A inserção internacional de Kosovo por intermédio do Futebol

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A inserção internacional de Kosovo por intermédio do Futebol
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A inserção internacional de Kosovo por intermédio do Futebol
Author : Mario Joplin - Colaborador Voluntário
Categories : ESPORTE, NOTAS ANALÍTICAS
Date : 19 de março de 2014
Com o fim da “Guerra Fria” e a consequente implosão e fragmentação de alguns países, tais como as
antigas URSS, Iugoslávia e Tchecoslováquia, novos Estados, oriundos do processo de fragmentação
supramencionado, se originam e passam a constituir a nova ordem mundial que reina no pós Guerra
Fria, na qual a tendência à multipolaridade e a interdependência se mostram como características
principais. Assim, da antiga implosão da Iugoslávia surgem Bósnia-Herzegovina, Croácia,
Eslovênia, Macedônia, Montenegro e Sérvia, Estados que, atualmente, gozam de reconhecimento
internacional e são membros da ONU, da FIFA e do COI de forma irrestrita. Contudo, o processo de
formação de novos Estados na “Província dos Bálcãs” ainda tinha mais um capítulo a ser escrito, o que
ocorre em fevereiro de 2008, quando, após sangrentos conflitos com a Sérvia, Kosovo se declara
independente desta e se assume como um novo Estado no sistema internacional, tendo Pristina como
capital.
Cabe ressaltar, entretanto, que por não gozar de pleno reconhecimento na comunidade internacional
(Rússia, China, Sérvia e Brasil, por exemplo, não reconhecem a independência de Kosovo) e não ser
membro da ONU, Kosovo sofre graves restrições no universo esportivo, não sendo membro do COI e
tendo seu pedido de filiação à FIFA recusado, o que impede a seleção nacional de futebol de realizar
jogos ou participar de competições internacionais, muito embora haja Estados que não são membros da
ONU, mas fazem parte da FIFA (Palestina e Escócia, por exemplo), haja vista que a ONU possui 193
afiliados contra 209 da FIFA.
Importante realçar, neste contexto, a visão de Pascal Boniface, diretor do “Instituto de Relações
Internacionais e Estratégicas Francês” (“IRIS France”), segundo a qual à definição clássica de Estado
– calcada no trinômio território, população e governo – poder-se-ia acrescentar mais um elemento
bastante pertinente: uma seleção nacional de futebol. Ainda segundo Boniface, em nosso tempo a
independência nacional se caracteriza pela capacidade de um país em defender suas fronteiras, de emitir
moeda e de disputar jogos internacionais, de forma que uma das primeiras manifestações destes novos
Estados é pleitear adesão à FIFA[1]. Desde então, Kosovo vem buscando legitimidade internacional,
sobretudo por intermédio do esporte, mas tem sofrido inúmeras represálias por parte de alguns países
(Rússia, por exemplo) que nega a entrada de esportistas com passaporte kosovar em seus respectivos
territórios. Entretanto, após inúmeras pressões, inclusive um pedido formal por parte de futebolistas
kosovares que atuam em tradicionais equipes europeias, a FIFA autorizou, em janeiro do ano corrente, a
seleção masculina kosovar de futebol a disputar amistosos internacionais, o que, segundo analistas, pode
ser o primeiro passo rumo ao pleno reconhecimento e aceitação do país na FIFA.
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Assim, em
5 de março de 2014, Kosovo disputou seu primeiro amistoso internacional, contra a
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seleção do Haiti, em partida realizada em Mitrovica (Kosovo), fato este que foi de grande significado
para o novo Estado. Em que pese a autorização concedida pela FIFA para realização da partida, uma vez
que Kosovo não faz parte da UEFA, proibiu-se expressamente a utilização de quaisquer símbolos
nacionais (bandeiras, flâmulas, camisas) que fossem representativos do país. Isto, porém, não impediu
que os cerca de 17 mil ingressos colocados à venda se esgotassem em quatro horas, nem que os
kosovares exaltassem um sentimento patriótico acentuado, ou seja, a tese apregoada por vários
estudiosos de que o futebol propicia um sentimento de identidade nacional bastante forte, como se uma
comunidade imaginada de milhões de habitantes fosse representada por 11 (onze) indivíduos.
Presentes no evento, Eroll Salihu, secretário-geral da “Federação Kosovar de Futebol” (FFK) – que
vem engendrando, por cerca de seis anos, intensa campanha para que Kosovo seja aceito como
membro da FIFA – e Fadil Vokrri, presidente da FFK, apontaram que, apesar de o país já ter obtido o
reconhecimento de 23 dos 28 Estados da “União Europeia” (UE), ser membro do “Banco Mundial” e ter
sido aceito como afiliado em outras federações esportivas (Judô, por exemplo), o caminho para plena
aceitação na FIFA tem sido bastante tortuoso, pois é sempre obstaculizado por Sérvia e Rússia, que se
opõem veemente à afiliação de Kosovo, e, inclusive, pelo próprio presidente da UEFA, o ex-jogador
francês Michel Platini.
Ainda de acordo com os membros da FFK, o impasse é acentuadamente político e relacionado com a
não aceitação de que Kosovo seja um país livre e isso se mostra na medida em que, enquanto o
regulamento da FIFA afirma que para filiação à entidade o Estado necessita ser reconhecido como
soberano pela comunidade internacional, o da UEFA afirma que para ser membro desta o Estado
precisa, antes de tudo, ser membro da ONU, posição defendida tanto por Rússia e Sérvia.
Por fim, cumpre registrar a visão de Jérôme Champagne, ex-diplomata francês e conselheiro da FFK,
que também estava presente quando da partida entre “Kosovo x Haiti”. De acordo com este, que encara
o futebol como um agente de reconciliação nos Balcãs, foi por demais justa a autorização dada pela
FIFA para que Kosovo pudesse disputar amistosos internacionais e isto pode vir a ser útil para unir
futebolistas kosovares que hoje atuam em clubes europeus, mas que, não podendo atuar por Kosovo, se
inserem em outras seleções nacionais como a da Suíça, caso este vivido pelos jogadores Xherdan
Shaquiri, do “Bayern de Munique”, e de Valon Behrami, atleta do Napoli.
----------------------------Imagem “Federação Kosovar de Futebol” (Fonte):
http://globoesporte.globo.com/futebol/futebol-internacional/noticia/2014/03/sonho-de-jogar-kosovo-brigapor-reconhecimento-na-fifa-e-na-uefa.html
----------------------------Fontes Consultadas:
[1] Ver:
BONIFACE, P. Football & Mondialisation. Paris. Armand Colin, 2010.
----------------------------Ver também:
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http://www.theguardian.com/football/blog/2014/mar/04/kosovo-international-football-debut-haiti-friendly
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Ver também:
www.fifa.com
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