Carta de protesto contra impunidade nos assassinatos de jornalistas
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Carta de protesto contra impunidade nos assassinatos de jornalistas
Excelência, Em nome dos jornalistas de (...) , representados pelo (...) , escrevo-vos para dar conta das nossas preocupações relativamente à impunidade em torno dos assassinatos de jornalistas e trabalhadores dos média no mundo inteiro. Solicitamos-lhe que apoie os nossos esforços ao nível das Nações Unidas, no sentido de apelar a todos os governos para que respeitem as suas obrigações de investigar os assassinatos de jornalistas e levar os culpados perante a justiça. Todos os anos, inúmeros jornalistas e trabalhadores dos média são mortos, a maior parte dos quais por terroristas e criminosos sem piedade. Segundo a Federação Internacional de Jornalistas, o ano passado foi um dos piores de que há memória: cerca de 150 jornalistas e trabalhadores dos média foram mortos, 89 dos quais por exercerem a sua profissão. Em diversos casos, não há infelizmente grande coisa a fazer, e nós apoiamos plenamente os esforços dos países democráticos para proteger os civis contra actos de violência cega. Mas acreditamos que é possível fazer mais para convencer os governos a agir, se a comunidade democrática mostrar o caminho a seguir. Nesta data, em que se assinala o terceiro aniversário do ataque ao Hotel Palestina, em Bagdade, pelas tropas norte-americanas, comemoramos um evento que se tornou o símbolo da impunidade em torno dos ataques contra jornalistas e trabalhadores dos média no Iraque e em todo o mundo. É lamentável que os próprios Estados Unidos não cumpram as suas obrigações de fazer justiça e assegurar um tratamento equitativo às vítimas de actos de violência cometidos pelos seus próprios soldados. O ataque contra o Hotel Palestina custou a vida a dois jornalistas, José Couso, da Telecinco (Espanha), e Taras Protsyuk, operador de câmara ucraniano ao serviço da Reuters. Na mesma manhã, as tropas norte-americanas atacaram os escritórios em Bagdade da cadeia Al-Jazira, matando o repórter Tareq Ayoub. Nenhum destes ataques foi objecto de um inquérito independente, e as mortes não foram explicadas de forma satisfatória aos familiares das vítimas, aos seus amigos e aos seus colegas. Recordamos também hoje os 18 outros jornalistas e trabalhadores dos média assassinados, depois de Março de 2003, por soldados norte-americanos. Em todos esses casos, familiares e amigos ainda não puderam fazer o luto devido porque esperam sempre que as autoridades efectuem uma investigação credível e enviem um relatório objectivo sobre o como e o porquê da morte de quem lhes era querido. Os relatórios fornecidos até ao momento pelos Estados Unidos sobre os seus assassinatos – em certos casos, nem sequer houve o mínimo inquérito – seguem todos a mesma lógica pouco convincente do segerdo sobre os pormenores e a natureza do relatório, a ausência do exame das provas, encolheres de ombros ridículos e cruelmente insensíveis e a exoneração completa da responsabilidade do pessoal militar norteamericano a todos os níveis de comando. Além da falta de credibilidade, tal constitui uma negação da justiça de dimensões chocantes. Aproveitamos igualmente esta ocasião para chamar a atenção sobre outros assassinatos ainda impunes – na Ucrânia, nas Filipinas e na América Latina – e dizer que pensamos que uma acção deve ser interposta ao nível das Nações Unidas, para forçar os governos a procurar e a julgar os assassinos. Hoje, o (...) associa-se a outros grupos de jornalistas do mundo inteiro para protestar contra a impunidade permanente que rodeia os assassinatos de trabalhadores dos média. Não compreendemos a incapacidade dos Estados Unidos, que sempre disse que as suas acções foram inspiradas pela defesa da democracia e dos direitos do homem, em diligenciar um inquérito eficaz e independente aos incidentes em que os seus soldados estão envolvidos. Juntamos em anexo uma lista de casos que devem ser examinados pelas autoridades norte-americanas. Estes devem ser todos alvo de um processo de investigação convincente que englobe um exame aprofundado das provas disponíveis e uma avaliação de todos os testemunhos. A cada ano que passa, morre um grande número de jornalistas às mãos de extremistas sanguinários com os quais é impossível alcançar um pacto moral. Condenamos sem reservas esses ataques e aqueles que se escondem atrás da vaga de sequestros de que fez parte a nossa camarada Jill Carroll, do “Christian Science Monitor” e de que ainda fazem parte dois jornalistas iraquianos, Rim Zeid e Marwan Khazaal, da Sumariya TV. Continuaremos a pugnar pela sua libertação e pela descoberta, detenção e condenação de todos os responsáveis por raptos de jornalistas. Com os mais sinceros cumprimentos.