t`filah, oração! - estudos que edificam

Transcrição

t`filah, oração! - estudos que edificam
T'FILAH, ORAÇÃO! - ESTUDOS QUE EDIFICAM
Oração – Voltar-se à direção do Eterno
“‫ּכריה‬
ִ
‫ַגרא ּדֵ ין‬
ָ ‫“אֵּתּתעִירו ו ַצלַו ּדלָא ּתֵ עלּון לנֵסיּונָא רּוחָא מטַיבָא פ‬
“Despertem e voltem-se em oração, para que não entreis em tentação; a Direção está
pronta, mas o corpo é fraco.”
- Matityahu (Mat.) 26.41 – traduzido do aramaico
Essa passagem é uma das passagens mais mal compreendidas e traduzidas e, como é
grandemente difundida, é bom que tenhamos um cuidado maior para com ela. Escolhi
um documento aramaico, por ser o mais seguro para traduzir a passagem e chegarmos
a um texto bem mais próximo do que os primeiros alunos de Yeshua compreendiam
de suas mensagens, já que a língua dos judeus do primeiro século era o aramaico.
Primeiramente, contextualizando, todos estavam em vigília, mas não com a intenção
de uma “purificação espiritual” necessariamente, mas por conta do mandamento de
ficar em vigília na noite do Pessach1. Isso pode nos ser de grande ajuda para
compreender o cenário geral da passagem.
A passagem nos ensina sobre um dos propósitos da oração, ensinados diretamente por
Mashichah Yeshua Mar’Yah2. Quanto à palavra oração em aramaico, estudaremos a
estrutura linguística mais à frente, mas basta saber que oração aqui aplicada em
aramaico vem da raiz tz’lah3, que significa “inclinar na direção…”, “prestar atenção
em…”, “voltar-se para…”, “atentar-se para…” ou “orar” no sentido em que se usa
geralmente em comunicar-se com o Eterno.
Percebam que Yeshua, mais do que falar de conversar com o Eterno, O Sagrado e
Bendito, ele estava dizendo que a direção já tinha sido dada em meio de mitzvah
(Mandamento) e bastava obedecer. Nesta passagem o sentido da oração é em sentido
contrário da primeira oração analisada. Na primeira passagem que estudamos,
verificamos que o Eterno nos ensina a chamar por sua presença, nesta passagem
vemos a importância de nos voltarmos a ele em obediência. Aprendemos algo ainda
mais com o aramaico, bem como com Yeshua. Aprendemos que nós devemos ir à
Direção dEle. Boa parte das traduções traduz Ruchah4 como espírito, mas é uma
tradução pobre quanto à compreensão, sendo que o contexto nos mostra que ruchah
1
T'FILAH, ORAÇÃO! - ESTUDOS QUE EDIFICAM
pode ser direção, e faz todo o sentido, dentro do contexto analisado. O que eles
deveriam fazer na vigília já havia sido dado através do mandamento de permanecer
acordado, mas o corpo estava fraco, não estava pronto ou preparado. Os mandamentos
de Elohim nos levam à obediência e à intimidade, mas nem sempre nosso corpo está
disposto a obedecer ou preparado.
Nossas vidas em relação aos mandamentos do Eterno também são assim. É muito fácil
nos prepararmos para os mandamentos, mas o fato é que muitos de nós tratamos os
mandamentos do Eterno como algo trivial e falhamos no cumprimento dos
mandamentos, não por ser fácil ou difícil, mas por não darmos a devida importância a
eles. Seja no separar-se da imoralidade ao afastar-se ou ao preparar alimentos bem
antes do dia de cultuar ao Eterno, simplesmente para poder dedicar-se mais à adoração
ao Sagrado. São pequenos atos, que nos preparam para obedecer, que fazem a
diferença para o que está com o tanque cheio para viajar ou o que para no meio da
estrada. Sendo assim, voltemos para o Eterno, que nossas orações também sejam o que
nos levam a regressar ao caminho correto e nos façam reparar nossos erros para enfim
chegarmos à verdadeira teshuvah5.
- Matityahu 5:19 ‫ֵתקרא‬
ֵ ‫ִירא נ‬
ָ ‫זעּורא ונַלֵפ ָה ַכנָא לַבנַינָׁשָא ּבצ‬
ֵ
‫ֵׁשרא חַד מֵן פּוקּדָ נֵא ָהלֵין‬
ֵ ‫ּכֻּל מַן ָהכִיל ּדנ‬
‫ֵתקרא ּבמַלּכּותָ א ּדַ ׁש ַמי ָא‬
ֵ ‫ ּבמַלּכּותָ א ּדַ ׁש ַמי ָא ּכֻּל ּדֵ ין ּדנֵעּבֵד ונַלֵפ ָהנָא ַרּבָא נ‬.
Matthew 5:19 – Kol man hakil deneshre chad men pukdane halein zeurê wnalef
hakanah labnaynasha btzirah netqreh bemalkutah dashmayah kol den dne‟bed unalef
hanah rabah netqare bemalkutah dashmayah.
Todo aquele portanto que libertar [1] uma [pessoa] a partir dos [2] mandamentos e
este ao menos ensinar assim a um homem, será chamado menor no reino dos céus,
mas todo que praticar e ensinar, esse será chamado rabino no reino dos céus.
1 – A palavra “deneshre” tem as possíveis traduções afrouxar, apresentar, começar,
solto, comer, águia. Na maioria das traduções é visto como soltar.
2 – Men significa vindo de(a, o), do, da, a partir de.
Sendo assim o passuk (Versículo) entra dentro do contexto e alinha-se com as
escrituras. O mais interessante é que vemos que quem é o menor, tratando-se de
galardão e não de salvação, é aquele que ensina alguém a andar é chamado pequeno,
mas se alguém ensinar e praticar será chamado elevado (Rabí) no Reino dos Céus.
Devemos ensinar, mesmo que somente um mandamento a alguém, mesmo que este
não siga a toráh como modelo de vida, mas se este somente aprender uma mitzvah e
iniciar a sua prática de vida, nós já colocaremos o Reino em prática, pois o reino é
simples, se alguém se submete ao Rei, o reinado dele já é estabelecido. Vemos muitos
mestres que tem em sua falta de conhecimento ensinado as pessoas a amarem mais ao
próximo, têm ensinado pessoas a deixarem a idolatria e mesmo que aparentemente
2
T'FILAH, ORAÇÃO! - ESTUDOS QUE EDIFICAM
seja somente uma parte da toráh, vemos que mais pessoas se submetem aos
mandamentos do Eterno.
Segue a seqüência do texto, do aramaico:
17 – Não penseis que vim abolir a toráh ou os profetas; não vim para abolir, mas para
torná-los plenos.
18 – Amém! Por que vos digo que, até que o céu e a terra passem, de modo nenhum
passará da toráh um só Yud ou um só traço, até que tudo seja cumprido.
19 – Todo aquele portanto que libertar [1] uma [pessoa] a partir dos [2] mandamentos
e este ao menos ensinar assim a um homem, será chamado menor no reino dos céus,
mas todo que praticar e ensinar, esse será chamado rabino no reino dos céus.
20 – Pois eu vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas [professores
da toráh] e p‟rushim, de modo nenhum entrareis no reino dos céus.
Sendo assim, vemos que as escrituras não dizem que se alguém ensinar alguém a pecar
entrará no reino como menor. Alguns líderes se apegam a esse passuk para afirmar que
preferem ser pequenos e dizem agarrar-se a graça de mesmo não seguindo a toráh,
chegarão a herdar o Reino de Elohim. Entendemos que as pessoas devem caminhar dia
após dia, passo a passo, quem sabe a medida que as pessoas obedecem os
mandamentos de Elohim, descobrem o quanto mais podem caminhar em obediência e
passo a passo o Reinado dos Céus seja estabelecido.
Yeshua nos ensina a orar
‫“ ַאנּת ּדֵ ין ֵאמַתי ּדַ מ ַצלֵא ַאנּת עּול לתַ ָונָכ וַאחּוד ּתַ רעָכ ו ַצלָא לַאבּוכ ּדַ בכֵסי ָא וַאבּוכ ּד ָחזֵא ּבכֵסי ָא נֵפרעָכ‬
”. ‫ּבגֵלי ָא‬
“Mas tu, quando orares, fecha-te 1 no teu quarto e ora a teu Pai que está em secreto;
e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará.”
- Matityahu (Mat.) 6.6 – traduzido do aramaico
Embora esse passuk2 seja o mais lembrado, ele está inserido em um contexto de ensino
de oração. Falaremos posteriormente sobre a oração que Yeshua nos deixou,
conhecida como “Pai Nosso”, ou “Avun d’bashmaya”. Porém, neste material
introdutório, trataremos da parte anterior que seria uma aula introdutória de Yeshua
sobre a oração.
Aqui, quando lemos o aramaico, podemos perceber um belo jogo de palavras, como
era comum na época, praticamente um poema. Lemos aqui a expressão “fechar-se em
3
T'FILAH, ORAÇÃO! - ESTUDOS QUE EDIFICAM
seu quarto”, e podemos verificar que a palavra ‘ul (‫)עּול‬, “fechar”, tem vários sentidos
no aramaico, um deles é fechar, porém, também pode significar “errar”, “mal”,
“pecado”. Porém, a palavra aramaica é uma variante que provém da palavra Hebraica
e’uwl (‫ )אול‬que tem sua raiz em ‫אל‬, que significa simplesmente “entrar”. Esse jogo de
palavras nos ensina algo interessante. O fechar-se no quarto pode ser associado à
tristeza por conta do pecado. O arrependimento e tristeza pelo pecado deve ser um
relacionamento pessoal.
A restauração deve ser íntima e pessoal, deve ser entre o Eterno e o indivíduo que está
pedindo perdão. Provavelmente por isso a cultura Israelita guarda até hoje o ato de
esconder-se dentro da Simlah3, manto de oração, durante uma súplica, arrependimento
ou tristeza, como forma de íntima relação entre o Restaurador e o restaurado. Muitos
até hoje, por vezes querem mostrar-se com aparência de piedade e abrem berros diante
de comunidades, porém Yeshua nos ensina que esse tipo de clamor deve ser mantido
na intimidade com nosso Pai. Infelizmente a mesma corrupção farisaica permanece em
grupos modernos, cristãos e judaicos. Muitos se apegam à tristeza e preferem chamar a
atenção a si, quando em uma congregação, ajuntamento ou comunidade, os holofotes
devem estar diante do Eterno e não dos homens.
Há momentos para súplica, porém, isso é extremamente íntimo e pessoal. É claro que
existem exceções, mas, em suma, devemos aprender que no momento de clamor
coletivo não há espaço para alguém em alta voz com lágrimas, chamando a atenção de
homens, pois, como Yeshua mesmo diz, estes já receberam as suas recompensas. Não
devemos fazer coisa alguma a fim de sermos vistos pelos homens, pois assim fazem os
gentios e hipócritas.
A ORIGEM JUDAICA DA ORAÇÃO DO PAI-NOSSO
Avinu Malkênu - Nosso Pai, Nosso Rei e Avinu – Pai Nosso
Avinu Malkênu
Rashi nos diz que o Avinu Malkênu (tradução literal: nosso Pai, nosso Rei) como o
recitamos atualmente é uma expansão da prece comum, mais curta, composta por Rabi
Akiva, sobre a qual o Talmud (Taanit 25b) conta:
Aconteceu certa vez durante um período de seca que Rabi Eliezer ficou de pé perante
a congregação e recitou vinte e quatro preces por chuva, sem sucesso. Nenhuma chuva
veio. Então Rabi Akiva postou-se perante a congregação e disse Avinu Malkênu e sua
prece foi imediatamente respondida. Quando os Sábios viram que Avinu Malkênu de
4
T'FILAH, ORAÇÃO! - ESTUDOS QUE EDIFICAM
Rabi Akiva era uma prece realmente eficaz, adicionaram mais pedidos a ela, e
instituíram a prece completa como parte do serviço pelos Dias de Arrependimento.
Avinu Malkênu (em hebraico: ‫ ַמ ְלּכֵנּו‬‎ ‫ )ָאבִינּו‬é uma oração judaica recitada durante
serviços de Rosh Hashanah (Ano Novo), Yom Kipur (Dia da Expiação) e alguns dias
de jejum. Cada linha da prece começa com as palavras Avinu Malkênu e é seguida por
frases variadas, principalmente de súplica, feita sob uma cantilena repetitiva, em 54
versos. Os versículos 15 a 23 são recitados primeiro pelo hazan (cantor litúrgico,
oficiante) e repetidos pela congregação. O hazan lê o último verso em voz alta e
geralmente é cantado por toda a congregação.
Avinu Malkênu é incluído durante as orações de Shacharit e Minchá (manhã e início
da tarde). Ele é omitido no Shabat (exceto na Ne'ila [encerramento] de Yom Kipur) e
na Minchá às sextas-feiras. Em Erev (véspera) Yom Kipur não é recitado em Minchá,
mas algumas congregações recitam de manhã, quando cai na sexta-feira. Durante o
Avinu Malkênu, a Arca (onde ficam os Rolos da Torah) é aberta e, ao final da oração,
é fechada. Na tradição sefaradi, é recitado no Shabat, e a Arca não é aberta.
Ao longo dos Dez Dias de Arrependimento, cinco linhas de Avinu Malkênu que se
referem a vários livros celestiais incluem a palavra Kotvênu ("Inscreve-nos"). Durante
a Ne'ila, esta é substituída por Chotmênu ("Sela-nos, Assina"). Isso reflete a crença de
que em Rosh Hashaná tudo está escrito e revelado e no Yom Kipur todos os decretos
para o próximo ano são selados.
Avinu – Pai Nosso
Não por acaso, ao evocarmos Avinu Malkênu, Nosso Pai, Nosso Rei, nos vem à mente
a oração do Pai Nosso. A invocação Pai Nosso = Avinu é comum na liturgia judaica.
O Pai-Nosso ecoa orações judias para Elohim; santificando Seu nome, falando de Seu
reino, do perdão e do sustento. Cada linha do „Pai Nosso‟ – a mais judaica das orações
- contém paralela na literatura rabínica. Ela é excelente exemplo de como é impossível
apreciar completamente passagens do Novo Testamento sem o seu próprio contexto
judaico. Essa proximidade é mais aparente nas idéias e nas recitações da liturgia da
sinagoga, com a qual Yeshua, judeu devoto, devia ter estado inteiramente
familiarizado. Quem pode deixar de reconhecer muitos outros paralelos, paráfrases e
ecos do Pai Nosso no serviço religioso diário da sinagoga?
A essência da oração Pai Nosso, expressão suprema da fé cristã, foi extraída de obras
religiosas judaicas, chegando a usar as mesmas figuras de retórica. Suas primeiras
5
T'FILAH, ORAÇÃO! - ESTUDOS QUE EDIFICAM
palavras “Pai nosso que estais no Céu”, são uma paráfrase de parte das falas éticas dos
Sábios Rabínicos (fariseus!) incluídas no Pirkei Avot 5:20: “...fazer a vontade do teu
Pai que está no Céu.”
O próprio conceito de “Pai Nosso” referindo-se à deidade, só é encontrado em fontes
hebraicas (no Talmud[2] em Yomah 85b, Sotah 49b, Avot 5:20, Vaikrah Rabah 32), e
na liturgia, como nas quinta e sexta bênçãos do Shmone Esrê[3].
5ª. Bênção Teshuvá (do Arrependimento)
Hashivênu avinu letoratêcha, vecarvênu malkênu laavodatêcha, vehachazirênnu
biteshuvá shelema lefanêcha. Baruch ata Adonai, harotse biteshuvá.
“Reconduze-nos à Tua Lei, nosso Pai, retoma-nos ao Teu serviço, nosso Rei, e faze
com que regressemos com sincero arrependimento para ti. Bendito sejas Tu Elohim,
que te comprazes com o arrependimento”.
6ª. Bênção Selach (do Perdão)
Selach Ianú avinu ki chatánu, mechal Ianú malkênu ki fashánu, ki El tov vessalach
áta. Baruch ata Adonai, chanun hamarbê lislôach.
“Perdoa-nos, nosso Pai, pois pecamos; perdoa-nos, nosso Rei, pois transgredimos;
porque tu és Elohim bom e clemente. Bendito sejas Tu, Elohim Misericordioso que
perdoas abundantemente”.
No Shabat Shuvá, entre Rosh Hashaná e Iom Kipur, acrescenta-se, no Kabalat Shabat:
Mi chamôcha Av harachaman, zocher ietsurav lechayim berachamim
“Quem pode ser comparado a Ti, ó Pai misericordioso? Tu te lembras das Tuas
criaturas e as fazes viver pela Tua misericórdia”.
Também nas 3ª e 4ª bênçãos do Bircat Hamazon (Bênção após a Refeição), Elohim é
tratado como Nosso Pai:
3ª: Elohenu, Avinu, roênu, zonênu, parnessênu, vechalkelênu, vê-harvichênu.
Nosso Elohim, nosso Pai, nosso Pastor, nutre-nos, sustenta-nos, mantém-nos e alivianos”.
4ª: Baruch atá Adonai, Elohênu, melech há-olam, Avinu, malkênu, adirenu, borênu,
goalênu, yotsrênu, kedoshenu, kedosh Yaakov, roenu, roê Israel, há-melech há-tov hámetiv lacol, bechol iom va-iom.
6
T'FILAH, ORAÇÃO! - ESTUDOS QUE EDIFICAM
“Bendito és Tu, Eterno, nosso Elohim, Rei do Universo, Todo Poderoso, nosso Pai,
nosso Rei, Onipotente, nosso Criador, nosso Salvador, nosso Autor, nosso Santo,
Santo de Yaacov, nosso Pastor, Pastor de Israel, Rei bondoso, que age com
benevolência para com todos, dia após dia”.
No Shacharit (liturgia da manhã) de Rosh haShanah (Ano Novo), ao Shemah Israel,
acrescenta-se Ata hu ad, que entre seus versos diz:
Kadesh et shimcha al makdishei shemecha, vekadesh shimcha beolamecha.
“Santifica o Teu nome no Teu mundo por Teu povo, que santifica o Teu nome”.
E, claro, no ritual de Ano Novo a oração Avinu Malkenu –
“Pai Nosso, nosso Rei”.
Mais frequentes nos círculos hassídicos é a invocação "Pai Nosso que está no céu"
(Yoma 8:9; Soṭah 9:15; Tosefta, Demai, 2: 9; em outros locais: "Yehi ratzon milifnei avinu-bashamayim").
Uma comparação com o Kadish ("Que o Seu grande nome seja santificado no mundo
que Ele criou, segundo a Sua vontade, e Ele possa estabelecer o Seu Reino rápida e
proximamente"), com a Kedushah de Shabat ("Tua Majestade seja ampliada e
santificada no meio de Jerusalém... Para que os nossos olhos possam ver Teu Reino"),
e com o "Al-ha Kol" (Massekhet Soferim 14:12, oração: "exaltado e santificado... seja
o nome do supremo Rei dos Reis no mundo que Ele criou, neste mundo e no mundo
para vir, de acordo com Sua vontade ... E possamos vê-Lo olho no olho quando Ele
reparar a Sua morada") mostra que as três frases,"Santificado seja Teu Nome","Teu
Reino venha", e "A Tua vontade será feita na terra como no céu", inicialmente
expressa uma idéia só- a petição que o reino messiânico possa aparecer rapidamente,
mas sempre sujeito à vontade de Elohim. A exaltação do nome de Elohim no mundo
faz parte da inauguração do Seu reino (Ezequiel 38:23), ao passo que a expressão "Tua
vontade será feita" refere-se ao tempo próximo, significando que ninguém, só Elohim
sabe o Seu tempo de "divino prazer" ("ratzon"; Isaías 61:2; Salmos 69:13; Lucas
2:14).
O problema para os seguidores de Yeshua foi o de encontrar uma forma adequada
para esta petição, uma vez que eles não poderiam, como os discípulos de João e os
essênios, orar "Que Teu Reino venha rapidamente", tendo em conta o fato de que para
7
T'FILAH, ORAÇÃO! - ESTUDOS QUE EDIFICAM
eles o Messias tinha aparecido na pessoa de Yeshua. Com o decorrer do tempo, a
interpretação da frase "Tua vontade será feita", foi ampliada no sentido da
apresentação de tudo para a vontade de Elohim, na forma da oração de Rabi Eliezer
(século I): "Fazer Tua vontade no céu acima e dar descanso ao espírito daqueles que
temem a Ti na terra, e fazer o que é bom a Teus olhos. Bendito seja Tu que ouves
oração!" (Tosefta, Bereshit 52:7).
O Kadish dos enlutados também acena, a guisa do consolo, com o advento inevitável
do reino da Justiça, anunciado pelo Messias:
Exaltado e santificado seja Seu grande nome
No mundo que Ele criou de acordo com a Sua vontade.
Que ele estabeleça Seu Reino durante a vossa vida e durante os nossos dias,
E durante a vida de toda a casa de Israel... Amém.
Apresento, a seguir, uma síntese de paralelos entre o Pai Nosso e passagens de orações
litúrgicas e outros textos antigos da literatura judaica:
Pai nosso que estais no céu –
Avinu shebashamáyim. Tsur Yisrael vegoalo “Nosso Pai que está no céu. Rocha de
Israel e seu redentor!” (Oração pela paz de Israel, Shacharit de Shabat, Liturgia para
Manhã de Sábado)
Santificado seja Teu Nome Itgadal veitkadash sheme rabah.
“Seja elevado e santificado Teu grande Nome” (Kadish).
Veal culam yibarach veyitromám veyitnassê shimchá malkenú tamid leolam vaed.
“E por todas estas coisas seja o teu Nome abençoado constantemente e exaltado e
enaltecido, ó Rei nosso, para todo o sempre”. Bênção Hodaá (de Louvor)
Uvechen yitkadesh shimcha Adonai Eloheinu
8
T'FILAH, ORAÇÃO! - ESTUDOS QUE EDIFICAM
“E assim será santificado o Teu Nome, ó Eterno, nosso Elohim” (Uvechen, Shacharit
de Rosh háShanah, liturgia da manhã de Ano Novo)
Nakdishach venaaritzach kenoam siach sod sarfe kodesh
“Nós Te santificaremos e reverenciaremos com tom harmonioso como o usado na
assembléia dos santos serafins” (Kedushah, Shacharit para o segundo dia de Rosh
haShanah)
Venha a nós o Vosso Reino –
Yamlich malchutr bechayechon uveyomechon dechol bet Israel beagala uvizman
kariv
“Possa Vosso Reino ser realizado em vossa vida, e em vossos dias e na vida de toda
Casa de Israel agora e para sempre” (Kadish).
Samecheinu Adonai Eloheinu beEliahu haNavi avdecha, uvemalchut bet David
meshichecha, bimehera iavo veiaguel libeinu.
“Alegra-nos, ó Eterno, nosso Elohim, com a vinda do profeta Elias, Teu servo, e com
o reino da casa de David, Teu ungido, que venha logo e que nossos corações com isso
se rejubilem”. (Samcheinu, bênção posterior à leitura da Haftarah, Shacharit de Rosh
haShanah).
Seja feita a vossa vontadeIhei ratzon milfanecha Adonai eloheinu, elohei avoteinu
“Que seja a Tua vontade, Senhor nosso Elohim, Elohim de nossos pais” (como
começam todas as brachot [bênçãos] de Rosh haShanah [Ano Novo])
Toda tefilah, cada oração e bênção, é básica e essencialmente uma variação do pedido
Yehi Ratzon Milfanecha (convencionalmente traduzido como “Que seja Tua vontade”,
mas que literalmente significa “Que haja (um estado de) disposição ante a Ti”).
O pão nosso de cada dia nos dai hoje –
Rabi Eliezer, o Grande, disse: “quem tiver um pedaço de pão numa cesta e disser: que
comerei amanhã? é uma pessoa de pouca fé” (Talmud, Sotah 48b).
9
T'FILAH, ORAÇÃO! - ESTUDOS QUE EDIFICAM
“Então disse o Eterno a Moisés: Eis que vos farei chover pão dos céus, e o povo sairá,
e colherá diariamente a porção para cada dia”. (Êxodo 16:4)
“Não me dês riqueza nem pobreza, concede-me o pedaço de pão”. (Provérbios 30:8).
Noten lechem lechol bassar, ki leolam chasdo.
“Dá o pão a todos os seres, porque Sua Benignidade persiste para sempre”. (Mizmorei
Shabat, Cânticos de Shabat).
Se juntarmos os últimos versos, temos um paralelo no Talmud, em Berachot 29b, que
diz: “Faz a Tua vontade acima e dá conforto aos que estão abaixo, e a cada um a sua
necessidade”.
Perdoai os nossos pecadosSelach lanu Avinu ki chat‟anu; mechal lanu ki pash‟anu
“Perdoai-nos, Pai Nosso, porque nós temos pecado, Absolve-nos, Nosso Rei, porque
nos cometemos transgressões” (Amidah).
Avinu Malkênu,selach umechal lanu lechol avonotênu
“Pai Nosso, Nosso Rei, perdoa e desculpa todos os nossos pecados” (Machzor, livro
de orações para o Ano Novo e Dia do Perdão, Avinu, Malkenu)
Ribono shel Olam ... timchol li al kol avonotai
“Senhor do mundo ... perdoa todos meus pecados”. (Ribono shel olam, Shacharit de
Rosh haShanah)
“Meu Elohim, se eu fiz algo … se em minhas mãos há injustiça, se paguei com mal
ao meu benfeitor” (Salmos 7:4-6).
“Mas contigo está o perdão, para que sejas temido”. (Salmos 130:4)
Como nós perdoamos a quem nos tem ofendidoSamuel, o Pequeno, disse: “se o vosso inimigo cair, não vos rejubileis, se ele se
perder, não deixai vosso coração se alegrar, para que Elohim não veja e volte os Seus
olhos e afaste dele Sua fúria” (Avot 4,24).
Perdoa, rogo-te, a transgressão de teus irmãos, e o seu pecado, porque te fizeram mal;
agora, pois, rogamos-te que perdoes a transgressão dos servos do Elohim de teu pai.
(Gênesis 50:17)
10
T'FILAH, ORAÇÃO! - ESTUDOS QUE EDIFICAM
Este princípio também é encontrado no Talmud, em Shabat 151b, que diz: “Aquele
que for misericordioso para com os outros, Elohim lhe será misericordioso”.
Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal –
No Talmud, em Berachot 60, encontramos uma frase semelhante: “Não me conduzas
ao pecado, nem à iniquidade, nem à tentação, nem à desonra”.
Ela também aparece na liturgia:
Veal tevienu lo lidei chet velo lidei avera veavon, velo lidei nissaion velo lidei
vizaion, veal ishlot banu ietzer hara.
“... e não nos deixes cair em poder do pecado, da transgressão, da tentação, do
desprezo; e que o mau impulso não nos domine”. (uma das bênçãos da liturgia da
manhã).
Vehasser satan milfanenu u meachareinu uvetsel knafecha tastirenu.
“Livra-nos da tentação e ponha-nos sob a Tua Proteção”. (Bênção Hashkivenu,
liturgia da tarde)
“Elohim meu, livra-me dos meus inimigos, protege-me dos meus agressores!” (Salmos
59:2).
“O Eterno te guardará de todo o mal” (Salmo 121; Shacharit de Rosh haShanah,
liturgia da manhã de Ano Novo)
“Seja um escudo para nós, e afaste nossos inimigos, doenças, a espada, fome, angústia.
Afaste o Adversário da frente e de trás de nós” (oração de Mar filho de Ravina,
Liturgia Noturna).
Iehi ratson milfanecha Adonai Elohai vê-elhei avotai, shetaslienu haiom uvechol iom
meazei panim umeazut panim, meadam Ra, meietzer Ra, umechaver Ra, umishachen
Ra, umipega Ra, meayin hara, milashon Ra, mimalshinut, meedut sheker, missin‟at
haberiot, mealila, mimita meshuna, mecholayim raim, umissatan hamash‟chit, umibaal
din kashe, bein shehu ben brit uvein sheeno ben brit, umidina shel guehinam.
“Que seja de Tua vontade, ó Eterno, nosso Elohim e Elohim de nossos pais, que nos
livre hoje e sempre dos homens arrogantes e da arrogância, do homem mau, da mulher
má e do mau impulso; do mau amigo, do mau vizinho e da má ocorrência; do mau
11
T'FILAH, ORAÇÃO! - ESTUDOS QUE EDIFICAM
olhado, da má língua e da falsa acusação; do falso testemunho, do ódio humano, da
calúnia, da morte desastrosa, das más doenças, dos maus acidentes, de um julgamento
severo e de um acusador implacável, seja ele israelita ou gentio; também livra-nos do
castigo do inferno”. (Iehi Ratzon, oração de Rabi; Talmud, Berachot, 16).
Esta súplica emotiva foi concebida para servir como uma meditação alternativa para
concluir a Amidah em silêncio, por volta do século II, pelo sábio Rabi Yehuda
HaNassi (Judá, o príncipe) o redator da Mishnah. Enquanto a oração original, como
detalhado no Talmud (Berachot 16b), foi escrita sob forma plural, como a maior parte
da liturgia, nossos sábios transformaram a bela oração de Rabi Yehudah em uma
súplica singular quando a incluíram na seção inicial do Sidur.
Desjudaizando Yeshua, os fundadores do Cristianismo, orientados para os gentios,
encontraram, em épocas posteriores, muitas maneiras de dissociar Yeshua dos judeus e
da religião judaica o mais possível, e de trazer a nova religião para um alinhamento
mais condizente com doutrinas e práticas religiosas pagãs aceitas e generalizadas na
antiguidade greco-romana.
12

Documentos relacionados