade de nutrientes, além de promover ação física sobre a vegetação terrestre próxima a margem. A partir da linha dágua forma-se um gradiente de umidade, tamanho de sedimento, profundidade do solo que em geral associa-se a um aumento na disponibilidade de nutrientes. Com base nestas informações espera-se que exista uma mudança na morfologia, na freqüência das formas de vida e na estratégia de propagação das espécies vegetais no gradiente da margem para o ambiente terrestre. Este trabalho teve como objetivo avaliar se há variação nas estratégias de estabelecimento da comunidade vegetal localizada em uma margem deposicional de um rio de corredeira. Material e Métodos O estudo foi realizado ao longo de uma faixa de aproximadamente 100m do Rio Morato, junto à trilha do salto na Reserva Natural Salto Morato, município de Guaraqueçaba, Paraná. A vegetação de entorno do rio é Floresta Ombrófila Densa aluvial com baixo grau de perturbação antrópica. Foram escolhidas regiões de deposição de sedimento ao longo de porções de corredeira na margem do rio Morato, onde se instalaram cinco linhas perpendiculares em relação a margem do rio. Em cada linha foram alocadas três parcelas de 1 x 1m, afim de se amostrar diferentes gradientes, próximo à margem (P), a uma distância media (M) e distante da margem (D), sem espaçamento entre elas. Em cada parcela foram coletados espécimes vegetais dicotiledôneas de hábito arbustivo-arbóreo e herbáceo, juvenis e adultos, de até 50 cm de altura. Para cada indivíduo foram anotadas as seguintes informações: comprimento da parte aérea (PA), comprimento da raiz (R), definição das formas de vida (herbácea ou lenhosa) e a presença ou ausência de propagação vegetativa. Para se verificar diferenças de investimento em parte aéreas (PA) e raiz (R) ao longo do gradiente foram comparadas as médias da razão (R/PA) em cada situação (P, M e D) utilizando-se a análise de variância (ANOVA). Já para se testar a relação entre as formas de vida e presença de crescimento 57 vegetativo ao longo do gradiente nas três situações se utilizou do teste de independência. O alfa utilizado foi de 0,05 (Fowler & Cohen, 1990). Resultados No total foram coletados 307 indivíduos nas 15 parcelas amostradas. Não foi encontrada diferença de densidade de plantas ao longo do gradiente (F2, 12 = 0,06; P > 0,05). Já a quantidade de indivíduos sem propagação vegetativa foi superior aos que apresentavam tal característica. Houve diferença nas distribuições das formas de propagação ao longo gradientes, apresentando um maior número de indivíduos com propagação vegetativa nas parcelas próximas em relação as demais (G = 34,27; GL = 2; P < 0,001) (Fig. 1A). Quanto à forma de vida foi verificado um número maior de indivíduos herbáceos em relação a lenhosos. Houve diferenças entre as parcelas, sendo que a freqüência de indivíduos herbáceos era maior na parcela P, diminuindo em direção a D (G = 17,37; GL = 2; P < 0,002) (Fig. 1B). Sem Propagação Vegetativa Com Propagação Vegetativa B 120 Frequência de Indivíduosabcii Frequência de indivíduosabci A 103 100 80 73 59 60 44 40 17 20 11 Herbáceos 100 Lenhosos 91 90 85 80 70 57 60 50 40 33 29 30 20 12 10 0 0 Próximo Média Próximo Distante Média Distante Figura 1. A - Freqüência de indivíduos com e sem propagação vegetativa ao longo do gradiente aluvial do rio Morato. B - Freqüência de indivíduos herbáceos e lenhosos ao longo do gradiente aluvial do rio Morato. Para a razão entre a raiz e a parte aérea (R/PA) ao longo do gradiente, houve diferença entre as parcelas mais extremas (P e D), porém não foi observada diferença entre estas e a parcela média (M) (F4,12 = 4,12; P < 0,01) (Fig. 2). 0,6 A 0,5 AB R/PA) 0,4 0,3 B 0,2 0,1 0 Próximo Média Distante Fig. 2: V ariação das m édias (+ EP) da razão raiz e parte aérea (R/PA) ao longo do gradiente aluvial do rio Morato. 58 Discussão A partir dos resultados, pode-se afirmar que existem investimentos diferenciados nas plantas que sofrem a ação direta do ambiente aluvial próximo à margem, no sentido de um aumento do comprimento da raiz, maior ocorrência do hábito herbáceo e de propagação vegetativa. É possível que em condições ambientais mais estressantes, como nos ambientes aluviais, os organismos com propagação vegetativa tendem a ocorrer com maior freqüência, provavelmente devido a velocidade de geração de novos indivíduos e taxa de ocupação serem mais rápidos que os organismos sem esta característica (reprodução por sementes). Devido ao menor investimento de herbáceas em partes aéreas, as raízes podem ser proporcionalmente maiores, auxiliando a fixação em locais com solo escasso. A maior razão R/PA próximo à margem deve estar associada a maior concentração de plantas herbáceas nesta região. Conforme o distanciamento da margem, plantas com estruturas lenhosas aumentam em proporção devido ao aumento da espessura do solo e a disponibilidade de nutrientes, o que permite um maior investimento na parte aérea em relação à raiz, já a proporção de herbáceas diminui provavelmente devido ao maior sombreamento causado pela presença de lenhosas. Conforme Crawley (1997) existem diversas vantagens para as plantas com formas de vida herbáceas, como a energia que não é usada na manutenção e suporte de estruturas lenhosas, podendo alocar em outras estruturas como a propagação das raízes como forma de ocupação de terrenos pobres e rasos. Assim, ao longo do gradiente aluvial a granulometria tende a diminuir e a disponibilidade de nutrientes e profundidade do solo a aumentar, estas condições favorecem a ocupação de organismos lenhosos, possivelmente por apresentarem maior eficiência na obtenção de luz. Considerando que os atributos avaliados variam no gradiente aluvial, é possível sugerir que grande parte das variações estruturais observadas neste tipo de comunidade seja o reflexo de pressões exercidas pelo ambiente sobre os indivíduos, influenciando a estratégia de estabelecimento e sobrevivência. Referências Bibliográficas Crawley, M.J. (Ed.) 1997. Plant ecology. Oxford: Blackwell Science. Fowler, J.F. & Cohen, L. 1990. Practical statistics for field biology. Open University Press, Philadelphia. Richards, A. J. 1986. Plant Breeding Systems. George Allen & Unwin Ltd., London. Towsend, C.; Begon, M. & Harper J.L. 2006. Fundamentos em Ecologia. 5ª ed. Artmed, Porto Alegre. 59 O AMBIENTE INFLUENCIA NA DISTRIBUIÇÃO DAS ESPÉCIES DE ANFÍBIOS ANUROS? Ana Luiza Gandara Martins, Cristiane Hiert & Denilson Jungles de Carvalho Projeto orientado – Profa. Marilia Hartmann Resumo Para verificar fatores que influenciam a composição de espécies de anuros em diferentes ambientes, avaliaram-se três poças localizadas em área aberta, borda de mata e interior de floresta, sendo registradas três, cinco e oito espécies, respectivamente. Não foram encontradas correlações entre fatores abióticos e riqueza de anuros, com exceção da umidade. Na distribuição vertical, Dendropsophus minutus e Scinax argyreonatus utilizaram estratos diferenciados da vegetação, mostrando que esta variação na utilização do ambiente possibilitaria maior diversidade, auxiliando na estruturação desta comunidade. Palavras – chave: anuros, distribuição espacial, fatores abióticos, comunidade, Mata Atlântica. Introdução Uma das questões de interesse fundamental na ecologia é saber quais fatores e de que forma eles influenciam na composição de espécies de uma determinada comunidade, explorando uma base comum de recursos. Esta estruturação das comunidades é resultado de uma série de fatores ambientais, ecológicos e evolutivos e suas interações ao longo do espaço e do tempo, originando complexas e intrigantes questões de como o número de espécies varia dentro de diferentes escalas (Towsend et al, 2006). Em se tratando da estrutura dos ambientes, existe uma relação direta da heterogeneidade espacial com a riqueza de espécies, onde um habitat com maior complexidade disponibilizaria mais microambientes, uma variação maior de micro-clima e conseqüentemente uma maior disponibilidade de refúgios, sítios reprodutivos e oferta de presas (Magurram, 1988). Dessa forma, ambientes complexos favoreceriam organismos com histórias de vida particulares, como por exemplo, a fauna de anfíbios anuros do bioma Mata Atlântica por apresentar uma alta diversidade de espécies, elevada taxa de endemismo e, assim, grande variedade de modos reprodutivos (Heyer et al, 1990). Já em relação a influencia dos fatores ambientais nas comunidades de anuros, vários estudos mostram uma forte relação entre variáveis climáticas como temperatura e umidade relativa do ar, precipitação, com o número de espécies e indivíduos em atividade reprodutiva (Conte & Machado, 2005). Dessa forma, este trabalho objetivou verificar a distribuição espacial dos anuros em três ambientes distintos, avaliando de que forma a complexidade do habitat e os parâmetros físicos influenciam nessa distribuição. 60 Material e Métodos O trabalho foi desenvolvido em três poças semi-permanentes distribuídas ao longo de três ambientes de floresta ombrófila densa, área aberta, área de borda e área de mata. As poças estão dentro da Reserva Natural de Salto Morato situada no Município de Guaraqueçaba – PR. Foram realizadas três saídas a campo, duas noturnas para registro das atividades das espécies de anfíbios anuros e uma saída diurna para medição dos seguintes parâmetros ambientais: Temperatura do ar e da água; área da poça; umidade; altura dos estratos vegetais na margem da poça; profundidade da poça; morfotipos vegetais disponíveis e morfotipos utilizados. Para temperatura da água foram utilizados dois termômetros de coluna de mercúrio alocados em extremidades opostas das poças por cerca de 5 minutos. Para temperatura do ar e a umidade foi utilizado um termo-higrômetro digital. Para o cálculo da área da poça foram retiradas as medidas de comprimento e largura máxima das poças, com trena de 30m, e o valor total da área estimado através de cálculos geométricos. A medida da profundidade foi retirada também com o auxilio de trena no ponto mais central da poça. Os morfotipos vegetais foram classificados em herbáceos, arbustivos e arbóreos e para o cálculo da altura dos estratos vegetais foram medidos quatro pontos ao longo da margem da poça. Os morfotipos utilizados foram levantados através da visualização direta da presença de espécies de anfíbios anuros sobre os mesmos. Foi também realizada a caracterização geral das poças (formato, tamanho e vegetação marginal) através da montagem de um croqui esquemático das áreas. Os dados abióticos foram comparados com a riqueza das poças através de correlação de Pearson. Dados dos morfotipos disponíveis e dos utilizados foram correlacionados utilizando-se a mesma análise. Foi ainda realizada uma análise de variância (ANOVA) para verificar a altura de registro das espécies nos seus microambientes. O alfa utilizado nas análises foi de 0,05 (Fowler & Cohen, 1990). Resultados A área aberta apresentou a menor riqueza, com um total de três espécies (Dendropsophus berthalutzae, Scinax alter e S. littoralis), seguida pela borda de mata com cinco (D. minutus, S. alter, Phyllomedusa distincta, D. berthalutzae e Hypsiboas faber) e interior de floresta com oito espécies no total (S. littoralis, S. argyreornatus, Physalaemus spiniger, D. microps, Scinax sp (grupo catharinae), D. minutus, P. distincta e S. fuscovarius). Em relação às análises de relação entre as variáveis abióticas e bióticas, além da umidade relativa do ar, não foram observadas relações entre tais parâmetros nas três poças amostradas, como mostra a tabela 1: 61 Tabela 1: Relação entre variáveis ambientais com a riqueza de anuros nos e ambientes amostrais. Relação r P Temperatura da água X Riqueza 0,27 0,59 Temperatura do ar X Riqueza 0,50 0,60 Umidade relativa do ar X Riqueza -0,99* 0,02* Profundidade da poça X Riqueza 0,87 0,30 Área da poça X Riqueza 0,29 0,81 Altura da vegetação X Riqueza 0,32 0,07 Morfotipos disponíveis X Riqueza 0,47 0,20 Morfotipos disponíveis X Morfotipos utilizados 0,36 0,34 *Variáveis inversamente correlacionadas Na verificação da estratificação vertical das espécies observadas, D. minutus e S. argyreonatus diferiram quanto à utilização de microhabitats (Figura 1), enquanto D. berthalutzae e S. littoralis utilizaram a mesma faixa de altura na vegetação (r2=0,51; F3,17=5,83; P<0,01). Fig. 1: Distribuição de D. berthalutzae, D. minutus, S. argyreonatus e S. littoralis em diferentes estratos da vegetação marginal das poças. O desenho esquemático das poças (figura 2), elaborado a partir da contagem e distribuição de morfotipos vegetacionais nas margens das poças, revelou um padrão diferenciado da composição das plantas herbáceas, arbustivas e arbóreas nos três ambientes. 62 Fig. 2: Desenho esquemático dos ambientes amostrais, sem observação de escala, onde: (A) poça em área aberta; (B) poça em borda de mata e (C) poça no interior de floresta. Discussão A análise dos parâmetros ambientais mostrou que a comunidade de anfíbios anuros não esta está sendo estruturada em primeiro plano pela variação destes. É possível que fatores como história de vida das espécies bem como sua evolução tenham maior influência nesta estruturação, por se tratar de um local bem preservado e que mantém em grande parte as características ambientais naturais da floresta ombrófila densa, desta forma os parâmetros abióticos tendem a variar menos para essa região. Um dado interessante encontrado, e que mostra uma tendência provavelmente equivocada, foi a relação negativa entre umidade do ar e riqueza. Esse dado pode ser explicado devido as chuvas freqüentes durante as coletadas de dados e sua relação com a estrutura das áreas amostradas, em áreas abertas onde existe uma menor cobertura do dossel, a chuva é distribuída uniformemente pelo ambiente aumentando consideravelmente a umidade do ar. Já em ambiente florestal onde o dossel forma de certa maneira uma proteção para a área logo abaixo, a umidade do ar deve variar de forma muito mais lenta e gradual, esse fato deve ter influenciado as medições forçando o resultado obtido. Foi possível achar diferenças na distribuição das espécies em relação a altura de utilização dos estratos vegetais, essa relação mostra que a distribuição de nichos ecológicos para essas poças possibilita talvez a maior diversidade de espécies e conseqüentemente auxilia na estruturação desta comunidade. Referências Bibliográficas Conte, C.E. & Machado, R.A. 2005. Riqueza de espécies e distribuição espacial e temporal em comunidade de anuros (Amphibia, Anura) em uma localidade de Tijucas do Sul, Paraná, Brasil. Revista Brasileira de Zoologia 22 (4):940-948. Fowler, J.F. & Cohen, L. 1990. Practical statistics for field biology. Open University Press, Philadelphia. Heyer, W.R; Rand, A.S.; Cruz, C.A.G.; Peixoto, O.L. & Nelson, C.E. 1990. Frogs of Boracéia. Arquivos de Zoologia 31(4):231-410. Magurran, A. E. 1988. Ecological Diversity and Its Measurement.Cambridge, UK.179pp. Towsend, C.; Begon, M. & Harper, J.L. 2006. Fundamentos em Ecologia. 5ª Ed. Artmed, Porto Alegre. 63 DIVERSIDADE TAXONÔMICA EM DIFERENTES ESTÁDIOS SUCESSIONAIS DE FLORESTA PLUVIAL DE MATA ATLÂNTICA Ana Luiza Gandara Martins, Cristiane Hiert & Denilson Roberto Jungles de Carvalho Projeto orientado – Prof. Marco Antônio Batalha Resumo Diversidade taxonômica é sensitiva a perturbações, robusta em métodos de amostragem e apropriado para avaliar diferentes comunidades. O filtro ambiental pode causar a aproximação de taxa semelhantes, já a exclusão competitiva causa repulsão destes. Utilizou-se o método dos quadrantes para amostrar dois ambientes em diferentes estádios sucessionais. 34 amostras foram identificadas e classificadas em cinco categorias taxonômicas. A diversidade taxonômica foi menor no capoeirão, provavelmente pela ação de filtros ambientais, enquanto que na capoeirinha a exclusão competitiva pode estar agindo. Palavras-chave: Diversidade taxonômica, filtro ambiental, atrator filogenético, repulsor filogenético, sucessão. Introdução Para propósitos de proteção ambiental em larga escala, dados sobre abundância de espécies são geralmente desconhecidos, sendo a riqueza o único dado disponível. Para a escolha de locais para ações conservacionistas, a informação sobre abundância de espécies é muitas vezes irrelevante, podendo ser inexpressivos para organismos muito diferentes (Ricotta, 2005). Vane-Wright et al. (1991) foram os primeiros a propor uma medida da “distinção taxonômica” de espécies, que é baseada na topologia de classificações cladísticas. As distâncias taxonômicas podem ser baseadas em diferenças morfológicas e funcionais, na taxonomia de Linnaeus ou em métodos de biologia molecular mais refinados (Ricotta, 2005). Segundo Faith (1992, apud Ricotta, 2004), a diversidade taxonômica se dá pelo conjunto das distâncias pareadas acumuladas entre as espécies baseadas em árvores taxonômicas (Fig. 1). Izsák & Papp (2000, apud Ricotta, 2005) desenvolveram uma fórmula para a criação da matriz de distâncias taxonômicas entre as espécies, sendo a matriz da distância entre as espécies e os elementos dij os elementos que unem as distâncias taxonômicas entre as espécies i e j, como em dij = dij, temos: = i, j dij, que forma: Fig. 1: Árvore taxonômica artificial com sua matriz de distância entre espécies para ilustrar como as distâncias taxonômicas são medidas (modificado de Ricotta, 2004). 64 Clarke e Warwick (1998) propuseram um método de medição da distinção taxonômica e diversidade taxonômica de comunidades, que se mostra muito sensitivo a perturbações, robusto com respeito a diferentes métodos de amostragem, e apropriado para avaliar diferenças entre comunidades (Silva & Batalha, 2006). Um agrupamento na distribuição filogenética de um taxon indica que o uso do habitat é um traço conservativo do banco de espécies na comunidade, e a atração fenotípica domina sobre a repulsão, sendo o filtro ambiental um dos mecanismos que pode causar a aproximação de taxa (Webb et al., 2002). No entanto, uma maior dispersão filogenética pode ser resultante tanto se taxa relacionados que utilizam nichos similares estão sendo localmente excluídos (exclusão competitiva), quanto taxa distantes convergem no uso de um nicho similar e são filogeneticamente atraídos (Webb, et al., 2002). Em escalas temporais intermediárias, sucessões ecológicas de plantas podem ocorrer em períodos que variam de anos a séculos. Devido ao processo sucessional, se não houver nenhuma perturbação adicional, a riqueza de espécies inicialmente aumenta (colonização), porém eventualmente decresce (competição) (Townsend, et al., 2006). Com base nestes aspectos levantados, e no fato de estudos anteriores desenvolvidos neste curso, terem observado uma diminuição na riqueza, diversidade tradicional e diversidade funcional de uma área de floresta pluvial atlântica com 12 anos de regeneração a outra em estádio mais avançado, postulamos que a diversidade taxonômica acompanha esse padrão. Material e Métodos A área de estudo está situada na Reserva Natural Salto Morato, município de Guaraqueçaba – PR, sendo que a cobertura vegetal existente é constituída, em sua maioria, por áreas de floresta ombrófila densa primária, e também por áreas de vegetação secundária, em diferentes estádios de regeneração, denominadas “capoeirinha” e “capoeirão”, selecionadas como foco para este estudo. Em cada ambiente percorremos uma transecção de cerca de 80 metros, com oito pontos amostrais distribuídos a cada 10 metros, sendo aplicado o método dos quadrantes (Mueller-Dombois & Ellenberg, 1974), para o registro de quatro espécimes em cada ponto amostral, considerando-se os indivíduos com perímetro à altura do peito (PAP) de no mínimo 10 cm. Além destes, incluímos os dados de mais 15 pontos amostrais obtidos em cada uma das áreas, utilizando-se do mesmo método. Cada exemplar foi identificado e diferenciado taxonomicamente em cinco categorias: espécie, gênero, família, ordem e clado principal, este último obtido de uma classificação filogenética de Angiospermas criado pelo Angiosperm Phylogeny Group (2003). Nós excluímos algumas espécies que não foram identificadas ao menos até família. A árvore filogenética para a produção da matriz taxonômica foi construída baseada na recente classificação molecular de angiospermas (APG II, 2003). Os dados foram avaliados por meio do programa Past - versão 1,33b, que calcula a distinção taxonômica com base nos dados coletados e sistematizados e suas respectivas abundâncias, criando 65 também um intervalo de confiança com um limite correspondente a 95 por cento, carregados a partir 200 réplicas aleatórias sobre o total de indivíduos amostrados (Hammer, et al., 2001; apud Silva & Batalha, 2006). Resultados Foi encontrado um total de 34 espécies, sendo 19 na área de capoeirinha e 26 espécies no ambiente de capoeirão, 34 gêneros, 19 famílias, 13 ordens e oito clados (Tab. 1). Tabela 1. Lista das espécies identificadassegundo a recente classificação molecular de angiospermas (APG II, 2003) espécie capoeirão capoeirinha Alchorneaglandulosa Alchornea gênero Euphorbiaceae família Malpighiales ordem EurosidsI clado principal 2 6 Andirafraxinefolia Andira Fabaceae Fabales EurosidsI 1 1 Anibafirmula Aniba Lauraceae Laurales Magnoliids 0 1 Apocynaceaesp1 Apocynaceae1 Apocynacea Gentianales EuasteridsI 0 1 Caseariaobliqua Casearia Flacourtiaceae Malpighiales EurosidsI 5 6 Cecropiaglaziovii Cecropia Urticaceae Rosalis EurosidsI 8 4 Chrysophyllummarginatum Chrysophyllum Sapotaceae Euricales Asterids 1 0 Citharexylummirianthum Citharexylum Verbenaceae Lamiales EuasteridsI 0 5 Cupaniaoblongifolia Cupania Sapindaceae Sapindales EurosidesII 1 0 Dalbergiabrasiliensis Dalbergia Fabaceae Fabales EurosidsI 0 1 Endlicheriapaniculata Endlicheria Lauraceae Laurales Magnoliids 2 0 Euterpeedulis Euterpe Arecarceae Arecales Commelinids 1 0 Fabaceaesp1 Fabaceae1 Fabaceae Fabales EurosidsI 0 1 Guapiraopposita Guapira Nyctaginaceae Caryophyllales CoreEudicots 1 0 Hyeronimaalchornoeides Hyeronima Euphorbiaceae Malpighiales EurosidsI 1 0 Ingaedulis Inga Fabaceae Fabales EurosidsI 4 0 Jacarandapuberula Jacaranda Bignoniaceae Lamiales EuasteridsI 0 4 Lauraceaesp1 Lauraceae1 Lauraceae Laurales Magnoliids 5 1 Machaeriumaculeatum Machaerium Fabaceae Fabales EurosidsI 1 1 Marlieriatomentosa Marlieria Myrtaceae Myrtales Rosids 3 0 Miconiacinerascens Miconia Melastomataceae Myrtales Rosids 19 8 Myrsinecoriacea Myrsine Myrsinaceae Euricales Asterids 2 24 Myrtaceaesp1 Myrtaceae1 Myrtaceae Myrtales Rosids 1 0 Ocoteasp1 Ocotea Lauraceae Laurales Magnoliids 1 0 Ormosiaarborea Ormosia Fabaceae Fabales EurosidsI 1 0 Peraglabrata Pera Euphorbiaceae Malpighiales EurosidsI 2 0 Pipersp1 Piper Piperacea Piperales Magnoliids 0 2 Psidiumguajava Psidium Myrtaceae Myrtales Rosids 1 4 Rubiaceaesp1 Rubiaceae1 Rubiaceae Gentianales EuasteridsI 1 0 Rubiaceaesp2 Rubiaceae2 Rubiaceae Gentianales EuasteridsI 1 0 Rubiaceaesp3 Rubiaceae3 Rubiaceae Gentianales EuasteridsI 1 0 Sennamultijuga Senna Fabaceae Fabales EurosidsI 0 5 Solanumsp1 Solanum Solanaceae Solanales EuasteridsI 0 3 Tibouchinapulchra Tibouchina Melastomataceae Myrtales Rosids 18 9 Os índices de diversidade taxonômica foram diferentes entre as duas áreas, sendo menor no capoeirão (Tab. 2). 66 Tabela 2. Diversidade taxonômica de ambientes em diferentes estádios de sucessão na Reserva Natural Salto Morato. CAPOEIRINHA* CAPOEIRÃO** Diversidade taxonômica 4,766 4,418 Intervalo de confiança inferior 4,544 4,534 Intervalo de confiança superior 4,698 4,702 * Dt na capoeirinha maior que o intervalo de confiança ** Dt no capoeirão menor que o intervalo de confiança Discussão Conforme o esperado, a diversidade taxonômica acompanhou a tendência dos outros índices, ou seja, foi menor no capoeirão. Na capoeirinha, a maior diversidade taxonômica do que o esperado pelo acaso indicou que a força ecológica dominante é a exclusão competitiva (Webb et al., 2002), que funciona como um repulsor filogenético, eliminando espécies aparentadas que devem ter exigências de recursos semelhantes. Por outro lado, no capoeirão, a menor diversidade taxonômica do que o esperado pelo acaso indicou que a força ecológica dominante são os filtros ambientais, que atuam como atratores filogenéticos, selecionando taxa aparentados (Webb, et al.,2002). Se, ao longo do processo sucessional, a diversidade taxonômica acompanha a riqueza e a diversidade tradicional, então esperamos que os filtros ambientais sejam as forças ecológicas dominantes no início e no final do processo (por exemplo, alta e baixa incidência de radiação, respectivamente) e a exclusão competitiva o seja no meio. Para testarmos as previsões desse modelo devemos estudar outras áreas em diferentes estádios de sucessão. Ele será corroborado se as áreas em estádios anteriores a capoeirinha apresentarem uma diversidade taxonômica menor, devido à ação de filtros ambientais. E se áreas em estádios posteriores a do capoeirão apresentarem diversidade taxonômica também menor, pois a partir do momento que o ambiente atinge estádios mais avançados, filtros biológicos podem começar a agir novamente. Referências Bibliográficas Campbell, O. W., Ackerly, D. D., McPeek, M.A. & Donoghue, M.J. 2002. Phylogenies and community ecology. Annual Review of Ecology and Systematics 33: 475-505. Mueller-Dombois, D. & Ellenber, H. 1974. Aims and Methods of Vegetation Ecology. John Wiley & Sons, Canada. Ricotta, C. 2004. A parametric diversity measure combining the relative abundances and taxonomic distinctiveness of species. Diversity and Distributions 10: 143-146. Ricotta, C. 2005. Trough the jungle of biological diversity. Acta Biotheoretica 53: 29-38. 67 Silva, I. A. da & Batalha, M. A., 2006. Taxonomic distinctness and diversity of a hyperseasonal savanna in central Brazil. Diversity and Distributions. No prelo. The angiosperm phylogeny. 2003. An update of the angiosperm Phylogeny Group classification for the orders and families of flowering plants: APG II. Botanical Journal of the Linnean Society 141: 399-436. Townsend, C., Begon, M. & Harper J. L. 2006. Fundamentos em Ecologia. 5ª Ed. Artmed Ed., Porto Alegre. 68 ESTUDO PRELIMINAR DA FAUNA DE QUIROPTEROS DA RESERVA NATURAL DE SALTO MORATO Ana Luiza Gandara Martins, Cristiane Hiert & Denilson Roberto Jungles de Carvalho Projeto Orientado - Prof. Fernando Passos Resumo Levantamentos de quirópteros são importantes para estratégias conservacionistas, pois os morcegos atuam como controle de pragas, polinização e dispersão de sementes. Realizou-se um levantamento preliminar com redes-de-neblina, sobre os aspectos biológicos de quirópteros da Reserva Natural Salto Morato, avaliando a composição da dieta, estágio reprodutivo e biometria das espécies. Dentre as espécies encontradas, houve maior incidência de espécies frugívoras de grande porte. Carollia perspicillata pode, para esta situação, ser considerado forte dispersor de sementes de Piper cernum. Palavras-chave: chiroptera, morcegos, mata atlântica, sobreposição de nicho. Introdução Os morcegos constituem uma das ordens mais características de mamíferos, pois são os únicos a apresentar estruturas especializadas que permitem um vôo verdadeiro. O nome Chiroptera provém do grego “cheir” (mão) e “pteron”(asa) indicando que a asa de um morcego é uma mão altamente modificada. Os dedos e ossos dos membros anteriores sustentam uma larga membrana extremamente elástica, chamada patágio, que se liga aos membros posteriores e ao lado do corpo (Reis et al, 2006). Os morcegos podem apresentar hábitos alimentares muito variados e a diversidade de dietas desses animais não encontra semelhança em nenhum outro grupo. Assim, são utilizados como alimento insetos e outros artrópodes, frutos, sementes, folhas, flores, pólen, néctar, pequenos vertebrados e sangue (Reis et al, 2006). As espécies frugívoras, nectarívoras, carnívoras e hematófagas são confinadas às regiões tropicais e subtropicais. A maioria dos morcegos se alimenta à noite, dispersando dos seus refúgios diurnos ao entardecer. Na região Neotropical várias espécies de Phyllostomidae são importantes polinizadores e dispersores de sementes de numerosas plantas, contribuindo com importantes serviços ecossistêmicos gratuitos (Reis et al, 2006). Os padrões reprodutivos nos morcegos variam de monoestria sazonal à poliestria. Muitas espécies tropicais apresentam monoestria, produzindo um filhote por ano (Reis et al, 2006). Os morcegos possuem grande potencial como indicadores de níveis de destruição de habitats, além de serem considerados bons instrumentos para estudos sobre diversidade, devido a grande variedade e abundância de espécies nas regiões tropicais. Há uma enorme lacuna no conhecimento de aspectos básicos da história natural da maior parte das espécies de morcegos no Brasil, e poucos estudos têm 69 comparado a estrutura de diferentes conjuntos taxonômicos de morcegos em fragmentos florestais (Pedro et al, 2001). Com base nestas características, realizou-se um levantamento preliminar sobre os aspectos biológicos da fauna de quirópteros da Reserva Natural Salto Morato, avaliando a composição da dieta, estágio reprodutivo e biometria das espécies. Material e Métodos O estudo foi realizado na trilha do Salto, localizada na Reserva Natural de Salto Morato – Grarequeçaba - PR, onde sete “redes-de-neblina” com 12 X 3 metros foram distribuídas ao longo da trilha e posicionadas diagonalmente a mesma. As redes foram instaladas por volta das 18 horas, realizando-se sete vistorias para a retirada dos morcegos até a meia noite. Quando capturados, os morcegos foram identificados até espécie e o sexo, classe de idade e estágio reprodutivo foram verificados. O peso, antebraço esquerdo e quarta falange foram medidos em cada indivíduo. Para testar a relação entre estas variáveis biométricas, foi usado o teste de correlação de Pearson e para comparar o consumo de Piper cernum entre as espécies frugívoras com maior ocorrência, foi utilizada análise de variância. O alfa utilizado nas análises foi de 0,05 (Fowler & Cohen, 1990). Resultados Foi registrado um total de 17 indivíduos de seis espécies pertencentes à Família Phyllostomidae: Anoura caudifer (n = 1), Artibeus jamaicensis (n = 4), A. lituratus (n = 5), Carollia perspicillata (n = 5), Desmodus rotundus (n = 1) e Sturnira tildae (n = 1). Foram encontrados 12 machos adultos, sendo cinco com escroto aparente e cinco nulíparos, além de cinco fêmeas adultas, com três lactantes, uma póslactante e outra nulípara. Quanto ao hábito alimentar das espécies amostradas, houve uma grande predominância de morcegos frugívoros, sendo que apenas A. caudifer e D. rotundus diferiram deste hábito, constituindo espécies nectarívoras e hematófagas, respectivamente (Tabela 1). Os itens alimentares encontrados nas amostras de fezes das espécies foram: sementes de Piper cernum, Piper sp2, Ficus sp e insetos (Fig 1). Tabela 1: Distribuição das espécies de morcegos da Reserva Natural de Salto Morato pelas variáveis comprimento do antebraço (An) e hábito halimentar predominante. Na (mm) Frugívoros Nectarívoros < 40 C. perspicillata A. caudifer 41 - 55 S. tildae > 56 A. jamaicensis Sanguívoros Total 2 (33,33 %) 1 (16,67 %) D. rotundus 3 (50 %) 1 (16,67 %) 6 (100 %) A. lituratus Total 4 (66,67 %) 1 (16,67 %) 70 Piper cernum Ficus sp Insetos Piper sp2 6 Frequência 5 4 3 2 1 0 C. perspicillata A. jamaicensis A. lituratus Espécies S. tildae Fig 1: Freqüência de itens alimentares encontrados nas fezes separados por espécie. Dentre a guilda de frugívoros, as espécies com maior ocorrência diferiram quanto ao consumo de sementes de Piper cernum (r2=0,71; F2,11=14,12; P<0,05; fig 2). Fig 2: Média de sementes de Piper cernum encontradas em amostras de fezes de Artibeus jamaicensis, A. lituratus e Carollia perspicillata (média + IC). Houve correlação entre o comprimento do antebraço e o peso (r=0,96; P<0,05), comprimento do antebraço e a medida da quarta falange (r=0,99; P<0,05) e a medida da quarta falange e o peso (r=0,97; P<0,05), observando-se uma clara diferenciação das espécies na relação destas variáveis (Fig. 3). 71 Fig 3: Relação entre variáveis biométricas e diferenciação das espécies de morcegos registrados na Reserva Natural Salto Morato. Discussão Levantamentos da Ordem Chiroptera são de grande importância para o dimensionamento de estratégias conservacionistas, pois possuem grande capacidade de vôo, hábitos alimentares diversificados e atuam na polinização de algumas plantas, dispersão de sementes e também como controladores de pragas. Atuam junto com as aves na dispersão de sementes possibilitando uma melhor definição de áreas prioritárias para preservação. Para uma caracterização taxonômica da Ordem Chiroptera as medidas morfológicas, como tamanho do antebraço, são utilizadas de maneira satisfatória e podem auxiliar na diferenciação das espécies ocorrentes em uma localidade. A tabela 1 demonstra que para uma análise preliminar da composição de Quirópteros, houve maior incidência de espécies frugívoras de grande porte, porém para uma análise mais criteriosa seria importante uma amostragem mais completa dessa comunidade. Estudos da dieta das espécies de frugívoros, através das fezes, podem ainda permitir a inferência de certos aspectos quanto a preferência e ao hábito alimentar das mesmas. A grande quantidade de sementes de Piper cernum em fezes de Carollia perspicillata em relação as amostras de Artibeus jamaicenses e A. lituratus pode demonstrar que neste momento a espécie do gênero Carollia poderia estar atuando como forte dispersor da espécie. Já a presença de sementes de Ficus sp. somente nas fezes das espécies do gênero Artibeus, corroboram com os estudos de Passos (2006, com. pess.), demonstrando a preferência desta espécie por esse tipo de fruto. Referências Bibliográficas Fowler, J.F. & Cohen, L. 1990. Practical statistics for field biology. Open University Press, Philadelphia. Pedro, W.A., Passos, F.C. & Lim, B. K. 2001. Morcegos (Chiroptera; Mammalia) da Estação Ecológica dos Caetetus, Estado de São Paulo. Chiroptera Neotropical, 7 (1 – 2): 136 – 140. Reis, N.R., Peracchi, A.L., Pedro, W.A. & Lima, I.A (Eds.). 2006. Mamíferos do Brasil. Nélio R. dos Reis, Paraná. 72 RIQUEZA DE MACROINVERTEBRADOS ASSOCIADA A DIFERENTES DENSIDADES DE Brachiaria spp. EM UM TRECHO DO RIO MORATO André M X Lima; Fabio Bertolini; Paloma K Gusso & Renata Ribas Projeto livre Resumo A vegetação marginal em ambientes lóticos proporciona abrigo e áreas de alimentação para diversos grupos de macroinvertebrados. A presença da Brachiaria spp. nas margens pode disponibilizar estes recursos e consequentemente aumentar a riqueza localmente. Avaliamos se a densidade de Brachiaria spp. influencia na riqueza de macroinvertebrados associada e se esta riqueza aumenta ordenadamente. Concluímos que o aumento da riqueza está associada ao aumento da densidade e que esse aumento ocorre de modo ordenado. Palavras-chave: Macroinvertebrados, Brachiaria spp., espécie-área. Introdução O substrato é uma característica bastante complexa do ambiente lótico que influencia na distribuição dos organismos (Vannote et al, 1980). Embora substratos minerais como silte, areia e rochas sejam os mais comuns, substratos orgânicos como raízes de plantas, algas filamentosas, pacote de folhas, galhos ou árvores tombadas, vegetação marginal e até mesmo outros organismos, exercem também influência na distribuição dos organismos (Allan, 1995). A quantidade de microhabitats proporcionados pelos substratos em um determinado ambiente pode levar a um aumento da riqueza específica, uma vez que os organismos de água corrente vivem em estreita associação com o substrato que lhe oferece alimento e abrigo por exemplo. Normalmente a diversidade também aumenta quanto maior for a estabilidade do substrato, assim como pela presença de detritos orgânicos, embora seja difícil generalizar sobre seus efeitos (Allan, 1995). Rios, ambientes em constante fluxo, abrigam organismos que necessitam de sistemas que os impeçam de ser arrastados pela correnteza. Muitos apresentam modificações morfológicas e comportamentais como corpo achatado e procura de abrigo no espaço intersticial de rochas ou na vegetação marginal, impedindo assim que sejam arrastados. Neste aspecto, a vegetação marginal representa um ambiente ideal. Em alguns trechos do rio Morato é observado uma vegetação marginal formada por Brachiaria spp. No entanto, Brachiaria spp. é uma planta exótica invasora na área da Reserva Natural do Salto Morato, que dificulta a regeneração da floresta nativa. Foi introduzida no local devido a criação de búfalos (Gatti, 2000). Esta planta altera as características gerais das margens exercendo o papel de substrato a fauna, fornecendo refúgio para uma série de espécies, consequentemente aumentando a riqueza local. 73 Este estudo objetiva testar se o aumento da densidade desta formação vegetal influencia de forma positiva e ordenada a riqueza da fauna associada. Material e métodos A riqueza de macroinvertebrados foi determinada em cinco pontos ao longo de um gradiente de densidade de Brachiaria spp., localizada às margens de um trecho do rio Morato. As densidades foram estimadas, medindo-se em cm, a quantidade de raízes situadas abaixo da lâmina d’água em relação à margem. O esforço amostral foi de cinco peneiradas por ponto, sendo a identificação das morfo-espécies em campo. Regressão foi utilizada para analisar o efeito da densidade na riqueza de macroinvertebrados. Análise de similaridade foi utilizada para comparar a composição específica entre as densidades. Foi considerada alfa=0,05. Resultados Foi encontrada uma riqueza de 21 morfotipos, sendo díptera e ephemeroptera os grupos mais abundantes. (Tab. 1). Tabela 1: número de morfotipos por grupo Grupo Número de morfotipos Coleóptera 2 Díptera 4 Ephemeroptera 4 Megaloptera 1 Morfo X 1 Odonata 2 Palaemonidae 1 Plecoptera 2 Tricoptera 3 Veliidae 1 Obteve-se um aumento da riqueza com o aumento da complexidade de Brachiaria spp., tendo o primeiro e o último ponto amostral os menores e maiores valores de riqueza respectivamente. r²= 0,90; F1,3= 29,13; p<0,05 (Fig. 1). 74 24,0 21,0 Riqueza 18,0 15,0 12,0 9,0 6,0 3,0 0,0 0 0,5 1 1,5 2 Densidade Figura 1: Análise de regressão entre Densidade e Riqueza (Riqueza = 3,27 + 6,93 Densidade) Maior similaridade foi obtida entre os gradientes 5 e 4 e entre os gradientes 3 e 2 (Fig. 2). Figura 2: Similaridade da riqueza entre densidades de Brachiaria spp.. Discussão O aumento da riqueza em relação a densidade corrobora a hipótese principal. A maior quantidade de substrato disponível aumenta a possibilidade de ocorrência de espécies associadas à vegetação marginal. Esta vegetação funciona como abrigo para espécies que necessitam evitar o carreamento pela correnteza, bem como propicia uma fonte de recursos para predadores relacionadas às espécies colonizadoras. Análise de similaridade demonstrou um grau de ordenamento da comunidade, o que indica que a colonização da vegetação marginal não ocorre de forma aleatória, e sim relacionada ao aumento da complexidade do substrato e comunidade associada. Maiores densidades devem propiciar comunidades mais estruturadas em relação aos grupos funcionais e cadeia trófica. 75 Embora uma espécie exótica, o substrato disponível pela Brachiaria spp. aumenta a riqueza de macroinvertebrados associadas à vegetação marginal. No entanto, esse aumento deve ocorrer com espécies de caráter generalista, passíveis de ocorrer em altos níveis de abundância, acarretando em menores índices de diversidade. Referências bibliográficas ALLAN, J.D. Stream Ecology - Structure and Function of Running Waters. New York: Chapman & Hall, 1995. GATTI, A.L.S. 2000. O componente epifítico vascular na Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba – PR. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Paraná, Curitiba. Vannote, R.L., Minshall, G.W. & Cummins, K.W. 1980. The river continuum concept. Can. J. Fish. Aquat. Sci. 37, 130-137. 76 SIMILARIDADE DE ESPÉCIES ARBÓREAS ENTRE ESTRATOS FLORESTAIS EM DOIS ESTÁDIOS SUCESSIONAIS André M X Lima; Fabio Bertolini; Paloma K Gusso & Renata Ribas Projeto orientado – Prof. Marcos Batalha Resumo Ao longo do processo sucessional, inicialmente espera-se que a similaridade entre estratos diminua, devido a maior variabilidade na composição florística. Os índices de similaridades comumente utilizados subestimam a influência das espécies raras amostradas, porém, em ambientes tropicais, estas são determinantes. Comparamos a similaridade entre estratos de dois estádios sucessionais utilizando índices clássicos e índices que consideram o compartilhamento das espécies raras. Os resultados demonstram que a inclusão das espécies raras no cálculo aumenta a similaridade entre as áreas. Palavras-chave: similaridade; sucessão; estratificação; índice Jaccard- Chao, Sorensen-Chao Introdução A luminosidade é um dos fatores determinantes para a composição da comunidade florística (Crawley, 1997). Durante o processo de sucessão ecológica, a incidência luminosa varia entre os estratos conforme o estádio de desenvolvimento, pois a cobertura vegetal funciona como um sistema de assimilação da radiação (Larcher, 2000). Dessa forma, estádios iniciais devem apresentar maior incidência de radiação proveniente da luz nos estratos inferiores que estádios mais avançados, favorecendo a ocorrência de espécies heliófilas e pioneiras. Conforme os estádios sucessionais avançam as plantas que investem mais energia em tecidos de sustentação ocupam o sistema. Existem espécies que são naturalmente raras, que devem apresentar períodos em que possuem uma vantagem relativa em relação às espécies comuns, caso permaneçam em uma comunidade com poucas variações (Crawley, 1997). Índices de similaridade, como outros estudos sobre riqueza, abundância e diversidade de espécies, podem apresentar limitações amostrais, especialmente em ecossistemas onde espécies raras estão presentes, o que representa um desafio para estimativas precisas desses parâmetros (Chao et al. 2004). Enquanto alguns índices de similaridade de espécies consideram apenas valores de riqueza e abundância, Jaccard-Sorensen-Chao propuseram um índice que inclui uma estimativa de ocorrência de espécies raras não identificadas em campo, que podem ser comuns entre amostragens. Este índice considera a ocorrência das espécies raras em relação ao todo amostrado, esperando reduzir a subestimação. 77 Assim, esperamos que: 1) no início do processo sucessional a similaridade florística diminua ao longo do tempo, isto é, em um estádio inicial a similaridade deve ser maior do que em outro mais tardio, 2) os índices clássicos de Jaccard e Sorensen subestimam a similaridade quando comparados aos índices modificados por Chao et al. (2004). Procuramos responder as seguintes perguntas: Em uma região de floresta pluvial atlântica a similaridade florística entre os estratos inferior e superior diminui ao longo do processo sucessional? Os índices clássicos de Jaccard e Sorensen subestimam a similaridade? Material e métodos Duas áreas pertencentes a diferentes estádios sucessionais foram amostradas e comparadas em relação aos seus índices de similaridade. A área de estudo situa-se na Reserva Natural Salto Morato (25º10'S e 48º15'W), localizada em área de floresta ombrófila densa. Uma área é remanescente em estádio sucessional intermediário, apresentando pluriestratificação denominada “capoeirão”. Outra denominada “capoeirinha”, localizada em uma antiga zona de pastagem de búfalos, encontra-se em processo de regeneração natural com 12 anos de recuperação e, portanto, em um estádio mais inicial em relação à primeira. Para obtenção dos índices de similaridade utilizou-se o método de ponto-quadrante. Em ambas as áreas determinou-se uma transecção e a cada 10m era estabelecido um ponto amostral, em um total de 13 pontos. A vegetação arbórea nos estratos inferiores (entre 0,5 e 2m de altura) e superiores (a partir de 2,5m) foi amostrada. Foram calculados quatro índices de similaridade referentes às comunidades: Jaccard e Sørensen não modificados e ambos índices modificados por Chao et al. (2004). Os cálculos foram obtidos por intermédio do aplicativo Estimate SWin 7.51. Resultados Uma maior similaridade entre os estratos foi encontrada na área 1. Foram encontradas 34 espécies no “capoeirão” e 26 espécies na “capoeirinha”. Comparando os índices utilizados, os índices corrigidos por Chao et al. (2004) apresentaram uma maior similaridade em relação ao cálculo dos índices clássicos (Tab 1). Tabela 1: índices de similaridade para as duas áreas Área Capoeirão Capoeirinha Jaccard 0,323 0,23 Sorensen 0,488 0,375 Jaccard-Chao 0,527 0,285 Sorensen-Chao 0,69 0,444 78 Discussão Ao contrário do esperado, uma maior similaridade foi verificada na área 1, fato que pode ser explicado pela falta de linearidade no processo de desenvolvimento dos estádios sucessionais (Figura 3). Durante o processo de sucessão, espera-se inicialmente uma maior similaridade entre os estratos inferiores e superiores visto que as espécies heliófitas estão presentes em ambos os estratos. Entretanto, ao longo do processo sucessional, a similaridade reduz e somente retorna a aumentar conforme o ambiente se torna mais tardio (Chao, 2004). Assim postulamos que a área “capoeirinha” não se encontra em um estádio inicial de sucessão, mas sim está em via de tornar-se uma área em estádio intermediário de regeneração. As espécies pioneiras encontravam-se nos estratos superiores mas não nos estratos inferiores. Em ecossistemas tropicais, dada à alta incidência de espécies raras elas não devem ser desconsideradas. A inclusão das espécies raras compartilhadas não vistas no cálculo aumentou similaridade entre as áreas e refletiu de forma mais acurada. No entanto, o índice pode superestimar as amostragens se não considerado o momento em que se encontra determinado estádio sucessional, devido à variação na similaridade ao longo do tempo (Chao, 2004). Referências bibliográficas Chao, A.; Chazdon, R. L.; Colwell, R. K. & Shen, T. 2004. A new statistical approach for assessing similarity of species composition with incidence and abundance data. Ecology Letters, 7:xxx-xxx. Crawley, M. J. 1997. Plant Ecology. Blackwell Science, Cambridge. Larcher, W. 2000. Ecofisiologia Vegetal. Rima Artes e Textos, São Carlos. 79 ESTÁDIOS SUCESSIONAIS INICIAIS EM FLORESTAS TROPICAIS APRESENTAM PLANTAS COM MAIORES TAXAS DE CRESCIMENTO? André M X Lima; Fabio Bertolini; Paloma K Gusso & Renata Ribas Projeto orientado – Prof. Eduardo Arcoverde Resumo Espécies características de estádios iniciais de sucessão alocam maior energia em crescimento e reprodução precoce. A substituição de espécies no processo sucessional é acompanhada por uma mudança no balanço entre adaptações que promovem o crescimento, dispersão e capacidade competitiva. Nesta pesquisa comparamos características morfológicas foliares indicativas do potencial de crescimento dos indivíduos em função do investimento em tecidos fotossintentizantes, em dois estádios sucessionais. Palavras-chave: luminosidade, sucessão ecológica, taxa de crescimento. Introdução Nos ambientes terrestres a sucessão ecológica é uma progressão ordenada do desenvolvimento da comunidade que envolve alterações em sua estrutura e composição, resultando também numa modificação do ambiente físico pela própria comunidade (Odum 2001). As espécies de estádios iniciais e tardios tendem a apresentar diferentes padrões de crescimento e reprodução. Os indivíduos de estádio inicial alocam maior energia em crescimento e reprodução precoce para colonizar rapidamente os habitats recém-criados ou perturbados. As espécies de clímax se dispersam e crescem mais lentamente, investindo por exemplo, em tecidos de sustentação e defesas químicas em detrimento do rápido crescimento (Crawley 1997/ Odum 2001/ Ricklefs 2003). A substituição de espécies no processo sucessional é acompanhada por uma mudança no balanço entre características que promovem o crescimento, dispersão e capacidade competitiva (Odum 2001/ Ricklefs 2003). Ambientes em estádio inicial de sucessão, os quais apresentam maior luminosidade, são compostos por espécies de rápido crescimento. Algumas características indicativas deste investimento são, pequena área foliar e alta taxa de razão de área foliar, representada pela proporção de tecido fotossintetizante em relação à massa total do ramo (Lambers et al. 1998). O objetivo da pesquisa foi comparar características morfológicas foliares de arbóreas de dois estádios sucessionais, para verificar diferenças de investimento em crescimento. Material e Métodos Foram selecionadas duas áreas em diferentes estádios de sucessão. Uma em estádio mais inicial, denominada capoeirinha e a outra, por apresentar maior densidade de plantas, foi chamada de capoeirão. 80 Através do método de ponto-quadrante foram amostrados os indivíduos arbóreos com perímetro a altura do peito igual ou maior a 10 cm, em 15 pontos alocados a cada 10 metros ao longo de um transecto, tanto na Capoeirinha, quanto no Capoeirão. Um ramo de cada indivíduo foi coletado para mensuração da área das folhas e posteriormente pesados o ramo e as folhas para determinação da área foliar (AF), área foliar específica (AFE) e razão da área foliar (RAF), segundo as fórmulas: AF= d1/2 x d2/2 x 3,1416, sendo d1= comprimento da folha e d2= largura da folha; AFE= área da folha / massa da folha e RAF= soma da área de todas as folhas do ramo/ massa total do ramo. Os dados foram analisados por histogramas de freqüência. Resultados Dentre os 43 indivíduos amostrados na Capoeirinha e pertencentes a 17 espécies, verificou-se um predomínio de indivíduos com pequena área foliar, enquanto no Capoeirão, 43 indivíduos e 13 espécies, as freqüências de maior valor ocorreram nas classes intermediárias, (Fig. 1). Figura 1: histograma de freqüência de indivíduos nas diferentes classes de área foliar em Capoeirinha e Capoeirão. Os padrões encontrados nas freqüências de AFE foram semelhantes, salvo que na Capoeirinha ocorreram espécies em todas as classes, com predominância nas duas menores, enquanto em Capoeirão a predominância esteve restrita a classe denominada 100 e em duas das maiores classes não foi registrada a ocorrência de espécies (Fig. 2). 81 Figura 2: Histograma de freqüência de indivíduos nas diferentes classes de área foliar específica na Capoeirinha e Capoeirão. Ambas as áreas apresentaram maior predomínio de indivíduos nas classes de menores RAF, porém, a classe predominante em cada área foi distinta. Na Capoeirinha houve um predomínio de espécies na classe 40, enquanto no Capoeirão o maior número de observações foi na classe 80 (Fig. 3). Figura 3: Histograma de freqüência de indivíduos nas diferentes classes de razão de área foliar na Capoeirinha e Capoeirão. 82 Discussão As menores áreas foliares encontradas em árvores da capoeirinha podem ser explicadas pela alta disponibilidade de luz no ambiente. Em geral, plantas de locais abertos são tolerantes aos altos níveis de radiação solar (Larcher 2000), fato este que pode acarretar na redução da necessidade de grandes áreas de tecido fotossintetizante, minimizando os efeitos da evapotranspiração (Lambers et al. 1998). A freqüência de espécies nas diversas classes de área foliar específica e a razão de área foliar na capoeirinha indicam a ocorrência de indivíduos tanto de estádios iniciais quanto de estádios mais tardios, o que pode ser explicado pela heterogeneidade observada na área. Enquanto alguns trechos apresentaram um solo mais estruturado e uma vegetação mais desenvolvida, semelhante à fisionomia do Capoeirão, outros estavam altamente alagados, e apresentaram menor densidade de indivíduos. Sendo a saturação hídrica um fator limitante para muitas espécies, é provável que nestes locais a instalação de indivíduos adaptados à ambientes com excesso d´água seja favorecida. Deve-se ainda considerar o fato de que o processo sucessional nestes ambientes seja mais lento, devido à necessidade de evolução do substrato para que espécies mais tardias possam se instalar (Crawley 1997). O histórico de uso da Capoeirinha como pastagem de búfalos, também pode sugerir uma escassez de nutrientes no solo e uma conseqüente limitação do crescimento, tanto de folhas quanto dos ramos (Ricklefs 2003). Todas estas variações ambientais observadas na Capoeirinha podem estar determinando a ocorrência de espécies com diferentes estratégias de alocação de recursos o que explica a variedade de classes de freqüência para os parâmetros indicativos de investimento em crescimento. No Capoeirão, conforme esperado e de acordo com os parâmetros analisados, observa-se uma maior freqüência de espécies em classes intermediárias, ou seja, maior área foliar específica e maior razão de área foliar, portanto um menor investimento em crescimento rápido (Lambers et al. 1998) quando comparado à Capoeirinha. Sendo que, a ocorrência de algumas espécies em classes de menor valor indicando estádio mais inicial, pode ser explicada pelo própria dinâmica do processo de sucessão, onde a substituição de algumas espécies colonizadoras não foi completada. Referências Bibliográficas Crawley, M. J. 1997. Plant Ecology. Blackwell Science. Oxford. Lambers, H.; Chapin III, F. S. & Pons, T. L. 1998. Plant physiological ecology. Springer-Verlag. New York. Larcher, W. 2000. Ecofisiologia vegetal. Rima Artes e Textos. São Carlos. Odum, E. P. 2001. Fundamentos de Ecologia. Fundação Calouste Gulbenkian. Lisboa. Ricklefs, R. E. 2003. A economia da natureza. Editora Guanabara-Koogan. Rio de Janeiro. 83 A DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DE ANUROS É PRODUTO DE COMPETIÇÃO? André M X Lima; Fabio Bertolini; Paloma K Gusso & Renata Ribas Projeto orientado – Prof. Maurício Moura Resumo A organização espacial de comunidades de anfíbios anuros é pouco compreendida. Há comunidades que apresentam desde partilha espacial e temporal até comunidades onde há sobreposição total de nichos. Através de simulações de modelo nulo, investigamos se a distribuição espacial de uma comunidade de nove espécies poderia ser derivada por interação competitiva por sítio de vocalização. Concluímos que a comunidade estudada apresentava sobreposição de nicho e que esta estrutura espacial não poderia ser explicada pela competição por sítio de vocalização Palavras-chave: Distribuição espacial, competição, nicho, anuros, modelo nulo. Introdução No processo competitivo, as taxas de entrada de recursos por indivíduo reduzem e consequentemente, sobrevivência, crescimento e sucesso na reprodução também podem diminuir (Begon 2006). Quando há sobreposição de nichos, a competição deve ocorrer caso os recursos sejam limitantes (Ricklefs 2003), neste caso os indivíduos tendem a minimizar os efeitos da competição tornando-se mais especialistas, generalistas ou partilhando o recurso (Ricklefs 2003; Begon 2006). Anfíbios anuros apresentam uma variação espacial quanto aos componentes envolvidos na atividade de vocalização. As espécies podem apresentar desde partilha espacial e/ou temporal completa, até sobreposição total destes fatores (e.g. Bernarde & Kokubum 1999; Rossa-Feres & Jim, 2001), podendo inclusive culminar em hibridação natural (ver Haddad et al., 1988; 1990). Como os trabalhos com comunidades de anuros detectam variações espaciais e as relacionam com partilha de recurso postula-se que a sobreposição entre os nichos seja pequena. Nesta pesquisa analisamos se distribuição espacial é estruturada pela competição, baseado na avaliação de sobreposição de nichos. Testamos se a distribuição espacial encontrada difere de valores obtidos por modelos nulos. Material e métodos Foram analisados dados sobre a distribuição espacial de anuros em uma poça temporária em área aberta, na Reserva Natural Salto Morato. Os dados são provenientes de uma pesquisa sobre distribuição espacial dos anuros (Martins et al. não publicado) somados a dados obtidos no mesmo local (Garey, com. Pess.). Para padronizar a amostra foram definidas três classes de altura (distância do poleiro em relação ao solo) para os indivíduos que estavam vocalizando na área.. 84 Foi elaborada uma matriz de número de indivíduos de cada espécie que estavam utilizando cada classe de altura variável por nicho. Para quantificar a sobreposição de nicho foi utilizado o índice de Czekanowski (Gotelli & Ellison, 2004). A matriz original foi aleatorizada 100 vezes utilizando-se o programa EcoSim 7.72. Em cada matriz aleatorizada foi calculado um novo valor de sobreposição gerando assim, uma distribuição dos valores de sobreposição tornando possível associar uma probabilidade ao valor observado. Resultados As análises foram realizadas com 41 indivíduos distribuídos em nove espécies (Tab.1). Foi constatada a existência de uma diferenciação no uso do recurso Tabela 1: Número de espécies em cada nicho Espécie Chaunus abei Autor Baldissera Jr., Caramaschil, Haddad, 2004 chão arbustivo arbóreo 2 0 0 Physalaemus spiniger Miranda-Ribeiro, 1926 1 0 0 Hypsiboas faber Wied-Neuwied, 1821 9 0 0 Scinax fuscovarius A. Lutz, 1925 1 0 0 Scinax littoralis Pombal & Gordo, 1991 0 8 1 Dendrophsops microps Peters, 1872 0 3 8 Scinax argyreonatus Miranda-Ribeiro, 1926 0 2 4 Phyllomedusa distincta B. Lutz, 1950 0 1 1 Scinax gr. catharinae Boulenger, 1888 0 0 2 Constatou-se a existência de uma pequena sobreposição de nichos nesta comunidade, o valor de sobreposição média observado foi 0,333, enquanto o valor médio simulado foi 0,362. O valor de sobreposição observado está situado no histograma no intervalo de maior freqüência (Fig. 1). A variância observada, 0,175, foi diferente da esperada 0,128 (Fig. 2). 85 25 Freqüência 20 15 10 5 0. 29 4 0. 0. 31 31 3 3 0. 0. 33 33 3 3 0. 0. 35 35 1 1 0. 0. 37 37 0 0 0. 0. 38 38 9 9 0. 0. 40 40 9 9 0. 0. 42 42 8 8 0. 0. 44 44 7 7 0. 0. 46 46 6 6 0. 0. 48 48 5 5 0. 0. 50 50 4 4 0. 52 3 0 Intervalo de sobreposição Figura 1: Histograma de freqüência de médias de sobreposição de nicho, obtidas de 100 aleatorizações da matriz de uso do espaço. O intervalo indicado representa a classe da média de sobreposição observada. Freqüência de Variâncias Freqüência 25 20 15 10 5 0. 10 6 0. 11 1 0. 11 7 0. 12 3 0. 12 8 0. 13 4 0. 13 9 0. 14 5 0. 15 1 0. 15 6 0. 16 2 0. 16 7 0. 17 3 0. 11 1 0. 11 7 0. 12 3 0. 12 8 0. 13 4 0. 13 9 0. 14 5 0. 15 1 0. 15 6 0. 16 2 0. 16 7 0. 17 3 0. 17 8 0 Intervalo de Variâncias Figura 2: Histograma de freqüência de variâncias da sobreposição de nicho, obtidas de 100 aleatorizações da matriz de uso do espaço. O intervalo indicado representa a classe da média de sobreposição observada. Discussão Em comunidades estruturadas por competição espera-se que ocorra uma maior sobreposição de nichos. Ao longo do processo evolutivo isto pode acarretar na exclusão de algumas espécies ou a uma redução na limitação do recurso pelo fato dos organismos tornarem-se mais especialistas ou mais generalistas. Os resultados indicam que a sobreposição observada não difere da esperada ao acaso. Embora as espécies de anuros compitam em diversos aspectos (Haddad et al. 1988; Rossa-Feres & Jim 86 2001), neste local a competição pelo substrato não é determinante para a distribuição espacial da comunidade. Mesmo assim, os valores significativos da variância revelam que existem subcompartimentos dentro da comunidade os quais podem ter sidos estruturados por diversas pressões, tais como competição por alimento ou predação. A estrutura espacial dentro da comunidade pode indicar quais sub-grupos podem estar interagindo e quais as possibilidades de recursos limitantes, mas a diferenciação no uso de determinado recurso pode ser resultante de um processo de competição no passado (Connell 1980). Pode também ser resultado do processo filogenético histórico, devido às limitações e adaptações de cada espécie, independente de ter ocorrido competição ou não no passado. Referências bibliográficas Connel, J. H. 1980. Diversity and the coevolution of competitors, or the ghost of competition. Oikos, 35:131-138 Bernarde, P. S.; Kokubum, M. N. C. 1999. Anurofauna do Município de Guararapes, Estado de São Paulo, Brasil (Amphibia: Anura). Acta Biológica Leopoldensia, São Leopoldo, v. 21, n. 1, p. 8997. Gotteli, N.J. & Ellison A.M. 2004. A primer of ecological statistics. Sinauer Associates, Inc. Publishers, Massachusetts. Haddad, C. F. B.; Andrade, G. V. & Cardoso, A. J. 1988. Anfíbios anuros no Parque Estadual da Serra da Canastra, Estado de Minas Gerais. Brasil Florestal, Brasília, v. 64, p. 9-20. Haddad, C. F. B.; Cardoso, A. J. & Castanho, L. M. 1990. Hibridação natural entre Bufo ictericus e Bufo crucifer (Amphibia: Anura). Revista Brasileira de Biologia, Rio de Janeiro, v. 50, n. 3, p. 739744. Martins, A. L; Hiert, C & Carvalho, D. J. 2006. O ambiente influencia na distribuição das espécies de anfíbios anuros? Ecologia da Floresta Atlântica – curso de campo 2006. Programa de PósGraduação em Ecologia e Conservação, UFPR, Curitiba. Rossa-Feres, D. C. & Jim, J. 2001. Similaridade do sítio de vocalização em uma comunidade de anfíbios anuros na região noroeste do Estado de São Paulo, Brasil. Revista Brasileira de Zoologia, Rio de Janeiro, v. 18, n. 2, p. 439-454. 87 A PARTILHA DE RECURSOS OCORRE ENTRE ESPÉCIES DE TYRANNIDAE COM O MESMO NICHO APARENTE? André M X Lima; Fabio Bertolini; Paloma K Gusso & Renata Ribas Projeto Orientado – Prof. James Roper Resumo Várias espécies da família Tyrannidae apresentam comportamentos alimentares semelhantes, sugerindo que usam os mesmos recursos. Este estudo testou se a estratégia de forrageamento difere entre três espécies de Tyrannidae a partir da observação de tempo de forrageamento e comportamento durante o vôo de captura da presa. As espécies mostram uma divisão de recursos baseada em diferenças entre vôos e comportamentos de forrageio, indicando que provavelmente usam recursos de modo diferente por espécie, consequentemente evitando competição. Palavras-chave: Tyrannidae, forrageamento ótimo, competição, especialização. Introdução O processo de competição pode ocorrer quando um recurso não está disponível em quantidade suficiente para atender a demanda dos indivíduos de qualquer espécie. Em muitos casos, um competidor não interage diretamente com o outro, mas o fato de explorarem um mesmo recurso reduzindo a sua disponibilidade no ambiente caracteriza uma competição por exploração. Na competição de interferência observa-se uma interação direta entre os organismos na disputa pelo recurso (Ricklefs 2003). Quando há competição, as taxas de sobrevivência, crescimento e reprodução podem diminuir pelas taxas reduzidas de entrada de recursos por indivíduo (Begon 2006). Quando um processo competitivo se estabelece os indivíduos tendem a minimizar seus efeitos tornando-se mais especialistas, generalistas ou partilhando o recurso (Ricklefs 2003; Begon 2006). Várias espécies da família Tyrannidae apresentam comportamentos alimentares semelhantes. Caracterizam-se pela captura de insetos durante o vôo em áreas abertas, empoleirando-se na copa das árvores (Sick 1997). Esta semelhança no hábito de forrageamento sugere que um processo de competição possa estar ocorrendo entre representantes simpátricos da família Tyrannidae. Neste sentido, este estudo testou se a estratégia de forrageamento difere entre algumas espécies de Tyrannidae, propondo que, apesar da similaridade entre estratégias, os comportamentos indicam que têm estratégias diferentes de forrageio. 88 Material e métodos Espécies da família Tyrannidae foram observadas por 16 horas de amostragem em áreas abertas localizadas dentro da Reserva Natural Salto Morato e no seu entorno. Ao localizar o indivíduo eram registrados os horários (h:m:s): da localização; início e término de duas atividades de forrageio; além do tipo de comportamento durante o vôo de captura e se retornava ou não para o mesmo poleiro. Após algumas observações preliminares in situ, os comportamentos foram classificados em seis tipos (Fig. 1). Figura 1. Comportamentos durante o vôo de captura. As setas indicam a direção de vôo realizado pelos indivíduos amostrados, sendo 1- abaixo do nível do poleiro; 2- vôo descendente-ascendente em relação ao poleiro; 3- acima do nível do poleiro; 4- vôo ascendente-descendente em relação ao poleiro; 5- vôo no mesmo nível do poleiro; e 6- forrageio sem deslocamento. Tempo de vôo entre as espécies foi analisado com análise de variância (ANOVA) e comportamento durante o forrageio analisado com teste de independência e análise de correspondência. Resultados Cinco espécies foram observadas: Tyrannus melancholicus, Pitangus sulphuratus, Legatus leucophaius, Myiodynastes maculatus e Elaenia sp, sendo consideradas nas análises apenas as com número amostral suficiente: T. melancholicus (n= 56), L. leucophaius (n=19), M. maculatus (n= 37). Não existe diferença entre as espécies quanto ao retorno para o mesmo poleiro após o forrageamento (G= 2,3; GL=2; p>0,05). Em relação ao tempo de vôo de captura da presa (Fig. 2), L. leucophaius difere de M. maculatus, mas ambos não diferem de T. melancholicus (r2= 0,09; F= 2,3; p<0,05). 89 Figura 2. Tempo de vôo de captura da presa. O comportamento de forrageio diferiu entre as espécies (G= 25,8; GL= 10; p<0,05). A espécie menor, L. leucophaius, teve a tendência de fazer vôos maiores, e a maior, M. maculatus, vôos menores. A análise de correspondência mostra que há alguns comportamentos característicos para cada espécie (Fig. 3). O comportamento 3 foi preferido por L. leucophaius, enquanto M. maculatus esteve mais relacionada ao comportamento 5 e 1. T. melancholicus mostrou-se mais variável sem demonstrar uma preferência. 1,0 3 Legatus leucophaius 0,5 4 c1 2 Tyrannus melancholicus 0,0 1 6 Myiodynastes maculatus -0,5 -1,0 -1,0 5 -0,5 0,0 0,5 1,0 c2 Figura 3. Comportamento das espécies durante o vôo de forrageio. 90 DISCUSSÃO As espécies de Tyrannidae diferem quanto à estratégia de forrageamento. Embora aparentem utilizar o mesmo nicho, existe uma tendência para divergir quanto aos comportamentos relacionados à estratégia de forrageamento. As variações de estratégia podem estar associadas à captura de diferentes tipos de presa e características morfológicas resultantes do processo evolutivo, onde caracteres mais ajustados ao sucesso do forrageio fixaram-se em cada espécie. Essas diferenças de especializações também podem ter ocorrido para minimizar os efeitos da competição interespecífica pelo recurso alimentar (Odum, 2001). Deve-se considerar ainda se essa competição ocorre atualmente ou é resultado de competição no passado (Connell 1980). Referências Bibliográficas Begon, M.; Townsend, C. R.; Harper, J. L. 2006. Ecology from individuals to ecosystems. Blackwell Publishing, Malden. Connel, J. H. 1980. Diversity and the coevolution of competitors, or the ghost of competition. Oikos, 35:131-138 Ricklefs, R. E. 2003. A economia da natureza. Guanabara Koogan. Rio de Janeiro. Odum, E.P. 2001. Fundamentos de ecologia. Fundação Calouste Gulbenkian. Lisboa. Sick, H. 1997. Ornitologia brasileira. Nova Fronteira, Rio de Janeiro. 91 O IMPACTO DE MATERIAL ALÓCTONE NA ESTRATÉGIA DE FORRAGEIO DE CHARACIFORMES André M X Lima; Fabio Bertolini; Paloma K Gusso & Renata Ribas Projeto livre Resumo O aporte de material alóctone representa uma importante fonte de recursos para a cadeia trófica em ambientes lóticos. Algumas espécies de peixes desenvolveram estratégias de forrageamento que incluem hábitos do tipo “captura na superfície”, baseado no impacto da queda e qualidade do recurso. Este estudo buscou responder se a variação na intensidade do impacto de material alóctone influencia a estratégia de forrageio de Characiformes. Concluiu-se que a intensidade do impacto associada a percepção sensorial determina a estratégia utilizada. Palavras-chave: Characiformes, forrageamento ótimo, aporte de recursos. Introdução Os recursos de origem terrestre são importantes para a alimentação das espécies de peixes, pois constituem uma das maiores vias de entrada de matéria orgânica para o sistema (Henry et al, 1994). Este aporte tem sua importância refletida de duas formas: inicialmente pelo aporte de frutos, sementes e insetos terrestres que são diretamente ingeridos pela ictiofauna, e pelo aumento da concentração de matéria orgânica particulada importante para a alimentação dos vertebrados e detritívoros (Esteves e Aranha 1999). A abundância e variedade destes recursos alimentares e não alimentares são fatores que atuam sobre a estrutura e composição específica das comunidades de peixes (Aranha et al. 2000). A aquisição de alimento é um processo que envolve procura, detecção, captura e ingestão, ou seja, após detectar um objeto que caia na água, o peixe orienta-se em direção a ele e tenta ingeri-lo. A captura envolve diferentes táticas alimentares e, no caso dos peixes de água doce, existem muitas especializações tróficas, porém, boa parte destes indivíduos demonstram uma grande plasticidade alimentar (Aranha et al. 2000). O conhecimento sobre suas atividades alimentares pode fornecer subsídios para a compreensão do funcionamento do ecossistema e pode auxiliar na aplicação de técnicas de manejo em populações naturais Partindo deste pressuposto, este estudo visa testar se a variação na intensidade do impacto de material alóctone influencia a estratégia de forrageio de lambaris. Material e métodos A área de estudo, localizada no Rio Morato, Guaraqueçaba, caracteriza-se por um trecho de poço de fundo arenoso e água clara. A ordem Characiformes é comum no rio Morato (Barreto & Aranha 2005) 92 e apresenta indivíduos que possuem hábitos de captura do tipo “surface picker”, ou seja, que se alimentam de organismos que caem e flutuam na superfície (Aranha et al. 1998). Para o entendimento da técnica de forrageamento dos indivíduos foram selecionadas duas iscas com tamanhos semelhantes, uma palatável (alimento), que consistia em pedaços de pão e outra não palatável (controle), que consistia em pedaços de galhos secos. Com cada isca foram realizados vinte lançamentos, em intervalos de dez segundos em duas diferentes alturas do nível da água (3m e 10cm), mais uma série de 20 repetições nas quais a isca colocada sob a lâmina d’água. Foram anotados três tipos de reação às iscas (sem ou com movimento de busca e manipulação da isca) e o tempo de manipulação após captura. Resultados Com a isca controle, obteve-se 20 registros dos dois tipos de reação e 2,5 de tempo médio de manipulação na altura de 3m; 20 de movimentação, dois de manipulação e 0,1 de tempo médio de manipulação na altura 10 cm; oito de movimentação, nenhuma manipulação quando colocada sob a lâmina d’água. Com a isca alimento obteve-se 20 registros de movimentação e manipulação nas 3 classes de altura, obtendo 10,2s de tempo médio de manipulação na altura 3m, 8,4s em 10cm e 7,3s sob a lâmina d’água (Tab. 1) Tabela 1. registro de movimentação (mov), manipulação (man) e tempo médio de manipulação (t) para as três classes de altura Altura 0m Isca mov Controle 8 Alimento 20 0,1m man t Mov 3m man t mov man T 0 0 20 2 0,1 20 20 2,5 20 7,3 20 20 8,4 20 20 10,2 Discussão O sistema de forrageamento causado pela queda de material alóctone tem como primeiro componente o impacto do alimento no espelho d’agua e secundariamente a percepção sensorial. Grandes impactos sempre incitam a reação dos peixes, independente do tipo da isca. A falta completa de impacto não incita nenhuma resposta à isca controle e em contraste sempre incita para a isca comida. Impactos intermediários incitam algumas reações para a isca controle, enquanto a isca comida sempre foi atacada (Fig. 1). 93 Figura 1: Histograma das freqüências do evento manipulação (0- não ocorreu; 1- ocorreu), mostrando que Characiformes possuem mecanismos para detectar a qualidade da isca. Nos tratamentos com um grande impacto, os organismos responderam à presença da isca, selecionando sua palatabilidade após sua captura. Nos tratamentos com pouco ou nenhum impacto as iscas controle eram praticamente ignoradas. Isso sugere que para alcançar o forrageamento ótimo, os lambaris avaliam a presa em relação a sua massa e qualidade, sendo que existe um limiar na intensidade do impacto do material alóctone que determina a estratégia de forrageamento. Para um maior entendimento do sistema de forrageamento deste grupo, como discernimento da qualidade do alimento, são necessárias informações sobre percepção sensorial, dieta alimentar e história evolutiva das espécies. Ao mesmo tempo, fica claro que os Characiformes são bem eficientes na sua habilidade de reconhecer e separar alimento de material inerte, o que é importante para forrageio em sistemas como este. Referências bibliográficas Aranha J.M.R., Takeutei D.F., Yoshimura, T.M. 1998. Habitat use and food partitioning of the fishes on a coastal stream of Atlantic Forest, Brazil. Rev. Biol. Trop. 46(4): 951-959. Aranha, J.M.R.; Gomes, J.R.C., Fogaça, F.N.O. 2000. Feeding of two sympactric species of Characidium, C. lanei and C. pterostictum (Characidiinae) in a coastal stream of Atlantic Forest (Southern Brazil). Brazilian Archives of Biology and Technology, 5(43): 527-531. Barreto, A.P. & Aranha J.R. 2005. Assembléia de peixes de um riacho da Floresta Atlântica: composição e distribuição espacial (Guaraqueçaba, Paraná, Brasil). Acta Sci. Biol. Sci., 2(27): 153-160. Henry R; Uieda,V.S.; Afonso, A.A.; de O.,.Kikuchi.R.M 1994. Input of allochthonous matter and structure of fauna in a Brazilian headstream. Verhandlungen der Internationale Vereinigung fur Theoretische und Angewandte Limnologie, 25(3): 1867-1869. 94 COMPARAÇÃO ENTRE O INDÍCE DE DIVERSIDADE TAXONÔMICA E DE SHANNONWIENER PARA UM GRADIENTE DE FLORESTA OMBRÓFILA DENSA Denilson Roberto Jungles de Carvalho Projeto individual Resumo O uso de parâmetros filogenéticos na mensuração dos índices pode sanar problemas encontrados em alguns índices clássicos e a comparação entre eles pode ajudar no entendimento das comunidades. Para comparação entre diversidade taxonômica e de Shannon-Wiener foram utilizados 54 indivíduos das subformações aluvial e submontana. O índice taxonômico não apresentou diferença entre os ambientes, o índice de Shannon sugere a existência de um gradiente entre as subformações. Palavras-chave: Diversidade; Índice Taxonômico; Índice de Shannon; Floresta Ombrófila Densa; Filogenética Introdução As questões a respeito da diversidade e de como realizar suas medições é há muito tempo uma das questões centrais da ecologia e até o momento não existe um consenso a respeito de sua efetividade. De maneira geral a importância da diversidade de um ambiente está atrelada a três aspectos principais, a explicação de como e porque ocorrem mudanças na diversidade espacial e temporalmente, a eficácia na utilização destes índices como parâmetros de qualidade ambiental e de como esses índices devem ser medidos para evidenciar a realidade (Magurran, 1988). Índices de diversidade baseados na abundância das espécies são uma alternativa para a mensuração da diversidade. Shannon e Wiener independentemente desenvolveram uma função conhecida como índice de diversidade que assume que indivíduos são amostrados aleatoriamente em uma população de tamanho infinito e que todas as espécies estão representadas na amostra (Magurran, 1988). As diferenças entre espécies que ocorrem em uma comunidade ecológica é o resultado de modificações sofridas a partir de um ancestral em comum ( Webb et al; 2002). De maneira geral a diversidade não pode ser medida apenas com a utilização de dados como a abundância e a riqueza de espécies e cada vez mais o parâmetro filogenético vem sendo inserido neste cálculo (Clark & Warwick, 1998). Métodos recentes de avaliações filogenéticas permitem uma acuidade nas definições de proximidade das espécies (Webb et al; 2002), sendo essas avaliações cada vez mais usadas para definição de espécies e áreas de grande interesse para conservação (Clark & Warwick, 1998). A diversidade taxonômica combina a abundância das espécies com a proximidade filogenética para gerar um índice de diversidade (Silva & Batalha, 2006). Clark e Warwick (1998) desenvolveram um 95 método para mensurar a diversidade taxonômica muito sensível a perturbações ambientais e apropriado para avaliar as diferenças entre comunidades (Silva & Batalha, 2006). A análise de gradientes pode detectar descontinuidades de uma forma objetiva e pôr em destaque as relações entre as populações componentes (Odum, 2001). Neste trabalho procurou-se verificar se há diferenças entre dois índices de diversidade e se esses podem explicar as variações dentro de um gradiente de Floresta Ombrófila Densa. Material e Métodos O estudo foi realizado na Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba – PR. A tipologia vegetal da região está classificada como Floresta Ombrófila Densa, caracterizada por fanerófitos de vida macro e mesofanerófitos, além de lianas lenhosas e epífitos em abundância. A característica ombrotérmica de elevadas temperaturas e de alta precipitação bem distribuída durante o ano determinam uma situação bioecológica praticamente sem período seco. Segundo as faixas altimétricas as seguintes sub-formações estão presentes: Floresta Ombrófila Densa aluvial, de terras baixas, submontana, montana e altomontana (IBGE, 1992). A sub-formação aluvial ocorre ao longo dos cursos de água. Esta formação é constituída por macro, meso e microfanerófitos de rápido crescimento, apresenta com freqüência um dossel emergente e os estratos são ocupados por muitas lianas lenhosas e herbáceas, além de grande número de epífitas e poucas parasitas (IBGE, 1992). Já a sub-formação submontana apresenta os fanerófitos com alturas aproximadamente uniformes, suas principais características ficam por conta dos fanerófitos de grande porte, a submata é integrada por plântulas de regeneração natural, poucos nanofanerófitos, além da presença de palmeiras de pequeno porte e lianas herbáceas em maior quantidade (IBGE, 1992). Para o levantamento da vegetação foram implantados cinco transectos de 150m de comprimento, divididos em sub-transectos de 50m que correspondiam a vegetação aluvial, de transição e submontana. Os transectos foram dispostos perpendicularmente ao rio Morato (quatro transecções) e ao rio do Engenho (uma transecção). Para inclusão dos indivíduos no inventário tomou-se como base um perímetro altura do peito – PAP, igual ou superior a 15cm e as medições foram realizadas apenas nos indivíduos que cruzavam a linha da transecção. Todos os indivíduos foram contados e identificados de gênero a clado utilizando o Angiosperm Phylogeny Group Classification (The Angiosperm Phylogeny Group, 2003). Para cada local (aluvial, transição e submontana) foram cálculados os índices de diversidade taxonômico (Clark & Warwick, 1998) e de Shannon-Wiener (Magurran, 1988). Os dados foram analisados com o auxílio do programa Past v. 1,33b e para comparação entre os sub-transectos foi utilizado o teste t (Zar, 1999), com alfa de 0,05 (Fowler & Cohen, 1990). 96 Resultados No total foram amostrados 54 indivíduos de 22 gêneros (tab. 1). A maior abundância foi encontrada na área de transição e a maior riqueza na floresta aluvial (tab. 1). Não houve diferença entre os índices taxonômicos (tab. 2). Para os índices de Shannon, foi observado diferenças entre ambientes de transição e submontana (t1,44=2,03; P = 0,05), o mesmo ocorrendo entre os ambientes aluvial e submontana (t1,44=2,78; P < 0,05). Tabela 1: Classificação das espécies amostrados e respectivas abundância e riqueza para cada local avaliado na Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba, PR. Abundância Gênero Família Ordem Clado Aluvial Transição Submontana Alchornea Euphorbiaceae Malpighiales Euroside I 2 0 0 Bathysa Rubiaceae Gentianales Euasterides I 2 0 2 Ficus Moraceae Rosales Eurosides I 2 0 0 Miconia Melastomataceae Myrtales Rosides 1 4 0 Lauraceae 1 Lauraceae Laurales Magnoliides 1 1 0 Pseudopiptadenia Mimosaceae Fabales Eurosides I 0 1 0 Cupania Sapindaceae Sapindales Eurosides II 1 1 1 Pera Euphorbiaceae Malpighiales Eurosides I 0 2 2 Vochysia Vochysiaceae Myrtales Rosides 3 0 0 Andira Fabaceae Fabales Eurosides I 1 1 0 Casearia Flacourtiaceae Malpighiales Eurosides I 0 1 0 Psychotria Rubiaceae Gentianales Euasterides I 0 0 2 Tibouchina Melastomataceae Myrtales Rosides 0 1 2 Lauraceae 2 Lauraceae Laurales Magnoliides 1 0 0 Marlierea Myrtaceae Myrtales Rosides 1 0 0 Myrcia Myrtaceae Myrtales Rosides 1 0 0 Hyeronima Euphorbiaceae Malpighiales Eurosides I 0 4 0 Inga Mimosaceae Fabales Eurosides I 0 1 1 Posoqueria Rubiaceae Gentianales Euasterides I 0 2 0 Marlierea Myrtaceae Myrtales Rosides 1 1 1 Matayba sp. Sapindaceae Sapindales Eurosides II 1 2 0 Myrtaceae 1 Myrtaceae 1 Myrtales Rosides 1 0 0 Rubiaceae 1 Rubiaceae Gentianales Euasterides I 2 0 0 Abundância 21 22 10 Riqueza (gênero) 15 13 7 97 Tabela 2: Índices de diversidade taxonômico (e respectivos limites inferior e superior) e de ShannonWiener para cada local avaliado na Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba, PR.. Índice Taxonômico Floresta Aluvial Transição Floresta Submontana 4,606 (4,368; 4,657) 4,574 (4,367; 4,662) 4,647 (4,264; 4,774) 4,368 4,367 4,264 Índice de ShannonWiener Discussão A variedade de índices de diversidade e da forma como são calculados pode gerar uma sério problema em trabalhos de ecologia e conservação. Os índices taxonômicos não apresentaram diferenças em relação às sub-formações estudadas. Devido ao método filogenético deste índice o mais provável é que não exista um gradiente no ambiente, de modo que podemos considerar os três como uniformemente estruturados. Para o entendimento dos processos ecológicos em comunidades e muito importante que as distâncias filogenéticas sejam estabelecidas entre as espécies (Silva & Batalha, 2006). Em contrapartida os índices de Shannon-Wiener apresentaram algumas diferenças entre os ambientes o que indica a existência de um gradiente. Esse método, porém, não leva em conta a proximidade filogenética entre as espécies considerando apenas a abundância e a riqueza da comunidade estudada. Este índice é um dos melhores para fazer comparações quando não há interesse em separar os componentes da diversidade uma vez que é razoavelmente independente do tamanho da amostra (Odum, 2001). Quanto à utilização de um ou outro desses índices em ecologia e conservação de comunidades, não há como inferir que um ou outro seja mais adequado para demonstrar a realidade do ambiente, visto principalmente a diferença nas metodologias para os respectivos cálculos. Sua utilização estará vinculada ao tipo de situação na qual se quer aplicar o índice. Nas situações em que a proximidade filogenética é importante, o índice taxonômico deve apresentar resultados satisfatórios, em situações onde a abundância e a riqueza das espécies são prioritários, o índice de Shannon-Wiener torna-se mais adequado. Referências bibliográficas Fowler, J.F. & Cohen, L. 1990. Practical statistics for field biology. Open University Press, Philadelphia. Magurran, A. E. 1988. Ecological diversity and its measurement. Cambridge, UK.179pp. 98 The AGP. 2003. An update of the Angiosperm Phylogeny Group classification for the orders and families of flowering plants: AGP II. Botanical Journal of the Linnean Society 141: 399-436. Clarke, K. R. & Warwick, R. M. 1998. A taxonomic distinctness index and its statistical proporties. Journal of Applied Ecology 35: 523-531. Webb O. C. et al. 2002. Philogenies and community ecology. Annual Review of Ecology Systematics 33: 475-505. IBGE. 1992. Manual técnico da vegetação brasileira. Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Odum, E. P. 2001. Fundamentos de ecologia. Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa. Silva, I. A. & Batalha, M. A. Taxonomic distinctness and diversity of a hyperseasonal savanna in central Brazil. Diversity and Distributions, no prelo. 99 RIQUEZA E ABUNDÂNCIA DA MACROINVERTEBRADOS TERRESTRES EM UM GRADIENTE DA FLORESTA ATLÂNTICA Marco Aurélio Bregenski Projeto Individual Resumo O estudo testou a abundância de macroinvertebrados em um gradiente da Floresta Atlântica e verificou a relação entre riqueza de espécies e serapilheira, partindo do pressuposto que riqueza está relacionada com a heterogeneidade de habitats, num gradiente entre borda e interior de floresta com medição da altura da serapilheira. Foram identificados 31 grupos taxonômicos e 14 morfoespécies, num total de 150 indivíduos. Não houve relação entre riqueza e abundância e nem preferência de grupos por diferentes habitats. Palavras-chave: artrópodos; insetos; análise de correspondência; Salto Morato. Introdução Em habitats terrestres, a maioria dos elementos circula através dos detritos na superfície do solo. As plantas assimilam nutrientes do solo muito mais rapidamente do que o intemperismo os gera a partir do material parental. Dessa forma a produção vegetal depende da rápida reciclagem dos nutrientes a partir dos detritos e sua retenção dentro do ecossistema (Ricklefs, 1996) Inúmeros são os grupos taxonômicos que compõem a fauna edáfica de invertebrados e algumas classificações como a apoiada no tamanho e mobilidade dos organismos é bastante difundida atualmente entre os pedobiólogos tropicais. Essa divisão classifica os animais em microfauna (< 0,2m), mesofauna (0,2 – 2,0mm) e macrofauna (>2,0mm) (Ducatti, 2002). Como macrofauna, são classificados os animais de grande mobilidade, que exercem importante papel no transporte de materiais (Poggiani et al., 1996; Lopes Assad, 1997) e prever o número, o tipo e a atividade dos organismos que podem ser encontrados num determinado solo é difícil, pois eles dependem além do clima e da vegetação, de fatores do solo como umidade, temperatura, aeração, acidez, suprimento de nutrientes e de energia e grau de perturbação (Ducatti, 2002). A serapilheira é a camada sob a camada vegetal, constituído de folhas caídas, ramos, caules, cascas e frutos depositados sobre o solo. Esse reservatório de nutrientes é reciclado pelas atividades de incontáveis anelídeos, moluscos, insetos, crustáceos, ácaros, que consomem detritos. Os macroinvertebrados desenvolvem ações no solo que, por suas especificidades, conferem-lhes papel de destaque na ciclagem de nutrientes. Essas especificidades estão relacionadas principalmente com o volume de material que pode ser modificado, em suas características genéticas, pelos grupos de animais envolvidos (Lopes Assad, 1997). 100 Desta forma, ambientes mais heterogêneos espacialmente podem acomodar mais espécies, pois apresentam maior quantidade de micro-climas e refúgios. Além disso, mais espécies podem ocorrer em uma comunidade do que outra devido à maior quantidade de recursos (Townsend et al., 2006) O presente estudo teve como objetivo testar a abundância de macroinvertebrados de um gradiente da Floresta Atlântica e verificar a relação com a profundidade da serapilheira. Material e Métodos O estudo foi realizado na Reserva Natural Salto Morato, PR (Coordenadas UTM 772161 S; 7212393 W, Datum horizontal SAD69) nos dias 25 e 26 de outubro de 2006, no período da manhã, em uma área de floresta, próxima ao rio Morato. Foram feitas duas transecções de 100 metros cada, onde foram amostradas 20 parcelas de 30 x 30cm, distantes 10 metros entre si, dispostas de maneira a representar o gradiente entre borda e interior da floresta. As amostras foram coletadas manualmente, acondicionadas individualmente em cartuchos plásticos. A medida de espessura da serapilheira foi tomada para cada parcela. O material coletado foi triado em laboratório e a identificação realizada por grupos taxonômicos, com auxílio de microscópio estereoscópico e chave dicotômica. Para verificar a relação entre riqueza de espécies e altura da serapilheira foi utilizada regressão linear. Para verificar a tendência das espécies com relação às áreas amostradas foi realizada uma análise de correspondência. Resultados Foram identificados 30 morfoespécies de macroinvertebrados, distribuídos em 14 grupos taxonômicos, num total de 150 indivíduos coletados (Tab. 1). Os grupos mais abundantes foram os Opillionidae, Hymenoptera, Coleoptera e Crustacea, este com 46 indivíduos identificados. Araneae, foi o grupo com a maior riqueza de espécies, 6 no total. Os grupos que apresentaram menor riqueza de espécies foram: Dermaptera, Mollusca, Diplura, Chilopoda, Acarina, Orthoptera e Annelida, representados por apenas 1 morfoespécie. A espessura da serapilheira nos 20 pontos amostrados variou de 3cm a 6cm. A análise de correspondência não revelou nenhuma tendência das espécies em relação a maior espessura da serapilheira (Fig. 1). Foi realizado também regressão relacionando a riqueza de espécies com a espessura da serapilheira, não mostrando uma relação entre as variáveis. 101 Tabela 1. Grupos taxonômicos e respectiva abundância ao longo de um gradiente de perturbação na Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba, PR. Grupos Moefoespécies batara m1(a) barata m2(b) besouro m1© Coleoptera besouro m2(d) besouro m3 (e) formiga m1(f) formiga m2 (g) Hymenoptera formiga m3 (h) formiga m4 (i) minhoca m1 (j) Anellida opilião m1 (k) Opillionidae opilião m2 (l) opilião m3 (m) aranha m1(n) aranha m2 (o) aranha m3 (p) Araneae aranha m4 (q) aranha m5 ® aranha m6 (s) gastropoda m1(t) Mollusca amphipoda (u) Crustacea m2 (v) m3 (x) m1(y) Diplura m1(w) Diplopoda centopéia m1(z) Quilopoda centopéia m2 (ab) grilo m1(ac) Orthoptera tesourinha m1(ad) Dermaptera carrapato m1(ae) Acarina TOTAL Blatodea 1 2 1 1 3 2 2 3 1 2 pontos amostrados 4 5 6 7 1 1 total 8 1 9 10 5 1 7 1 1 1 1 1 1 14 1 2 1 1 30 1 1 2 1 4 3 1 1 2 1 1 1 1 1 1 2 1 1 2 1 1 1 3 1 1 1 2 22 2 1 1 1 18 1 1 1 1 6 2 1 4 11 1 1 6 1 4 4 1 3 4 1 2 2 3 1 11 1 1 1 2 1 2 17 2 13 28 14 13 10 10 46 25 1 9 1 1 2 2 14 Figura 1. Análise de correspondência com ordenação das morfoespécies em relação às áreas amostradas com diferentes profundidades de serapilheira, num gradiente de perturbação na Reserva Natural Salto Morato. A distância entre cada ponto evidencia a relação entre espécies e espessura da serapilheira (as espécies estão representadas por letras). 102 Discussão O número de espécies de um local pode ser determinado por fatores históricos ou ecológicos, entre outros. Neste contexto, a riqueza depende da diversidade de recursos dentro de um biótopo (Price, 1984). De modo geral, os organismos de solo são afetados por compactação, profundidade de aeração, diminuição da qualidade e quantidade de material orgânico e redução do abrigo ou locais para oviposição, e principalmente, temperatura e umidade (Ducatti, 2002). Foi observada uma baixa densidade de morfoespécies em toda a extensão do gradiente, mostrando que este não é um fator determinante para a presença dos animais. Apesar da serapilheira ser importante para a presença destes animais, as espécies encontradas não mostraram relação aparente com a heterogeneidade, pois alguns grupos foram encontrados tanto nas áreas de maior quanto menor espessura de serapilheira, conforme a análise de correspondência Os grupos Chilopoda, Diplopoda e Dermaptera, tiveram baixa abundância, pois são animais que possuem hábitos noturnos, ficando durante o dia escondidos sob pedras e cascas de árvores. Os anelídeos também tiveram pouca abundância, pois são suceptíveis a vários fatores abióticos e bióticos que afetam sua condição de vida e sua atividade no solo. A baixa presença de Amphipoda nas diversas amostras pode estar relacionada à umidade, pois são espécies muito exigentes quanto à umidade (Lopes et al., 2004). No estudo não foram medidas a umidade temperatura da serapilheira, fatores que poderiam explicar a ausência ou à baixa abundância de espécies que são freqüentes neste tipo de substrato. Portanto, a riqueza e abundância de espécies, parece estar relacionada, além da heterogeneidade da serapilheira, que proporciona uma maior diversidade de microhabitats, à umidade, pois alguns animais ajustam suas atividades diurnas para períodos mais úmidos do dia.. Referências Bibliográficas Ducatti, F. 2002. Fauna edáfica em fragmentos florestais em áreas reflorestadas com espécies da Mata Atlântica. Dissertação de Mestrado. USP. São Paulo. Lopes Assad, M.L. 1997. Fauna de solo. In: Vargas, M.A.T & Hungria, M (Ed). Biologia dos solos dos Cerrados. EMBRAPA. Planaltina. Lopes, L.O. & Masunari, S. 2004. Distribuição de abundância de Talitroides topitotum na área de entorno da Usina Hidroelétrica de Guaricana, Guaratuba, Paraná. Revista Brasileira de Zoologia. 21(2): 1-13. Poggiani, F.; Oliveira, R.E. & Cunha, G.C. da.1996. Práticas de ecologia florestas. Documentos Florestais, n.16, p. 1-44 Price, P. W. 1984. Insect Ecology. (2 ed). Wiley Intersience, New York. Ricklefs, R. E. 1996. A Economia da Natureza. Ed. Guanabara Koogan. Rio de Janeiro. 478p. Townsend, C. R.; Begon, M. & Harper, J. L. 2006. Fundamentos em Ecologia. Artmed Ed. Porto Alegre. 103 MUDANÇAS DE CONDUTA EM PASSERIFORMES (AVES) COMO EFEITO SECUNDÁRIO DE TÉCNICAS DE CAPTURA André M. X. Lima Projeto individual Resumo Técnicas de captura/playback são comuns em estudos sobre aves, mas a experiência da captura tem o potencial de traumatizar e alterar a conduta de indivíduos. Nesta pesquisa, foram estudados os efeitos secundários dos procedimentos de captura no comportamento de resposta ao canto e chamado intraespecíficos em espécies de Passeriformes em duas áreas: área sob influência das técnicas e outra controle. O estudo mostrou que há alteração na conduta dos indivíduos em relação à distância mínima de aproximação e tempo de permanência. Palavras-chave: comportamento, efeito secundário, captura, playback, Passeriformes. Introdução Estudos populacionais de aves invariavelmente dependem de metodologias baseadas em captura, a fim de distinguir indivíduos de uma população. Entre as técnicas utilizadas, capturas com redes de neblina e anilhamento fornecem dados sobre riqueza, abundância, diversidade, territorialidade e sobrevivência (Bayne & Hobson, 2002; Hansen & Slagsvold, 2003). A reprodução do canto ou chamado específico, técnica denominada como playback, é utilizada para complementar a coleta dos dados associados às capturas, geralmente como isca para auxiliar na captura de indivíduos de determinadas espécies (Kearns et al. 1998; Whalen & Watts, 1999), não somente com aves, mas com também com outros vertebrados (Hauser 1998; Hill & Greenaway, 2005). Porém, a experiência da captura tem o potencial de traumatizar e alterar a conduta de indivíduos. Estas experiências podem modificar a conduta do indivíduo em um prazo mais longo que somente o período pós-trauma, dependendo da forma como este a percebe e assimila (Bibby et al., 1998). Desta forma, tanto indivíduos capturados quanto os que foram alvos de tentativas devem apresentar mudanças de conduta em relação ao canto reproduzido e visualização do observador. Nesta pesquisa estudaram-se os efeitos dos procedimentos de captura no comportamento de resposta ao canto e chamado intraespecíficos reproduzidos por playback em espécies de Passeriformes. Foi testado se indivíduos presentes em uma área de pesquisa que utiliza tais técnicas respondem ao playback de modo diferenciado em relação a indivíduos de áreas sem essa influência. Material e métodos Área de estudo 104 Foram consideradas duas áreas amostrais de aproximadamente 10 hectares: área onde foram empregados esforços de captura (tratamento) e onde não foram (controle), ambas localizadas na Trilha da Figueira, localizada na Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba, Paraná. Espécies Três espécies endêmicas da Floresta Atlântica, que habitam o sub-bosque de áreas florestadas foram estudadas: Conopophaga melanops (Conopophagidae); Drymophila squamata e Myrmeciza squamosa (Thamnophilidae). Entre julho e setembro de 2006, foram anilhados 10 indivíduos de C. melanops; 6 de D. squamata e 3 de M. squamosa na área tratamento, totalizando 19 indivíduos capturados e anilhados. Nesta área ainda, os indivíduos que formam casais com os anilhados e casais que não foram anilhados, mas que foram alvos em tentativa de captura, somam um mínimo de 12 indivíduos. É possível contabilizar os indivíduos desta forma, pois são espécies territoriais e monogâmicas. As três espécies podem responder de forma instantânea e se aproximam do pesquisador quando este reproduz canto ou chamado específicos, constantemente se aproximando a menos de dois metros da fonte do som (observação pessoal). Amostragem Em cada área foram definidos dez pontos de reprodução dos cantos das três espécies a cada 100m, nos quais foram tomados a distância mínima de aproximação o tempo de resposta ao playback de cada indivíduo identificado. A reprodução não se estendeu por mais de que 6 minutos até que algum indivíduo respondesse. Caso os indivíduos fossem escutados sem o emprego do playback ou a distâncias estimadas a mais de 50m, o pesquisador aproximou-se a 25m do indivíduo para obter os mesmo dados. As áreas foram amostradas de forma alternada, uma vez por dia, por dois dias. Nas análises estatísticas foi empregado o teste t de Student para testar se há diferenças entre as médias de tempo de resposta e distância mínima de aproximação em relação ao indivíduos anilhados e não anilhados e entre as áreas. Utilizou-se regressão linear para avaliar se a variação no tempo desde a captura estaria associada a mudanças de conduta. Resultados Um total 32 indivíduos, sendo 17 de C. melanops, 12 de D. squamata e 3 de M. squamosa, foram estudados (Tab. 1). 105 Tabela 1. Número de indivíduos amostrados nas áreas Controle (C) e Tratamento (T) na Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba, PR Espécie C. melanops Área Anilhado N C - 9 não 1 sim 7 - 6 não 1 sim 5 - 1 não 1 sim 1 T C D. squamata T C M. squamosa T Os indivíduos da área tratamento responderam de forma diferenciada ao playback em relação aos da área controle. Os indivíduos da área da pesquisa se aproximam em média a distâncias maiores da fonte de som que os da área controle (t8,5=3,6; P<0,05); e permaneceram respondendo por menos tempo após localizar a fonte (t3,9=3,1; P <0,05) (Fig.1). a) b) 1500 350 Tempo (s) 1300 Distância minima (cm) 400 1100 900 300 250 700 200 500 150 300 100 100 Controle Tratamento Controle Tratamento Figura 1: Médias (± 95%) da distância mínima (a) e tempo de permanência (b) em relação à fonte de som, em áreas Tratamento e Controle na Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba, PR. A aproximação mínima de um indivíduo da área tratamento foi de 3,1 m enquanto da área controle foi 1 m. A distância máxima no tratamento foi 26 m e no controle 8,5 m. O tempo mínimo de aproximação foi 35 s na área tratamento e 88s na controle. 106 Comparando indivíduos anilhados e não anilhados, obteve-se resultados semelhantes em relação a comparação entre áreas (Fig. 2). Os indivíduos anilhados se aproximam menos da fonte de som que os não anilhados (t13,1=2,0 P<0,05) e permanecem respondendo por menos tempo (t11,4=1,9; P <0,05). a) b) 400 1500 350 1100 Tempo (s) Distância mínima (cm) 1300 900 700 300 250 200 500 150 300 100 Não anilhado 100 Anilhado Não anilhado Anilhado Figura 2: Médias (± 95%) da distância mínima (a) e tempo de permanência (b) em relação à fonte de som de indivíduos anilhados e não anilhados na Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba, PR. Analisando as espécies, M. squamosa não apresentou número amostral suficiente para análises estatísticas (Tab. 1), C. melanops respondeu de forma diferenciada nos dois testes: os indivíduos da área da pesquisa se em média aproximam menos da fonte de som que os da área controle (t8,6=3,8; P<0,05); e permaneceram respondendo por menos tempo após localizar a fonte (t9,8=3,1; P <0,05) (Fig. 3); os indivíduos anilhados se em média aproximam menos da fonte de som que os da área controle (t13=2,0; P<0,05); e permaneceram respondendo por menos tempo após localizar a fonte (t11=1,9; P <0,05) (Fig. 3). a) b) 1900 400 1700 350 300 1300 Tempo (s) Distância mínima (cm) 1500 1100 900 200 700 150 500 100 300 100 Controle c) 250 50 Tratamento Controle Tratamento d) 107 400 1700 350 1500 300 Tempo (s) Distância mínima (cm) 1900 1300 1100 900 700 250 200 150 500 100 300 100 Não anilhado 50 Anilhado Não anilhado Anilhado Figura 3: Médias (± 95%) em áreas Tratamento e Controle de distância mínima (a) e tempo de permanência (b) em relação à fonte de som; e de distância mínima (c) e tempo de permanência (d) de indivíduos anilhados e não anilhados na Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba, PR. A espécie D. squamata respondeu de forma diferente em relação à distância mínima de aproximação na área tratamento controle (t6,6=2,5; P<0,05) e em relação a indivíduos anilhados (t4,9=3,0; P<0,05) (Fig. 4), mas não ao tempo de permanência. Embora não houve diferença, indivíduos da área controle e não anilhados nunca saíram antes de terminar o tempo máximo de reprodução, ao contrário dos indivíduos das outras categorias. b) 1500 1500 1300 1300 1100 1100 Distância mínima (cm) Distância mínima (cm) a) 900 700 500 300 100 Controle Tratamento 900 700 500 300 100 Não anilhado Anilhado Figura 4: Médias (± 95%) de distância mínima de aproximação de D. squamata em áreas Tratamento e Controle (a) e entre indivíduos anilhados e não anilhados (b) na Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba, PR. A regressão linear não mostrou relação entre tempo desde a captura e variações na resposta ao experimento. 108 Discussão Passeriformes sofrem efeitos secundários resultantes das técnicas de captura/playback empregadas. Tanto indivíduos anilhados quanto os não anilhados que estavam na mesma área responderam de forma semelhante. Indivíduos em áreas onde ocorrem esforços de captura se aproximam menos e permanecem por menos tempo nas proximidades da fonte de som que reproduz seu canto. Como efeito secundário, estes indivíduos tornam-se mais ariscos em relação ao canto intraespecífico e possuem capacidade de reconhecer a experiência da captura/playback. Uma mudança de conduta que torna um indivíduo mais arisco em relação aos indivíduos ao redor pode influenciar no seu valor adaptativo. O fato do indivíduo se expor menos diminui as possibilidades de interações que regulem sobrevivência e sucesso reprodutivo, como a predação por animais que utilizem a percepção sonora como parte da estratégia de forrageio, caso de aves de rapina (Sick 1997). Algumas espécies de aves emitem chamados que não os da própria espécie, com o intuito de predar indivíduos de outras espécies atraídos pela reprodução do seu canto específico (Atkinson, 1997). A capacidade de reconhecer também pode acarretar em efeitos semelhantes. Esta habilidade de reconhecer e assimilar novas interações incrementa o valor adaptativo, principalmente em relação ao balanço energético em uma escala de dias, pelo fato do indivíduo investir menos energia para reconhecer algo que não compensa esse gasto. Considerando as espécies analisadas, os indivíduos de C. melanops são capazes de reconhecer a experiência, enquanto D. squamata aparenta reconhecer. Caso não, é possível que esta espécie possua um comportamento territorialista mais insistente que C. melanops. As mudanças de conduta detectadas podem influenciar na sobrevivência e sucesso reprodutivo de indivíduos de Passeriformes. Embora sejam modificações com aparente pouca importância em escalas populacionais, podem ser importantes no desenvolvimento de pesquisas que utilizem estas e outras técnicas com o mesmo potencial e que estudem comportamentos que possam estar sendo influenciados pela própria técnica de trabalho. Referências bibliográficas Atkinson, E. 1997. Singing for your supper: acoustical luring of avian prey by Northern Shrikes. Condor 99:203-206. Bayne, E. M. & Hobson, K. A.. 2002. Annual survival of adult american redstarts and ovenbird in the southern boreal Forest. The Wilson Bulletin 114(3):358-367. Bibby, C.; Jones, M. & Marsden, S. 1998. Expedition field techniques: Birds surveys. Royal Geographic Society. London. Hansen, B. T. & Slagsvold, T. 2003. Rival imprinting: interspecifically cross-fostered tits defend their territories against heterospecific intruders. Animal Behaviour 65:1117-1123. Hauser. M. D. 1998. Functional referents and acoustic similarity: field playback experiments with rhesus monkeys. Animal Behaviour 55, 1647–1658 109 Hill, D. A. % F. Greenaway. 2005. Effectiveness of an acoustic lure for surveying bats in British woodlands. Mammal Review 35 (1), 116-122. Kearns, G. D.; Kwartin, N. B.; Brinker, D. F. & G. C. Haramis. 1998. Digital playback and improved trap design enhances capture of migrant Soras and Virginia Rails. Journal of Field Ornithology 69(3):466-473. Sick, H. 1997. Ornitologia Brasileira. Nova Fronteira, Rio de Janeiro. Whalen, D. M.; e B. D. Watts. 1999. The influence of audio-lures on capture patterns os migrant northern saw-whet owls. Journal of Field Ornithology 70(2):163-168. 110 A INFLUÊNCIA DO GRADIENTE LONGITUDINAL NA ASSEMBLÉIA DE PEIXES DO RIO MORATO, GUARAQUEÇABA – PR Kelly Dayane Aguiar Projeto individual Resumo A associação entre heterogeneidade espacial e gradiente longitudinal foi estudada para a ictiofauna do rio Morato, partindo do pressuposto que a diversidade está relacionada à maior heterogeneidade espacial e à disponibilidade de recursos ao longo do curso do rio. Riqueza, abundância, diversidade, equitatibilidade e similaridade foram avaliadas, e indicaram mudanças da composição da assembléia de peixes de acordo com o gradiente longitudinal. Palavras-chave: estrutura de comunidade, rio continuum, riacho, ictiofauna, Brachiaria Introdução A distribuição dos organismos aquáticos é limitada pelo gradiente de habitats distintos. Espécies são geralmente restritas a subgrupos relacionados a regiões particulares deste gradiente, conduzindo a uma alta mudança de características na estrutura de comunidades. Mudanças na estrutura da comunidade ao longo do gradiente de habitats aquáticos, são determinadas por (a) fatores ambientais físicos que limitam o potencial de distribuição de espécies e (b) interações bióticas que determinam o sucesso realizado pelas espécies (Wellborn et al. 1996). Acredita-se que ao longo do gradiente longitudinal processos a montante em rios determinam os de jusante, causando uma alteração na paisagem e principalmente na estrutura alimentar, com possíveis implicações para a heterogeneidade e disponibilidade de recursos (Romanuk et al. 2006). Ambientes mais heterogêneos espacialmente podem acomodar mais espécies, pois apresentam maior quantidade de micro-habitats, associados a maior variação de micro-climas e refúgios. Além disso, mais espécies podem ocorrer em uma comunidade do que outra devido à maior quantidade de recursos (Townsend et al. 2006). Os rios e riachos são ambientes lóticos, com fluxo unidirecional, cujas características se alteram ao longo de seu curso, influenciando fortemente a composição das comunidades aquáticas (Caramaschi et al. 1999). Características de geomorfologia, clima, regimes de distúrbios naturais e dinâmica do corredor ripário têm reflexos sobre os sistemas lóticos, influenciando a interação entre fatores biológicos e físicos na bacia hidrográfica. A vegetação terrestre que margeia um riacho tem dois tipos de influência sobre a disponibilidade de recursos: sombreamento do leito do riacho, reduzindo a produtividade de algas e outras plantas e a perda de folhas contribuindo para o suprimento de organismos (Caramaschi et al. 1999; Townsend, et al. 2006). 111 Os peixes de riacho apresentam padrões evolutivos característicos de estrutura de comunidade e estratégia de ciclo de vida que propiciaram uma maior diversidade de espécies associada aos diferentes micro-habitats (Caramaschi et al. 1999; Lowe-McConnell, 1999). O gradiente longitudinal de rios está relacionado a uma mudança no padrão espacial ao longo do curso do rio, caracterizada por um continuum de alterações nos habitats e na composição de espécies refletindo a heterogeneidade espacial e disponibilidade de recursos (Allan, 1995). Desta forma, pode-se esperar que ao longo do gradiente do rio existam maior riqueza e abundância de peixes relacionados ao aumento da heterogeneidade. Neste contexto, o objetivo do presente estudo foi testar a influência do gradiente longitudinal do rio Morato na estrutura e composição da assembléia de peixes. Material e métodos O trabalho foi desenvolvido no trecho à jusante do Salto Morato, em cinco pontos até a área de início da influência da vegetação de Brachiaria spp., no rio Morato, Reserva Natural do Salto Morato, PR (Coordenadas UTM 772161 S; 7212393 W, Datum horizontal SAD69). Os pontos foram denominados: salto (corredeira próximo à queda de água do Salto Morato), corredeira (ambiente com predomínio de pedras), aquário (ambiente de poço), remanso (predomínio de águas mais lênticas) e vegetação (influência de Brachiaria spp.). A captura dos peixes foi realizada utilizando uma peneira (60 cm de diâmetro) e uma rede de arrasto (70x150 cm), em esforço padronizado de 20 peneiradas e 10 arrastos em cada local. Os indivíduos foram identificados e contados, sendo acondicionados em recipiente com água e depois liberados. Também foram mensurados em cada ponto a profundidade (cm), a largura (m), a correnteza (m.s-1), a temperatura (ºC) e o grau de sombreamento (fechado, semi-fechado, aberto). Para testar se os pontos apresentam similaridade com base na abundância das espécies, indicando um gradiente longitudinal, utilizou-se a análise de agrupamento. Para testar se a frequência de espécies varia conforme o gradiente (pontos) foi utilizado o teste de independência ( 2) e a análise de correspondência para representar a interdependência das espécies em relação ao gradiente. Para testar se o gradiente do rio influencia na estrutura e composição da ictiofauna calculou-se a diversidade de Shannon, a Equitatibilidade de Pielou e a similaridade de Bray-Curtis (Magurran, 1988). Resultados Dentre as 11 morfo-espécies coletadas, três foram exclusivas do substrato vegetação, três espécies ocorreram apenas no ambiente de poço denominado aquário e três espécies foram comuns a áreas de remanso (poços) (Tab. 1). Os exemplares distribuíram-se respectivamente entre as famílias Loricariidae, seis morfo-espécies de Siluriformes, Crenuchidae e Characidae (Characiformes), Poeciliidae (Ciprinodontiformes) (Tab. 1). 112 Tabela 1. Lista de espécies de peixes e respectivas abundâncias ao longo do gradiente no rio Morato, Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba-PR. Ordens Siluriformes Famílias Loricariidae Crenuchidae Characidae Characiformes Ciprinodontiformes Poeciliidae Espécies Cascudo morfo 1 Cascudo morfo 2 Cascudo morfo 3 Cascudo morfo 4 Cascudo morfo 5 Cascudo morfo 6 Ancistrus multispinnis Characidium lanei Deuterodon lanei Mimagoniates microlepis Phalloceros caudimaculatus salto Total corredeira aquário 1 1 1 remanso 2 1 3 5 5 9 2 6 1 12 10 1 20 24 vegetação 3 8 Total 1 1 1 4 2 1 1 2 27 15 15 18 70 2 2 1 1 1 A maior abundância foi encontrada no ambiente de remanso, variando entre 1 e 12 indivíduos. O lambari, D. lanei, representou 44% da amostra no remanso (Tab. 1), onde a equitatibilidade foi mais baixa (Tab. 2). Foi observada menor abundância de indivíduos próximo ao Salto Morato, que tende a aumentar em direção a área mais vegetada (G = 58,7; GL = 40; P < 0,05) caracterizando o gradiente longitudinal. Verificou-se maior similaridade entre os ambientes aquário e remanso (0,54), seguida de aquário e vegetação (0,43) e posteriormente de salto e corredeira (0,25). A diversidade foi maior na área de vegetação e a equitatibilidade foi maior no salto. (Tab. 2). Tabela 2. Diversidade e equitatibilidade da ictiofauna ao longo de um gradiente no rio Morato, Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba-PR. Diversidade Equitatibilidade salto 0,64 0,92 corredeira .... .... aquário 1,4 0,78 remanso 0,98 0,7 vegetação 1,63 0,84 A análise de correspondência indicou a distinção entre os ambientes amostrados, através da interdependência das espécies em relação ao tipo de habitat, principalmente entre salto e vegetação, refletindo o gradiente longitudinal do rio Morato (Fig. 1). 113 Figura 1. Análise de correspondência entre freqüência de espécies em cada ponto amostrado no rio Morato. A distância entre cada ponto evidencia a relação entre espécies e tipo de habitat. Não foi encontrada relação entre o gradiente longitudinal e os parâmetros: profundidade, largura, correnteza, temperatura e grau de sombreamento. O salto e a corredeira possivelmente têm maior correnteza pela proximidade com o Salto Morato e as áreas de poço (aquário e remanso) apresentam maior profundidade. Discussão Neste estudo foram encontradas 11 morfo-espécies, que representam mais de 30% da ictiofauna registrada para o rio Morato (Barreto & Aranha, 2005). A ordem Siluriformes (cascudos) foi o grupo mais freqüente, corroborando resultados anteriores (Barreto & Aranha, 2005). A abundância de indivíduos acompanhou o gradiente longitudinal, demonstrando como os ambientes estruturam a assembléia de peixes, concordando com a associação de subgrupos de espécies para cada tipo de habitat, ou seja, a mudança na composição de espécies ao longo do curso do rio. A tendência de aumento da diversidade ao longo do gradiente sugere a maior heterogeneidade da área com influência da vegetação. Nesta área estão presentes espécies vegetais invasoras (Brachiaria 114 spp.) com características homogêneas, as quais possibilitam a dominância de poucas espécies, modificando a estrutura das comunidades aquáticas, sugerindo que comunidades de peixes são influenciadas pela alteração no ambiente aquático e principalmente pela perturbação na vegetação ripária (Caramaschi et al. 1999). A similaridade da assembléia de peixes parece estar relacionada com as semelhanças dos ambientes, pois salto e corredeira apresentam maior fluxo de água e aquário e remanso são poços, cuja profundidade distingue estes ambientes mais lênticos. A ausência de relação entre o gradiente longitudinal do rio Morato e os parâmetros: profundidade, largura, correnteza, temperatura e grau de sombreamento, deve-se provavelmente à falta de variabilidade na amostragem e à dependência da sazonalidade no padrão temporal da comunidade de peixes. As espécies de peixes podem apresentar preferência por determinado tipo de habitat, caracterizando o padrão de distribuição da ictiofauna de acordo com a proporção de micro-habitats em cada ambiente e a oferta de recursos, em detrimento do gradiente longitudinal (Wellborn et al. 1996). Desta forma, a seleção de habitats pode constituir outra possibilidade de interpretar a estruturação das comunidades de peixes além do gradiente longitudinal do rio. Referências bibliográficas Allan, J. D. 1995. Stream Ecology: Structure and function of running waters. Chapman & Hall, London. Barreto, A. P. & Aranha, J. M. R. 2005. Assembléia de peixe de um riacho de Floresta Atlântica: composição e distribuição espacial (Guaraqueçaba, Paraná, Brasil). Acta Scientia Biological Scientarum 27(2): 153-160. Caramaschi, E. P.; Mazzoni & Peres-Neto, P. R. (eds.) 1999. Ecologia de peixes de riacho VI. Oecologia Brasiliensis, Rio de Janeiro. Lowe-McConnell, R. H., 1999. Estudos ecológicos de comunidades de peixes tropicais. Edusp, São Paulo. Magurran, A. E. 1988. Ecological diversity and its measurement. Princeton University, Princeton. Romanuk, T. N.; Jackson, L. J.; Post, J. R.; McCauley, E. & Martinez, N. D. 2006. The structure of food webs along river networks. Ecography 29:1-8. Townsend, C. R.; Begon, M.; Harper, J. L. 2006. Fundamentos em ecologia. Artmed, Porto Alegre. Wellborn, G. A.; Skelly, D. K. & Werner, E. E. 1996. Mechanisms creating community structure across a freshwater habitat gradient. Annual Review of Ecology and Systematics 27:337-363. 115 COMPARAÇÃO DO CUIDADO PARENTAL ENTRE AVES DE SUB-BOSQUE DA FLORESTA ATLÂNTICA, GUARAQUEÇABA, PARANÁ Renata Ribas Projeto Individual Resumo Ajustes evolutivos e plásticos estão presentes nas mais diversas atividades executadas pelos seres vivos, dentre elas o cuidado da prole. O sucesso reprodutivo varia em função das características do ambiente e da espécie. Considerando que morfologia e comportamento variam entre as espécies e que cada uma delas tem sua própria história de vida, o objetivo da pesquisa foi testar se existem diferenças de cuidado parental entre algumas espécies de aves de sub-bosque da Floresta Tropical Úmida. Palavras-chave: comportamento da avifauna, nidificação, sucesso reprodutivo. Introdução As características morfológicas, fisiológicas e comportamentais dos organismos podem resultar de respostas evolutivas às pressões do meio e da plasticidade fenotípica, que é a capacidade de resposta do fenótipo às mudanças ambientais. Ajustes evolutivos e plásticos estão presentes nas mais diversas atividades executadas pelos seres vivos, dentre elas a reprodução (Odum 2001, Ricklefs 2001, Townsend et al. 2006). A reprodução envolve aspectos como escolha de quando começar a reproduzir, em qual época do ano gerar os descendentes, quantas proles produzir e quanto de cuidados conferir a ela. O sucesso reprodutivo depende da escolha das melhores opções, as quais variam em função das características do ambiente e da espécie. Ao longo do processo evolutivo as opções favorecidas pelo processo de seleção natural tendem a se tornar atributos das espécies e da sua história de vida (Odum 2001, Ricklefs 2001). Os organismos muitas vezes possuem tempo, energia e nutrientes limitados, o que determina a necessidade de alocação dos recursos. Mudanças adaptativas na forma e função tanto podem aumentar a disponibilidade de recursos quanto otimizar o seu uso. Os animais não podem, por exemplo, transferir o tempo dedicado à procura de alimento para o cuidado com os filhotes ou vigilância dos predadores. Portanto, acredita-se que as características comportamentais dos organismos representam a resolução ótima das demandas de tempo e de recursos (Ricklefs 2003). Em aves, por exemplo, o tamanho da ninhada é limitado pela habilidade dos pais em obter comida e também pela disponibilidade de alimento no meio. Aves das altas latitudes, quando comparadas as das regiões tropicais, costumam apresentar proles mais numerosas. Isto é explicado pela maior duração do dia durante a estação em que os filhotes são gerados e consequentemente maior disponibilidade de tempo para captura de alimento (Ricklefs 2003). 116 Cada espécie tem sua própria história de vida, os atributos de forma e função são variáveis, independente de estarem presentes numa mesma região ou de viverem sob condições ambientais semelhantes. Assim, o objetivo desta pesquisa foi testar se existem diferenças de cuidado parental entre algumas espécies de aves de sub-bosque de uma Floresta Tropical Úmida, através da análise do tempo de permanência no ninho. Material e métodos Foi realizada observação do cuidado parental de três espécies de aves de sub-bosque da Floresta Atlântica, na Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba, Paraná. O esforço amostral foi de aproximadamente 6 horas por ninho, durante os quais foram registrados os intervalos entre retornos e saídas do macho e/ou fêmea do ninho, assim como o número de retornos associados à alimentação dos filhotes. Para comparação, entre as espécies, do tempo de permanência no ninho foi realizada uma análise de variância, com alfa igual a 0,05. Resultados Foram observadas três espécies de aves de sub-bosque em período de nidificação. Ramphodon naevius, apresentava ninho com dois filhotes, cada um com um dia de vida; Chiroxiphia caudata, também com dois filhotes e oito dias de vida e Euphonia pectoralis, com quatro filhotes e sete dias de vida. A primeira de hábito alimentar insetívoro e nectívoro e as outras duas frugívoras. De acordo com as observações de campo, as atividades de cuidado parental exercidas no ninho foram: alimentação dos filhotes, incubação e limpeza do local através da retirada das fezes. O número de vezes que os filhotes foram alimentados durante o período de observação diferiu muito entre R. naevius e C. caudata. Durante 398 minutos de observação do comportamento de R. naevius no ninho, foi registrado que alimentou 8 vezes seus filhotes e C. caudata, em 359 minutos de observação, alimentou 16 vezes. O mesmo registro não foi possível para E. pectoralis devido à dificuldade de visualização do comportamento em função do formato do ninho. O número total de visitas ao ninho para cada espécie, independente da atividade realizada, foi de 22 vezes para R. naevius, 17 para C. caudata e 20 para E. pectoralis. 117 A análise de variância indicou que as espécies diferem (r2= 0,49; F2,42= 20,24; P<0,05) quanto ao tempo de permanência no ninho (Fig. 1). Figura 1: Comparação do tempo de permanência no ninho entre as espécies de aves de sub-bosque observadas na Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba, PR. Discussão A diferença observada para permanência dos pais no ninho entre as espécies pode ser explicada pela diferença de idade dos filhotes. Filhotes mais novos tendem a apresentar uma maior área superficial em relação ao volume corpóreo e maior escassez de penas e/ou plumagem. Estes fatores favorecem a perda de calor (Townsend et al. 2006) e aumentam a necessidade de maior período de incubação dos filhotes, conforme observado em Ramphodon naevius. Apesar da pequena diferença de idade entre os filhotes de Chiroxiphia caudata e Euphonia pectoralis, esta permanece por menos tempo no ninho. Fatores que podem estar contribuindo para este comportamento é o fato de que seu ninho era mais fechado e continha quatro filhotes facilitando a retenção do calor no local. A menor taxa alimentar de R. naevius, quando comparada a C. caudata pode estar associada a taxa de crescimento dos filhotes. Algumas espécies se desenvolvem mais rápido, enquanto outras demoram mais tempo para crescerem e serem capazes de deixar o ninho. Em geral os beija-flores, representados neste estudo por R. naevius, permanecem por mais tempo no ninho devido ao lento processo de formação de seu bico (Sick 1997). Além disto, o fato dos filhotes observados serem mais jovens e a espécie apresentar menor porte que C. caudata, pode indicar a necessidade de menor quantidade de alimento. Vale ainda ressaltar que a dieta alimentar difere entre estas espécies e o valor energético dos recursos utilizados por cada uma também pode influenciar na taxa alimentar. 118 A visitação do ninho pelos pais está diretamente relacionada à predação dos filhotes (Skutch 1985). Apesar da freqüência de visitas de E. pectoralis não ser menor do que a de C. caudata, o casal permanece pouco tempo no ninho e conforme observado em campo, os intervalos entre cada aproximação do ninho são grandes e a cada aproximação os pais visitam várias vezes seguidas os filhotes. Esta estratégia pode estar associada a um processo evolutivo, onde a seleção natural favoreceu a fixação deste caráter comportamental que culminaria com o sucesso reprodutivo ou de sobrevivência da prole. Referências Bibliográficas Odum, E. P. 2001. Fundamentos de ecologia. Fundação Calouste Gulbenkian. Lisboa. Ricklefs, R. E. 2001. A economia da natureza. Editora Guahabara Koogan. Rio de Janeiro. Sick, H. 1997. Ornitologia brasileira. Nova Fronteira. Rio de Janeiro. Skutch, A. F. 1985. Clutch size, nesting sucess and predation on nest of Neotropical birds, reviewed. Ornithological Monographs 36:575-594 Townsend, C. R.; Begon, M.; Harper, J. L. 2006. Fundamentos em ecologia. Artmed Editora S. A. São Paulo. 119 CARACTERIZAÇÃO DAS CONDIÇÕES ECOLÓGICAS DO RIO MORATO, UTILIZANDO GRUPOS DE ALIMENTAÇÃO FUNCIONAL DE MACROINVERTEBRADOS Fabio Bertolini Gonçalves Projeto Individual Resumo Grupos de Alimentação Funcional (GAF) em macroinvertebrados lóticos podem ser utilizados de forma eficiente para caracterizar a saúde ambiental do ecossistema. Um protocolo de GAF para determinar as condições ecológicas do ecossistema foi aplicado em um trecho do rio Morato. A relação entre o aporte de matéria orgânica da mata ciliar e a ação de pastadores é grande em todo o trecho e a proporção de matéria orgânica particulada em suspensão é maior no início do trecho e menor ao fim do mesmo. O rio apresenta uma característica heterotrófica nos trechos inicial e final, com os pontos intermediários autotróficos e um substrato basicamente estável em todo o trecho. Palavras-chave: Grupos de Alimentação Funcional, saúde ambiental, macroinvertebrados, riachos litorâneos. Introdução Os macroinvertebrados de ambientes lóticos, aproximadamente maiores que 0,5 mm, (Cummins, 1975) apresentam grande diversidade biológica (maior variabilidade de tolerância) e importante papel na cadeia trófica, inclusive na ciclagem de nutrientes (Resh & Rosenberg, 1984; Reece & Richardson, 1999). Em limnologia, a comunidade de insetos e outros invertebrados pode ser relacionada com as variações nas características ambientais dos rios, permitindo um maior conhecimento dos possíveis fatores que influenciam a estrutura da comunidade lótica e as respostas da biota às alterações ambientais,sejam naturais ou não (Silveira, 2004). A presença e abundância dos vários grupos de alimentação funcional, é um reflexo da disponibilidade dos recursos alimentares necessários e da condição dos parâmetros ambientais relacionados (Cummins, 1996). Por esse motivo, a utilização de grupos de alimentação funcional (GAF) de macroinvertebrados é muito útil como determinantes dos parâmetros ambientais lóticos, uma vez que este grupo é sensível tanto às mudanças biológicas que ocorrem ao longo do rio desde a nascente até a foz (Vannote et al., 1980), quanto às alterações nos padrões, resultantes de impacto humano. Esta abordagem usa a abundância relativa de várias categorias funcionais de macroinvertebrados como indicadores das condições do ambiente (Cummins et al. 2005). 120 De acordo com a natureza do alimento e seu modo de captura, podemos classificar os macroinvertebrados nas seguintes categorias de alimentação funcional: pastadores ou fragmentadores, organismos que se alimentam de Materia Orgânica Particulada Grossa (MOPG), ou seja, folhas em decomposição e tecido de plantas vasculares; coletores-filtradores, que se alimentam de Matéria Orgânica Particulada Fina (MOPF) em suspensão como detritos na coluna d’agua, microbiota e fezes; coletorescatadores, que se alimentam de Matéria Orgânica Particulada Fina (MOPF) depositados no substrato; raspadores, que se alimentam de perifiton, microfauna e microflora e fezes presas ao substrato; e predadores, que se alimentam de tecido animal vivo. As seguintes proporções dos grupos de alimentação funcionais podem ser utilizadas como substitutos dos atributos do ecossistema de rios: o equilíbrio entre autotrofia e heterotrofia (P/R), determinado por animais que se alimentam de algas e plantas vasculares e por animais que se alimentam de folhas originadas da vegetação ripária; a ligação entre a entrada de matéria orgânica particulada grossa da mata ripária com a cadeia alimentar fluvial (CPOM/FPOM); a comparação da dominância relativa de matéria orgânica particulada fina em suspensão com a depositada nos sedimentos (TFPOM/BFPOM) e a estabilidade do substrato (Cummins et al. 2005). Este estudo tem por objetivo caracterizar os atributos ambientais do rio Morato, relacionando esses processos com as alterações antrópicas sofridas pelo ecossistema. Material e métodos Foi aplicado um protocolo de grupos de alimentação funcional (Cummins et al. 2005) ao longo do rio Morato, Reserva Natural Salto Morato (RNSM), município de Guaraqueçaba, Paraná. O primeiro ponto amostral próximo ao salto, apresenta vegetação ciliar formado por floresta secundária, gerando grande sombreamento, água cristalina sem turbidez, largura aproximada de 6 m e profundidade média de 40 cm e substrato formado por rocha e matacão. O segundo ponto apresenta substrato rochoso, vegetação ripária com influência arbustiva (Brachiaria spp. e outras poaceas ), área aberta de largura média 5 m e profundidade média de 20 cm. O terceiro ponto, localizado abaixo da ponte pênsil, apresenta vegetação marginal constituída por Brachiaria spp., fundo rochoso e alta velocidade de correnteza, profundidade média de 19 cm e largura média de 4 m. O quarto ponto, localizado fora da RNSM, apresenta-se muito antropizado, com várias moradias marginais, fundo de cascalho, grande turbidez, vegetação marginal formada por Brachiaria spp., largura e profundidade variada, alternado remansos e corredeiras. Os macroinvertebrados foram amostrados em variados mesohabitas, utilizando-se peneira de abertura de malha de 0,5 mm para a vegetação marginal, amostrador Surber com abertura de malha de 0,5mm e área de contato de 30 x 30 cm para os demais substratos. Rochas foram erguidas e a coleta foi 121 realizada manualmente. A triagem e identificação foram realizadas em bandejas plásticas brancas, em campo. Após cada identificação os macroinvertebrados foram prontamente devolvidos ao riacho. Os morfotipos foram enquadrados em grupos funcionais. A razão entre grupos de alimentação funcional (GAF) foi calculada para estimar a saúde ambiental de cada ponto de acordo com Cummins et al.(2005) (Tab. 1). Tabela 1. Resumo do protocolo GAF para avaliação dos atributos ecológicos de riachos. Modificado de Cummins et al. (2005). Atributos do ecossistema Símbolos Cálculo Critério para classificação Equilíbrio entre autotrofia e P/R heterotrofia Raspadores / Autótrofo > 0,75 pastadores + total de coletores Ligação entre a entrada de CPOM/FPOM MOPG da mata ripária com a Pastadores / total de Associação normal de coletores pastadores com o aporte da cadeia alimentar Comparação da dominância vegetação ripária > 0,25 TFPOM/BFPOM Coletores filtradores / relativa de MOPF em coletores catadores MOPF em suspensão maior que a taxa de MOPF suspensão com a depositada depositada no substrato > nos sedimentos 0,50 Estabilidade do substrato Estabilidade Raspadores + coletores Estabilidade plena do filtradores / pastadores substrato > 0,50 + coletores catadores Resultados De acordo com o valor adotado como limite para P/R, existe uma progressão dos pontos à jusante de heterotrofia para autotrofia, sendo que esta escala aumenta no terceiro ponto e retorna a altos níveis de heterotrofia no último ponto (Fig 1a). Os indicadores para CPOM/FPOM apresentam uma constância de 122 FIGURA 1. Parâmetro de P/R (a), CPOM/FPOM (b), TFPOM/BFPOM (c) e ESTABILIDADE (d) para os quatro pontos amostrais. 1 = ponto a jusante do salto; 2= ponto próximo ao “aquário”; 3=ponto abaixo da ponte prênsil; 4= ponto fora da Reserva. Em cada figura as linhas horizontais representam os limites para os critérios de classificação, conforme Tabela 1. grande ligação de pastadores com a MOPG proveniente da mata ripária em todos os pontos (Fig 1b). TFPOM/BFPOM apresenta MOPF em suspensão nos pontos mais próximos ao salto e MOPF depositada nos pontos mais distantes do salto (Fig 1c) . O substrato apresenta-se praticamente estável em todos os pontos amostrados (Fig 1d). Discussão O rio Morato ao nível do salto foi considerado como o início do rio, uma vez que os processos e a paisagem neste trecho é correspondente a um riacho de cabeceira . Os parâmetros CPOM/FPOM e TFPOM/BFPOM demonstram uma dinâmica esperada para rios litorâneos (Vannote et al., 1980), os trechos iniciais apresentam maior quantidade de matéria orgânica fina em suspensão que os trechos finais 123 e os processos de transformação da matéria vegetal alóctone não parecem ser alteradas pelo tipo de mata ripária. O resultado do escore para P/R, mostra um cenário heterotrófico para o primeiro ponto. Com uma grande quantidade de mata ciliar neste ponto, e apresentando uma região muito sombreada, aspecto típico de rios de cabeceira, a produção primária é pequena e/ou nula. Nesse processo portanto a maior quantidade de energia provem do aporte de folhas do dossel da mata ciliar, promovendo uma maior quantidade de organismos pastadores. O segundo ponto, segue a tendência esperada, com uma maior abertura do dossel e uma progressão espacial do riacho resultando em um aumento da produção primária e da autotrofia. Na região sob influência de Brachiaria spp., próxima ao centro de visitantes, não há dossel, tendo portanto um grande aporte de luz. Este ponto, demonstrado como “muito autotrófico” mostra uma predominância de algas fotossintéticas favorecendo grupos de raspadores. O último ponto, fora da RNSM, com uma grande influência antrópica, pode ser classificado como “muito heterotrófico” (Cummins et al. 2005). O assoreamento e o aumento da turbidez devem diminuir a produção primária favorecendo um retorno da dominância de pastadores. A estabilidade do substrato é ranqueada como adequada no primeiro ponto, muito estável nos pontos seguintes e fora da reserva é classificado como inadequado. No entanto o escore limite que determina a qualidade do substrato é na faixa de 0,50 e o escore para o primeiro e último ponto é respectivamente 0,72 e 0,21 o que sugere uma semelhança de condições entre esses dois pontos. As condições do substrato nesses pontos amostrados podem, com pouca alteração serem revertidas. No entanto, o primeiro ponto apresenta uma adequação de substrato onde esta estabilidade apresenta-se muito próxima ao limiar de instabilidade devido provavelmente a influência do salto enquanto o último ponto apresenta uma ação antrópica direta que define as suas características. O rio Morato apresenta um comportamento esperado para os trechos com mata ciliar bem estruturada e arbórea. O trecho sob influência de Brachiaria spp. dentro da reserva apresenta uma boa composição, com exceção do parâmetro P/R. Isso indica que as dinâmicas de obtenção e transformação de matéria orgânica alóctone não estão sedo alteradas pela Brachiaria spp. No entanto, o ponto fora da reserva, tem sua estrutura muito comprometida provavelmente mais pela ação humana que pela de Brachiaria spp. Isso mostra que embora tenhamos vegetação marginal invasora no trecho final do rio Morato dentro da reserva, processos de restauração estão em curso. O fator humano é preponderante na capacidade de recuperação do riacho. Referências Bibliográficas Cummins, K. W. 1975. Macroinvertebrates.. p.170-198. In: Whitton, B. A. (Ed.). River ecology. New York: Blackwell Scientific Publications. 124 Cummins, K. W. 1996. Invertebrates. p.75-91. In: Petts, G. ; Callow, P. (Ed.). River biota - Diversity and dynamics. London: Blackwell, Cummins, K.W.; Merritt, R.W.; Andrade, P.C.N. 2005. The use of invertebrate functional groups to characterize ecosystem attributes in selected streams and rivers in south Brazil. Studies on Neotropical Fauna and Environment. 40(1): 69-89,. Karr, J.R. 1981. Assessment of Biotic Integrity Using Fish Communities. Fisheries. 6 (6): 21-27. Reece, P. F. & Richardson, J. S. 1999. Biomonitoring with the Reference Condition Approach for the detection of aquatic ecossystems at risk. Pp. 15-19. In: Darling, L.M. (editor) Proc. Biology and Management of Species and Habitats At Risk, Kamloops, B.C., Resh, V. H. & Rosenberg, D. M. 1984. The Ecology of Aquatic Insects. New York: Praeger Publisshers. Silveira, M.P. 2004. Aplicação do Biomonitoramento para Avaliação da Qualidade da Água em Rios, Embrapa , Jaguariúna, SP. Williams, D. D.; Feltmate, B. W. 1994. Aquatic insects. Wallingford: CAB International. Vannote, R.L., Minshall, G.W. & Cummins, K.W. 1980. The river continuum concept. Can. J. Fish. Aquat. Sci. 37: 130-137. 125 EFICIÊNCIA DA CAPTURA DE PRESAS POR ARANHAS TECEDORAS DA MATA ATLÂNTICA Ana Luiza Gandara Martins Projeto Individual Resumo A estratégia “senta e espera” usada por aranhas busca maior eficiência de captura e taxa de energia líquida. O hábitat e disponibilidade de presas influenciam diretamente nas diferentes adaptações. Avaliouse a eficiência de teias a partir da taxa de captura e classes de presas em relação às características de 50 teias em uma floresta em regeneração. A taxa de captura por tempo é independente das características das teias, por outro lado a forma e disposição destas têm relação com classe de presas. Palavras-chave: Araneidae, forrageio ótimo, ajustamento, características do hábitat, estratégias Introdução Um predador pode ser definido como qualquer organismo que consome todo ou parte de outro organismo vivo. Dentre estes, os predadores verdadeiros matam invariavelmente suas presas e o fazem mais ou menos imediatamente após atacá-las (Townsend et al, 2006). Alguns predadores, como as aranhas tecedoras, utilizam de estratégias diferentes do forrageio ativo, elas “sentam e esperam” presas ativas se deslocarem em sua direção. Esta forma de forrageio busca uma maior taxa de energia líquida como medida de eficiência (Townsend et al, 2006; Begon et al, 2006). O comportamento exibido atualmente pode ter sido favorecido por seleção natural no passado, mas também acrescenta o ajustamento do organismo as atuais condições (Begon et al, 2006). A qualidade do local de forrageio das aranhas tecedoras pode ter efeitos expressivos na sobrevivência, crescimento e sucesso reprodutivo (Herberstein, 1997). Esta pode ser determinada pelas características do hábitat do local da teia, o que influi no encontro e captura da presa (McReynolds, 2000). Consequentemente, pode-se esperar que estas sejam mais freqüentemente encontradas em áreas com maior abundância de presas (Herberstein, 1997). A seleção do local da teia pode ser influenciada, principalmente, por presença de presas abundantes e/ou específicas, características físicas dos locais de construção da teia, estresse termal e proximidade de flores (McReynolds, 2000). Diferenças no uso do hábitat podem mudar a disponibilidade de presas e/ou características da teia (McReynolds, 2000). Com relação a eficiência da teia, três fatores podem determinar a captura de presas: a probabilidade da presa encontrar a teia, a absorção da energia cinética da presa pela teia e sua retenção. Algumas espécies tecem teias que variam na orientação relativa ao grau de planos vertical versus horizontal, sendo que o ângulo pode afetar a razão de captura de presa. No entanto não há consenso quanto à eficiência desta orientação (Bishop & Connolly, 1992). 126 Teias horizontais não retêm presas tão bem quanto as verticais, pois a textura dos fios é menos pegajosa e quando a presa se solta ela não fica presa nos fios de baixo como nas verticais. Teias horizontais ocorrem em florestas e ao redor de microhabitats, talvez devido ao padrão de vôo de insetos serem diferentes de acordo com a estrutura do habitat. Estas teias podem capturar presas que caem, o que pode acontecer com maior freqüência em florestas do que em campos abertos (Bishop & Connolly, 1992). Estas diferentes condições e situações para as quais as aranhas tecedoras precisam se adaptar resultam em variações na forma da teia, orientação, altura do solo, área da teia, preferência por habitat e locais de fixação, buscando uma maior eficiência na captura de presas e aumento da taxa de energia líquida necessárias para sua sobrevivência, crescimento e reprodução. Este trabalho buscou avaliar se a variação nestas características das teias altera a eficiência de captura de presas, e se selecionam diferentes presas em uma região de Mata Atlântica em regeneração. Material e Métodos Este trabalho foi desenvolvido na floresta de entorno de duas trilhas, Salto e Figueira, em estádio de regeneração avançada, da Reserva Natural de Salto Morato (RNSM), uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) pertencente à Fundação O Boticário de Proteção à Natureza (FBPN). A RNSM pertence ao município de Guaraqueçaba, litoral norte do estado do Paraná, região sul do Brasil. Esta região está contida em uma das poucas porções contínuas de Mata Atlântica do Brasil, situada entre os estados do Paraná e São Paulo. Em cada trilha, 25 teias foram escolhidas e marcadas com fita colorida de forma a amostrar os diferentes tipos de teia proporcionalmente, totalizando 50 teias. Em cada teia, a(s) aranha(s) e presa(s) foram medidas, contadas e classificadas em morfoespécie e classe, respectivamente. Quanto aos dados da teia, a forma (circular/irregular), ângulo (vertical/horizontal), área e altura do solo foram medidos e o substrato de fixação classificado. Posteriormente, duas vistorias na trilha do Salto e uma na trilha da Figueira (problemas com condição climática) foram realizadas para quantificar e classificar novas presas retidas nas teias, os intervalos de vistoria refletiram um período noturno para ambas áreas e um diurno para o Salto. Esta captura por tempo permitiu o cálculo da taxa de captura de presas por teia por tempo. Para testar se a taxa de captura varia conforme a forma, ângulo e substrato da teia utilizou-se a Análise de Variância (ANOVA) e para testar se esta varia com a altura e área da teia utilizou-se o teste de correlação de Spearman. Quanto a seleção de classes de presas por forma, ângulo e substrato aplicou-se o teste de independência de Pearson. As características das teias foram correlacionadas entre si por ANOVA e regressão conforme os tipos de dados. Para todos os testes, alfa de 0,05 foi utilizado (Fowler & Cohen, 1990). 127 Resultados No total 50 teias foram analizadas, destas, 24 eram teias irregulares e horizontais e 26 circulares, sendo oito horizontais e as restantes verticais. Durante a realização das vistorias 12 teias sumiram, não participando do cálculo da taxa de captura. As teias puderam ser diferenciadas em dois tipos principais: 1) teias circulares, verticais normalmente fixadas em arbustos, com distância do solo média (+ DP) de 86,32 cm (+ 37,08) e área média de 477,01 cm2 (+ 498,57); e 2) teias irregulares, normalmente horizontais e presas a árvores, com distância média do solo de 40,58 cm (+ 36,97) e área média de 1142,27 cm2 (+ 800,99). A taxa de captura de presas independe da forma, ângulo e área da teia, assim como da altura do solo e substrato de fixação. A eficiência de captura por diferentes classes de presas é independente do tipo de substrato, no entanto, está correlacionada com a forma (G=4,79; GL=164; P<0,05) e o ângulo das teias (G=6,07; GL=164; P<0,05), sendo que as teias circulares e verticais tendem a capturarem mais dípteros e teias irregulares e horizontais coleópteros (Fig. 1 A e B). 0,6 A Coleoptera 0,5 0,4 B Coleoptera 0,4 0,3 0,2 0,2 0,0 Diptera 0,1 c1 c1 irregular 0,0 horizontal Diptera -0,1 -0,2 -0,2 redonda -0,3 vertical -0,4 -0,4 -0,5 -0,5 -0,4 -0,3 -0,2 -0,1 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 c2 -0,6 -0,6 -0,5 -0,4 -0,3 -0,2 -0,1 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 c2 Figura 1. Análises de correspondência obtidas dos testes de independência aplicados para verificar a correlação entre classes de presas capturadas em relação a: A) Formas das teias, onde as teias irregulares tendem a capturar mais Coleoptera e as redondas capturam mais Diptera e; B) Ângulo das teias, onde teias horizontais tendem a capturar mais Coleoptera e teias verticais mais Dipteras. Discussão A eficiência na captura de presas por aranhas tecedoras não variou conforme os diferentes tipos de teia, o que se deve provavelmente a história evolutiva e ajustamento destas espécies em aperfeiçoar a captura em ambientes distintos e conforme suas necessidades energéticas. O fato de estas capturarem 128 diferentes classes de presas mostra que estão utilizando diferentes estratégias e ocupando diferentes nichos dentro de um mesmo ecossistema. A maior parte das aranhas que tecem teias circulares verticais e distantes do solo tende a capturar presas aladas que utilizam locais mais abertos para voar, enquanto que as que tecem teias maiores, irregulares e mais próximas ao chão tendem a capturar pequenos besouros que caem das árvores nas quais as teias foram construídas. Apesar de a maioria das aranhas possuírem hábitos solitários, podendo viver agregadas no início da vida ou durante o casamento, algumas espécies têm comportamentos sociais (Tietjen, 1986). As teias irregulares apresentaram em alguns casos mais de um indivíduo, o que pode explicar o maior tamanho das teias, provavelmente em função de um comportamento social. O desaparecimento de algumas teias pode ser explicado pela “Tenacidade do local da teia”, que segundo Enders (1976), é a probabilidade diária de uma aranha permanecer em um mesmo local. Essa diminuição do n amostral necessário para o cálculo da taxa de captura associado a perda de um período de vistoria na trilha da Figueira, pode ter interferido nos resultados, no entanto, como colocado por Bishop & Connolly (1992), não existe consenso quanto à eficiência de captura de teias verticais e horizontais e nenhuma outra literatura foi encontrada relacionando os fatores aqui estudados com a eficiência da captura de presas. Referências Bibliográficas Begon, M., Townsend, C. R. & Harper, J. L., 2006. Ecology: From Individuals to Ecosystems. 4th Ed. Blackwell Publishing, Oxford. Bishop, L. & Connolly, S. R., 1992. Web orientation, thermoregulation, and prey capture efficiency in a tropical forest spider. The Journal of Arachnology 20: 173 – 178. Enders, F. 1976. Effects of prey capture, web destruction and habitat physiognomy on web-site tenacity of Argiope spiders (Araneidae). The Journal of Arachnology 3: 75-82. Fowler, J. F. & Cohen, L. 1990. Practical Statistics for Field Biology. Open University Press, Philadelphia. Herberstein, M. E. 1997. The effect of habitat structure on web height preference in three sympatric webbuilding spiders (Araneae, Linyphiidae). The Journal of Arachnology 25: 93 – 96. McReynolds, C. N. 2000. The impact of habitat features on web features and prey capture of Argiope aurantia (Araneae, Araneidae). The Journal of Arachnology 28: 169 – 179. Tietjen, W. J. 1986. Effects of colony size on web structure and behavior of the social spider Mallos gregalis (Araneae, Dictynidae). The Journal of Arachnology 14:145-157. Townsend, C.; Begon, M. & Harper J. L. 2006. Fundamentos em Ecologia. 5ª Ed. Artmed Ed., Porto Alegre. 129 A VOCALIZAÇÃO É DETERMINANTE NA PREDAÇÃO DE ANUROS? Michel Varajão Garey Projeto Individual Resumo A vocalização de anuros na atração dos predadores foi testada experimentalmente na Reserva Natural Salto Morato, utilizando a técnica do playback com cinco espécies de anuros da Mata Atlântica. Foram obtidos 62 registros de predadores, sendo 53 vocalizações de morcegos, uma de coruja e sete investidas de morcegos contra o playback. A maior freqüência de ataques foi contra Scinax crospedopilus. Não foi observada nenhuma relação entre a espécie que estava vocalizando, a presença dos predadores e a precipitação. Palavras-chave: predação, vocalização, anfíbios, anuros, morcegos Introdução Consumidores afetam a distribuição e a abundância das presas e vice-versa, e esses efeitos têm uma grande importância na ecologia de populações (Begon et al., 2006). Os predadores “verdadeiros” matam inevitavelmente suas presas e o fazem mais ou menos imediatamente após atacá-las. Eles consomem diversos itens de presas no curso de suas vidas. A maioria deles movem-se dentro do seu próprio território a procura de alimentos (Townsend et al., 2006). Algumas presas, como os anfíbios, desenvolveram defesas químicas contra predadores (Duellmann & Trueb, 1994). A maioria dos girinos são filtradores ou raspadores, alimentando-se de algas e partículas suspensas na água ou depositadas no fundo. Já os adultos se alimentam principalmente de insetos e outros pequenos invertebrados, sendo considerados como predadores oportunistas (Eterovick & Sazima, 2004). Porém, tanto os girinos como os adultos fazem parte da dieta de diversos animais como: baratas da água, serpentes, aranhas, cuícas, corujas e morcegos (Eterovick & Sazima, 2004). A vocalização dos anfíbios é utilizada para o acasalamento e/ ou isolamento reprodutivo (Haddad & Cardoso, 1992), territorialidade e na defesa de recursos (Bastos & Haddad, 2002), porém os predadores podem guiar-se pela vocalização para encontrar suas presas (Lutz, 1924 apud Tuttle et al., 1981). O presente estudo teve como objetivo verificar a relação entre a vocalização dos anuros através da técnica de playback e a predação dos mesmos por animais orientados auditivamente. Material e Métodos O trabalho foi desenvolvido numa área em inicio de regeneração natural, com presença de Brachiaria sp. e com baixa densidade de vegetação arbórea, na Reserva Natural do Salto Morato, PR (Coordenadas UTM 772161 S; 7212393 W, Datum horizontal SAD69). Quatro pontos amostrais na 130 estrada para o centro de visitantes da Reserva (ponto 1, 2 , 3 e 4), foram escolhidas e por duas noites (26 e 27 de outubro 2006) foi desenvolvido o experimento, distando entre eles aproximadamente 150 metros. Para atrair os predadores foi utilizada a técnica do playback. Gravações das vocalizações de cinco espécies da Mata Atlântica foram utilizadas, cada uma com cinco minutos e intervalo entre elas de dez minutos. Das cinco espécies escolhidas três ocorrem na Reserva (Chaunus ictericus; Dendropsophus minutus; Physalaemus spinigerus) e duas não (Leptodactylus fuscus; Scinax crospedopilus), afim de verificar uma possível diferenciação pelos predadores com relação às espécies de anuros. Durante a vocalização das espécies eram contados o número de morcegos vocalizando e o número de investidas contra o playback. Após o término da seqüência de reprodução do canto dos anuros, partiase para outro sítio para reprodução do playback. As espécies de anuros foram divididas em três classes de tamanho para verificar se o tamanho da presa influencia na taxa de predação: grande (C. ictericus) médio (D. minutus e L. fuscus) pequeno (P. spinigerus, D. minutus e P. spinigerus). E também foram dividas em três classes de acordo com o substrato normalmente utilizado para a vocalização (observações pessoais), no solo e desabrigado (C. ictericus e L. fuscus), solo escondido na vegetação (P. spinigerus), na vegetação entre 20 e 60 centímetros, para verificar uma possível seleção das presas com relação ao substrato que elas utilizam para vocalizar. Para verificar se havia alguma variação na taxa de registro dos predadores com relação às espécies que estavam vocalizando e da taxa de ataque por dia de amostragem (com e sem chuva) foram feitas análises de contigência (Zar, 1999).Na comparação da média de ataques em relação à ocorrência da espécie foi utilizado o teste t (Zar, 1999). Resultados Foram obtidos 62 registros, sendo que 53 (85,48%) foram vocalizações de morcegos, uma única de coruja (1,61%) e sete (12,91%) investidas de morcegos contra o playback. A maior freqüência de predadores foi observada no ponto 1 e a menor no ponto 2; a espécie de anfíbio que mais atraiu os predadores pela vocalização foi Scinax crospedospilus e a que atraiu menos foi Leptodactylus fuscus (Fig. 1). A relação do registro do predador no local, com as espécies em vocalização não foi verificada (G=1,38; GL=4; P>0,05). Não houve diferença na média de registros do predador de acordo com a ocorrência ou não da presa na área de estudo (t0,05;38=0,17; P>0,05). Também não registrada uma alteração na taxa de predação entre o dia com ou sem chuva (G=2,18; GL=1; P>0,05). 131 Ponto 1 Ponto 2 14 Frequência 12 Ponto 3 Ponto 4 10 8 6 4 2 0 C. abei D. minutus P. spinigerus S. crospedospilus L. fuscus Figura 1. Freqüência dos registros da presença de predadores (morcegos e coruja) por espécie de anfíbio em cada ponto amostrado na Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba, PR. Discussão Os morcegos foram os principais predadores atraídos pelo canto dos anuros. Como as cinco espécies de anuros utilizadas no experimento vocalizam em freqüências diferentes (observações pessoais) podemos observar que os morcegos não apresentam preferência pelas presas amostradas, até mesmo Chaunus ictericus que é uma espécie com muitas glândulas de veneno espalhadas pelo corpo (Eterovick & Sazima, 2005) atraiu igualmente os morcegos. O canto dos anuros que tem como objetivos principais atrair a fêmea para o acasalamento e de demarcar o território (Duellmann & Trueb, 1994) acaba por atrair os predadores (Turttle et al., 1981), que guiados pelo som acabam por localizar as suas presas. A predação por morcegos independe da espécie de anuros, pois as duas vocalizações de anuros que não ocorrem na Reserva Natural Salto Morato utilizadas no experimento, atraíram da mesma forma os predadores. Isto evidencia que não existe um efeito de memória no predador quanto ao canto dos anuros, sendo que a espécie que mais atraiu os predadores e a que menos atraiu não ocorrem na Reserva. Como não houve diferença entre as espécies de anuros vocalizando e a presença dos predadores, foi verificado que o local escolhido pelos anuros para vocalizar e o seu tamanho corporal não influenciam na escolha das presas pelos morcegos. A freqüência de registros dos morcegos atraídos pelo playback foi indiferente à variação climática observada entre os dois dias amostrados. Isso deve-se possivelmente ao fato dos morcegos serem animais endotérmicos e que por isso necessitam de alimentos com freqüência para manutenção da temperatura corpórea (Pough et al., 1996). Para isso, chegam a percorrer quilômetros para forragear, emitindo e percebendo sons de alta freqüência (ecolocalização), constituindo um mecanismo importante para a localização de suas presas (Peracchi et al., 2006). 132 As corujas não foram atraídas pela vocalização dos anuros provavelmente pela abrangência do seu território e a utilização da visão em associação com a audição para a localização das presas (Sick, 1985). Por isso a única coruja registrada pode ter sido ao acaso. A predação pode levar a alterações na dinâmica populacional dos anfíbios, pois ela controla o tamanho populacional (Begon et al., 2006). Para melhor entender essa relação entre os anuros, morcegos e corujas é necessário estudos mais aprofundados envolvendo a captura e identificação dos predadores. Os dados obtidos são limitados devido a ausência de um controle na experimentação. Referências bibliográficas Bastos, R. P. & Haddad, C. F. B. 2002. Acoustic and aggressive interactions in Scinax rizibilis (Anura, Hylidae) during the reproductive activity in southeastern Brazil. Amphibia-Reptilia 23: 97-104. Begon, M.; Townsend, C. R. & Harper, J. L. 2006. Ecology from individuals to ecosystems. Blackwell Publishing, Oxford. Duellman, W. E. & Trueb, L. 1994. Biology of amphibians. The Johns Hopkins University Press, Baltimore. Eterovick, P. & Sazima, I. 2004. Anfíbios da Serra do Cipó: Minas Gerais – Brasil. Ed. PUC Minas. Belo Horizonte. Haddad, C. F. B. & Cardoso, A. J. 1992. Elección del macho por la hambra de Hyla minuta (Amphibia; Anura). Acta Zoologica Lilloana, 41: 81-91. Peracchi, A. L.; Lima, I. P.; Reis, N. R.; Nogueira, M. R. & Ortêncio-Filho, H. 2006. Ordem Chiroptera. In: Reis, N. R.; Peracchi, A. L.; Pedro, W. A. & Lima, I. P. (eds.) Mamíferos do Brasil. Londrina. Pough, F. H.; Heiser, J. B. & McFarland, W. N. 1996 A vida dos vertebrados. Ed. Atheneu, São Paulo. Sick, H. 1985. Ornitologia Brasileira, uma introdução. Editora Universidade de Brasília, Brasília. Townsend, C. R.; Begon, M. & Harper, J. L. 2006. Fundamentos em ecologia. Artmed, Porto Alegre. Tuttle, M. D.; Taft, K. L. & Ryan, M. J. 1981. Acoustical location of calling frogs by Philander opossum. Biotropica 13(3): 233-234. Zar, J. H. 1999. Biostatistical analysis. Prentice-Hall, New Jersey. 133 EFEITO DE BORDA SOBRE A PREDAÇÃO DE LARVAS ARTIFICIAIS Paloma Kachel Gusso Projeto Individual Resumo A fragmentação florestal é uma forma indireta de impacto antrópico nos ecossistemas. Um ambiente fragmentado sofre grandes alterações devido ao aumento da sua área de borda. Dentre os efeitos biológicos gerados pela borda está a alteração nas interações das comunidades locais. Neste estudo foi investigado o efeito de borda sobre a predação de larvas artificiais em um fragmento florestal e constatouse que a sobrevivência média das larvas é menor na borda do que no interior do fragmento. Palavras-chave: fragmentação florestal; efeito de borda; efeitos antrópicos, predação Introdução A Mata Atlântica, um bioma quase que exclusivamente brasileiro, é um dos mais ameaçados pela ação antrópica em todo o mundo (Câmara, 1991). A ação destrutiva deste bioma teve início no descobrimento do país, e vem sendo intensificada devido a quantidade e qualidade de recursos naturais potencialmente exploráveis ainda presentes. O estado do Paraná, apesar disso, uma das porções mais preservadas do bioma Mata Atlântica em todo país. A utilização de ambientes tropicais por parte do homem traz conseqüências para a biodiversidade em diferentes níveis, de pontuais a regionais (Turner, 1996). A redução da biodiversidade provocada por atividades humanas pode ser consequência de ações diretas, como a caça, coleta e desflorestamento, ou indiretas, como o aquecimento global, poluição do ar, água, etc. Dentre as formas indiretas, a fragmentação florestal é uma das grandes ameaças à manutenção da diversidade biológica (Fernandez, 2000). A fragmentação do habitat é o processo pelo qual uma área grande e contínua é reduzida e dividida em dois ou mais fragmentos (Shafer, 1990 apud Primack & Rodrigues, 2001). A explosiva expansão populacional e econômica da humanidade, principalmente após a revolução industrial (século XIX) transformou o que antes eram grandes áreas contínuas de floresta em paisagens em mosaico, formadas por manchas remanescentes das florestas originais, cercadas por áreas alteradas pelo homem de várias formas: plantações, pastagens, assentamentos urbanos (Fernandez, 2000). Os fragmentos de habitat diferem do habitat original de dois modos importantes: (1) os fragmentos tem menor porção de área por habitat, (2) o centro de cada fragmento de habitat está mais próximo desta borda (Primack & Rodrigues, 2001). Os efeitos de borda são divididos em dois tipos: abióticos (ou físicos) e os biológicos (diretos e indiretos). Os efeitos abióticos envolvem mudanças em fatores climáticos ambientais, como a umidade, a radiação solar e o vento. Os efeitos biológicos diretos envolvem mudanças na abundância e na distribuição de espécies provocados pelos fatores abióticos nas 134 proximidades das bordas, como por exemplo, o aumento da densidade de plantas devido ao aumento da radiação solar. Os indiretos envolvem mudanças na interação entre as espécies, como predação, parasitismo, herbivoria, competição, dispersão de sementes e polinização (Melo& Marini 1997). Nexte contexto, o presente trabalho investigou a interferência do efeito de borda sobre a predação de larvas em um fragmento de Mata Atlântica na Reserva do Patrimônio Natural do Salto Morato. Através do uso de modelos artificiais de larvas foi postulado que o aumento da predação está relacionado com o efeito de borda. Material e Métodos Para se estimar o efeito de borda sobre a predação das larvas artificiais, escolheu-se uma área, que demonstra efeitos de borda bem pronunciados. O fragmento estudado está localizado atrás do centro de pesquisa e possui a vegetação denominada “capoeirão” A avaliação foi feita em dois locais: um junto a borda e outro no interior da floresta. Em cada estrato foram definidos 25 pontos equidistantes (5 m) e pareados para colocação dos modelos. Os modelos de larva foram confeccionados com massa de modelar atóxica. Este materal não possui odor ou sabor atrativos, exigindo desta forma a padronização do tamanho das larvas-modelo para evitar preferência por parte dos predadores, e cor verde para simular a estratégia mímica destes organismos, evitando-se colorações aposemáticas (Fig. 1). Um total de 180 larvas foram dispostas no ambiente, sendo que cada ponto continha uma tréplica de larvas . Figura 1. Modelo de presa utilizado Após 24 horas de permanência das larvas no ambiente estas foram verificadas quanto a presença de marcas de bicos ou patas que caracterizavam a ocorrência de predação. Caso a predação ocorresse, as larvas do ponto predado eram repostas e substituídas para outro ponto para evitar a ocorrência do evento pelo mesmo animal. Ao final de 48 horas as larvas foram conferidas e retiradas. Para o tratamento dos dados foram comparadas as médias de horas de sobrevivência entre os dois tratamentos, através da análise de sobrevivência. 135 Resultados Ao final do experimento foi verificada predação em 16 larvas no interior e 22 na borda do fragmento. As marcas nas larvas indicavam que estas haviam sido predadas por aves e mamíferos. A sobrevivência média foi maior no interior que na borda do fragmento (Fig. 1). Fig. 1. Média de horas de sobrevivência das larvas nos dois tratamentos em fragmento de Mata Atlântica na Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba, Pr. Discussão A taxa de predação na borda foi maior que no interior da floresta, sugerindo que este incremento na predação é devido aos predadores que habitam as proximidades do habitat e selecionam a borda para forragear (Melo & Marini, 1997). Além disso, o aumento da taxa de predação em fragmentos é atribuído aos seguintes fenômenos: 1) a divisão e redução da mata é usualmente acompanhada por uma substancial mudança na fauna de predadores aumentando a abundância dos generalistas, e 2) a redução na área produz um aumento proporcional nas áreas de ecótono favorecendo as estratégias de forrageamento e aumentando a predação por determinados predadores (Marini, et al. 1995). Outro ponto a se considerar é que existem inúmeras variáveis que podem afetar as taxas de predação e podem explicar uma maior ocorrência de indivíduos predados na borda, dentre elas estão as características da presa, os estímulos detectados pelo predador. Ou seja no caso dos indivíduos que utilizam estímulo visual este é intensificado em um ambiente mais aberto, em relação aos que são guiados pelo olfato para forragear, como pequenos mamíferos, acredita-se que são indivíduos de hábitos noturnos portanto mais exploratórios e o fator borda apenas facilitaria a chegada até a presa. 136 Os resultados demonstram que o efeito de borda altera as relações dos indivíduos na comunidade, desta forma é importante ressaltar que, mesmo o turismo e as atividades controladas geram ao ambiente um certo nível de impacto, que, mesmo pequeno, não deve ser desconsiderado. A identificação e avaliação dos impactos de visitantes em uma Unidade de Conservação fornece valiosa ferramenta que pode levar à melhoria de suas condições de manejo e cumprimento dos seus objetivos. Desta maneira, conhecer o efeito de borda relacionado às áreas de contato com o público, em especial as trilhas da Reserva Natural Salto Morato, representa um ponto primordial para o desenvolvimento de uma estratégia de manejo bem sucedido nesta área. Referências Bibliográficas Câmara, I. de G. 1991. Plano de ação para a Mata Atlântica. Fundação SOS Mata Atlântica, São Paulo. Fernandez, F. A. S. 2000. O poema imperfeito: crônicas de Biologia, conservação da natureza, e seus heróis. Editora da Universidade Federal do Paraná, Curitiba.. Marini, M. A., Robinson, S. K., & E. J. Heske. 1995. Edge effects on nest predation in the Shawnee National Forest, Southern Illinois. Biological Conservation 74: 203-213. Melo, C.; Marini, M. A. (1997) Predação de ninhos artificiais em fragmentos de matas do Brasil central. Ornitologia Brasileira 8: 7-14. Primack, R. B.; Rodrigues, E. 2001. Biologia da Conservação. Livraria Conceito, Londrina. agricultura do Maranhão, Brasil. Turner, I. M. 1996. Species loss in fragments of tropical rain forest: a review of the evidence. Journal of Applied Ecology 33: 200-209 137 AVALIAÇÃO DE COMUNIDADES DE FORMIGAS DA MATA ATLÂNTICA EM UM GRADIENTE DE ALTERAÇÃO ANTRÓPICA Manuela Dreyer da Silva Projeto Individual Resumo Perturbações antrópicas impostas aos sistemas naturais podem levar à diferenciação de ambientes e diminuição da heterogeneidade ambiental. Considerando que riqueza e abundância de invertebrados têm sido relacionadas com heterogeneidade ambiental, a pesquisa avaliou um gradiente de antropização na composição de formigas. Foram amostrados cinco gradientes com diferentes graus de perturbação antrópica e estádios sucessionais, sendo observada diferença na composição de espécies nesses locais. No entanto, não foi verificada diferença no número de espécies e abundância de formigas entre os gradientes. Palavras-chave: antropização; mimercofauna; riqueza, abundância; índice de Sorensen. Introdução Perturbações antrópicas que são impostas aos sistemas naturais podem levar à diferenciação de ambientes com conseqüente diminuição da heterogeneidade ambiental, o que leva à desestruturação de comunidades faunísticas (Begon et al., 2006). A indicação de níveis de perturbação ou mudança de um sistema tem sido o papel principal dos invertebrados na avaliação da conservação biológica (Andersen, 1997). Essa indicação pode se dar pelo declínio da diversidade de espécies e abundância, além da mudança na composição faunística a partir de um estado não perturbado (Rocha et al., 2006). Estudos têm demonstrado que a riqueza de espécies de invertebrados está relacionada à complexidade estrutural do habitat, sendo esperado que em ambientes mais heterogêneos ocorra um maior número de espécies e uma maior abundância (Andersen, 1997). Ambientes mais heterogêneos podem suportar um maior número de espécies porque podem fornecer uma maior variedade de microhabitats, microclimas, entre outros recursos (Begon et al., 2006). Além disso, a distribuição de alguns grupos de insetos, como as formigas, e a composição dessas comunidades são influenciadas pela heterogeneidade de ambientes (Wilson, 2000). As formigas são insetos sociais pertencentes à família Formicidae (Hymenoptera). Estima-se que somam mais de 10% da biomassa total de animais de florestas tropicais e, devido a essa marcante dominância numérica, ocupam um papel ecológico chave nos ecossistemas (Hölldobler & Wilson, 1990). Os estudos de conservação, no entanto, têm enfatizado principalmente o papel dos vertebrados na dinâmica das comunidades. Apesar disso, a fauna de invertebrados tem sido ressaltada como de fundamental importância para os processos que estruturam ecossistemas terrestres, principalmente nos 138 trópicos (Hölldobler & Wilson, 1990). Em sua especificidade, as formigas têm sido consideradas como um dos grupos de insetos mais adequados para monitoramento ambiental. Esse fato é decorrente de diversas características que o grupo possui, tais como taxionomia e ecologia relativamente bem conhecidas; forte associação com outros táxons e sensibilidade a mudanças no ambiente (Andersen, 1997). Estudos com formigas têm se tornado mais freqüentes pela facilidade de amostragem e muitos desses trabalhos relacionam a diversidade desse grupo com a complexidade da vegetação, grau de perturbação e disponibilidade de recursos (Andersen, 1997; Leal et al., 1993). Considerando que a diversidade de espécies tem sido relacionada com a complexidade e heterogeneidade dos ambientes, e que espécies de formigas podem ser utilizadas como indicadores ambientais, a presente pesquisa objetivou avaliar um gradiente de alteração antrópica na composição de formigas. O esperado era que a composição da comunidade de formigas ocorresse de forma diferenciada em gradientes distintos de alteração antrópica; que o gradiente de riqueza e de abundância acompanhasse o gradiente de alteração antrópica; e que a similaridade de espécies fosse maior entre áreas adjacentes, indicando a existência de um gradiente de alteração antrópica. Material e métodos Esta pesquisa foi desenvolvida na Reserva Natural do Salto Morato e área do entorno, região composta por Floresta Ombrófila Densa, estado de Paraná, Brasil. A região apresenta grande variedade de paisagens, seja pela heterogeneidade das condicionantes fisiográficas, seja pelo histórico de uso das terras e de modificação da cobertura vegetal original. Foram amostrados cinco gradientes com diferentes graus de perturbação antrópica e estádios sucessionais, áreas estas denominadas: Floresta, Trilha, Regeneração Avançada, Regeneração Inicial e Área Antropizada. A trilha foi amostrada na área de floresta, sendo considerada um gradiente diferenciado passível de influenciar a composição da fauna de formigas. Para a coleta das formigas foi utilizada uma parcela cilíndrica de 113 cm2 de área, colocada em sete diferentes locais de cada gradiente. Ao todo foram analisadas 35 amostras de serapilheira contendo formigas. Os animais encontrados em cada parcela foram fixadas em álcool 90%, para posterior identificação das morfo-espécies. Foi calculada, também, a abundância das espécies em cada parcela. Para a comparação das médias de riqueza e abundância de formigas nos cinco gradientes amostrados foi utilizado a análise de variância, com alfa de 5%. Para o estudo da composição da comunidade de formigas e sua relação com os ambientes foi utilizada análise de correspondência entre as espécies. Para o cálculo da similaridade entre os gradientes foi considerado o Índice de Sorensen, utilizando o Programa EstimateSWin 7.5. Resultados Foram encontradas, ao todo, 21 morfo-espécies nos cinco gradientes, e destas oito espécies foram observadas na Floresta (total de 45 indivíduos), sete na trilha (19 indivíduos), nove na área de 139 regeneração avançada (34 indivíduos), seis na área de regeneração inicial (43 indivíduos) e quatro na área antropizada (39 indivíduos). Não houve diferença no número de espécies (r2=0,28; F0,05;4=1,9; P>0,05) e na abundância (r2=0,04; F0,05;4=0,39; P>0,05) entre os cinco locais. Por outro lado, a análise de correspondência mostrou uma diferenciação na composição das espécies nos gradientes, indicando três agrupamentos distintos: um grupo de espécies que caracterizam os ambientes naturais (Floresta, Trilha e Regeneração Avançada), um segundo agrupamento que caracteriza a área de Regeneração Inicial (com destaque para três morfo-espécies características) e o grupo representado pela Área Antropizada, caracterizado por uma morfo-espécie (Fig.1). Os índices de similaridade de Sorensen mostraram maiores valores entre áreas adjacentes, indicando a presença de um gradiente entre as áreas amostradas (Tabela 1). I H BU A C P O JES VK Q T D Floresta Regeneração Avançada Trilha F L Regeneração Inicial N G M R Área Antropizada Figura 1. Análise de correspondência entre as morfo-espécies encontradas, indicando uma diferenciação na composição das espécies entre os diferentes gradientes. As letras “A” a “U” referem-se a cada uma das 21 morfo-espécies. Tabela 1. Índices de Similaridade de Sorensen entre os gradientes amostrados, indicando maiores valores entre áreas adjacentes. * Indicação da similaridade entre áreas adjacentes. Gradiente de Antropização Índice de Sorensen Floresta e Regeneração Avançada 0,47* Floresta e Regeneração Inicial 0,14 Floresta e Área Antropizada 0,00 Floresta e Trilha 0,26* Regeneração Avançada e Inicial 0,13* Regeneração Avançada e Área Antropizada 0,00 Regeneração Avançada e Trilha 0,37 Regeneração Inicial e Área Antropizada 0,6* Regeneração Inicial e Trilha 0,00 Área Antropizada e Trilha 0,00 140 Discussão Os gradientes não apresentaram diferença no que se refere ao número de espécies e abundância e essa situação pode ser explicada pelo fato de que ambientes que sofreram alteração antrópica podem apresentar um aumento inicial de riqueza de espécies como resultado da colonização, episódio possível de estar ocorrendo nas áreas de antropização e de regeneração inicial estudadas. Em geral, essas áreas tendem a apresentar, com o tempo, um declínio na riqueza, resultante da exclusão competitiva ou do resultado de distúrbios muito freqüentes (Begon et al., 2006). Essa dinâmica poderia explicar a diferença do resultado encontrado para estudos que demonstraram diminuição da riqueza de formigas em áreas alteradas (Andersen, 1997; Leal et al., 1993). A possibilidade de ocorrência de distúrbios de diferentes freqüências e intensidades na área antropizada e de regeneração inicial, sugere que a comunidade amostrada seja regulada por distúrbios intermediários, hipótese esta que indica que os ambientes contenham mais espécies quando a freqüência de um distúrbio não é muito intensa, nem muito rara (Begon et al., 2006). Por outro lado, a diferença entre os gradientes pode ser constatada na composição da comunidade de formigas, indicada pela análise de correspondência. Ambientes com maior heterogeneidade (Floresta, Trilha e área de Regeneração Avançada) foram caracterizados pela maior parte das espécies, enquanto que os ambientes menos heterogêneos (Regeneração Inicial e Área Antropizada) foram diferenciados em outros dois grupos, caracterizados por poucas espécies. Para uma análise mais refinada da estruturação dessa comunidade, seria necessário, porém, um estudo mais aprofundado da biologia das espécies, o qual poderia indicar a presença de espécies bioindicadoras de ambientes com maior grau de antropização. Apesar da observação de índices de similaridade maiores entre áreas adjacentes, o que indica a presença de um gradiente entre os ambientes amostrados, um estudo mais apurado com a análise de um maior número de áreas poderia colaborar para a definição da estruturação da comunidade de formigas da região do Salto Morato e entorno. Vale salientar que análises de similaridade são bastante úteis na comparação entre gradientes de variação antrópica. Vários índices são empregados para essas análises, porém é necessário considerar o uso de índices baseados na presença e ausência de espécies (como o Índice de Sorensen), já que muitos métodos de coleta utilizados para formigas podem amostrar em maior quantidade organismos de hábito agrupado, como é o caso das formigas cortadeiras. Referências bibliográficas Andersen, A. N. 1997. Using ants as bioindicators: multiscale issues in ant community ecology. Conservation Ecology 1(1):8. Begon, M.; Townsend, C. R. & Harper, J. L. 2006. Ecology: From individuals to ecosystems. Blakwell Publishing, Oxford. Hölldobler, B. & Wilson, E. O. 1990. The ants. Cambridge, Massachussetts. 141 Leal, I. R., Ferreira, S. O, Freitas, A. V. L. 1993. Diversidade de formigas de solo em um gradiente sucessional de Mata Atlântica, ES, Brasil. Biotemas 1(2):42-53. Rocha, C. F. D.; Bergallo, H. G.; Van Sluys, M. & Alves, M. A. S. 2006. Biologia da Conservação: Essências. Rima Editora, São Carlos. Wilson, E. O. 2000. Ants. Smithsonian Institution Press, London. 142 HERBIVORIA EM Cecropia sp E SUA RELAÇÃO COM A PRESENÇA DE FORMIGAS, NA RESERVA NATURAL SALTO MORATO Cristiane Hiert Projeto Individual Resumo Relações de mutualismo entre formigas e outros organismos são relativamente comuns e demonstram claramente o efeito recíproco nas populações que interagem. Para este estudo foram investigadas relações entre a presença / ausência de formigas em indivíduos de Cecropia sp na Reserva Natural Salto Morato, procurando testar a influência dos insetos nos indícios de herbivoria nas folhas. Observou-se que as formigas estão presentes em árvores mais altas e que influenciam a incidência de herbivoria nas árvores de Cecropia, protegendo-as da predação. Palavras-chave: Cecropia, formigas, mutualismo, herbivoria, Azteca. Introdução Interações como mutualismo e comensalismo são amplamente difundidas, especialmente em comunidades com grande diversidade. O mutualismo gera um efeito recíproco nas populações que interagem, podendo-se esperar um razoável grau de coordenação mútua de suas estruturas ou de seu funcionamento (Townsend et al, 2006). Muitos organismos formam mutualismos com formigas, como por exemplo, as acácias que oferecem néctar e proteína como alimento e em troca são protegidas pelas formigas contra uma grande variedade de herbívoros. Quando as formigas são removidas, essas plantas rapidamente são desfolhadas (Ricklefs, 2003). As herbáceas, arbustos e árvores que são protegidos por formigas recebem uma espécie de patrulhamento de sua folhagem ou de seus tecidos reprodutivos, ao mesmo tempo em que seus nectários extraflorais ou outros recursos nutritivos são consumidos pelas formigas, como por exemplo, o que ocorre nos troncos de Cecropia sp (Bueno et al, 2001). O gênero Cecropia, pertencente à família Cecropiaceae, é nativo do Brasil, sendo as diferentes espécies conhecidas popularmente como embaúba. São árvores pioneiras ou de crescimento rápido, características de áreas perturbadas e de estádios sucessionais iniciais (Joly, 2002). A maioria das espécies dentro desse gênero é habitada por formigas carnívoras do gênero Azteca, que constroem ninhos no interior do caule. Estas, em alguns casos, alimentam-se de estruturas cheias de proteínas liberadas pela planta em resposta a estímulos externos (corpúsculos de Müller), porém nas espécies de Cecropia sp que não apresentam tal estrutura, as formigas utilizam-se de abrigos ou refúgios na associação (Bueno et al, 2001). 143 O estabelecimento de uma colônia se dá quando uma rainha localiza um indivíduo de Cecropia sp e penetra no prostoma da planta. Mais de uma rainha pode ocupar uma planta e aquela que for mais competitiva tende a dominar, expulsando as outras (Santos et al, 2002). Em um estudo da dinâmica sazonal da interação entre formigas Azteca constructor e Cecropia obtusifolia no Equador, observou-se que as plantas ocupadas pelas formigas crescem mais rapidamente do que aquelas sem a presença dos insetos, o que ocorre principalmente pela proteção das formigas contra besouros (Martins et al, 2001). Assim o trabalho tem como objetivo testar a relação entre a presença de formigas no interior do caule de indivíduos de Cecropia sp, com a taxa de herbivoria observada nos mesmos, testando as seguintes hipóteses: 1) A presença de formigas varia entre indivíduos de Cecropia sp de diferentes alturas. 2) A incidência de herbivoria nos indivíduos de Cecropia sp é maior na ausência de formigas no caule destes. Material e Métodos A área utilizada para este estudo compreendeu duas regiões de estádio inicial de sucessão, denominadas capoeirinha e capoeirão, localizadas entre a sede administrativa e o centro de visitantes da Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba, Paraná. Ao longo do dia foram percorridas estradas e trilhas, realizando uma escolha randômica de indivíduos das espécies Cecropia glaziovii e C. pachystachya, de diferentes tamanhos ou idades. Em cada indivíduo foram tomadas as medidas de perímetro à altura do peito (PAP) e altura (estimada visualmente). Foram escolhidas aleatoriamente 10 folhas por exemplar para uma avaliação visual da condição de herbivoria, sempre que possível. As folhas foram divididas em classes, em função das seguintes taxas de herbivoria: zero (ou sem herbivoria), 1-10%, 11-30%, 31-50% e > 50%. A observação da presença ou ausência de formigas foi realizada visualmente ou com auxílio de binóculo nos indivíduos mais altos, sempre após a árvore ser movimentada manualmente por um determinado tempo; dessa forma, elas acabam saindo por pequenos orifícios e ficam deslocam-se ao longo do caule. As porcentagens das classes de herbivoria presentes nas folhas foram transformadas (arcoseno), para linearizar a proporção destas. Os dados de altura e PAP dos indivíduos foram também transformados (log) para homogeneizar a amostra e reduzir a variância dos dados. Para testar a relação entre a presença das formigas com a altura dos indivíduos e com a herbivoria, foi utilizado o teste t de Student. Para o teste da influência das variáveis altura, PAP, presença de formigas e suas interações na incidência de herbivoria, foi gerado um modelo linear generalizado. O alfa utilizado nas análises foi de 0,05 (Fowler & Cohen, 1990). 144 Resultados Foram registrados 53 indivíduos de Cecropia sp, totalizando 473 folhas analisadas. A altura dos indivíduos variou de 1,20 a 15,5 metros (média=6,5+4,3) e o perímetro à altura do peito (PAP) de 2 a 70,7 centímetros (média=22,7+18,9). De acordo com o modelo linear, a herbivoria é influenciada pelo efeito da presença das formigas (F= 4,59; P<0,05) e parcialmente pelos resíduos de altura / PAP (F=3,39; P=0,06). As árvores que apresentavam formigas no seu interior apresentaram maior altura em relação às árvores sem formigas (t1,471=11,53; P<0,05; fig 1). Figura 1: Ocorrência de formigas em indivíduos de Cecropia sp em diferentes alturas (média +IC) na Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba, PR. A incidência de herbivoria nas folhas foi maior nos indivíduos que não possuíam formigas no seu caule (t1,471=2,52; P<0,05; fig. 2). Figura 2: ocorrência de formigas em indivíduos de Cecropia sp com a incidência de herbivoria nas suas folhas (média +IC) na Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba, PR. 145 Discussão A incidência de herbivoria foi notadamente menor para os indivíduos associados às formigas, porém todos os indivíduos de Cecropia sp amostrados (com ou sem formigas) apresentaram algum grau de ação de herbívoros, o que pode indicar uma determinada limitação na defesa promovida pelas formigas. Esse fato pode estar refletindo o tipo de animal que se alimenta das folhas, pois se elas forem feqüentadas por herbívoros que permanecem um tempo maior na planta (ex: lagartas de Lepidoptera), estes podem ser detectados e combatidos pelas formigas com maior eficácia. Mas se os herbívoros visitam a planta esporadicamente e por um curto período (ex: gafanhotos, besouros), isso pode dificultar a ação das formigas na defesa da Cecropia. Por outro lado, a sabida relação alométrica entre o perímetro à altura do peito e a altura dos indivíduos de Cecropia sp, pode mostrar uma alocação de recursos da planta para o crescimento em altura, já que se trata de uma espécie pioneira heliófila. Dessa forma, a planta não investe em uma defesa química ou física contra a ação dos herbívoros, criando uma espécie de “dependência” pela defesa oferecida pelas formigas. Referências Bibliográficas Bueno, A.A.; Barghini, A.; Fonseca, B.M.; Itakawa, E. & Motta Jr, J.C. 2001. Interação entre formigas do gênero Azteca e a embaúba Cecropia glaziovii, no Núcleo Picinguaba, Ubatuba, São Paulo. pp.94-99. In Livro da Disciplina Ecologia de Campo. Universidade de São Paulo, Instituto de Biociências, Programa de Pós-Graduação em Ecologia, São Paulo. Fowler, J.F. & Cohen, L. 1990. Practical statistics for field biology. Open University Press, Philadelphia. Joly, A.B. 2002. Botânica. Introdução à taxonomia vegetal. Companhia Editora Nacional, São Paulo. Santos, C.C.; Concone, H.V.B.; Fonseca, M.G.; Mendel, S.M. & Ordoñez, A.B. 2002. Produção de corpúsculos müllerianos e atividade de formigas Azteca spp. Em Cecropia pachystachya numa região de mata ciliar do Miranda/Abobral, Pantanal Sul. pp. 60-62. In Ecologia do Pantanal – Curso de Campo. Editora Oeste, Campo Grande. Ricklefs, R. E. 2003. A Economia da Natureza. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro. Townsend, C.; Begon, M. & Harper, J.L. 2006. Fundamentos em Ecologia. Artmed, Porto Alegre. 146 EXISTE SUBSTITUIÇÃO DA ICTIOFAUNA AO LONGO DE UM GRADIENTE ANTRÓPICO? Gabriela de Menezes Cortellete Projeto individual Resumo Alterações nas características de um ambiente causadas por ações antrópicas podem causar mudanças na composição de espécies de um rio. Foram avaliadas as comunidades de peixes em quatro trechos do rio Morato com diferentes graus de antropização para testar a hipótese de que a composição da ictiofauna muda ao longo de um gradiente antrópico. A abundância e a riqueza de espécies, bem como as abundâncias relativas variaram ao longo do gradiente, indicando substituição de espécies entre os pontos. Palavras-chave: composição da ictiofauna, parâmetros abióticos, poluição Introdução Rios e riachos possuem fluxo contínuo da fonte à foz e algumas de suas características se alteram ao longo do seu curso, as quais exercem forte influência sobre a composição das comunidades (Uieda & Castro, 1999). A zonação em cursos d’água é longitudinal e a alteração na composição da comunidade costuma ser mais marcada na cabeceira do rio. A variação longitudinal está relacionada com um forte gradiente de temperatura, velocidade da corrente e pH. A substituição longitudinal de espécies não é uniforme e contínua, espécies podem reaparecer em intervalos, condições e populações características (Odum, 2001). No ambiente aquático muitas características variam naturalmente e a intervenção humana nesses padrões de variabilidade pode causar o declínio das populações naturais (Smith et al., 1998). A poluição consiste numa alteração indesejável nas características físicas, químicas ou biológicas de um ambiente, que pode causar prejuízos (Odum, 2001). Qualquer substância que intensifique ou diminua a produtividade de um hábitat pode causar uma mudança na composição de espécies de um rio (Ricklefs, 2001). A liberação de esgoto em corpos d’água podem causar profundos problemas ecológicos. Todos os ecossistemas têm uma capacidade para decompor a matéria orgânica até um certo limite, no entanto quando a taxa de entrada de esgoto excede essa capacidade de decomposição pode levar a condições anaeróbias, causando morte de peixes e invertebrados. Neste caso, o oxigênio é consumido pelos microorganismos decompositores mais rapidamente do que ele é reposto no ecossistema (Townsend et al., 2006). 147 Ambientes antropizados possuem maiores valores de demanda química de oxigênio (DQO) e menores valores de oxigênio dissolvido (OD) quando comparados aos ambientes naturais. O grau de aerobiose do ambiente aquático é influenciado pelas reações de oxi-redução envolvendo vários elementos na água, e sua dinâmica pode determinar a composição das comunidades lóticas, pela necessidade desse elemento para todas as formas de vida com metabolismo aeróbio. A DQO e o OD são formas de avaliação indireta da quantidade de matéria orgânica quimicamente degradável disponível na coluna d’água (Marques, 2000). O potencial hidrogênico (pH) indica o balanço entre carbonatos, bicarbonatos e ácidos carbônicos. Em solos bastante lixiviados como os tropicais, há poucos minerais alcalinos dissolvidos na água e portanto o pH não sofre efeito tampão do sistema, sendo passível de grandes flutuações pela entrada de poluentes devido às atividades antrópicas (Marques, 2000). O presente o trabalho tem a intenção de demonstrar se há um gradiente na composição da ictiofauna em relação a diferentes graus de antropização, medidos pelos parâmetros químicos da água. A hipótese é que espécies estariam sendo substituídas por outras ao longo de um gradiente antrópico. Material e métodos Este trabalho foi realizado no rio Morato, onde foram selecionados um ponto dentro da Reserva Particular do Patrimônio Natural Salto Morato, considerado não antropizado, e três fora da reserva, quanto mais distante da reserva os pontos foram sendo considerados mais antropizados, de modo a ter um ponto pouco antropizado, um antropizado e um muito antropizado. Em cada ponto foram coletadas amostras da água e acrescentados os reagentes para medir o OD (mg/L) e a DQO (mg/L), o pH foi medido com uma fita. As coletas foram realizadas em locais com características de profundidade, luminosidade e vegetação semelhantes. Foram procedidas dez peneiradas em cada local, com peneira de 60 cm de diâmetro e malha 2 mm. Os peixes foram identificados, quantificados no local e imediatamente devolvidos ao rio. Foram realizadas análise de correspondência, similaridade de Bray-Curtis e análise de agrupamento de Cluster para demonstrar se existia diferença na composição da ictiofauna entre os pontos. Resultados No ponto dentro da reserva, considerado não antropizado, o oxigênio dissolvido (OD) foi 10 mg/L, a demanda química de oxigênio (DQO) foi 20 mg/L e o pH foi 6,4. A ictiofauna encontrada nesse local é composta por Phalloceros caudimaculatus, Cascudo morfo 10, Cascudo morfo 2, Cascudo morfo 148 5, Cascudo morfo 6, Cascudo morfo 7, Cascudo morfo 8, Cascudo morfo 9, Coridoras barbatus e Deuterodon lanei. No ponto fora da reserva e próximo à residências, considerado pouco antropizado, o OD foi 8 mg/L, a DQO foi 20 mg/L e pH foi 6,4. A composição da ictiofauna nesse ponto foi: Phalloceros caudimaculatus , Cascudo morfo 1, Cascudo morfo 2, Characidium lanei, Deuterodon lanei e Hoplias malabaricus. No ponto fora da reserva considerado antropizado o OD foi 8 mg/L, DQO 20 mg/L e pH 6,0. A comunidade de peixes encontrada foi: Phalloceros caudimaculatus, Cascudo morfo 1, Cascudo morfo 2, Cascudo morfo 3, Characidium lanei, Geophagus brasiliensis, Crenicichla lacustris, Deuterodon lanei. No ponto fora da reserva e próximo à ponte, considerado muito antropizado, o OD foi 5 mg/L, DQO 50 mg/L e pH 6,0. A comunidade de peixes encontrada foi: Cascudo morfo 1, Cascudo morfo 2, Cascudo morfo 3, Characidium lanei, Cascudo morfo 4, Hyphessobrycon griemi (Figura 1). pouco antropizado não antropizado 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0 A B C D E F G H I J K L M N O P Q R A B C D E F G H I J K L M N O P Q R muito antropizado antropizado 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0 A B C D E F G H I J K L M N O P Q R A B C D E F G H I J K L M N O P Q R Figura 1 – Variação na abundância de peixes em um gradiente de antropização nas proximidades da Reserva Salto Morato, Guaraqueçaba, PR. Espécies: A - Phalloceros caudimaculatus, B - Cascudo morfo 1, C - Cascudo morfo 10, D - Cascudo morfo 2, E - Cascudo morfo 3, F - Cascudo morfo 4, G - Cascudo morfo 5, H - Cascudo morfo 6, I - Cascudo morfo 7, J - Cascudo morfo 8, K - Cascudo morfo 9, L Characidium lanei, M - Geophagus brasiliensis, N - Coridoras barbatus, O - Crenicichla lacustris, P Deuterodon lanei, Q - Hyphessobrycon griemi e R - Hoplias malabaricus 149 A similaridade de Bray-Curtis entre as áreas mostrou maior semelhança entre os ambientes antropizado, pouco antropizado e muito antropizado (Figura 2). Figura 2 – Similaridade na ictiofauna no gradiente de antropização nas proximidades da Reserva Salto Morato, Guaraqueçaba, PR. Na análise de correspondência foram verificadas como as espécies estavam influenciando na diferenciação da composição das espécies desses ambientes (Figura 3). Figura 3 – Análise de correspondência entre as espécies ocorrentes em um gradiente de antropização, nas proximidades da Reserva Salto Morato, Guaraqueçaba, PR. Letras referem-se as espécies conforme figura 2. 150 Discussão As comunidades de peixes variaram ao longo do gradiente, corroborando a hipótese do estudo. Locais com nível intermediário de antropização tiveram composição da ictiofauna muito semelhantes, porém entre os pontos não antropizado, intermediário (pouco antropizado e antropizado) e muito antropizado houve uma substituição de espécies ao longo do gradiente. Embora o gradiente em um rio seja encontrado independente de influência antrópica com a variação longitudinal de parâmetros abióticos (Odum, 2001), a variação encontrada em uma escala espacial reduzida sugere que este ambiente esteja poluído, pois além dos parâmetros medidos foram observados esgotos lançados ao rio e casas à beira do rio. Se ao longo de um gradiente de parâmetros abióticos que varia lentamente e em escala espacial maior causa mudanças na composição da comunidade de peixes (Odum, 2001), variações mais altas nos parâmetros e em distâncias muito menores em ambientes antropizados causam variações mais drásticas na comunidade com aumento da dominância de algumas espécies (Phaloceros caudatus) e substituição de outras. O local mais antropizado apresentou valores baixos de oxigênio dissolvido e altos valores de demanda química de oxigênio em relação aos outros pontos. A entrada de material orgânico causa diminuição do oxigênio dissolvido, podendo tornar estes locais impróprios para algumas espécies (Ricklefs, 2001) dessa maneira algumas espécies que ocorrem em um local não conseguem sobreviver em outro que possua condições abióticas inadequadas, como aparentemente ocorre com os cascudos morfo 5, 6, 7, 8, 9 e Coridoras barbatus, que só foram encontradas no ambiente não antropizado. Embora não existam estudos sobre a maioria das espécies de peixes com relação a tolerância às mudanças nos parâmetros abióticos (Gerhard et al., 2004) esses são determinantes na composição das comunidades. Nesta investigação a substituição das espécies ao longo do gradiente foi evidente, sendo que apenas o Cascudo morfo 2 é comum entre o ponto muito antropizado e o não antropizado. Existe uma composição específica característica para cada microhabitat, porém como foram amostrados locais com características físicas muito semelhantes sugere-se que a mudança na composição seja conseqüência dos efeitos da poluição neste rio. Agradecimentos – Projeto individual. Ao Fábio Bertoilini Gonçalves e Kelly Aguiar pela ajuda na coleta e identificação dos peixes. Ao professor James Hoper e Maurício Moura pelos conselhos para as análises estatísticas e à Paloma Gusso pelas opiniões nas discussões finais do relatório. Referências Bibliográficas Gerhard, P., Moraes, R. & Molander S. 2004. Stream fish communities and their associations to habitat variables in a rain forest reserve in southeastern Brazil. Environmental Biology of Fishes 71: 321-340. 151 Marques, P. H. C. 2000. Estudo limnológico do rio Piraquara (Piraquara – PR): Variação espacial e temporal das características físicas e químicas e ordenação espacial da bacia hidrográfica. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de São Carlos, São Carlos. Odum, E. P. 2001. Fundamentos em Ecologia. Fundação Calouste Gulbenkian, Portugal. Ricklefs, R. E. 2001. A Economia da Natureza. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro. Smith, A. K., Ajani, P. A. & Roberts, D. E. 1999. Spatial and temporal variation in fish assemblages exposed to sewage and implications for managment. Marine Environmental Research 47: 241260. Townsend, C. R.; Begon, M.; Harper, J. L. 2006. Fundamentos em ecologia. Artmed, Porto Alegre. Uieda, V. S. & Castro, R. M. C. 1999. Ecologia de peixes de riacho. Vol. VI. PPGE – UFRJ, Rio de janeiro. 152 EXISTE VARIAÇÃO ESTRUTURAL E FLORÍSTICA EM UM GRADIENTE DE UMIDADE DO SOLO DA FLORESTA ATLÂNTICA? Rafael E. Serathiuk Projeto individual Resumo Ambientes com solos encharcados podem limitar a riqueza de espécies e alterar a abundância e tamanho de plantas. Com isso objetivou-se testar a existência de um gradiente estrutural e florístico entre a formação Aluvial e a Submontana da Floresta Atlântica. Para tanto se procedeu com a alocação de cinco transecções de 150m partindo de beira de rio até a encosta. A análise de correlação estrutural demonstrou a ausência de um gradiente, porém, a análise de correspondência mostra a tendência de espécies ocorrerem preferencialmente em somente um dos ambientes. Palavras-chave: Floresta Atlântica, excesso de água no solo, declividade, transecções. Introdução A Floresta Atlântica é composta de cinco formações distintas, dependendo da altitude em que ocorrem. A formação Terras Baixas se estabelece nos terrenos com solos formados a partir da deposição marinha pretérita e estão em uma faixa altitudinal compreendida entre cinco e 30 m. A formação Aluvial, por sua vez, estabelece-se nas “caixas” dos rios, nas quais os solos são formados a partir de sedimentos aluvionares depositados pelas inundações periódicas, além de possuírem excesso de água. Já a formação Submontana se estabelece no início das encostas serranas, em altitudes que variam de 30 a 500m. A formação Montana também é observada nas encostas, porém numa faixa altitudinal que varia de 500 a 1200m. Já a Altomontana se estabelece em altitudes superiores a 1200m (IBGE, 1992). A formação Aluvial apresenta uma quantidade excessiva de umidade no solo, situação não observada nos solos da formação Submontana. Essa diferença forma um gradiente de umidade do solo entre uma formação e outra, condição que assim como nos casos de diferenças climáticas latitudinais ou mesmo altitudinais, resulta na alteração da riqueza de espécies provocada pelo excesso de água em solos aluviais e boa drenagem no ambiente submontano (Townsend et al., 2006). Dessa forma, tem-se por objetivo testar a existência de diferenças estruturais e florísticas entre as duas formações na Reserva Natural Salto Morato, em Guaraqueçaba, Paraná. Material e métodos 153 A amostragem foi feita em cinco transecções lineares de 150m alocadas em duas encostas de um morro, perpendicularmente do rio do Engenho (uma transecção) e do rio Morato (quatro transecções). Em cada transecção foram medidas todas as árvores e fetos arborescentes que interceptavam a trena e que apresentavam perímetro à altura do peito (PAP) superior a 15cm. Além do PAP (usado para o cálculo da área basal), estimou-se a altura visualmente e mediu-se a distância das árvores ao ponto inicial da transecção e a declividade do terreno (clinômetro). Os indivíduos foram identificados em campo ou coletados para determinação em laboratório. A fim de comparação, considerou-se a existência de dois ambientes com base na declividade obtida, onde o aluvial foi estabelecido em declividades inferiores a 10o e o submontano em declividades superiores a 10o. Quando a transecção alcançava a cumeada do morro e a declividade era inferior a 10º considerou-se o ambiente como submontano. As análises estatísticas foram feitas por correlação para a parte estrutural e por correspondência para a parte florística. A análise de correlação foi feita confrontando a área basal, altura, distância da árvore ao ponto inicial e declividade do terreno. Quando necessário, os dados foram logaritimizados para normalização. A análise de correspondência de eventuais diferenças florísticas entre os ambientes foi feita com base na freqüência de cada espécie e morfo-espécie nos ambientes (Zar, 1999). Resultados No total, foram amostradas 78 árvores distribuídas em 31 morfo-espécies e árvores mortas (Tab.1). Em relação à estrutura, não se observou correlação entre a área basal, altura, distância do rio e declividade do terreno (Tab. 2). A única correlação encontrada foi entre área basal e altura, mas trata-se de uma condição morfométrica existente naturalmente. Quanto ao gradiente florístico, observou-se forte tendência de espécies encontradas na formação aluvial serem exclusivas do ambiente. Também se observou tendência de espécies ocorrerem exclusivamente no ambiente submontana, embora não seja tão fortemente correspondente quanto da aluvial (Fig. 1). Tabela 1. Freqüência de indivíduos por espécies, morfo-espécies e árvores mortas nos ambientes aluvial e submontana na Reserva natural Salto Morato, Guaraqueçaba, PR. Número 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Espécie Alchornea glandulosa Andira sp. Bathysa meridionalis Casearia obliqua Cupania oblongifolia Cyathea sp. Ficus sp. Hyeronima alchorneoides Inga sp. Lauraceae 1 Aluvial 2 2 1 1 1 1 2 0 0 1 Submontana 0 0 3 0 2 1 0 4 2 1 Continua... 154 Tabela 1. (Continuação) Freqüência de indivíduos por espécies, morfo-espécies e árvores mortas nos ambientes aluvial e submontana na Reserva natural Salto Morato, Guaraqueçaba, PR. ...continuação Número Espécie 11 Lauraceae 2 12 Marlieria reitzii 13 Marlieria tomentosa 14 Matayba sp. 15 Miconia cinerascens 16 Morfo 1 17 Morfo 2 18 Morfo 3 19 Morfo 4 20 Morfo 5 21 Morfo 6 22 Morfo 7 23 Morta 24 Myrcia cf. acuminatissima 25 Myrtaceae 1 26 Pera glabrata 27 Posoqueria latifolia 28 Pseudopiptadenia warmingii 29 Psychotria sp. 30 Rubiaceae 1 31 Tibouchina pulchra 32 Vochysia sp. Total Aluvial 1 0 1 0 2 2 0 0 0 0 0 0 2 1 0 0 0 0 0 0 0 1 21 Submontana 0 3 0 3 3 0 1 1 1 1 1 1 12 0 1 4 2 1 2 2 3 2 57 Tabela 2. Correlações entre as variáveis avaliadas no gradiente de umidade do solo na Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba, PR (n=78). ns = não significativo. Variável Distância do rio Altura Área basal Altura ns - Área basal ns 0,61 - Declividade ns ns ns 2,0 ALUVIAL Soma do Desvio Padrão 1,5 1,0 0,5 0,0 -0,5 SUBMONTANA -1,0 1 2 7 16 4 11 13 24 6 10 15 5 32 3 23 8 12 14 17 18 19 20 21 22 25 26 28 31 9 27 29 30 Espécie Figura 1. Soma dos desvios padrões das morfo-espécies nos ambientes aluvial e submontana na Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba, PR (número das espécies conforme Tab. 1). 155 Discussão Para o critério de inclusão adotado, não se observou um gradiente estrutural da vegetação a partir da região mais próxima do rio à encosta, pois não houve correlação significativa entre os atributos bióticos dos indivíduos e as condições topográficas. Visualmente pode-se observar que o subosque na floresta submontana é mais denso que na floresta aluvial e possivelmente uma amostragem que venha a abranger indivíduos menores possa identificar essa diferença. Quanto à composição florística, a análise de correspondência demonstra a tendência de espécies ocorrerem somente em um dos ambientes, embora existam aquelas que sejam facultativas. Isso sugere que a limitação hídrica do ambiente aluvial imponha restrições que condicionam a ocorrência de um número restrito de espécies tolerantes, o que corrobora com a teoria de gradientes para diferentes graus de umidade do solo em florestas tropicais (Townsend et al. 2006). O baixo número de indivíduos amostrados pode ter influenciado as tendências verificadas, sugerindo-se uma intensidade amostral maior para verificar com mais clareza essa disposição. Referências Bibliográficas IBGE – Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 1992. Manual técnico da vegetação brasileira. Manuais Técnicos em Geociências, no 1. Townsend, C. R.; Begon, M. & Harper, J. L. 2006. Fundamentos em Ecologia. 2ª Ed., Artmed Editora, Porto Alegre. Zar, J. H. 1999. Biostatistical Analysis. 4th edition, Prentice Hall, New Jersey. 156 ESTRATÉGIAS DE FORRAGEAMENTO DE Thalurania Glaucopis: EXPERIMENTAÇÃO COM DIFERENTES CONCENTRAÇÕES DE AÇÚCAR Augusto Lisboa Martins Rosa Projeto Individual Resumo Os beija-flores necessitam de alimentação constante e de alta energia. Logo, seria vantajoso despender mais tempo em recursos com alta qualidade e menos tempo em recursos de baixa qualidade. Para testar essa hipótese foi realizado experimento em campo com diferentes concentrações de néctar. Houve diferença no tempo gasto em flores com alta concentração quando comparado ao tempo gasto em concentração normal e diluída. Houve correlação entre o tempo total despendido nas flores com o aumento da concentração. Palavras-chave: beija-flor, néctar, Heliconia velloziana, experimento. Introdução Os beija-flores são considerados os agentes polinizadores mais importantes, dentre os vertebrados, pois visitam muitas flores por dia (Sazima, et al 1996 apud Piacentini, 2004). Devido ao seu alto metabolismo necessitam de grande quantidade de energia diária (215 cal.hora-1.grama-1). Após períodos sem alimentação as reservas desses animais podem decrescer perigosamente (Faegri & van der Pijl, 1980). Portanto eles necessitam maximizar seus ganhos energéticos, provavelmente de acordo com os conceitos de forrageamento ótimo (maximização da energia) e sensibilidade ao risco (seleção de lugares com recursos de qualidade considerando o risco de ficar sem energia durante o percurso para encontrar esse recurso) (Ricklefs, 2001). Considerando que o néctar está distribuído em aglomerados em diferentes lugares e distâncias, as melhores partes do ambiente seriam selecionadas, tanto que uma concentração de flores com grande quantidade de néctar pode levar a comportamentos de defesa de território (Grant & Grant, 1968 apud Faegri & van der Pijl, 1980). As flores de diferentes espécies, por sua vez, apresentam diferentes concentrações e quantidades de néctar (Faegri & van der Pijl, 1980). Para que haja a seleção dos aglomerados de recursos ideais os beija-flores têm de ser capazes de discernir quando um recurso tem alta qualidade e gastar mais tempo forrageando nesse lugar e menos tempo quando o recurso tem baixa qualidade. Para isso é necessário testar se realmente os beija-flores são capazes de reconhecer néctar com alta e baixa concentração e se sua estratégia de forrageamento mudará conforme a qualidade do recurso. 157 Material e métodos O experimento em campo foi conduzido em ambiente de mata Atlântica na Reserva Natural do Salto Morato, Guaraqueçaba, PR. A planta escolhida para realizar a experimentação foi Heliconia velloziana que apresentava grande número de visitas de beija-flores no período (obs. pess.). A observação e experimentação foram realizadas em local na beira do rio Morato num aglomerado de inflorecências de H. vellosiana onde era possível enxergar treze inflorecências em apenas um ponto focal. Inicialmente foram feitos dois dias de observação para a identificação de padrões de forrageamento da espécie e adequação da metodologia. Para quantificar o tempo despendido pelos beija-flores em cada flor foi feita uma estimativa de tempo, um cronômetro foi utilizado para marcar o tempo total da visita. Primeiramente testou-se o aumento da concentração de néctar em algumas flores, o qual foi realizado através da implementação de solução de água com açúcar a cinqüenta por cento em três flores de H. vellosiana. A concentração normal do néctar dessa flor foi medida com um refratômetro e correspondia a uma concentração de aproximadamente dez por cento. O segundo experimento foi realizado dissolvendo o néctar de todas as flores do local com água, com o auxílio de uma seringa. Foram feitas cinco horas de observação, testando os dois procedimentos. Todas as visitas de beija-flores foram registradas, a cada visita eram anotados o horário, o tempo total da visita, o tempo despendido na retirada do néctar em cada flor (identificando as flores com alta concentração), o número de flores visitadas e espécie. As médias de cada tratamento foram comparadas através de análise de variância (ANOVA). Caso e que tendências foram observadas um teste t com análise de poder foi utilizado para prever qual o esforço amostral necessário para a confirmação deste padrão. Para verificar a relação entre o tempo total de permanência e concentração foi feito um teste t. Resultados Houve nítida diferença (r²= 0,102 F= 6,745 p> 0,0017) no tempo gasto pelos beija-flores em flores com alta concentração de néctar e nas flores controle e diluídas, mas não houve diferença nestes dois últimos (Fig. 1). O teste t com análise de poder demonstrou que seriam necessárias duzentas e quarenta e três réplicas para verificar essa diferença. 158 Figura 1. Tempo médio (± EP) de permanência de Thaluriana glaucopis nos diferentes tratamentos na Reserva Natural do Salto Morato, Guaraqueçaba, PR. Quando consideramos o tempo total de permanência e a concentração da solução não há diferença, no entanto podemos notar uma tendência de os beija-flores gastam mais tempo na visita nas concentrações altas e controle e menos tempo quando o néctar é diluído (Fig. 2). Realizando análise de poder foi constatado que o número de réplicas necessárias para que fosse verificada diferença entre as Tempo de permanência (segundos) concentrações seria de trinta e seis visitas, enquanto foram analisadas vinte visitas. 150 100 50 0 Alta Baixa Concentração Figura 2. Teste t entre o tempo (total) de permanência dos beija-flores nas flores e a sua concentração (n=20) na Reserva Natural do salto Morato, Guaraqueçaba, PR. 159 Discussão As vantagens em reconhecer um recurso de alta qualidade e gastar mais tempo forrageando neste recurso são óbvias, principalmente para organismos com alto metabolismo como os beija-flores que necessitam maximizar seus gastos energéticos. Então é provável que haja melhor ajustamento dos indivíduos que conseguem detectar esse recurso de alta qualidade e prontamente mudar sua estratégia de forrageio passando mais tempo nesses locais. A diferença pode não ser tão óbvia quando esse recurso é de baixa qualidade, pois eles não têm onisciência da situação (quantidade e qualidade) do néctar das flores que visitam e precisam experimentar várias flores para tentar encontrar o recurso que mais lhe convém. Além disso, de acordo com o conceito de sensibilidade ao risco os beija-flores sempre precisam de pelo menos um pouco de energia para viajar para o próximo aglomerado de flores. Dessa maneira o experimento pode oferecer indícios de que os conceitos de forrageamento ótimo e de sensibilidade ao risco se aplicam à estratégia de forrageamento de Thalurania glaucopis. Provavelmente as estratégias de forrageamento mudam conforme a espécie. Na fase experimental foram observadas algumas visitas de Ramphodon naevius que tem maior porte e parece gastar menos tempo total em suas visitas. Isto pode ser um indício de que ela tem a estratégia de sempre procurar um recurso de alta qualidade, gastando pouco tempo por visita. Logicamente, outros fatores que não foram medidos ou controlados podem afetar o tempo de visitação analisado, como o territorialismo e o retorno do mesmo indivíduo ao recurso. Problemas que poderiam ser contornados com a marcação dos indivíduos e réplicas espaciais, ficando como sugestão para futuros projetos. Agradecimentos: Ao professor James Roper pelas idéias, considerações, sugestões, análises estatíticas e críticas. A professora Márcia por toda dedicação e organização do curso. A todos os professores participantes por todo aprendizado oferecido. Aos alunos participantes por todo companheirismo e ajudas mil a um alienígena que se sentiu em casa. A todo pessoal da Fundação pelo apoio, especialmente ao Arnaldo e Lurdinha responsáveis pelo delicioso rango nosso de cada dia. Referências bibliográficas Faegri, K. & van der Pijl, L. 1980. The principles of pollination ecology. Pergamon Press, Oxford. Piacentini, V. Q. 2004. Levantamento de riqueza e abundância de beija-flores da Mata Atlântica: um estudo comparativo de métodos. Relatório de Ecologia de Campo, UFPR. Ricklefs, R. E. 2003. A Economia da Natureza. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro. 160 COBERTURA DE DOSSEL INFLUENCIA A INVASÃO DE Musa rosacea? Cibele Munhoz Amato Projeto Individual Resumo A invasão de novos ambientes por espécies exóticas é a segunda maior ameaça mundial à biodiversidade. A teoria dos recursos flutuantes é uma das principais teorias relacionadas a esse tema. Considerando luminosidade um recurso que pode ser limitado pela existência de estratos superiores, pretendeu-se demonstrar se a presença de indivíduos de M. rosacea apresenta correlação com cobertura de dossel. Não foi encontrada relação entre a ocupação da espécie e a cobertura do dossel, demonstrando a atuação mais forte de fatores como a idade e a proximidade com áreas antropizadas sobre sua dinâmica populacional. Palavras-chave: banana-flor, dispersão, disponibilidade de recursos, distúrbio, invasão biológica. Introdução A ocupação de novos ambientes por espécies exóticas invasoras é considerada a segunda maior ameaça mundial à biodiversidade, em função de seu potencial de alteração dos ecossistemas. São consideradas espécies invasoras (invasive species) aquelas que estabelecem em novas áreas nas quais proliferam, se dispersam e persistem em detrimento de espécies e ecossistemas nativos (Mack et al. 2000). Diversas hipóteses foram construídas na tentativa de explicar os motivos pelos quais alguns ambientes são aparentemente mais suscetíveis a plantas exóticas invasoras do que outros. Uma das mais proeminentes teorias relativas à invasão de espécies é a teoria dos recursos flutuantes. Essa teoria assume que as espécies exóticas são limitadas pelos recursos e assim, que comunidades se tornam mais suscetíveis à invasão quando ocorre incremento na quantidade de recursos não utilizados, como após um distúrbio (Davis et al. 2000). Entretanto, até o momento o entendimento existente sobre os processos de invasão, atributos da história de vida de organismos invasores e as condições locais são insuficientes para se predizer os impactos ou resistência e a resiliência das comunidades nativas terrestres ou aquáticas causados pela chegada de espécies invasoras aos ambientes. Considera-se uma comunidade suscetível à invasão quando uma espécie introduzida consegue se estabelecer e persistir ou expandir-se (Burke & Grime 1996). De maneira geral, aceita-se que, em primeiro lugar, áreas de solo exposto são mais suscetíveis à invasão, seguidas de dunas, comunidades vegetais campestres e savanícolas e, por fim, comunidades florestais, em especial quando invadidas por formas de vida arbóreas, que não fazem parte desses sistemas abertos de vegetação baixa (Richardson et 161 al. 2000; Hughes et al. 1991; Richardson & Higgins 1998). As florestas parecem ser os ecossistemas mais resistentes à invasões biológicas, pois são raras as espécies invasoras tolerantes à sombra. Além disso, dificilmente a teoria do nicho vago, que diz que ambientes com maior diversidade biológica tendem a apresentar menor suscetibilidade à invasão, pois fazem uso mais eficiente de recursos limitadores ao desenvolvimento das plantas, se aplicaria a áreas florestais, onde as formas de vida são abundantes e a diversidade, em especial em florestas tropicais e subtropicais, supera a de outras formações (Woods 1997). Musa rosacea Jaqu. (Musaceae Zingiberales), é originária das florestas de altitudes elevadas de Arunachal Pradesh, na Índia. Denominada popularmente “banana-flor”, essa espécie foi difundida por diversas partes do mundo em função de seu uso como planta ornamental. Tem como estratégias reprodutivas tanto a sexuada, com síndrome zoocórica de dispersão, quanto a assexuada, sendo que cada indivíduo origina diversas brotações que podem emergir mesmo estando 40-45cm distantes da planta mãe. Atualmente é considerada invasora de diversos ambientes naturais, causando substituição de espécies nativas de forma bastante agressiva e com registros de ocupação inclusive de ambientes florestais. Existe registro da presença de M. rosacea na Reserva Natural do Salto Morato em diversos locais da propriedade, tanto em áreas abertas quanto em áreas com cobertura florestal (Fonte: Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental / The Nature Conservancy). Partindo do pressuposto que quanto maior a cobertura do dossel, menor a disponibilidade de luz no sub-bosque, a presente pesquisa tem como objetivo demonstrar se M. rosacea apresenta relação com a cobertura de dossel e conseqüentemente com a disponibilidade de luz. Material e métodos A presente pesquisa foi realizada na Reserva Natural do Salto Morato, Guraqueçaba, Paraná. Em parcelas de 10m x 10m, dispostas perpendicularmente às trilhas, foram coletados dados de todos os genetas anotando-se a altura, o perímetro à altura da base (PAB), a projeção da área da copa (largura maior x largura menor) e a distância até a trilha. Nos casos em que haviam rametas, estes dados foram tomados para aquele apresentava a maior altura, além de se anotar o número de rametas. Nas parcelas também foi estimada a riqueza da área por meio da contagem do número de morfoespécies arbustivas ou arbóreas com altura superior a um metro e meio. A cobertura do dossel foi estimada por meio da média de cobertura obtida por fotos tomadas nos pontos extremos e central das parcelas. A cobertura de dossel de cada foto foi obtida após sua tranformação em imagem preto e branco e posterior estimativa do percentual do número de pixels pretos pelo programa Adobe Photoshop. Para a determinação dos elementos preponderantes no padrão de ocupação de M. rosacea considerando-se as variáveis utilizadas, foi realizada Análise de Componentes Principais (PCA). 162 Resultados Um total de 78 genetas de Musa rosacea foram amostrados nas parcelas sendo que a altura variou de 0,54 a 4,5m, o PAB (perímetro à altura da base) de 6,9 a 67,4cm, o número de rametas de um a 24, a área da copa de0,56 a 26,25m2 e a distância da trilha de 0,1 a 34,6m. A riqueza estimada para as parcelas variou de 11 a 23 morfoespécies e a estimativa de cobertura de dossel ficou entre o intervalo de 54,1 e 84,6%. O PAB, a distância da trilha e a área da copa, representaram respectivamente 63%%, 27% e 7% dos componentes que interferem no padrão de ocupação de M. rosacea considerando-se as variáveis selecionadas, sendo que conjuntamente explicam 97% desse padrão. Discussão A ocorrência de Musa rosacea na Reserva Natural do Salto Morato apresenta um padrão de invasão bastante vinculado à idade dos indivíduos (medido pelo PAB) e à proximidade com corredores de dispersão (trilha). Considerando-se que os locais amostrados teoricamente apresentavam como diferencial a disponibilidade do recurso luz pelas diferenças na cobertura do dossel, a ausência de correlação entre esta variável e o tamanho dos genetas (PAB, altura, área da copa e número de rametas) sugere que os padrões encontrados não se enquadram na teoria de recursos flutuantes (Davis et al. 2000). Em função da idade dos indivíduos ou o tempo de estabelecimento estar fortemente atrelado à ocupação da espécie, e da independência entre sua presença e a disponibilidade de luz, aparentemente M. rosacea não teve tempo para uma maior dispersão pela reserva. A distância da trilha apresentou alta relação negativa com a área da copa, indicando a presença de indivíduos mais antigos em locais menos distantes, e consequentemente, o início da ocupação nos locais mais próximos à trilha, ao contrário do padrão encontrado por outros autores (Wiser et al. 1998). Uma forma não intencional de dispersão de sementes de exóticas é a adoção, por parte da fauna local, de um novo hábito alimentar, com conseqüente perigo de disseminação (Ziller, 2000). No caso de M. rosacea já foi observada a utilização dos frutos dessa espécie por animais na Reserva Natural do Salto Morato (Paulo Chaves, com. pessoal). A maior presença de M. rosacea, em ambientes próximos às trilhas pode indicar a influência da dispersão de sementes por zoocoria devido à maior facilidade de circulação criada por esses caminhos, entretanto são necessários estudos mais aprofundados para testar se realmente ocorre esse tipo de dispersão. Agradecimentos: À prof. Márcia Marques e ao prof. Maurício Moura pela imprescindível colaboração na coleta dos dados e na análise dos resultados. Referências bibliográficas Burke, M. J. W & Grime, J. P. 1996. An experimental study of plant community invasibility. Ecology. 77(3): 776–790. 163 Davis, M. A., Grime, J. P. & K. Thompson. 2000. Fluctuating resources in plant communities: a general theory of invasibility. Journal of Ecology 88:528–534. Hughes, F.; Vitousek, P. M. & Tunison, T. 1991. Alien grass invasion and fire in the seasonal submontane zone of Hawai’i. Ecology. 72(2): 743–746. Mack, R. N., D. Simberloff, W. M. Lonsdale, H. Evans, M. Clout & F. A. Bazzaz. 2000. Biotic invasions: causes, epidemiology, global consequences, and control. Ecological Applications 10:689–710. Richardson, D. M.; Pysek, P.; Rejmánek, M.; Barbour, M. G.; Panetta, F. D & West, C. J. 2000. Naturalization and invasion of alien plants: concepts and definitions. Diversity and Distributions. 6: 93–107. Richardson, D.M. & Higgins, S.I. 1998. Pines as invaders in the southern hemisphere. In Richardson, D.M. (ed.). Ecology and biogeography of Pinus. Cambridge University Press, Cambridge. Wiser, S. K., R. B. Allen, P. W. Clinton & K. H. Platt. 1998. Community structure and forest invasion by an exotic herb over 23 years. Ecology 79:2071–2081. Woods, K. D. 1997. Community response to plant invasion. In: Luken, J. O.; Thieret, J. W.(eds). Assessment and Management of Plant Invasions. Springer-Verlag, New York. www.institutohorus.org.br. Acessado em 04.10.2006. Ziller, S.R. 2000. A Estepe Gramíneo-Lenhosa no segundo planalto do Paraná: diagnóstico ambiental com enfoque à contaminação biológica. Tese de doutorado. Universidade Federal do Paraná, Curitiba. 268 p. 164 This document was created with Win2PDF available at http://www.win2pdf.com. The unregistered version of Win2PDF is for evaluation or non-commercial use only. This page will not be added after purchasing Win2PDF.