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ISSN 2316-2872
T.I.S. São Carlos, v. 4, n. 1, p. 59-67, jan-abr 2015
©Tecnologias, Infraestrutura e Software
Estudo da aplicação de Aspectos da Gestão do
Conhecimento no Desenvolvimento Ágil de
Software
Leonardo Pereira Pinheiro de Souza, Fabiano Cutigi Ferrari
Resumo: O presente artigo relata a integração entre a metodologia Scrum e a Gestão do Conhecimento (GC). Sendo que tempo e
produtividade são fatores críticos, propõe-se práticas para estabelecer a GC com mínima interferência no fluxo de trabalho e a baixo custo.
Justifica-se a pesquisa pelo fato de as metodologias ágeis não trabalharem adequadamente o saber nos projetos de software. Os procedimentos
utilizados incluíram: a aplicação de questionário para prospecção do conhecimento, captação do mesmo por vídeos e artigos, bem como uso de
questionário para avaliação do sucesso do estudo. Portanto, verificou-se que, com as estratégias adequadas e motivação, é possível incrementar
o compartilhamento de conhecimento entre os programadores.
Palavras-Chave: Gestão do Conhecimento, Scrum, Externalização de Conhecimento
Application ofKnowledge Management Aspects in Software Agile Development
Abstract: This paper reports the integration between the Scrum methodology and the Knowledge Management (KM). Whereas time and
productivity are critical, the study proposed to establish the KM practices with minimal interference in the workflow and with low cost. This
research is justified by the fact that agile methodologies do not deal properly with learning in software projects. The procedures included the
use ofa questionnaire to survey the knowledge, knowledge capture by videos and articles, as well as a questionnaire to evaluate the success of
the study. Therefore, the study found that, with the appropriate strategies and motivation, it is possible to increase knowledge sharing among
programmers.
Keywords: Knowledge Management, Scrum, Knowledge Externalization
I. INTRODUÇÃO
Conforme Aurum, Daneshgar e Ward (2008), a
complexidade do trabalho em projetos de Engenharia de
Software resulta em forte dependência do conhecimento. Esse
conhecimento, porém, é muitas vezes compartilhado apenas
informalmente. Kavitha e Ahmed (2011) afirmam que grande
parte do saber de uma organização reside apenas nos cérebros
dos colaboradores. Segundo os autores, não armazenar o saber
pode causar um impacto sensível no momento em que
membros experientes deixam a empresa.
Aurum, Daneshgar e Ward (2008) asseguram que a
aplicação da Gestão do Conhecimento (GC) na Engenharia de
Software ajuda aos desenvolvedores a aprenderem com a
experiência de projetos anteriores, melhorando a eficiência ao
reduzir o retrabalho. No contexto das metodologias ágeis para
desenvolvimento de software, a aplicação da GC supre a
lacuna que essas metodologias têm por não contemplarem o
conhecimento explícito, conforme observado por Kavitha e
Ahmed (2011). Em relação à metodologia Scrum, Kniberg e
Skarin (2009) consideram que ela é pouco prescritiva e pode
convenientemente incorporar ferramentas e conceitos
complementares.
O presente estudo visa, portanto, demonstrar a utilização da
GC em um projeto de desenvolvimento de software,
apresentando práticas e tecnologias que permitem diminuir
custos em termos de tempo e recursos financeiros. A
experiência realizada objetiva ainda uma integração suave
entre a metodologia ágil Scrum e a formalização de
conhecimentos, interferindo minimamente no fluxo normal de
trabalho. As conclusões obtidas deste estudo, executado em
um contexto educacional, presume-se que podem ser
generalizadas para uso em empresas reais.
Os procedimentos utilizados consistiram, inicialmente, no
emprego de questionários para identificar os conhecimentos
dos programadores, bem como suas necessidades em termos
de conhecimento. Posteriormente, capturaram-se os
conhecimentos identificados através da elaboração de artigos
e gravação de vídeos, submetendo o material resultante a um
repositório. Por fim, o sucesso do experimento foi inferido
através de questionários sobre a utilização do repositório.
O restante deste artigo está organizado da seguinte
maneira: na Seção 2 são apresentados os trabalhos
relacionados, sendo feita uma análise crítica dos mesmos. Na
Seção 3 é exposto o embasamento teórico. Nessa seção
discorre-se sobre as fases da GC, bem como aspectos das
metodologias ágeis. A Seção 4 apresenta a caracterização do
Departamento de Computação - Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)
Caixa Postal 676 – 13.565-905 – São Carlos – SP – Brasil
Autor para correspondência: : [email protected], [email protected]
Leonardo Pereira Pinheiro de Souza, Fabiano Cutigi Ferrari
objeto de pesquisa, os procedimentos metodológicos e
ferramentas utilizadas. A Seção 5 relata a implantação da GC
e os resultados obtidos. Por fim, a Seção 6 apresenta a
conclusão e sugestões de trabalhos futuros.
2. TRABALHOS RELACIONADOS
Muitos estudos já foram publicados sobre a GC no âmbito
da Administração de Empresas. Pesquisadores da área de
Computação, todavia, têm também estudado o potencial da
GC para apoiar a Engenharia de Software, tanto nas
metodologias de desenvolvimento tradicionais, quanto nas
ágeis.
Na perspectiva de Aurum, Daneshgar e Ward (2008), os
processos de desenvolvimento de software fazem uso intenso
de conhecimentos, tanto tácitos, ou pessoais, quanto
explícitos, ou formalizados. Esse conhecimento em projetos
de software é composto por: “[…] documentos, processos,
práticas, tecnologias e artefatos de projeto1 ” (KAVITHA;
AHMED, 2011, p. 1). Conforme Cohn et al. (2003 apud
COSTA FILHO, 2006), embora para as metodologias ágeis,
ter um software funcional seja mais importante que uma
documentação abrangente, registrar o conhecimento é algo
positivo. Kavitha e Ahmed (2011) afirmam que as
metodologias ágeis costumam trabalhar bem o conhecimento
tácito, transmitido de pessoa a pessoa. A lacuna dessas
metodologias se encontra, ainda na visão dos autores, na
explicitação desse saber, que é melhor trabalhada nas
metodologias tradicionais. Há cinco principais problemas
decorrentes de não se armazenar o conhecimento em projetos
de software:
Especialistas gastam muito tempo em responder
repetidamente às mesmas perguntas; membros da
equipe encontram-se em situações em que eles sabem
que já tiveram um certo problema antes, mas não se
lembram a sua solução; o conhecimento é perdido
assim que os desenvolvedores experientes deixam o
projeto ou empresa; a comunicação informal não pode
servir como um registro; menos suporte para
reutilização; menos contribuição para o conhecimento
organizacional2 (KAVITHA; AHMED, 2011, p. 2).
Na metodologia Scrum pode haver dois momentos mais
propícios para o intercâmbio de saberes: a reunião de revisão
da iteração e a reunião de retrospectiva da iteração. A reunião
de revisão da iteração, conforme Swaber e Beedle (2002,
apud COSTA FILHO, 2006) é a reunião onde a equipe de
desenvolvimento apresenta o produto incremental de seu
trabalho ao cliente, gerência e dono do produto, encerrando a
iteração atual. Ainda segundo os autores, na reunião de
retrospectiva da iteração, o mestre Scrum, a equipe e o
proprietário do produto verificam o resultado da última
iteração e o que pode ser melhorado. Por conseguinte,
Disterer (2002 apud ARUM; DANESHGAR; WARD, 2008)
afirma que o momento de fechamento das etapas de um
projeto é bastante adequado para discutir, expressar opiniões
________________________________
1 Tradução dos autores deste artigo.
2 Tradução dos autores deste artigo.
T.I.S. 2015; 4 (1): 59-67
e extrair conhecimentos da equipe.
A) Barreiras para a Implantação da GC no Desenvolvimento
de Software
Há três aspectos que precisam ser tratados com cuidado
para não se tornarem impedimentos para a implantação da
GC: o tempo, os custos e a resistência dos colaboradores. No
que diz respeito aos custos envolvidos, principalmente em
relação à conversão do saber tácito em explícito, pode-se
destacar: “[...] o custo para realização de reuniões e,
potencialmente, os custos de viagens associados, o repositório
onde o conhecimento é mantido, e a manutenção e suporte
deste repositório3 ” (STEVENS; HSU; ZHU, 2012, p. 11).
Os custos apresentados são, em realidade, um investimento
para a empresa. De acordo com Stevens, Hsu e Zhu (2012), os
custos para registrar conhecimento, visando seu reúso, são
menores que os custos de sua perda. Em relação ao fator
tempo, produzir um artigo ou tutorial para ser compartilhado
pode ser uma tarefa demorada. Todavia, os autores
supracitados alegam que o tempo empregado em capturar o
saber pode ser menor que o tempo gasto em recriar o
conhecimento do início.
Ruggles (1998, apud STEVENS; HSU; ZHU, 2012) afirma
que a mudança comportamental é outra dificuldade a ser
debelada para o estabelecimento da GC. Betz, Oberweis e
Stephan (2014), relatam o caso de uma empresa de software
onde os membros obtinham e guardavam conhecimento
apenas para si, para conseguirem vantagens sobre seus
colegas. Casey e Richardson (2008 apud BETZ; OBERWEIS;
STEPHAN, 2014) apontam que este comportamento ocorre
com os colaboradores por terem insegurança quanto à
permanência em seus empregos. Segundo Gupta (2008, apud
STEVENS; HSU; ZHU, 2012), para que os colaboradores se
sintam seguros em disseminar o que sabem, deve haver um
clima de abertura e confiança, e estes devem ser
conscientizados dos benefícios mútuos da partilha (de ensinar
e também aprender com outros).
B) Análise Crítica dos Trabalhos Relacionados
É relevante tratar dos trabalhos relacionados em relação aos
pontos em que convergem e divergem entre si e com o
presente estudo. Aurum, Daneshgar e Ward (2008), Betz;
Oberweis e Stephan (2014), Stevens, Hsu e Zhu (2012), bem
como de Kaviha e Ahmed (2011), expõem uma preocupação
com o registro da experiência pessoal, ou saber tácito. Outro
ponto salientado unanimemente é a relevância do
compartilhamento do conhecimento.
Aurum, Daneshgar e Ward (2008), Betz, Oberweis e
Stephan (2014), Stevens, Hsu e Zhu (2012) enfatizam os
aspectos humanos da GC na Engenharia de Software:
liderança, cultura, aprendizagem, compartilhamento e
consumo de conhecimento. Kavitha e Ahmed (2011), no
entanto, focam no aspecto tecnológico como base do
framework que propõem. Gutierrez (2008), todavia, discorda
que uma abordagem puramente tecnológica possa alcançar o
______________________________________
3 Tradução dos autores deste artigo.
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Estudo da aplicação de Aspectos da Gestão do Conhecimento no Desenvolvimento Ágil de Software
seleciona proprietário do produto e equipe de
desenvolvimento;
•
Equipe Scrum: desenvolve o software e
participa da criação da lista de tarefas.
Conforme Nonaka e Takeuchi (2008), equipes autoorganizadas, como a do Scrum, têm papel importante na
produção do conhecimento. O diálogo e mesmo as
divergências que podem ocorrer no grupo “levam os
indivíduos a questionarem as premissas existentes e a
buscarem novos sentidos em suas experiências” (NONAKA,
TAKEUCHI, 2008, p. 26).
sucesso. De fato, Aurum, Daneshgar e Ward (2008) mostram
que, sem uma metodologia bem definida, a GC fracassará. O
presente estudo busca, portanto, trabalhar os aspectos
humanos juntamente com os tecnológicos.
O incentivo para participação no programa de GC é uma
questão fundamental, que também é discutida por alguns
autores. Stevens, Hsu e Zhu (2012) expõem um modo de
captação de conhecimento através de uma rígida
documentação de projeto, que implica na participação
obrigatória na GC. Além dessa abordagem conflitar com a
filosofia ágil, ela não considera o aspecto motivacional.
Contudo, o presente estudo busca trabalhar o aspecto da
motivação para incentivar a partilha do saber, como proposto
por Betz, Oberweis e Stephan (2014).
A) O Conhecimento e Seu Papel nas Organizações
Conhecimento pode ser compreendido simplesmente como
o saber que reside em um ser humano. De acordo com
Gutierrez (2008), este saber nasce através da assimilação da
informação e está impregnado de um repertório de vivências
e experiências pessoais. O conhecimento descrito é
classificado como tácito, conforme Nonaka e Takeuchi
(2008). Este saber é subjetivo, de difícil externalização,
tendo dependência de um mediador humano para sua
difusão.
Nonaka e Takeuchi (2008) mencionam ainda o
conhecimento explícito, que pode ser mais facilmente
externalizado, estando sob a forma de documentos e meios
correlatos. Por conseguinte, a conversão do saber tácito para
o explícito se dá de uma maneira cíclica, a qual os autores
acima citados chamam de espiral do conhecimento. Para
Laudon e Laudon (2010), cada organização possui um
conhecimento empresarial único, que é aplicável apenas em
seu contexto. Na visão dos autores, trabalhar o conhecimento
interno resulta em vantagem competitiva.
A GC tem por finalidade justamente auxiliar a organização
a aproveitar o máximo de seu capital intelectual, visando
atingir seus objetivos. A GC trabalha, portanto, o saber único
produzido no contexto da empresa, de alto valor estratégico:
A Gestão do Conhecimento pode ser entendida
como a disciplina que se encarrega do estudo, do
projeto e implantação de sistemas cujo principal
objetivo é identificar, capturar e compartilhar
sistematicamente o conhecimento contido em uma
organização, de forma que este possa ser
transformado em valor para ela4 (GUTIERREZ,
2008, p. 25, 26).
III. REFERENCIAL TEÓRICO
De acordo com Sommerville (2007), as metodologias ágeis
surgiram para tornar a produção de sistemas mais dinâmica,
adequando-se às constantes mudanças no contexto dos
negócios. Como afirma o autor, as metodologias tradicionais
dispendem muito tempo com a documentação do projeto.
Outro problema referente às metodologias não ágeis, ainda na
visão do autor, é o fato de que a mudança nos requisitos do
sistema se torna difícil. Portanto, segundo Sommerville
(2007), as metodologias ágeis propõem: participação do
cliente no processo de desenvolvimento; entrega incremental
de artefatos de software; adaptação rápida às mudanças de
requisitos; dentre outras características.
A metodologia ágil Scrum nasceu a partir do trabalho de
Nonaka e Takeuchi (1986 apud SUTHERLAND, 2011),
autores que também ofereceram importantes contribuições
para o desenvolvimento da GC. Conforme Sutherland (2011),
a metodologia mencionada foi idealizada não apenas para a
criação de sistemas para computadores, mas para ser aplicada
a qualquer situação de gestão de projetos. Assim, como
afirma o autor, as regras do Scrum determinam que haja uma
equipe pequena, interdisciplinar e auto-organizada.
Segundo Schwaber e Beedle (2002, apud COSTA FILHO,
2006), a metodologia Scrum caracteriza-se por um conjunto
de diretrizes: listas das tarefas a serem executadas no projeto
e durante cada iteração; estimativa de esforços para cada
tarefa; reuniões realizadas entre a equipe, e entre equipe e
parte interessada; definição de papéis a serem desempenhados
pelos envolvidos no projeto. É relevante ressaltar que a
duração das iterações deve ser curta, de duas a quatro
semanas. Assim, os autores supracitados descrevem uma
listagem dos papéis no Scrum:
•
Mestre Scrum: membro que lidera o projeto,
garantindo que as regras da metodologia sejam
cumpridas e ajudando a manter o foco da equipe;
•
Proprietário do produto: cuida da lista de
tarefas que serão executadas, podendo conceder
permissão para alterar a prioridade das mesmas;
•
Cliente: define a prioridade de
implementação dos requisitos de projeto e participa de
reuniões para validação do produto das iterações;
•
Gerência: toma as decisões críticas e
Como concretizar a Gestão do Conhecimento
Gutierrez (2008) cita que apenas utilizar algum software
que armazene e distribua informações não é suficiente para
implantar a GC. Na perspectiva do autor, a cultura
organizacional, a estratégia, o conteúdo do conhecimento, os
processos e o fator humano são os pilares dessa gestão. Nas
empresas de desenvolvimento de software, fomentar uma
cultura favorável e criar um contexto aberto para novas ideias,
são fatores essenciais para o sucesso da GC, segundo Aurum,
Daneshgar e Ward (2008).
_________________________________
4Tradução dos autores deste artigo.
61
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Leonardo Pereira Pinheiro de Souza, Fabiano Cutigi Ferrari
Segundo Gutierrez (2008), a estratégia neste programa de
gestão deve ter um objetivo claro e esse objetivo deve estar
em harmonia com os anseios da organização. Embora o autor
afirme que não há uma metodologia específica para gerir o
conhecimento, há práticas comuns que já obtiveram sucesso.
O autor divide o processo nas fases de análise, projeto e
implantação.
Fases de Implantação da Gestão do Conhecimento.
Conforme Gutierrez (2008), na fase de análise,
inicialmente, a auditoria do conhecimento faz uma prospecção
sobre o que a organização necessita neste sentido. É relevante
indagar aos colaboradores quais são as necessidades de
conhecimento para a realização de seu trabalho. Segundo o
autor, a validação da necessidade real de saber é feita ao
considerar as metas da organização e seus fatores críticos de
sucesso. Estes fatores são as atividades a serem realizadas
para o alcance dos objetivos.
Nessa fase é necessária a elaboração do mapa do
conhecimento. Esse mapa, conforme Gutierrez (2008), é uma
representação do saber na organização, quem o detém e onde
encontrá-lo. A produção desse mapa pode ser automatizada
pelos chamados sistemas de rede de conhecimento. De acordo
com Laudon e Laudon (2010), os sistemas mencionados
mantém uma lista de especialistas na empresa, armazenando
soluções criadas por eles, bem como respostas às perguntas
mais frequentes sobre suas respectivas áreas. Concluída a fase
de análise, pode-se prosseguir para o planejamento.
O primeiro passo da fase de planejamento é a gestão de
conteúdos cognitivos, no qual Gutierrez (2008) menciona, o
conhecimento dos colaboradores é documentado e avaliado
quanto à sua relevância. O autor aconselha que,
periodicamente, este conhecimento seja atualizado ou então
descartado. Tendo em vista que os documentos gerados devem
ser disponibilizados em um sistema documental, é necessário
ponderar sobre como armazenar os mesmos. Existem várias
ferramentas gratuitas para uso na GC, as quais são tratadas na
Seção 3.1.3.
Nessa fase é preciso também definir que papel cada
colaborador irá desempenhar na comunidade de GC. Essa
comunidade compreende os colaboradores de diversas
formações que se dedicarão total ou parcialmente à
implantação do programa de GC, como explica Gutierrez
(2008). Embora haja uma sugestão de papéis, o autor deixa
claro que a empresa pode defini-los da maneira que for mais
conveniente. Esta equipe é composta por um diretor de Gestão
do Conhecimento, alguns gerentes do conhecimento, conselho
editorial e suporte. Na definição do autor, cabe ao diretor
planejar, implementar e supervisionar a execução do
programa, provendo incentivo à sua equipe.
Na fase de implantação, com a equipe definida, a Gestão do
Conhecimento deve ser aplicada em pequena escala, por meio
de um programa piloto. Por fim, se os resultados obtidos são
avaliados como positivos, a GC poderá ser estabelecida em
caráter definitivo, recomenda Gutierrez.
3. 1. 3 Ferramentas de apoio à Gestão do Conhecimento
T.I.S. 2015; 4 (1): 59-67
Outro aspecto da fase de implantação é o desenvolvimento
das ferramentas tecnológicas. Segundo Gutierrez (2008) as
tecnologias de apoio à GC são classificadas como parciais e
integradoras. Conforme o autor, tecnologias parciais são
aquelas que auxiliam na gestão do saber, embora não tenham
sido criadas para este fim. As integradoras são as que
auxiliam a GC de modo global, sendo elas: a intranet,
sistemas de gestão de conteúdo, internet, entre outras.
Como afirmam Laudon e Laudon (2010), dentre um vasto
número de ferramentas gratuitas para compartilhamento do
saber, se destacam as wikis que são páginas na internet que
permitem a elaboração de artigos podendo ser editados
facilmente, possibilitando a participação conjunta de várias
pessoas. “As wikis são as ferramentas ideais para
armazenamento e compartilhamento do conhecimento e das
reflexões da empresa” (LAUDON; LAUDON, 2010, p. 55).
Um exemplo de sucesso no emprego das wikis, segundo os
autores, é a Intel Corporation5 , onde suas páginas sobre
Engenharia de Software são muito utilizadas pelos
colaboradores.
Laudon e Laudon (2010) observam a tendência de a wiki
sobrepujar outros sitemas de GC em virtude de seu menor
custo e dinamicidade de atualização de conteúdo. Em relação
ao fator custo, existem várias opções gratuitas para a empresa.
O Google Sites6, exemplificando, possibilita a criação de
páginas web sem custos e oferece os recursos necessários à
elaboração de uma wiki. Como medida de privacidade, podese determinar quem pode ter acesso ao conteúdo ou mesmo
modificá-lo.
IV. METODOLOGIA
A presente pesquisa é definida como um estudo de caso
com enfoque qualitativo. Este trabalho objetivou demonstrar
práticas e ferramentas que possibilitam a inserção da GC no
contexto da metodologia Scrum. Buscou-se ainda a
minimização dos fatores de risco da GC, sendo eles o tempo e
os custos. A minimização de custos foi garantida pelo fato de
terem sido utilizadas apenas ferramentas gratuitas. A
economia de tempo foi proporcionada pela captura de
conhecimentos em formato de vídeo.
Para concretizar os objetivos, na primeira etapa da fase
inicial, utilizou-se um questionário, visando identificar as
habilidades dos programadores que desenvolveram o projeto
de software estudado. O questionário permitiu também a
identificação das necessidades de conhecimento existentes.
Na segunda fase, promoveu-se a captação dos conhecimentos
através da elaboração de artigos e da análise de vídeos das
atividades do projeto, utilizando a ferramenta ELAN7. O
material
obtido foi posteriormente disponibilizado em uma
_______________________________________
5 Disponível em:
<http://www.intel.com/content/www/us/en/companyoverview/company overview.html>. Accesso em: 08. dez.
2014.
6 Disponível em: <Disponível em: https://sites.google.com/>.
Acesso em: 01. jul. 2014.
7 Disponível em: <http://tla.mpi.nl/tools/tla-tools/elan/>.
Acesso em: 01. jul. 2014.
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Estudo da aplicação de Aspectos da Gestão do Conhecimento no Desenvolvimento Ágil de Software
A ferramenta ELAN, desenvolvida para pesquisas na área
de linguística, permite a inserção de anotações para análise de
vídeo e áudio (MAX PLANCK INSTITUTE FOR
PSYCHOLINGUISTICS, 2014). Justifica-se a escolha da
ferramenta pela sua facilidade de uso, pela compatibilidade
com vários sistemas operacionais e gratuidade.
Conforme Max Planck Institute for Psycholinguistics
(2014), as anotações na ferramenta ELAN são organizadas em
tiers (trilhas) de assuntos, como pode ser visto na Figura 1. Na
ferramenta, as tiers estão dispostas na timeline (linha de
tempo). Escolhida uma trilha e selecionando um intervalo de
tempo, pode-se escrever comentários sobre aquele trecho do
arquivo. Terminadas as anotações, é possível exportá-las em
vários formatos, incluindo HTML (Hipertext Markup
Language – Linguagem de Marcação de Hipertexto). No
momento da exportação, pode-se optar por exibir mais
informações úteis como: o tempo na mídia onde cada
anotação ocorre, nome dos participantes, dentre outras. A
ferramenta possui ainda uma funcionalidade de sincronização,
que permite a análise simultânea de arquivos relacionados.
wiki8 criada com o Google Sites.
A) Caracterização do Objeto de Pesquisa
O estudo realizado tem como objeto um projeto de software
de alocação de espaços desenvolvido para uma instituição
pública de ensino superior. O sistema foi implementado em
duas plataformas: web e móvel. O referido projeto foi
desenvolvido com objetivos educacionais, por uma equipe de
seis alunos da mesma instituição.
O software objetiva auxiliar no gerenciamento das
solicitações de alocação de espaços realizadas por
professores, alunos, funcionários e pessoas não pertencentes à
universidade. O motivo mais comum das solicitações de
reserva de salas, laboratórios e afins, é ministrar aulas. No
entanto, também são consideradas solicitações de alocações
feitas por pessoas da comunidade em geral, visando a
realização de eventos de cunho cultural e educacional.
B) Ferramentas Utilizadas
Figura 1. Ambiente do software ELAN. Fonte: (TACCHETTI, 2013, p. 9).
V. IMPLANTAÇÃO DO PROGRAMA PILOTO DE GC
Inicialmente, empregou-se um questionário com a
finalidade de realizar a prospecção dos conhecimentos,
identificando os especialistas em cada área do projeto. Essa
prospecção resultou no mapa do conhecimento. O mesmo
questionário também foi utilizado para identificação das
necessidades de conhecimento, do nível de compartilhamento
_________________________________
8 Diponível em:
<https://sites.google.com/site/wikialocacao/home/>. Acesso
em: 14. set. 2014.
existente, bem como para inferir a disposição para formalizar
essa partilha.
Em relação às especialidades dos membros, observou-se
que a equipe é mais forte em banco de dados e Interação
Humano Computador (IHC). Especialistas em web services,
desenvolvimento mobile e gestão de equipes/liderança são
mais raros. Apurou-se que houve uma divisão de tarefas com
base nas habilidades identificadas. Quatro membros
trabalharam na aplicação web e dois no aplicativo móvel. Tal
divisão revelou que uma parte da equipe tinha pouca noção do
trabalho da outra parte. A situação gerou impasses, que foram
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T.I.S. 2015; 4 (1): 59-67
Leonardo Pereira Pinheiro de Souza, Fabiano Cutigi Ferrari
atenuados pela GC, conforme mostra a Seção 5.2. As
respostas ao questionário para prospecção de conhecimentos
podem ser visualizadas na Tabela 1.
Tabela 1. Prospecção de conhecimentos para implantação
da GC
As necessidades de aprofundamento de conhecimentos
apontadas pelos membros da equipe mostraram-se coerentes
com os objetivos do projeto. As necessidades estão
concentradas nos aspectos Linguagem Java/Java EE, como
apontado por três programadores, e programação mobile,
opção escolhida por dois respondentes. Foi identificada ainda
a necessidade de conhecimentos em padrões de projeto,
embora essa opção tenha sido escolhida por apenas um
respondente.
Verificou-se que a disposição para a partilha de
conhecimentos é positiva, sendo que quatro membros da
equipe compartilham seu saber sempre que necessário,
mesmo que informalmente. Os dois programadores restantes
afirmaram que poderiam compartilhar mais. Nenhum dos
respondentes demonstrou disposição contrária ao
compartilhamento. O fato de a totalidade dos respondentes
afirmar que a documentação dos conhecimentos adquiridos é
relevante é um fator favorável para a implantação da CG.
A) Captação e Armazenamento do Conhecimento
A construção do repositório de conhecimentos foi efetuada
com a ferramenta Google Sites. Com o assistente provido
pela ferramenta foi possível: a criação da wiki; definição do
estilo visual; configuração de aspectos de privacidade e
compartilhamento. A estrutura das páginas da wiki foi
concebida para facilitar a busca de assuntos. Na página
inicial, uma sucinta explicação sobre os objetivos da GC e um
índice das áreas de conhecimento do projeto, a saber:
Engenharia de Software; programação; banco de dados; IHC;
servidores; métodos ágeis; controle de versão; gestão de
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equipes. Cada um dos assuntos principais corresponde a um
link para uma página que contém o índice de subtemas, os
quais levam aos artigos individuais.
Buscou-se não impor restrições severas na seleção dos
artigos para que todos os membros da equipe que desejassem
pudessem contribuir. Assim, foram aceitos apenas os artigos
que tratassem de tecnologias ou conceitos que tivessem
utilidade para o desenvolvimento do projeto de software. A
tarefa de criar diretrizes para aceitação dos conteúdos e
avaliação dos mesmos, função do editor do conhecimento,
coube ao membro que liderou o programa de GC.
No que diz respeito aos papéis desempenhados na
comunidade do conhecimento, uma única pessoa acumulou as
funções de diretor, gestor e editor do conhecimento. Aos
membros restantes foram atribuídas as funções de produtores
e consumidores de conteúdo. Durante as reuniões de revisão
da iteração, os participantes do projeto foram incentivados a
compartilharem conteúdos no repositório.
Gutierrez (2008) esclarece que uma das atribuições do
diretor do conhecimento é prover a motivação aos
trabalhadores para cooperarem com a GC. No presente estudo
de caso, esta motivação foi trabalhada a partir dos laços de
amizade existentes no grupo, bem como da expectativa de
ajuda mútua nas tarefas do projeto. Como incentivo adicional,
após a criação de novos artigos, eram enviadas mensagens de
e-mail ressaltado os pontos principais da nova submissão e
reiterando os benefícios da GC.
É possível que, em um contexto empresarial, o tipo de
incentivo mencionado anteriormente não seja tão efetiva, e
que a motivação para cooperação seja de natureza diferente.
Em relação à motivação, deve-se esclarecer que os incentivos
não precisam ser necessariamente financeiros. Betz, Oberweis
e Stephan (2014) citam o caso de uma companhia que oferecia
atividades de lazer aos membros mais cooperadores. Gutierrez
(2008) afirma que apenas o fato de uma pessoa ser
reconhecida como alguém que tem conhecimento a oferecer,
já eleva o conceito que a comunidade tem sobre ela. Por sua
vez, o fato de ser bem quisto pelo seu saber alimenta o desejo
de compartilhá-lo ainda mais, observa o autor.
Facilitando a Formalização do Saber Tácito
A captação dos conhecimentos se deu de dois modos:
elaboração de artigos pelo especialista da área, bem como
gravação em vídeo da execução das atividades e reuniões. O
segundo modo de captação apresentou vantagens em relação
ao primeiro pois, ao gravar a captura de tela enquanto o
programador trabalha, economiza-se o tempo que seria
despendido em elaborar um artigo. O método possibilita,
inclusive, atenuar as perdas semânticas existentes na
conversão do conhecimento tácito (pessoal) para o explícito
(documentado). Por exemplo, supondo uma situação em que o
programador não consiga explanar um conhecimento
satisfatoriamente em palavras, a ação gravada em vídeo
permite um entendimento mais claro. Após realizar a captura
de tela da execução da atividade ou da reunião, os arquivos
gerados foram tratados com a ferramenta ELAN, para a
seleção das partes relevantes e produção de conteúdo textual.
Tratando-se das fontes de dados, uma proporção expressiva
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Estudo da aplicação de Aspectos da Gestão do Conhecimento no Desenvolvimento Ágil de Software
seu objeto usuário aninhado. No objeto usuário aninhado,
portanto, era representada sua coleção de alocações,
recursivamente. Isto dificultou o desmembramento da
estrutura no aplicativo móvel.
O problema descrito causou tensão no grupo. Os
especialistas em desenvolvimento móvel insistiam na remoção
dos relacionamentos bidirecionais, e enfrentavam resistência
dos programadores do sistema web. A resistência se deveu ao
fato de a alteração prejudicar as pesquisas na base de dados.
Por fim, um dos programadores do módulo web propôs uma
solução. A questão foi resolvida com o uso da anotação
@JsonIgnore9. Essa anotação oculta um atributo na geração
do JSON, no caso, os atributos de relacionamento.
O incidente descrito foi posteriormente registrado no
repositório junto ao vídeo da reunião. É relevante salientar
que o episódio relatado se mostrou útil para dar a uma parte
da equipe uma visão mais próxima do trabalho desenvolvido
pela outra parte. Portanto, observa-se o potencial da GC para
proporcionar uma visão holística sobre um projeto ou mesmo
sobre os processos de uma empresa.
C) Mensurando o Nível de Successo do Programa Piloto
Duas métricas foram utilizadas para mensurar o nível em
que o programa de GC obteve sucesso: as submissões de
conteúdos pelos usuários e a utilização dos mesmos.
Verificou-se que a tática de captura do conhecimento através
do registro das atividades em vídeo resultou em um bom nível
de participação na GC. Dos seis membros do grupo, quatro
ofereceram suas contribuições para o repositório de
conhecimentos. Dos quatro membros referidos, três
ofereceram contribuições em formato de vídeo.
Sobre a utilização do repositório, quando inquiridos por
meio de questionário, todos os membros da equipe afirmaram
já o terem acessado pelo menos uma vez. Indagados se os
conteúdos existentes se mostraram úteis para o projeto, a
resposta positiva dos membros foi também unânime. Quatro
dos seis pesquisados afirmaram ainda terem adquirido
conhecimentos novos através da wiki. Pode-se observar, por
conseguinte, uma atitude positiva para a implantação da GC.
D) Limitações do Contexto da Pesquisa
Apesar dos resultados positivos coletados é necessário
discorrer sobre as limitações da pesquisa. A limitação mais
evidente é o tamanho da amostra considerada, sendo o grupo
pesquisado pequeno. É possível que os resultados não se
reflitam fielmente em um grupo maior.
Em relação ao contexto do estudo, este se deu em um
âmbito educacional. Provavelmente, os desafios existentes em
um ambiente empresarial podem ser maiores, considerando-se
a pressão para manter os níveis de produtividade dos
colaboradores. Outra questão relevante seria encontrar
estratégias para motivar a colaboração com a GC, diminuindo
qualquer possível resistência dos trabalhadores.
Para amenizar o impacto que as pressões pela produtividade
possam causar à GC, esta deve ser inserida no momento mais
_________________________________
9 Disponível em:
<http://jackson.codehaus.org/1.0.1/javadoc/org/codehaus/jack
son/annotate/JSONIgnore.html>. Acesso em: 28. Set. 2014.
do conteúdo produzido é resultante da captura de tela. Dos
sete artigos produzidos, três foram obtidos do modo
mencionado. Tal fato ocorre, possivelmente, pela praticidade
desta modalidade de captação de conhecimento e a economia
de tempo que ela representa.
Mostra-se necessário também tratar da quantidade de
artigos elaborados de acordo com as categorias de
conhecimentos preestabelecidas. Apurou-se que, em resposta
à necessidade de conhecimentos em programação Java EE,
este tema está presente em três dos sete artigos existentes no
repositório. O assunto referido, portanto, contempla a maioria
dos artigos. Verificou-se ainda que o tema programação
mobile foi considerado em um único artigo. É relevante
salientar que o mesmo artigo que tratou do tema programação
mobile também versou sobre o tema web services. A
necessidade de conhecimento sobre padrões de projetos não
foi contemplada. Os demais temas: banco de dados, UML e
controle de versão, foram considerados cada um em um artigo
distinto.
B) A GC Auxiliando no Processo de Aprendizagem
Observou-se que algumas capturas de tela resultaram em
vídeos longos. Haviam trechos sem programação efetiva, mas
com tentativas e correções de erros. Inicialmente, esses
períodos foram removidos na edição do vídeo. No entanto,
apurou–se que a edição demandava tempo considerável,
situação que conflita com a filosofia ágil. Posteriormente,
compreendeu–se que os erros e tentativas são parte da
aprendizagem, conforme Gutierrez (2008). Por conseguinte,
os trechos referidos foram mantidos, explicitando as ações a
serem evitadas e suas consequências. Ademais, as marcações
temporais do ELAN guiam quem assiste ao vídeo a avançar
para os pontos de seu interesse.
Exemplo do aprendizado advindo dos erros foi verificado
na solução encontrada pelo grupo pesquisado para um
problema com web services. É necessário esclarecer que a
aplicação web possui classes de web services, as quais
transmitem informações da base de dados para a aplicação
móvel como objetos JSON (JavaScript Object Notation).
JSON é definido como um formato para intercâmbio de
dados baseado em Java Script independente de linguagem de
programação (JSON, 2014).
Pela análise da gravação de uma reunião, verificou-se que o
modo como foi executado o mapeamento objeto-relacional
resultou em estruturas recursivas no JSON gerado.
Mapeamento objeto-relacional, conforme Luckow e Melo
(2010), é a conversão de tabelas de base de dados relacional
em objetos, visando sua persistência.
Na base de dados do projeto há uma entidade ou tabela
denominada usuário que possui um relacionamento do tipo
um para muitos com a entidade alocação. Essa última entidade
representa os pedidos de alocação de espaços realizados por
um usuário. Considereando o tipo de relacionamento existente
entre as entidades, seu mapeamento implica que a classe
usuário tem uma coleção de objetos de alocação. Sendo o
relacionamento bidirecional, a classe alocação tem também
uma instância de usuário. Anteriormente, quando gerado o
objeto JSON, esse representava as instâncias de alocação com
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T.I.S. 2015; 4 (1): 59-67
Leonardo Pereira Pinheiro de Souza, Fabiano Cutigi Ferrari
propício. Aurum, Danshgar e Ward (2008) sugerem que
momentos de fechamento de ciclos de projetos são adequados
para discutir e expor ideias. A solução encontrada no presente
estudo foi, além de registrar conteúdos das reuniões de
fechamento das iterações, capturar a ação do programador no
momento em que ocorre, através de vídeo.
VI. CONCLUSÃO E TRABALHOS F UTUROS
No decorrer do estudo demonstraram-se técnicas e
ferramentas que possibilitam a implantação da GC no
contexto da metodologia Scrum. Este conjunto de práticas
permitiu implantar o programa piloto de GC a um baixo custo
e com mínima interferência no rotina de trabalho. Verificouse que a captura em vídeo da atividade dos programadores
possibilitou maior participação da equipe. Demonstrou-se
ainda qual o momento mais propício, na reuião de revisão de
iteração, para se identificar e capturar o conhecimento.
Reiterando a experiência desenvolvida caracteriza-se como
um programa piloto, fase que precede a implantação
definitiva da GC, conforme explica Gutierrez (2008).
Verificou-se que os programadores colaboraram de bom
grado e que os conteúdos do repositório de conhecimentos
foram úteis para eles. É relevante comentar que nem todas as
lacunas de conhecimento identificadas foram supridas. Podese justificar este fato em razão do tempo relativamente curto
em que deve vigorar um programa piloto.
Gutierrez (2008) discute os benefícios da GC a médio e
longo prazo. Uma implicação é a melhora na tomada de
decisões, na cúpula organizacional e nos níveis mais baixos.
Isto permite que os funcionários trabalhem com menos
supervisão direta, encontrando por si as melhores soluções.
Ainda na perspectiva do autor, a empresa passa a conhecer
melhor as necessidades dos clientes, ganhando vantagem no
mercado. Considerando as empresas que financiam a
educação dos membros, Gutierrez assevera que o retorno
desse investimento se torna mais efetivo. Esse saber acaba se
difundindo e aumentando o nível de conhecimento de toda a
organização.
Em vista do relativo sucesso da experiência, propõe-se
como trabalho futuro a implantação definitiva da GC. Sugerese que a implantação se dê em um contexto empresarial,
visando a obtenção de resultados mais consistentes. Sugere-se
estudar quais seriam as implicações a médio e longo prazo
sobre os produtos de software desenvolvidos e sobre o
aprendizado da equipe. No aspecto do aprendizado, cogita-se
ainda que os conteúdos da GC poderiam ser um interessante
complemento para o treinamento de recém-chegados à
empresa.
Tendo em vista os desafios impostos pelo ambiente
empresarial à GC, o caminho para superá-los envolve
trabalhar a cultura organizacional através de uma liderança
efetiva, conforme Gutierrez (2008). Visto que cada
oraganização tem suas peculiaridades, não há um método
universal para o sucesso. Criar um ambiente aberto a novas
ideias e que inspire confiança nos colaboradores é
imprescindível. Este contexto positivo eliminará o medo dos
colaboradores de serem prejudicados por compartilharem o
T.I.S. 2015; 4 (1): 59-67
que sabem, segundo Aurum, Daneshgar e Ward (2008). A
motivação é outro aspecto crucial para a GC. O líder, ou
diretor do conhecimento, deve encontrar meios de valorizar os
liderados pelo saber disponibilizam, afirma Gutierrez (2008).
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