Pai Rico, Filho Nobre, Neto Pobre

Transcrição

Pai Rico, Filho Nobre, Neto Pobre
Pai Rico, Filho Nobre, Neto Pobre
Este provérbio, tão comumente conhecido
entre nós, pode ter seus dias contados.
Walter Janssen Neto
Em um dos recentes eventos que tomei parte sobre Governança Corporativa em Nova York
me perguntaram logo de cara quais eram as razões que levam as empresas familiares a se
perpetuarem como donas de seus negócios. De pronto, minha resposta foi que isso só é
possível através de um sistema de Governança Familiar envolvendo todas as gerações e
amparado num acordo de acionistas que tenha por objetivo buscar a satisfação e bem estar
individual de seus membros, em harmonia com o objetivo de preservação do negócio em
família.
Apesar da frase ser longa a resposta é bastante simplista e precisa ser melhor desenvolvida
para se obter um maior e perfeito entendimento. A recente obra reeditada e ampliada de John
E. Hughes, “Family Wealth” (Bloomberg Press), ainda sem tradução para o Português, vem
em reposta a esta tão freqüente pergunta. Seu livro tem sido utilizado pela Wharton School
no programa de Gerenciamento de Patrimônio Privado, ministrado para empresas Familiares.
John Hughes possui uma série de artigos influentes sobre Governança Familiar e
preservação de riqueza e tem trabalhado com multigerações de empresas Familiares.
O autor defende que uma família pode perfeitamente preservar por muitas gerações o seu
Negócio e Patrimônio, preservando seus integrantes através de alguns mecanismos de
envolvimento e governança. Na essência, defende que a riqueza familiar é constituída
primeiro pelo Capital Humano (os membros que compõem a família) e Intelectual (o nível de
conhecimento e formação que cada membro possui), e de forma secundária pelo Capital
Financeiro. Gerações futuras sem base referencial de conhecimento terão certamente
dificuldades em preservar as riquezas criadas pelas gerações anteriores.
Hughes afirma que a missão e o propósito das famílias é buscar a satisfação contínua de
seus membros através da realização pessoal de seus projetos individuais. É fundamental,
conforme o autor, que os membros de uma empresa familiar tenham e mantenham um
sistema de governança com o objetivo de tomada de decisões compartilhadas. Portanto,
quando chega a hora de uma geração assumir os destinos da família, considerando que
seus membros passam a ter uma relação horizontal entre si ao invés de vertical, que era a
forma de relação com a primeira geração, o autor defende a adoção de um sistema de
governança similar ao de uma República, onde seus membros escolhem seus representantes
através de alguma forma de consenso.
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Uma das dificuldades que as famílias têm ao governarem é que os seres humanos tendem a
pensar em relações verticais, ou seja, cada membro mede a sua posição na família em
relação aos seus pais, avós e bisavós. Raramente membros familiares avaliam as relações
de forma horizontal, em relação aos irmãos e primos. Esta é a parte mais crítica de um
sistema de Governança Familiar, de acordo com o autor, pois não havendo um sistema
previamente acordado para tratar das ligações horizontais dificilmente haverá consenso.
Assim, o compartilhamento de valores fica prejudicado e a empresa corre o risco de terminar
em poucas gerações.
Uma questão importante e de profundo significado que John Hughes enfatiza em seu livro é
que cada nova geração que assume os negócios da Família deveria se considerar ela
mesma, a primeira, pois passam a ter a mesma responsabilidade sobre a preservação do
negócio como aquela que biologicamente criou o negócio. As Famílias, para terem sucesso
na preservação de seu Patrimônio, precisam criar um Acordo Social entre seus membros que
reflitam os valores de seus fundadores e cada nova geração deve reafirmar os propósitos
deste Acordo.
Conforme John Hughes, os membros familiares são os responsáveis em estabelecer a
missão de suas empresas, desenvolver políticas de crescimento dos capitais da família e
escolher os familiares que devem ser os membros que irão representá-los em seus
Conselhos de Administração e que irão por sua vez monitorar as políticas estabelecidas. O
Conselho por sua vez escolhe quais serão os membros Executivos responsáveis por
operacionalizar aquelas políticas. De acordo com o autor, um sistema de governança familiar
de sucesso é aquele que estabelece claramente as três dimensões do negócio – Membros,
Conselheiros e Executivos.
O autor detalha ainda em sua obra, temas como o Banco Familiar, que tem por objetivo
fomentar projetos individuais de seus membros. Alocação de Investimentos é outra área
explorada e também o papel do Mentor, uma prática pouco explorada pelas empresas
brasileiras e que tem funcionado muito positivamente na formação do caráter e da carreira
das novas gerações. O papel do Mentor não é de dar as respostas ao aprendiz, mas sim
elaborar perguntas que desenvolvam o raciocínio e identificam de que forma o aprendiz tem
mais facilidade de aprender.
Muitas empresas brasileiras tem tido a preocupação de desenvolver programas para as
novas gerações, trazendo-os para dentro do negócio com o objetivo de criar a
conscientização e responsabilidade das novas gerações para a perpetuação dos negócios
em Família. Se mais empresas familiares seguirem algumas das metodologias e conselhos
de John Hughes certamente poderemos vir a ter um provérbio diferente: PRESERVAÇÃO DE
GERAÇÃO EM GERAÇÃO.
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