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ESPECIAL
MOTOS E ÁLCOOL
No começo, tudo era fácil.
O percurso chegava a ser rídiculo para um
piloto experiente como o Serginho
Uma linha estreita, um slalon e dois oitos.
Simples no começo mas um bicho-papão
depois de 3 doses de whisky
Você
bebe?
Se você bebe e pilota uma moto,
você é um completo idiota!
texto: E. Zampieri/fotos: R. Agresti
M!
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H
á dois anos, apesar de a
situação ser dramática e delicada, nos divertimos quando
lemos uma matéria numa edição
da SOLOMOTO espanhola: uma
reportagem sobre a influência do
álcool nos condutores de motos. Na
ocasião o piloto escolhido foi Albert
Escoda – principal piloto de provas
da revista. O teste, realizado com
extrema segurança, contou com um
pequeno trajeto demarcado por cones, uma moto de pequena cilindrada
e um oficial da polícia munido de um
bafômetro. Também estava presente
o personagem principal da matéria, o
álcool, representado por boas doses
de rum.
A equipe de MOTO!, aproveitando
a atual situação do País, no qual está
em evidência a conhecida lei seca,
resolveu refazer o teste em terras
copo e pedras de gelo também não
foi nenhum bicho de sete cabeças.
Fácil mesmo foi dizer ao Serginho
Augustus Pénajaca que ele seria o
escolhido para a missão: nosso repórter-foca jamais poderia perder a
oportunidade de passar uma manhã
se deliciando – sem pagar um tostão
– de boas doses de um legítimo 12
anos…
brasileiras – seguindo os nossos parâmetros legais, que preveem desde
aplicar uma “multinha” de R$ 950,00,
até levá-lo preso em flagrante para
uma cela, por 6 meses…
Escolher o lugar adequado não
foi difícil: alocamos o CETH (Centro
de Educação de Trânsito Honda),
localizado na cidade de Indaiatuba,
SP. Lá teríamos espaço suficiente, os
cones e a moto. Conseguir whisky,
O TESTE - O desafio seria bem
básico, muito parecido com o trajeto de SOLOMOTO, que também é
semelhante ao utilizado na maioria
das auto - escolas brasileiras. O
piloto deveria arrancar, enfrentar
uma linha estreita formada por duas
fileiras de cones, fazer uma curva
de 180º, percorrer um pequeno
slalon, completar dois “8” (em três
cones que formavam um triângulo),
M!
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O Piloto
Nome: Sergio Augustus
Idade: 44
Altura: 1,72 m
Peso: 89 kg
Nosso crash test dummy é um piloto experiente que conhece tudo do mercado
de motos no Brasil e até competiu na
fórmula RD 350 e CBR 450 na década
de 90. Hoje ele tem uma Honda XR
250 Tornado e confessa que nunca
bebe antes pilotá-la. Portanto, ela
fica a maior parte do tempo parada!
A Moto
Nome: Honda CG 150 Titan 2009
Idade: 0 km
Altura: 1,09 m
Peso: 119 kg na versão ESD
A última geração da Honda CG 150 Titan vem com injeção eletrônica e muitas
outras modificações que a deixaram
ainda mais fácil de pilotar. É uma moto
sem segredos, qualquer sóbrio a pilota
com muita facilidade
O bafômetro
Nome: Intoximeters Inc.
Idade: Menos de um ano
Aferido: 27/08/2008
Peso: 700 gramas
O bafômetro e a impressora utilizados
nesse teste foram cedidos, exclusivamente para esse teste, pela Polícia
Militar. E tudo foi acompanhado por um
oficial, uma ambulância e um médico.
O aparelho é um Intoximeter da série
848C, que só tinha feito 185 testes antes
da nossa matéria
encarar um circuito estreito e frear
exatamente na linha de chegada,
onde um cone simulava uma pessoa
parada. Antes de beber uma gota
de álcool sequer, Serginho testou o
circuito e se adaptou à moto, uma
Honda CG 150 Titan zerinho. Ele
tinha apenas tomado café da manhã
às 7:00 hs. Serginho fez o percurso
várias vezes, decorou-o de tal forma
que poderia fazer o mesmo de olhos
fechados.
A ideia era medir no bafômetro a
quantidade de miligramas de álcool
por litro de sangue no corpo de nosso
“pinguço” antes de tomar o whisky,
fazer ele dar uma volta na pista e
avaliar seu comportamento. Depois,
torturá-lo com uma dose da água
que passarinho não bebe, esperar
M!
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O QUE ACONTECEU - Depois de
20 minutos de ingerida a primeira
dose, Serginho enfrentou o circuito
novamente e não pareceu muito
alterado, fez o trajeto com muito
cuidado e bem devagar. Percebemos
que ele estava morrendo de medo
de errar e que estava prestando
muito mais atenção do que faria
normalmente. Nada grave, porém
o bafômetro indicou 0,14 ms de
álcool, já passível de multa e a impossibilidade de continuar dirigindo.
Apenas uma dose de whisky já fez
isso com nosso tester.
Como a festa ainda estava meio
sem graça – apesar da multa – Serginho teve a árdua missão de tomar
mais uma dose. Com copo cheio
e gelo, às 11:00 hs da manhã ele
estava se sentindo no paraíso e já
começava a repetir inúmeras vezes:
“Num tô sentindo nada!”.
Serginho esperou 20 minutos após
a segunda dose e partiu para a sua
segunda volta oficial. Ele não errou o
trajeto e nem derrubou nenhum cone,
20 minutos e avaliar como ele faria
a segunda volta. Na sequência mediríamos novamente para saber quanto
uma dose é capaz de te fu....
Óbvio que, no maior estilo “Caçadores de Mitos”, queríamos embebedar o gorozeiro até ele fazer uma
grande mer.... Claro, sempre com
muitos profi ssionais e especialistas
à sua volta, para que ao final da
reportagem pudéssemos levá-lo pra
casa a salvo…
A LEI - Segundo o Código Nacional
de Trânsito, de 0,00 ms/litro até 0,13
ms/litro o motorista está liberado para
continuar a viagem. De 0,14 ms/litro
até 0,33 ms/litro ele será multado
(950 reais) e uma pessoa habilitada,
que não ingeriu álcool, deverá levar
Olha a felicidade do sr. Wilson Yasuda tendo
que aguentar o mala do Serginho…
mas fez a volta como se estivesse se
qualificando para uma corrida. Parou
e repetiu: “Num tô sentindo nada!”.
Com um pouco mais de dificuldade, ele assoprou no bafômetro e
a indicação foi de 0,35 ms. Esperamos mais 30 minutos para o efeito
do álcool fazer ainda mais efeito e,
sem esforço algum, Serginho teve de
enfrentar o desafio de tomar mais
uma dose. Logo depois de ingerida
a terceira dose, fizemos um teste
imediato apenas para ver o que o
bafômetro acusaria: passou de 100
ms. O Serginho iria pedir para enquadrar a impressão para colocá-la
na parede de casa, como troféu…
Se 0,35 ms literalmente dá cadeia,
imagine o que fariam 169 ms de
álcool por litro de sangue no corpo?
Serginho, com o boné de lado, chamando os sr.Wilson Yasuda (gerente
de competições da Honda) de minha
gueixa e vendo 3 CG 150, partiu para
a terceira volta.
Ele saiu arrancando como se
fosse o Valentino Rossi, fez a curva
em alta velocidade e, no momento
de fazer o slalon, não sabia se era
para a esquerda ou para a direita.
Fez 4 vezes o oito, sempre olhando
para a gente com a aquela cara de
cachorro que fez xixi na sala. Pôs
o pé no chão e balançou um cone.
Quando parou, o bafômetro indicou
0,43 ms – tudo isso com apenas 3
doses de whisky. Moral da história?
A lei está certíssima, se for beber
não pilote, se for pilotar não beba.
Pense no que vale sua habilitação,
sua liberdade e até sua vida!
Oº DIA DO BEBUM
10:40
Começa o teste. Serginho literalmente dá uma baforada
sem beber e o aparelho faz a
leitura de 0,00 ms de álcool
no seu sangue. Depois ele
sai para a primeira volta; obviamente, nada de incomum
acontece
FOTO: Q. CALDAS
BOX
o veículo. Caso o bafômetro indique
um número acima de 0,34 ms/litro
de álcool no sangue, o piloto será
encaminhado diretamente para uma
delegacia e preso em flagrante. A
carteira de habilitação e a moto ficarão retidos e a dor-de-cabeça para
limpar a barra será muito maior do
que a da ressaca do dia seguinte. Se
o infrator estiver sendo atuado pela
segunda vez pelo mesmo motivo,
poderá ficar até 6 meses vendo o sol
nascer quadrado…
11:15
11:35
Serginho termina de tomar
a segunda dose. Preocupadíssimo em não errar, fez a
volta com mais velocidade.
Disse pela milésima vez que
não estava sentindo nada,
apesar de o bafômetro indicar
0,35 ms de álcool. Com esse
índice, a carteira e a moto já
teria sido apreendida
11::55
Serginho já começa a babar
quando vê nosso editor Roberto Agresti preparando a
terceira dose de um legítimo
12 anos
12:30
Com 3 doses de Whisky, o
aparelho chegou a marcar
169 ms de álcool no corpo de
Serginho. Mas depois de um
tempo o índice caiu e, com
0,43 ms, ele espera um pouco
e sai para a terceira volta
12:50
Pensando que é o Valentino
Rossi, ele sai arrancando na
terceira volta, erra o slalon,
põe o pé no chão, se perde
e, mesmo assim, não parava
de afirmar que não estava
sentindo nada. Mas a cara
dele o entregava: era melhor
ficar quieto para não piorar a
situação…
Serginho sai para a segunda
volta depois de ter bebido
uma dose de whisky. Ele
não errou o trajeto, mas foi
extremamente lento em sua
volta. Declarou estar super
preocupado em não errar.
O bafômetro indicou 0,14 ms
de álcool, fato que já é passível de multa (950 reais) e da
necessidade de uma outra
pessoa conduzir a moto
M!
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