artigo 2011 - Prof. Cauê La Scala Teixeira

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artigo 2011 - Prof. Cauê La Scala Teixeira
Excesso de peso e obesidade
abdominal em praticantes de
exercícios
El exceso de peso y la obesidad abdominal en practicantes de
ejercicios
Overweight and abdominal obesity in people who practice
exercises
Cauê Vazquez La Scala
Teixeira*
*Seção de Avaliação Física da Secretaria de Esportes da Prefeitura Municipal de Santos,
Rodrigo Luiz da Silva
SP
**Faculdade de Educação Física da Universidade Santa Cecília (UNISANTA), Santos, Gianoni*
SP
Cláudio Zanin Eduardo*
***Faculdade de Educação Física da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP),
Carla Nascimento
Santos, SP
Luguetti**
(Brasil)
Ricardo José Gomes***
[email protected]
Resumo
O estudo verificou valores de IMC e CC em praticantes de exercício físico, comparando o IMC em três grupos
etários por gênero e associando IMC x CC no geral. Foram avaliados 313 indivíduos (66 homens, 247 mulheres, idade ≥
18a.), praticantes de exercício físico com frequência semanal de três vezes. Foram mensurados IMC e CC. Os resultados
indicaram alta prevalência de excesso de peso no geral (60,7%), incluindo sobrepeso (39,9%) e obesidade (20,8%).
Não houve diferença estatística entre os sexos e faixas etárias. Quando associados IMC e CC, 36,1% da amostra
apresentou ambas medidas elevadas, 26,2% apresentou apenas uma medida aumentada e 37,7%, valores adequados
nos índices avaliados. IMC e CC apresentaram forte e significativa correlação. Conclui-se que, apesar de toda amostra
ser praticante de exercício físico regular, foi observada alta prevalência de obesidade, indicando que o exercício físico
não é o único fator responsável pelo controle do peso corporal.
Unitermos: Indice de massa corporal. Circunferência da cintura. Obesidade. Exercício.
Abstract
The study found BMI and WC in practitioners of exercise, comparing BMI into three age groups by gender and
BMI x WC associating in general. We assessed 313 individuals (66 men, 247 women, age ≥ 18th.) engaged in physical
exercise three times to week. BMI and WC were measured. Results indicated high prevalence of overweight in general
(60.7%), including overweight (39.9%) and obesity (20.8%). There was no statistical difference between genders and
age groups. When associated with BMI and WC, 36.1% of the sample had elevated both measures, only 26.2% showed
increased only on one measure and 37.7%, appropriate values in the indices assessed. BMI and WC were strong and
significant correlation. We conclude that although the entire sample to be practicing regular exercise, there was high
prevalence of obesity, indicating that physical exercise is not the only factor responsible for controlling of body weight.
Keywords: Body index mass. Waist circumference. Obesity. Exercise.
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 169 - Junio de 2012. http://www.efdeportes.com/
1/1
Introdução
A obesidade é um grave problema de saúde pública mundial. A Organização Pan-americana da Saúde
afirma que mais de um bilhão de pessoas apresenta excesso de peso no mundo, sendo que destas, 300
milhões são obesas12.
Segundo Foss e Keteyian7, obesidade é classificada como um aumento do peso corporal provindo de
acúmulo excessivo de gordura. Para OPAS12, a prevalência do excesso de peso (sobrepeso) e da obesidade é
avaliada pelo índice de massa corporal (IMC), sendo que o mesmo se dá através de divisão da massa
corporal (em quilogramas) pela estatura (em metros) ao quadrado (kg/m²). Valores acima de 25,0 e 30,0
kg/m² são indicadores de sobrepeso e obesidade, respectivamente19.
O American College of Sports Medicine2 afirma que, quando os valores do IMC fogem à zona considerada
eutrófica (adequada), tanto para baixo como para cima, os riscos à saúde tendem a aumentar, sendo que
valores mais elevados se associam com riscos mais altos, pois a curva gráfica de classificação do risco se
apresenta em formato de J.
O IMC, como qualquer outro método antropométrico, apresenta alguns limitantes, principalmente o fato
de não diferenciar a massa de gordura da massa isenta de gordura2. Por este fator, indivíduos que
apresentam
massa
muscular
extremamente
desenvolvida
(ex.:
fisiculturistas)
podem
apresentar
classificações de IMC em sobrepeso ou até mesmo em obesidade, mesmo com baixos valores de percentual
de gordura. Levando em consideração este aspecto, este índice não deve ser aplicado em indivíduos atletas,
principalmente de modalidades de força e potência.
Já em indivíduos não-atletas, valores aumentados de IMC muito provavelmente se devam ao aumento do
peso corporal provindo de gordura8,13.
Este grave problema se deve ao aumento do consumo de dietas excessivamente energéticas, ricas em
gorduras saturadas e açúcares, somado à diminuição ou à falta de atividade física12. Essas atitudes
proporcionam um balanço calórico positivo que, se mantido cronicamente, leva ao aumento do peso gordo.
A obesidade (IMC > 30 kg/m²), por si só, já é apresentada como um dos fatores de risco modificáveis
para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares11, que incluem também, a hipertensão arterial, a
dislipidemia, o diabetes, o fumo e a inatividade física4. Um indivíduo obeso, além de apresentar um aumento
da probabilidade de ocorrência de um evento cardiovascular, observa também um aumento na probabilidade
de desenvolver algumas das outras doenças citadas acima, principalmente o diabetes tipo II e a hipertensão
arterial11,12, consideradas também como fatores de risco, aumentando ainda mais o risco cardiovascular,
pela soma de fatores.
Atualmente, outro fator tem se destacado por aumentar os riscos à saúde e já tem sido considerado por
diversos autores, como fator de risco cardiovascular isolado. Esse fator, caracterizado pelo acúmulo
excessivo de gordura na região central do corpo (tronco e abdômen), é chamado de obesidade abdominal
ou visceral2,3.
A obesidade abdominal pode ser detectada por exames como ultra-sonografia, tomografia, entre outros.
No entanto, um método antropométrico utilizado com freqüência em diversos estudos e que demonstra boa
relação com sua detecção é a determinação da circunferência da cintura (CC).
Dimensões da CC maiores que 102 e 88 cm para homens e mulheres, respectivamente, tendem a
aumentar a incidência de doenças crônico-degenerativas não-transmissíveis2.
Além disso, valores elevados de IMC e CC podem ser encontrados separadamente nos indivíduos, porém,
é muito comum que indivíduos com IMC elevado apresentem valores aumentados de CC. Quando isso
ocorre, ocorre também o aumento do risco cardiovascular, pela soma dos dois fatores3,15.
No entanto, ambos os fatores (IMC e CC), isoladamente, quando em valores elevados, mostram
associação com o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, tais como: a hipertensão arterial,
relacionada a IMC ou CC16, dislipidemia sérica, relacionada ao IMC5, diabetes relacionada ao IMC5 e CC >
100cm18.
Em contrapartida, a literatura específica afirma que a pratica regular de exercício físico leva à diminuição
do peso corporal10, o que, por conseqüência, pode levar a uma diminuição do IMC e da CC, diminuindo o
risco cardiovascular.
Sendo assim, o objetivo geral deste trabalho foi investigar a prevalência de excesso de peso e obesidade
abdominal em praticantes de exercício físico da cidade de Santos. Os objetivos específicos incluem: Verificar
valores de IMC e CC em pessoas que praticam exercício físico em um Complexo Esportivo Municipal de
Santos: a) comparando o IMC em 3 grupos etários para cada gênero; b) observando a associação do IMC e
CC em toda amostra.
A escolha do IMC e da CC neste estudo se deveu a sua relevância para o aumento dos riscos à saúde2,3,15,
mas também, principalmente, por serem dois métodos normalmente adotados por profissionais da área da
saúde (médicos, professores de educação física, nutricionistas) para identificação de níveis de obesidade,
devido à praticidade de aplicação e baixo custo13.
Materiais e métodos
Sujeitos
A amostra foi composta por 313 pessoas (66 homens, 247 mulheres) matriculadas em um Centro
Esportivo Municipal da cidade de Santos/SP, praticantes de exercícios físicos supervisionados, com
freqüência semanal de três vezes e idade igual ou superior a 18 anos (Tabela 1).
Tabela 1. Freqüência absoluta (FA) e freqüência relativa (%) da amostra avaliada por faixa etária
Instrumentos
Realizaram-se os seguintes testes:
a. Peso: utilizou-se balança antropométrica de marca Toledo, modelo 2096PP/2, com
capacidade máxima de 200 quilogramas e precisão de 50 gramas. A massa corporal
foi aferida com o indivíduo em pé sobre a balança, vestindo trajes de banho,
conforme mencionado em ACSM2.
b. Estatura: utilizou-se um estadiômetro profissional de marca Sanny, com precisão de
1 milímetro. A estatura foi aferida com o indivíduo em pé com olhar fixo no
horizonte, descalço, com os pés unidos e com apoio posterior dos pés, glúteos,
tórax e cabeça no aparelho. A medida foi feita após uma inspiração máxima, de
acordo com os procedimentos citados pelo ACSM2.
c. CC:
utilizou-se
fita
antropométrica
de
marca
Sanny,
com
as
seguintes
especificações: Medical, SN-4011, Starrett, extensão máxima de 2 metros e precisão
de 1 milímetro. A CC foi aferida de acordo com o ponto anatômico apresentado por
Guedes e Guedes8, com a fita passando horizontalmente sobre o ponto médio entre
o último arco costal e a crista ilíaca, sendo a medida aferida ao final de uma
expiração normal.
d. Classificação do IMC: O IMC foi calculado conforme fórmula citada na introdução
deste estudo. Os valores de IMC foram distribuídos conforme classificação da
organização mundial de saúde, sendo considerados valores normais a zona entre
18,5 e 24,9 kg/m², sobrepeso entre 25,0 e 29,9 kg/m² e obesidade, acima de 30,0
kg/m², esta última sendo dividia em classe 1 (30,0 a 34,9 kg/m²), classe 2 (35,0 a
39,9 kg/m²) e classe 3 (> 40 kg/m²).
e. Pontos de corte da CC: adotou-se os pontos de corte propostos pelo ACSM2, sendo
os valores > 88 e 102 cm, para mulheres e homens, respectivamente, considerados
como zona de alto risco.
Procedimentos
Todos os sujeitos preencheram termo de consentimento e foram submetidos aos testes expostos acima.
A equipe de avaliadores foi composta por três professores de educação física com, no mínimo, dois anos
de experiência nos testes antropométricos citados. As avaliações foram realizadas em um período de seis
meses.
Os indivíduos foram avaliados pela manhã ou pela tarde, com as seguintes precauções: não fazer
atividade física no dia; não fazer refeição durante as duas horas antecedentes ao horário da avaliação; não
utilizar loções ou cremes corporais.
Todos os avaliados eram praticantes de exercício físico com frequência semanal de três vezes. Porém,
não foi possível verificar o tempo exato de treinamento dos indivíduos, sendo assegurado um período
mínimo de três meses.
Delineamento e análise
Os resultados foram analisados por meio de tabelas de freqüência absoluta e relativa. Para a comparação
entre os sexos e grupo etário, utilizou-se o teste estatístico Qui-quadrado.
Foi utilizado o teste de correlação de Spearman entre as variáveis IMC e CC.
O nível de significância estatística adotado considerou valores de p < 0,05.
Resultados
Os valores médios de IMC e CC masculino foram 26,6±4,4 kg/m² e 92,7±12,7 cm, sendo observado
excesso de peso somente no IMC. Já para a amostra feminina, a média foi de 27,0±4,7 kg/m² e 86,9±12,1
cm para IMC e CC, respectivamente, apresentando excesso de peso somente no IMC, porém, com valores
médios de CC muito próximos ao valor de risco (> 88 cm).
A classificação de IMC entre os sexos, para o sexo feminino e masculino estão descritas nas Tabelas 2, 3
e 4.
Tabela 2. Freqüência absoluta (FA) e freqüência relativa (%) da classificação de IMC por sexo
Foi observada alta prevalência de sobrepeso (39,9%) e obesidade (20,8%) na amostra, perfazendo um
total de 60,7% dos indivíduos avaliados apresentando IMC igual ou superior a 25 kg/m².
Apesar de ser observada uma maior prevalência de sobrepeso e obesidade nos homens, não houve
diferença estatística entre os sexos.
Tabela 3. Freqüência absoluta (FA) e relativa (%) da classificação de IMC por grupo etário (masculino)
Tabela 4. Freqüência absoluta (FA) e relativa (%) da classificação de IMC por grupo etário (feminino)
Na distribuição por faixa etária, para o sexo feminino, o grupo mais jovem (19-39 anos) apresentou maior
prevalência de peso normal. Parece também haver uma maior tendência à obesidade conforme o avanço da
idade, em ambos os sexos. No entanto, após tratamento estatístico, a distribuição do IMC não apresentou
diferença significativa entre os grupos etários.
A associação dos dados de IMC e CC estão descritos na tabela abaixo (Tabela 5).
Tabela 5. Freqüência absoluta (FA) e relativa (%) da classificação associada de IMC e CC
Quando associados os resultados do IMC e da CC, 113 indivíduos (36,1%) apresentaram a soma dos dois
fatores de risco cardiovascular, ou seja, IMC em sobrepeso ou superior e CC maior que 88 e 102cm, para
mulheres e homens, respectivamente. Oitenta e dois indivíduos (26,2%) apresentaram apenas um dos
fatores de risco citados, o que perfez um total de 213 indivíduos com risco cardiovascular aumentado.
Apenas 118 (37,7%) das 313 pessoas avaliadas não apresentaram nenhum dos fatores de risco
avaliados.
Os resultados de IMC e CC apresentaram forte e significativa correlação através do teste de Spearman
(Tabela 6).
Tabela 6. Coeficiente de correlação de Spearman (r) entre as variáveis IMC e CC
Discussão
No presente estudo encontrou-se uma freqüência de sobrepeso e obesidade de 60,7%, sendo
ligeiramente maior no sexo masculino (65,2%) quando comparado ao feminino (59,5%). Esses resultados
foram semelhantes ou até mesmo maiores aos encontrados em outros estudos realizados em diferentes
cidades brasileiras.
Em relação aos grupos etários, apesar de ser bem documentado na literatura que o avanço da idade
tende a aumentar os depósitos de gordura corporal e, consequentemente, o peso corporal, não houve
diferença estatística entre os grupos quanto à classificação do IMC. No entanto, o fato de haver alta
prevalência de sobrepeso e obesidade em todos os grupos corrobora com a idéia de que o excesso de peso
é uma epidemia mundial que atinge a todas as faixas etárias e sexos20.
Quando associados os dados de IMC e CC, 113 indivíduos apresentaram ambos os índices elevados, fato
que, segundo o ACSM2 tende a elevar o risco cardiovascular e a incidência de outras doenças crônicodegenerativas. Não foram encontrados estudos que fizessem associação semelhante, sendo, portanto, uma
lacuna a ser preenchida na literatura.
Analisando IMC e CC separadamente, Peixoto et al.13, em Goiânia, avaliaram o IMC de 1252 indivíduos
adultos e observaram prevalência de obesidade de 10,7% e 13,9% em homens e mulheres,
respectivamente. Apesar dos autores terem considerado estes valores como altos, quando comparados aos
valores encontrados em nosso estudo (18,1% e 21,4 % em homens e mulheres, respectivamente), tais
valores se tornam moderados. Uma possível explicação para tal diferença se encontra no fato dos estudos
terem sido realizados em épocas diferentes (2001 e 2009) e a obesidade se tratar de uma epidemia em
constante crescimento6.
Rezende et al.15, após avaliação de 231 pessoas adultas de Viçosa, observaram prevalência de sobrepeso
e obesidade próxima de 60% no geral (mulheres: 67%, homens: 55,2%), fato que se apresentou
semelhante em nosso estudo. Porém, no presente, houve uma ligeira predominância de sobrepeso e
obesidade no público masculino, talvez pelo fato de haver diferenças relativas na amostra masculina entre
os dois estudos (54,1% e 21,1%, nos estudos de Resende et al. e no presente, respectivamente). Quanto à
CC, os autores observaram que 32,1% dos avaliados apresentavam índices maiores que 88 e 102 cm, para
mulheres e homens, respectivamente, valor próximo ao encontrado no presente (37,7%).
Abrantes et al.1 avaliaram a prevalência de sobrepeso e obesidade nas regiões nordeste e sudeste do
Brasil e chegaram à conclusão que tais índices apresentam maior predominância no sexo feminino e que
mais da metade das mulheres com faixa etária entre 50 e 69 anos apresentaram sobrepeso e/ou obesidade,
provavelmente devido ao maior acúmulo de gordura corporal no sexo feminino, em decorrência do avanço
da idade9. Os autores utilizaram como referência protocolo de classificação de IMC proposto por Cole et al.
(2000).
Taniguchi et al.17 observaram em população nipo-brasileira prevalência de aproximadamente 40% entre
sobrepeso e obesidade através do IMC. Os autores concluíram que os imigrantes japoneses, que
originalmente não apresentavam o fenótipo de obesidade, acompanharam a tendência mundial atual de
ganho progressivo de peso até a obesidade. Esse fato reproduz uma tendência que se dissemina
mundialmente na atualidade.
Com relação à obesidade abdominal os mesmos autores17 observaram sua ocorrência em 21,5% dos
homens e 66,7% das mulheres avaliadas, o que, no geral, significa prevalência de 44,1% do total de
avaliados. Tais valores ligeiramente superam os encontrados neste estudo, porém o ponto de corte utilizado
foi menor, sendo de 94 e 80cm, para homens e mulheres, respectivamente. Outro fato interessante
observado pelos autores foi que os maiores índices de obesidade abdominal foram encontrados em
mulheres, contradizendo as diferentes características de distribuição de gordura corporal (ginóide e
andróide) que, em teoria, favoreceriam um maior acúmulo de gordura na região abdominal por parte dos
homens. Os autores não fizeram a associação entre IMC e CC
No presente estudo, quando associados os dados de IMC e CC, 113 indivíduos, o que corresponde a mais
de um terço da amostra, apresentaram ambos os índices elevados, fato que, segundo o ACSM2, tende a
elevar o risco cardiovascular e a incidência de outras doenças crônico-degenerativas. Não foram encontrados
estudos que fizessem associação semelhante, sendo, portanto, uma lacuna a ser preenchida na literatura.
Um fato interessante que pôde ser observado em nosso estudo foi que 4,2% das pessoas com IMC
normal apresentavam valores elevados de CC (> 88 e 102 cm). Em contrapartida, 1,5% dos obesos tinham
CC em valores adequados (< 88 e 102 cm). Esses achados só foram possíveis após associação dos dados
individuais de IMC e CC. Portanto, a utilização de determinadas medidas antropométricas isoladas para
quantificação de riscos à saúde pode ser falha.
Os dados de IMC e CC observados em nosso estudo apresentaram forte e significativa correlação através
do teste de Spearman, o que indica que o aumento nos valores de CC acompanha o aumento dos valores de
IMC. Portanto, pessoas com IMC elevado, muito provavelmente, apresentem CC aumentada, apresentando
ambos os fatores de risco cardiovascular.
Radominski et al.14 observaram correlação significativamente positiva entre a espessura intra abdominal
medida por ultra-sonografia (exame mais específico para avaliar gordura intra-abdominal) e o IMC, o que
respalda de certa forma a correlação positiva entre IMC e CC.
Um fato comum observado na maioria dos estudos analisados é que os autores consideram que um estilo
de vida ativo, incluindo a prática regular de atividade física, apresenta associação negativa com a obesidade.
Sendo assim, o sedentarismo seria um fator determinante para esta condição. No entanto, no presente
estudo, foi observada alta prevalência de obesidade, apesar de toda a amostra ser praticante de exercícios
físicos com freqüência de 3 vezes por semana.
Porém, vale ressaltar que no presente estudo o controle sobre o tempo de prática do exercício no público
avaliado não foi absolutamente preciso.
Este fato leva à conclusão que a prática de atividade física não é o único e principal fator responsável
pelo controle do peso corporal. Outros fatores intrínsecos e extrínsecos também devem ser avaliados e
controlados. Entretanto, um programa de exercícios físicos pode contribuir em parte para a redução do peso
corporal, além de proporcionar diversos outros benefícios à saúde, o que justifica sua aplicação regular.
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