EDUCAÇÃO

Transcrição

EDUCAÇÃO
Clipping Nacional
de
Educação
Segunda-feira, 30 de Setembro de 2013
Capitare Assessoria de Imprensa
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02/10/13
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RADAR
LAURO JARDIM
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SOBE
Crianças na escola
A porcentagem de crianças entre 5 e 6
anos na escola subiu de 77,2% para 92%
no Brasil em uma década.
SOBE/DESCE
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CARTA AO LEITOR
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EDUCAÇÃO
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Continuação
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Continuação
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EDUCAÇÃO
Continua
Continuação
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Continuação
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Continuação
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30/09/13
RIO
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Professores estudam se vão
entrar na Justiça contra Estado
Sindicato diz que desocupação
da Câmara foi truculenta
Docentes ameaçam invadir a
Casa, que teve policiamento
reforçado
Débora Gares
Gabriel Menezes
RIO - Um dia depois da retirada
pela polícia do grupo de professores
que ocupava o plenário da Câmara
de Vereadores, um grupo de 30
deles voltou na manhã deste
domingo à porta da sede do
legislativo municipal. Segundo eles,
os profissionais, que pedem
participação na elaboração de um
plano de cargos e salários para os
docentes do município, não
descartam tentar invadi-la
novamente. Eles disseram ainda que
vão acampar diante do prédio a partir
desta segunda e, no Largo do
Machado, a partir de terça, quando
haverá uma assembleia da categoria
e deverá ser decidido se o Sindicato
Estadual de Profissionais de
Educação do Rio de Janeiro (Sepe)
entrará na Justiça contra o Estado.
Segundo a coordenadora-geral da
entidade, Marta Moraes, a polícia
agiu de forma truculenta, na noite de
sábado, quando entrou no plenário
para retirar os manifestantes.
De acordo com Marta, além de
os agentes não terem apresentado
um documento legal com ordem de
reintegração de posse, ainda usaram
armas de choque e balas de borracha
contra os manifestantes. Cerca de 20
professores registraram queixa por
agressão na 5ª DP (Lapa). Dois
docentes foram detidos e liberados
em seguida.
— Um dos professores foi
agredido antes de ser detido. Ele foi
atingido com uma arma de choque,
caiu no chão e desmaiou. Mesmo
desacordado, foi arrastado pelo
chão por um policial — disse a
coordenadora-geral do Sepe. —
Eles puxaram pessoas com mais de
60 anos pelo braço. Uma senhora
ficou com o supercílio cortado. Em
nenhum momento houve ação
violenta por parte dos manifestantes.
No grupo só havia professores.
Ninguém ali é marginal ou a favor
da violência.
Durante evento de inauguração
da Cidade da Polícia, no início da
tarde deste domingo, no Jacarezinho,
o governador Sérgio Cabral criticou
a ocupação da Câmara pelos
professores, que estavam ali desde
quinta-feira. Para ele, a ação
“prejudica a democracia”.
— Uma coisa é ter a participação
da população, algo muito importante,
outra é a ocupação do plenário de
um prédio público de uma maneira
que não é aquela que deve ser feita
por quem quer participar dos
debates. A democracia estabelece
ritos que devem ser respeitados. Eu,
como ex-parlamentar, acho que a
participação da população deve se
dar sempre, mas dentro daquilo que
se chama direitos e deveres — disse
Cabral.
Acompanhando o evento de
inauguração, o comandante-geral da
Polícia Militar, coronel Luís Castro,
negou que tenha havido truculência
por parte dos policiais na ação de
retirada. Do lado de fora da
Câmara, imagens divulgadas pela
internet mostram policiais jogando
spray de pimenta em manifestantes.
— A Polícia Militar entrou apenas
com seu efetivo. Não utilizamos
spray de pimenta nem balas de
borracha, então acho que foi uma
ação técnica na qual atendemos a
solicitação do presidente da casa —
disse o coronel. — O que as
imagens mostraram foi a ação do
lado de fora, onde houve uma
tentativa de dificultar a atividade da
polícia. Tivemos que fazer esse tipo
de ação, também sem balas de
borracha, que não usamos desde o
dia 3 de setembro.
Continua
Continuação
30/09/13
Equiparação
ocorreria em cinco anos
A base do governo, com apoio
de alguns vereadores de oposição,
decidiu propor uma emenda que
iguala os vencimentos de todas as
categorias de professores,
independentemente da carga horária.
Mas os vencimentos daqueles que
não migrassem para 40 horas
semanais seriam equiparados apenas
em cinco anos, com reajustes na
hora-aula de 20% ao ano para todas
as categorias. O líder do governo,
Luiz Guaraná (PMDB), explicou que
a proposta atende à realidade
orçamentária da prefeitura, já que
causará um impacto de R$ 3 bilhões
nas contas do município. Paulo
Messina (PV), da Comissão de
Educação, disse acreditar que a
proposta traz ganho em relação à
versão original.
30/09/13
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O PAÍS
PERFIL / RONAL HENNING
Quem conta um conto
ganha vários pontos
Continua
Continuação
30/09/13
30/09/13
TENDÊNCIAS
& DEBATES
A3
Ousar no conceito de qualidade
Paulo Gabriel Soledade Nacif
A busca por inserir os alunos na
diversidade territorial brasileira não
deve ser referência de qualidade das
universidades?
Apesar de todas as críticas
possíveis, não podemos esquecer
que as universidades são públicas ou
atuam, quando privadas, sob
concessão do Estado brasileiro.
É, por tanto, legítimo que a
sociedade tenha referências de
qualidade sobre as instituições que
mantém. Ademais, tais informações
são importantes para ações de
políticas públicas, de regulação do
Estado.
A grande questão nas avaliações
e em rankings é justamente a
delimitação de critérios, ou seja, para
hierarquizar, precisamos expor quais
as epistemes que nos guiam.
É necessária a exposição de um
conceito de universidade. No caso
do Ranking Universitário Folha
(RUF), esse conceito baseia-se no
modelo hegemônico e, felizmente,
incontornável de universidade
científico-tecnológica.
No entanto, a universidade não
pode ser apenas isso. Ainda é
contemporânea a preocupação de
Alceu Amoroso Lima, que
considerava insuficiente a educação
ou formação profissional que faz a
pessoa ser apenas uma expert em
conhecimentos.
O conceito compreendido pelo
RUF é muito óbvio e pouco colabora
com o debate necessário ao país.
Afinal, podemos falar em um
conceito de universidade brasileira?
O que há da experiência mais singular
da universidade brasileira no RUF?
Atrevo-me a responder: quase nada!
Qualquer
universidade,
conceitualmente, deve ter na
pesquisa a sua ação basilar e, nesse
aspecto, talvez os 40 pontos (em
100), destinados à pesquisa no RUF,
sejam até poucos. Vale ressaltar que
não é aí que está a questão, inclusive
porque a simplificação conceitual da
universidade que preocupa ocorre
efetivamente nos outros parâmetros!
Será que não precisamos ousar
sobre aquilo que tão ardentemente
defendemos como "qualidade"?
Pensar no conceito de universidade
não deve significar também uma
colaboração efetiva com a formação
geral dos nossos estudantes?
A universidade precisa ir além de
preparar o que William Zinsser
chamou de "bárbaros altamente
qualificados". Qual o posicionamento
das universidades brasileiras quanto
ao recente comportamento dos
nossos médicos em relação a
colegas estrangeiros? Não há uma
dimensão de formação acadêmica
nessa questão? A consideração mais
aprofundada da avaliação da
formação geral presente no Enade
pode contribuir para a análise de uma
instituição universitária?
A busca por inserir os seus alunos
na diversidade territorial brasileira
não deve ser referência de qualidade,
que se soma aos conceitos emitidos
pela área de recursos humanos de
grandes empresas, como usa o
RUF? Afinal, a busca de
reconhecimento das diversidades
étnico-racial, geracional e de gênero
não deveria ser parâmetro de
qualidade em um país como o Brasil,
com feridas sociais tão doídas e
abertas?
Qual é a nossa opinião sincera
sobre o preceito constitucional da
extensão como pilar fundamental da
universidade brasileira?
Não podemos esquecer que, ao
determinarmos parâmetros de
avaliações ou rankings, estamos
também estabelecendo para a
sociedade o conceito de universidade
brasileira! Ao que parece, estamos
nos distanciando, para o bem e para
o mal, daquilo que sonhou gente
como Darcy Ribeiro e Anísio
Teixeira.
PAULO
GABRIEL
SOLEDADE NACIF, 49,
engenheiro agrônomo e doutor em
solos, é reitor da UFRB
(Universidade Federal do
Recôncavo da Bahia)
30/09/13
00
NOTAS &
INFORMAÇÕES
O piso unificado dos docentes
Dois anos depois de terem arguido a
inconstitucionalidade da Lei 11.738 que impôs o piso salarial
unificado para os professores da rede pública de ensino
básico, em 2008, os governadores estaduais agora querem
mudar a fórmula de correção dos salários da categoria.
Pela Lei do Piso, cuja constitucionalidade foi reafirmada
pelo Supremo Tribunal Federal em 2011, o índice de
reajuste deve seguir o porcentual de variação, nos dois
últimos anos, do gasto por aluno no Fundo de Manutenção
e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização
dos Profissionais da Educação (Fundeb).
"Alguns Estados caminham para tentar garantir ganho
real para o piso, mas precisamos de um índice mais
estável", afirma Eduardo Deschamps, secretário de
Educação de Santa Catarina e presidente do Conselho
Nacional de Secretários de Educação (Consed), depois
de afirmar que a maioria dos governadores estaria disposta
a apenas atualizar o piso salarial unificado pela inflação.
"Como está, o reajuste não é viável", diz o secretário de
Educação do Rio Grande do Sul, José Clóvis de Azevedo,
depois de lembrar que a folha de pagamento do
professorado já consome 85% do orçamento de sua pasta.
O cálculo leva em conta o montante da receita de
impostos municipais, estaduais e federais que compõem o
Fundeb e as variações no número de alunos do ensino
fundamental. Em 2010, havia 11,4 milhões de alunos
matriculados nos anos iniciais do ensino fundamental
urbano da rede pública. Em 2012, eram 10,7 milhões de
alunos. Como a estimativa é de crescimento da receita
fiscal e de uma nova redução do número de matrículas
nesse nível de ensino, em 2013, os governadores alegam
que o próximo reajuste do piso unificado - que hoje é de
R$ 1.567 - terá de ser de 19%.
Evidentemente, a iniciativa dos governadores não foi
bem recebida pelas entidades de professores da rede
pública de ensino fundamental. Mas, conscientes do
impacto nas finanças municipais e estaduais da fórmula
de cálculo do piso imposta pela Lei 11.738, elas aceitam
negociar. Uma das alternativas admitidas é a adoção do
INPC do ano anterior, acrescido de 50% da variação
nominal do Fundeb, mas sem descontar a inflação, como
querem os governadores.
Esse valor é mais do que o dobro do que os 7,97% que
foram concedidos à categoria no início de 2013, dizem os
governadores, com o apoio dos prefeitos de seus
respectivos Estados. Alegando não dispor de recursos
orçamentários suficientes e classificando o modelo salarial
imposto pela Lei 11.738 como "insustentável" e
"imprevisível", eles querem reduzir o aumento, que deverá
ser concedido no início de 2014, a 7,7%. Para os
governadores, a forma de reajuste em vigor impede o
planejamento tributário dos Estados.
Em documento enviado à Presidência da República,
há duas semanas, eles propuseram que o reajuste do piso
passe a ser feito com base no Índice Nacional de Preços
ao Consumidor (INPC) do ano anterior, acrescido de 50%
da variação real (descontada a inflação) do Fundeb.
Atualmente, segundo o presidente da CNTE, Roberto
Leão, só quatro Estados e o Distrito Federal cumpririam
integralmente a Lei do Piso. Para o Ministério da Educação
(MEC), os reajustes acumulados do piso salarial unificado
entre 2009 e 2013 totalizaram mais de 64%,
sobrecarregando as prefeituras e os Estados mais pobres.
O MEC também estima que o problema da remuneração
do magistério público só será resolvido com a destinação
de recursos dos royalties da exploração do pré-sal para a
educação.
A criação do piso salarial unificado foi uma iniciativa
importante, uma vez que os salários dos professores da
rede oficial de ensino fundamental sempre estiveram entre
os mais baixos entre os profissionais qualificados do setor
público. Mas a concessão de aumentos reais tem de estar
condicionada à realidade fiscal dos Estados, por um lado,
e aos repasses da União, por outro lado. Sem isso, a Lei
do Piso continuará sendo desrespeitada pela maioria dos
Estados.
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METRÓPOLE
RIO: Retirados da Câmara,
professores vão à Justiça
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Continuação
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30/09/13
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METRÓPOLE
Desde 2009, Enem é alvo de mais de seis
processos por semana na Justiça
Continua
Continuação
30/09/13
30/09/13
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METRÓPOLE
‘É preciso que o Mec seja
transparente’, diz estudante
Continua
Continuação
30/09/13
CORREIO BRAZILIENSE
30/09/13
BRASIL
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Acesso ao ensino infantil
lidera a lista de violações
Por hora, os conselhos tutelares
recebem, pelo menos, uma
reclamação de descumprimento do
direito à escola, garantido pela
Constituição. As crianças mais novas
são as principais prejudicadas pela
falta de vagas e má qualidade das
instituições
GRASIELLE CASTRO
A cada hora um conselho tutelar
recebe uma denúncia de violação do
direito de acesso à educação,
garantido a todas as crianças do
país. Nos últimos quatro anos, foram
43,9 mil queixas. Levantamento do
Correio com base nos dados da
Sistema de Informação para Infância
e Adolescência (Sipia), da
Presidência da República, com
dados dos conselhos tutelares,
mostra que as principais reclamações
recaem sobre o ensino infantil: ou há
dificuldade de acesso ou o serviço
não é ofertado. Só nesse quesito, de
25 de setembro de 2008 a 25 de
setembro deste ano, foram 22 mil
queixas. Os dados, no entanto, são
subnotificados, pois apenas 18
unidades
da
Federação
encaminharam as reclamações para
inclusão no sistema.
As denúncias refletem a
realidade: faltam creches e préescolas. Presidente do Conselho
Tutelar de Bairro Novo, em Curitiba,
Cristiane Noronha diz que muitas
famílias a procuram para reclamar
que não conseguem matricular os
filhos. Segundo Cristiane, o
problema é que o número de escolas
não acompanha o crescimento da
demanda. Cristiane orienta os pais a
formalizarem o pedido de vaga. Se
não conseguirem, o conselho
encaminha a solicitação ao núcleo de
educação. “De 100 casos, 90
contam com resposta negativa. O
conselho, então, abre um
procedimento no Ministério Público,
que é encaminhado para uma futura
ação civil pública”, explica.
Poucas vagas
Apesar de o Paraná estar no topo
do ranking das denúncias, a
realidade do estado é bem próxima
à do resto do país. No Distrito
Federal, algumas mães desistem de
procurar uma vaga porque sabem
que não vão encontrar. Foi isso que
aconteceu com a mãe de Enzo
Miguel, de 1 ano e 8 meses. A
manicure Ildeneide dos Santos, 23
anos, ficou desanimada com a alta
demanda. “Tem muita criança
esperando por vaga. Já deixei de
aceitar propostas de emprego
porque não tinha com quem deixar
o Enzo. O maior problema das mães
é não ter com quem deixar os filhos”,
destaca. Ela não sabe o que vai fazer
quando o menino ficar mais velho.
“Minha filha, de 7 anos, começou a
estudar cedo e isso fez muita
diferença no aprendizado. Nós
morávamos em Goiás e eu consegui
a matrícula. Sempre achei que no DF
ia ser mais fácil, mas não está sendo.”
A secretária da Criança do DF,
Rejane Pitanga, reconhece que a
capital do país tem uma dívida
histórica com o setor. “Essa é uma
política fundamental para o
desenvolvimento da criança e para a
autonomia das mães, que vão para
o mercado de trabalho e precisam
deixar os filhos bem cuidados,
principalmente nas regiões de grande
vulnerabilidade social”, reforça. A
Secretaria de Educação do DF
acrescenta que, em parceria com o
Ministério da Educação, vai construir
mais 111 unidades até o fim de 2014.
A rede atual conta com 147 creches
e pré-escolas, incluindo as
conveniadas. Na semana passada, o
ministro Aloizio Mercadante
reafirmou a promessa do governo
federal de construir 9 mil unidades
até 2014.
As queixas no Sistema de
Informação para Infância e
Adolescência (Sipia), entretanto, não
se restringem ao ensino infantil. O
sistema também registra reclamações
contra outras etapas do ensino e a
falta de estrutura adequada para o
aprendizado.
Continua
Continuação
30/09/13
CORREIO BRAZILIENSE
30/09/13
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Um remédio contra a evasão
Para 2016, a educação brasileira tem o desafio de
oferecer vagas para todas as crianças com 4 e 5 anos.
De acordo com o relatório De olho nas metas 2012,
do Movimento Todos Pela Educação, a taxa atual é
de 81,7%. O levantamento indica que cerca de 1 milhão
de crianças nessa faixa etária ainda está fora da escola.
Embora a educação seja um direito, a oferta de vagas
só é obrigatória dos 6 anos aos 17 anos.
Para o ex-presidente da União Nacional dos
Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e
membro do Conselho Estadual de Educação do Paraná
Carlos Eduardo Sanches, é fundamental que o ensino
infantil seja acessível a todos. “Estudos provam que a
chance de uma criança que passou por essa fase do
aprendizado ter uma trajetória de sucesso é maior.”
O presidente da Associação de Pais e Alunos das
Instituições de Ensino do DF (Aspa), Luís Cláudio
Megiorin, alerta que é nessa fase do ensino que os
estudantes tomam gosto pela leitura e pelo
aprendizado. “Lá na frente, vamos nos deparar com
repetência e evasão. O estímulo tem que começar na
creche e na pré-escola”, acredita. “Mas não adianta
colocar a criança em um depósito. O bom resultado
só é alcançado em um ambiente estimulador, com
profissionais qualificados.” (GC)
BRASIL
CORREIO BRAZILIENSE
30/09/13
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EDITORIAL
Analfabetismo: bola de neve do atraso
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
(Pnad) divulgada sexta-feira passada pelo IBGE é trágico
flagrante do atraso governamental em área essencial para
o desenvolvimento do país: a educação. Depois de uma
década e meia em declínio, o contingente de analfabetos
brasileiros com mais de 15 anos de idade foi engordado
em cerca de 300 mil pessoas no último ano com relação
a 2011. Tivesse estagnado, a vergonha já seria grande,
mas, pior do que isso, a curva do analfabetismo voltou a
apontar para cima, com avanço de 0,1 ponto percentual,
passando de 8,6% para 8,7%.
Ressalve-se que tal grau de ignorância é observado
em faixa etária bastante avançada para a vida escolar. E
que aqui não se trata de pessoas desprovidas de pleno
domínio da leitura e da escrita, mas de quem
simplesmente é incapaz de ambas as coisas. Mais: o
universo dos analfabetos funcionais (agora, sim, dos que
não sabem ler nem escrever satisfatoriamente), entre os
que chegaram ou ultrapassaram os 15 anos, é bastante
superior, girando em torno de 20% do total. Ou seja, o
infortúnio do estudante neste país vai de ponta a ponta.
Para se ter ideia, cerca de 38% dos que cursam o terceiro
grau têm sérias dificuldades para produzir e interpretar
textos.
No fim de 2012, mais precisamente em 9 de
novembro, o governo federal lançou o Pacto Nacional
pela Alfabetização na Idade Certa. O programa, com
previsão de investimentos de R$ 2,7 bilhões neste ano e
em 2014, tem como alvo crianças de 7 anos. Vejam que
essa é a “idade certa”. Tanto que em 2008 foi instituída
a Provinha Brasil, destinada a aferir se, aos 8 anos, os
alunos do 2° ano do ensino fundamental da rede pública
estariam, de fato, plenamente alfabetizados. Mas,
passada meia década, percebe-se que os efeitos da
louvável medida adotada pelo Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep/
MEC) têm sido, no mínimo, insuficientes.
Acabar com o mal endêmico que compromete
geração após geração de brasileiros, como pesado
entrave ao desenvolvimento sustentável do país, é desafio
para toda a sociedade. Mas é preciso, antes, romper o
círculo vicioso, para que as famílias adquiram condições
de prestar cota de colaboração nessa tarefa gigantesca.
Sem o mínimo, perde-se inclusive a possibilidade de
aplicação de prática comum nos países desenvolvidos,
de os pais lerem para os filhos pequenos, o que desperta
o interesse pela leitura, desenvolve o raciocínio, amplia
o conhecimento da língua e facilita o aprendizado das
demais disciplinas.
Fracassos em matemática, geografia, história, ciências
e outras matérias se devem, sobretudo, a deficiências
de leitura e escrita. Nessa bola de neve do atraso, a
evasão escolar cresce, alimentada pelo desinteresse de
quem está na escola sem entender nada. Mais: a própria
cidadania é mutilada. Portanto, é preciso fazer valer cada
centavo dos R$ 2,7 bilhões destinados a crianças de 7
anos em 2013 e 2014. Mas os jovens e adultos
analfabetos também carecem de ação rápida e eficiente
do Estado. É o futuro da nação que está em jogo.
DESTAKjornal (DF)
30/09/13
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BRASIL
02/10/13
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COMPORTAMENTO
O maior problema da educação do Brasil
Metade dos jovens entre 15 e 17 anos não está matriculada no ensino médio.
Pesquisa inédita mostra que a proporção dos que abandonaram
a escola nessa etapa saltou de 7,2% para 16,2% em 12 anos
João Loes
Não é sempre que apenas uma
estatística basta para dar um bom
panorama da realidade. O mais comum é que seja preciso esmiuçar
diversos números e informações para
realmente compreender o que está
em jogo. Quem se debruça sobre o
ensino médio brasileiro, porém, se
depara com uma única estatística
que parece sintetizar, de forma clara, a desastrosa situação desta etapa da educação: a taxa de evasão
escolar. Uma nova pesquisa da Fundação Sistema Estadual de Análise
de Dados (Seade), com base em
informações da Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios do IBGE,
revela que apenas metade dos jovens com idade entre 15 anos e 17
anos está matriculada no ensino médio. Pior: entre 1999 e 2011, a taxa
de evasão nesta faixa mais que dobrou, saltando de 7,2% para
16,2%. Ainda que o número absoluto de alunos venha aumentando,
segundo o Ministério da Educação,
dados de evasão como esses criam
um senso de urgência que se sobrepõe a tudo. “Chama a atenção a dificuldade de enfrentamento da crise
do ensino médio”, resume o estudo.
“A despeito das reformas, os resultados das avaliações nacionais continuam surpreendendo negativamente os responsáveis pela condução da
política educacional brasileira”, conclui.
ARREPENDIMENTO
A evasão é grande, mas a maioria pensa em voltar à escola
A evasão, nesse contexto, é menos causa que consequência dessa
crise. Ela é a parte visível de um conjunto de problemas conhecidos há
décadas, mas sobre os quais nenhum
governo tem feito o suficiente. “A
crise é inquestionável e não podemos mais adiar o enfrentamento de
um problema tão grave”, diz Maria
de Salete Silva, coordenadora do
programa de educação do Fundo das
Nações Unidas para a Infância, no
Brasil (Unicef). “O ensino médio é o
maior desafio da educação do País.”
Currículo inchado, com disciplinas
demais para tempo de menos, ausência de um programa de ensino
técnico integrado a essa etapa escolar, baixa remuneração dos professores e, fundamentalmente,
inadequação do ensino médio à vida,
às expectativas e às necessidades
dos jovens compõem o retrato das
dificuldades. “Esperar cinco anos
para agir é condenar uma geração
que hoje tem entre 15 e 17 anos a
não ter perspectivas de futuro”, resume Maria Salete.
O paulistano Mateus Oliveira,
hoje com 19 anos, sabe bem quanto
abrir mão da educação nessa fase
crucial limita as perspectivas de futuro. Quando tinha 17 anos e cursava pela segunda vez o primeiro ano
do ensino médio, ele resolveu largar
a escola para tentar a carreira de jogador de futebol. “Era um sonho que
já tinha me custado a sétima série,
que também repeti”, diz. Confiante
no talento com a bola, ele insistiu,
mas menos de um ano depois percebeu que o caminho não renderia
frutos. Com 18 anos e sem o ensino
médio concluído, matriculou-se no
programa de educação de jovens e
adultos, onde um ano de ensino pode
ser cumprido em seis meses, e rumou
para a carreira militar. Atrasado, finalmente conseguiu concluir o ensino médio esse ano, mas viu e ainda
vê oportunidades lhe escaparem por
causa da formação atrasada. “Já era
para eu ter concluído o curso técnico que acabei de começar, em
informática”, diz. Com a capacitação,
ele poderia estar ganhando mais no
Exército – onde ainda recebe um
salário de base, além de não ter segurança de carreira – ou trabalhando como técnico em informática em
uma empresa da área. “Me arrependo das decisões que tomei”, diz.
Continua
Continuação
SONHO FRUSTRADO
Mateus Oliveira, 21 anos, abandonou
o ensino médio aos 17 anos para tentar
ser jogador de futebol. Não deu certo e
agora ele quer se tornar técnico em
informática
Tratar o caso de Oliveira como o
de um garoto perdido que simplesmente preferia jogar bola a estudar
é, além de reforçar preconceitos,
desperdiçar uma grande oportunidade de entender de onde vem o gigantesco desinteresse do jovem pela
escola. Afinal, Oliveira não deixou o
estudo só porque o futebol o atraía,
mas também porque o colégio não
parecia relevante o suficiente para
ele. E não são poucas as razões que
fazem da escola algo sem importância aos alunos, como mostra a pesquisa do Seade.
O currículo é um dos maiores problemas. Reformado em 1998 e
2012, mas ainda inchado por 13 disciplinas obrigatórias, além de cinco
complementares a serem ministradas
em conjunto com as demais, ele tem
sido considerado excessivamente
extenso para os três anos de ensino
médio. Recentemente, ganhou força
a ideia de dividir as disciplinas em
grandes áreas de interesse. Trata-se
de uma contribuição vinda do Exame Nacional do Ensino Médio
(Enem), que surgiu com a única função de avaliar essa etapa educacional, mas que hoje acumula a tarefa
de selecionar alunos para universidades federais do País. A proposta
02/10/13
é reunir, como acontece no Enem,
biologia, física e química sob o guarda-chuva das ciências da natureza;
história, geografia, filosofia e sociologia, sob ciências humanas, e assim
por diante. “Mas o projeto é de difícil implantação, exige forte
interdisciplinariedade, o que não se
faz de uma hora para outra”, diz Luis
Márcio Barbosa, diretor-geral do
Colégio Equipe, em São Paulo.
PROVEDOR
Hudson Silva, 22 anos, saiu da escola
para poder trabalhar e ajudar em casa
Além das questões práticas,
como o volume de disciplinas e o
tempo disponível para cumpri-las,
uma preocupação mais subjetiva com
o currículo, mas não menos importante, tem ganhado cada vez mais
espaço. Trata-se da distância abissal
entre o conteúdo das disciplinas
apresentado aos jovens e a realidade da vida que eles levam. “A escola
continua muito tradicional, engessada
diante da vida mutante do adolescente contemporâneo”, afirma o educador Barbosa. A chamada “integração
do currículo às tecnologias educacionais”, meta no relatório do Seade,
é um dos maiores gargalos. Hoje,
segundo pesquisa do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento
(Cebrap), 84,4% dos brasileiros
com idade entre 15 e 19 anos usam
a internet para estudar. Outros
25,9% recorrem a tablets e celulares. -Enquanto isso, poucas escolas
no País fazem uma integração real de
conteúdo e tecnologia, embora
73,8% delas já contem com computador e internet. Este
descompasso entre expectativas dos
alunos e entrega da escola é forte
gerador de desinteresse, mas não é
o único.
A ausência de uma articulação
mais eficiente entre ensino profissional e ensino médio também é tida
como uma das razões para a evasão
nesta fase. Reconhecer que nem todos, ao completar 18 anos, vão
rumar para a universidade e oferecer a alternativa do aprendizado técnico durante o ensino médio pode
ser um caminho para manter alunos
na escola. Se essa opção estivesse
disponível para o paulistano Hudson
Laton da Silva, hoje com 21 anos,
ele provavelmente teria terminado a
educação básica. Morador da
Brasilândia, na zona norte de São
Paulo, Silva saiu do colégio para se
dedicar integralmente ao trabalho
quando cursava o primeiro ano do
ensino médio. “Tinha que ajudar em
casa”, conta. Ele trabalha como mecânico e, se um curso técnico nessa
área tivesse sido oferecido na escola onde ele estudava, o jovem teria
uma razão a mais para continuar frequentando a instituição. Hoje ele
corre atrás do prejuízo. Mesmo empregado – ele é funcionário de uma
grande concessionária na capital
paulista –, Silva pretende fazer um
supletivo e finalmente terminar o ensino médio. “Vou ser sincero: vontade de voltar a estudar eu não tenho,
mas sei que é importante, então quero fazer o supletivo”, diz.
Boa parte dos que deixam de estudar pensa como ele e fala em
retornar. Segundo dados da pesquisa do Cebrap, 61,8% dos jovens que
abandonaram a escola nessa fase
Continua
Continuação
02/10/13
Continua
Continuação
02/10/13
Continua
Continuação
querem voltar para concluir o ensino
médio, independentemente da razão
que motivou a evasão. “Algumas decisões são tomadas de maneira impulsiva porque o adolescente já tem
alguma autonomia, mas tem dificuldade para pensar a longo prazo”, diz
Maria Cristina Figueiredo, coordenadora do Colégio Brasil Canadá, para
quem, na adolescência, tudo é mais
interessante que estudar. “Mas eles
pensam no que fazem, refletem e costumam se arrepender quando veem
que fizeram besteira.” Cabe à escola
e aos pais dar subsídios ao aluno para
que ele consiga administrar os impulsos da idade. Nem sempre, porém,
é possível. A paranaense Andreia
Tawlak, hoje com 21 anos, conhece,
como poucos, as consequências da
entrega às paixões adolescentes.
Dona de um histórico escolar conturbado – ela havia repetido a sétima
série e cursava pela segunda vez o
primeiro ano do ensino médio –, Andreia surpreendeu a todos quando,
aos 17 anos, anunciou que estava de
mudança para Balneário Camboriú,
em Santa Catarina. Apaixonada pelo
primeiro namorado, de 23 anos, ela
diz ter sido convencida por ele a largar tudo e acompanhá-lo. “Foi coisa
de idiota”, admite, hoje. O relacio-
02/10/13
namento durou um ano e meio, Andreia teve de retornar para Foz do
Iguaçu, onde morava, e hoje está às
voltas com um supletivo que não consegue terminar enquanto sonha com
cursos de design e um emprego na
área. “Os amigos do tempo de escola que continuaram estudando estão todos trabalhando. E eu? O que
estou fazendo?”, questiona.
Embora muitos especialistas defendam que, mesmo em casos como
o de Andreia, a escola tem responsabilidade por não ter mostrado à aluna a importância de permanecer em
sala de aula, há visões contrárias a
esta tese. A diretora do Sindicato dos
Professores de São Paulo (SinproSP), Silvia Barbara, afirma que “jovens adultos” com seus 16, 17 anos
devem assumir suas obrigações.
“Nas análises dos problemas na educação, a escola e os professores são
sempre os mais criticados e pouca
ou nenhuma responsabilidade é
legada ao adolescente e à família”,
diz. Silvia diz ainda que a cruzada em
favor de uma escola que privilegie ser
agradável aos alunos antes de se preocupar em passar a eles o conhecimento acumulado da humanidade
pode ter efeitos nocivos. “Vivemos
em uma sociedade que valoriza de-
mais o prazer e criminaliza demais o
trabalho. E estudar sempre dará trabalho”, afirma.
FASE
Maria Cristina Figueiredo, coordenadora do Colégio Brasil Canadá: "Na adolescência, tudo é mais interessante que
estudar", diz ela
Quando um jovem abandona a
escola, perdem todos. A exclusão
pela educação cria um abismo social e inibe o surgimento de um cidadão com uma participação social
mais efetiva. Perde também o Brasil. “O País deixa de ter um profissional de nível médio com formação
geral e um potencial profissional de
nível técnico pós-médio ou de nível
superior, com formação específica”,
alerta Priscilla Tavares, professora e
pesquisadora da Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas
(FGV) em São Paulo. “As
consequências do abandono no ensino são severas para o crescimento
econômico.” Já passou da hora de
enfrentarmos esse desafio.
Continua
Continuação
02/10/13
CORREIO BRAZILIENSE
29/09/13
00
Educação
Os governadores ameaçam
novamente com o não pagamento
do piso nacional dos professores,
que já não é grande coisa. Onde
está o prometido dinheiro do présal? Melhor seria se os
parlamentares tivessem aprovado
a federalização da educação
básica, com a destinação de 10%
da arrecadação de impostos,
obrigatoriamente, para a área. Aí,
com toda certeza, haveria
melhoras na qualidade do ensino
público do país.
Washington Luiz Souza Costa,
Samambaia
SR. REDATOR
CORREIO BRAZILIENSE
29/09/13
00
Mandou bem
Alunos da Escola Classe 25, em
Ceilândia, criaram uma cadeira de
rodas movida por meio de estímulos
cerebrais e movimentos do rosto.
Depois de aulas de robótica e
programação eletrônica, eles
desenvolveram o protótipo da
cadeira.
CIDADES
EIXO CAPITAL
28/09/13
00
METRÓPOLE
28/09/13
00
METRÓPOLE
28/09/13
00
METRÓPOLE
28/09/13
00
METRÓPOLE
Desafio é manter o aluno a partir dos 15 anos
Na faixa de 15 a 17 anos, pelo
menos 1 em cada 10 já deixou
estudo; entre 18 e 24 anos, idade
universitária, só há 29,4% de
estudantes
LUCIANA NUNES LEAL /
RIO - O Estado de S.Paulo
Apesar dos avanços que
garantem praticamente a
universalização do acesso à escola
para as crianças, os dados da Pnad
2012 mostram as dificuldades de
manter adolescentes nas salas de
aula.
Na faixa etária de 6 a 14 anos,
98,2% frequentam a escola, aponta
a pesquisa. O índice é o mesmo
de 2011. Já na faixa dos 15 aos 17
anos, quando os jovens deviam
estar cursando o ensino médio, a
presença na escola cai para 84,2%
da população, um avanço de meio
ponto porcentual em relação aos
83,7% do ano anterior. Entre os
jovens de 18 a 24 anos, portanto
em idade universitária, apenas
29,4% estudam. No ano anterior,
eram 28,9%.
"Grande parte dos jovens que
não prosseguem no estudo é
formada por alunos repetentes que,
desmotivados, abandonam a
escola antes de completar o ensino
fundamental. Outro fenômeno é a
baixa atratividade do ensino
médio. Há um profundo
desinteresse dos alunos no modelo
do ensino e por isso se discute
muito a reestruturação curricular e
a ênfase na educação profissional",
diz a educadora Maria Clara Di
Pierro.
De acordo com a especialista,
"existe ainda o fato de que na área
rural a oferta de ensino médio é
irrisória".
"As
políticas
educacionais não têm sido capazes
de ampliar a escola na área rural,
mas de transportar jovens para
zonas urbanas. Isso compromete o
trabalho na agricultura",
acrescenta ela.
O trabalho no campo é uma das
razões que levam a Região Sul a
ter a maior proporção de jovens
de 15 a 17 anos fora da escola, de
18,3%.
Dois em cada dez jovens nessa
idade estão fora das salas de aula.
O Sudeste tem a maior taxa de
população nesta faixa etária que
continua a estudar, de 85,8%.
A consequência da saída
precoce dos jovens da escola é o
ainda baixo nível de instrução da
população adulta. Um em cada três
brasileiros de 25 anos ou mais
(33,5%) não completou o ensino
fundamental ou equivalente. Em
2011, eram 31,5%.
Universidade. A boa notícia foi
a redução dos adultos sem
instrução, que caíram de 15,1%
para 11,9%, conforme a
amostragem. O porcentual de
brasileiros de 25 anos ou mais que
concluíram a universidade
continua baixo, embora com
avanços: passou de 11,4%, em
2011, para 12% em 2012.
Continua
Continuação
28/09/13
28/09/13
00
METRÓPOLE
28/09/13
00
METRÓPOLE
Aposentado forma filhas e resolve estudar
Ademir Figueiró mora em
Porto Alegre, cidade em que o
índice dos que não sabem ler já é
residual
ELDER OGLIARI / PORTO
ALEGRE - O Estado de S.Paulo
Depois de passar a maior parte
de seus 56 anos trabalhando como
instalador
hidráulico
do
Departamento Municipal de Água
e Esgoto (Dmae) e de ver as duas
filhas concluírem o ensino médio,
o aposentado Ademir Figueiró
decidiu recuperar algo que faltava
em sua vida e tratou de se
alfabetizar, há dois anos. "Eu
sempre tive vontade de ir à escola,
mas não tive oportunidade. Depois
de encaminhar a família, resolvi
cuidar também de mim e aprender
a ler e escrever", diz, entre uma
aula e outra do Colégio Paulo
Freire, em Porto Alegre, onde
frequenta uma turma da Educação
de Jovens e Adultos (Eja).
Atitudes como as de Figueiró
ajudam a melhorar as estatísticas
de redução do analfabetismo no
Rio Grande do Sul. A capital
gaúcha registra constante queda há
pelo menos 20 anos, e chegou
perto de 2,5% da população,
índice considerado residual. Isso
se reflete na queda da demanda
pelas totalidades iniciais do EJA,
equivalentes ao período da 1.ª à
5.ª séries do ensino fundamental de
nove anos. Há 15 anos, havia 4 mil
alunos nessa faixa. Em 2013 há 2,7
mil.
Incentivo. Feliz com as
descobertas que fez, Figueiró tem
incentivado um irmão e amigos a
também se alfabetizarem,
confirmando uma percepção da
Secretaria Municipal da Educação
(Smed) de que a propaganda entre
as pessoas da mesma faixa etária
tem sido um grande chamariz para
os bancos escolares.
"Depois de uma certa idade, a
decisão de aprender a ler e
escrever está mais vinculada à
divulgação entre eles do que às
necessidades do mercado",
observa a coordenadora do setor
de Educação de Jovens e Adultos
da Smed, Simone Lovatto.
No Estado, a diretora adjunta do
Departamento Pedagógico da
Secretaria Estadual da Educação,
Rosa Maria Mosna, diz que a pasta
busca identificar bolsões de
analfabetismo para investir nessas
regiões com atraso educacional,
em conjunto com as prefeituras. De
modo geral, nos maiores
aglomerados urbanos, como as
regiões de Porto Alegre e Caxias,
os índices de analfabetismo são
menores do que em municípios
com zonas rurais. Em algumas
cidades do noroeste do Estado, os
índices ficam entre 8% e 10%.
28/09/13
00
METRÓPOLE
Para o governo, houve só um
'problema de amostra'
Segundo ministra, dados
ainda precisam ser mais
analisados; secretária de
Educação ainda fala em 'queda'
de analfabetismo
LISANDRA PARAGUASSU /
BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
A elevação no número de
analfabetos mostrada pela PNAD
foi tratada pelo governo como um
problema de amostra. Escalada
pelo governo para comentar os
dados,
a
ministra
do
Desenvolvimento Social, Tereza
Campello, nega que tenha havido
um aumento na taxa de
analfabetismo no País. "Os dados
na verdade não permitem afirmar
que
houve
ampliação.
Acreditamos que é uma variação
da amostra. É inclusive contra
intuitivo, porque as taxas vêm
caindo muito", afirmou a ministra
em entrevista no Palácio do
Palácio. "Não nos dedicamos
ainda aos microdados da Pnad,
vamos ter essa análise na segundafeira, mas possivelmente é
estável."
afirmou.
Na verdade, a queda do
analfabetismo é um dos índices
sociais com mais resistência a
melhorias no País. Em cinco anos,
de 2004 a 2009, a taxa caiu apenas
1,8 ponto porcentual. De 2009 até
2012 reduziu 1 ponto.
Ainda assim, a secretária
afirma que o MEC vai analisar os
microdados da PNAD - os
números mais detalhados - para
ver o que significa esse aumento.
"Vamos ver se alguma
reorganização é necessária nos
programas", disse.
A secretária de Educação
Continuada, Alfabetização,
Diversidade e Inclusão do
Ministério da Educação, Macaé
dos Santos, explica que ainda não
é possível fazer uma avaliação,
especialmente porque apenas as
faixas etárias de 40 a 59 anos
tiveram aumento da taxa de
analfabetismo, enquanto as demais
tiveram redução e entre os jovens
de 15 a 19, ficou estável. "A
tendência é de queda. Outros dados
importantes, como a redução do
analfabetismo funcional, o aumento
da escolaridade, da população
com ensino superior e ensino
médio completo, mostram outra
situação.
É
um
dado
completamente
diferente",
Tereza Campello preferiu se
concentrar nos dados positivos do
levantamento, exaltando a queda
no desemprego e o aumento da
renda em todas as regiões (mais
informações nas páginas
seguintes). A ministra negou
também que tenha havido um
aumento na desigualdade no País,
apesar do aumento da renda dos
mais ricos ter sido um pouco maior
do que a dos mais pobres. "Não
tem aumento da desigualdade no
Brasil. A gente teve uma redução
muito grande na desigualdade.
Teve agora uma desaceleração do
processo, mas a desigualdade
continua caindo."
28/09/13
00
METRÓPOLE
Continua
Continuação
28/09/13
28/09/13
00
EDITORIAL
A dimensão das greves de professores
Não há dúvida de que, sem a valorização do
magistério, não se avançará na Educação. Mas também
é crucial modernizar o ensino, premiando-se o mérito
Professores e funcionários das redes de ensino
estadual e municipal estão formalmente de braços
cruzados, e já há algum tempo. Como sempre, os
percentuais de adesão variam bastante a depender da
fonte, grevistas ou governos. Independentemente disso,
pela importância crucial da atividade, a suspensão ou
descontinuidade do cumprimento do ano letivo tem
implicações sérias, sejam ou não justas as causas da
paralisação. Além dos problemas criados para famílias
de baixa renda sem estrutura para deixar as crianças em
casa sem aula — e sem merenda —, há os danos
causados no aprendizado dos alunos. Agrava-se,
portanto, o quadro já precário da formação no ensino
público básico, um sério ponto fraco do próprio país.
Nenhum país avançará na Educação sem que o
professor seja valorizado. O preocupante é que este
“valorizado” parece ter compreensões diversas. Para
alguns, refere-se apenas a salários. Mas esta é a visão
menos acurada da questão.
No caso do município, há um aumento real (acima
da inflação) de 8%, índice invejável. Claro, pode haver
defasagens. Mas, por certo, no Estado brasileiro, não
apenas no Rio, inexistem condições fiscais para se
resolver este tipo de problema de uma vez.
Há grande discussão em torno do novo plano de
cargos de salários, que privilegiaria os professores de
40 horas semanais de trabalho, o mínimo necessário para
garantir a possibilidade de um bom rendimento aos
alunos. Mesmo que haja um acordo final em torno deste
ponto, existem indícios de que por trás do movimento
há uma oposição radical à modernização do modelo
pedagógico da escola pública no estado e município,
tudo potencializado por interesses político-partidários
mobilizados pelo calendário eleitoral.
No caso da cidade, há o correto interesse em
estimular a jornada de 40 horas por semana, porque,
em obediência a decreto municipal, o turno único estará
em vigor em toda a rede até 2020 — considerado o
melhor pelos pedagogos. Entre sindicalistas, no entanto,
parece haver a preferência pela carga de 16 horas
semanais, em que o professor vai poucas à vezes escola.
O rendimento, assim, é baixo. Cai-se numa regra tóxica
do serviço público: o governo finge que paga, o
funcionário finge que trabalha. Existe subjacente, ainda,
um temor visceral à meritocracia, como se fosse possível
o país avançar na guerra do aprimoramento do ensino
público sem que os melhores sejam premiados — este,
inclusive, um fator de atração de bons alunos para o
professorado.
É preciso que a categoria de professores tenha uma
visão mais ampla do que se passa hoje no Brasil — o
que não serve de justificativa a baixas remunerações.
Como o “bônus demográfico” — população jovem
proporcionalmente maior —já está sendo resgatado, há
um prazo fixo para o salto no desenvolvimento (mais 15
a 20 anos), a ser determinado pela instrução. Se a missão
de se qualificar esta e a próxima geração não for
cumprida, a ideia do “país do futuro” será passado.
28/09/13
00
RIO
Governo do estado corta ponto
de professores que estão em greve
28/09/13
00
CONTIDIANO
Desigualdade e analfabetismo param de cair
Pesquisa do IBGE revela que,
após uma década, rendimento de
ricos subiu em ritmo superior ao
de pobres em 2012
Também chamou a atenção a
constatação de que a diferença
entre os salários de homens e
mulheres voltou a crescer no país.
Taxa de analfabetos é mais
alta entre idosos, mas teve
redução entre jovens; crianças
ficam mais tempo na escola
O levantamento, feito pelo
IBGE, também mostrou que a taxa
de analfabetismo parou de cair
após 15 anos.
DO RIO
DE SÃO PAULO
DE BRASÍLIA
A pesquisa anual que investiga
as características socioeconômicas
dos brasileiros detectou que a
queda do analfabetismo e a
desigualdade,
conquistas
marcantes nas últimas duas
décadas, foi interrompida em
2012.
Isso aconteceu principalmente
entre os brasileiros com mais de
40 anos. O envelhecimento da
população, segundo especialistas,
deve tornar a redução dos
analfabetos uma tarefa mais difícil.
Segundo a Pnad (Pesquisa
Nacional por Amostra de
Domicílios), a melhora na
distribuição de renda foi
estancada porque a remuneração
dos mais ricos cresceu num ritmo
superior à dos mais pobres.
Alguns analistas interpretaram
o dado como um sinal de que as
políticas de transferência de renda
estejam próximas do esgotamento,
tese refutada pelo governo.
A boa notícia é que essa taxa é
cada vez mais baixa entre jovens.
Outros dado positivo foi aumento
dos anos de estudo desse mesmo
grupo.
A Pnad também traz importantes
revelações dos hábitos de consumo
das famílias. A mais curiosa: já
são maioria no país os domicílios
que usam o celular como o único
telefone de casa.
Outro destaque foi o aumento
das famílias que possuem carro,
num momento em que pega fogo o
debate sobre o transporte público.
28/09/13
00
CONTIDIANO
Analfabetismo no país para
de cair pela 1ª vez em 15 anos
Entre idosos, a taxa dos que não
sabem ler nem escrever chega a
24,4%; já entre os jovens ela se
limita a 1,2%
analfabetismo, "já que a população
envelhece e os não alfabetizados se
concentram em faixas etárias mais
elevadas".
Melhoria perde ritmo porque
analfabetos que restam são cada vez
de mais difícil inclusão, afirma
professora
Entre os brasileiros com 60 anos
ou mais, o percentual chegou a
24,4%. Na outra ponta, a menor taxa
foi entre jovens de 15 a 19 anos
(1,2%).
MARIANA SALLOWICZ
PEDRO SOARES
DO RIO
DANIEL CARVALHO
DO RECIFE
Pela primeira vez em 15 anos, a
taxa de analfabetismo parou de cair,
interrompendo a tendência de queda
contínua --mais acentuada desde o
fim dos anos 90.
O percentual de pessoas com 15
anos ou mais que não sabem ler nem
escrever no país passou de 8,6%
para 8,7% entre 2011 e 2012.
Restavam 13,2 milhões de
analfabetos no país, concentrados
nas faixas etárias mais elevadas,
segundo a Pnad.
Maria Lúcia Viera, gerente do
IBGE, diz que a variação representa
estabilidade, dentro da margem de
erro e que será preciso aguardar os
dados do próximo ano para verificar
a tendência.
Para a presidente do IBGE,
Wasmália Bivar, há um componente
demográfico que influencia a taxa de
Na avaliação de Eliane Andrade,
professora do departamento de
educação da Uerj (Universidade
Estadual do Rio de Janeiro) e da
UniRio, a redução da taxa pode
perder ritmo, uma vez que os
analfabetos que restam no país são
cada vez de mais difícil inclusão. Ela
citou idosos e moradores de áreas
rurais.
"A tendência é chegar em uma
taxa em que é difícil conseguir
grandes variações."
Com a elevada taxa de
escolarização, a redução do
analfabetismo fica mais complicada,
avalia Kaizô Beltrão, professor da
Escola Brasileira de Administração
Pública e de Empresas da FGV.
"A eliminação do analfabetismo
ocorre principalmente pela entrada na
escola." Entre as crianças de 6 a 14
anos, 98,2% já estavam na escola no
ano passado.
Por região, a Nordeste
concentrava mais da metade dos
analfabetos de 15 anos ou mais. A
taxa chega a 17,4%, ante os 4,4%
do Sul.
Houve melhora em outros índices
de educação. A média de anos de
estudo na população com dez anos
ou mais subiu de 7,3 para 7,5. A
presença de crianças de quatro ou
cinco anos nas escolas foi de 77,4%
para 78,2%.
'SABIDO'
No Recife, o comerciante
Armando Marques, 43, que parou de
estudar na segunda série para
trabalhar, sabe ao menos escrever o
nome de batismo. Diz que perdeu
"muita oportunidade na vida".
"Mas eu me informo. Assisto TV
e minha esposa lê jornal para mim",
afirma.
Mesmo analfabeto, virou um
microempreendedor. Entrega pizzas
e acabou de comprar uma barraca
de coco.
"Nunca me passaram a perna
porque sou sabido, sou inteligente",
diz Marques, que garantiu estudo aos
seus quatro filhos e afirma acreditar
que agora é possível conciliar
trabalho e escola.
"Vou abrir outros horizontes. Não
vou mais depender de ninguém para
assinar um cheque, para ler para
mim", disse o comerciante.
28/09/13
00
CONTIDIANO
ANÁLISE
No Nordeste, alfabetização é
comparável à taxa da Índia
RÚSSIA E CHINA TÊM
ÍNDICES MELHORES DO QUE
O BRASIL
não pega ônibus sozinho e nem
pode ler a receita de um
medicamento.
SABINE RIGHETTI
DE SÃO PAULO
A taxa de população analfabeta
com mais de 15 anos no Brasil
(8,7%) é alta se comparada a
países como EUA, Alemanha e
Nova Zelândia, cujos índices
giram em torno de 1% dos
habitantes.
De quem foi alfabetizado,
poucos ficam na sala de aula. O
IDHM
(Índice
de
Desenvolvimento
Humano
Municipal), divulgado em julho,
mostrou que só metade da
população adulta do país concluiu
o ensino fundamental.
Nesses países, ficam fora da
escola comunidades pobres,
isoladas e nativos. Ou seja: não
saber ler é exceção.
Rússia e China têm índices
melhores do que o Brasil: em
torno de 5% de analfabetismo
segundo dados oficiais. Perdemos
para a Índia: lá cerca de 25% da
população acima de sete anos não
sabe ler.
A taxa indiana de analfabetismo
é encontrada por aqui também. No
Nordeste brasileiro, quase 25% da
população economicamente ativa
masculina não sabe ler.
Trocando em miúdos, um em
cada quatro homens com mais de
25 anos não escreve um bilhete,
Com essa trajetória, quem
chega ao ensino superior em idade
universitária (18 a 24 anos) é uma
minoria: 14% da população. Em
países ricos, a taxa gira em torno
de 70%.
Os números mostram que
programas de inclusão social no
Brasil têm conseguido manter
crianças na escola (a taxa de
analfabetismo de 10 a 14 anos é
de 1,9%), mas não atraiu a
população jovem e adulta de volta
às aulas.
Uma alternativa para melhorar
esse quadro é incluir em
programas como o Bolsa Família
a exigência de que o chefe de
família também esteja estudando.
E, claro, ter boas escolas para a
população jovem e adulta.
CORREIO BRAZILIENSE
28/09/13
00
BRASIL
Cresce analfabetismo entre jovens e adultos
Pnad registra leve aumento na
proporção de pessoas acima de 15
anos que não sabem ler nem
escrever. No ranking nacional, o DF
é a segunda unidade da Federação
com menor índice de população
iletrada. Governo minimiza a
pesquisa e diz que a taxa "está
estável"
RENATA MARIZ
A cearense Josefa Gonçalves
tem 74 anos e há dois estuda em um
curso de alfabetização: "Agora, estou
lendo devagarinho jornais e revistas"
Emprego e renda em alta, acesso
crescente a bens e serviços, mais
escolaridade e diminuição da
desigualdade são o retrato de um
Brasil que melhorou nos últimos
anos. Mas os dados da Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios
(Pnad), divulgada ontem pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), revelam também
pontos em que o país não está bem
na foto. O levantamento, que traça
um panorama da atual sociedade,
aponta como um dos maiores
desafios pela frente o analfabetismo
entre jovens e adultos — que sofreu
leve aumento entre 2011 e 2012,
passando de 8,6% para 8,7%,
respectivamente, depois de anos em
queda. Isso significa que, a cada 10
pessoas com 15 anos ou mais,
praticamente uma não saber ler nem
escrever.
O Distrito Federal apresenta o
segundo melhor índice (3,5%),
perdendo apenas para Santa
Catarina (3,2%). Os piores estão no
Nordeste. Em toda a região, 17,4%
da população com idade superior a
15 anos não sabem ler. Embora
tenha saído de Icó, no Ceará, na
década de 1950, rumo ao Distrito
Federal, Josefa Garcia Gonçalves
carregou a herança do analfabetismo.
“Antigamente, não era fácil como
hoje. Só quem tinha dinheiro ia para
outra cidade estudar”, conta. Depois
de dois anos nas aulas de um projeto
social, ela conseguiu juntar letras para
formar palavras. Apesar de difícil, diz
Josefa, o aprendizado tem valido a
pena. “Eu ficava muito triste quando
precisava anotar um recado ou um
número de telefone e não sabia.
Agora, estou lendo devagarinho
jornais e revistas.” Quando surge
qualquer dúvida, as quatro netas vêm
em socorro da avó, que está com 74
anos.
A maior proporção de
analfabetos adultos está entre os
idosos. Quase 25% da população
com 60 anos ou mais não sabem
escrever nem ler. Em faixas etárias
mais jovens, o problema também
preocupa. Beira aos 10% o
analfabetismo dos 40 aos 59 anos e
5% dos 30 aos 39. Coordenadora
do projeto Alfabetização Cidadã, da
Universidade Católica de Brasília,
Gleice Amélia Gomes Lemos destaca
que um dos principais problemas das
classes para adultos é a evasão.
“São vários os fatores que
interferem. Entre os mais velhos, o
difícil acesso à saúde, que leva ao
adoecimento, impede a continuidade
dos estudos. Há também a questão
dos maridos, que não deixam ou
dificultam a frequência das mulheres.
Sem contar o esgotamento físico das
pessoas, a maioria trabalhadora
braçal”, enumera.
Negação
A ministra do Desenvolvimento
Social e Combate à Fome, Tereza
Campello, rebateu os dados da
pesquisa sobre o crescimento dos
analfabetos — de 8,6% para 8,7%
da população com 15 anos ou mais,
o que representa 300 mil analfabetos
a mais. O governo entendeu que a
taxa ficou estável e que é preciso
avançar. “Acredita-se que é uma
variação da própria amostra. A
avaliação do IBGE é que não dá
para dizer que aumentou, está
estável”, disse. Segundo Maria Lúcia
Vieira, gerente da Pnad, será
necessário aguardar o próximo
levantamento para saber se o dado
vai estabilizar, aumentar ou diminuir.
“É uma variável estrutural, que não
muda radicalmente de um ano para
outro, a menos que houvesse um
superesforço. O que podemos dizer
Continua
Continuação
é que o dado está correto, mas um
aumento de 0,1%, estatisticamente,
é pouco significativo. Importante é
acompanhar”, destaca.
Para Maria Lúcia, a tendência é
diminuir o contingente de analfabetos
adultos, uma vez que a taxa de
matrícula entre as crianças em idade
escolar é de mais de 98%. “Se todos
estão estudando, o analfabetismo vai
cair. Mas ainda levará 20 ou 30 anos
para vencermos o estoque existente
hoje, de pessoas mais velhas que não
sabem ler e escrever, porque elas são
mais difíceis de atingir com programas
de alfabetização. Os mais jovens, até
por uma questão de emprego e de
oportunidades, acabam se
interessando mais”, afirma a gerente
da Pnad. Para Gleice, essa ideia
precisa ser superada, para que os
idosos se encorajem. “É
absolutamente falsa essa impressão
de que a pessoa com mais idade não
tem capacidade. O que influencia são
as condições sociais dele, não o
intelecto”, diz a alfabetizadora.
Apesar das duas aulas por
semana, nos últimos dois anos, ainda
são grandes as dificuldades
enfrentadas por Josefa. Ela conta que
o maior embaraço se dá na hora de
fazer cálculos. “Soma, subtração,
28/09/13
tudo é difícil para mim, mas tento
aprender”, afirma a cearense. Ela
lamenta ter esperado tanto tempo
para começar a estudar. “Quando a
gente casa, vive para a família, para
os filhos. E também não é sempre
que aparece uma oportunidade, um
curso gratuito para a gente. Agora,
tenho o apoio dos meus filhos, que
até brigam comigo quando quero
faltar aula”, diverte-se Josefa. Ela
lembra, com bom humor, dos
“apertos” pelos quais nunca mais
quer passar. “Uma vez, estava no
hospital com um parente e não
conseguia ligar, porque não conhecia
os números. Me sentia muito mal.”
“O que podemos dizer é que o
dado está correto, mas um
aumento
de
0,1%,
estatisticamente, é pouco
significativo. Importante é
acompanhar”
Maria Lúcia Vieira, gerente
da Pnad
“Vários fatores interferem (na
evasão de quem estuda para se
alfabetizar). Entre os mais velhos,
o difícil acesso à saúde impede a
continuidade dos estudos”
Gleice Lemos, coordenadora
do projeto Alfabetização Cidadã
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CORREIO BRAZILIENSE
28/09/13
00
BRASIL
Desastre no médio
De cada 20 adolescentes de 15
e 17 anos, faixa etária em que a
educação é obrigatória no Brasil, três
estão fora da escola. A quase
universalização obtida entre os
meninos e meninas de 7 a 14 anos
não se repete na idade posterior,
segundo aponta a Pesquisa Nacional
de Amostra Domiciliar (Pnad). A
fase é considerada crítica porque os
alunos se desinteressam pela escola.
O desastre no ensino médio foi
constatado pela última edição do
Índice de Desenvolvimento da
Educação Básica (Ideb), que
demonstrou a estagnação dessa
etapa.
De 2009 para 2011, o índice
cresceu apenas 0,1, chegando a 3,7,
numa escala de 0 a 10. Nos anos
iniciais do ensino fundamental, essa
menção chegou a 5. O Ministério da
Educação, preocupado com o baixo
desenvolvimento do ensino médio,
chegou a anunciar uma reforma
nessa fase escolar. A proposta ainda
engatinha, já que a mudança
curricular, apontada como o
principal desafio, ainda não foi
efetivada. A ideia é adequar as
disciplinas às quatro áreas de
conhecimento cobradas no Exame
Nacional do Ensino Médio (Enem):
matemática, ciências da natureza,
ciências humanas, linguagens e
códigos.
A preocupação faz sentido.
Presidente do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea), o
economista Marcelo Neri chama
atenção para a importância da
instrução nessa fase da vida e sua
repercussão para o futuro
profissional. “Um estudo do Ipea
mostra que a renda do jovem que
faz ensino médio salta de R$ 700
para R$ 1,6 mil. Esse mesmo estudo
mostra que o principal motivo para
evasão é a falta de interesse do
jovem, não é falta de escola, não é
pobreza, é falta de interesse, 40%
declaram isso”, diz Neri, que
desempenha também a função de
ministro da Secretaria de Assuntos
Estratégicos (SAE).
Melhora
Na escolaridade em geral,
considerando pessoas de 25 anos ou
mais, a Pnad aponta uma melhora na
situação. Na comparação entre 2011
e 2012, cresceu a proporção dos
adultos com nível fundamental
incompleto ou equivalente, de 31,5%
para 33,5%. Também caiu a
quantidade dos sem-instrução ou
com menos um ano de estudo: de
15,1% para 11,9%. A população
com nível superior passou de 11,4%
para 12% no mesmo período
analisado. Dessa forma, no ano
passado, havia 14,2 milhões de
pessoas com nível superior
completo, 6,5% a mais do que em
2011. (RM, Grasielle Castro, Étore
Medeiros)
CORREIO BRAZILIENSE
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CIDADES
EDUCAÇÃO » Ensino médio
tem 22,6% de reprovação
O índice, referente ao ano de
2011 na rede pública, está muito
acima da taxa aceitável
internacionalmente, de 2% a 3%.
Houve também queda acentuada nas
matrículas
Manoela Alcântara
Um material de divulgação
interna da Secretaria de Educação,
com dados compilados do Censo
Escolar, caiu nas mãos de
professores da rede pública e vem
provocando discussão entre os
docentes. De acordo com o material,
os índices de reprovação estão muito
acima do ideal. Enquanto organismos
internacionais apontam como
percentual razoável o máximo de 3%
dos estudantes com rendimento
insuficiente durante o ano letivo, na
capital do país 22,6% dos alunos do
ensino médio, em 2011, não
conseguiram a aprovação. Há ainda
uma queda no número de matrículas.
Entre 2010 e 2012, a rede sofreu
uma redução de 18 mil inscrições,
enquanto as instituições privadas
ganharam 16.529 novatos.
Na pré-escola, que abrange
alunos com idade entre 4 e 5 anos,
ocorreu a queda mais significativa,
de 17,5%. Entre as instituições
pagas, no entanto, houve incremento
de 8%. Especialistas ouvidos pelo
Correio dividem opiniões sobre os
dados. Alguns acreditam que a
migração para o setor pago deve-se
ao aumento do poder aquisitivo da
população. Outros analisam que a
opção dos pais ocorre devido à baixa
qualidade do ensino público.
O professor aposentado da
Universidade de Brasília (UnB) e
integrante do Conselho Nacional de
Educação Erasto Fortes Mendonça
ressalta que os números, de modo
geral, reforçam um padrão da
sociedade. “Quando a condição
financeira melhora, as pessoas
tendem a matricular os filhos na rede
privada. Isso não significa que a
escola do governo seja pior.
Demonstra que há um imaginário
construído há anos entre a população
de que o privado é melhor do que o
público”, analisa. Ele ressalta ainda
que uma mentalidade consolidada é
difícil de mudar. “Deveria ser
diferente, mas muitos acreditam que
funcionário público trabalha pouco,
há essa mentalidade”, concluiu.
O diretor do Sindicato dos
Professores do DF (Sinpro),
Washington Dourado, discorda. Para
ele, esse processo ocorre devido a
uma desmotivação geral. “Tanto da
parte dos professores quanto dos
pais, que acabam procurando outra
alternativa para os filhos”, analisou.
Ele ressalta ainda que os dados
devem ser expostos de maneira clara
para que sejam criadas políticas
públicas a fim de corrigir o problema.
docentes da rede em agosto, ainda
na gestão do antigo secretário de
Educação, Denilson Bento da Costa.
Há menos de um mês na cadeira,
Marcelo Aguiar se surpreendeu com
a realidade apresentada e promete
tomar providências para melhorar.
“Já solicitei à área responsável uma
revisão do estudo. Deve ficar pronta
na semana que vem. O total de
matrículas me surpreendeu. A rede
pública, geralmente, tem crescimento
anual de 30 mil alunos”, disse. Caso
a pesquisa seja confirmada, ele
pretende tomar providências. “Sou
um entusiasta da avaliação. Os
números me ajudam a melhorar a
gestão”, concluiu.
“Inaceitável”
Os índices de reprovação
preocupam ainda mais. O professor
do Programa de Mestrado e
Doutorado em Educação da
Universidade Católica de Brasília
(UCB) Célio da Cunha ressalta que
uma análise profunda deve ser
concluída. “Em nível internacional, a
taxa razoável de aceitação é entre 2%
e 3%. Chegar a 22% no ensino
médio é algo inaceitável
pedagogicamente”, afirmou. No
ensino fundamental, a situação é um
pouco diferente, mas também é
grave. Chega a quase 10% nas séries
iniciais (Veja arte). “Se compararmos
com a indústria, de 100 artefatos, 10
são jogados fora. Os alunos
precisam ser ensinados com
qualidade”, disse.
Os números circularam entre os
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28/09/13
Uma das soluções sugeridas pelo
especialista é a figura de um visitador
educacional. “Alguém que vá até a
casa do aluno quando ele falta,
converse com os pais, traga a família
para a escola. Isso ajuda muito a reter
o estudante, compreender mais as
necessidades deles”, ponderou. Um
currículo mais moderno, ligado ao
pensamento do jovem atual, também
está entre as medidas que poderiam
melhorar os índices. “O jovem é
conduzido pela era digital. Nós,
educadores, ainda não conseguimos
dar respostas a essa mudança.”
“Já solicitei à área responsável
uma revisão do estudo. Deve ficar
pronta na semana que vem. O total
de matrículas me surpreendeu. A
rede pública, geralmente, tem
crescimento anual de 30 mil alunos”
Marcelo Aguiar, secretário de
Educação
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JORNAL DE BRASÍLIA
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