29-04-2007 - Chico Ornellas

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29-04-2007 - Chico Ornellas
O DIÁRIO
MOGI DAS CRUZES, DOMINGO, 29 DE ABRIL DE 2007
C H I C O ORNELLAS
CADERNO A
[email protected]
DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE SÃO PAULO
CARTA A UM AMIGO
Uma certa garrafa de vinho... Perdida
Prezado Caio
Faz tempo, muito tempo.
Nem tanto a ponto de ter esquecido, mas o bastante para estar
nos escaninhos da memória.
Tempos atrás encontrei-me com
um cidadão alemão que, apesar
de ter vindo ao Brasil uma única e rápida vez em toda a vida,
dominava o português como
poucos brasileiros o fazem. Foi
na matriz de uma multinacional
alemã situada em Ludwigshafen, onde seus diretores cultuam com carinho uma adega de
23 mil garrafas. A instalação e
a competência no trato desse
acervo impressionou-me. A preocupação com a luz, a umidade,
a temperatura constante. Tudo
coisa de alemão.
Pois meus anfitriões perceberam de imediato meu entusiasmo. Perguntaram-me qual
minha preferência por vinho.
Naquelas terras de temperatura normalmente baixa não me
atreveria a optar por um tinto. 0
branco alemão mais conhecido
no Brasil são os leves, açucarados, esse vinho que faz muito
o gosto das mulheres, mas que
não desce para quem já está na
fase dos tintos encorpados. Disse-lhes que gostava dos brancos
secos, uma classificação que
os vinicultores das margens do
Reno vinham aprimorando. Vinícolas que eu havia divisado al-
garrafa na sacola de mão, envolta
em uma revista. Em Paris, na visita a Reali Júnior, jornalista que
mora por lá há mais de 30 anos e
que acabou famoso como pai de
Cristiane Reali, a atriz de conceito mundial, contei-lhe de meus
cuidados com o presente alemão.
Ele concordou que aquilo era
uma preciosidade.
No último dia de Paris, combinamos um jantar com Marielza e
seu marido americano. Marielza
é uma jornalista brasileira. Trabalhamos juntos no Estadão por
muitos anos. Até que ela, premiada com uma bolsa de estudos da
Reuters, mudou-se para Londres
e iniciou uma carreira internacional. Passou pelos Estados Unidos
e Itália. Estava na França acompanhando o marido, escritor que redigia um livro para uma fundação
norte-americana. Marielza, a esse
SEM GOSTO O sorriso escondia um lamento: até hoje não se sabe o gosto daquele precioso branco alemão.tempo, escrevia reportagens especiais para o Estadão.
guns anos antes entre Frankfurt de nosso país", disse-me ele em despachada. Com ela fui a HeilAchei que seria simpático lee Marinheim.
seu inglês londrino.
delberg, a Baden Baden e a Ro- var o vinho alemão para o jantar.
0 amigo que perguntara-me
Apanhei a garrafa e pedi-lhe temburg. Com elafiqueiquatro
Havíamos combinado ojantar
sobre preferências, pediu-me que me traduzisse o rótulo, escri- horas no aeroporto de Frankfurt em um telefonema ainda do Braque o acompanhasse. Entra- to em alemão. Era uma produção esperando o vôo da Lufthansa sil. Quando confirmei o enconmos por uma galeria da adega especial e restrita, com selo de ga- para Madri.
tro, já em Paris, ela passou-me a
e fomos bater em um canto. As rantia e indicações de temperatuQuando cheguei á Madri e senha do portão de seu prédio.
fichas de registro estavam ama- ra para servir. Agradeci.
encontrei-me com minha esposa Não havia porteiro e era preciso
reladas; as garrafas na horizonpara
definir o roteiro dos próxi- digitar os números no painel de
A partir dali aquela garrafa
tal tinham um ângulo de queda mereceu toda a minha atenção. mos 20 dias pela Espanha, Por- entrada, para liberar o acesso. 0
por igual. Apanhou uma garrafa Nas viagens que se seguiram ela tugal, França e Itália, de pronto prédio era um edifício típico de
e me deu. "É um presente que esteve sempre envolta em uma contei-lhe do presente e de meus Paris. Construído nofinaldo séoferecemos com muito gosto a revista. Na bagagem de mão. Não cuidados.
culo 19. Número digitado, porta
um apreciador das boas coisas me atreveria a deixá-la na mala
Fomos de trem para Paris. A aberta, procuramos o elevador.
Deveria ter sido instalado há
mais de 20 anos. Nele cabia uma
pessoa gorda Ou duas longe disso. Subimos ao terceiro andar.
Abraçados. Não havia espaço. E o
elevador não tinha porta. 0 apartamento de Marielza e do marido
estava aberto. Entramos. 0 norteamericano cumprimentou-nos
num português abaixo do sofrível
e pediu desculpas para assistir ao
final de umfilmena TV. Marielza
estava se arrumando.
Ficamos ali sentados sem dizer
palavra. 0 vinho alemão do lado.
Marielza chegou logo e ofilmeterminou rápido. Passei-lhes o vinho
no início da conversa. 0 marido,
de quem não consigo lembrar o
nome, perguntou-me se ele não
seriamelhor gelado. Foi então que
disse-lhe um "sim" inesquecível.
Antes não o tivesse pronunciado.
Imediatamente o americano
levantou-se com a garrafa e voltou
um minuto depois. Havia enchido
de gelo um recipiente de vidro. As
pedras boiavam no alemão seco
do Reno. Aquele de uma produção especial e restrita, com selo
de garantia e indicações de temperatura para servir.
Saímos uma hora depois para
jantar em um restaurante grego.
Até hoje desconheço o sabor
daquele vinho.
Grande abraço do
Chico
Ser m o g i a n o é . . . .
MOGI DE A A Z
Landell de Moura, antes de Marconi
Há personalidades que passaram por Mogi das Cruzes e foram
absolutamente esquecidas. Com
exceção de uma rua no Bairro do
Socorro, esta Cidade ignora por
completo a figura do padre Roberto Landell de Moura, pároco de
Santana no século 19.
Há tempos pediaum estudioso
das telecomunicações brasileiras,
o jornalista Ethevaldo Siqueira,
que traçasse o perfil de padre Landell de Moura:
?
Ethevaldo Siqueira
0 Brasil tem figuras extraordinárias no campo das telecomunicações. Entre elas, está Roberto
Landell de Moura, o padre gaúcho que conhecia eletricidade e
que, em 1893 e 1894, fazia experiências tão avançadas quanto
as que Marconi só iria fazer dois
anos depois. Landell merece que
a história das telecomunicações
, lhe faça justiça. Seu trabalho, sua
genialidade e, particularmente
seu sofrimento ante à incompreensão que cercou seus inventos
estão narrados num livro do teatrólogo Ernani Fornari: "0 incrível padre Landell de Moura".
Roberto Landell de Moura
nasceu em Porto Alegre a i de janeiro de I86L Estudou no colégio
dos Jesuítas. Sempre gostou tanto
da Ciência quanto da Religião.
Ordenou-se sacerdote em 1886,
na capital do Rio Grande do Sul,
depois de ter estudado por alguns
anos na Escola Politécnica do Rio
de Janeiro, onde aprendeu física
e desenvolveu seus primeiros estudos sobre a "Unidade de forças
físicas e aharmoniado Universo".
Transferido de Porto Alegre
para São Paulo em 1892, o padre
Landell de Moura foi pároco em
Campinas e em Mogi das Cruzes.
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Na capital paulista fez suas expe- Mas esses papéis, reunidos no de Guerra, no Rio de Janeiro,
riências extraordinárias, conse- livro de Ernani Fornari, são larga- mas não foi levado a sério. Conguindo: em 1893, transmitir sinais mente suficientes para comprovar ta-se que, quando um auxiliar
e sons musicais a uma distância de que suas idéias chegaram a ser do Presidente Rodrigues Alves
oito quilômetros, entre a Avenida efetivamente mais avançadas do lhe perguntou a que distância
Paulista e o alto de Santana, num que as de qualquer outro inventor queria que os naviosficassemda
sistema de telefonia semfios.E, ou cientista de sua época. Landell costa, para a realização das expena realidade, como provam seus de Moura, fugindo à incompreen- riências, o padre lhe respondeu
desenhos e esquemas, foi ele o são, viajou para os Estados Unidos : "A quantas milhas quiser, pois
verdadeiro inventor da válvula de em 1901, onde passou a enfrentar meus aparelhos podem funciotrês pólos, ou triodo, com a qual numerosas outras dificuldades, nar a qualquer distância e poera possível modular uma cor- inclusive econômicas. No entanto, derão servir, no futuro, para corente elétrica e transmiti-la, sem arquivou no Serviço de Patentes municações interplanetárias". 0
fios, a longas distâncias. 0 mundo dos Estados Unidos (U.S. Patent pedido foi arquivado, sob a aleconhece, no entanto, atribui ao Office) três inventos originais para gação de que a "Marinha tinha
engenheiro norte-americano Lee "um transmissor de ondas", um coisa mais importante a fazer do
DeForestainvenção da válvula elè- tipo especial de telégrafo sem fios que se submeter a experiências
e outro de um modelo pioneiro de padres malucos."
trônica (triodo).
0 mais triste em toda a histó- de telefone semfios- os quais gaEra muita ciência para a
ria de Landell de Moura é que a nharam as patentes de números época.
incompreensão de seus contem- 77i-9i7 775-337e 775-846.
Em homenagem à memória
porâneos, em lugar da glória, lhe
Voltando ao Brasil, ainda desse pioneiro ilustre, a Telebrás
trouxe oridículoe a perseguição. não encontrou apoio entre os rebatizou seu CPqD, em Campi- PIONEIRO Landell de Moura,
Chamavam-no "lunático, louco, seus conterrâneos. Tentou fazer nas (SP), com o nome de Centro de pioneiro das comunicações no
bruxo e diabólico". Nem os seus a demonstração de seus equipa- Pesquisae Desenvolvimento Padre Brasil, também pároco em Mogi
superiores religiosos foram ca- mentos em navios da Marinha Roberto Landell de Moura.
das Cruzes.
pazes de apoiá-lo e chegaram a
proibi-lo de continuar com suas
"estranhas manias de inventar
aparelhos elétricos e de tentar
transmitir a voz à distância".
Os professores Nilo Ruschel e
Homero Simon, do Departamento
de Engenharia da PUC referiramse as descobertas do padre Landell de Moura de forma incisiva e
entusiástica:"E impressionante
como esse homem vivia adiante de
sua época. Há afirmações em suas
patentes relacionadas com o moderno sistema de microondas. E
uma combinação exata da rede de
telefonia - que já era bem desenvolvida nofinaldo século passado
- com as ondas hertzianas, o que é
completamente original."
Lugares inesquecíveis LICEU BRAZ CUBAS - Ficou ali pouco mais de 20 anos, entre a
Narealidade, há poucos docu- fundação (1940) e a transferência para o prédio da Rua Francisco Franco (1963). Mas, do tempo em
mentos sobre os trabalhos cientí- que funcionou, o prédio do Liceu Braz Cubas na Rua Isabel de Bragança deixou muitas e boas
ficos do padre Landell de Moura. lembranças para quem o freqüentou. (Foto Arquivo Municipal).
?
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Ser m o g i a n o é . . . .
ter visto Therezinha
B r a n d ã o cantar
" C a r i n h o s o " no
programa Cidade
contra C i d a d e
em que Mogi das
C r u z e s disputou
com - e venceu
- Campinas.
0 MELHOR DE MOGI
A biquinha no início
da Rua São João. Já
não está mais lá. Era
um marco na Cidade,
quase a nossa Lagoa do
Abaeté. Acabou. Mas
vale a lembrança.
O PIOR DE MOGI
Aviso aos descasados:
vamos combinar uma
coisa - em respeito aos
filhos e a si próprios,
nunca se discutirá a
relação em público;
menos ainda pela
imprensa.