história da farmácia sob a ótica anatômica

Transcrição

história da farmácia sob a ótica anatômica
1
HISTÓRIA DA FARMÁCIA SOB A ÓTICA
ANATÔMICA
PHARMACY HISTORY UNDER ANATOMIC VIEW
Ita de Oliveira e Silva1; Nabiha Haddad Simões Machado2;
Geraldo Magela de A.Cortes3; Leonardo Patryc3; Luiz Carlos dos Santos3;
Luiz do Couto Júnior3 & Marcos Fabiano B. Magalhães3.
RESUMO – Poucos termos possuem história tão longa como a palavra anatomia.
Coincidentemente, longa também é a história da Farmácia, datada de mais de 30 anos
atrás. Vários foram os precursores e os estudiosos que uniram os conhecimentos
anatômicos e farmacêuticos: Galeno, Homero, Hipócrates de Cos, Teofrasto, Dioscorides,
Rhazes, Avicena e Paracelso. Resgatando a figura do médico farmacêutico da
Antiguidade, o perfil do novo profissional generalista necessita do conhecimento
anatômico como base de sua formação.
PALAVRAS-CHAVE – Anatomia, Farmácia, História.
SUMMARY – Few terms have such long history as the word anatomy.Coincidently
Pharmacy history is long as Anatomy history is, dated more than 30 years old. Many were
the precursors and studious that united the pharmaceutical and anatomic knowledge:
Galeno, Homero, Hipócrates de Cos, Teofrasto, Dioscorides, Rhazes, Avicena e
Paracelso. Rescuing antiquity’s figure of pharmacist physician, the profile of new
generalist professionals requires anatomic knowledge as base of his academic formation.
KEYWORDS – Anatomy, Pharmacy, History.
INTRODUÇÃO
Poucos termos possuem história tão longa como a palavra anatomia. O
termo grego anatomé, aplicado à Ciência Anatomia há 2300 anos atrás, significa
cortar em pedaços, dissecar – método que tornou possível o estudo dos
organismos vivos (1,2). Tendo sido um dos mais antigos objetos da curiosidade
humana, esta Ciência desenvolveu-se em um dos mais amplos setores do
conhecimento. Sendo assim seu conceito expandiu-se de forma a promover o
estudo macro e microscópico da constituição e do desenvolvimento dos seres
organizados (2,3).
O objetivo deste trabalho é reconhecer, historicamente, a importância da
Anatomia Humana para a formação do profissional farmacêutico.
1
Profª Mestre de Anatomia Humana e Tutora da FARMPLAC; 2 Profª Especialista de
Anatomia Humana, Fisiologia Humana e Tutora da FARMPLAC; 3 Acadêmico da FARMPLAC.
2
DESENVOLVIMENTO
FARMÁCIA NA PRÉ-HISTÓRIA
Desde o começo do recente passado da humanidade, a Farmácia tem sido
parte do dia a dia da vida humana. Escavações datadas de mais de 30 mil anos
atrás, registram que pessoas do período pré-histórico colhiam plantas com
propósitos medicinais. Os conhecimentos de cura foram adquiridos através de
tentativas de erro e acerto e as doenças eram sempre atribuídas a fenômenos
sobrenaturais (6).
Quando os povos sedentários chegaram nos vales férteis adjacentes aos
rios Nilo, Tigre e Eufrates, mudanças ocorreram gradualmente, influenciando os
aspectos de cura. Enquanto estes povos foram ganhando o controle sobre a
natureza através da agricultura, a crença de que doenças eram associadas a
deuses e fenômenos sobrenaturais, ia desaparecendo. O maior avanço neste
campo do conhecimento ocorreu quando o homem passou a ter tempo de
observar seu próprio corpo e de comparar sua estrutura e funcionamento com os
de outros animais. Algumas técnicas de dissecação e conservação do corpo além
do uso racional de drogas surgiram aí. Estas evidências são encontradas nos
registros de grandes civilizações como a Mesopotâmica e a Egípcia. Uma maior
análise destes dados revela uma gradual separação entre a cura empírica,
baseada em experiências, e a cura puramente espiritual (4,6).
GALENO E A EVOLUÇÃO DOS CONHECIMENTOS ANATÔMICOS
As raízes das ciências médicas, no Ocidente, remetem à Grécia Antiga,
onde se identifica a interação entre várias áreas do conhecimento, dentre elas a
Medicina, a Farmácia e a Filosofia. Nesta época ainda existia um conceito confuso
entre droga e pharmakon (fármaco). A tradição racional dentro das ciências
médicas gregas, evidenciada em Homero (800 a.C.), foi refinada por Hipócrates de
Cos (425 a.C.), que desenvolveu uma explicação racional para as doenças.
Outros nomes se destacam nesta intersecção de conhecimentos como Teofrasto,
Galeno e Dioscorides (4,5,7).
Dentre estes homens, cujos nomes são conhecidos nas áreas da Farmácia
e Medicina, Galeno (130-200 d.C.), é o que mais se destaca. Praticou e ensinou
3
Farmácia e Medicina em Roma e seus princípios na preparação de compostos
foram utilizados no mundo Ocidental por 1.500 anos. Galeno aprofundou-se no
saber anatômico adquirindo prestígio e autoridade. A dissecação do corpo
humano era considerada ilegal, por isso, utilizava porcos e macacos-de-Gibraltar
em suas demonstrações de anatomia e fisiologia. A primeira coisa que
recomendava aos médicos era o profundo conhecimento da Anatomia, seguido da
Filosofia. Combatia as doenças por meio de substâncias ou compostos que se
opunham diretamente aos sinais e sintomas das enfermidades, sendo, portanto,
precursor da alopatia. Descreveu detalhadamente: os ossos do crânio, o sistema
muscular, a importância da medula espinhal para os movimentos, as válvulas do
coração e o sistema nevoso simpático. Galeno contribuiu para a ciência médica e
farmacêutica mais do que qualquer outro homem, pois seu nome ainda é
associado à classe de farmacêuticos que produzem medicamentos por métodos
mecânicos aplicados diretamente a ingredientes vegetais e animais, os Galênicos;
e sua filosofia médica ainda persiste e constitui a base filosófica da medicina atual
(5,7).
A SEPARAÇÃO DA FARMÁCIA E DA MEDICINA
Na Idade Média, durante o florescimento da civilização Islâmica, surge a
Farmácia. Enquanto no Ocidente, a terapia racional utilizando drogas declinou
devido à influência da Igreja, que pregava a relação íntima entre sina e doença, os
conhecimentos médicos e farmacêuticos continuavam a se desenvolver na cultura
Islâmica nos nomes de Rhazes (860-932 d.C.) e Avicena (980-1063 d.C.). Com a
sofisticação da medicina oriental, a necessidade de se preparar substâncias mais
elaboradas e a influência árabe nos países europeus, farmácias públicas
começaram aparecer no Século XI. Contudo, foi somente em 1240, na Sicília e no
sul da Itália que a Farmácia separou-se da Medicina. Frederick II de
Hohenstaufen, Imperador da Alemanha bem como Rei da Sicília, viveu conectado
entre os mundos Ocidental e Oriental. Em seu palácio em Palermo ele apresentou
decreto
separando
completamente
as
responsabilidades
do
profissional
farmacêutico daquelas do médico, regulamentando ainda esta nova prática
profissional (5).
4
REVOLUÇÃO NA EDUCAÇÃO FARMACÊUTICA
A Renascença iluminou também novos conceitos para doença e drogas. No
entanto, mesmo com a regulamentação da prática farmacêutica, a intersecção dos
conhecimentos médicos, farmacêuticos e filosóficos permanecia na formação do
profissional de saúde. Philippus Aureolus Theophrastus Bombastus von
Hohenheim, o Paracelso (1493-1541 d.C.) é um exemplo disto. Estudou Química
na Universidade da Basiléia, mas se doutorou em Medicina na Itália. Opunha-se à
Medicina escolástica e às teses de Galeno e Avicena, achava que a Medicina e a
Farmácia deveriam se basear em leis físicas e químicas, utilizando-se da
observação e da experiência. Sua teoria médica era uma estranha mistura de
ciência com o sobrenatural, sendo considerado o Pai da Homeopatia, pois seus
remédios obedeciam ao princípio "igual por igual" (5).
No século XVI, a Química ocupou uma posição de vanguarda no ensino das
ciências farmacêuticas, permanecendo assim até o início do século XIX, quando
emergiu como uma outra profissão. Durante este mesmo período, a Farmácia deu
sua maior contribuição para a Ciência, bem como se tornou firmemente
estabelecida como uma profissão no continente europeu. Este foi o pontapé inicial
para
que
as
disciplinas
científicas
da
Farmácia
se
tornassem
mais
profissionalizantes em colégios, com o subseqüente declínio da "Ciência da venda
de medicamentos" (5).
Mesmo com a inclusão de outras áreas do conhecimento no ensino das
ciências farmacêuticas, como a Química, a Anatomia permaneceu como disciplina
básica na formação deste profissional. Isto ficou evidente quando, em l868, o Dr.
Albert B. Prescott lançou o curso de Farmácia na Universidade de Michigan,
despertando a atenção da crítica ao abandonar o currículo tradicional de
aprendizagem. Inseriu mudanças nesta proposta curricular incluindo as ciências
básicas e programas que exigiam atenção e tempo integral dos estudantes, como
a Farmácia Laboratorial. Devido a estes avanços, o curso de Michigan foi pioneiro
e o Dr. Prescott teve a satisfação de ver suas inovações revolucionárias adotadas
por várias Faculdades de Farmácia (4,5).
5
CONCLUSÃO
FARMÁCIA HOJE E AMANHÃ
A Farmácia, que possui uma das bagagens históricas mais antigas da
humanidade, assim como a Medicina, tem resistido a várias mudanças e se
adaptado às novas situações, alterando antigos hábitos. Quando o profissional de
hoje atende a uma prescrição médica, ele presta um serviço resultante do trabalho
de muitos farmacêuticos em todos os ramos da profissão - Educação, Pesquisa,
Desenvolvimento, Produção e Distribuição.
Com a perspectiva de ampliação do campo de trabalho do farmacêutico,
aumentando sua responsabilidade em relação à saúde do paciente, torna-se
necessária uma formação acadêmica ainda mais abrangente, o que de forma
alguma exclui o ensino de Anatomia. O perfil deste novo profissional generalista
resgata a figura do médico-farmacêutico da Antiguidade, para o qual o
conhecimento anatômico constituía a base de sua formação e saber.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Basmajian, J V. Anatomia de Grant. 10 ed. São Paulo: Manole, 1993. 683p.
2. D’Angelo, J G ; Fattini, C A. Anatomia Humana Sistêmica e Segmentar. 2 ed.
São Paulo: Atheneu, 2000. 363p.
3. Gardner, W D; Osburn, W A. Anatomia do Corpo Humano. 2 ed. São Paulo:
Atheneu, 1980. 571p.
4. Martin, E. W. Remington’s Pharmaceutical Sciences. Pensilvânia: MackPublishing, 1965.
5. History of Pharmacy in College of Pharmacy Home. Disponível em:
<http://www. pharmacy.wsu.edu> Acesso em: Abr. 2002.
6. Pharmacy: A look back at the past and a vision for the future. Disponível em:
<Http://www.psa.org.au> Acesso em: Abr. 2002.
7. História da Farmácia. Disponível em:
<Http://www.ufba.br/~euvelozo/historia.htm> Acesso em: Abr. 2002.
__________________
Endereços para correspondência:
Profª Ita de Oliveira e Silva
Faculdade de Farmácia do Planalto Central / União Educacional do Planalto Central
Campus II – Gama – DF
SIGA – Área Especial nº 2 – Setor Leste – CEP 72460-000
E-mail: [email protected]
Profª Nabiha H. S. Machado
Faculdade de Farmácia do Planalto Central / União Educacional do Planalto Central
Campus II – Gama – DF
SIGA – Área Especial nº 2 – Setor Leste – CEP 72460-000
E-mail: [email protected]