Raízes no.023 – Julho

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Raízes no.023 – Julho
tzivia
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Shavei Israel [[email protected]]
08:48 2009 ‫ יולי‬22 ‫יום רביעי‬
[email protected]
Raizes 023
Raízes
Edição n°. 23
Julho, Segunda quinzena - 2009
Tamuz / Av - 5769
Preservando a
Herança Judaica
da Polônia
A Concepção
Histórica da
Bíblia
Por: Michael Freund
Por: Rabino Eliahu
Birnbaum
Exposição Visita
sua Décima
Cidade no Brasil
A Origem do Dia
dos Namorados e
Valentine's Day
Fonte: Shavei Israel
Por: Jane B. Glasman
Filhos de
Gigantes
Miguel de
Mendonça
Valladolid Mercador
Cristão-novo
Fonte: Morashá Edição 57
Por: Claudeteane
Rodrigues
Preservando a Herança Judaica da Polônia
Por: Michael Freund - Tradução: David Salgado
Há cerca 80 anos, mais de 10.000
judeus poloneses, se reuniram em
Lublin para o que seria um dos
últimos eventos judaicos de grande
envergadura, antes do Holocausto.
Com representantes do governo
polonês e a proteção das forças
armadas, assim como de
proeminentes rabinos e chassidim, a
Ieshivá dos Sábios de Lublin foi
inaugurada em 24 de junho de 1930.
A massiva estrutura de cinco pisos, que tinha sua própria mikve, panificadora,
dormitórios, ocupava três acres de terra e foi liderada pelo renomado Rabino Meir
1
Parashat
Hashavuá
25/07 Devarim
01/08
Vaetchanan
Shabat Shalom!
Shapiro, o visionário que criou o programa de ‘daf yomi’, estudo diário do Talmud.
A Ieshivá de Lublin foi uma das grandes academias talmúdicas do judaísmo polonês.
Atraiu estudantes de lugares distantes tais como Argentina e Palestina, e seu
concorrido currículo estava orientado a produzir graduados do mais elevado nível
intelectual, espiritual e moral.
Organização
Shavei Israel
King George 58,
Apenas nove anos depois, entretanto, a invasão alemã forçou o fechamento das
portas da Ieshivá, e os nazistas a transformaram no escritório central de sua polícia
militar. Após a Segunda Guerra Mundial, o governo polanês se apossou do prédio e a
usou como Faculdade de Medicina, até ser devolvida a comunidade judaica em 2003.
Em minha visita ao prédio, que foi recentemente restaurado e onde hoje em dia
funcionam os escritórios e a Sinagoga de Lublin, uma pequena porém vibrante
comunidade judaica, caminho por suas salas com um pouco de tristeza. Era fácil
imaginar como os grandes e espaçosos corredores estavam em algum momento
repletos de estudantes com seus tomos de Talmud nas mãos, ou visualizar o
fervente balanceio de jovens rezando suas orações diárias.
4°. andar
Heichal Shlomo
Jerusalém 94262,
Israel
Tel: +972-2-625-6230.
Fax: +972-2-625-6233.
Porém o barulho e a agitação já se foram faz tempo, substituídos por um inquietante
e desestabilizador silêncio.
A maioria dos estudantes da Ieshivá foram assassinados no Holocausto, informação
alarmante que é comprovada por uma exposição fotográfica no segundo piso do
edifício. Uma foto tirada no momento em que a Ieshivá foi inaugurada mostra
enorme quantidade de homens que se juntam na entrada, fazendo parte da
extraordinária cerimônia. Observando a imagem, é desconcertante dar-se conta que
a maior parte das pessoas naquela foto tenham sido, provavelmente, consumidas
pelas chamas menos de uma década mais tarde.
Entretanto, apesar do deplorável e lastimável passado que o edifício evoca, o mesmo
continua tendo um papel vital na educação dos jovens judeus. Em minha visita, vi
um grupo de cerca de 57 jovens, todas mulheres, de uma escola da França,
visitando o lugar. Muitas se detiveram para recitar salmos em frente a Arca Sagrada,
enquanto outras ouviram atentamente a explicação do rabino sobre a gloriosa
história do judaísmo polonês.
Visite nosso site
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Não tenha dúvida em
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Se tivesse prestado mais atenção em minhas aulas de francês no segundo grau,
talvez tivesse entendido melhor, porém estava claro, de acordo com a atenção que o
grupo prestava, que a experiência era marcante.
Este curto encontro me resumiu, porque é tão crucial que mais iniciativas sejam
feitas para preservar lugares marcantes e históricos em toda a Polônia, tanto para
manter vivo o legado do passado como para educar e inspirar as futuras gerações de
judeus e não judeus.
De acordo com Monica Krawczyk, gerente da Fundação para a Preservação da
Herança Judaica na Polônia, localizada na cidade de Varsóvia (www.fodz.pl), o país
possui mais de 1100 cemitérios, 200 sinagogas antigas e outros inúmeros lugares de
destaque.
Alguns destes , tem sido notavelmente renovados, tais como a Ieshivá de Lublin e a
famosa sinagoga barroca de Lancut, porém muito mais necessita ser restaurado.
Em outros casos, muitas sinagogas antigas e importantes lugares judaicos, tem sido
tomados pelas autoridades locais, que apagam todo o passado judaico do mesmo,
sem sequer colocar uma placa ou menção da função que teve tal lugar. Isto, por
suposto, ajuda aos jovens poloneses a esquecer a história de seu país e a vital
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importância que tiveram os judeus em seu momento.
Isto não deve ser permitido, não pode continuar. Devemos isso àqueles que foram
assassinados, devemos fazer o possível para preservar sua memória e das
comunidades judaicas nas quais viveram.
Em uma visita a cidade de Premysl, no sudeste da Polônia, em 22 de junho último,
participei de uma comovedora cerimônia a qual tinha precisamente esta meta. Uma
placa de recordação em polonês, inglês e hebraico foi colocada fora do departamento
que serviu como sinagoga para os 20000 judeus de Przemysl, antes da guerra, e
que marca a contribuição dos mesmos ao crescimento e desenvolvimento da cidade.
Na cerimônia, que contou com a presença do novo embaixador israelense na
Polônia, Zvi Rav-Ner, assim como do representante do consulado americano em
Cracóvia, um membro do parlamento polonês que representava a Przemysl, disse ao
público ali presente que não sabia que havia tido uma presença judaica tão grande
naquela área, ou mesmo que o edifício havia sido uma sinagoga.
E embora os judeus constituíssem cerca de 30% da população da cidade antes da
guerra, esta modesta e pequena placa constitui a primeira recordação pública
evidente. Esperamos que outras se tornem mais perceptíveis.
Sabemos que cerca de 60% a 70% do judaísmo askenazi provem da Polônia, este é
um tema que concerne a grandes setores do judaísmo da Diáspora e de Israel.
Existem muitas providências que podem ser tomadas para corrigir a situação, desde
pressionar as autoridades polonesas para recuperar a propriedade judaica comunal,
até ajudar a organizações tais como Krawczyk’s a reformar e restaurar vários
lugares.
Qualquer que seja o camino escolhido, é necessário realizar alguma coisa para que
algumas das injustiças realizadas ao nosso povo sejam corrigidas. Obviamente, não
podemos mudar o passado. Mas podemos, e devemos, fazer justiça.
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Parashat Devarim - A Concepção Histórica da Bíblia
Por: Rabino Eliahu Birnbaum - Tradução: David Salgado
O Livro Devarim (Deuteronômio) é o quinto
entre os livros da Torá e é também chamado
“Mishnê Torá” (Repetição da Torá).
Neste livro, Moshê reitera perante o povo a
seqüência histórica de seus anos no deserto,
desde a saída do Egito até chegar a zona limite
com Eretz Israel, ao mesmo tempo em que
compromete o povo com os valores e
obrigações importantes que nortearam suas
vidas. É assim que Moshê se revela como
historiador e profeta ao mesmo tempo. Como
historiador, manifesta a capacidade de uma
visão retrospectiva ao passado e como profeta
pode vislumbrar o futuro. Portanto, a história e a profecia se concretizam
nas qualidades de uma mesma pessoa.
Quem se interessar pelo livro Devarim, observará que Moshê Rabeinu
relaciona os acontecimentos históricos do povo de Israel num longo
discurso, que é justamente o “Mishnê Torá”, evidenciando o claro propósito
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e a firme determinação de reforçar o vínculo entre D-us e seu povo,
comprometendo-se repetidamente a preservar tais acontecimentos, para
assegurar a aliança estabelecida com D-us.
Do longo discurso de Moshê, aprendemos sobre a importante dimensão que
o judaísmo outorga aos sucessos e relatos históricos.
O povo de Israel foi o primeiro que concedeu à história um significado
contundente, instaurando uma nova concepção de mundo, cujas premissas
e fundamentos foram finalmente adotados pelo cristianismo e o Islã.
Quando Moshê foi enviado ao povo judeu para dar-lhe a noticia de sua
liberação, não o fez em nome de um D-us possuidor do céu e da terra,
senão como o D-us dos patriarcas; ou seja, o D-us da história. Quando D-us
se revelou no Monte Sinai diante de todo o povo, tampouco rememorou sua
essência nem seu desígnio, apenas evidenciou o fato de “sacar aos judeus
do Egito”; quer dizer, se manifestou como o D-us que domina e cuida a
história de um povo.
O judaísmo é uma religião histórica em muitos aspectos.
Primeiramente, pode-se argumentar que é a primeira que aparece com um
registro histórico. Outros povos escreveram crônicas, contos e relatos de
sucessos, porém apenas ao povo judeu pode-se atribuir registros casuais e
concludentes.
A Torá relata amplamente a origem dos patriarcas da nação hebraica e todo
o que sucedeu com eles. Transmite os fatos do primeiro exílio, o caminho
para deixar de ser escravos e as vicissitudes dos primeiros quarenta anos de
liberdade. Entre um relato e outro, surgem obrigações, leis, ajuizamento e
doutrinas. Começa com o relato da criação do mundo e o homem, e
prolonga-se até o “fim dos dias”, onde se afirmará a onipotência de D-us
sobre toda a humanidade. Segundo a concepção bíblica, será D-us quem vai
rubricar o selo da criação e, conseqüentemente, sobre a história universal.
Pode-se dizer que o pensamento da Bíblia é histórico, tanto no sentido
clássico como no moderno. Seu testemunho não apenas encontra-se nos
livros que relatam as façanhas e epopéias, senão que nos livros da Torá e
dos Profetas, percebe-se o contexto espaço-temporal do relato que o define
como histórico.
Os fundamentos históricos do povo de Israel podem ser encontrados no
livro do Gênesis, nas palavras de D-us a Abraham e na relação entre todas
as partes, para efetivar o assentamento em Eretz Israel; o exílio e o
regresso a Israel como pacto inalienável da história religiosa do povo judeu.
Este desenvolvimento é descrito amplamente no livro Deuteronômio, aonde
Moshê empregou todos estes conceitos para definir o caráter peculiar da
história judaica.
É interessante ressaltar que nossos sábios não tentaram escrever a história
do povo judeu em forma metódica. Pareceria, segundo eles, que na Bíblia
encontram-se recopilados todos os processos da história da humanidade e
do povo judeu em particular.
A Bíblia é uma autêntica e contundente criação histórica, já que descreve os
fatos, testemunha sobre sua verdade e interpreta seu significado. Seu
conteúdo histórico evidencia-se na perspectiva que integra simultaneamente
o passado e o futuro, estabelecendo uma evidente diferença com o relato de
sucessos esporádicos que fazem outros povos do antigo Oriente.
Os povos da antiguidade não acostumavam registrar o transcurso de sua
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vida cotidiana; já no povo judeu encontra-se uma memória histórica
completa e profunda. É possível que este fenômeno possa ser explicado por
meio da consciência nacional que caracterizou o povo de Israel desde o
começo de seus dias, e que o comprometeu a preservar seus sucessos
históricos, como a base de sua identidade nacional.
Dos relatos da Torá, nos primeiros quatro livros, aprendemos sobre sete
princípios históricos que são os pilares fundamentais da existência do povo
judeu: a criação do mundo e do homem; o pacto com os patriarcas; a
eleição do povo judeu; o êxodo do Egito; a revelação frente ao Monte Sinai;
a peregrinação do povo no deserto e a conquista da terra prometida.
O livro Deuteronômio é um fiel reflexo da inquietude histórica de Moshê. O
regresso aos sucessos do passado com uma tendência inerente a recordar o
fato histórico, emerge da profunda preocupação que existe no coração de
Moshê sobre o futuro do povo de Israel. Como uma mãe doente que cuida
aos seus filhos pequenos, perto de adoecerem após sua morte, e se
angustia por seu destino, Moshê Rabeinu observa a seu povo e tenta deixar
em suas mãos instrumentos para enfrentar a realidade. Expõe diante deles
a história do povo judeu e as exigências básicas da identidade e da fé.
A Bíblia apresenta ao leitor os três momentos nos quais se baseia o sentido
histórico: passado, presente e futuro.
O passado, está vinculado com o pacto com os patriarcas da nação e com a
aliança do Sinai, aonde todo o povo recebeu a revelação Divina, o pressagio
sobre seu papel histórico e a visão dirigida ao que virá, que é “o fim dos
dias”... A Bíblia estabelece valor especial aos atos do povo judeu, porque
em seu transcurso através do tempo assegura a conservação de sua
consciência, que por seu valor próprio permite cumprir com a essência da
vontade espiritual; quer dizer, o significado de cada capítulo de sua vida,
vinculado plenamente com a história de seu gênesis.
O homem necessita saber a todo o momento que ele é o responsável pela
continuidade histórica que contém o significado de sua existência.
O que caracteriza os relatos da Bíblia, que foram convertidos em parte de
nossa memória nacional é o fato de que todos refletem a idéia que tem o
povo em relação a sua função no mundo. Sem sombra de dúvidas, desde o
ponto de vista ideológico e histórico, a crença na chegada do Messias, ou
seja, na história como possuidora de visão e sentido, reafirma as bases da
concepção do mundo judaico.
Os profetas de Israel acentuaram a liderança de D-us nos passos da história
que em toda ela, mesmo na universal e não apenas na história do povo de
Israel, se revela a força Divina que dirige e conduz. Isto explicará porque os
livros da Bíblia não somente tratam sobre o sucedido histórico do povo de
Israel, senão que abrangem a história de outros povos.
Os sábios do Talmud continuaram com o desenvolvimento dos caminhos do
pensamento que se estabeleceram na Bíblia e explicaram, também, a
história como indicadora de que o D-us de Israel é o D-us do mundo.
Na antiga Grécia não é comum encontrar o conceito de “história” no sentido
de desenvolvimento. As teorias renovadoras apresentadas por Aristóteles e
Platão, se auto-definem em forma cíclica, sem progressão e sem sentido
histórico. No judaísmo, ao invés, existe uma dinâmica continua que
preservam as pautas de renovação com um significado que se determina
de geração em geração. A história judaica se projeta em uma dimensão que
reflete um princípio, um desenvolvimento e uma conclusão.
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A fé em um Criador Todo-poderoso que justifica a existência do mundo e do
ser humano, imprime um rumo determinado a missão atribuída pela
vontade Divina.
A história bíblica se orienta em dois sentidos para realçar os atos terrenos
como produto de forças concêntricas que se desenvolvem em dois planos: o
humano e o Divino.
O desígnio e o sentido dos processos históricos têm um rumo definido e
determinado pelo D-us do mundo que é também o D-us de Israel e da
história. Ou seja, tudo o que se revela na história, em seus sucessos e
acontecimentos é a concepção Divina.
A sólida e coerente direção que dão os significados históricos ao povo judeu,
está construída segundo os princípios de sua religião e consciência nacional,
situação que permite ao povo judeu ser dono de sua criação espiritual, e o
distingue qualitativa e axiologicamente dos outros povos.
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Exposição visita sua décima cidade no Brasil
Shavei Israel
Pelo terceiro ano consecutivo, a
Exposição – “Criptojudeus: A
chama que a Inquisição
nunca conseguiu apagar”
esteve no Brasil em duas
cicades, Porto Velho em
Rondônia e Campina Grande no
Estado da Paraíba,
completando assim a décima
cidade visitada pela Exposição.
Desde 2007 que Shavei Israel leva com tremendo sucesso esta
exposição de painéis para salas expositoras espalhadas pelo Brasil e
assim também foi este ano.
Em Porto Velho a Exposição ocorreu na Casa de Cultura Ivan Marrocos
e sua abertura realizada no dia 22 de junho contou com a presença do
Representante e um dos Curadores da Exposição o Professor David
Salgado Coordenador de Projetos do Departamento de Anussim da
Organização Shavei Israel. O Professor Salgado fez uma palestra sobre
a presença e o despertar dos Anussim no Brasil. O público presente era
composto por estudantes, políticos, jornalistas e membros da
comunidade judaica local.
Após a palestra foi servido um coquetel aos presentes. A Exposição
premaneceu no local até o dia 26 de junho e será levada para outro
lugar ainda não definido na capital do Estado de Rondônia.
Em Campina Grande na Paraíba, a décima cidade visitada
pela Exposição em seu terceino ano, o evento semelhante contou com o
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opoio e presença massiva do Grupo de Anussim que a Shavei Israel
acompanha à vários anos, além de membros do Grupo de Anussim da
cidade de Recife que viajaram quase três horas para estarem presentes
na abertura do evento quando o professor e Chazan David Salgado fez
sua palestra e pode desfrutar de um coquetel casher todo ele a base de
frutas. A Exposição em Campina Grande foi realizada na Câmara de
Vereadores Felix Araújo e ficou aberto ao público em geral no período
de 2 a 9 de julho.
Com o sucesso da Exposição, Shavei Israel vem demostrando a
importância de manter-se um contato permanente com os Anussim do
Brasil, buscando sempre preservar seus interesses e renovando os
laços que existem desde centenas de anos e que nunca desapareceram
completamente, mantiveram-se adormecidos, mas que agora despertam
para a eternedidade.
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A Origem do dia dos Namorados e de Valentine´s Day
Por: Jane Bichmacher de Glasman
Desde tempos bíblicos, o dia 15
de Av (Tu beAv) tem sido
celebrado como o Feriado do
Amor e do Afeto.
Da mesma forma que em Tishá
beAv tantos fatos trágicos
aconteceram aos judeus, em Tu
beAv foram vários fatos
positivos, ao longo da história,
marcando o fim de negativos
que vinham ocorrendo conosco,
como povo.
Alguns Exemplos:
O fim das mortes da geração do Êxodo
Após o caso dos espiões, quando o povo não quis entrar em Canaã, sua
geração foi condenada a uma jornada de 40 anos no deserto, até que
todos falecessem e uma nova entraria na Terra. Segundo a agadá, isto
ocorreu em Tishá beAv e as mortes ocorriam neste dia; as pessoas
cavavam covas para si e dormiam dentro delas; todo ano morriam
15.000. No último ano no deserto, todos acordaram vivos. A princípio,
pensaram que haviam errado a contagem de dias e continuaram a
dormir nas covas nas noites seguintes até que no dia 15 viram a lua
cheia e tiveram certeza que Tishá beAv havia passado sem ninguém
morrer.
O enterro dos mortos de Betar
O imperador romano Adriano após o genocídio em Betar, deixou os
corpos dos judeus abandonados, jogados em um vinhedo. Após um
tempo, um novo rei permitiu que fossem finalmente enterrados. Todo o
povo uniu-se para cuidar do enterro, que ocorreu em Tu beAv. Nossos
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Sábios acrescentaram a bênção Hatov Vehametiv -o "Bom que faz o
bem", no Bircat Hamazon, explicando :"O Bom" - pois os corpos não
apodreceram enquanto não haviam sido enterrados e "que faz o bem" pois fez com que acabassem sendo enterrados.
O dia em que terminavam de trazer lenha ao Templo
Este também era o dia da oferenda de madeira quando as pessoas
traziam gravetos de madeira para o altar do Templo (Nehemias,10:35).
O festival foi instituído pelos Fariseus celebrando a sua vitória sobre os
Saduceus neste dia.
Após a reconstrução do Segundo Templo, no tempo de Ezra e Nehemia,
era grande a dificuldade de encontrar árvores para utilizar a madeira na
queima dos sacrifícios no altar, pois a terra encontrava-se devastada.
Quando alguém doava lenha ao Templo, era muito festejado, pois sem
lenha o ofício do Templo teria que ser cancelado. Inimigos impediam
pessoas de chegar com lenha a Jerusalém. O último dia de corte para o
Templo era 15 de Av. Depois, o calor já não era tão intenso e as
madeiras que não estavam secas corriam o risco de serem infestadas
por insetos, invalidando sua utilização no altar. Por isso, o último dia de
verão era festejado com grande alegria.
O Talmud dá uma razão adicional e curiosa para a importância deste
dia: daí em diante nenhuma madeira mais foi cortada para o Templo
porque o sol não era mais bastante forte para secá-la (Bavli:Taanit,30b31a; Tratado 121a-b; Ierushalmi:Taanit 4:11,69c). Teria havido uma
muda?ça de clima súbita e drástica? Se o sol não fosse mais forte
bastante para secar madeira, uma forte névoa teria se formado,
bloqueando os raios do sol? A terra teria esfriado, pelo menos na
região? Talvez nunca saibamos a resposta desta intrigante questão.
Amor fraterno
Há outras razões para a causa e o valor do Feriado do Amor.
O rei de Israel Ierovam ben Nevat, havia retirado o trono de Jerusalém e
colocado dois bezerros de ouro, em Dan e Bet El, para o povo idolatrar.
Mas muitos continuaram indo a Jerusalém. Para impedi-los, Ierovam
espalhou várias barreiras e guardas nos caminhos.
Num Tu beAv também, o último rei de Israel, Hoshea ben Elá, removeu
as chancelas que Ierovam instalou e declarou: "Quem quiser peregrinar
a Jerusalém, pode ir".
Neste dia foi permitido às tribos casarem-se pela primeira vez entre si
(Números, 36:8ss). Havia dois tipos de casamento proibidos: entre tribos
e entre qualquer uma e a de Benjamin.
A primeira proibição foi transmitida por Moisés, para garantir os direitos
sobre a terra de cada tribo. Se uma filha tivesse herdado um terreno de
seu pai, ao casar-se com um homem de outra tribo, o terreno passaria a
pertencer também ao marido, prejudicando a tribo dela. Quanto à tribo
de Benjamin, após o episódio da Pileguesh Baguiva, o povo fez a
promessa: “Nenhum de nós dará sua filha a Benjamin por esposa”.
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Anos depois, os sábios analisaram as proibições e concluíram que os
casamentos eram proibidos apenas por um período. Os primeiros
quatorze anos após a entrada em Canaã foram dedicados à conquista e
distribuição de terras. Casamentos entre tribos eram proibidos durante
estes anos, devido à ausência de demarcação da terra que seria
destinada a cada tribo, que impossibilitava transferências; depois,
tornou-se viável. A promessa de não casar-se com a tribo de Benjamin
era apenas para aquela geração, pois disseram "Nenhum de nós" - não
"Nenhum de nossos filhos”. Os Benjaminitas foram readmitidos na
comunidade (Juízes, 21:18 ss). As permissões foram dadas em Tu
Beav, dia de alegria e união do povo.
Deduzimos que o Feriado do Amor também era um Feriado de Amor
Fraterno.
Em Israel, tornou-se o feriado das flores, porque nele é costume dar
flores de presente a quem se ama. O Feriado do Amor era conhecido na
época do Segundo Templo. O Talmud diz que as "filhas de Jerusalém
vestiam-se de roupas brancas e iam dançar nos vinhedos, cantando em
15 de Av e “quem não tivesse uma esposa podia ir até lá” para
encontrar uma noiva. (Taanit, 4:8, Talmud Bavli).
Em tempos bíblicos, o Feriado do Amor era celebrado com tochas e
fogueiras. Hoje em dia, em Israel, é costume enviar flores a quem se
ama ou para os parentes mais íntimos. A significação e a importância do
feriado aumentaram em anos recentes. Canções românticas são
tocadas no rádio e festas 'Feriado do Amor' são celebrados à noite, em
todo o país.
Não há halakhot, preceitos para esta data, exceto a orientação que, a
partir de 15 de Av, devemos aumentar o estudo de Torá, pois nesta
época do ano as noites come?am a alongar-se e "a noite foi criada para
o estudo." Uma ótima noite para vocês!
O amor no judaísmo é essencial. Rabi Haim Vital, cabalista, comparou
por guemátria amor em hebraico, ahavá, (valor numérico 13) com o
Nome de Deus (26), concluindo que, quando duas pessoas se amam, a
combinação de seu amor (13+13) intensifica a presença divina entre
eles (Deus=26=13+13). Portanto, procure o amor e ame intensamente!
Cônjuges, namorados, amigos, pais, família... Quando duas pessoas
compartilham suas existências, com troca e harmonia, Deus se faz
presente!
Jane Bichmacher de Glasman ? Doutora em L?ngua Hebraica,
Literaturas e Cultura Judaica - USP,
Fundadora e ex-Diretora do Programa de Estudos Judaicos–UERJ,
Professora Coordenadora do Setor de Hebraico-UFRJ (aposentada), escritora
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Filhos de Gigantes
Fonte: Morashá - Edição 57
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‘Um salmo de David: rendei tributos
ao Senhor, ó filhos de gigantes’
(Salmo 29).
O 17º dia do mês hebraico de Tamuz
dá início a um período de três
semanas de luto nacional, para os
judeus, que culmina em Tishá b'Av o nono dia do mês de Menachem Av.
O Talmud enumera cinco eventos
trágicos que se abateram sobre
nossos antepassados nesse mesmo
17 de Tamuz, a começar pela quebra do primeiro conjunto de Tábuas dos Dez
Mandamentos. O incidente ocorreu pouco depois da Revelação Divina, no Sinai. Após
D'us ter-Se revelado, proclama os Dez mandamentos e sela um pacto com cada um
dos membros do Povo Judeu. Ele diz a Moshé para ascender ao Monte Sinai, onde
Ele mesmo lhe transmitiria toda a Torá. Quarenta dias mais tarde, em 17 de Tamuz,
quando Moshé retorna ao acampamento dos judeus com as Tábuas contendo os Dez
Mandamentos, ele se depara com o povo praticando idolatria, rendendo louvores a
um bezerro de ouro. Por inúmeras razões, o profeta reage à cena quebrando as
Tábuas. Tendo sido informado, por D'us, de que os judeus mereciam ser aniquilados
pelo pecado do bezerro de ouro, Moshé novamente sobe o Monte Sinai, para, dessa
vez, implorar por nosso povo. Através de muita oração e argumentação, e através
de um exemplo de coragem e auto-sacrifício inéditos, ele consegue revogar o
Decreto Divino de extermínio.
O episódio do bezerro de ouro - primeira falta grave do Povo Judeu, que continua
sendo o arquétipo de todos os pecados de Israel, ao longo de todas as gerações é
simbólico do relacionamento, turbulento, entre D'us e o Povo a quem Ele escolheu
para Si. E traz à baila a pergunta: teria D'us feito um "mau negócio" ao escolher os
judeus? William Norman Ewer, jornalista inglês que foi espião para a União
Soviética, expressou sua opinião - que é também a de vários outros - com a famosa
frase, que em inglês, tem interessante rima: "How odd of G-d to choose the Jews",
isto é, quão estranho que D'us tenha escolhido os judeus.
Anti-semita ou não, a frase rimada levanta uma pergunta válida: por que, de fato,
teria D'us escolhido os judeus? Em toda a Torá Escrita, e especialmente no Livro de
Isaías, ouve-se não apenas da boca dos profetas, mas diretamente de D'us, alertas e
castigos contra o Povo Judeu por idolatria e outros pecados. O Talmud, ao explicar
os motivos para a queda de Jerusalém, a destruição do Templo Sagrado e o
subseqüente exílio de nosso povo, subscreve a nossos antepassados uma longa e
variada lista de pecados: idolatria, assassinato, imoralidade, falta de respeito à Torá,
abusos contra os fracos e os humildes, difamação, ódio gratuito, e tantos mais.
Durante as três semanas que têm início em 17 de Tamuz, devemos vasculhar nosso
íntimo para tentar corrigir os pecados cometidos, não apenas por nossos
antepassados, mas por nossa própria geração.
Esse período de luto para o Povo Judeu se inicia com um jejum - no dia 17 de Tamuz
- e termina com outro - no dia de Tishá b'Av. O de 9 de Av, dia mais triste do
calendário judaico, é o único, além do de Iom Kipur, que dura a noite e o dia
inteiros. A razão para jejuarmos nesses dois dias, no período mencionado, é que
todas as tragédias que se abateram sobre nosso povo, desde sua expulsão da Terra
de Israel, são uma conseqüência de dolorosos eventos ocorridos, há dois milênios,
durante aquelas Três Semanas, entre os quais se incluem a queda de Jerusalém e a
destruição do Templo Sagrado.
Mas, fazendo justiça a nosso povo, deve-se levantar a questão, especialmente à luz
dos 2.000 anos de sofrimento judaico. Teriam sido os judeus do Antigo Israel piores
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do que qualquer um dos povos que viviam à época? Teriam eles sido piores do que
os romanos, sanguinários, que os massacraram e destruíram a Morada de D'us?
Teriam sido os judeus, de fato, ao longo da História - mesmo em seus momentos de
comportamento mais desprezível - piores do que aqueles que os caluniavam e
oprimiam?
A resposta é óbvia. No entanto, isto é irrelevante. No livro, Revolta das Massas, o
filósofo e sociólogo espanhol, José Ortega y Gasset, escreveu que a nobreza de
caráter é melhor expressa na expressão francesa, "noblesse oblige", que significa
que ser nobre não significa ter mais direitos ou posses ou privilégios; mas, sim,
implica ter mais obrigações, mais responsabilidades e um nível mais elevado de
moral e conduta. Quanto mais importante é a pessoa, mais dela se espera. O
Midrash nos ensina que D'us julga cada uma das pessoas de acordo com o que ela é
e o que dela se espera. Em outras palavras, cada um de nós é julgado de acordo
com seus atos, mas também considerando o seu potencial - o que poderíamos ter
realizado e não o fizemos. O Povo Judeu, como proclama o Salmo 29, é composto
por filhos de gigantes; eles são os filhos dos três patriarcas - Avraham, Itzhak e
Yaacov. Tal herança, uma linha espiritual tão nobre, significa que temos dentro de
nós um tremendo potencial; mas, também, uma enorme responsabilidade a cumprir.
E, conseqüentemente, significa que D'us espera muitíssimo de cada um de nós.
Ser judeu significa termos obrigações desde o momento em que despertamos, pela
manhã, até o momento em que nos deitamos, à noite; desde o nosso nascimento de fato, o mandamento da circuncisão recai sobre um neonato do sexo masculino a
partir de seu oitavo dia de vida - até o dia em que deixamos este mundo físico. Não
é apenas em Rosh Hashaná, Iom Kipur ou mesmo no Shabat que temos que nos
lembrar de que somos judeus. Não há momento, não há dia qualquer em que
podemos nos abstrair da Presença Divina e de Sua Providência. Ser judeu significa
nunca perder de vista o fato de que Alguém está sempre nos observando e
registrando todos os nossos atos. Muitos de nós talvez não prestem muito atenção
aos fatos da vida cotidiana; por exemplo, aquilo que comemos ou que dizemos.
Talvez comer carne não-casher ou fazer algumas fofocas possa parecer sem
importância no contexto macro deste mundo - mas, por alguma razão, todos estes
atos pequenos muito contam perante D'us.
Noblesse oblige significa que um pequeno pecado para um romano da Antigüidade
representa um enorme pecado para um judeu. Sendo, como somos, filhos de
homens do calibre de Avraham, Itzhak e Yaacov - os três homens mais espirituais
que jamais pisaram neste Mundo - e não de qualquer um dos loucos imperadores de
Roma Antiga, significa que um judeu, especialmente aquele que fala em nome da
Torá, não pode fazer o que quiser e pensar que se livrará de seu ato. Conhecer a
Glória de D'us e ignorá-Lo, ou rebelar-se contra Ele é um pecado dos mais graves.
As conseqüências dos atos de uma pessoa devota são muito maiores do que as de
alguém com menos profundidade. Dependendo do nível espiritual da pessoa, seus
atos alcançam Alturas impensáveis nos mundos espirituais e se refletem, de alguma
maneira, em nosso mundo físico. E, portanto, quando uma pessoa devota - ou uma
com grande potencial espiritual - peca, o dano pode atingir sérias proporções. A
idolatria e o sacrilégio, o assassinato e a imoralidade, a desonestidade e a perversão
da justiça podem ter sido a forma de vida da maioria das sociedades da Antigüidade,
mas jamais poderiam ser toleradas em um reino e povo constituído 'por filhos de
gigantes'. Foi por esta razão que Jerusalém caiu e o Templo Sagrado, foi destruído.
Mas, D'us, que é o Senhor de tudo, sabe exatamente o que fez ao escolher os
judeus entre todas as nações. Ele não nos escolheu apenas por sermos filhos dos
três patriarcas. Ele nos escolheu porque conhece nossas fraquezas enquanto povo e
sabe que, ironicamente, são a própria fonte de nossa força. Se os judeus foram
atraídos para a idolatria, foi porque sua sede de espiritualidade e transcendência é
tão grande que chega a ser desorientada. Se os judeus fizerem mal um ao outro, é
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porque eles são muito mais do que um povo que comunga de uma história e uma
religião comuns: eles são uma família intimamente entrelaçada e, como o restante
da humanidade, lamentavelmente têm a estranha noção de terem liberdade de agir
contra um membro de sua família da forma como não ousariam fazer com um
estranho. A história de Caim e Abel, que não apenas pertence ao povo judeu, mas a
toda a humanidade, comprova que crimes são, com freqüência, cometidos contra
nossos próprios irmãos.
Na Torá, D'us se queixa, várias vezes, de que os judeus são um povo teimoso e
obstinado - uma nação que não vacila, facilmente. Mas, por estranho que seja, logo
após o episódio do bezerro de ouro, quando Moshé ora a D'us, pedindo-Lhe que
perdoe o seu povo, ele diz: "Ki Am Kishei Oref Hu…Visalachta… pois é um povo
obstinado, e Tu hás de perdoar..."
Sem dúvida, uma estranha linha de argumentação defensiva. Por que razão Moshé
rogaria em nome dos judeus apontando a D'us um traço de nosso caráter que, ao
que tudo indica, Ele considera deplorável? Rabi Moshé ben Nachman, Nachmânides,
sábio espanhol do século 13, explica: Moshé, com aquelas palavras, dizia a D'us: "Tu
conheces Teu povo. São terrivelmente obstinados. Transformá-los, requereria muito
tempo e esforço. Deves lembrar-Te de que eles viveram no Egito, sociedade que era
o epicentro da idolatria, durante séculos. Tu não podes esperar deles grandes
mudanças em tão curto espaço de tempo. Levará muitos anos, ainda, para que
possam transformar-se". Assim sendo, Moshé, que sabia exatamente o que fazia,
conclui: "Mas quando eles se transformarem, a mesma teimosia estará a Teu lado.
Eles jamais hão de Te abandonar".
Foi esta a razão para que D'us escolhesse o Povo Judeu. Pois que nada nem
ninguém, nem mesmo um Holocausto conseguiu fazer-nos vacilar. Em dois mil anos,
nosso povo foi submetido a sofrimentos sem paralelo na história - a destruição de
dois Templos, o exílio aos quatro cantos do mundo, perseguições e expulsões em
massa, discriminação e ódio, tudo emanando de povos e pessoas a quem nunca
maltratamos, massacres e pogroms, uma Inquisição e um Holocausto. E, contudo,
nosso povo como um todo não deixou de lado sua identidade judaica. Há histórias
incontáveis sobre judeus, muitos dos quais não declaradamente religiosos, que se
atiraram às fogueiras da Inquisição ou foram assassinados durante o Holocausto por
se terem recusado a abandonar sua fé ou a realizar sacrilégios, tais como violar um
Sefer Torá ou comer em Iom Kipur.
Mas, perguntamos, terá compensado permanecer judeu? Terá valido a pena tentar
viver como filhos de gigantes, com todas as inevitáveis obrigações e
responsabilidades? As respostas a esta e a outras perguntas semelhantes não são
fáceis nem simples. Uma destas encontra-se no Talmud, em uma passagem que
discute as conseqüências do pecado do bezerro de ouro. A passagem detalha os
argumentos utilizados por Moshé para demover D'us de Seu decreto de aniquilação.
Seu argumento final foi: "Mestre do Universo, caso Tu venhas a destruir Israel, as
nações do mundo dirão: 'Seu poder se enfraqueceu... e Ele já não consegue salvarnos. Quando se tratava de um único rei, no caso, o Faraó, Ele ainda pôde enfrentar e
sair em nossa defesa.
No entanto, Ele não tem como enfrentar trinta e um soberanos, isto é, todos aqueles
que reinam sobre a Terra de Canaã". O que Moshé disse a D'us naquele malfadado
dia, quando o futuro do Povo Judeu pendia por um fio, foi: "Tu escolheste para Ti o
Povo Judeu. Tu e Teu Nome ligaste a eles. Se deixarem de existir os judeus, as
nações do mundo dirão que o D'us de Israel não teve poder suficiente para
preservar seu próprio povo, e deixarão de acreditar que Tu És Uno e o Único Senhor
do Universo. A derrota do Povo Judeu é a Tua derrota". E como reage D'us a tal
argumentação? D'us volta atrás em Seu decreto de aniquilar o Seu povo, dizendo a
Seu profeta: "Moshé, com tuas palavras, tu Me mantiveste vivo entre todos os
povos".
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Nós, o Povo Judeu, somos as testemunhas Divinas. Isto significa, como D'us admitiu
a Moshé logo após o incidente com o bezerro de ouro, que a existência do Povo
Judeu é o que O mantém, por assim dizer, vivo entre os povos do mundo. A razão
para isto é que fomos nós, a começar por nosso patriarca Avraham, quem ensinou o
monoteísmo à Humanidade. A pedra fundamental da civilização humana - a
responsabilidade perante um Poder Superior e um elevado código de ética e
moralidade - está calcada na Revelação Divina no Sinai. Há pessoas que podem se
perguntar por que teria D'us nos escolhido. Mas, para aqueles que crêem na Bíblia,
não há dúvidas de que foi a nós que Ele escolheu. Na Torá, D'us diz a Seu povo "E
serás para Mim um reino de sacerdotes e uma Nação Santificada" (Êxodo, 19:5).
Somos uma nação que leva a mensagem de D'us ao mundo. O Livro de Ezequiel
claramente explica que todo o Povo Judeu, um a um, sem faltar ninguém, somos
representantes e emissários de D'us neste mundo. Pois que os judeus levam em si o
Nome de D'us e Seu Nome está intimamente ligado a nós. E, assim sendo, quando
um de nós vacila espiritualmente - ou seja, se nos assimilamos ou demonstramos
um enfraquecimento em nossa fé ou agimos de uma maneira desrespeitosa perante
o restante da humanidade - estamos maculando o Nome de D'us e Sua Presença
neste mundo. Quando os gigantes do espírito têm um comportamento inadequado,
eles são inevitavelmente seguidos pelo restante da humanidade e o resultado é
corrupção e decadência. Assim, apesar do ônus inerente à noblesse oblige, apesar
dos inúmeros desafios e tentações e inimigos, temos que continuar judeus e tentar
desempenhar da melhor forma possível a nobre missão que D'us confiou a cada um
de nós.
As Três Semanas de Luto são um momento de introspecção e de busca interior, nas
quais precisamos lidar com nossas falhas, quer como indivíduos, quer como povo,
para que possamos levar uma vida que honre os Filhos de Israel e o D'us de Israel.
Não se trata de tarefa fácil. A história de vida do Povo Judeu - e, de fato, de cada
um de nós, judeus - não deve ser um diário pessoal, repleto de trivialidades e
fantasias e buscas inconseqüentes - mas, pelo contrário, "O Livro das Guerras do
Senhor" (Números, 21:14). Uma vida assim, de grandes desafios e enormes
responsabilidades, é aquela em que, diariamente, são travadas batalhas
verdadeiras. Mas, também, em que as verdadeiras vitórias da vida são vencidas.
Traduzido por Lilia Wachsmann
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Miguel de Mendonça Valladolid - Mercador Cristão-novo
Por: Claudeteane Rodrigues
Miguel de Mendonça Valladolid
acompanhou a tradição da família: era
mercador. Percorreu as regiões de
França, Holanda, Espanha e Portugal,
onde esteve com seus irmãos e tios
envolvido na prática comercial. No
Brasil, continuou suas atividades
mercantis. Em suas viagens de ida e
vinda pelas regiões interioranas da
Colônia, além de vender e comprar
mercadorias atuava como mensageiro e
conselheiro da comunidade cristã-nova,
transmitindo informações referentes à
tradição judaica.
A religião era transmitida oralmente ou
em pequenos escritos em papel, e
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Miguel de Mendonça os levava consigo, anotando as festividades e orações
judaicas, e os distribuía para os anussim nas cidades e sertões. Estes, por
sua vez, procuravam não transmitir os ensinamentos judaicos às crianças,
aconselhando muitas vezes os amigos a serem cautelosos nas práticas
judaicas.
Como tudo começou
Valladolid, cidade espanhola pertencente ao Reino de Castela, foi sua terra
natal; era o sétimo filho do mercador Dom João de Castro Mendonça com a
senhora Ana Maria de Castro, ambos cristãos-novos nascidos.
Aos cinco anos de idade, acompanhado da mãe e de seus irmãos, foi
circuncidado em uma das sinagogas na cidade de Amsterdã, Reino da
Holanda. Até os 13 anos de idade, observava a atividade profissional do pai
e dos três irmãos maiores, Manoel, Antônio e Rafael de Castro. Dom João de
Castro empreendia viagens de negócios saindo da Espanha para Flandres e
Amsterdã.
No período de 1700-1713, quando seus pais foram presos pelo Tribunal
Inquisitorial de Castela, a família separou-se: Rafael viajou para Bruxelas,
onde exerceu a função de capitão de Infantaria; Antônio emigrou para a
cidade de Jaen, Reino de Castela, onde pouco tempo depois foi preso pela
Inquisição. Manoel também foi para Bruxelas e lá continuou a desenvolver
sua atividade comercial, mas retornou à terra natal, onde foi preso pelo
Tribunal de Castela. Outras duas irmãs, Thereza e Josefa, faleceram em
Amsterdã. Miguel de Mendonça ficou sob a guarda e responsabilidade da
irmã Maria de Castro, que, nessa época, residindo na mesma cidade, estava
casada com um mercador chamado Antônio, cristão-novo. Pouco tempo
depois, emigrou para Portugal.
Em terras lusitanas, Miguel foi trabalhar com seus tios: Manoel Lopes
Álvares, Antônio Navarro, Manoel Nunes, Miguel Osóbio, João Francisco
Osóbio, todos cristãos-novos, homens de negócio que realizavam viagens
comerciais pelas cidades de Bruxelas, Flandres, Amsterdã e Lisboa.
Relacionava-se com outros mercadores, entre eles, Antônio Cardoso Porto
(rico mercador que era proprietário de carregações e tratava de negócios
com tecidos, madeiras, escravos, peças de porcelana etc., da Costa da Mina
para Portugal e Brasil) e Manoel de Albuquerque e Aguilar (negociante de
diamantes e pedras preciosas do Brasil para Portugal e Inglaterra), ambos
cristãos-novos, que lhe mostraram o comércio entre Portugal e Inglaterra,
envolvendo a maior colônia lusitana da época radicada no Brasil. E lhe
falaram de outros comerciantes que viviam em terras brasileiras, como
Manoel Mendes Monforte, médico, cristão-novo, residente na capitania da
Bahia.
Homem alto, magro, com cabelos curtos e pretos, Miguel de Mendonça aos
21 anos de idade viajou para a cidade de Bruxelas, estabelecendo-se na
casa de sei irmão, Rafael de Castro; um ano depois foi para a França. Após
dois anos, retornou para Portugal. Em terras portuguesas, continuou
exercendo sua atividade profissional; porém, com a prisão dos tios pelo
Tribunal Inquisitorial de Lisboa, fugiu para o Brasil. Desembarcou nos portos
da capitania da Bahia, onde foi abrigado pelo amigo Manoel Mendes
Monforte.
O ânimo pela fé
Mesmo após a prisão e a morte da família, os ensinamentos religiosos de
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seus pais persistiram na memória de Miguel de Mendonça: a fé manteve-se
acesa em suas lembranças.
Em Portugal, sua irmã Maria de Castro e seus tios o instruíram como livrarse das sutilezas da ação do Tribunal do Santo Ofício, preservando-se na
crença original. Na cidade de Amsterdã – e também em Bruxelas e na
França – durante o período em que freqüentou as sinagogas, aprendeu as
cerimônias, orações e jejuns. Quando retornou às terras lusitanas,
participou secretamente das cerimônias judaicas com seus tios e primos.
Também seguiu as orientações da irmã Maria de Castro de nunca abandonar
a “Leide Moisés, pois somente nela poderia encontrar a salvação”. Quando
veio para o Brasil, continuou a manter-se crente na Lei Velha.
Uma vida dividida entre a fé e a sobrevivência em terras baianas
Se de um lado as lembranças de sua família e da fé erma constantes em
sua mente, a necessidade de sobreviver também se fazia presente. Nessas
terras, tendo conhecimento da movimentação do Tribunal do Santo Ofício,
tratou de esconder sua verdadeira identidade, revelando-a somente para
parentes e amigos, com os quais realizava secretamente diversas
cerimônias judaicas.
Com a experiência que havia adquirido na Europa, logo conseguiu envolverse no mercado interno colonial, comprando negros e escravos para o
abastecimento da região mineradora. Na companhia de seus parentes
Jerônimo Rodrigues, senhor de engenho, João Lopes Álvares e Domingos
Álvares, e do amigo João Carrascas, homem de negócio, todos anussim,
adquiria negros escravos. Com Manoel Nunes Viana, Miguel Nunes de
Miranda e João Rodrigues selecionava cavalos para o mercado consumidor
mineiro. Miguel de Mendonça, o “viajante”, transportava as mercadorias
pelo interior das terras da Bahia, descendo o rio São Francisco em direção
às Minas Gerais.
No Rio de Janeiro e nas Minas Gerais
Após três ou quatro meses de viagem, chegava à região onde devia deixar
as encomendas. Sua hospedagem já era certa, casa de parentes e amigos.
Percorria vários sítios e chácaras entre a região fluminense e mineira,
situados nos arredores de Minas Velhas de Cubatão, Campos do Flamengo,
Campos de Parapanema, Pernagua, Ilha Raza entregando os produtos,
recebendo em ouro ou em dinheiro o valor correspondente. Também de
forma secreta, nesses territórios ensinava as orações e cerimônias que
realizavam na capitania da Bahia.
São Paulo, a última morada no Brasil
Persistindo no ramo do comércio, Miguel de Mendonça chegou à capitania
paulista, hospedou-se por um período de cinco a seis meses na ermida de
Nossa Senhora da penha de França, onde se enamorou de uma cristã-velha,
Maria Nogueira Falcão, e. mesmo sem aprovação doa amigos da fé, casouse na igreja local. Teve três filhas: Escolástica, Francisca e Ana Maria.
Enquanto Miguel de Mendonça vivia “entre a fé e o novo mundo” no
território paulistano, em Portugal, seu nome era mencionado nas seções
inquisitoriais do Tribunal de Lisboa, denunciado por seus parentes e amigos.
Em 10 de abril de 1728, os inquisidores emitiram mandado de busca e
prisão contra Miguel de Mendonça.
Foi preso quando estava em companhia de sua esposa e filhas, em 29 de
novembro de 1729, e levado pelos familiares do Santo Ofício para o Colégio
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da Companhia de Jesus, seguindo para o Convento de São Francisco na Vila
de Santos. Conduzido aos cárceres da Inquisição de Lisboa, foi denunciado,
após permanecer encarcerado dois anos e 11 meses, como herege e
apóstata diminuto à fogueira inquisitorial durante auto-de-fé de 17 de junho
de 1732.
Miguel de Mendonça Valladolid foi um exemplo de persistência e de
sobrevivência da fé judaica no solo brasileiro em uma época na qual o
homem não tinha direito à liberdade de pensar, agir e de falar diferente da
ordem instituída.
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