Fotofobia - De caso com a medicina, por Cristina Almeida

Transcrição

Fotofobia - De caso com a medicina, por Cristina Almeida
osintoma
por cristina almeida
Para decifrar os sinais que o corpo manda
Pode ser astigmatismo
Trata-se de um defeito de refração no olho, cujo foco se dá
em duas posições diferentes, provocando o embaçamento
da visão. Mudanças na córnea e no cristalino distorcem
as estruturas oculares e causam o distúrbio. São
também fatores desencadeantes: alterações anatômicas
normais, problemas genéticos e processos cicatriciais.
O diagnóstico prevê exame de refração (o típico exame
para óculos), estudo de imagens da superfície ocular
(topografia corneana), ou do olho (ultrassom), além
de exame biomicroscópico com lâmpada de fenda,
aparelho que avalia as estruturas e camadas do órgão. O
tratamento requer o uso de óculos ou lentes de contato.
Graus mais avançados exigem o uso de lentes siliconadas
ou fluorcarbonadas; nas distorções severas, a solução
pode ser a cirurgia. Não há prevenção para esses casos,
exceção feita à ceratocone, doença corneana na qual o
paciente, ao coçar os olhos, pode agravar o problema,
desencadeando o aumento do astigmatismo.
A úvea é formada pela íris (diafragma
do olho), pelo corpo ciliar (responsável
pela acomodação e sustentação do
cristalino e produção do humor aquoso)
e coroide (tecido de sustentação da
retina). A uveíte é a inflamação de
uma das camadas do globo ocular,
e suas causas podem ter origem
infecciosa (toxoplasmose) ou autoimune
(reumatismo). Exame clínico, com
o auxílio de aparelhos capazes de
identificar a inflamação na câmara
anterior do olho, na cavidade vítrea, bem
como sinais inflamatórios na íris e na
coroide, facilita o diagnóstico. Quando
ela é infecciosa, o tratamento prevê o
uso de antimicrobianos específicos para
cada tipo de agente. Drogas antivirais,
bacterianas, fúngicas ou parasitárias;
e anti-inflamatórios (esteroides);
tópicos oculares ou sistêmicos,
também podem ser úteis. A prevenção
é difícil, nesses casos, mas pessoas
com infecção sistêmica (sífilis ou
reumatismo) podem desenvolver a
doença. Daí a necessidade de um exame
oftalmológico, para evitar complicações.
...ou uma conjuntivite
Essa inflamação acomete a conjuntiva e tem como causa infecções,
doenças autoimunes (alergia e olho seco), traumas ou intoxicação.
Neste último caso, o problema se dá pela exposição a agentes
irritantes, que podem ser colírios ou produtos químicos. Para realizar
o diagnóstico, o médico avalia o histórico e examina o olho do
paciente com a lâmpada de fenda. Exames laboratoriais raramente
são solicitados, e o tratamento dependerá do tipo de infecção. Se
for viral, compressas de água gelada e uso de anti-inflamatórios não
hormonais são indicados; para as bacterianas, são receitados colírios
antibióticos; para as alérgicas, a conduta é usar estabilizantes de
células envolvidas no processo alérgico, bem como bloqueadores de
histamina, substância química causadora da coceira.
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De olho nos pequenos
Em crianças, este sinal requer maior
atenção, pois elas podem não ser capazes
de reclamar da dor ou da baixa visão.
Recém-nascidos com fotofobia podem ser
portadores de glaucoma congênito, e nesses
casos o tratamento deve ser imediato. Nas
artrites reumatoides juvenis, a fotofobia pode ser
o único sinal da doença. O sintoma é, também,
indício de traumas oculares (acidentais ou
propositais) que os pequenos deixam de relatar,
por medo ou incapacidade de se expressarem.
... talvez, até
uma enxaqueca...
ilustração: airon
A intolerância à luz se manifesta na forma
de desconforto, dor e lacrimejamento,
obrigando a pessoa a fechar os olhos
Quem sabe
é uveíte?!
consultoria: denise de freitas, oftalmologista, professora adjunta livre-docente e chefe do departamento de oftalmologia da universidade
federal de são paulo (unifesp); abouch valenty krymchantowski, neurologista e professor da universidade federal fluminense (uff).
Fotofobia
Várias áreas cerebrais entram em ação
em situações de fortes dores de cabeça,
provocando o aumento da sensibilidade
a estímulos visuais, olfativos e auditivos.
Por isso, ao ouvir o histórico do paciente,
o médico poderá confirmar a suspeita
de que a fotofobia se relaciona à
enxaqueca. Como é impossível
dissociar o sintoma da dor de cabeça,
não há tratamento específico, e é
preciso cuidar do incômodo. Pode
acontecer de algumas pessoas serem
fotofóbicas fora das crises. A razão
para isso está ligada a disfunções nos
neurotransmissores envolvidos na doença.
Apesar disso, a prevenção eficaz das
crises ajuda a melhorar a fotofobia. Os
medicamentos usados para esse fim são
os betabloqueadores, antidepressivos
tricíclicos, neuromoduladores etc.
Outra indicação é sempre usar óculos
escuros, para proteger-se da claridade.
Para os que têm fotofobia somente
durante as crises, a conjunção de
triptano e anti-inflamatório é a forma
mais eficaz de se aplacar o sintoma.
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Uso de medicamentos
O uso de determinadas drogas e medicamentos
(anfetaminas, cocaína, anti-histamínicos,
anticonvulsivantes e analgésicos) pode desencadear
ou exacerbar a fotofobia, pois estes são causadores
da midríase (dilatação das pupilas), o que permite
maior entrada de luz no olho. Para fazer o
diagnóstico, o oftalmologista deve ouvir a história
do paciente e indagar sobre o uso de algum desses
remédios. Uma vez constatada a dilatação da pupila
e confirmado o uso da medicação que sabidamente
causa esse efeito, a solução é rever a dose, ou
descontinuar o seu uso, caso seja possível.
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