Hugo o Vampiro – As Luzes na Idade das Trevas
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Hugo o Vampiro – As Luzes na Idade das Trevas
Hugo, o Vampiro As Luzes na Idade das Trevas Livro I Caro leitor, Este livro é o primeiro capitulo do livro “Hugo o Vampiro – As Luzes na Idade das Trevas”, publicado originalmente em 2008, durante a 20º Bienal Internacional do Livro de São Paulo, Brasil, pela editora AllPrint. Para divulgação do livro, estou disponibilizando o primeiro capítulo gratuitamente pelo site: http://hugoovampiro.blogspot.com/ Cordialmente, Gabriel Arruda Burani. Copyright © 2008 by Gabriel Arruda Burani Todos os direitos reservados Distribuição Gratuita Gabriel Arruda Burani Hugo, o Vampiro As Luzes na Idade das Trevas Livro I Aos meus pais, Guardiões das Luzes que extinguiram as Trevas, E que em todo instante acreditaram em mim. S éculo X, em um feudo perdido na Europa das Trevas... Em Beznã-Ateriza nascia Hugo von Sclotstendder, um nobre menininho ruivo cujo destino já fora traçado pelos pais vampiros: seria um deles. Foi uma criança muito feliz... Cresceu achando ser um menino comum... Passaram-se os anos e, muita coisa mudou na vida de Hugo... ao lado de Eglantine era um cavalheiro e ao lado de Hegon era um cavaleiro. Com o tempo Hugo passou a ser um comandante de soldados. Era um homem de armas como seu pai sempre desejou: respeitável e temido por seus soldados. Não havia uma batalha que não ganhasse ou coração que não arrebatasse. Poderia ter o que quisesse... Era um jovem homem, com grande reputação. Sendo ignorante em sua natureza, Hugo achava-se diferente dos demais. Começou a temer o sol... Notou que tinha sede freqüente, mas não sabia que era de sangue... *~*~* Hugo o Vampiro – As Luzes na Idade das Trevas 7 8 Gabriel Arruda Burani CAPÍTULO I – O Começo... S ua passagem para as trevas fora se completar num cerco a um castelo inimigo. Típica guerra de feudos. Hugo comandava o exército de quinhentos homens de seu pai. A bandeira de Beznã-Ateriza, suas terras, ia à frente de seu exército. Os arautos tocavam a marcha enquanto seus soldados, a infantaria munida de cotas de malha e espadas longas, marchavam de encontro à fortaleza dos inimigos. Hugo ia a cavalo vestindo uma armadura completa brilhante e pesada... era majestosa... No peitoral da armadura, em alto relevo, um H e um S em formato de cobra, entrelaçando a letra anterior. Era o brasão da Família como chamavam. A Fortaleza estava cercada e, agora só bastava esperar... Combates em campo foram há muito tempo. O sol já se punha, no oitavo dia. A infantaria estava desanimada. A comida já acabava – havia sido um erro botar fogo nas plantações – mas já estava feito. Era só esperar. A flâmula do inimigo ainda portava-se imponente no alto da torre. Os vassalos aliados propunham fazer um ataque. Era uma boa idéia. Hugo sabia disso, mas, ele estava impaciente. O jovem, em sua barraca, permanecia tempos em silêncio, não saía de dia. Diziam ser coisa da idade, mas não... era algo incomum. Não comia. Preferia ceder a comida a seus homens. Não sentia fome. Só sentia três coisas: Cheiro de sangue, Cheiro de medo, Cheiro da morte... – Levantaremos acampamento! – sugeriu um comandante. – E atacaremos pela retaguarda, pois sim? – indagou um segundo. – Técnicas antiquadas, homens! – retrucou Hugo. – O que achas que sabe, Alteza? – perguntou um dos outros comandantes que, estava até então infeliz com o rapaz. – Sei que sou seu suserano! Deves obediência. – rosnou ele – Agora: um quarto de nossos homens parte pela manhã, para o norte. O outro quarto fica frente ao castelo. A terceira Hugo o Vampiro – As Luzes na Idade das Trevas 9 quarta parte para leste e o último quarto, parte para o sul. Ficaremos esperando o anoitecer. Eu ficarei no castelo. Os demais ficarão a uma distância que possam escutar os arautos. Atacamos e, os demais também atacam! Eles não vão resistir e, até o amanhecer a fortaleza será da Família. Cortem uma árvore e façam um aríete. Nossos homens vão derrubar os portões com ele. Escadas, flechas, maças, espadas já temos também. Agora vão. Conto com a chegada de vocês, homens! Trionic, você parte com cem homens para o sul. Armando, leve consigo cento e cinqüenta para o leste. Eu vou ficar e, você Igor, bata retirada para o Norte, com seus homens... Calculo uns duzentos. Vou ficar com os melhores. Deixem os arqueiros próximos, escondidos na floresta. Uma saraivada de flechas ao primeiro toque. O aríete no segundo e, seus homens chegando ao terceiro. Igor não ficou contente com a decisão daquele rapaz tolo, mas esta seria a oportunidade dele poder ir embora daquele circo. Deixaria os arqueiros covardes. E partiria para suas terras o mais rápido que pudesse... Amanheceu e os homens de seus vassalos partiram para as supostas direções que foram combinadas. Trionic achou uma floresta próxima e ficou por lá com seus homens, esperando o anoitecer. Armando, por sua vez, ficou em um campo aberto. Já Igor, partiu em retirada, deixando para trás tudo que poderia... Ele e seus homens eram covardes demais para voltar. Hugo ficara na frente do castelo com seus cinqüenta soldados, sob a zombaria inimiga. – Mestre, temos que partir. Sabem do vosso plano. – Um soldado, entrando correndo na tenda de Hugo. – Querem nos atacar. Temos um traidor! – Quem seria ele? – perguntou Hugo surpreso. – Não se preocupe... já demos um jeito nele... – dando um sinal para fora. Entrou, arrastado por outros dois soldados, um homem sangrando ferido por pancadas e chutes. Ele temia olhar para Hugo. Hugo temeu aproximar-se dele. O cheiro de sangue invade as narinas do rapaz e, o hipnotizou. Hugo caminhou até 10 Gabriel Arruda Burani o traidor e levou sua mão no alto da cabeça dele, puxando-lhe os cabelos e erguendo-lhe o rosto. – Quanto lhe pagou, soldado? – resmungou, chacoalhando o rosto. – Mestre...eu...– tentou balbuciar algo, mas, temeu. – Este foi seu erro. – murmurou ele, arrastando o homem para fora da tenda. O Sol já se punha, era quase a hora do ataque. A chuva fina poderia atrapalhar tudo. Os soldados estavam descrentes e Hugo precisava impor respeito, tanto a seus homens, quanto aos inimigos. Munido de sua espada e já trajando sua armadura, ele caminhou sozinho até os portões da Fortaleza. Seus homens estavam confusos. Os inimigos ficaram mais confusos ainda. Aquele rapaz era doido. Parando frente ao castelo, com a espada em punho e com o traidor em sua outra mão, segurando-o pelos cabelos, o príncipe vislumbrou a fortaleza inimiga. Uma força, que nem Hugo soube de onde veio, subiu-lhe a mente e, ele fez algo profano: Mordeu o pescoço do soldado e sugou-lhe o sangue, matando o homem e, deixou seu corpo caído ao chão. Os lábios de Hugo estavam ensangüentados, sua armadura também: Ele parecia ter saído do inferno. Estava muito belo, e amedrontador. Seus olhos azuis faiscavam... um urro selvagem penetrou na mente de todos a quilômetros de distância. Todos à sua volta espantaram-se, mas ficaram mudos. Não sabiam o que fazer diante daquilo: Os inimigos fraquejaram temendo o vampiro, parecia coisa dos demônios; Hugo permanecia parado, sentindo o sangue daquele pobre infeliz penetrar seu ser. Acabara de assinar a venda de sua alma... Fadado a eternidade nas trevas. Muitos pensaram em sair correndo... Outros se benzeram... Estavam sem ação... Mas um arauto tomou a iniciativa... Começou a tocar o tamborim. Talvez este fora seu único ato de coragem que, foi seguido pelos demais. A Marcha de guerra começava a ser ouvida... Aquela figura, aquele novo Hugo, mesmo amedrontando Hugo o Vampiro – As Luzes na Idade das Trevas 11 aqueles homens, inspirou-lhes grandeza. Os arqueiros ergueram os arcos no ar e uma nuvem de flechas foi disparada... No segundo toque, o aríete chocou-se contra o pesado portão. No terceiro toque, os homens de Armando e Trionic começaram a chegar, atacando furiosamente as muralhas da fortaleza. Lutaram durante toda noite e, pela manhã, a Fortaleza estava tomada... Na torre, a bandeira de Beznã-Ateriza com o brasão da Família tremulava imponente agora. Invadindo os aposentos do lorde inimigo, Hugo encontrou-o deitado em sua cama. Reconheceu sua face, que mantinha uma expressão de dor. Aquele era seu tio, Rosco: irmão mais velho de Eglantine, herdeiro direto dos feudos da Família da mãe. Ainda sujo de sangue e lama, com seus instintos animalescos voltando a adormecer em seu peito, Hugo sentiu-se feliz ao ver seu tio. Aproximou-se da cama, com um sorriso nos lábios, mas logo o sorriso morreu. Rosco estava morto. Foi um golpe frio de uma adaga que rasgou seu peito em direção ao coração. Um golpe preciso e suicida: sua mão ainda segurava o cabo da adaga... Hugo choraria, se seus olhos não se recusassem a fazê-lo. Um vento frio adentrou o quarto apagando a chama da vela, que ardia sobre uma arca de madeira... Hugo aproximou-se do cadáver de Rosco e com um toque leve e carinhoso fez os olhos do tio se fechar. Seu tio era diferente dele ou de seus pais. Hugo sentia e via isso, mas não entendia ainda o porquê. Ficaria indagando aquela dúvida por mais alguns instantes se, a palma da mão esquerda do tio não abrisse e deixasse cair ao chão um colar com uma grande pedra... O jovem guerreiro abaixou-se e pegou a jóia na mão. Era um grande dragão de prata segurando alguma pedra azul transparente. Estava preso em uma corrente de prata, de elos grandes e fortes. Era uma jóia muito bonita... e valiosa. – Somente isso poderá salvá-lo das trevas, rapaz! Esta será sua VERDADE... Encontre-nos, príncipe! Hugo ouviu tais palavras ao olhar bem no centro da jóia, onde ao que parecia havia uma imagem. Olhou em volta 12 Gabriel Arruda Burani assustado, mas estava sozinho ali. Do lado de fora, estavam seus homens, comemorando a vitória. Ninguém poderia ter dito aquilo à ele... além da própria jóia. Colocou-a no pescoço e retirou-se do quarto... sabia que o dia logo estaria claro e, inconscientemente, rumou para as masmorras. Não sabia porque fizera aquilo... Não sabia porque temia o sol... Não tinha consciência que se tornara um vampiro... um vampiro verdadeiro. Pensativo ficou naquela noite. Lembrou-se com saudade de seu tio. Era um homem honesto. Em diversas ocasiões em que estavam todos juntos; tio Rosco costumava usar aquela jóia pendurada em seu pescoço. Ele era uma pessoa que incomodava Hegon pelo que dizia! Dizia coisas coerentes, mas não muito sábias, segundo muitos. Não era alguém que Hugo gostaria de ver morto... mas era alguém a quem fora manipulado a atacar, afinal, as ordens militares de Hegon não eram questionadas por Hugo... até então. Anoiteceu novamente e Hugo decidiu sair do lugar onde estava. Ouvia seus homens, ouvia pessoas... mas não tinha coragem de sair ao sol para vê-las. Era um tormento que ele não compreendia... a chegada da noite foi-lhe avisada pelo silêncio que se fez no pátio interno da fortaleza... Começou então a caminhar pelo corredor frio e úmido da masmorra até chegar a uma porta. Bruscamente, abriu-a com um empurrão. Olhou em volta e estranhou. Estava em uma grande adega. Vários tonéis e garrafas podiam ser vistas em toda a parte. Era um lugar frio e escuro... escuro até demais, se não fosse pela chama de um archote na parede, acima de uma cadeira, onde estava sentado alguém. Hugo aproximou-se da pessoa, com sua mão direita sobre o cabo de sua espada... – Isso não são modos de tratar um velho amigo, Alteza... – murmurou uma voz grave e áspera, seguida de uma tosse seca. Era um homem que ocupava a cadeira. Parecia robusto o bastante para conseguir erguer um tonel sozinho. Tinha tórax largo e bem definido. Cabelos compridos negros, de aspecto mal tratado e sujo. Queixo quadrado e feições rudes, porém Hugo o Vampiro – As Luzes na Idade das Trevas 13 bonitas. Olhos cinzentos... parecia pálido com olheiras negras... Vestia uma calça preta, e botas de cano alto. Seu tórax era coberto por uma camisa branca de linho e, um manto de couro sobre ela. Olhava Hugo com frieza... – Quem sois vós? – Perguntou Hugo, parando a pouco mais de dois metros dele. – Realmente não se lembra mais dos amigos... – Levantou-se. Era um homem realmente alto, com quase dois metros de altura. Hugo recuou um passo e, fitou-o com as pálpebras apertadas. – Rouver? – O próprio, Alteza. – fez uma reverência. Seguiu estendendo a mão para Hugo. – O que está fazendo aqui? – perguntou indo até ele e, fazendo o mesmo gesto, segurando o antebraço do homem, cumprimentando-o. Sentiu um cheiro estranho ao postar-se a menos de um metro do amigo... um cheiro que já reconhecia, mas não tão acentuado como agora... – A vida de um camponês não é fácil... Seu tio Rosco me aceitou para cuidar da adega. Ele reconhece meu apurado gosto para com vinhos e, cá estou... – tossiu novamente. Uma tosse seca. Hugo sorriu, mas novamente seu sorriso se foi. – Ele está morto, Rouver. Matou-se e perdeu o Céu. – Sinto muito pela família de tua mãe... – tossiu, desta vez uma tosse mais longa. – Acredite Hugo, não existe céu ou inferno para quem não acredita nele... talvez o céu e o inferno sejam a própria Terra, amigo. O jovem pensou em uma réplica mas nada disse. De certa forma concordava com ele. – Conquistei o forte, deve deixá-lo Rouver. – Então era você que fez aquele barulho todo? -riu, caminhando até um barril onde jazia uma caneca sobre seu tampo superior. – Não pretendo deixar o forte, Hugo... pretendo morrer por aqui. – Selecionou uma garrafa próxima. 14 Gabriel Arruda Burani – Não diga bobagens. Vamos, venha comigo para BeznãAteriza. – Hugo aproximou-se dele. Reconheceu então o cheiro... era o rançoso cheiro da morte. – Rouver... você está adoecido? – Acredito estar, Hugo, meu jovem amigo. – sorriu e encheu a caneca com vinho. – À tua vitória! -brindou dando um grande gole. Ao seu término, pôs-se a tossir. – Deves procurar um padre! – Para aquele urubu de batinas tirar todo o sangue do meu corpo? Esqueça. Prefiro morrer de forma natural, bebendo meu vinho e tossindo! – Não seja tolo! Vamos, o levo comigo para Beznã-Ateriza e lá resolvemos o que fazer. – contudo Hugo percebeu que Rouver não queria se afastar das bebidas, então usou de um argumento – Temos uma grande adega. Poderá cuidar dela, se achar apropriado. – Acredite meu bom Hugo, se estiver falando mesmo a verdade, eu o acompanharei até o inferno! – riu, dando outro grande gole, agora na própria garrafa. – Então vamos ao inferno! – sorriu. – Ao inferno! – brindou novamente e, bebeu outro grande gole, deixando a garrafa vazia no chão. Eles riram... como há muito tempo não riam juntos. Saíram da adega e subiram as escadas para a superfície, onde o Forte já estava totalmente tomado pelos soldados de Hugo. Os soldados saquearam tudo que era de valor do local e colocaram no interior de uma grande arca. Dentre objetos de arte, havia jóias e ouro. Hugo subiu no tampo da arca. – Meus bravos homens! – exclamou – Aqui se inicia uma grande campanha... para a gloria de Beznã-Ateriza, a terra que os acolheu e que os sustenta! Retornemos a ela com nosso troféu... Os homens soltaram exclamações de contentamento e ergueram suas armas aos céus. Rouver, que não havia soltado sua caneca, brindou Hugo junto aos soldados. Este fez um sinal a um pajem que foi buscar a montaria de seu senhor. Hugo o Vampiro – As Luzes na Idade das Trevas 15 Hugo subiu em seu corcel e Rouver montou em um outro cavalo. Em breve o sol apareceria. A jóia que Hugo trazia consigo parecia impulsioná-lo a deixar aquelas terras com certa pressa. Ele tinha a estranha sensação que deveria chegar o quanto antes em sua fortaleza. O jovem vampiro não esperaria seus soldados ou seu amigo. Partiria imediatamente. – Sinto muito, mas preciso regressar o quanto antes... – disse em tom baixo. Olhou para seus homens – Aproveitem de tua vitória! – Olhou para Rouver. – Acompanhe-os para BeznãAteriza! Não esperou resposta. Estalou os freios do cavalo e apertou os estribos na barriga do mesmo, fazendo-o correr. Os que ficaram no forte, acompanharam por segundos seu senhor desaparecer na escuridão. Adquira hoje mesmo “Hugo o Vampiro – As Luzes na Idade das Trevas” completo, visitando o Blog Oficial: http://hugoovampiro.blogspot.com/ 16 Gabriel Arruda Burani