DOSSIER Coberturas CONVERSAS Vítor Abrantes e Jorge

Transcrição

DOSSIER Coberturas CONVERSAS Vítor Abrantes e Jorge
59
N° 59 . janeiro/fevereiro 2014 . 6.50
DOSSIER
Coberturas
CONVERSAS
Vítor Abrantes e Jorge Grandão Lopes
ficha técnica
diretor
Eduardo Júlio
diretora executiva
Carla Santos Silva
[email protected]
conselho científico
Abel Henriques (UP), Albano Neves e Sousa (UTL),
Álvaro Cunha (UP), Álvaro Seco (UC), Aníbal Costa (UA),
António Pais Antunes (UC), António Pinheiro (UTL),
António Reis (UTL), António Tadeu (UC), Armando Rito,
Carlos Borrego (UA), Carlos Pina (LNEC), Conceição Cunha (UC),
Daniel Dias da Costa (UC), Dinar Camotim (UTL),
Diogo Mateus (UC), Elsa Caetano (UP), Elton Bauer (UnB, Brasil),
Emanuel Maranha das Neves (UTL), Fernando Branco (UTL),
Fernando Garrido Branco (UC), Fernando Sanchez Salvador (UTL),
Fernando Seabra Santos (UC), Francisco Nunes Correia (UTL),
Francisco Taveira Pinto (UP), Helder Araújo (UC),
Helena Cruz (LNEC), Helena Gervásio (UC), Helena Sousa (IPL),
Hipólito de Sousa (UP), Humberto Varum (UA),
João Almeida (UTL), João Mendes Ribeiro (UC),
João Pedroso de Lima (UC), João Ramôa Correia (UTL),
Joaquim Barros (UM), Joaquim Figueiras (UP),
Jorge Alfaiate (UTL), Jorge Almeida e Sousa (UC),
Jorge Coelho (UC), Jorge de Brito (UTL),
José Aguiar (UTL), José Amorim Faria (UP),
José António Bandeirinha (UC), José Câmara (UTL),
José Luís Câncio Martins, José Pinto Duarte (UTL),
Júlio Appleton (UTL), Laura Caldeira (LNEC),
Luciano Lima (UERJ, Brasil), Luis Calado (UTL),
Luís Canhoto Neves (UNL), Luís Godinho (UC),
Luís Guerreiro (UTL), Luís Juvandes (UP), Luís Lemos (UC), Luís Oliveira Santos (LNEC),
Luís Picado Santos (UTL), Luís Simões da Silva (UC),
Maria Cecilia A. Teixeira da Silva (UNICAMP, Brasil),
Mário Krüger (UC), Manuel Pipa (LNEC),
Maria do Rosário Veiga (LNEC), Nuno Silvestre (UTL),
Paulo Coelho (UC), Paulo Cruz (UM), Paulo Lourenço (UM),
Paulo M. Pimenta (USP, Brasil), Paulo Maranha Tiago (IPC),
Paulo Providência (UC), Pedro Vellasco (UERJ, Brasil),
Paulo Vila Real (UA), Raimundo Mendes da Silva (UC),
Rui Faria (UP), Said Jalali (UM), Sérgio Lopes (UC),
Teresa Valsassina Heitor (UTL), Valter Lúcio (UNL),
Vasco Freitas (UP), Vítor Abrantes (UP), Walter Rossa (UC)
redação
Cátia Vilaça
[email protected]
marketing e publicidade
Pedro Braga
[email protected]
editor
António Malheiro
grafismo
avawise
assinaturas
Tel. 22 589 96 25
[email protected]
redação e edição
Engenho e Média, Lda.
Grupo Publindústria
propriedade
Publindústria, Lda.
Praça da Corujeira, 38 - 4300-144 PORTO
Tel. 22 589 96 20, Fax 22 589 96 29
[email protected] | www.publindustria.pt
publicação periódica
Registo n. 123.765
o
tiragem
6.500 exemplares
2
editorial
4_27
dossier | coberturas
4_8
conversas
Vítor Abrantes e Jorge Grandão Lopes
10_13
Coberturas inclinadas: ensino e investigação – j. mendes da silva
14_20
Estudo de conservação de coberturas em centros urbanos antigos – romeu da silva vicente
21_27
Reabilitação de coberturas cerâmicas – Caso prático – pedro lourenço
28_33
Coberturas jardim – influência na temperatura superficial exterior – sara stingl de freitas,
nuno m.m. ramos e vasco peixoto de freitas
34_38
Reabilitação da cobertura do Pátio das Nações do Palácio da Bolsa do Porto
– Caso de estudo – vasco peixoto de freitas, nuno valentim lopes e marília sousa
39_41
Reabilitação de coberturas com placas onduladas de fibrocimento – jorge pombo
42_43
acústica
Avaliação de vibrações ambientais em edifícios – Critérios de admissibilidade
44_45
estruturas metálicas
Caracterização da força axial em cabos de estruturas de cobertura
46_47
sísmica
Redução do risco sísmico: atividades da SPES
48
estruturas de madeira
Madeira: um mundo de possibilidades
49
notícias
50_51
mercado
52
eventos
issn
1645 – 1767
depósito legal
164 778/01
capa
Os artigos publicados são da exclusiva responsabilidade dos autores.
1
© Miguel Saavedra
2_
editorial
Este número da Construção Magazine é dedicado às ‘Coberturas’. Este é um dos temas mais relevantes
e bem no ‘core business’ da nossa revista. Para co-editor convidámos o Professor Vítor Abrantes, da
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, uma referência nacional na área da Construção e
colaborador de longa data da Construção Magazine.
O dossier temático conta, como usualmente, com artigos de reputados especialistas e procura ser o
mais abrangente possível, dentro do tópico abordado.
Por fim, introduzimos neste número uma novidade, a qual pretendemos manter nos próximos números: em vez da habitual entrevista, publicamos uma ‘conversa’ entre personalidades de reconhecido
mérito, o Prof. Vítor Abrantes, co-editor do presente número, e o Eng.º Grandão Lopes, do Laboratório
Nacional de Engenharia Civil, especialista no tema ‘Coberturas’.
*O Professor Eduardo Júlio escreve de acordo
com a antiga ortografia.
Eduardo Júlio, Director
Quando fui convidado para ser co-editor deste número da Construção Magazine, subordinado à
temática das coberturas, confesso ter-me sentido muito honrado. Foi sempre um tema que me
fascinou. A minha tese de doutoramento é sobre o comportamento térmico de coberturas, mas
as contingências duma vida académica, onde quase tudo era novo, de descoberta em descoberta,
tentando persistentemente introduzir e divulgar os novos caminhos da construção, diga-se novos
em Portugal, levam-me a pensar que, ao fim de mais de 40 anos intensos e felizes, não sou mais do
que um simples generalista, mas sempre curioso e atento ao que de novo aparece. Sem qualquer
espécie de louvor barato, a Construção Magazine ajuda bastante nessa desejável atualização.
Pediram-me para escolher uma personalidade para ser entrevistada, e a minha escolha foi fácil,
pois o Eng.º Grandão Lopes é uma referência absoluta nesta matéria. Também me pediram para
solicitar alguns artigos e os escolhidos são, para mim, os melhores. Todos os autores tiveram
a gentileza de não me dizer não, sacrificando algum do seu precioso tempo e para eles irá, de
certeza, o nosso bem-hajam.
Fernando Pessoa um dia escreveu “Passo horas, às vezes, no Terreiro do Paço, à beira do rio,
meditando em vão”. Tenho a certeza de que nada, do que todos procuramos fazer, e particularmente
a Construção Magazine sempre faz, foi e será em vão.
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CONSTRUÇÃO MAGAZINE 59
JANEIRO/FEVEREIRO 2014
vítor abrantes
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4_8
conversas
Vítor Abrantes e Jorge Grandão Lopes
Fotografia por Carla Santos Silva
Com a primeira edição do ano, a Construção Magazine introduz uma novidade: a
secção “Conversas” passa a fazer jus ao nome. Neste sentido, a habitual entrevista
é substituída por uma conversa entre dois especialistas no tema do dossier. Vítor
Abrantes, Professor Catedrático na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto
e projetista, convida Jorge Grandão Lopes, Diretor do Departamento de Edifícios do
LNEC, para a primeira “Conversa” do ano.
Tendo por base o tema das coberturas, os intervenientes discutem a investigação
no LNEC e nas universidades, o que deveria mudar a nível de soluções construtivas
e o futuro da construção.
vítor abrantes e
jorge grandão lopes
O LNEC HOJE
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CONSTRUÇÃO MAGAZINE 59
Vítor Abrantes (VA) – O meu primeiro contacto com o LNEC foi na altura do estágio. Eu fiz um estágio
sobre cortiça e térmica e vim ao LNEC falar com o Eng.º Cavaleiro e Silva e a partir daí tive imensos
contactos com o LNEC. Como está o LNEC hoje?
Jorge Grandão Lopes (JGL) – Não está como há 30 anos. O LNEC é um laboratório de Estado, tem uma
tutela própria e é hierarquizado, o que tem consequências positivas mas cria também alguns constrangimentos. No entanto, continua a ser uma instituição de referência e de investigação muito ligada a aspetos
práticos. A vocação do laboratório é fazer ensaios, ou seja, testar materiais, soluções construtivas e
sistemas construtivos. As coisas evoluíram, naturalmente, e neste momento o LNEC é uma instituição
com parcerias estabelecidas com todas as universidades, no sentido de recolher informação teórica.
Julgo que a Universidade também beneficiou com alguns estudos experimentais do LNEC.
Hoje, continuamos a fazer investigação com base na experimentação, orientada, fundamentalmente,
para a indústria da construção.
VA – A perceção que eu tenho é que o LNEC continua a ser um laboratório de referência, embora, para
os investigadores mais novos, não seja como era para mim. Eu sou professor de Física e Tecnologia
das Construções, e diria que 99 por cento dos apontamentos que dou aos alunos são cópias de documentos do LNEC, o que já não acontece com os professores mais novos. Essa foi a grande mudança,
de há vinte e tal anos para cá: as universidades começaram a ter os seus laboratórios e a fazer a sua
própria investigação.
JGL – Para explicar a nossa dinâmica e as dificuldades e frustrações que sentimos, são-nos solicitadas peritagens em enorme quantidade. Como, nessas peritagens, há necessidade de fazer ensaios
para caracterizar alguns produtos, damos, por esta via de apoio (e as peritagens costumam acabar
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“a sustentabilidade
é uma das novas
vertentes. é um tema
muito falado agora,
mas o lnec, já nos
anos 80, se orientava
para proporcionar
soluções
sustentáveis.“ –
jorge grandão lopes
em tribunal), um contributo para ajudar a resolver conflitos. O que o juiz obviamente quer
saber é de quem é a responsabilidade, e essa
responsabilidade, geralmente, não é atribuída
apenas a uma entidade.
A EVOLUÇÃO DAS COBERTURAS
VA – Quando decidi doutorar-me, a primeira
coisa que fiz foi vir ao LNEC com o meu orientador. Sentámo-nos com o Eng.º Vasconcelos
Paiva e ele aconselhou-me a doutorar-me em
Coberturas. Fiz o doutoramento em 1984 sobre comportamento térmico de coberturas. Fui
o primeiro Doutor na Faculdade de Engenharia
em Construção, e hoje temos mais de 20, por
isso tive também de enveredar pela Acústica,
Fogo e outras áreas. Acabei por ser um generalista completo, coisa que hoje já não existe.
Na Faculdade, há quem só saiba de Fogo ou de
Acústica. As coisas mudaram muito nestes 30
anos, mas o meu contacto com as coberturas
e com a térmica já vem de longe. O que está o
LNEC a fazer no domínio das coberturas?
JGL – A minha tese aqui no LNEC foi sobre
ações pontuais sobre sistemas de impermeabilização de coberturas, para aferir os níveis de
acessibilidade de uma cobertura em terraço.
O LNEC tem-se orientado mais para coberturas
em terraço ou soluções construtivas para
coberturas em terraço do que para coberturas inclinadas, por várias razões: uma delas
prende-se com a tradição. A maior parte dos
revestimentos de coberturas inclinadas são
tradicionais, ou pelo menos aqueles cuja
utilização em Portugal é mais corrente, como
é o caso das telhas cerâmicas. Os estudos
feitos em coberturas em terraço demonstram
que são aquelas que mais patologias sofrem.
Por outro lado, algumas das patologias que
ocorrem em coberturas inclinadas estão nos
pontos singulares dessas coberturas, e muitas
das soluções recorrem a produtos ou materiais
utilizados nas coberturas em terraço. Há,
portanto, uma convergência de necessidades
que leva a que se tenha investido mais nas
coberturas em terraço.
As coberturas em terraço têm várias camadas,
e os estudos têm de ser integrados. Além da
impermeabilização, hoje em dia há outras
exigências, como o isolamento térmico. Uma
coisa é termos o isolamento térmico por baixo
da impermeabilização, outra é tê-lo por cima.
Se estiver por cima, vai estar diretamente sujeito à ação da água, portanto é preciso avaliar
o comportamento do isolante térmico sob ação
da água, porque todos os materiais, sob ação
da água, perdem características térmicas. É
diferente termos um isolante térmico muito
compressível ou um rígido; é também diferente termos um isolante térmico com 10 cm
de espessura, como se usa agora, ou 2, como
há uns anos.
Isto leva-me à crise petrolífera dos anos 70.
Em toda a Europa, na área das coberturas em
terraço, apareceram patologias nos sistemas
de impermeabilização. Estes sistemas, com
base em materiais betuminosos, eram os
tradicionais da época, que funcionavam muito
bem quando eram aplicados sobre 2 ou 4 cm
de isolamento térmico. Com a crise energética,
as pessoas concluíram que estavam a gastar
demasiado dinheiro com petróleo e era preciso
isolar melhor as habitações. Rapidamente se
passa de um poliestireno expandido de 2 cm
para 10. No entanto, continuaram a aplicarse os sistemas tradicionais de membranas
betuminosas oxidadas sobre esses isolantes
térmicos, com choques térmicos brutais, para
os quais os sistemas não estavam vocacionados. Houve que pensar, então, em novos
materiais e em melhorar as membranas betuminosas, incorporando resinas. Isto passou-se
na década de 70, 80. Esses materiais agora já
são correntes, portanto a investigação tem de
passar por outras vertentes e nós estamos a
acompanhar o melhor possível essa evolução.
INTRODUZINDO O TEMA DA SUSTENTABILIDADE
JGL – A sustentabilidade é uma das novas
vertentes. É um tema muito falado agora,
mas o LNEC, já nos anos 80, se orientava para
proporcionar soluções sustentáveis. Isto levame à questão dos resíduos. Um dos temas de
investigação, em cuja colaboração estou a
trabalhar, junto de empresas portuguesas,
tem a ver com a reciclagem de materiais, ou
seja, da utilização de resíduos neste domínio
das coberturas, das impermeabilizações e dos
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CONSTRUÇÃO MAGAZINE 59
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conversas
conversas
isolantes térmicos. Pretendemos reutilizar
produtos resultantes da desconstrução no fabrico de novos materiais. Isto na área dos PVC
é relativamente mais fácil de fazer do que na
área dos betuminosos. Eu queria, até, começar
por fazer investigação neste domínio de resíduos do próprio fabrico. No caso das empresas
de membranas de PVC, os resíduos de fabrico
são logo incorporados noutro processo de
fabrico que vai melhorar a membrana que vem
a seguir. Há, portanto, uma reutilização desses
resíduos, em vez de serem desperdiçados. O
PVC, ao contrário dos betumes, não tem origem
no petróleo, ou seja, numa matéria orgânica, e
tem cloro na sua composição, o que é bastante
prejudicial para o ambiente. A investigação tem
evoluído no sentido de tirar aquele radical cloro
dessas membranas. Surgiram, então, membranas dos TPO. São misturas de polietileno com
polipropileno, muito mais amigas do ambiente.
Nesta altura, são francamente mais caras,
até porque o mercado é muito pequeno, mas
a investigação está a desenvolver-se nesse
sentido neste domínio das impermeabilizações das coberturas em terraço.
Gostaria, também, que a investigação se
orientasse no caminho da incorporação de
soluções de painéis fotovoltaicos flexíveis
no processo de fabrico de membranas de impermeabilização. Já se fazem essas lâminas
fotovoltaicas prefabricadas, que depois são
incorporadas em obra, especialmente nas
membranas sintéticas de PVC.
VA – Isso acontece não só nas membranas
mas também nos outros revestimentos, como
as telhas. Nesses domínios começa a haver
investigação direcionada ao aproveitamento
dos materiais cerâmicos com incorporação
de elementos que lhes possam dar algumas
características fotovoltaicas e isso é, de facto,
uma mudança completa.
Hoje toda a gente fala em sustentabilidade e
quanto mais dizem que é sustentável, menos
sustentável é. Certas soluções ou certos
edifícios publicitados como sustentáveis, se
forem sujeitos a uma análise muito fina ao
nível do fabrico de materiais, dos gastos no
fabrico e do destino dos resíduos aquando da
desconstrução, deixam de ser sustentáveis.
Podem ser sustentáveis sob o ponto de vista da
energia mas não em relação aos outros fatores.
6_ CONSTRUÇÃO MAGAZINE 59
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A IMPORTÂNCIA DAS COBERTURAS
NAS TROCAS DE CALOR
VA – Em 1990, os coeficientes de transmissão de referência preconizados eram mais
exigentes para as coberturas do que para
as paredes. Quando existe no edifício uma
área quase semelhante de cobertura e de
parede, a cobertura é muito importante. Na
construção de imóveis em andares, a cobertura tem um peso muito menor. No caso das
moradias, a importância é maior, e não apenas
pela questão da poupança de energia. A
cobertura é também um fator de conforto
ou desconforto muito importante no verão.
Portugal está localizado na zona de verão
mais severa da Europa. Há zonas, como o
Alentejo, iguais ao sul de Espanha ou à Grécia
em termos de calor.
Isso também tem levado a desenvolvimentos,
como a renovação do ar nas coberturas, até
porque esse calor vai ter outro efeito: nos novos sistemas, quando o isolamento aumenta
brutalmente, a concentração de calor é muito
grande, pelo que vamos ter concentrações
de calor nas superfícies de uma cobertura da
ordem dos 60 ou 70 °C. Tem de haver cuidado
com as cores utilizadas. O conhecimento
dos arquitetos sobre Física das Construções
não é muito grande, pelo acabam por replicar
modelos da Alemanha e dos Estados Unidos.
Veem-se, por isso, sobretudo nas coberturas
inclinadas, coberturas pretas. Uma cobertura
em telha clara, num dia de verão pode ter
uma temperatura de 50 ou 60 °C à superfície,
enquanto uma preta pode ter 80 ou 90. Isto é
problemático do ponto de vista da energia que
entra mas também da durabilidade de toda a
solução. Tem havido algum desenvolvimento
nesta matéria, nomeadamente com as coberturas ajardinadas.
JGL – As coberturas ajardinadas têm vantagens ao nível da regulação da temperatura do
ar, mas existe outro aspeto importante, que é o
amortecimento de picos de cheia. Estão ali 50
cm de terra, ou até 2m, ou podem estar apenas
5 cm. Se tivermos uma superfície totalmente
impermeabilizada, em que a água que cai em
cima de uma zona não pode ser absorvida e
vai para as canalizações, gera-se um enorme
caudal de água quase instantaneamente. Se
houver um amortecedor, e a água ficar acumulada na terra e só aparecer nas tubagens
passado uma hora ou meia hora, já a chuvada
acabou. Isto leva a uma redução de custos por
via da diminuição do diâmetro necessário para
as tubagens.
VA – Esse é um dos aspetos mais importantes
dessas coberturas, até porque os problemas
causados pelas chuvas têm-se revelado muito
graves nas cidades. A impermeabilização é
cada vez maior. Nos anos 50, a parte interior
dos quarteirões era vazia, e hoje constrói-se
garagens nesses quarteirões. Isso aumenta
os caudais nas ruas.
Outro aspeto importante relacionado com esse
tipo de coberturas é a possibilidade de recolher
a água e reciclá-la. A partir de uma determinada
área, é obrigatório recolher essa água, tratá-la
e depois utilizá-la em lavagens, o que implica
poupanças razoáveis de água.
A COBERTURA IDEAL (SE É QUE EXISTE)
JGL – Eu diria que não há coberturas ideais,
mas para idealizarmos qualquer coisa temos
de comparar. Podemos comparar coberturas
inclinadas com coberturas em terraço, mas
aproveito para fazer uma desmistificação.
As cober turas inclinadas são típicas em
Portugal, e não podemos utilizar uma cobertura em terraço em zonas onde a solução
construtiva seja o telhado, a menos que,
arquitetonicamente, até seja possível criar
ali um impacto visual positivo. Falando dos
terraços vs coberturas inclinadas, com os
recursos que hoje temos, bem controlados
em fábrica, é possível fazer bons materiais,
até de fabrico nacional. A compatibilidade
desses materiais de impermeabilização e
de isolamento térmico está suficientemente
bem estudada, quer pelo LNEC, quer pelas
universidades, e conhecem-se os mecanismos de degradação. Temos bons materiais
e bons projetos, portanto podem conceberse soluções construtivas adequadas para
coberturas em terraço e para coberturas
inclinadas. Temos também aplicadores que
conhecem o ambiente, ou seja, são especialistas na aplicação das soluções construtivas,
quer em terraço, quer inclinadas.
PROJETOS DE ARQUITETURA ACOMPANHADOS
POR ENGENHEIROS?
JGL – Eu acho que há um problema, que é o da
coordenação a nível de projeto ou seja, que
deve ser feito atempadamente. Muitas vezes,
ao nível da Arquitetura, para as habitações
correntes, não há detalhe suficiente. Por
exemplo, temos a laje da cobertura e o acesso
à cobertura e há um degrau com apenas 5 cm
porque essa foi a decisão do arquiteto. É impossível compatibilizar a pedra de soleira que
está 5 cm acima da laje com o isolante térmico
que vai ter 10 cm, portanto a cobertura vai ficar
acima da pedra de soleira. A nível de projeto, é
portanto necessário coordenação adequada
e atempada, porque depois a aplicação é mais
fácil. Muitos dos problemas atribuídos à aplicação resultam destas decisões apressadas.
VA – Os projetos de Arquitetura deviam ser,
desde o primeiro momento, acompanhados
por engenheiros.
JGL – Devia haver uma equipa de arquitetos e
engenheiros...
VA – Esse é um dos grandes problemas [na
origem] destas anomalias. Este acompanhamento quase não existe. Na maior parte das
vezes os engenheiros entram para as coisas
mais inacreditáveis. Entram, por exemplo, para
um projeto de Acústica quando o projeto está
todo definido. Para a Térmica é quase a mesma
coisa, assim como para as águas e esgotos.
Na maior parte das situações, a entrada do
engenheiro faz-se muito tarde. Nestes aspetos
de detalhe construtivo nunca entram. A nível
de coberturas, a grande diferença entre as
inclinadas e as coberturas em terraço é que
estas últimas necessitam de maior detalhe.
Não podemos especificar uma cobertura em
terraço pela espessura da tela ou do isolamento. É preciso muita sorte para que aquilo
corra bem. Geralmente corre bem porque o
subempreiteiro ou tarefeiros que se dedicam
a este assunto têm algum conhecimento mas
aquilo é feito por vários intervenientes. Isto
exige muito mais detalhe do que a cobertura
inclinada porque qualquer falha representa
entrada de água. Numa cobertura inclinada
também há entradas de água mas a probabilidade é menor. Ali, se a cobertura não for
bem feita a probabilidade é maior, e há outro
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CONSTRUÇÃO MAGAZINE 59
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conversas
Perfil
Vítor Abrantes partilhava do gosto pela
Matemática, pelo que a opção pela
Engenharia surgiu naturalmente. Ingressou
no Instituto Superior Técnico, noutro ramo da
Engenharia, depois mudou-se para Coimbra,
onde entrou em Engenharia Civil, e por fim foi
para o Porto, tendo ficado na faculdade. Tem
dividido os 41 anos de profissão entre ensino
e atividade privada.
Ambos valorizam a experiência de obra na
carreira de um Engenheiro Civil.
problema: a reabilitação de uma cobertura em
terraço é muito mais difícil. Por várias razões,
mas sobretudo porque se houver entradas de
água não se sabe por onde elas se dão, uma vez
que a água se infiltra pelo meio da laje.
No entanto, as coberturas inclinadas também
têm problemas. Nos últimos 40 anos, a cober-
tura clássica inclinada deixou de ter estrutura
de madeira. Com isso, aquele espaço perdeu
a ventilação, gerando-se problemas de humidade. Essa era uma das grandes vantagens
das coberturas antigas. Se aquele espaço for
altamente ventilado e as telhas estiverem
apoiadas num ripado, o espaço está praticamente à temperatura exterior. Se o espaço
for fechado, a temperatura pode chegar aos
50 ou 60 °C.
O FUTURO PASSA PELA REABILITAÇÃO
“na maior parte
das vezes os
engenheiros entram
para as coisas mais
inacreditáveis. (...)
na maior parte das
situações, a entrada
do engenheiro faz-se
muito tarde.“
– vítor abrantes
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CONSTRUÇÃO MAGAZINE 59
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JGL – O futuro passa pela reabilitação, e como
a construção está, é claramente para aí que
nos estamos a orientar, quer no LNEC quer nas
universidades.
VA – Hoje estamos a dedicar-nos a isso, mas
é bom que não se faça reabilitação como se
faz construção nova. Infelizmente, muitos
dos bairros que têm sido reabilitados, estão a
sê-lo sem se colocar qualquer isolamento, em
edifícios com 40 ou 50 anos. Eu diria que isso
é quase criminoso! Ficam muito bonitos por
fora, mas por dentro continua a haver os mesmos problemas de humidade de condensação.
É fundamental que, na reabilitação, haja
também projeto e estudo das anomalias. Nos
Perfil
Jorge Grandão Lopes descreve o seu
percurso na Engenharia Civil como
“linear”. O diretor do Departamento
de Edifícios do LNEC teve uma breve
passagem por estaleiro de obra após
ter concluído o curso pelo qual decidiu
enveredar pelo gosto pela Matemática,
Física e Desenho. A investigação sempre
foi o seu objetivo, e foi na prossecução
dessa meta que em 1980 entrou
no LNEC.
condomínios, quando há problemas de humidade consultam-se dois ou três empreiteiros,
não consulta um especialista, porque isso
custa dinheiro. Os empreiteiros dão as soluções que mais lhes convêm, não vão analisar
o problema em si. Isso é um erro, portanto
espero que as coisas melhorem a esse nível.
O primeiro passo é estudar as anomalias, e
depois pode haver várias estratégias, com
diferentes custos.
JGL – A reabilitação é um aspeto importante
no estado atual de dificuldades económicas do
país e dos cidadãos. Imaginemos uma cobertura em terraço com membranas betuminosas,
com 10, 15, 30 ou 40 anos, ou até com 60. Ao
fim de algum tempo, é necessário reparar porque houve algum acidente com a impermeabilização. Para evitar retirar a impermeabilização
por completo, o que estamos a pensar fazer é a
ligação de uma membrana velha, que é aquela
que lá está, com uma nova membrana. A membrana velha está ainda ótima, com exceção
daquele centímetro perfurado pelo acidente,
mas quando vamos colocar uma nova, com um
tempo expectável de vida muito mais alongado,
a ligação é o ponto crítico. Para não retirar a
membrana toda, pode optar-se por esta solução, escolhendo materiais compatíveis com
os que lá estão.
10_13
coberturas
coberturas inclinadas:
ensino e investigação
J. Mendes da Silva
Professor Associado do Departamento de Engenharia Civil – Universidade de Coimbra
[email protected]
OBJETIVOS COMUNS VS DIVERSIDADE DE
SOLUÇÕES
A primeira e grande tarefa no ensino e investigação da construção de edifícios é estruturar
a informação e os desafios, para que, depois,
se possa centrar cada abordagem neste ou
naquele domínio mais restrito, circunscrito
pela época, pela geografia, pela tecnologia,
pela estética ou pela funcionalidade.
Ao falarmos de coberturas inclinadas a certeza
é, sobretudo, a de que não estamos a falar de
“coberturas planas”, numa definição mais pela
negativa do que pela afirmação da sua essência. E compreende-se tal dificuldade quando
as coberturas ditas inclinadas podem assumir
tantas expressões diferentes, como se ilustra
brevemente nas imagens da Figura 1.
Que expressão têm estes tipos de cobertura
no ensino e investigação em Portugal? Temos
a informação suficiente para poder, em cada
caso, estudar a tecnologia em causa e todas
> Figura 1: Exemplos da diversidade de tipos de coberturas inclinadas.
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CONSTRUÇÃO MAGAZINE 59
JANEIRO/FEVEREIRO 2014
as suas implicações e sermos interlocutores
informados fora do nosso domínio de especialização?
Dentro da temática da conceção e construção
de edifícios, ganha cada vez mais expressão
(e autonomia) a chamada “envolvente exterior”, ou seja, a sua “pele”, a sua proteção
ex terna, agregando nessa preocupação
fachadas e coberturas, cuja distinção e fronteira nem sempre é fácil de estabelecer, como
se ilustra na Figura 2.
COMO ESTRUTURAR A INFORMAÇÃO SOBRE AS
COBERTURAS INCLINADAS
Na perspetiva estrutural, a dimensão do vão a
vencer é sempre o maior desafio e, por isso, esse
é sempre o primeiro critério de classificação. Sujeitas, em geral, a menos cargas permanentes
ou quase permanentes do que os pavimentos,
ainda que enfrentando ações singulares como
o vento e a neve, é nas coberturas que se
experimentam as soluções mais complexas
do ponto de vista estrutural, das quais as
cascas ou membranas de betão e, sobretudo,
em todas as épocas, as estruturas metálicas
multidimensionais (com funcionamento mais
tradicional, com efeito de membrana ou de
estrutura tensionada) e, mais recentemente, as
estruturas de madeira lamelada colada, estão
entre as principais respostas.
Não é possível falar de coberturas sem falar
da sua estrutura (nem esta é dissociável da
conceção e construção das outras partes
da cobertura) mas a componente dita “nãoestrutural” não é menos complexa, desde logo
porque a diversidade de materiais, soluções
e componentes é muito maior. Uma hipótese
de classificação é separá-la por materiais de
revestimento, outra pela dimensão das peças
desse mesmo revestimento (telhas, chapas,
lonas, ...), outra ainda pela sua geometria
geral, que tem fortes implicações na filosofia
e tecnologia associada aos remates, ligações
e, de modo particular, à drenagem.
A TRANSFERÊNCIA DO SABER NO DOMÍNIO DAS
COBERTURAS INCLINADAS
Ainda que com progressivas exceções, as coberturas inclinadas correntes da Europa mediterrânica são, sobretudo, ora em telha cerâmica
ou de betão (nos seus múltiplos formatos), ora
em chapas metálicas ou compósitas (agora que
se abandonou o fabrico e utilização de chapas
de fibrocimento com incorporação de amianto).
É, pois, natural dar uma particular atenção a
estes tipos de coberturas, recordando alguns
marcos - históricos - da bibliografia técnica que,
sobretudo nas décadas de 80-90, usámos com
intensidade, por exemplo, as publicadas pelo
LNEC em 1976 [1], pelo CTCV em 1998 [2] ou
pelo CSTB entre 1989 e 1991 [3, 4, 5]. Ainda que
exijam atualização para dar resposta a novas
exigências de comportamento térmico e de impacte ambiental, continuam a ser documentos
de referência.
Com a afirmação progressiva, ainda que lenta,
da reabilitação de edifícios, têm surgido obras
mais recentes que, embora de espetro mais
alargado, não deixam de integrar contributos
de grande valia em relação às coberturas. Em
contextos e escalas distintas, podem referirse, entre outras, as publicações coordenadas
por Vasconcelos de Paiva [6], João Appleton
[7], Vasco Freitas [8], Vítor Cóias [9] e Vítor
Abrantes [10].
ENSINO
O ensino da engenharia e da arquitetura, em
matéria de coberturas inclinadas, divide-se
entre as áreas de construção, de estruturas
e de projeto. A construção aborda, em geral,
com especial cuidado, as soluções mais tradicionais (revestimentos de telha ou chapas
metálicas), ainda que num leque alargado de
variantes construtivas. A abordagem de outros tipos de soluções é feita sob perspetivas
específicas, nomeadamente em disciplinas
ou cursos sobre estruturas de betão armado,
metálicas ou de madeira. Têm ganho também
particular expressão as abordagens temáticas ligadas à energia e às soluções solares
passivas.
Ao projeto – enquanto vertente de ensino e
aprendizagem – está reservada a visão sis-
> Figura 2: Envolventes de edifícios sem distinção entre fachada e cobertura.
JANEIRO/FEVEREIRO 2014
CONSTRUÇÃO MAGAZINE 59
11
coberturas
témica, em geral aplicada a casos concretos
– em contraponto com a abordagem sistemática das restantes abordagens curriculares.
Apesar de não ter sido feita uma pesquisa
exaustiva e sistemática neste domínio nas
universidades portuguesas, é fácil estimar
valores médios de horas de lecionação
destas matérias num curso de mestrado
pós-Bolonha de Engenharia Civil: 4 a 8 horas
de lecionação específica (em disciplinas de
Materiais de Construção e Tecnologia das
Construções) e outro tanto de informação
complementar relevante (Física das Construções e Reabilitação não-estrutural), a
que acrescem, em alguns ramos de especialização, mais uns pares de horas de ensino
na perspetiva estrutural. Ainda que possam
parecer escassas estas horas dedicadas
ao ensino das coberturas inclinadas, elas
têm demonstrado ser eficazes, se forem
consideradas num contexto de permanente
empenho e atualização das escolas e dos
seus docentes, e num quadro de reforço da
formação ao longo da vida, a que um número
cada vez maior de profissionais vem aderindo.
Para quem quiser recordar os tempos de
estudo e a tensão da avaliação escrita,
apresentam-se, no Quadro 1, em jeito de
entretenimento (mas também de desafio
a revisitar estas matérias), duas questões
de resposta múltipla retiradas de testes
recentes, em que só uma das respostas está
totalmente correta.
A INVESTIGAÇÃO E OS SEUS DESAFIOS
A investigação sobre coberturas inclinadas é
reduzida quando comparada com a investigação relativa a outros elementos de construção,
nomeadamente no domínio das paredes. Há,
no entanto, desenvolvimentos importantes
no domínio dos materiais (e do seu comportamento e durabilidade), da conceção das
estruturas de suporte, da reabilitação e do
seu comportamento termo-higrométrico. Ao
nível da investigação sobre os sistemas,
têm particular expressão os estudos sobre
> Quadro 1: Exemplos de questões de exame sobre coberturas inclinadas de telha cerâmica.
1
2
12
Sobre os telhados
tradicionais de
telha cerâmica, com
estrutura de madeira,
pode afirmar-se que:
Sobre o papel da
ventilação nas
coberturas de
telha cerâmica e o
modo como deve
ser garantida pode
afirmar-se que:
CONSTRUÇÃO MAGAZINE 59
A
Nos telhados correntes com telha "aba e canudo" (telha lusa)
a resistência à ação do gelo é tanto maior quanto maior for a
porosidade da telha, uma vez que mais facilmente permite o
alojamento dos cristais sem criar tensões internas excessivas.
B
Nos telhados antigos de telha canudo, frequentes nos
centros históricos, a estanquidade e durabilidade podem
ser francamente melhoradas com o uso de subtelha e com a
colocação de grampos metálicos de fixação ente telhas.
C
Nos telhados correntes com telha "aba e canudo" a
estanquidade é tanto melhor quanto mais fechados e
estanques ao ar forem os encaixes entre telhas sucessivas.
D
Nos telhados antigos de telha canudo, frequentes nos
centros históricos, a estanquidade e durabilidade podem ser
francamente melhoradas com o uso de subtelha e com a fixação
de todas as telhas com argamassa muito rica em cimento.
A
A microventilação da face inferior da telha promove a sua
secagem e diminui a probabilidade da sua deterioração por ação
do gelo.
B
A ventilação pelas cumeeiras deve ser evitada e substituída
por telhas de ventilação ao longo da vertente, para evitar
infiltrações e deslocamento de telhas pelo vento.
C
A microventilação da face inferior da telha promove a sua
secagem e aumenta significativamente o seu contributo para o
isolamento térmico da cobertura.
D
A micro-ventilação da telha tem como principal função diminuir
as condensações nos desvãos ventilados quando não há
barreira pára-vapor sobre a laje de esteira.
JANEIRO/FEVEREIRO 2014
coberturas de grande vão, coberturas leves e
de fácil montagem.
Uma vez que a reabilitação não pode deixar de
estar no nosso horizonte mais próximo, fez-se
uma pesquisa sobre o tema num dos eventos
que, desde 2003, têm marcado a reflexão neste domínio em Portugal (Encontro/Congresso
de Patologia e Reabilitação de Edifícios - PATORREB) e identificaram-se os artigos que, de
forma explícita, tratam o tema das coberturas
inclinadas (Quadro 2).
É também importante verificar o que se passa
no contexto da investigação que, em Portugal,
se está a traduzir através de teses de Mestrado
e de Doutoramento. Nos repositórios de acesso
público “online” das universidades públicas ou
das suas escolas de Engenharia Civil, apenas
13 teses de mestrado (ver Quadro 3) e 3 teses
de doutoramento referem explicitamente,
como título, o domínio das coberturas (inclinadas), entre 2008 e 2012.
Esta recolha estará certamente incompleta
face à dificuldade de avaliação das temáticas
envolvidas, quando não explicitadas nos
títulos ou em palavras-chave facilmente pesquisáveis. No entanto, permite ver que, por um
lado, há interesse e trabalho de investigação
no fim dos cursos de mestrado e, por outro,
que urge identificar oportunidades e incentivar outros trabalhos que tragam inovação e
conhecimento ao setor.
As teses de Doutoramento abordam temas
relacionados com a avaliação da segurança
estrutural de coberturas de madeira [11], o
processo de avaliação e diagnóstico, também
de estruturas de madeira [12], e o envelhecimento das telhas em ambiente marítimo [13].
Outras teses de doutoramento do mesmo
período, ainda que dedicadas a um espetro
temático mais alargado, têm trazido importantes contributos para a compreensão das
coberturas em centros urbanos antigos, das
suas anomalias e das estratégias de reabilitação [14] [15].
A diversidade das coberturas inclinadas, das
suas formas, das suas estruturas, dos materiais de revestimento e das suas exigências
térmicas serão, ainda, durante muito tempo,
fontes de inspiração para a investigação. A
reabilitação, a durabilidade e a manutenção
destes elementos construtivos constituem
> Quadro 2: Seleção de artigos sobre coberturas inclinadas (PATORREB 2003 a 2012).
Ano
Título da comunicação
Autor(es)
desafios inadiáveis que são transversais a
todas as outras temáticas e cujo objeto de
trabalho tem uma dimensão dificilmente
imaginável.
2003
A cobertura de telha
LOZA, Rui
2003
Defeitos de concepção e execução de coberturas de telha
cerâmica: casos de estudo
SILVA, J. A. R. Mendes da; ABRANTES, Vítor;
VICENTE, Romeu S.
2006
Técnicas de reabilitação em estruturas de madeira
REIS, Maria de Lurdes B. C.; BRANCO,
Fernando G.; MASCARENHAS, Jorge
Morarji
2006
Patología y propuesta de intervención en las cubiertas
metálicas de chapa galvanizada de un edificio multiuso en El
Prat de Llobregat (Barcelona)
GÓMEZ, Cesar Díaz; GILLES, Claudia
Torres
[1] LNEC - Coberturas de edifícios - Curso de Formação
2009
Fachadas e coberturas na cidade antiga: conhecer e agir
SILVA, Raimundo Mendes da
[2] CTCV et al. - Manual de Aplicação de Telhas Cerâmica.
2009
Reabilitação da cobertura do Pátio das Nações do Palácio da
Bolsa do Porto
FREITAS, Vasco Peixoto de; LOPES, Nuno
Valentim; ANGÉLICO, Marília Sousa
2009
2009
2009
2012
6. BIBLIOGRAFIA
Profissional - CPP 516 - LNEC, Lisboa, 1976.
Publicado pela APICC, com CTCV e ICFEUP, financiado pelo
programa PEDIP. Coimbra, 1998.
[3] D.T.U. 40.21 - Couvertures en tuiles de terre cuite à
Tipificação de soluções de reabilitação de estruturas de
madeira em coberturas de edifícios antigos
LOPES, Miguel Cameira; FARIA, J. Amorim
Patologias em pavimentos e coberturas de edifícios
CRUZ, Hélder Maurício Antunes; AGUIAR,
José Barroso de
[4] D.T.U. 40.22 - Couvertures en tuiles canal de terre cuite.
Diagnóstico e intervenção estrutural em coberturas de
madeira: o caso da Escola Secundária Rodrigues de Freitas
ILHARCO, Tiago; PAUPÉRIO, Esmeralda;
MARTINS, Luís; GUEDES, João Miranda;
COSTA, Aníbal
[5] D.T.U. 40.23 – Couvertures en tuiles plate de terre cuite.
Rehabilitación de cubiertas del centro de promociones
económicas, en El Prat de Llobregat (Barcelona)
CASTELLS, Sandra Bestraten; LAPERAL,
Emilio Hormias
emboîtement ou à glissement à relief. CSTB, Paris, 1989.
CSTB, Paris, 1990.
CSTB, Paris, 1991.
[6] PAIVA, J. V.; AGUIAR, J., PINHO, A. - Guia Técnico de reabilitação habitacional, 2 volumes, INH, LNEC, Lisboa, 2006.
[7] APPLETON, J. - Reabilitação de edifícios antigos. Patologias e tecnologias de intervenção. 1.ª Ed. Amadora:
Edições Orion. ISBN: 972-8620-03-9, Amadora, 2003.
> Quadro 3: Teses de Mestrado sobre coberturas inclinadas (repositórios 2008-2012).
Local
Ano
Título da Tese
[8] FREITAS, Vasco, P. et al. – Manual de Apoio ao Projecto
Autor
de Reabilitação de Edifícios Antigos. Porto: Ordem dos
Engenheiros da Região Norte, FEUP/LFC. ISBN: 978-97299918-7-5, Porto 2012.
UA
2011
Asnas tradicionais de madeira: caracterização e reforço
Bastos, João Miguel Silva
UA
2009
Avaliação do comportamento de asnas antigas de madeira de
grande vão
Santos, Vítor Daniel Ramisote
FEUP
2009
Certificação térmica de edifícios existentes: estudo técnicoeconómico da reabilitação energética de coberturas
Luzio, João Miguel Gonçalves
UC
2009
Coberturas de Zinco. Anomalias e soluções de reabilitação
Maurício, Carla Susana Gonçalves
UNL
2010
Desenvolvimentos recentes na normalização de tijolos
cerâmicos de alvenaria e telhas cerâmicas
Aboobaker, Kabir Ismail
FEUP
2009
Durabilidade de revestimentos de coberturas inclinadas:
telhas cerâmicas: estimativa da vida útil
Marques, José Miguel Macedo Rolim
antigas de madeira. Universidade do Minho. [Tese de
UC
2008
Estudo do Sistema de Recolha de Águas Pluviais em Telhados
na zona Alta de Coimbra
Almeida, Catarina Teresa Correia de
[12] MARTINS, Sérgio - Estruturas de madeira – inspecção e
FEUP
2013
Importância da pormenorização construtiva na reabilitação
de edifícios: reabilitação de coberturas
Pinto, Débora Sueli Moreira Vaz
FEUP
2008
Processos de manutenção técnica de edifícios: plano de
manutenção de coberturas
Barros, Pedro Miguel Lopes de
FEUP
2008
Reabilitação do ponto de vista térmico de coberturas
inclinadas, no Centro Histórico do Porto
Rocha, Jaime Miguel Ferreira da Silva
UA
2012
Reforço de asnas tradicionais de madeira
Santos, Ivo Manuel Almeida
UTAD
2009
Técnicas Tradicionais de Construção, Anomalias e Técnicas de
Intervenção em Fachadas e Coberturas de Edifícios Antigos
Conservação, Restauro e Reabilitação de Edifícios Antigos
Guimarães, João Pedro Pinto
UTAD
2009
Teoria e Prática de Técnicas de Construção e Conservação de
Coberturas do Séc. XVIII: Evolução Histórica, Tratadística do Séc.
XVIII, Diagnóstico de Anomalias e Restauro Estrutural
Oliveira, Nuno Filipe Marques
[9] SILVA, V. Cóias e - Guia Prático para a Conservação de
Imóveis. Manual para a utilização durável e económica
da habitação, através de uma adequada manutenção.
Edições D. Quixote. ISBN: 972-20-2184-2. Lisboa, 2004
[10] ABRANTES, Vítor; SILVA, J. Mendes da – Método de Diagnóstico de Anomalias em edifícios. Col. Livros d’Obra
#1. Porto: GEQUALTEC/Cadernos d’Obra. ISBN: 978-98996696-8-0. Porto, 2012.
[11] BRITES, Ricardo - Avaliação de segurança das estruturas
Doutoramento]. Guimarães, 2011.
diagnóstico: aplicação em caso de estudo. Universidade
do Minho [Tese de Doutoramento]. Guimarães, 2009
[13] CRUZ, Cláudio - Comportamento e durabilidade de telhas
cerâmicas em ambiente marítimo. Universidade de
Aveiro [Tese de Doutoramento]. Aveiro, 2010.
[14] VICENTE, Romeu - Estratégias e metodologias para
intervenções de reabilitação urbana. Avaliação da
vulnerabilidade e do risco sísmico do edificado da Baixa
de Coimbra. Universidade de Aveiro - Departamento de
Engenharia Civil. [Tese de Doutoramento]. Aveiro, 2008.
[15] TEIXEIRA, Joaquim - SALVAGUARDA E VALORIZAÇÃO DO
EDIFICADO HABITACIONAL DA CIDADE HISTÓRICA. Porto:
Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto [Tese
de Doutoramento – a publicar – 2014].
JANEIRO/FEVEREIRO 2014
CONSTRUÇÃO MAGAZINE 59
13
14_20
coberturas
estudo de conservação
de coberturas em
centros urbanos antigos
Romeu da Silva Vicente
Professor Auxiliar, Universidade de Aveiro
[email protected]
1. COBERTURAS COM ESTRUTURA EM
MADEIRA: MATERIAIS, SOLUÇÕES E
TECNOLOGIA CONSTRUTIVA
As estruturas das coberturas do edificado
antigo são quase na totalidade em madeira,
existindo muito poucos casos de coberturas
com estrutura metálica, coberturas planas ou
outras geometrias. As coberturas inclinadas
com estrutura em madeira, por representarem
mais dos 90% das coberturas de núcleos urbanos antigos, são as que mais preocupações e
necessidades de conservação levantam.
Existem e registaram-se, após centenas de
ações de inspeção ao abrigo de estudos de
investigação, diferentes soluções estruturais
>1
> Figura 1: Vista aérea da Baixa de Coimbra e do Seixal.
14
CONSTRUÇÃO MAGAZINE 59
JANEIRO/FEVEREIRO 2014
de coberturas, ao nível da configuração das
asnas, dos elementos de contraventamento,
das mansardas, lanternins, etc. Porém, o facto
de muitos edifícios estarem construídos em
banda e terem uma largura reduzida em contexto dos centros urbanos antigos, conduz a
que as soluções de telhado com duas águas
sejam as mais utilizadas, tais como: i) solução
estrutural muito simples que consiste em vigas/barrotes principais de madeira paralelos
à fachada, descarregando sobre as paredes
meeiras ou meãs; ii) estrutura de barrotes
que descarrega sobre um frechal no topo das
paredes de fachada e uma viga de cumeeira,
como se fossem asnas desprovidas de escoras, pendural e linha; e ainda, iii) solução com
uma geometria de asna fechada simples como
(ver Figura 2). Nos casos de coberturas de
grandes dimensões (maiores vãos e número
de vertentes), a solução estrutural torna-se
mais complexa em termos das suas ligações e
geometria dos elementos de madeira. As asnas
mais complexas são normalmente observadas
nos edifícios mais nobres e mais altos, bem
como as asnas compostas, asnas de lanternim
e asnas de mansarda, que normalmente recorrem, em geral, a melhor técnica construtiva.
Relativamente às dimensões das peças de
madeira inferiores a 4 metros (vigas, barrotes,
linhas, pernas, madres), a secção transversal
destas peças é baseada em critérios empíricos. No caso de serem superiores a esta dimen-
são teriam de respeitar dimensões indicadas
por tabelas de cálculo [Pereira da Costa, 1955].
A inclinação das águas para edifícios antigos
seria, em média, 26º a 27º para as vertentes
principais (valor usual para a inclinação das
pernas das asnas), sendo ainda mais inclinada
no norte de Portugal do que no Sul. Atualmente, sabemos que a escolha destes valores é
dependente de vários fatores, desde a ação
combinada do vento e precipitação, ao conceito de exposição e ao tipo de telha e seu encaixe.
As ligações, na sua maioria, são pregadas, mas
nem sempre apresentam cuidados de samblagem entre as peças de madeira e uso de ferragens (ver Figura 3). As ligações com ferragens
são apenas observadas em asnas de coberturas
mais complexas e consequentemente de maior
vão. A dimensão destas ligações, suportada por
critérios empíricos, pode variar entre larguras de
3 a 6cm e espessuras de 0.5 a 1.2cm, determinada pela dimensão da estrutura.
No que respeita o revestimento, predominam
as coberturas revestidas a telha cerâmica. A
telha do tipo canudo, marselha e lusa são as
mais observadas, com predominância para as
duas últimas. As coberturas revestidas com
telha canudo, na sua maioria argamassadas,
apresentam um estado de degradação muito
avançado. Os revestimentos de telhado em
telha de canudo (também designada por “telha
portuguesa”) têm desaparecido, representando hoje uma pequena minoria (ver Figura 4a).
Existem diversas formas de assentamento
para este tipo de telha (mouriscado, meio
mouriscado, cravado e valladio). No entanto, a
forma de assentamento mais observada é do
tipo “valladio” com duplo coberto, sem juntas
argamassadas e do tipo cravado, com argamassa na zona da boca das telhas. As zonas
de beirado e cumeeira são sempre assentes
com argamassa.
A heterogeneidade de materiais e soluções
é muito grande em alguns casos, podendo
observar-se, em situações singulares, três a
quatro tipos de revestimento diferentes (ver
Figura 4b). É evidente, mas lamentável, o facto
Barrotes/vigas apoiadas
diretamente sobre as paredes
Meia-asna simples e
asna simples
>2
[Pereira da Costa, 1955]
>3
a)
b)
c)
>4
> Figura 2: Geometria e constituição da estrutura de suporte das coberturas.
> Figura 3: Ligações entre elementos da estrutura das asnas de cobertura (samblagens e ferragens).
> Figura 4: Revestimentos de coberturas inclinadas: a) Cobertura em telha tipo canudo com assentamento do tipo “valladio”; b) Heterogeneidade de soluções; c) Coberturas com
cuidados exclusivos na zona corrente.
JANEIRO/FEVEREIRO 2014
CONSTRUÇÃO MAGAZINE 59
15
coberturas
de intervenções ao nível da reparação e conservação da cobertura, na maioria dos casos,
não se estenderem à zona dos beirados, onde
claramente se observam duas a três fiadas de
telhas de meia-cana originais (ver Figura 4c).
Os beirais têm sempre uma quebra de inclinação (contrafeito) obtida através de um elemento de madeira (ponta de vara) que é pregado a
um frechal sobre a parede e, em outros casos,
devido à existência de um algeroz de recolha
de água pluvial. Existem ainda alguns casos em
que o beirado é o prolongamento da vertente.
2. NÚMEROS E REALIDADE
As coberturas são, por excelência, o elemento
de maior fragilidade e que mais condiciona o
estado de conservação de todo o edifício. O
estudo realizado na Baixa de Coimbra (808
edifícios) permitiu, como exemplo representativo dos centros urbanos antigos do país,
caracterizar as soluções construtivas e materiais encontrados, anomalias mais recorrentes
e ainda as alterações e ações de intervenção
a que as coberturas têm estado sujeitas nas
últimas duas décadas.
O material de revestimento das coberturas
é, na sua grande maioria, telha cerâmica. Notoriamente, a telha tipo lusa e tipo marselha
são as mais expressivas, com cerca de 35% e
34%, respetivamente (ver Figura 5). A solução
em telha canudo, em geral indicando uma solução original, observou-se em cerca de 14%
dos edifícios. Cerca de 15% das coberturas
dos edifícios estão revestidas com outras
soluções, tais como de chapas em fibrocimento, metálicas ou de vidro. Estes valores
>5
a)
>6
> Figura 5: Tipo de revestimento das coberturas.
> Figura 6: Tipo de suporte das coberturas.
16
CONSTRUÇÃO MAGAZINE 59
JANEIRO/FEVEREIRO 2014
b)
indiciam duas situações: o uso da telha tipo
lusa que se presume estar associada a ações
de conservação, e o uso significativo dos
revestimentos em chapa como soluções de
recurso, mais económicas, mas inadequadas
à imagem e valor arquitetónico das soluções
e do edificado.
As estruturas de suporte das coberturas mais
expressivas continuam a ser as de madeira
(60%). No entanto, regista-se uma preocupante proliferação de soluções em betão armado,
como se visualiza na Figura 6. Apenas foi possível identificar a tipologia das coberturas em
estrutura de madeira em 74% dos casos, dos
quais a maioria corresponde à solução de apoio
sobre as paredes meeiras (ver Figura 6c). Apenas 43 dos casos apresentam asnas fechadas
(asnas com linha inferior contínua), quando os
vãos envolvidos também são maiores e existe
uma maior nobreza construtiva. As estruturas
consideradas, mistas, são constituídas pela
combinação das outras tecnologias de construção de pavimentos.
Dos edifícios com coberturas em betão armado, interessa identificar aqueles com estrutura
resistente em alvenaria. Identificaram-se
cerca de 47 casos de coberturas constituídas
por elementos de betão armado em edifícios
com estrutura em alvenaria resistente. Estes
casos devem ser analisados com maior cuidado no que diz respeito à segurança estrutural,
no caso de ações sísmicas, e ainda avaliados
quais os danos que poderão ter tido origem em
ações desta natureza.
São inúmeras as anomalias e disfunções,
c)
desde problemas de humidade, degradação
e envelhecimento dos materiais, erros de
conceção, negligência na execução, fissuração
e fratura dos revestimentos e deformações
dos sistemas de suporte. Os problemas de
formação de musgos e bolores atingem mais
de 50% das coberturas, as infiltrações mais de
30% do total e os problemas de deformabilidade
do suporte atingem mais de 20%.
A garantia da estanquidade das coberturas
é essencial. A ação da água é a mais problemática e tem consequências diretas sobre os
elementos subjacentes à cobertura. As infiltrações surgem sempre associadas a outros
problemas e são potenciadas por diferentes
situações. Na Figura 7a, podemos observar a
associação dos problemas de infiltração com
potenciais causas. Verifica-se que mais de 55%
dos casos com deformação dos elementos de
suporte, têm problemas de infiltração associados. A ação combinada da falta de ações de
manutenção, envelhecimento e degradação
das soluções estão na origem de muitos dos
problemas observados.
Por último, constatou-se que, de todas as
coberturas inspecionadas, apenas uma baixa
percentagem (4%) incluem na sua constituição
algum tipo de isolamento térmico (em 90% dos
casos foi observado o poliestireno extrudido).
3. IDENTIFICAÇÃO DAS PRINCIPAIS ANOMALIAS
DAS COBERTURAS
As anomalias mais comuns das coberturas
em estrutura de madeira são essencialmente
consequência da deformação progressiva
das suas estruturas, devido principalmente
a três problemas fundamentais: o processo
de degradação e envelhecimento natural da
madeira do sistema de suporte da cobertura;
a distorção e empeno significativo dos elementos da estrutura primária (asnas e madres); e
a infiltração de água da chuva que agrava e
condiciona todo o sistema da cobertura, desde
o revestimento até ao topo das paredes de
a)
b)
c)
>7
alvenaria, onde descarregam as estruturas
de suporte das coberturas.
Na Figura 8, 9 e 10 apresentam-se alguns
exemplos dos problemas mais importantes
e recorrentes que afetam as coberturas.
Para uma consulta mais exaustiva sugere-se
[Vicente, 2008].
Os problemas não estruturais, que são muitos,
DEFORMABILIDADE EXCESSIVA DA ESTRUTURA DE SUPORTE DA COBERTURA
DESCRIÇÃO
Deflexão da viga de cumeeira ou fileira, das pernas das asnas e madres. Esta deflexão afeta todo o sistema de vara e ripa
e o revestimento da cobertura.
CAUSAS E OBSERVAÇÕES
São essencialmente deformações que ocorrem pela combinação de dois aspetos: envelhecimento natural da madeira
e o efeito da fluência. Uma vez defletida a estrutura, é facilitada a entrada de água que acaba por degradar ainda mais a
estrutura da cobertura.
Refira-se que os espaços de desvão são normalmente espaços fechados e sujeitos a grandes amplitudes térmicas, particularmente temperaturas muito elevadas na estação de verão, propiciando e amplificando os problemas de empeno, abertura
de fendas e retração, que comprometem a estabilidade da estrutura da cobertura.
Era corrente o uso de madeira de menor qualidade, com problemas de estabilidade dimensional, isto é, madeiras com grande
potencial para empenar, abrir fendas decorrentes da secagem, etc. (a gravidade destes fenómenos é muito dependente da
própria espécie de madeira empregue).
Outros problemas podem agravar esta anomalia: uso de secções transversais das peças de madeira com insuficiente capacidade de carga; o ataque xilófago e degradação biológica; deficiente contraventamento das asnas; eventual exposição
à radiação ultra-violeta.
A deformação sofrida pode, em alguns casos, evoluir até à ruína parcial de parte da cobertura.
A deformabilidade das estruturas de cobertura pode ainda provocar impulsos sobre as paredes exteriores.
>8
> Figura 7: Anomalias associadas a problemas de infiltração, rufagem e uso excessivo de argamassa.
> Figura 8: Deformabilidade excessiva da estrutura de suporte da cobertura.
JANEIRO/FEVEREIRO 2014
CONSTRUÇÃO MAGAZINE 59
17
coberturas
ATAQUE XILÓFAGO E DEGRADAÇÃO BIOLÓGICA DOS ELEMENTOS DE SUPORTE EM MADEIRA DA COBERTURA
DESCRIÇÃO
Normalmente o ataque xilófago é visível pelo exterior das peças, apresentando sinais de perfuração de pequeno diâmetro,
que pode atingir toda a secção da peça de madeira, favorecendo o desenvolvimento de bolores e podridão.
Este problema é particularmente sensível nas zonas de ligação e apoio.
CAUSAS E OBSERVAÇÕES
A suscetibilidade de degradação por agentes biológicos, nomeadamente fungos (de podridão ou azulamento) e insetos
(carunchos e térmitas), depende fortemente das condições higro-térmicas a que a madeira está sujeita. O teor em água
para desenvolvimento dos agentes biológicos terá de ser superior a 20%. No entanto, a madeira seca pode ser atacada
pelo caruncho.
A deterioração interna provocada pela podridão (branca, parda ou branda), desfazendo a madeira, atacando a lenhina e
celulose, e o ataque dos insetos (mais comum: caruncho e térmitas) consumindo a madeira e criando galerias, traduzemse, em termos estruturais, numa redução da secção resistente. No caso do ataque xilófago, o aspeto exterior da madeira
pode ser bom.
>9
INFILTRAÇÕES E APODRECIMENTO (AÇÃO DA CHUVA)
DESCRIÇÃO
Apodrecimento dos elementos de madeira nas zonas mais sensíveis à entrada de água da chuva.
CAUSAS E OBSERVAÇÕES
As infiltrações que normalmente têm origem em deficiências e problemas de desempenho de outros elementos do sistema da cobertura, tais como: a deformação do suporte, desencaixe ou deficiente sobreposição das telhas, fratura do
revestimento e ainda falta de rufagem nos bordos, chaminés e remates com paredes emergentes.
A presença de argamassa excessiva, muito vulgar nas zonas de remates, entre telhas (no caso de tratar-se do tipo canudo)
promove a humidificação prolongada dessas zonas e do suporte subjacente.
Outros problemas, como a inclinação insuficiente das vertentes face à ação combinada do vento com a precipitação,
propiciam eventuais infiltrações. A ineficiência do sistema de drenagem pluvial pode constituir um fator agravante.
A falta de ventilação do desvão agrava o problema descrito.
> 10
poderão ainda agravar as condições de estabilidade estrutural. Os pontos singulares da cobertura são os que mais defeitos apresentam,
uma vez que são geralmente omissos. É, pois,
facilmente explicável que sejam os pontos
singulares as principais fontes de infiltração
> Figura 9: Ataque xilófago e degradação biológica dos elementos de suporte em madeira da cobertura.
> Figura 10: Infiltrações e apodrecimento (ação da chuva).
18
CONSTRUÇÃO MAGAZINE 59
JANEIRO/FEVEREIRO 2014
das coberturas. Da configuração em banda dos
edifícios resulta que as coberturas inclinadas
têm necessidade de cuidados especiais ao
nível dos remates com paredes emergentes
paralelas ou perpendiculares às vertentes,
sob pena de risco de graves infiltrações. Outras potenciais origens de infiltração são as
deficiências nos remates de cumeeiras, nos
rincões, nos larós, na inclinação das vertentes
e dos beirados e ainda no encaixe e na sobreposição das telhas.
Os problemas não estruturais, que são muitos,
poderão ainda agravar as condições de estabilidade estrutural. Os pontos singulares da cobertura são os que mais defeitos apresentam,
uma vez que são geralmente omissos. É, pois,
facilmente explicável que sejam os pontos
singulares as principais fontes de infiltração
das coberturas. Da configuração em banda dos
edifícios resulta que as coberturas inclinadas
têm necessidade de cuidados especiais ao
nível dos remates com paredes emergentes
paralelas ou perpendiculares às vertentes,
sob pena de risco de graves infiltrações. Outras potenciais origens de infiltração são as
deficiências nos remates de cumeeiras, nos
rincões, nos larós, na inclinação das vertentes
e dos beirados e ainda no encaixe e na sobreposição das telhas.
Na Figura 11 apresentam-se exemplos de
diversos pontos singulares mal executados
ou ineficazes e ainda outros problemas,
também frequentemente observados e que
se descrevem.
A formação de musgos e vegetação pioneira sobre as coberturas e telhas propicia a
acumulação de detritos e microrganismos,
dificultando o escoamento das águas pluviais.
Coberturas com geometria complexa de pequenas águas, pouco inclinadas e com muitos
recortes de difícil execução, apresentam, em
geral infiltrações. Os sistemas de drenagem
e recolha de água ineficientes, envelhecidos
e ainda corroídos (tradicionalmente eram em
zinco ou chapa quinada pintada ou galvanizada) provocam escorrências nas fachadas ao
nível das cimalhas e dos beirais. O excesso de
argamassa no assentamento das telhas preju-
dica o processo de secagem, provocando um
humedecimento prolongado de determinadas
zonas da cobertura, degradando os materiais
vizinhos e enfraquecendo e propiciando a sua
fissuração. A substituição integral das coberturas por soluções em betão armado (mais
pesadas que as originais) é desaconselhável
do ponto de vista sísmico porque introduzem
uma massa adicional e ainda carga nas paredes meeiras e/ou de fachada. A existência
de equipamento pesado (por exemplo, reservatórios de acumulação de água) introduz
esforços não previstos sobre as estruturas de
cobertura, que muitas vezes afetam também
as paredes e que, do ponto de vista sísmico,
são francamente prejudiciais.
Refira-se por último, que existem outros problemas, como a ação da radiação ultra-violeta,
que enfraquece e origina a decomposição da
estrutura interna da madeira (secagem excessiva, decomposição da lenhina) e ainda a
ação do fogo e a corrosão das peças metálicas.
4. AS AÇÕES DE INTERVENÇÃO E CONSERVAÇÃO
DE COBERTURAS
Sistema de drenagem deficitária
Remates com paredes emergentes
paralela e perpendicular
Falta de impermeabilização
junto da platibanda/algeroz
Reparações pontuais incorretas
Geometria complexa
Formação de musgos e bolores
Vegetação pioneira
Instalação de equipamentos pesados
> Figura 11: Outras anomalias das coberturas.
nomeadamente a colocação de isolamento
térmico, a ventilação e a definição do sistema
adequado de recolha de águas ,que fazem com
que muitas destas intervenções prolonguem a
vida útil destas construções, quando devidamente enquadradas e compatibilizadas com
a estrutura existente. No entanto, os remates
e os pontos singulares são sempre zonas de
maior complexidade e, por isso, geralmente
menos cuidados [MATC, 1998].
As intervenções ao nível dos revestimentos
consistem, essencialmente, na resolução das
infiltrações, recorrendo à substituição das
telhas (em geral, adaptando telhas do tipo lusa
ou marselha) e à aplicação de telas e sistemas
de subtelha (ver Figura 12). Muitas destas
intervenções constituem uma oportunidade
para substituir alguns dos elementos de madeira mais degradados e ainda reconstruir a
estrutura da cobertura parcialmente ou até de
PUB
Na reabilitação de coberturas, incluindo a
sua substituição, há novas preocupações,
Rufagem de chaminé deficiente
JANEIRO/FEVEREIRO 2014
CONSTRUÇÃO MAGAZINE 59
19
coberturas
a)
b)
d)
c)
e)
f)
> 12
forma integral, se necessário (ver Figura 12).
As medidas de reforço e reparação observadas são diversas: tirantes, perfis metálicos,
escoras nas zonas de apoio e outros tipos
de elementos metálicos usados em reforços
locais (ver Figura 13). É frequente observar
reforço local de secções e escoramento com
outras peças de madeira, mas a execução destas intervenções é, em geral, pouco cuidada e
com caráter pouco duradouro.
5. COMENTÁRIO FINAL
As soluções de cobertura deverão manter-se
eficazes ao longo do tempo, evitando que seja
a cobertura a principal fonte de degradação dos
edifícios, como frequentemente se verifica. A reabilitação destas coberturas dificilmente pode
ser parcial e implica, em geral, o levantamento
global do telhado, reparação, reforço ou substituição dos elementos estruturais (incluindo
tratamentos de preservação das madeiras),
substituição e realinhamento da estrutura
secundária de apoio, colocação de subtelha,
limpeza e escolha das telhas a reutilizar, fabrico
de telhas para substituição parcial e recolocação do telhado com reconstrução de todos os
pontos singulares (beirais, cumeeiras, rufos,
etc.). As coberturas inclinadas de telha cerâmica, em Portugal, são um elemento construtivo
corrente, com grande capacidade de resposta
às exigências funcionais que lhe são aplicáveis,
mas apresentam, atualmente, graves defeitos,
com origem, sobretudo, na deficiente conceção
e execução. Nos processos de reabilitação, a
ausência ou insuficiência de projeto, a reduzida formação específica da mão-de-obra, a
adoção de novos materiais complementares
com desconhecimento do seu comportamento
e princípios de utilização e a desadequação da
geometria de algumas coberturas ao sistema
em análise poderão constituir causas principais
de anomalias que urge combater. Os processos
de manutenção periódica e hierarquizada das
coberturas, tal como dos restantes elementos
construtivos dos edifícios, constituem a ferramenta adicional imprescindível para diminuir
as disfunções que atualmente se verificam.
A bibliografia da especialidade contempla já
informação detalhada para os pontos singulares
das coberturas, pelo que se considera urgente
que a informação seja divulgada, de forma
criteriosa, aos vários agentes do processo de
reabilitação e reconstrução. A total ausência
de ações de manutenção regulares é uma das
principais razões pelas quais as coberturas são
frequentemente responsáveis pela degradação
precoce do edifício no seu conjunto e dos outros
elementos primários (pavimentos e paredes).
REFERÊNCIAS
–
–
–
> 13
> Figura 12: a) Uso de subtelha; b) Rufagem; c) Reconstrução; d) Ventilação; e) Grampos; f) Drenagem.
> Figura 13: Exemplos de sistemas de reforço observados.
20
CONSTRUÇÃO MAGAZINE 59
JANEIRO/FEVEREIRO 2014
Pereira da Costa, F. (1955). Enciclopédia Prática da
Construção Civil; Edição do Autor, Depositária, Portugália Editora, Lisboa.
Vicente, R. (2008). Estratégias e metodologias para
intervenções de reabilitação ur- bana. Avaliação da
vulnerabilidade e do rísco sísmico do edificado da
Baixa de Coimbra. Tese de doutoramento, Universidade
de Aveiro.
MATC (1998). Manual de Aplicação de Telhas Cerâmicas; Associação Portuguesa de Industriais da Cerâmica de Construção, Centro Tecnológico da Cerâmica e do
Vidro, Instituto da Construção, pp. 160, Coimbra.
21_27
coberturas
reabilitação de coberturas
cerâmicas – caso prático
Nos últimos anos, as tecnologias de construção civil, nomeadamente as referentes às
coberturas, têm sido alvo de investigação e imensos avanços que permitem conferir aos
materiais constituintes períodos de vida útil mais elevados e com maiores garantias de
funcionalidade.
Recentemente, tendo em conta as diretivas de certificação energética dos edifícios, bem
como as exigências de conforto e qualidade do ar interior, desenvolveram-se técnicas e
sistemas capazes de dar resposta efetiva e com elevada rentabilidade neste domínio.
Este artigo visa abordar técnicas de reabilitação de coberturas que possuam telhas
cerâmicas como material de revestimento. Realçam-se os benefícios do recurso desta
tecnologia construtiva, apresentando um exemplo de reabilitação específica onde foi feita
a substituição integral do telhado, mantendo a estrutura base e onde foram executadas
algumas ações com o objetivo de garantir maior eficiência e durabilidade em todos os
elementos constituintes da cobertura.
Pedro Lourenço
Umbelino Monteiro S.A., Meirinhas – Pombal, Portugal
[email protected]
TIPOS DE TELHAS CERÂMICAS
com reduzia manutenção, fácil resolução
enquanto resíduo, apresentando um reduzido
nível de agressividade para o meio ambiente.
Em termos arquitetónicos, a telha assume-se
como um produto de elevada flexibilidade,
dada a variedade de modelos e tonalidades,
bem como a elevada disposição de peças
acessórias complementares que possibilitam
executar as mais variadas geometrias, garantindo sempre a funcionalidade e fiabilidade na
resposta aos requisitos.
As funções da cobertura deverão, na sua
conceção e execução, abranger os seguintes
grupos de parâmetros fundamentais:
Funções utilitárias – impermeabilidade; incombustibilidade; resistência mecânica aos agentes meteorológicos, bem como à ação humana;
isolamento térmico e acústico; durabilidade;
reduzida sobrecarga nas estruturas; facilidade
de execução e reduzida manutenção.
Funções estéticas – tonalidades; texturas;
dimensões dos elementos; harmonia e integração com o edifício.
Funções económicas – as soluções construtivas para revestimento de coberturas deverão
Com o decorrer dos anos, tendo em conta as
exigências das necessidades da construção
civil e da arquitetura dos edifícios em Portugal,
os modelos de telhas cerâmicas e o seu acabamento final sofreram grandes evoluções.
Ainda assim, os modelos de Telha Lusa, Telha
Marselha e Telha Canudo são os tipos de telha
mais utilizados. Em Portugal, excetuando na
reabilitação, a tonalidade natural é que tem
maior expressão nos edifícios. As tonalidades
de acabamento foram desenvolvidas para
dar resposta às exigências arquitetónicas na
integração do telhado com o restante edifício,
tentando interferir o mínimo possível na sua
traça e imponência natural, respeitando assim
o património edificado. Optando por materiais
com forma, geometria e tom semelhantes aos
originais, mas tecnicamente mais evoluídos,
é possível que, após a intervenção, o edifício
esteja mais capacitado tecnicamente, mais
eficiente e a sua envolvente arquitetónica não
seja sacrificada.
Na Figura 1 ilustram-se os diferentes modelos
referenciados, e na Tabela 1 apresentam-se
os principais dados técnicos de cada tipo de
telha. [1]
TIPOS DE TELHAS CERÂMICAS
As coberturas dos edifícios revestidas com
telhas cerâmicas constituem um elemento
tradicional na paisagem portuguesa. São parte
integrante da história arquitetónica portuguesa, caracterizando inclusivamente as regiões
onde são executadas, fruto das restrições e
requisitos necessários ao seu bom funcionamento técnico.
As coberturas inclinadas com recurso a materiais cerâmicos são utilizadas desde a construção do Império Romano, essencialmente devido à abundância de matéria-prima na natureza
(argilas), da facilidade de produção, do fácil
manuseamento associado, da aplicabilidade
e da capacidade de adaptação aos diferentes
meios. A telha é considerada ainda, nos dias
de hoje, como um produto dotado de elevada
capacidade técnica e funcional, longa duração
JANEIRO/FEVEREIRO 2014
CONSTRUÇÃO MAGAZINE 59
21
coberturas
mente aplicadas com todo o rigor, contenção e
responsabilidade, para que possam funcionar
com a máxima rentabilidade;
Ventilação da face inferior – com o objetivo de
garantir uma melhor secagem dos elementos
constituintes da solução construtiva, tornase obrigatório que a cobertura seja ventilada
na sua face inferior, isto é que permita a
circulação de ar desde o beirado às cumeeiras. [1-2]
>1
Coberturas Ventiladas
> Tabela 1: Características técnicas das Telhas Lusa, Marselha e Canudo.
Característica
Telha Lusa
Telha Marselha
Telha Canudo
Comprimento (cm)
44,5
44,5
44,5
Largura (cm)
24,9
24,5
Rendimento (un/m2)
12
13
30
Massa (kg)
3,50
3,10
1,75
15,8
12,7
Absorção de água (%)
3+/-1
3+/-1
5+/-1
Permeabilidade
100% Estanque
100% Estanque
100% Estanque
Resistência ao gelo (Ciclos) *
> 300
> 300
> 150
Resistência à flexão (N) *
4000
4000
3000
apresentar um custo competitivo, reduzido na
conservação e manutenção, e com elevado
período de vida útil.
Com o objetivo de responder a todas estas
funções e aos mercados associados que absorvem estes materiais, tornou-se indispensável
compreender e aperfeiçoar as técnicas de
produção, mas também de aplicação das telhas
cerâmicas. Assim, conclui-se que na execução
de uma cobertura deverá ter-se em atenção os
seguintes aspetos gerais:
Inclinação mínima – recomendada pelos fabricantes de acordo com a geometria e rigor
dimensional do produto, mas também tendo
em conta a zona geográfica de acordo com
os mapas que combinam as ações meteorológicas com o nível de exposição das mesmas.
Exigências de rigor na aplicação – de acordo
com os princípios fundamentais da construção, as coberturas deverão ser minuciosa-
>2
> Figura 1: Telha Lusa, telha Marselha e telha Canudo.
> Figura 2: Princípio de funcionamento da cobertura ventilada [1].
22
CONSTRUÇÃO MAGAZINE 59
JANEIRO/FEVEREIRO 2014
A ventilação da cobertura pela sua face inferior
confere efeitos benéficos, únicos e indispensáveis à solução construtiva e ao bom funcionamento de todo o telhado. Seguidamente
apresentam-se de forma geral os benefícios e
objetivos da ventilação da cobertura: [3]
a) Ventilar e secar todos os elementos que
constituem a cobertura;
b) Equilibrar a temperatura e humidade interior
Vs exterior do edifício;
c) Renovação de ar na solução construtiva e
controlo de temperaturas, criando condições de salubridade nos espaços interiores;
d) Rápida secagem da água da chuva absorvida pela telha;
e) Resistência da telha sob a ação do gelo;
f) Evitar a formação de distribuições irregulares de neve aquando da sua queda brusca;
g)Reduzir as condensações internas no sistema construtivo, eliminando o vapor de água;
h) Melhorar o conforto térmico natural.
A cobertura ventilada funciona de acordo com
o “princípio da tiragem térmica”. Princípio este
que garante a circulação de ar pela face inferior
das telhas. O fluxo de ar admitido na zona mais
baixa (beirado) aumenta a sua temperatura por
ação do calor do telhado, que o torna menos
denso, provocando a sua subida por convecção natural, até às aberturas mais elevadas.
(cumeeira/rincão/parede, etc.). [1]
Na Figura 2 apresenta-se em esquema o
princípio de funcionamento da ventilação da
cobertura.
Posto isto, será lógico perceber que a fixação
dos elementos da cobertura com recurso a
argamassas não beneficia o princípio físico,
uma vez que quando aplicada em excesso
proporciona a estanquicidade do ar nos pontos
singulares indicados.
Assim, com vista à resolução deste problema,
foram criados acessórios cerâmicos e mecânicos capazes de dar resposta às exigências
da aplicação, garantindo a ventilação dos
elementos.
No estudo de caso seguidamente apresentado,
mostra-se a aplicação destes acessórios e
alguns pormenores a ter em conta na execução
de uma intervenção desta natureza.
Os acessórios cerâmicos e mecânicos têm
como objetivos gerais os seguintes pontos:
a) Promover a correta interligação das pendentes com os pontos singulares;
b) Facilitar a execução da cobertura;
c) Rentabilizar os custos da obra, reduzindo o
tempo de aplicação e mão-de-obra;
d) Contribuir para a segurança dos aplicadores, devida a facilidade de execução;
e) Promover o perfeito enquadramento estético e arquitetónico de todos os elementos
do telhado;
f) Permitir a reversibilidade da solução construtiva, facilitando intervenções futuras.
A Figura 3 representa esquematicamente alguns exemplos de peças acessórias cerâmicas.
Na Figura 4 apresentam-se alguns esquemas
de acessórios mecânicos usados, com mais
frequência, para fixação dos elementos cerâmicos em diferentes pontos singulares da
cobertura.
CASO PRÁTICO – REABILITAÇÃO DA COBERTURA DO EDIFÍCIO RODRIGUES LOBO EM LEIRIA
Este caso prático ilustra a reabilitação de um
edifico situado no centro histórico de Leiria,
onde, para além da substituição de todos os
elementos de revestimento cerâmico, foram
>3
>4
tidas em conta técnicas e soluções capazes
de responder a necessidades e requisitos
específicos da obra em particular. Esta intervenção teve em especial atenção os seguintes
objetivos:
1. Intervir no elevado estado de degradação
da cobertura;
2. Corrigir os problemas e assentamentos
estruturais;
3. Garantir a total estanquicidade da cobertura;
4. Promover maior conforto térmico e controle
da salubridade do edifício;
5. Garantir maior durabilidade e período de
vida útil dos materiais constituintes;
6. Não intervir na estética e arquitetura de
base do imóvel.
De forma a responder a todos estes requisitos,
foram tomadas decisões importantes ao nível
da escolha dos materiais e sua aplicação,
bem como um acompanhamento técnico
especializado.
A telha cerâmica escolhida foi a Telha UM Canudo Cinquentenária da Umbelino Monteiro. O
sistema construtivo adotado foi a cobertura
ventilada com regularização e impermeabilização.
O estado avançado de degradação da cobertura antes da intervenção está ilustrado nas
Figuras 5 a 8.
Como se pode verificar nas imagens anteriores, o material cerâmico apresentava-se muito
degradado. Como principais causas para as
anomalias encontradas, podem enunciar-se
a longevidade dos materiais e sucessivas
intervenções remediadas, bem como a falta
de ventilação na face inferior da cobertura,
provocada essencialmente pelos excessos de
argamassa e impermeabilizações de recurso.
Também os assentamentos naturais na estrutura ao longo do tempo provocaram pontos de
rotura e de suscetibilidade de infiltrações no
telhado. [1-3]
A estrutura apresentava apenas patologias
pontuais em alguns elementos, essencialmente empenos ou degradação devida a
infiltrações. Optou-se por reforçá-la apenas
nestes pontos singulares, mantendo quase
todo o material que se considerou em estado
conforme (Figuras 9 a 12).
Os reforços foram executados com recurso a
peças metálicas por decisão da equipa projetista e do dono de obra. Para a regularização
optou-se por placas de aglomerado de madeira
OSB, conferindo assim um suporte estável e
nivelado para receber o revestimento cerâmico. Na face superior da placa de regularização
aplicou-se uma membrana impermeável à água
e respirável para que, com efeito da ventilação,
o vapor não se acumule criando condensações
e possíveis anomalias futuras.
> Figura 3: Representação esquemática de telhão, remate (tamanco) e canto de 11 peças.
> Figura 4: Esquema de grampo de beirado, grampo de cumeeira e grampo de telha canudo.
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coberturas
>5
>6
>7
>8
>9
> 10
> 11
> 12
> 13
> 14
> Figura 5: Beirados. > Figura 8: Beirados e Rincões.
> Figura 11: Reforço e Regularização.
> Figura 13: Membrana e Ripas.
> Figura 6: Zona das Mansardas.
> Figura 9: Estado da Estrutura.
> Figura 12: Reforço e Regularização.
> Figura 14: Aplicação do Beirado (Bicas).
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CONSTRUÇÃO MAGAZINE 59
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De destacar, na Figura 13, a colocação das
ripas de suporte da telha, que propositadamente foram aplicadas de forma descontínua
e desencontrada, para garantir a passagem do
fluxo de ar e direcionando o mesmo de forma a
abranger toda a área.
A medida do ripado de suporte da telha depende sempre do tipo de telha adotado. Apesar
de os fabricantes poderem indicar valores
médios, recomenda-se que seja sempre feito
ensaio específico para cada caso.
Na fixação dos beirados usou-se parafusos e
grampos específicos (Figura 4), aplicados em
ripa de madeira. Teve-se em consideração,
ainda, a utilização de uma tela transitória da
zona da pendente para o beirado, para garantir
> Figura 7: Pendentes.
> Figura 10: Ponto singular de mansarda.
> 15
> 16
> 17
> 18
a total estanquicidade neste ponto singular
(Figura 14). A aplicação do telhado inicia-se
sempre pelo beirado, parte inferior da vertente,
que deverá ser devidamente ensaiado para
que as peças possam fazer face às dimensões
das fachadas de forma concertada e bem divida. O espaçamento entre telhas de beirado
pode variar entre 19 a 20 cm entre eixos e as
peças de beirado podem ter entre 18 a 20 cm
em consola, para além da cornija. No caso de
serem usadas peças de bicas e capas de 60
cm, a medida de consola pode ir até aos 30 cm.
O “canto de 11 peças” é o acessório cerâmico
produzido especificamente para executar o
encontro de ângulos externos das diferentes
fachadas. Este elemento deverá ser ensaiado
no início da execução do beirado, para que,
tendo em conta a flexibilidade de ajuste das
peças, possa rematar de forma perfeita todo
o perímetro do edifício, sem lugar a cortes.
(Figura 15) [2]
Para garantir a admissão de ar pelo beirado
mas não permitir a entrada de pássaros e/ou
folhas secas, etc., pode recorrer-se a malhas de
proteção em PVC ou utilizar as peças de remate
cerâmico (Figura 3). Neste caso, por razões
essencialmente estéticas e arquitetónicas,
optou-se pelo recurso aos tamancos (Figura 27)
Antes da aplicação das telhas, deve-se misturar os diferentes “molhos” das diferentes
paletes de material, para colmatar as nuances deste produto, que sendo um material
cerâmico possui diferenças geométricas e de
tonalidade aceitáveis, de acordo com a norma
que certifica o produto - EN NP 1304. [4]
Longitudinalmente, a aplicação da telha canudo
deverá ser feita no sentido de baixo para cima,
podendo tomar qualquer sentido na direção
transversal. Todas as telhas foram grampeadas
com recurso ao acessório mecânico específico
(Figura 4) e foram colocados em alguns pontos
fixações com recurso a mástique.
As linhas de cumeeira e de rincão são as
intersecções entre águas (pendentes) de
diferentes direções, sendo que a cumeeira é
linha de remate superior em plano horizontal
e os rincões em planos inclinados.
A execução destes elementos deverá ser
feita de acordo como no esquema (Figura 18).
Para execução destas linhas utilizaram-se os
grampos específicos (Figura 4) para fixação
das ripas de suporte em madeira com secção de 3,0x3,0cm2. Nestas foi aplicada uma
membrana de alumínio microperfurada, com
capacidade impermeável mas que permite
a passagem de ar e posteriormente aplicar
> Figura 15: Representação esquemática da aplicação do beirado.
> Figura 16: Mistura dos molhos de telha.
> Figura 17: Telha aplicada.
> Figura 18: Representação esquemática em corte da linha de cumeeira.
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CONSTRUÇÃO MAGAZINE 59
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coberturas
os telhões cerâmicos que, com auxílio dos
tamancos (Figuras 20 e 21), rematam perfeitamente a cobertura, conferindo um acabamento
arquitetónico e funcional de elevado nível. Nas
terminações das linhas de cumeeira foi usada
uma peça cerâmica desenvolvida para rematar
esta linha – Topo de Cumeeira. (Figura 29)
Na cobertura, foram ainda aplicadas telhas
de ventilação, com objetivo de promover a
admissão de ar em diferentes pontos ao longo
da área da pendente. A colocação destas peças
deverá ser de forma desencontrada (Figura 23)
e num rendimento de 3 a 4 un/m2.
> 19
> 20
Do estudo elaborado para este artigo, conclui-se:
a) A importância da cobertura é muito elevada
no contributo para o bom funcionamento
técnico do edifício;
> 21
> 22
> 23
> 24
> 25
> 26
> 27
> 28
> Figura 19: Aplicação do rincão.
> Figura 21: Aplicação da membrana de rincão.
> Figura 23: Esquema de aplicação das telhas ventiladoras. > Figura 26: Beirado (canto interior).
> Figura 29: Remate topo de cumeeira.
> Figura 20: Ensaio dos telhões do rincão.
> Figura 22: Aplicação de “canto de 11 peças”.
> Figura 24: Pendente (aspeto final).
> Figura 27: Beirado (acabamento frontal).
> Figura 30: Edifício (antes da intervenção).
> Figura 25: Beirado (canto exterior).
> Figura 28: Ponto singular.
> Figura 31: Edifício (após Intervenção).
CONCLUSÕES
26
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> 29
> 30
> 31
b) As boas práticas de aplicação de uma
cobertura são fundamentais para o bom
desempenho e cumprimento do período de
vida útil de toda solução construtiva, desde
a estrutura até ao revestimento;
c) O rigor da execução e a escolha das técnicas
adequadas são fulcrais para o sucesso da
intervenção e longevidade da solução;
d) A cobertura ventilada pressupõe ganhos
energéticos, reguladores e de funcionamento dos materiais e da estrutura de apoio;
e) A fixação mecânica dos elementos cerâmicos
pressupõe não só o aumento da durabilidade
da solução, pela admissão de ar para ventilação, mas garante ainda mais segurança na
aplicação, reversibilidade da solução e flexibilidade de movimentação natural das peças
para dilatações/contrações e assentamentos;
f) A integração estética e arquitetónica da cobertura, neste caso de estudo apresentado,
foram perfeitamente conseguidas (Figuras
30 e 31).
BIBLIOGRAFIA
[1] A. Vaz Serra e ed. Lit., APICER, CTCV e IT, Manual de
Aplicação de Telhas Cerâmicas, Coimbra, 1998
[2] Umbelino Monteiro SA, Tabelas e Fichas Técnicas dos
produtos, Pombal, 2009
[3] Vasco Peixoto de Freitas, Paulo da Silva Pinto, Humidade
na Construção – Humidade de Condensação, Universidade do Minho, 2003
[4] Norma NP EN 1304:2007 – Telhas cerâmicas e acessórios. Definições e especificações dos produtos.
PUB
Para visualizar o vídeo desta intervenção
visite: http://www.umbelino.pt/client/skins/
portuguese/galeria1.asp?page=653.
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JANEIRO/FEVEREIRO 2014
/ i b e r f i b ra n
CONSTRUÇÃO MAGAZINE 59
27
28_33
coberturas
coberturas jardim – influência na
temperatura superficial exterior
As coberturas jardim têm vindo a ser progressivamente aplicadas, em edifícios novos
e reabilitados, devido aos seus múltiplos benefícios, nomeadamente na melhoria da
eficiência energética dos edifícios, na mitigação do efeito da ilha de calor pela redução
da temperatura superficial da cobertura, no amortecimento dos picos dos caudais resultantes da precipitação e no aumento da durabilidade do sistema de impermeabilização.
Para além disso, a existência de uma cobertura jardim contribui para a criação de habitats
promovendo a biodiversidade e proporciona o aumento das atividades recreativas e acréscimo do valor estético [1]. Do ponto de vista económico, existem subsídios financeiros
diretos concedidos por entidades públicas em alguns países e créditos disponíveis para
serem atribuídos em sistemas de avaliação do desempenho ambiental de edifícios [2].
Na Alemanha foram construídos cerca de 86 milhões de metros quadrados de coberturas
jardim, correspondendo a 14% da área total de coberturas. Em Portugal, quer em edifícios
públicos quer em privados, também se tem observado um interesse crescente por estas
soluções.
Este artigo apresenta uma descrição sumária das coberturas jardim, incluindo uma
reflexão sobre a contribuição para a ilha de calor, para a eficiência energética e para a
durabilidade, mas foca-se, sobretudo, na quantificação da influência da colocação de uma
cobertura jardim na flutuação da temperatura superficial exterior face às tradicionais,
em diferentes climas.
Sara Stingl de Freitas
Bolseira FCT, FEUP
[email protected]
Nuno M.M. Ramos
Prof. Auxiliar, FEUP
[email protected]
Vasco Peixoto de Freitas
Prof. Catedrático, FEUP
[email protected]
COBERTURAS JARDIM
80% de todas as coberturas jardim instaladas
na Alemanha. São também a opção privilegiada
quando se trata de reabilitação, pois não implicam um aumento significativo da sobrecarga
na estrutura [4]. Pelo contrário, as coberturas
Descrição
As coberturas jardim (Figura 1) são compostas
por um sistema de camadas (Figura 2) que
inclui vegetação, substrato, membrana de
impermeabilização e isolamento térmico. Podem também incluir uma camada filtrante, uma
camada drenante, uma camada de proteção,
uma barreira anti-raiz e um sistema de rega.
A maioria dos autores divide as coberturas
jardim em dois tipos, extensivas e intensivas
[3] (Tabela 1). As coberturas jardim extensivas
caracterizam-se por apresentarem um subs-
trato com reduzida espessura, um reduzido
nível de plantação com espécies do género
sedum (Figura 3) ou relva e por um nível reduzido ou nulo de rega. Estas coberturas são geralmente as mais aplicadas, correspondendo a
a)
b)
>1
> Figura 1: Exemplos de coberturas jardim: a) Estação da Trindade – Porto; b) Edifício Comercial – Copenhaga; c) Edifício Residencial – Copenhaga.
28
CONSTRUÇÃO MAGAZINE 59
JANEIRO/FEVEREIRO 2014
c)
Vegetação
Substrato
Camada filtrante
Camada drenante
Camada de proteção
Sistema de Impermeabilização
Isolamento Térmico
Pára-vapor
Estrutura
>2
>3
> Tabela 1: Coberturas jardim: extensivas vs intensivas.
alterando o comportamento das superfícies,
a absorção da radiação solar, a capacidade
de armazenar calor, as taxas de evaporação
e a permeabilidade das superfícies [10], com
consequências no microclima local.
A evolução do clima urbano a que assistimos
hoje em muitas cidades resulta principalmente
na modificação das trocas de energia com a
atmosfera [11]. Estas mudanças levam a que
as regiões urbanas se tornem mais quentes
do que as zonas rurais envolventes. Este
efeito denominado ilha de calor é amplamente
conhecido e depende da modificação do balanço energético em áreas urbanas e da inércia
da zona urbana como um todo (Figura 4).
Para além disso a energia solar absorvida
pelos materiais durante o dia é reemitida para
a atmosfera como radiação de onda longa,
aumentando a temperatura do ar [12].
Nesse contexto, as coberturas jardim, como
uma medida de intervenção urbana, contribuem para a mitigação da ilha de calor devido
ao efeito da evapotranspiração e ao aumento
do valor do albedo, que corresponde à razão
entre a radiação refletida e a quantidade incidente (valores da ordem de 0,7 a 0,85 para
coberturas jardim comparativamente com
0,1 a 0,2 para coberturas tradicionais). Simulações numéricas efetuadas para a cidade de
Toronto mostraram que se fossem adicionadas
coberturas jardim em 50% das coberturas,
44,5
Coberturas extensivas
Coberturas intensivas
Altura
60 - 200 mm
150 - 400 mm
Peso
60 - 150 kg/m
180 - 500 kg/m2
2
Escolha limitada
Escolha diversificada
musgos
sedum
herbáceas
gramíneas
arbustos
árvores
Estrutura
Geralmente não necessita de reforço
Elevada sobrecarga sobre a estrutura
Rega
Pouca / Nenhuma
Regular
Tipos de Plantas
Manutenção
Baixa
Elevada
Acessibilidade
Geralmente não acessível
Geralmente acessível
jardim intensivas caracterizam-se por terem
um substrato com uma espessura superior,
o que lhes permite albergar plantas com raízes mais profundas (arbustos ou árvores) e
exigem, em geral, uma manutenção superior
e rega regular [5] [6].
Coberturas Jardim e Ilha de Calor
As áreas urbanas são estruturas dinâmicas
muito complexas, tendo-se verificado, nos
últimos anos, um crescimento urbano sem
precedentes. Em 2008, atingiu-se pela primeira vez uma divisão similar entre o número de
residentes em espaços rurais e urbanos [7].
Em 2050, prevê-se que 6,3 biliões de pessoas
vivam em cidades, correspondendo a 70% da
população total [8]. Em Portugal, os dados
referentes a 2011 mostram que a percentagem da população urbana corresponde a 61%
[9]. Este crescimento das cidades leva a mudanças na paisagem e, consequentemente, à
concentração de uma grande quantidade de
materiais de construção numa área relativamente pequena, bem como à presença de
múltiplas fontes de energia que modificam
o clima urbano local. Edifícios, estradas e
outras infraestruturas vão substituindo
gradualmente o terreno aberto e a vegetação,
> Figura 2: Constituição de uma cobertura jardim.
> Figura 3: Vegetação: espécie sedum.
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CONSTRUÇÃO MAGAZINE 59
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coberturas
Temperatura Superficial
Temperatura
Temperatura do Ar
Zona Rural
Zona Suburbana
Centro
Zona Suburbana
Zona Rural
>4
toda a cidade iria arrefecer entre 0,1 a 0,8ºC
e se essas superfícies fossem regadas as
temperaturas podiam ser reduzidas em mais
de 2ºC [13]. Estudos semelhantes para Nova
Iorque obtiveram uma descida da temperatura
de 0,2ºC em toda a cidade. É importante referir
que, num dia quente de verão, as temperaturas superficiais de coberturas e pavimentos
podem ser superiores às do ar em 25ºC a 50ºC
[2], enquanto que em zonas sombreadas ou
húmidas localizadas em ambientes rurais as
temperaturas superficiais mantêm-se próximas da temperatura ambiente.
Coberturas Jardim e Eficiência Energética
Na Europa os edifícios representam cerca de
40% do consumo total de energia, o que faz
com que a eficiência energética seja uma das
principais preocupações a nível europeu e
mundial. As transferências de calor em edifícios com coberturas jardim e com coberturas
tradicionais são muito diferentes devido à
evapotranspiração e à contribuição da camada
de substrato, não só a nível das temperaturas
superficiais exteriores como a nível das temperaturas interiores, reduzindo o consumo
energético no interior dos edifícios no período
de aquecimento e de arrefecimento.
Estudos efetuados mostram que a colocação
de uma cobertura jardim permite reduzir o
consumo de energia total em 73% para o último piso de edifícios em Toronto. Em Atenas,
a energia no período de arrefecimento foi
reduzida em 58% para o último piso e 39% para
todo o edifício [14]. Segundo [4], o potencial
de poupança em termos de energia para
aquecimento situa-se por volta dos 45% para
edifícios não isolados e 13% para edifícios moderadamente isolados para clima semelhante
ao da Grécia.
45
Coberturas Jardim e Durabilidade
As coberturas jardim permitem a proteção adicional do sistema de impermeabilização da ação
direta da radiação solar e das fortes flutuações
da temperatura, reduzindo o envelhecimento
pelo calor e diminuindo o stress térmico da
radiação ultravioleta e os danos físicos. Numa
cobertura jardim observa-se uma redução acentuada dos picos de temperatura e uma maior
aproximação entre as temperaturas superficiais
da membrana e a temperatura ambiente.
Na Figura 5 apresentam-se os valores obtidos
para a vida útil estimada da membrana de
impermeabilização sob uma cobertura jardim
para as condições climáticas do Porto, Faro e
Estocolmo, em que se adotou um método simplificado proposto por [15], que considera uma
relação entre a degradação e a temperatura do
material. Pode concluir-se que a durabilidade
de uma membrana sob cobertura jardim é pouco dependente do clima exterior e aproxima-se
dos 40 anos, enquanto que numa membrana
exposta a durabilidade é fortemente influenciada pelo clima (13 a 26 anos).
40
Vida Útil Estimada
(anos)
35
30
Membrana sobre
cobertura jardim
25
20
Membrana exposta
15
10
5
0
Faro
>5
Estocolmo
Porto
> Figura 4: Evolução das temperaturas superficiais e do ar durante o dia em função do uso do solo (adaptado de [2]).
> Figura 5: Vida útil estimada para uma membrana sob cobertura jardim e exposta para várias localizações.
30
CONSTRUÇÃO MAGAZINE 59
QUANTIFICAÇÃO DO DESEMPENHO
HIGROTÉRMICO DAS COBERTURAS JARDIM
JANEIRO/FEVEREIRO 2014
A existência de ferramentas de simulação
numérica que sejam capazes de descrever
as transferências de calor e humidade é
indispensável para a avaliação de soluções
Radiação de
onda curta
Radiação de
onda longa
Radiação de
onda curta
(refletida)
Calor Latente
(evapotranspiração)
Calor Sensível
(convecção)
Condução
>6
a)
b)
>7
construtivas, permitindo prever o comportamento dos elementos face às diferentes
ações externas. A modelação das coberturas
jardim é difícil do ponto de vista higrotérmico
e requer a compreensão de diferentes fenómenos (Figura 6). Atualmente existem alguns
modelos disponíveis para a simulação de coberturas jardim, desde os mais simplificados
aos mais complexos. Neste artigo utiliza-se
o modelo WUFI Pro 5.3 que permite efetuar
simulações em regime dinâmico e calcular os
perfis de temperatura, humidade relativa e
teor de humidade nos elementos. A interface
gráfica do programa WUFI é muito intuitiva e
permite a fácil entrada dos dados necessários.
É indispensável introduzir dados relativos à
configuração, orientação e inclinação do elemento construtivo, os coeficientes de chuva
incidente e de transferência à superfície, as
condições iniciais de temperatura e humidade
relativa e o período de cálculo. Têm também de
se definir as condições climáticas interiores e
exteriores. Alguns dos parâmetros a introduzir
exigem um conhecimento aprofundado, sendo
necessário ter especial atenção aos dados
climáticos referentes ao balanço radiativo explícito, aos valores do coeficiente de absorção
e à emissividade da vegetação, bem como às
propriedades da vegetação e do substrato.
Cobertura Jardim vs Tradicional
Com o intuito de avaliar o impacto da colocação de uma cobertura jardim em lugar de uma
cobertura em terraço, com godo como camada
de proteção, simularam-se duas configurações
para duas realidades climáticas distintas, um
clima temperado mediterrânico – Lisboa e
um clima temperado continental – Munique
(Figura 7), para um dia de verão e inverno
representativos.
Os resultados obtidos para o clima de Lisboa
e de Munique (Figura 8 e 9) permitem concluir
o seguinte:
– No dia de inverno a cobertura jardim apresenta temperaturas superficiais superiores
às da cobertura tradicional para os dois
climas. Esta diferença é mais acentuada em
Lisboa.
– No dia de verão observa-se que a temperatura superficial da cobertura jardim é inferior
em 5ºC relativamente a uma cobertura
tradicional, para o caso de Lisboa.
> Figura 6: Cobertura Jardim - Balanço energético.
> Figura 7: Temperatura exterior para Lisboa (a) e Munique (b), valores horários.
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31
coberturas
>8
>9
a)
b)
a)
b)
– Para o clima de Munique, com variações
climáticas menos acentuadas no período
de verão, a temperatura superficial exterior
é menor, registando-se na cobertura jardim
uma redução de 2ºC.
– O efeito da rega, para os dois cenários de
rega pontual descontínua (B e C), é claramente observado nos dois dias seguintes,
com uma redução das temperaturas que
pode ir até 5ºC.
Coberturas Jardim associadas a Rega
> Tabela 2: Simulações efetuadas.
A rega é crucial no desempenho de coberturas
jardim. Nas Figuras 10 e 11 apresentam-se os
resultados das simulações efetuadas com o
objetivo de quantificar o impacto da rega com
diferentes intensidades e durações (Tabela
2) nas temperaturas superficiais de uma cobertura jardim instalada em Lisboa. Pode-se
constatar que:
Rega
44,5
Intensidade
Duração
Cenário A
Sem rega
Cenário B
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Pontual
Contínua
Descontínua
—
—
—
5 mm/h
3 julho [20-21h]
—
•
Cenário C
20 mm/h
3 julho [20-21h]
—
•
Cenário D
10 mm/h
3 a 7 julho [20-21h]
•
—
> Figura 8: Temperaturas superficiais exteriores simuladas para Lisboa: a) dia de inverno; b) dia de verão.
> Figura 9: Temperaturas superficiais exteriores simuladas para Munique: a) dia de inverno; b) dia de verão.
32
– No cenário D, em que a rega é pontual contínua, o impacto é muito superior podendo
atingir-se uma redução das temperaturas
superficiais em relação a uma cobertura
sem rega da ordem dos 10ºC.
> Figura 10: Temperatura superficial exterior de uma cobertura jardim, ao longo de três dias
no período de verão para Lisboa – rega pontual descontínua nos cenários B e C.
UM LONGO CAMINHO A PERCORRER
As coberturas jardim exigem um conhecimento
aprofundado da sua tecnologia de aplicação e a
quantificação do seu contributo para minimizar
o efeito da ilha de calor e desempenho higrotérmico. Nesta comunicação quantificou-se o
comportamento higrotérmico de coberturas,
utilizando um modelo de simulação numérica
> Figura 11: Temperatura superficial exterior de uma cobertura jardim, ao longo de cinco
dias no período de verão para Lisboa – rega pontual descontínua nos cenários B e C e
pontual contínua no cenário D.
avançada em que se avaliou o impacto da colocação de uma cobertura jardim na temperatura
superficial e a influência da rega. Há ainda um
longo caminho a percorrer até que seja possível
dispor de informação quantificada que traduza
o efeito da cobertura jardim no conforto sobre
e sob as coberturas dos edifícios e do seu real
contributo para a eficiência energética, em
vários climas com e sem rega.
Agradecimentos
Sara Freitas agradece à Fundação para a
Ciência e a Tecnologia o suporte financeiro concedido pela Bolsa SFRH / BD / 85838 / 2012.
[1] Wilkinson, S.; Reed, R. (2009) Green roof retrofit potential in the central business
district, Property Management, 27 (5), pp. 284-301.
[2] EPA (2008) - Environmental Protection Agency, Reducing Urban Heat Islands:
Compendium of Strategies - Green Roofs, Climate Protection Partnership Division - U.S. Environmental Protection Agency’s Office of Atmospheric Programs.
[3] IGRA – International Green Roof Association
http://www.igra-world.com/types_of_green_roofs/index.php
[4] Castleton, H.F.; Stovin, V.; Beck, S.B.M.; Davison, J.B. (2010) Green roofs; building
energy savings and the potential for retrofit, Energy and Buildings 42(10), pp.
1582-1591.
[5] GRO, The GRO Green Roof Code, 2011
http://ec.europa.eu/environment/life/project/Projects/index.
cfm?fuseaction=home.showFile&rep=file&fil=GRO_Green_Roof_Code.pdf
[6] Peck, S.; Kuhn, M. Design Guidelines for Green Roofs. Canada Mortage and
Housing Corporation. http://www.cmhc-schl.gc.ca/en/inpr/bude/himu/coedar/
upload/Design-Guidelines-for-Green-Roofs.pdf
[7] PRB – Population Reference Bureau. http://www.prb.org/Educators/TeachersGuides/HumanPopulation/Urbanization.aspx
[8] UN (2011) United Nations, Department of Economic and Social Affairs – World
Urbanization Prospects, the 2011 Revision.
[9] WHO World Health Organization – Portugal Statistics summary (2002 – present).
[10] Tang, X. (2008) New challenges for weather services in changing urban environments, World Meteorological Organization, 57 (4).
[11] Salagnac, J.; Desplat, J.; Kounkou-Arnaud, R.; Lemonsu, A.; Masson, V. (2013)
Assessment of adaptation strategies to climate change impacts in a big city:
the case of Paris, World Building Congress 5-9 maio 2013, Brisbane, Australia.
[12] Dvorak, B.; Volder, A. (2013) Rooftop temperature reduction from unirrigated
modular green roofs in south-central Texas, Urban Forestry & Urban Greening,
12 (1), pp. 28-35.
[13] Rosenzweig, C.; Gaffin, S.; Parshall, L. (Eds.) (2006): Green Roofs in the New York
Metropolitan Region: Research Report. Columbia University Center for Climate
Systems Research and NASA Goddard Institute for Space Studies. New York. 59
pages.
[14] Ouldboukhitine, S.; Belarbi,R; Jaffal,I.; Trabelsi, A. (2011) Assessment of green
roof thermal behavior: A coupled heat and mass transfer model. Building and
Environment, 46 (12), pp. 2624-2631.
[15] Bjork, F. (2004) Green Roofs effect on durability of green roof membranes,
International Green Roof Institute, Publication nº006, ISBN 91-973489-5-3.
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CONSTRUÇÃO MAGAZINE 59
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34_38
coberturas
reabilitação da cobertura do
pátio das nações do palácio da
bolsa do porto – caso de estudo
A reabilitação da cobertura do Pátio das Nações inseriu-se numa operação mais vasta de
reabilitação das coberturas do Palácio da Bolsa do Porto levada a cabo pela Associação
Comercial do Porto.
O Pátio das Nações ocupa o lugar central na organização do edifício, sendo a cobertura
composta por uma área central envidraçada e por uma área lateral opaca, com revestimento em painéis metálicos.
A cobertura envidraçada sofreu diversas intervenções ao longo do tempo que retiraram
luminosidade, dificultaram o acesso e introduziram elementos dissonantes.
Com a intervenção realizada pretendeu-se repor a qualidade da cobertura do Pátio das
Nações. Na área envidraçada, foi possível dotar o espaço de luminosidade, estanquidade,
controlo solar, ventilação e controlo das condensações adequados e nos lanternins de
ventilação/iluminação foi instalado um sistema higroregulável que permite o controlo das
condições higrotérmicas, de forma a minimizar o risco de condensações e o sobreaquecimento. Na área opaca, procedeu-se à substituição das chapas onduladas por um novo
sistema de revestimento em painéis de zinco com desempenho higrotérmico adequado.
Vasco Peixoto de Freitas
Doutor em Engenharia Civil, Prof. Catedrático da FEUP,
Diretor do Laboratório de Física das Construções,
Consultor e Sócio-gerente do Gabinete “Prof. Eng. Vasco
Peixoto de Freitas, Lda.”
Nuno Valentim Lopes
Arquiteto FAUP, Mestre em Reabilitação do
Património Edificado FEUP, Docente FAUP
Marília Sousa
Engenheira Civil, Mestre em Construções FEUP,
Colaboradora do Gabinete do “Prof. Eng. Vasco Peixoto
de Freitas, Lda.”
[email protected]
1. O PÁTIO DAS NAÇÕES – IMPORTÂNCIA E
ENQUADRAMENTO NO PALÁCIO DA BOLSA
DO PORTO
íam a estrutura metálica. Longitudinalmente,
os vidros foram sobrepostos cerca de 0,10
m, tendo sido aplicado betume na ligação do
vidro com a estrutura. Numa das intervenções
realizadas nos anos 70 foi colocada uma proteção complementar constituída por painéis
de policarbonato alveolar. Na claraboia central
os painéis tinham um desenvolvimento curvo
(Figura 3).
Os lanternins de iluminação/ventilação eram
constituídos por um pano inferior fixo e um
pano superior composto por lâminas de vidro
de inclinação regulável.
No teto, sob a parte opaca da cobertura, foram
pintados painéis com as armas nacionais das
principais nações com que Portugal mantinha
relações comerciais na época. Esta área da
cobertura é protegida, no exterior, por chapas
metálicas onduladas, fixadas a uma estrutura
de madeira com desenvolvimento curvo.
O Palácio da Bolsa foi construído entre 1842 e
o início do séc. XX sobre as ruínas do Convento
de São Francisco, devastado em 1832 por
um grande incêndio. Constituía, no passado,
o verdadeiro centro de negócios da cidade e
nos últimos anos transformou-se também
numa das âncoras do turismo ribeirinho do
Porto.
O Pátio das Nações ocupa o lugar central na
organização do edifício, sendo um dos espaços
mais impressionantes do seu interior, onde se
realizam eventos de todo o género. Corresponde ao antigo claustro do Convento, com uma
magnífica estrutura metálica envidraçada
única na cidade, coberto numa segunda fase
da construção (Figura 1 e Figura 2).
34
CONSTRUÇÃO MAGAZINE 59
JANEIRO/FEVEREIRO 2014
2. CARACTERIZAÇÃO DA COBERTURA DO PÁTIO
DAS NAÇÕES
A cobertura do Pátio das Nações resulta de
um cruzamento de estilo e de materiais, com
a leveza e luminosidade da arquitetura do ferro e do vidro a penetrar no interior da solidez
granítica conferida pelo estilo paladiano que o
Palácio exterioriza. [3]
O projeto da cobertura envidraçada contou
com várias versões, tendo sido concluído por
Tomás Soller. A esbelteza da solução em ferro e
vidro adotada originalmente é evidenciada nos
desenhos da época de construção do Palácio,
existentes no centro de documentação da
Associação Comercial do Porto (Figura 2). Os
painéis envidraçados constituídos por vidro
simples, aramado com 6 mm de espessura,
encontravam-se apoiados sobre as abas dos
perfis de ferro, em “T” invertido, que constitu-
FOTOGRAFIAS: LUIS FERREIRA ALVES
3. ANOMALIAS OBSERVADAS
>1
>2
No Estudo de Diagnóstico efetuado em 2006[2],
verificaram-se as seguintes anomalias na
cobertura envidraçada do Pátio das Nações:
– Envelhecimento e degradação da estrutura
metálica (Figura 4);
– Degradação acentuada do betume aplicado
na ligação vidro/perfis metálicos;
– Envelhecimento da proteção complementar
de painéis de policarbonato alveolar colocada na intervenção realizada nos anos 70;
– Diversas infiltrações no interior do Pátio das
Nações;
– Ocorrência de condensações durante os
diversos eventos que se realizam neste
espaço;
– Reduzida luminosidade.
FOTOGRAFIAS: LUIS FERREIRA ALVES
Na área opaca da cobertura observou-se a
degradação e o envelhecimento das chapas
metálicas de revestimento, dos acessórios
de fixação e do remate com os elementos do
contorno (Figura 5). Pontualmente, existiam
pequenas manchas de humidade nos painéis
de teto, associadas a infiltrações.
4. REABILITAÇÃO DA COBERTURA DO PÁTIO
DAS NAÇÕES
>3
Tendo em atenção a importância histórica e
a qualidade construtiva do Palácio da Bolsa,
as intervenções propostas no projeto de
reabilitação elaborado visavam repor a qualidade inicial, satisfazer as exigências atuais
e assegurar a durabilidade das soluções,
utilizando técnicas pouco intrusivas e respeitando as tecnologias tradicionais (Figura 6
a Figura 12).
4.1. Reabilitação da cobertura envidraçada
>4
Na intervenção realizada na cobertura envidraçada do Pátio das Nações foram executados
> Figura 1: Vista exterior do Palácio da Bolsa (esq.) e vista interior do Pátio das Nações (dir.).
> Figura 2: Pátio das Nações (desenhos de arquivo da Associação Comercial do Porto).
> Figura 3: Cobertura do Pátio das Nações antes da reabilitação.
> Figura 4: Degradação da estrutura metálica do Pátio das Nações e da proteção complementar aplicada.
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35
FOTOGRAFIAS: LUIS FERREIRA ALVES
coberturas
>5
>6
painéis de vidro à estrutura foi reajustado,
tendo-se colocado os painéis “topo a topo”
usando mastique à base de silicone;
– Aplicação de um cobrejuntas em zinco na
ligação dos vidros à estrutura metálica, para
proteção do mastique face às gaivotas.
4.2. Reabilitação da cobertura com revestimento em painéis metálicos
Na intervenção realizada na cobertura com
revestimento em painéis metálicos do Pátio
das Nações foram executados os seguintes
trabalhos (Figura 8 e Figura 12):
– Remoção integral das chapas metálicas,
fixações e acessórios de remate;
– Verificação, limpeza e tratamento da estrutura de suporte em madeira, incluindo a
substituição pontual dos elementos que não
apresentavam uma resistência mecânica
adequada, e aplicação de um tratamento de
preservação;
– Aplicação de uma camada de isolamento
térmico constituída por painéis rígidos de
lã mineral não hidrófila, com espessura de
0,10 m;
– Aplicação do forro constituído por um
FOTOGRAFIAS: LUIS FERREIRA ALVES
os seguintes trabalhos (Figura 6, Figura 7 e
Figura 12):
– Remoção da estrutura de painéis de policarbonato e dos painéis de vidro;
– Tratamento “in situ” da estrutura metálica,
que consistiu na limpeza da superfície
através de meios mecânicos, aplicação de
primário inibidor de corrosão e pintura final
à base de resinas de poliuretano (175 μm);
– Aplicação de novos painéis de vidro com
características mecânicas, energéticas e luminosas adequadas, do que se salienta uma
transmissão luminosa de 65% e um fator
solar – g⊥ ≤ 0,40. O princípio de fixação dos
>7
>8
> Figura 5: Degradação dos painéis metálicos de revestimento da cobertura do Pátio das Nações.
> Figura 6: Tratamento da cobertura do Pátio das Nações.
> Figura 7: Tratamento da cobertura envidraçada do Pátio das Nações.
> Figura 8: Tratamento da cobertura com revestimento em painéis metálicos do Pátio das Nações.
36
CONSTRUÇÃO MAGAZINE 59
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PUB
> Figura 9: Intervenção nos lanternins de iluminação/ventilação – desenhos de projeto [2] .
FOTOGRAFIAS: LUIS FERREIRA ALVES
conjunto de réguas de madeira, com uma
espessura de 0,02 m, distribuídas de forma
a subsistir um afastamento entre réguas de
0,01 m, e fixadas ao suporte com elementos
em inox. Entre o isolamento térmico e o forro
foi garantido um espaço de ar, contínuo,
fortemente ventilado através de aberturas
repartidas pela parte superior e inferior da
vertente;
– Aplicação dos painéis de zinco com 0,70 mm
de espessura e uma largura de 0,50 m.
A superfície tinha um acabamento “prépatinado”;
– Correção do remate com os pontos singulares de forma a assegurar a ventilação
da ligação, tendo sido aplicado um rufo
complementar em zinco, como proteção
superior. No contacto do zinco com o suporte
foi aplicada uma membrana de interposição
à base de fibras de poliamida.
> Figura 10: Aplicação de caixilharias exteriores nos lanternins de iluminação/ventilação.
Inovação significa
4.3. Instalação de um sistema higroregulável de controlo das condições higrotérmicas
do Pátio das Nações, foi instalado um sistema
higroregulável de controlo das condições
higrotérmicas, de acordo com o seguinte procedimento (Figura 9 a Figura 11):
– Aplicação de caixilharias exteriores projetan-
ser e continuar a ser o primeiro.
De forma a minimizar o risco de condensações
e o sobreaquecimento, no período de verão,
Schlüter ®-Ditra 25
A Schlüter-Systems é o inventor do desacoplamento conjunto. A
lâmina DITRA evita desde 1987 que os revestimentos cerâmicos
sofram danos como resultado de tensões na construção. No decorrer
dos últimos 25 anos, o sistema foi repetidamente modificado,
aumentado e ajustado aos novos requisitos do mercado. Assim, o
sistema com provas dadas há vários anos continua a assegurar em
todo o mundo pavimentos duradouramente bonitos.
Schlüter ®-Ditra 25. Confie no original.
www.schluter.pt
JANEIRO/FEVEREIRO 2014
CONSTRUÇÃO MAGAZINE 59
37
FOTOGRAFIAS: LUIS FERREIRA ALVES
coberturas
> 11
> 12
tes motorizadas, fixadas à estrutura metálica
original, em substituição das grelhas de ventilação dos lanternins existentes (Figura 9 e
Figura 10). No interior dos lanternins foi
aplicada uma rede antiaves, em inox;
– Colocação de um conjunto de atuadores
elétricos comandados pelo sistema higroregulável. Foram instalados um total de 16
atuadores nos vãos superiores e 12 nos
inferiores (dois por vão), selecionados em
função do peso do vão;
– Instalação de uma central de comando
composta por um controlador de abertura/
encerramento e por sensores de temperatura, humidade relativa, velocidade do vento
e precipitação;
– Instalação de dois sensores para medição
da temperatura e da humidade relativa, colocados no interior da cobertura envidraçada
de forma diametralmente oposta, junto aos
vãos inferiores (Figura 11);
– Aplicação no exterior da cobertura de um
pluviómetro e de um anemómetro, para
medição da precipitação e da velocidade do
vento, respetivamente.
O sistema higroregulável instalado encontrase programado de acordo com o seguinte
princípio (Figura 11):
– Quando a velocidade do vento é superior a
um valor predefinido, ocorre o encerramento
automático dos lanternins;
– Em condições de velocidade do vento normais, são os valores da temperatura e da humidade relativa no interior que condicionam
a abertura/encerramento dos lanternins.
Complementarmente, os lanternins são dotados de um dispositivo que garante a abertura
e o encerramento por controlo direto do operador, podendo a programação ser ajustada em
função das condições de uso pretendidas pela
Associação Comercial do Porto.
na cobertura, associado aos lanternins de
ventilação/iluminação, permitirá o controlo
automático das condições higrotérmicas, de
forma a minimizar o risco de condensações e
o sobreaquecimento no período de verão do
Pátio das Nações.
Finalmente, o tempo que medeia a intervenção
até ao presente momento permite, desde já,
uma monitorização da durabilidade que não é
possível quantificar em projeto.
6. BIBLIOGRAFIA
[1] Cardoso, A. (1994). Palácio da Bolsa. 1ª Edição. Porto:
Associação Comercial do Porto.
5. CONCLUSÕES
Com a intervenção realizada em 2006/2008
na cobertura do Pátio das Nações do Palácio da
Bolsa do Porto pretendeu-se repor a qualidade
inicial e satisfazer as exigências atuais, utilizando técnicas pouco intrusivas e respeitando
as tecnologias tradicionais – Figura 12.
A intervenção na cobertura envidraçada permitiu dotar o Pátio das Nações com luminosidade, estanquidade, controlo solar, ventilação
e controlo das condensações adequados.
O sistema higroregulável que foi instalado
[2] Freitas, V. P. de e Angélico, M. S. (2006). Projeto de
Reabilitação da cobertura do Palácio da Bolsa. Porto:
Associação Comercial do Porto.
[3] Freitas, V. P. de; Angélico, M. S.; Valentim, N.; Alves,
Fernandes J., (2008). O Palácio da Bolsa: História e Retrato de uma Reabilitação. 1ª Edição. Porto: Associação
Comercial do Porto.
[4] Freitas, V. P. de; Angélico, M. S.; Valentim, N. (2009). Reabilitação da cobertura envidraçada do Pátio das Nações
do Palácio da Bolsa do Porto. Porto. PATORREB, 2009.
Livro de Atas da Conferencia Internacional: p.871-878.
[5] Freitas, V. P. de; Angélico, M. S.; Valentim, N. (2010).
Rehabilitation of the glass and metal dome of the Hall
of Nations in Palácio da Bolsa (former Stock Exchange),
Oporto. Structural Survey, volume 28, numero 1: p. 7-16.
> Figura 11: Localização esquemática dos elementos e princípio de funcionamento do sistema higroregulável de controlo das condições higrotérmicas.
> Figura 12: Cobertura do Pátio das Nações – antes e depois da intervenção.
38
CONSTRUÇÃO MAGAZINE 59
JANEIRO/FEVEREIRO 2014
39_41
coberturas
reabilitação de coberturas com
placas onduladas de fibrocimento
Entre o nada fazer e a vertigem de querer retirar tudo imediatamente, a reabilitação de
coberturas com confinamento das placas de fibrocimento pode constituir uma alternativa
mais sustentável.
Jorge Pombo
Direção de Marketing e Desenvolvimento da Imperalum
São do domínio público os riscos para a saúde
resultantes da inalação de fibras de amianto.
O aumento dessa consciência levou o Parlamento Europeu e o Conselho Europeu, na sua
Diretiva 2003/18/CE, a proibir novas utilizações de produtos com amianto, no espaço
da União Europeia, proibição com vigência a
partir de 1 de janeiro de 2005. Esta Diretiva,
transposta para a Ordem Pública Nacional
através do Decreto-Lei nº266/2007, não impõe a retirada dos materiais com amianto já
aplicados anteriormente em muitos milhões
de edifícios e instalações diversas. Em parte
pela dificuldade prática, dada a imensidão de
locais a intervencionar, mas sobretudo pelo
despropósito a que corresponderia a intervenção em edifícios onde, apesar da presença de
amianto, não se verifiquem no momento atual
condições de perigosidade a considerar, uma
vez que aqueles materiais estão confinados
ou em boas condições de manutenção e não
oferecerem risco eminente de libertação de
partículas respiráveis.
Estes documentos legislativos definem também um Valor Limite de Exposição (VLE) dos
trabalhadores a fibras respiráveis de amianto,
estipulando o valor máximo de 0,1 fibras por
cm3 como a concentração a partir da qual o
empregador ou responsável pela instalação
terá de proceder à tomada de medidas que
visem o restabelecimento de condições de permanência segura no local, ou seja, anulando ou
diminuindo muito os valores de concentração
de fibras respiráveis de amianto.
Essa tomada de medidas não significa obri-
de fibras que se libertem acidentalmente no
decorrer dos trabalhos.
Será bastante mais sustentável uma postura
de análise prévia dos reais riscos atuais (valor
de exposição atual – nº de fibras por cm3 – e
estado do fibrocimento) fundamentando
uma decisão de intervir de imediato ou simplesmente registar e continuar a monitorar
periodicamente essas coberturas. Quando
é chegado o momento de intervir, devem
então ser avaliados os riscos e as vantagens
entre remover para reconstruir ou reabilitar.
Para isso, será então importante conhecer
soluções adequadas (seguras, duradouras e
sustentáveis) de reabilitação de elementos
construtivos que incluem materiais com
amianto.
Na procura de soluções de reabilitação que
apresentem vantagem sobre a opção de remoção das placas de fibrocimento existentes,
passamos a descrever o sistema que elegemos
pela sua versatilidade, simplicidade, segurança e proteção do meio ambiente.
gatoriamente a remoção dos materiais com
amianto. Com efeito, o “Guia Europeu de Boas
Práticas para prevenir ou minimizar os riscos
decorrentes do amianto”, publicado pelo Comité de Altos Responsáveis do Trabalho (CARIT) e
divulgado também pela nossa Inspeção Geral
do Trabalho, no seu capítulo intitulado “Processo de Decisão”, aponta a remoção apenas
para materiais com danos generalizados,
recomendando a avaliação da possibilidade
de reparar, confinar, selar ou encapsular para
os restantes casos.
Nesse sentido, a realidade das coberturas com
placas onduladas de fibrocimento, produto de
amianto não friável e, por conseguinte, menos
suscetível de libertação de fibras respiráveis
de amianto, constitui na maioria dos casos
uma oportunidade segura de reabilitação com
confinamento ou encapsulamento. Criticando
deste modo o ambiente de algum fundamentalismo no sentido de retirar urgentemente todo
o fibrocimento dos edifícios, sem ter em conta
a sua impossibilidade prática e económica de,
num curto prazo, intervencionar milhares de
milhões de m2 de coberturas (em 2008, entidades ligadas ao amianto apontavam para a
existência, em Portugal, de 6 mil milhões de m2
de coberturas de fibrocimento), parece não
levarem em conta que a remoção de todo esse
fibrocimento acarreta também riscos de libertação adicional de poeiras de amianto, expondo
a esses riscos não apenas os trabalhadores
das operações de remoção, transporte e deposição dos materiais, mas também a população
circundante num raio de possível dispersão
CARACTERIZAÇÃO GERAL DA SOLUÇÃO
Trata-se de um sistema de reabilitação de
coberturas com chapas onduladas de fibrocimento que reforça a estrutura, acrescentando uma sobrecarga mínima, assegura a
possibilidade de circulação durante e após as
obras, acrescenta melhores características
de comportamento térmico com a aplicação
contínua de um isolamento térmico leve e
JANEIRO/FEVEREIRO 2014
CONSTRUÇÃO MAGAZINE 59
39
coberturas
>1
>2
cria uma renovada e duradoura resistência à
intempérie com a instalação de um sistema de
impermeabilização com materiais de eficácia
e durabilidade reconhecidas.
O sistema tem a versatilidade de se poder
adaptar a graus diferentes de deterioração
das placas de fibrocimento, sem as furar,
raspar ou partir, ou seja, sem libertar poeiras
de amianto durante os trabalhos e permitindo,
deste modo, minimizar qualquer necessidade
de interrupção das atividades normais dos
edifícios durante os trabalhos de reabilitação
da cobertura.
Oferecendo segurança e durabilidade semelhantes a uma reconstrução, este sistema
evita ainda os riscos e os elevados custos da
remoção, transporte e deposição do fibrocimento (Figura 1).
CONSTITUIÇÃO DO SISTEMA
O sistema baseia-se em 3 pontos-chave:
– Estrutura metálica de reforço – fixada mecanicamente sem furar o fibrocimento e servindo de suporte aos elementos superiores;
– Isolamento térmico contínuo em placas
leves, rígidas e preparadas para receber as
membranas de impermeabilização;
– Sistema de impermeabilização com membranas de betume modificado, com possibilidade de eleger entre sistemas monocapa,
bicapa, aderidos ou fixos mecanicamente,
mas correspondendo sempre a soluções
já largamente experimentadas e documentadas, como por exemplo fazendo parte de
Documentos de Aplicação do LNEC.
DESCRIÇÃO DOS ELEMENTOS DO SISTEMA
Os 3 elementos metálicos da estrutura de
reforço (Perfil, Brida e Pletina), sobrecarregando a cobertura em apenas 2,25kg/m2 ,
aproximadamente, estão desenhados para
uma adaptação perfeita às placas onduladas
de fibrocimento com perfil 177mm x 51mm
(passo da onda e altura da onda). Este tipo
de perfil é o mais comum e largamente o mais
utilizado, pelo que o sistema apresentado tem
uma larga aplicabilidade. Contudo, em coberturas com placas de fibrocimento com outro tipo
de perfil, deverão ser previamente testados
estes 3 elementos metálicos para averiguação
da sua aplicabilidade nesses casos.
Aplicado sobre os elementos metálicos e fixo
apenas a estes elementos, o isolamento térmico contínuo servirá também de suporte ao
sistema de impermeabilização. As placas de
PIR (poliisocianurato), com excelente comportamento térmico (λ=0,029 W/mK), baixo peso
(32kg/m3 – ex. com 4 cm = 1,3kg/m2) e uma
rigidez que permite a circulação para visitas
de manutenção, constitui uma solução ideal
de isolamento térmico, tanto em sistemas com
as membranas de impermeabilização fixas me-
>3
>4
A estrutura metálica é constituída por 3
elementos:
– Perfis de 3m que se aplicam na parte baixa
da onda do fibrocimento e servem de apoio e
elemento onde se vão fixar mecanicamente
as placas de isolamento térmico e as membranas de impermeabilização quando em
sistema fixo mecanicamente (Figura 2).
– Elementos denominados Bridas, que se
fixam por parafuso próprio aos Perfis e por
encaixe simples às fixações já existentes
das placas de fibrocimento, bloqueando
o movimento dos perfis e contendo ainda
uma saliência para travamento das placas
de isolamento térmico (Figura 3);
– Elementos denominados Pletinas, que se
fixam por parafuso próprio aos Perfis e que
se prendem na reentrância da sobreposição
das placas de fibrocimento, uma vez mais
sem as perfurar ou danificar (Figura 4).
> Figura 1: Sistema de reabilitação de coberturas com fibrocimento.
> Figura 2: Perfil metálico.
> Figura 3: Brida.
> Figura 4: Pletina.
40
CONSTRUÇÃO MAGAZINE 59
JANEIRO/FEVEREIRO 2014
>5
>6
canicamente, como na solução de membranas
totalmente aderidas ao isolamento térmico.
Neste caso, as placas de PIR têm uma variante
com a face superior pré-impregnada de betume
para permitir a soldadura direta de membranas
betuminosas (Figura 5).
A escolha do sistema de impermeabilização a
aplicar sobre o isolamento térmico deve aproveitar a larga experiência dos agentes no processo de reabilitação, em especial projetistas e
instaladores. Nesse sentido, estão largamente
difundidos e testados, para este efeito, os
seguintes sistemas de membranas de betume
modificado com polímero APP (Figura 6):
– Sistema bicapa totalmente aderido, constituído por primeira membrana de 3kg/m2
com armadura de fibra de vidro, seguida
de membrana de 4 kg/m2 com armadura de
poliéster e acabamento superior a granulado
de ardósia;
– Sistema bicapa fixo mecanicamente constituído por 2 membranas de 4kg/m2 com
armadura de poliéster, tendo a segunda acabamento superior a granulado de ardósia;
– Sistema monocapa constituído por membrana de 5,4kg/m2 com armadura de poliéster
de elevada resistência (ex. membranas
com resistência à tração longitudinal de
1100N/5cm segundo Norma de ensaio
EN12310-1) e acabamento superior a granulado de ardósia;
O granulado de ardósia de acabamento das
membranas de impermeabilização pode apresentar diversas cores por opção estética do
projetista. Em diversas coberturas, sobretudo
de grande dimensão, tem vindo a ser adotada
a cor branca, ganhando com essa escolha uma
também maior reflexão solar e um menor sobre-
>7
aquecimento da cobertura nos meses de verão.
A título de exemplo, pode referir-se a escolha da
Autoeuropa em Palmela que, ao adotar, na sua
última reabilitação de toda a cobertura metálica,
uma membrana de betume APP de 5,4kg/m2
com as características referidas no parágrafo
anterior e com acabamento a granulado de
ardósia de cor branca, obteve uma considerável
redução no consumo de climatização de toda a
instalação fabril (Figura 7).
Como informação complementar ao sistema
descrito, poderá ainda acrescentar-se que,
para todos os pontos singulares, como remates com claraboias, possibilidade de abertura
ou fecho das mesmas, remates com caleiras,
>8
cumeeiras, beirais, empenas, etc., existem
soluções padrão e largas possibilidades de
adaptação a casos particulares (Figura 8).
Como conclusão, devemos realçar que não se
advoga neste artigo o menosprezo pelos riscos
da exposição a partículas de amianto, mas, antes pelo contrário, a tomada de ações imediatas
mas responsáveis nas zonas de risco. A solução
apresentada para a reab ilitação de coberturas
com confinamento das placas de fibrocimento
pretende ser um contributo de facilitação na
escolha que se pretende séria e ponderada
entre gerir, retirar ou reabilitar coberturas com
placas onduladas de fibrocimento.
Colocação da estrutura de reforço
Colocação das placas de isolamento térmico
Aplicação de membranas de betume APP
Cobertura reabilitada
> Figura 5: Placas de isolamento térmico em PIR.
> Figura 6: Aplicação de membranas de impermeabilização.
> Figura 7: Economia de energia nas estações quentes com acabamentos de cor branca.
> Figura 8: Adaptação a pontos singulares.
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CONSTRUÇÃO MAGAZINE 59
41
42_43 acústica
AVALIAÇÃO DE VIBRAÇÕES AMBIENTAIS EM EDIFÍCIOS
– CRITÉRIOS DE ADMISSIBILIDADE
Diogo Mateus, Prof. Auxiliar do DEC/FCTUC, Dir. Técnico do Lab. CONTRARUIDO
O aumento generalizado das emissões de
ruído e, em especial, de vibrações ambientais
na proximidade de edifícios estruturalmente
sensíveis, constitui não só um fator de incomodidade, como também um fator de degradação
destes edifícios, podendo mesmo colocar
em risco vidas humanas, pelo colapso, ainda
que pontual, de elementos construtivos. São
exemplos de fontes tradicionais de solicitações
dinâmicas dos edifícios: os sismos; o desmonte
de maciços (ver exemplo na Figura 1); a exploração de pedreiras; a cravação de estacas; a
demolição de edifícios por implosão; o tráfego
ferroviário, algumas atividades industriais; e o
funcionamento de equipamentos com partes
rotativas de elevada potência [1]. No interior
dos edifícios, a multiplicidade de equipamentos
mecânicos, nomeadamente em instalações
técnicas, pode originar também vibrações significativas, mas estas traduzem-se geralmente
sobretudo sob a forma de ruído, não tendo habitualmente impacto significativo sobre a sua
estrutura. Neste contexto, e no âmbito desta
coluna, é apresentado de seguida um resumo
dos critérios de admissibilidade previstos em
documentação de referência nacional e em
normas internacionais. Na próxima coluna de
acústica, prevista para a edição Nº 61 desta
revista, é apresentado e avaliado um conjunto
de situações distintas, onde se procedeu à monitorização de vibrações e de ruído ambiente,
em que a maioria não se enquadra nas fontes
tradicionais de vibrações mas cuja influência
sobre os edifícios e sobre os seus ocupantes
pode ser preocupante. É também analisada a
influência de níveis de ruído excessivos sobre
edifícios estruturalmente sensíveis, através da
avaliação de vibrações nestes edifícios.
Apesar de existir no nosso país legislação
específica e detalhada para a prevenção e
controlo de ruído (no Regulamento Geral do
Ruído, aprovado pelo Decreto Lei nº 9/2007,
de 17 de janeiro), não existem requisitos regulamentares com vista ao controlo de vibrações
excessivas, existindo apenas uma norma Portuguesa, publicada há mais de 30 anos, que se
aplica especificamente a vibrações impulsivas
42
CONSTRUÇÃO MAGAZINE 59
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> Figura 1: Exemplo da velocidade de vibração, no domínio do tempo (esquerda) e em frequência (direita), segundo o
eixo vertical, registado na base de uma construção a cerca de 400 m de uma zona de desmonte de rocha, no momento
da explosão.
e cuja propagação ocorre sobretudo através do
solo de fundação (NP 2074:1983). Deste modo,
nos parágrafos seguintes são apresentados, de
forma sumária, diferentes critérios de admissibilidade indicados em documentos técnicos
nacionais e internacionais, na avaliação de
vibrações. Estes critérios baseiam-se na medição da velocidade de vibração (em mm/s),
expressa na generalidade dos casos no valor
máximo de pico (p.p.v.) e pontualmente no valor
eficaz (r.m.s.).
De acordo com a norma NP2074, a grandeza
utilizada corresponde à velocidade máxima de
pico, medida na fundação do edifício, durante
a ocorrência da solicitação, e determinada a
partir das três componentes da velocidade
máxima de vibração, medidas nas três direções
(x, y e z). Para efeitos de avaliação, este valor
máximo não deve exceder o valor da velocidade
de vibração limite, definido em função das características do terreno de fundação, do tipo de
construção e do número médio de solicitações
diárias, conforme indicado na Tabela 1. Esta
norma foi entretanto revista, sem que exista
a sua publicação oficial, tendo sido propostas
pequenas alterações a estes limites, decorrentes, em particular, da introdução de um novo
intervalo de solicitações, com a inclusão de um
número de solicitações diárias superior a 100 e
a criação de correspondentes limites inferiores
de velocidade máxima da vibração, com valor
próximo de metade do valor indicado para 3 ou
menos solicitações diárias [2,3].
No caso de vibrações continuadas, e apesar
de também ainda não ter sido publicado em
norma, a comissão CT28 elaborou um documento onde propôs os limites de velocidade
de vibração eficaz, segundo a componen-
> Tabela 1: Valores limites da velocidade máxima (em módulo) da vibração impulsiva na base da edificação, impostos
pela norma NP2074.
nL (mm/s)
Tipo de solo ►
▼ Tipo de construção
Incoerentes soltos e
coerentes moles
(c < 1000m/s)
Incoerentes compactos
e coerentes duros
(1000m/s < c < 2000m/s)
Coerentes rijos
(c > 2000m/s)
Sensíveis
1,75 - 2,5
3,5 - 5
7 - 10
Correntes
3,5 - 5
7 - 10
14 - 20
Reforçadas (de betão armado)
10,5 - 12,5
21 - 30
42 - 60
te mais significativa, conforme Tabela 2.
Vários países da Europa adotaram também limites para a velocidade de vibração de pico, onde
se destaca a norma italiana UNI 9916, a norma
alemã DIN 4150 e as normas inglesas BS 7385
e BS 5228-4. Na Tabela 3 é apresentado um
resumo dos limites da velocidade de vibração
de pico apresentados por estas normas, considerando apenas os limites mais restritivos,
neste caso, retirados das normas DIN 4150 e
UNI 9916. A norma BS 5228 apresenta também
limites com vista a evitar danos estéticos, que
supostamente são mais restritivos que os referentes a danos estruturais, mas, nesta norma,
estes acabam por ser menos conservadores
que os indicados nesta Tabela 3.
Em relação à incomodidade para os seres
humanos, no interior dos edifícios onde se
requer concentração e sossego, não existem
normalização portuguesa aplicável, mas o LNEC
[3] propõe o critério indicado na Tabela 4.
REFERÊNCIAS
nef (mm/s)
Duração
inferior a
1 hora/dia
Duração
superior a
1 hora/dia
Sensíveis (monumentos e outros edifícios históricos, hospitais, casas antigas em
centros históricos, depósitos de água, chaminés de alvenaria, etc.)
1
0,7
Correntes (edifícios de habitação em boa alvenaria, edifícios industriais menos
recentes, etc.)
2
1,8
Reforçadas (edifícios com estrutura em betão armado, edifícios industriais recentes, etc.)
5
5
Tipo de solo ►
▼ Tipo de construção
> Tabela 3: Valores limites da velocidade de vibração de pico (em mm/s) propostos pelas normas DIN 4150 e UNI 9916,
para edificações sensíveis.
Danos
estruturais
para vibrações
permanentes
Danos estruturais para vibrações de curta duração
Incoerentes
Pontos altos
Toda a estrutura
De 1 a 10 Hz
Na fundação do edifício
De 10 a 50 Hz
> 50 Hz
Global
Global
Edifícios industriais
e construções
estruturalmente similares
20
20 (f=10Hz) a
40 (f=50 Hz)
40 (f=50Hz) a
50 (f≥100 Hz)
40
10
Edifícios residenciais e
construções similares
5
5 (f=10Hz) a
15 (f=50 Hz)
15 (f=50Hz) a
20 (f≥100 Hz)
15
5
Edifícios sensíveis, como
monumentos e outros
edifícios históricos
3
3 (f=10Hz) a
8 (f=50 Hz
8 (f=50Hz) a
10 (f≥100 Hz)
8
2,5
> Tabela 4: Valores limite velocidade de vibração eficaz (continuada), segundo a componente mais significativa (em
mm/s), propostos pelo LNEC para situações de incomodidade [3].
nef (mm/s)
Sensação
nef (mm/s) < 0,11
Nula
0,11 < nef < 0,28
Percetível, suportável para pequena duração
0,28 < nef < 1,10
Nítida, incómoda, podendo afetar as condições de trabalho
nef
> 1,10
Muito nítida, muito incómoda, reduzindo as condições de trabalho
PUB
[1] Bachmann, H., Ammann, W., Vibrations in
Structures Induced by Man and Machines. IABSE
Structural. Engineering Documents, 1987.
[2] Bernardo, P., Gama, D., Sugestões para melhoria
da Norma Portuguesa de controle de vibrações
em construções. 10º Congresso Nacional de
Geotecnia, Lisboa, 2006.
[3] Schiappa F., Patrício J., Critérios de Danos e
de Incomodidade no Domínio das Vibrações
Ambientais. Ingenium, 2ª Série, Nº 72, janeiro
2003, p. 84-88.
> Tabela 2: Valores limite velocidade de vibração eficaz (continuada), segundo a componente mais significativa, propostos
pela CT28 para futura publicação de norma.
JANEIRO/FEVEREIRO 2014
CONSTRUÇÃO MAGAZINE 59
43
44_45 estruturas metálicas
CARACTERIZAÇÃO DA FORÇA AXIAL EM CABOS
DE ESTRUTURAS DE COBERTURA
Elsa Caetano, Prof. Associado, DEC-FEUP
Em virtude das suas características de comportamento, os cabos constituem o veículo
ideal para a transmissão de forças, permitindo
o atravessamento de grandes vãos com uma
considerável economia de materiais face a
outros sistemas estruturais. Por esta razão, a
sua utilização tem sido crescente e encontrase frequentemente associada a estruturas de
cobertura, de que são exemplo as realizações
para grandes eventos desportivos como a
recente cobertura do Estádio Olímpico de
Londres 2012 (Fig. 1).
Utilizando aços estruturais de elevada resistência, os cabos das estruturas de cobertura
modernas encontram-se submetidos a consideráveis níveis de tensão. Uma particularidade
destas estruturas é a grande variação de geometria ao longo do processo construtivo, que
se traduz igualmente em grandes variações
da força axial instalada. A grande sensibilidade
da tensão instalada nos cabos a pequenos
deslocamentos ou a erros de implantação das
estruturas de ancoragem, ou ainda a erros
de fabrico ou de caracterização dos próprios
materiais constituintes, implica a necessidade
de respeitar apertadas tolerâncias de fabrico.
Contudo, a combinação de tolerâncias de fa-
brico associadas a diferentes componentes
estruturais levanta incertezas em relação à
sua repercussão em termos da força axial final
nos cabos. Neste sentido, uma componente
relevante do controlo do processo construtivo
é a caracterização da força instalada nestes
elementos.
De entre as várias metodologias existentes
para a determinação da força em cabos,
destacam-se as baseadas na leitura direta nos
macacos de pré-esforço, realizadas durante o
processo de tensionamento, as baseadas em
extensómetros montados na sua superfície
externa, ou em células de força montadas
junto das ancoragens, as medições realizadas com recurso a medidores de tensão, ou
então os métodos indiretos, que recorrem à
medição de variações de propriedades dos
materiais ou de frequências de vibração [1]. Os
métodos indiretos baseados na medição das
frequências naturais de vibração dos cabos
são presentemente aqueles que encontram
maior aplicabilidade, já que permitem a caracterização do estado de tensão dos cabos
em diferentes fases ao longo do processo
construtivo, fornecendo estimativas de grande precisão quando aplicados de forma ade-
> Figura 1: Modelo da cobertura do Estádio Olímpico de Londres 2012 ©Populous.
44
CONSTRUÇÃO MAGAZINE 59
JANEIRO/FEVEREIRO 2014
quada. A aplicação destes métodos baseia-se
na relação existente entre as frequências
naturais de um cabo tracionado e a força axial
correspondente, em particular na conhecida
fórmula das cordas vibrantes [1].
Dado que a medição de frequências naturais
de vibração de um cabo pode ser atualmente
realizada com elevada precisão com recurso
a equipamentos de observação portáteis,
como um simples acelerómetro, dotado do
respetivo condicionador de sinal (Fig. 2) e
um analisador de Fourier portátil, o método
das cordas vibrantes apresenta um enorme
potencial e tem sido frequentemente utilizado, sendo particularmente vocacionado para
a caracterização da força axial nos cabos de
pontes atirantadas, onde são encontradas
condições de validade ótimas, nomeadamente
níveis de tensão elevados, da ordem de 30%
a 60% da tensão de rotura, e comprimentos
significativos, frequentemente superiores
a 100 m. Para estes cabos podem obter-se
estimativas de força instalada com erros não
superiores a 5%.
Colocam-se no entanto questões relativas à
aplicabilidade do método das cordas vibrantes
ou de métodos derivados deste último a cabos
> Figura 2: Instrumentação de um cabo do anel de tração da cobertura do Estádio Olímpico de Londres.
com características distintas, nomeadamente
muito curtos, ou então muito longos, cabos
de grande secção transversal ou dotados de
amortecedores, ou ainda sujeitos a baixos
níveis de tensão, ou então ancorados em
estruturas flexíveis. Cabos com algumas
destas características são encontrados nas
estruturas de cobertura, como a ilustrada na
Fig. 1. Nesta estrutura, com a forma oval e
dimensões em planta de cerca de 250 x 300
m, o anel de tração, formado por 10 cabos do
tipo “spiral strand” com 60 mm de diâmetro,
é apoiado em cabos de suspensão radiais de
70 e 80 mm de diâmetro e comprimentos de
cerca de 30 m, formando vãos de 5 m a 7 m
(Fig. 3). Nestes cabos muito curtos torna-se
particularmente relevante a minoração dos
erros de caracterização geométrica. Além
disso, os efeitos associados à flexão assumem relevância, o que suscita igualmente
questões relativas ao grau de limitação das
rotações nos apoios e à própria flexibilidade
destes últimos. Por último, as frequências
naturais fundamentais dos cabos do anel de
tração são da ordem de várias dezenas de Hz, o
que dificulta a medição direta das frequências
naturais com base na excitação ambiental.
Por outro lado, para os cabos radiais de suspensão, com cerca de 30 de comprimento e
diâmetros de 70 mm e 80 mm, os efeitos de
curvatura e flexão são menos relevantes (à
exceção dos cabos radiais dispostos segundo
o menor eixo da oval, submetidos a tensões
muito baixas) mas, em contrapartida, não são
desprezáveis as dimensões dos elementos
> Figura 3: Levantamento do anel de tração da cobertura do Estádio
Olímpico de Londres 2012
de ancoragem (ver Fig. 3), nem a sua rigidez
à rotação.
O conjunto de efeitos de curvatura, flexão,
flexibilidade das ancoragens pode ser tratado
de forma específica, quando a sua caracterização seja possível. No entanto, a presença
concomitante de todos estes efeitos e a incerteza em relação à sua caracterização pode ser
levantada por via numérica, mediante a realização de modelações numéricas dos cabos,
procurando simular variações nos diferentes
parâmetros que potencialmente afetam as
frequências naturais. A análise de um conjunto
de 5 a 6 frequências naturais, e não apenas da
frequência fundamental, e a sua comparação
com as correspondentes frequências naturais
medidas permite o enquadramento dos valores
dos diferentes parâmetros condicionadores do
comportamento dinâmico dos cabos e o ajuste
da força axial instalada.
No que respeita à medição das frequências
naturais, refere-se que apenas no caso de
cabos curtos ou muito rígidos, com frequências
naturais fundamentais superiores a 10 Hz,
será necessário recorrer a fontes de excitação
alternativas, já que nesse caso a excitação ambiental natural dificilmente poderá mobilizar
modos de ordem superior à primeira. O martelo
de impulsos representado na Fig. 2, que possibilita a mobilização da resposta dinâmica num
intervalo de 0 a 200 Hz, constitui uma fonte
de excitação ainda de grande portabilidade,
tendo-se mostrado adequado ao tratamento
de cabos do anel de tração no caso da cobertura do Estádio Olímpico de Londres 2012 [2].
A combinação da medição de várias frequências naturais de um cabo com a sua modelação
numérica fornece então uma metodologia
adequada para a caracterização da força axial
nas situações mais diversas, nomeadamente
em cabos curtos e rígidos, ou em cabos com
condições de ligação complexas, ou então em
cabos submetidos a forças muito baixas. Em
todas estas situações as forças axiais podem
ser obtidas com erros inferiores a 10%, sendo
igualmente possível identificar o nível de incerteza associado às estimativas fornecidas.
O maior obstáculo à aplicação do método
acima referido prende-se com o acesso aos
cabos a fim de fixar um acelerómetro. Notase que as medições podem ser realizadas a
distâncias curtas das ancoragens. Contudo,
em estruturas formadas por malhas de cabos
e na fase anterior à colocação de membranas,
é importante garantir que as medições realizadas não incorporem a resposta local de outros
cabos adjacentes, o que dificulta a separação
das frequências locais de vibração do cabo
em estudo.
REFERÊNCIAS
[1] Caetano E., Cable Vibrations in Cable-stayed
Bridges, Structural Engineering Documents,
SED 9, IABSE, 2007.
[2] Caetano, E., Bartek, R., Magalhães, F., Keenan,
C. e Tryppick, G. (2013)- “Assessment of cable
forces at the London 2012 Olympic Stadium
Roof, Structural Engineering International, No.
4, pp. 489-500.
JANEIRO/FEVEREIRO 2014
CONSTRUÇÃO MAGAZINE 59
45
46_47 sísmica
REDUÇÃO DO RISCO SÍSMICO: ATIVIDADES DA SPES
Mário Lopes, Professor Auxiliar – DECivil, Instituto Superior Técnico
©IPMA.PT/PT/GEOFISICA/SISMOLOGIA/
Sismos violentos já ocorreram em Portugal
no passado e a ciência já comprovou que os
sismos, dada a sua origem em determinadas
zonas da litosfera terrestre (crosta e parte
exterior sólida do manto) e o seu mecanismo
de geração, são fenómenos recorrentes, isto
é, zonas já atingidas por sismos de forte potencial destrutivo no passado voltarão a sê-lo
no futuro. É o caso do território português, em
particular as regiões de Lisboa e Vale do Tejo,
Alentejo, Algarve e Açores.
A previsão da ocorrência de sismos não é
possível e, dada a complexidade do fenómeno,
poderá nunca o vir a ser, à exceção de alguns
casos particulares. E mesmo que os sismos
fossem previsíveis, a evacuação antecipada
das cidades evitaria as perdas humanas mas
não os danos materiais.
Também sabemos que os sismos propriamente ditos causam poucas ou nenhumas
vítimas. A imensa maioria das vítimas e danos
materiais deve-se aos danos e colapsos das
construções, ou seja, à ação do Homem. Dado
que a engenharia sísmica moderna tem hoje
capacidade para projetar e construir edifícios
e infraestruturas com capacidade para resistir
ao colapso sob a ação de sismos violentos, com
níveis de danos variáveis, é possível evitar as
principais consequências dos sismos com
ações preventivas.
Neste domínio o Estado age (i) ao nível do
ensino e investigação, na formação de en-
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CONSTRUÇÃO MAGAZINE 59
JANEIRO/FEVEREIRO 2014
genheiros civis e profissionais de geofísica
e geologia, e na investigação em sismologia
e engenharia sísmica, (ii) ao nível da regulamentação técnica que obriga ao cálculo sísmico explícito das construções desde 1958, e
(iii) ao nível da Proteção Civil, principalmente
para que o socorro e apoio aos sobreviventes
seja o melhor possível. No entanto, estas
ações da Proteção Civil, por só se desencadearem após a declaração da Emergência,
ou seja, após o sismo, não podem evitar o
pior, porque o pior ocorre durante e não após
o sismo. A forma mais eficaz de enfrentar
os sismos, garantindo níveis de segurança
adequados aos cidadãos e garantindo a
sustentabilidade do desenvolvimento económico, é a prevenção, construindo edifícios e
infraestruturas preparadas para resistir aos
sismos, independentemente da data e hora
da sua ocorrência. E neste domínio a ação
do Estado enferma de omissões graves nos
seguintes domínios:
– fiscalização da qualidade de projeto e construção. Embora exista nas grandes obras
públicas, nas obras de edifícios correntes de
habitação e escritórios, não há mecanismos
de fiscalização sistemáticos por entidades
independentes. Como as consequências
da eventual falta de resistência sísmica
só se farão notar quando ocorrer um sismo
destrutivo, gera-se um sentimento de
impunidade, pois os agentes do setor da
construção sabem que se reduzirem custos
sacrificando a resistência sísmica, podem
nunca ser responsabilizados e, se o forem,
só será depois do próximo sismo de grande
intensidade.
– reabilitação urbana: a legislação existente
não define obrigações concretas no que diz
respeito à resistência sísmica de edifícios
reabilitados que não sejam as da legislação
em vigor à data da construção original. Para
os edifícios anteriores a 1958 isso é não
exigir um mínimo de resistência sísmica.
– equipamentos industriais e redes de infraestruturas. Na maioria dos casos não há
legislação sobre resistência sísmica, nem
os engenheiros eletrotécnicos, mecânicos
e outros são alertados para o problema sísmico nos respetivos cursos de engenharia.
– património construído. Também não há
legislação sobre a proteção sísmica de
monumentos e edifícios de elevado valor
cultural (histórico, arquitetónico ou urbanístico), com vista à sua preservação para
as gerações futuras.
Neste contexto, desde janeiro de 2000 que a
Sociedade Portuguesa de Engenharia Sísmica
(SPES) expandiu o seu tradicional domínio de
atuação nas áreas da promoção e divulgação
de conhecimento técnico-científico, e tem
tentado combater esta situação através de
reuniões com órgãos de soberania, apresentação de propostas de atuação concretas de
forma a colmatar as lacunas anteriormente
identificadas, e intervenções públicas para
sensibilizar toda a sociedade. Esta tem sido
uma vertente considerada fundamental, pois
sem perceção do risco não há redução do
risco e no parque de edifícios de habitação e
escritórios o contributo da população e das
empresas, através de um maior grau de exigência na aquisição de bens imóveis, é uma
contribuição fundamental para melhorar a
qualidade de construção.
Não tem sido fácil sensibilizar dirigentes
políticos para a redução do risco sísmico,
mais pisos, e (iv) alterações à proposta de Lei
32/2012, que passou a obrigar que se garantam níveis de resistência sísmica adequados
em obras de reabilitação de edifícios, mas
que não tem implicações práticas se não for
regulamentada a definição do que é “adequado”. A SPES apresentou também propostas ao
Governo para incluir nos acordos de Parceria
com a União Europeia (UE) para aplicação dos
Fundos estruturais no período 2014-2020,
um conjunto de áreas de atuação para reduzir
o risco sísmico.
As propostas da SPES nunca tiveram como objetivo ou motivação gerar trabalho para o setor da
construção, mas teriam essa consequência. Por
exemplo, a redução do risco sísmico também é
um argumento válido para captação de apoios
financeiros da UE a obras de reabilitação de
edifícios particulares. Até há poucos anos atrás
não havia Fundos da UE para este tipo de obras,
porque apenas está em causa a segurança
das pessoas e a economia do país numa
data incerta, e não questões mediáticas ou
eleitorais que tenham implicações diretas e
imediatas nas suas carreiras e interesses.
Provavelmente por isso, nenhuma das propostas da SPES foi implementada no período
2000-2013. O que a SPES conseguiu foi (i) uma
Mensagem do Presidente da República em
2003 a chamar a atenção para o problema e
para a necessidade da prevenção, apontando
caminhos para o futuro, (ii) a aprovação por
unanimidade de uma Resolução na Assembleia
da República (nº 102/2010) com um conjunto
de recomendações ao Governo para reduzir o
risco sísmico, mas que nenhum Governo até
agora quis implementar, (iii) uma alteração
ao Plano Diretor Municipal (PDM) de Lisboa
no sentido de impedir obras de reabilitação
que enfraqueçam os edifícios por adição de
1
13/01/22
Em dezembro passado a SPES elegeu uma
nova Direção, tendo saído os elementos que
conduziram este processo nos últimos 14
anos. A nova Direção foi eleita com base num
programa de continuidade da ação da Direção
anterior pelo que, a priori, se espera que o
processo tenha continuidade e se aproveitem
as sementes já lançadas.
18:13
PUB
AF Construcao Magazine 190x153mm CV.pdf
mas o precedente foi aberto em 2007, pois os
Estados de Leste alteraram esta situação ao
fazerem a UE aprovar o apoio financeiro à reabilitação energética de edifícios particulares,
que lhes interessava muito devido aos sistemas
de aquecimento degradados que herdaram do
período comunista. Infelizmente, os Estados
do sul andam a “dormir” e nunca tomaram a
iniciativa de tentar estender estas políticas às
questões de segurança estrutural, em particular
à proteção sísmica.
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estruturas de madeira
MADEIRA: UM MUNDO DE POSSIBILIDADES
Helena Cruz, Investigadora Principal do LNEC
Quando, no início de 2007, aceitei o desafio da
Construção Magazine para uma colaboração
regular na coluna “Estruturas de Madeira”,
fi-lo com a esperança de contribuir, de algum
modo, para a boa utilização da madeira na
construção e para a divulgação do seu interesse e potencial.
Esta coluna procurou tratar alguns aspetos
que julguei merecerem atenção, ou por corresponderem a áreas em que se constata com
frequência haver ainda lacunas de formação e
de informação no meio técnico, no que se refere à madeira e suas aplicações na construção,
ou por destacarem abordagens, técnicas ou
materiais inovadores, o novo enquadramento
normativo.
Seguindo o mote dado no meu primeiro texto
– “Estruturas de madeira: tradição e modernidade” – a coluna procurou focar estas duas
vertentes. Porque estão interligadas. Porque
o saber evolui continuamente, permitindo-nos
inovar, mas igualmente olhar de forma crítica
as práticas tradicionais. E porque a inovação,
além de ser motor de novas realizações, é
igualmente suporte de intervenções seguras
e sustentadas de reabilitação e salvaguarda
do património edificado.
Os diversos textos publicados desde 2007
refletiram certamente uma visão pessoal. Contaram também com a preciosa colaboração de
colegas com quem tenho tido a oportunidade, e
o gosto, de trabalhar e a quem muito agradeço.
– Durabilidade: a importância dos pormenores (CM27)
Recordamos aqui os temas abordados:
– Influência das condições ambientais em estruturas
– Avaliação da Segurança de Estruturas em Serviço
– Wood welding: soldadura da madeira a frio... ou
colagem sem cola (CM29)
– Importância das fendas em estruturas de madeira
(CM30)
– Compósitos de madeira-plástico (CM31)
– Reparação de fendas de secagem em estruturas
de madeira (CM32)
– Materiais inovadores (CM33)
– Durabilidade e protecção de estruturas de madeira
(CM34)
– A marcação CE da caixilharia (CM35)
– Influência da época de corte e da idade da árvore no
desempenho de elementos estruturais de madeira:
mitos ou factos? (CM 36)
– Elaboração de cadernos de encargos: importância da
especificação correcta da espécie florestal (CM37)
– É a secagem uma forma de protecção? Qual a influência da resinagem nas propriedades da madeira?
(CM38)
– Furacões e casas de madeira. Algumas razões para
a destruição causada pelo Katrina (CM39)
– Segurança contra incêndio em habitações unifamiliares de madeira (CM40)
– Estruturas de madeira das minas de sal de Wieliczka (CM41)
– Revestimentos exteriores em madeira (CM42)
– Anomalias comuns na aplicação de revestimentos
de piso de madeira. Parte 1 – betonilha húmida,
madeira com teor de água desajustado e colagem
– Humidade da madeira (CM21)
de piso de madeira. Parte 2 – Selecção da madeira,
– Madeira modificada (CM22)
pormenores construtivos, acabamento e manuten-
– Ligações rebitadas em estruturas de madeira: uma
boa ideia que ainda não deu frutos (CM23)
– Classificação de madeira maciça para estruturas
– Ligações tradicionais em estruturas de madeira:
um passado com futuro? (CM25)
– Importância da experimentação e da pormenorização
no desempenho de revestimentos exteriores de fachada com painéis de derivados de madeira (CM26)
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CONSTRUÇÃO MAGAZINE 59
ção (CM47)
– Inspecção e monitorização de estruturas de madeira (CM49)
– Proteção ao fogo de estruturas de madeira (CM51)
(CM24)
JANEIRO/FEVEREIRO 2014
Muita coisa mudou nos últimos 7 anos.
Cresceu significativamente a oferta do mercado e a diversidade de novos produtos de madeira ou à base de madeira, com características
muito interessantes sob os pontos de vista da
forma, dimensões, aspeto e características
físicas e mecânicas. Mas continuamos por
vezes a assistir ao deficiente funcionamento
ou durabilidade desses produtos e sistemas,
resultantes da escolha de soluções menos
adequados às utilizações propostas, falta
de cuidado na aplicação e manutenção inadequada.
Dispomos, hoje, de ligadores mecânicos
e técnicas de ligação de grande eficiência
e versatilidade, mas em muitos casos as
ligações estruturais continuam a ser pouco
compreendidas e valorizadas pelos projetistas
e mal resolvidas em obra, deixadas ao critério
ou improviso do empreiteiro, sem projeto e
pormenorização adequados.
No que diz respeito ao dimensionamento de estruturas, o Eurocódigo 5 é hoje uma ferramenta
amplamente disseminada, passo fundamental
para a utilização estrutural da madeira. Mas
falta ainda uma adequada disseminação e
apropriação pelo meio técnico, das boas práticas de aplicação e manutenção, regras de
montagem e pormenorização, que em grande
medida são o garante do bom desempenho, da
segurança e da durabilidade das construções.
de madeira (CM45)
– Anomalias comuns na aplicação de revestimentos
(CM19)
ção e homologação (CM57)
(CM28)
deficiente (CM 43)
– Estruturas de madeira: tradição e modernidade
– Casas de madeira – Panorama nacional, certifica-
– Desempenho ao fogo de revestimentos retardadores de combustão aplicados sobre madeira de
estruturas antigas (CM53)
– Casas de madeira – A importância da qualidade e
da confiança do mercado (CM55)
A madeira oferece um mundo de
possibilidades. Mas há, ainda, um longo
caminho a percorrer.
A par do esclarecimento e da exigência do mercado, que estimulam uma oferta mais variada,
com melhores produtos e soluções, é também
fundamental pugnar pela credibilidade e
responsabilidade de todos os intervenientes,
com uma aposta clara na informação e na
certificação e garantia da qualidade, para assgurar a boa imagem da madeira, a confiança
e o crescimento sustentável do mercado.
49
notícias
material cimentício desenvolvido na prégaia
utilizado em intervenção de souto moura
na royal academy of arts
O arquiteto Eduardo Souto Moura, laureado
com o Prémio Pritzker em 2011, utilizou, na
sua intervenção na exposição “Sensing Spaces:
Architecture Reimagined”, da Royal Academy of
Arts, um material cimentício desenvolvido no
âmbito de um projeto levado a cabo na Prégaia.
O material, denominado ACM - Advanced Cementitious Material - foi desenvolvido abrigo
do projeto Hi-Tech Concrete Design, financiado
© ROYAL ACADEMY OF ARTS
pelo IAPMEI em parceria com Eduardo Júlio,
consultor da Prégaia. Trata-se de um betão
de ultra-elevado desempenho reforçado com
fibras metálicas, que apresenta, de acordo com
a Prégaia, resistências mecânicas excecionais
e durabilidade melhorada, além de propiciar
grande liberdade criativa. Está também em
vista a sua aplicação a um conceito inovador
de painéis de fachada.
Além de produzir, a Prégaia transportou e
montou as peças que fizeram parte da intervenção do arquiteto. Os estudos de engenharia
necessários à execução dos elementos foram
desenvolvidos pela equipa da Prégaia e respetivos consultores: Eduardo Júlio, Paulo Maranha
Tiago e Jorge da Fonseca Lourenço.
A exposição está patente ao público até 6 de
abril.
www.pregaia.com
estruturas mistas
de aço e betão
Foi lançada a 2ª edição do livro “Estruturas Mistas de Aço e Betão“ de Luís Calado e João Santos,
pela IST Press. O livro apresenta os conceitos
fundamentais para a análise e dimensionamento de vigas, lajes e colunas mistas, bem como
da conexão de corte.
São explicadas as principais expressões e
disposições normativas europeias aplicáveis à
verificação da segurança e da pormenorização
das estruturas mistas de aço e betão. Apesar de
o livro estar dirigido essencialmente ao estudo
de edifícios, muitos dos conceitos e verificações
apresentados podem também ser aplicados a outros tipos de estruturas mistas, tais como viadutos e pontes. Destinado a alunos de engenharia
civil e a projetistas de estruturas, o livro pretende
preencher uma lacuna existente na comunidade
técnica de uma publicação em língua portuguesa
sobre estruturas mistas e que, simultaneamente,
auxilie na aplicação dos Eurocódigos Estruturais.
casas eficientes com custos e prazos de construção reduzidos
A Timeless Landscape é uma nova empresa que produz e comercializa painéis para
construção e pequenos edifícios através
da utilização de Composite Sandwich
Panels (CSP). A empresa adotou a marca
corporativa N2Build, com a qual pretende
comercializar as suas soluções no mercado internacional.
Os CPS têm características que permitem
a construção de casas eficientes com
prazos e custos reduzidos. O peso destes painéis é extremamente reduzido,
especialmente quando comparado com
os materiais de construção tradicionais.
Dispensa a utilização do aço, cimento e
produtos similares e a montagem pode
ser feita sem recurso a máquinas e
eletricidade. O material caracteriza-se,
também, por uma elevada resistência
e rigidez. A sua conceção permite obter uma
elevada resistência aos carregamentos, rigidez de flexão e elevada capacidade de carga.
Os painéis produzidos pela empresa são
similares aos painéis de isolamento térmico
tipicamente usados na Europa para cumprir as
Diretivas de Eficiência Energética, mas com a
diferença de serem estruturais e autoportantes.
Trata-se de um produto sustentável ao longo de
todo o ciclo de vida.
O processo de fabrico dos CPS resulta do desenvolvimento de uma nova tecnologia para
a indústria da construção, baseada em adaptações dos materiais e novos processos de
fabrico, desenvolvidos em grande medida na
Alemanha, onde a empresa possui parcerias de
sourcing industrial e de tecnologias.
Em Portugal, a N2Build estabeleceu parcerias
para processos de I&D, nomeadamente com o
INEGI e com o MIT Portugal.
O projeto N2Build foi objeto dum investimento
de capital da entidade veículo Embrace II, apoiada por contrato de financiamento reembolsável
do FINOVA, no âmbito do COMPETE – Programa
Operacional Factores de Competitividade.
Em julho de 2013, a Embrace II realizou um
aumento de capital no montante de 570 mil
euros, tendo permitido à N2Build avançar
para a fase inicial do processo produtivo, com
a montagem duma instalação fabril piloto no
concelho da Maia, em 2014. Em dezembro de
2013 a N2Build produziu a sua primeira casa de
amostra, localizada atualmente na Abóboda, no
concelho de Cascais. A empresa tem atualmente
um conjunto de encomendas em carteira, cuja
produção iniciará ainda no decorrer de 2014.
www.pofc.qren.pt
JANEIRO/FEVEREIRO 2014
CONSTRUÇÃO MAGAZINE 59
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50_51 mercado
sistemas thomsit para fixação de pavimentos e revestimento de solos
A gama de colas Thomsit, da Henkel, permite,
de acordo com a empresa, colagens de qualidade e uniões perfeitas em alcatifas, PVC, borracha e linóleo. A Thomsit disponibiliza ainda
sistemas completos que incluem primários
e massas de regularização para cada necessidade específica de porosidade e humidade
dos suportes, para além de outras exigências
particulares na aplicação de pavimentos.
A Henkel disponibiliza aos profissionais
soluções que vão desde a preparação do
substrato e nivelamento do pavimento até à
fixação de alcatifas, parquet e outros revestimentos (PVC, linóleo, etc.). A gama Thomsit
compreende sistemas completos, incluindo
primários, massas de regularização e colas
otimizadas para cada tipo de revestimento e
suporte, nomeadamente para renovação de
pavimentos não absorventes, colocação de
revestimentos em betonilha com humidade
ou pavimentos absorventes.
A Henkel proporciona ao mercado alternativas às tradicionais colas de contacto e colas
de madeira, além de permitir substituir os
elementos físicos habitualmente utilizados
para fixação de pavimentos, como pregos ou
parafusos, respondendo mais uma vez às necessidades específicas dos profissionais da
construção civil, renovação e decoração. Produtos como Thomsit K 188 E, Thomsit K 168,
Thomsit T 410, Thomsit L 240 D, Thomsit TKL 230
e Thomsit T425 cobrem necessidades várias
em materiais como PVC, linóleo, poliolefina,
borracha, mosaicos autoportantes, alcatifa
e outros revestimentos têxteis.
Para além da oferta de colas de base aquosa,
a Henkel disponibiliza ainda colas de madeira,
contacto, montagem e outros adesivos destinados a aplicações especiais, fornecendo
também todo o suporte a obras com necessidades especiais, que começa com a inspeção
do local de obra, uma análise dos defeitos
estruturais da mesma e consequente prescrição de produtos que respondam a essas
necessidades.
primeira tela reciclável para peneiramento da metso
A Metso lançou a primeira tela
modular de crivagem reciclável
– a Trellex LS-Eco.
www.extrusal.pt
www.metso.pt
50
CONSTRUÇÃO MAGAZINE 59
JANEIRO/FEVEREIRO 2014
A Metso lançou a sua primeira tela modular de peneiramento totalmente reciclável – a Metso
Trellex LS-Eco.
A empresa pretende, com este produto, apresentar uma solução sustentável, tendo substituído o
reforço de aço tradicional dos sistemas de tela modular de borracha por um material biodegradável.
Antigamente, os módulos de telas para crivagem em fim de vida não podiam ser reciclados.
Adicionalmente, a Metso implementará um programa para proporcionar aos seus clientes uma
gama de serviços de reciclagem.
Cada painel de mídia de crivagem é até 40 por cento mais leve que os painéis tradicionais de aço
reforçados Trellex LS, de acordo com a Metso. A empresa salienta que isso facilita o seu manuseamento e torna o ambiente de trabalho mais seguro, além de os painéis mais leves ajudarem
a reduzir a fadiga geral a que toda a instalação de crivagem está sujeita.
Em comparação aos painéis de aço reforçados, os painéis com reforço em compósito do Trellex
LS-Eco da Metso são mais flexíveis e reduzem os efeitos de obstrução e entupimento dos furos
durante as operações de crivagem, segundo a Metso.
Os painéis de borracha e poliuretano Trellex 300LS e Trellex 305LS podem ser acoplados à maioria
dos sistemas de telas de crivagem e podem lidar com todos os tipos de aplicações de crivagem
– finas e grossas, húmidas e secas.
mercado
imperflex coberturas com tecnologia thermocin
A CIN desenvolveu a tecnologia Thermocin em
Imperflex Coberturas, um produto que atua ao
nível da impermeabilização das coberturas e
terraços e que reflete a radiação solar.
A característica destacada pela CIN do produto
Imperflex Coberturas é a elevada capacidade
para refletir a radiação solar – Total Solar
Reflectance (TSR). Esta capacidade resulta
num aumento do conforto térmico no interior
dos edifícios e numa consequente poupança
de energia pela redução da necessidade de
recorrer à refrigeração dos edifícios. A energia
térmica absorvida é libertada de forma rápida,
e as emissões de CO2 são, de acordo com a empresa, reduzidas. Os resultados de Imperflex
Coberturas têm por base a mesma tecnologia
presente na tinta Thermocin, que foi distinguida como Produto do Ano 2012. Esta tinta, através das suas propriedades termorrefletoras,
confere uma maior eficiência energética aos
edifícios. A tecnologia de Thermocin encontrase disponível exclusivamente na cor Branco do
Imperflex Coberturas. O Imperflex Coberturas
está também disponível nas cores Laranja
(L274), Cinza (Z797) e Verde Prado (G653).
O produto Imperflex Coberturas permite, de
acordo com a CIN, dar resposta a todas as situações relacionadas com a descontinuidade
das superfícies (fendas, micro-fissuras ou
fissuras), que resultam em infiltrações de
coberturas, terraços, cumeeiras, caleiras em
cimento, bases de chaminés, etc., problema
que provoca a degradação das estruturas e
coberturas dos edifícios. Graças ao revestimento foto-reticulável acrílico de Imperflex
Coberturas, a CIN garante um elevado grau de
elasticidade do produto a pequenas fissuras
e uma excelente flexibilidade a baixas tempe-
raturas. Este produto conta também com uma
película resistente que garante a proteção
contra as intempéries e os ataques de fungos
e algas. Imperflex Coberturas com tecnologia
Thermocin é, de acordo com a Cin, o mais eficaz
impermeabilizante térmico destinado à proteção de coberturas contra o sobreaquecimento.
www.cin.pt
aparafusadora e berbequim sem fio de 36 volts com
electronic rotation control (erc) da bosch
A gama profissional de Ferramentas Elétricas
Profissionais da Bosch acaba de lançar a aparafusadora e berbequim sem fio GSR 36 VE-2LI Professional e GSB 36 VE-2-LI Professional
da Bosch - as primeiras ferramentas sem fio
com o sistema Electronic Rotation Control e
com punho adicional.
Estas ferramentas foram concebidas para
aplicações que requerem uma potência
elevada, como trabalhar em vigas de tetos
ou instalar casas prefabricadas. Realizam,
de forma rápida, eficiente e potente várias
aplicações, como apertar parafusos até 12
milímetros de diâmetro em madeira macia ou
de perfurar com brocas de grandes dimensões: graças ao seu motor de quatro polos
que coloca parafusos e perfura sem esforço
com um binário máximo de 100 Nm e 1.800
rotações por minuto.
Mesmo em segunda velocidade as ferramentas colocam constantemente parafusos
com diâmetro de oito milímetros em madeira
macia. O elevado binário combinado com a
velocidade das ferramentas garante um rápido
progresso de trabalho. Isto também se aplica à
perfuração em alvenaria com o berbequim GSB
36 VE-2-LI Professional da Bosch, graças à sua
função integrada de perfuração com percussão. A caixa de velocidades foi especialmente
concebida para aplicações de perfuração
de impacto, permitindo perfurações até 20
milímetros de diâmetro.
A aparafusadora e o berbequim sem fio GSR 36
VE-2-LI Professional e GSB 36 VE-2-LI Professional da Bosch estão equipadas com a nova
geração de baterias de 4,0h com tecnologia
CoolPack. Apresentam um rendimento superior
até 50% quando comparado com o rendimento
das anteriores baterias de apenas 2,6 Ah.
Por exemplo, colocar em madeira macia até 70
parafusos com oito milímetros de diâmetro e 280
milímetros de comprimento, é possível apenas
com uma carga de bateria. A Proteção celular
eletrónica (ECP) protege a bateria de sobrecarga,
sobreaquecimento e descarga completa.
As características destas ferramentas ficam
completas com o sistema Electronic Motor
Protection (EMP), que com o seu sensor de
temperatura integrado, protege o motor contra sobrecarga e garante uma maior vida útil
das ferramentas.
www.bosch-professional.com/pt
JANEIRO/FEVEREIRO 2014
CONSTRUÇÃO MAGAZINE 59
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eventos
semana da reabilitação urbana
A edição de 2014 da Semana da Reabilitação Urbana realiza-se de 19 a 26
de março em Lisboa. Trata-se de uma iniciativa que surge num contexto
de necessidade de revitalização da economia e da sustentabilidade da indústria da construção.
Promovida pela Vida Imobiliária e pela Promevi, a semana contará com eventos cujo objetivo é
não só dinamizar a fileira da construção mas também promover um amplo debate de ideias com
a sociedade em geral, num evento aberto a todos os públicos.
Um mês antes do início do evento, eram 30 as entidades com presença confirmada no Espaço da
Reabilitação Urbana, o espaço da Semana da Reabilitação Urbana dedicado à mostra de produtos,
serviços, soluções, ideias e iniciativas.
www.semanadareabilitacao.vidaimobiliaria.com
curso avançado do fundec
sobre betão pré-esforçado
Coordenado por Eduardo Júlio e João Almeida, professores do Instituto Superior Técnico, o curso
decorre a 5 e 6 de maio.
O programa do curso do FUNDEC - Associação para a Formação e o Desenvolvimento em Engenharia Civil e Arquitectura - contempla Conceção, critérios de dimensionamento e verificação
de segurança de estruturas pré-esforçadas, aços e sistemas de pré-esforço, pré-esforço em
edifícios e pontes e outros temas.
www.fundec.pt
14º congresso
nacional de
geotecnia
A Sociedade Portuguesa de Geotecnia (SPG)
e a Universidade da Beira Interior (UBI),
através do Departamento de Engenharia
Civil e Arquitetura (DECA), organizam o 14º
Congresso Nacional de Geotecnia (14CNG).
O Congresso decorrerá na cidade da Covilhã,
nas instalações da UBI, de 6 a 9 de abril
de 2014.
O objetivo deste congresso consiste na
promoção da Geotecnia Portuguesa nas
Infraestruturas, cuja atividade foi intensa
nos últimos anos. Perspetiva-se, assim, a
possibilidade de divulgação dos avanços
nas áreas de projeto, construção e ensino
das várias atividades geotécnicas e sua
internacionalização.
www.ubi.pt
calendário de eventos
14º CONGRESSO NACIONAL Geotecnia
DE GEOTECNIA
6 a 9 de abril
2014
Covilhã
www.ubi.pt
Portugal
CURSO FUNDEC SOBRE
Betão pré-esforçado
BETÃO PRÉ-ESFORÇADO
5 e 6 maio
2014
Lisboa
Portugal www.fundec.pt
VETECO Janelas e fachadas
7 a 10 maio 2014
Madrid
Espanha www.ifema.es/veteco_01/
SICRE 7 a 10 maio
2014
Madrid
Espanha
www.ifema.es/sicre_01/
EUROSTEEL 2014
Estruturas de Aço e Compósitos
10 a 12 setembro
2014
Nápoles Itália
www.eurosteel2014.it
III CLA 20 a 21 novembro
2014
Luanda
Angola
www.cmm.pt
Construção e Reabilitação
Congresso Luso-Africano de
Construção Metálica Sustentável
As informações constantes deste calendário poderão sofrer alterações. Para confirmação oficial, contactar a Organização.
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CONSTRUÇÃO MAGAZINE 58
NOVEMBRO/DEZEMBRO 2013

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