Comentários Técnicos sobre Marreco 16

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Comentários Técnicos sobre Marreco 16
Cognac Velas Ltda
R2 Qd1 Lt9 - Lot Sta Isabel
Km 21,5 - RJ104 - Manilha
24800-000 Itaboraí - RJ
(21) 2635-9313
Comentários Técnicos sobre Marreco 16
De: Arnaldo Andrade <[email protected]>
Para: Walter Becker <[email protected]>
Data: 1º de abril de 2006
Assunto: Marreco 16
Caro Walter,
Obrigado por sua consulta. O Marreco é um barco que se presta a algumas interessantes alterações. Se vocês
pretendem revitalizar as regatas de Marreco na Represa o momento certo para implementar essas alterações é
agora. Em resumo, há duas vertentes a explorar:
A mais conservadora já elimina o estai de popa, invenção que nem fazia parte, parece, do Marreco original. Com
isso pode-se fazer uma vela mestra de aluamento mais generoso. Como a retranca do Marreco é muito pequenina,
essa vela vai ficar elegante e vai dar ao barco um visual muito mais moderno (fig. 1B).
A área da mestra seria
aumentada em dois metros
quadrados, o que é bastante se
considerarmos que a área do
triângulo é de apenas 5.5 m². A
vela proposta seria utilíssima no
Marreco porque ele tem uma
quilha curta e pouco eficiente.
Como essa vela tem mais
sustentação e menos arrasto ela
melhoraria - e muito - o
desempenho de vento fraco. Por
conta do aluamento generoso e
das talas inteiriças (full battens) o
barco não ficaria nervoso nas
rajadas. Deste lado, portando, só
benefícios.
Figura 1 Configuração convencional, com estai de popa e genoa I (em A).
A primeira modernização possível elimina o estai de popa que, de toda
forma, não existia na versão inicial do barco. Uma vela mestra “flat top”
com seis talas integrais substitui a ineficiente vela original. As linhas
pontilhadas mostram o grande rizado logo acima da segunda tala, com o
estai de popa passado. A cruzeta e o estai de força (em vermelho)
certamente não serão necessários na Represa.
Para os super preocupados com
a segurança é sempre bom
lembrar que mesmo a vela mestra
flat top não pegaria no estai de
popa se rizada em altura
apropriada. As linhas tracejadas
em vermelho mostram isso (fig.
1B).
Apesar desse aumento de área e
do melhor desempenho na orça é
certo que ainda seria preciso
usar-se uma genoa de grande
porte no vento bem fraco. Isso
porque a genoa "oficial" do barco
(usada há muitos anos atrás em
regatas) tinha 8,5 m². A sua substituição por uma buja de triângulo de proa moderna ou por genoas de menor
superfície deixaria o barco com um débito de área vélica em vento fraco. Isso não pode acontecer num Marreco. A
quilha curta associada a pano insuficiente fazem a barco rolar uma calamidade em vento fraco.
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Cognac Velas Ltda
R2 Qd1 Lt9 - Lot Sta Isabel
Km 21,5 - RJ104 - Manilha
24800-000 Itaboraí - RJ
(21) 2635-9313
Nessa modernização de vertente ainda um pouco conservadora o barco conservaria o spinnaker simétrico, com pau
convencional.
Nota: Cruzetas e brandalis de força me parecem necessários.
Vão mostrados em vermelho na figura 1B. (Muitos Marrecos
não os têm). Talvez se possa fazer testes iniciais sem as
cruzetas para avaliar se as velas propostas vão exigir um
pouco mais de firmeza ao mastro ou se será possível manter
a simplicidade do estaiamento sem cruzetas.
A vertente mais ousada eliminaria o estai de popa mas,
adicionalmente, agregaria um spinnaker assimétrico
lançado de um pau que avançasse um metro para a proa do
barco. (fig. 2). Ele não precisaria ser muito grande porque o
mastro do Marreco é muito recuado em comparação com
barcos mais modernos. Para você ter uma idéia, o Alpha 22
tem o mesmo J (distância do mastro à base do estai) do
Marreco. Um pau de 80cm a um metro de comprimento já
deve ser suficiente. Acho importante que o assimétrico, se
adotado for, seja adriçado de um ponto 50cm mais alto que a
encapeladura atual (setas na fig. 2). Isso vai facilitar as
manobras em regata.
É importante lembrar que a esteira desse spinnaker
assimétrico não precisará ser muito grande para se obter
uma área vélica considerável. Uma vela como a mostrada
na figura 2 já teria um pouco mais de área do que um
spinnaker simétrico mas seria muito mais simples de usar.
Vocês até poderiam adotar um pequeno enrolador de
gennaker, facilitando ainda mais o uso dessa vela. Ela
subiria, já enrolada, antes da regata e só seria abaixada no
clube.
Figura 2 Versão um pouco mais ousada, com
gennaker içado 50cm acima do estai de proa e
amurado em pau que avança um metro à frente da
Dentre as muitas vantagens do gennaker eu ressaltaria uma
proa.
que é especialmente importante num barco pequeno: Não é
preciso ficar em pé no teto da cabine nem ir à proa em nenhum manobra com o gennaker: nem para armar, nem
para desarmar, nem para dar gybe. Só isso já o recomendaria. Além disso o pau fica montado o tempo todo da
regata no lugar, diferentemente do pau de spi convencional.
Quanto aos materiais, Prolam para o grande e para a genoa e nylon nacional da Lucacel para o gennaker.
Recomendo inclusive estabelecer um peso mínimo de 0.75 onças para o spinnaker de modo a evitar a corrida por
tecido importado superleve (e caro!) O tradicional nylon 0.75 ripstop é bom o bastante e, se todos o usarem para os
gennakers, serão igualmente prejudicados em vento muito fraco. A construção de todas as velas deve ser tri-radial.
Quem quiser uma vela mestra particularmente robusta pode encomendá-la com estruturas catenárias em camada
dupla, como na vela do Mandinga.
Algumas notas adicionais:
1) Velas tri-radiais demandam adriças de boa qualidade. Tudo no Marreco é pequenino de modo que não é preciso
fazer economia demasiada nesse aspecto. É mister aposentar as adriças de pré-esticado e outras (que, na verdade,
esticam). Só na adriça do gennaker pode-se manter sem problemas um pré-esticado. No resto é tratar de trocar.
2) O trilho da genoa não pode ser esquecido. Na sua configuração original o barco tinha um trilho de cada lado. A
posição mostrada na figura 3 (que deve ser a remanescente na maior parte dos Marrecos) é a correta para a genoa
com 3,50m de esteira da qual eu lhe falava durante a semana.
3) Um simples tubo de alumínio com 1 ½ polegada de diâmetro deve ser suficiente para o pau do spi assimétrico. A
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fixação não deve apresentar maiores dificuldades pois a proa do Marreco é bem limpa.
4) Manter a simplicidade sempre em vista.
Figura 3 Posição original dos trilhos de genoa (Fonte: Carbrasmar, apud www.popa.com.br)
Bom, acho que por enquanto é só. Como você vê, há muita novidade que se pode incorporar numa mastreação tridecenária, como a do Marreco. Se as propostas vão trazer uma grande melhora de desempenho ou não, isso
envolverá sempre alguma disputa. Em princípio a mastreação mais ousada deve melhor ara relação Cl/Cd, que liga
os coeficientes de sustentação e de arrasto do velame. Isso é forçosamente útil num barco de quilha curta e que
sabidamente tem problemas com a orça. O gennaker deve facilitar o aumento de área vélica no través, permitindo
que se agregue pano sem se precisar ficar em pé no teto da cabine para engatar um pau de spi e outras chaturas
associadas aos spis simétricos.
Nota: Grande com ilhós de cunningham, esteira solta, birutas de valuma e numeral. Genoa com janela de biruta.
Todas as velas com bichas de valuma e esteira e, muito importante, reforços radiais.
Espero que essas informações sejam úteis a vocês e me coloco à disposição da flotilha para aprofundar essa
discussão.
Abraços
Arnaldo Paes de Andrade
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