gazeta do povo - Biblioteca

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GAZETA DO POVO – Vida na Universidade
O professor Marsal Branco e o aluno Guilherme Luiz Heckel em uma aula do curso de Jogos Digitais da
Universidade Feevale.
Com um livro e joystick na mão
Por permitir a imersão em realidades virtuais de aprendizado, os games estão ganhando espaço nas
universidades
12/08/2013 | 00:53 | Adriana Czelusniak
Jogo simula gestão de equipes
O professor da PUCPR Fabio Binder (à esquerda, com o aluno José Eduardo Nunes Lino) acaba de desenvolver um jogo
que permite ao aluno avaliar as falhas que teve ao gerenciar uma equipe. É preciso selecionar profissionais de acordo com a
experiência dos candidatos e verba disponível para depois enfrentar eventos externos, como o fato de um profissional da equipe
deixar de ser produtivo. “O jogo faz o diagnóstico com o porcentual alcançado em cada área, como prazo, relacionamento
interpessoal e habilidade em gerenciar crises”, diz. (AC)
A última edição da competição internacional de computação promovida pela Microsoft, chamada Imagine Cup, teve como
finalista o projeto de doutorado do endocrinologista Leandro Diehl, professor do curso de Medicina da Universidade Estadual
de Londrina (UEL). Com jogo InsuOnline, estudantes e clínicos-gerais podem, ao longo de 16 fases, atender diversos pacientes
diabéticos e treinar a delicada administração da insulina. Segundo o professor, se não for usada corretamente, a insulina gera
efeitos colaterais graves e pode ser fatal.
Perfil de estudos sobre games tem mudado
A neuropsicóloga Luciana Alves descobriu que games contribuem com a atenção de jovens.
Por muito tempo pesquisadores se debruçaram sobre os jogos com questões como: “Um jogo potencializa o comportamento
violento de um jogador?”. Esse tipo de análise está sendo deixado para trás. “Agora temos é de nos perguntar como usar e
resignificar os jogos, explorando essa ferramenta que é complementar para o desenvolvimento de competências desejáveis”, diz
a neuropsicóloga Luciana Alves, doutora em Ciências da Saúde e professora da Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG).
Uma das pesquisas de Luciana descobriu que jovens com o hábito de jogar videogame se saem melhor em testes de atenção.
Não foi o único. Vários outros estudos têm comprovado os benefícios dos jogos.
Nos Estados Unidos, a Universidade de Rochester tem um histórico de pesquisas relacionadas aos jogos, como a que revelou
que jogos de tiro em primeira pessoa podem melhorar a capacidade do cérebro de processar informações visuais. Já a
Universidade de Iowa sugeriu que cirurgiões que passam algumas horas por semana jogando videogame são mais rápidos e
cometem menos erros em cirurgias. (AC)
Ter a oportunidade de estar à frente de uma grande empresa e definir estratégias de logística sem o risco de perder rios de
dinheiro. Poder liderar experiências químicas se arriscando a cometer erros impensáveis em um laboratório verdadeiro. Esses
são exemplos de experiências que contribuem muito com a formação de universitários, mas que só são possíveis graças à
aproximação de games e simuladores do mundo acadêmico.
Aos poucos, os jogos conquistam professores e alunos e ganham espaço no dia a dia de várias disciplinas de diferentes áreas.
Destacam-se em Administração, Economia, na área da Saúde e até entre os estudantes de Exatas. E os games não servem
apenas para ilustrar as aulas, garante o diretor da Associação Brasileira de Desenvolvedores de Jogos (Abragames), Marsal
Branco, que também coordena o curso de Jogos Digitais da Universidade Feevale, em Novo Hamburgo (RS). “Os jogos são
usados em vários lugares do mundo como atividade curricular e ferramenta de avaliação. Há estudantes que obtêm nota de
acordo com a performance no jogo”, conta.
Aproximação
Quanto mais os jogos têm a capacidade de se aproximar do mundo real das profissões e do desenvolvimento de habilidades,
mais espaço ganham na universidade. De olho nesse fenômeno, o doutor em Engenharia e Gestão do Conhecimento Rafael
Savi, pesquisador da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), criou um método de avaliação de jogos educacionais
voltados para o ensino superior.
Segundo ele, para ter qualidade, um jogo deve ter objetivos educacionais claros, ser interessante e atrativo para os alunos e,
principalmente, promover a aprendizagem. “Um bom jogo é aquele que está alinhado com os conteúdos de uma disciplina.
Assim, é possível chegar mais próximo da realidade e exercitar questões práticas antes de chegar ao mercado de trabalho”,
afirma.
Já Branco conta que para o uso em sala de aula não é preciso ser um jogo especialmente desenvolvido para transmitir um
conteúdo específico e que entre os professores é comum o uso de jogos comerciais, desde que estejam inseridos no contexto.
“O jogo é uma ferramenta, mas não substitui o professor. Precisa ser trabalhado assim como os livros”, diz.
Embora possa ter esse caráter de ferramenta didática, o potencial dos games ainda não foi totalmente reconhecido. De acordo
com o coordenador do curso de Jogos Digitais da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Fabio Binder, os jogos
ainda não são tão disseminados porque no meio acadêmico ainda se tem a visão de que, para estudar de verdade, o aluno tem de
sentar diante dos livros.
Jogos saem do forno da universidade
Por encomenda do Ministério da Educação (MEC) a equipe do doutor em Ciência da Computação e professor da Universidade
Federal do Paraná (UFPR) Alexandre Direne desenvolveu uma série de jogos educativos e simuladores. Mesmo tendo sido
desenvolvidos para o ensino médio, alguns têm boa aplicação na universidade. É o caso do jogo aplicado por Direne nas turmas
de Engenharia Civil e Química da UFPR, na disciplina de Métodos Numéricos.
“Em geral os alunos jogam fora da sala de aula e depois, pelos arquivos, conseguimos ver a carência de cada um de
conhecimento sobre indução analítica. Se o aluno não está bem preparado, isso é mostrado e ele tem mais chance de se preparar
melhor para novos conteúdos”, conta.
Com o foco em Física, a Universidade Estadual Paulista (Unesp) também desenvolveu um jogo com quatro fases para entender
melhor o estudo de partículas e estruturas atômicas. Capaz de explicar conceitos na prática, o jogo permite a diversão, sem
perder a precisão científica.
Há exemplos de games que ajudam a desenvolver conteúdos e que foram feitos pelos próprios universitários. Na linha da
estratégia, o jogo Cold Back (imagem) foi desenvolvido pelo Laboratório de Games da Universidade Feevale e possui mais de
dez níveis em estilo puzzle. Da mesma turma, o jogo Guardião é mais voltado à saúde e prevenção de acidentes. O jogador se
coloca no papel de um anjo da guarda que precisa evitar, em ambiente urbano, uma série de acidentes que podem levar à lesão
da medula espinhal.
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