2. Encoprese A recusa do bacio!
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2. Encoprese A recusa do bacio!
Encoprese Infantil: A recusa do Bacio! Por Encoprese entende-se o diagnóstico realizado à criança a partir dos 4 anos de idade que tem uma emissão fecal repetida em locais inadequados (p.e., roupa e/ou chão) de modo involuntário ou intencional. Estas emissões acontecem, pelo menos, uma vez por mês e no espaço de três meses consecutivos, não se devendo a um efeito fisiológico de alguma substância ou condição médica, à exceção da obstipação. Ainda assim, a Encoprese afeta 3 a 6 vezes mais o sexo masculino. Os pais chegam à consulta com a criança um tanto estranhos com o comportamento e visivelmente preocupados quando esta apresenta um ou vários dos seguintes factos: a criança começa a evitar sentar-se no bacio, faz força para reter as fezes, pede para voltar a ser-lhe colocada a fralda, evita entrar na casa de banho, esconde-se atrás do sofá, chora ou mostra sinais de irrequietude motora sempre que sente vontade de defecar. Se a criança se insere nos critérios de diagnóstico supra citados, é importante distinguir entre duas variantes de Encoprese. A Encoprese com obstipação e incontinência de fluxo e a Encoprese sem obstipação e incontinência de fluxo. A primeira, parecendo um fenómeno paradoxal, causa estranheza nos pais. Como será possível a criança ter emissões fecais em locais inapropriados e sofrer de obstipação? Sabemos, porém, que cerca de 95% das crianças diagnosticadas com Encoprese sofrem deste fenómeno. A criança, por ter dor a defecar, vai evitando este momento e promove um fenómeno de impactação das fezes. Associado à retenção constante das fezes, a criança começa a diminuir a sua perceção dos sinais de defecar, assim como pela sobreposição das fezes duras ocorre o fenómeno de emissão de fezes líquidas, usualmente em pequena quantidade, sem que a criança muitas vezes se aperceba. Por outro lado, a Encoprese não retentiva (sem história de obstipação) muitas vezes ocorre em crianças que não realizaram corretamente a aprendizagem do controlo do esfíncter, ou que adquiriram medos associados ao defecar na sanita, ou ainda devido ao som da descarga do autoclismo. Esta diferenciação do tipo de Encoprese permite compreender quais as estratégias mais ajustadas ao quadro clínico da criança. As intervenções mais eficazes são em equipa multidisciplinar, onde existe uma articulação entre a intervenção médica e comportamental. Torna-se fundamental a necessidade de excluir outras causas médicas justificativas da condição clinica, assim como é assinalável a necessidade de avaliar a introdução de laxantes. O aconselhamento passa por reavaliar a alimentação da criança, aumentando sobretudo a ingestão de líquidos e fibras associada a exercício físico e hábitos para defecar, realizados de modo regular, tornando-se parte integrante da rotina da criança. Para além destas alterações, será útil os pais adotarem uma atitude de tolerância face às dificuldades evidenciadas pela criança, não a culpabilizando e extinguindo quaisquer comportamentos punitivos, demonstrando que acreditam na sua capacidade para enfrentar a situação. Os pais devem estar alerta para a importância de que, mais do que colocar o enfoque na capacidade da criança defecar em locais apropriados ou inapropriados, o mais importante será elogiar e recompensar todos os comportamentos que se aproximem desse final objetivo. Neste sentido, promovemos a introdução de estratégias que visam aproximar a criança do objetivo principal. Vejamos: torna-se fundamental a criança receber atenção privilegiada quando a situação não se relaciona com higiene. O adulto deverá ajudar a criança na higiene após o episódio de Encoprese, no entanto, a atenção deverá ser mínima para prestar o apoio necessário, utilizando um vocabulário descritivo e factual “sujaste-te, vai-te mudar, eu ajudo, vais conseguir!”. O momento na casa de banho deverá ser um momento de partilha agradável entre pais e criança. Se a criança associa este local a experiências somente desagradáveis pode rejeitar lá ficar. Deste modo, devemos promover a leitura de histórias, realizar um jogo da preferência da criança ou outra brincadeira favorita. Mais concretamente, na consulta das Perturbações da Eliminação, são ainda transmitidas aos pais estratégias como, por exemplo, o treino do controlo dos esfíncteres a seguir às principais refeições, com um tempo máximo de duração de 15 minutos na casa de banho. É importante que este treino seja realizado de modo gradual, em função do que a criança já consegue realizar ou evita. Devemos promover uma exposição gradual da criança que pode ficar sentada, no bacio ou sanita, vestida, com fralda ou cuecas até a criança aceitar sentar-se sem roupa. Outras estratégias úteis são o treino muscular, onde existe a contração e descontração dos músculos da região abdominal, da região glútea e esfíncter externo do ânus, assim como a modelagem da posição e movimentos associados, onde são ensinados pelos pais e imitados pela criança nas posições adequadas para defecar. Todos os comportamentos atingidos pela criança devem ser elogiados e/ou reforçados com um prémio do interesse da criança (por exemplo: autocolantes, ver um filme com os pais, jogar um jogo de computador), de modo a motivar a criança, por um lado, e a manter o comportamento pretendido, por outro. É fundamental intervir quando a criança ultrapassa a idade considerada normativa, ou o mal-estar associado ao ato de defecar será marcado, introduzindo alterações na vida escolar e/ou social da criança, prevenindo a instalação e aumento da gravidade desta problemática. Joana Marafuz Psicóloga e psicoterapeuta [email protected] http://pin.com.pt/