a importância da atuação do pedagogo na equipe de saúde

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a importância da atuação do pedagogo na equipe de saúde
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A IMPORTÂNCIA DA ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NA EQUIPE DE SAÚDE: ESTUDO NO
HOSPITAL REGIONAL DA ASA SUL (HRAS) E NOS HOSPITAIS DE UNAÍ-MG
101
SILVA, Marneide Amaral da
ROCHA, Wilson Roberto Dejato da102
ALVES, Raquel Aparecida103
104
SILVA, Marnilda Amaral da
Resumo: O presente estudo objetivou analisar a importância da atuação do pedagogo na equipe de
saúde, bem como a aceitação desses profissionais pelos familiares das crianças internadas e
profissionais de saúde do Hospital Regional da Asa Sul - HRAS e analisar como é realizado e quais
são as características do trabalho pedagógico dentro da brinquedoteca do mesmo hospital e um
possível trabalho do pedagogo nos hospitais de Unaí-MG. Para tal, foram utilizados a pesquisa
documental nos hospitais de Unaí-MG, observação no HRAS e questionários para os funcionários,
pais de crianças/adolescentes internados do HRAS e acadêmicos de enfermagem e Secretária de
Saúde de Unaí-MG. Concluiu-se, após os resultados, que a atuação do pedagogo dentro do HRAS é
de suma importância, tendo uma boa aceitação pelos profissionais de saúde e familiares, devendo
apenas ser ampliado; em Unaí-MG esse trabalho é inexistente necessitando ser ainda implantado.
Palavras-chave: Criança/adolescente. Hospital. Pedagogo.
Abstract: The present study aimed to analyze the importance of pedagogues’ work in the health
team, as well as acceptance of these professionals by children’s relatives and health professionals of
Hospital Regional da Asa Sul – HRAS, and analyze how it is accomplished and what are the
characteristics of pedagogical work within the same hospital playroom and if it is possible to realize
the same work in hospitals in Unai, Minas Gerais. For this, we used documentary researchin hospitals
at Unai, Minas Gerais, observation at HRAS and questionnaires to employees, parents of children /
adolescents admitted at HRAS, to nursing students and Health Secretary of Unai, Minas Gerais. It
was concluded, after the results, that the work of educationalist at HRAS is very important, having a
good acceptance among health professionals and family, and it should be extended; in Unai, Minas
Gerais this work doesn’t exist, still needed to be implemented.
Key-words: Children/adolescent. Hospital. Pedagogue.
101
Licenciada em Pedagogia pelo Instituto de Ensino Superior Cenecista-INESC e Pós Graduanda em
Psicopedagogia Institucional pela Faculdade do Noroeste de Minas-FINOM.
102
103
104
Mestre em Física e professor do Instituto de Ensino Superior Cenecista-INESC.
Especialista em Gestão de Pessoas e professora do Instituto de Ensino Superior Cenecista – INESC.
Licenciada em Pedagogia pelo Instituto de Ensino Superior Cenecista-INESC e Pós Graduanda em
Psicopedagogia Institucional pela Faculdade do Noroeste de Minas-FINOM.
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INTRODUÇÃO
O presente trabalho buscou analisar a importância do pedagogo no âmbito
hospitalar demonstrando a possível demanda de clientes (crianças/adolescentes
hospitalizados) nos hospitais do município de Unaí-MG e verificar a atuação
profissional do pedagogo hospitalar e seu ambiente de trabalho em um hospital do
Distrito Federal.
De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente é direito desses
indivíduos saúde e educação adequada105. Para garantir esses direitos no sentido
mais amplo, passando pela saúde emocional e pelo desenvolvimento de habilidades
e competências que são necessárias a um cidadão atuante na sociedade, surgiu a
necessidade de se criar a pedagogia hospitalar, juntamente com a atuação do
pedagogo nas equipes de saúde, pois com o trabalho desse profissional o
atendimento hospitalar torna-se mais afetivo e humanizado. Torna-se evidente a
importância do pedagogo na hospitalização da criança e do adolescente devido à
necessidade da continuação dos estudos desses, já que esse profissional é o elo
entre o aluno hospitalizado, sua escola e seus pais, sendo a família também de
fundamental importância para o processo educativo.
As ações e a presença do pedagogo no ambiente hospitalar irão resgatar nas
crianças os sentimentos de aceitação, segurança e auto-estima, amenizando a
possível desmotivação e o estresse causados pelos longos períodos de
internação106.
Ressalta-se ainda que é direito da criança e do adolescente hospitalizado ter
alguma recreação assistida, portanto, destaca-se a importância do educador para
atuar nas brinquedotecas e salas recreativas nas instituições de internação de
terapias intensivas.
105
BRASIL. Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente. Conanda. Brasília, 2006.
106
COSTA, Cintia Aparecida F. da. O vínculo da criança hospitalizada com a educação.
2008. Disponível em: http:// www.webartigos.com.br. Acesso em: 13 mar. 2011.
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Assim, propôs-se com este trabalho estudar a relevância do pedagogo no
âmbito hospitalar, bem como suas contribuições para a escolarização de crianças e
adolescentes hospitalizados.
DESENVOLVIMENTO
Atualmente o pedagogo vem aos poucos conquistando um maior espaço no
mercado de trabalho. Pode-se notar esse fator através das amplas áreas de atuação
desses profissionais.
A pedagogia e o pedagogo existem desde que houve a necessidade de cuidar
de crianças e de promover sua inserção no contexto educacional, a pedagogia teve
sua institucionalização com a modernidade, por volta do século XVI107.
Sendo assim, compreende-se que o pedagogo tem como principal objetivo de
sua profissão promover a formação do indivíduo competente e habilidoso para atuar
em uma Sociedade dinâmica e contemporânea. Portanto, devido a necessidade de
melhorar a qualidade de ensino em várias áreas do sistema educacional é que se
torna necessário a presença do pedagogo, atuando em áreas cada vez mais
valorizadas na sociedade do conhecimento. Esse profissional também tem presença
marcante na necessidade da educação continuada, já que ela não precisa estar
ligada ao contexto escolar, pois a educação pode e deve acontecer em vários
âmbitos.
Fazendo uma análise através de sua evolução histórica, buscou-se conceituar
o termo pedagogia hospitalar, que teve seu início em 1935, quando Henri Sellier
inaugura a primeira escola para crianças inadaptadas nos arredores de Paris; o
exemplo da classe hospitalar foi seguido na Alemanha, em toda França, na Europa e
nos Estados Unidos, sendo que o principal objetivo dessas classes hospitalares era
de suprir as dificuldades escolares de crianças tuberculosas, sendo que tal doença
acometia grande parte da população da época108.
107
LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e pedagogos, para quê? 8. ed. São Paulo. 2009.
108
ESTEVES, Claúdia R. Pedagogia hospitalar: um breve histórico. 2008. Disponível em: http://
www.smec.salvador.ba.gov.br. Acesso em: 09 abr. 2011.
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O marco decisório das escolas em hospitais aconteceu durante a segunda
guerra mundial, devido ao grande número de crianças e adolescentes atingidos,
mutilados e impossibilitados de ir à escola. Portanto, a partir dessa necessidade nos
hospitais, fez-se necessário criar um engajamento, sobretudo dos médicos,
incentivando a escola nos hospitais109.
No Brasil, em 1950, na cidade do Rio de Janeiro, o hospital Jesus foi o
primeiro a desenvolver atividades em classe hospitalar que está em funcionamento
até os dias de hoje110.
Considerando isso, percebe-se que a pedagogia hospitalar sempre se fez
necessária, garantindo ao pedagogo hospitalar um lugar de extrema importância na
equipe de saúde. Mediante isso, percebe-se que a pedagogia hospitalar no contexto
brasileiro ganhou força a partir da segunda metade do século XXI, principalmente na
década de 90, com o advento do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA.
Acredita-se, contudo, que ainda há muito espaço para o crescimento da pedagogia
hospitalar no cenário nacional. Atualmente, muito se tem discutido sobre a
importância da atuação do pedagogo no âmbito hospitalar como provedor de
afetividade e humanização nos atendimentos. A atuação do pedagogo no âmbito
hospitalar diz respeito ao paradigma de inclusão e contribui para com a
humanização da assistência hospitalar111.
Dessa forma, percebe-se que a pedagogia hospitalar tem uma característica
humanista, pois não é importante tratar só a doença, mas sim do paciente como um
todo, e os pedagogos hospitalares podem contribuir muito nesse contexto de
humanizar a equipe de saúde.
A educação e a saúde se unirão em torno de uma nova educação que
evidencia a vida e a sua melhor qualidade, pois quando se quer aprender e
109
ESTEVES, Claúdia R. Pedagogia hospitalar: um breve histórico. 2008. Disponível em: http://
www.smec.salvador.ba.gov.br. Acesso em: 09 abr. 2011.
110
ANDRADE, Janaína Cordeiro de. Educação: um direito interrompido? In: MATOS; E.L.M (Org). Escolarização
hospitalar. Educação de mãos dadas para humanizar. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009, p. 118-131.
111
BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Classe Hospitalar e atendimento
pedagógico domiciliar: estratégias e orientações. Brasília, 2002.
77
conhecer, há no ser humano um desejo de viver112. Sendo assim, a presença do
professor nesse momento de fragilidade retoma na criança a confiança
automaticamente, como num passe de mágica a auto estima é recuperada e surge
um estímulo vital que inibe a dor e a tristeza113. Com isso, as ações pedagógicas no
contexto hospitalar contribuem de forma significativa para a auto-estima de crianças
e adolescentes em longos períodos de internação.
A instalação de brinquedotecas nos hospitais é de grande relevância para os
mesmos, já que as brinquedotecas vieram contribuir para um atendimento mais
humanizado, ou seja, trouxeram um espaço que garante aos internos uma viagem
para fora da realidade hospitalar e, desse modo, contribuindo de forma significativa
para a recuperação e bem estar de crianças/adolescentes internados. A instalação
das briquedotecas nos hospitais só foi possível com
a lei nº 11.104 de 2005, que tornou obrigatória a instalação de
brinquedoteca nos hospitais, representa uma conquista no
processo de modificação das estruturas hospitalares, tanto nos
seus aspectos físicos quanto modificações de mentalidades114.
A ludicidade é um aspecto da pedagogia hospitalar de extrema importância
para a educação de crianças e adolescentes internados, pois ela traz a magia das
histórias, dos contos e das brincadeiras. Enfim, é uma ação humanizadora no
contexto hospitalar. Através dos brinquedos, brincadeiras, dos jogos e atividades
lúdicas as crianças vivenciam a internação com mais entusiasmo e se permitem
experimentar novas situações, buscando mecanismos para enfrentar os seus medos
e angústias. Além disso, transforma as internações em momentos de magia
sedativa, brincando e vivendo o seu faz-de-conta, através do ato de leituras,
112
CECCIM, Ricardo Burg. Classe hospitalar: encontros da educação e da saúde no ambiente hospitalar. Porto
Alegre: Pátio, 1999.
113
CASTRO, Marleisa Zanella. Escolarização hospitalar: desafios e perspectivas: In: MATOS; E. L. M. (Org.).
Escolarização hospitalar. Educação e saúde de mãos dadas para humanizar. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009, p. 35 51.
114
SANTIAGO, Renato. Termina prazo para a construção de brinquedotecas em hospitais. Folha de São Paulo.
2005. Disponível em: <http.www.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/vlt95v13304>. Acesso em: 15 maio 2011.
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colagens e montagens, sendo que tudo isso é fundamental para uma melhora
significativa da criança115.
Além desses fatores, os pedagogos, para atuarem no setor de saúde,
precisam estar em constante formação, pois a diversidade que se enfrenta exige
uma dinâmica diferenciada da aplicada em sala de aula116.
Compreende-se assim, como o pedagogo é fundamental na educação das
crianças e adolescentes enfermos, pois ele é que dá o suporte para os internos nos
momentos difíceis, trazendo conhecimentos através dos seus estudos e levando
aprendizados através de sua formação continuada.
MÉTODO
Diante do tema em questão e segundo os objetivos propostos, que abordam o
papel do pedagogo no âmbito hospitalar, sua aceitação junto à equipe de saúde do
Hospital Regional da Asa Sul (HRAS) e também a demanda para a atuação do
pedagogo nos hospitais de Unaí-MG, a pesquisa classificou-se como: Quantitativa,
qualitativa e documental.
Os instrumentos de pesquisa foram questionários aplicados aos profissionais
do HRAS, pais e acadêmicos de enfermagem do Hospital Municipal Dr. Joaquim
Brochado (Unaí) e um questionário destinado à secretária de saúde do município de
Unaí-MG. Nesse caso, as respostas deram subsídios para uma melhor interpretação
sobre a importância atribuída ao pedagogo hospitalar no Hospital Regional da Asa
Sul (HRAS). Analisou-se também como está sendo a atuação do pedagogo no
âmbito hospitalar e suas contribuições junto às equipes de saúde por intermédio de
observação não-participante na classe hospitalar e brinquedoteca do Hospital
Regional da Asa Sul (HRAS).
115
PAULA, Ercilia Maria Angeli Teixeira. et al. O brincar no hospital: ousadia, cuidados e alegria. In: MATOS, E. L.
M. (Org.). Escolarização hospitalar. Educação de mãos dadas para humanizar. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009, p.
135-150.
116
ANDRADE, Janaína Cordeiro de. Educação: um direito interrompido? In: MATOS, E. L. M (Org.). Escolarização
hospitalar. Educação de mãos dadas para humanizar. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009, p. 118-131.
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No contexto dos Hospitais do município de Unaí-MG realizou-se uma
pesquisa documental onde buscou-se informações sobre a demanda dos clientes
dos hospitais, e ainda analisou-se também a importância do pedagogo hospitalar.
RESULTADOS
Primeiramente, analisou-se os dados referentes aos questionários com as
respostas dos acadêmicos de enfermagem que passaram por estágio (realizado em
2010/2011) no Hospital Municipal Doutor Joaquim Brochado de Unaí-MG e dos
profissionais de saúde do Hospital Regional da Asa Sul (HRAS), fazendo um
paralelo entre as respostas dos alunos com as respostas da Secretária de Saúde do
município de Unaí-MG. Posteriormente, foi feita a análise dos dados coletados em
documentos dos hospitais de Unaí-MG, referente ao tempo de internação das
crianças, idade, enfermidade e quantidade de crianças internadas ao mês e da
observação realizada no HRAS.
Os participantes da pesquisa foram: 10 funcionários e 12 pais de
crianças/adolescentes hospitalizados do HRAS, 15 acadêmicos de enfermagem e a
secretária municipal de saúde de Unaí-MG, perfazendo um total de 38
respondentes. A partir das respostas dos funcionários do HRAS e dos acadêmicos
percebeu-se que o pedagogo é importante na educação continuada das crianças e
adolescentes internados, como mostra a Figura 1.
Figura 1 – Relevância do Pedagogo na educação continuada.
Fonte: Dados da pesquisa
80
A presença do pedagogo nos hospitais se faz necessária para garantir ao
aluno enfermo a educação continuada e com a finalidade específica para atender a
certos aspectos de natureza pedagógica117.
O professor é um veículo útil e eficaz que entra como parceiro na relação
entre o ambiente hospitalar, bem como com a família, fazendo uma interação entre
ambos e, com isso, amenizando o sofrimento de todos118. Desse modo, observouse que a presença do pedagogo no hospital é de suma importância para adequar a
educação continuada a um atedimento mais humanizado.
Em relação à Lei nº11. 104 de 2005, que tornou obrigatória a instalação de
brinquedotecas nos hospitais, foi perguntado aos enfermeiros do Hospital Regional
da Asa Sul (HRAS) qual a função delas no ambiente hospitalar. As respostas são
apresentadas no Quadro 1, em que os funcionários são denominados de A, B, C, D,
E, F, G, H, I e J.
Função das brinquedotecas
117
MATOS, Elizete Lúcia Moreira; MUGIATTI, Margarida Teixeira Freitas. Pedagogia hospitalar. A Humanização
integrando educação e saúde. 3. ed. Petrópolis, RJ: Vozes,2009
118
FONSECA, Eneide Simões. Atendimento escolar no ambiente hospitalar. 2. ed. São Paulo: Memnon, 2008.
81
Resposta
Responde
nte
“Agiliza a recuperação, pois proporciona a eles momentos de
A
descontração e alegria”.
B
“Distrair as crianças, interagir, melhorar a estadia da criança no
C
hospital, psicológico e a auto-estima”.
D
“Amenizar a ansiedade das frente ao processo saúde/doença”.
E
“Proporciona um ambiente mais próximo com o da família, diminuindo
F
o estresse, contribuindo para a recuperação do paciente”.
G
“Fazer com que a criança saia um pouco da rotina hospitalar, que é
H
deprimente e volte a realidade de sala de aula, como se sua vida
I
J
continuasse a mesma e para que não perca muito, fora da escola”.
“Ajuda as crianças a superar a internação e manter uma boa
convivência durante o tratamento e interagindo com a equipe e
familiares”.
“Ser conhecido pelas crianças e pais, para que os mesmos busquem
auxilio ou solicite. Proporcionar alegria, satisfação em participar do
processo programado pelo pedagogo. Tornar os dias mais amenos e
aceitáveis bem como entender a necessidade do mesmo”.
“Torná-lo
mais
humanizado
através
de
atividades
lúdicas
pedagógicas, frequentes no cotidiano das crianças e famílias”.
“Atenuar o stresse da criança internada no hospital, através de
atividades onde ela possa ter contato com outras crianças num
determinado período do dia. Ajuda na recuperação”.
“É a de promover entretenimento e um momento de lazer. Deveria
haver uma maior separação entre as atividades de classe hospitalar
que incentivam o1 - acompanhamento pedagógico”.
Quadro – Função das brinquedotecas.
Fonte: Dados da pesquisa.
82
Visto que o brincar é extremamente importante na vida da criança em um
momento de extrema fragilidade imposta pela internação, as brincadeiras e o espaço
destinado a elas tornaram-se vitais para a recuperação de crianças e adolescentes.
Dessa necessidade é que surgiu a Lei 11.104 que garante esse direito, e dispõe no
primeiro e segundo artigo, sobre essa obrigatoriedade:
Art. 1º Os hospitais que ofereçam atendimento pediátrico
contarão, obrigatoriamente, com brinquedotecas nas suas
dependências.
Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo aplica-se a
qualquer unidade de saúde que ofereça atendimento pediátrico
em regime de internação.
Art. 2º Considera-se brinquedoteca, para os efeitos desta Lei, o
espaço provido de brinquedos e jogos educativos, destinado a
estimular as crianças e seus acompanhantes a brincar119.
Em relação a essa questão a secretária de saúde de Unaí-MG respondeu que
“a brinquedoteca é um mecanismo importantíssimo no entretenimento das crianças
tanto internados quanto na sala de espera. Em internações prolongadas os
benefícios são bem maiores, porém não temos esse tipo de internação ainda as
crianças permanecem de 2 a 3 dias apenas internadas”.
Independente do tempo que a criança está fora da escola, sejam dois dias,
um mês, um ano, tal ausência irá afetar direta ou indiretamente seu desenvolvimento
escolar120. Mesmo sendo poucos dias, a criança enferma também precisa que o seu
processo de educação não seja interrompido, embora essa educação necessite de
adaptações, por a mesma acontecer em um ambiente diferente do escolar é
primordial que o processo de escolarização não seja prejudicado.
119
120
BRASIL, 2006. Estatuto da criança e do adolescente. Lei federal nº: 8069/90, 13 de julho de 1990.
ANDRADE; Janaína Cordeiro de. Educação: um direito interrompido? In: MATOS; E.L.M (org). Escolarização
hospitalar. Educação de mãos dadas para humanizar. Petrópolis; RJ: Vozes, 2009 p. 118 a 131.
83
Foi perguntado aos respondentes se eles diriam que o pedagogo tem boa
aceitação dentro dos hospitais pelos outros profissionais da saúde. Com relação a
esse questionamento chegou-se às respostas apresentadas na Figura 2.
Figura 2 – Aceitação do pedagogo.
Fonte: Dados da pesquisa
Com o processo de humanização hospitalar percebeu-se que mais que
medicamentos e tradicionais procedimentos médicos, os enfermos precisam de um
outro tipo de atendimento para melhorar a estadia no hospital121, ou seja, na
concepção desse autor, não apenas remédios e atenção médica é suficiente, outros
procedimentos como, por exemplo, os humanizadores são igualmente importantes.
No que se refere ao mesmo questionamento a Secretária de Saúde do
município de Unaí-MG
relatou que “já houve a participação de pedagogos no
hospital municipal” e segundo a mesma “esses profissionais tem boa aceitação,
principalmente por parte dos pacientes”. Sendo assim, compreende-se que apesar
121
PAULA; Ercilia Maria Angeli Teixeira. et al. O brincar no hospital: ousadia, cuidados e alegria: In: MATOS;
Elizete Lúcia Moreira. (Org.). Escolarização hospitalar. Educação de mãos dadas para humanizar. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2009, p. 135-150.
84
das internações no hospital municipal não ser por períodos longos, a participação
dos pedagogos e suas atividades pedagógicas tem boa aceitação pelos internos.
Foi perguntado à Secretária se existem verbas para o hospital manter
despesas com materiais didáticos e custos com profissionais da educação hospitalar
e brinquedotecas, ela respondeu que “apenas parcialmente”. Nesse sentido,
mediante a pesquisa documental a pesquisadora verificou que a brinquedoteca
móvel do hospital foi uma doação de uma parceria entre o Governo Federal e a
Compania Energética de Minas Gerais – CEMIG.
Na opinião dos pais sobre como a frequência na brinquedoteca afeta o
comportamento de seus filhos, verificou-se que a maioria deles acredita que o
comportamento muda para melhor. As respostas de 11 pais, que respectivamente,
são denominados de A, B, C, D, E, F, G, H, I, J e K, podem ser visualizadas no
Quadro 2.
Reflexos da brinquedoteca no comportamento das crianças/adolescentes
hospitalizados
Respondente
Resposta
A
“Ele sai da rotina e também ajuda o tempo passar mais rápido.
B
C
D
E
F
G
H
I
Também brinca e sorri com os outro internos do hospital e ajuda a
atualizar nas atividades escolares”.
“Eu acho que ajuda muito na recuperação dele, ajuda a esquecer
que está em um hospital, ele fica muito feliz quando está brincando
na brinquedoteca”.
“Desenvolve a coordenação dele e o ensina a interagir com outras
pessoas”.
“ Ela fica menos estressada, é muito importante a brinqedoteca”.
“Ele fica muito mais alegre e as vezes esquece que está internado”.
“Ajuda muito porque o clima de um hospital é muito pesado e para
85
J
uma criança um lugar diferente com um clima no qual não parte de
um hospital ajuda na recuperação, na interação e troca de
K
experiência co as outras crianças”.
“ A criança fica mais disposta e mais alegre porque está brincando”.
“ Ele fica mais caumo e tranquilo”.
“Aprende a compartilhar com os outros coleguinhas, se diverte,
ajuda até a melhorar o humor, fica mais feliz e ajuda também a
acalmar a mamãe”.
“Ela fica mais e até se comporta bem para poder ir para lá”.
“Faz ele se animar, tira ele da tristeza e perder o medo de sair da
cama e andar, ele se sente muito melhor”.
Quadro
2
–
Reflexos
da
brinquedoteca
no
comportamento
das
crianças/adolescentes hospitalizados.
Fonte: Fonte da pesquisa.
A internação para as crianças é um momento de extrema sensibilidade, de
medo e angústia, pois elas passam por procedimentos invasivos e dolorosos, assim
sentem-se mais amparadas com as atividades da classe hospitalar e a presença do
pedagogo122.
A observação não participante foi realizada entre os dias 08 e 11 de
Novembro de 2011, no Hospital Regional da Asa Sul (HRAS), nos períodos de 8:00
às 12:00 e de 13:00 às 17:00 horas, totalizando 24 horas. O Hospital Regional da
Asa Sul possui uma sala denominada de Classe Hospitalar/brinquedoteca – CHB
com uma área aproximada de 15 m², com dois computadores, uma TV com vídeo
game, um armário com vários livros. A mesma conta com o atendimento de três
pedagogas, porém no momento da pesquisa apenas uma estava trabalhando, pois
duas encontravam-se afastadas do trabalho por problemas de saúde, esse fator
122
BOTELHO, Simone Simões. A afetividade na ação pedagógica no contexto hospitalar. In: AROSA, A. C. (Org.) A
escola no hospital. Espaço de experiências emancipadas. Niterói, RJ: Intertexto, 2007, p.117- 131.
86
limitou o funcionamento da CHB, pois por vários momentos ela teve que ser fechada
quando a pedagoga precisou ir ao médico.
Observou-se que a higienização da sala é feita por uma profissional
específica da limpeza todos os dias, e para conservar o espaço organizado no final
do dia a pedagoga guarda todos os objetos usados em armários.
É preciso manter a limpeza dos materiais didáticos e lúdicos utilizados com as
crianças enfermas, evitando assim, o acúmulo de poeira e resíduos. Esse cuidado
com a limpeza é importante não apenas para evitar riscos a saúde, mas para tornar
o ambiente acolhedor, agradável e convidativo à participação dessas crianças nas
atividades desenvolvidas na sala classe e brinquedoteca do hospital123.
O atendimento da CHB segue uma rotina onde todas as crianças são
registradas em um livro com o objetivo de identificar se o aluno é da rede pública,
pois ele tem prioridade no atendimento. Através desses dados é feito contato com a
escola de origem do aluno e os pais ficam responsáveis em trazer documentos e os
conteúdos trabalhados pela escola. Uma diversidade de acontecimentos (momento
de exames, de medicação, mãos imobilizadas pelo soro etc.) se junta com a rotina
de atividades da escola dentro do hospital. Essas situações precisam ser superadas
com dinamismo por parte dos professores para que seus alunos enfermos tenham
desempenho frente às atividades em desenvolvimento na sala de aula hospitalar124.
Percebeu-se durante as observações que existem dificuldades em trabalhar
as atividades escolares na brinquedoteca, sendo necessário separar a classe do
local de brincar. Segundo a pedagoga as crianças que não podem ir à CHB são
atendidas no próprio leito, porém durante a observação não houve esse tipo de
atendimento.
As pedagogas da CHB são cedidas pela Secretaria de Educação do Distrito
Federal e esse ambiente tem funcionamento garantido através de doações e
realizações de rifas para a compra de jogos e materiais. Há também o Projeto Mãos
de Mãe que é uma oficina de costura com duas artesãs profissionais ensinando as
mães artesanatos, isso evita que as mães fiquem com tempo ocioso quando os
123
FONSECA, Eneide Simões. Atendimento escolar no ambiente hospitalar. 2. ed.São Paulo: Memnon, 2008.
124
FONSECA, Eneide Simões. Atendimento escolar no ambiente hospitalar. 2. ed. São Paulo: Memnon, 2008.
87
filhos estão na UTI e não podem ficar acompanhados. Desse trabalho são geradas
peças que são vendidas e a renda é revestida para melhorias no hospital. Não foi
possível saber quanto tempo a CHB já funciona no hospital, pois a pedagoga
acompanhada trabalha no hospital há apenas dois anos e não tinha esses dados
disponíveis no momento da pesquisa. As três pedagogas da CHB possuem
formação em pedagogia e as duas que estavam licenciadas nos dias da pesquisa
participaram de treinamento em pedagogia hospitalar.
Assim, o trabalho das pedagogas é de extrema importância, pois está voltado
para o atendimento da brinquedoteca proporcionando lazer, alegria e interação entre
as crianças e professores. A observação não participante possibilitou à imersão em
um ambiente mágico dentro de uma instituição de saúde. Nesse ambiente as
crianças podem amenizar um pouco de seu sofrimento através de atividades lúdicas
promovidas pela pedagoga. Porém, mudanças no funcionamento da CHB podem
melhorar o atendimento às crianças. Seriam elas: Ampliação da sala com a
construção de banheiros, participação dos profissionais juntos às crianças que se
encontram em seus leitos e maior interação do pedagogo com as crianças durante a
execução das atividades.
Com relação à pesquisa documental foi possível constatar que o número de
internações infantis nos hospitais de Unaí-MG é variado com uma média de poucos
dias de internação, porém esses dados não excluem totalmente a necessidade das
intervenções pedagógicas e a presença do pedagogo em alguns desses hospitais,
visto que o trabalho desses profissionais da educação já é reconhecido e admirado
no âmbito hospitalar pelos profissionais da saúde.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo investigou como é a aceitação dos profissionais de saúde,
dos familiares das crianças e dos adolescentes hospitalizadas no Hospital Regional
da Asa Sul (HRAS) em relação aos pedagogos hospitalares e investigar o trabalho
do pedagogo no Hospital Regional da Asa Sul (HRAS) e um possível trabalho do
pedagogo nos hospitais de Unaí-MG.
A pedagogia hospitalar teve seu início devido uma falha da saúde com
crianças/adolescentes em longos períodos de internação, pois eles eram vistos
apenas como corpos doentes e, desse modo, eram tratados sem o direito à
88
educação continuada, portanto, negando-lhes o direito a momentos de lazer e
descontração nas brinquedotecas hospitalares e principalmente o direito à
educação. Diante disso, esta investigação apresenta algumas conclusões:
• Os profissionais da saúde já reconhecem os benefícios de contarem com a
presença do pedagogo nos hospitais e a relevância das atividades
pedagógicas desenvolvidas por eles e ainda ressaltam a importância desses
profissionais para atuarem nas brinquedotecas hospitalares.
• O
estudo
nos
hospitais
de
Unaí-MG
mostrou
que
o
índice
de
crianças/adolescentes internados ainda é pequeno para a exigência de uma
sala classe de educação continuada, no entanto, esse fato não exclui a
importância da presença do pedagogo em alguns hospitais do município, pois
eles poderiam estar atuando nas brinquedotecas e realizando atividades de
entretenimento nas salas do pronto socorro e laboratório do hospital
municipal.
• A aceitação do pedagogo pelos familiares de crianças/adolescentes
internados no Hospital Regional da Asa Sul (HRAS) é total, pois eles sentemse confortados e seguros por poderem contar com atendimento desses
profissionais em momentos tão dolorosos em suas vidas. O pedagogo é
aceito e respeitado pelas equipes de saúde, sendo preservados seus horários
de estar com as crianças/adolescentes, bem como, sua interação junto da
equipe de saúde.
Foi observado na literatura que a pedagogia hospitalar vai além de uma
hospitalização escolarizada, o profissional dessa área presta um atendimento de
amor a criança/adolescente enferma gerando expectativa e esperança desse modo,
contribuindo de forma significativa para a melhora física e psicológica dos pacientes.
Portanto, o estudo reafirma a importância da atuação do pedagogo nas
equipes de saúde, bem como as atividades pedagógicas realizadas por eles nas
brinquedotecas e salas classes hospitalares, mostra também a importância de
ampliar esse atendimento nos hospitais do Brasil, já que esse ramo da educação
ainda é pouco conhecido. Ainda há muito que se estudar sobre a pedagogia
hospitalar, pois esse é ainda um tema que precisa ser divulgado e pesquisado
necessitando abrir mais esse campo da pedagogia para pesquisa.
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Enfim, pode-se concluir que o presente estudo traz várias informações sobre
a aceitação e atuação do pedagogo nas equipes de saúde, desse modo servindo
como ponto de partida para novas pesquisas.
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