press - Cristina Guerra

Transcrição

press - Cristina Guerra
ZONA MACO 2011
ROSÂNGELA RENNÓ
Zona Maco Sur
Uyuni sutra, 2011
video monocanal, HDV / disco DVD NTSC, cor, som, 23’14’’
single channel video, HDV / DVD disc NTSC, colour, sound, 23’14’’
edição de vídeo e som | video and audio editing
animação | motion graphics Isabel Escobar
Lilian Gorini
Uyuni sutra, 2011
A palavra sutra, em sânscrito, significa, literalmente, ‘uma linha que mantém coisas unidas’; entretanto, também
se refere a um aforismo formado por uma sucessão de conceitos específicos que, quando unidos, geram um
saber filosófico ou moral.
Uyuni sutra foi idealizado e construído como uma alegoria da experiência da meditação, exercício cuja finalidade é interromper o fluxo do pensamento, esvaziando e aquietando a mente, como se ela se pudesse tornar um
lago sereno, sem ondas. No vídeo, a paisagem monótona da viagem realizada da margem do salar até a chegada
à Ilha Incahuasi, capturada de dentro de um carro, com a câmera na mão, foi transformada numa espécie de
exercício onde o espectador acompanha o esforço da artista em tentar manter, na horizontal e centralizada no
vídeo, a linha do horizonte do Uyuni, o maior salar do mundo, localizado na Bolívia.
A primeira tentativa falha em pouco mais do que 2 minutos. A segunda resulta em vários momentos bem sucedidos, nos quais aparece uma linha-guia verde, como as guias de programas de computação gráfica, aplicada
sobre a paisagem. O resultado visual do exercício, quando marcado pelo surgimento da linha-guia, situa-se entre
a estética dos videojogos e o layout dos painéis de controlo de avião que sofreu uma rotação de 90 graus, transformando o horizonte numa linha vertical. A linha-guia aparece mais espessa quando há o equilíbrio perfeito entre
as duas metades da imagem, a da direita ocupada pelo céu aparentemente imóvel e a da esquerda pelo sal que
se move constantemente: opostos unidos, harmonizados, apaziguados.
The Sanskrit word sutra means, literally, “a line that holds things together”; however, it refers also to an aphorism
formed by a succession of specific concepts which, when united, originate moral or philosophical knowledge.
Uyuni sutra was conceived and developed as an allegory of meditation, an exercise with the finality of interrupting the flow of thought, emptying and quieting the mind, as if it could become a serene, waveless lake. In
the video, the monotonous landscape seen on the trip from the shores of the Salar up to the arrival to Incahuasi
island, shot from the inside of a car with an handheld camera, was transformed into a kind of exercise where the
spectator follows the artist’s effort to keep, horizontal and centered on the shot, the horizon line of the Uyuni — the
largest salt flat in the world, located in Bolivia.
The first attempt fails in just over two minutes. The second attempt yields several successful moments, in which
a green ‘guide-line’ — like those used in graphic editing softwares — appears, applied onto the landscape. The
visual result of this exercise, upon the appearance of this guide-line, is somewhere between the aesthetic of
the videogame and the layout of an airplane control panel, been turned 90 degrees — the horizon becoming a
vertical line. The green guide-line becomes thicker only when there is perfect balance between the two halves of
the image: the right, taken up by the apparently still sky and the left, by the salt that moves constantly, as united,
harmonized, peaceful opposites.
Anuloma-viloma azteca, 2011
video monocanal, HDV / disco DVD NTSC, cor, som, 26’41’’
single channel video, HDV / DVD disc NTSC, colour, sound, 26’41’’
edição de vídeo | video editing
Isabel Escobar
edição de som | sound mixingAlexandre Hang, Drum Estúdio
Anuloma-viloma azteca, 2011
Anuloma-viloma é uma expressão em sânscrito que define o pranayama (controlo respiratório/energético) que
se vale do princípio da alternância da respiração pelas narinas esquerda e direita, cuja finalidade é equilibrar os
nossos lados esquerdo/lunar e direito/solar.
Anuloma-viloma azteca propõe uma alegoria do pranayama de mesmo nome, apresentando através da edição
não linear de imagens de vídeo captadas em Teotihuacán, zona arqueológica localizada no Estado do México
cujo nome, na língua Nahuatl, significa o ‘lugar daqueles que seguem a estrada dos deuses’.
A edição apresenta duas acções impossíveis de serem executadas no plano físico. Na primeira parte do vídeo, intitulada chandra (lua, em sânscrito), subir os degraus da Pirâmide da Lua para, em seguida, descer as escadarias
da Pirâmide do Sol, ambas localizadas na Avenida dos Mortos, em Teotihuacán. O ciclo deste ‘pranayama visual’
é completado pela segunda parte do vídeo, intitulada surya (sol, em sânscrito), ou seja: a subida até o topo da
Pirâmide do Sol seguida da descida dos degraus da Pirâmide da Lua. Ao subir e descer as pirâmides, ouve-se
o som da respiração ujjayi, sincopado e ruidoso, que auxilia tanto na resistência física, durante a acção longa e
cansativa, quanto na concentração, propiciando a meditação em movimento.
Anuloma-viloma is a Sanskrit expression that defines the pranayama (breath/energy control) that uses the principle of left and right nostril breath alternation, the finality of which is to balance one’s left/lunar and right/solar
sides.
Anuloma-viloma Azteca proposes an allegory of the pranayama of the same name, presenting, by means of
non-linear editing, images captured in Teotihuacán, famous archeological site located in the State of Mexico,
which name, in the Nahuatl language, means “the place of those who follow the road of the gods”. The edited
video presents two actions that are physically impossible to execute. In the first part of the video, titled chandra
(the Sanskrit word for moon), going up the stairs of the Pyramid of the Moon and, sequentially, going down the
stairs of the Pyramid of the Sun, both located on the Avenue of the Dead at Teotihuacán. The cycle of this ‘visual
pranaybama’ is completed by the second part of the video, titled surya (the Sanskrit word for sun); where we see
the climb to the top of the Pyramid of the Sun and the descent of the Pyramid of the Moon. As we go up and down
the pyramids, we hear the syncopated and noisy sound of ujjayi breathing, which aids both stamina — during this
long and strenuous action — and concentration — permitting meditation while moving.
Bouk [ring/loop], 2009
video monocanal, (realizado a partir de recolhas feitas na Ilha da Reunião, em Nov. de 2006),
DVD NTSC, cor, som, 111’
single channel video (single-channel video from shooting done at Reunion Island, Nov. 2006),
DVD disc NTSC, colour, sound, 111’
imagens de vídeo | video shooting
Rosângela Rennó
edição vídeo e som | video and sound editing Isabel Escobar
mistura de som a partir de canções de Daniel Waro, em língua crioula da Ilha da Reunião
sound mixed from songs by Daniel Waro, sung in Reunion Creole
Bouk [ring/loop], 2009
As imagens de vídeo foram capturadas na Ilha da Reunião — um departamento francês ultramarino, emerso no
meio do Oceano Índico — durante uma volta completa pela ilha, dentro de um carro, em 2006 e só foram editadas, no Brasil, três anos depois. A edição tardia representou uma volta àquela volta em torno da ilha, ao revés,
como se a ideia do retorno e sua eternização só fossem possíveis através do som e da imagem de trás para
frente, num loop sem fim.
As sequências de imagem foram estendidas e desaceleradas num tempo 3 vezes mais longo e posteriormente
cortadas e sobrepostas em 3 camadas, para conservar o tempo exacto de gravação. Cada camada de imagem
foi tonalizada com as cores básicas da tricromia de impressão (cyan, magenta e amarelo) e sua sobreposição
gerou uma imagem em movimento com uma improvável combinação de cinzas e brancos, imprecisos e fugazes.
No vídeo, a persistência do frágil ‘preto & branco’ parece sempre ameaçada quando uma das camadas desaparece, antes da introdução de uma nova terceira camada que restaura a falta da cor, num processo cromático que
parece desafiar as leis da imagem técnica.
O som quase mântrico obtido pela reversão das músicas de Daniel Waro, cantadas em língua crioula da Ilha da
Reunião, parece um lamento indecifrável que acompanha as imagens que resistem ao desaparecimento em ‘preto e branco’ — da mesma maneira que a língua crioula, na sua esperteza, sempre desafiou e resistiu à supremacia
da língua do conquistador. É nas ilhas (onde se suporia a aniquilação da língua do oprimido) que o ‘fenómeno
crioulo’ se manifesta e resiste, da mistura de fonemas e estruturas verbais, mas guardando a sua matriz original,
como uma possível mistura entre pretos e brancos.
The images used in the video were shot in 2006 at Reunion Island – a French overseas department in the Indian
Ocean – during a tour of the island from inside a car and edited in Brazil three years later. This late editing work
represents a return to that journey around the island, backwards, as if the idea of return and its perpetuation were
made possible only by reversing sound and image in an endless loop.
The image sequences were extended and slowed down to make them three times longer and then cut and
superimposed in three layers, in order to keep the original run time. Each image layer was toned with the three
subtractive colours of trichromatism (cyan, magenta and yellow) and their superimposing generated a moving
image with an unlikely combination of imprecise and fleeting greys and whites. In the video the persistence of
fragile black & white seems ever threatened when one of the layers disappears, before the insertion of a new,
third layer that restores the absence of colour, in a chromatic process that seems to challenge the fundamental
principles of technical imagery.
The almost mantric sound obtained by reversing the songs of Daniel Waro, sung in Reunion Creole, suggest an
undecipherable lament that accompanies the images, resisting the disappearance of black & white – much in the
same way that Creole, in its cunning, has always defied and resisted the supremacy of the conqueror’s language.
It is primarily in islands (where the annihilation of the oppressed language should be a near-certainty) that the
Creole phenomenon is manifest and resists still, from the mixing of phonemes and verbal structures, keeping its
original matrix, as a possibility of mixture of blacks and whites.
Per fumum — pela física quântica nós só temos o que construímos, 2010-2011
[Acção de queima das resinas, dentro de cada incensário] | [Action of burning the resins, inside the censers]
7 incensários e 7 potes contendo 8 resinas aromáticas (mirra, olíbano, mastique, estoraque, copal,
breu branco e benjoim do Sião + de Sumatra), sobre 7 mesas.
7 censers, 7 jars with 8 aromatic resins (myrrh, olibanum, mastic, storax, copal, Brazilian elemi, Siam + Sumatra benzoin), on 7 tables
Per fumum — pela física quântica nós só temos o que construímos, 2010-2011
Para queimar a resina aromática é preciso acender o carvão e colocá-lo sobre o recipiente refractário, dentro
do incensário. Segure uma pastilha de carvão com a pinça sobre a chama de um fósforo, isqueiro ou fogão até
que o carvão comece a faíscar (aprox. 8 segundos).
Após o acendimento completo (aprox. 1 minuto), coloque
uma pequena quantidade (1/4 colher de chá) de resina na cavidade do carvão. O incenso irá queimar/derreter
e libertar a sua intensa fragrância e fumo no ar por vários minutos. Remova os resíduos das cinzas com a pinça,
se achar necessário. Adicione mais resina e/ou repita a acção quantas vezes desejar. Quando terminar, deixe o
carvão no queimador até que esteja completamente apagado.
As resinas libertam notas e nuances de fragrância que só são possíveis de se obter nesta forma de utilização.
To burn aromatic resin it is necessary to light the charcoal and place it on the heat resistant bowl inside the
censer. With tongs, hold a charcoal tablet over the flame of a match, lighter or stove until the charcoal starts to
ignite (approx. 8 seconds). After lighting is complete (approx. 1 minute), place a small amount (1/4 teaspoon) of
resin in the cavity of the charcoal. The incense will burn/melt and release its intense fragrance and smoke into
the air for several minutes. Remove the residue of ash with the tongs, if necessary. Add more resin and/or repeat
the action as often as desired. When finished, leave the charcoal in the burner until it is completely extinguished.
Resins release notes and nuances of fragrance that can only be obtained in this way.
© Cristina Guerra Contemporary Art, 2011