- LabConeSul História Social e Comparada
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- LabConeSul História Social e Comparada
A EVOLUÇÃO. Periódico editado por Assis Brasil, Júlio de Castilhos e Pereira da Costa. N.º 1 a 5. São Paulo, 1878-1879. Biblioteca Central da PUCRS. Coleção Pessoal Júlio Petersen. Publicação editada em São Paulo quando os autores eram estudantes na Faculdade de Direito de São Paulo. Versão de teste – Disponível para download em 05.01.2012. A EVOLUÇÃO Pericdico redigido pelos acadêmicos Assis Brazil, Ann» fl 1 P. da Costa, J. de Castilho S. P a u l o , 1K d c A b r i l «lc I H 1 » do Christo 1 Irrisãu 1 escarneo lançado á face do ' mundo, lançado á face de Deus! E estes dous exemplos bastam. S . P A U L O , LÕ DE A B R I L DE 1 8 7 9 Perante isto, o. que nós, os moços, devemos faExiste latente no seio (la Natureza uma lei que zer para honrar o presente e felicitar talvez as geraimpelle fatalmente para diante os mundos physico e ções porvindas ? Trabalhar desassombradamente, moral; mais ou menos, confórme as forças de cada urn, para O mundo physico—pelas continuas transformaque os velhos ídolos, as estatuas feitas de barro, os ções da matéria, tendendo sempre para o maie perantigos prejuízos, os antigos erros, rolem por terra, feito; I \ desappareçam aos reverberas do grande sol da || y» f» razão. O mundo moral—pelo desdobramento persistenE' preciso que ninguém tenha a fronte voltada te dos espíritos, operado na acquisição de idéfisVa-, CRaítí£ às alvoradas do porvir com a alma presa, emverdades cada vez mais largas. brenhada nas negruras do passado; que todos se I A'parte o que lia de fatal neste movimento indeficompenetrem de que a humanidade não vegeta; vive, ' nido, a livre indagação, apoiada no critério seguro da caminha e .caminha sempre, a despeito de todas as rasão e da experiencia, descobre verdades, classificatyrannias, atravez de todos os obstáculos, pois que os | as, expõe-nas, dirigindo, animando, metbodisando o destinos do mundo, como das alturas da tribuna jà progresso. o disse um grande espirite, saltam por cima dos caGyrando sob o influxo desta grande lei, na estreivalletes e das guilhotinas. ta esphera da fragilidade de suas forças, a EVOLUÇÃO faSenão véde: depois daquelle primeiro bater de rá delia, no caminho do jornalismo, o seu bordão de azas de condores para a Reforma, depois dos sacriviagem ; fícios de João Huss e Jeronymo de Praga, surge além^ Derramará os princípios da Democracia pura, coilluminado pelos clarões dos mesmos princípios, o mo supremo ideal das sociedades actuaes; monge de Eisleben ; depois dos assassinatos de RusComprehenderá as questões litterarias na altura sell e Sidney, relampeja no solo de Inglaterra o sada civilisação; bre de Cromwell; depois de Voltaire pleiteando a Consagrar-se-á, emfím, com ardor, ao serviço causa de dous desgraçados, Calas e Labarre, a causa da eterna Justiça. da justiça, troveja o verbo de Mirabeau. Grande tarefa, para a qual conta unicamente com Assim, nem as infamias do concilio de Constana sua boa vontade e com a benevolencia dos c o n t e n ça, nem os desvarios infelizes de Carlos I, nem o desp o r a n o . potismo dos reis de França, impediram a Victoria das idéas A EVOLUÇÃO não menciona estas lutas olyrapicas ( SYSTHESE ) na vida dos povos, para accordar aquellas paixões As duas grandes revoluções, a revolução religiolargas e generosas que por tantas vezes têm animasa encarnada em Martinho Luthero e a revolução do, em explosões electricas, os lúcidos batalhões dos , franceza de 89, fizeram muito a bem dos povos, mas filhos do porvir. Não; ella reconhece que,sempre que j não fizeram tudo. fôr possível, devem-se evitar as revoluções armadas, as revoluções sangrentas; tanto mais quando todas Nem era possível. as reformas, todas as transformações possíveis no Existem ainda muitos axiomas, muitos dogmas mundo moral podem-se operar naturalmente nos laque não tem sua razão de ser, que é preciso refutar bora to ri os pacíficos da idéa. á luz da justiça, á luz da consciência. A EVOLUÇÃO Hoje ainda, mesmo em paizes considerados livres, a pessoa do rei é inviolável e sagrada; não pôde o monarcha responder nunca pelos crimes que commetter. Seja como fôr, é este um absurdo insustentável: perante a philosophia não se concebe que um homem possa ser criminoso impunemente; perante a moral e 1 equidade, é immoral e iníquo (1). O papa é infallivel, porque é um inspirado, porque é o successor de S. Pedro, pirque 6 o successor Mas, para que isto aconteça, o que é preciso? Que &quel'es a quem mais competir, ouçam religiosamente os gritos e as lamentações que vêm do fundo da historia; gritos e lamentações que são avisos, que resumem conselhos. Os padres e os príncipes que notem bem isto ; os primeiros, se quizerem continuar a dirigir o re_ banho christão,que sejam simples e bons,e os outros, s e desejarem reinar por mais algum tempo sobre os povos, que atirem ao monturo todos os fal sos ouro- PUCRS/BCE peis com que os adornou a ignorância do passado. Foi-se o tempo dos assassinos, dos bandidos e dos monstros como Jacques Clement e Ravaillac, Alexandre VI e Torquemada; dos déspotas como Henrique VIII e Philippe II. E, se esta é uma luminosa verdade, aquelles que hoje tentarem imital-os, mesmo muito de longe, poderio ser esmagados pelas rodas do carro da liberdade e apressar de um modo funestíssimo a realisacáo do que estava reservado para sel-o mais tarde, seguindo o curso natural, logico e providencial dos acontecimentos humanos. M o precisa ser um optimo observador para notar que aquella nuvem borrascosa, acastellada n o c é o de França, ha noventa annos, ainda não passou de todo. 0 povo na sua sagrada aspiração de verdade e de justiça, quer e ha de ser livre; porque a cada momento, a cada hora, vae tendo de si um sentimento mais viro, mais largo. Que não haja pais n e n h u m a obstinação, n e n h u ma resistencia, diante de sna vontade a u g u s t a . E, para conjurar os grandes males que por ventura possam ennuviar o dia de amanlifi, é urgente que deflnam-se bem as posições, para que os governos não penetrem mais armados, porque não tem esse direito, nos arraiaes da soberania nacional. Procurar fortalecer o juizo de seus concidadãos, sob este ponto de vista, com toda a energia das consciências puras, é o máximo serviço que poderá p r e star todo aqueíle que fôr se consagrando ú causa da patria. Considerando isto, a EVOLUÇÃO com toda a i m p a r cialidade, explanará rapidamente as questões s e g u i n tes : O que tem sido o povo em f r e n t e da historia, o que é e o que será q u a n d o baquearem definitivamente) 08 derradeiros baluartes do absolutismo politico e religioso ? Sobre que base se f u n d a m os governos, e q u a l a sua missão ? A que a t t r i b u i r a completa d e s h a r m o r n i a , a l u t a incessante, encarniçada m e s m o , entre estas d u a s entidades ? Qual a causa geradora do d e s p o t i s m o e suas consequências ? A necessidade d e e s t u d a r as q u e s t õ e s a p o n t a d a s consiste n i s t o : Observa-se que em t o r n o de a l g u m a s nacionalidades levanta-se, como espectro i n f e r n a l , u m certo temor vago, inexplicável. Comprehende-se que ellas reconhecem q u e não gosam da estabilidade necessaria, da necessaria liberdade, mas tem receio de a g i r p a r a ofim s u p r e m o . A tal ponto que, q u a n d o ' surge a l g u m a divergencia e n tre os governados e os g o v e r n a n t e s , falta áquelles a coragem bastante para dizerem firme e resolutam e n t e o que pensam e o q u e q u e r e m . Será fraqueza ? Será irresolução mesmo ? Er u m p h e n o m e n o n a t u r a l . Aquelles que lêm as inseri peões seculares que margeam o grande abysmo do passado, nfto o ignoram. OH governos mal intencionados tem-se aproveitado desta fraqueza que não é fraqueza, desta irresoluçfio apparente para fazerem prevalecer a sua vontade, os seus raprichos. Deixem muito embora cahir pelo caminho as sementes que tem produzido as mais assombrosas heeatombes. Sé lhes faltar a intruccfto, da parte daquelles que amam o direito e a justiça, taes naçòcs encaminhar-se. hão necessariamente para este estado desolador; porq u e se é certo que as escravidões auxiliain-sc até dominarem completamente a consciência publica, é também certo que os povos não resistem eternamente á pressão tyrunnica dos governos que se desmandam P. C. O Constitucional, periodico conservador acadêmico, em seu I o numero, anno VI, publicado ha pouco, declara-se solidário com o seu passado. Inaugura, porém, um novo systema de l u e t a ; descendo da esphera abstracta dos princípios para o terreno pratico e positivo, promette analvsar e combater os actos do governo liberal. Isto se encontra no artigo inicial, escripto por Fernando Mendes, redactor chefe do periodico. Na sua opinião, todos caminham — i m p e r a d o r , ministros e camara dos deputados,—para os ahysmos da revolução. O Constitucional afflrma uma verdade : os liberaes, como os conservadores, como todos os governos que tiverem o funesto intento de deter a torrente das liberdades, caminham para a revolução ; não naturalmente, dirigindo-se para c i l a ; mas caminham recuando, de costas, arrastados, levados na onda irresistível que t e n t a m reprimir em seu curso fatal. —A. Werneck propõe-se demonstrar,em uma série de artigos, a superioridade da soberania da razão sob r e a soberania do Povo QusKÍ^-^rhitelligentc articulista j u l g a r que tem a sua tarefa çoncluida, restarllie-á ainda o mais difficil da obra, isto p : demonstrar q u e a soberania da razão não é conforme á soberania do Povo. —-O Constitucional traz ainda u m folhetim (le Heitor Guido ; u m a estirada chronica parlamentar de F e r n a n d o Mendes, onde ááo rudemente verberados os a r r e g a n h o s revolucionários da camara temporaria c atirado para os cornos da lua o zelo monarchico do Senado; u n s versos lyricos de Isaias d'Almeida; e outros artigos. —A Evolução saúda o Constitucional, cuja posição lhe inspira syinpathia, porque, ao menos, é definida e franca. A. B. • oOj^Or Leão Uambette A EVOLUÇÃO ufana-se de inscrever em suas col u t n n a s esse g r a n d e e im mortal nome. Ella q u e r acampar nos largos arraiaes banhados pelos reverberas das auroras esplendidas do Futuro, a e Gambetta é o chefe mais zeloso da sua inviolabiliE" opportunista ; nfio como os políticos do pardade. tido liberal brasileiro que, não tendo coragem para renlisar as reformas tilo ardentemente pregadas nas Levanta-ss para combater, no acanhado limite de suas forças, os sombrios e negros phantasmas que I lutas de uma adversidade de dez annos,—porque sujeitam-se vergonhosamente á vontade da corôa—,inprojectam sombra no caminho do progresso edo envocam para a justificação a inopportunidade, fazendo grandecimento dos povos, e Gambetta 6 iIlustre nas uma capitulação deslionrosa e covarde. phalanges dos batedores da Verdade e da Justiça. Esse é um opportunismo caricato e de pura eonA EVOLUÇÃO empenha-se pela realisação a mais lata e a mais generosa dos progressos sociaes,—re- I venção. sultante fatalmente do trabalho lento, mas accentuaConsummado e profundo estadista, Gambetta indo, da força persuasiva, mas incontrastavel da Idéa> flue poderosa e accentuadamente nos destinos da po—da Idéa que nfl.i estaciona, que não recua, que avanlitica européa. Não, empregando a tactica diplomátiça sempre, derrocando prejuízos, deixando após si os ca do Bismark,—tactica eminentemente machiavelica, destroços accumulados dos erros abatidos ; e a g r a n auxiliada pela mais requintada má fé, em que o êxide gloria de Gambetta tem consistido em preparar, to se mede pela perversidade da astúcia e pela brucheio de fé e da inaxima energia, o desenvolvimento i talidade dos meios que emprega mais do que pelo I do espirito publico do seu paiz. e, sem jamais antetalento nas combinações; mas sim a politica que voe f cedel-o, d>*duzir-lhe as luminosas conclusões—que beber as suas inspirações nos princípios do Justo, do sâo a realisiçV» dos princípios j á amadurecidos, j i Direito e d a Moral, que combina os seus planos sob depurados no enorme cadinho quo se chama—Cono ponto de vista largo e generoso das idéas e dos sciência do povo 1 aperfeiçoamentos sociaes, prestando sempre respeitosa homenagem á autonomia e independencia das A EVOLUÇÃO, emfim, entende que a luminosa e n nações, e não—violando-as, quebrando-as, aniquílancarnação da Justiça, do Direito, da Liberdade, não do-as, como é norma de acção do diplomata allemão. pdde ser sinão a Republica, e Gambetta é a synthese fascinantemente verno 1 deslumbradora dessa fôrma de go- Demais, é bom, é consolador, é util mesmo, que no meio da sombra espessa que sobre a alma sinceramente brazileira projectam os enormes e tristíssimos baqueamentos moraes que se está presenciando; no meio das desesperanças que affiigem o coração do patriota sincero, quando contempla entristecido a série interminável dos tripúdios i m p u d e n t e s sobre a dignidade nacional,—é b o m , pensa a E V O L Ü Ç I O , atirar a gente as vistas para u m vulto homérico como Gambetta, que glorificando a sua patria, h o n r a ao mesmo tempo o s e u século; e diante desse g r a n d e exemplo, s e n t i r fortalecido é r e t e m p e r a d o o vigor para trahalhar firmemente, e n t h u s i a s t i c a m e n t e pelo t r i u m p h o definiti vo das i d é a s . E , pois, a EVOLUÇÃO j u l g a que não é i n o p p o r t u n o lembrar esse g r a n d e n o m e . Gambetta possue em gráo elevadíssimo as qualidades que formam a g r a n d e z a dos modernos h o m e n s de Estado. E' o homem das s u p r e m a s energias e das soberanas audacias, d a c o n s u m m a d a habilidade politica e do mais p r o f u a d o talento pratico, movendo-se pelas inspirações do mais acendrado patriotismo, q u e t e m sido o promotor dos feitos mais gloriosos d e s u a •ida. Enérgico, audaz e de vontade hercúlea, elle c o n segue sempre, à despeito de todos os embaraços, a •ictoria completa dos princípios innovadores, depois de inoculai-os e radical-os na consciência p u blica, porque elle comprehende a marcha evolutiva dos acontecimentos, e não tem a vã pretençlo de dominal-os. Dotado de u m profundo talento pratico e de grande energia de acção, elle não é somente o homem que se eleva ao cume eminentíssimo desse grande Hymalaía que se chama—o Ideal, sem conhecer as asperezas implacaveis da realidade, sem apalpal-as, sem destruil-as para desbravar o caminho que leva ao progredir. Não. Dil-o o grande heróe da palavra—Castellar: « Gambetta reúne accentos de Mirabeau a impetos de Danton. » « Equilibrar em uma mesma pessoa a idèa com o facto, a actividade da intelligencia com a actividade da vida, é o dom que deu a natureza a Gambetta, cujo talento sabe voar com as azas abertas pelo céo, e caminhar com passo firme n a terra » E estas eloquentíssimas palavras, todos o sabem, encerram u m juizo profundamente verdadeiro. 0 amor com que Gambetta ama a França é immenso, tão grande que o leva ás vezes a loucos comm e t t i m e n t o s e a tentativas temerarias. Todos o sabem. Quando Paris estava prestes a desapparecer sob a saraivada dos projectis do exercito do rei Guilherme, ameaçando impiamente reviver as scenas tristíssimas dos Povos Barbaros, q u a n do as boccas de fogo estavam sinistramente voltadas para a grande cidade, ameaçando extinguir aquelle g r a n d e fóco de luz, deixando orpham o espirito h u mano—porque Paris é a m ã i intellectual do mundo—, quando o povo, sublimemente heroico embora, a c h a va-se quasi desarmado de meios de defesa contra os barbaros sitiantes, e prestes a c a p i t u l a r ; Gambetta, que preferia ver P a r i s defender-se até ser reduaida a um combro de cinzas e de destroços fumegantes, a vel-a fazer u m a capitulação vergonhosa, tomou a heróica resolução de ir, fõra dn grande cidade levantar com o poder magico de sua el jquencia, batalhões qne corressem em salvação da França Saliiu de Paris dentro de um balio aerostatico, atravessando o espaço rodeado das terríveis incertêzas do sombrio desconhecido. Esta sublime dedicação, inspirada como qae pelo delírio do patriotismo, compendia a vida inteira do grandr h o m e n ! Ninguém o i g n o r a : a estatura colossal de Gambeta começou a ostentar-se com o formidável desastre de Sedan. Antes, sob o reinado neroniano do grande p e r rerso e do grande cvnico qne se chamou Napoleão III, a q u é m , si fosse possível, a Historia devia esquecer para poupar & posteridade os horrores do mais desbragado despotismo, que ennodoou os brazões soberbos do século em que Tivemos,—foi estreito e apertado o circulo em que se exercitou a potencia intellectual do jllustre tribuno. I a resistência tenaz e heróica ao ambicioso vulgar 1 j que queria confiscar-lhes os direitos, a França sen t i u bater em cheio no coração o fatal golpe que ca- I I vou n e l l e um abvsmo enorme, ao mesmo tempo que I I a t e r r a abria o seu seio para receber o cadaver do I grande ThiersAcabrunhada e entristecida pela perda do seu I I iIlustre filho, a França sentiu vaciliarem-lhe as for- I ças e o indomável valor, perdida quasi a esperança I da sustentação firme dos seus brios. Foi então que as almas dos democratas, que ti- I i nham o olhar fito n a França, sentiram a invasão d o , grandes júbilos ao levantar-se sobranceiro o volto de Gambetta, incitando, animando, fortalecendo os 1 ânimos abatidos, e guiando o Povo Francez a n m a das j victorias mais brilhantes que ultimamente tem presenciado a humanidade. { E a França continuou magnificamente a fazer a a f i r m a ç ã o tranquilla e serena do Progresso. Amordaçada vilmente a consciência d a F r a n ç a a mão sacrílega do t v r a n n o , rodeado p o r u m b a n d o Aquelles, pois, que s e n t e m bater-lhes na fronte ignaro de servis aduladores, terríTelmente p e n d e n t e incendida os raios coruscantes do grande Astro—a sobre os qne n i o se mostrassem adhesos ao seu g o Idéa, aquelles em cujos corações alveja a candida verno e às suas leis,Gambetta teve de reconcentrar a s i flôr d a esperança, animada pela brisa do F u t u r o , impetuosidade« coléricas d o seu patriotismo, cerceaaquelles qae sentem os arrancos abaladores de proda completamente a liberdade da imprensa e a liber- I f u n d a indignação em face das hecatombes de hoje, dade da tribuna. I os qne, em fim,sonham para esta Patria—hoje pisada e enxovalhada pelos negros batalhões do imperialis—Era o vulcão comprimido c u j o seio abrasado mo—um f u t u r o todo cheio de irradiações de glorias, revolvia-se em turbilhões de lavas—. e de échos sonorosos de tríumphos—que procurem E n t r e t a n t o , a despeito de toda a oppressão, a f i m i t a r o g r a n d e Republicano Francez. Porqne, se no frontando desassombrado e com varonil energia os furores do déspota, sua palavra trovejou muitas ve- I épico trabalho de levantarem este paiz & altura dos s e u s gigantescos destinos, receberem a maldicção do zes n o recinto do p a r l a m e n t o francez, ora sinistra e E r r o , da Ignorancia e dos Prejuízos, virá depois a tragiea, exprimindo nos estos da paixão a cólera e a sentença decisiva d o g r a n d e Juiz—a Historia, que os indignação que iam pela a l m a da F r a n ç a ; ora proabençoará e t e r n a m e n t e ! pheticm e solemne, predizendo a próxima qneda do tyranno, em meio dos horrores sublimes, porque s i o I J. C. a explosão das consciências largo tempo comprimidas, da revolução popular. Fragmento (*> E era u m a profunda prophecia,porque si não s o ( INTIODCCÇÃO ) breviesse a guerra f r a n c o - p r u s s i a n a que trouxe comsigo o desastre de Sedan, o t h r o n o de Napoleão III j ' Musa d a Liberdade, ó Musa do Porvir, havia de ser quebrado pela mão do povo, porque é f a Vivandeira fatal dos tempos que hão de vir. tal, é inevitável o c u m p r i m e n t o da g r a n d e lei que Mulher severa e meiga, i m maculada e triste Da t r i s t e z a senil que só no j u s t o existe, dirige as sociedades. Organizando-se então a Republica, começou o j —Crepusculo na fronte e n'aima rosicler— hercúleo trabalho da sua consolidação, no qual Gam- ; Hyperbole do Bem, impa vida m u l h e r , O' bússola da Luz, estrella americana, betta tem sido o mais nobre operário. Mulher cheia de paz, mulher republicana ! A Franca tem marchado de t r i u m p h o em t r í u m - j pbo. seguidos das acclamações enthusiasticas das —Eu oiço o retinir da t u a ingente voz, consciências livres. No templo do Futuro a prantear por nós. E o nome do grande homem está indissolúvel- ! Eu sinto as vibrações do teu olhar superno, E sinto de tua alma o palpitar eterno. mente unido a esses t r í u m p h o s . Apalpo o seio teu e sinto o coração Ainda h o n t e m nublava-se s i n i s t r a m e n t e o céo da França, *-uvens agoureiras, porque trevosas, ac- ! Pular-te dentro delle em estos de vulcão. Vejo erguer-se sombrio o teu sereno busto i cumulavam-se nos seus horísontes, ameaçando d e s Quando arremessa um grito o teu pulmão robusto* farrr me em tremenda borrasca. E soltas o teu verbo, enorme, pelo azul. Era o 16 de Maio de 1877, que partia inopinada- I mente vibrado centra aa liberdades p a U i c a s . Quando as pna fileiras populares se engrossavam oppór, por n ã o da vietoría pacifica das urna». (•) Dus « Libelios a Itens >. Na tua fronte altiva e límpida e serena Ha prantos de David, ha raios de Saul, Ha mansidão de pomba e crispações de liyena. Embriaga-me a luz da tua fronte ardente E cravo o meu olhar no teu olhar valente. Amo-te muito, 6 Musa, e por um beijo teu, Um beijo-inspiraçSo, longo, sublime, puro, Um beijo de teu lábio, e amplo como o céo, — Eu dava a minha vida e dava meu futuro. Amo-te muito, 6 Musa. Inspiração, ardor, Este forte valor, que 6 saúde d'alma, Tudo me trouxe, ó Musa, este infinito amor. Costumei-me a encarar na tua fronte calma 0 sol da nova crença, o sol dos ideaes, Que teda grande luz das coisas immortaes Nasceu da mansidão, da placida humildade. ;E ha quanto tempo já, por sobre a Humanidade, Despontou do teu rosto o luminoso sol ! Mas a noite do egoismo atira o manto enorme, Ruge o vento do mal de encontro ao teu pharol, 2 E a sombra vence a l u z ! A Humanidade dorme No leito dn deshonra ensanguentada e só. E, emquanto o nosso brio anda a rolar no pó, Si a Honra quer se erguer. perseguem-n'a a pedradasOs raios do esplendor das testas coroadas, O enorme resplendor da thiara papal : São as irradiações maléficas, d a m n a d a s Do espirito do mal. Tudo morreu, 6 M u s a : a Charidade, a Fé, A candida Esperança—a esplendida galé Condemnada a viver co'os olhos no infinito A Consciência humana—o r e t u m b a n t e g r i t o Que agita-ségbramando e ruge dentro em n ó s ; O orgulho do D i r e i t o ; o fogo dos lieroes; Tudo o que h a d" sublime e g r a n d e e de elevado Tudo, tudo, rolou por terra esphacelado Ao peso esmagador d a enorme corrupção. E, no abysmo sem fim do mar da escuridão, Quando ergue-se do Bem o impávido rochedo, Alteando o-busto forte, immovel e sem medo, —Arroja-se sobre elle o torvo vendaval Na orchustra libertina. Enorme funerpl Dos brios, do pudor, j á morto apodrecido. O gênio a n d a a morrer de fome e de descrido. A honrada Verdade, essa mulher viril Foi, morrendo, tombar por sobre o lodo vil, Ao som do gargalhar, aos h u r r a h s estridentes Dos devassos brutaes, dos ébrios impudentes. • E a onda vai crescendo, e vae subindo o m a r . Contra a canal lia infame e u nobreza vil ; Contra a devassidão, esse minaz reptil ; Contra o vicio que se ergue c o mal que pavoneia ; Contra a morte da Idéa ; P'ra vir interromperem meio a saturnal, Dar-lhe vida e vergonha, o Povo- -esse jogral ;— l'ara extinguir, matar este infernal marasmo ; Contra o despreso torpe e contra o vil sarcaamo ; Contra o raio papal e a maldição do rei ; —iO' Musa, o que fazer ? •—Lactar. —Eu luetarei. ASSIS BliA7.lL. Publicou-se, ha dias, o primeiro numero da Republica, orgam do Club Republicano Acadêmico. O artigo inicial è firmado por Magalh&es Castro. A Evolução quizéra ver nelle mais idéas e menos palavras,—a concisão enérgica d'um espirito profundamente apoderado da verdade d'uma causa—e não os arrebatamentos de imaginação, que podem agradar, seduzir mesino, mas—incapazes de produzir convicções serias e vigorosas. A propaganda assim torna-se esteril, sinão impossível. Falta a M. Castro aqnella lógica esmagadora, aquella phrase curta, mas animada e incisiva e desapiedadamente cortante de Lucio de Mendonça, fazendo recuar, tomados de receio, os mais temerosos adversários. Seu período é cheio, é palavroso, é imaginoso demais para o artigo de jornal. Magalhães—publicista — faz desmaiar o brilho dos seus triumphos alcançados com gloria na tribuna, onde o seu talento toma proporções verdadeiramente notaveÍ8,e desperta sempre a mais enthusiastica admiração. No firme empenho de guardar a máxima franqueza n a enunciação dos seus juizos, a Evolução não h e sita dizer que, insigne orador—Magalhães ha de sel-o u m dia, e bem proximo; publicista de elevado mérito diffleilmente o será. Contem mais a Republica: " Um artigo, primeiro d'uma serie, sob a epigraphe —A idéa e a natureza—,em que se percebem logo as scintillações luminosas do espirito de Affonso Celso Júnior, a par d a elevação das idêas ; Reflexões Politicas p o r S . Tullius ; o Manifesto de Diamantina por M. Castro ; Carla aos redactores da Republica, cm que seu auctor se limitou a enunciar verdades por todos sabidas, excepção feita d'aquella com que fechou a sua carta :—a revolução francesa só produziu fruetos rachitiços (/); um fragmento dns Libellas a Deus de Assis Braz i l ; e, finalmente, um belllssimo e elegante folhetim de V. Magalhães. A Evolução saúda a Republica. ; 0' eBtrella polar> Musa da Liberdade, ó Musa americana, Mulher cheia de paz, mulher republicana ! B g ^ ^ p j M ^ ^ M irr '1 Bfcií-itíiÁífávf-bQ3 B M B W í » ni «fia tfiTy J . C. A g e n t e do m o s t e i r o POR SILVA JARDIM - S. PAULO — < 8 7 9 .4 EVOLUÇÃO considera um dever de honra para si i a apreciação imparcial, rigorosa e j u s t a d a s obras da mocidade do seu tempo. Sem altas pretenções a impôr conselhos, ella nilo ; admitte, entretanto, que se lhe negue o direito d e i dizer, como sente, o que sente. Neste proposito, prestará a todos um grande i serviço, porque inquestionavelmente a franqueza da sinceridade é sempre um poderoso incentivo-aos produetos da actividade humana. E ninguém mais do que nós precisa desse g r a n - de motor. Um preconceito horrível, gerado M a l m e n t e n a s f entranhas da nossa organisação social, tem por tal ! fôrma centralisado, aristocratísado o mérito l i t t e r a !i rio, que a justa admiração transformou-se em idola! tria cega e exclusivista. Nesta academia o phenomeno manifesta-se mais accentuado do que em parte a l g u m a . Temos, por exemplo, dois poetas, inspirados, n a ' verdade, doces, fluentes, bons artistas, cujas p r o d u c cões agradam o ouvido e deleitam a a l m a ; t e m o s ! um joven orador, verboso, eloquente, sympathico n a tribuna, possuindo u m a belíssima voz h a r m o I niosa. E estes poetas e este orador são logo proclamados os primeiros e únicos. Ha os bons e o resto. A. EVOLUÇÃO nunca lançará p e d r a s c o n t r a os I méritos de n i n g u é m ; muito menos contra os d e Theopliilo Dias, A. Celso e Magalhães Castro. Mas, por isso mesmo que lhes presta a j u s t a h o m e n a g e m , os quer vèr reduzidos ás verdadeiras proporções, que sãò grandes de si. E o que mais é para admirar-se é que esta s u b serviência litteraria nasceu expontaneamente, mesmo contra a vontade d a q u e l l e s a quem é t r i b u t a d a , q u e são prudentes e sensatos bastante para preferirem ser cidadãos da republica do t a l e n t o , a idolos d e barro. E' contra esta centralisaçilo desesperançadora que a EVOLUÇÃO ha de clamar s e m p r e . Si conseguir, pelo menos, abalar-lhes o falso pedestal, t^rá prestado um notável serviço e satisfeito a I sua consciência. Elle deve. ser o primeiro a prevenir esta desgraça enorme, e h a de prevenil-n, si não perder o bom senso que até aqui tein manifestado. Entretanto, a n t e s que o homem perca-se n a s nuvens, como um deus, a EVOLCÍJÃO vaeencaral-o do perto, n um rápido relance, porque mais não aspira» e procurar gravar nas suas columnas as feições mais pronunciadamente características do joven aiictor, que acaba de offerecer-lhe o seu sympathico retrato com este r o t u l o : A gente do Mosteiro. * A Gente do Mosteiro é a chronica da academia de S Paulo, no anno de 1S78. O espirito analytico do auctor p e n e t r a n a s e n t r a n h a s de todo o movimento acadêmico, e, n'uns.as 40 paginasinhas m u i t o elegantes e muito bem i m " pressas, percorre toda a historia desse malfadado a n no que. « foi u m eclipse. Melhor d i s s é r a m o s : u m a decepção ». Anno em que « d o r m i a m os t a l e n t o s ; p a reciam ter fugido a s boas disposições. A alma collectiva da mocidade como que se fraccionara. » Silva Jardim começa dizendo o q u e somos nós «o s a n t e l m o onde a p a t r i a fita olhares d e agonia » ; diz o que foram os clubs acadêmicos com seus respectivos j o r n a e s , q u e « e r g u i a m - s e alli,não como quatro atalaias, q u e deviam ser, da Luz, m a s como quatro atalaias da Treva, que e r a m »; falia d a s lettras, lyras e direito e diz o que f o r a m A, Celso, Theopliilo Dias e V. Magalhães, « o s t r e s mais sérios cultores d a lvra acadêmica», diz o que foi o dia 11 de Agosto, « o M a r a t h o n a d a mocidade », d e g e n e r a d o n ' « u m escândalo, n ' u r á descalabro, n ' u m baque doloroso d a s nossas g l o r i a s » , diz o que foi o dia 9 de S e t e m b r o , e m que « a mocidade, repellindo h e r o i c a m e n t e o ataq u e dos esbirros, como q u e ensaiou rehabilitar-se d a s misérias d e 11 de A g o s t o » ; e põe o ponto jinal, a n n u n c i a n d o que « ahi vem u m a epocha nova acabar com a transicção e n t r e a velha e a nova idéa, e n t r e o velho e o novo r e g i m e n » . Satisfeito com e s t a prophecia e com a s e g u r a n ç a de t e r c u m p r i d o u m dever de consciência, • p r o m e t te aos s e u s collegas—A G E N T E DO MOSTEIRO EM 1879. Eis ahi, d e s e n h a d o tão rápido q u a n t o possível, o espirito g e r a l d e s t e livrinho, o primeiro que nos a p parece este a n n o . A Evor.uçX.0 não o a c o m p a n h a r á no largo percurso do seu d e s e n v o l v i m e n t o ; porque criticar a critica Appnrece-nos agora Silva J a r d i m . E' uin moço que. tem muito talento e m u i t o p o u co dinheiro. Por isso é estudioso, trabalhador, persistente e honrado. Por isso, sempre que apparece, appareee b e m . Os idolatras receberam-n'o com meia dúzia d e pedradas, a que elle resistiu, e vai resistindo victoriosamente. T e m dito m u i t a g e n t e , e m u i t a g e n t e boa, que Silva J a r d i m é u m a vocação esplendida para a critica. Afflrmam outros que o nosso auctor ó j á u m critico c o n s u m m a d o . Finalmente o seu mérito real se ha de impôr a todos I temos então o perigo de passar também S. Jardim a ser moldado em barro, iara adoração dos parvos. A E V O L U Ç X C não lhe roubará esses méritos e até o felicita pela lisongeira opinião que delle se faz. Deve ter o critico um golpe de vista seguro e rápido p a r a a p a n h a r a h a r m o n i a na variedade da obra e t r a b a l h o para u m volume maior do que o criticado. * ' I I li d'arte, condensar os differentes elementos que nVlla actuam e tirar esse conjuncto que se chama syfithese. Mas esta macula é de quasi todos ou novos es- I ëriptores acadêmicos. Precisa do gênio indagador e minucioso, que disseca a obra até as entranhas, e, desligando, assim, delia todas as nuanças, classificando-as e agrupando-as, conliecendo-as e comprehendendo-as, obtenha o que se chama—analyse. Manifesta o auctor, neste livro, uma pronunciada sympathia pela descompostura : sympathía que lhe foi de certo, inspirada por Castello Branco, mesmo por Luciano Cordeiro, e principalmente por Silva Pinto, um moço portuguez com tendencias a louco c com pretenções a critico - Si a EVOLUÇÃO reconhece esta ultima qualidade grandemente, naturalmente desenvolvida em Silva Jardim, sente declarar que a primeira llic équasiextranha. A descompus lura fica muito bem em sociedades I gastas, em caracteres decompostos ; não em S. Jardim, | que è uma alma de donzella n'uina cabeca de pensa- 1 dor. E' deste defeito, de não apanhar perfeitamente o todo, que nasce para o auctor outro defeito fatal: deinorar-se extraordinariamente na analyse de certos pontos, gastando palavras, com prejuízo de outros, fazendo, assim, manquejar a obra, por falta de equilibrio. Entretanto, estas faltas, que mais claramente se revelam nas suas obras anteriores, na tíetile do Mosteiro são raras. Prova de que o auctor t e m progredido e dá esperanças. O critico deve ser um sábio, principalmente em matéria d'arte, para poder com segurança apontar os erros, mostrar as suas causas e os seus remedios : e S. Jardim, que é muito moço, não tem nem pode ter metade dessa sabedoria. 0 critico deve ter um padrão, um systhema, u m a escóla á cuja luz affira o mérito, não para condemnar o que não fôr de tal escola, mas para que tenha ordem e metliodo no trabalho e coherencia n a s idéas e opiniões; e este systhema não o possue J a r d i m , e parece que nem t r a t a d'isso, porque é a única coisa em que ainda não fez progresso. Por todas estas razões,e por outras ainda, a EVOnão lhe dará, por ora, o nome de critico, a elle que é, entretanto, um feliz principiante. LUÇÃO * O estylo de Silva Jardim é firme, áspero e energico ; porém, a p a r destas excellentes qualidades, é gongorico em extremo. Este ultimo defeito é tanto mais lastimavel quando vè-se que o auctor força a imaginação e força o tropo, para não dizer as coisas por linhas direitas. A Gente do Mosteiro não teria mais de vinte paginas, isto é, metade das que contem, si lhe tirassem os gongorismos e epithetos e antitheses supérfluos que encerra. Quem j á censurou a m a r g a m e n t e a poesia »cientifica de Teixeira Bastos, como válvula aberta a todas as mediocridades eruditas, não pôde autnrisar, empçegando-a, a licença gongorica, que ó outra valvula... para as mediocridades superficiaes. Comtudo, este g r a n d e defeito diminuo em S. Jardim, e a Gente do Moshiro não é a sua producção mais gongorica, ainda que contenha coisas assim : «... elta (a luz), o empregado• pubUco di republica do lulenlo «... etc., etc. Não se confunda, por amor do bom senso, s lin- 1 guagem desbragada e descosida dos novos portugue- 1 zes com a phrase severamente rude de A. Hercu- ] lano, ou coin o látego ardente da ironia voltaireana. A EVOLUÇÃO não faz uma critica; cumpre um dever. Por isso, não leva mais longe esta serie de pequenas notas. Ella podia, em alguns pontos, discordar também das opiniões emittidas pelo auctor; ! mas j á declarou que não entrava isto no seu plano. Por motivo idêntico, deixa intactos dois pequenos senões grammaticaes que se econtrainno final dapagina 27, querendo antes attribuil-os ao typographo. » Esta quadra nos corre cheia de odiosidades, de parvos ciúmes litterarios, de calumniosa má fé. A EVOLUÇÃO não pisará esse terreno. Dirá sempre parecer verdade. desapaixonadamente o que lhe E, quando, como agora, se tratar d'um to real e proinettedor, será inexorável. talen- Nós não temos critica. Entre os poucos que, de quando em quando, escrevem sobre tal assumpto, Silva Jardim não é de certo dos da ultima fileira. Espirito inquebrável, talento alevantado, grande patriotismo e grande honradez—que também na republica das lettres lia honrados e deshonrados—são qualidades que ninguém justamente lhe negará. A E V O L U Ç Ã O não cede, pois, á lei da praxe, prophetisando para o auctor da Gente d•> Mosteiro, em tempos muito proximos, um dos primeiros, sinão o primeiro lugar, na critica litteraria do paiz. A. B. COLLABORAÇÃO Abrindo esta secção, a EVOLUÇÃO quer unicamente offerecer um campo franco a todas as intelligencias que quizerem aperfeiçoar-se na luta generosa da idèa. Convida, pois, a todos, desde os mais illustrcs até os maie modestos, e a todos offerecc seio amigo e desinteressado. AO iSEgS Está no pino o sol. A calma incandescente Aperta a natureza em fulgidos abraços, Na tórrida mudez desmaia a ffòr pendente E a arvore retorce a rama nos espaços. O miserando escravo, em fúnebres cansaços, Revolve com a enchada a terra n e g r a e q u e n t e . Ca«»-lhe o suor da fronte, e os seus robustos braços, Scintillantes ao sol, descambam l e n t a m e n t e . Súbito, as suas m i o s deixam cahir a e n c h a d a . Ergueu-se a escutar. A fronte requeimada Illuminou-se, então, d e e x t r a n h a magestade .. —Vinha-se aproximando, além, u m som enorme, Como um trovão que aceorda o m a t a g a l q u e d o r m e — E r a m os batalhões d a deusa Liberdade !... VALENTIM MAGALHÃES. S. Paulo, 7 de Abril de 1879. ü futuro da patria i Entre as idéas g r a n d e s e g e n e r o s a s que g e r m i n a m em u m cerebro de moço, q u e pôde a cada passo ser esmagado pelos erros imprevistos de sua mocidade ou glorificado pelo desvello e dedicação nas lutas g i g a n t e a s e expansivas do espirito, avulta l u m i nosamente a idéa da p a t r i a . Concentrado no i n t i m o d a consciência, o moço que chega á idade de vinte a n n o s , idade em que f o r ç o samente tem de 'ieoidir-se por este ou por aquelle s y s t e m a , inclinar-se por u m ou o u t r o p a r t i d o , escolher, entre as i n n u m e r a s bandeiras que d i s p u t a m a vi| toria das idéas, u m a á c u j a s o m b r a se a b r i g u e , desarraigando do espirito as idéas que o a t r o p h i a m pela falsidade do brilho, desligando-se de t o d a s e s t a s impurezas intellectuaes—os preconceitos, o f a n a t i s m o a ignorancia—como a alma, na hora da m o r t e , d a s impurezas c o r p o r a e s ; o moço de vinte a n n o s , idade d» investigações dolorosas para o coração, d e provações s u p r e m a s para a a l m a , s e n t e - s e m a g n e t i c a mente a t t r a h i d o para a p a t r i a . Então não lia pulsar de coração q u e não s e j a p o r ella. Não lia delirar de intelligencia, que não seja para recolher dc seus lábios o primeiro sorriso, de s e u s olhos o primeiro olhar. Que moço, por mais indifferente que seja, ao q u e se passa em t o r n o de si, não terá sentido d e s e n h a r - s e em sua imaginação o vulto cândido e immaculado d a patria 1 Nesta idade, t u d o sonhamos, t u d o t u d o poetisamos idealisainos, Pois quem, nestes sonhos fugazes, idealisações innocentes, neste poetar agradavel de t u d o que vemos, «não terá desejado, sem orgulho, sem vaidade, sem consciência mesmo do que deseja, ser cidadão util á patria ? Que moço h a , q u e baloiçando-se n a s azas da p h a n t a s i a , não terá desejado i n c o n s c i e n t e m e n t e q u e a patria corra i m m i n e n t e perigo c que elle a salve, ou apostrophando u m t r a h i d o r , como Cicero no Senado de R o m a , ou fazendo trovejar c a n h õ e s , que esphacelcm o inimigo, como Napoleão em Toulon ? Todos t e m o s a nossa vaidade i n n o c e n t e de vir a ser g r a n d e s aos olhos da patria. Parn ella convergem t o d a s as aspirações d a s intelligeneias j u v e n i s , que estão s e m p r e a j o e l h a d a s a seus pés, implorando de sua alma a inspiração d o b e m . Que esforços gigantescos não fazem os h o m e n s para s e r v i l - a ! Que l u t a s estereis, q u e i n t e r e s s e s pequenino», q u e paixões loucas, que d e s r e g r a m e n t o s sem n o m e , que ambições n*o s u s t e n t a m os h o m e n s ; a que perigos não se a t i r a m , que i n f a m i a s n ã o c o m m e t t e m , que illegalidades não d e c r e t a m , p a r a servir a patria ! E ella, e n t r e t a n t o , a t u d o s u j e i t a - s s , m a s t u d o despresa no seu c o r a ç ã o ; porque vê c o n t r i s t a d a , a i n d a com as vestes r a s g a d a s d a s l u t a s , q u e com seus proprios filhos s u s t e n t a r a , q u e i n f e l i z m e n t e e s t e s não a c h a r a m a i n d a o meio d e b e m servil-a 1 Ella a todos a l o n g a os braços, e todos lançam-sc nelles s o f f r e g a m e n t e , como filhos s e d e n t o s d e a m o r . Mas u n s , em vez d e e n x u g a r e m - l h e a s l a g r i m a s , q u e como microscópicos e i n n u m e r o s d i a m a n t e s d e s l i z a m p e l a s faces i m m a c u l a d a s , e s b o f e t e a m - l h ' a s e escarram-lhe injurias! O u t r o s c r a v a m - l h e p u n h a e s tão c o r t a n t e s que o m u n d o estremece (Je h o r r o r I E assim a p a t r i a , á mercê d e todos os caprichos dos h o m e n s , vae n a v e g a n d o c a l m a , sem t e m o r , s e m p r e generosa, s e m p r e confiante no f u t u r o , porque vê j á d e s p r e n d e r e m - s e ao longe as d o b r a s desta nuvem n e g r a , que nos abafa o p e n s a m e n t o e c l a r e a r e m lioris o n t e s e s t r a n h o s a a u r o r a d a felicidade s u p r e m a . Ella navega sem t e m o r , porque a náo que a cond u z leva a seu bordo o a m o r , a m a n s i d ã o , a caridade a alegria, a f r a t e r n i d a d e , q u e hão de desembarcal-a nas plagas infinitas d a Liberdade O f u t u r o de n o s s a p a t r i a e s t á ahi. Nós c a m i n h a m o s p a r a a liberdade,e é da conquista d e s t e b e m universal q u e d e p e n d e a conquista de u m a posição honrosa p a r a nós e n t r e as nações civilisadas. O Brasil, desde o dia em que os portuguezes l a n çaram os primeiros g r i l h õ e s nos pulsos de nossos selvagens, grilhões que e s m a g a n d o - l h e s os pulsos, esmaga vain-lhe a ella o p e n s a m e m e n t o e a consciência,desde esse dia o Brazil n u n c a mais viu o rosto da liberdade. A liberdade f u g i u - n o s e, na sua fuga apressada deixou-nos apenas-por legado—desprezo pelo presente e confiança no f u t u r o . Temos, pois, sido a t é aqui u m a nação de escravos, como havemos de provar á luz dos princípios que professamos e acostados á t r i s t e historia politica do nosso paiz. A. L. Typ. da Tribuna Liberal. A EVOLUÇÃO Pericdico redigido peias •lULIü OK C A S T I L H O S ASSIS acadêmicos P E R E I R A Cs ú l t i m o s serão os p r i m . i r o s Na epocha de transição que atravessam as sociedades actuaes, o passado parece exhalar os últimos gpmidos de agoira. A Humanidade nem se aniquila, nem se enfraquece. Açoitada por todas as tempestades, queima la por todos os sóes, naufraga de tudos os m i r e s , roartyr de todas as calamidades,—ella se revigora ao emb »te dos element >s contrários, e surge sempre em um c a m p 0 novo, banhada por uma aurora nova. A Humanidade vem de longe. Os séculos ficam, lhe aos milhares pelo caminho, margeando a larga estradado tempo, como si fossem marcos milliarios de uma rota infinita. Quieta volvesse os olhos para o passado havia d e encontrar um longo estendal de rui nas. Por ali i pas_ sou, em vertiginoso galope, o corcel indomado do centauro que se chama Progresso, esmagando debiixo das patas todas as barreiras, de envolta com todos os déspotas que temerariamente as tentaram erguer. Ou entornando rios de sangue, ou deslisando-s e calma e serena atravez dos t e m p o s , - o que é cert» é que a Humanidade não estaciona e muito menos reti ocede. Ahi está o testemunho inteiro do passado, como argumento irreplicavel. Mas este caminhar athlctico, imponente não se dirige, aos ventos do acaso, para o porto do desconhe. eido. Ha uma lei inevitável que preside-lhe os destinos e aponta-lhe o r u m o ; ha uma lógica que roune os ffcetos; ha outra lógica que lhes presta unidade, tiralhes &s consequências c as apphea. Ligados assim os acontecimentos por uma cadeia inquebrável,—os phenomenos se harmenisam, dirigem-se cm grupo para um fim geral, resultado de todas as tendências particulares, effeito de todas as causas parciaes. Não ha facto posterior que não tenha explicação n u m facto anterior; porque não ha effoito sem causa, porque não ha conclusão sem premissas. C O S T A B B A / J L S . P a u l » , : I » «1« A b r i l d e 1 8 ? » A EVOLUÇÃO 1>A V '£ Tudo se ajusta e se concatena, tudo se harmonisa e se explica na grande progressão humana Todos os acontecimentos historicos são annéis da me*ma corrente, á qual se virão juntar novos acontecimentos, como novos élos. E ' este o único ponto aonde, não chegaram, nem chegarão jamais, as bypotheses gratuitas da metlia_ physica banal. A philosophia da historia entrou no zodiaco dos conhecimentos humanos quasi completamente expurgada do virus d"essa lepra ab »minavel. A' observação philosophica compete, pois, descer na escala da analyse os degraus d essa grande es- j cada e determinar,como conclusão exacta das premis" sas estabelecidas no passado, o ponto eminente para o qual se dirige ella no futuro. A Eroluçáo não gastará palavras e espaço n'um processo já luminosamente realisado por outros. Resumirá as suas observações, limitar-se-á a apontar factos, por cuja verdade offerece o incontestável critério do testemunho historíco. Um facto desde logo fere as vistas de quem sinceramente deitar os olhos para o passado:—a Humanidade tem respirado, tem caminhado, tem luetado sempre, tem sempre vivido por uma única idéa. A sua aspiração, em todos os tempos c em todas as circumstancias, tem sido esta única - Uberlar-se. Libertar-se da contingência da matéria, retardando e> procurando evitar a morte; libertar-se do tédio da vida, da duvida pungente, da desesperança apathica e mortificante, pela fé no sobrenatural, pela crença na vida futura ; liberta r -se da auctoridade, pela revolução e pelas conflagrações sangrentas; libertarse do tempo, do numero e do espaço pelo mystic ismo theogonico, ou pelo nihilisrao pantheista (si estes dois termos se podem combinar); libertar-se, sempre libertar-se:—eis a suprema lueta. Lucta, muitas vezes, quasi sempre, inconscien te, mas incontestável. I Aqu"lles que têm comprehcndido esta fatalida_ de universal têm sido reformadores, têm sido heróes, têm abalado e mudado a face da terra. Por esta idéa luctaram—Moiaés, Bouddlia, Christo, Attils, Maliomet, Luthero, os sublimes 1 nicos I da Revolução Franceza e o cerebro enorme de Comte. I IO A Evolução nfto cita estes nomes ao acaso, como se ha de ver. « * Ha ainda aqui um facto importantíssimo a registr.tr:— toda a idéa nova, toda a nova doutrina que se apresenta com caracter universal, trazida pela força das circumstancias, em uma dada opocha, —tríumpha necessariamente. Moysés não pisa a terra promettida ; mas o I Decálogo, o Pentateuco sSo a inspiração de um D povo inteiro durante mais de dez séculos; Bouddha deixa-se morrer asceticamento nos ra| mos d'uma arvore; mas o Oriente regeita os livros I dos Vedas e o Bouddhismo ganha incontestável preponderância sobre os sacerdotes b rali ma nicos ; Christo morre pregado a uma c r u z ; mas a F é a Esperança e a Charidade, estas trez armas brancas do mais sublime dos combatentes, dirigem os destinos de grande parte do m u n d o ; Attila morre embriagado e louco ; mas dos restos do seu broquel, dos estilhaços da lança de A larico, de Radagazio e de todos aquelles homens ferozes e carniceiros, forma-se o cadiah >, onde mais tarde se vão fundir as nacionalidades modernas; Mahomet interrompe os seus gigantescos planos, surprehendido pela morte; mas o povo muçulmano arroja-se contra o mundo, brandindo a espida da conquista, e, depois das scenas de sangue, inaugura as scenas de paz nos kalifados de Cordova e Bagdad; li I J || Luthcro sucumbe antes das discussões do concilio de Trento; mas a consciência humana fica batendo palmas de alegria,—rotos, emflm, os laçus da escravidão, refreados a devassidão e o escândalo da côrte romana ; A Revolução Franceza é desprestigiada pelo brilho falso da espada conquistadora do bandido Napoleão ; mas a liberdade vence, e, extravasando no solo da França, derrama-se pelo mundo inteiro; Augusto Comte, finalmente, quenào foi nem reformador theologico, nem conquistador, nem innovador de religião, mas que foi tudo isso ao mesmo t e m po,—ainda hontem morria desgraçadamente; m a s venceu, comtudo, porque arrancou o homem aos jogos pueris da metaphysica e apresentou-o em face de si mesmo, no mundo positivo da verdade. * A Evolução podia,desde já, deduzir as consequências que a lógica auctorisa a tirar destes factos; mas antes d isso, fará uma ultima observação. O advento dos grandes homens e das grandos epochas históricas—não é mais do que o resultadi fatal de um» necessidade geralmente sentida, como é lacil de verificar O progresso tem intermittencias, mas não tem souçõea de continuidade. Os homens são grandes, somente quando a força dos acontecimentos os faz toes. Ora, estes acontecimentos, como já fleou dito « 9 como ninguém nega hoje, succedem-g». fatalmen- I te, pela força do que se chama evolução histórica. Mas esta força, que é uma lei e que se manifesta pelo desdobramento ascendente das civili «ações, não pode de maneira alguma ser arbitraria e anaichiea, ella que faz a constante c assombrosa harmonia das coisas. Nas grandes epochas históricas, na successão do» 1 grandes acontecimentos historicos, ha, pois, neces- I sariamente, um movimento harmônico e ineon- i trastavel, que a observação pôde recolher e applicar ao futuro. Para não ir mais longe, a Evolução vae encarar esses mesmos factos que ahi ficaram expostos. O que nelles chama primeiro a attenção é a differença das datas. Dos primeiros ensaios de reforma religiosa e so- J ciai, sem fallar em Manou e na longa serie de religiões orientaes — das duas reformas mais significativas de Moysés e Bouddha, decorrem—termo médio—até Christo,—14 séculos ; A contar de Christo e das correrias de Attila e Mahomet a t é a reforma de Luthero, ha—termo médio—12 séculos ; Eutre Luthero e a Revolução Franceza contam-se 3 séculos; E n t r e a Revolução Franceza e os progressos magestosos dos nossos tempos, que parecem destinados a assistir & grande liquidação social,—medeia menos de um século. Não vem fóra de propósito a eloquencia consoladora destes algarismos. E' digna sem duvida de notar-se a acceleração prodigiosa com que os grandes acontecimentos historicos se produzem. E' que, à medida que as sociedades se vão desprendendo do elemento do passado, se vão tornando também mais aptas para receber o Progresso. Quando es«e elemento tiver de todo desapparecido e as sociedades só se guiarem pelas inspirações do presente e pelas previsões seguras do futuro,—lerão ellas entrado na sua marcha normal. Será chegado o regimen da paz e do progredir harmonico e natural. Paremos aqui. Depois das premissas que ahi ficam, a Evolução esta habilitada para tirar as seguintes conclusões : a) A única idéa fixa, a idéa primordial da Humanidade tem sido e ha de ser sempre—a liberdade. Como o sol, que fecunda, produz, anima e conserva, por meio do calor e da luz de sens raios, a vida de todo o syslema, —assim esta idéi-iuiter lança milhares d'outras idéas, q ( ie não são, entretanto, mais do que raios seus. Assim tainbem a arvore enterra milhares de raízes no solo, esgalha milhares de ramos no ar, e, entretanto, todas as raízes e todos os ramos não são mais do que braços abertos do mesmo tronco. ai b) Pela conquista da liberdade, sub varias fôrmas e em ti>dos os tempos, n Humanidade tem se atirado de b.itilha em batalha, sendo sempre vencedora, na medida de siris aspirações. c) Os períodos de transfornnç&n progressiva snccedem-se no tempo em progressão acceleradamente crescente. A vida do passado está, pois, por momentos. Os negros castellos edificados nas trevas e que ainda se conservam, como espantalho do presente, começam, com e f f e i t a ruir, pedra pnr pedra. Os humildes de hontem que levantem-se do pó da miséria e venham tomar o seu lugar de honra na grande família humnna. Si a historia não mente, si a philosophia não é falsa» si a lógica tem alguma força, necessariamente está próxima & Victoria definitiva da liberdade. Jesus Christo nào costumava mentir :—Os últimos serão os primeiros. 'A. B. A Reacção appareceu, ha dias. Seu rodactor chefe, Briano Dauntre, no artigo inicial declara que o programma daquelle jornal, altamente catholico, é o da Egreja, seu pavilhão^a cruz. Isto posto, combaterá com todas as forças contra estos d j u s monstros : o liberalismo anti-calhohco e a revolução. Em outro artigo, poré n, sob a epígraphe--/! imprensa catholica—Briano mostra-se fraquíssimo diante d'aqurlles m°smos m nitro . Comprehende-se que o articulista, sob o império das novas idéas, acha-se completa nente sem vigor, e, procurando apparentar o contrario, enuncia proposições que são a condemnaçâo eloquente da causa que defende. Assim diz : —«Confessemos com magna que as folhas eivadas do virus rovolucionario são entre nós mais lidas e mais vulgarizadas ; neguemos todo o subHdio á imprensa, que u l t r a j a n d o as leis divinas, insulta a moral e a Fé.» Ora, declarar que seus adversarias vão t r i u m ph-tndo no terreno das idéas, porque seus livros, seus jornaes são mais lidos, mais vulgarisados, e depois fallar em subsidio, é o me9mo que dizer: «a causa que defendemos ó má.e, j á que não podemos vencer pela força da lógica,pela forçados argumentos, lancemos mão d'outros recursos.» Traz ainda a Reacção : Abolição do juramento por F. Júnior, 9 de Setembro p>r L. A ..O republicano acadêmico por Demócrito, Chronica e Folhetim. Jornal de combate, sustentando princípios errôneos, mas d e c d i J o e franco, a Reacção occupa por Í S Í O u m a posição digna de louvor. A Evolução saúda-a. P. C. Ü Socialismo A Ennliiçâ» pensa conhecer Hufftcienfmente o estado da mentalidade brasileira para entender que já soou a hora de apostolar n'este paiz a verdade sor ciologica que o Socialismo representa. A' Democracia pertencem as agitações que se estão operando no seio da sociedade brasileira. Para seu definitivo triumpho congregam-se todos os impuWos da épocha que corre; a ella tendem irresistivelmente, sem qu°. diss > se apercebam, todos os espíritos, quer encaminliando-se direct imente, quer trabalhando para desvial-a, contrariando-a, combatendo-a. A recrudescencia destes fortifica a tenacidade d'aquelles E' cedo ainda para a propaganda socialista. E' logico : — antes da reorganisaeão social, que é o Socialismo, a reorganisaçío politica, que é a Demo. cracia ; antes da conclusão — a premissa que a contém Todos os esforços actuaes, pois, devem ser ern_ penhados em prol da Democracia — vitalisando-ss na Republica, que é o tronco gigante ; os rebentos b r o t a d o fatalmente mais tarde. E é assim o progresso : é esse encadeamento preciso, logico, mathematico dos acontecimentos, que se vão succedendo, prendendo-se uns aos outros c omo termos luminosos d'uma mesma série infinita. A Historia não é outra coisa sinão o desinvolvimento, no mundo moral, da grande lei que, governando mysteriosamente a humanidade, fal-a escalar passo a passo a grande e íngreme montanha da Perfectibilidade. A Historia é a Evo'uçâo. S i é as-im, si está suficientemente comprovada e claramente verificada a fatalidade do movimento sempre ascendente das sociedades, é certo que o Socialismo ha de vir infalivelmente, mais tarde ou mais c 'do, impondo-se-nos com a força, com a irresistibilidade proprias dos princípios que, ganhando a consciência publica, tendem a vitalisarem-se no terreno positivo dos factos. A Evolução julga, portanto, util.acostumarem-se desde j á os espiritos a encarar de frente esse temeroso problema. Ella vae encarai-o muito syntheticamente, e unicamente sob o ponto de vista philosopliico, porqne sob o economico h a necessidade de indagações mais de-" talhadas. Os homens são iguaes. A creação da natureza não foi destinada á felicidade e suprem") bem-estar de alguns,e á desgraça eterna de outros,de modo q ue agrupando-se em lados óppostos, vivessem—uns envoltos nos faustos njagnificos da oppulencia,e no moio da ebriedade dos prazeres, e—outros soffressem a acção envenenadora e mortificante da miséria. Não. Os homens são essencialmente iguaes, pois 1« que, rui linguagem de O. Martins, «a Força, a Materia, a Organisnçüo que os forma sfio idênticos ; diversificam apenas os aepectos, os phenomenon que e*<a força, essa materia, essa organ Maçiio apresentam, sendo a igualdade a norma, a lei, e a desigualdade o accidente ». Mas este grande principio, que j á conquistou palmo a palmo o terreno formal das especulações da Razão, ainda n i o recebeu a sua consagração completa e inteira no terreno da consummaçfto dos factos. Só tein-na recebido em parte, un-camente sob o ponto de vista politico, e i-so mesmo com maior ou menor imperfeição, com maior ou menor acanhamento. Ahi está para prova, cobrindo a face da Europa, a sombra sinistra da Miséria na abj-cçSò, a turba enorme do Proletariado, debatendo-se nas va«cas da mais terrível das agonias ; e ameaçando convulcionar tragicamente a sociedade europía, ei continuar a persistência em contrariar a corrente revolucionaria que agita a alma encandecida dessa grande multi Ião, que nada mais quer do que conquistar os seus direito! extorquidos Um olhar sinceramente observador, lançado sobre as sociedades ccntrmporancas, verificará que ainda reina um grande, um immenso desequilíbrio nas posições sociaes, e que, contrastando com a opulência de alguns privilegiados, levanta-se sinistro o espectro da Fome e da Desgraça. Fundado n' aquelle grande principio, observando calmamente os acontecimentos da vida positiva,apparece o Socialismo, combatendo, para acabal-o, esse desolador estado de coisas, que, fazendo descer o h o mem abaixo de sua natureza, lança a pcrturbaçfio n o seio das sociedades, produzindo a sua completa des- A Evolução acompanha oi^ocAnlismo moderno, o Socialismo que «e agita boje na Europa, não ao de Saint-Simon, de Fourier, etc. Mas, de que modo? Que falle elle pela voz de um doa seus moderno* Apostolo« : • Fazendo c «m que, esgotados os ídhw* historiens, e favorecendo a s doutrina» dominante« ( naturalismo scnsualista, individualista na politica) odesinvolvimento das tendências anima«« do homem á custa de suas faculdades superiores e moraes, a pmducçw e o consumo ou o trabalho e seu pr..duelo não sejam o fim para qu*6 se vive, m a s o mudo pelo qual se mantém a existencia, fazendo com que op->rgiltiy não usurpe o lugar do para que ; afim do fazer cessar o estado, em que, abandonado o Ideal das grandes coisas do nosso espirito que são o objecto Ra neto da nossa vida, o rico, na sua febre de mais uccuwul-ir, só busca enthesourar á custa d o pobre que, lançado nos horrores da necessidade implacavel, só tem um ideal : sahir d'esse estado para poder s u s t e n t a r a existência. Protegendo o homem esbulhado dos seus direitos. não com a Justiça distributiva, não com a charidade que.alem de i m p o t e n t e , é perversa p e r a n t e o problema da miséria, s >cialmente considerado ; m a s com o Direito h u m a n o , com a J u s t i ç a c q m m u t a t i v a , com o Estudo real, o r g a m da J u s t i ç a . Legitimando a propriedade, legitimação que consiste em tornai-a accessivel a todos, para que se não accuse de i n j u s t a a diatribuiçl« dog bons,«m assentai-a sobre a base única d » trabalho, p a r a q u e si não a c c u . se de roubo a propriedade ; pois, para o Socialismo, e l l a nS" é mais do que trabalho effectuad'.». d-t que actividade concreta, d » q u e trasf >rmaçã-i d a matéria Dand », porfemt"», a» t r a b a l h o u m a j u s t a c p e r f e i t a organisaçã », d e m- do que elle n u n c a faite, c o n s t i t u i n d o para o individuo um incontestável direito. • organisação.-apparece como um protesto energico contra as classes conservadoras de instituições que não correspondem, que não podem mais corresponder ao estado de progresso moral dos povos, instituições que j á satisfizeram o seu fim n a Historia, e q u e d e - , vem cahir -por anachronicas e imprestáveis. Apparece, emfim, afirmando que a Igualdade é a base d a Liberdade, e que os povos que quizerem viver tranquillos á sombra da Paz, devem tornai a real, porque só a sua consagração fará cessara luta p e r m a n e n t e , continua dos interesses sociaes. O Socialismo nito pôde, portanto ser eombatido pela sua origem, que 6 a mais legitima Mas quererá elle demolir tudo, nppor-se ás tendências irresistíveis, porque instinetivas, do h o m e m , que o levam a procurar apropriar-se dos objectos externos em satisfação ás necessidades do seu ser ? Não. Elle quer a r e f o r m a d a actual organisação social, quer collocar n u m a perfeita h a r m o n i a , n u m justo accordo, o^modo de ser social com o modo de ser. das consciências, que não estacionam no caminho do Progresso. De que modo? , If r i g a - s e a verdade d e s a s s o m b r a d a m e n t e , sem recear d e s p e r t a r as susceptibilidades d a s crenças myop e s : o Socialismo, como é propagado modemame-nte, é o echo do grandioso Verbo que ha 10 séculos se erg u e u no m u n d o , d e r r a m a n d o por toda a Historia torr e n t e s caudalosas de Luz. Sim; desprenda-se o C h r i s t i a n i s m o d o elemento religioso que acanha -o e d eslust ra-o ,po r p r e ponde ran~ te que é ; á t t e n t e - s e o meio social acanhadíssimo em -que se agitou o cerebro e n o r m e do g r a n d e Reformador Social; penetre-se, despido de preconceitos e d e pueris prevenções, a essencia i n t i m a d o p e n s a m e n t o christão >-e os espíritos s ã o s , c a l m o s e reflectidos, o» que procuram o conhecimento da verdade, esclarecidos peloalampadario d a imparcialide e da fria Razão, convencer-se-hão de que o Socialismo c o n s a g r a r se á sustentação dos princípios do g r a n d e Philosopho. Que período novo era necessário a b r i r para shcceder ao período da sociedade R o m a n a ? Em frente da g r a n d e lei historiem, qual foi a missão de Christo ? O A Evolução, repetindo o que alii anda nas consciências esclarecidas, responde deste modo: — Operar a renovação interna, radical do honiem, I para tornal-o apto para receber as luzes da nova civilisaçfio, c, como do principio emana logicamente a consequência, dessa renovação interior,radical devia provir infallivelmente a da sua vida politica e socialMas, soffrendo accentuadamcnte os influxos da époclia em que viveu, não podendo, apezar da lumino. sa intnição do seu gênio,— o primeiro que tem produ! zido a Humanidad e, libertar-se completamente dos vicios que cobriam a socicdadc sua contemporânea, sua doutrina resente-sc demais da preponderância do elemento religioso, ficando o sociológico completamente embrionário, o que tem concorrido para que tenha produzido apenas a metade dos seus fruetos. 0 Christianismo proclama a igualdade completa dos homens ; o ideal do Socialismo consiste em rcalisal-a na sociedade. Aquellc préga eloquentemente a fraternidade h u m a n a ; este trabalha para q u e , e x t i n ctas as causas das dissenções e lutas permanentes entre os homens', ellcs vivam como n ' u m a só família, t endo os mesmos interesses, e, unidos pelos vínculos da mais perfeita solidariedade caminhem harmonicamente para os mesmos fins A theoria do Socialismo è a theoria do Christiamo, desinvolvfda c ampliada. . 1 Nfio sabem que a Locomotiva ingente da Idéa, I lançada em vertiginosa carreira pelos trilhou inter- | miiios do Progresso, vai violentamente bater de en- 1 contro aos rochedos que se erguem sombrios no ca- | minlio, c, com a força que a governa, arraza-os, pat- I tiudo-os de meio a meio t J. C. No álbum d"um poeta lyrico Rompe o sol nos confins do plácido Oriente. Do céu azul rasgando a límpida cortina, A rósea luz cortante esbate na retina, Bem como d u m a lança a folha reluzente. n Começa o movimento. O obreiro persistente Nas entranhas da Terra escava a grande mina. O rnartello, na forja, em musica divina, Solta aos ares, batendo, o cântico estridente. L e v a n t e m - s e , m u i t o embora, sinistros c pavoro. sos, os cadafalsos. A elles r e s p o n d e r á a repercussão e l e c t r i c a d a voz dosApost"los da g r a n d e causa—na consciência publica Um Hoedel q u e cahe r e t e m p è r a a tenacidade das cerradas p h a l a n g e s . Loucos | I n s e n s a t o s os que q u e r e m deter a torr e n t e do P e n s a m e n t o . f Sob um braço nervoso agita-se uma enxada. O arado rompe a Terra, a grande mãe. Do nada A vida surge, então, n a esplendida harmonia. E, entre o canto do obreiro e o cântico das aves, Ondula, tremulando, em Ímpetos suaves, A bençam maternal da grande POESIA. A Evolução s e n t e não poder espraiar-se em considerações em ordem a deixar mais bem f u n d a m e n t a dos os seus conceitos. A Evolução repete : o curso incomprehensivel das idéas, não o detem barreira a l g u m a , o Socialismo, p o r t a n t o , lia d e v i r . Os factos estão p e r s i s t e n t e m e n t e a p r o c l a m a r essa verdade. E á A lie m a n h a , a g r a n d e , a i m m o r t a l Aliemanha, a naçffo onde p r i m e i r o se illuminou a consciência hu_ m a n a aos r e v e r b í r o s do sol d a palavra dc Martinho Lutliero, a nação que illimitou o campo do p e n s a m e n to h u m a n o ao m e s m o t e m p o que a Historia recolhia para estrellar o seu firmamento,—o n o m e de G u t t c m " b e r g , a nação que tem sido a i n a u g u r a d o r a dos g r a n " des períodos historicos, que são como os degráos d u m a escada i n f i n i t a , por o n d e o Espirito H u m a n o vai, n u m a ascendencia l u m i n o s a , se e n g r a n d e c e n d o e se aperfeiçoando no espaço e no t e m p o , á A l l e m a n h a t parece, em d e s e m p e n h o do seu d e s t i n o histórico, está reservada a gloria a s s o m b r o s a de t r a n s p o r t a r o Sócia lismo do l í m p i d o céu do Ideal á t e r r a aspera d a r e a lidade. ü ASSIS | BRA/.IL. Povos e governos O l-ovo I A Evolução vai demonstrar, lançando mão dos mingoados recursos que possue, como o povo tomou as veredas da liberdade e tem gradativamente con quistado os direitos que lhe havia extorquido a omni~ potencia das velhas tyrannias. Isto j á tem sido luminosamente desenvolvido^ m a s a Evoluam julga de seu dever repetir imperfeita e rapidamente a demonstração desta verdade. A imagem do passado pôde de alguma fôrma retemperar os espíritos que se entibiam e vacillam sob uin m u n d o de duvidas e de incertezas cruéis. Vacillam, quando no céo se atropellam nuvens agoureiras e não muito longe talvez estão as arestas do abysmo. Fortaleçamo-nos, pois, m u t u a m e n t e em quanto é tempo : os m o m e n t o s são decisivos. Espanquc-sc a t r e v a ; que irrompa a luz por toda a parte. « E áquelles q e pensam que a civilisação pôde m u d a r de r u m o , provemos pelo passado que é inevitável a lei do progresso," e q u e procurar reter o curso das idéas, é tão temerário como inclinar-se á bocca de um vulcão. O que era o povo na antiguidade ? O que hoje se chama povo, na antiguidade, constituía a classe dos escravos, um bando de creaI furas mais ou menos livres, mais ou menos opI pressas. Miserável, sem liberdade, sem instrucçlo, porí que então a riqueza, a liberdade, a iostrucção erão | privilégios de poucos, muito poucos,—o povo, assim jj acorrentado, construía palacios imm"nsis, pyrami;f des colossaes, e derramava o sangue nos campos de l| batalha, para gloria e immortalidade dos reis. Assim é que o illustre escriptor Ernst diz : «A j antiguidade desprezava o povo: desde Xenophonte e I Aristóteles até Catão e Cicero, o povo não era mais 9 do que um amalgama de creaturas miseráveis*. A Evolução considerará o povo era Roma, porque I 'oi alli que mais decididamente manilestou-se. A sociedade romana, como todas as sociedades 9 antigas, dividia-se em duas classes—patrícios eple_ I beus, nobreza e povo. salvo as denomínaçõas que variavão, sem alterar o fundo. Diz eloquentemente Lamennais : «Na cidade roI mana os patrícios tinham-s? apoderado do sacerdocio, dos ritos religiosos, dos augures, dos c a r g j s públicos, da maior parte dos bens, e despojavam ainda o povo pela violência, a frau le, a usura, do pouco que podia adquirir ou conservar. Elles só gozavam dos direitos inherentes á natureza humana. O plebeu não tinha nome, porque não era,na realidade u na pessoa, mas sim um escravo, um instrumento de producção, e, no tumpo de guerra, uma machina de combate.» Para quebrar as cadeias que a prendiam a este estado degradante, a plebs fez esforços homéricos, e, não poucas vezes,sentiram-se fortes lampejos de liberdade. Mas, cousa s i n g u l a r ! seus triuraphos foram sempre ephemeros; cabido que fosse o despotismo, de uma fôrma ou de outra, levantava-se alli, como Anthêo, mais forte ainda. E qual a razão d isto ? que parecem ainda cercados por uma chu «ma de pobres, dos pobres á cuja causa sacrificastes a vida? Depois destas lutas civis e outras de menor importância para a liberdade, tudo se ia em Roma como que preparando para tremendas revoluções. A corrupção, como uma onda imm«*nsa, levantava-se cada vez mais alto e ameaçava submergir a cidade rainha. A devassidão, o luxo, a magnificência, entram sinistramente em scena. Os banhos aromáticos, as grandes cortezãs, os banquetes, as orgias apparccem. E a tudo isto o povo soffria, morrendo de fome, sob o peso da tyrannia impudente. Cezar, pretendendo ser um protector, foi abertamente um tyranno. As cousas estavão n'este pé,quando escalou os degráos do throno, pisando por cima de um montão de cadaveres, o infame co-raptor Augusto. O Filho adoptivo de Cezar absorve em si de novo todo o poder, não de pê, como fazem os déspotas herdes. mas rastejando pelo chão como u m a serpente. E depois de manietados assim os pulsos de todos os cidadão», depois de ter agrilhoado, emfim. a n a ção ao suppedaneo de seu throno sangrento, s n guro de que podia viver tranquillo no meio de seus escra vos, brada satisfeito insultando o mundo subjugado : Paz! Não, covarde assassino do divino Cicero, Paz l Esta palavra radiosa que symbolisa cousas santas e boas, não pôde ser d i t a por ti. A Paz, a g r a n d e Paz que fratsrnisará inteiramente o mundo, «nío sorrirá das alturas faustosas do P a . latino, nem do limiar do templo fechado d e J a n o , mas d e u m a pobre choupana». E foi assim, quando o espectro de Caim surgia por toda a parte, que das bandas do Oriente, lá pelo céo da Galliléa, u m a nuvem cor de rosa despontava nas f r a n j a s do horisonte, e levantava-se e levantava-se cada vez mais ; em q u a n t o que a figura docemente pallida do Christo apparecia n a t e r r a entre os homens. Vai começar para a h u m a n i d a d e u m a nova éra, Inspiração divina, ura gênio assombroso vai proclam a r a fraternidade, a igualdade entre os homens e Foi assim que os Gracchos, aquelles eloquenpreparar o reinado da verdade, da virtude e da justiçatíssimos Gracchos. ao clarão que se lhes irradiava da J á apresta-se pela elevação, pela sublimidade dos palavra, não puderam desmascarar a infamia de seus princípios o g r a n d e exercito,—uns humildes pescadoaggressores; não puderam, hypothecando os m a i s res—,que vai s u b j u g a r o m u n d o pela fraternidade, pelo sublimes esforços, quebrar de um jacto os g u a n t e s amor. de ferro que arrochavam os pulsos de seus irmãos. Oh 1 q u a n d o pensariam aquelles s a n t o s e h u m i E pereceram : — um, covardemente atraiçoado, cái lissim is trabalhadores, que eram a bondade, a mansimorto nos braços da gloria, t ã j im maculado como a s dão encarnada, que, em seu nome e no de seu Divino azas de um archanjo; o outro, calumniado, perseMestrè, se haviam de erguer patíbulos, accender foguido, é obrigado a fugir e faz-se matar nos a r r a n gueiras, e que, —appellidados os verdadeiros succescos do mais santo desespero. sores do Rederaptor dos povos,—se havia de s e n t a r Irapollutos cidadãos, que fostes a incarnação em dourados thronos u m a serie de reis, donde e s t e n viva da severa justiça I quem não abrirá expontaneaderiam os pés, talvez de bandidos, para serem beijados raente no coração um templo de amor, um sacrario pela multidão incauta dos crentes ? para recolher-vos os noines com uma chuva de í O doce filho de Maria, depois de illuminar aquelbênçãos? les que deviam ser seus continuadores, morre contenQuem não se deterá contemplando com o mais te nos braços de u m a cruz. sagrado respeito, levantados no declive da grande A s u s sublime d o u t r i n a vai descer agora das c u montanha do passado, os vossos vultos sobranceiros, miadas do pensamento para o torvelinho, para as agiA falta de comprehensão, a falta de l u z e s ; t u d o estava monopolisado. IS tacões da vida. Os seus discípulos espalham-se por toda a parte, levando eomsigo o bem, a verdade, a ]UZ. <41 £ a tudo isto, emquanto se ia desbravando pelo heroísmo, pelo martyrio, a rota da liberdade, em Roma tripudiava satanicamente a saturnal: multiplicavamse os crimes. Os Cezares mandavam matar o povo nos amphiteatros, por divertimento. Os nobres, os ricos, os poderosos cahiam embriagados no collo das mulheres devassas, nos banquetes esplendidos e nas estrondosas orgias. E assim a Roma prostituída, cancerosa j a z por mui| to tempo em leito mo rtuario. Já tudo era perdido finalmente. O corpo social estava em grande parte corrompido, podre; carecia de um grande, de um enorme abalo, para aiquiiir nova pujança, novo vigor. Ouviu-se, então, porque isto é fatal, no meio de alegrias tresloucadas, inpudicas, um rumor des compassado, como o d e uma tropa de demonios: —Eram os barbaros, uns homens sãos, fortes, vigorosos, que vinham em auxilio do christianismo, que vinham em auxilio da grande revolução que se estava operando no mundo. O povo, o miserável proletário, que viveu por tantos séculos na escuridão, vai levantar-se agora cora a cabeça banhada de luz, e, forte, pujante, ha de travar uma luta desesperada, uma luta de roorte com os potentados da terra. Os princípios cabidos dos lábios do Christo — sementes fecundas, medrarão necessariamente nosarraiaes do futuro, e hão de abrir fendas mesmo no peito dos rochedos. P. C. COLLABORACÃO Poder constituinte i A tendência manifesta da sociabilidade, impressa na humanidade leva-a presurosa a abandonar o estado precário de isolamento que envilece, aniquila e posterga os sentimentos que constituem um dos mais bellos apanagios da natureza humana - os de múltiplos e mutuos auxílios para a realisação to t i l e parcial dos fins racionaes;—une-a pela agglomeração de todos os seus elementos de força e, destruindo todas as barreiras que se lhe antolhão,fal-a seguir com inteiro desassombro no caminho do Progresso. Resentc-se essa lei,que rege os destinos sociaes, das manifestações que expontaneas, irrompem do seio nacional, fortalecidas pela luz da razão esclarecida do« povos. E' a força cega do instincto que expande-se e a concentração dessa força pelas lições da experiencia, pelo facho da sciencia. Assim marchão as sociedades desde sua origem. Ficão, portanto, de lado o producto do trabalho da imaginação-incandescente de J. J . Rousseau, a força instinctiva e constante, eternisando-se pelo costume no pensar dos historie is, a ficção hostil de Hobbes e a imposição do ascetismo theologico As sociedades crescem, avultam e desenvolvera- I se,isto é, illuminlo-se; e a concurrencia e os comrnet- I ti mentos da iniciativa individual,— escopro com que se 1 abre larga passagem no mármore do tempo para os II lados do Porvir, o esclarecimento das inteligências e n a consciência dos direitos, trazem como consequência a emancipação da tutella dos privilegiados. E rege ner&o-se os Povos p >la Liberdade e conquistâo o Futuro pela Democracia. O tempo muda,transforma, remoça os costumes e; | altera as condições peculiares d'uma sociedade e ij d'ahi o surgirem novos factos, exigencias de nova» formas e, portanto, outras necessidades que, urgentemente, devem ser attendidas. Criminoso verdadeiramente seria estacionar urna sociedade pela sua legislação e muito principalmente pela lei fundamental do Estado, quando esta é a expressão da vontade nacional e, por isso mesmo, deve reflectir seu adiantamento e illustração. Conhecer da illustração d'um povo, de sua moralidade é quasi determinar sua forma de governo, sua Constituição, suas leis. E' axioma politico já. Mas qual o meio de alterar-se ou reformar-se uma lei fundamental? Ha princípios permanentes, immutaveis quanto ao meio pratico de realisar essas reformas em Direito Publico ? * E' a questão de que vamos nos occupar; resolveia-hemos em frente da nossa Constituição. E' questão da épocha. ! y 1 I • Como teremos occasião de notar,variada tem sido a J solução, dada, quanto ao processo pratico, da questão que nos occupa, pelo Direito Publico dos p.»vos cultos; nem mesmo ha princípios fixos e permanentes; porque, fundando-se a sciencia politica nos factos e soffrendo o influxo do tempo, acompanhão suas instituições as evoluções nccessarias e lógicas do sempre ascendente desenvolvimento social. O Direito, fundando-se na natureza humana,é log 0 conhecido expontaneamente; mas não é bastinte o conhecimento, faz-se necessaria a garantia e o estabelecimento de meios de garantil-o; porquanto, praticamente fallando, o Direito sem garantia não é Direito. Neste intuito.agglomerão-se os indivíduos,organisam um corpo politico, torna-se este independente c autonómico.—E' o Est-ido. Este representa uma idéa de Direito, de moralidade, e não uma agglomersçã» material; porque o qne o constitue é a organisação, como se exprime Rossi. (1) O Estado é a p-ssoalidade moral abstracta, qu e phot»grapha a sociedade. (2) Formada a<sim a sociedade,temos o que se chama constituir— declarar direitos e garantil-os, sejão expressas ou tacitas as Constituições. Na mais ampla generalidade toda sociedade tem sua Constituição. A' soberania nacional,é claro,compete.de pleno di(1) Russi Droit Constitut : onel. (2) • iorr-Nnureau Dn.it /nlertiationel,pag. 119, not tade Pradier-Foderé. ri 1« reito. promulgar, alterar, e reformar sua Constituição. O Estado <?. o eu dessa soberania o os poderes suas faculdades, na phr.ise do Schutzemberg (3). Nenhuma reforma possível podo haver nos preceitos primários d'uma M fundamental sem ser filha da vontade do povo. Não ha imposição licita; seria,ao contrario, negar o poder soberano a quem pertence de direito, li o soberano impõe-se, não sujeita-se a impo sições. E' essência da soberania ser absoluta, e portanto inalienavel e imprescriptivcl. A dualidade seria a confusão, ocahos. O poder ao qual a soberania confia esfa alta missão, o Constituinte, distingue-se profundamente do legÍ3 lativo ordinário, como profundamente distingue-se a cousa creada do creador; ó um poder tui generi», q u e vem traduzir em formulas os sentimentos e aspirações nacionaes. A sua independência da intervenção dos outros poderes é também manifesta. Mas ha uma dístiacoã > a fazer: ou o poder consti tuinte è organisador, e, neste caso, independe dc outro qualquer, porque não existem ainda outros; ou é reformador, tem a missão de alterar certos preceitos, o ainda independe de intervenção cxtranha, porque 6 delegado do soberano competente para estas alterar çõesou reformas—o povo. Aos representantes da nação,nos paizes onde existe um poder especial para reformas cons ituci mães (4), incumbe indicar a matéria reformavcl, a necessidade r eclamada pela nação, como seus org.ios legítimos. A satisfação da necessidade, a forma, os meios, competem exclusivamente ao poder constituinte legitimamente auctorísado. A doutrina contraria seria o poder ordinário d e terminando a matéria e estabelecendo a forma,isto é - fazendo a reforma, unificando-se com o constituinte e, portanto, tirando-lhe a razão de ser, aniquilando e nullificando-o, quando são distinetas suas raias e at_ tribuições. (5) E constituinte para constituir o que está constituído? constituinte para reformar o que está reformado? • E' vão, ê inútil, é ocioso. Dizíamos ha pouco : nos paizes onde ha este poder especial para taes reformas; porque o meio pratico d e realizal-as por um p-idér constituinte não é um p r i n . cipio assentado em Direito Publico. E publicistas o condemnào. (6) Na Inglaterra, na Republica do U r u - I - 1le. I guay, Bolívia, Perú e Chile, faz-se a reforma p-la gislatura o rd inaria ; nos Estados-Unídos daColumbia 6 o senado competente. (7) Nos Rstados-Unidos é encarregada da reforma uma convenção (8), art. 5 ; nos Paizes Baixos teria este poder a legislatura ordinaria, mas novament-; eleita, arts. 136—lí)9 (9); e, para não citar mais, no Cantão de Genebra são as reformas feitas por uma constituin" te, art. 153. Varia,portanto,o modo de realizar as ref •rinas constitucionais com o Direito Publico dos povos cultos, Em regra, são feitas as reformas pelas legislo t ura» ordinarias,--o que não quer dizer que não seja distíncta a sua missão quando promulga leis ordinarias duque tem quan lo funceiona como constituinte;—e uma vez proposto e approvado o projecto de reforma eonsi l c r a se a câmara dissolvi la e a novamente eWta se encurre. a de r e a l i z ü a , tendo para isso podares' Const. da Bélgica art. 131 ,e Const. dos Paizes Baixos 197. Isto,porém, não se dá entre nós, porquanto espera-se esgotar o praso d i legislatura em que se propoz a reforma Const. art. 176, e só pófle ser a Camara dissolvida pomotivos de salvação p;iblica, art. 101 § 3 o . Na Inglaterra.como é sabido,tem-se em alta consideração o elemento historico; a transformação das instituições faz-se p°la acção lenta do tempo, formando essa jurisprudência costumeira, j á tão preconisada pelos romanos, (lo) Domina ali o methodo experimental em contraposição, ao racional usado cm França, fl I; Em vista das considerações feitas firmamos nossas proposições: o constituinte tem um caracter todo seu é o r g a n i s a d o r ; o legislativo ordi isrio determina a m a t é r i a ; a forma compete ao poder legitimamente autorisado, seja o constituinte ou o legislativo com poderes constituintes. E que pela nossa Constituição o poder constituinte reveste-se dos característicos assignsfl i d o s ; que d i s tingue-se e independe do legislativo ordinário no e x c r . cicio de suas funeções; que é incompatível com q u a l quer imposição d e outros poderes a não ser a da d e t e r ' mi nação da matéria que deve ser a l t rad i,—proval-'«-hem is pela analyse da questão tão l o n g a m e n t e discutida entre nós, actualmente: si deve, pela Const concorrer o senado para a reforma constitucional, ou si só os delegados especiaes da nação. Na camara temporaria, como na vietalicía,diversas e encontradas tem sido as opiniões. Ü. RESENDE. ( 3 ) LES LOIS DE L*ORDHE SOCIAL. (4) E' só constitucional o que diz respeito aos limites e attríbuições respectivas dos poderes políticos, e aos direitos políticos e indíviduaes dos cidadãos : tudo o que não é constitucional pode ser alterado, sem as formalidades referidas, pelas legislaturas ordinarias. Const 118 —Este artigo é a transplantação d"um p r e ceito theoricii para a pratica. ( 5 ) HELLO-DU fi) Edouard TIONELLE6. RÉOIME Laboulaye CONSTITUOION KL p a g . — QUESTIONS 240 CONSTITU- O) Obr cit. (8) LAFERRIERE ET BATBIK. CONSTITUITIONS D'1ÍU. ROPE E T D'AMERIQUE. (9) Idem, idem. flO; Inst lio. l.° Tit. 2.®§9; Dig. liv. I.» til. 3 frg 32. Coi. lio. 8.° lit 03. C. 9.*e muitas outras disposições do Direito Romano. (11) H E L L O - D U REGIME CONSTITUCIONKL. Typ. da Tribuna Liberal. A EVOLUÇÃO Periodica redigido pelos JULIO D E CASTILHOS ASSIS Ann» 1 1 5 DE M A I O DE 1879. Por mais que o contestem os espíritos que persistem imprudentemente em não compreliender a irresistibilidade das leis históricas, por mais que se empenhem em demonstrar o contrario, por mais pertinazmente que procurem contrariar a corrente da j Democracia n'este paiz, a verdade, a grande verdade é que a monarchia está agonisante no leito de morte. A lógica inexorável dos acontecimentos que se vão succedendo, unidos pelo vinculo de perfeita connexão, não permitte a deducção de outro corollario. — Tudo está passando por sinistro eclipse. As intelligencias embotam-se e morrem, immersas nas profundezas das trevas da ignorância, sem liberdade, sem luz para dissipal-as. As consciências adormecem aos tinidos tristemente lugubres das cadeias da escravidão d u m a religião que as asphyxia, impedindo-lhes o grande lc_ vantamento. * Os caracteres quebrantara-se torpemente, decompõem-se, e, contaminados pela lepra da avassaladora corrupção, cáem apodrecidos. Os partidos não são organismos formados pelas correntes diversamente encaminhadas dos movimentos sociaes ; não, são o banditismo organisado, são agrupamentos de devassos do espirito, que reduzem impiamente a politica, neste paiz, ao esterquilinio dos brios e da honra nacionaes putrefactos. ; 0 governo é o posto da mediocridade, parva e ostentosa, porque não se peja de sel-o,— que vai servir de miserável instrumento às machinações satanicas do déspota farcista e petulante ; — em vez de ser a eminencia onde se alteiam os sóes luminosos do talento, do patriotismo, do civismo. O povo não tem liberdade, e, seg.-egado completamente das forças que o «dirigehi, tornada inefficaz a sua vontade, arredado de todo das funeções que exclusivamente lhe pertencem, por soberano que deve ser, não sabe para onde o conduzem. Sua representação, sobre ser falsíssima, é irrisória, pois não tem por único e, por isso, largo alicerce o seu voto livre, expontâneo e desembaraçado, e sim repousa na ponta das bayonetas {tos policiaes que o governo enfileira. ÊSSsit P E R B I R A 11>A COSTA D R A / I L S . P a u l » , 1 5 d e M a i o d e 1H7!» A EVOLUÇÃO ft acadêmicos Ü.3 Perde-se a cada passo a noção da Justiça, que tornou-se uma irrisão. Conculca-se, espesinlia-se, esbofetea-se o Direito, que O uma mentira. Emfim, o paiz atravessa uma crise tremenda, que o convulciona intimamente, lançãndo-o n'um modo de ser que, por eminentemente anormal, tende forçosamente a cessar. A descrença invade com uma força irresistível todos os espíritos, a onda do marasmo vai acceleradamente subindo, avolumnndo-se, e ouve-se aqui e além um surdo e vago rumor.de descontentamento geral, de aversão. Pois bem, é tão incontrastavel o curso das idéas, é tão mathematica, tão infallivel a invariabilidade das leis que presidem os destinos sociaes e marcamlhes o rumo, os períodos historicos se prendem, se ajustam e se reproduzem n'uma dada èpoclia, n uma dada circumstancia, de tal modo e tão precisamente, — n'uma palavra, a Historia falia tão positivamente, tão decisivamente ;— que só os que a não ouvem ou não compreliendcm-n'a, poderão negar que tudo leva a crêr no proximo desapparecimento da monarchia. O que nos ensina a Historia ? Ensina-nos que aos períodos de profundos adormecimentos dos espíritos, aos períodos de estagnação social, succédé sempre um enorme despertar, acompanhado dos estridores ruidosos das agitações da vida. Ensina-nos que, bem como no mundo physico, no mundo moral as mornas quietações, os largos repousos prenunciam sempre grandes movimentos, assombrosas elaborações. Ensina-nos que si a Idèa se eclipsa ás vezes, resurge além, como o sol no espaço, no estrellado ceu do espirito mais brilhante e radiosa. E falla-nos de Roma— a cachetica, e dos Barbaras — essa turba de Titàes. Do despotismo theocratico — o empanamento da consciência, e de Luthero — o sol queailluminou. Da supplantação do Direito, da Justiça, da Liberdade, e de 89 —o grande pégo de luz, de Danton —o seu vingador. E, pois, a Historia estabelece premissas implacacaveis, cuja conclusão brota com uma fatalidade céga. IS O eclipse vai cessar, a escuridão vai desfazer-se, Quem o trouxe ? A monarchia. A monarchia, portanto, vai cair. Do seio da desillusão que penetra os corações sinceramente brasileiros, brota uma robusta, uma pujante crença, — que sem ella não podem viver as sociedades, — a crença n'um novo principio, n'uma Idéa Nova, que traz em si para transmittir ao corpo social deteriorado e cadaveroso a seiva do Futuro. Approxima-se o grande dia, que pôde ser, ou o Dies Pacis ou o Dies Iroe, ou a victoria tranquilla e serena da Justiça,ou as explosões flammivomas da Revolução,—esse cáustico para destruir essa chaga — a monarchia. Esperemos, pois. os clarões da grande a u r o r a ; esperemos, que não tardará muito que a Patria feche com uma mão a porta do Passado, emquanto que com a outra descerre as portas do Pantheon dos povos livres, cortejando o Futuro em épico enthusiasmo ! j.c. O Ensaio Lillerario é o r g a m de uma associação de estudantes de preparatórios e está já no seu 2° numero. Tudo ha a esperar da bôa vontade, estudo e intelligencia dos jovens redactores d este sympathico periodico. A Ev •loção fraternalmente o s a ú d a , e espera vel-o sempre luctando pelos sagrados princípios da Democracia, cuja causa parece abraçar;, a j u l g a r pelos dois números publicados. A. B . Povos e goverr.es O POVO II Osbarbaros arrojam-se sobre o império, a s s i g n a lando sinistramente a sua passagem por t o d a a p a r t e Os muros da grande capital cedem d i a n t e d a s hordas commandadas por Alarico. E, do seio das ruinas f u m e g a n t e s , do meio dos destroços gigantescos da magnifica cidade dos Cezares, o anjo da civilisaçâo, que parecia acorrentado dentro de suas ameias de ferro,despre nde o vôo, e vai derramando de longe em longe scintillações a u g u s tas. Serenada de todo aquella tremenda tempestade que abalou a face da terra, a theocracia incumbe-se de organisar a Europa, depois de ter formado com os despojos da antiga Roma u m a Roma nova, depois d e t e r construído com os fragmentos das instituições a n teriores um universo jerarchico, do qual devia ser o ponto culminante o sacerdocio. As monarchias barbaras, o feudalismo, as com munas e, finalmente, as grandes monarchias absolutas vão apparecendo gradativamente na Europa, Emquanto,por outro lado, o génio do progresso caminha silenciosamente, inspirando os pregadores da fraternidade humana. A idade média pode-se comparar a um vasto subterrâneo, nonde se tivesse,porventuraprecipitado a grande locomotiva que conduz os povos para a perfectibilidade. Naquella escuridão travaram-se as lutas mais porfiadas que menciona a historia. Prepararam-se dentro daquellas paredes pavorosas, dentro daquelle sinistro recinto, onde a cada passo levantavam-se patíbulos,acendiarn-se fogueiras, inventavam-se as mais atrozes torturas para os fracos c opprimidos,—as grandes revoluções que deviam re" bentar mais tarde n'uma explosão de luz. A actividade humana, que não descança nunca, não descançou naquella quadra tormentosa. Pelo contrario, parece ter trabalhado com mais energia, com mais ardor. Brilharam alli os primeiros lampejos da liberdade philosophica com Abailard ; os prelúdios da Reforma,diante da consciência humana escravisada,com W i c l e f ; os primeiros arrancos d a liberdade politica com as communas. E, quem ignora ? todas as verdades proclamadas então pelos martyres da civilisaçâo, como verdades incontrastaveis, que eram, foram triumpliando no de correr dos séculos. Depois da revolução religiosa, vem a revolução philosophica;depois seguem-se as revoluções politicas que, «como um echo prolongado, continuo, vai do cadafalso de Padilla ao cadafalso de Egmont, do cadafalso de Egmont ao cadafalso de Danton. » Considerando aqui algumas idéas que ahi ficaram esparsas, lançando um olhar retrospeclivo sobre o longo período que se estende desde a invasão dos barbaros até o fim dos tempos modernos,encontramonos com duas grandes entidades,que dirigem o m u n do e governam os p o v o s : a Igreja e a s monarchias absolutas. Para conter o furor selvagem dos povos barbaros^ havia necessidade de uma força que, como a da Igreja, moderasse e dirigisse os ímpetos da barbaria. Por isso, é justo assignalar aqui: — mesmo depois de transviada do caminho traçado pelos apostolo« para a propagação da fé,mesmo depois de collocar-se na cúspide da jerarebia social q u e inventou, mesmo depois de u m a serie interminável de erros,—a Igreja prestou elevados serviços. No e n t r e t a n t o , por maiores que tenham sido esses serviços, j a m a i s poderão escurecer os crimes assombrosos que perpetrou nos últimos séculos do seu domínio, em nome d a religião A EVOLUÇÃO declara com magua esta verdade» m a s declara francamente, porque será sempre um =1 IO eclio débil dos brados de indignação levantados pela historia, contra os tyrannos e oppressores de todos os tempos. A ambição insensata dos papas para o domínio universal, não mais pela persuaç&o e pela doçura, mas pela força e pelo despotismo, manifestou-se abertamente do século VIII em diante, quando então estava a seu lado a espada gloriosa de Carlos Magno. Pode-se mesmo dizer que no dia em que o illustre guerreiro colloccu a corôa sobre a cabeça, diante do papa Estevam II, tocaram ao zenith as duas grandes instituições da idade média — o pontificado c o i m pério. Desde então, a força auctoritaria dos papas loi se alargando cada vez mais, e attingiu a tal ponto, nos fins do século XI, que é absolutamente impossível fazer uma idéa approximada da auctoridade que a Igreja exercia promiscuamente sobre reis e povos. Por toda a parte, na phrase de Victor Hugo, sentese a auctoridade, a unidade, o impenetrável, o absoluto — Gregorio VII. Entretanto, cedendo ao impulso d a clvilisação, aquella auctoridade está prestes a abalar-se ;Roma acorda-se espantada, ao rumor que faziam os povos para libertar-se. E que medida toma para assegurar o poder q u e lhe escapava ? — Crea a Inquisição. O espirito revolta-se, e, preso de um pavor extranho, tem m u i t a s vezes vontade de d e s m e n t i r a historia, ao n a r r a r as atrocidades desta instituição l u g u bre e s a n g r e n t a . Porém, mesmo d i a n t e dos batalhões i n f e r n a e s dos seus inquisidores, o poder papal se vai e n f r a quecendo, ao e m b a t e dos e l e m e n t o s a n t a g o n i c o s . Escriptores, philosophos distiuctos p r o c l a m a m , nos paizes m a i s a d i a n t a d o s , a reforma, depois q u e Wiclef, e m face d a consciência a m o r d a ç a d a , e s t a b e lece o principio d e q u e : « t o d a s a s consciências sendo iguaes,Deusse revela d i r e c t a m e n t e a cada u m a , por sua g r a ç a , e, por c o n s e g u i n t e , n a I g r e j a dos fieis não deve haver -senhor n e m a r b i t r o . > Assim, pois, as c a r a v a n a s revolucionarias vão n u m a marcha a u d a c i o s a , t r i u m p h a n t e , de Wiclef a João Huss, de João H u s s a L u t h e r o , e libertam finalm e n t e a h u m a n i d a d e d o m a i s terrível dos j u g o s — o j u g o religioso. A revolução.que rebentou ao pé do altar,vai precipitar-se t a m b é m nos d e g r á o s do t h r o n o . A reforma religiosa vai auxiliar a reforma politica. Encare-se por outro lado, retrocedendo u m pouco, a marcha evolutiva d a s sociedades. No século XV, p a r a m a n t e r a unidade nacional, que estava em perigo de desapparecer pelo e n f r a q u e cimento do feudalismo, ao impulso d a força popular desorganisada, começaram a constituir-se na Europa, 'V* I as grandes monarchias absolutas que no século XVI e XVII attingiram ao apogeu da grandeza e do poder. Constituída« solidamente as nações, começam com mais ardor as lutas da liberdade. Assim é que, emquanto a força dictava leis, eenquanto os reis, confiando no seu illiinitado poder, julgavam legar um patrimonio eterno ás suas dynaatias, nas regiões do pensamento apparelhava-se a grande conflagração que devia desabar sobre a França, illuminando o mundo. Nos fins do século X V I I I uma legião de pensado res tinha estabelecido definitivamente as bases de uma completa reorganisação social, exigida pelo impulso da civilisação. Isto era inevitável. A velha Europa dynastica quíz, no entretanto, oppor diques ás aspirações populares. Desencadeou-se então aquellc furacão ardente ; rebentou aquella luta cyclopica, chamada —revolução franceza.que devia terminar pelo triumplio definitivo do direito. E o povo ,que nada era, começou a ser tudo. __ ^ _ P.C. Trez livros O doutor Lopes Trovão faz parte dos mujto poucos h o m e n s do bem deste paiz. Milita desde os seus tempos acadêmicos no pequeno, porém brilhante, exercito republicano, que se tem formado na adversidade e que se occupa em cavar, pela palavra e pela acção, ao redor da monarchia, o fosso que ha de infallivelmente sorvel-a. A sua palavra é constantemente ouvida nas conferencias publicas do Rio de Janeiro, e o nome do dÍ8tinctissimo orador não precisou da mão officiai p a r a erguer-se d a obscuridade, para a qual não nasceu. I n t e n t a agora o doutor Lopes Trovão dar publicidade a todas as suas conferencias. Começou j á pela q u e occupa o primeiro lugar na ordem chronologica e que t r a t a da COMPATIBILIDADE OÜ INCOMPATIBILIDADE DOS REPUBLICANOS COM OS CARGOS PÚBLICOS, da qual obsequiosamente enviou â Eoolueáo um exemplar. E s t a 6 com certeza a these mais controvertida no seio do partido republicano. Só desse facto lhe vem a i m p o r t â n c i a ; porque, em f u n d o , é mera questão de disciplina. O doutor Lopes Trovão s u s t e n t a a completa compatibilidade com todos os cargos, e vai mesmo ao extremo de justificar o infeliz Lafayette. A' primeira vista, a questão é s i m p l e s : — o s cargos não são do governo, mas do paiz ; ora, os republicanos, alem de entrarem coin a contribuição q u e o paiz exige, t ê m o dever de servil-o e o direito de participar d a c o m m u n h ã o ; logo... etc. Mas a questão é de disciplina, e a disciplina dálhe diversa solução. A athmospliera officiai está empestada ; tudo o *o que diz respeito ao governo está podre ; aquelles que delle se aproximarem serão contaminados, portanto. Alem disso, a grande tarefado partido republicano actualmente é lutar por todos os modos licitos perante a moral, lutar abertamente ; ora, o empregado, seja elle de que categoria fôr ( a menos que não queira demittir-se, e, nesse caso, reconhece a incompatibilidade) está subjeito ao governo; por conseguinte, impossibilitado para a luta, para o magno dever. Isto, é claro, não se entende com os cargos de [ eleição popular. Quem está com o Povo está com a Republica. Estas idéas são, entretanto, individuaes d e quem estas linhas escreve. —Alguns pobres de espirito pretenderam levar em conta de reviramento politico a franqueza do auctor. Este responde-lhes com o seu passado, e basta isto —A EVOLUÇÃO tinha dezejos de alongar as suas considerações. Vê-se, porém, forçada a fazer o contrario, sentindo tanto mais quando reconhece que o illustre orador fluminense e a sua obra são dignos de serio estudo. Para as subsequentes publicações disporá de mais tempo e de mais espaço. Para o doutor Lopes Trovão só tem saudações e applausos. Pedro I I , acostumado a lêr as epistolas bajulatorias dos áulicos infames, deveria sentir agora extranhas sensações, si passasse os augustos olhos por u m pequeno pamphleto que acaba de ser publicado. CARTA DE SAXTERRE AO SENHOR D. PEDRO I I é o titulo do pamphleto, que é attribuido a u m acadcmieo de S. Paulo, reconhecido como fervoroso e forte republicano. Santerre desenha aos olhos do rei todo o quadro negro das desgraças da Patria, na sua mais commiseradora hediondez; accusa vigorosa e j u s t a m e n t e a monarchia por todos estes males ; previne-o de que j á se começa a ouvir o tropel dos batalhões republi. canos ; aponta-lhe este caminho : — « abdicae, senhor 1 » A verdade se diz neste livrinho com a rudeza das coisas exactas. Santerre mostra-se u m digno e util cidadão Os soldados da Liberdade devem cobril-o de applausos. — Esta obra foi impressa longe das vistas do auctor. Não pode ser outra a causa de u m a e n o r m i dade de errosque contém. Entretanto, os inimigos da Democracia e da verdade, que, n'estes casos, costumam constituir-se, em desespero de causa, acérrimos defensores da grammatica, farão disso talvez um cavallo de batalha. — A Evolução agradece o exemplar com que foi obsequiada e aperta a mão a Santerre, a quem sente não poder enviar mais algumas palavras, por falta de espaço. Appareceu finalmente o proclamado li vro —Frei I Caetano de IUessina,obra de Estevam Leão Bourroul, o mais esforçado e audaz soldado do ultramontanismo, na academia de S. Paulo. Este livro era aguardado com grande anciedade Os precedentes do auctor auctorisavam a esperar-se uma obra d e l o n g o folego, de d o u t r i n a , d e propagan da, de combate. Mas as causas mortas têm por si soldados moribundos. O notável talento de Bourroul amesquinliou-se diante da pequenez da causa. Assim também o homem de fortes pulmões sente-se enfraquecer n uma atlimosphera mi asm atiça ou rarefeita. O auctor põe na frente do seu livro —estudo hislorico religioso. Certamente escreveu essas palavras antes de concluir a obra, que não é, nem aproximadkmente, u m estudo religioso e muito menos um estudo historico. Limita-se Bourroul em todo o livro a fazer algum a s transcripçõe8, acompanhadas de muito poucas palavras suas, em phrase descorada, sem e n t h u s i a s . mo e sem vigor. E' verdade que declara no prologo que citou sempre tomo maior gáudio de sua alma. Mas esta confissão não é u m a desculpa, tanto mais quando já é proverbial a sua citomania. A Evolução, que carece completamente de dados positivos sobre a vida do capuchinho, quasi nada pôde dizer da maior ou menor exatidão com que a n a r r a Bourroul. Frei Caetano não passou também sem os seus milagritos : por sua intervenção com a côrte celeste, b r o t a r a m d u a s fresquissimas fontes atraz de um conv e n t o , em Pernambuco. Ainda o mesmo santo varão conseguio fazer descer das nuvens"chuva reparadora, por occasião de afftictiva secca, desmentindo, assim, certos palavrões modernos, que hereticamente proclamam que a chuva não é mais do que um phe_ nomeno muito natural, produzido pelas correntes do ar, pelo fluido electrico e por outras causas muito independentes da s a g r a d a ordem dos franciscanos. Para conseguir este milagroso eflèito, frei Caetano arrastou o povoa u m a procissão de penitencia, em que foi s u f i c i e n t e m e n t e castigada a carne mise_ ravel. O. frade proclamava, assim, o funesto principio dos antigos ascetas, de que — é preciso matar a Natureza. E n t r e t a n t o , o livro 6 digno da leitura de todos porque, quando mais não seja, é, pelo menos, uma prova de que o terreno do século só produziria uma floresta ultramontana, si esta fosse de cogumellos. I > SI — Ardente admiradora dos batalhadores valentes e honrados, a Evolução saúda a Leão Bourroul ( a quem, por dignidade própria, nunca «ittribuirá urna penna cymcu ) e firmemente o espera/ em novos ten. tamens, disposta a bater palmas ao talento do individuo e a arremetter desassombradamente contra as idéas do auctor. A. B. Ha muitos dias que foi publicado o 2° numero da Republica, que appareceu tarjado de lucto era houra á memoria veneranda de Tiradentes. Km rapidas, mas eloquentíssimas palavras, Magalhães Castro se encarregon de fazer a brilhante apotheose do grande Martyr, que, primeiro nesta terra, sentio-se illuminado pelos santos reverberos do sol da liberdade. Seguem-se depois: Partido novo vão fuz politica em que seu autor procura bater os conceitos emittidos n'uma carta publicada no mesmo periodoco » Solução d'uni diltmnia por Assis Brazil ; um esplendido folhetim, cheio da mais fina observação ; etc. f etc. Depois de haver ostentado tanta pujança e brihantismo nosdous números publicados, a Republica, parece, cessou a sua publicação. Attribuem-n'o á retirada de M. Castro da sua redacção. A Evolução sinceramente deplora esse facto, que veio privar a idéa republicana de paladinos tão briosamente intrépidos. Espera, porém, da sua firmeza e accentuação de idéas e da tenacidade com que as propaga, que Magalhães Castro não se recolha desalentado ao silencio. O distincto republicano não tem mesmo esse direito, quando aquelle ou a indifferença são u m crime nos tempos actuaes. Para os combatentes do valor de M. Castro n u n ca ha trégua. Entretanto, a Evolução folga em declarar que a Democracia não ficou, por isso, sem um representante na imprensa académica. N estas columnas,—baluar_ tes frágeis e vacillantes muito embota,—st hasteia corajosamente a rútila randeira republicana. • J C. Gangão Lá vem, do céo azul rasgando a face, O bando das Idéas generosas, Como uin rebanho d'aguias luminosas, Queum tufão no deserto arrebatasse. Deixai, deixai passar o bando augusto Das luhras e candentes Utopias, Que vêm roetter no leito de Procusto As l o t a s 1 YtancioF. Abri o coração, abri o peito. Deixai rolar a onda bemfeitora. Cantai, cantai íi musica sonora Da Justiça, do Amor o do Direito. Descançái sobre a terra o vosso malho, E vinde honrar a immensa Divindade, Erguendo os hymnos sacros do trabalho A' deusa Liberdade. Do despotismo a arvore sombria No sólo do Futuro cai, não medra, — Que eu oiço já ruir, pedra por pedra, A columna fatal da tyrannia—. A «guia da Razão silvando vôa, Deixando para traz, no chão da liça, O castello da fé que se esboroa Ao clarão da justiça. Rasga-se o véo nos pórticos da Gloria ; Rebenta a Luz da rota catarata ; Vacilla o throno sobre a terra ingrata ; Rola a Ihiara no areal da Historia. Avante ! avante I ahi vem a madrugada t Yamos rompendo a noite, o véo escuro, Até irmos cair, brandindo a espada, No seio do Futuro. Assis BRAZIL. ( 1 ; D o s LIBELLOS A DEUS. Publicou-se o 1* numero do Liberal. A julgar pelo talento de seus redactores, è de esperar que aquelle periodico tenha u m a carreira gloriosa nas lutas da imprensa. No artigo inicia!, assignado por Ferreira de Novaes, não obstante estar bem traçado,a Evolução notal h e u m defeito : è fallar muito do passado e perderse em pomposos elogios, em divagações este reis; e c o m referencia ao presente dizer apenas que o prog r a m m a do partido é demais conhecido. Mas actualm e n t e os mais proeminentes chefes do partido liberal acham-se divididos em dois grupos que sustent a m ideas inteiramente oppostas : a qual delles pertence o illustre articulista ? Vacilla, e não respond e claramente. Traz ainda o Liberal os seguintes artigos : A situação passada por Galeão Carvalhal, Opportxn-inno por'peixeira Leite, Fusão das câmaras por V. M., Poder legislativo por H. d'Almeida, poesias por Vieira da Cunha e Pelino Guedes, Folhetim por M Peixoto, e u m a chronica phoxphorica. A Evolução saúda o Liberal. P. c. • »•"> A Eonluçá» tem de saudar o npparecimento do mais um periódico acadêmico—a Vanguarda, que sc destina á propaganda catholica, e cuja redacção está, confiada a Leão Bourroul, o conhecido cx-redactor da Ueacçào. No artigo de apresentação, depois de ponderar que o seu npparecimento, longe de significar um svmptoma de scissão entre os ultramontanos acade micos, vem, pelo contrario, attestar a virilidade do partido cntholico na Academia,—a Vanguarda define a sua posição na imprensa, dizendo que, superior á luctas dos partidos, será calholica, apostólica, romana sem rcslricções. Aecrescenta que não faz questão de fôrmas, aceitando unicimente o governo que não offender a independência da Igreja ; protesta contra a incompatibilidade do Catholicismo com a Democracia. Quanto ao primeiro ponto,a Evolução nada oppõe ao contemporâneo :—uns caminham para diante, —procuram o aperfeiçoamento, outros caminham para traz,—persistem no retrocesso. Está, pois, a Vanguarda no exercício do seu direito. 0 que a Evolução não pôde deixar passar sem um pequeno reparo é a singular contradicção em que anda Leão Bourroul envolvido. Pois, si vos dizeis inimigo acérrimo e irreconciliável da Rovolução, — que é a impiedade, a hydra etc. si a Democracia moderna,—a que vai batendo em fuga precipitada, desnorteados e confusos, os apostolos dc Passado, — nada mais é do que o resultado das elaborações operadas no seio das sociedades pela Revolução ;—como affirmaes que ella não ó incompatível com o catholicismo, como o entendeis e o propagaes ? Confessae : é uma afflrmação irreflectida. Vosso programara ó o Syllabus,—o mais feroz inimigo de todas as liberdades e de todos os progressos. Não profaneis, portanto, a Democracia, pensando por um só momento que ellá se pode harmonisar com aquelle acervo de erros. Ou sois das phalanges que trabalham pelo F u t u ro, ou pertenceis ás que querem conservar o Passado. Uma de duas. Escolhei. J . C. COLLABORACÀO 9 Ü têmpora £ o mores 1 E' triste a geraçào que exangue surge agora. Nos braços sem valor lia musculos sem força ; Seguiu-se a timidez pacifica da corça Ao nervo dos leões indomitos d'outr'ora. Tornaram-se elegia os cânticos d'aurora... —Qu'importa que da lucta a víbora se torça E, após, as espiraes, colérica, destorça, Se um peso atroz nos curva e o tédio nos devora? Não mais, em nosso altar, da crença os lumes santos. I lia em nossas visões só lívidos espantos ; Somos bando espectral; o nada nos conduz... —Que se pode esperar dos filhos desta edade? ! Em nós, escarneo vil, assenta a mocidade Como o manto de rei nos liombros de Jesus!!... A F F . CELSO J Ú N I O R . U f u t u r o cia p a t r i a II A historia politica do Brazil é muito triste. Nas suas paginas de bronze estão cinzelados em symbolos terríveis os feitos monstruosos de uma rea leza impudente. O cidadão, que lança-lhes um olhar, só vê negror. A realeza cobriu-as de um manto escuro, em cujas dobras escondeu-se um despotismo feroz. E este manto de u m a realeza cynica, desdobra-se por toda a nossa historia, abafando os gritos coléricos dos cidadãos livres e recolhendo as baj ulaçoes dos escravos vis. E' triste, mas é real. Ruge indignado o coração dentro do peito, mas é a verdade que lhe subleva as iras. Corre pressurosa a dignidade ofiendida, mas esbarra na realidad £ d a Historia. Os factos são frios, mas d'uma frialdade polar. São nús, mas d'uma nudez sangrenta. Arrancam um grito de a m a r g u r a e outro de vingança. A m a r g a r a , que vem dos morticínios do Primeiro Império, da hecatombe de patriotas abatidos ante a Supremacia I m p e r i a l ; vingança, que virá do FuLuro, dessas idéas humanitarias que escaldam todos os cerebros. Levados por estas idéas, interrogaremos o nosso passado politico, examinando os princípios que predominaram n a organisação social do Império. A Philosophia da Historia affirma que a soberania de u m a nação reside nas forças vivas da mesma n a ç ã o ; que estas forças são as personalidades livres» reunidas, unificadas por um pacto social, chamado Carta ou Constituição Politica; que nem um homem pode antepôr-se á magestade da nação, sem quebra m a n i f e s t a d a s leis naturaes-sociaes. Estes princípios foram violados na nossa organisação politica. O Direito Nacional foi vencido pela vontade individual-imperial. Da violação impune do Direito Popular surgiu a consagração servil do Despotismo. Exponhamos os factos. Quando o povo brasileiro, desprendendo-se da velha Europa, quiz matricular-se no grande livro das nacionalidades americanas, apresentou-se-lhe um aventureiro imperial para inscrever esse nome. Trazia nos lábios o tremor do sorriso amigo, no coração o palpitar da pulsação trahidora O Povo incauto confiou naquelle sorriso. A farça—Ipyranga—coròou a D. Pedro com a aureola dos libertadores. « 3 A u r e o l a com q u e a Liberdade c o s t u r n a e s m a l t a r a s f r o n t e s dor Bens filhos d i l e c t o s c o m o W a s h i n g t o n » 0 ' C o n n e l e Th irra. K preciso niío c o n f i a r m u i t o noa reis. 1). Pedro m o s t r o u a i n d a m a i s u m a vez q u o a a l l i a n ç a d o e l e m e n t o p o p u l a r com o real é u m a u t o P'» C o m m e t t e u t o d a s a s illegallidades. Desrespeitou a Nação, collocou-se a c i m a d a Lei e a f l r o n t o u a S o b e rania Popular. JJabt em d i a n t e OK s e u s d e s a t i n o s i m p e r i n e s corr e r a m á d e s f i l a d a pela m o n t a n h a d o a b s o l u t i s m o . Os c r i m e s f o r a m i n n u m e r o s . K e n t ã o q u e c r i me« f Citarei um s ò , m u decisivo. O Povo a c h a v a - s e r e u n i d o e m A s s e m b l é a Constituinte. Os s e u s r e p r e s e n t a n t e s e r a m os h o m e n s m a i s n o táveis do paiz. Havia n s q u e l l a A s s e m b l é a S o b e r a n a o r a d o r e s que eram Mirabeaus, como Antonio Carlos; sábios q u e e r a m H u m b o l d t e . c o m o J o s é Bonifacio. Estes oradores e estes sábios estavam encarregados dos nossos destinos Ksta A s s e m b l é a n o t á v e l t i n h a a m a g e s t a d e d a s grandezas ideaes e o esplendor das alvoradas radiant e s . N a d a a p e r t u r b a v a , p o r q u e ella a b r a n g i a tudo* S a b i d a d o seio d o Povo, e l l a recebia d e l l e a i n s p i r a ção d e seu s a c t o s . P o r isso e r a f o r t e e s e r e n a T i n h a m t r a n q u i l l i d s . d e d e C h r i s t o n o meio d a p o p u l a ç a a b j e c t a . A ' s vezes c o n v a l s i o n a v a - s c a t é & i n d i g n a ç ã o , m a s e r a pa a z u r z i r com o a z o r r a g u e d a p a l a v r a os v e n d i lhões do Despotismo Imperial. Pois esta Assembléa, que encerrava t u d o o que h a d e g r a n d e na h u m a n i d a d e , foi a s s a l t a d a , m o r t a e e s p h a c e l a d a p o r D. P e d r o d e A l c a n t a r a . Aquelle verbo terso e viril d o t r i b u n o brasileiro s o l t o u u m r u g i d o q u e foi o u l t i m o d e l i b e r d a d e q u e o Brasil o u v i u . E a q u e l l a A s s e m b l é a , a c u j a s o r d e n s DP e d r o d e v i a c u r v a r - s e , c u r v o u - s e a D* P e d r o , q u e a matou. E n t h r o n i s o u - s e então o Despotismo. Calcou o D i r e i t o , calcou a J u s t i ç a e e s c r a v i s o u a N a ç ã o . D e u n o s u m a carta q u e é um escandalo. A n t e s de outhorgal-a, lançou sobre o paiz u m sarcasmo cruel. Perguntou-lhe se tinha o que retrucar sobre a C a r t a O paiz respondeu que sim. t i l e r e p l i c o u b l o q u c s n d ( - o e a r r a n c a n d o - l h e d força o j u r a m e n t o d a Carta. J u r a m e n t o o n d e n ã o h a l i b e r d a d e é j u r a m e n t o nullo. Somos, portanto,regidos por u m a Carta espúria. Q Foi e n t ã o q u e o s c i d a d ã o s , q u e q u e r i a m s e r s e m p r e l i v r e s , p o r q u e n a s c e r a m d e b a i x o d e s t e sol a m e r i c a n o , q u e i n f u n d e e m t o d o s os eorações o a m o r d a L i b e r d a d e , l a n ç a r a m ao P o r v i r u m p r o t e s t o d e l i r a n t e bradando vingança & Posteridade. E s t e p r o t e s t o a n d a n o c o r a ç ã o d o Povo. Não n o s violeis o D i r e i t o , não n o s r o u b e i < a J u s t i ç a , n ã o n o s c a l q u e i s aos vossos p é s i m p e r i a e s , p o r q u e l e v a r e i s o Povo á R e v o l u ç ã o ; e vós s a b e i s q u e q u a n d o o Povo firma-se n a s Revoluções, vae c a h i r d e u m s a l t o n o vasto t a b l a d o da I m m o r t a l i d a dAe . L. Poder constituinte H Estabelecida a d o u t r i n a e n s i n a d a pelos m e s t r e s sobre o p o d e r c o n x t i t u i n t e , • reconhecida* a m i n d e p e n d ê n c i a dos o u t r o s poderes, s a liberdade no exerci ei o de s u a s funcçOes, como seu* reqossitos es* s e n c i a e s , resta-DOS considerar a q u e s t ã o em f r e n t e d e nossa Constituição. V a m o s a n t e s , porém, e x a m i n a r varias opiniões, q u e t ê m sido e m í t t i d a s subte a these d e que nos occupâmes. P. F e r r e i r a , d i s t i n c t e publicista p o r t u g u e z , p r e tende c o n c l u i r , d a confrontação d o s arte. 174 a 178 com os a r t e 13, 1 4 , 1 5 §8* e 6.2 de nossa Constituição q u e a r e f o r m a ou alteração deve s e g u i r os t r a m i t e s , ordinários. ( 1 ) S e r i a opinião verdadeira, si a t t e n d e n d o - s * só aos p r e c e i t o s g e r a e s d a C o n s t i t u i ç ã o , não existissem e x c e p ç õ e s , e excepções q u e c o n s t i t u e m u m a refutação aos a r g u m e n t o s d o i l l u s t r e e s c r i p t o r . De feito, preceito g e r a l é o estabelecido no s r t . § 8* : — c o m p e t e a A s s e m b l é a Geral fazer leis, i n t e r p r e t a l - a s , s u s p e n d e l - a s e revogai-IM ; e as leis const i t u c i o n a e s são f e i t a s e a l t e r a d a « por um poder e processo especiaes, a r t e . 174 a 178; a s u a i n t e r p r e t a ção c o m p e t e ao p o d e r c o n s t i t u i n t e ( 2 ) salvo caso de salvação p u b l i c s , a r t 179 g 35, a* leis q u e dizem resp e i t o a o s d i r e i t o s individuaes não podem s r r s i s p t n s a s , a r t . 179 g 34 Preceito g e r a l é o do a r t . I7J § 14 ; e o a c a t h o l i c o e e s t r a n g e i r o n a t u r e l i s a d o não podem s e r d e p u t a d o s , a r t 9 5 g 2* e 3* ; não pôde ser m i n i s t r o o e s t r a n g e i r o n a t u r a l i s a d o , a r t . 130 ; só pôde ser reg e n t e o c i d a d ã o n a t o , a r t . 27 do Acto Addiceíon&l, P r e c e i t o g e r a l , e m f i m , p i r a não citar mais, est a b e l e c e o u l t i m o a r t i g o citado pelo e s c r i p t o r . o 63 — t o d o p r o j e c t o approvado pelas c â m a r a s deve ser e n v i a d o a receber saneção ; e , p o r t a n t o , o p r o j e c t e d e r e f o r m a c o n s t i t u c i o n a l t a m b é m . Mas não i n d o ao a r t 174 e s e g u i n t e s , a p r e s e n t a d o um projecto d e lei, a q u e se n e g o u s a n c ç i o em d u a s l e g i s l a t u r a s con s e c u t i v a s , i n d e p e n d e d e saocção, suppOe-ss s a n e cionado. Aos preceitos g e r a e s estabelecidos em nossa C o n s t i t u i ç ã o , e x i s t e m s e m p r e restricções, excepções. Eis sen piano. L o g o , a t t e n d e n d o - s e a esse plano, não procede a opinião a n a l y s a d a ; carece de f u n d a m e n t o na lei, e é improcedente em theoria. O n o t á v e l publicista pátrio, o s r Marquez d» S. V i c e n t e ( 3 J, s u s t e n t a a intervenção do senado, m a s n ã o a da coròa, — « p o r q u e a nação t r a t a d e d a r a si m e s m a a o r g a n i s a ç ã o p o r q u e q u e r s e r g o v e r n s d a , n e n h u m outro poder senão aquelle a q u e m ella i n c u m b e a d i s c u s s ã o pode o p p o r - s c a s u a vontade • Logo, c o n c l u a m o s de s u a s p a l a v r a s , o s e n a d o é excluído : não é r e p r e s e n t a n t e im mediato do povo, não tem f a c u l d a d e e s p e c i a l m e n t e conferida para a r e f o r m a , o q u e só cabe aos d e p u t a d o s , a r t 170 ; s u a (l) C o m m e n t a r í o s a Carta P o r t u g u e z a e Constit u i ç ã o Brnzilcíra l2j Eju*e*l inlerpretnri, cu jus ml Irgtm cowiere. — f/'D— De Ug-but. li' t a m b é m , a contrario seusu, a d o u t r i n a do u r t . 25 do Acr. ADO (3) l \ 1JUE.NO — Direito Publico Urazileiro, pags. 488 a 489. ' WW_ I 3/1 delegação não s e harmonisa com a da Constituinte; ó vitalícia. Quanto ao argumento fundado no art. 11, de que se serve, j á cal»io pela reputação feita ú opinião de S. Pinheiro. No senado, um distincto Jurisconsulto sustentou que devem intervir na reforma o senado e a corda, fundado ein divorsos artigos da Constituição. ( 4 ) Diz elle fundado no art. 17:1. d 1.° A Assembléa Geral no principio das sessões examinará si a Constituirão foi exactamente observada, para prover como for justo.» Ora, si Assembléa Geral quer dizer senado e camará temporaria, art. 14, | qualquer providencia deve ser tomada por ambas as camarns. Não se pdde, porfconto, conclue elle, excluir o senado desta providencia principal — a da reforma. Mas não procede : a ) porque o a r t . 173 nada tem de commum com os que se referem á reforma ; b ) porque examinar si uma Constituição foi bem observada ou não, não é alterai-a ou reformal-a. E accrescenta tomando o art. 117: 2." Diz o art. 177 .. « o que se vencer na discussão prevalecerá para a mudança ou addicção á Le 1 fundamental, e juntando-se a ella, será solemnement e promulgado. » Ora, a promulgação solemne pelo art. 68 presuppõe a approvação do projecto de lei por ambas as câmaras, e a saneção: a Fazemos saber que a Assembléa geral decretou e nós queremos e t c . ; » logo, pela ultima plirase do art. 177, a reforma deve seguir os tramites ordinários. Foi menos feliz n a argumentação : a ) , a promulgação das leis constitucionaes não se faz pelo processo ordinário do art. 98 ( 5 ) ; 6 ) , a pbrase indica tão somente que seria pueril conceber-se lei sem promulgação, seja ella qual f ô r ; c ) é matéria assentada ein Direito Publico que os actos constitutivos só t e m promulgação e independem de saneção (6) ; d) a phrase não é peculiar de nossa Constituição'; idêntica encontra-se n a de Ncw-York, a r t . 8 o . O seu ultimo argumento ainda é fundado no aat. 177 princ : 3." No a r t . 177 princ — diz-se a n a seguinte legislatura...» Ora por legislatura entende-se, pelo uso que faz desta palavra a Constituição, o exercicio de todos os poderes encarregados de confeccionar a lei, em um certo decurso tempo : logo, pela intelligencia dada á palavra, devem todos os poderes tomar parte na reforma. Este argumento é por de mais fraco : Todos os artigos que dizem respeito a reforma — 174 a 178—constituem excepções, como j á notámos, ao preceito geral do ar-. 15 § 8% e a palavra legislatura é \ima dessas excepções. Provada, como julgamos, pela analyse das opiniões contrarias, a exclusão do senado e corôa. é claro que só compete a faculdade de reformar a Constituição a um poder especial. Vamos, comtudo, expôr a (4; Discursos pronunciados no senado em 1879. (5) Act. Add. princ: (6) Hello— Du Régime Constitucionel. pag. 230. opinião de um douto mestre, que nos parece mais consentânea com o espirito da lei. No estudo do» a r t s . 174 a 178, h a uma distínecSo a f a z e r : temos a matéria dos a r t s . 164 a 17d. que refere-se A lei que declara a recessidade da reforma, que manda os eleitores conferiram poderes especiae» aos deputados, e esta passa pelos tramites ordináriose o que diz respeito propriamente ao exercido do poder constituinte, e confecção d a lei, art. 177, é esta attribuição, este exercicio neha-se completamente desprendido dos outros poderes. Assim : « Na seguinte legislatura, c na primeira sessão, a r t . 177, será a matéria proposta e discutida, e o que se vencef prevalecerá para a mudança ou addicção á Lei f u n d a m e n t a l , e j u n t a n d o - s e á Constituição, será solemnemente promulgado. » Portanto, si os deputados com poderes especiaeg propuzerem, discutirem e vencerem n a primeira sessão, prevalecerá o resultado como lei, e, juntando-se á Constituição, será solemuemente promulgada. Independe, por corisequencia, pela letíra de nossa lei, do concurso de outro qualquer p o d e r Supponha-se, porém, que — o que se vencer — refira-se ao que se vencer n a e a m a r a , no senado e corôa ; será a*reforma inconstitucional, p o r não se harmonisar com a phrase do art. 177 : — o que te vencer — n a discussão dos d e p u t a d o s com poderes especiaes, — seja considerado lei. A d m i t t a - s e ainda a h y p o t h e s e , e que vença-se n a camara, mas não no senado. Ora, q u a n t o ao senado, u m a de duas : ou o projecto é rpgeitado in limine ou cm parle. No primeiro caso neutraliza-o completamente ; no segundo r e s t a o recurso do a r t . 61, que dá margem ao sophisma. E em a m b o s os casos não é a interpretação compatível com a p h r a s e — o que se vencer prevalecerá p a r a m u d a n ç a ou addicção á Lei fundamental. Concedendo, comtudo, q u e vença-se n a camara e no senado, m a s que a corôa n e g u e saneção, ainda é inadmissível; porque o projecto a q u e se negou saneção não pôde ser mais a p r e s e n t a d o n a m e s m a sessão ( a r t s . 64 e 65 ), e isto ó repellido pela l e t t r a do art 177—o que se vencer será lei. Logo, são excluídos o senado e a corôa do poder constituinte pela nossa Constituição. ( 7 ) Uma opinião toda original, , contradictoria em lógica, e condemnavel em politica, é s u s t e n t a d a pelo poder a quem estão confiados os d e s t i n o s do paiz. M isnão analysal-a h e m o s : t e m sido por dcmai s combatida. J a cahio no d o m í n i o d a opinião publica que por ella confiscam-se os direitos do Povo, e assassina-se a Lei. 0. Xv verg nhai seus dal elle éa vits me: rea cip: dei Ian mo cin coi hu po ini pa nu po cu to ca en de rii D 30 e g< RESENDE I es i lo o (7) A doutrina expendida j a foi posta em pratica em 1832 ; essa lei só fixou os artigos q u e deviam ser reformados, e foi realisada a refqrma só pelo poder especial: V. de Uruguav—Estudoas Práticos—Appendice. Dr. Américo Brasiliense :—Os Programmas dos dc Partidos. ti< Typ. da Tribuna Liberal. Fá w r A EVOLUÇÃO P^iodico redigido peloji í cadpteog Julio de Castilhos Pereira Assis Anno 1 30 DE MAIO DE 1879. Os monarchistas vão marchando em retirada vergonhosa, á medida que a Democracia vai ganhando victorias esplendidas. Batidos em todos os recontros, fulminados os seus princípios pela lógica viril das argumentações da Razão, esmagados pelo peso da verdade histórica, elles jà reconheceram que a Democracia, e só ella, é a verdade e a justiça sociaes, que é ella a condição vital de todo o progresso sério, de todo o aperfeiçoamento solido, que é ella o único governo capaz de realisar n a sociedade a completa igualdade, os princípios únicos em que se assenta e repousa a verdadeira civilisação, que é ella, cmfim, a encarnação luminosa da Liberdade; e que, por outro lado, a monarchia representa apenas a transacção com as circuinstancias, o meio termo necessário em face das conveniências praticas e da relatividade das coisas humanas. Reconhecem ainda mais que sob a monarchia os povos não são emancipados, mas vivem sob uma instituição tutellar que os educa, que os prepara para receberem depois a emancipação. Mas, no desconcerto que lhes produz a approximação accelerada d uma derrota infallivcl, n a i m potência dos seus esforços para conseguir deter o curso impetuoso da torrente dcmocratica, presos dê tremor e de susto ante o fragor com que vão caindo, minados pela lógica da verdade, os pedestaes em que assentam os seus falsos ídolos,—têm recuado, de sophisma em sophisma, até caírem nos mais ridículos absurdos Assim, obrigados a confessar a verdade da Democracia e envergonhados d"essa confissão, elles soccorreram-se do conhecido e velho estratagema, e disseram : é verdade que a Republica é o único governo racional, mas o povo brasileiro ainda não está em estado de ser regido por elle. Carece d'uma longa preparação, de trabalhada educação, sem o que o governo republicano não medrará. Provou-se-lhes que esse argumento é um absurdo em face da Lógica e em face da Historia Em face da Lógica, porque, o que préga o partido liberal, o partido liberal que se diz fiel ao seu Costa Brazil S. P a u l o , » O d e Dlaio d e fHíí» A EVOLUÇÃO da N. 4 programma, ás idéas pelas quaes sempre combateu na chamada adversidade, ao seu passado, cmfim ? O que diz o partido conservador pela voz de muitos dos seus mais auctorisados representantes ? Ambos pedem a verdade da representação ou a acção efficaz da vontade popular—com a eleição directa, a emancipação para a consciência—cora a extineção do culto officiai, a liberdade para a intelligencia—com a diffusão e propagação maxima do ensino, a confratemisação com as nações estrangeiras por meio da grande naturalisação, e, como complemento necessário de todas essas idéas, elles exigem, com maior ou menor amplitude, que todos os poderes políticos, além de responsáveis perante a nação, sejam temporários. Ora, julgar que essas reformas todas são perfeitamente realisaveis no estado actual da sociedade brasileira é julgar que ella está apta para se reger pela fôrma republicana. E porque? Porque é essa exactamente a base em que repousa a Democracia, são esses os seus largos alicerces. Quem acceita o principio não pôde deixar de acceitar a consequência. Os monarchistas, portanto, cÃem cm frente da Lógica Em face da Historia, também elles invocam um absurdo. Porque, si ella nos affirma que as sociedades não estacionam, não retrogradam, que avançam sempre, impulsionadas irresistível e mysteriosamente pela lei do progresso, si nos affirma ainda que esses progressos, esses aperfeiçoamentos se operam por meio de transformações graduaes tendentes sempre a um modo dc ser mais perfeito, mais elevado ; si, por outro lado, a sociedade brasileira atravessa um d'esses períodos que devem cessar, por anormaes que são, si lançada n'um estado desesperador de duvidas e de incertezas, ella não pôde, em consequência d'aquella lei, ir para traz, porém é impellida para diante ; é claro que a Democracia é urgentemente reclamada, como a satisfacção d'uma necessidade universalmente sentida, como o motor único de todo o aperfeiçoamento possível. O povo está dcsilludido da monarchia, elle jà apercebeu-se, com a rudeza de suas faculdades, de que é ella a causa única do seu abatimento, da sua prostração, do seu retrocesso. Sente-se uma aspiração geral, si bem que indefinida, para melhorar de estado ; e, como sob a monarchia é isso impossível, porque ella já produzio os 26 A EVOLUÇÃO seus fructos, torna-se necessaria u m a o u t r a f ô r m a de governo. E i n c o n s c i e n t e m e n t e todos appellam para a republica. Eis abi, p o r t a n t o , a preparação. Fel-a a lei da evolução histórica. Derrotados a i n d a n'esse p o n t o , desamparados pela lógica, os m o n a r c h i s t a s t e n t a m a i n d a o u l t i m o recurso, o recurso d o s que se s e n t e m baquear a n t e a verdade d o s a c o n t e c i m e n t o s Assim como é impossível levantar u m edifício sem fortes esteios que o s u s t e n t e m , t a m b é m é impossível o e s t a b e l e c i m e n t o da republica sem h o m e n s aptos p a r a i n a u g u r a l - a . Onde estão e s t e s h o m e n s ? Vós não e n c o n t r a e s , dizem elles aos d e m o c r a t a s . Isto, sobre ser irrisorio, é s i m p l e s m e n t e ridículo. 0 m e s m o que succede n a n a t u r e z a physica s u c cede n o m u n d o social. Bem como n a s g r a n d e s t r a n s f o r m a ç õ e s d a m a t é ria, n a s assombrosas t r a n s f o r m a ç õ e s sociaes s u r g e m novos produetos, a g e n t e s novos, novas forças i m p u l soras,—que são filiações fataes, dcsinvolvímentos logicos. Os a c o n t e c i m e n t o s a d v ê m por o u t r a s que não a s forças m e r a m e n t e h u m a n a s ; elles advém em v i r t u d e d ' u m a lei i m m a n e n t e que g o v e r n a p o t e n t e m e n t e a H u m a n i d a d e nos seus movimentos s e m p r e a s c e n d e n t e s , exercendo sobre c i l a a sua acção d ' u m modo fatal e irresistível, p o r é m s a b i a m e n t e , porém concordantemente. Os g r a n d e s a c o n t e c i m e n t o s é que f o r m a m e prod u z e m os g r a n d e s h o m e n s , que são a p e n a s u m r e s u l t a d o , q u e s ã o ' m é r o s p r o d u e t o s d o s meios sociaes em que se agitam e vivem. A Historia é a d e m o n s t r a ç ã o cabal e incontestáv e l d ' e s t a s v e r d a d e s d e q u e estão d e posse todas a s intelligencias esclarecidas. B a s t a a t t e n d e r p a r a o m a g n o exemplo—a Revolução Franceza. Aquelles h o m e n s , c u j o s n o m e s f o r m a m o l u m i noso estribilho que a H u m a n i d a d e r e p e t e enthusiastícamentc ao som da m u s i c a do progresso, que são constellações e s p l e n d i d a s a r u t i l a r e m com brilho inextinguível n o s p a r a m o s estrellados da Historia, aquelles h o m e n s d e 89 nasceram com a Revolução, fizeram-se com ella, f o r a m u m resultado todo seu. Pouco a n t e s d e 89, q u e m creria n o apparecim e n t o f u t u r o de taes vultos cyclopicos? E é sempre assim. A fermentação que ahi assombrosamente se vae formando n o seio do paiz leva incumbado em si u m portentoso acontecimento, q u e , ao desabar, fará surgir d este a n t r o pavoroso e tétrico de trevas—uma t u r b a de leões indomitos. Desilludam-se, portanto, os monarchistas. A sua causa está perdida. E' inútil persistir em querer conservar instituições que, tendo j á desempenhado o seu fim historico, devem ser substituídas por outras que se harmonisem com a Nova Epocba que as sociedades vão brilhantemente inaugurando. Não t e n t e m impedir a marcha das idéas que vão a b r i n d o passagem para os largos descampados do Futuro. Tudo será era vão. O carro da Revolução, na sua impetuosidade doida, sepultará os insensatos que t e n t a r e m travarl h e as r o d a s ! J. C. Uma resposta A Evolução vai d e m o n s t r a r «com a Historia em punho», r e s p o n d e n d o as contestações d a Vanguarda, o como foi a Igreja Catholica a creadora da Inquisição». Nem m e s m o podia prescindir disso : j á porque Leão Bourroul lhe morece toda a consideração, j á p o r q u e , t r a t a n d o - s e de u m a questão desta o r d e m , t e m obrigação de s u s t e n t a r o q u e disse. Que falle, pois, a historia. « Por q u e m a inquisição foi instituída ? Pelos reis ? P a r a j u l g a r crimes políticos ? Foi a Igreja, q u e m creou este t r i b u n a l ; foi a Igreja, quem creou o c r i m e . Dissemos que a i g r e j a inventou o crime ; eff e c t i v a m e n t e o crime é imaginario. A heresia que conduzio t a n t o s dasgraçados â fogueira não é sinão . u m a opinião sobre d o g m a s , opinião que a Igreja declara errônea e que a razão m u i t a s vezes approva. Com que fim a I g r e j a p u n e u m erro dogmático ? P o r q u e a heresia a t a c a seu direito divino, sua infallibilidade, isto é, os títulos sobre os quaes repousa seu poder. A Inquisição é, pois, u m i n s t r u m e n t o d o dominio ecclesiastico». Eis ahi a opinião de L a u r e n t , palavra por palavra (I). « O concilio de L a t r ã o (1215) e o d e Tolosa (1229) fizeram da Inquisição u m t r i b u n a l permanente (2)». « Coube a Innocencio III a h o n r a de t e r estabelecido a inquisição no m u n d o , isto é, de t e r regularisado, centralisado, codificado a perseguição (3)». P e d r o Larousse diz a i n d a : • E m 1233 Gregorio X conficou a direcção deste terrível tribunal aos dominicanos (4)». C a n t u , cujas idéas religiosas são m u i t o bem conhecidas, accusa a b e r t a m e n t e a Inquisição; mas, procurando defender a I g r e j a , diz que ella não é responsável pelos crimes praticados, porque nunca a p provou-a em concilio (5). U l t i m o recurso. Mas isto é u m a defesa ? Esta justificação é rigorosamente orthodoxa? Era absol u t a m e n t e necessário que a Igreja approvasse a I n quisição em concilio afim d e que fôsse a única entidade responsável pelos seus c r i m e s ? (1) Historia da Humanidade, T. 9°, pag. 78. (2) Pedro Larousse, üicc. univ., T. 9", pag. 709. (3) Arnould, Hist.gda lnquis., pag. 43- | (4) Pedro Larousse, Obr. cit., T, 9 o . pag. 709(5) Cantu, Historia universal, T. XII, pag. 143, T. XI, pag. 164. I =— A EVOLUÇÃO NSo, certamente. Neste ponto o grande historiador, si bem que preste homenagem ás suas crenças, deixa muito patente a verdade. Quem creou, pois, a Inquisição? A Igreja, diz Laurent ; a Igreja, diz Pedro Larousse ; a Igreja, diz ainda, indirectamente, Cesar Cantu. E, effectivamente, quem eram os inqusidores ? Alguns legistas, alguns officiaes leigos ? Não ; eram padres. De que crimes tomava conta a inquisição ? Não tomava conta de heresias, de crimes religiosos? Ora, uma instituição desta ordem, essencialmente religiosa, e que fulgurou tanto, quem poderia fundal-a n'uma épocha em que a Igreja era tudo, em que os papas punham e dispunham ? Aqui, de duas uma : negar a existencia da historia, ou conformar-se com a triste verdade. * * * No mesmo artigo diz ainda Leão Bpurroul : «já passou o periodo das balelas e jâ são calumnias sediças, repetições enfadonhas, os contínuos appel» los a Wiclef, João Huss, a Luthero e a mais a col y tos de Satanaz ». A isto a Evolução não precisa responder ; pede apenas ao articulista o obsequio de 1er os trechos seguintes : « João Huss, prégador da Universidade de Praga, tinha já levantado a voz contra a depravação do clero, quando Jeronymo de Praga chegou de Oxford, trazendo os livros de Wiclef : Huss começou a t a cando primeiramente os abusos, depois as indulgências (6)». « O fogo, que queimou João Huss e Jeronymo, fez com que se atacasse n a Bohemia u m terrível incêndio (7) ». De boa fé, p e r g u n t a finalmente, o articulista, quem ocredita hoje no cárcere de Galileo ? Pois será mesmo tão evangelico o espirito do redactor da Vanguarda que não acredite também nos textos de um j u l g a m e n t o , conservado pela historia, que começa assim : « Eu, Galileo, de idade de s e tenta annos, agrilhoado diante de vós, emminentissimos cardeaes, etc., etc. » ? P. C. A crise dos espíritos A Evolução não vai demonstrar u m a t h e s e ; vai observar um facto e tirar-lhe as consequências lógicas e necessarías. A doutrina que faz partir toda a sciencia, todas as deducções unicamente dos dados seguros da experiencia, da observação t e m por si a grande v a n t a (6) Lenfant, Hist. da guerra dos hussitas. (7) Cantu, Obr. cit., T. XII, pag. 309. -» gem de poder ser comprehendida por todos c por todos verificada. A historia politica d'este paiz não tem sido estudada á luz da philosophia Tem sido isso de grande atrazo para a causa democratica. Porém, mais para lamentar ainda é I que os homens, que não tfem pulso e critério para 1 explicar o passado, sejam também fracos, ineptos para comprehender o presente. Entretanto, isso ó logico; essa tibieza, essa mvo- II pia são naturaes e consequentes. Sem premissas estabelecidas, não lia conclusão possível. O facto fica, assim, naturalmente explicado. Quem não conhece o caminho andado muito menos conhecerá o que resta a percorrer. Desta circumstancia nasce fatalmente um phenomeno, cuja observação, emfrente das leis históricas, é da mais palpitante importancia. O advento de successos inesperados, de factos não previstos pela politica, de phenomenos não explicados—tem produzido naturalmente nos espíritos, sobretudo nos últimos tempos d'este reinado, um certo estado de duvida, de incerteza, de vacillação, que é para uns a descrença, para outros o apodrecimento do caracter. Divididos em partidos que não são partidos, em grupos sem unidade, em aggregações cujas moléculas tendem a um continuo affastamento, pela sua fraquíssima coliesão,—aquelles que se acham á frente dos destinos da patria estabeleceram, ha muito, a completa anarchia mental. Do centro de todos os grupos surgem gritos descompassados e dissonantes, atirados em todos os sentidos. Si para o triumpho da democracia pura bastasse o consenso unanime dos partidos activos, o Brasil seria hoje republicano. Porque, nas circumstancias supremas, a cada golpe novo, vibrado pelo braço do desconhecido,—a monarchia tem sido accusada por u n s e por outros. Consciente ou inconscientemente, directa ou indirectamente, o que é verdade e o que pôde ser facilmente observado — é que a accusação tem partido de todos. Os absolutistas desesperam da fraqueza do r e i ; os constitucionalistas desesperam da fraqueza da constituição; os pseudo-democratas desesperam da fraqueza d*essa chimera—a democracia mixta. •õMas, nem dos descrentes, nem dos desesperançados se ha de formar o núcleo poderosíssimo a quem está preservada a grande missão de d á r em terra com os últimos destroços do phantasma s i n i s t r o . A idéa democratica foi trazida ao espirito h u - A. EVOLUÇÃO 28 mano unicamente pela força da philosophia. Só a philosophia, a analyse calma e serena, poderá, pois, arregimentar os desilludidos—porque estes também são philosophos—os pensadores—porque estes são mais philosophos ainda—e organizar o luminoso exercito. Esse momento decisivo parece, emfim, ter chegado para o Brasil. Os partidos decrepitos e rotos cumpriram fatalmente, à mingoa de lógica, o seu inglorio fhdario. Chegou-lhes a épocha amarga da decomposição lenta, porém irresistível, a que estão subjcitas n'este mundo todas as coisas que não têm u m destino determinado e logico. Prova irreplicavel da sua imprestabilidade, diante das largas aspirações actuaes, é esse facto por todos sentido, por todos observado, esse facto significativo que a Evolução constatou, começando este artigo :— a anarchia que lavra-lhes no seio, como incêndio destruidor. Para os partidos, para a politica d'este pniz, chegou, pois, a épocha que toda a H u m a n i d a d e tem de atravessar. A Evolução dos espíritos. ehamal-a-á pelo nome : — a crise • A crise não é a normalidade. A crise é a transição. A transição, n a s sociedades, prenuncia-se s e m pre por u m grande abalo, que as faz apparente ou realmente retroceder. A historia superabunda n'estes g r a n d e s exemplos. Como o homem que t e m de saltar u m precipício aberto, medindo a distancia que lhe separa as a r e s t a s , verga-se para traz, sobre si mesmo, afiirf de obter mais firme tensão em seus nervos,—assim t a m b é m a sociedade, n a s vesperas de u m g r a n d e passo p a r a o progresso, recüa por momentos, detem-se à beira do abysmo, e salta por elle depois, coberta de t r i u m p h o e coberta de gloria. A historia t e m seus retrocessos. Seus retours, dizia Proudhon ; seus ricorsi, dizia Vico. Exactamente n'este ponto acha-se este paiz, como a Evolução acaba de observar. O desprestigio dos governos, a corrupção do poder, a immoralidade que desce sinistramente d a s alturas, o descalabro das instituições vigentes—são a consequência n a t u r a l d'este estado excepcional de coisas. Os espíritos vacillam ; as convicções abalam-se ; rasgam-se a s bandeiras dos partidos ; os conservadores avançam até os arraiaes libcraes e recúam a t é os limites do despotismo ; os liberaes avançam até o campo republicano e recúam até as raias do auctoritarismo ; a confusão e a desordem são os p h a n t a s mas sombrios d e s t a scena monstruosa, Mas a solução d'este problema está estabelecida a priori. Depois da tempestade—a placidez serena è mansa da aurora. Depois da crise—a normalidade. O sol de a m a n h ã ha de fatalmente clarear, com luz nova, u m dia novo Não ha, pois, motivo p a r a que o s patriotas sinceros descreiam do f u t u r o . O f u t u r o pertence á historia j a historia cai no domínio da philosophia ; e esta é decisivamente soberana. A ' s forças activas d a sociedade compete encam i n h a r e dirigir o m o v i m e n t o , trazido pela fatalidade das leis históricas. N'isso consiste todo o t r a b a l h o consciente do progresso. A Evolução espera d e m o n s t r a r , no seu proximo n u m e r o , que esse t r a b a l h o só se p o d e r á traduzir na —Revolução. No seu e n t e n d e r , a Revolução não é mais do que o resultado logico e n a t u r a l d a elaboração evolutiva, salvo q u a n d o a s sociedades fôrem sabias bastante p a r a c o n j u r a r o m a l , abrindo l i v r e m e n t e a s valvulas ao progresso. E n t r e t a n t o , o q u e , d e s d e j á , n i n g u é m poderá n e g a r é q u e , p a r a lavar a s m i s é r i a s do presente, vários p r e n ú n c i o s fazem crêr q u e , n o s laboratórios do f u t u r o , se está p r e p a r a n d o u m g r a n d e banho de sarfgue. A. B. A' «Vanguarda» Está publicado o 3 o n u m e r o d a Vanguarda, periodico u l t r a m o n t a n o . E m p e n h a - s e o c o n t e m p o r â n e o e m demonstrar a improcedência do p e q u e n o reparo q u e , ao noticiar o seu a p p a r e c i m e n t o , a Evolução fez acerca d a palpável contradicção e m q u e càe, affirmando a compatibilidade d a Democracia çpm o catholicismo, quando é certo que esta não é sinão o f e c u n d o p r o d u e t o das revoluções, e q u a n d o a i n d a é certo que elle se diz inimigo i n t r a n s i g e n t e d a s revoluções. O que a Evolução esperava ao fazer essa ligeira observação, succedeu. Baldo de lógica, lançado n'uni t e r r e n o resvaladio e perigoso,—porque ousára penet r a r ás f u r t a d e l a s no a c a m p a m e n t o inimigo para encobrir com o brilho do a r m a m e n t o d'elle a ferr u g e m do s e u , — o a r t i c u l i s t a u l t r a m o n t a n o nada responde de cabal, de decisivo. Para d e f e n d e r - s e , recorreu ás definições de Democracia e de Revolução, e , formulando-as a seu t a l a n t e , deu-lhes aquelle estylo olympico, auctoritft* rio, s u p e r i o r m e n t e jactancioso, de que não poderá f u g i r os catholicos, a c o s t u m a d o s a argumentar, a apreciar razões c o n t r a r i a s , e a encarar todas as questões que se lhes a p r e s e n t a m , t e n d o por único apoio a tal infallibilidade do d o g m a , a fé. 31 A IiVOLUÇÃO Encastellam-se n'esse rcducto, e j u l g a m - s e i n vencíveis, soberanos no ataque e soberanos na d e fesa. .. Que i n g e n u i d a d e ! Das definições que d e u , deduzio Leão Bourroul q u e a Democracia e a Revolução são idéas c o n t r a p o s tas, antitheticas, e q u e , movendo g u e r r a á esta, n ã o s e j u l g a , por isso, incompatibilisado com a q u e l l a . Em boa fé, em consciência, a r g u m e n t e m o s com sinceridade : — pois a Democracia m o d e r n a , a q u e agita poderosamente as sociedades a c t u a e s , a q u e vai abatendo e derrocando a s velhas instituições, os velhos r e g i m e n s , a que vai r a s g a n d o u m sulco d e luz na consciência d o século, o. p o n t o l u m i n o s o p a r a onde convergem irresistivelmente t o d a s a s aspirações contemporâneas, não é o r e s u l t a d o d a s revoluções ? O que t ê m sido, e n t ã o , o que t ê m feito, o q u e t ê m produzido esses assombrosos a c o n t e c i m e n t o s q u e do século XVI em d i a n t e t e m abalado a face d o m u n do, dando-lhe u m novo a s p e c t o , u m m o d o d e s e r d i f ferente,—esses m o v i m e n t o s t o d o s em q u e t ê m vivido as sociedades ? O absolutismo p o l i t i c o ? Não. O a b s o l u t i s m o religioso ? T a m b é m n ã o . E a p r o v a é q u e a s fileiras do seu formidável exercito d e o u t r ' o r a vão r a r e a n d o progressivamente e estão n o t a v e l m e n t e r e d u z i d a s . Demais, explosões e s t r e p i t o s a s p r e p a r a d a s p e l a compressão exercida pelos reis e p e l a I g r e j a , e s s e s movimentos, violentos ou pacíficos,—porque o t e r m o generico — Revolução — c o m p r e h e n d e - o s a t o d o s — , não podiam, m u i t o n a t u r a l m e n t e , favorecel-os e f o r tifical-os. E s t á fóra d e d i s c u s s ã o . Têm sido, pois, i n f r u e t i f e r o s t o d o s esses t r a b a lhos s o c i a e s ! Eis ahi por terra toda a Historia m o d e r n a ! da Para desmentil-a bastou u m a simples p e n n a d a Vanguarda. Assim, as g r a n d e s revoluções do s o c u l o ' X V l , a revolução cle 16(58, o g r a n d e a c o n t e c i m e n t o d e 1776, a portentosa revolução d e 89, em fim t o d a s a s revoluções não sobrevieram e não t ê m sobrevindo p a r a elevar a consciência, l i b e r t a r a i n t e l l i g e n c i a , fortalecer o d i reito, e m a n c i p a r o povo, f u n d a r , n ' u m a p a l a v r a , a Democracia. Dil-o Leão B o u r r o u l ! Mas, concedendo m e s m o q u e seja isso v e r d a d e , a Evolução vai d e m o n s t r a r como a Vanguarda, q u e rendo i m p a r de liberalismo p a r a a p p a r e n t a r os vicios abominaveis d e s u a Escóla, lança-se n ' u m m i m d o vasto de contradicções e d e s a c e r t o s incríveis, t a n t o mais quando p a r t e m d ' u m t a l e n t o m e r e c e d o r d ó máximo a c a t a m e n t o . P a r a provar que o catholicismo não repelle a Democracia, escreve a Vanguarda : « Democracia é o governo do povo pelo povo, e como t a l a acceitamos ». A Evolução está d e pleno accordo, m a s vai t i r a r a s conclusões d'este principio. « A Democracia é o governo do povo pelo povo ». Por consequência, n a p r ó p r i a opinião do c o n t e m p o râneo, a Democracia ó o r e g i m e m d a liberdade a m pla. Mas o regimem d a liberdade suppõe indubitavelmente, como consequência necessaria, o livre e d e s - embaraçado exercício de t o d a s a s liberdades, a s u a efiicaz g a r a n t i a , a s u a vitalidade, e caminho f r a n c a m e n t e aberto para o progresso. P o r t a n t o , ainda no p e n s a r d o contemporâneo, a Democracia só se realisa, só é verdadeira e sincera, q u a n d o sob ella são perm i t i idas a liberdade d e consciência, a liberdade d e p e n s a m e n t o , a liberdade scientifica, a liberdade do e n s i n o , o c a m i n h a r d a civilisação, etc., e t c . Ora, a p r i m e i r a c o n d e m n a - a o Syllabus n o s a r t e . l õ , 55, 77, 78, 7 9 ; a liberdade d e p e n s a m e n t o c o n d e m n a - a n o a r t . 7 9 ; a liberdade scientifica n o s a r t s . 22, 5 7 ; a liberdade d c ensino n o s a r t s . 45 e 4 7 ; e , p a r a d e i x a r c o m p l e t a a g r a n d e obra, c o n d e m n a o p r o g r e s s o , a civilisação m o d e r n a , a Democracia, e m fim, n o a r t . 80. A i n d a m a i s : não a d m i t t e o u t r a soberania sinão a d a I g r e j a , (prop. 42 e 63). L o g o , u m a d e d u a s : ou a Vanguarda não q u e r a Democracia, o u a q u e r . No p r i m e i r o c a s o , c o n t r a d i z o principio que diz sustentar. No s e g u n d o , r e n e g a o Syllabus, e deixa d e ser « catliolica, a p o s t o l i c a , r o m a n a sem restricções ». Seja como lôr, a Evolução não proferio u m a inexactidão q u a n d o d i s s e q u e a Democracia não se p ô d e h a r m o n i s a r com o c a t h o l i c i s m o , como o e n t e n d e e o p r o f e s s a Bourroul. A Evolução sabe p e r f e i t a m e n t e q u a l seja a D e m o c r a c i a q u e a Vanguarda q u e r , e vai dizel-o f r a n c a mente. E ' a D e m o c r a c i a que se t r a d u z n a m a i s o m i n o s a e d e s e n f r e a d a T h e o c r a c i a , n o governo o m n i m o d o e s u p r e m o d o p a p a sobre t o d o o m u n d o , pesando t e r rivelmente sobre a consciência, escravisando a i n t e l l i g e n c i a , p e a n d o a r a z ã o ; é a Democracia q u e , m u i t o l o n g e d e ser a cousagração d a soberania do Povo, é a e x p r e s s ã o d a soberania d a I g r e j a , p e r s o nificada no Pontífice. N ã o p o d e m co-existir, s i m u l t a n e a m e n t e , duas sob e r a n i a s ; ou u m a , ou o u t r a h a d e prevalecer e t r i u m p h a r , e, p a r a a Vanguarda, n ã o pôde deixar d e pertencer à Igreja o triumpho. E i s a s u a Democracia. T u d o o q u e n ã o f ô r isso é s o p h i s m a , é b u r l a , é engodo. Ao c o n c l u i r , a Evolução pede desculpa á Vanguarda si d e i x o u l a n ç a d a a l g u m a p h r a s e q u e de q u a l q u e r m o d o p o s s a m a g o a l - a ; e l a m e n t a com a m a i s p r o f u n d a s i n c e r i d a d e que u m talento t ã o b r i l h a n t e t e n h a se t r a n s v i a d o a tal ponto pelas s e n d a s t e n e brosas do m a i s desvairado f a n a t i s m o e da cegueira da fé J . C. Povos e Governos O GOVERNO (1.) O povo a t t i n g i o s u a maioridade em 89, pelo desab a m e n t o d e u m m u n d o , s e g u i n d o o curso logico d a s leis que t e m r e g u l a d o a m a r c h a progressiva da h u m a n i d a d e atravéz dos séculos. (1) Consulte-se C. Bernal, Theorla da autoridade e G . Pagés, de q u e m se citem a l g u m a s palavras. 30 A. EVOLUÇÃO lUuminal -o, esclarecel-o, afim de fjuo encare com olhos d'aguia, sem temor e sem receio, os horisontes incendiados pelo sol da liberdade : eis a grande questão do presente, eis a grande questão do futuro. Esta épocha é a épocha das liquidações, dolorosas talvez. Porque o século presente ou ha de assistir aos mais assombrosos reviramentos, ou á completa reorganisação das sociedades pela justiSa e pela igualdade. E' bom notar : Napoleão III j á foi precipitado pela força dos acontecimentos do throno de Luiz Phelippe; na Inglaterra o proletariado assombra; no seio da grande Allemanlia o rei vive como que encarcerado, cuidando talvez enchergar em cada canto as sombras de Hcedel e Nobling; nos gelos da Rússia j á começou a fumegar ura vulcão immenso. E tudo isto o que significa, o que quer dizer ? Que os governos não podem continuar a ser, como outr'ora, a encarnação da força, a tyrannia organizada ; que os interesses, que as liberdades individual e social não podem estar sujeitos por mais tempo ao direito divino, ao fanatismo, á iniquidade e aos privilégios. A verdade é esta. Entretanto os governos se obstinam a não seguir os conselhos da historia, da experiencia, e, procurando tresloucadamente fechar a éra da Revolução, apoiados na força, se annunciam como verdadeiros e estáveis aos olhos do cidadão timorato ; mas a miséria que desmoralisa as massas, as más administrações que se succedem ininterrupta-mente vão espalhando a desharmonia, a cholera, a irritação no seio das sociedades, o germem, emfim, de futuras desgraças. E' tempo de que os governos compenetrem-se de sua missão civilisadora, e procurem equilibrar e dirigir as forças sociaes, tomando medidas sabias e justas, e não fazendo decretar leis arbitrarias e draconianas, como o cesarista Bismark : e isto para impedir os desvairamentoe populares. Neste estado actual de cousas, qual a base e a missão dos governos, segundo as tendencias da civilisação 1 A base—a soberania do povo. A missão—a felicidade e a manutenção da liberdade de todos pela felicidade e a manutenção da liberdade de cada u m . A soberania do povo—porque hoje está rigorosamente demonstrado que ella não existe, nem pôde existir em outra parte senão no seio das sociedades—; é u m attributo, u m predicado seu inalienavel. Os governos não podem continuar, mesmo desfarçadamente, nos paizes civilisados, a apoiarem-se neste dogma supremo : — a vontade de um só, que engendra o despotismo e repousa sobre uma usurpação vergonhosa. O contracto social, rigorosamente fatiando, n j 0 tem razão de ser : foi uma Chimera methodisada pelo cerebro candente de João Jacques, mas existe o contracto civil, o contracto politico Este contrcto é a lei fundamental que regula o modo de ser de cada nacionalidade. O governo é o motor que deve pôr em acção esta lei fundamental. A funeção, o fim do governo é applicar, honestamente, a bem da felicidade de todos, esta lei fundamental, este pacto original, que deve ser a expressão legitima e real das necessidades de todos, da vontade de todos. Daqui segue-se ainda : quando tractar-se dos interesses de todos, competirá á todos intervir directa ou indirectamente na questão : eis o direito. Nenhuma reforma será considerada fundamental, contribuirá para a felicidade c o m m u m se não basearse na vontade de torlos : eis a necessidade da applicação do direito. Conclusão lógica : os governos não são mais do que delegados da nação. Porque o principio do governo é a vontade geral, o fim a felicidade geral, e não a vontade de um só, a felicidade de u m só ou de poucos. Rousseau disse : «se houvesse u m povo de deuses, elle se governaria democraticamente». Pois bem* Os vinculos sagrados da igualdade e d a fraternidade tendem a t r a n s f o r m a r cada nação em povo de deuses. Muito imperfeita e r a p i d a m e n t e ahi ficou delineada a tendencia dos espíritos. Considerando-a, chega-se a conclusão de que não haverá j a m a i s estabilidade possível p a r a as sociedades, emquanto não se estabelecer u m a equação exacta entre os interesses individuaes e sociaes, equilibrados n a balança d a j u s t i ç a ; emquanto toda organisação politica não repousar sobre estes tres pontos capitães : A ordem, sem a q u a l não pôde haver liberdade ; A liberdade, sem a qual a ordem não será mais do que a escravidão o r g a n i z a d a ; A igualdade, sem a q u a l a ordem e a liberdade não existirão senão em proveito de u m pequeno numero. Néstas circumstancias os governos que pretendem permanecer estacionários allegando fúteis pretextos, ou cumprirão seus deveres, ou inevitavelmente serão arrastados pela vontade nacional e precipitados ás aguas revoltas desse mar onde já sobrenadam mil pedaços de sceptros e de tliiaras. Decretem muito embora leis a r b i t r a r i a s ; escravisem o cidadão pela eleição e pelo vinculo religioso ; lancem mão, finalmente, de todos os recursos possíveis, porque nada resistirá. Não ha ninguém que possa exercer uma influencia directa na organisação social, por mais violenta, por mais forte que seja essa intervenção. 31 A IiVOLUÇÃO Napoleão I é uin exemplo. A victoria de Wartcrloo não significa outra cousa mais do que a victoria das forças sociaes contra as forças individuaes, o triumpho das forças sociacs contra o despotismo encarnado em um Titão. A opinião publica alarga-se pelas luzes da civilisação ; os cidadãos, que começam a compreliender seus direitos, condemnam todos os crimes, combatem todos os erros, rejeitam e repudiam todas as flccòes : neste quadro, pois, em que os governos tendem a reduzir-se ás verdadeiras proporções, a Evolução repete—não se poderão salvar de u m a queda desastrosa, si não fôrem regulando seus actos pela verdade, pela justiça, pela satisfação das necessidades de todos. P. C. A nossa apathica e desesperadora monotonia vai t e r muito breve u m a de suas raríssimas intermitt-ncias. Caberão a s glorias d'esse acontecimento a Affonso Celso J u n i o r , que acaba de escrever u m d r a m a e de confial-o à companhia que actualmente vegeta no S. José. E s t a nol-o apresentará em seena d e n t r o d e pouco dias. Não h a n e g a r : tracta-se d e u m g r a n d e acontecimento, talvez o m a i s significativo que t e n h a j á m a i s produzido esta épocha esteril em coisas sérias e ubérrima em coisas ridículas. A Evolução não q u e r a d i a n t a r j u i z o sobre esta obra, a i n d a que t e n h a d'ella feito u m a rapida leitura q u e m escreve estas linhas. Mas, u m a l e i t u r a não b a s t a p a r a u m juizo definitivo. Depois do p r o n u n c i a m e n t o do publico (?) a Evolução p r o n u n c i a r - s e - á t a m b é m . P o r ora, basta-lhe dizer q u e n'este d r a m a não e n t r a m vinhos e n v e n e n a d o s , crianças r o u b a d a s , f o r t u n a s a r r a n j a d a s n ' u m a b r i r e fechar d'olhos, n e m toda essa l o n g a série d e coincidências m a t h e m a t i c a m e n t e c o m b i n a d a s d o s d r a m a l h õ e s d e 1830. Não ; p i n t a m - s e n'elle factos m u i t o n a t u r a e s , m u i t o s i m ples, m u i t o observados, m u i t o observáveis e, p r i n c i p a l m e n t e , m u i t o brasileiros. A l g u é m s i n c e r a m e n t e a p o n t o u ao a u c t o r q u a e s os defeitos que e n c o n t r a v a a p a r d a s perfeições d a s u a obra. E s s e s defeitos h ã o d e ser m a i s t a r d e c o n venientemente notados e estudados. E n t r e t a n t o , esperando cora ancia occasião de poder enviar-lhe m a i s a l g u m a s palavras, a Evolução felicita Affonso Celso J u n i o r , q u e não m o r r e u p a r a a s l e t t r a s académicas, como officiosamente proclam a v a m u i t a g e n t e boa. Evidente p r o v a d e que está vivo e bem vivo o d i s t i n c t o poeta—é q u e m u i t o breve e s t a r e m o s lendol h e o terceiro v o l u m e d e versos. A s Tilas Sonantes mesmo presentida c magnificamente expressa n'estes versos, com os quaes põe ás Tilas Sonantes o PONTO FINAL AOS MEUS AMIGOS I Eu já tive nas mãos os bandolins antigos, Vibrando os froixos sons românticos dos b a r d o s ; Mas hoje, ó meus amigos, A lyra que me agrada Allía ao resplendor cortante de uma espada As finas vibrações aligeras dos dardos. Não mais nos versos meus a imagem das amantes... —Ninguém se curva, em lucta, às tentações do amor E eu sinto u m novo arrojo em estos flammejantes... —Adeus, visões de outr'ora...—A' liça, luctador 1 !... II E u quero t e r agora estrophes explosivas, Quero r u i r n o pó os velhos edifícios, E quero contra os reis e quero contra os vícios, U n s ímpetos fataes d e extranhas tentativas. Emquanto Emquanto Emquanto 0 elástico não puder metrificar cratéras, não r i m a r a s lavas e os vulcões, não buscar nos musculos das féras vigor d e homéricas canções; E m q u a n t o não puder robustecer a lyra, Carregando a expressão com polvora de phrases, Tornando-lhe, de prompto, as ruínas de Palmyra N'um fóco de tufões vulcânicos o a u d a z e s ; Vós m e vereis passar acabrunhado e mudo, F i t a n d o torvo o céu, que o meu rancor i m p r é c a ; Não m e turbeis então... Eu, concentrado, estudo Como u m dia soltar ovantemente o «eureka». E se acaso chegar do desencanto às bordas, Só colhendo os desdens da sociedade fútil, 0 ' lyra, ouve-me bem : quebrar-te-hei as cordas, Frio, como q u e m p a r t e impuro vaso inútil. E sabeis p o r q u e assim raivoso eu me concentro? Porque não m a i s a t t e n d o ao lyrico reclamo? —Paixão voraz, ó c é u s ! arrebentou-ma dentro E e u a m o , eu amo, eu amo I ! . . . estão a sahir d o prélo. Esse livro, com os s e u s pequenos deffeitos e a s s u a s g r a n d e s bellezas, e s t á d e s t i n a d o a marcar a transicção n o espirito do p o e t a , transicção por elle III 32 A EVOLUÇÃO venindo-o dc que ha dc fazel-o voltar ao pó d'oa(je tenta erguer-se ; 70.— Que estude um pouco de geographia, p*^ não dizer que Jonkopings é—um celebre fabricante de phosplwros—, quando Jonkopings é simplesmente uma cidade escandinava ; 8 0 .—Que estude ura pouco de grammatica p o r . tugueza, para não dizer mais—''nellas lia de figurar phosphoros... etc. ; 9".—Que convença-se de que é tão mal succedido na pilhéria, como infeliz no gênero serio ; 10o.—F.m synthese—que, quando se quizer in. troraetter com os homens que conscienciosamente estudam e trabalham, adquira primeiro competência para isso, porquo não basta que ura individuo tenha sido inepto cinco annos—para ter boin senso c, principalmente, auctoridade. IV Adoro uma visão de magostade augusta, Cuja voz de heroiua aos sóes da fama incita... —O fecundo calor dos tropicos lhe agita O seio alentador de geração robusta. E' tanto o seu podor que, de sublime, assusta... De glorias lhe fervilha a multidão bemdita K a divisa da cruz além flammeja escripta No emblema quo, no espaço, o astro-rei lhe incrusta. Para ajuntar-lhe assim constcllações de encantos, O assombro c a maravilha, em desvarios sanetos, Ligaram-se no sol... Quem, pois, não idolatrc-a?... Metropole idéal de inspirações supremas, Sonho a gloria de os pós u n g i r - t e cora poemas, O" t u que és minha mãe o minha amante, ó P a t r i a ! ! A Reacção publicou o seu 2 o numero. O artigo dc fundo tem por epigraphe o ensino livre, e 6 firmado por Briano Dauntre. Depois de condemnar 89 e seus resultados, e de affirmai' que essa data recorda a mais completa negação da liberdade,—como o são para os catholicos todos os grandes movimentos modernos—, o articulista declara-se adepto da liberdade de ensino, mas conforme à fé e ás leis da Igreja, conforme aos princípios catholicos. Estes versos, cscriptos, não pela penna lymphaticamcnte molle do quem escreveu os Devaneios, mas pela rude penna d'aço que um pulso viril maneja, que um estro gravemente republicano inspira, estes versos dão clara idea do que será o livro A Evolução ainda uma vez cobre do applausos o valente paladino e imparcialmente o espora. A. B. De modo que, cm ultima analyse, acceita e não acceita a liberdade de ensino, sustenta a these e a antithèse. o O Liberal (2 numero) traz um sensato artigo de F. de Novaes sobre a reforma da inslrucçâo publica ; ura excellentc folhetim de Monteiro Peixoto, íx memoria do saudoso e illustro republicano Carvalho Junior'; Centralisação, por T. L e i t e ; O sr. Barão de Colegipe, por G. Carvalhal; O art. 15 do acto addicional, por li. de Almeida; poesias dc V. da Cunha e Valmiky ; e u m a Chronica phosphorica, a cujo auctor a Evolução não pretende roubar as arlequinescas glorias, não podendo, entretanto, furtar-se ao prazer de aconselhar : Contém mais a Reacção : O espirito revolucionário na Europa por Carneiro Mattoso ; Interpretação das leis sagradas por Canuto do Figueiredo ; Folhetim por A. B., em quem se nota magnifica verve o boas disposições para a satyra fina e delicada; etc., etc. Agradecendo o numero que lhe foi enviado, a Evolução saúda a Reacção, que, entre os periodicos acadêmicos, occupa ura elevado lugar pela dignidade e coragem com que sustenta os seus princípios. Io.—Que, tenha o sulíleiente critério, para não comparar Alphonse Karr o R. Ortigão a Castro Urso ; A Evolução recebeu já tarde o 3o numero do Constitucional, para dar d'elle uma circumstanciada noticia. Além de muitos artigos e de um folhetim, traz o Constitucional a continuação do estudo dc A. Werneck, sobre a soberania do Povo comparada com a da Razão. O articulista revela um espirito lúcido e amplo, que a Evolução não pôde deixar do applaudir enthusiast!" camen te, reservando-se, entretanto, o direito de opportunamente oppor-lhe alguns argumentos. o 2 .—Que estude um pouco dc arte poética, para não confundir versos cora eslrophes c não raetter-se ridiculamente em coisas de que nada entende, dizendo—o 2* eslrophe do 1° verso, a 5* estrophe do 3o verso, e t c . ; 3°.—Que estude um pouco de rhetorics, para saber que pôde-se dizer—um rebanho d'aguias ; 4o.—Que leia o diccionario de Moraes, para saber que se pôde dizer—a aguia silvando vôa, c que torne a ler a rhetorica, para saber que ilgura Be emprega O Constitucional, representante do princípios mortos, é, entretanto, digno de applausos, pela posição digna e franca que tem assumido. Receba as saudações de uin inimigo leal — ® Evolução. ahi; 5».—Que leia Camões, para saber que este disse ( e n'uma de suas mais bellas estancias) — « Ferido o ar retumba e assovia. » ; 6°.—Que não pense que a Evolução teme que sujam apontadaB as inspirações em Guerra Junqueiro o Oliveira Martins, pois até para isso o provoca, .pre•w'.'.' 1 • Typ. da Tribuna Liberal. B A EVOLUÇÃO jperioílico Julio de redigido Pereira 15 DE JUNHO DE 1879. A Evolução constatou tão claro quanto possível o signal mais característico dos tempos que correm para a patria :—a crise. Trazido por causas diversas e por diversas vias, este assombroso phenomeno alargou-se tanto no seio do paiz, que não pôde ser hoje sinceramente desconhecido de ninguém. E sobre aquelles que, de má fé, tentam sophismar a evidencia d'essa verdade, abate-se todo o peso de uma multidão de factos incontestáveis. Contra factos não ha argumentos,—é o mais sensato aphorismo das velhas escólas. Mas a Evolução, sem ter procurado as causas, contentou-se com affirmar o phenomeno e comprometteu-se a procurar-lhe a solução natural. Será objecto de artigos posteriores a longa indagação de todos os motivos, de todas as forças que nos têm inveteradamente arrastado até a borda do precipieio. Esse addiamento em nada prejudicará o desempenho do compromisso tomado; porque a verdade suprema, a verdade incontestável, por todos reconhecida, por todos affirmada, máo grado as crenças e as escólas, a grande verdade é esta :—a vacillação è a an&rchia mental são os mais palpitantes symptomas d'este paiz na actualidade. A partir d'aqui, reconhecido este facto, para chegar-se a uma exacta conclusão, basta applicar princípios muito conhecidos e verificados. Por uma lei claramente determinada, mas cuja essencia toca ás raias do irreduciivel, sabe-se que as sociedades, que a Humanidade inteira tendem persistentemente a u m aperfeiçoamento indefinido. A experiencia demonstra, outrosim, que as maiores crises, as mais assombrosas catastrophes, nem a superveniencia do fortuito, nem a temeraria contraposição dos esforços individuaes, nem coisa alguma —pôde deter ou desviar definitivamente a grande corrente, porque também poder algum pôde suprimir-lhe o motor primordial. Este desdobramento continuo, fatal, ininterrupto é o que se cliama evolução. da Gosta Braz i1 S . P a u l o , I S d e «Vunlto d e 1 8 7 9 A EVOLUÇÃO BH |cadpicog Gastilhos Assis Anuo 1 peja^ IV. r . Não obstante, é também uma verdade não menos evidente—que todas essas causas agglomeradas, ou algumas delias isoladas,—têm lorça para, temporariamente, entravar ou demorar a evolução. Quando isto acontece, advém a crise. E' então que os espíritos vacillam, avançam e retrocedem, tacteando no desconhecido ; porque, sociedade e indivíduos, tudo está fóra da normalidade. Assim também ensina a mechanica—que o deslocamento de uma única peça, modifica ou paralysa o movimento de todo o apparelho. Entretanto, visto que a evolução é falai e indefinida, uma vez perturbada a sua direcção, tende novamente a readquiril-a, a entrar de novo na normalidade. Este esforço .continuo, esta irresistível tendencia para readquirir a normalidade perturbada é o que constitúe propriamente a transição, o transitória, que é a mudança para o definitivo. A Evolução anela por tocar ás conclusões; por isso não se demorará a explanar longos e luminosíssimos exemplos historicos, aliás de todos conhecidos. Ha dois únicos meios de transição, isto é,—de mudança da sociedade do transitorio para o definitivo, do errado para, o verdadeiro : Ou deixar-se levar na onda dos acontecimentos, naturalmente, obedecendo ás leis da historia, transigindo com o progresso,—e isto se pôde dar, quando forças extranhas não lhe travam o passo—; Ou, então, rompendo bruscamente as muralhas que a separam da verdade, arrojando ao pó os tropeços erguidos pela insensatez, passando adiante por cima dos cada veres e do sangue dos irmãos,—e isto se dá, quando não ha da parte das sociedades a bastante sabedoria para preparar o curso do progresso, ou quando, acima das forças collectivas o erro ou o servilismo eleva a s forças individuaes—. No primeiro caso, está propriamente a evolução, que outros chamam revolução pacifica,—impropriamente—, porque estes dois termos repellem-se ; No segundo caso, está a Revolução propriamente dita. Eis ahi porque disse a Evolução, que «a Revolução não é mais do que o resultado natural da elaboração evolutiva, salvo quando as sociedades fôrem 3i A EVOLUÇÃO sabins bastante para conjurar o mal, abrindo livremente as valvulas ao progresso ». Torrente despenhada do alto de uma montanha enorme,—o progresso ha de rolar-lhe pacifica e beneficamente pelos empinados flancos, si a prudência o .deixar rolar e si a sabedoria preparar-lhe o leito ; mas, si a temeridade erguer-lhe tropeços e diques na passagem, ent5o a torrente deter.-se-á por momentos, engrossará, e, intumecendo o seio espumante ha de arrasar as muralhas e leval-as de golpe pela montanha abaixo. Esta imagem, muito repetida, porém muito exacta, é por sl uma demonstraçfio. E' exactamente n'este ponto do caminho que a nossa patria está vacillando agora. Havia dois meios de salval-a, e esses ahi ficam apontados. Appellar para o primeiro, appellar para a chamada revolução pacifica, seria uma irrisão, no estado actual das coisas. Nem precisa a Evolução de repetir o que t a n t a s vezes e tão positivamente tem dito por estas collumnas. Os pa rtidos constitucionaes, em u m a p a lavra, o mechanismo inteiro d'esta infeliz monarchia está podre e incapaz de agir n o sentido da liberdade compatível com as aspirações da époclia. Ainda agora o paiz assiste ao escandaloso e dolorosíssimo espectáculo da queda da sua u l t i m a esperança, depositada no partido que mais sympatliias t i n h a , m a s que acaba de receber, em troco da trahição, o escarro soberano do Povo—esse incorruptível tribunal de todos os tempos. Mas, ainda deixando de p a r t e todas essas misérias, a Evolução pôde afflrmar que a revolução pacifica seria u m a burla, n a s circumstancias actuaes. Ha certo ponto Da vida dos povos em que todos os esforços são impotentes para suspender a t e m p e s tade imminente. A avalanche, despenhada do alto, j á vem p e t t o de mais para que se possa preparar-lhe o caminho, para evitar os destroços que h a de fazer na vertiginosa passagem. A transigência com os partidos constitucionaes, representantes do passado, é inacceitavel por insidiosa, inutil por anachronica. De n a d a serviria Leão X transigio, e a Reforma t r i u m p h o u ; Luiz XVI transigio, e a sua cabeça rolou do alto d a guilhotina revolucionaria; Napoleão transigio, e o espirito do século XIX quebrou-lhe a espada heroicamente bandida nos campos de Waterloo ; t r a n s i g i r a m Carlos X e Luiz Fellippe, e essa transigência não obstou a que rolassem pelos d e g r a u s abaixo d o throno vacillante. K' ta rde, é m u i t o t a r d e para as t e n t a t i v a s conciliatórias. O meio t e r m o e o palliativo t o r n a m - s e , sobre inúteis,—irrisorios. Mas, si o estado é de transição, o paiz não pôde permanecer 'nelle. Virá, portanto, forçosamente o recurso supremo. Virá a Revolução. Virão a carnificina, o assassinato, o sangue, a conflagração, màu grado os ridículos esforços dos velhos partidos gafados e apodrecidos, màu grado alguns pobres homens timoratos e inconsequentes que servem a tyrannia porque não se julgam dignos da liberdade. Mas a historia ha de registrar que os revolucionários foram elles, que não comprchenderam os destinos e o caminhar da sua patria, e não nós, os que n o s vamos por ella sacrificar n a praça publica, porque não somos mais do que i n s t r u m e n t o s de uma lei que elles não enchergam e que nós devotadam e n t e servimos. % • E, e n t r e t a n t o , a Evolução mais do que n i n g u é m deplora que se t e n h a tornado indispensável e fatal esse g r a n d e desespero dos povos, que se c h a m a Revolução. Deplora q u e , 'nestes t e m p o s de tão a m a r g a s experiencias, que ' n e s t e g r a n d e século XIX—não se t e n h a m ainda comprehendido os destinos dos povos, a o ponto de evitar d'estes extravios fóra da estrada n a t u r a l , d'estes r o m p i m e n t o s com a ú n i c a lei d i rectora de t o d a s a s coisas—a lei da evolução. A s Revoluções são factos a n o r m a e s n a vida dos povos. Não são a providencia histórica, na velha p h r a s e , m a s são anormalidades. A revolução é u m incidente e não u m accidente. H a u m Eu collectivo, u m E u sociologico, assim como h a u m E u individual, psychologico. A Hum a n i d a d e é u m individuo g r a n d e , disse A u g u s t o Comte. E não podia d e i x a r d e ser a s s i m , p o r q u e a H u m a n i d a d e é a s o m m a d o s indivíduos, e a s o m m a é da n a t u r e z a d a s parcellas. Pois este g r a n d e individuo, assim como o pequeno, está subjeito a e n f e r m i d a d e s , e s t á subjeito a crises. A u m corpo g a n g r e n a d o applica-se o ferro em b r a z a ; a u m a sociedade c o r r u p t a , i n v e t e r a d a m e n t e g a n g r e n a d a também—applica-se este o u t r o ferro em braza—a Revolução. Mas, assim t a m b é m como o individuo n u n c a e n f e r m a r i a , si evitasse a s causas d a e n f e r m i d a d e , — a H u m a n i d a d e c a m i n h a r i a pela rota n o r m a l , si não p r e t e n d e s s e m d'ella arredal-a. Os revolucionários são, pois, os q u e e n t r a v a m l h e o caminho. Mas, j á q u e é necessário, j á que é i m p r e s c i n d í vel, que venha o g r a n d e dia. Esperemol-o com a s e r e n i d a d e do j u s t o e com o nobre heroísmo da consciência. Si elle está m u i t o p e r t o , si está m u i t o longe—c o que n i n g u é m pôde prever. Falta a confiança no patriotismo, na consciência, n a vergonha d"este povo, p a r a u m a previsão s e g u r a . E' dolorosa esta i n c e r t e z a ! Mas, por outro lado, o governo apressa o movimento, com repetidos escandalos. r fi 31 A IiVOLUÇÃO Quando na consciência de todos tiver penetrado a suprema luz da verdade ; quando o disfarçado despotismo tiver mostrado a todos a ameaçadora catadura ; quando a imagem da patria fòr ã vista de todos arrastada na lama pelas mãos i m p u r n s d a t y r a n n i a mascarada ; q u a n d o não houver mais u m escandalo, mais u m attenlado a p r a t i c a r ; e n t ã o . . . ai ! saltará, d e certo, a mordaça d a s boccas dos captivos e o coração p a t r i o t a , que sobreviver á lue t a , lie de contemplar, por sobre o s a n g u e dos m o r t o s , si t a n t o fôr preciso, o symbolo a u g u s t o da L i b a r b a d e , em toda a s u a limpidez e t h e r e a . A. B. < Estudos Políticos > A Academia de S. Paulo não podia f u r t a r - s e á influencia do meio e m que se agita a sociedade b r a sileira, e cujos característicos a Evolução, inhabilm e n t e ou não, não cessa d e observar. Por isso, t e m n ' e s t e s ú l t i m o s a n n o s a t r a v e s sado um período de d e s a l e n t o , d e m a r a s m o , d e e s terilidade, e a r r a s t a d o u m a existencia t r i s t e m e n t e desconsoladora. Por isso, os p r o d u c t o s d a intelligencia a c a d é mica, além de e x t r a o r d i n a r i a m e n t e raros," t ê m sido acanhados, s e m opulência, s e m vigor. Por isso, em vez da m a n i f e s t a ç ã o p o t e n t e d o t a lento a j u d a d o paio trabalho convencido e p e r s i s t e n t e e i l l u m i n a d o pelas luzes do e s t u d o , t ê m b r i l h a d o u n s tibios e e p h e m e r o s l a m p e j o s , q u e , a p e n a s d u r a m um i n s t a n t e , d i s s i p a m - s e . Por isso, em c o n t r a s t e com a q u e l l a g r a n d e épocha d e c u j o s t r i u m p h o s a i n d a r e p e r c u t e m em nossos ouvidos os échos sonorosos, em que a m o cidade, a flor d a e s p e r a n ç a a l t e a n d o - s e v i r i d e n t e n o coração, a b r a s a n d o - s e o cérebro n a luz d o s g r a n d e s Ideaes, a t i r a v a - s e f o r t e m e n t e r o b u s t a e m b u s c a d a gloria, q u e r , com a lyra n a mão, balouçando-se n u m m a r i m m e n s o d e inspirações v i r i l m e n t e p a t r i ó t i c a s , q u e r , com a eloquencia do verbo i n f l a m m a d o , e l e vando-se em o n d a s d e e n t h u s i a s m o varonil a o s e s paços d a i m m o r t a l i d a d e ;—em c o n t r a s t e com a q u e l l a b r i l h a n t e épocha, a m o c i d a d e t e m m a r c h a d o n ' e s t e s uliimos t e m p o s com p a s s o s t r o p e g o s e v a c i l l a n t e s . Mas esse estado d e coisas t i n h a d e findar f o r çosamente, obedecendo á lei fatal q u e se m a n i f e s t a , t a n t o n o s e s t r e i t o s e l i m i t a d o s como n o s m a i s a m plos dominios, e m v i r t u d e d a q u a l aos períodos d e prostração e d e cansaço m o r a l s e g u e m - s e s e m p r e a s agitações e o m o v i m e n t o . Esse d e s a l e n t o q u e t i n h a invadido o espirito d a mocidade, e r a e m si, n o r t a n t o , u m p r e c u r s o r d a grande reacção c o n t r a u m estado de coisas a n o r m a l . E r a - o d e facto. Ahi está a prova i n c o n c u s s a no l e v a n t a m e n t o ruidoso q u e o a n n o a c t u a l vai p r e senciando. Silva J a r d i m , q u e j à se n o s havia m a n i f e s t a d o sob felizes auspicios com as « Idéas de Moço » e o u t r a s producções esparsas, affirmou b r i l h a n t e m e n t e a sua organisaçào critica, poderosa no f u t u r o , com « A Gente do Mosteiro ». Afionso Celso J u n i o r n o s p r o m e t t e p a r a m u i t o breve as suns « Télas Sonantes ». Valentim Magalhães não tardará m u i t o a fazer s u r g i r , altivos e t r i u m p h a n t e s , os « Cantos e Lutos ». Assis Brazil p r e p a r a - s e p a r a u m e s p l e n d i d o t r i u m p h o , g a n h a n d o o nome d e u m d o s m a i s nobres Apostolos d a Poesia m o d e r n a n o paiz coin os « Libellos a Deus ». Está e m vias de publicação u m livro d e R a y m u n d o C o r r ê a : os «Primeiros Sonhos». Monteiro Peixoto vai em breve a p r e s e n t a r - n o s a s s u a s bellas «Paginas Académicas». E' a reacção q u e c o m e ç a . I n a u g u r a - s e , p o r t a n t o , a nova é p o c h a . S u g g e r í o á Evolução a s r a p i d a s r e f l e x õ e s q u e a h i ficain, a l e i t u r a d ' u m l i v r i n h o d e E d u a r d o L i m a , que, acompanhando brilhantemente o movimento a c i m a c o n s t a t a d o , acaba d e f a z e r c o n h e c i d o o s e u vigoroso t a l e n t o p o r t o d o s , q u a n t o s o l e r e m . A n t e s d e d à r u m a l i g e i r a n o t i c i a d o livro, a Evolução r e p o r t a - s e ao q u e d i s s e n o s e u I o n u m e r o r e l a t i v a m e n t e á u m a como q u e a r i s t o c r a c i a 1 i t t e r a r i a q u e crcou-se e n t r e n ó s , e de c u j a estineção—ao m e n o s n a n o s s a A c a d e m i a , o n d e ella m a i s a v u l t a — , os « Esiudos Políticos » p a r e c e m sor u m p r o n u n c i a d o symptoma. Até b e m pouco t e m p o , n ã o e r a p e r m i t t i d o q u e os t a l e n t o s a p p a r e c e s s e m s i n ã o a b r i g a d o s á s o m b r a d a protecção d ' u m n o m e m a i s o u m e n o s c o n h e c i d o ou laureado nas lutas d a intelligencia Moços d e m é r i t o real r e s i g n a v a m - s e a viver n a o b s c u r i d a d e por p a r e c e r - l h e s repulsivo p e g a r e m - s e ã aba d a casaca d ' u n s i m p r o v i s a d o s M e n t o r e s l i t t e r a r i o s p a r a c o n s e g u i r e m subir a o s paços d a p u b l i c i d a d e . H o j e , f e l i z m e n t e , p a r e c e q u e vae m o r r e n d o e s s e p é r f i d o c i n s u p p o r t a v e l h a b i t o , v e n c i d o pela reacção d o s t a l e n t o s conscios d o s e u m é r i t o . O a u c t o r d o s « Estudos Políticos » t e v e a s u f i c i e n t e h o m b r i d a d e p a r a r o m p e r c o m elle. Merece, p o r isso, a s s i n c e r a s s a u d a ç õ e s d e q u e m l e a l m e n t e se i n t e r e s s a r p s l o n o s s o p r o g r e s s o . Sob a d e n o m i n a ç ã o g e r a l d e « Estudos Políticos » e n c e t o u E d u a r d o L i m a u m a série d e p u b l i c a ç õ e s , d e s t i n a d a s á p r o p a g a n d a d e m o c r a t i c a , com a q u e v e r s a sobre « O artigo 5 o da Constituição do Brasil em face da Razão e do Direito. » E ' d e s t a q u e se o c c u p a m e s t a s l i n h a s . Apuzar d e m u i t o d i s c u t i d o o a s s u m p t o , o a u c t o r não desceu á v u l g a r i d a d e . E n c a r a n d o - o sob t o d a s as faces, fez d'elle u m a s y n t h e s e c o m p l e t a , e com u r a vigor d e a r g u m e n t a ção b a s t a n t e alto, m o s t r o u o a b s u r d o d o a r t i g o 5 ' . Provou q u e é elle u m a b s u r d o , p o r q u e t o l h e a liberdade d e consciência, e, p o r t a n t o , « é i n d i g n o d e figurar n a s p a g i n a s d a Constituição d ' u m povo q u e q u e r ser livre ». E' u m a b s u r d o , p o r q u e n ã o p o d e m c o - e x i s t i r , simultaneamente, duas soberanias, « d a s quaes u m a ou o u t r a t e m de p r e v a l e c e r » . 36 A. EVOLUÇÃO K' u m a b s u r d o , p o r q u e estabelece u m a unifio e n t r e d u a s s o c i e d a d e s q u e t e n d e m a fins oppostos, e q u e d e v e m , p o r c o n s e q u ê n c i a , m a r c h a r p o r vias d i v e r s a s ; p o r q u e delle d e r i v a m - s e c o n s r q u e n c i a s l ó g i c a s , como o beneplácito, q u e p e a i n a l i b e r d a d e q u e t e m a I g r e j a «de g o v e r n a r com a s n o r m a s q u e bem l h e a p p r o o v e r — o rebanho c o n f i a d o aos s e u s c u i d a d o s , e q u e aLrem, além d i s t o , e n t r e os d e v e r e s do fiel e os do cidadão u m a verdadeira lula, quando, por vent u r a , o E s t a d o o p p o n h a - s e ú execução d u m a lei d a Igreja » E ' u m absurdo ainda, poique a acceitação d ' u m a r e l i g i ã o pelo E s t a d o i m p l i c a a p e r d a , p a r a q u e m n ã o a p r o f e s s a , d e d i r e i t o s i m p o r t a n t í s s i m o s , como o d e ser votado, — o que é irrisorio, visto que « não dimin u e m os méritos e a capacidade que deve possuir u m i n d i v i d u o p a r a r e p r e s e n t a r os i n t e r e s s e s d o s e u p a i z pelo s i m p l e s e ú n i c o f a c t o d e n ã o p r o f e s s a r a religião d o E s t a d o ». « Aonde está a verdade ? » « A v e r d a d e , r e s p o n d e o a u c t o r , e s t á n a lei q u e autorisar o estabelecimento da Igreja livre no Estad o l i v r e ». Mas, c o n t i n u a elle, a r e a l i s a ç ã o d ' e s s a r e f o r m a é absolutamente impossível com a forma de governo que nos rege. « A nós, pois, democratas sinceros, toca dar á nossa Patria a forma de governo que. sendo a realidade pratica da liberdade, igualdade e fraternidade, é a ú n i c a c o m p a t í v e l com a n a t u r e z a h u m a n a , c o m os princípios democráticos. » C o n c l ú e c o n c i t a n d o á l u t a os s o l d a d o s d a D e m o c r a c i a . « Q u e ella s e j a s e m t r é g u a s , p o r q u e só a s s i m , m o r t a a miséria do presente que é esmagador, poder e m o s c o m o s e u c a d a v e r a t u l h a r p a r a s e m p r e a se" p u l t u r a do passado q u e é vergonhoso. » Eis, m a i s ou menos, tão largamente exposto q u a n t o pode sel-o nos acanhados limites d ' u m a simp l e s noticia, — o q u e e n c e r r a o livro d e q u e se falia aqui. N o s « Esíudos Políticos», â par da manifestação de u m talento robusto e de u m a consciência valoros a m e n t e i n t r é p i d a , a Evolução, p a r a g u a r d a r a m a x i m a franqueza n a emissão dos seus conceitos, não pode deixar de declarar que encontra não raras incorrecções de estylo, m u i t o naturaes a quem, como c o n f e s s a o p r o p r i o a u c t o r , p e l a p r i m e i r a vez a r c a c o m o difficultoso m a n e j o d a p e n n a . I n c o r r e c ç õ e s , p o r é m , q u e c o m c e r t e z a n ã o se r e p r o d u z i r ã o n a s s u b s e q u e n t e s p u b l i c a ç õ e s . D"isso e s t á c e r t a a Evolução. Seja como fôr, E d u a r d o Lima bem merece da Democracia. N ã o l h e f a l t a r ã o , p o r c e r t o , a elle q u e t ã o d i g n a m e n t e se acaba de afíirinar n a s lutas porfiadas do p e n s a m e n t o , os a p p l a u s o s s i n c e r o s de t o d o s os c o religionarios. O s « Es In dos Políticos » são o p r i m e i r o p a s s o d ' u m a carreira, que h a de ser b r i l h a n t e m e n t e victoriosa. A Evolução prophetisando n ã o receia s e r a c o i m a d a de p a r c i a l , para o convencido republicano um f u t u r o r a d i a n t e ; e concita-o a não esmorecer no» s e u s n o b r e s trabalhos, — q u e a coragem e a tenacidade são o d i s t i n e t i v o dos e s p í r i t o s f o r t e s . J . C. Echos do passado O ORIENTE (A Theophilo Dias) No topo da M o n t a n h a erma e sombria, Do bambil sobre as r a m a s l u x u r i a n t e s , No rio sacro, d ' o n d e , t r i u m p h a n t e s , O D e u s s u p r e m o as p l a n t a s e m e r g i a , N o d e s e r t o s e m fim, q u e a v e n t a n i a , Descarregando os látegos vibrantes, Ao tropego m a r c h a r dos elephantes, E m ondas d e poeira revolvia, Sobre as lageas do templo derrocado, N o o r á c u l o sem voz, a b a n d o n a d o , — C a m p e i a a m o r t e 1 a n o i t e vai d e s c e r 1 Mas não morreste, n ã o ; — q u e a sepultura Tu a sonhaste—mystica ventura N a s u p r e m a v o l ú p i a d o NÃO SER. O EGYPTO ( A Valentim M u d o , s o m b r i o , lívido e O grave sacerdote a lei Ia gravar nos antros da Onde se arrasta lento o Magalhães) tranquillo, superna caverna, crocodilo. E hoje o que resta j á de t u d o aquillo ? Resta o silencio q u e a m u d e z governa, O vacno, a solidão, a m ú m i a e t e r n a , No deserto areal d o sacro Nilo. A p a l m e i r a feliz n ã o m a i s a v u l t a Na curva do horisonte dilatado, Onde a sombra d a morte ora se occulta. M a s u m a coisa fica—o g ê n i o o u s a d o , Que a m o r t a l h a d o s t e m p o s n ã o s e p u l t a , Na g r i m p a d a s p y r a m i d e s alçado. A GRÉCIA (A Affonso Celso Júnior) M o r r e s t e , ó m ã e ! Na m o r b i d e z a p a t h i o a , Colheu-te a mão nervosa a morte esqualidá E foste repousar, gelada, estatiea, N o t u m u l o do t e m p o a f r o n t e v á l i d a . ' A IiVOLUÇÃO No Parthenon deserto, u virgem atth-a, Qual teu m á r m o r e b r a n c o , immovcl, pallida, Deixou morror no lábio a dor svmputhica E rebentar nu peito a libra cálida. No silencio da noite, cái funerea A lagryma do céo na campa rórida, Onde rolaste d e s g r e n h a d a e flacida. Mas, no t u m u l o e t e r n o , á luz sidérea, Inda eu te vejo a f r o n t e bella e flórida, N'umn explosão de luz serena e placida. AHASWERU8 (A Silva Jardim ) E, e n t r e t a n t o , t u vais, 6 livido precito, Pela róta s e m fim, d o s t e m p o s atravez, Das g e r a ç õ e s ouvindo o lastimoso g r i t o , Ao virem se q u e b r a r debaixo dos t e u s pés. Que d e s t i n o f a t a l ! no c a m i n h a r sopito, Vão te m o r d e n d o os cães, as víboras cruéis. E e m b a l d e o raio desce a r d e n t e do infinito, —Que u m t u m u l o não h a g r a n d e como t u és. Do pó d a s g e r a ç õ e s q u e d o r m e m no passado Nem p o d e s a t t e n d e r ao rouco soluçar Que t e m a n d a d e t e r o p r o g r e d i r o u s a d o ; Porque t u vais g a l g a n d o o t e m p o , o a b y s m o , o m a r , C h a m a s - t o HUMANIDADE, e t e n s e m ti g r a v a d o 0 d i s t i c o f a t a l : — M A R C H A R ! MAIICITAU ! MARCHAR t Assis BRAZIL. 0 inevitável T r a b a l h a e s t e p a i z u m a crise f o r m i d á v e l . Crise da c o n s c i ê n c i a , crise d a i n t e l l i g e n c i a , crise do c a r a c t e r , c r i s e d a J u s t i ç a , q u e o l a n ç o u n ' u m e.st a d o d e e x t r e m o d e s e s p e r o , preso d a s v e r t i g e n s d a decomposição, t o r n a d a c a d a v e r a s u a d i g n i d a d e pela gangrena da corrupção. E s t e m o d o d e s e r , a n o r m a l i s s i m o n a vida d o s povos, r e c l a m a u r g e n t e m e n t e u m a solução, q u e não p o d e v i r sinfio com a d e s t r u i ç ã o da c a u s a q u e o p r o duzio. T o d o s r e c o n h e c e m q u e h a u m a força d o m i n a d o r a q u e a b s o r v e e m si t o d a s a s forças sociaes, p e a n d o l h e s o i m p u l s o , s o p i t a n d o - l h e s os m o v i m e n t o s , i m pedindo e abafando-lhes a expansão, lançando-asi emtim, n ' u m a impotência desesperadora. E s s a forca é o p r e d o m í n i o o m n i i c o d o d ' u m p o d e r sobre t o d o s os o u t r o s , q u e , e l e m e n t o p e r t u r b a d o r , os r e d u z a g r a v i t a r e m e m t o r n o d e si, t o r n a d o o c e n t r o da g r a v i t a ç ã o ; d u m p o d e r q u e , s u b s t i t u i n d o - s e á n a ç ã o , g o v e r n a - a p o r s u a s próprias i n s p i r a ç õ e s , lev a n d o - a m a n i e t a d a a o c a r r o de s e u s desvarios. E s s a torça ó a o m n i p o t ê n c i a d o m o u a r c h a . E; o poder pessoal. 31 No seio dos partidos constit-ueionaes, que parecem ter j u r a d o nos altares de suas mesquinhas e ignóbeis ambições a deshonra e a vergonha da Patria, que parecem destinados, desde sua formação, a encherem de paginas negras c infamantes a historia politica deste paiz,—no seio dessas agglomerações d e homens corrompidos ainda se pôde distinguir u n s pobres crentes que por abi andam,—cedros que ainda restam da g r a n d e floresta de vontades e de consciências, desapparecida á chamina devoradora do g r a n d e incêndio que calcinou o caracter da nacionalidade brazileira E m n u m e r o muito limitado, esses cidadãos h o n rados e p a t r i o t a s ainda ousam lutar para extirpar aquelle poder, que t e m depauperado as energias e a vitalidade deste povo, e t e n t a m , no t e r r e n o da legalidade, fazer e n t r a r a nação na posse de si mesma, governando-se livremente. T e n t a m ainda isso, i n g e n u a m e n t e crédulos na cíficacia d ' u m a lei eleitoral que vivifique a vontade nacional, restabelecendo a verdade da representação por meio d ' u m a c a m a r a l e g i t i m a m e n t e eleita, e, port a n t o , livre. Crèm a i n d a q u e , organisado como está o poder, é possível c o n s e g u i r que a eleição exprima livrement e a vontade popular. IIludem-se, e illudem-se perigosamente, porque m a i s e m a i s p r o l o n g a m esse r a s t e j a r pelo lodo da m i s é r i a e do a b a t i m e n t o , em que vive este paiz. Não vêm que é de todo vão c inútil lutar c o n t r a u m a o r d e m de coisas, em q u e a soberania concentrase n ' u m só individuo, c u j o s poderes são hereditários. P r e t e n d e r l i b e r t a r a nação p o r meio do voto directo e universalisado, é impossível q u a n d o elle a b s o l u t a m e n t e não pôde s e r livre. Será, pelo contrario, u m novo e l e m e n t o para consolidar ainda mais, si é possível, o p o d e r r e a l Q u e r e m d e s t r u i r o mal, m a s c o m b a t e m o effeito cm vez d e c o m b a t e r a causa. O p o d e r discricionário e t y r a n n i c o do monarcha n ã o lhe vem do a b u s o ; elle nada m a i s faz do que exercer a s f u n e ç õ e s q u e l h e concede a carta constitucional. A g u e r r a deve s e r dirigida c o n t r a a lei. N'ella está a causa. N'ella e s t á o m a l . Sinão veja-se. T r a d u z i n d o a índole do g o v e r n o monarchico cons t i t u c i o n a l , q u e é a alliança hybrida e n t r e a m o n a r chia e a democracia, a C o n s t i t u i ç ã o p r o c u r o u e s t a belecer e n t r e esses d o u s e l e m e n t o s c o n t r á r i o s , i n i m i g o s , u m equilíbrio, que é impossível s u b s i s t i r e perdurar. Ao e l e m e n t o monarchico foi buscar o seu c a r a c t e r p r i m o r d i a l , o m o n a r c h a por graça de Deus, i r r e s ponsável, inviolável e s a g r a d o , com a p r e r o g ativa a m p l a de dissolver a c a m a r a t e m p o r a r i a , d e e s c o l h e r o s m e m b r o s da c a m a r a vitalícia, de n o m e a r e d e m i t t i r l i v r e m e n t e os m i n i s t r o s , d e d i s t r i b u i r e m p r e g o s a o s f u n c c i o n a r i o s , de fazer a g u e r r a e a paz, e t c . , accresc e n t a n d o - s e a t u d o isso, para coroar o edifício ei- 38 A. EVOLUÇÃO m c n t n d o d e t r e v a s , a h e r e d i t a r i e d a d e , ou a t r a n s missão do p o d e r aos seus d e s c e n d e n t e s , — m o n s t r u o s i d a d e q u e difBcil m e n t e se concebe. P a r a d a r expansão KO e l e m e n t o democrático, a C o n s t i t u i ç ã o diz q u e todos os c i d a d ã » são i g u a e s p e r a n t e a lei, q u e os Doderes políticos são delegações da nação, q u e elege os s e u s r e p r e s e n t a n t e s , q u e r t e m p o r á r i o s , q u e r vitalícios, com o direito d e i n t e r vir n a governação do E s t a d o . E m face d'essa d u p l a o r d e m de faculdades,— p r e r o g a t i v a s do m o n a r c h a e direitos d o p o v o , — n i n g u é m em boa fé o u s a r á d i z e r q u e a s o b e r a n i a p e r tence a este. A s o b e r a n i a reside e m u m p o d e r , q u e pode d e s vairar-se n a c a r r e i r a dos c r i m e s , q u e p o d e m a r c h a r d e desat<no e m d e s a t i n o , s e m q u e se l h e possa a p p l i c a r correctivo a l g u m , p o r q u e s e u s a c t o s r e v e s t e m - s e d a i r r e s p o n s a b i l i d a d e legal, c a t é d a i r r e s p o n s a b i l i d a d e m o r a l , visto q u e é a i n d a inviolável e s a g r a d o . Reside em um poder, contra o qual é impotente a v o n t a d e do povo, p o r q u e l h e p e r t e n c e o d i r e i t o d e d i s p e r s a r ou e u x o t a r os s e u s r e p r e s e n t a n t e s , q u a n d o estes, p o r v e n t u r a , l h e q u e i r a m c h a m a r á u m a severa liquidação. D e m o d o q u e n a d a val a ú n i c a valvula a b e r t a á r e s p i r a ç ã o social. Reside e m u m p o d e r q u e g o v e r n a d i s c r i c i o n á r i a m e n t e , p o r q u e é c o m p l e t a m e n t e livre n a e s c o l h a ou d e m i s s ã o dos s e u s m i n i s t r o s , q u e n ã o p o d e m s e r , p o r t a n t o , si n a u c r e a t u r a s s u a s , f o r m a n d o um p o d e r q u e vive s e g r e g a d o d a n a ç ã o . Reside e m u m p o d e r a q u e e s t á s u j e i t o o f u n c cionalismo pela nomeação «u demissão, dispondo, p o r c o n s e q u ê n c i a , d e t o d o s os m e i o s possíveis p i r a multiplicar, vinculando-o aos seus interesses, o numeroso exercito de sinecurístas e m conspiração permanente contra o bem publico. Reside e m u m p o d e r , e r n f i m , q u e s e e t e r n i s a n o g o v e r n o i n d e p e n d e n t e m e n t e d o voto p o p u l a r , e i n s e p a r a v e l m e n t e u n i d o a u m a só f a m í l i a . E q u e m exerce esse p o d e r m o n s t r u o s o ? O monarcha. O m o n a r c h a , p o r t a n t o , é o único s o b e r a n o . S e r i a a mais atroz e p u n g e n t e ironia atirada ás faces do b o m s e n s o e & v e r d a d e — d i z e r q u e a lei p r o c l a m a a s o b e r a n i a d a nação. E' claro, p o i s , q u e a c a u s a d o m a l - e s t a r e x t r a o r dinário universalmente sentido, que o motor único d a inversão perigosa, s e g u n d o o p h r a s e á d o u s u a l , d a s n o r m a s d o S y s t e m a R e p r e s e n t a t i v o é a p r o p r i a Constituição. P e d r o I I , g o v e r n a n d o d e s p o t i c a m e n t e como t e m n'o feito, e s c a r n e c e n d o d o s b r i o s n a c i o n a e s como t e m sido s u a n o r m a d e acção, coUocando-se s u p e r i o r á nação, é s i m p l e s m e n t e u m leal e fiel e x e c u t o r d a lei com q u e s e n a u g u s t o pai g e n e r o s a m e n t e d i s t i n g u i o este pobre povo. P e d r o II é a p e n a s u m revivedor, obscuro e s e m g l o r i a é v e r d a d e , d a s t r a d i ç õ e s d e Pedro I . E m vista d'isso, não s e r á u m a simples alteração no processo eleitoral, q u e ha de conseguir m u d a r a f i c e da a c t u a l i d a d e ; concorrerá a i n d a mais para cnnegrccel-a, p r i n c i p a l m e n t e o r d e n a d a s , como estão, e m redor d o throno, a s fileiras ínfernaes do servilismo. A crise em qne se debate c o n v u l s a m e n t c a sociedade brasileira n f t i s s rcsilva por esse m s i o A solução é u m a ú n i c a . E ' a Revolução. A lógica q u e preside aos d e s t i n o s das sociedades é d u m a fatalidade dolorosa, cruel mesmo, m a s íliam i n a d a m e n t e sabia, porque é a p r e p a r a d o r a de t o d o s os p r o g r e s s o s h u m a n o s . E ' a d u r a prova d a relatividade d o h o m e m , q u e n ã o pode c a m i n l i a r sinão s a l v a n d o precipícios i n s o n d á v e i s , n a d a n d o em m a r e s de s a n g u e d e r r a m a d ) p a r a f e c u n d a r a t o r r a do F u t u r o , e m meio de c a t a c l y s m o s q u e de q u a n d o e m q u a n d o , a s s i m como n a n a t u r e z a , se d e s e n c a d e i a m n a sociedade para arreVncssal-o v i o l e n t a m e n t e cada vez m a i s p i r a diante. E n t ã o , e só e n t ã o , a P a t r i a , d e s p r e n d i d a dos laços q u e a t r a z e m p r e s a a u m p a s s a d o d e i g n o m i nias e d e n e g r i d ã o , l i m p a s a s faces d a l a m a que as e n n o d õ a , i l l u m i n a d a a a l m a pelos raios coruscantes d a s g l o r i a s do P r o g r e d i r , — p e n e t r a r á t r i u m p h a n t e m e n t e altiva e s e r e n a m e n t e olympica os vastos, os espaçosos, os d i l a t a l o s d o m í n i o s d o Direita, d a L i berdade, da Democracia. O germen do g r a n d e acontecimento j a está lançado. O s d i a s e s c o a m - s e p r e n h e s d e a m e a ç a s terríveis, apontando-nos a approximação assombrosa do grandioso l e v a n t a m e n t o . O leão q u e parecia r e p o u s a r e m s o m n o começa a despertar. eterno, U n s i n c o n s c i e n t e s r u g i d o s a t r o a m os espaços. Predispõe-se p a r a o a t a q u e , f o r t e , robusto e e n raivecido. J a d e s p o n t a m no horison te os raios d o g r a n le a s t r o q u e , d i s s i p a n d o a s d e n s a s c a m a d a s d e trévas q u e envolvem e s t a t e r r a , h a d e i n n u n d a l - a n u m oceano e n o r m e d e luz. J . C. COLLABORAÇÃO 0 futuro d l patria ra O l h a n d o para o nosso passado politico j á fizemos s e n t i r a influencia q u e teve a Corôa na nossa o r g a nisação social; influencia q u e h e r d o u o Grão Magico de hoje, não d e s c u i d a n d o n u n c a de e m p r e g a l - a , á s vezes a t é com imposição, a t o d a s os seus homens de A EVOLUÇÃO e s t a d o . Agora, fitando os olhos n o p r e s e n t e , n e s t a s misérias h o d i e r n a s , q u e t o d o s nós t e m o s o direito de e n c a r a r , c o m m o v i d o s . s i m , m a s sem medo, sem covardia, p r o c u r a r e m o s a p o n t a r ao longe o f u t u r o que n o s espera. E não é já difficil m o s t r a l - o As t u r b a s i g n o r a n t e s , se c o n s i d e r a r m o s q u e , p a t e n t e o p r e d o m í n i o pessoal do I m p e r a d o r , d e s h o n r a d o s p o l i t i c a m e n t e os h o m e n s capazes de a r c a r c o m o g o v e r n o , ellas já d e s i l l u d i r a m so »lesta Monarchia, q u e s e a f u n d a , e só e s p e r a m hoje ou a obediencia d a Corôa aos d i r e i t o s p o p u l a r e s ou a salvação do Estado pelo Povo em Revolução. A p a r t e i l l u s t r a d a do paiz, a q u e vive pela p a t r i a e não d a p a t r i a , h a m u i t o q u e n ã o é m a i s alicerce d e s t a p y r a m i d e de e r r o s e abusos, de e g o í s m o e d e t r a n s i g ê n c i a s d e s c a r a d a s . H a m u i t o q u e os m a i s audazes e insofiridos l e v a r a m ao e s p i r i t o e s t a convicção p e n e t r a n t e e d o l o r o s a de q u e o I m p e r a d o r é u m P a c h i n e s t a t e r r a d e i n g ê n u o s . E' impossível a f e licidade d e u m a nação, levada a s s i m ao c a p r i c h o d e u m só h o m e m . A s situações p o l i t i c a s succedem-sc como creacões f a t a e s dos a m o l l e c i m e n t o s c e r e b r i n o s d o nosso Monarcha. E elle vac f a z e n d o o povo brasileiro p e r c o r r e r , m a n s o como c o r d e i r o , o cyclo n e g r o , q u e d e s c r e v e o s e u d e d o i m p e r i a l . Ha t y r a n n i a s q u e f a s c i n a m . O s dois partidos monarchicos attrahidos, fascinados, a t r e l l a d o s , como b e s t a s , a o coche a g a l o a d o d o Monarclia, vão s e m e a n d o a e s t r a d a com flores a r r a n c a d a s á n o s s a f e l i c i d a d e , e r e g a n d o - a s com l a g r i m a s c s a n g u e d o povo. Ambos impotentes para levantar as reformas á a l t u r a do s e n t i r e p e n s a r m o d e r n o s , vão d e s c e n d o velozes n a escala do conceito p o p u l a r . q u e p o r dedicação e a m o r às i d é a s q u e a b r a ç a m . E é t r i s t e vêr u m p a r t i d o n e g a r ao povo os s e u s direitos p a r a cedel-os á Corôa 1 O p a r t i d o liberal, o J u d a s d e s t e novo Christo q u e se c h a m a povo, l a m b e a s p l a n t a s ao M o n a r c h a e e s c a r r a sobre a nação. Desesperado por não poder r e a l i s a r as i d é a s q u e i l l u m i n a m a s u a b a n d e i r a , e s e m convicção e p a t r i o t i s m o b a s t a n t e s p a r a a r r e r a e t t e r c o n t r a o t h r o n o , elle, o d e s n o r t e a d o , r e f u g i a - s e nos braços da hypocrisia. Que benefícios pôde t r a - zer á nação u m p a r t i d o q u e , c h e g a d o o m o m e n t o d e provação, v i n d o s os i n s t a n t e s s u p r e m o s do c o m b a t e , abandona o c a m p o e esconde-se n a t r é v a e s c u r a ? O p a r t i d o liberal p e r d e u o d i r e i t o á e s t i m a d a n a ção, e, se n ã o f o r m o s u m povo de a b y s s i n i o s , a s u a bandeira deslionrada jnmais tremulará nas eminênc i a s do p o d e r . Áulico, p o r índole, como h a d e elle e x i g i r d a Corôa o respeito aos d i r e i t o s n a c i o n a c s ? D este p a r t i d o t a m b é m , como d o o u t r o , é i n ú t i l e s p e r a r a s u b m i s s ã o do I m p e r a d o r . I r a é a negação de todo o progresso, é o estacionamento chincz, a r vorado em principio nesta America que avança para o futuro. O o u t r o é o s e r v i l i s m o , a a d u l a ç ã o d o Rei, n e s t e paiz q u e vôa p a r a a Republica. P o r t a n t o , se os dois p a r t i d o s m i l i t a n t e s c o n s a g r a m o absolutismo, u m por suas idéas retrogradas, o o u t r o p o r s u a tibieza e covardia, é j u s t o q u e os r e p u b l i c a n o s , q u e j u l g a m i m m o r a l a abdicação dos A s u b m i s s ã o d a Corôa é hoje u m a u t o p i a , como t e m sido s e m p r e em t o d a Historia. d i r e i t o s p o p u l a r e s n a pessoa d o I m p e r a d o r , comecem a d e r r o c a r o p e d e s t a l d e s t a falsa Monarchia. v e n h a , pois, a Revolução. Que E e n t ã o o f u t u r o do Brasil será g r a n d i o s o , p o r q u e será o f r u e t o de u m a RevoluO p a r t i d o c o n s e r v a d o r ngarra-sc á velha carta c o n s t i t u c i o n a l , m i r a n d o a i m r a o b i h d a d c sccial, d e s prezando a s innovações b e n e f i c a s dos h o m e n s s u periores, e o q u e m a i s é, d e s c o n h e c e n d o ou d a n d o por d e s c o n h e c i d a a lei h i s t ó r i c a , q u e , s u r d a aos clamores e g e m i d o s dos q u e c a b e m , traça s e r e n a m e n t e a rota do p r o g r e d i r de cada nação. Os s e u s p r i n c í p i o s m a n i f e s t a m e n t e o p p o s t o s ao a s p i r a r m o d e r n o , a i l l i b e r a l i d a d e de s u a s idéas, o t e m o r de a r r o j a r a v i s t a p a r a horizontes i n f i n i t o s , o acanhamento das doutrinas, tudo emfim, neste p a r t i d o , a t é os proprios h o m e n s q u e representam a idéa, c o a d u n a - s e a d m i r a v e l m e n t e com a vontade d o Imperador. Deste partido, p o r t a n t o , é inútil esperar a s u b missão d a Coròa. Os conservadores t e m m e d o de d a r u m passo p a r a a l i b e r d a d e , m a i s por bajulação ao Monarcha do ção j u s t a , o p e r a d a pela p a r t e s ã do paiz c o n t r a a syphilis e gangrenas imperiaes. E n e m nos digão q u e n ã o vêm o a b s o l u t i s m o no Brasil. Não vêm ; é n a t u r a l . mysteriosamente. Elle esconde-se E u quero o d e s p o t i s m o d e Ale- x a n d r e d a R u s s a , expondo l e a l m e n t e as podridões do seu g o v e r n o , e não o de P e d r o II, d i c t a n d o ao gabinete as r a i a s d a futura constituinte. Quero Nero i n c e n d i a n d o Roma, e não Bismark o p p r i m i n d o os p r o l e t á r i o s . F e l i z m e n t e para n ó s , os republicanos, o i n i m i g o d a p a t r i a e s t á já d e s m a s c a r a d o . C u m p r e - n o s avançar. II 40 A EVOLUÇÃO Sublata causa lotiiivr effect* s. I n Vi-se ; sente-se; percebe-se ; ha como que uma |j onda fatal de marasmo a assoberbar a nova geração II brasileira. I I 1 ll Não só na historia, não só na ethnographia, i como na eduoçío. costumes e ei rcu instancias cliHistéricas e telluricas patrias, tenho para mim que pode o observador estudioso achar as causas da situacão mórbida e anormal porque passamos. Ou o resultado de intemperies que o desviassem >! da rota desejada, ou, após a fuga da costa africana, afim de evitar as calmarias, as poderosas correntes oceanicas, ou um desígnio firmado, como pensam poucos, o certo é que Pedro Alvares, nos mostrando aos olhos do mundo, considerou-nos apenas uma I sorpreza, um accaso, um louro de mais para sua p a t h s , quando não uma fonte onde noras riquezas haurisse. Grande era Portugal, mas chegado j á , deI pois das lutas com o mar em busca de terras, ao ápice da montanha da Gloria, que também f a t i g a . Não contava comnosco: por isso agrilhoou-nos primeiro e desprezou-nos depois. E, como quer que a raça indígena tivesse vindo do Septentrião, ou d a l é m dos Andes, do P e r ú ; ou do Paraguay, ou mesmo da Patagonia; o que parece provado é : I o que a emigração operou-se no sentido do Norte para o S u l ; 2* que, ou fossem cem, ou quatrocentas, segundo outros, as nações indígenas que habitavam o paiz, havia duas ramificações principaes: Tapuyas e Tupgs; 3 o que a raça lapy (e Gonçalves Dias sustenta-o) era a ultima ou a única conquistadora; 4* que habitava o littoral, e vivia da pesca, havendo, depois de luctas successivas, desterrado o lapii'ju, com quem não consentia liame, para o interior ; 5* que era menos cruel, mais nobre, e menos barbara; 6*, finalmente, postas de lado minúcias, que tinha accentos indeeizos da raça caucasica, em quanto que a tapuya era de todo oriunda da mongolica. F, o espirito geral de todo o gentio brazileiro era a ferocidade, a igaorancia, a aathropophagia, a indolência, de leve abalada pelo espirito bellico, que outra cousa não era senão o instincto de rapina. Do outro lado, Portugal nos inoculou todos os prejuízos de sua civilisação, e todos os erros de seu •trazo. De facto, plantou em nossa organisação : primeiro, o elemento monarchico, levado ao despotismo, na pessoa de governadores, possuindo alçada sobre o eivei e o crime, e poder absoluto sobre o gentio, soph is mando a authoridade ; segundo, o elemen- | to religioso, theocratico, por quanto, não ainda em terra firme, j á Frei Henrique profanava a natureza americana com uma missa, em 26 de Abril, e no dia !• de Maio resava outra no continente; porquanto, em 1549 com Thomé de Souza j á vinham seis jesuítas, e com Duarte da Costa mais avolumada legião, em mira á cathechese do selvagem, que, segundo um escriptor de nota, só se converte pelo a m o r ; terceiro, o elemento im moral, perverso, composto de degradados. réprobos de uma sociedade, gente sem lei n-ím fé. Só um naufragio, ou uma excepção caprichosa, pois que a fiôr da mocidade e os homens de bem iam para as índias, podia trazer almas honradas para a nova terra da Vcra-Cruz. Ora, d'estes dois factores : — indolência e selvageria de uma raça — civilisação gasta e viciada de outra — só podia sahir esta resultante : — a m a geração precocemente cansada. E ahi não pára o mal, entretanto. Em 1551, com a vinda do mísero bispo Pero Sardinha ao Brazil, e sua cohorte de sotaina, introduziu-se o braço esc avo. A lavoura requisitava-o; e o germen da nossa desgraça foi alli semeado com a friez do indifferentismo. A ethnographia demonstrou que, deitada mesmo á margem a theo ria da unidade ou não da raça humana e a theoria do angulo facial, a raça ethiopica approxima-se da animalidade irracional, a mongolica fixa o mrzzo termine conciliador, e a caucasica possue o dom perceptivo no grão máximo. Mas a percepção má e a percepção do mal, para o seguir, é o erro : é o que não é. A raça caucasica que vinha ao Brazil era d e g e n e r a d a ; a que existia, inculta. Pensai na influencia de um homem intelligente e mais ou menos instruído sobre outro intelligente e ignorante. Ajuntai o contacto com o n e g r o : brutal, estúpido, incapaz de perceber u m só raio civilisador. Logo, o poder crescente dos governadores, que faziam das capitanias feudos, servilizando o povo; a escravisação do gentio pelo colono, sempre lilho da ralé; a raça negra desenvolvida e aviltada, o systhema monarchico absoluto, tão inoculado na geração patria que ainda hoje raro se apontam os sãos caracteres republicanos : não é licito dar tudo isso como causa primaria dos males que S)ffremos, não curados ainda ? E notai: a primeira geração estrangeira que pisou aquelle sólo americano do Norte era composta de puritanos, homens de caracter e brio que não podiam soffrer as tyrannias de Carlos I ; a primeira raça que pisa o solo brazileiro ó de condemnados, avarentos, jesuítas e déspotas. Que geneze f a t a l ! E que fatal immiscuição ! SILVA Typ. da Tribuna JARDIM. Liberal. —4-