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TRACOMA: ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO DE ESCOLAS NO MUNICÍPIO DE BOA
VISTA- RORAIMA
MARCELA PRADO AGUI AR 1
J ANAINA DORNELES MAHLKE 2
RESUMO
Esta pesquisa visa identificar os aspectos epidemiológicos de Tracoma em duas
escolas no município de Boa vista-Roraima. Realizou-se uma pesquisa exploratória
através de dados fornecidos pela Secretaria de Saúde pelo programa Saúde Ocular,
no qual foram notificados no total 239 casos de tracoma no segundo semestre de
2012. O maior índice identificado de tracoma foi em crianças. Após a confirmação da
doença foi feito o tratamento com o uso de azitromicina dose única oral, e
posteriormente o acompanhamento com 6 e com 12 meses após o início do
tratamento. A prevalência do tracoma nas escolas em Roraima vem crescendo, e
isso se deve ao baixo índice socioeconômico, á falta de saneamento básico e aos
maus hábitos de higiene.
Palavras-chave: Tracoma, Escola, Roraima, Epidemiologia.
ABSTRAT
This research aims to identify the epidemiology of trachoma in two schools in the city
of Boa Vista, Roraima. We conducted an exploratory study using data provided by
the Department of Health for Eye Health program, which were reported in total 239
cases of trachoma in the second half of 2012. The highest rate was identified
trachoma in children. After confirmation of disease the treatment was made using
single oral dose of azithromycin, and thereafter monitoring at 6 and 12 months after
initiation of treatment. The prevalence of trachoma in schools in Roraima is growing,
and this is due to the low socioeconomic index, to lack of sanitation and poor
hygiene.
Keywords: Trachoma School, Roraima, Epidemiology
1 INTRODUÇÃO
O tracoma é uma ceratoconjuntivite bacteriana crônica e recidivante causada
pela Chlamydia trachomatis (sorotipos A, B, Ba e C) que costuma afetar crianças
1
Graduanda
Curso
de
farmácia
(Faculdade
Cathedral)
R.A:
25737.
E-mail:
[email protected]
2
Professora Orientadora Mestre em Ciências Farmacêuticas pela UFSM-RS. Pertencente ao departamento
de Farmácia da Faculdade Cathedral
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desde os primeiros meses de vida; acarreta de forma lenta: cicatrização conjuntival,
entrópio, triquíase, opacidade corneana, olho seco e cegueira no adulto. Geralmente
sua transmissão ocorre dentro do ambiente doméstico, de forma direta (olho para
olho ou mãos contaminadas) ou indireta (vestuários e proliferação de moscas).
(LUCENA et al,2004). A ocorrência do tracoma no mundo atualmente restringe-se
quase que exclusivamente às populações dos países subdesenvolvidos com baixo
índice socioeconômico e á falta de saneamento básico.
A doença chegou ao Brasil pela colonização e imigração européias. A partir
do século XVIII, no Nordeste, com a deportação dos ciganos, estabelecendo-se o
“foco do Cariri” no interior do ceará. No final do século XIX, os focos surgiram nos
Estados de São Paulo e Rio Grande do Sul, expandindo-se para outras regiões.
Há uma perspectiva da Organização Mundial de Saúde de erradicação do
tracoma até o ano de 2020 com o programa chamado “SAFE 2020”, representando
pelo combate á transmissão do tracoma e suas consequências: Surgery (cirurgia
para correção de triquíase), Antibiotics (antibióticos para tratamento), Facial
Cleanilness (limpeza das mãos e do rosto) e Environmental Improvement (melhoria
ambiental) (RENATO et al,2009).
Esta pesquisa tem como objetivo avaliar a epidemiologia de casos de tracoma
em duas escolas do Município de Roraima no segundo semestre de 2012.
2 MANIFESTAÇÃO DA DOENÇA
A doença tem duas fases e cinco formas clínicas:
1- Fase inflamatória (transmissível) dividida em:
1.a- Tracoma Inflamatório Folicular – TF: Quando estão presentes no
mínimo 5 folículos (formação arredondadas e mais claras) como pelo menos 0,5 mm
de diâmetro, na conjuntiva da pálpebra superior do olho em sua região central.
1.b- Tracoma Inflamatório Intenso – TI: Quando ocorre espessamento da
conjuntiva da pálpebra superior que se apresenta enrugada e avermelhada, não
permitindo a visualização de mais de 50 % dos vasos profundos.
2- Fase sequelar :
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2.a- Tracoma Cicatricial- TS: Quando se encontram presentes cicatrizes na
conjuntiva da pálpebra superior. A conjuntiva tem uma aparência esbranquiçada,
fibrosa com bordas retas, angulares ou estreladas.
2.b- Triquíase Tracomatosa –TT: Quando pelo menos um dos cílios atrita o
globo ocular, ou quando há evidências de remoção recente de cílios invertidos,
associados á presença de cicatrizes na conjuntiva da pálpebra superior.
2.c- Opacificação Cornena – CO de origem tracomatosa: quando ocorre um
obscurecimento de pelo menos uma parte da borda da pupila.
3 TRANSMISSÃO
Se dá pelo contato direto, de olho a olho ou indireto, através de objetos
contaminados ( toalhas, fronhas, lençóis , borracha, lápis). Alguns insetos como a
mosca domésticas (Musca domestica) e ou lambe-olhos (Hippelates sp) podem
atuar como vetores mecânicos. A transmissão só ocorre na fase ativa da doença. O
período de incubação após o contato direto ou indireto é de 5 a 12 dias. O principal
reservatório do agente etiológico na população onde ocorre uma endemia do
tracoma são as crianças com até 10 anos de idade, elas são mais susceptíveis,
inclusive para as reinfecções.
4 DIAGNÓSTICO
O diagnóstico geralmente é feito através do exame oftalmológico externo,
utilizando lupa binocular de 2,5 vezes de aumento. Ao examinar o olho para
diagnóstico do tracoma deve-se, inicialmente, observar a pálpebra, cílios, conjuntiva
e a córnea de ambos os olhos. O diagnóstico clínico do tracoma baseia-se na
verificação da presença ou ausência de cinco sinais-chave: inflamação tracomatosa
folicular - TF, inflamação tracomatosa intensa – TI, cicatrização conjuntival
tracomatosa - TS, triquíase tracomatosa – TT, opacificação corneana - CO.
Nas clínicas inflamatórias do tracoma (TF e TI) os sintomas mais comuns são:
lacrimejamento,
sensação
de
corpo
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estranho
no
olho,
discreta
fotofobia
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(sensibilidade à luz), prurido e sinais de secreção purulenta, em pequena
quantidade.
5 TRATAMENTO
O objetivo do tratamento é a cura da infecção, com a consequente interrupção
da cadeia de transmissão da doença.

Tratamento Tópico: Tetraciclina a 1% - pomada oftálmica usada duas vezes
ao dia durante seis semanas;
Sulfa - colírio usado quatro vezes ao dia durante seis semanas.

Tratamento Sistêmico: Tratamento seletivo com antibiótico sistêmico via oral:
indicado para pacientes com Tracoma intenso (TI) ou casos de TF ou TI que
não respondam bem ao medicamento tópico. Deve ser usado com critério e
acompanhamento médico devido às possíveis reações adversas.
-Azitromicina Suspensão – dose de 20 mg por Kg de peso, em dose única
oral para pessoas menores de 12 anos idades
-Azitromicina Comprimido – 1 grama em dose única oral para pessoas igual
ou maiores de 12 anos.
O Ministério da Saúde regulamentou o uso do azitromicina para o tratamento
do tracoma, conforme Portaria GM/MS nº 67, de 22 de dezembro de 2005.
Tratamento em massa
A OMS orienta a utilização de tratamento sistêmico, em massa, quando as
prevalências de tracoma inflamatório (TF e/ou TI), em crianças de 1 a 9 anos de
idade, são maiores ou iguais a 10% em localidades, territórios, comunidades e
distritos.
Tratamento cirúrgico
Os casos de entrópio ou de triquíase tracomatosa (TT) devem ser
encaminhados para serviços de referência oftalmológica, para a correção cirúrgica.
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Todos os casos de opacidade corneana (CO) devem ser encaminhados a um
serviço de referência oftalmológica e ter avaliada sua acuidade visual.
Além do tratamento medicamentoso, são fundamentais as medidas de
promoção da higiene pessoal e familiar, tais como a limpeza do rosto, o destino
adequado do lixo, disponibilidade de água e saneamento.
Proporção de crianças de 9 a 12 anos
Tratamento sistêmico
Tracoma inflamatório folicular (TF) >10%
Tratamento em massa
<10% de tracoma folicular (TF)
Individual ou familiar
Quadro 1: Estratégia de tratamento, indicada segundo a proporção de crianças (de 1 a 9
anos), com tracoma inflamatório na comunidade a ser trabalhada.
Controle do tratamento
Todos os casos positivos de tracoma inflamatório (TF/TI) devem ser
examinados aos 6 e aos 12 meses após o início do tratamento.
Critérios de alta
• A alta clínica do caso ativo ocorre quando transcorridos 6 meses após o
início do tratamento, quando não se evidenciam sinais clínicos do tracoma
inflamatório (TF/TI).
• A alta curada sem cicatrizes ocorre quando, após 12 meses de início do
tratamento não se evidenciam sinais clínicos do tracoma inflamatório – TF/TI. O
critério para encerramento do caso é o da alta curado sem cicatrizes, situação em
que o caso sai do sistema de informação.
• Indivíduos que apresentam formas clínicas sequelares – TS, TT e/ou CO
sempre serão casos positivos de tracoma e permanecem em registro no sistema de
informação.
6 MÉTODO
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Foi realizada uma pesquisa exploratória baseada em dados fornecidos pela
Vigilância em saúde – SINANNET( Sistema nacional de agravos e notificações on
line), dos casos de tracoma notificados no segundo semestre de 2012 em duas
escolas do município de Boa vista.
São
feitos
inquéritos
escolares
onde
são
examinados
os
alunos,
comunicantes (servidores) e os contatos (parentes, pessoas que moram na mesma
residência) dos alunos que estão com tracoma. A equipe de Saúde faz um mutirão
onde o exame oftalmológico foi realizado nas escolas, por profissionais capacitados
pelo Ministério da Saúde. No primeiro,segundo e terceiro dia do mutirão são
examinados os alunos e comunicantes, no quarto dia é feito o tratamento dos
contaminados e o diagnóstico dos contatos, e no quinto dia tratamento dos contatos.
O diagnóstico foi feito através do exame oftalmológico externo, utilizando
lupa binocular de 2,5 vezes de aumento. O diagnóstico clínico do tracoma baseia-se
na verificação da presença ou ausência de inflamação tracomatosa folicular - TF,
inflamação tracomatosa intensa – TI, cicatrização conjuntival tracomatosa - TS,
triquíase tracomatosa – TT, opacificação corneana - CO.
7 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Das
1017
pessoas
examinadas
nas
duas
escolas,
239
estavam
contaminadas. A prevalência da doença de acordo com os inquéritos escolares é
maior na faixa etária de 5 a 9 anos, com 121 casos, em segundo lugar de 10 a 14
anos com 80 casos, em terceiro lugar de 30 a 39 anos com 13 casos, em quarto
lugar de 20 a 29 anos com 11 casos( Figura 1). Isto confirma que as crianças são
importantes fontes de infecção ativa e mais suscetíveis, inclusive às reinfecções,
porém não somente elas, adultos com infecção ativa também são reservatórios do
agente etiológico.
Dos 239 casos, Duzentos e vinte e sete tiveram TF, Três tiveram TI, Três
tiveram TS, Três tiveram TF e TS, dois tiveram TI e TS e um teve TI e TF ( Figura 2).
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Faixa Etária - 2012
140
120
100
80
60
40
20
0
1a4
5a9
10 a 14
15 a 19
20 a 29
30 a 39
1a4
5a9
10 a 14 15 a 19 20 a 29 30 a 39 40 a 49 50 a 59
Figura 1 - Faixa Etária do segundo Semestre de 2012 das Notificações.
Tipos de Tracoma
250
TF
200
TI
150
TS
100
TF + TS
50
TF + TI
0
TI + TS
TF
TI
TS
TF + TS
TF + TI
TI + TS
Figura 2 – Tipos de tracoma infectado no segundo semestre de 2012
As duas escolas fizeram tratamento em massa, pois apresentaram em cada
sala cerca de mais de 10 % positivo, ou seja, todos foram tratados: os alunos,
comunicantes e contatos.
Foram realizados duas lâminas imunofluorescência com amostra da bactéria
em ambiente escolar e enviada para o LACEM .
Para prevenir o aparecimento de novos casos, é fundamental conscientizar a
população através de ações educativas destinadas á promoção da saúde,
prevenção e controle da doença, articulação com setores de saneamento básico,
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educação e habitacional para garantir melhorias nas condições de vida, habitação,
acesso ao abastecimento de água e saneamento básicos.
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Caderno de Atenção Básica Vigilância e Saúde –
Dengue, Esquistossomose, Hanseníase, Malária, Tracoma e Tuberculose. 2º Edição
revisada.Brasília – DF, 2008.
ISHAK, Marluísa de Oliveira Guimarães; ISHAK, Ricardo. O IMPACTO DA
INFECÇÃO POR CHLAMYDIA EM POPULAÇÕES INDÍGENAS DA AMAZÔNIA
BRASILEIRA. Rio de Janeiro, 2001.
LUCENA, Abrahão da Rocha; CRUZ, Antônio Augusto Velasco e,CAVALCANTI,
Ronald. ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO DO TRACOMA EM COMUNIDADE DA
CHAPADA DO ARARIPE - PERNAMBUCO – BRASIL. Pernambuco, 2004.
FERRAZ, Lucieni Cristina Barbarini; SCHELLINI, Silvana Artioli; PADOVANI, Carlos
Roberto; MEDINA, Norma Helen; DALBEN, Ivete. TRACOMA EM CRIANÇAS DO
ENSINO FUNDAMENTAL NO MUNICÍPIO DE BAURU - ESTADO DE SÃO
PAULO, BRASIL.
DAMASCENO,Renato Wendell Ferreira; SANTOS, Rodrigo Ribeiro; CAVALCANTI,
Thiago Rodrigues Tavares, HIDA,Richard Yudi; SANTOS, Mario Jorge; SANTOS,
Andrea Maria Cavalcante; DANTAS, Paulo Elias Correa. TRACOMA: ESTUDO
EPIDEMIOLOGICO DE ESCOLARES EM ALAGOAS – BRASIL. Junho, 2009.
VIGNERON,Deborah
Filgueiras
de
Menezes;
MENEZES,
Sarah
Filgueiras;
MENEZES, Maria do céo Filgueiras; SAMPAIO, Vitor Luna; BRANDT,Carlos
Teixeira. ESTUDO EPIDEMIOLOGICO DO TRACOMA EM COMUNIDADE DA
REGIAO DO CARIRI CEARÁ – BRASIL. Recife, 2007.
Manual de Controle do Tracoma Brasília/ Elaborado por Oswaldo Monteiro de
Barros...[et al]. – Brasília: Ministério da Saúde: Fundação Nacional de Saúde, 2001.
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Boa Vista, n. 02, 2013
SCHELLINI, Silvana Artioli and SOUSA, Roberta Lilian Fernandes de. TRACOMA:
AINDA UMA IMPORTANTE CAUSA DE CEGUEIRA. Rev. bras.oftalmol. [online].
2012, vol.71, n.3, pp. 199-204.
CHINEN, Nilton Harunori et al. ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS E OPERACIONAIS DA
VIGILÂNCIA E CONTROLE DO TRACOMA EM ESCOLA NO MUNICÍPIO DE SÃO
PAULO, BRASIL. Epidemiol. Serv. Saúde [online]. 2006, vol.15, n.2, pp. 69-75.
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