Que rainha sois vós?

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Que rainha sois vós?
expediente
editoras
Adriana Brito [email protected]
Patrícia Favalle [email protected]
chefe de redação
Ariana Brink [email protected]
editor de estilo
expediente
sans nom
Ray Mendel [email protected]
lado a
editor de fotografia
lado b
Marcelo Guarnieri [email protected]
tratamento de imagem
Julia Rodrigues
Dom João de Orleans
Sarah Palin
ürbe
castelinho da Rua Apa
produtores
art
redação
prato feito
Helen Pessoa [email protected]
Sergio Martins [email protected]
Alex Mendes [email protected]
Daniel Froes [email protected]
pinceladas de Debret
banquetes
tour
estagiários
um passeio pelos banhos reais
designer visual
rainha de copas
Ana Luisa Linhares
Robson Lopes [email protected]
ilustrador
reinado de papel
disco fever
nos embalos de sábados
Orpheu Maia
colaboradores
Agência Fotosite, Caio Zalc, Cristiano Oiwane, Gabriela Jummes, Gustavo Scatena,
Joy Models, Julia Rodrigues, Instituto Moreira Sales, Monique Sandrelly, Patricia
Borges, Ricky Tofanello, Sandi Dias, Simone Coimbra, Taty Alves, Tita Berg
w w w . s t u d i ot o ro. com
O rei está nu!
A expressão acima, sacada do conto A Roupa Nova do Rei, de Hans Christian Andersen,
aborda questões comuns ao nosso cotidiano,
como o excesso de vaidade, o medo da opinião alheia e do quanto somos capazes de
ceder daquilo em que acreditamos pelo senso comum. Trata-se da história de um monarca viciado em moda, que passava o tempo
todo experimentando as vestimentas de seu
closet real. Um dia chega aos ouvidos palacianos, a notícia de que há dois tecelões na
cidade capazes de produzir roupas dotadas
de poderes especiais – “Invisíveis para qualquer pessoa que não tivesse as qualidades
necessárias para desempenhar suas funções
e também que fossem tolas ou presunçosas”.
O imperador os contrata e cede às exigências dos embusteiros, que roubam as linhas
e os tecidos e simulam costurar um conjunto completo. Com medo de parecerem tolos,
os membros da corte passam a afirmar que
nunca viram nada tão belo; mentira ratificada
pelo próprio rei, que teme ser indigno do trono. Encomendada para ser usada durante um
desfile, a tal indumentária invisível é colocada pelo mandatário que disfarça seu orgulho
pelo look inédito e sai às ruas, acreditando
ser o único a não enxergar o que lhe cobre o
corpo. Em meio à população petrificada com
o que vê, mas temerosa de assumir suas incompetências publicamente, um menino grita
com a sinceridade característica das crianças:
“O rei está nu!”. Diante de tantos escândalos
morais, dos príncipes de carne e osso que traduzem o melhor de Maquiavel e dos políticos
de meia pataca da governália mundial, a lição de Andersen sugere uma alternativa que
só poderia vir mesmo de um poeta do morro, onde a realidade se faz dura e necessária.
Diz aí Noel, como é mesmo? Ah, é... Com que
roupa eu vou?
sans nom
lado a
Por Patrícia Favalle Fotos Arquivo Dom João de Orleans e Bragança
Face real
Dom João é o tipo de homem
que faz qualquer plebeia suspirar.
Aos 57 anos, recém-divorciado,
com dois filhos adultos, o trineto
de Dom Pedro II, faz jus aos
sonhos das Cinderelas
Nascido no berço esplendido cantarolado nos versos do hino nacional, João Henrique de Orleans e
Bragança, o Dom João, foi educado para governar. Embora o Brasil viva sob a égide republicana desde
1889, quando o Marechal Deodoro da Fonseca tomou o controle em nome da tal democracia – ainda
que o próprio tenha sido acusado de centralizar o poder e até rabiscou a biografia com o fechamento do Congresso –, dizem por aí que “Quem é rei jamais perde a majestade”. Verdade que tem razão
de ser.
Mas antes de mergulhar nas Quintas imperiais, é preciso recordar trechos da história do Brasil e contextualizar os passos de Cabral em algumas linhas. Do descobrimento, em 1500, à vinda da família real
portuguesa, em 1808, há certo Napoleão pelo caminho. Não fosse a ganância expansionista do general
francês, Dom João VI e a comitiva jamais teriam deixado para trás a boa vida na corte – e eis que a pátria
tupinambá dos devoradores de gente finalmente ganhou roupas e hábitos refinados (ou quase).
Depois que o solo brasilis perdeu o status de colônia, foi graças ao jovem Dom Pedro I que aconteceu
a independência. Na linha de sucessão, contamos com a batuta de seu filho, Pedro II. E foi então que a
pátria deslanchou, pegando carona nos insights tecnológicos que pipocavam mundo afora. Porém, o
alto-comando brasuca estava muito mais interessado em experimentar as maravilhas do trono, mesmo
que se instituísse por aqui a ditadura. E seu Pedro tombou como o rei solitário do tabuleiro de xadrez.
Braços fortes
Na infância, Dom João aprendeu a primeira lição para um futuro rei: conhecer o povo de norte a sul
do País. Trocando em miúdos, isso significou partir para as brincadeiras no fundo do quintal em vez de
zanzar entre os Jet setters que aproveitavam Ibiza e Nova York. Enquanto os amigos viajavam para a
Disney, nos Estados Unidos, ele acampava entre as ocas do Xingu. Mas nem pensem que ele se importava, ao contrário, até gostava. “Foi assim que comecei a fotografar, talvez seja parte do meu DNA, já
que o meu triavô era um apaixonado por essa arte. Sou autodidata e faço isso há 35 anos como uma
Família imperial reunida no castelo d’Eu,
Normandia, França, 1918/ P. Gavelle
oportunidade de captar a realidade e entender melhor a vida. Sempre digo que o retrato te faz relembrar a história.”
Educadíssimo, moderado ao extremo – com pequenos sinais de exaltação diante da podridão da máquina pública e do endêmico vazamento de divisas –, o empresário do ramo de incorporação imobiliária avisa que foi instruído para “Servir o seu País e não se servir dele”.
Tai uma enorme diferença de interpretação: “O que falta às pessoas
é o entendimento do dever cívico. Sou favorável às monarquias parlamentaristas, como acontece na Inglaterra, no Japão e na Suécia,
apenas para citar algumas; mas é difícil que o Brasil experimente essa
estrutura novamente”.
O herdeiro do trono, salvo as disputas entre os ramos de Petrópolis
e de Vassouras (assunto para uma edição futura), não desgruda os
olhos da política na condição de observador e crítico. Uma tarefa
nada fácil, especialmente quando se coloca na balança o peso dos
122 anos de república, 36 presidentes e apenas 19 eleitos pelo voto
popular.
Dom Pedro II na abertura da Assembleia Geral, óleo sobre tela, 1872
Princesa Isabel e conde d’Eu no exílio, em 1919/ P. Gavelle
D. Pedro de Alcântara, d. Luís Maria e d.
Antônio Gastão, filhos da princesa Isabel e
do conde d’Eu, em 1905/ Anônimo
lado b
Por Adriana Brito e Patrícia Favalle Fotos Divulgação
Tirana à
moda antiga
Das terras geladas do Alasca para o calor
da cena política, Sarah Palin conquistou os
Estados Unidos com o tal “fogo no ventre”
Apertando os olhos e forçando a imaginação, houve quem enxergasse uma versão mais madura de um
dos bonecos G. I. Joe – a série de brinquedos inspirada nas unidades de elite do exército ianque –, no
candidato a presidência John McCain; ele próprio, ex-combatente da Guerra do Vietnã, preso e torturado. Ao seu lado no palanque republicano, uma mulher de traços jovens, curvas impressionantes, rosto
delicado e jeito de Barbie vestida, literalmente, para matar!
Uma dobradinha das mais inusitadas, e que por pouco não roubou a vez de Obama na Casa Branca. E
tudo por conta da ex-Miss Wasilla, cidade no sul do Alasca, que ganhou de pronto a atenção da mídia
e dos eleitores. Governadora do 49º Estado norte-americano – e também o menos populoso –, Sarah
Palin é o que se pode chamar de conservadora ultradireitista, com mentalidade ultrapassada e modelitos sacados de brechós locais.
Até aí, nenhum problema, até porque a moça saltou do quase anonimato para a categoria de superstar,
como anedota. E se os terninhos davam pinta de Jackie O., os óculos de aros quadrados e o coque no
alto da cabeça tratavam de encerrar outras delongas. Entretanto, por pouco o tiro não saiu pela culatra.
A articulação e o discurso carregado de nacionalismo, com direito a pose de “namoradinha do Rambo”,
logo a impulsionaram numa jornada solo.
Rainha de espadas
Antes confinada a uma das regiões mais inóspitas do globo, de
dimensões continentais e prosperidade financeira garantida pelo
petróleo descoberto no início
do século 20, Sarah foi alçada ao
posto de musa da campanha
presidencial, amada e odiada em
proporções idênticas, perdendo
somente para o bordão democrata “Yes, we can!”. Ao ser convidada por McCain para integrar
a chapa do Partido Republicano,
em 2008, talvez ela não tenha
imaginado a popularidade que
alcançaria.
Sangue plebeu
Nascida na cidade de Sandpoint,
em Idaho, mudou-se com os pais
para o antigo território russo
com menos de um ano de idade.
No currículo, coleciona diplomas
de bacharel em ciência e jornalismo, além de ser admirada como
padrão de esposa e de mãe de
cinco filhos.
Que rainha sois vós?
Dona de opiniões polêmicas, a
exemplo da oposição ferrenha ao
casamento gay e da defesa
da caça predatória e da pesca
indiscriminada [ela é integrante
da Associação Nacional do Rifle], a
aspirante ao título de Rainha
da Gafe, estreou na vida pública como conselheira de Wasilla. Depois, assumiu a prefeitura por dois mandatos
seguidos e foi eleita ao governo
em 2006. Neste período, ficou
conhecida por lutar pelo resgate
dos valores morais, reformulação
da educação, diminuição de impostos e conservação das reservas
de petrodólares.
Intempéries
Passado o furacão Palin, todos sobreviveram – inclusive ela, que mais descolada e habituada aos flashes do que nunca, tratou de turbinar o seu lado empreendedor. Lançou site, autobiografia e até
linha de produtos, que conta com balinhas mentoladas, minibonecas e paper dolls. No campo da
comunicação, estampou diferentes capas de revistas, caso da consagrada Newsweek, cuja chamada traz os dizeres sobre suas novas pretensões políticas: “I can win” (eu posso vencer!). Coisa
típica das meninas (mimadas e) superpoderosas.
Navegar é preciso:
www.sarahpac.com
ürbe
Por Caio Zalc Fotos Divulgação
Chic et de Sang
Castelo, comida e roupa lavada.
A trama de uma das famílias
mais poderosas de Saint-Paul,
que terminou em um mistério
ainda não desvendado
1. Introdução
Era uma a vez, há muito tempo (ou nem tanto), na pacata cidade de Saint-Paul, uma linda família: lady
Maria Cândida Guimarães Reis e seus dois filhos, messieurs Armando César dos Reis e Álvaro Reis. Eram
daqueles podres de ricos, bonitos, sabichões, vividos, advogados pela Saint-François. Viviam num daqueles casarões de morder o dedo de inveja (!), réplica perfeita de um castelo medieval, construído por
um arquiteto francês, salpicado de vitrais pintados por conhecidos pintores europeus, e com enorme
escadaria de mármore importado também daquelas bandas. Só o tapete mesmo era genuinamente
indiano, (afinal, francês não faz tapete!).
2. Apolo e Dionísio
M. Armando César era discreto, na dele, rapazola novo; enquanto M. Álvaro, ah, esse não parava quieto.
Era o boêmio, cercado pelas belles femmes. O cara de causar frisson! E exibido, sempre zanzava pela
Avenida Saint-Jean a bordo de seus patins ou de sua motocicleta, a primeira a circular pelas largas ruas
da cidade.
3. Tempos áureos
Não havia alguém da burguesia que não conhecesse os jantares e as festas da família de Reis. Os eventos semanais sugavam a
elite, era o que tinha de chique na época: musique, danse e vin. Precisava mais?
4. Décadence
M. Álvaro havia acabado de voltar de viagem, hipnotizado por uma ideia que não
lhe saía da cabeça: transformar o luxuoso cine Broadway, que pertencia à família,
num ringue de patinação no gelo. M. Armando César e lady Maria Cândida não
gostaram nem um pouco da ideia. As discussões se tornaram corriqueiras.
5. Xeque-mate
Num belo dia (não tão belo assim, dependendo do ponto de vista), Elza Lengfelder,
a governanta, foi surpreendida por tiros.
Desesperada, correu à rua na tentativa
de encontrar algum guarda a postos. Na
volta, surpresa nada agradável aos olhos:
havia três corpos estendidos entre o escritório e a sala principal. Eram de dona
Candinha, Armandinho e Álvaro.
Nota de rodapé
Uma única arma foi achada, e a mesma estava registrada no nome do rebento mais velho do clã. Nunca mais a
Rua Apa, nº 326, na esquina da brasileiríssima São João,
foi alegre de novo – na verdade, dizem que padece de almas penadas. Sem culpados e sem herdeiros, o espólio dos
nobres passou às mãos do Estado. Ali terminava (para sempre) um conto digno de ser creditado aos franceses.
art
Por Paula Queiroz Fotos Divulgação
Retalhos de história
Por não retratar apenas mais um país exótico, as imagens do Brasil pintadas pelo francês Debret atravessam gerações e perduram no tempo
Maior promessa da nova geração brasuca de estilistas, Pedro Lourenço, conhecido no backstage como
“Pedro, o Grande”, filho de Reinaldo Lourenço e de Gloria Coelho, escolheu como inspiração de sua
última coleção, dois pintores estrangeiros que retrataram o Brasil dos séculos 18 e 19.
Dos trabalhos do alemão Johann Moritz Rugendas e do francês Jean-Baptiste Debret surgiram as peças
que agitaram as passarelas fashion com a bossa brasiliana. Em plena odisseia futurista, palmeiras, araras
e tucanos desenhados por Lelli de Orleans e Bragança (olha a estampa real aí!), tingem os vestidos de
neoprene feitos de seda e os maiôs de modelagem retrô. Esse universo minimal baroque também fez
parte da coleção da Prada (verão 2011/2012), que fez clara referência ao hit “Yes, nós temos bananas!”.
Nessa mesma linha, a inspiração do jovem se debruçou na passagem de Debret pelo Brasil na transição
entre o período colonial e o Império – mudança poeticamente retratada pelo artista, que pintou, não
só a paisagem exótica da nova joia da coroa portuguesa, mas cada detalhe da cultura tupiniquim vista
por aqui. Nos croquis de Pedro estes matizes estão lá, traduzidos pelos vestidos quase republicanos,
sem espartilhos, mais decotados, com mangas curtas e bufantes, que aposentaram os modelitos acinturados, as saias rodadas e as perucas enormes.
Mas se não fosse a derrota do exército francês durante a Guerra dos Cem Dias, na Batalha de Waterloo,
em 1815, que sepultou a ganância napoleônica e obrigou muitos artistas plásticos, a exemplo do retratista Jean-Baptiste, na época, com 48 anos, a navegar por outros mares, o mundo talvez não achasse
graça nesta engenhosa mistura de cores e de costumes.
prato feito
Por Alex Mendes Fotos Divulgação
Sim, a gente
quer só comida!
Enquanto os políticos – a realeza eleita por nós – arrotam verdadeiros
banquetes bem nas nossas fuças, esticamos as mãos famintas para qualquer auxílio mata-fome e deixamos para pensar sempre depois do jantar
A verdade dói, mas não mais do que a fome. A verdade é que a gente não está nem aí pra diversão e
arte. A gente quer só comida. Esse é o refrão real. E se a fome você só conhece de nome – sorry (!), eu
não vou esconder o fato debaixo de um prato vazio. Trocando em miúdos, a gente não passa de um
saco que, vazio, não para em pé. É por essa necessidade tão óbvia que os nossos políticos são ainda
mais óbvios. Enquanto cuidamos do próprio umbigo, eles se encarregam de entreter os olhos da nação e, assim, podemos sorrir satisfeitos durante as intermináveis propagandas eleitorais. É a máxima
do Jeca alisar a barriga no momento em que eles – lá no Planalto – enchem os bolsos, meias e cuecas
com dinheiro desviado de obras públicas; porque a fome deles é outra, e ronca fora do estômago.
Muitos estão nos melhores lugares à mesa chamada Brasília, arrotando banquetes tirados da boca do
povo, sem sequer manusear os talheres. E foi ao redor desse balcão de negociatas que nasceu a bolsa
alimentação (ou família), que nada mais é que a colher do governo federal brincando de aviãozinho
com milhares de famintos. Assim também surgiu o restaurante popular, apelidado de “banquete real”
por cobrar apenas uma moedinha por um prato bem servido de mistura. E veio o sopão da noite fria e
a cesta básica do vizinho candidato a vereador... Assim nasceu um novo Brasil: um país paralisado pela
obesidade mental, que não sabe mais o que é ficar boquiaberto com a eructação fétida de vossas senhorias. Não há melhor forma para calar a boca do povo, senão com comida
ensaio
Gata-borralheira
Fotos Marcelo Guarnieri Styling Simone Coimbra Editor de Estilo Ray Mendel
Todo mundo pensa – ainda que de lampejo – ser dono de um pequeno reinado.
E já que o imaginário popular mobiliza tantas mentes insanas, os nobres saem
do papel para tomar forma real (no sentido mais concreto da palavra). Com
pompa e nada de circunstância, as damas da corte são agora as aspirantes ao
trono vago de Neverland. Há notícia melhor?
Tratamento de imagem Julia Rodrigues
Assistente de fotografia Ricky Tofanello
Cenário Patricia Borges
Modelos Gabriela Jummes e Monique Sandrelly / Joy Model
Agradecimentos Gustavo Scatena e Agência Fotosite
moda
Fotos Gustavo Scatena
Editor de Estilo Ray Mendel Produção Executiva Helen Pessoa
Disco fever
No principado de Piratininga, onde nobres e plebeus se fingem
pardos, a madrugada ganha brilhos de uma majestade única
Fotos Gustavo Scatena Editor de Estilo Ray Mendel
Por lá, o som das cantigas, atualmente sampleado nas batucadas
da house, da dance e do rock, serve de combustível para as performances de diferentes súditos. Numa expedição quase investigativa,
encontramos uma legítima representante das chamadas “divas
da noite”. Para o ensaio inspirado no tema desta edição – a monarquia – convidamos a hostess do StudioSP, Taty Alves, para
encarnar a elegância da realeza, na Lions Night Club. Afilhada do cantor Ney Matogrosso, a jovem de 34 anos convive com o
brilho dos palcos desde pequena. Ela conta que durante o período
em que sua mãe assinou os figurinos para o grupo Dzi Croquettes,
o mundo lhe parecia mais fantástico. No trabalho que desenvolve
há mais de uma década, é reconhecida pela eficiência e pela gentileza. “Acho errado essa associação que as pessoas fazem entre
a função da hostess e a antipatia. Ninguém sai de casa para ser
mal tratado.” Quando perguntada sobre o que mais lhe encanta no
circuito paulistano das baladas, a resposta vem rápida, sacada de
uma frase dos Dzi’s: “A diversidade, é claro. É como eles sempre
disseram – nem homem, nem mulher; gente”.
Produção de Moda Cristiano Oiwane e Ray Mendel
Agradecimentos Lions Night Club (www.lionsnightclub.com.br),
Taty Alves
tour
Por Daniel Froes fotos Divulgação
Banho na
realeza!
Em meio à reestruturação da cena política de um império transatlântico, a
monarquia lusitana parece não ter despendido muita preocupação à higiene
Assim como os orientais, os egípcios enxergavam no banho mais que uma simples maneira de se limpar; acreditavam
que a água era capaz de purificar a alma. Já na Roma antiga, as termas, espécie de precursoras dos spas de hoje, eram
grandes balneários públicos que abrigavam bibliotecas, jardins e até restaurantes. Se lavar representava também um
tributo de adoração à deusa Minerva. Na Idade Média, o tratamento conferido ao asseio do corpo era espiado com
ressalvas pelo clero, que (na bendita ignorância) acreditava que a abertura dos poros da pele deixava o homem suscetível às doenças. E por bom tempo, a humanidade tratou a limpeza íntima com vista grossa! É evidente, então, que
qualquer monarquia europeia tenha adotado tais costumes, o que causou muito mal estar, especialmente entre os
indianos e, claro, os tupinambás. Para ilustrar, vale citar quando por aqui a dinastia dos Orleans e Bragança colocou
os pés – um paraíso de temperatura nas alturas, que de tão quente, fazia os nativos andarem nus. Mas quem vinha da
corte era acostumado a “cobrir as vergonhas” com panos grossos e fétidos – e se espantou com tantos peladeiros. D.
João VI que o diga. O rei “fujão” detestava tomar banho e chegava a ficar semanas sem trocar de roupa (há menção
de um único banho conhecido do monarca). Para piorar, o Rio de Janeiro do século 18 sofria com problemas de saneamento básico, que de tão precário, funcionava graças ao leva e traz dos escravos “tigres”, os encarregados de transportar os dejetos da nobreza até as praias (ainda imaculadas) da orla carioca. Para o uso doméstico, a alternativa era
abastecer as tinas com o líquido que jorrava dos chafarizes ou caminhar até a cabeceira dos rios. Outra dificuldade era
a falta de água potável, que ameaçava a lisura do novo reinado. Grande parte das atividades relacionadas à limpeza
dava-se em ambientes externos às residências. Para os filhos da terra descoberta por Cabral, a ducha nos riachos era
preferida às jarras e gamelas rococós, enquanto do outro lado da colônia, por mais estranho que pareça, o senhoril
gostava das imersões (terapêuticas) no mar, mesmo local usados= como descarga natural de coliformes e afins. Eis a
real essência do Brasil varonil.
Referências
ALENCASTRO, Luiz Felipe de. “Vida privada e ordem privada no Império”. In: ALENCASTRO, Luiz Felipe de (org.). História Da Vida Privada No Brasil. 6ª edição, São Paulo: Companhia das Letras, 2002, vol. 2.
ALGRANTI, Leila Mezan. “Cotidiano e vida privada na América portuguesa”. In: SOUZA, Laura de Mello e (org.). História
Da Vida Privada No Brasil. 7ª edição, São Paulo: Companhia das Letras, 2002, vol. 1.
BUENO, Eduardo. Passado a Limpo. 1ª edição, São Paulo: Gabarito editorial, 2007.

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