ERRO HUMANO NA MANUTENÇÃO Eduardo de Santana Seixas
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ERRO HUMANO NA MANUTENÇÃO Eduardo de Santana Seixas
ERRO HUMANO NA MANUTENÇÃO Eduardo de Santana Seixas Consultor da Reliasoft Brasil Resumo Avaliar ou predizer o potencial de erro humano é um problema complicado, difuso e ambíguo. Sabemos que o homem e seus equipamentos são imperfeitos e sujeitos a “desvios” inesperados de sua função pretendida. Uma preocupação constante na área de manutenção está relacionada com os possíveis “erros humanos” que podem ocorrer a qualquer instante durante o desenvolvimento das atividades pelas equipes de manutenção. O resultado desses erros a curto, médio ou longo prazo conduz a falhas cujos efeitos podem ser catastróficos para a instalação. O Prof. Kennethy L. Carper, da Washington State University, coloca que: uma seqüência de pequenos erros humanos quando combinados com problemas técnicos elementares podem conduzir a catástrofes inimagináveis. O principal objetivo deste trabalho é buscar a conscientização e ampliar o nível de discussão para os aspectos do erro humano na manutenção (manutenção corretiva, manutenção preventiva, manutenção preditiva, inspeções, calibração, laboratório, testes, treinamento, ...). Introdução As falhas dos equipamentos podem ter sua origem devido a diversos problemas, tais como: erro de projeto, programas de manutenção inadequados, postergação da manutenção, treinamento inadequado (operadores e/ou mantenedores), pressão do cliente, pressão da concorrência, especificação dos componentes, erro de instalação e/ou montagem, estado da arte,... . As perdas, oriundas das falhas, podem ser negligentes ou catastróficas (acidentes e desastres). A manutenção tem uma grande responsabilidade no que se refere a evitar que falhas ocorram nos equipamentos, principalmente aquelas que envolvem a segurança dos sistemas. A disponibilidade e desempenho dos equipamentos deve ser mantida a um custo compatível com os objetivos da empresa. Isto só é obtido se desenvolvermos uma mentalidade, dentro da área de manutenção, que não basta apenas corrigir um evento “falha”, mas também analisar as possíveis causas que deram origem a este evento. Devemos nos lembrar que as pequenas falhas de hoje, podem trazer grandes problemas amanhã, se não forem eliminadas ou seu efeito minimizado. Falha de Equipamentos É definida como “o término da capacidade de um item para desempenhar sua função requerida - BS Maintenance Glossary”. Um equipamento pode falhar e provocar a imediata paralisação de um sistema, pode apresentar uma redução de seu desempenho ou pode ser retirado do serviço devido a um erro operacional. Na verdade, qualquer uma destas três situações, deverá ser analisada para identificar as possíveis causas que conduziram a esta situação. As falhas podem ser classificadas de diversas maneiras, isto é: repentina ou gradual, completa ou parcial, intermitentes ou permanentes, perigosas ou seguras, prematuras, aleatórias, dependentes do tempo,... e estas podem ser devido a diversos fatores, tais como: corrosão, fadiga, superaquecimento, altos esforços, desgaste acelerado,... . A Situação Atual dos Sistemas Os sistemas têm se tornado cada vez maiores e mais complexos. Sua operação e manutenção, por sua vez, depende cada vez mais de pessoal bem capacitado e treinado para que possa conduzir as diversas atividades necessárias para mantê-los operando com alto grau de disponibilidade, segurança e ao menor custo possível. As implicações de ordem organizacional e gerencial muitas vezes podem comprometer a segurança das instalações, assim como, os problemas de ordem psicológica, fisiológica e física presentes na operação e manutenção dos equipamentos. A moderna tecnologia alcançou um ponto onde o melhoramento da segurança somente pode ser obtido através do melhor entendimento dos mecanismos do erro humano (Reason – Human Error - 12a. ed. – Cambridge University Press – USA - 2002). Podemos observar que mesmo diante do grande aumento das técnicas de automação, da informática, das tecnologias de proteção, … nas indústrias e outras organizações é impossível eliminar o envolvimento do elemento humano na operação e manutenção dos sistemas e, portanto, erros humanos são passíveis de acontecer. Fator Humano O bom desempenho dos equipamentos somente é atingido quando estes são operados e mantidos de maneira adequada. Para que os equipamentos atinjam sua máxima capacidade produtiva as pessoas responsáveis pela operação e manutenção devem ser efetivos nas suas atribuições. Os aspectos de confiabilidade e mantenabilidade dos equipamentos podem ser afetados devido aos possíveis “erros humanos” que podem ser cometidos durante a manutenção e operação dos equipamentos. A mantenabilidade (detectar, localizar, isolar, reparar e testar) depende das ações de todo pessoal envolvido. Neste contexto, toda engenharia voltada para o aspecto Fator Humano, deve se fazer presente quando do desenvolvimento, projeto, fabricação, operação e manutenção dos equipamentos. Quando não se considera o “Fator Humano” em todas as fases de um sistema, sérios problemas operacionais e de manutenção podem ocorrer. Alguns aspectos de comportamento, típicos dos elementos humanos, devem ser considerados quando da operação e manutenção de novos equipamentos e sistemas, tais como: • • • • • • • • • • As pessoas geralmente desenvolvem suas atividades enquanto pensam em outras coisas. As pessoas tendem usar suas mãos para efetuar testes, inspeções e exames. As pessoas geralmente são impacientes no que diz respeito ao tempo necessário para observar as precauções. As pessoas, em geral, não lêem as instruções e etiquetas de modo correto ou não prestam a devida atenção. Após o desempenho de um procedimento as pessoas não checam seu trabalho para identificar possíveis erros. As pessoas, em geral, respondem irracionalmente em situações críticas ou emergenciais. As pessoas geralmente são relutantes em admitir erros. As pessoas, com o passar do tempo, tornam-se desatenciosas no manuseio de equipamentos e ferramentas. As pessoas relutam em admitir que não podem ver objetos claramente devido à baixa iluminação ou problemas visuais. Pessoas geralmente erram ao estimar distâncias e velocidades. Em dois estudos efetuados na década de 70 e 80 em usinas nucleares observou-se que 42% e 52%, respectivamente, das ocorrências que provocaram paralisação da usina eram devido ao problema de desempenho humano. As outras categorias foram falhas de componentes, deficiência de projeto, problemas de fabricação, eventos externos e problemas de documentação. A manutenção deve considerar os aspectos relacionados ao efeito ambiente sob qual um indivíduo deverá desempenhar suas funções. Fatores, tais como, temperatura, iluminação, umidade, circulação de ar, … podem seriamente afetar a capacidade de reparo. São três os “fatores ambientais” que podem afetar a capacidade dos elementos presentes nas diversas atividades de manutenção, a saber: o ambiente local, o ambiente físico e o ambiente humano. Físico Ruído, Temperatura, Vibração, Vento, Pressão. Umidade, Poeira, Gases, Radiação, … . Humano Limitações e capacidades psicológicas, físicas e fisiológicas. Fatores Ambientais Local de Trabalho Iluminação, Ventilação, Tempo da Atividade, Hora do Dia, Arranjo Físico dos Equipamentos, Área de Trabalho, ... Confiabilidade Humana Alguns especialistas acreditam que enquanto a nossa tecnologia está aumentando a “confiabilidade dos equipamentos” a “confiabilidade dos elementos humanos” presentes na operação e manutenção dos equipamentos está diminuindo. Observa-se que, em muitos acidentes, a “tecnologia” enche o operador de informações que ele não precisa e o impede de obter informações que ele precisa conhecer. A tecnologia aplicada ao processo de gerenciamento operacional e de manutenção não contém, e não pode conter, todas as checagens e ponderações requeridas pelo “elemento humano” para detectar e corrigir todos os possíveis erros (ativos e latentes). Outro fator crítico associado a erros, cometidos pelo pessoal de operação e manutenção, é a “fadiga/stress”. O risco de acidentes é real quando as pessoas executam suas atividades num estado de fadiga. Todos sabem que a confiabilidade dos equipamentos pode ser afetada pelas pessoas que operam e fazem manutenção sobre eles, mas a grande dificuldade está na identificação de práticas e procedimentos gerenciais para identificar e corrigir as causas raízes destes problemas. “Confiabilidade Humana” é definida como a probabilidade que um trabalho ou tarefa será completada com sucesso por uma pessoa, em qualquer estágio da operação e/ou manutenção, dentro de um intervalo de tempo mínimo requerido. Em diversos trabalhos de confiabilidade e risco, freqüentemente, é indicado a Probabilidade de Erro Humano – PEH. Diversos estudos foram, e continuam sendo, desenvolvidos para quantificar a “taxa de erro humano”. Como vimos anteriormente, diversos fatores podem afetar essas taxas. Abaixo apresentamos algumas taxas de erro humano. Tarefas muito simples Falha ao responder a um alarme Falha ao isolar a energia elétrica Selecionar uma chave errada Taxa de Erro por Tarefa 0,0001 0,0001 0,0005 Tarefas rotineiras simples Ler um “checklist” ou “display” erroneamente Operar uma chave-multiposição erroneamente. Selecionar uma chave errada entre chaves similares/iguais. Taxa de Erro por Tarefa Tarefas rotineiras que merecem cuidados Falha ao “resetar” uma válvula após alguma tarefa relacionada. Registrar informação ou ler gráfico erroneamente. Errar ao fazer uma operação algébrica. Taxa de Erro por Tarefa Tarefas Complexas e Não Rotineiras Falha ao relatar a posição errada de uma válvula. Falha ao reconhecer o estado incorreto de um item numa inspeção esporádica. Falha ao atuar corretamente após “um” minuto numa situação de emergência. Taxa de Erro por Tarefa 0,0001 0,001 0,005 0,01 0,01 0,02 0,5 0,1 0,9 Os valores acima, servem como referência, e são definidos com base no número de tarefas executas para cada situação apontada. Para quantificarmos a “confiabilidade humana” são utilizados modelos matemáticos que nos fornece a “PEH – Probabilidade de Erro Humano” para uma dada tarefa a ser realizada num dado intervalo de tempo. Exemplo: uma determinada pessoa irá desempenhar uma tarefa de manutenção num prazo previsto de 6 (seis) horas. Sabe-se que a taxa de erro é de 0,00015 erros/hora. Determine a PEH e a Confiabilidade Humana para a execução desta tarefa. R H = e − λ EH ×t PT RH (confiabilidade humana) λEH (taxa de erro humano) tPT (tempo previsto para execução da tarefa) R H = e −0,00015×6 = 0,9991 Logo, a “probabilidade de erro humano” para execução desta tarefa é igual a: PEH = 1 − R H = 0,0009 Observar que as tabelas apresentadas colocam a taxa de erro humano com base no número de tarefas executadas (0,001 ) 1 erro humano a cada 1000 tarefas realizadas). O exemplo acima considera a taxa de erro com base no número de horas trabalhadas. Erro Humano Os erros humanos na manutenção geralmente ocorrem no local de trabalho e em alguns casos as causas raízes do erro estão relacionadas aos aspectos gerenciais e/ou organizacionais (erros latentes). A análise de erro humano, geralmente, apresenta um resumo das causas diretas, das causas raízes e causas contribuintes em termos do tipo de erro ou falhas do sistema com recomendações sobre como o PEH poderá ser reduzido. Alguns casos, estão abaixo relacionados, onde estão indicados o tipo e forma de erro humano. Título Caso Erros Gerenciais e Organizacionais Erro de Projeto Erro de Manutenção Erro Operacional Erro Ativo Violação da Segurança Erro de Resposta Flixborough Herald of Free Enterprise Privatização Grangemouth (fogo e explosão) Ferry Estonia (afundamento) Abbeystead (explosão) Royal Flight (falha de motor) Hatfield (acidente) Potters Barr (acidente) Clapham Junction (acidente) Purley Southall Ladbroke Grove Flight KAL007 Kegworth Chernobil A320 - Mulhouse Flight SR111 Túnel – Canal da Mancha Setor Químico Marítimo Ferroviário Químico Marítimo Água Aviação Ferroviário Ferroviário Ferroviário Ferroviário Ferroviário Ferroviário Aviação Aviação Nuclear Aviação Aviação Ferroviário Erro Humano Tipo Forma Latente Latente Latente Latente Latente Latente Latente Latente Latente Latente Ativo Ativo Ativo Ativo Ativo Violação Violação Ativo Ativo Gerencial Cultural Organizacional Projeto Projeto Projeto Manutenção Manutenção Manutenção Manutenção Operacional Operacional Operacional Operacional Operacional Operacional Operacional Operacional Operacional Whittingham - The Blame Machine – Elsevier – GB - 2004 Os erros podem ser subdivididos em dois grupos básicos, ou seja: “com base nas habilidades e capacidades” e “com base nas regras e conhecimentos”. • Com base nas habilidades ou capacidades Deslizes e Lapsos (slips and lapses): esses erros ocorrem durante a execução das tarefas de manutenção. • Com base nas regras e conhecimentos Erros cometidos durante o planejamento e/ou organização dos métodos e procedimentos a serem seguidos durante o processo de manutenção. Deslizes (slips): ocorrem quando da execução de uma ação não planejada ou pretendida. Lapsos (lapses): omissões ao executar uma ação planejada devido à falha de memória ou memorização. Erros (mistakes) são falhas de planejamento/organização de uma ação, independentemente de ter sido conduzida de modo correto. Podem ser atribuídos a “má aplicação de regras adequadas” ou “aplicação de regras inadequadas”. Podemos dividi-los em: 1. erros com base nas regras: ocorrem durante a seleção de um plano ou programa para concluir um objetivo almejado. Ex.: plano mal elaborado (falha dos especialistas). 2. erros com base no conhecimento: ocorrem durante a formulação de um plano original (novo) para solucionar uma questão onde nenhum plano corrente existe. Ex.: falta de conhecimento global acerca de uma dada situação (falta de especialistas). A manutenção, em alguns casos, é responsável pela ocorrência de acidentes e desastres em todo mundo. Mesmo que vultosos investimentos sejam efetuados pelas empresas para treinar e capacitar seu quadro de pessoal, a probabilidade de erro humano, sempre estará presente na operação e manutenção de equipamentos. Erros Ativos, Erros Latentes e Violações Erros ativos: erros onde o efeito se manifesta imediatamente ou quase imediatamente (erros no local de trabalho). Erros latentes: erros onde observamos um tempo significativo entre a execução do erro e a manifestação da conseqüência deste (erros gerenciais). São acidentes potenciais aguardando para acontecer. OPERADORES e MANTENEDORES ERROS ATIVOS Acidentes Proteções ERROS LATENTES GERENTES PODER DECISÓRIO Os acidentes podem ser evitados desde que possamos identificar os erros latentes, o mais cedo possível, após a sua ocorrência. Quanto mais tempo levarmos para identificar os erros latentes, menores serão as possibilidades de serem descobertos e maiores serão as possibilidades de ocorrência de acidentes. Na manutenção a melhor maneira para identificar os erros ativos é através da identificação de todas as tarefas de manutenção e análise das possibilidades de erro humano presentes em cada uma delas, assim como, definir o que deve ser feito para evitá-los no futuro. Na identificação de erros latentes devemos incentivar e implementar as auditorias e/ou revisões de sistemas/processo de modo que possamos detectar possíveis erros gerenciais. Na manutenção é muito comum a ocorrência de atos inseguros e violações da segurança que acabam provocando incidentes e acidentes. A principal diferença entre erro e violação é que o erro por definição não é intencional. Violação são desvios de procedimentos, padrões e regras de segurança operacional. Atos inseguros Violação da segurança Local de Trabalho (nível de execução) Falta de atenção ou cuidado (deslizes) Deslizes e Lapsos Problemas de memória ou memorização (lapsos) Ativos Erros Erros com base nas regras Latentes Normas e Procedimentos (nível gerencial) (falha dos especialistas ) Falhas Erros com base no conhecimento (falta de especialistas ) Investigação de Falhas na Manutenção Uma investigação de falha e subseqüente análise deve determinar a causa primária que originou o problema e, baseada nas conclusões, estabelecer ações corretivas para evitar que essas falhas venham a se repetir. A investigação da falha pode compreender diversas fases, a saber: • • • • • • • • • • • • • Coleta de dados e informações. Entrevistas (pessoal de operação, manutenção, engenharia,...). Registros fotográficos ou similares. Análise do histórico do equipamento. Avaliação das políticas de manutenção praticadas. Avaliação dos padrões operacionais praticados. Avaliar o nível de treinamento de todo pessoal envolvido. Consulta a banco de dados de casos parecidos ou similares. Condução de testes em laboratórios. Uso de simulações. Análise das evidências. Formulação das conclusões. Relatório Final. Apesar do alto custo das falhas, surpreendentemente, poucos esforços são desempenhados pela grande maioria das organizações (indústrias) para o estudo e análise de falhas. Coloco aqui, não somente as falhas que causaram acidentes, mas também aquelas falhas que somente acrescem os custos de manutenção mas nada é feito para identificar as possíveis ações necessárias que venham eliminar ou reduzir sua ocorrência. Princípios Básicos de Investigação de Falhas 1- Quanto mais cedo a investigação começar maiores serão as chances de determinar a(s) causa(s). 2- Não destrua evidências. Não arrume ou desarrume o local da falha ou acidente e, principalmente, não toque no ponto da falha ou regiões próximas. 3- Mexer nas evidências somente após completar toda a documentação (descrições, fotografias,...). Assegurar que todos os componentes danificados possam ser identificados, remontados e posicionados corretamente com relação a cada outro. Manuseie e empacote as peças de evidência com todo cuidado de modo que não sejam: arranhadas, friccionadas, cortadas ou deformadas acidentalmente. 4- Não se concentre no ponto da falha. Não exclua a vizinhança e as condições do ambiente. Aborde a origem da falha, de modo gradual, após esboçar o máximo de informações de toda região próxima ao local do evento. O local e o ponto onde se originou a falha pode ter sido somente o gatilho para outras causas provocar a falha principal. 5- Não tente adivinhar ou tirar conclusões precipitadas. Colete todos os fatos e depois elimine os menos prováveis. Confie nas fotografias do local, nas notas das entrevistas e anotações, em vez da memória. Uma causa é estabelecida, não quando se torna óbvia, mas somente, quando todas as outras possibilidades tenham sido eliminadas. 6- Tente obter o histórico verdadeiro das evidências objetivas e das entrevistas. Não estabeleça qualquer afirmação ou opinião que não esteja calcada em fatos. A percepção humana, julgamentos e decisões são “falíveis” e sujeitas à falhas do subconsciente. 7- Muitas falhas têm sua origem em problemas triviais. Por exemplo: excesso de aperto num parafuso, não colocação de uma arruela, falta de ajuste, falta de lubrificação,... . Acidentes e Suas Causas Diversos incidentes e acidentes acontecem todo ano em diversas partes do mundo. Alguns deles provocam mortes e altos custos para a sociedade (agressão ao meio ambiente). Interessante notar que muitos desses acidentes poderiam ter sido evitados e vidas não teriam sido perdidas se as normas e procedimentos padrões fossem bem elaborados e as ações realizadas de acordo com o estabelecido. A Phillips Petroleum arcou com um prejuízo US$ 1.4 bilhão devido aos danos, interrupção do negócio e multas do governo devido a uma explosão, em 23 de outubro de 1989, que matou 23 trabalhadores na sua fábrica de polietileno em Pasadena, Texas. Isto aconteceu devido ao trabalho de manutenção, que estava sendo realizado por pessoal contratado, sob um vaso de pressão. Eles conectaram erradamente uma mangueira para o sistema de controle de ar comprimido de uma válvula. A válvula abriu, deixando escapar toneladas de vapor inflamável na atmosfera. A explosão, quando da ignição do vapor, apresentou uma força de duas toneladas de TNT. Erros e falhas na manutenção são comuns (muito mais do que pensamos) e em alguns casos esses podem se transformar em acidentes críticos. Não há muitos pronunciamentos de “mea culpas” no mundo das catástrofes industriais. Para que “erros e falhas” possam ser minimizadas é necessário que as pessoas tenham consciência dos limites da tecnologia e do efeito das falhas quando esses limites são ultrapassados. Abaixo apresentamos alguns acidentes, onde a manutenção interagiu de maneira direta ou indireta. Caso 1 - Gasoduto Empresa El Paso Natural Gas Company Objeto Ruptura da Tubulação Data 19 de agosto de 2000 Local Carlsbad – New Mexico Falha Ruptura da linha de 30 polegadas devido à severa corrosão interna. Vazamento de gás seguido de explosão. Gás queimou durante 55 minutos. Causa(s) Programa de controle de corrosão falhou em prevenir, detectar ou controlar a corrosão. Falhou também a inspeção federal que não identificou deficiências no programa de controle de corrosão da empresa. Custo US$ 998,000.00 (perdas e danos a propriedades) Mortos 12 pessoas que estavam acampadas próximas ao local. Feridos Nenhum - Melhoramento do projeto e construção. - Revisão de todo o programa de controle de corrosão Recomendações interna. - Adequar o órgão de inspeção federal (segurança e operação). Caso 2 – Avião de Passageiros Empresa Alaska Airlines, Inc. Objeto Queda no Pacífico - Perda de Controle McDonnell Douglas MD-83, N963AS - Vôo 261 Data 31/janeiro/2000 Local Oceano Pacífico - Norte de Anacapa Island - Califórnia Falha Desgaste da rosca da porca (macaco do tipo rosca) do sistema estabilizador horizontal danificada. Causa(s) Desgaste excessivo devido a problemas de lubrificação do “macaco do tipo rosca” (aumento do intervalo de lubrificação com aprovação da FAA - Federal Aviation Administration’s). Falha do programa de manutenção da Alaska Airlines, Inc. (lubrificação e inspeção). Custo Não Disponível Mortos 2 pilotos, 3 comissários e 88 passageiros Feridos Nenhum - Estabelecimento de novos procedimentos de manutenção. Recomendações - Modificação do projeto (falha segura) para evitar falha catastrófica. Caso 3 – Embarcação (Transporte de Pessoal) Empresa Não identificada. Objeto Embarcação de Transporte de Passageiro Incêndio na casa de máquinas do Port Imperial Manhattan Data 17 de novembro de 2000 Local New York City - New York Falha Incêndio na casa de máquinas - curto no sistema elétrico Causa(s) Falha de inspeção e manutenção do sistema elétrico da embarcação. Falta de um sistema fixo de detecção e supressão de fogo. Falta de conhecimento da equipagem de combate a incêndio. Custo US$ 1,200,000.00 Mortos Nenhum Feridos Um (inalação de fumaça). - Novos procedimentos de manutenção. - Instalação de um sistema de proteção e detecção de fogo. Recomendações - Treinamento da equipagem em situações de emergência. - Melhorar o sistema de informações para os passageiros. - Melhorar o sistema de comunicação da embarcação. Caso 4 – Ferrovia (Transporte de Produtos Químicos) Empresa Atofina Chemical´s, Inc. Objeto Vazamento de gás venenoso e inflamável durante descarga de vagão tanque (vazamento seguido de incêndio). Data 14 de julho de 2001 Local Riverview, Michigan Falha Tubulação de transferência de carga fraturada Causa(s) Falha de inspeção e manutenção da empresa. Falha de procedimentos quando da operação de descarga envolvendo material perigoso. Custo Não disponível. Mortos 3 (três) empregados da empresa. Feridos Diversos feridos com problemas respiratórios. - Adequação dos procedimentos da empresa (descarga de vagões tanques contendo material perigoso). Recomendações - Adequação dos regulamentos e normas federais relacionados às operações de transferência. As informações acima foram obtidas junto ao NTSB (National Transport Safety Board). Outros acidentes, onde a manutenção teve participação em maior ou menor grau, na ocorrência destes: • Março de 1979 - Three Mile Island – Usina Nuclear - Dano no Núcleo do Reator Nuclear – Mortos: Sem mortos ou feridos. Custo: Não Disponível. • • • • Dezembro de 1984 – Union Carbide – Índia (Bhopal) – Escapamento de Produto Químico – Mortos: 7000 pessoas (oficialmente estimado). Custo: Não Disponível Julho de 1988 – Piper Alpha – Plataforma Submarina – Explosão e Incêndio – Mortos: 167 pessoas da equipe da plataforma e 2 pessoas do salvamento. Custo: £2.066 Bilhões. Dezembro de 1988 – Clapham Junction – Entroncamento Ferroviário – Colisão de Trens – Mortos: 35 pessoas e mais de 100 feridos. Custo: Não Disponível. Maio de 1996 – Valujet DC-9 Airliner – Avião – Queda seguido de fogo no compartimento de carga – Mortos: 110 pessoas. Custo: Não Disponível Depois destes acidentes muitos outros se seguiram (acidente no túnel recém inaugurado, acidente com o trem de alta velocidade, explosão do submarino soviético, quedas de aviões, colisão de trens, explosões em instalações, vazamentos em oleodutos, afundamento de plataforma submarina, explosão da nave Columbia,... onde em alguns deles a manutenção teve participação na sua ocorrência. Podemos observar que o homem paga um preço alto devido ao desenvolvimento tecnológico. Muitos acidentes ocorrem porque as equipes, embora bem capacitadas e treinadas, não conseguem reagir às diversas combinações de eventos que podem conduzir a falha de um sistema. Os sistemas estão se tornando cada vez maiores e mais complexos e o elemento humano se vê diante de uma situação assustadora no que diz respeito à operação, manutenção e segurança destes sistemas. A grande quantidade de equipamentos, o grande número de modos de falha, os diversos ambientes operacionais e a presença do elemento humano aumentam significantemente a probabilidade de novos acidentes (desastres) em todo mundo. Métodos, Instrumentos, Testes Laboratoriais e Análise Estatística A análise de falhas pode utilizar uma gama enorme de métodos e técnicas. A aplicação adequada destas “ferramentas” irá possibilitar a prevenção e redução de falhas e, portanto, aumentar a segurança operacional das instalações. A grande quantidade de instrumentos, equipamentos de teste e testes laboratoriais atualmente utilizados para detectar e/ou identificar possíveis modos de falha e suas causas, facilitam em muito a análise. Para que se consiga implementar, com sucesso, um programa de manutenção, devemos: • • • Definir claramente as metas e objetivos. Mensurar os objetivos. Apoiar o gerenciamento. • • • • • Reunir pessoal responsável e dedicado. Tornar eficiente a coleta de dados e os procedimentos de análise. Adequar os procedimentos organizacionais. Melhorar a comunicação entre as pessoas dos diversos setores. Avaliar os procedimentos e métodos em uso. Diversos são os benefícios que podem ser obtidos com a implementação de um programa eficiente, tais como: reduzir o erro humano, eliminar a manutenção desnecessária, reduzir o custo de retrabalho, reduzir o custo de perda de produção devido às falhas, reduzir o consumo de peças sobressalentes, aumentar a eficiência do processo, melhorar a qualidade do serviço, aumentar a vida útil dos equipamentos, aumentar a capacidade de produção, reduzir o custo global da manutenção e aumentar o lucro líquido. Uma ferramenta, não menos importante na análise de falhas, é o uso da estatística e matemática para analisar os dados de falha de equipamentos e/ou sistemas. O uso dessas ferramentas irá permitir a obtenção de diversos parâmetros relativos aos equipamentos, assim como, analisar a tendência de falhas e auxiliar na definição dos limites de controle. O fácil acesso de computadores e software existentes no mercado facilita em muito o uso da matemática e estatística na análise de falhas de equipamentos. Outros métodos também são utilizados para analisar falhas e identificar possíveis causas, tais como: FMEA (Failure Mode and Effect Analysis), FTA (Failure True Analysis) e RCFA (Root Cause Failure Analysis). Estas ferramentas são muito importantes na identificação e correção de falhas catastróficas. O principal ganho com a implementação de programas de manutenção, que permitem identificar com antecedência a possível ocorrência de falhas numa instalação, é a garantia do aumento da segurança operacional (redução de incidentes, acidentes e desastres). Considerações Finais O problema de falhas induzidas pelo erro humano, na área de manutenção, é um fator a ser colocado pelos gerentes de manutenção quando da definição dos objetivos a serem alcançados pelas empresas. Torna-se necessário desenvolvermos métodos e traçar novas diretrizes para reduzir as falhas de equipamentos causadas pela manutenção. Alguns pontos devem ser considerados quando da definição dos objetivos a serem atingidos pela manutenção, ou seja: • • • Admitir que o erro humano é universal e inevitável. Admitir que sempre é possível melhorar a qualidade dos serviços de manutenção. Procedimentos, regras e normas de manutenção sempre podem ser melhoradas. • • • • • • • • • • • • Aspectos psicológicos, fisiológicos e físicos devem ser analisados de acordo com as tarefas a serem desenvolvidas nos serviços de manutenção. Incentivar e implementar o uso de auditorias e revisões nos processos de manutenção. As melhores pessoas podem cometer os piores erros. Erros são conseqüências e não causas. Muitos erros são repetitivos e passíveis de serem eliminados. Nós não podemos mudar a condição humana mas podemos trocar as condições na qual o homem trabalha. Não há um melhor modo de fazer as coisas (diferentes métodos e diferentes organizações). Melhorar a eficiência e eficácia dos treinamentos relacionados à detecção e correção de falhas (melhor capacidade técnica). Erros não são intrinsecamente ruins. Melhorar a comunicação e o desenvolvimento de equipes. Gerenciar a carga de trabalho imposta ao pessoal de manutenção. Adquirir equipamentos com alta confiabilidade e de boa mantenabilidade. Há um grande número de ferramentas que podem ser aplicadas para melhorar a qualidade dos serviços de manutenção e reduzir o erro humano. A exata combinação dessas ferramentas irá variar de empresa para empresa. Para finalizar, deixo a seguinte a pergunta: “O quê estou fazendo na minha empresa para reduzir a probabilidade de erro humano (ativos e latentes) na área de manutenção?”. Referências Bibliográficas • • • • • • • • • Engineering Maintainability – B. S. Dhillon – Gulf Publishing Company – 1999 Mechanical Fault Diagnosis and Condition Monitoring – R.A.Collacot – Chapman and Hall – 1977 Risk-Based Management – A Reliability-Centered Approach – Richard B. Jones – Gulf Publishing Company – 1995 Inviting Disasters – Lessons From The Edge of Technology – James R. Chiles – HarperBusiness – 2001 Human Error – James Reason – Cambridge University Press – 1990/2002 Managing the Risks of Organizational Accidents – James Reason – Ashgate Publishing Company – 1997/2002 Managing Maintenance Error - James Reason & Alan Hobbs - Ashgate Publishing Company – 2003 The Blame Machine – Why Human Error Causes Accidents – R.B. Wittingham – Elsevier – 2004 Managing Human Error in Maintenance – Sandy Dunn – Assetivity Pty Ltd. (artigo).