- LabConeSul História Social e Comparada

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- LabConeSul História Social e Comparada
A EVOLUÇÃO. Periódico editado por Assis Brasil, Júlio de Castilhos e Pereira da Costa. N.º 1 a 5.
São Paulo, 1878-1879. Biblioteca Central da PUCRS. Coleção Pessoal Júlio Petersen.
Publicação editada em São Paulo quando os autores eram estudantes na Faculdade de Direito
de São Paulo.
Versão de teste – Disponível para download em 05.01.2012.
A EVOLUÇÃO
Pericdico redigido pelos acadêmicos Assis Brazil,
Ann»
fl
1
P. da Costa, J. de Castilho
S. P a u l o , 1K d c A b r i l «lc I H 1 »
do Christo 1 Irrisãu 1 escarneo lançado á face do '
mundo, lançado á face de Deus!
E estes dous exemplos bastam.
S . P A U L O , LÕ DE A B R I L DE 1 8 7 9
Perante isto, o. que nós, os moços, devemos faExiste latente no seio (la Natureza uma lei que
zer para honrar o presente e felicitar talvez as geraimpelle fatalmente para diante os mundos physico e
ções porvindas ? Trabalhar desassombradamente,
moral;
mais ou menos, confórme as forças de cada urn, para
O mundo physico—pelas continuas transformaque os velhos ídolos, as estatuas feitas de barro, os
ções da matéria, tendendo sempre para o maie perantigos prejuízos, os antigos erros, rolem por terra,
feito;
I
\
desappareçam aos reverberas do grande sol da ||
y» f»
razão.
O mundo moral—pelo desdobramento persistenE' preciso que ninguém tenha a fronte voltada
te dos espíritos, operado na acquisição de idéfisVa-,
CRaítí£
às alvoradas do porvir com a alma presa, emverdades cada vez mais largas.
brenhada
nas negruras do passado; que todos se I
A'parte o que lia de fatal neste movimento indeficompenetrem de que a humanidade não vegeta; vive, '
nido, a livre indagação, apoiada no critério seguro da
caminha e .caminha sempre, a despeito de todas as
rasão e da experiencia, descobre verdades, classificatyrannias, atravez de todos os obstáculos, pois que os |
as, expõe-nas, dirigindo, animando, metbodisando o
destinos do mundo, como das alturas da tribuna jà
progresso.
o disse um grande espirite, saltam por cima dos caGyrando sob o influxo desta grande lei, na estreivalletes e das guilhotinas.
ta esphera da fragilidade de suas forças, a EVOLUÇÃO faSenão véde: depois daquelle primeiro bater de
rá delia, no caminho do jornalismo, o seu bordão de
azas de condores para a Reforma, depois dos sacriviagem ;
fícios de João Huss e Jeronymo de Praga, surge além^
Derramará os princípios da Democracia pura, coilluminado
pelos clarões dos mesmos princípios, o
mo supremo ideal das sociedades actuaes;
monge
de
Eisleben
; depois dos assassinatos de RusComprehenderá as questões litterarias na altura
sell e Sidney, relampeja no solo de Inglaterra o sada civilisação;
bre de Cromwell; depois de Voltaire pleiteando a
Consagrar-se-á, emfím, com ardor, ao serviço
causa de dous desgraçados, Calas e Labarre, a causa
da eterna Justiça.
da justiça, troveja o verbo de Mirabeau.
Grande tarefa, para a qual conta unicamente com
Assim, nem as infamias do concilio de Constana sua boa vontade e com a benevolencia dos c o n t e n ça, nem os desvarios infelizes de Carlos I, nem o desp o r a n o .
potismo dos reis de França, impediram a Victoria das
idéas
A EVOLUÇÃO não menciona estas lutas olyrapicas
( SYSTHESE )
na vida dos povos, para accordar aquellas paixões
As duas grandes revoluções, a revolução religiolargas e generosas que por tantas vezes têm animasa encarnada em Martinho Luthero e a revolução
do, em explosões electricas, os lúcidos batalhões dos ,
franceza de 89, fizeram muito a bem dos povos, mas
filhos do porvir. Não; ella reconhece que,sempre que j
não fizeram tudo.
fôr possível, devem-se evitar as revoluções armadas,
as revoluções sangrentas; tanto mais quando todas
Nem era possível.
as reformas, todas as transformações possíveis no
Existem ainda muitos axiomas, muitos dogmas
mundo moral podem-se operar naturalmente nos laque não tem sua razão de ser, que é preciso refutar
bora to ri os pacíficos da idéa.
á luz da justiça, á luz da consciência.
A
EVOLUÇÃO
Hoje ainda, mesmo em paizes considerados livres, a pessoa do rei é inviolável e sagrada; não pôde o monarcha responder nunca pelos crimes que
commetter.
Seja como fôr, é este um absurdo insustentável:
perante a philosophia não se concebe que um homem
possa ser criminoso impunemente; perante a moral e
1 equidade, é immoral e iníquo (1).
O papa é infallivel, porque é um inspirado, porque é o successor de S. Pedro, pirque 6 o successor
Mas, para que isto aconteça, o que é preciso? Que
&quel'es a quem mais competir, ouçam religiosamente os gritos e as lamentações que vêm do fundo
da historia; gritos e lamentações que são avisos, que
resumem conselhos.
Os padres e os príncipes que notem bem isto ;
os primeiros, se quizerem continuar a dirigir o re_
banho christão,que sejam simples e bons,e os outros,
s e desejarem reinar por mais algum tempo sobre os
povos, que atirem ao monturo todos os fal sos ouro-
PUCRS/BCE
peis com que os adornou a ignorância do passado.
Foi-se o tempo dos assassinos, dos bandidos e
dos monstros como Jacques Clement e Ravaillac,
Alexandre VI e Torquemada; dos déspotas como
Henrique VIII e Philippe II.
E, se esta é uma luminosa verdade, aquelles que
hoje tentarem imital-os, mesmo muito de longe, poderio ser esmagados pelas rodas do carro da liberdade e apressar de um modo funestíssimo a realisacáo do que estava reservado para sel-o mais tarde,
seguindo o curso natural, logico e providencial dos
acontecimentos humanos.
M o precisa ser um optimo observador para notar
que aquella nuvem borrascosa, acastellada n o c é o de
França, ha noventa annos, ainda não passou de
todo.
0 povo na sua sagrada aspiração de verdade e de
justiça, quer e ha de ser livre; porque a cada momento, a cada hora, vae tendo de si um sentimento
mais viro, mais largo.
Que não haja pais n e n h u m a obstinação, n e n h u ma resistencia, diante de sna vontade a u g u s t a .
E, para conjurar os grandes males que por ventura possam ennuviar o dia de amanlifi, é urgente
que deflnam-se bem as posições, para que os governos
não penetrem mais armados, porque não tem esse
direito, nos arraiaes da soberania nacional.
Procurar fortalecer o juizo de seus concidadãos,
sob este ponto de vista, com toda a energia das consciências puras, é o máximo serviço que poderá p r e star todo aqueíle que fôr se consagrando ú causa da
patria.
Considerando isto, a EVOLUÇÃO com toda a i m p a r cialidade, explanará rapidamente as questões s e g u i n tes :
O que tem sido o povo em f r e n t e da historia, o
que é e o que será q u a n d o baquearem definitivamente)
08 derradeiros baluartes do absolutismo politico e religioso ?
Sobre que base se f u n d a m os governos, e q u a l a
sua missão ?
A que a t t r i b u i r a completa d e s h a r m o r n i a , a l u t a
incessante, encarniçada m e s m o , entre estas d u a s entidades ?
Qual a causa geradora do d e s p o t i s m o e suas consequências ?
A necessidade d e e s t u d a r as q u e s t õ e s a p o n t a d a s
consiste n i s t o :
Observa-se que em t o r n o de a l g u m a s nacionalidades levanta-se, como espectro i n f e r n a l , u m certo temor vago, inexplicável.
Comprehende-se que ellas reconhecem q u e não
gosam da estabilidade necessaria, da necessaria liberdade, mas tem receio de a g i r p a r a ofim s u p r e m o . A
tal ponto que, q u a n d o ' surge a l g u m a divergencia e n tre os governados e os g o v e r n a n t e s , falta áquelles
a coragem bastante para dizerem firme e resolutam e n t e o que pensam e o q u e q u e r e m .
Será fraqueza ? Será irresolução mesmo ?
Er u m p h e n o m e n o n a t u r a l .
Aquelles que lêm as inseri peões seculares que
margeam o grande abysmo do passado, nfto o ignoram.
OH governos mal intencionados tem-se aproveitado desta fraqueza que não é fraqueza, desta irresoluçfio apparente para fazerem prevalecer a sua vontade, os seus raprichos.
Deixem muito embora cahir pelo caminho as sementes que tem produzido as mais assombrosas heeatombes.
Sé lhes faltar a intruccfto, da parte daquelles que
amam o direito e a justiça, taes naçòcs encaminhar-se.
hão necessariamente para este estado desolador; porq u e se é certo que as escravidões auxiliain-sc até dominarem completamente a consciência publica, é também certo que os povos não resistem eternamente
á pressão tyrunnica dos governos que se desmandam
P.
C.
O Constitucional, periodico conservador acadêmico, em seu I o numero, anno VI, publicado ha pouco,
declara-se solidário com o seu passado.
Inaugura, porém, um novo systema de l u e t a ;
descendo da esphera abstracta dos princípios para o
terreno pratico e positivo, promette analvsar e combater os actos do governo liberal.
Isto se encontra no artigo inicial, escripto por
Fernando Mendes, redactor chefe do periodico.
Na sua opinião, todos caminham — i m p e r a d o r ,
ministros e camara dos deputados,—para os ahysmos
da revolução.
O Constitucional afflrma uma verdade : os liberaes,
como os conservadores, como todos os governos que
tiverem o funesto intento de deter a torrente das liberdades, caminham para a revolução ; não naturalmente, dirigindo-se para c i l a ; mas caminham recuando, de costas, arrastados, levados na onda irresistível que t e n t a m reprimir em seu curso fatal.
—A. Werneck propõe-se demonstrar,em uma série
de artigos, a superioridade da soberania da razão sob r e a soberania do Povo QusKÍ^-^rhitelligentc articulista j u l g a r que tem a sua tarefa çoncluida, restarllie-á ainda o mais difficil da obra, isto p : demonstrar
q u e a soberania da razão não é conforme á soberania
do Povo.
—-O Constitucional traz ainda u m folhetim (le
Heitor Guido ; u m a estirada chronica parlamentar de
F e r n a n d o Mendes, onde ááo rudemente verberados os
a r r e g a n h o s revolucionários da camara temporaria c
atirado para os cornos da lua o zelo monarchico do Senado; u n s versos lyricos de Isaias d'Almeida; e outros
artigos.
—A Evolução saúda o Constitucional, cuja posição
lhe inspira syinpathia, porque, ao menos, é definida e
franca.
A.
B.
• oOj^Or
Leão
Uambette
A
EVOLUÇÃO ufana-se de inscrever em suas col u t n n a s esse g r a n d e e im mortal nome.
Ella q u e r acampar nos largos arraiaes banhados
pelos reverberas das auroras esplendidas do Futuro,
a
e Gambetta é o chefe mais zeloso da sua inviolabiliE" opportunista ; nfio como os políticos do pardade.
tido liberal brasileiro que, não tendo coragem para
renlisar as reformas tilo ardentemente pregadas nas
Levanta-ss para combater, no acanhado limite
de suas forças, os sombrios e negros phantasmas que I lutas de uma adversidade de dez annos,—porque sujeitam-se vergonhosamente á vontade da corôa—,inprojectam sombra no caminho do progresso edo envocam para a justificação a inopportunidade, fazendo
grandecimento dos povos, e Gambetta 6 iIlustre nas
uma capitulação deslionrosa e covarde.
phalanges dos batedores da Verdade e da Justiça.
Esse é um opportunismo caricato e de pura eonA
EVOLUÇÃO empenha-se pela realisação a mais
lata e a mais generosa dos progressos sociaes,—re- I venção.
sultante fatalmente do trabalho lento, mas accentuaConsummado e profundo estadista, Gambetta indo, da força persuasiva, mas incontrastavel da Idéa>
flue poderosa e accentuadamente nos destinos da po—da Idéa que nfl.i estaciona, que não recua, que avanlitica européa. Não, empregando a tactica diplomátiça sempre, derrocando prejuízos, deixando após si os
ca do Bismark,—tactica eminentemente machiavelica,
destroços accumulados dos erros abatidos ; e a g r a n auxiliada pela mais requintada má fé, em que o êxide gloria de Gambetta tem consistido em preparar,
to se mede pela perversidade da astúcia e pela brucheio de fé e da inaxima energia, o desenvolvimento i talidade dos meios que emprega mais do que pelo I
do espirito publico do seu paiz. e, sem jamais antetalento nas combinações; mas sim a politica que voe f
cedel-o, d>*duzir-lhe as luminosas conclusões—que
beber as suas inspirações nos princípios do Justo, do
sâo a realisiçV» dos princípios j á amadurecidos, j i
Direito e d a Moral, que combina os seus planos sob
depurados no enorme cadinho quo se chama—Cono ponto de vista largo e generoso das idéas e dos
sciência do povo 1
aperfeiçoamentos sociaes, prestando sempre respeitosa homenagem á autonomia e independencia das
A EVOLUÇÃO, emfim, entende que a luminosa e n nações, e não—violando-as, quebrando-as, aniquílancarnação da Justiça, do Direito, da Liberdade, não
do-as, como é norma de acção do diplomata allemão.
pdde ser sinão a Republica, e Gambetta é a synthese
fascinantemente
verno 1
deslumbradora dessa fôrma de go-
Demais, é bom, é consolador, é util mesmo, que
no meio da sombra espessa que sobre a alma sinceramente brazileira projectam os enormes e tristíssimos baqueamentos moraes que se está presenciando;
no meio das desesperanças que affiigem o coração do
patriota sincero, quando contempla entristecido a série interminável dos tripúdios i m p u d e n t e s sobre a
dignidade nacional,—é b o m , pensa a E V O L Ü Ç I O , atirar a gente as vistas para u m vulto homérico como
Gambetta, que glorificando a sua patria, h o n r a ao
mesmo tempo o s e u século; e diante desse g r a n d e
exemplo, s e n t i r fortalecido é r e t e m p e r a d o o vigor
para trahalhar firmemente, e n t h u s i a s t i c a m e n t e pelo
t r i u m p h o definiti vo das i d é a s .
E , pois, a EVOLUÇÃO j u l g a que não é i n o p p o r t u n o
lembrar esse g r a n d e n o m e .
Gambetta possue em gráo elevadíssimo as qualidades que formam a g r a n d e z a dos modernos h o m e n s
de Estado.
E' o homem das s u p r e m a s energias e das soberanas audacias, d a c o n s u m m a d a habilidade politica e
do mais p r o f u a d o talento pratico, movendo-se pelas
inspirações do mais acendrado patriotismo, q u e t e m
sido o promotor dos feitos mais gloriosos d e s u a
•ida.
Enérgico, audaz e de vontade hercúlea, elle c o n segue sempre, à despeito de todos os embaraços, a
•ictoria completa dos princípios
innovadores,
depois de inoculai-os e radical-os na consciência p u blica, porque elle comprehende a marcha evolutiva
dos acontecimentos, e não tem a vã pretençlo de dominal-os.
Dotado de u m profundo talento pratico e de
grande energia de acção, elle não é somente o homem que se eleva ao cume eminentíssimo desse
grande Hymalaía que se chama—o Ideal, sem conhecer as asperezas implacaveis da realidade, sem
apalpal-as, sem destruil-as para desbravar o caminho que leva ao progredir. Não. Dil-o o grande heróe da palavra—Castellar:
« Gambetta reúne accentos de Mirabeau a impetos de Danton. »
« Equilibrar em uma mesma
pessoa a idèa com o facto, a actividade da intelligencia com a actividade da vida, é o dom que deu
a natureza a Gambetta, cujo talento sabe voar com
as azas abertas pelo céo, e caminhar com passo
firme n a terra »
E estas eloquentíssimas palavras, todos o sabem,
encerram u m juizo profundamente verdadeiro.
0 amor com que Gambetta ama a França é immenso, tão grande que o leva ás vezes a loucos comm e t t i m e n t o s e a tentativas temerarias.
Todos o sabem. Quando Paris estava prestes a
desapparecer sob a saraivada dos projectis do exercito do rei Guilherme, ameaçando impiamente reviver as scenas tristíssimas dos Povos Barbaros, q u a n do as boccas de fogo estavam sinistramente voltadas
para a grande cidade, ameaçando extinguir aquelle
g r a n d e fóco de luz, deixando orpham o espirito h u mano—porque Paris é a m ã i intellectual do mundo—,
quando o povo, sublimemente heroico embora, a c h a va-se quasi desarmado de meios de defesa contra os
barbaros sitiantes, e prestes a c a p i t u l a r ; Gambetta,
que preferia ver P a r i s defender-se até ser reduaida a
um combro de cinzas e de destroços fumegantes,
a vel-a fazer u m a capitulação vergonhosa, tomou a
heróica resolução de ir, fõra dn grande cidade levantar com o poder magico de sua el jquencia, batalhões
qne corressem em salvação da França
Saliiu de Paris dentro de um balio aerostatico,
atravessando o espaço rodeado das terríveis incertêzas do sombrio desconhecido.
Esta sublime dedicação, inspirada como qae pelo
delírio do patriotismo, compendia a vida inteira do
grandr h o m e n !
Ninguém o i g n o r a : a estatura colossal de Gambeta começou a ostentar-se com o formidável desastre de Sedan.
Antes, sob o reinado neroniano do grande p e r rerso e do grande cvnico qne se chamou Napoleão
III, a q u é m , si fosse possível, a Historia devia esquecer para poupar & posteridade os horrores do mais
desbragado despotismo, que ennodoou os brazões
soberbos do século em que Tivemos,—foi estreito e
apertado o circulo em que se exercitou a potencia intellectual do jllustre tribuno.
I a resistência tenaz e heróica ao ambicioso vulgar 1
j que queria confiscar-lhes os direitos, a França sen
t i u bater em cheio no coração o fatal golpe que ca- I
I vou n e l l e um abvsmo enorme, ao mesmo tempo que I
I a t e r r a abria o seu seio para receber o cadaver do I
grande ThiersAcabrunhada e entristecida pela perda do seu I
I
iIlustre filho, a França sentiu vaciliarem-lhe as for- I
ças e o indomável valor, perdida quasi a esperança I
da sustentação firme dos seus brios.
Foi então que as almas dos democratas, que ti- I
i nham o olhar fito n a França, sentiram a invasão d o ,
grandes júbilos ao levantar-se sobranceiro o volto
de Gambetta, incitando, animando, fortalecendo os
1 ânimos abatidos, e guiando o Povo Francez a n m a das j
victorias mais brilhantes que ultimamente tem presenciado a humanidade.
{
E a França continuou magnificamente a fazer a
a f i r m a ç ã o tranquilla e serena do Progresso.
Amordaçada vilmente a consciência d a F r a n ç a
a mão sacrílega do t v r a n n o , rodeado p o r u m b a n d o
Aquelles, pois, que s e n t e m bater-lhes na fronte
ignaro de servis aduladores, terríTelmente p e n d e n t e
incendida os raios coruscantes do grande Astro—a
sobre os qne n i o se mostrassem adhesos ao seu g o Idéa, aquelles em cujos corações alveja a candida
verno e às suas leis,Gambetta teve de reconcentrar a s i flôr d a esperança, animada pela brisa do F u t u r o ,
impetuosidade« coléricas d o seu patriotismo, cerceaaquelles qae sentem os arrancos abaladores de proda completamente a liberdade da imprensa e a liber- I f u n d a indignação em face das hecatombes de hoje,
dade da tribuna.
I os qne, em fim,sonham para esta Patria—hoje pisada
e enxovalhada pelos negros batalhões do imperialis—Era o vulcão comprimido c u j o seio abrasado
mo—um f u t u r o todo cheio de irradiações de glorias,
revolvia-se em turbilhões de lavas—.
e de échos sonorosos de tríumphos—que procurem
E n t r e t a n t o , a despeito de toda a oppressão, a f i m i t a r o g r a n d e Republicano Francez. Porqne, se no
frontando desassombrado e com varonil energia os
furores do déspota, sua palavra trovejou muitas ve- I épico trabalho de levantarem este paiz & altura dos
s e u s gigantescos destinos, receberem a maldicção do
zes n o recinto do p a r l a m e n t o francez, ora sinistra e
E r r o , da Ignorancia e dos Prejuízos, virá depois a
tragiea, exprimindo nos estos da paixão a cólera e a
sentença decisiva d o g r a n d e Juiz—a Historia, que os
indignação que iam pela a l m a da F r a n ç a ; ora proabençoará e t e r n a m e n t e !
pheticm e solemne, predizendo a próxima qneda do
tyranno, em meio dos horrores sublimes, porque s i o I
J. C.
a explosão das consciências largo tempo comprimidas, da revolução popular.
Fragmento (*>
E era u m a profunda prophecia,porque si não s o ( INTIODCCÇÃO )
breviesse a guerra f r a n c o - p r u s s i a n a que trouxe comsigo o desastre de Sedan, o t h r o n o de Napoleão III j ' Musa d a Liberdade, ó Musa do Porvir,
havia de ser quebrado pela mão do povo, porque é f a Vivandeira fatal dos tempos que hão de vir.
tal, é inevitável o c u m p r i m e n t o da g r a n d e lei que
Mulher severa e meiga, i m maculada e triste
Da t r i s t e z a senil que só no j u s t o existe,
dirige as sociedades.
Organizando-se então a Republica, começou o j —Crepusculo na fronte e n'aima rosicler—
hercúleo trabalho da sua consolidação, no qual Gam- ; Hyperbole do Bem, impa vida m u l h e r ,
O' bússola da Luz, estrella americana,
betta tem sido o mais nobre operário.
Mulher cheia de paz, mulher republicana !
A Franca tem marchado de t r i u m p h o em t r í u m - j
pbo. seguidos das acclamações enthusiasticas das
—Eu oiço o retinir da t u a ingente voz,
consciências livres.
No templo do Futuro a prantear por nós.
E o nome do grande homem está indissolúvel- ! Eu sinto as vibrações do teu olhar superno,
E sinto de tua alma o palpitar eterno.
mente unido a esses t r í u m p h o s .
Apalpo o seio teu e sinto o coração
Ainda h o n t e m nublava-se s i n i s t r a m e n t e o céo
da França, *-uvens agoureiras, porque trevosas, ac- ! Pular-te dentro delle em estos de vulcão.
Vejo erguer-se sombrio o teu sereno busto
i cumulavam-se nos seus horísontes, ameaçando d e s Quando arremessa um grito o teu pulmão robusto*
farrr me em tremenda borrasca.
E soltas o teu verbo, enorme, pelo azul.
Era o 16 de Maio de 1877, que partia inopinada- I
mente vibrado centra aa liberdades p a U i c a s .
Quando as
pna
fileiras
populares
se
engrossavam
oppór, por n ã o da vietoría pacifica das urna».
(•)
Dus « Libelios a Itens >.
Na tua fronte altiva e límpida e serena
Ha prantos de David, ha raios de Saul,
Ha mansidão de pomba e crispações de liyena.
Embriaga-me a luz da tua fronte ardente
E cravo o meu olhar no teu olhar valente.
Amo-te muito, 6 Musa, e por um beijo teu,
Um beijo-inspiraçSo, longo, sublime, puro,
Um beijo de teu lábio, e amplo como o céo,
— Eu dava a minha vida e dava meu futuro.
Amo-te muito, 6 Musa. Inspiração, ardor,
Este forte valor, que 6 saúde d'alma,
Tudo me trouxe, ó Musa, este infinito amor.
Costumei-me a encarar na tua fronte calma
0 sol da nova crença, o sol dos ideaes,
Que teda grande luz das coisas immortaes
Nasceu da mansidão, da placida humildade.
;E ha quanto tempo já, por sobre a Humanidade,
Despontou do teu rosto o luminoso sol !
Mas a noite do egoismo atira o manto enorme,
Ruge o vento do mal de encontro ao teu pharol,
2 E a sombra vence a l u z !
A Humanidade dorme
No leito dn deshonra ensanguentada e só.
E, emquanto o nosso brio anda a rolar no pó,
Si a Honra quer se erguer. perseguem-n'a a pedradasOs raios do esplendor das testas coroadas,
O enorme resplendor da thiara papal :
São as irradiações maléficas, d a m n a d a s
Do espirito do mal.
Tudo morreu, 6 M u s a : a Charidade, a Fé,
A candida Esperança—a esplendida galé
Condemnada a viver co'os olhos no infinito
A Consciência humana—o r e t u m b a n t e g r i t o
Que agita-ségbramando e ruge dentro em n ó s ;
O orgulho do D i r e i t o ; o fogo dos lieroes;
Tudo o que h a d" sublime e g r a n d e e de elevado
Tudo, tudo, rolou por terra esphacelado
Ao peso esmagador d a enorme corrupção.
E, no abysmo sem fim do mar da escuridão,
Quando ergue-se do Bem o impávido rochedo,
Alteando o-busto forte, immovel e sem medo,
—Arroja-se sobre elle o torvo vendaval
Na orchustra libertina. Enorme funerpl
Dos brios, do pudor, j á morto apodrecido.
O gênio a n d a a morrer de fome e de descrido.
A honrada Verdade, essa mulher viril
Foi, morrendo, tombar por sobre o lodo vil,
Ao som do gargalhar, aos h u r r a h s estridentes
Dos devassos brutaes, dos ébrios impudentes.
•
E a onda vai crescendo, e vae subindo o m a r .
Contra a canal lia infame e u nobreza vil ;
Contra a devassidão, esse minaz reptil ;
Contra o vicio que se ergue c o mal que pavoneia ;
Contra a morte da Idéa ;
P'ra vir interromperem meio a saturnal,
Dar-lhe vida e vergonha, o Povo- -esse jogral ;—
l'ara extinguir, matar este infernal marasmo ;
Contra o despreso torpe e contra o vil sarcaamo ;
Contra o raio papal e a maldição do rei ;
—iO' Musa, o que fazer ?
•—Lactar.
—Eu luetarei.
ASSIS BliA7.lL.
Publicou-se, ha dias, o primeiro numero da Republica, orgam do Club Republicano Acadêmico.
O artigo inicial è firmado por Magalh&es Castro.
A Evolução quizéra ver nelle mais idéas e menos palavras,—a concisão enérgica d'um espirito profundamente apoderado da verdade d'uma causa—e não os
arrebatamentos de imaginação, que podem agradar,
seduzir mesino, mas—incapazes de produzir convicções serias e vigorosas.
A propaganda assim torna-se esteril, sinão impossível.
Falta a M. Castro aqnella lógica esmagadora,
aquella phrase curta, mas animada e incisiva e desapiedadamente cortante de Lucio de Mendonça, fazendo
recuar, tomados de receio, os mais temerosos adversários.
Seu período é cheio, é palavroso, é imaginoso demais para o artigo de jornal.
Magalhães—publicista — faz desmaiar o brilho
dos seus triumphos alcançados com gloria na tribuna,
onde o seu talento toma proporções verdadeiramente
notaveÍ8,e desperta sempre a mais enthusiastica admiração.
No firme empenho de guardar a máxima franqueza n a enunciação dos seus juizos, a Evolução não h e sita dizer que, insigne orador—Magalhães ha de sel-o
u m dia, e bem proximo; publicista de elevado mérito
diffleilmente o será.
Contem mais a Republica:
" Um artigo, primeiro d'uma serie, sob a epigraphe
—A idéa e a natureza—,em que se percebem logo as
scintillações luminosas do espirito de Affonso Celso
Júnior, a par d a elevação das idêas ; Reflexões Politicas
p o r S . Tullius ; o Manifesto de Diamantina por M. Castro ; Carla aos redactores da Republica, cm que seu
auctor se limitou a enunciar verdades por todos sabidas, excepção feita d'aquella com que fechou a sua
carta :—a revolução francesa só produziu fruetos rachitiços (/); um fragmento dns Libellas a Deus de Assis Braz i l ; e, finalmente, um belllssimo e elegante folhetim
de V. Magalhães.
A Evolução saúda a Republica.
; 0'
eBtrella polar>
Musa da Liberdade, ó Musa americana,
Mulher cheia de paz, mulher republicana !
B g ^ ^ p j M ^ ^ M irr '1
Bfcií-itíiÁífávf-bQ3
B M B W í » ni «fia tfiTy
J . C.
A g e n t e do m o s t e i r o
POR
SILVA
JARDIM -
S.
PAULO — < 8 7 9
.4 EVOLUÇÃO considera um dever de honra para si
i a apreciação imparcial, rigorosa e j u s t a d a s obras da
mocidade do seu tempo.
Sem altas pretenções a impôr conselhos, ella nilo
;
admitte, entretanto, que se lhe negue o direito d e
i dizer, como sente, o que sente.
Neste proposito, prestará a todos um grande
i serviço, porque inquestionavelmente a franqueza da
sinceridade é sempre um poderoso incentivo-aos produetos da actividade humana.
E ninguém mais do que nós precisa desse g r a n -
de motor.
Um preconceito horrível, gerado M a l m e n t e n a s
f entranhas da nossa organisação social, tem por tal
! fôrma centralisado, aristocratísado o mérito l i t t e r a !i rio, que a justa admiração transformou-se em idola!
tria cega e exclusivista.
Nesta academia o phenomeno manifesta-se mais
accentuado do que em parte a l g u m a .
Temos, por exemplo, dois poetas, inspirados, n a
' verdade, doces, fluentes, bons artistas, cujas p r o d u c cões agradam o ouvido e deleitam a a l m a ; t e m o s
! um joven orador, verboso, eloquente, sympathico n a
tribuna, possuindo u m a belíssima voz h a r m o I niosa.
E estes poetas e este orador são logo proclamados os primeiros e únicos. Ha os bons e o resto.
A. EVOLUÇÃO nunca lançará p e d r a s c o n t r a os
I méritos de n i n g u é m ; muito menos contra os d e
Theopliilo Dias, A. Celso e Magalhães Castro. Mas,
por isso mesmo que lhes presta a j u s t a h o m e n a g e m ,
os quer vèr reduzidos ás verdadeiras proporções, que
sãò grandes de si.
E o que mais é para admirar-se é que esta s u b serviência litteraria nasceu expontaneamente, mesmo
contra a vontade d a q u e l l e s a quem é t r i b u t a d a , q u e
são prudentes e sensatos bastante para preferirem
ser cidadãos da republica do t a l e n t o , a idolos d e
barro.
E' contra esta centralisaçilo desesperançadora
que a EVOLUÇÃO ha de clamar s e m p r e .
Si conseguir, pelo menos, abalar-lhes o falso pedestal, t^rá prestado um notável serviço e satisfeito a
I sua consciência.
Elle deve. ser o primeiro a prevenir esta desgraça enorme, e h a de prevenil-n, si não perder o bom
senso que até aqui tein manifestado.
Entretanto, a n t e s que o homem perca-se n a s
nuvens, como um deus, a EVOLCÍJÃO vaeencaral-o do
perto, n um rápido relance, porque mais não aspira»
e procurar gravar nas suas columnas as feições mais
pronunciadamente características do joven aiictor,
que acaba de offerecer-lhe o seu sympathico retrato
com este r o t u l o : A gente do Mosteiro.
*
A Gente do Mosteiro é a chronica da academia de
S Paulo, no anno de 1S78.
O espirito analytico do auctor p e n e t r a n a s e n t r a n h a s de todo o movimento acadêmico, e, n'uns.as
40 paginasinhas m u i t o elegantes e muito bem i m "
pressas, percorre toda a historia desse malfadado a n no que. « foi u m eclipse. Melhor d i s s é r a m o s : u m a
decepção ». Anno em que « d o r m i a m os t a l e n t o s ; p a reciam ter fugido a s boas disposições. A alma collectiva da mocidade como que se fraccionara. »
Silva Jardim começa dizendo o q u e somos nós
«o s a n t e l m o onde a p a t r i a fita olhares d e agonia » ;
diz o que foram os clubs acadêmicos com seus respectivos j o r n a e s , q u e « e r g u i a m - s e alli,não como quatro
atalaias, q u e deviam ser, da Luz, m a s como quatro
atalaias da Treva, que e r a m »; falia d a s lettras, lyras e direito e diz o que f o r a m A, Celso, Theopliilo
Dias e V. Magalhães, « o s t r e s mais sérios cultores
d a lvra acadêmica», diz o que foi o dia 11 de Agosto,
« o M a r a t h o n a d a mocidade », d e g e n e r a d o n ' « u m escândalo, n ' u r á descalabro, n ' u m baque doloroso d a s
nossas g l o r i a s » , diz o que foi o dia 9 de S e t e m b r o ,
e m que « a mocidade, repellindo h e r o i c a m e n t e o ataq u e dos esbirros, como q u e ensaiou rehabilitar-se
d a s misérias d e 11 de A g o s t o » ; e põe o ponto jinal,
a n n u n c i a n d o que « ahi vem u m a epocha nova acabar
com a transicção e n t r e a velha e a nova idéa, e n t r e o
velho e o novo r e g i m e n » .
Satisfeito com e s t a prophecia e com a s e g u r a n ç a
de t e r c u m p r i d o u m dever de consciência, • p r o m e t te aos s e u s collegas—A G E N T E DO MOSTEIRO EM 1879.
Eis ahi, d e s e n h a d o tão rápido q u a n t o possível, o
espirito g e r a l d e s t e livrinho, o primeiro que nos a p parece este a n n o .
A Evor.uçX.0 não o a c o m p a n h a r á no largo percurso do seu d e s e n v o l v i m e n t o ; porque criticar a critica
Appnrece-nos agora Silva J a r d i m .
E' uin moço que. tem muito talento e m u i t o p o u co dinheiro.
Por isso é estudioso, trabalhador, persistente e
honrado.
Por isso, sempre que apparece, appareee b e m .
Os idolatras receberam-n'o com meia dúzia d e
pedradas, a que elle resistiu, e vai resistindo victoriosamente.
T e m dito m u i t a g e n t e , e m u i t a g e n t e boa, que
Silva J a r d i m é u m a vocação esplendida para a critica. Afflrmam outros que o nosso auctor ó j á u m critico c o n s u m m a d o .
Finalmente o seu mérito real se ha de impôr a
todos I temos então o perigo de passar também S.
Jardim a ser moldado em barro, iara adoração dos
parvos.
A E V O L U Ç X C não lhe roubará esses méritos e até
o felicita pela lisongeira opinião que delle se faz.
Deve ter o critico um golpe de vista seguro e rápido p a r a a p a n h a r a h a r m o n i a na variedade da obra
e t r a b a l h o para u m volume maior do que o criticado.
*
'
I
I
li
d'arte, condensar os differentes elementos que nVlla
actuam e tirar esse conjuncto que se chama syfithese.
Mas esta macula é de quasi todos ou novos es- I
ëriptores acadêmicos.
Precisa do gênio indagador e minucioso, que disseca a obra até as entranhas, e, desligando, assim,
delia todas as nuanças, classificando-as e agrupando-as, conliecendo-as e comprehendendo-as, obtenha
o que se chama—analyse.
Manifesta o auctor, neste livro, uma pronunciada
sympathia pela descompostura : sympathía que lhe foi
de certo, inspirada por Castello Branco, mesmo por
Luciano Cordeiro, e principalmente por Silva Pinto,
um moço portuguez com tendencias a louco c com
pretenções a critico -
Si a EVOLUÇÃO reconhece esta ultima qualidade
grandemente, naturalmente desenvolvida em Silva
Jardim, sente declarar que a primeira llic équasiextranha.
A descompus lura fica muito bem em sociedades I
gastas, em caracteres decompostos ; não em S. Jardim, |
que è uma alma de donzella n'uina cabeca de pensa- 1
dor.
E' deste defeito, de não apanhar perfeitamente
o todo, que nasce para o auctor outro defeito fatal:
deinorar-se extraordinariamente na analyse de certos
pontos, gastando palavras, com prejuízo de outros,
fazendo, assim, manquejar a obra, por falta de equilibrio.
Entretanto, estas faltas, que mais claramente se
revelam nas suas obras anteriores, na tíetile do Mosteiro são raras. Prova de que o auctor t e m progredido e dá esperanças.
O critico deve ser um sábio, principalmente em
matéria d'arte, para poder com segurança apontar os
erros, mostrar as suas causas e os seus remedios : e
S. Jardim, que é muito moço, não tem nem pode ter
metade dessa sabedoria.
0 critico deve ter um padrão, um systhema, u m a
escóla á cuja luz affira o mérito, não para condemnar o que não fôr de tal escola, mas para que tenha
ordem e metliodo no trabalho e coherencia n a s idéas
e opiniões; e este systhema não o possue J a r d i m , e
parece que nem t r a t a d'isso, porque é a única coisa
em que ainda não fez progresso.
Por todas estas razões,e por outras ainda, a EVOnão lhe dará, por ora, o nome de critico, a elle
que é, entretanto, um feliz principiante.
LUÇÃO
*
O estylo de Silva Jardim é firme, áspero e energico ; porém, a p a r destas excellentes qualidades, é
gongorico em extremo. Este ultimo defeito é tanto
mais lastimavel quando vè-se que o auctor força a
imaginação e força o tropo, para não dizer as coisas
por linhas direitas.
A Gente do Mosteiro não teria mais de vinte paginas, isto é, metade das que contem, si lhe tirassem os gongorismos e epithetos e antitheses supérfluos que encerra.
Quem j á censurou a m a r g a m e n t e a poesia »cientifica de Teixeira Bastos, como válvula aberta a todas as mediocridades eruditas, não pôde autnrisar,
empçegando-a, a licença gongorica, que ó outra valvula... para as mediocridades superficiaes.
Comtudo, este g r a n d e defeito diminuo em S. Jardim, e a Gente do Moshiro não é a sua producção mais
gongorica, ainda que contenha coisas assim : «... elta
(a luz), o empregado• pubUco di republica do lulenlo «...
etc., etc.
Não se confunda, por amor do bom senso, s lin- 1
guagem desbragada e descosida dos novos portugue- 1
zes com a phrase severamente rude de A. Hercu- ]
lano, ou coin o látego ardente da ironia voltaireana.
A
EVOLUÇÃO
não faz uma critica; cumpre um
dever. Por isso, não leva mais longe esta serie de
pequenas notas. Ella podia, em alguns pontos, discordar também das opiniões emittidas pelo auctor; !
mas j á declarou que não entrava isto no seu plano.
Por motivo idêntico, deixa intactos dois pequenos senões grammaticaes que se econtrainno final dapagina
27, querendo antes attribuil-os ao typographo.
»
Esta quadra nos corre cheia de odiosidades, de
parvos ciúmes litterarios, de calumniosa má fé.
A
EVOLUÇÃO
não pisará esse terreno.
Dirá sempre
parecer verdade.
desapaixonadamente
o que lhe
E, quando, como agora, se tratar d'um
to real e proinettedor, será inexorável.
talen-
Nós não temos critica. Entre os poucos que, de
quando em quando, escrevem sobre tal assumpto,
Silva Jardim não é de certo dos da ultima fileira.
Espirito inquebrável, talento alevantado, grande
patriotismo e grande honradez—que também na republica das lettres lia honrados e deshonrados—são
qualidades que ninguém justamente lhe negará.
A E V O L U Ç Ã O não cede, pois, á lei da praxe, prophetisando para o auctor da Gente d•> Mosteiro, em
tempos muito proximos, um dos primeiros, sinão o
primeiro lugar, na critica litteraria do paiz.
A. B.
COLLABORAÇÃO
Abrindo esta secção, a EVOLUÇÃO quer unicamente offerecer um campo franco a todas as intelligencias
que quizerem aperfeiçoar-se na luta generosa da idèa.
Convida, pois, a todos, desde os mais illustrcs até
os maie modestos, e a todos offerecc seio amigo e desinteressado.
AO iSEgS
Está no pino o sol. A calma incandescente
Aperta a natureza em fulgidos abraços,
Na tórrida mudez desmaia a ffòr pendente
E a arvore retorce a rama nos espaços.
O miserando escravo, em fúnebres cansaços,
Revolve com a enchada a terra n e g r a e q u e n t e .
Ca«»-lhe o suor da fronte, e os seus robustos braços,
Scintillantes ao sol, descambam l e n t a m e n t e .
Súbito, as suas m i o s deixam cahir a e n c h a d a .
Ergueu-se a escutar. A fronte requeimada
Illuminou-se, então, d e e x t r a n h a magestade ..
—Vinha-se aproximando, além, u m som enorme,
Como um trovão que aceorda o m a t a g a l q u e d o r m e
— E r a m os batalhões d a deusa Liberdade !...
VALENTIM
MAGALHÃES.
S. Paulo, 7 de Abril de 1879.
ü futuro da patria
i
Entre as idéas g r a n d e s e g e n e r o s a s que g e r m i n a m em u m cerebro de moço, q u e pôde a cada
passo ser esmagado pelos erros imprevistos de sua
mocidade ou glorificado pelo desvello e dedicação nas
lutas g i g a n t e a s e expansivas do espirito, avulta l u m i nosamente a idéa da p a t r i a .
Concentrado no i n t i m o d a consciência, o moço
que chega á idade de vinte a n n o s , idade em que f o r ç o samente tem de 'ieoidir-se por este ou por aquelle s y s t e m a , inclinar-se por u m ou o u t r o p a r t i d o , escolher,
entre as i n n u m e r a s bandeiras que d i s p u t a m a vi| toria das idéas, u m a á c u j a s o m b r a se a b r i g u e ,
desarraigando do espirito as idéas que o a t r o p h i a m
pela falsidade do brilho, desligando-se de t o d a s e s t a s
impurezas intellectuaes—os preconceitos, o f a n a t i s m o
a ignorancia—como a alma, na hora da m o r t e , d a s
impurezas c o r p o r a e s ; o moço de vinte a n n o s , idade d» investigações dolorosas para o coração, d e provações s u p r e m a s para a a l m a , s e n t e - s e m a g n e t i c a mente a t t r a h i d o para a p a t r i a .
Então não lia pulsar de coração q u e não s e j a p o r
ella. Não lia delirar de intelligencia, que não seja
para recolher dc seus lábios o primeiro sorriso, de s e u s
olhos o primeiro olhar.
Que moço, por mais indifferente que seja, ao q u e
se passa em t o r n o de si, não terá sentido d e s e n h a r - s e
em sua imaginação o vulto cândido e immaculado d a
patria 1
Nesta idade, t u d o sonhamos, t u d o
t u d o poetisamos
idealisainos,
Pois quem, nestes sonhos fugazes, idealisações innocentes, neste poetar agradavel de t u d o que vemos,
«não terá desejado, sem orgulho, sem vaidade, sem
consciência mesmo do que deseja, ser cidadão util á
patria ?
Que moço h a , q u e baloiçando-se n a s azas da
p h a n t a s i a , não terá desejado i n c o n s c i e n t e m e n t e q u e
a patria corra i m m i n e n t e perigo c que elle a salve, ou
apostrophando u m t r a h i d o r , como Cicero no Senado
de R o m a , ou fazendo trovejar c a n h õ e s , que esphacelcm o inimigo, como Napoleão em Toulon ?
Todos t e m o s a nossa vaidade i n n o c e n t e de vir a
ser g r a n d e s aos olhos da patria.
Parn ella convergem t o d a s as aspirações d a s intelligeneias j u v e n i s , que estão s e m p r e a j o e l h a d a s a seus
pés, implorando de sua alma a inspiração d o b e m .
Que esforços gigantescos não fazem os h o m e n s
para s e r v i l - a !
Que l u t a s estereis, q u e i n t e r e s s e s pequenino»,
q u e paixões loucas, que d e s r e g r a m e n t o s sem n o m e ,
que ambições n*o s u s t e n t a m os h o m e n s ; a que perigos
não se a t i r a m , que i n f a m i a s n ã o c o m m e t t e m , que illegalidades não d e c r e t a m , p a r a servir a patria !
E ella, e n t r e t a n t o , a t u d o s u j e i t a - s s , m a s t u d o despresa no seu c o r a ç ã o ; porque vê c o n t r i s t a d a , a i n d a
com as vestes r a s g a d a s d a s l u t a s , q u e com seus proprios filhos s u s t e n t a r a , q u e i n f e l i z m e n t e e s t e s não
a c h a r a m a i n d a o meio d e b e m servil-a 1
Ella a todos a l o n g a os braços, e todos lançam-sc
nelles s o f f r e g a m e n t e , como filhos s e d e n t o s d e a m o r .
Mas u n s , em vez d e e n x u g a r e m - l h e a s l a g r i m a s ,
q u e como microscópicos e i n n u m e r o s d i a m a n t e s d e s l i z a m p e l a s faces i m m a c u l a d a s , e s b o f e t e a m - l h ' a s e escarram-lhe injurias!
O u t r o s c r a v a m - l h e p u n h a e s tão c o r t a n t e s que o
m u n d o estremece (Je h o r r o r I
E assim a p a t r i a , á mercê d e todos os caprichos
dos h o m e n s , vae n a v e g a n d o c a l m a , sem t e m o r , s e m p r e generosa, s e m p r e confiante no f u t u r o , porque vê
j á d e s p r e n d e r e m - s e ao longe as d o b r a s desta nuvem
n e g r a , que nos abafa o p e n s a m e n t o e c l a r e a r e m lioris o n t e s e s t r a n h o s a a u r o r a d a felicidade s u p r e m a .
Ella navega sem t e m o r , porque a náo que a cond u z leva a seu bordo o a m o r , a m a n s i d ã o , a caridade
a alegria, a f r a t e r n i d a d e , q u e hão de desembarcal-a
nas plagas infinitas d a Liberdade
O f u t u r o de n o s s a p a t r i a e s t á ahi.
Nós c a m i n h a m o s p a r a a liberdade,e é da conquista
d e s t e b e m universal q u e d e p e n d e a conquista de u m a
posição honrosa p a r a nós e n t r e as nações civilisadas.
O Brasil, desde o dia em que os portuguezes l a n çaram os primeiros g r i l h õ e s nos pulsos de nossos selvagens, grilhões que e s m a g a n d o - l h e s os pulsos, esmaga vain-lhe a ella o p e n s a m e m e n t o e a consciência,desde esse dia o Brazil n u n c a mais viu o rosto da liberdade.
A liberdade f u g i u - n o s e, na sua fuga apressada
deixou-nos apenas-por legado—desprezo pelo presente e confiança no f u t u r o .
Temos, pois, sido a t é aqui u m a nação de escravos,
como havemos de provar á luz dos princípios que professamos e acostados á t r i s t e historia politica do nosso
paiz.
A. L.
Typ. da Tribuna
Liberal.
A EVOLUÇÃO
Pericdico redigido peias
•lULIü OK C A S T I L H O S
ASSIS
acadêmicos
P E R E I R A
Cs ú l t i m o s
serão os p r i m . i r o s
Na epocha de transição que atravessam as sociedades actuaes, o passado parece exhalar os últimos gpmidos de agoira.
A Humanidade nem se aniquila, nem se enfraquece. Açoitada por todas as tempestades, queima la por
todos os sóes, naufraga de tudos os m i r e s , roartyr de
todas as calamidades,—ella se revigora ao emb »te dos
element >s contrários, e surge sempre em um c a m p 0
novo, banhada por uma aurora nova.
A Humanidade vem de longe. Os séculos ficam,
lhe aos milhares pelo caminho, margeando a larga
estradado tempo, como si fossem marcos milliarios de uma rota infinita.
Quieta volvesse os olhos para o passado havia d e
encontrar um longo estendal de rui nas. Por ali i pas_
sou, em vertiginoso galope, o corcel indomado do centauro que se chama Progresso, esmagando debiixo
das patas todas as barreiras, de envolta com todos os
déspotas que temerariamente as tentaram erguer.
Ou entornando rios de sangue, ou deslisando-s e
calma e serena atravez dos t e m p o s , - o que é cert» é
que a Humanidade não estaciona e muito menos reti ocede.
Ahi está o testemunho inteiro do passado, como
argumento irreplicavel.
Mas este caminhar athlctico, imponente não se dirige, aos ventos do acaso, para o porto do desconhe.
eido.
Ha uma lei inevitável que preside-lhe os destinos
e aponta-lhe o r u m o ; ha uma lógica que roune os
ffcetos; ha outra lógica que lhes presta unidade, tiralhes &s consequências c as apphea.
Ligados assim os acontecimentos por uma cadeia
inquebrável,—os phenomenos se harmenisam, dirigem-se cm grupo para um fim geral, resultado de todas as tendências particulares, effeito de todas as
causas parciaes.
Não ha facto posterior que não tenha explicação
n u m facto anterior; porque não ha effoito sem causa, porque não ha conclusão sem premissas.
C O S T A
B B A / J L
S . P a u l » , : I » «1« A b r i l d e 1 8 ? »
A EVOLUÇÃO
1>A
V
'£
Tudo se ajusta e se concatena, tudo se harmonisa
e se explica na grande progressão humana
Todos os acontecimentos historicos são annéis da
me*ma corrente, á qual se virão juntar novos acontecimentos, como novos élos.
E ' este o único ponto aonde, não chegaram, nem
chegarão jamais, as bypotheses gratuitas da metlia_
physica banal. A philosophia da historia entrou no
zodiaco dos conhecimentos humanos quasi completamente expurgada do virus d"essa lepra ab »minavel.
A' observação philosophica compete, pois, descer na escala da analyse os degraus d essa grande es- j
cada e determinar,como conclusão exacta das premis"
sas estabelecidas no passado, o ponto eminente para
o qual se dirige ella no futuro.
A Eroluçáo não gastará palavras e espaço n'um
processo já luminosamente realisado por outros. Resumirá as suas observações, limitar-se-á a apontar
factos, por cuja verdade offerece o incontestável critério do testemunho historíco.
Um facto desde logo fere as vistas de quem sinceramente deitar os olhos para o passado:—a Humanidade tem respirado, tem caminhado, tem luetado
sempre, tem sempre vivido por uma única idéa.
A sua aspiração, em todos os tempos c em todas
as circumstancias, tem sido esta única - Uberlar-se.
Libertar-se da contingência da matéria, retardando e>
procurando evitar a morte; libertar-se do tédio da
vida, da duvida pungente, da desesperança apathica
e mortificante, pela fé no sobrenatural, pela crença
na vida futura ; liberta r -se da auctoridade, pela revolução e pelas conflagrações sangrentas; libertarse do tempo, do numero e do espaço pelo mystic ismo theogonico, ou pelo nihilisrao pantheista (si
estes dois termos se podem combinar); libertar-se,
sempre libertar-se:—eis a suprema lueta.
Lucta, muitas vezes, quasi sempre, inconscien
te, mas incontestável.
I
Aqu"lles que têm comprehcndido esta fatalida_
de universal têm sido reformadores, têm sido heróes, têm abalado e mudado a face da terra.
Por esta idéa luctaram—Moiaés, Bouddlia, Christo, Attils, Maliomet, Luthero, os sublimes 1 nicos I
da Revolução Franceza e o cerebro enorme de Comte. I
IO
A Evolução nfto cita estes nomes ao acaso, como
se ha de ver. «
*
Ha ainda aqui um facto importantíssimo a registr.tr:— toda a idéa nova, toda a nova doutrina
que se apresenta com caracter universal, trazida
pela força das circumstancias, em uma dada opocha,
—tríumpha necessariamente.
Moysés não pisa a terra promettida ; mas o
I Decálogo, o Pentateuco sSo a inspiração de um
D povo inteiro durante mais de dez séculos;
Bouddha deixa-se morrer asceticamento nos ra| mos d'uma arvore; mas o Oriente regeita os livros
I dos Vedas e o Bouddhismo ganha incontestável preponderância sobre os sacerdotes b rali ma nicos ;
Christo morre pregado a uma c r u z ; mas a F é
a Esperança e a Charidade, estas trez armas brancas do mais sublime dos combatentes, dirigem os
destinos de grande parte do m u n d o ;
Attila morre embriagado e louco ; mas dos restos do seu broquel, dos estilhaços da lança de A larico, de Radagazio e de todos aquelles homens ferozes
e carniceiros, forma-se o cadiah >, onde mais tarde
se vão fundir as nacionalidades modernas;
Mahomet interrompe os seus gigantescos planos, surprehendido pela morte; mas o povo muçulmano arroja-se contra o mundo, brandindo a espida
da conquista, e, depois das scenas de sangue, inaugura as scenas de paz nos kalifados de Cordova e
Bagdad;
li
I
J
||
Luthcro sucumbe antes das discussões do concilio de Trento; mas a consciência humana fica batendo palmas de alegria,—rotos, emflm, os laçus da
escravidão, refreados a devassidão e o escândalo da
côrte romana ;
A Revolução Franceza é desprestigiada pelo brilho falso da espada conquistadora do bandido Napoleão ; mas a liberdade vence, e, extravasando no
solo da França, derrama-se pelo mundo inteiro;
Augusto Comte, finalmente, quenào foi nem reformador theologico, nem conquistador, nem innovador de religião, mas que foi tudo isso ao mesmo t e m po,—ainda hontem morria desgraçadamente; m a s
venceu, comtudo, porque arrancou o homem aos jogos pueris da metaphysica e apresentou-o em face de
si mesmo, no mundo positivo da verdade.
*
A Evolução podia,desde já, deduzir as consequências que a lógica auctorisa a tirar destes factos; mas
antes d isso, fará uma ultima observação.
O advento dos grandes homens e das grandos epochas históricas—não é mais do que o resultadi fatal
de um» necessidade geralmente sentida, como é lacil
de verificar
O progresso tem intermittencias, mas não tem souçõea de continuidade.
Os homens são grandes, somente quando a força
dos acontecimentos os faz toes.
Ora, estes acontecimentos, como já fleou dito « 9
como ninguém nega hoje, succedem-g». fatalmen- I
te, pela força do que se chama evolução histórica.
Mas esta força, que é uma lei e que se manifesta
pelo desdobramento ascendente das civili «ações, não
pode de maneira alguma ser arbitraria e anaichiea,
ella que faz a constante c assombrosa harmonia das
coisas.
Nas grandes epochas históricas, na successão do» 1
grandes acontecimentos historicos, ha, pois, neces- I
sariamente, um movimento harmônico e ineon- i
trastavel, que a observação pôde recolher e applicar ao
futuro.
Para não ir mais longe, a Evolução vae encarar
esses mesmos factos que ahi ficaram expostos.
O que nelles chama primeiro a attenção é a differença das datas.
Dos primeiros ensaios de reforma religiosa e so- J
ciai, sem fallar em Manou e na longa serie de religiões orientaes — das duas reformas mais significativas de Moysés e Bouddha, decorrem—termo
médio—até Christo,—14 séculos ;
A contar de Christo e das correrias de Attila e
Mahomet a t é a reforma de Luthero, ha—termo médio—12 séculos ;
Eutre Luthero e a Revolução Franceza contam-se
3 séculos;
E n t r e a Revolução Franceza e os progressos magestosos dos nossos tempos, que parecem destinados
a assistir & grande liquidação social,—medeia menos
de um século.
Não vem fóra de propósito a eloquencia consoladora destes algarismos.
E' digna sem duvida de notar-se a acceleração
prodigiosa com que os grandes acontecimentos historicos se produzem.
E' que, à medida que as sociedades se vão desprendendo do elemento do passado, se vão tornando também mais aptas para receber o Progresso.
Quando es«e elemento tiver de todo desapparecido e
as sociedades só se guiarem pelas inspirações do presente e pelas previsões seguras do futuro,—lerão ellas
entrado na sua marcha normal. Será chegado o regimen
da paz e do progredir harmonico e natural.
Paremos aqui.
Depois das premissas que ahi ficam, a Evolução esta
habilitada para tirar as seguintes conclusões :
a) A única idéa fixa, a idéa primordial da Humanidade tem sido e ha de ser sempre—a liberdade. Como
o sol, que fecunda, produz, anima e conserva, por meio
do calor e da luz de sens raios, a vida de todo o syslema,
—assim esta idéi-iuiter lança milhares d'outras idéas,
q ( ie não são, entretanto, mais do que raios seus. Assim
tainbem a arvore enterra milhares de raízes no solo, esgalha milhares de ramos no ar, e, entretanto, todas as
raízes e todos os ramos não são mais do que braços abertos do mesmo tronco.
ai
b) Pela conquista da liberdade, sub varias fôrmas e
em ti>dos os tempos, n Humanidade tem se atirado de
b.itilha em batalha, sendo sempre vencedora, na medida
de siris aspirações.
c) Os períodos de transfornnç&n progressiva snccedem-se no tempo em progressão acceleradamente crescente.
A vida do passado está, pois, por momentos. Os
negros castellos edificados nas trevas e que ainda se conservam, como espantalho do presente, começam, com
e f f e i t a ruir, pedra pnr pedra.
Os humildes de hontem que levantem-se do pó da
miséria e venham tomar o seu lugar de honra na grande
família humnna.
Si a historia não mente, si a philosophia não é falsa»
si a lógica tem alguma força, necessariamente está próxima
& Victoria definitiva da liberdade.
Jesus Christo nào costumava mentir :—Os últimos
serão os primeiros.
'A. B.
A Reacção appareceu, ha dias. Seu rodactor chefe, Briano Dauntre, no artigo inicial declara que o
programma daquelle jornal, altamente catholico, é
o da Egreja, seu pavilhão^a cruz. Isto posto, combaterá com todas as forças contra estos d j u s monstros :
o liberalismo anti-calhohco e a revolução.
Em outro artigo, poré n, sob a epígraphe--/! imprensa catholica—Briano mostra-se fraquíssimo diante
d'aqurlles m°smos m nitro .
Comprehende-se que o articulista, sob o império
das novas idéas, acha-se completa nente sem vigor,
e, procurando apparentar o contrario, enuncia proposições que são a condemnaçâo eloquente da causa que
defende. Assim diz : —«Confessemos com magna que
as folhas eivadas do virus rovolucionario são entre
nós mais lidas e mais vulgarizadas ; neguemos todo o
subHdio á imprensa, que u l t r a j a n d o as leis divinas,
insulta a moral e a Fé.»
Ora, declarar que seus adversarias vão t r i u m ph-tndo no terreno das idéas, porque seus livros, seus
jornaes são mais lidos, mais vulgarisados, e depois
fallar em subsidio, é o me9mo que dizer: «a causa
que defendemos ó má.e, j á que não podemos vencer
pela força da lógica,pela forçados argumentos, lancemos mão d'outros recursos.»
Traz ainda a Reacção : Abolição do juramento por
F. Júnior, 9 de Setembro p>r L. A ..O republicano acadêmico por Demócrito, Chronica e Folhetim.
Jornal de combate, sustentando princípios errôneos, mas d e c d i J o e franco, a Reacção occupa por Í S Í O
u m a posição digna de louvor.
A Evolução saúda-a.
P. C.
Ü Socialismo
A Ennliiçâ» pensa conhecer Hufftcienfmente o
estado da mentalidade brasileira para entender que
já soou a hora de apostolar n'este paiz a verdade sor
ciologica que o Socialismo representa.
A' Democracia pertencem as agitações que se estão
operando no seio da sociedade brasileira. Para seu
definitivo triumpho congregam-se todos os impuWos
da épocha que corre; a ella tendem irresistivelmente,
sem qu°. diss > se apercebam, todos os espíritos, quer
encaminliando-se direct imente, quer trabalhando
para desvial-a, contrariando-a, combatendo-a.
A recrudescencia destes fortifica a tenacidade
d'aquelles
E' cedo ainda para a propaganda socialista. E'
logico : — antes da reorganisaeão social, que é o Socialismo, a reorganisaçío politica, que é a Demo.
cracia ; antes da conclusão — a premissa que a contém
Todos os esforços actuaes, pois, devem ser ern_
penhados em prol da Democracia — vitalisando-ss
na Republica, que é o tronco gigante ; os rebentos
b r o t a d o fatalmente mais tarde.
E é assim o progresso : é esse encadeamento
preciso, logico, mathematico dos acontecimentos,
que se vão succedendo, prendendo-se uns aos outros
c omo termos luminosos d'uma mesma série infinita.
A Historia não é outra coisa sinão o desinvolvimento, no mundo moral, da grande lei que, governando mysteriosamente a humanidade, fal-a escalar
passo a passo a grande e íngreme montanha da Perfectibilidade.
A Historia é a Evo'uçâo.
S i é as-im, si está suficientemente comprovada e
claramente verificada a fatalidade do movimento
sempre ascendente das sociedades, é certo que o Socialismo ha de vir infalivelmente, mais tarde ou
mais c 'do, impondo-se-nos com a força, com a irresistibilidade proprias dos princípios que, ganhando
a consciência publica, tendem a vitalisarem-se no
terreno positivo dos factos.
A Evolução julga, portanto, util.acostumarem-se
desde j á os espiritos a encarar de frente esse temeroso problema.
Ella vae encarai-o muito syntheticamente, e unicamente sob o ponto de vista philosopliico, porqne sob
o economico h a necessidade de indagações mais de-"
talhadas.
Os homens são iguaes. A creação da natureza
não foi destinada á felicidade e suprem") bem-estar
de alguns,e á desgraça eterna de outros,de modo q ue
agrupando-se em lados óppostos, vivessem—uns envoltos nos faustos njagnificos da oppulencia,e no moio
da ebriedade dos prazeres, e—outros soffressem a
acção envenenadora e mortificante da miséria.
Não. Os homens são essencialmente iguaes, pois
1«
que, rui linguagem de O. Martins, «a Força, a Materia, a Organisnçüo que os forma sfio idênticos ; diversificam apenas os aepectos, os phenomenon que e*<a
força, essa materia, essa organ Maçiio apresentam,
sendo a igualdade a norma, a lei, e a desigualdade
o accidente ».
Mas este grande principio, que j á conquistou
palmo a palmo o terreno formal das especulações da
Razão, ainda n i o recebeu a sua consagração completa
e inteira no terreno da consummaçfto dos factos.
Só tein-na recebido em parte, un-camente sob o
ponto de vista politico, e i-so mesmo com maior ou
menor imperfeição, com maior ou menor acanhamento.
Ahi está para prova, cobrindo a face da Europa,
a sombra sinistra da Miséria na abj-cçSò, a turba
enorme do Proletariado, debatendo-se nas va«cas da
mais terrível das agonias ; e ameaçando convulcionar tragicamente a sociedade europía, ei continuar a
persistência em contrariar a corrente revolucionaria
que agita a alma encandecida dessa grande multi Ião,
que nada mais quer do que conquistar os seus direito! extorquidos
Um olhar sinceramente observador, lançado sobre
as sociedades ccntrmporancas, verificará que ainda
reina um grande, um immenso desequilíbrio nas posições sociaes, e que, contrastando com a opulência de
alguns privilegiados, levanta-se sinistro o espectro
da Fome e da Desgraça.
Fundado n' aquelle grande principio, observando
calmamente os acontecimentos da vida positiva,apparece o Socialismo, combatendo, para acabal-o, esse
desolador estado de coisas, que, fazendo descer o h o mem abaixo de sua natureza, lança a pcrturbaçfio n o
seio das sociedades, produzindo a sua completa des-
A Evolução acompanha oi^ocAnlismo moderno, o
Socialismo que «e agita boje na Europa, não ao de
Saint-Simon, de Fourier, etc.
Mas, de que modo?
Que falle elle pela voz de um doa seus moderno*
Apostolo« : • Fazendo c «m que, esgotados os ídhw*
historiens, e favorecendo a s doutrina» dominante«
( naturalismo scnsualista, individualista na politica)
odesinvolvimento das tendências anima«« do homem á custa de suas faculdades superiores e moraes,
a pmducçw e o consumo ou o trabalho e seu pr..duelo
não sejam o fim para qu*6 se vive, m a s o mudo pelo
qual se mantém a existencia, fazendo com que op->rgiltiy não usurpe o lugar do para que ; afim do fazer cessar o estado, em que, abandonado o Ideal das grandes
coisas do nosso espirito que são o objecto Ra neto da
nossa vida, o rico, na sua febre de mais uccuwul-ir, só
busca enthesourar á custa d o pobre que, lançado nos
horrores da necessidade implacavel, só tem um ideal :
sahir d'esse estado para poder s u s t e n t a r a existência.
Protegendo o homem esbulhado dos seus direitos. não com a Justiça distributiva, não com a charidade que.alem de i m p o t e n t e , é perversa p e r a n t e o problema da miséria, s >cialmente considerado ; m a s com
o Direito h u m a n o , com a J u s t i ç a c q m m u t a t i v a , com o
Estudo real, o r g a m da J u s t i ç a .
Legitimando a propriedade, legitimação que consiste em tornai-a accessivel a todos, para que se não
accuse de i n j u s t a a diatribuiçl« dog bons,«m assentai-a
sobre a base única d » trabalho, p a r a q u e si não a c c u .
se de roubo a propriedade ; pois, para o Socialismo,
e
l l a nS" é mais do que trabalho effectuad'.». d-t que actividade concreta, d » q u e trasf >rmaçã-i d a matéria
Dand », porfemt"», a» t r a b a l h o u m a j u s t a c p e r f e i t a organisaçã », d e m- do que elle n u n c a faite, c o n s t i t u i n d o
para o individuo um incontestável direito. •
organisação.-apparece como um protesto energico contra as classes conservadoras de instituições que não
correspondem, que
não podem mais corresponder
ao estado de progresso moral dos povos, instituições
que j á satisfizeram o seu fim n a Historia, e q u e d e - ,
vem cahir -por anachronicas e imprestáveis. Apparece,
emfim, afirmando que a Igualdade é a base d a Liberdade, e que os povos que quizerem viver tranquillos á
sombra da Paz, devem tornai a real, porque só a sua
consagração fará cessara luta p e r m a n e n t e , continua
dos interesses sociaes.
O Socialismo nito pôde, portanto
ser eombatido
pela sua origem, que 6 a mais legitima
Mas quererá elle demolir tudo, nppor-se ás tendências irresistíveis, porque instinetivas, do h o m e m ,
que o levam a procurar apropriar-se dos objectos
externos em satisfação ás necessidades do seu ser ?
Não. Elle quer a r e f o r m a d a actual organisação
social, quer collocar n u m a perfeita h a r m o n i a , n u m
justo accordo, o^modo de ser social com o modo de ser.
das consciências, que não estacionam no caminho do
Progresso.
De que modo?
,
If
r i g a - s e a verdade d e s a s s o m b r a d a m e n t e , sem recear d e s p e r t a r as susceptibilidades d a s crenças myop e s : o Socialismo, como é propagado modemame-nte,
é o echo do grandioso Verbo que ha 10 séculos se erg u e u no m u n d o , d e r r a m a n d o por toda a Historia torr e n t e s caudalosas de Luz.
Sim; desprenda-se o C h r i s t i a n i s m o d o elemento
religioso que acanha -o e d eslust ra-o ,po r p r e ponde ran~
te que é ; á t t e n t e - s e o meio social acanhadíssimo em
-que se agitou o cerebro e n o r m e do g r a n d e Reformador
Social; penetre-se, despido de preconceitos e d e pueris prevenções, a essencia i n t i m a d o p e n s a m e n t o
christão >-e os espíritos s ã o s , c a l m o s e reflectidos, o»
que procuram o conhecimento da verdade, esclarecidos peloalampadario d a imparcialide e da fria Razão, convencer-se-hão de que o Socialismo c o n s a g r a r
se á sustentação dos princípios do g r a n d e Philosopho.
Que período novo era necessário a b r i r para shcceder ao período da sociedade R o m a n a ? Em frente da
g r a n d e lei historiem, qual foi a missão de Christo ?
O
A Evolução, repetindo o que alii anda nas consciências esclarecidas, responde deste modo:
— Operar a renovação interna, radical do honiem,
I para tornal-o apto para receber as luzes da nova civilisaçfio, c, como do principio emana logicamente
a consequência, dessa renovação interior,radical devia
provir infallivelmente a da sua vida politica e socialMas, soffrendo accentuadamcnte os influxos da
époclia em que viveu, não podendo, apezar da lumino.
sa intnição do seu gênio,— o primeiro que tem produ! zido a Humanidad e, libertar-se completamente dos
vicios que cobriam a socicdadc sua contemporânea,
sua doutrina resente-sc demais da preponderância do
elemento religioso, ficando o sociológico completamente embrionário, o que tem concorrido para que
tenha produzido apenas a metade dos seus fruetos.
0 Christianismo proclama a igualdade completa
dos homens ; o ideal do Socialismo consiste em rcalisal-a na sociedade. Aquellc préga eloquentemente a
fraternidade h u m a n a ; este trabalha para q u e , e x t i n ctas as causas das dissenções e lutas permanentes
entre os homens', ellcs vivam como n ' u m a só família,
t endo os mesmos interesses, e, unidos pelos vínculos
da mais perfeita solidariedade caminhem harmonicamente para os mesmos fins
A theoria do Socialismo è a theoria do Christiamo, desinvolvfda c ampliada.
. 1
Nfio sabem que a Locomotiva ingente da Idéa, I
lançada em vertiginosa carreira pelos trilhou inter- |
miiios do Progresso, vai violentamente bater de en- 1
contro aos rochedos que se erguem sombrios no ca- |
minlio, c, com a força que a governa, arraza-os, pat- I
tiudo-os de meio a meio t
J. C.
No álbum d"um poeta lyrico
Rompe o sol nos confins do plácido Oriente.
Do céu azul rasgando a límpida cortina,
A rósea luz cortante esbate na retina,
Bem como d u m a lança a folha reluzente.
n
Começa o movimento. O obreiro persistente
Nas entranhas da Terra escava a grande mina.
O rnartello, na forja, em musica divina,
Solta aos ares, batendo, o cântico estridente.
L e v a n t e m - s e , m u i t o embora, sinistros c pavoro.
sos, os cadafalsos.
A elles r e s p o n d e r á a repercussão e l e c t r i c a d a voz
dosApost"los da g r a n d e causa—na consciência publica
Um Hoedel q u e cahe r e t e m p è r a a tenacidade das
cerradas p h a l a n g e s .
Loucos | I n s e n s a t o s os que q u e r e m deter a torr e n t e do P e n s a m e n t o .
f
Sob um braço nervoso agita-se uma enxada.
O arado rompe a Terra, a grande mãe. Do nada
A vida surge, então, n a esplendida harmonia.
E, entre o canto do obreiro e o cântico das aves,
Ondula, tremulando, em Ímpetos suaves,
A bençam maternal da grande POESIA.
A Evolução s e n t e não poder espraiar-se em considerações em ordem a deixar mais bem f u n d a m e n t a dos os seus conceitos.
A Evolução repete : o curso incomprehensivel das
idéas, não o detem barreira a l g u m a , o Socialismo,
p o r t a n t o , lia d e v i r .
Os factos estão p e r s i s t e n t e m e n t e a p r o c l a m a r
essa verdade.
E á A lie m a n h a , a g r a n d e , a i m m o r t a l Aliemanha,
a naçffo onde p r i m e i r o se illuminou a consciência hu_
m a n a aos r e v e r b í r o s do sol d a palavra dc Martinho
Lutliero, a nação que illimitou o campo do p e n s a m e n to h u m a n o ao m e s m o t e m p o que a Historia recolhia
para estrellar o seu firmamento,—o n o m e de G u t t c m "
b e r g , a nação que tem sido a i n a u g u r a d o r a dos g r a n "
des períodos historicos, que são como os degráos
d u m a escada i n f i n i t a , por o n d e o Espirito H u m a n o
vai, n u m a ascendencia l u m i n o s a , se e n g r a n d e c e n d o e
se aperfeiçoando no espaço e no t e m p o , á A l l e m a n h a t
parece, em d e s e m p e n h o do seu d e s t i n o histórico, está
reservada a gloria a s s o m b r o s a de t r a n s p o r t a r o Sócia
lismo do l í m p i d o céu do Ideal á t e r r a aspera d a r e a lidade.
ü
ASSIS
|
BRA/.IL.
Povos e governos
O l-ovo
I
A Evolução vai demonstrar, lançando mão dos
mingoados recursos que possue, como o povo tomou
as veredas da liberdade e tem gradativamente con quistado os direitos que lhe havia extorquido a omni~
potencia das velhas tyrannias.
Isto j á tem sido luminosamente desenvolvido^
m a s a Evoluam julga de seu dever repetir imperfeita
e rapidamente a demonstração desta verdade.
A imagem do passado pôde de alguma fôrma retemperar os espíritos que se entibiam e vacillam sob
uin m u n d o de duvidas e de incertezas cruéis.
Vacillam, quando no céo se atropellam nuvens
agoureiras e não muito longe talvez estão as arestas
do abysmo.
Fortaleçamo-nos, pois, m u t u a m e n t e em quanto
é tempo : os m o m e n t o s são decisivos.
Espanquc-sc a t r e v a ; que irrompa a luz por toda
a parte.
«
E áquelles q e pensam que a civilisação pôde m u d a r de r u m o , provemos pelo passado que é inevitável
a lei do progresso," e q u e procurar reter o curso das
idéas, é tão temerário como inclinar-se á bocca de um
vulcão.
O que era o povo na antiguidade ?
O que hoje se chama povo, na antiguidade, constituía a classe dos escravos, um bando de creaI furas mais ou menos livres, mais ou menos opI pressas.
Miserável, sem liberdade, sem instrucçlo, porí que então a riqueza, a liberdade, a iostrucção erão
| privilégios de poucos, muito poucos,—o povo, assim
jj acorrentado, construía palacios imm"nsis, pyrami;f des colossaes, e derramava o sangue nos campos de
l| batalha, para gloria e immortalidade dos reis.
Assim é que o illustre escriptor Ernst diz : «A
j antiguidade desprezava o povo: desde Xenophonte e
I Aristóteles até Catão e Cicero, o povo não era mais
9 do que um amalgama de creaturas miseráveis*.
A Evolução considerará o povo era Roma, porque
I 'oi alli que mais decididamente manilestou-se.
A sociedade romana, como todas as sociedades
9 antigas, dividia-se em duas classes—patrícios eple_
I beus, nobreza e povo. salvo as denomínaçõas que variavão, sem alterar o fundo.
Diz eloquentemente Lamennais : «Na cidade roI mana os patrícios tinham-s? apoderado do sacerdocio,
dos ritos religiosos, dos augures, dos c a r g j s públicos, da maior parte dos bens, e despojavam ainda o
povo pela violência, a frau le, a usura, do pouco que
podia adquirir ou conservar. Elles só gozavam dos
direitos inherentes á natureza humana. O plebeu não
tinha nome, porque não era,na realidade u na pessoa,
mas sim um escravo, um instrumento de producção,
e, no tumpo de guerra, uma machina de combate.»
Para quebrar as cadeias que a prendiam a este
estado degradante, a plebs fez esforços homéricos, e,
não poucas vezes,sentiram-se fortes lampejos de liberdade. Mas, cousa s i n g u l a r ! seus triuraphos foram
sempre ephemeros; cabido que fosse o despotismo,
de uma fôrma ou de outra, levantava-se alli, como
Anthêo, mais forte ainda.
E qual a razão d isto ?
que parecem ainda cercados por uma chu «ma de pobres, dos pobres á cuja causa sacrificastes a vida?
Depois destas lutas civis e outras de menor importância para a liberdade, tudo se ia em Roma como
que preparando para tremendas revoluções.
A corrupção, como uma onda imm«*nsa, levantava-se cada vez mais alto e ameaçava submergir a
cidade rainha.
A devassidão, o luxo, a magnificência, entram sinistramente em scena. Os banhos aromáticos, as
grandes cortezãs, os banquetes, as orgias apparccem.
E a tudo isto o povo soffria, morrendo de fome, sob o
peso da tyrannia impudente. Cezar, pretendendo ser
um protector, foi abertamente um tyranno.
As cousas estavão n'este pé,quando escalou os degráos do throno, pisando por cima de um montão de
cadaveres, o infame co-raptor Augusto.
O Filho adoptivo de Cezar absorve em si de novo
todo o poder, não de pê, como fazem os déspotas herdes. mas rastejando pelo chão como u m a serpente.
E depois de manietados assim os pulsos de todos
os cidadão», depois de ter agrilhoado, emfim. a n a ção ao suppedaneo de seu throno sangrento, s n guro
de que podia viver tranquillo no meio de seus escra vos, brada satisfeito insultando o mundo subjugado :
Paz!
Não, covarde assassino do divino Cicero, Paz l
Esta palavra radiosa que symbolisa cousas santas e
boas, não pôde ser d i t a por ti.
A Paz, a g r a n d e Paz que fratsrnisará inteiramente o mundo, «nío sorrirá das alturas faustosas do P a .
latino, nem do limiar do templo fechado d e J a n o , mas
d e u m a pobre choupana».
E foi assim, quando o espectro de Caim surgia
por toda a parte, que das bandas do Oriente, lá pelo
céo da Galliléa, u m a nuvem cor de rosa despontava nas
f r a n j a s do horisonte, e levantava-se e levantava-se
cada vez mais ; em q u a n t o que a figura docemente
pallida do Christo apparecia n a t e r r a entre os homens.
Vai começar para a h u m a n i d a d e u m a nova éra,
Inspiração divina, ura gênio assombroso vai proclam a r a fraternidade, a igualdade entre os homens e
Foi assim que os Gracchos, aquelles eloquenpreparar o reinado da verdade, da virtude e da justiçatíssimos Gracchos. ao clarão que se lhes irradiava da
J á apresta-se pela elevação, pela sublimidade dos
palavra, não puderam desmascarar a infamia de seus
princípios o g r a n d e exercito,—uns humildes pescadoaggressores; não puderam, hypothecando os m a i s
res—,que vai s u b j u g a r o m u n d o pela fraternidade, pelo
sublimes esforços, quebrar de um jacto os g u a n t e s
amor.
de ferro que arrochavam os pulsos de seus irmãos.
Oh 1 q u a n d o pensariam aquelles s a n t o s e h u m i E pereceram : — um, covardemente atraiçoado, cái
lissim is trabalhadores, que eram a bondade, a mansimorto nos braços da gloria, t ã j im maculado como a s
dão encarnada, que, em seu nome e no de seu Divino
azas de um archanjo; o outro, calumniado, perseMestrè, se haviam de erguer patíbulos, accender foguido, é obrigado a fugir e faz-se matar nos a r r a n gueiras, e que, —appellidados os verdadeiros succescos do mais santo desespero.
sores do Rederaptor dos povos,—se havia de s e n t a r
Irapollutos cidadãos, que fostes a incarnação
em dourados thronos u m a serie de reis, donde e s t e n viva da severa justiça I quem não abrirá expontaneaderiam os pés, talvez de bandidos, para serem beijados
raente no coração um templo de amor, um sacrario
pela multidão incauta dos crentes ?
para recolher-vos os noines com uma chuva de í
O doce filho de Maria, depois de illuminar aquelbênçãos?
les que deviam ser seus continuadores, morre contenQuem não se deterá contemplando com o mais
te nos braços de u m a cruz.
sagrado respeito, levantados no declive da grande
A s u s sublime d o u t r i n a vai descer agora das c u montanha do passado, os vossos vultos sobranceiros,
miadas do pensamento para o torvelinho, para as agiA falta de comprehensão, a falta de l u z e s ; t u d o
estava monopolisado.
IS
tacões da vida. Os seus discípulos espalham-se por
toda a parte, levando eomsigo o bem, a verdade, a
]UZ.
<41
£ a tudo isto, emquanto se ia desbravando pelo
heroísmo, pelo martyrio, a rota da liberdade, em Roma
tripudiava satanicamente a saturnal: multiplicavamse os crimes. Os Cezares mandavam matar o povo nos
amphiteatros, por divertimento. Os nobres, os ricos,
os poderosos cahiam embriagados no collo das mulheres devassas, nos banquetes esplendidos e nas estrondosas orgias.
E assim a Roma prostituída, cancerosa j a z por mui| to tempo em leito mo rtuario.
Já tudo era perdido finalmente. O corpo social
estava em grande parte corrompido, podre; carecia
de um grande, de um enorme abalo, para aiquiiir nova pujança, novo vigor.
Ouviu-se, então, porque isto é fatal, no meio
de alegrias tresloucadas, inpudicas, um rumor des compassado, como o d e uma tropa de demonios:
—Eram os barbaros, uns homens sãos, fortes, vigorosos, que vinham em auxilio do christianismo, que
vinham em auxilio da grande revolução que se estava
operando no mundo.
O povo, o miserável proletário, que viveu por
tantos séculos na escuridão, vai levantar-se agora cora
a cabeça banhada de luz, e, forte, pujante, ha de travar uma luta desesperada, uma luta de roorte com os
potentados da terra.
Os princípios cabidos dos lábios do Christo — sementes fecundas, medrarão necessariamente
nosarraiaes do futuro, e hão de abrir fendas mesmo
no peito dos rochedos.
P. C.
COLLABORACÃO
Poder constituinte
i
A tendência manifesta da sociabilidade, impressa
na humanidade leva-a presurosa a abandonar o estado
precário de isolamento que envilece, aniquila e posterga os sentimentos que constituem um dos mais
bellos apanagios da natureza humana - os de múltiplos e mutuos auxílios para a realisação to t i l e parcial
dos fins racionaes;—une-a pela agglomeração de todos
os seus elementos de força e, destruindo todas as barreiras que se lhe antolhão,fal-a seguir com inteiro desassombro no caminho do Progresso. Resentc-se essa
lei,que rege os destinos sociaes, das manifestações que
expontaneas, irrompem do seio nacional, fortalecidas
pela luz da razão esclarecida do« povos.
E' a força cega do instincto que expande-se e a
concentração dessa força pelas lições da experiencia,
pelo facho da sciencia.
Assim marchão as sociedades desde sua origem.
Ficão, portanto, de lado o producto do trabalho da
imaginação-incandescente de J. J . Rousseau, a força
instinctiva e constante, eternisando-se pelo costume
no pensar dos historie is, a ficção hostil de Hobbes e a
imposição do ascetismo theologico
As sociedades crescem, avultam e desenvolvera- I
se,isto é, illuminlo-se; e a concurrencia e os comrnet- I
ti mentos da iniciativa individual,— escopro com que se 1
abre larga passagem no mármore do tempo para os II
lados do Porvir, o esclarecimento das inteligências e n
a consciência dos direitos, trazem como consequência
a emancipação da tutella dos privilegiados. E rege ner&o-se os Povos p >la Liberdade e conquistâo o Futuro
pela Democracia.
O tempo muda,transforma, remoça os costumes e; |
altera as condições peculiares d'uma sociedade e ij
d'ahi o surgirem novos factos, exigencias de nova»
formas e, portanto, outras necessidades que, urgentemente, devem ser attendidas.
Criminoso verdadeiramente seria estacionar urna
sociedade pela sua legislação e muito principalmente
pela lei fundamental do Estado, quando esta é a expressão da vontade nacional e, por isso mesmo, deve reflectir seu adiantamento e illustração.
Conhecer da illustração d'um povo, de sua moralidade é quasi determinar sua forma de governo, sua
Constituição, suas leis. E' axioma politico já.
Mas qual o meio de alterar-se ou reformar-se uma
lei fundamental? Ha princípios permanentes, immutaveis quanto ao meio pratico de realisar essas reformas em Direito Publico ?
*
E' a questão de que vamos nos occupar; resolveia-hemos em frente da nossa Constituição.
E' questão da épocha.
!
y
1
I
•
Como teremos occasião de notar,variada tem sido a J
solução, dada, quanto ao processo pratico, da questão
que nos occupa, pelo Direito Publico dos p.»vos cultos;
nem mesmo ha princípios fixos e permanentes; porque, fundando-se a sciencia politica nos factos e soffrendo o influxo do tempo, acompanhão suas instituições as evoluções nccessarias e lógicas do sempre
ascendente desenvolvimento social.
O Direito, fundando-se na natureza humana,é log 0
conhecido expontaneamente; mas não é bastinte o
conhecimento, faz-se necessaria a garantia e o estabelecimento de meios de garantil-o; porquanto, praticamente fallando, o Direito sem garantia não é Direito.
Neste intuito.agglomerão-se os indivíduos,organisam um corpo politico, torna-se este independente c
autonómico.—E' o Est-ido.
Este representa uma idéa de Direito, de moralidade, e não uma agglomersçã» material; porque o qne o
constitue é a organisação, como se exprime Rossi. (1)
O Estado é a p-ssoalidade moral abstracta, qu e
phot»grapha a sociedade. (2)
Formada a<sim a sociedade,temos o que se chama
constituir— declarar direitos e garantil-os, sejão expressas ou tacitas as Constituições.
Na mais ampla generalidade toda sociedade tem
sua Constituição.
A' soberania nacional,é claro,compete.de pleno di(1) Russi Droit Constitut : onel.
(2) • iorr-Nnureau Dn.it /nlertiationel,pag. 119, not
tade Pradier-Foderé.
ri
1«
reito. promulgar, alterar, e reformar sua Constituição.
O Estado <?. o eu dessa soberania o os poderes suas
faculdades, na phr.ise do Schutzemberg (3).
Nenhuma reforma possível podo haver nos preceitos primários d'uma M fundamental sem ser filha da
vontade do povo. Não ha imposição licita; seria,ao contrario, negar o poder soberano a quem pertence de
direito, li o soberano impõe-se, não sujeita-se a impo
sições.
E' essência da soberania ser absoluta, e portanto
inalienavel e imprescriptivcl.
A dualidade seria a confusão, ocahos.
O poder ao qual a soberania confia esfa alta missão,
o Constituinte, distingue-se profundamente do legÍ3
lativo ordinário, como profundamente distingue-se a
cousa creada do creador; ó um poder tui generi», q u e
vem traduzir em formulas os sentimentos e aspirações nacionaes.
A sua independência da intervenção dos outros
poderes é também manifesta.
Mas ha uma dístiacoã > a fazer: ou o poder consti
tuinte è organisador, e, neste caso, independe dc outro
qualquer, porque não existem ainda outros; ou é reformador, tem a missão de alterar certos preceitos, o
ainda independe de intervenção cxtranha, porque 6
delegado do soberano competente para estas alterar
çõesou reformas—o povo.
Aos representantes da nação,nos paizes onde existe um poder especial para reformas cons ituci mães (4),
incumbe indicar a matéria reformavcl, a necessidade
r eclamada pela nação, como seus org.ios legítimos.
A satisfação da necessidade, a forma, os meios,
competem exclusivamente ao poder constituinte legitimamente auctorísado.
A doutrina contraria seria o poder ordinário d e terminando a matéria e estabelecendo a forma,isto é - fazendo a reforma, unificando-se com o constituinte
e, portanto, tirando-lhe a razão de ser, aniquilando e
nullificando-o, quando são distinetas suas raias e at_
tribuições. (5)
E constituinte para constituir o que está constituído? constituinte para reformar o que está reformado?
• E' vão, ê inútil, é ocioso.
Dizíamos ha pouco : nos paizes onde ha este poder
especial para taes reformas; porque o meio pratico d e
realizal-as por um p-idér constituinte não é um p r i n .
cipio assentado em Direito Publico. E publicistas o
condemnào. (6) Na Inglaterra, na Republica do U r u -
I - 1le.
I
guay, Bolívia, Perú e Chile, faz-se a reforma p-la
gislatura o rd inaria ; nos Estados-Unídos daColumbia
6 o senado competente. (7)
Nos Rstados-Unidos é encarregada da reforma uma
convenção (8), art. 5 ; nos Paizes Baixos teria este poder a legislatura ordinaria, mas novament-; eleita,
arts. 136—lí)9 (9); e, para não citar mais, no Cantão
de Genebra são as reformas feitas por uma constituin"
te, art. 153.
Varia,portanto,o modo de realizar as ref •rinas constitucionais com o Direito Publico dos povos cultos,
Em regra, são feitas as reformas pelas legislo t ura»
ordinarias,--o que não quer dizer que não seja distíncta a sua missão quando promulga leis ordinarias duque
tem quan lo funceiona como constituinte;—e uma vez
proposto e approvado o projecto de reforma eonsi l c r a se a câmara dissolvi la e a novamente eWta se encurre.
a de r e a l i z ü a , tendo para isso podares' Const. da
Bélgica art. 131 ,e Const. dos Paizes Baixos 197. Isto,porém, não se dá entre nós, porquanto espera-se esgotar
o praso d i legislatura em que se propoz a reforma
Const. art. 176, e só pófle ser a Camara dissolvida pomotivos de salvação p;iblica, art. 101 § 3 o .
Na Inglaterra.como é sabido,tem-se em alta consideração o elemento historico; a transformação das
instituições faz-se p°la acção lenta do tempo, formando essa jurisprudência costumeira, j á tão preconisada
pelos romanos, (lo)
Domina ali o methodo experimental em contraposição, ao racional usado cm França, fl I;
Em vista das considerações feitas firmamos nossas
proposições: o constituinte tem um caracter todo seu
é o r g a n i s a d o r ; o legislativo ordi isrio determina a
m a t é r i a ; a forma compete ao poder legitimamente
autorisado, seja o constituinte ou o legislativo com
poderes constituintes.
E que pela nossa Constituição o poder constituinte
reveste-se dos característicos assignsfl i d o s ; que d i s tingue-se e independe do legislativo ordinário no e x c r .
cicio de suas funeções; que é incompatível com q u a l quer imposição d e outros poderes a não ser a da d e t e r '
mi nação da matéria que deve ser a l t rad i,—proval-'«-hem is pela analyse da questão tão l o n g a m e n t e discutida
entre nós, actualmente: si deve, pela Const concorrer
o senado para a reforma constitucional, ou si só os delegados especiaes da nação.
Na camara temporaria, como na vietalicía,diversas
e encontradas tem sido as opiniões.
Ü.
RESENDE.
( 3 ) LES LOIS DE L*ORDHE SOCIAL.
(4) E' só constitucional o que diz respeito aos limites e attríbuições respectivas dos poderes políticos, e
aos direitos políticos e indíviduaes dos cidadãos : tudo
o que não é constitucional pode ser alterado, sem as
formalidades referidas, pelas legislaturas ordinarias.
Const 118 —Este artigo é a transplantação d"um p r e ceito theoricii para a pratica.
( 5 ) HELLO-DU
fi)
Edouard
TIONELLE6.
RÉOIME
Laboulaye
CONSTITUOION KL p a g .
—
QUESTIONS
240
CONSTITU-
O) Obr cit.
(8)
LAFERRIERE
ET
BATBIK.
CONSTITUITIONS
D'1ÍU.
ROPE E T D'AMERIQUE.
(9) Idem, idem.
flO; Inst lio. l.° Tit. 2.®§9; Dig. liv. I.» til. 3 frg
32. Coi. lio. 8.° lit 03. C. 9.*e muitas outras disposições do Direito Romano.
(11)
H E L L O - D U REGIME
CONSTITUCIONKL.
Typ. da Tribuna
Liberal.
A EVOLUÇÃO
Periodica redigido pelos
JULIO D E CASTILHOS
ASSIS
Ann» 1
1 5 DE M A I O DE
1879.
Por mais que o contestem os espíritos que persistem imprudentemente em não compreliender a
irresistibilidade das leis históricas, por mais que se
empenhem em demonstrar o contrario, por mais pertinazmente que procurem contrariar a corrente da
j Democracia n'este paiz, a verdade, a grande verdade
é que a monarchia está agonisante no leito de
morte.
A lógica inexorável dos acontecimentos que se
vão succedendo, unidos pelo vinculo de perfeita connexão, não permitte a deducção de outro corollario.
— Tudo está passando por sinistro eclipse.
As intelligencias embotam-se e morrem, immersas nas profundezas das trevas da ignorância, sem
liberdade, sem luz para dissipal-as.
As consciências adormecem aos tinidos tristemente lugubres das cadeias da escravidão d u m a religião que as asphyxia, impedindo-lhes o grande lc_
vantamento.
*
Os caracteres quebrantara-se torpemente, decompõem-se, e, contaminados pela lepra da avassaladora corrupção, cáem apodrecidos.
Os partidos não são organismos formados pelas
correntes diversamente encaminhadas dos movimentos sociaes ; não, são o banditismo organisado, são
agrupamentos de devassos do espirito, que reduzem
impiamente a politica, neste paiz, ao esterquilinio
dos brios e da honra nacionaes putrefactos.
;
0 governo é o posto da mediocridade, parva e ostentosa, porque não se peja de sel-o,— que vai servir
de miserável instrumento às machinações satanicas
do déspota farcista e petulante ; — em vez de ser a
eminencia onde se alteiam os sóes luminosos do talento, do patriotismo, do civismo.
O povo não tem liberdade, e, seg.-egado completamente das forças que o «dirigehi, tornada inefficaz
a sua vontade, arredado de todo das funeções que exclusivamente lhe pertencem, por soberano que deve
ser, não sabe para onde o conduzem. Sua representação, sobre ser falsíssima, é irrisória, pois não tem por
único e, por isso, largo alicerce o seu voto livre, expontâneo e desembaraçado, e sim repousa na ponta
das bayonetas {tos policiaes que o governo enfileira.
ÊSSsit
P E R B I R
A
11>A
COSTA
D R A / I L
S . P a u l » , 1 5 d e M a i o d e 1H7!»
A EVOLUÇÃO
ft
acadêmicos
Ü.3
Perde-se a cada passo a noção da Justiça, que
tornou-se uma irrisão.
Conculca-se, espesinlia-se, esbofetea-se o Direito,
que O uma mentira.
Emfim, o paiz atravessa uma crise tremenda,
que o convulciona intimamente, lançãndo-o n'um
modo de ser que, por eminentemente anormal, tende
forçosamente a cessar.
A descrença invade com uma força irresistível
todos os espíritos, a onda do marasmo vai acceleradamente subindo, avolumnndo-se, e ouve-se aqui e
além um surdo e vago rumor.de descontentamento
geral, de aversão.
Pois bem, é tão incontrastavel o curso das idéas,
é tão mathematica, tão infallivel a invariabilidade
das leis que presidem os destinos sociaes e marcamlhes o rumo, os períodos historicos se prendem, se
ajustam e se reproduzem n'uma dada èpoclia, n uma
dada circumstancia, de tal modo e tão precisamente,
— n'uma palavra, a Historia falia tão positivamente,
tão decisivamente ;— que só os que a não ouvem ou
não compreliendcm-n'a, poderão negar que tudo leva
a crêr no proximo desapparecimento da monarchia.
O que nos ensina a Historia ?
Ensina-nos que aos períodos de profundos adormecimentos dos espíritos, aos períodos de estagnação
social, succédé sempre um enorme despertar, acompanhado dos estridores ruidosos das agitações da
vida.
Ensina-nos que, bem como no mundo physico,
no mundo moral as mornas quietações, os largos repousos prenunciam sempre grandes movimentos,
assombrosas elaborações.
Ensina-nos que si a Idèa se eclipsa ás vezes, resurge além, como o sol no espaço, no estrellado ceu
do espirito mais brilhante e radiosa.
E falla-nos de Roma— a cachetica, e dos Barbaras
— essa turba de Titàes. Do despotismo theocratico —
o empanamento da consciência, e de Luthero — o sol
queailluminou. Da supplantação do Direito, da Justiça, da Liberdade, e de 89 —o grande pégo de luz, de
Danton —o seu vingador.
E, pois, a Historia estabelece premissas implacacaveis, cuja conclusão brota com uma fatalidade
céga.
IS
O eclipse vai cessar, a escuridão vai desfazer-se,
Quem o trouxe ? A monarchia.
A monarchia, portanto, vai cair.
Do seio da desillusão que penetra os corações sinceramente brasileiros, brota uma robusta, uma pujante crença, — que sem ella não podem viver as sociedades, — a crença n'um novo principio, n'uma
Idéa Nova, que traz em si para transmittir ao corpo
social deteriorado e cadaveroso a seiva do Futuro.
Approxima-se o grande dia, que pôde ser, ou o
Dies Pacis ou o Dies Iroe, ou a victoria tranquilla e
serena da Justiça,ou as explosões flammivomas da Revolução,—esse cáustico para destruir essa chaga —
a monarchia.
Esperemos, pois. os clarões da grande a u r o r a ;
esperemos, que não tardará muito que a Patria feche
com uma mão a porta do Passado, emquanto que com
a outra descerre as portas do Pantheon dos povos
livres, cortejando o Futuro em épico enthusiasmo !
j.c.
O Ensaio Lillerario é o r g a m de uma associação
de estudantes de preparatórios e está já no seu 2°
numero. Tudo ha a esperar da bôa vontade, estudo e intelligencia dos jovens redactores d este sympathico
periodico.
A Ev •loção fraternalmente o s a ú d a , e espera vel-o
sempre luctando pelos sagrados princípios da Democracia, cuja causa parece abraçar;, a j u l g a r pelos dois
números publicados.
A.
B
.
Povos e goverr.es
O POVO
II
Osbarbaros arrojam-se sobre o império, a s s i g n a lando sinistramente a sua passagem por t o d a a p a r t e
Os muros da grande capital cedem d i a n t e d a s
hordas commandadas por Alarico.
E, do seio das ruinas f u m e g a n t e s , do meio dos
destroços gigantescos da magnifica cidade dos Cezares, o anjo da civilisaçâo, que parecia acorrentado
dentro de suas ameias de ferro,despre nde o vôo, e vai
derramando de longe em longe scintillações a u g u s tas.
Serenada de todo aquella tremenda tempestade
que abalou a face da terra, a theocracia incumbe-se
de organisar a Europa, depois de ter formado com os
despojos da antiga Roma u m a Roma nova, depois d e
t e r construído com os fragmentos das instituições a n teriores um universo jerarchico, do qual devia ser o
ponto culminante o sacerdocio.
As monarchias barbaras, o feudalismo, as com
munas e, finalmente, as grandes monarchias absolutas vão apparecendo gradativamente na Europa,
Emquanto,por outro lado, o génio do progresso caminha silenciosamente, inspirando os pregadores da
fraternidade humana.
A idade média pode-se comparar a um vasto
subterrâneo, nonde se tivesse,porventuraprecipitado
a grande locomotiva que conduz os povos para a
perfectibilidade.
Naquella escuridão travaram-se as lutas mais
porfiadas que menciona a historia.
Prepararam-se dentro daquellas paredes pavorosas, dentro daquelle sinistro recinto, onde a cada
passo levantavam-se patíbulos,acendiarn-se fogueiras,
inventavam-se as mais atrozes torturas para os fracos
c opprimidos,—as grandes revoluções que deviam re"
bentar mais tarde n'uma explosão de luz.
A actividade humana, que não descança nunca,
não descançou naquella quadra tormentosa. Pelo contrario, parece ter trabalhado com mais energia, com
mais ardor.
Brilharam alli os primeiros lampejos da liberdade philosophica com Abailard ; os prelúdios da Reforma,diante da consciência humana escravisada,com
W i c l e f ; os primeiros arrancos d a liberdade politica
com as communas.
E, quem ignora ? todas as verdades proclamadas
então pelos martyres da civilisaçâo, como verdades
incontrastaveis, que eram, foram triumpliando no de
correr dos séculos.
Depois da revolução religiosa, vem a revolução
philosophica;depois seguem-se as revoluções politicas
que, «como um echo prolongado, continuo, vai do
cadafalso de Padilla ao cadafalso de Egmont, do cadafalso de Egmont ao cadafalso de Danton. »
Considerando aqui algumas idéas que ahi ficaram
esparsas, lançando um olhar retrospeclivo sobre o
longo período que se estende desde a invasão dos
barbaros até o fim dos tempos modernos,encontramonos com duas grandes entidades,que dirigem o m u n do e governam os p o v o s : a Igreja e a s monarchias
absolutas.
Para conter o furor selvagem dos povos barbaros^
havia necessidade de uma força que, como a da Igreja,
moderasse e dirigisse os ímpetos da barbaria.
Por isso, é justo assignalar aqui: — mesmo depois
de transviada do caminho traçado pelos apostolo«
para a propagação da fé,mesmo depois de collocar-se
na cúspide da jerarebia social q u e inventou, mesmo
depois de u m a serie interminável de erros,—a Igreja
prestou elevados serviços. No e n t r e t a n t o , por maiores que tenham sido esses serviços, j a m a i s poderão
escurecer os crimes assombrosos que perpetrou nos
últimos séculos do seu domínio, em nome d a religião
A EVOLUÇÃO declara com magua esta verdade»
m a s declara francamente, porque será sempre um
=1
IO
eclio débil dos brados de indignação levantados pela
historia, contra os tyrannos e oppressores de todos
os tempos.
A ambição insensata dos papas para o domínio
universal, não mais pela persuaç&o e pela doçura,
mas pela força e pelo despotismo, manifestou-se
abertamente do século VIII em diante, quando então
estava a seu lado a espada gloriosa de Carlos Magno.
Pode-se mesmo dizer que no dia em que o illustre
guerreiro colloccu a corôa sobre a cabeça, diante do
papa Estevam II, tocaram ao zenith as duas grandes
instituições da idade média — o pontificado c o i m pério.
Desde então, a força auctoritaria dos papas loi se
alargando cada vez mais, e attingiu a tal ponto, nos
fins do século XI, que é absolutamente impossível
fazer uma idéa approximada da auctoridade que a
Igreja exercia promiscuamente sobre reis e povos.
Por toda a parte, na phrase de Victor Hugo, sentese a auctoridade, a unidade, o impenetrável, o absoluto — Gregorio VII.
Entretanto, cedendo ao impulso d a clvilisação,
aquella auctoridade está prestes a abalar-se ;Roma
acorda-se espantada, ao rumor que faziam os povos
para libertar-se.
E que medida toma para assegurar o poder q u e
lhe escapava ? — Crea a Inquisição.
O espirito revolta-se, e, preso de um pavor extranho, tem m u i t a s vezes vontade de d e s m e n t i r a historia, ao n a r r a r as atrocidades desta instituição l u g u bre e s a n g r e n t a .
Porém, mesmo d i a n t e dos batalhões i n f e r n a e s
dos seus inquisidores, o poder papal se vai e n f r a quecendo, ao e m b a t e dos e l e m e n t o s a n t a g o n i c o s .
Escriptores, philosophos distiuctos p r o c l a m a m ,
nos paizes m a i s a d i a n t a d o s , a reforma, depois q u e
Wiclef, e m face d a consciência a m o r d a ç a d a , e s t a b e lece o principio d e q u e : « t o d a s a s consciências
sendo iguaes,Deusse revela d i r e c t a m e n t e a cada u m a ,
por sua g r a ç a , e, por c o n s e g u i n t e , n a I g r e j a dos fieis
não deve haver -senhor n e m a r b i t r o . >
Assim, pois, as c a r a v a n a s revolucionarias vão
n u m a marcha a u d a c i o s a , t r i u m p h a n t e , de Wiclef a
João Huss, de João H u s s a L u t h e r o , e libertam finalm e n t e a h u m a n i d a d e d o m a i s terrível dos j u g o s — o
j u g o religioso.
A revolução.que rebentou ao pé do altar,vai precipitar-se t a m b é m nos d e g r á o s do t h r o n o .
A reforma religiosa vai auxiliar a reforma politica.
Encare-se por outro lado, retrocedendo u m pouco,
a marcha evolutiva d a s sociedades.
No século XV, p a r a m a n t e r a unidade nacional,
que estava em perigo de desapparecer pelo e n f r a q u e cimento do feudalismo, ao impulso d a força popular
desorganisada, começaram a constituir-se na Europa,
'V* I
as grandes monarchias absolutas que no século XVI e
XVII attingiram ao apogeu da grandeza e do poder.
Constituída« solidamente as nações, começam
com mais ardor as lutas da liberdade.
Assim é que, emquanto a força dictava leis, eenquanto os reis, confiando no seu illiinitado poder,
julgavam legar um patrimonio eterno ás suas dynaatias, nas regiões do pensamento apparelhava-se a
grande conflagração que devia desabar sobre a
França, illuminando o mundo.
Nos fins do século X V I I I uma legião de pensado
res tinha estabelecido definitivamente as bases de
uma completa reorganisação social, exigida pelo impulso da civilisação.
Isto era inevitável. A velha Europa dynastica quíz,
no entretanto, oppor diques ás aspirações populares.
Desencadeou-se então aquellc furacão ardente ;
rebentou aquella luta cyclopica, chamada —revolução
franceza.que devia terminar pelo triumplio definitivo
do direito.
E o povo ,que nada era, começou a ser tudo.
__ ^
_
P.C.
Trez livros
O doutor Lopes Trovão faz parte dos mujto poucos h o m e n s do bem deste paiz.
Milita desde os seus tempos acadêmicos no pequeno, porém brilhante, exercito republicano, que se
tem formado na adversidade e que se occupa em
cavar, pela palavra e pela acção, ao redor da monarchia, o fosso que ha de infallivelmente sorvel-a.
A sua palavra é constantemente ouvida nas conferencias publicas do Rio de Janeiro, e o nome do
dÍ8tinctissimo
orador não precisou da mão officiai
p a r a erguer-se d a obscuridade, para a qual não nasceu.
I n t e n t a agora o doutor Lopes Trovão dar publicidade a todas as suas conferencias. Começou j á pela
q u e occupa o primeiro lugar na ordem chronologica
e que t r a t a da COMPATIBILIDADE OÜ INCOMPATIBILIDADE
DOS REPUBLICANOS COM OS CARGOS PÚBLICOS, da qual
obsequiosamente enviou â Eoolueáo um exemplar.
E s t a 6 com certeza a these mais controvertida no
seio do partido republicano. Só desse facto lhe vem
a i m p o r t â n c i a ; porque, em f u n d o , é mera questão de
disciplina.
O doutor Lopes Trovão s u s t e n t a a completa
compatibilidade com todos os cargos, e vai mesmo
ao extremo de justificar o infeliz Lafayette.
A' primeira vista, a questão é s i m p l e s : — o s
cargos não são do governo, mas do paiz ; ora, os
republicanos, alem de entrarem coin a contribuição
q u e o paiz exige, t ê m o dever de servil-o e o direito
de participar d a c o m m u n h ã o ; logo... etc.
Mas a questão é de disciplina, e a disciplina dálhe diversa solução.
A athmospliera officiai está empestada ; tudo o
*o
que diz respeito ao governo está podre ; aquelles que
delle se aproximarem serão contaminados, portanto.
Alem disso, a grande tarefado partido republicano actualmente é lutar por todos os modos licitos perante a moral, lutar abertamente ; ora, o empregado, seja elle de que categoria fôr ( a menos que não
queira demittir-se, e, nesse caso, reconhece a incompatibilidade) está subjeito ao governo; por conseguinte, impossibilitado para a luta, para o magno dever.
Isto, é claro, não se entende com os cargos de
[ eleição popular. Quem está com o Povo está com a
Republica.
Estas idéas são, entretanto, individuaes d e
quem estas linhas escreve.
—Alguns pobres de espirito pretenderam levar em
conta de reviramento politico a franqueza do auctor.
Este responde-lhes com o seu passado, e basta isto
—A EVOLUÇÃO tinha dezejos de alongar as suas considerações. Vê-se, porém, forçada a fazer o contrario,
sentindo tanto mais quando reconhece que o illustre
orador fluminense e a sua obra são dignos de serio
estudo.
Para as subsequentes publicações disporá de
mais tempo e de mais espaço.
Para o doutor Lopes Trovão só tem saudações e
applausos.
Pedro I I , acostumado a lêr as epistolas bajulatorias dos áulicos infames, deveria sentir agora extranhas sensações, si passasse os augustos olhos por u m
pequeno pamphleto que acaba de ser publicado.
CARTA DE SAXTERRE AO SENHOR D. PEDRO I I é o titulo
do pamphleto, que é attribuido a u m acadcmieo de
S. Paulo, reconhecido como fervoroso e forte republicano.
Santerre desenha aos olhos do rei todo o quadro
negro das desgraças da Patria, na sua mais commiseradora hediondez; accusa vigorosa e j u s t a m e n t e a
monarchia por todos estes males ; previne-o de que
j á se começa a ouvir o tropel dos batalhões republi.
canos ; aponta-lhe este caminho : — « abdicae, senhor 1 »
A verdade se diz neste livrinho com a rudeza das
coisas exactas.
Santerre mostra-se u m digno e util cidadão Os
soldados da Liberdade devem cobril-o de applausos.
— Esta obra foi impressa longe das vistas do
auctor. Não pode ser outra a causa de u m a e n o r m i dade de errosque contém. Entretanto, os inimigos da
Democracia e da verdade, que, n'estes casos, costumam constituir-se, em desespero de causa, acérrimos
defensores da grammatica, farão disso talvez um
cavallo de batalha.
— A Evolução agradece o exemplar com que foi
obsequiada e aperta a mão a Santerre, a quem sente
não poder enviar mais algumas palavras, por falta de
espaço.
Appareceu finalmente o proclamado li vro —Frei I
Caetano de IUessina,obra de Estevam Leão Bourroul, o
mais esforçado e audaz soldado do ultramontanismo,
na academia de S. Paulo.
Este livro era aguardado com grande anciedade
Os precedentes do auctor auctorisavam a esperar-se
uma obra d e l o n g o folego, de d o u t r i n a , d e propagan
da, de combate.
Mas as causas mortas têm por si soldados moribundos.
O notável talento de Bourroul amesquinliou-se
diante da pequenez da causa. Assim também o homem de fortes pulmões sente-se enfraquecer n uma
atlimosphera mi asm atiça ou rarefeita.
O auctor põe na frente do seu livro —estudo hislorico
religioso.
Certamente escreveu essas palavras antes de
concluir a obra, que não é, nem aproximadkmente,
u m estudo religioso e muito menos um estudo historico.
Limita-se Bourroul em todo o livro a fazer algum a s transcripçõe8, acompanhadas de muito poucas
palavras suas, em phrase descorada, sem e n t h u s i a s .
mo e sem vigor.
E' verdade que declara no prologo que citou sempre tomo maior gáudio de sua alma. Mas esta confissão não é u m a desculpa, tanto mais quando já é
proverbial a sua citomania.
A Evolução, que carece completamente de dados
positivos sobre a vida do capuchinho, quasi nada
pôde dizer da maior ou menor exatidão com que a
n a r r a Bourroul.
Frei Caetano não passou também sem os seus
milagritos : por sua intervenção com a côrte celeste,
b r o t a r a m d u a s fresquissimas fontes atraz de um conv e n t o , em Pernambuco. Ainda o mesmo santo varão
conseguio fazer descer das nuvens"chuva reparadora, por occasião de afftictiva secca, desmentindo, assim, certos palavrões modernos, que hereticamente
proclamam que a chuva não é mais do que um phe_
nomeno muito natural, produzido pelas correntes do
ar, pelo fluido electrico e por outras causas muito
independentes da s a g r a d a ordem dos franciscanos.
Para conseguir este milagroso eflèito, frei Caetano arrastou o povoa u m a procissão de penitencia,
em que foi s u f i c i e n t e m e n t e castigada a carne mise_
ravel.
O. frade proclamava, assim, o funesto principio
dos antigos ascetas, de que — é preciso matar a Natureza.
E n t r e t a n t o , o livro 6 digno da leitura de todos
porque, quando mais não seja, é, pelo menos, uma
prova de que o terreno do século só produziria uma
floresta ultramontana, si esta fosse de cogumellos. I
>
SI
— Ardente admiradora dos batalhadores valentes
e honrados, a Evolução saúda a Leão Bourroul ( a
quem, por dignidade própria, nunca «ittribuirá urna
penna cymcu ) e firmemente o espera/ em novos ten.
tamens, disposta a bater palmas ao talento do individuo e a arremetter desassombradamente contra as
idéas do auctor.
A. B.
Ha muitos dias que foi publicado o 2° numero
da Republica, que appareceu tarjado de lucto era
houra á memoria veneranda de Tiradentes.
Km rapidas, mas eloquentíssimas palavras, Magalhães Castro se encarregon de fazer a brilhante
apotheose do grande Martyr, que, primeiro nesta
terra, sentio-se illuminado pelos santos reverberos
do sol da liberdade.
Seguem-se depois: Partido novo vão fuz politica
em que seu autor procura bater os conceitos emittidos n'uma carta publicada no mesmo periodoco »
Solução d'uni diltmnia por Assis Brazil ; um esplendido folhetim, cheio da mais fina observação ; etc. f
etc.
Depois de haver ostentado tanta pujança e brihantismo nosdous números publicados, a Republica,
parece, cessou a sua publicação. Attribuem-n'o á
retirada de M. Castro da sua redacção.
A Evolução sinceramente deplora esse facto, que
veio privar a idéa republicana de paladinos tão briosamente intrépidos.
Espera, porém, da sua firmeza e accentuação de
idéas e da tenacidade com que as propaga, que
Magalhães Castro não se recolha desalentado ao silencio. O distincto republicano não tem mesmo esse
direito, quando aquelle ou a indifferença são u m crime nos tempos actuaes.
Para os combatentes do valor de M. Castro n u n ca ha trégua.
Entretanto, a Evolução folga em declarar que
a
Democracia não ficou, por isso, sem um representante
na imprensa académica. N estas columnas,—baluar_
tes frágeis e vacillantes muito embota,—st hasteia
corajosamente a rútila randeira republicana.
• J C.
Gangão
Lá vem, do céo azul rasgando a face,
O bando das Idéas generosas,
Como uin rebanho d'aguias luminosas,
Queum tufão no deserto arrebatasse.
Deixai, deixai passar o bando augusto
Das luhras e candentes Utopias,
Que vêm roetter no leito de Procusto
As l o t a s 1 YtancioF.
Abri o coração, abri o peito.
Deixai rolar a onda bemfeitora.
Cantai, cantai íi musica sonora
Da Justiça, do Amor o do Direito.
Descançái sobre a terra o vosso malho,
E vinde honrar a immensa Divindade,
Erguendo os hymnos sacros do trabalho
A' deusa Liberdade.
Do despotismo a arvore sombria
No sólo do Futuro cai, não medra,
— Que eu oiço já ruir, pedra por pedra,
A columna fatal da tyrannia—.
A «guia da Razão silvando vôa,
Deixando para traz, no chão da liça,
O castello da fé que se esboroa
Ao clarão da justiça.
Rasga-se o véo nos pórticos da Gloria ;
Rebenta a Luz da rota catarata ;
Vacilla o throno sobre a terra ingrata ;
Rola a Ihiara no areal da Historia.
Avante ! avante I ahi vem a madrugada t
Yamos rompendo a noite, o véo escuro,
Até irmos cair, brandindo a espada,
No seio do Futuro.
Assis
BRAZIL.
( 1 ; D o s LIBELLOS A DEUS.
Publicou-se o 1* numero do Liberal. A julgar pelo
talento de seus redactores, è de esperar que aquelle
periodico tenha u m a carreira gloriosa nas lutas da
imprensa.
No artigo inicia!, assignado por Ferreira de Novaes, não obstante estar bem traçado,a Evolução notal h e u m defeito : è fallar muito do passado e perderse em pomposos elogios, em divagações este reis; e
c o m referencia ao presente dizer apenas que o prog r a m m a do partido é demais conhecido. Mas actualm e n t e os mais proeminentes chefes do partido liberal acham-se divididos em dois grupos que sustent a m ideas inteiramente oppostas : a qual delles pertence o illustre articulista ? Vacilla, e não respond e claramente.
Traz ainda o Liberal os seguintes artigos : A situação passada por Galeão Carvalhal, Opportxn-inno por'peixeira Leite, Fusão das câmaras por V. M., Poder legislativo por H. d'Almeida, poesias por Vieira da Cunha e Pelino Guedes, Folhetim por M Peixoto, e
u m a chronica phoxphorica.
A Evolução saúda o Liberal.
P.
c.
• »•">
A Eonluçá» tem de saudar o npparecimento do
mais um periódico acadêmico—a Vanguarda, que sc
destina á propaganda catholica, e cuja redacção está,
confiada a Leão Bourroul, o conhecido cx-redactor da
Ueacçào.
No artigo de apresentação, depois de ponderar
que o seu npparecimento, longe de significar um
svmptoma de scissão entre os ultramontanos acade
micos, vem, pelo contrario, attestar a virilidade do
partido cntholico na Academia,—a Vanguarda define
a sua posição na imprensa, dizendo que, superior á
luctas dos partidos, será calholica, apostólica, romana
sem rcslricções.
Aecrescenta que não faz questão de fôrmas, aceitando unicimente o governo que não offender a independência da Igreja ; protesta contra a incompatibilidade do Catholicismo com a Democracia.
Quanto ao primeiro ponto,a Evolução nada oppõe
ao contemporâneo :—uns caminham para diante,
—procuram o aperfeiçoamento, outros caminham para
traz,—persistem no retrocesso.
Está, pois, a Vanguarda no exercício do seu direito.
0 que a Evolução não pôde deixar passar sem um
pequeno reparo é a singular contradicção em que
anda Leão Bourroul envolvido.
Pois, si vos dizeis inimigo acérrimo e irreconciliável da Rovolução, — que é a impiedade, a hydra
etc. si a Democracia moderna,—a que vai batendo em
fuga precipitada, desnorteados e confusos, os apostolos dc Passado, — nada mais é do que o resultado
das elaborações operadas no seio das sociedades pela
Revolução ;—como affirmaes que ella não ó incompatível com o catholicismo, como o entendeis e o propagaes ? Confessae : é uma afflrmação irreflectida.
Vosso programara ó o Syllabus,—o mais feroz
inimigo de todas as liberdades e de todos os progressos.
Não profaneis, portanto, a Democracia, pensando
por um só momento que ellá se pode harmonisar com
aquelle acervo de erros.
Ou sois das phalanges que trabalham pelo F u t u ro, ou pertenceis ás que querem conservar o Passado.
Uma de duas. Escolhei.
J . C.
COLLABORACÀO
9
Ü têmpora £ o mores 1
E' triste a geraçào que exangue surge agora.
Nos braços sem valor lia musculos sem força ;
Seguiu-se a timidez pacifica da corça
Ao nervo dos leões indomitos d'outr'ora.
Tornaram-se elegia os cânticos d'aurora...
—Qu'importa que da lucta a víbora se torça
E, após, as espiraes, colérica, destorça,
Se um peso atroz nos curva e o tédio nos devora?
Não mais, em nosso altar, da crença os lumes santos. I
lia em nossas visões só lívidos espantos ;
Somos bando espectral; o nada nos conduz...
—Que se pode esperar dos filhos desta edade? !
Em nós, escarneo vil, assenta a mocidade
Como o manto de rei nos liombros de Jesus!!...
A F F . CELSO J Ú N I O R .
U f u t u r o cia p a t r i a
II
A historia politica do Brazil é muito triste.
Nas suas paginas de bronze estão cinzelados em
symbolos terríveis os feitos monstruosos de uma rea
leza impudente.
O cidadão, que lança-lhes um olhar, só vê negror. A realeza cobriu-as de um manto escuro, em
cujas dobras escondeu-se um despotismo feroz.
E este manto de u m a realeza cynica, desdobra-se
por toda a nossa historia, abafando os gritos coléricos
dos cidadãos livres e recolhendo as baj ulaçoes dos
escravos vis.
E' triste, mas é real.
Ruge indignado o coração dentro do peito, mas
é a verdade que lhe subleva as iras. Corre pressurosa a dignidade ofiendida, mas esbarra na realidad £
d a Historia.
Os factos são frios, mas d'uma frialdade polar.
São nús, mas d'uma nudez sangrenta.
Arrancam um grito de a m a r g u r a e outro de vingança.
A m a r g a r a , que vem dos morticínios do Primeiro Império, da hecatombe de patriotas abatidos ante
a Supremacia I m p e r i a l ; vingança, que virá do FuLuro, dessas idéas humanitarias que escaldam todos os
cerebros.
Levados por estas idéas, interrogaremos o nosso
passado politico, examinando os princípios que predominaram n a organisação social do Império.
A Philosophia da Historia affirma que a soberania de u m a nação reside nas forças vivas da mesma
n a ç ã o ; que estas forças são as personalidades livres»
reunidas, unificadas por um pacto social, chamado
Carta ou Constituição Politica; que nem um homem
pode antepôr-se á magestade da nação, sem quebra
m a n i f e s t a d a s leis naturaes-sociaes.
Estes princípios foram violados na nossa organisação politica.
O Direito Nacional foi vencido pela vontade individual-imperial.
Da violação impune do Direito Popular surgiu a
consagração servil do Despotismo.
Exponhamos os factos.
Quando o povo brasileiro, desprendendo-se da
velha Europa, quiz matricular-se no grande livro das
nacionalidades americanas, apresentou-se-lhe um
aventureiro imperial para inscrever esse nome. Trazia nos lábios o tremor do sorriso amigo, no coração
o palpitar da pulsação trahidora
O Povo incauto confiou naquelle sorriso.
A farça—Ipyranga—coròou a D. Pedro com a
aureola dos libertadores.
« 3
A u r e o l a com q u e a Liberdade c o s t u r n a e s m a l t a r
a s f r o n t e s dor Bens filhos d i l e c t o s c o m o W a s h i n g t o n »
0 ' C o n n e l e Th irra.
K preciso niío c o n f i a r m u i t o noa reis.
1). Pedro m o s t r o u a i n d a m a i s u m a vez q u o a a l l i a n ç a d o e l e m e n t o p o p u l a r com o real é u m a u t o P'»
C o m m e t t e u t o d a s a s illegallidades. Desrespeitou
a Nação, collocou-se a c i m a d a Lei e a f l r o n t o u a S o b e rania Popular.
JJabt em d i a n t e OK s e u s d e s a t i n o s i m p e r i n e s corr e r a m á d e s f i l a d a pela m o n t a n h a d o a b s o l u t i s m o .
Os c r i m e s f o r a m i n n u m e r o s . K e n t ã o q u e c r i me« f Citarei um s ò , m u decisivo.
O Povo a c h a v a - s e r e u n i d o e m A s s e m b l é a Constituinte.
Os s e u s r e p r e s e n t a n t e s e r a m os h o m e n s m a i s n o táveis do paiz.
Havia n s q u e l l a A s s e m b l é a S o b e r a n a o r a d o r e s
que eram Mirabeaus, como Antonio Carlos; sábios
q u e e r a m H u m b o l d t e . c o m o J o s é Bonifacio.
Estes oradores e estes sábios estavam encarregados dos nossos destinos
Ksta A s s e m b l é a n o t á v e l t i n h a a m a g e s t a d e d a s
grandezas ideaes e o esplendor das alvoradas radiant e s . N a d a a p e r t u r b a v a , p o r q u e ella a b r a n g i a tudo*
S a b i d a d o seio d o Povo, e l l a recebia d e l l e a i n s p i r a ção d e seu s a c t o s .
P o r isso e r a f o r t e e s e r e n a T i n h a m t r a n q u i l l i d s .
d e d e C h r i s t o n o meio d a p o p u l a ç a a b j e c t a .
A ' s vezes c o n v a l s i o n a v a - s c a t é & i n d i g n a ç ã o , m a s
e r a pa a z u r z i r com o a z o r r a g u e d a p a l a v r a os v e n d i lhões do Despotismo Imperial.
Pois esta Assembléa, que encerrava t u d o o que
h a d e g r a n d e na h u m a n i d a d e , foi a s s a l t a d a , m o r t a e
e s p h a c e l a d a p o r D. P e d r o d e A l c a n t a r a .
Aquelle verbo terso e viril d o t r i b u n o brasileiro
s o l t o u u m r u g i d o q u e foi o u l t i m o d e l i b e r d a d e q u e o
Brasil o u v i u . E a q u e l l a A s s e m b l é a , a c u j a s o r d e n s DP e d r o d e v i a c u r v a r - s e , c u r v o u - s e a D* P e d r o , q u e a
matou.
E n t h r o n i s o u - s e então o Despotismo. Calcou o
D i r e i t o , calcou a J u s t i ç a e e s c r a v i s o u a N a ç ã o . D e u n o s u m a carta q u e é um escandalo.
A n t e s de outhorgal-a, lançou sobre o paiz u m
sarcasmo cruel. Perguntou-lhe se tinha o que retrucar sobre a C a r t a O paiz respondeu que sim. t i l e
r e p l i c o u b l o q u c s n d ( - o e a r r a n c a n d o - l h e d força o j u r a m e n t o d a Carta. J u r a m e n t o o n d e n ã o h a l i b e r d a d e
é j u r a m e n t o nullo. Somos, portanto,regidos por u m a
Carta espúria.
Q
Foi e n t ã o q u e o s c i d a d ã o s , q u e q u e r i a m s e r s e m p r e l i v r e s , p o r q u e n a s c e r a m d e b a i x o d e s t e sol a m e r i c a n o , q u e i n f u n d e e m t o d o s os eorações o a m o r d a
L i b e r d a d e , l a n ç a r a m ao P o r v i r u m p r o t e s t o d e l i r a n t e
bradando vingança & Posteridade.
E s t e p r o t e s t o a n d a n o c o r a ç ã o d o Povo.
Não n o s violeis o D i r e i t o , não n o s r o u b e i < a J u s t i ç a , n ã o n o s c a l q u e i s aos vossos p é s i m p e r i a e s , p o r q u e l e v a r e i s o Povo á R e v o l u ç ã o ; e vós s a b e i s q u e
q u a n d o o Povo firma-se n a s Revoluções, vae c a h i r d e
u m s a l t o n o vasto t a b l a d o da I m m o r t a l i d a dAe . L.
Poder constituinte
H
Estabelecida a d o u t r i n a e n s i n a d a pelos m e s t r e s
sobre o p o d e r c o n x t i t u i n t e , • reconhecida* a m i n d e p e n d ê n c i a dos o u t r o s poderes, s a liberdade no
exerci ei o de s u a s funcçOes, como seu* reqossitos es*
s e n c i a e s , resta-DOS considerar a q u e s t ã o em f r e n t e d e
nossa Constituição.
V a m o s a n t e s , porém, e x a m i n a r varias opiniões,
q u e t ê m sido e m í t t i d a s subte a these d e que nos occupâmes.
P. F e r r e i r a , d i s t i n c t e publicista p o r t u g u e z , p r e tende c o n c l u i r , d a confrontação d o s arte. 174 a 178
com os a r t e 13, 1 4 , 1 5 §8* e 6.2 de nossa Constituição
q u e a r e f o r m a ou alteração deve s e g u i r os t r a m i t e s ,
ordinários. ( 1 )
S e r i a opinião verdadeira, si a t t e n d e n d o - s * só aos
p r e c e i t o s g e r a e s d a C o n s t i t u i ç ã o , não existissem
e x c e p ç õ e s , e excepções q u e c o n s t i t u e m u m a refutação aos a r g u m e n t o s d o i l l u s t r e e s c r i p t o r .
De feito, preceito g e r a l é o estabelecido no s r t .
§ 8* : — c o m p e t e a A s s e m b l é a Geral fazer leis, i n t e r p r e t a l - a s , s u s p e n d e l - a s e revogai-IM ; e as leis const i t u c i o n a e s são f e i t a s e a l t e r a d a « por um poder e
processo especiaes, a r t e . 174 a 178; a s u a i n t e r p r e t a ção c o m p e t e ao p o d e r c o n s t i t u i n t e ( 2 ) salvo caso de
salvação p u b l i c s , a r t 179 g 35, a* leis q u e dizem resp e i t o a o s d i r e i t o s individuaes não podem s r r s i s p t n s a s , a r t . 179 g 34 Preceito g e r a l é o do a r t . I7J § 14 ;
e o a c a t h o l i c o e e s t r a n g e i r o n a t u r e l i s a d o não podem
s e r d e p u t a d o s , a r t 9 5 g 2* e 3* ; não pôde ser m i n i s t r o
o e s t r a n g e i r o n a t u r a l i s a d o , a r t . 130 ; só pôde ser reg e n t e o c i d a d ã o n a t o , a r t . 27 do Acto Addiceíon&l,
P r e c e i t o g e r a l , e m f i m , p i r a não citar mais, est a b e l e c e o u l t i m o a r t i g o citado pelo e s c r i p t o r . o 63
— t o d o p r o j e c t o approvado pelas c â m a r a s deve ser
e n v i a d o a receber saneção ; e , p o r t a n t o , o p r o j e c t e
d e r e f o r m a c o n s t i t u c i o n a l t a m b é m . Mas não i n d o
ao a r t 174 e s e g u i n t e s , a p r e s e n t a d o um projecto d e
lei, a q u e se n e g o u s a n c ç i o em d u a s l e g i s l a t u r a s con
s e c u t i v a s , i n d e p e n d e d e saocção, suppOe-ss s a n e
cionado.
Aos preceitos g e r a e s estabelecidos em nossa
C o n s t i t u i ç ã o , e x i s t e m s e m p r e restricções, excepções.
Eis sen piano.
L o g o , a t t e n d e n d o - s e a esse plano, não procede a
opinião a n a l y s a d a ; carece de f u n d a m e n t o na lei, e é
improcedente em theoria.
O n o t á v e l publicista pátrio, o s r Marquez d»
S. V i c e n t e ( 3 J, s u s t e n t a a intervenção do senado,
m a s n ã o a da coròa, — « p o r q u e a nação t r a t a d e d a r
a si m e s m a a o r g a n i s a ç ã o p o r q u e q u e r s e r g o v e r n s d a , n e n h u m outro poder senão aquelle a q u e m ella
i n c u m b e a d i s c u s s ã o pode o p p o r - s c a s u a vontade •
Logo, c o n c l u a m o s de s u a s p a l a v r a s , o s e n a d o é
excluído : não é r e p r e s e n t a n t e im mediato do povo,
não tem f a c u l d a d e e s p e c i a l m e n t e conferida para a
r e f o r m a , o q u e só cabe aos d e p u t a d o s , a r t 170 ; s u a
(l) C o m m e n t a r í o s a Carta P o r t u g u e z a e Constit u i ç ã o Brnzilcíra
l2j Eju*e*l inlerpretnri, cu jus ml Irgtm cowiere. —
f/'D— De Ug-but. li' t a m b é m , a contrario seusu, a
d o u t r i n a do u r t . 25 do Acr. ADO
(3) l \ 1JUE.NO — Direito Publico Urazileiro, pags.
488 a 489.
'
WW_
I
3/1
delegação
não s e harmonisa com a da Constituinte;
ó vitalícia.
Quanto ao argumento fundado no art. 11, de
que se serve, j á cal»io pela reputação feita ú opinião
de S. Pinheiro.
No senado, um distincto Jurisconsulto sustentou que devem intervir na reforma o senado e a
corda, fundado ein divorsos artigos da Constituição. ( 4 )
Diz elle fundado no art. 17:1.
d 1.° A Assembléa Geral no principio das sessões
examinará si a Constituirão foi exactamente observada, para prover como for justo.» Ora, si Assembléa
Geral quer dizer senado e camará temporaria, art. 14,
| qualquer providencia deve ser tomada por ambas as
camarns. Não se pdde, porfconto, conclue elle, excluir
o senado desta providencia principal — a da reforma.
Mas não procede : a ) porque o a r t . 173 nada
tem de commum com os que se referem á reforma ;
b ) porque examinar si uma Constituição foi bem
observada ou não, não é alterai-a ou reformal-a.
E accrescenta tomando o art. 117:
2." Diz o art. 177 .. « o que se vencer na discussão prevalecerá para a mudança ou addicção á Le 1
fundamental, e juntando-se a ella, será solemnement e promulgado. » Ora, a promulgação solemne pelo
art. 68 presuppõe a approvação do projecto de lei
por ambas as câmaras, e a saneção: a Fazemos saber
que a Assembléa geral decretou e nós queremos e t c . ; »
logo, pela ultima plirase do art. 177, a reforma deve
seguir os tramites ordinários.
Foi menos feliz n a argumentação : a ) , a promulgação das leis constitucionaes não se faz pelo processo
ordinário do art. 98 ( 5 ) ; 6 ) , a pbrase indica tão
somente que seria pueril conceber-se lei sem promulgação, seja ella qual f ô r ; c ) é matéria assentada
ein Direito Publico que os actos constitutivos só t e m
promulgação e independem de saneção (6) ; d) a
phrase não é peculiar de nossa Constituição'; idêntica encontra-se n a de Ncw-York, a r t . 8 o .
O seu ultimo argumento ainda é fundado no
aat. 177 princ :
3." No a r t . 177 princ — diz-se a n a seguinte
legislatura...» Ora por legislatura entende-se, pelo uso
que faz desta palavra a Constituição, o exercicio de
todos os poderes encarregados de confeccionar a lei,
em um certo decurso tempo : logo, pela intelligencia dada á palavra, devem todos os poderes tomar
parte na reforma.
Este argumento é por de mais fraco :
Todos os artigos que dizem respeito a reforma —
174 a 178—constituem excepções, como j á notámos,
ao preceito geral do ar-. 15 § 8% e a palavra legislatura é \ima dessas excepções.
Provada, como julgamos, pela analyse das opiniões contrarias, a exclusão do senado e corôa. é claro
que só compete a faculdade de reformar a Constituição a um poder especial. Vamos, comtudo, expôr a
(4; Discursos pronunciados no senado em 1879.
(5) Act. Add. princ:
(6) Hello— Du Régime Constitucionel. pag. 230.
opinião de um douto mestre, que nos parece mais
consentânea com o espirito da lei.
No estudo do» a r t s . 174 a 178, h a uma distínecSo a f a z e r : temos a matéria dos a r t s . 164 a 17d. que
refere-se A lei que declara a recessidade da reforma,
que manda os eleitores conferiram poderes especiae»
aos deputados, e esta passa pelos tramites ordináriose o que diz respeito propriamente ao exercido do
poder constituinte, e confecção d a lei, art. 177, é
esta attribuição, este exercicio neha-se completamente desprendido dos outros poderes.
Assim : « Na seguinte legislatura, c na primeira
sessão, a r t . 177, será a matéria proposta e discutida,
e o que se vencef prevalecerá para a mudança ou
addicção á Lei f u n d a m e n t a l , e j u n t a n d o - s e á Constituição, será solemnemente promulgado. »
Portanto, si os deputados com poderes especiaeg
propuzerem, discutirem e vencerem n a primeira sessão, prevalecerá o resultado como lei, e, juntando-se
á Constituição, será solemuemente promulgada. Independe, por corisequencia, pela letíra de nossa lei,
do concurso de outro qualquer p o d e r
Supponha-se, porém, que — o que se vencer —
refira-se ao que se vencer n a e a m a r a , no senado e corôa ; será a*reforma inconstitucional, p o r não se harmonisar com a phrase do art. 177 : — o que te vencer —
n a discussão dos d e p u t a d o s com poderes especiaes,
— seja considerado lei.
A d m i t t a - s e ainda a h y p o t h e s e , e que vença-se
n a camara, mas não no senado. Ora, q u a n t o ao senado, u m a de duas : ou o projecto é rpgeitado in limine
ou cm parle. No primeiro caso neutraliza-o completamente ; no segundo r e s t a o recurso do a r t . 61, que
dá margem ao sophisma. E em a m b o s os casos não é
a interpretação compatível com a p h r a s e — o que se
vencer prevalecerá p a r a m u d a n ç a ou addicção á Lei
fundamental.
Concedendo, comtudo, q u e vença-se n a camara e
no senado, m a s que a corôa n e g u e saneção, ainda é
inadmissível; porque o projecto a q u e se negou saneção não pôde ser mais a p r e s e n t a d o n a m e s m a sessão
( a r t s . 64 e 65 ), e isto ó repellido pela l e t t r a do art
177—o que se vencer será lei.
Logo, são excluídos o senado e a corôa do poder
constituinte pela nossa Constituição. ( 7 )
Uma opinião toda original, , contradictoria em
lógica, e condemnavel em politica, é s u s t e n t a d a pelo
poder a quem estão confiados os d e s t i n o s do paiz.
M isnão analysal-a h e m o s : t e m sido por dcmai s
combatida. J a cahio no d o m í n i o d a opinião publica
que por ella confiscam-se os direitos do Povo, e assassina-se a Lei.
0.
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(7) A doutrina expendida j a foi posta em pratica
em 1832 ; essa lei só fixou os artigos q u e deviam ser
reformados, e foi realisada a refqrma só pelo poder
especial: V. de Uruguav—Estudoas Práticos—Appendice. Dr. Américo Brasiliense :—Os Programmas dos
dc
Partidos.
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Typ. da Tribuna
Liberal.
Fá
w r
A EVOLUÇÃO
P^iodico redigido peloji í cadpteog
Julio
de
Castilhos
Pereira
Assis
Anno 1
30
DE MAIO
DE
1879.
Os monarchistas vão marchando em retirada
vergonhosa, á medida que a Democracia vai ganhando victorias esplendidas.
Batidos em todos os recontros, fulminados os
seus princípios pela lógica viril das argumentações
da Razão, esmagados pelo peso da verdade histórica,
elles jà reconheceram que a Democracia, e só ella,
é a verdade e a justiça sociaes, que é ella a condição
vital de todo o progresso sério, de todo o aperfeiçoamento solido, que é ella o único governo capaz de
realisar n a sociedade a completa igualdade, os princípios únicos em que se assenta e repousa a verdadeira civilisação, que é ella, cmfim, a encarnação
luminosa da Liberdade; e que, por outro lado, a
monarchia representa apenas a transacção com as
circuinstancias, o meio termo necessário em face das
conveniências praticas e da relatividade das coisas
humanas.
Reconhecem ainda mais que sob a monarchia os
povos não são emancipados, mas vivem sob uma
instituição tutellar que os educa, que os prepara
para receberem depois a emancipação.
Mas, no desconcerto que lhes produz a approximação accelerada d uma derrota infallivcl, n a i m potência dos seus esforços para conseguir deter o
curso impetuoso da torrente dcmocratica, presos dê
tremor e de susto ante o fragor com que vão
caindo, minados pela lógica da verdade, os pedestaes
em que assentam os seus falsos ídolos,—têm recuado,
de sophisma em sophisma, até caírem nos mais
ridículos absurdos
Assim, obrigados a confessar a verdade da
Democracia e envergonhados d"essa confissão, elles
soccorreram-se do conhecido e velho estratagema,
e disseram : é verdade que a Republica é o único
governo racional, mas o povo brasileiro ainda não
está em estado de ser regido por elle. Carece d'uma
longa preparação, de trabalhada educação, sem o que
o governo republicano não medrará.
Provou-se-lhes que esse argumento é um absurdo em face da Lógica e em face da Historia
Em face da Lógica, porque, o que préga o partido liberal, o partido liberal que se diz fiel ao seu
Costa
Brazil
S. P a u l o , » O d e Dlaio d e fHíí»
A EVOLUÇÃO
da
N.
4
programma, ás idéas pelas quaes sempre combateu
na chamada adversidade, ao seu passado, cmfim ?
O que diz o partido conservador pela voz de muitos
dos seus mais auctorisados representantes ?
Ambos pedem a verdade da representação ou a
acção efficaz da vontade popular—com a eleição directa, a emancipação para a consciência—cora a extineção do culto officiai, a liberdade para a intelligencia—com a diffusão e propagação maxima do
ensino, a confratemisação com as nações estrangeiras
por meio da grande naturalisação, e, como complemento necessário de todas essas idéas, elles exigem,
com maior ou menor amplitude, que todos os poderes
políticos, além de responsáveis perante a nação,
sejam temporários.
Ora, julgar que essas reformas todas são perfeitamente realisaveis no estado actual da sociedade
brasileira é julgar que ella está apta para se reger
pela fôrma republicana.
E porque? Porque é essa exactamente a base
em que repousa a Democracia, são esses os seus
largos alicerces.
Quem acceita o principio não pôde deixar de
acceitar a consequência.
Os monarchistas, portanto, cÃem cm frente da
Lógica
Em face da Historia, também elles invocam um
absurdo.
Porque, si ella nos affirma que as sociedades
não estacionam, não retrogradam, que avançam sempre, impulsionadas irresistível e mysteriosamente
pela lei do progresso, si nos affirma ainda que esses
progressos, esses aperfeiçoamentos se operam por
meio de transformações graduaes tendentes sempre
a um modo dc ser mais perfeito, mais elevado ; si,
por outro lado, a sociedade brasileira atravessa um
d'esses períodos que devem cessar, por anormaes que
são, si lançada n'um estado desesperador de duvidas
e de incertezas, ella não pôde, em consequência
d'aquella lei, ir para traz, porém é impellida para
diante ; é claro que a Democracia é urgentemente
reclamada, como a satisfacção d'uma necessidade
universalmente sentida, como o motor único de todo
o aperfeiçoamento possível.
O povo está dcsilludido da monarchia, elle jà
apercebeu-se, com a rudeza de suas faculdades, de
que é ella a causa única do seu abatimento, da sua
prostração, do seu retrocesso.
Sente-se uma aspiração geral, si bem que indefinida, para melhorar de estado ; e, como sob a monarchia é isso impossível, porque ella já produzio os
26
A EVOLUÇÃO
seus fructos, torna-se necessaria u m a o u t r a f ô r m a de
governo. E i n c o n s c i e n t e m e n t e todos appellam para
a republica.
Eis abi, p o r t a n t o , a preparação.
Fel-a a lei da evolução histórica.
Derrotados a i n d a n'esse p o n t o , desamparados
pela lógica, os m o n a r c h i s t a s t e n t a m a i n d a o u l t i m o
recurso, o recurso d o s que se s e n t e m baquear a n t e
a verdade d o s a c o n t e c i m e n t o s
Assim como é impossível levantar u m edifício
sem fortes esteios que o s u s t e n t e m , t a m b é m é impossível o e s t a b e l e c i m e n t o da republica sem h o m e n s
aptos p a r a i n a u g u r a l - a .
Onde estão e s t e s h o m e n s ? Vós não e n c o n t r a e s ,
dizem elles aos d e m o c r a t a s .
Isto, sobre ser irrisorio, é s i m p l e s m e n t e ridículo.
0 m e s m o que succede n a n a t u r e z a physica s u c cede n o m u n d o social.
Bem como n a s g r a n d e s t r a n s f o r m a ç õ e s d a m a t é ria, n a s assombrosas t r a n s f o r m a ç õ e s sociaes s u r g e m
novos produetos, a g e n t e s novos, novas forças i m p u l soras,—que são filiações fataes, dcsinvolvímentos
logicos.
Os a c o n t e c i m e n t o s a d v ê m por o u t r a s que não a s
forças m e r a m e n t e h u m a n a s ; elles advém em v i r t u d e
d ' u m a lei i m m a n e n t e que g o v e r n a p o t e n t e m e n t e
a H u m a n i d a d e nos seus movimentos s e m p r e a s c e n d e n t e s , exercendo sobre c i l a a sua acção d ' u m modo
fatal e irresistível, p o r é m s a b i a m e n t e , porém concordantemente.
Os g r a n d e s a c o n t e c i m e n t o s é que f o r m a m e prod u z e m os g r a n d e s h o m e n s , que são a p e n a s u m r e s u l t a d o , q u e s ã o ' m é r o s p r o d u e t o s d o s meios sociaes
em que se agitam e vivem.
A Historia é a d e m o n s t r a ç ã o cabal e incontestáv e l d ' e s t a s v e r d a d e s d e q u e estão d e posse todas a s
intelligencias esclarecidas.
B a s t a a t t e n d e r p a r a o m a g n o exemplo—a Revolução Franceza.
Aquelles h o m e n s , c u j o s n o m e s f o r m a m o l u m i noso estribilho que a H u m a n i d a d e r e p e t e enthusiastícamentc ao som da m u s i c a do progresso, que são
constellações e s p l e n d i d a s a r u t i l a r e m com brilho
inextinguível n o s p a r a m o s estrellados da Historia,
aquelles h o m e n s d e 89 nasceram com a Revolução,
fizeram-se com ella, f o r a m u m resultado todo seu.
Pouco a n t e s d e 89, q u e m creria n o apparecim e n t o f u t u r o de taes vultos cyclopicos?
E é sempre assim.
A fermentação que ahi assombrosamente se vae
formando n o seio do paiz leva incumbado em si u m
portentoso acontecimento, q u e , ao desabar, fará
surgir d este a n t r o pavoroso e tétrico de trevas—uma
t u r b a de leões indomitos.
Desilludam-se, portanto, os monarchistas.
A sua causa está perdida.
E' inútil persistir em querer conservar instituições que, tendo j á desempenhado o seu fim historico, devem ser substituídas por outras que se harmonisem com a Nova Epocba que as sociedades vão
brilhantemente inaugurando.
Não t e n t e m impedir a marcha das idéas que vão
a b r i n d o passagem para os largos descampados do
Futuro.
Tudo será era vão.
O carro da Revolução, na sua impetuosidade
doida, sepultará os insensatos que t e n t a r e m travarl h e as r o d a s !
J. C.
Uma resposta
A Evolução vai d e m o n s t r a r «com a Historia em
punho», r e s p o n d e n d o as contestações d a Vanguarda,
o como foi a Igreja Catholica a creadora da Inquisição».
Nem m e s m o podia prescindir disso : j á porque
Leão Bourroul lhe morece toda a consideração, j á
p o r q u e , t r a t a n d o - s e de u m a questão desta o r d e m ,
t e m obrigação de s u s t e n t a r o q u e disse.
Que falle, pois, a historia.
« Por q u e m a inquisição foi instituída ? Pelos
reis ? P a r a j u l g a r crimes políticos ? Foi a Igreja,
q u e m creou este t r i b u n a l ; foi a Igreja, quem creou o
c r i m e . Dissemos que a i g r e j a inventou o crime ; eff e c t i v a m e n t e o crime é imaginario. A heresia que
conduzio t a n t o s dasgraçados â fogueira não é sinão
. u m a opinião sobre d o g m a s , opinião que a Igreja
declara errônea e que a razão m u i t a s vezes approva.
Com que fim a I g r e j a p u n e u m erro dogmático ?
P o r q u e a heresia a t a c a seu direito divino, sua infallibilidade, isto é, os títulos sobre os quaes repousa
seu poder. A Inquisição é, pois, u m i n s t r u m e n t o
d o dominio ecclesiastico». Eis ahi a opinião de
L a u r e n t , palavra por palavra (I).
« O concilio de L a t r ã o (1215) e o d e Tolosa (1229)
fizeram da Inquisição u m t r i b u n a l permanente (2)».
« Coube a Innocencio III a h o n r a de t e r estabelecido a inquisição no m u n d o , isto é, de t e r regularisado, centralisado, codificado a perseguição (3)».
P e d r o Larousse diz a i n d a : • E m 1233 Gregorio X conficou a direcção deste terrível tribunal aos
dominicanos (4)».
C a n t u , cujas idéas religiosas são m u i t o bem
conhecidas, accusa a b e r t a m e n t e a Inquisição; mas,
procurando defender a I g r e j a , diz que ella não é responsável pelos crimes praticados, porque nunca a p provou-a em concilio (5).
U l t i m o recurso. Mas isto é u m a defesa ? Esta
justificação é rigorosamente orthodoxa? Era absol u t a m e n t e necessário que a Igreja approvasse a I n quisição em concilio afim d e que fôsse a única entidade responsável pelos seus c r i m e s ?
(1) Historia da Humanidade, T. 9°, pag. 78.
(2) Pedro Larousse, üicc. univ., T. 9", pag. 709.
(3) Arnould, Hist.gda lnquis., pag. 43- |
(4) Pedro Larousse, Obr. cit., T, 9 o . pag. 709(5) Cantu, Historia universal, T. XII, pag. 143,
T. XI, pag. 164.
I
=—
A EVOLUÇÃO
NSo, certamente. Neste ponto o grande historiador, si bem que preste homenagem ás suas crenças,
deixa muito patente a verdade.
Quem creou, pois, a Inquisição?
A Igreja, diz Laurent ; a Igreja, diz Pedro Larousse ; a Igreja, diz ainda, indirectamente, Cesar
Cantu.
E, effectivamente, quem eram os inqusidores ?
Alguns legistas, alguns officiaes leigos ? Não ; eram
padres.
De que crimes tomava conta a inquisição ? Não
tomava conta de heresias, de crimes religiosos?
Ora, uma instituição desta ordem, essencialmente religiosa, e que fulgurou tanto, quem poderia
fundal-a n'uma épocha em que a Igreja era tudo,
em que os papas punham e dispunham ?
Aqui, de duas uma : negar a existencia da historia, ou conformar-se com a triste verdade.
* *
*
No mesmo artigo diz ainda Leão Bpurroul :
«já passou o periodo das balelas e jâ são calumnias
sediças, repetições enfadonhas, os contínuos appel»
los a Wiclef, João Huss, a Luthero e a mais a col y tos
de Satanaz ».
A isto a Evolução não precisa responder ; pede
apenas ao articulista o obsequio de 1er os trechos
seguintes :
« João Huss, prégador da Universidade de Praga,
tinha já levantado a voz contra a depravação do
clero, quando Jeronymo de Praga chegou de Oxford,
trazendo os livros de Wiclef : Huss começou a t a cando primeiramente os abusos, depois as indulgências (6)».
« O fogo, que queimou João Huss e Jeronymo,
fez com que se atacasse n a Bohemia u m terrível
incêndio (7) ».
De boa fé, p e r g u n t a finalmente, o articulista,
quem ocredita hoje no cárcere de Galileo ?
Pois será mesmo tão evangelico o espirito do
redactor da Vanguarda que não acredite também nos
textos de um j u l g a m e n t o , conservado pela historia,
que começa assim : « Eu, Galileo, de idade de s e tenta annos, agrilhoado diante de vós, emminentissimos cardeaes, etc., etc. » ?
P. C.
A crise dos espíritos
A Evolução não vai demonstrar u m a t h e s e ; vai
observar um facto e tirar-lhe as consequências lógicas e necessarías.
A doutrina que faz partir toda a sciencia, todas
as deducções unicamente dos dados seguros da experiencia, da observação t e m por si a grande v a n t a (6)
Lenfant, Hist. da guerra dos hussitas.
(7) Cantu, Obr. cit., T. XII, pag. 309.
-»
gem de poder ser comprehendida por todos c por
todos verificada.
A historia politica d'este paiz não tem sido estudada á luz da philosophia
Tem sido isso de grande atrazo para a causa
democratica. Porém, mais para lamentar ainda é I
que os homens, que não tfem pulso e critério para 1
explicar o passado, sejam também fracos, ineptos
para comprehender o presente.
Entretanto,
isso ó logico; essa tibieza, essa mvo- II
pia são naturaes e consequentes.
Sem premissas estabelecidas, não lia conclusão
possível.
O facto fica, assim, naturalmente explicado.
Quem não conhece o caminho andado muito
menos conhecerá o que resta a percorrer.
Desta circumstancia nasce fatalmente um phenomeno, cuja observação, emfrente das leis históricas, é da mais palpitante importancia.
O advento de successos inesperados, de factos
não previstos pela politica, de phenomenos não explicados—tem produzido naturalmente nos espíritos,
sobretudo nos últimos tempos d'este reinado, um
certo estado de duvida, de incerteza, de vacillação,
que é para uns a descrença, para outros o apodrecimento do caracter.
Divididos em partidos que não são partidos, em
grupos sem unidade, em aggregações cujas moléculas
tendem a um continuo affastamento, pela sua fraquíssima coliesão,—aquelles que se acham á frente
dos destinos da patria estabeleceram, ha muito, a
completa anarchia mental.
Do centro de todos os grupos surgem gritos descompassados e dissonantes, atirados em todos os sentidos.
Si para o triumpho da democracia pura bastasse
o consenso unanime dos partidos activos, o Brasil
seria hoje republicano. Porque, nas circumstancias
supremas, a cada golpe novo, vibrado pelo braço do
desconhecido,—a monarchia tem sido accusada por
u n s e por outros.
Consciente ou inconscientemente, directa ou indirectamente, o que é verdade e o que pôde ser facilmente observado — é que a accusação tem partido de
todos.
Os absolutistas desesperam da fraqueza do r e i ;
os constitucionalistas desesperam da fraqueza da
constituição; os pseudo-democratas desesperam da
fraqueza d*essa chimera—a democracia mixta.
•õMas, nem dos descrentes, nem dos desesperançados se ha de formar o núcleo poderosíssimo a quem
está preservada a grande missão de d á r em terra com
os últimos destroços do phantasma s i n i s t r o .
A idéa democratica foi trazida ao espirito h u -
A. EVOLUÇÃO
28
mano unicamente pela força da philosophia. Só a
philosophia, a analyse calma e serena, poderá, pois,
arregimentar os desilludidos—porque estes também
são philosophos—os pensadores—porque estes são
mais philosophos ainda—e organizar o luminoso
exercito.
Esse momento decisivo parece, emfim, ter chegado para o Brasil.
Os partidos decrepitos e rotos cumpriram fatalmente, à mingoa de lógica, o seu inglorio fhdario.
Chegou-lhes a épocha amarga da decomposição
lenta, porém irresistível, a que estão subjcitas n'este
mundo todas as coisas que não têm u m destino
determinado e logico.
Prova irreplicavel da sua imprestabilidade, diante
das largas aspirações actuaes, é esse facto por todos
sentido, por todos observado, esse facto significativo
que a Evolução constatou, começando este artigo :—
a anarchia que lavra-lhes no seio, como incêndio
destruidor.
Para os partidos, para a politica d'este pniz,
chegou, pois, a épocha que toda a H u m a n i d a d e tem
de atravessar.
A Evolução
dos espíritos.
ehamal-a-á pelo nome : — a crise
•
A crise não é a normalidade.
A crise é a transição.
A transição, n a s sociedades, prenuncia-se s e m pre por u m grande abalo, que as faz apparente ou
realmente retroceder.
A historia superabunda n'estes g r a n d e s exemplos.
Como o homem que t e m de saltar u m precipício
aberto, medindo a distancia que lhe separa as a r e s t a s ,
verga-se para traz, sobre si mesmo, afiirf de obter
mais firme tensão em seus nervos,—assim t a m b é m
a sociedade, n a s vesperas de u m g r a n d e passo p a r a
o progresso, recüa por momentos, detem-se à beira
do abysmo, e salta por elle depois, coberta de t r i u m p h o e coberta de gloria.
A historia t e m seus retrocessos. Seus retours,
dizia Proudhon ; seus ricorsi, dizia Vico.
Exactamente n'este ponto acha-se este paiz,
como a Evolução acaba de observar.
O desprestigio dos governos, a corrupção do
poder, a immoralidade que desce sinistramente d a s
alturas, o descalabro das instituições vigentes—são
a consequência n a t u r a l d'este estado excepcional de
coisas.
Os espíritos vacillam ; as convicções abalam-se ;
rasgam-se a s bandeiras dos partidos ; os conservadores avançam até os arraiaes libcraes e recúam a t é
os limites do despotismo ; os liberaes avançam até o
campo republicano e recúam até as raias do auctoritarismo ; a confusão e a desordem são os p h a n t a s mas sombrios d e s t a scena monstruosa,
Mas a solução d'este problema está estabelecida
a
priori.
Depois da tempestade—a placidez serena è mansa
da aurora.
Depois da crise—a normalidade.
O sol de a m a n h ã ha de fatalmente clarear, com
luz nova, u m dia novo
Não ha, pois, motivo p a r a que o s patriotas sinceros descreiam do f u t u r o .
O f u t u r o pertence á historia j a historia cai no
domínio da philosophia ; e esta é decisivamente soberana.
A ' s forças activas d a sociedade compete encam i n h a r e dirigir o m o v i m e n t o , trazido pela fatalidade
das leis históricas.
N'isso consiste todo o t r a b a l h o consciente do
progresso.
A Evolução espera d e m o n s t r a r , no seu proximo
n u m e r o , que esse t r a b a l h o só se p o d e r á traduzir na
—Revolução.
No seu e n t e n d e r , a Revolução não é mais do que
o resultado logico e n a t u r a l d a elaboração evolutiva,
salvo q u a n d o a s sociedades fôrem sabias bastante
p a r a c o n j u r a r o m a l , abrindo l i v r e m e n t e a s valvulas
ao progresso.
E n t r e t a n t o , o q u e , d e s d e j á , n i n g u é m poderá
n e g a r é q u e , p a r a lavar a s m i s é r i a s do presente,
vários p r e n ú n c i o s fazem crêr q u e , n o s laboratórios
do f u t u r o , se está p r e p a r a n d o u m g r a n d e banho de
sarfgue.
A. B.
A' «Vanguarda»
Está publicado o 3 o n u m e r o d a Vanguarda, periodico u l t r a m o n t a n o .
E m p e n h a - s e o c o n t e m p o r â n e o e m demonstrar a
improcedência do p e q u e n o reparo q u e , ao noticiar o
seu a p p a r e c i m e n t o , a Evolução fez acerca d a palpável
contradicção e m q u e càe, affirmando a compatibilidade d a Democracia çpm o catholicismo, quando é certo
que esta não é sinão o f e c u n d o p r o d u e t o das revoluções, e q u a n d o a i n d a é certo que elle se diz inimigo
i n t r a n s i g e n t e d a s revoluções.
O que a Evolução esperava ao fazer essa ligeira
observação, succedeu. Baldo de lógica, lançado n'uni
t e r r e n o resvaladio e perigoso,—porque ousára penet r a r ás f u r t a d e l a s no a c a m p a m e n t o inimigo para
encobrir com o brilho do a r m a m e n t o d'elle a ferr u g e m do s e u , — o a r t i c u l i s t a u l t r a m o n t a n o nada
responde de cabal, de decisivo.
Para d e f e n d e r - s e , recorreu ás definições de Democracia e de Revolução, e , formulando-as a seu
t a l a n t e , deu-lhes aquelle estylo olympico, auctoritft*
rio, s u p e r i o r m e n t e jactancioso, de que não poderá
f u g i r os catholicos, a c o s t u m a d o s a argumentar, a
apreciar razões c o n t r a r i a s , e a encarar todas as questões que se lhes a p r e s e n t a m , t e n d o por único apoio
a tal infallibilidade do d o g m a , a fé.
31
A IiVOLUÇÃO
Encastellam-se n'esse rcducto, e j u l g a m - s e i n vencíveis, soberanos no ataque e soberanos na d e fesa. ..
Que i n g e n u i d a d e !
Das definições que d e u , deduzio Leão Bourroul
q u e a Democracia e a Revolução são idéas c o n t r a p o s tas, antitheticas, e q u e , movendo g u e r r a á esta, n ã o
s e j u l g a , por isso, incompatibilisado com a q u e l l a .
Em boa fé, em consciência, a r g u m e n t e m o s com
sinceridade : — pois a Democracia m o d e r n a , a q u e
agita poderosamente as sociedades a c t u a e s , a q u e
vai abatendo e derrocando a s velhas instituições, os
velhos r e g i m e n s , a que vai r a s g a n d o u m sulco d e
luz na consciência d o século, o. p o n t o l u m i n o s o p a r a
onde convergem irresistivelmente t o d a s a s aspirações
contemporâneas, não é o r e s u l t a d o d a s revoluções ?
O que t ê m sido, e n t ã o , o que t ê m feito, o q u e
t ê m produzido esses assombrosos a c o n t e c i m e n t o s q u e
do século XVI em d i a n t e t e m abalado a face d o m u n do, dando-lhe u m novo a s p e c t o , u m m o d o d e s e r d i f ferente,—esses m o v i m e n t o s t o d o s em q u e t ê m vivido
as sociedades ?
O absolutismo p o l i t i c o ? Não. O a b s o l u t i s m o
religioso ? T a m b é m n ã o . E a p r o v a é q u e a s fileiras
do seu formidável exercito d e o u t r ' o r a vão r a r e a n d o
progressivamente e estão n o t a v e l m e n t e r e d u z i d a s .
Demais, explosões e s t r e p i t o s a s p r e p a r a d a s p e l a
compressão exercida pelos reis e p e l a I g r e j a , e s s e s
movimentos, violentos ou pacíficos,—porque o t e r m o
generico — Revolução — c o m p r e h e n d e - o s a t o d o s — ,
não podiam, m u i t o n a t u r a l m e n t e , favorecel-os e f o r tifical-os. E s t á fóra d e d i s c u s s ã o .
Têm sido, pois, i n f r u e t i f e r o s t o d o s esses t r a b a lhos s o c i a e s !
Eis ahi por terra toda a Historia m o d e r n a !
da
Para desmentil-a bastou u m a simples p e n n a d a
Vanguarda.
Assim, as g r a n d e s revoluções do s o c u l o ' X V l , a
revolução cle 16(58, o g r a n d e a c o n t e c i m e n t o d e 1776, a
portentosa revolução d e 89, em fim t o d a s a s revoluções
não sobrevieram e não t ê m sobrevindo p a r a elevar a
consciência, l i b e r t a r a i n t e l l i g e n c i a , fortalecer o d i reito, e m a n c i p a r o povo, f u n d a r , n ' u m a p a l a v r a , a
Democracia.
Dil-o Leão B o u r r o u l !
Mas, concedendo m e s m o q u e seja isso v e r d a d e ,
a Evolução vai d e m o n s t r a r como a Vanguarda, q u e rendo i m p a r de liberalismo p a r a a p p a r e n t a r os vicios
abominaveis d e s u a Escóla, lança-se n ' u m m i m d o
vasto de contradicções e d e s a c e r t o s incríveis, t a n t o
mais quando p a r t e m d ' u m t a l e n t o m e r e c e d o r d ó
máximo a c a t a m e n t o .
P a r a provar que o catholicismo não repelle a
Democracia, escreve a Vanguarda : « Democracia é o
governo do povo pelo povo, e como t a l a acceitamos ».
A Evolução está d e pleno accordo, m a s vai t i r a r a s
conclusões d'este principio.
« A Democracia é o governo do povo pelo povo ».
Por consequência, n a p r ó p r i a opinião do c o n t e m p o râneo, a Democracia ó o r e g i m e m d a liberdade a m pla.
Mas o regimem d a liberdade suppõe indubitavelmente, como consequência necessaria, o livre e d e s -
embaraçado exercício de t o d a s a s liberdades, a s u a
efiicaz g a r a n t i a , a s u a vitalidade, e caminho f r a n c a m e n t e aberto para o progresso. P o r t a n t o , ainda no
p e n s a r d o contemporâneo, a Democracia só se realisa,
só é verdadeira e sincera, q u a n d o sob ella são perm i t i idas a liberdade d e consciência, a liberdade d e
p e n s a m e n t o , a liberdade scientifica, a liberdade do
e n s i n o , o c a m i n h a r d a civilisação, etc., e t c .
Ora, a p r i m e i r a c o n d e m n a - a o Syllabus n o s a r t e .
l õ , 55, 77, 78, 7 9 ; a liberdade d e p e n s a m e n t o c o n d e m n a - a n o a r t . 7 9 ; a liberdade scientifica n o s a r t s .
22, 5 7 ; a liberdade d c ensino n o s a r t s . 45 e 4 7 ; e ,
p a r a d e i x a r c o m p l e t a a g r a n d e obra, c o n d e m n a o
p r o g r e s s o , a civilisação m o d e r n a , a Democracia, e m fim, n o a r t . 80.
A i n d a m a i s : não a d m i t t e o u t r a soberania sinão
a d a I g r e j a , (prop. 42 e 63).
L o g o , u m a d e d u a s : ou a Vanguarda não q u e r a
Democracia, o u a q u e r .
No p r i m e i r o c a s o , c o n t r a d i z o principio que diz
sustentar.
No s e g u n d o , r e n e g a o Syllabus, e deixa d e ser
« catliolica, a p o s t o l i c a , r o m a n a sem restricções ».
Seja como lôr, a Evolução não proferio u m a
inexactidão q u a n d o d i s s e q u e a Democracia não se
p ô d e h a r m o n i s a r com o c a t h o l i c i s m o , como o e n t e n d e
e o p r o f e s s a Bourroul.
A Evolução sabe p e r f e i t a m e n t e q u a l seja a D e m o c r a c i a q u e a Vanguarda q u e r , e vai dizel-o f r a n c a mente.
E ' a D e m o c r a c i a que se t r a d u z n a m a i s o m i n o s a
e d e s e n f r e a d a T h e o c r a c i a , n o governo o m n i m o d o e
s u p r e m o d o p a p a sobre t o d o o m u n d o , pesando t e r rivelmente
sobre a consciência, escravisando a i n t e l l i g e n c i a , p e a n d o a r a z ã o ; é a Democracia q u e ,
m u i t o l o n g e d e ser a cousagração d a soberania do
Povo, é a e x p r e s s ã o d a soberania d a I g r e j a , p e r s o nificada no Pontífice.
N ã o p o d e m co-existir, s i m u l t a n e a m e n t e , duas sob e r a n i a s ; ou u m a , ou o u t r a h a d e prevalecer e
t r i u m p h a r , e, p a r a a Vanguarda, n ã o pôde deixar d e
pertencer à Igreja o triumpho.
E i s a s u a Democracia.
T u d o o q u e n ã o f ô r isso é s o p h i s m a , é b u r l a ,
é engodo.
Ao c o n c l u i r , a Evolução pede desculpa á Vanguarda si d e i x o u l a n ç a d a a l g u m a p h r a s e q u e de q u a l q u e r m o d o p o s s a m a g o a l - a ; e l a m e n t a com a m a i s
p r o f u n d a s i n c e r i d a d e que u m talento t ã o b r i l h a n t e
t e n h a se t r a n s v i a d o a tal ponto pelas s e n d a s t e n e brosas do m a i s desvairado f a n a t i s m o e da cegueira
da fé
J . C.
Povos e Governos
O GOVERNO (1.)
O povo a t t i n g i o s u a maioridade em 89, pelo desab a m e n t o d e u m m u n d o , s e g u i n d o o curso logico d a s
leis que t e m r e g u l a d o a m a r c h a progressiva da h u m a n i d a d e atravéz dos séculos.
(1) Consulte-se C. Bernal, Theorla da autoridade
e G . Pagés, de q u e m se citem a l g u m a s palavras.
30
A. EVOLUÇÃO
lUuminal -o, esclarecel-o, afim de fjuo encare
com olhos d'aguia, sem temor e sem receio, os
horisontes incendiados pelo sol da liberdade : eis a
grande questão do presente, eis a grande questão do
futuro.
Esta épocha é a épocha das liquidações, dolorosas
talvez.
Porque o século presente ou ha de assistir aos
mais assombrosos reviramentos, ou á completa reorganisação das sociedades pela justiSa e pela igualdade.
E' bom notar : Napoleão III j á foi precipitado
pela força dos acontecimentos do throno de Luiz
Phelippe; na Inglaterra o proletariado assombra;
no seio da grande Allemanlia o rei vive como que
encarcerado, cuidando talvez enchergar em cada
canto as sombras de Hcedel e Nobling; nos gelos
da Rússia j á começou a fumegar ura vulcão immenso.
E tudo isto o que significa, o que quer dizer ?
Que os governos não podem continuar a ser, como
outr'ora, a encarnação da força, a tyrannia organizada ; que os interesses, que as liberdades individual
e social não podem estar sujeitos por mais tempo ao
direito divino, ao fanatismo, á iniquidade e aos privilégios.
A verdade é esta. Entretanto os governos se
obstinam a não seguir os conselhos da historia, da
experiencia, e, procurando tresloucadamente fechar a
éra da Revolução, apoiados na força, se annunciam
como verdadeiros e estáveis aos olhos do cidadão
timorato ; mas a miséria que desmoralisa as massas,
as más administrações que se succedem ininterrupta-mente vão espalhando a desharmonia, a cholera, a
irritação no seio das sociedades, o germem, emfim,
de futuras desgraças.
E' tempo de que os governos compenetrem-se
de sua missão civilisadora, e procurem equilibrar
e dirigir as forças sociaes, tomando medidas sabias e
justas, e não fazendo decretar leis arbitrarias e draconianas, como o cesarista Bismark : e isto para impedir os desvairamentoe populares.
Neste estado actual de cousas, qual a base e
a missão dos governos, segundo as tendencias da civilisação 1
A base—a soberania do povo.
A missão—a felicidade e a manutenção da liberdade de todos pela felicidade e a manutenção da
liberdade de cada u m .
A soberania do povo—porque hoje está rigorosamente demonstrado que ella não existe, nem pôde
existir em outra parte senão no seio das sociedades—;
é u m attributo, u m predicado seu inalienavel.
Os governos não podem continuar, mesmo desfarçadamente, nos paizes civilisados, a apoiarem-se
neste dogma supremo : — a vontade de um só, que
engendra o despotismo e repousa sobre uma usurpação vergonhosa.
O contracto social, rigorosamente fatiando, n j 0
tem razão de ser : foi uma Chimera methodisada
pelo cerebro candente de João Jacques, mas existe
o contracto civil, o contracto politico
Este contrcto é a lei fundamental que regula o
modo de ser de cada nacionalidade.
O governo é o motor que deve pôr em acção
esta lei fundamental.
A funeção, o fim do governo é applicar, honestamente, a bem da felicidade de todos, esta lei fundamental, este pacto original, que deve ser a expressão
legitima e real das necessidades de todos, da vontade
de todos.
Daqui segue-se ainda : quando tractar-se dos interesses de todos, competirá á todos intervir directa
ou indirectamente na questão : eis o direito.
Nenhuma reforma será considerada fundamental,
contribuirá para a felicidade c o m m u m se não basearse na vontade de torlos : eis a necessidade da applicação do direito.
Conclusão lógica : os governos não são mais do
que delegados da nação.
Porque o principio do governo é a vontade geral, o fim a felicidade geral, e não a vontade de um
só, a felicidade de u m só ou de poucos.
Rousseau disse : «se houvesse u m povo de deuses,
elle se governaria democraticamente». Pois bem*
Os vinculos sagrados da igualdade e d a fraternidade tendem a t r a n s f o r m a r cada nação em povo de
deuses.
Muito imperfeita e r a p i d a m e n t e ahi ficou delineada a tendencia dos espíritos.
Considerando-a, chega-se a conclusão de que não
haverá j a m a i s estabilidade possível p a r a as sociedades, emquanto não se estabelecer u m a equação
exacta entre os interesses individuaes e sociaes, equilibrados n a balança d a j u s t i ç a ; emquanto toda
organisação politica não repousar sobre estes tres
pontos capitães :
A ordem, sem a q u a l não pôde haver liberdade ;
A liberdade, sem a qual a ordem não será mais
do que a escravidão o r g a n i z a d a ;
A igualdade, sem a q u a l a ordem e a liberdade
não existirão senão em proveito de u m pequeno
numero.
Néstas circumstancias os governos que pretendem permanecer estacionários allegando fúteis pretextos, ou cumprirão seus deveres, ou inevitavelmente serão arrastados pela vontade nacional e
precipitados ás aguas revoltas desse mar onde já
sobrenadam mil pedaços de sceptros e de tliiaras.
Decretem muito embora leis a r b i t r a r i a s ; escravisem o cidadão pela eleição e pelo vinculo religioso ;
lancem mão, finalmente, de todos os recursos possíveis, porque nada resistirá.
Não ha ninguém que possa exercer uma influencia directa na organisação social, por mais violenta,
por mais forte que seja essa intervenção.
31
A IiVOLUÇÃO
Napoleão I é uin exemplo.
A victoria de Wartcrloo não significa outra cousa
mais do que a victoria das forças sociaes contra
as forças individuaes, o triumpho das forças sociacs
contra o despotismo encarnado em um Titão.
A opinião publica alarga-se pelas luzes da civilisação ; os cidadãos, que começam a compreliender
seus direitos, condemnam todos os crimes, combatem todos os erros, rejeitam e repudiam todas as
flccòes : neste quadro, pois, em que os governos
tendem a reduzir-se ás verdadeiras proporções, a
Evolução repete—não se poderão salvar de u m a queda
desastrosa, si não fôrem regulando seus actos pela
verdade, pela justiça, pela satisfação das necessidades de todos.
P. C.
A nossa apathica e desesperadora monotonia vai
t e r muito breve u m a de suas raríssimas intermitt-ncias.
Caberão a s glorias d'esse acontecimento a Affonso Celso J u n i o r , que acaba de escrever u m d r a m a
e de confial-o à companhia que actualmente vegeta
no S. José. E s t a nol-o apresentará em seena d e n t r o
d e pouco dias.
Não h a n e g a r : tracta-se d e u m g r a n d e acontecimento, talvez o m a i s significativo que t e n h a j á m a i s
produzido esta épocha esteril em coisas sérias e
ubérrima em coisas ridículas.
A Evolução não q u e r a d i a n t a r j u i z o sobre esta
obra, a i n d a que t e n h a d'ella feito u m a rapida leitura
q u e m escreve estas linhas.
Mas, u m a l e i t u r a não b a s t a p a r a u m juizo definitivo. Depois do p r o n u n c i a m e n t o do publico (?) a
Evolução p r o n u n c i a r - s e - á t a m b é m .
P o r ora, basta-lhe dizer q u e n'este d r a m a não
e n t r a m vinhos e n v e n e n a d o s , crianças r o u b a d a s , f o r t u n a s a r r a n j a d a s n ' u m a b r i r e fechar d'olhos, n e m
toda essa l o n g a série d e coincidências m a t h e m a t i c a m e n t e c o m b i n a d a s d o s d r a m a l h õ e s d e 1830. Não ;
p i n t a m - s e n'elle factos m u i t o n a t u r a e s , m u i t o s i m ples, m u i t o observados, m u i t o observáveis e, p r i n c i p a l m e n t e , m u i t o brasileiros.
A l g u é m s i n c e r a m e n t e a p o n t o u ao a u c t o r q u a e s
os defeitos que e n c o n t r a v a a p a r d a s perfeições d a
s u a obra. E s s e s defeitos h ã o d e ser m a i s t a r d e c o n venientemente notados e estudados.
E n t r e t a n t o , esperando cora ancia occasião de
poder enviar-lhe m a i s a l g u m a s palavras, a Evolução
felicita Affonso Celso J u n i o r , q u e não m o r r e u p a r a
a s l e t t r a s académicas, como officiosamente proclam a v a m u i t a g e n t e boa.
Evidente p r o v a d e que está vivo e bem vivo o
d i s t i n c t o poeta—é q u e m u i t o breve e s t a r e m o s lendol h e o terceiro v o l u m e d e versos.
A s Tilas Sonantes
mesmo presentida c magnificamente expressa n'estes
versos, com os quaes põe ás Tilas Sonantes o
PONTO
FINAL
AOS MEUS AMIGOS
I
Eu já tive nas mãos os bandolins antigos,
Vibrando os froixos sons românticos dos b a r d o s ;
Mas hoje, ó meus amigos,
A lyra que me agrada
Allía ao resplendor cortante de uma espada
As finas vibrações aligeras dos dardos.
Não mais nos versos meus a imagem das amantes...
—Ninguém se curva, em lucta, às tentações do amor
E eu sinto u m novo arrojo em estos flammejantes...
—Adeus, visões de outr'ora...—A' liça, luctador 1 !...
II
E u quero t e r agora estrophes explosivas,
Quero r u i r n o pó os velhos edifícios,
E quero contra os reis e quero contra os vícios,
U n s ímpetos fataes d e extranhas tentativas.
Emquanto
Emquanto
Emquanto
0 elástico
não puder metrificar cratéras,
não r i m a r a s lavas e os vulcões,
não buscar nos musculos das féras
vigor d e homéricas canções;
E m q u a n t o não puder robustecer a lyra,
Carregando a expressão com polvora de phrases,
Tornando-lhe, de prompto, as ruínas de Palmyra
N'um fóco de tufões vulcânicos o a u d a z e s ;
Vós m e vereis passar acabrunhado e mudo,
F i t a n d o torvo o céu, que o meu rancor i m p r é c a ;
Não m e turbeis então... Eu, concentrado, estudo
Como u m dia soltar ovantemente o «eureka».
E se acaso chegar do desencanto às bordas,
Só colhendo os desdens da sociedade fútil,
0 ' lyra, ouve-me bem : quebrar-te-hei as cordas,
Frio, como q u e m p a r t e impuro vaso inútil.
E sabeis p o r q u e assim raivoso eu me concentro?
Porque não m a i s a t t e n d o ao lyrico reclamo?
—Paixão voraz, ó c é u s ! arrebentou-ma dentro
E e u a m o , eu amo, eu amo I ! . . .
estão a sahir d o prélo.
Esse livro, com os s e u s pequenos deffeitos e a s
s u a s g r a n d e s bellezas, e s t á d e s t i n a d o a marcar a
transicção n o espirito do p o e t a , transicção por elle
III
32
A
EVOLUÇÃO
venindo-o dc que ha dc fazel-o voltar ao pó d'oa(je
tenta erguer-se ;
70.— Que estude um pouco de geographia, p*^
não dizer que Jonkopings é—um celebre fabricante de
phosplwros—, quando Jonkopings é simplesmente
uma cidade escandinava ;
8 0 .—Que estude ura pouco de grammatica p o r .
tugueza, para não dizer mais—''nellas lia de figurar
phosphoros... etc. ;
9".—Que convença-se de que é tão mal succedido
na pilhéria, como infeliz no gênero serio ;
10o.—F.m synthese—que, quando se quizer in.
troraetter com os homens que conscienciosamente
estudam e trabalham, adquira primeiro competência
para isso, porquo não basta que ura individuo tenha
sido inepto cinco annos—para ter boin senso c, principalmente, auctoridade.
IV
Adoro uma visão de magostade augusta,
Cuja voz de heroiua aos sóes da fama incita...
—O fecundo calor dos tropicos lhe agita
O seio alentador de geração robusta.
E' tanto o seu podor que, de sublime, assusta...
De glorias lhe fervilha a multidão bemdita
K a divisa da cruz além flammeja escripta
No emblema quo, no espaço, o astro-rei lhe incrusta.
Para ajuntar-lhe assim constcllações de encantos,
O assombro c a maravilha, em desvarios sanetos,
Ligaram-se no sol... Quem, pois, não idolatrc-a?...
Metropole idéal de inspirações supremas,
Sonho a gloria de os pós u n g i r - t e cora poemas,
O" t u que és minha mãe o minha amante, ó P a t r i a ! !
A Reacção publicou o seu 2 o numero.
O artigo dc fundo tem por epigraphe o ensino
livre, e 6 firmado por Briano Dauntre.
Depois de condemnar 89 e seus resultados, e de
affirmai' que essa data recorda a mais completa negação da liberdade,—como o são para os catholicos
todos os grandes movimentos modernos—, o articulista declara-se adepto da liberdade de ensino,
mas conforme à fé e ás leis da Igreja, conforme aos
princípios catholicos.
Estes versos, cscriptos, não pela penna lymphaticamcnte molle do quem escreveu os Devaneios, mas
pela rude penna d'aço que um pulso viril maneja,
que um estro gravemente republicano inspira, estes
versos dão clara idea do que será o livro
A Evolução ainda uma vez cobre do applausos o
valente paladino e imparcialmente o espora.
A. B.
De modo que, cm ultima analyse, acceita e não
acceita a liberdade de ensino, sustenta a these e a
antithèse.
o
O Liberal (2 numero) traz um sensato artigo
de F. de Novaes sobre a reforma da inslrucçâo publica ;
ura excellentc folhetim de Monteiro Peixoto, íx memoria do saudoso e illustro republicano Carvalho Junior';
Centralisação, por T. L e i t e ; O sr. Barão de Colegipe,
por G. Carvalhal; O art. 15 do acto addicional, por
li. de Almeida; poesias dc V. da Cunha e Valmiky ;
e u m a Chronica phosphorica, a cujo auctor a Evolução
não pretende roubar as arlequinescas glorias, não
podendo, entretanto, furtar-se ao prazer de aconselhar :
Contém mais a Reacção : O espirito revolucionário
na Europa por Carneiro Mattoso ; Interpretação das leis
sagradas por Canuto do Figueiredo ; Folhetim por
A. B., em quem se nota magnifica verve o boas disposições para a satyra fina e delicada; etc., etc.
Agradecendo o numero que lhe foi enviado, a
Evolução saúda a Reacção, que, entre os periodicos
acadêmicos, occupa ura elevado lugar pela dignidade e coragem com que sustenta os seus princípios.
Io.—Que, tenha o sulíleiente critério, para não
comparar Alphonse Karr o R. Ortigão a Castro Urso ;
A Evolução recebeu já tarde o 3o numero do
Constitucional, para dar d'elle uma circumstanciada
noticia.
Além de muitos artigos e de um folhetim, traz
o Constitucional a continuação do estudo dc A. Werneck, sobre a soberania do Povo comparada com a da
Razão. O articulista revela um espirito lúcido e
amplo, que a Evolução não pôde deixar do applaudir enthusiast!" camen te, reservando-se, entretanto, o
direito de opportunamente oppor-lhe alguns argumentos.
o
2 .—Que estude um pouco dc arte poética, para
não confundir versos cora eslrophes c não raetter-se
ridiculamente em coisas de que nada entende, dizendo—o 2* eslrophe do 1° verso, a 5* estrophe do 3o
verso, e t c . ;
3°.—Que estude um pouco de rhetorics, para
saber que pôde-se dizer—um rebanho d'aguias ;
4o.—Que leia o diccionario de Moraes, para saber
que se pôde dizer—a aguia silvando vôa, c que torne
a ler a rhetorica, para saber que ilgura Be emprega
O Constitucional, representante do princípios
mortos, é, entretanto, digno de applausos, pela posição digna e franca que tem assumido.
Receba as saudações de uin inimigo leal — ®
Evolução.
ahi;
5».—Que leia Camões, para saber que este disse
( e n'uma de suas mais bellas estancias) — « Ferido
o ar retumba e assovia. » ;
6°.—Que não pense que a Evolução teme que sujam apontadaB as inspirações em Guerra Junqueiro o
Oliveira Martins, pois até para isso o provoca, .pre•w'.'.'
1
•
Typ. da Tribuna Liberal.
B
A EVOLUÇÃO
jperioílico
Julio
de
redigido
Pereira
15 DE JUNHO
DE
1879.
A Evolução constatou tão claro quanto possível
o signal mais característico dos tempos que correm
para a patria :—a crise.
Trazido por causas diversas e por diversas vias,
este assombroso phenomeno alargou-se tanto no seio
do paiz, que não pôde ser hoje sinceramente desconhecido de ninguém.
E sobre aquelles que, de má fé, tentam sophismar a evidencia d'essa verdade, abate-se todo o peso
de uma multidão de factos incontestáveis.
Contra factos não ha argumentos,—é o mais
sensato aphorismo das velhas escólas.
Mas a Evolução, sem ter procurado as causas,
contentou-se com affirmar o phenomeno e comprometteu-se a procurar-lhe a solução natural. Será
objecto de artigos posteriores a longa indagação de
todos os motivos, de todas as forças que nos têm
inveteradamente arrastado até a borda do precipieio.
Esse addiamento em nada prejudicará o desempenho do compromisso tomado; porque a verdade
suprema, a verdade incontestável, por todos reconhecida, por todos affirmada, máo grado as crenças
e as escólas, a grande verdade é esta :—a vacillação
è a an&rchia mental são os mais palpitantes symptomas d'este paiz na actualidade. A partir d'aqui,
reconhecido este facto, para chegar-se a uma exacta
conclusão, basta applicar princípios muito conhecidos
e verificados.
Por uma lei claramente determinada, mas cuja
essencia toca ás raias do irreduciivel, sabe-se que as
sociedades, que a Humanidade inteira tendem persistentemente a u m aperfeiçoamento indefinido.
A experiencia demonstra, outrosim, que as maiores crises, as mais assombrosas catastrophes, nem a
superveniencia do fortuito, nem a temeraria contraposição dos esforços individuaes, nem coisa alguma
—pôde deter ou desviar definitivamente a grande
corrente, porque também poder algum pôde suprimir-lhe o motor primordial.
Este desdobramento continuo, fatal, ininterrupto é o que se cliama evolução.
da
Gosta
Braz i1
S . P a u l o , I S d e «Vunlto d e 1 8 7 9
A EVOLUÇÃO
BH
|cadpicog
Gastilhos
Assis
Anuo 1
peja^
IV. r .
Não obstante, é também uma verdade não menos
evidente—que todas essas causas agglomeradas, ou
algumas delias isoladas,—têm lorça para, temporariamente, entravar ou demorar a evolução.
Quando isto acontece, advém a crise.
E' então que os espíritos vacillam, avançam e
retrocedem, tacteando no desconhecido ; porque, sociedade e indivíduos, tudo está fóra da normalidade.
Assim também ensina a mechanica—que o deslocamento de uma única peça, modifica ou paralysa
o movimento de todo o apparelho.
Entretanto, visto que a evolução é falai e indefinida, uma vez perturbada a sua direcção, tende
novamente a readquiril-a, a entrar de novo na normalidade.
Este esforço .continuo, esta irresistível tendencia
para readquirir a normalidade perturbada é o que
constitúe propriamente a transição, o transitória, que
é a mudança para o definitivo.
A Evolução anela por tocar ás conclusões; por
isso não se demorará a explanar longos e luminosíssimos exemplos historicos, aliás de todos conhecidos.
Ha dois únicos meios de transição, isto é,—de
mudança da sociedade do transitorio para o definitivo, do errado para, o verdadeiro :
Ou deixar-se levar na onda dos acontecimentos,
naturalmente, obedecendo ás leis da historia, transigindo com o progresso,—e isto se pôde dar, quando
forças extranhas não lhe travam o passo—;
Ou, então, rompendo bruscamente as muralhas
que a separam da verdade, arrojando ao pó os tropeços erguidos pela insensatez, passando adiante por
cima dos cada veres e do sangue dos irmãos,—e isto
se dá, quando não ha da parte das sociedades a bastante sabedoria para preparar o curso do progresso,
ou quando, acima das forças collectivas o erro ou o
servilismo eleva a s forças individuaes—.
No primeiro caso, está propriamente a evolução,
que outros chamam revolução pacifica,—impropriamente—, porque estes dois termos repellem-se ;
No segundo caso, está a Revolução propriamente
dita.
Eis ahi porque disse a Evolução, que «a Revolução não é mais do que o resultado natural da elaboração evolutiva, salvo quando as sociedades fôrem
3i
A EVOLUÇÃO
sabins bastante para conjurar o mal, abrindo livremente as valvulas ao progresso ».
Torrente despenhada do alto de uma montanha
enorme,—o progresso ha de rolar-lhe pacifica e beneficamente pelos empinados flancos, si a prudência
o .deixar rolar e si a sabedoria preparar-lhe o leito ;
mas, si a temeridade erguer-lhe tropeços e diques
na passagem, ent5o a torrente deter.-se-á por momentos, engrossará, e, intumecendo o seio espumante ha de arrasar as muralhas e leval-as de golpe
pela montanha abaixo.
Esta imagem, muito repetida, porém muito
exacta, é por sl uma demonstraçfio.
E' exactamente n'este ponto do caminho que a
nossa patria está vacillando agora.
Havia dois meios de salval-a, e esses ahi ficam
apontados.
Appellar para o primeiro, appellar para a chamada revolução pacifica, seria uma irrisão, no estado
actual das coisas.
Nem precisa a Evolução de repetir o que t a n t a s
vezes e tão positivamente tem dito por estas collumnas. Os pa rtidos constitucionaes, em u m a p a lavra, o mechanismo inteiro d'esta infeliz monarchia
está podre e incapaz de agir n o sentido da liberdade compatível com as aspirações da époclia. Ainda
agora o paiz assiste ao escandaloso e dolorosíssimo
espectáculo da queda da sua u l t i m a esperança, depositada no partido que mais sympatliias t i n h a , m a s
que acaba de receber, em troco da trahição, o escarro
soberano do Povo—esse incorruptível tribunal de
todos os tempos.
Mas, ainda deixando de p a r t e todas essas misérias, a Evolução pôde afflrmar que a revolução pacifica
seria u m a burla, n a s circumstancias actuaes.
Ha certo ponto Da vida dos povos em que todos
os esforços são impotentes para suspender a t e m p e s tade imminente.
A avalanche, despenhada do alto, j á vem p e t t o
de mais para que se possa preparar-lhe o caminho,
para evitar os destroços que h a de fazer na vertiginosa passagem.
A transigência com os partidos constitucionaes,
representantes do passado, é inacceitavel por insidiosa, inutil por anachronica. De n a d a serviria
Leão X transigio, e a Reforma t r i u m p h o u ;
Luiz XVI transigio, e a sua cabeça rolou do alto d a
guilhotina revolucionaria; Napoleão transigio, e o
espirito do século XIX quebrou-lhe a espada heroicamente bandida nos campos de Waterloo ; t r a n s i g i r a m Carlos X e Luiz Fellippe, e essa transigência
não obstou a que rolassem pelos d e g r a u s abaixo d o
throno vacillante.
K' ta rde, é m u i t o t a r d e para as t e n t a t i v a s conciliatórias.
O meio t e r m o e o palliativo t o r n a m - s e , sobre
inúteis,—irrisorios.
Mas, si o estado é de transição, o paiz não pôde
permanecer 'nelle.
Virá, portanto, forçosamente o recurso supremo.
Virá a Revolução.
Virão a carnificina, o assassinato, o sangue, a
conflagração, màu grado os ridículos esforços dos
velhos partidos gafados e apodrecidos, màu grado
alguns pobres homens timoratos e inconsequentes
que servem a tyrannia porque não se julgam dignos
da liberdade.
Mas a historia ha de registrar que os revolucionários foram elles, que não comprchenderam os destinos e o caminhar da sua patria, e não nós, os que
n o s vamos por ella sacrificar n a praça publica, porque não somos mais do que i n s t r u m e n t o s de uma
lei que elles não enchergam e que nós devotadam e n t e servimos.
%
•
E, e n t r e t a n t o , a Evolução mais do que n i n g u é m
deplora que se t e n h a tornado indispensável e fatal
esse g r a n d e desespero dos povos, que se c h a m a Revolução.
Deplora q u e , 'nestes t e m p o s de tão a m a r g a s
experiencias, que ' n e s t e g r a n d e século XIX—não se
t e n h a m ainda comprehendido os destinos dos povos,
a o ponto de evitar d'estes extravios fóra da estrada
n a t u r a l , d'estes r o m p i m e n t o s com a ú n i c a lei d i rectora de t o d a s a s coisas—a lei da evolução.
A s Revoluções são factos a n o r m a e s n a vida dos
povos. Não são a providencia histórica, na velha
p h r a s e , m a s são anormalidades.
A revolução é u m incidente e não u m accidente.
H a u m Eu collectivo, u m E u sociologico, assim
como h a u m E u individual, psychologico. A Hum a n i d a d e é u m individuo g r a n d e , disse A u g u s t o
Comte. E não podia d e i x a r d e ser a s s i m , p o r q u e a
H u m a n i d a d e é a s o m m a d o s indivíduos, e a s o m m a
é da n a t u r e z a d a s parcellas.
Pois este g r a n d e individuo, assim como o pequeno, está subjeito a e n f e r m i d a d e s , e s t á subjeito a
crises.
A u m corpo g a n g r e n a d o applica-se o ferro em
b r a z a ; a u m a sociedade c o r r u p t a , i n v e t e r a d a m e n t e
g a n g r e n a d a também—applica-se este o u t r o ferro em
braza—a Revolução.
Mas, assim t a m b é m como o individuo n u n c a
e n f e r m a r i a , si evitasse a s causas d a e n f e r m i d a d e , —
a H u m a n i d a d e c a m i n h a r i a pela rota n o r m a l , si não
p r e t e n d e s s e m d'ella arredal-a.
Os revolucionários são, pois, os q u e e n t r a v a m l h e o caminho.
Mas, j á q u e é necessário, j á que é i m p r e s c i n d í vel, que venha o g r a n d e dia.
Esperemol-o com a s e r e n i d a d e do j u s t o e com o
nobre heroísmo da consciência.
Si elle está m u i t o p e r t o , si está m u i t o longe—c
o que n i n g u é m pôde prever.
Falta a confiança no patriotismo, na consciência,
n a vergonha d"este povo, p a r a u m a previsão s e g u r a .
E' dolorosa esta i n c e r t e z a !
Mas, por outro lado, o governo apressa o movimento, com repetidos escandalos.
r
fi
31
A IiVOLUÇÃO
Quando na consciência de todos tiver penetrado
a suprema luz da verdade ; quando o disfarçado
despotismo tiver mostrado a todos a ameaçadora
catadura ; quando a imagem da patria fòr ã vista
de todos arrastada na lama pelas mãos i m p u r n s d a
t y r a n n i a mascarada ; q u a n d o não houver mais u m
escandalo, mais u m attenlado a p r a t i c a r ; e n t ã o . . .
ai ! saltará, d e certo, a mordaça d a s boccas dos
captivos e o coração p a t r i o t a , que sobreviver á lue t a ,
lie de contemplar, por sobre o s a n g u e dos m o r t o s , si
t a n t o fôr preciso, o symbolo a u g u s t o da L i b a r b a d e ,
em toda a s u a limpidez e t h e r e a .
A. B.
< Estudos Políticos >
A Academia de S. Paulo não podia f u r t a r - s e á
influencia do meio e m que se agita a sociedade b r a sileira, e cujos característicos a Evolução,
inhabilm e n t e ou não, não cessa d e observar.
Por isso, t e m n ' e s t e s ú l t i m o s a n n o s a t r a v e s sado um período de d e s a l e n t o , d e m a r a s m o , d e e s terilidade, e a r r a s t a d o u m a existencia t r i s t e m e n t e
desconsoladora.
Por isso, os p r o d u c t o s d a intelligencia a c a d é mica, além de e x t r a o r d i n a r i a m e n t e raros," t ê m sido
acanhados, s e m opulência, s e m vigor.
Por isso, em vez da m a n i f e s t a ç ã o p o t e n t e d o t a lento a j u d a d o paio trabalho convencido e p e r s i s t e n t e
e i l l u m i n a d o pelas luzes do e s t u d o , t ê m b r i l h a d o u n s
tibios e e p h e m e r o s l a m p e j o s , q u e , a p e n a s d u r a m
um i n s t a n t e , d i s s i p a m - s e .
Por isso, em c o n t r a s t e com a q u e l l a g r a n d e
épocha d e c u j o s t r i u m p h o s a i n d a r e p e r c u t e m em
nossos ouvidos os échos sonorosos, em que a m o cidade, a flor d a e s p e r a n ç a a l t e a n d o - s e v i r i d e n t e n o
coração, a b r a s a n d o - s e o cérebro n a luz d o s g r a n d e s
Ideaes, a t i r a v a - s e f o r t e m e n t e r o b u s t a e m b u s c a d a
gloria, q u e r , com a lyra n a mão, balouçando-se n u m
m a r i m m e n s o d e inspirações v i r i l m e n t e p a t r i ó t i c a s ,
q u e r , com a eloquencia do verbo i n f l a m m a d o , e l e vando-se em o n d a s d e e n t h u s i a s m o varonil a o s e s paços d a i m m o r t a l i d a d e ;—em c o n t r a s t e com a q u e l l a
b r i l h a n t e épocha, a m o c i d a d e t e m m a r c h a d o n ' e s t e s
uliimos t e m p o s com p a s s o s t r o p e g o s e v a c i l l a n t e s .
Mas esse estado d e coisas t i n h a d e findar f o r çosamente, obedecendo á lei fatal q u e se m a n i f e s t a ,
t a n t o n o s e s t r e i t o s e l i m i t a d o s como n o s m a i s a m plos dominios, e m v i r t u d e d a q u a l aos períodos d e
prostração e d e cansaço m o r a l s e g u e m - s e s e m p r e a s
agitações e o m o v i m e n t o .
Esse d e s a l e n t o q u e t i n h a invadido o espirito d a
mocidade, e r a e m si, n o r t a n t o , u m p r e c u r s o r d a
grande reacção c o n t r a u m estado de coisas a n o r m a l .
E r a - o d e facto. Ahi está a prova i n c o n c u s s a
no l e v a n t a m e n t o ruidoso q u e o a n n o a c t u a l vai p r e senciando.
Silva J a r d i m , q u e j à se n o s havia m a n i f e s t a d o
sob felizes auspicios com as « Idéas de Moço » e o u t r a s
producções esparsas, affirmou b r i l h a n t e m e n t e a sua
organisaçào critica, poderosa no f u t u r o , com « A
Gente do Mosteiro ».
Afionso Celso J u n i o r n o s p r o m e t t e p a r a m u i t o
breve as suns « Télas Sonantes ».
Valentim Magalhães não tardará m u i t o a fazer
s u r g i r , altivos e t r i u m p h a n t e s , os « Cantos e Lutos ».
Assis Brazil p r e p a r a - s e p a r a u m e s p l e n d i d o t r i u m p h o , g a n h a n d o o nome d e u m d o s m a i s nobres
Apostolos d a Poesia m o d e r n a n o paiz coin os « Libellos a Deus ».
Está e m vias de publicação u m livro d e R a y m u n d o C o r r ê a : os «Primeiros Sonhos».
Monteiro Peixoto vai em breve a p r e s e n t a r - n o s
a s s u a s bellas «Paginas
Académicas».
E' a reacção q u e c o m e ç a .
I n a u g u r a - s e , p o r t a n t o , a nova é p o c h a .
S u g g e r í o á Evolução a s r a p i d a s r e f l e x õ e s q u e
a h i ficain, a l e i t u r a d ' u m l i v r i n h o d e E d u a r d o L i m a ,
que, acompanhando brilhantemente o movimento
a c i m a c o n s t a t a d o , acaba d e f a z e r c o n h e c i d o o s e u
vigoroso t a l e n t o p o r t o d o s , q u a n t o s o l e r e m .
A n t e s d e d à r u m a l i g e i r a n o t i c i a d o livro, a
Evolução r e p o r t a - s e ao q u e d i s s e n o s e u I o n u m e r o
r e l a t i v a m e n t e á u m a como q u e a r i s t o c r a c i a 1 i t t e r a r i a
q u e crcou-se e n t r e n ó s , e de c u j a estineção—ao m e n o s n a n o s s a A c a d e m i a , o n d e ella m a i s a v u l t a — ,
os « Esiudos Políticos » p a r e c e m sor u m p r o n u n c i a d o
symptoma.
Até b e m pouco t e m p o , n ã o e r a p e r m i t t i d o q u e
os t a l e n t o s a p p a r e c e s s e m s i n ã o a b r i g a d o s á s o m b r a
d a protecção d ' u m n o m e m a i s o u m e n o s c o n h e c i d o
ou laureado nas lutas d a intelligencia
Moços d e m é r i t o real r e s i g n a v a m - s e a viver n a
o b s c u r i d a d e por p a r e c e r - l h e s repulsivo p e g a r e m - s e ã
aba d a casaca d ' u n s i m p r o v i s a d o s M e n t o r e s l i t t e r a r i o s
p a r a c o n s e g u i r e m subir a o s paços d a p u b l i c i d a d e .
H o j e , f e l i z m e n t e , p a r e c e q u e vae m o r r e n d o e s s e
p é r f i d o c i n s u p p o r t a v e l h a b i t o , v e n c i d o pela reacção
d o s t a l e n t o s conscios d o s e u m é r i t o .
O a u c t o r d o s « Estudos Políticos » t e v e a s u f i c i e n t e h o m b r i d a d e p a r a r o m p e r c o m elle.
Merece, p o r isso, a s s i n c e r a s s a u d a ç õ e s d e q u e m
l e a l m e n t e se i n t e r e s s a r p s l o n o s s o p r o g r e s s o .
Sob a d e n o m i n a ç ã o g e r a l d e « Estudos Políticos »
e n c e t o u E d u a r d o L i m a u m a série d e p u b l i c a ç õ e s , d e s t i n a d a s á p r o p a g a n d a d e m o c r a t i c a , com a q u e v e r s a
sobre « O artigo 5 o da Constituição do Brasil em face da
Razão e do Direito. »
E ' d e s t a q u e se o c c u p a m e s t a s l i n h a s .
Apuzar d e m u i t o d i s c u t i d o o a s s u m p t o , o a u c t o r
não desceu á v u l g a r i d a d e .
E n c a r a n d o - o sob t o d a s as faces, fez d'elle u m a
s y n t h e s e c o m p l e t a , e com u r a vigor d e a r g u m e n t a ção b a s t a n t e alto, m o s t r o u o a b s u r d o d o a r t i g o 5 ' .
Provou q u e é elle u m a b s u r d o , p o r q u e t o l h e a
liberdade d e consciência, e, p o r t a n t o , « é i n d i g n o d e
figurar n a s p a g i n a s d a Constituição d ' u m povo q u e
q u e r ser livre ».
E' u m a b s u r d o , p o r q u e n ã o p o d e m c o - e x i s t i r ,
simultaneamente, duas soberanias, « d a s quaes u m a
ou o u t r a t e m de p r e v a l e c e r » .
36
A. EVOLUÇÃO
K' u m a b s u r d o , p o r q u e estabelece u m a unifio
e n t r e d u a s s o c i e d a d e s q u e t e n d e m a fins oppostos,
e q u e d e v e m , p o r c o n s e q u ê n c i a , m a r c h a r p o r vias d i v e r s a s ; p o r q u e delle d e r i v a m - s e c o n s r q u e n c i a s l ó g i c a s , como o beneplácito, q u e p e a i n a l i b e r d a d e q u e
t e m a I g r e j a «de g o v e r n a r com a s n o r m a s q u e bem
l h e a p p r o o v e r — o rebanho c o n f i a d o aos s e u s c u i d a d o s ,
e q u e aLrem, além d i s t o , e n t r e os d e v e r e s do fiel e
os do cidadão u m a verdadeira lula, quando, por vent u r a , o E s t a d o o p p o n h a - s e ú execução d u m a lei d a
Igreja »
E ' u m absurdo ainda, poique a acceitação d ' u m a
r e l i g i ã o pelo E s t a d o i m p l i c a a p e r d a , p a r a q u e m n ã o
a p r o f e s s a , d e d i r e i t o s i m p o r t a n t í s s i m o s , como o d e
ser votado, — o que é irrisorio, visto que « não dimin u e m os méritos e a capacidade que deve possuir
u m i n d i v i d u o p a r a r e p r e s e n t a r os i n t e r e s s e s d o s e u
p a i z pelo s i m p l e s e ú n i c o f a c t o d e n ã o p r o f e s s a r a
religião d o E s t a d o ».
« Aonde está a verdade ? »
« A v e r d a d e , r e s p o n d e o a u c t o r , e s t á n a lei q u e
autorisar o estabelecimento da Igreja livre no Estad o l i v r e ».
Mas, c o n t i n u a elle, a r e a l i s a ç ã o d ' e s s a r e f o r m a é
absolutamente impossível com a forma de governo
que nos rege.
« A nós, pois, democratas sinceros, toca dar á
nossa Patria a forma de governo que. sendo a realidade pratica da liberdade, igualdade e fraternidade,
é a ú n i c a c o m p a t í v e l com a n a t u r e z a h u m a n a , c o m
os princípios democráticos. »
C o n c l ú e c o n c i t a n d o á l u t a os s o l d a d o s d a D e m o c r a c i a . « Q u e ella s e j a s e m t r é g u a s , p o r q u e só a s s i m ,
m o r t a a miséria do presente que é esmagador, poder e m o s c o m o s e u c a d a v e r a t u l h a r p a r a s e m p r e a se"
p u l t u r a do passado q u e é vergonhoso. »
Eis, m a i s ou menos, tão largamente exposto
q u a n t o pode sel-o nos acanhados limites d ' u m a simp l e s noticia, — o q u e e n c e r r a o livro d e q u e se falia
aqui.
N o s « Esíudos Políticos»,
â par da manifestação
de u m talento robusto e de u m a consciência valoros a m e n t e i n t r é p i d a , a Evolução, p a r a g u a r d a r a m a x i m a franqueza n a emissão dos seus conceitos, não
pode deixar de declarar que encontra não raras incorrecções de estylo, m u i t o naturaes a quem, como
c o n f e s s a o p r o p r i o a u c t o r , p e l a p r i m e i r a vez a r c a c o m
o difficultoso m a n e j o d a p e n n a .
I n c o r r e c ç õ e s , p o r é m , q u e c o m c e r t e z a n ã o se r e p r o d u z i r ã o n a s s u b s e q u e n t e s p u b l i c a ç õ e s . D"isso e s t á
c e r t a a Evolução.
Seja como fôr, E d u a r d o Lima bem merece da
Democracia.
N ã o l h e f a l t a r ã o , p o r c e r t o , a elle q u e t ã o d i g n a m e n t e se acaba de afíirinar n a s lutas porfiadas do
p e n s a m e n t o , os a p p l a u s o s s i n c e r o s de t o d o s os c o religionarios.
O s « Es In dos Políticos » são o p r i m e i r o p a s s o d ' u m a
carreira, que h a de ser b r i l h a n t e m e n t e victoriosa.
A Evolução
prophetisando
n ã o receia s e r a c o i m a d a de p a r c i a l ,
para o convencido republicano um
f u t u r o r a d i a n t e ; e concita-o a não esmorecer no»
s e u s n o b r e s trabalhos, — q u e a coragem e a tenacidade são o d i s t i n e t i v o dos e s p í r i t o s f o r t e s .
J . C.
Echos do passado
O ORIENTE
(A
Theophilo
Dias)
No topo da M o n t a n h a erma e sombria,
Do bambil sobre as r a m a s l u x u r i a n t e s ,
No rio sacro, d ' o n d e , t r i u m p h a n t e s ,
O D e u s s u p r e m o as p l a n t a s e m e r g i a ,
N o d e s e r t o s e m fim, q u e a v e n t a n i a ,
Descarregando os látegos vibrantes,
Ao tropego m a r c h a r dos elephantes,
E m ondas d e poeira revolvia,
Sobre as lageas do templo derrocado,
N o o r á c u l o sem voz, a b a n d o n a d o ,
— C a m p e i a a m o r t e 1 a n o i t e vai d e s c e r 1
Mas não morreste, n ã o ; — q u e a sepultura
Tu a sonhaste—mystica ventura
N a s u p r e m a v o l ú p i a d o NÃO SER.
O
EGYPTO
( A Valentim
M u d o , s o m b r i o , lívido e
O grave sacerdote a lei
Ia gravar nos antros da
Onde se arrasta lento o
Magalhães)
tranquillo,
superna
caverna,
crocodilo.
E hoje o que resta j á de t u d o aquillo ?
Resta o silencio q u e a m u d e z governa,
O vacno, a solidão, a m ú m i a e t e r n a ,
No deserto areal d o sacro Nilo.
A p a l m e i r a feliz n ã o m a i s a v u l t a
Na curva do horisonte dilatado,
Onde a sombra d a morte ora se occulta.
M a s u m a coisa fica—o g ê n i o o u s a d o ,
Que a m o r t a l h a d o s t e m p o s n ã o s e p u l t a ,
Na g r i m p a d a s p y r a m i d e s alçado.
A GRÉCIA
(A
Affonso Celso
Júnior)
M o r r e s t e , ó m ã e ! Na m o r b i d e z a p a t h i o a ,
Colheu-te a mão nervosa a morte esqualidá
E foste repousar, gelada, estatiea,
N o t u m u l o do t e m p o a f r o n t e v á l i d a . '
A IiVOLUÇÃO
No Parthenon deserto, u virgem atth-a,
Qual teu m á r m o r e b r a n c o , immovcl, pallida,
Deixou morror no lábio a dor svmputhica
E rebentar nu peito a libra cálida.
No silencio da noite, cái funerea
A lagryma do céo na campa rórida,
Onde rolaste d e s g r e n h a d a e flacida.
Mas, no t u m u l o e t e r n o , á luz sidérea,
Inda eu te vejo a f r o n t e bella e flórida,
N'umn explosão de luz serena e placida.
AHASWERU8
(A Silva
Jardim )
E, e n t r e t a n t o , t u vais, 6 livido precito,
Pela róta s e m fim, d o s t e m p o s atravez,
Das g e r a ç õ e s ouvindo o lastimoso g r i t o ,
Ao virem se q u e b r a r debaixo dos t e u s pés.
Que d e s t i n o f a t a l ! no c a m i n h a r sopito,
Vão te m o r d e n d o os cães, as víboras cruéis.
E e m b a l d e o raio desce a r d e n t e do infinito,
—Que u m t u m u l o não h a g r a n d e como t u és.
Do pó d a s g e r a ç õ e s q u e d o r m e m no passado
Nem p o d e s a t t e n d e r ao rouco soluçar
Que t e m a n d a d e t e r o p r o g r e d i r o u s a d o ;
Porque t u vais g a l g a n d o o t e m p o , o a b y s m o , o m a r ,
C h a m a s - t o HUMANIDADE, e t e n s e m ti g r a v a d o
0 d i s t i c o f a t a l : — M A R C H A R ! MAIICITAU ! MARCHAR t
Assis
BRAZIL.
0 inevitável
T r a b a l h a e s t e p a i z u m a crise f o r m i d á v e l .
Crise da c o n s c i ê n c i a , crise d a i n t e l l i g e n c i a , crise
do c a r a c t e r , c r i s e d a J u s t i ç a , q u e o l a n ç o u n ' u m e.st a d o d e e x t r e m o d e s e s p e r o , preso d a s v e r t i g e n s d a
decomposição, t o r n a d a c a d a v e r a s u a d i g n i d a d e pela
gangrena da corrupção.
E s t e m o d o d e s e r , a n o r m a l i s s i m o n a vida d o s
povos, r e c l a m a u r g e n t e m e n t e u m a solução, q u e não
p o d e v i r sinfio com a d e s t r u i ç ã o da c a u s a q u e o p r o duzio.
T o d o s r e c o n h e c e m q u e h a u m a força d o m i n a d o r a q u e a b s o r v e e m si t o d a s a s forças sociaes, p e a n d o l h e s o i m p u l s o , s o p i t a n d o - l h e s os m o v i m e n t o s , i m pedindo e abafando-lhes a expansão, lançando-asi
emtim, n ' u m a impotência desesperadora.
E s s a forca é o p r e d o m í n i o o m n i i c o d o d ' u m p o d e r
sobre t o d o s os o u t r o s , q u e , e l e m e n t o p e r t u r b a d o r , os
r e d u z a g r a v i t a r e m e m t o r n o d e si, t o r n a d o o c e n t r o
da g r a v i t a ç ã o ; d u m p o d e r q u e , s u b s t i t u i n d o - s e á
n a ç ã o , g o v e r n a - a p o r s u a s próprias i n s p i r a ç õ e s , lev a n d o - a m a n i e t a d a a o c a r r o de s e u s desvarios.
E s s a torça ó a o m n i p o t ê n c i a d o m o u a r c h a .
E; o poder pessoal.
31
No seio dos partidos constit-ueionaes, que parecem ter j u r a d o nos altares de suas mesquinhas e
ignóbeis ambições a deshonra e a vergonha da Patria, que parecem destinados, desde sua formação, a
encherem de paginas negras c infamantes a historia
politica deste paiz,—no seio dessas agglomerações
d e homens corrompidos ainda se pôde distinguir u n s
pobres crentes que por abi andam,—cedros que ainda restam da g r a n d e floresta de vontades e de consciências, desapparecida á chamina devoradora do
g r a n d e incêndio que calcinou o caracter da nacionalidade brazileira
E m n u m e r o muito limitado, esses cidadãos h o n rados e p a t r i o t a s ainda ousam lutar para extirpar
aquelle poder, que t e m depauperado as energias e a
vitalidade deste povo, e t e n t a m , no t e r r e n o da legalidade, fazer e n t r a r a nação na posse de si mesma,
governando-se livremente.
T e n t a m ainda isso, i n g e n u a m e n t e crédulos na
cíficacia d ' u m a lei eleitoral que vivifique a vontade
nacional, restabelecendo a verdade da representação
por meio d ' u m a c a m a r a l e g i t i m a m e n t e eleita, e, port a n t o , livre.
Crèm a i n d a q u e , organisado como está o poder,
é possível c o n s e g u i r que a eleição exprima livrement e a vontade popular.
IIludem-se, e illudem-se perigosamente, porque
m a i s e m a i s p r o l o n g a m esse r a s t e j a r pelo lodo da
m i s é r i a e do a b a t i m e n t o , em que vive este paiz.
Não vêm que é de todo vão c inútil lutar c o n t r a
u m a o r d e m de coisas, em q u e a soberania concentrase n ' u m só individuo, c u j o s poderes são hereditários.
P r e t e n d e r l i b e r t a r a nação p o r meio do voto directo e universalisado, é impossível q u a n d o elle a b s o l u t a m e n t e não pôde s e r livre. Será, pelo contrario,
u m novo e l e m e n t o para consolidar ainda mais, si é
possível, o p o d e r r e a l
Q u e r e m d e s t r u i r o mal, m a s c o m b a t e m o effeito
cm vez d e c o m b a t e r a causa.
O p o d e r discricionário e t y r a n n i c o do monarcha
n ã o lhe vem do a b u s o ; elle nada m a i s faz do que
exercer a s f u n e ç õ e s q u e l h e concede a carta constitucional.
A g u e r r a deve s e r dirigida c o n t r a a lei.
N'ella está a causa.
N'ella e s t á o m a l .
Sinão veja-se.
T r a d u z i n d o a índole do g o v e r n o monarchico cons t i t u c i o n a l , q u e é a alliança hybrida e n t r e a m o n a r chia e a democracia, a C o n s t i t u i ç ã o p r o c u r o u e s t a belecer e n t r e esses d o u s e l e m e n t o s c o n t r á r i o s , i n i m i g o s , u m equilíbrio, que é impossível s u b s i s t i r e
perdurar.
Ao e l e m e n t o monarchico foi buscar o seu c a r a c t e r p r i m o r d i a l , o m o n a r c h a por graça de Deus, i r r e s ponsável, inviolável e s a g r a d o , com a p r e r o g ativa
a m p l a de dissolver a c a m a r a t e m p o r a r i a , d e e s c o l h e r
o s m e m b r o s da c a m a r a vitalícia, de n o m e a r e d e m i t t i r
l i v r e m e n t e os m i n i s t r o s , d e d i s t r i b u i r e m p r e g o s a o s
f u n c c i o n a r i o s , de fazer a g u e r r a e a paz, e t c . , accresc e n t a n d o - s e a t u d o isso, para coroar o edifício ei-
38
A. EVOLUÇÃO
m c n t n d o d e t r e v a s , a h e r e d i t a r i e d a d e , ou a t r a n s missão do p o d e r aos seus d e s c e n d e n t e s , — m o n s t r u o s i d a d e q u e difBcil m e n t e se concebe.
P a r a d a r expansão KO e l e m e n t o democrático, a
C o n s t i t u i ç ã o diz q u e todos os c i d a d ã » são i g u a e s
p e r a n t e a lei, q u e os Doderes políticos são delegações
da nação, q u e elege os s e u s r e p r e s e n t a n t e s , q u e r
t e m p o r á r i o s , q u e r vitalícios, com o direito d e i n t e r vir n a governação do E s t a d o .
E m face d'essa d u p l a o r d e m de faculdades,—
p r e r o g a t i v a s do m o n a r c h a e direitos d o p o v o , — n i n g u é m em boa fé o u s a r á d i z e r q u e a s o b e r a n i a p e r tence a este.
A s o b e r a n i a reside e m u m p o d e r , q u e pode d e s vairar-se n a c a r r e i r a dos c r i m e s , q u e p o d e m a r c h a r
d e desat<no e m d e s a t i n o , s e m q u e se l h e possa a p p l i c a r correctivo a l g u m , p o r q u e s e u s a c t o s r e v e s t e m - s e
d a i r r e s p o n s a b i l i d a d e legal, c a t é d a i r r e s p o n s a b i l i d a d e m o r a l , visto q u e é a i n d a inviolável e s a g r a d o .
Reside em um poder, contra o qual é impotente
a v o n t a d e do povo, p o r q u e l h e p e r t e n c e o d i r e i t o d e
d i s p e r s a r ou e u x o t a r os s e u s r e p r e s e n t a n t e s , q u a n d o
estes, p o r v e n t u r a , l h e q u e i r a m c h a m a r á u m a severa
liquidação.
D e m o d o q u e n a d a val a ú n i c a valvula a b e r t a á
r e s p i r a ç ã o social.
Reside e m u m p o d e r q u e g o v e r n a d i s c r i c i o n á r i a m e n t e , p o r q u e é c o m p l e t a m e n t e livre n a e s c o l h a ou
d e m i s s ã o dos s e u s m i n i s t r o s , q u e n ã o p o d e m s e r ,
p o r t a n t o , si n a u c r e a t u r a s s u a s , f o r m a n d o um p o d e r
q u e vive s e g r e g a d o d a n a ç ã o .
Reside e m u m p o d e r a q u e e s t á s u j e i t o o f u n c cionalismo pela nomeação «u demissão, dispondo,
p o r c o n s e q u ê n c i a , d e t o d o s os m e i o s possíveis p i r a
multiplicar, vinculando-o aos seus interesses, o
numeroso exercito de sinecurístas e m conspiração
permanente contra o bem publico.
Reside e m u m p o d e r , e r n f i m , q u e s e e t e r n i s a n o
g o v e r n o i n d e p e n d e n t e m e n t e d o voto p o p u l a r , e i n s e p a r a v e l m e n t e u n i d o a u m a só f a m í l i a .
E q u e m exerce esse p o d e r m o n s t r u o s o ?
O monarcha.
O m o n a r c h a , p o r t a n t o , é o único s o b e r a n o . S e r i a
a mais atroz e p u n g e n t e ironia atirada ás faces do
b o m s e n s o e & v e r d a d e — d i z e r q u e a lei p r o c l a m a a
s o b e r a n i a d a nação.
E' claro, p o i s , q u e a c a u s a d o m a l - e s t a r e x t r a o r dinário universalmente sentido, que o motor único
d a inversão perigosa, s e g u n d o o p h r a s e á d o u s u a l , d a s
n o r m a s d o S y s t e m a R e p r e s e n t a t i v o é a p r o p r i a Constituição.
P e d r o I I , g o v e r n a n d o d e s p o t i c a m e n t e como t e m n'o feito, e s c a r n e c e n d o d o s b r i o s n a c i o n a e s como t e m
sido s u a n o r m a d e acção, coUocando-se s u p e r i o r á
nação, é s i m p l e s m e n t e u m leal e fiel e x e c u t o r d a lei
com q u e s e n a u g u s t o pai g e n e r o s a m e n t e d i s t i n g u i o
este pobre povo.
P e d r o II é a p e n a s u m revivedor, obscuro e s e m
g l o r i a é v e r d a d e , d a s t r a d i ç õ e s d e Pedro I .
E m vista d'isso, não s e r á u m a simples alteração
no processo eleitoral, q u e ha de conseguir m u d a r a
f i c e da a c t u a l i d a d e ; concorrerá a i n d a mais para
cnnegrccel-a, p r i n c i p a l m e n t e o r d e n a d a s , como estão,
e m redor d o throno, a s fileiras ínfernaes do servilismo.
A crise em qne se debate c o n v u l s a m e n t c a sociedade brasileira n f t i s s rcsilva por esse m s i o A solução é u m a ú n i c a .
E ' a Revolução.
A lógica q u e preside aos d e s t i n o s das sociedades
é d u m a fatalidade dolorosa, cruel mesmo, m a s íliam i n a d a m e n t e sabia, porque é a p r e p a r a d o r a de t o d o s
os p r o g r e s s o s h u m a n o s .
E ' a d u r a prova d a relatividade d o h o m e m , q u e
n ã o pode c a m i n l i a r sinão s a l v a n d o precipícios i n s o n d á v e i s , n a d a n d o em m a r e s de s a n g u e d e r r a m a d )
p a r a f e c u n d a r a t o r r a do F u t u r o , e m meio de c a t a c l y s m o s q u e de q u a n d o e m q u a n d o , a s s i m como
n a n a t u r e z a , se d e s e n c a d e i a m n a sociedade para
arreVncssal-o v i o l e n t a m e n t e cada vez m a i s p i r a
diante.
E n t ã o , e só e n t ã o , a P a t r i a , d e s p r e n d i d a dos
laços q u e a t r a z e m p r e s a a u m p a s s a d o d e i g n o m i nias e d e n e g r i d ã o , l i m p a s a s faces d a l a m a que as
e n n o d õ a , i l l u m i n a d a a a l m a pelos raios coruscantes
d a s g l o r i a s do P r o g r e d i r , — p e n e t r a r á t r i u m p h a n t e m e n t e altiva e s e r e n a m e n t e olympica os vastos, os
espaçosos, os d i l a t a l o s d o m í n i o s d o Direita, d a L i berdade, da Democracia.
O germen do g r a n d e acontecimento j a está lançado.
O s d i a s e s c o a m - s e p r e n h e s d e a m e a ç a s terríveis,
apontando-nos a approximação assombrosa do grandioso l e v a n t a m e n t o .
O leão q u e parecia r e p o u s a r e m s o m n o
começa a despertar.
eterno,
U n s i n c o n s c i e n t e s r u g i d o s a t r o a m os espaços.
Predispõe-se p a r a o a t a q u e , f o r t e , robusto e e n raivecido.
J a d e s p o n t a m no horison te os raios d o g r a n le
a s t r o q u e , d i s s i p a n d o a s d e n s a s c a m a d a s d e trévas
q u e envolvem e s t a t e r r a , h a d e i n n u n d a l - a n u m
oceano e n o r m e d e luz.
J . C.
COLLABORAÇÃO
0 futuro d l patria
ra
O l h a n d o para o nosso passado politico j á fizemos
s e n t i r a influencia q u e teve a Corôa na nossa o r g a nisação social; influencia q u e h e r d o u o Grão Magico
de hoje, não d e s c u i d a n d o n u n c a de e m p r e g a l - a , á s
vezes a t é com imposição, a t o d a s os seus homens de
A EVOLUÇÃO
e s t a d o . Agora, fitando os olhos n o p r e s e n t e , n e s t a s
misérias h o d i e r n a s , q u e t o d o s nós t e m o s o direito de
e n c a r a r , c o m m o v i d o s . s i m , m a s sem medo, sem
covardia, p r o c u r a r e m o s a p o n t a r ao longe o f u t u r o
que n o s espera.
E não é já difficil m o s t r a l - o As t u r b a s i g n o r a n t e s ,
se c o n s i d e r a r m o s q u e , p a t e n t e o p r e d o m í n i o pessoal
do I m p e r a d o r , d e s h o n r a d o s p o l i t i c a m e n t e os h o m e n s
capazes de a r c a r c o m o g o v e r n o , ellas já d e s i l l u d i r a m so »lesta Monarchia, q u e s e a f u n d a , e só e s p e r a m
hoje ou a obediencia d a Corôa aos d i r e i t o s p o p u l a r e s
ou a salvação do Estado pelo Povo em Revolução.
A p a r t e i l l u s t r a d a do paiz, a q u e vive pela p a t r i a
e não d a p a t r i a , h a m u i t o q u e n ã o é m a i s alicerce
d e s t a p y r a m i d e de e r r o s e abusos, de e g o í s m o e d e
t r a n s i g ê n c i a s d e s c a r a d a s . H a m u i t o q u e os m a i s
audazes e insofiridos l e v a r a m ao e s p i r i t o e s t a convicção p e n e t r a n t e e d o l o r o s a de q u e o I m p e r a d o r é u m
P a c h i n e s t a t e r r a d e i n g ê n u o s . E' impossível a f e licidade d e u m a nação, levada a s s i m ao c a p r i c h o d e
u m só h o m e m .
A s situações p o l i t i c a s succedem-sc como creacões
f a t a e s dos a m o l l e c i m e n t o s c e r e b r i n o s d o nosso Monarcha.
E elle vac f a z e n d o o povo brasileiro p e r c o r r e r ,
m a n s o como c o r d e i r o , o cyclo n e g r o , q u e d e s c r e v e o
s e u d e d o i m p e r i a l . Ha t y r a n n i a s q u e f a s c i n a m . O s
dois partidos monarchicos attrahidos, fascinados,
a t r e l l a d o s , como b e s t a s , a o coche a g a l o a d o d o Monarclia, vão s e m e a n d o a e s t r a d a com flores a r r a n c a d a s á n o s s a f e l i c i d a d e , e r e g a n d o - a s com l a g r i m a s c
s a n g u e d o povo.
Ambos impotentes para levantar as reformas á
a l t u r a do s e n t i r e p e n s a r m o d e r n o s , vão d e s c e n d o
velozes n a escala do conceito p o p u l a r .
q u e p o r dedicação e a m o r às i d é a s q u e a b r a ç a m .
E é t r i s t e vêr u m p a r t i d o n e g a r ao povo os s e u s
direitos p a r a cedel-os á Corôa 1
O p a r t i d o liberal, o J u d a s d e s t e novo Christo
q u e se c h a m a povo, l a m b e a s p l a n t a s ao M o n a r c h a
e e s c a r r a sobre a nação.
Desesperado por não poder
r e a l i s a r as i d é a s q u e i l l u m i n a m a s u a b a n d e i r a , e
s e m convicção e p a t r i o t i s m o b a s t a n t e s p a r a a r r e r a e t t e r c o n t r a o t h r o n o , elle, o d e s n o r t e a d o , r e f u g i a - s e
nos braços da hypocrisia.
Que benefícios pôde t r a -
zer á nação u m p a r t i d o q u e , c h e g a d o o m o m e n t o d e
provação, v i n d o s os i n s t a n t e s s u p r e m o s do c o m b a t e ,
abandona
o c a m p o e esconde-se n a t r é v a e s c u r a ?
O p a r t i d o liberal p e r d e u o d i r e i t o á e s t i m a d a n a ção, e, se n ã o f o r m o s u m povo de a b y s s i n i o s , a s u a
bandeira deslionrada jnmais tremulará nas eminênc i a s do p o d e r .
Áulico, p o r índole, como h a d e elle
e x i g i r d a Corôa o respeito aos d i r e i t o s n a c i o n a c s ?
D este p a r t i d o t a m b é m , como d o o u t r o , é i n ú t i l
e s p e r a r a s u b m i s s ã o do I m p e r a d o r .
I r a é a negação
de todo o progresso, é o estacionamento chincz, a r vorado em principio nesta America que avança para
o futuro.
O o u t r o é o s e r v i l i s m o , a a d u l a ç ã o d o Rei, n e s t e
paiz q u e vôa p a r a a Republica.
P o r t a n t o , se os dois p a r t i d o s m i l i t a n t e s c o n s a g r a m o absolutismo, u m por suas idéas retrogradas,
o o u t r o p o r s u a tibieza e covardia, é j u s t o q u e os
r e p u b l i c a n o s , q u e j u l g a m i m m o r a l a abdicação dos
A s u b m i s s ã o d a Corôa é hoje u m a u t o p i a , como
t e m sido s e m p r e em t o d a Historia.
d i r e i t o s p o p u l a r e s n a pessoa d o I m p e r a d o r , comecem
a d e r r o c a r o p e d e s t a l d e s t a falsa Monarchia.
v e n h a , pois, a Revolução.
Que
E e n t ã o o f u t u r o do Brasil
será g r a n d i o s o , p o r q u e será o f r u e t o de u m a RevoluO p a r t i d o c o n s e r v a d o r ngarra-sc á velha carta
c o n s t i t u c i o n a l , m i r a n d o a i m r a o b i h d a d c sccial, d e s prezando a s innovações b e n e f i c a s dos h o m e n s s u periores, e o q u e m a i s é, d e s c o n h e c e n d o ou d a n d o
por d e s c o n h e c i d a a lei h i s t ó r i c a , q u e , s u r d a aos clamores e g e m i d o s dos q u e c a b e m , traça s e r e n a m e n t e
a rota do p r o g r e d i r de cada nação.
Os s e u s p r i n c í p i o s m a n i f e s t a m e n t e o p p o s t o s ao
a s p i r a r m o d e r n o , a i l l i b e r a l i d a d e de s u a s idéas, o
t e m o r de a r r o j a r a v i s t a p a r a horizontes i n f i n i t o s ,
o acanhamento das doutrinas, tudo emfim, neste
p a r t i d o , a t é os proprios h o m e n s q u e representam a
idéa, c o a d u n a - s e a d m i r a v e l m e n t e com a vontade d o
Imperador.
Deste partido, p o r t a n t o , é inútil esperar a s u b missão d a Coròa.
Os conservadores t e m m e d o de d a r u m passo
p a r a a l i b e r d a d e , m a i s por bajulação ao Monarcha do
ção j u s t a , o p e r a d a pela p a r t e s ã do paiz c o n t r a a
syphilis e gangrenas imperiaes.
E n e m nos digão q u e n ã o vêm o a b s o l u t i s m o
no Brasil.
Não vêm ; é n a t u r a l .
mysteriosamente.
Elle esconde-se
E u quero o d e s p o t i s m o d e Ale-
x a n d r e d a R u s s a , expondo l e a l m e n t e as podridões
do seu g o v e r n o , e não o de P e d r o II, d i c t a n d o ao
gabinete
as r a i a s d a
futura constituinte.
Quero
Nero i n c e n d i a n d o Roma, e não Bismark o p p r i m i n d o
os p r o l e t á r i o s .
F e l i z m e n t e para n ó s , os republicanos, o i n i m i g o
d a p a t r i a e s t á já d e s m a s c a r a d o .
C u m p r e - n o s avançar.
II
40
A EVOLUÇÃO
Sublata causa lotiiivr effect* s.
I
n
Vi-se ; sente-se; percebe-se ; ha como que uma
|j onda fatal de marasmo a assoberbar a nova geração
II brasileira.
I
I
1
ll
Não só na historia, não só na ethnographia, i
como na eduoçío. costumes e ei rcu instancias cliHistéricas e telluricas patrias, tenho para mim que
pode o observador estudioso achar as causas da situacão mórbida e anormal porque passamos.
Ou o resultado de intemperies que o desviassem
>! da rota desejada, ou, após a fuga da costa africana,
afim de evitar as calmarias, as poderosas correntes
oceanicas, ou um desígnio firmado, como pensam
poucos, o certo é que Pedro Alvares, nos mostrando
aos olhos do mundo, considerou-nos apenas uma
I sorpreza, um accaso, um louro de mais para sua p a t h s , quando não uma fonte onde noras riquezas
haurisse. Grande era Portugal, mas chegado j á , deI pois das lutas com o mar em busca de terras, ao
ápice da montanha da Gloria, que também f a t i g a .
Não contava comnosco: por isso agrilhoou-nos primeiro e desprezou-nos depois.
E, como quer que a raça indígena tivesse vindo
do Septentrião, ou d a l é m dos Andes, do P e r ú ; ou do
Paraguay, ou mesmo da Patagonia; o que parece
provado é : I o que a emigração operou-se no sentido
do Norte para o S u l ; 2* que, ou fossem cem, ou quatrocentas, segundo outros, as nações indígenas que
habitavam o paiz, havia duas ramificações principaes: Tapuyas e Tupgs; 3 o que a raça lapy (e Gonçalves Dias sustenta-o) era a ultima ou a única conquistadora; 4* que habitava o littoral, e vivia da pesca, havendo, depois de luctas successivas, desterrado
o lapii'ju, com quem não consentia liame, para o interior ; 5* que era menos cruel, mais nobre, e menos
barbara; 6*, finalmente, postas de lado minúcias,
que tinha accentos indeeizos da raça caucasica, em
quanto que a tapuya era de todo oriunda da mongolica. F, o espirito geral de todo o gentio brazileiro
era a ferocidade, a igaorancia, a aathropophagia, a
indolência, de leve abalada pelo espirito bellico, que
outra cousa não era senão o instincto de rapina.
Do outro lado, Portugal nos inoculou todos os
prejuízos de sua civilisação, e todos os erros de seu
•trazo. De facto, plantou em nossa organisação : primeiro, o elemento monarchico, levado ao despotismo, na pessoa de governadores, possuindo alçada
sobre o eivei e o crime, e poder absoluto sobre o gentio, soph is mando a authoridade ; segundo, o elemen- |
to religioso, theocratico, por quanto, não ainda em
terra firme, j á Frei Henrique profanava a natureza
americana com uma missa, em 26 de Abril, e no dia
!• de Maio resava outra no continente; porquanto,
em 1549 com Thomé de Souza j á vinham seis jesuítas, e com Duarte da Costa mais avolumada legião,
em mira á cathechese do selvagem, que, segundo um
escriptor de nota, só se converte pelo a m o r ; terceiro, o elemento im moral, perverso, composto de degradados. réprobos de uma sociedade, gente sem lei
n-ím fé. Só um naufragio, ou uma excepção caprichosa, pois que a fiôr da mocidade e os homens de
bem iam para as índias, podia trazer almas honradas
para a nova terra da Vcra-Cruz.
Ora, d'estes dois factores : — indolência e selvageria de uma raça — civilisação gasta e viciada de
outra — só podia sahir esta resultante : — a m a geração precocemente cansada.
E ahi não pára o mal, entretanto. Em 1551, com
a vinda do mísero bispo Pero Sardinha ao Brazil, e
sua cohorte de sotaina, introduziu-se o braço esc avo. A lavoura requisitava-o; e o germen da nossa
desgraça foi alli semeado com a friez do indifferentismo.
A ethnographia demonstrou que, deitada mesmo
á margem a theo ria da unidade ou não da raça humana e a theoria do angulo facial, a raça ethiopica
approxima-se da animalidade irracional, a mongolica
fixa o mrzzo termine conciliador, e a caucasica possue
o dom perceptivo no grão máximo. Mas a percepção
má e a percepção do mal, para o seguir, é o erro : é
o que não é. A raça caucasica que vinha ao Brazil
era d e g e n e r a d a ; a que existia, inculta. Pensai na
influencia de um homem intelligente e mais ou menos instruído sobre outro intelligente e ignorante.
Ajuntai o contacto com o n e g r o : brutal, estúpido,
incapaz de perceber u m só raio civilisador.
Logo, o poder crescente dos governadores, que faziam das capitanias feudos, servilizando o povo; a
escravisação do gentio pelo colono, sempre lilho da
ralé; a raça negra desenvolvida e aviltada, o systhema monarchico absoluto, tão inoculado na geração
patria que ainda hoje raro se apontam os sãos caracteres republicanos : não é licito dar tudo isso como
causa primaria dos males que S)ffremos, não curados
ainda ?
E notai: a primeira geração estrangeira que pisou aquelle sólo americano do Norte era composta
de puritanos, homens de caracter e brio que não podiam soffrer as tyrannias de Carlos I ; a primeira
raça que pisa o solo brazileiro ó de condemnados,
avarentos, jesuítas e déspotas.
Que geneze f a t a l !
E que fatal immiscuição !
SILVA
Typ. da Tribuna
JARDIM.
Liberal.
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