a definição utilizada como estratégia divulgativa sobre transgênico

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a definição utilizada como estratégia divulgativa sobre transgênico
A DEFINIÇÃO UTILIZADA COMO ESTRATÉGIA DIVULGATIVA SOBRE
TRANSGÊNICO NA MÍDIA IMPRESSA1
THE DEFINITION USED AS PUBLISHING STRATEGY ABOUT
TRANSGENIC IN THE MEDIA
Cristiane Cataldi*
Resumo
Em função de um intenso e controvertido debate público sobre os benefícios e possíveis riscos das plantas, cultivos e
alimentos transgênicos, observa-se a existência de um conjunto significativo de informações publicadas na mídia
impressa nacional e internacional. Tendo como base essa realidade discursiva, o presente trabalho tem por objetivo
analisar a definição a partir da perspectiva da Análise do Discurso. Como parte da metodologia, foi realizada uma
busca nos 248 textos, que compõem o corpus de análise, procedentes dos jornais espanhóis El País e La
Vanguardia, no decorrer dos anos 1999 e 2000, com o objetivo de identificar as diversas definições utilizadas para
divulgar o conhecimento sobre “planta transgênica”. A análise discursiva da definição revela que os jornalistas a
utilizam em geral no primeiro ou segundo parágrafo de cada texto, independente do gênero jornalístico, como uma
importante estratégia divulgativa para explicar ao grande público em que consiste a modificação genética vegetal,
destacando, na maioria das definições analisadas, a finalidade científica e social dessa nova biotecnologia. Isso revela
que existe uma ordem didático-cognitiva em relação à apresentação de temas de caráter científico, que tem como
objetivo definir, em um primeiro momento, o tema tratado de acordo com as máximas jornalísticas: conhecimento
atual, interessante, relevante e que afeta diretamente a vida dos leitores preocupados com o consumo dos alimentos
transgênicos.
Palavras-chave: Lingüística, Análise do Discurso, Divulgação Científica, Transgênico, Mídia Impressa, Jornalismo
Espanhol.
Abstract
Because of the intense and controversial public debate about possible benefits and hazards of genetically modified
food, there has been a significant amount of information published in the national and international media. Within
this context, this paper aims at analyzing the definition of Scientific Publication under the perspective of Discourse
Analysis. The data consisted of 248 texts from two Spanish newspapers, El País and La Vanguardia, in the years of
1999 and 2000. The aim was to identify the several definitions used to publish knowledge about “genetically
modified plants”. The discourse analysis has shown that journalists usually use this expression in the first or second
paragraph of the text, regardless of the journalistic genre. The expression is used as an important publishing strategy
to explain to the public what genetically modification of plants is and to highlight, in most of the analyzed definitions,
the social and scientific aims of this new biotechnology. The results have also shown the existence of a didacticcognitive order of presenting these scientific themes, whose aim is to define first, and then, inform about the theme
according to journalism maxims: current, present, interesting and relevant knowledge that directly affects readers who
are concerned about genetically modified food.
Key words: Linguistics, Discourse Analysis, Scientific Publication,Transgenic, Media, Spanish Newspaper.
1 Introdução
No atual contexto da biotecnologia vegetal, observam-se, por um lado, importantes avanços científicos
relacionados com a obtenção de novas variedades de plantas transgênicas e, por outro, uma grande
discussão sobre as implicações ecológicas da liberação de sementes modificadas geneticamente no meio
ambiente, como também as conseqüências para a saúde ao incorporar os produtos transgênicos na cadeia
alimentar.
Motivada por questões socioeconômicas, essa nova tecnologia está cada dia mais presente na vida diária de
muitas pessoas e se constata um amplo debate público sobre os benefícios e os possíveis riscos dos cultivos
e alimentos transgênicos. Em função desse intenso debate social, verifica-se a existência de um conjunto
significativo de informações sobre plantas, cultivos e alimentos transgênicos publicadas nos jornais tanto da
esfera midiática nacional quanto internacional, já que os meios de comunicação, como difusores
informativos, têm a função de proporcionar a (in)formação e o conhecimento necessários para que a
sociedade possa ampliar sua capacidade de entendimento e decisão frente às novas conquistas científicas,
nesse caso específico, sobre o consumo dos alimentos transgênicos.
Tendo como base essa realidade discursiva, o presente trabalho tem por objetivo analisar a definição como
uma importante estratégia divulgativa referente ao conhecimento “planta transgênica”, considerando o
aporte teórico da Análise do Discurso da Divulgação Científica (Calsamiglia e Tusón, 1999; Calsamiglia et al.,
2001; Calsamiglia, 2000, 2003; Cassany et al., 2000; Cassany e Martí, 1998; Cataldi, 2003; Van Dijk, 1990, 2000).
Observar os procedimentos que determinam a estrutura discursiva dos textos jornalísticos de divulgação
científica constitui um campo de investigação interessante e importante no âmbito da análise lingüísticodiscursiva. Assim, a partir de um enfoque lingüístico, a análise discursiva permite observar como as
expressões lingüísticas funcionam para construir formas de comunicação e representação do mundo,
relacionando o texto com seu contexto a partir de uma intenção comunicativa.
Os 248 textos que constituem o corpus de análise procedem dos jornais espanhóis de informação geral El
País e La Vanguardia. Esses textos foram selecionados durante os anos 1999 e 2000, já que no decorrer
desses anos importantes acontecimentos contribuíram para que os organismos transgênicos tivessem uma
repercussão significativa nos jornais espanhóis, como mostra a Figura 1. De acordo com a classificação
apresentada por Cataldi (2003), os textos selecionados são de distintos gêneros jornalísticos, entre os que
se incluem textos informativos (breve, notícia e informação), textos interpretativos (crônica, reportagem e
entrevista) e textos de opinião (editorial, coluna, comentário, artigo e cartas ao diretor/cartas dos leitores).
Na Tabela 1, apresenta-se o número de textos publicados nos jornais espanhóis El País e La Vanguardia sobre
“planta transgênica” durante os anos 1999 e 2000.
Como parte da metodologia, foi realizada uma busca nos 248 textos, que compõem o corpus de análise, com
o objetivo de identificar as definições utilizadas para divulgar o conhecimento sobre “planta transgênica” nos
jornais espanhóis.
A análise discursiva da definição revela que os jornalistas a utilizam como uma importante estratégia
divulgativa para explicar ao grande público em que consiste a modificação genética vegetal.
Figura 1 – Cronologia das informações sobre os alimentos transgênicos publicada nos jornais
espanhóis no período de janeiro de 1997 a dezembro de 2001
Fonte: Ramón et al. (2002, p. 286).
Tabela 1 – Número de textos publicados nos jornais espanhóis El País e La Vanguardia sobre o
tema “planta transgênica” durante os anos 1999 e 2000
Jornal
Ano
Total
1999
2000
El País
94
64
158
La Vanguardia
73
17
90
Total
167
81
248
2 Análise do Discurso da Divulgação Científica
A Análise do Discurso é um campo de estudo interdisciplinar em pleno desenvolvimento, que tem como
objetivo identificar, descrever e analisar os distintos fenômenos lingüísticos implicados no uso da linguagem.
Considerando o aporte teórico e metodológico da Análise do Discurso, cada texto, como unidade de
análise, deve ser enfocado a partir do seu contexto real de aparição, de acordo com os propósitos e
finalidades de cada situação comunicativa (Van Dijk, 1990, 2000; Calsamiglia e Tusón, 1999). Nessa
perspectiva, os textos jornalísticos de divulgação científica constituem uma forma de discurso público nos
quais se integra uma série de fatores relacionados com o contexto em que surgem. O estudo da divulgação
da ciência permite observar o processo de recontextualização de um saber produzido em um círculo social
restringido, com propósitos e interesses particulares, em uma esfera discursiva essencialmente ampla,
diversificada e dinâmica.
O processo de recontextualização do conhecimento científico na mídia impressa caracteriza-se por re-criar
esse tipo de conhecimento para cada público (Calsamiglia et al., 2001; Cassany et al., 2000). Nessa
concepção, o conhecimento científico está diretamente relacionado com a sua representação discursiva,
inserida e dependente de um contexto comunicativo (identidade e status dos interlocutores, circunstâncias
temporais, espaciais, econômicas, sociais, culturais etc.). Portanto, a tarefa divulgadora não somente exige a
elaboração de uma forma discursiva adequada às novas circunstâncias (conhecimento prévio dos
destinatários, interesses, canal comunicativo etc.), mas também à reconstrução – a re-criação – do mesmo
conhecimento para um público diferente. De acordo com essa concepção, a divulgação da ciência é
enfocada desde uma perspectiva essencialmente discursiva ao considerar a estrutura, organização e
reformulação textual, as especificidades léxico-semânticas e as particularidades enunciativas e retóricas,
dentre outras, que evidenciam a dinâmica da recontextualização do discurso científico em discurso
divulgativo.
De acordo com Calsamiglia (2000), os profissionais do jornalismo enfrentam um grande desafio no
processo de recontextualização do conhecimento científico para o grande público, que se concretiza a partir
das seguintes perguntas: O que dizer? (seleção e relevância), Como dizer? (com termos específicos,
substituições léxicas, expressões denominativas ou paráfrases?), Como explicar? (com que procedimentos
discursivos, com que recursos expressivos?), Como motivar? (desde que perspectiva vale a pena apresentar o
tema para que este tenha sentido na vida social?), Com que intenção? (informar, explicar, divulgar?).
Em geral, os meios de comunicação utilizam determinados procedimentos discursivos que têm
características específicas devido à sua função social. Ainda que o discurso divulgativo utilize informações
procedentes do discurso científico, o modo de elaboração desse novo discurso é específico, pois está
determinado por concepções próprias de produção e de difusão.
Assim, a atividade de divulgar informações de caráter científico na imprensa escrita diária apresenta-se a
partir de uma variedade de estratégias discursivas que compreendem um vasto espectro que vai desde a
definição, por um lado, até a metáfora no outro, passando pela aposição explicativa, a paráfrase, a
denominação, a exemplificação, a comparação e a analogia, dentre outras. É muito provável que em um
mesmo texto se tomem, várias vezes e em momentos distintos, decisões diferentes sobre se usar ou não
um determinado conceito e com que recursos expressivos. Cada procedimento discursivo contribui de
forma específica para a representação e a difusão da informação de caráter científico.
3 A Definição Utilizada como Estratégia Divulgativa na Mídia Impressa
Em relação à tarefa de divulgar o conhecimento científico na mídia impressa, observa-se a necessidade de se
elaborar discursos adequados às especificidades de cada situação comunicativa. Esses novos discursos são
recontextualizados a partir de estratégias divulgativas (Cassany e Martí, 1998), que são distintos tipos de
recursos ou procedimentos verbais que têm como objetivo tornar acessíveis ao público em geral os termos
e os conceitos técnicos formulados previamente em um registro especializado próprio de cada disciplina
científica.
Dentre os vários procedimentos discursivos usados no discurso divulgativo, destaca-se a definição, como
uma estratégia léxico-semântica utilizada para explicar o sentido do termo divulgado. Assim, observa-se até
que ponto a divulgação prefere utilizar a terminologia específica ou outras denominações mais comuns
como sinônimos genéricos ou algum tipo de paráfrase para definir o termo científico em questão.
Ao observar o corpus de análise, constata-se que 10% dos textos publicados nos jornais El País e La
Vanguardia apresentam algum tipo de definição para referir-se à informação sobre “planta transgênica”
(Consultar Anexo).
De acordo com Cataldi (2003), para que se possa observar o funcionamento discursivo da estratégia
divulgativa definição, será necessário o estabelecimento das seguintes categorias de análise: 1) categorias de
caráter identificativo e descritivo, como distribuição mensal, autor, localização no texto, gênero jornalístico;
2) categorias de caráter léxico-semântico, como referente discursivo do termo “transgênico”, seleção
lexical, finalidade científica e social da modificação genética, perguntas retóricas, que evidenciam como os
jornais espanhóis El País e La Vanguardia utilizam a definição na divulgação do conhecimento científico “planta
transgênica”.
3.1 Categorias de Caráter Identificativo e Descritivo
3.1.1 Distribuição Mensal
Em geral, a distribuição mensal das definições publicadas está relacionada aos eventos referentes à
regularização e ao comércio dos alimentos transgênicos. Dessa forma, cinco definições encontram-se no
mês de fevereiro de 1999, período em que foi realizada, em Cartagena de Indias (Colômbia), a Convenção
das Nações Unidas sobre Biodiversidade. Essa Convenção tinha como objetivo fundamental elaborar um
protocolo para regulamentar o comércio internacional dos organismos transgênicos. A cobertura
jornalística dada aos transgênicos durante esse mês foi bastante significativa, sendo o período em que mais
textos sobre transgênicos foram publicados nos jornais espanhóis entre os anos 1997 e 2001 (observar
Figura 1).
3.1.2 Autor
Em relação aos autores, não foi identificada nenhuma definição escrita por um científico especialista em
biotecnologia. Observa-se, assim, que os jornalistas ou a própria equipe de redação de cada jornal se
encarregou de explicar, de forma geral, ao leitor o que é um alimento transgênico. A única definição
elaborada por um acadêmico-científico foi a de um catedrático em filosofia, ciência e sociedade do CSIC
(Conselho Superior de Investigação Científica) e tem um sentido mais filosófico que explicativo, tendo sido
identificada em um artigo de opinião no jornal El País na forma de silogismo: “Se os organismos transgênicos
são os que contêm genes de outras espécies incorporados ao seu genoma, todos os organismos são
transgênicos, inclusive nós mesmos, pois temos genes procedentes de múltiplas espécies ancestrais” (El País
2000-021).
3.1.3 Localização das Definições no Texto Jornalístico
Praticamente todas as definições são apresentadas no primeiro ou no segundo parágrafo de cada texto,
independente do tipo de gênero jornalístico. Essa estratégia discursiva revela que existe uma ordem
didático-cognitiva em relação à apresentação de temas de caráter científico na mídia impressa, que tem
como finalidade definir, em um primeiro momento, para depois informar de acordo com as máximas
jornalísticas: conhecimento atual, interessante e relevante e que afeta diretamente a vida dos leitores
preocupados em conhecer os benefícios e os possíveis riscos dessa biotecnologia vegetal.
3.1.4 Gênero Jornalístico
Em relação ao gênero jornalístico, observa-se que as definições estão presentes em todos os gêneros
(informativo, interpretativo e opinativo), com predomínio nos editoriais e nas notícias. As definições
identificadas nos editoriais revelam o interesse de cada jornal em interpretar e explicar as informações
sobre plantas, cultivos e alimentos transgênicos, para depois manifestar seu ponto de vista, destacando a
importância de se conhecer esse tema no atual contexto dos avanços biotecnológicos.
3.2 Categorias de Caráter Léxico-semântico
3.2.1 Referente Discursivo do Termo “Transgênico”
Observa-se nas definições que o termo “transgênico”, que no seu contexto de origem funciona
discursivamente como adjetivo, tem como principal referente discursivo a palavra “alimento”. Dessa forma, o
objetivo dos jornais é explicar ao público o que significa um “alimento transgênico”, ressaltando que esse
tipo de alimento é o resultado de uma “modificação” ou “alteração” genética.
3.2.2 Seleção Lexical
Em relação ao léxico utilizado nas definições, observa-se que, para se caracterizar um organismo
transgênico, foram utilizadas palavras de caráter geral, como “modificação” ou “alteração”, e de caráter
específico procedente do âmbito biotecnológico, como “genética” ou que houve “incorporação de genes”.
Nos fragmentos a seguir, retirados das definições apresentadas no Anexo, pode-se observar como ocorreu
essa seleção lexical: “matérias-primas vegetais ou animais geneticamente modificadas”; “carga genética foi
modificada”; [“que incorporam genes de outros organismos”]; (“modificados geneticamente”); “contêm
genes de outras espécies incorporados ao seu genoma”; “sofreram alterações em sua dotação genética”;
“foram injetados genes de outros organismos”; “incorporam genes procedentes de outra espécie”; “foi
introduzido um gene de outra espécie com técnicas de engenharia genética”; “foram introduzidos genes de
outras espécies com técnicas de engenharia genética”; “foi realizada uma modificação com genes
procedentes de sua mesma espécie ou de qualquer outro ser vivo”; “alterar a informação genética”; “foram
incorporados artificialmente genes de outra espécie”.
Para que o leitor compreenda o significado de um organismo/produto transgênico, deve conhecer o
significado desses termos metalingüísticos que semanticamente estruturam as várias definições identificadas
no corpus de análise.
Somente em uma definição se explica em que consiste a modificação genética: "Pode-se fazer de duas
maneiras: introduzindo um gene de outra espécie por meio da engenharia genética ou mudando a expressão
de genes próprios sem introduzir ADN de outra espécie" (El País 1999-007).
Em nenhuma definição, observou-se a utilização da palavra “manipulação”, que em determinados contextos
discursivos pode ser utilizada com sentido negativo2 em relação ao processo que caracteriza os alimentos
transgênicos.
3.2.3 Finalidade Científica e Social da Modificação Genética
Na maioria das definições, a finalidade científica e social dos alimentos transgênicos é apresentada ao
público, ou seja, mostra-se “para que” serve esse tipo de alimento. Nos fragmentos a seguir, retirados das
definições apresentadas no Anexo, pode-se observar a finalidade dos OGMs: “para que apresentem alguma
característica desejável, ausente na espécie natural (...)”; “para proteger-lhes contra enfermidades, pragas,
produtos químicos ou condições ambientais adversas”; “para despoluir o Guadiamar; para dar-lhes alguma
característica que se considera positiva (...)”; “para aumentar a produtividade ou a resistência aos
pesticidas”; “para dotar o organismo receptor de umas propriedades que originariamente não possui (...)”;
“para torná-las mais resistentes a insetos”; “para controlar sua maturação ou para torná-las mais resistentes
a determinados tipos de solo”.
Essa forma de definição é própria da divulgação científica e se apóia na função do objeto, seu uso e na
apresentação dos benefícios e/ou possíveis riscos, despertando, assim, o interesse do leitor em relação ao
tema científico tratado. Gallardo (1998) observa que o leitor está sempre interessado na utilidade social de
qualquer novidade científica.
Constata-se, nas definições analisadas, que a finalidade dos alimentos transgênicos é sempre benéfica. Esse
enfoque contribui para a construção de uma percepção pública positiva em relação às plantas transgênicas
na esfera social.
3.2.4 Perguntas Retóricas
Algumas definições foram introduzidas a partir de perguntas retóricas utilizadas para introduzir
dialeticamente o conhecimento sobre “transgênico”: “O que são os alimentos transgênicos?” (El País 1999007) e “O que é um transgênico" (La Vanguardia 1999-009).
O jornal El País identifica o organismo transgênico que se pretende definir a partir da utilização do referente
discursivo “alimento”. Por outro lado, no jornal La Vanguardia, a palavra “transgênico” aparece sozinha, não se
especifica para o leitor o tipo de organismo transgênico que se pretende definir e não se utiliza o sinal de
interrogação ao final da pergunta.
Este recurso retórico de chamar o leitor dialeticamente para participar da construção do conhecimento
científico é bastante utilizado na divulgação dos conhecimentos científicos na mídia impressa, já que
desperta a atenção e o interesse do mesmo para o que está sendo tratado.
4 Considerações Finais
Os textos jornalísticos de divulgação científica constituem uma fonte de (in)formação importante e
significativa no atual contexto da circulação e integração social do saber. Considerando o aporte teórico
referente à Análise do Discurso da Divulgação Científica, a representação e a difusão do conhecimento
científico na mídia impressa pressupõem um enfoque que abarca tanto o campo da análise lingüística geral
como o processo de recontextualização discursiva a partir da utilização de diversos procedimentos
lingüístico-discursivos, destacando a definição como uma importante estratégia divulgativa.
A análise das características léxico-semânticas da definição evidencia que a representação e a difusão do
conhecimento sobre “planta transgênica” na mídia impressa têm uma finalidade discursiva de caráter
divulgativo, objetivando transmitir ao leitor informações relevantes, principalmente sobre o processo e a
finalidade científica e social da modificação genética e os benefícios desse tipo de alimento.
Constata-se, também, que, em virtude do número reduzido de informações de caráter técnico-científico
referentes às investigações sobre as plantas transgênicas, a divulgação na mídia impressa diária tem como
finalidade discursiva noticiar os acontecimentos científicos e sociais mais importantes relacionados aos
alimentos transgênicos que afetam diretamente a vida das pessoas. Esse tipo de discurso caracteriza-se,
assim, como uma intensa e dinâmica divulgação debate, em função da polêmica científica e social que envolve
o conhecimento biotecnológico em questão.
Notas
[1]
Este trabalho foi apresentado no II Simpósio Nacional Discurso, Identidade e Sociedade,
realizado na PUC-Rio, no período de 7 a 9 de setembro de 2006, no Rio de Janeiro, e é fruto da
Tese de Doutorado da referida autora, concluída na Universitat Pompeu Fabra – Barcelona
(Espanha) em dezembro de 2003, intitulada Los transgénicos en la prensa española: una propuesta de
análisis discursivo.
2 Na análise realizada em relação à estratégia divulgativa denominação (Cataldi, 2003), as
organizações ecologistas utilizam a palavra “manipulação” para se referirem aos riscos sanitários e
meio-ambientais das plantas, cultivos e alimentos transgênicos, reforçando, assim, uma orientação
discursiva negativa referente ao conhecimento científico em questão na mídia impressa.
Referências
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Sociedad, Barcelona: Gedisa, v. 2, n. 2, p. 3-8, 2000.
______ (Ed.). Popularization discourse. Discourse Studies, London: Sage, v. 5, n. 2, p. 139-146, 2003.
______ (Coord.).; BONILLA, S.; CASSANY, D.; LÓPEZ, C.; MARTÍ, J. Análisis discursivo de la
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Madrid, v. 2, p. 2639-2646, 2001.
CALSAMIGLIA, H.; TUSÓN, A. Las cosas del decir. Manual de análisis del discurso. Barcelona: Ariel,
1999.
CASSANY, D.; MARTÍ, J. Estrategias divulgativas del concepto prión. Quark, Barcelona: Observatorio
de la Comunicación Científica, Universitat Pompeu Fabra, n. 12, p. 56-66, 1998.
CASSANY, D.; LÓPEZ, C.; MARTÍ, J. La transformación divulgativa de redes conceptuales científicas.
Hipótesis, modelo y estratégias. Discurso y Sociedad, Barcelona: Gedisa, v. 2, n. 2, p. 73-103, 2000.
CATALDI, C. Los transgénicos en la prensa española: una propuesta de análisis discursivo. 2003. 409p.
Tese (Doutorado)–Universitat Pompeu Fabra, Barcelona, 2003.
GALLARDO, S. Estrategias y procedimientos de reformulación en textos de divulgación científica. Rasal (Revista de la
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RAMÓN, D. et al. GM foods in Spanish newspapers. Trends in Biotechnology, v. 20, n. 7, p. 285-286, 2002.
VAN DIJK, T. A. La noticia como discurso. Comprensión, estructura y producción de la información. Barcelona: Paidós,
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______. El discurso como interacción en la sociedad. In: VAN DIJK, T. A. (Comp.). El discurso como interacción social.
Barcelona: Gedisa, 2000. p. 19-66.
Anexo
Tabela 2 – Definições do termo “transgênico” identificadas no corpus de análise
Identificaçã
o
Data
Localizaçã
o no texto
Autor /
Fonte
Tipo de
Gênero
Definição
18/02/199
9
2º parágrafo
Hernán Iglesias
Informação
¿Qué son los alimentos transgénicos? Están
elaborados con materias primas vegetales o
animales genéticamente modificadas. Puede
hacerse de dos maneras: introduciendo un
gen de otra especie por medio de la
ingeniería genética o cambiando la
expresión de genes propios sin introducir
ADN de otra especie.
do texto
EP1999-007
(jornalista,
assinou 15
textos)
EP1999-020
21/02/199
9
1º parágrafo
Redação
Editorial
Especies transgénicas son aquellas cuya
carga genética ha sido modificada para que
presenten alguna característica deseable,
ausente en la especie natural: animales cuya
leche puede contener principios preventivos
de enfermedades, cosechas que resisten el
frío, los parásitos o los insecticidas, o que
maduran en cualquier momento del año.
EP1999-029
26/02/199
9
1º parágrafo
Redação
Editorial
(...) en Cartagena de Indias no se ha
conseguido sacar adelante un protocolo de
bioseguridad que regule el comercio de los
alimentos transgénicos, aquellos cuya carga
genética ha
sido
modificada para
protegerles contra enfermedades, plagas,
productos
químicos
o
condiciones
ambientales adversas.
EP1999-033
15/03/199
9
4º parágrafo
Alejando
Bolaños
(jornalista,
assinou somente
este texto)
EP1999-034
17/03/199
9
1º parágrafo
Hernán Iglesias
Notícia
Científicos y ecologistas habían cruzado en
las últimas semanas declaraciones que
alejaban cada vez más sus posiciones sobre
alimentos
transgénicos
(modificados
genéticamente).
EP2000-021
22/03/200
0
1º parágrafo
Jesús Mosterín
(catedrático de
Filosofia, Ciência
e Sociedade –
CSIC, assinou
somente este
texto)
Artigo
Si los organismos transgénicos son los que
contienen genes de otras especies
incorporados a su genoma, todos los
organismos son transgénicos, incluso
nosotros mismos, pues tenemos genes
procedentes
de
múltiples
especies
ancestrales.
Reportagem Una de las conclusiones de aquél foro fue
que sería necesario diseñar organismos
especializados, plantas transgénicas [que
incorporan genes de otros organismos]
para descontaminar el Guadiamar.
(opinião)
EP2000-027
13/04/200
0
1º parágrafo
Redação
Editorial
Los alimentos transgénicos son aquellos que
han sufrido alteraciones en su dotación
genética para darles alguna característica
que se considera positiva: que resistan a las
plagas de parásitos o a los insecticidas, que
necesiten menos abono o menos agua, que
sean más grandes, den mayor rendimiento o
se conserven mejor una vez cosechados.
Nota: Na unidade de informação Autor/Fonte, apresentam-se o nome do autor, a referência
profissional e o número total de textos elaborados por cada um durante os anos 1999 e 2000.
Tabela 2 – Definições do termo “transgênico” identificadas no corpus de análise (continuação)
Identificaçã
o
Data
Localizaçã
o no texto
29/05/200
0
1º parágrafo
Autor /
Fonte
Tipo de
Gênero
Definição
Crônica
En la práctica, sin embargo, era un inmenso
escaparate de alimentos transgénicos, es
decir, productos elaborados a partir de
plantas a las que se ha inyectado genes de
otros organismos para aumentar la
productividad o la resistencia a los
pesticidas.
Los alimentos transgénicos (también
llamados
alimentos
modificados
genéticamente) son productos de una
especie animal o vegetal que incorporan
genes procedentes de otra especie.
no texto
EP2000-045
Lola Galán
(jornalista,
assinou
dois textos)
LV1999-007
23/02/199
9
2º parágrafo
Agências
Notícia
LV1999-009
23/02/199
9
1º parágrafo
Redação
Informação
Qué es un transgénico
Son transgénicos aquellos seres vivos en los
que se ha introducido un gen de otra especie
con técnicas de ingeniería genética. Por
ejemplo, un tomate en el que se ha
introducido un gen para que tarde más en
madurar es transgénico. Existen también
animales transgénicos, muy útiles en la
investigación médica. Por extensión, son
transgénicos
aquellos
alimentos
que
contienen ingredientes procedentes de
cultivos transgénicos.
LV1999-055
14/07/199
9
2º parágrafo
Josep Corbella
(jornalista,
assinou
Notícia
Los organismos transgénicos son aquellos en
los que se han introducido genes de otras
especies con técnicas de ingeniería genética.
Por ejemplo, en el Reino Unido se
comercializan tomates a los que se ha
añadido un gen para que tarden más en
madurar. En España están autorizados
actualmente, además de este tomate, una
variedad de soja y tres variedades de maíz
transgénico.
Cinco textos)
LV1999-056
16/07/199
9
2º parágrafo
Bel Bosck
(jornalista,
assinou somente
este texto)
Coluna
Un cultivo transgénico es aquél en el que
utilizan semillas a las que se ha realizado una
modificación con genes procedentes de su
misma especie o de cualquier otro ser vivo,
para dotar al organismo receptor de unas
propiedades que originariamente no posee
con el fin de ser resistente a herbicidas,
plagas, etcétera.
LV1999-064
15/10/199
9
1º parágrafo
Redação
Editorial
En el origen de los transgénicos hay
objetivos positivos. Consiste en alterar la
información genética de las semillas para
hacerlas más resistentes a insectos, para
controlar su maduración o para hacerlas más
adaptables a suelos en malas condiciones.
LV1999-066
15/10/199
9
1º parágrafo
Josep Corbella
Informação
Qué es un transgénico
Un transgénico es un organismo en el que se
han incorporado artificialmente genes de
otra especie. No tiene por qué ser sólo un
alimento. También puede tratarse de una
materia prima como el algodón, un ratón
para investigar el cáncer, una vaca que
produzca más leche...
Dados da autora:
Cristiane Cataldi
*Doutora em Lingüística – Universitat Pompeu Fabra/Barcelona – e Professora Adjunta –
Departamento de Letras/Universidade Federal de Viçosa
Endereço para contato:
Universidade Federal de Viçosa – Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes
Departamento de Letras
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Data de recebimento: 9 jun. 2008.
Data de aprovação: 21 out. 2008