RELIGIÃO E ESPORTE: A ARTICULAÇÃO DO MOVIMENTO

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RELIGIÃO E ESPORTE: A ARTICULAÇÃO DO MOVIMENTO
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RELIGIÃO E ESPORTE: A ARTICULAÇÃO DO MOVIMENTO ATLETAS DE CRISTO
Elaine Rizzuti
Profª de Educação Física da Universidade Federal de São João del-Rei
Doutora em Educação Física e Cultura pela UGF/RJ
Minas Gerais - Brasil
RESUMO
Neste estudo, procuramos demonstrar a relação mútua entre religião e esporte como
fenômenos
sócio-culturais
presentes
em
diferentes
culturas.
Recorremos,
inicialmente, às teorias de Mauss (2003), que explicam como esses fenômenos se
manifestam, considerando-os como campos de representação onde são revelados
traços morais, culturais e intelectuais de uma sociedade. Também utilizamos a teoria
sociológica de Weber e Durkheim já que em ambos está fundamentada a questão a
investigar
deste
estudo.
Revisitamos
a
Grécia
Antiga,
palco
seminal
dos
acontecimentos esportivos, chegando aos tempos modernos com o Barão Pierre de
Coubertin inaugurando as Olimpíadas da Era Moderna e elevando-a a condição de
“religião”, não no sentido literal da palavra, mas na capacidade de transformação do
homem pelo esporte. Quanto à religião, limitamo-nos no protestantismo e na origem
e expansão das igrejas evangélicas e o Pentecostalismo, tendo como foco o
Movimento Atletas de Cristo, que tão bem articula a religião com o esporte. Fez
parte da amostra, cinco atletas de alto rendimento, pertencentes ao Movimento.
Partimos da premissa que os Atletas de Cristo favorecem nossas reflexões teóricas e
consolida nossos objetivos. Os dados coletados foram balizados pela teoria da Análise
do Conteúdo, de Bardin (1977). Finalmente, acreditamos, em tese, que religião e
esporte são convergentes, relacionando-se por reforço mútuo sem perda de
autonomia das partes
INTRODUÇÃO
Iniciamos o texto com a premissa de que pode-se -se não ser praticante de
algum esporte e, igualmente, não pertencer a alguma religião, mas os dois
fenômenos apresentam-se frequentemente relacionados em qualquer sociedade e
cultura. Religião e esporte possuem fundamentos, preceitos e princípios distintos,
que pretensamente se articulariam em seus significados. Muitos historiadores do
esporte vinculam a sua criação e continuidade histórica reportando-se aos rituais
sagrados das religiões. Tais considerações foram assumidas com base nos estudos
sobre Olimpismo, tema de índice razoável de publicação no Brasil, conforme se pode
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ver no levantamento feito por DaCosta e Miragaya (2008, p.37), em sua última
revisão feita no primeiro semestre de 2008, desde que num total de:
[...] 79 participantes brasileiros em estágios da IOA (Academia Olímpica
Internacional) entre 1980 e 2007, sendo 24 em pós-graduação; a partir de
1993 houve adicionalmente 19 especialistas em eventos da IOA dedicados às
Academias Olímpicas, sendo 8 pertencentes a órgãos de direção
universitária. (...). Por iniciativa da AOB (Academia Olímpica Brasileira), o
Brasil a partir de 1995 esteve representado por seis especialistas em
„Congresos de la Asociación Iberoamericana de Academias Olímpicas‟ e por
dois especialistas em Seminários Panamericanos de Academias Olímpicas.
Em termos gerais, contavam-se em 2008 cerca de 16 mestres e 18 doutores –
a maioria em Educação Física – em atividades regulares de Estudos Olímpicos
no Brasil.
Nestes termos, assumimos o Olimpismo1 como ponto de partida subsidiário do
presente estudo, uma vez que esta doutrina traz em suas proposições, uma feição
pressupostamente religiosa. Esta particularidade fundamenta-se na teoria do Barão
Pierre de Coubertin que, em 1914, definiu o Olimpismo como “filosofia de vida” e,
em 1917, compara-o a uma “religião atlética”, isto é, como uma disciplina
comportamental do atleta. Essa caracterização supostamente religiosa do Olimpismo
foi estudada por DaCosta (2006)2, a partir das declarações de Coubertin. E ao
analisarmos esta particularidade do Olimpismo, buscamos reforçar a hipótese de
relacionamento do esporte e, nele do Olimpismo, com nexos religiosos e por
extensão com a religião evangélica na sociedade contemporânea.
Tal vínculo, entretanto, necessitaria de demonstração e se tornaria
justificável por serem, esporte e religião, fenômenos culturais (cerimônias, rituais,
comportamento, formas de subordinação, dentre outros) antigos e persistentes da
história da humanidade uma vez que, igualmente, ocorrem em diferentes culturas. A
longa duração dessas duas práticas nos dá a oportunidade de tomá-los como objeto
de estudo vis-à-vis metodologia da Nova História com seu foco central neste tipo de
extensibilidade de fatos históricos. São dois fenômenos que comparados apresentam
características comuns.
Assim, partimos do princípio de que estaríamos diante de dois fenômenos
comuns em qualquer sociedade no mundo ocidental, os quais além de serem
produtores de sentido, dotam o indivíduo de sentimentos de pertencimento.
Portanto, ambos se relacionam naturalmente por definição com as ciências sociais e
humanas em nível de generalidades.
Ademais, o estudo multidisciplinar dos campos religioso e esportivo com
instrumental teórico da sociologia da religião e da sociologia do esporte também é
1
Tomamos o Olimpismo como doutrina que institui os Jogos Olímpicos na era moderna, em fins do século
XIX. (DaCOSTA, 2007).
2
O autor, em seu artigo, dialoga com Moltman e Nikolaos Nossiotis e considera o Olimpismo, a partir das
declarações de Coubertin, como paganismo, além de admitir o Olimpismo um tipo de doutrina, não de religião.
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relevante, lançando novas perspectivas ao debate sobre a relação nestes campos
entre si, sugerindo novos estudos e pesquisas. Contudo, como toda comparação, as
semelhanças poderiam não se repetir nas particularidades dos fenômenos
observados, solicitando então pesquisas pontuais e empíricas.
Para a necessária perspectiva empírica do estudo, analisamos a religião e o
esporte no Brasil, instituindo como fontes de observação o movimento “Atletas de
Cristo” 3, objetivando analisar quais as interpretações religiosas que o grupo faz do
binômio relacional esporte e religião.
A escolha incidiu no Movimento dos Atletas de Cristo porque este adota o
esporte como atividade legítima dos evangélicos pentecostais. Empiricamente, podese dizer que este movimento nunca adquiriu ou gozou de grande expressividade no
contexto brasileiro, supostamente por conta da hegemonia católica identificada no
país. Entretanto, neste caso a observação se mostrou pertinente por haver uma
conjugação explícita do esporte com a religião.
No que concerne a uma visão mais pontual da religiosidade dos Atletas de
Cristo, sabe-se, historicamente, que no Brasil a religião de denominação evangélica4
tem se expandido de modo exponencial e visivelmente, talvez, como um dos
fenômenos religiosos mais importantes ocorrido nos últimos tempos, sobretudo nas
duas últimas décadas do século XX.
Desta forma, nossa pesquisa, com característica multidisciplinar dos campos
religioso e esportivo com elementos da sociologia da religião e da sociologia do
esporte mostra-se relevante, pois, lança potencialmente novas perspectivas de
debate sobre a relação desses dois campos, possibilitando novos estudos e pesquisas.
A longa duração na história ou quase perpetuação da religião e do esporte nas
diferentes culturas do mundo ocidental, nos dá a oportunidade de tomá-los como
objeto de estudo.
O PROBLEMA E QUESTÕES DA PESQUISA
A partir das reflexões iniciais formulamos o problema da pesquisa, sob forma
de um conjunto de questões a saber: i) seria o esporte um meio de promoção de
religiões em determinadas circunstâncias ou até mesmo um elemento de
substituição? Ii) teria o esporte mantido seu sentido religioso segundo o viés
3
O movimento Atletas de Cristo é formado por homens e mulheres evangélicas, inseridos em várias
modalidades esportivas, sendo o maior número, no futebol. Outras informações sobre o movimento poderão ser
adquiridas no site www.atletasdecristo.org
4
O conceito “evangélico” aqui usado refere-se a todos os seguidores das igrejas: protestantes, pentecostais
e neopentecostais. É um movimento laico, evangélico e vinculado ao esporte, que também conta com a participação
feminina, embora seja visível a superioridade numérica masculina, tendo como predominância o futebol.
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explicativo de Coubertin para sua expansão e legitimação social? Iii) tais atletas, por
suposto “evangelizadores”, passaram a ter maior penetração pública por se
encontrarem inseridos nos dois campos aparentemente distintos?
Para atender ao problema da pesquisa elaboramos os seguintes objetivos:
1) Identificar como se dá a relação entre Religião e Esporte no discurso dos
Atletas de Cristo (relações estas que podem, em princípio, se dar por associação,
integração, agregação). 2) Mapear categorias recorrentes dessa relação no discurso
dos atletas de Cristo (pode ser uma relação de afinidade e proximidade em primeira
instância). 3) Verificar se as religiões estão se apropriando de valores e práticas
esportivas e/ou vice-versa.
Em função do objeto ora em proposição, nosso grupo de informante foi
constituído por cinco Atletas de Cristo de alto nível de competição esportiva, nas
modalidades: futebol, karatê, remo e atletismo.
Para a coleta de dados utilizamos um roteiro de entrevista semi-estruturada
tendo como objetivo principal esclarecer as questões a investigar sobre o binômio
relacional religião e esporte. Esse método de entrevista, pelas suas características,
apresenta uma grande maleabilidade de aplicação, permitindo ao entrevistador um
elevado grau de liberdade no sentido de poder encaminhar o informante, sem
constrangimento, para os objetivos, definidos a priori, e, simultaneamente, permite
incorporar idéias novas expressas pelos entrevistados (FRANCO, 2007).
Os participantes foram informados sobre os objetivos da pesquisa e, mantidos
no anonimato, salvaguardadas a exigência de identificação.
ASPECTOS RELIGIOSOS
Historicamente, a análise sociológica da religião ocupou um lugar central no
trabalho desenvolvido pelos grandes sociólogos clássicos, como Max Weber, em sua
obra “Ensaios de Sociologia”, (1982) e Émile Durkheim, “As formas elementares da
vida religiosa”, (2003). As idéias destes dois grandes teóricos constituem, ainda hoje,
o núcleo da sociologia da religião. A obra de Durkheim aborda o papel da religião
enquanto perspectiva capaz de contribuir para a integração social. Weber centra sua
análise nas diferentes formas de crença e de instituições religiosas, bem como do
desenvolvimento de uma racionalidade que rejeite a pretensão das forças religiosas,
como acreditava Durkheim, para mudanças sociais. Weber vai mais longe quando diz
que “de um ponto de vista puramente ético, o mundo deve parecer fragmentários e
sem valor, sempre que julgado à luz do postulado religioso de um significado divino
da existência”. (p.248).
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Em se tratando da presença da religião na vida dos indivíduos, nenhuma
análise sociológica ou psicológica pura e simplesmente, teria sentido se não
considerássemos que todo “o homem” é formado pela religião, antes mesmo de ter
com ela uma relação consciente. (ENCICOLPÉDIA EINAUDI, 1994).
Assim, consideramos que todas as religiões podem ser comparáveis, pois há
elementos essenciais que lhes são comuns, podendo ser variáveis em seus elementos,
templos, gerações, estruturação interna, dogmas e práticas.
Para Durkheim (2003) a religião é sempre coletiva, pois pode revelar aspectos
essenciais e permanentes da humanidade. A religião está fundada na “natureza das
coisas”, e não sobre o erro ou a mentira, caso contrário não sobreviveria. A
“natureza das coisas” figura sobre a realidade dando significação mais próxima a tal
realidade. Para o fiel, por exemplo, tudo que lhe é concedido ou exigido, é real, que
por suas próprias razões existem de fato, portanto, para o autor, “não há religiões
falsas”.
Isso traduz, em parte, a pluralidade, o encontro do diverso, favorecido, na
atualidade, pela globalização, embora, alguns preceitos religiosos sejam imutáveis
para algumas religiões mais tradicionais ou fundamentalistas. Outras mantêm suas
identidades e seus aspectos comuns, mas buscam incessantemente atender às
necessidades de seus seguidores que podem fazer escolhas tendo em vista a
diversificação.
Conceder à religião uma compreensão uníssona é como buscar apenas seu
significado de crença e reverência ao sagrado. É nossa intenção nesta pesquisa ir
mais além do simples significado, contextualizando-a com junto ao esporte, e é na
multiplicidade de olhares e interpretações presentes na literatura selecionada, que a
dificuldade de definição se mantém nestes dois fenômenos. De toda forma, nos
lançamos na tentativa de tornar os objetos – religião e esporte – aliados e análogos
num quadro de ações e práticas conjuntas.
A religião é um repertório de interpretações que facilita a compreensão da
vida e da história para as pessoas que a praticam. É nesse sentido, muitas vezes, que
a religião constitui-se num sistema de sentido na medida em que se apresenta como
uma mistura de elementos de onde as pessoas tiram as explicações e respostas às
grandes perguntas, dúvidas e problemas da vida cotidiana.
Tal argumentação pode finalmente buscar apoio na clássica definição de
Geertz (1989), que em seu livro Interpretação das Culturas, onde sustenta a religião
como “sistema cultural”, descrevendo-a como “um sistema de símbolos que atua
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para estabelecer poderosas, penetrantes e duradouras disposições e motivações nos
homens.” (p.105).
Independentemente das várias concepções da divindade, seja Deus, Alá,
Buda, Jesus, dentre outros, da religião e das diversas expressões de religiosidade, a
priori, é necessário que crente ou descrente, compreendamos o fenômeno com sua
especificidade, para distingui-lo dos demais que se encontram nas mais diversas
sociedades e culturas. Importante ressaltar que nesta pesquisa focamos nosso olhar
para os evangélicos pentecostais.
O MOVIMENTO EVANGÉLICO – um rápido panorama
Historicamente sabe-se que a religião, de denominação evangélica se expande
geométrica e visivelmente, talvez, como um dos fenômenos religiosos mais
importantes ocorrido nos últimos tempos, sobretudo nas duas últimas décadas do
século XX. Seguem padrões rígidos de disciplina com implicações sociais, com uma
idéia de metodização e racionalização evidenciados analogamente na regularidade e
estabilidade nos treinamentos e competições de atletas. (ANANIAS, 2007).
Sua chegada ao Brasil deu-se no início do século XX, tendo sua explosão entre
as décadas de 50 e 60, marcando sua visibilidade. Os mais recentes movimentos, os
pentecostais,
tornaram-se
mais
estruturais,
orientando-se
para
o
universo
clientelístico de resposta às necessidades cotidianas (cura dos corpos, problemas
afetivos, econômicos, profissionais, dentre outros), com a entrega de si ao Espírito
Santo. (MACHADO, 2005; MONTEIRO, 1998; SANCHIS, 1997).
O Pentecostalismo se caracteriza basicamente com a manifestação do Espírito
Santo e do Sagrado, um de seus “sinais distintivos” em torno do qual giram os outros;
assim há mais expressividade corporal durante os cultos, ou seja, o corpo começa a
experimentar o contato com o sagrado cantando, dançando e louvando a Deus com
liberdade de expressões, muitas vezes marcadas pela alegria. A glossolalia, o “falar
em línguas” ou “linguagem dos anjos”, também se dá nos momentos de orações,
durante os cultos e é considerada uma prova social da presença do Espírito Santo.
O movimento evangélico seja, talvez, o fenômeno religioso mais importante
ocorrido nos últimos tempos, sobretudo, nas duas últimas décadas do século XX,
como resposta às necessidades cotidianas. Ao contrário do que se propala também
como antes enfatizado, estes movimentos querem prestígio, respeitabilidade e
reconhecimento social, com o objetivo de alcançar supostamente o triunfalismo e o
intervencionismo. Acreditam na transformação da sociedade, cultivando por meio da
fé e conversão individual, a conquista e a existência de um mundo melhor. A
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visibilidade desses movimentos e seu impacto transformador e formador de opiniões,
podem provocar mudanças de comportamento e hábitos culturais.
O ESPORTE COMO OBJETO DE ESTUDO
A importância que os gregos davam as atividades atléticas – versão original do
esporte atual – pode ser analisada sob vários aspectos: educativo, como elemento
fundamental de formação; utilitário, devido seu caráter guerreiro e militar; religioso,
como forma de culto aos deuses; competitivo, na organização dos jogos atléticos; e
estético, na busca da beleza física. Como evidências desta influência, podemos citar
as construções voltadas à prática de atividades físicas, estádios, ginásios e palestras,
bem como a realização dos Jogos Olímpicos, posteriormente, reeditados na era
moderna (RAMOS, 1982). Este, talvez, o maior legado da Grécia Antiga para toda a
humanidade, em virtude de sua abrangência, importância e permanência até os dias
atuais.
Neste contexto originário do esporte atual, cabe realçar o aspecto religioso
que na Grécia atribui-se aos Jogos Olímpicos. Segundo relato de DaCosta (2002), a
fonte primeva das Olimpíadas foi o culto da deusa Gaia (mãe terra), religiosidade
bem reduzida, porém, por vezes identificada por outras influências de significado
local. De índole similar seria o movimento “Cristianismo Muscular” na Inglaterra, no
século dezenove, em consonância com a valorização pedagógica do esporte naquele
período.
É inegável que o esporte e a religião, nas últimas décadas, consubstanciaramse em manifestações culturais que mais se desenvolveram em diversos aspectos,
identificando-se como fenômenos sociais e objetos de estudo em várias áreas de
conhecimento.
Religião e esporte possuem fundamentos, preceitos e princípios distintos, no
entanto, se articulam e se entendem. Empiricamente, podemos dizer que não há
“disputa” entre eles, a rivalidade está inserida no contexto de cada um destes
fenômenos.
A
religião,
na
busca
pelo
maior
número
de
adeptos
e,
consequentemente, maior visibilidade e, no esporte, a competição entre rivais,
buscando dentre outros objetivos e interesses, a superioridade. O universalismo
contido nos Jogos Olímpicos, também é o universalismo que a religião pleiteia e,
ambos os fenômenos, caminham juntos sem se estranharem. Importante ressaltar
que não é nossa intenção neste estudo, fazer uma leitura “econômica” ou
empresarial dos dois fenômenos. Nosso olhar está voltado para um curso contínuo de
trocas, assimilações, aproximações e afinidades.
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Muito do que concebemos sobre esporte e religião, está fundada em Mauss
(2003) sobre “fenômeno social total”, em que o autor acredita que, ambos,
evidenciam uma sociedade, bem como, sua evolução e transformação. Estes
fenômenos se manifestam como unidades universais, onde a atividade humana é o
centro, ou seja, são campos de representação que revelam traços morais, culturais e
intelectuais de um povo.
Dentro dessa concepção Garcia (2007), também apresenta traços de
religiosidade para o esporte:
O espírito de luta e a representação de força, velocidade,
resistência, habilidade, são atributos dos deuses que o esporte corporifica. Ao
competir, ao lutar, ao tentar demonstrar nossa superioridade, estamos
imitando os deuses. (p.66).
O esporte tem seu espaço conquistado, referendado e consolidado e permite
através de seu estudo verificar que suas características e singularidades exercem
um fascínio e uma atração muito grande nas pessoas, conforme colocado por Helal
(1989).
justamente por se tratar de um momento especial, um
contexto extraordinário, constantemente alimentado de mitos, casos, lendas
e histórias fantásticas – „histórias de esporte pelo amor ao esporte‟ – (...) e
outras como superação de obstáculos intransponíveis, levando atletas a
condições de semideuses”. (p. 102).
Apesar de toda essa apologia feita ao esporte, do refinamento de condutas
sociais e pessoais sobre as emoções, não se pode negar que, para além desse
momento mágico e sagrado, existe a penetração de domínios profanos, que o autor
mencionado enumera como “a política, os negócios, e o profissionalismo, que
representam no imaginário social, uma força que caminha na contramão desse
processo” de divinização. (grifo nosso). (p.102).
Os Jogos Olímpicos para o Barão Pierre de Coubertin,
Representavam a institucionalização de uma
concepção de prática de atividades físicas que transformava o esporte em
um empreendimento educativo, moral e social, destinado a produzir
reflexos no plano dos indivíduos, das sociedades e das nações. A esse
„corpus‟ de valores Pierre de Coubertin chamou de Olimpismo. (TAVARES,
1999, p.15).
Neste arcabouço podemos perceber a criação de um estilo de vida com
objetivos que consideramos semelhantes ao de uma religião, ou seja, tanto o atleta
como o fiel seguidor de alguma religião, terão que adotar estilos de vida para
alcançar os objetivos através dos princípios quer de um ou outro.
Se essa é a nossa proposta neste estudo, de aproximação dos fenômenos
esporte e religião, então iremos respaldar nossa intenção com o excerto a seguir:
O Olimpismo visa criar um estilo de vida baseado no
prazer encontrado no esforço, no valor educacional do bom exemplo e no
respeito aos princípios éticos fundamentais universais. (COI, 1997, p.8 apud
TAVARES, 1999, p. 15).
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Tal assertiva de autor nacional poderia perfeitamente se ajustar a
determinadas religiões e, neste contexto de semelhança e por vezes de mútua
integração, há que considerar os recentes avanços na pesquisa sobre a temática
esporte e religião e vice versa nos países mais avançados em produção científica.
O MOVIMENTO ATLETAS DE CRISTO
Recentemente, alguns atletas profissionais de alto rendimento em várias
modalidades esportivas passaram a ser conhecidos, no Brasil, não apenas pelo seu
desempenho, mas também por suas convicções religiosas. Reunidos em torno de um
mesmo universo evangélico, formam o grupo que se autodenomina “Atletas de
Cristo”, com um total aproximado de seis mil atletas, segundo estimativa de uma
das informantes entrevistadas.
O movimento adota uma explicação “religiosa” da prática popular do esporte,
sacralizando o espaço e o tempo de suas atividades de maneira a considerá-lo como
campo de proselitismo. (AGUIAR, 2006; JUPPA, Jornal O Globo, 2009). Como tal, ele
preconiza que o mundo inteiro pode ser alcançado com a mensagem da salvação que
há em Jesus Cristo, utilizando a linguagem universal do esporte. Para isso baseiamse nos fundamentos da “fé cristã”.
Em termos doutrinais, os Atletas de Cristo se definem como um ministério
interdenominacional evangélico, aceitando todas as igrejas evangélicas como
legítimas: protestantes,
pentecostais e neopetencostais,
não impondo nem
impedindo a participação de seus filiados em qualquer denominação. Ou seja, deixa
a cargo de cada atleta a escolha da igreja que deseja pertencer. Em razão disso, o
movimento não se posiciona formalmente em relação às diferenças doutrinárias e aos
pontos polêmicos, como algumas regras de conduta, existentes no campo evangélico.
ATLETAS DE CRISTO – ORIGEM
O Movimento Atletas de Cristo existe oficialmente desde 04 de fevereiro de
19845 e é uma entidade sem fins lucrativos que subsiste através de doações
voluntárias.
Tem como seu fundador o ex-atleta e goleiro do Clube Atlético Mineiro, João
Leite. Depois de sua experiência de conversão surgiu a preocupação de propagação
de sua fé entre os seus companheiros de profissão. Ele se uniu com um ex-jogador de
basquete amador e pastor, Abrahão Soares, que na época dirigia a Mocidade para
Cristo (MPC), com a intenção de “começar um trabalho de testemunho e de
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Em alguns estudos encontramos as datas de 1978 e 1981 referentes à fundação do movimento. (AGUIAR,
2006; ANANIAS, 2007). Optamos pela data que é apresentada no site oficial www.atletasdecristo.org.br
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evangelização no meio esportivo, alcançando vidas para Cristo”. O grande público
começou a perceber a sua presença quando exemplares da Bíblia eram distribuídos
aos adversários, geralmente no início das partidas.
Em 1981, com a criação de um grupo de apoio formado com gente suficiente
para suportar o nascimento de uma instituição é que o nome "Atletas de Cristo" passa
a denominá-los como também às vezes a sigla ADC. Constam como fundadores de
ADC no Brasil, João Leite da Silva Neto, seu primeiro presidente; Baltazar Maria de
Moraes Jr., José Baltazar de Oliveira, Hélio Delvo Vilela, Hildo Zuge, Mirian Gomes
Soares, Rita Maria Campos Leite Rocha e Abrahão Soares da Silva, George Foster,
José Francisco Veloso, Ivênio dos Santos, Manfred Grellert e. Dervy Gomes de Souza.
(AGUIAR, 2006).
Em seu início, o movimento foi formado por atletas evangélicos que atuavam
nas mais variadas modalidades esportivas e que pertenciam a diversas igrejas
evangélicas sendo, por isso, um movimento paraeclesiástico. Assim caracterizado, o
grupo teve como atribuição auxiliar as igrejas evangélicas e desenvolver projetos em
comum com elas e com ministérios similares. O conceito “evangélico” aqui usado
refere-se a todos os seguidores das igrejas: protestantes, pentecostais e
neopentecostais.
Em janeiro de 1983 foram criados os dois primeiros Grupos Locais de ADC: um
em Curitiba, sob a liderança de Hildo Zuge e um em Salvador, tendo como líder
Mário Lima. Em 1984 surgiu o Grupo do Rio de Janeiro, sob a liderança do Pastor
Ezequiel Batista da Luz (Zick). Em 1985 surgiu o Grupo de São Paulo, com o trabalho
do Johnny Monteiro. Depois vieram os grupos em Uberlândia, Joinville, Bauru e
Recife. Atualmente há mais de cento e vinte Grupos Locais espalhados pelo Brasil.
Num país onde o futebol é quase que idolatrado, e tendo jogadores de grande
visibilidade em várias partes do mundo, estes atletas têm atuado como uma
verdadeira vitrine e como referência no assunto. Entre os atletas renomados
brasileiros há vários Atletas de Cristo que mostram com suas atitudes e em suas
camisas, para um público importante em escala mundial, que Jesus os ama. Hoje, os
Atletas de Cristo falam do amor de Deus no mundo todo “através da linguagem
universal dos esportes”.
Nosso objectivo principal é levar a mensagem que “Só Jesus
Cristo Salva” a atletas profissionais, amadores, portadores de deficiência
física, estudantes, militares e pessoas envolvidas directamente no desporto.
Somos como um braço da igreja evangélica buscando alcançar pessoas que
não estão sendo alcançadas, não por deficiência, mas devido a própria
estrutura do desporto e a vida do desportista, (treinamentos, competições e
estágios) que muitas vezes o impede de chegar até elas. Do pequeno grupo
que deu início em 1981 hoje, passados pouco mais de 25 anos, estamos
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representados em vários países do mundo através de atletas que são
verdadeiros missionários no meio do desporto, levando a mensagem que a
salvação e justificação do pecado é só pela graça de Deus por meio da fé em
Jesus Cristo. (ZICK, Diretor Geral de Atletas de Cristo na Europa. Disponível
em: < http://jocum.pt/pt/index>. Acesso em junho 2008).
No plano internacional, não é de surpreender, portanto, que a FIFA tenha
dado início a uma rejeição ao que esta instituição chamou recentemente de
„proselitismo religioso‟, como já referenciado nesta tese. Tal reação identificada em
2009 demonstrou a relevância do tema em seu aspecto esportivo além de reforçar a
escolha dos Atletas de Cristo como respondentes à pesquisa.
Assim disposto, pode-se retornar à revisão histórica do movimento que já em
1986 mostrava tendências a se desdobrar em outras modalidades esportivas além do
futebol: naquele ano, o Diretor Executivo do Movimento passou a ser Alex Dias
Ribeiro (ex-piloto de Fórmula 1), atuando à época como um ideólogo dos atletas.
Nesse estágio, os produtos da grife „Atletas de Cristo‟ se resumiam a adesivos, porém
atualmente contam com camisetas, jaquetas, bonés, e várias outras peças que
divulgam sua imagem e ideal.
Atualmente, o Movimento ADC conta com mais de seis mil atletas brasileiros
e estrangeiros, atuando no Brasil e em vários de países, como Argentina, EUA,
Portugal, Espanha, França, Itália, Turquia, Japão etc. (NUNES, [s.d]). Em termos
doutrinais o grupo Atletas de Cristo se define como seguidores de princípios cristãos
considerados inequivocadamente „fundamentais‟.
Referencial teórico-metodológico
Nossa amostra foi do tipo intencional com utilização de entrevista semiestruturada a fim de verificar as relações entre religião e esporte representadas pelos
atletas.Os participantes foram informados sobre os objetivos da pesquisa e mantidos no
anonimato.
Os dados foram analisados sob o referencial teórico-metodológico da Análise de
Conteúdo, sob a perspectiva das autoras Laurence Bardin (1977) e Franco (2007). Este
procedimento metodológico “tem como ponto de partida „a mensagem‟, seja ela verbal
(oral ou escrita), gestual, silenciosa, figurativa, documental ou diretamente provocada”.
(FRANCO, 2007, p.19).
Um dos procedimentos utilizados é a análise categorial, onde, a partir da
totalidade do texto, classificam-se por frequência de presença ou ausência os itens de
sentido direcionados à indagação do estudo em questão. No entanto, as categorias são
como compartimentos que classificam elementos de acordo com os critérios do analista,
ela não deve ser arbitrária, mas sim, “devem refletir os objetivos da pesquisa e ter como
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apoio indícios manifestos e capturáveis no âmbito das comunicações emitidas” (FRANCO,
2007, p.27), atendendo às intenções e os objetivos da investigação.
A Análise de Conteúdo se aplica a análise de textos escritos ou de qualquer
comunicação reduzida a um texto ou documento, (FRANCO, 2007; BARDIN, 1977; BAUER
& GASLKELL,2002). Priorizamos a entrevista semi-estruturada, objetivando compreender
o sentido das comunicações de nossos atores sociais para reconstruir a representação de
suas falas (interpretação) num contexto e texto organizados.
A escolha do procedimento que consideramos mais adequado para a análise foi
o de classificação segundo categorias6 (análise categorial), buscando o sentido das
comunicações no momento do discurso (análise da enunciação, da fala), na tentativa de
descobrir conteúdos e estruturas que confirmem nossas indagações.
Na análise categorial, a partir da totalidade do texto, classifica-se por
frequência de presença ou ausência os itens de sentido. As categorias são como
compartimentos que classificam elementos de acordo com os critérios do analista.
Estas categorias estabelecidas a priori pressupõem os resultados indicativos
de nossos objetivos, no entanto, outras categorias poderão ser criadas de acordo com o
que for emergindo do conteúdo das respostas de nossos informantes, no momento da
análise e interpretação dos dados, o que se configura num procedimento explícito e
fidedigno para fins de pesquisas.
Finalmente, estabelecemos, a princípio, as seguintes categorias, de acordo
com os objetivos da pesquisa:
1)Pontos de contato;
2) Pontos de aproximação e,
3)
Pontos de associação.
Análise dos resultados
RELAÇÃO ENTRE RELIGIÃO E ESPORTE NO DISCURSO DOS ATLETAS DE CRISTO



Religião
Mostrar o caminho e
a verdade ( liberta
da cegueira)
Ler a Palavra
Seguir Deus
6


Esporte
Treinar
diariamente
Preparar técnica,
física e
psicologicamente
Convergência
Respeitar as
diferenças de
crenças
 Ter
discernimento
 Respeitar o outro
como alguém que
Deus ama
 Alimentar-se bem


Interseção
Não houve interseção
Bardin (1977) define como categoria a “passagem de dados brutos para dados organizados” (p.119) e,
análise categorial como “operações de desmembramento do texto em unidades, em categorias segundo
reagrupamentos analógicos” ou contínuos. (p.153). (grifo nosso).
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
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
Propagar a
palavra de
Deus, a bíblia
Crer no
Apocalipse –
tudo vai
acontecer
Orar pela vida
de outras
pessoas
Denunciar
crime de
padres e
pastores



Conhecer a
palavra de Deus
Conhecer a
Bíblia - ajuda no
controle
emocional
Ser seu Senhor
e Salvador
Obedecer à
palavra de
Deus
Ter fé em
Cristo
Superar o
comodismo
Descansar
Ter disciplina
Conciliar vida e
esporte –ambos
têm dificuldades
Fortalecer o
corpo e o espírito
Ter regra

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
Comprometimento
Não- violência
Ética
Não fez referência
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
Discriminação no
esporte por ser
atleta de Cristo
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

Vitória:
momento de
oração
Paixão
Disciplina
Persistência
Obediência às
regras
Disciplina
Disposição
Entrega
Paciência
Vida íntegra
Disciplina
Concentração
Convivência com
as diferenças
Não-agressividade
Conciliação
Coragem
Ousadia
Força
Perseverança
Aceitação da
derrota
Valor à vida
Aceitação da
derrota

O esporte como
ferramenta de
evangelização
Conhecimento
de Jesus através
do esporte



Agregação de
valores
cristãos ao
ambiente
esportivo
Salvação em
Cristo é a
verdadeira
vitória
Para introduzir a discussão sobre os resultados daremos mais ênfase aos
pontos de convergência e fusão/intercessão, já que os pontos de aproximação (1ª
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categoria) ficaram mais bem definidos como se pode ver nos fluxogramas mapeados
anteriormente.
As convergências nos remetem aos valores atribuídos, pelos informantes, ao
grau de semelhança entre as práticas religiosas e esportivas, assim como, a definição
dos conceitos, com base nos conhecimentos de cada um, valendo-se de teorias
clássicas e contemporâneas.
Embora os evangélicos tenham como uma de suas características o
proselitismo como “militância religiosa”, não detectamos pontos que evidenciassem
que religião tem se valido do esporte como um meio de promoção para se projetar ou
se tornar visivelmente atraente. O esporte pode ser usado, como revisamos em
estudos anteriores, para atrair, educar, “evangelizar”, mas não tem a função de
doutrinar de modo efetivo e completo, ainda que dois dos atletas tenham se referido
ao esporte como “porta de entrada” para a evangelização e, os outros dois, valeramse do objetivo primeiro do Movimento, que é levar a mensagem de Cristo, “a
palavra”, como costumam dizer, através da “linguagem universal do esporte”.
Nos pontos de associação/fusão/agregação (3ª categoria), categoria central
do estudo pudemos considerar que há ainda pouca certificação de que na prática isto
está ocorrendo, ainda que o Movimento dos Atletas de Cristo sugira essa associação.
Portanto, ao invés de fusão ou associação, chamaremos de parceria ou
convergência de valores e práticas vis-à-vis um mesmo propósito, sem, no entanto se
fundirem. São como acordos feitos num processo de proximidade que nos parece, a
princípio, com condições e possibilidades de agregação.
INTERPRETAÇÃO E DISCUSSÃO
É notável o fato de que, num país em que muitas vezes a religião é tratada
como uma identidade nacional, também assim é tratado o futebol. Diante desta
coincidência, percebe-se a ocorrência de um processo de configuração marcando a
dinâmica destas duas instituições, revelando os poderes de ambas, possivelmente
sem a perda da hegemonia de uma sobre a outra.
Não há nenhum meio lógico que nos permita excluir nem o Movimento
“Atletas de Cristo”, nem o esporte, como sistemas religiosos. Talvez, essa nossa
especulação encontre reforço na idéia de Durkheim (2003):
Para aquele que vê na religião uma manifestação natural da atividade
humana, todas as religiões são instrutivas, sem exceção, pois todos exprimem
o homem à sua maneira e podem assim ajudar a compreender melhor esse
aspecto de nossa natureza. (p.4).
Não se trata aqui de determinar argumentos forçosamente elaborados para
dar sentido ao nosso objeto de estudo e investigação, sentido esse de querer tratar o
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esporte, sobretudo o esporte de rendimento, como uma religião. Se a própria
definição desta palavra já diz religare,(ligar novamente, re-ligar, juntar) isso nos
autoriza tornar tal argumentação, um fato social. E é nesse sentido que buscamos em
Durkheim uma das bases teóricas para alcançarmos parte de nossos objetivos nesta
pesquisa.
O autor observa ainda que, se a religião não tivesse raízes fincadas na
realidade, não resistiria ao tempo e se tornaria irreal. O esporte, não está distante
disso, pois tem suas raízes “fincadas na realidade” e resistiu e resiste ao tempo, e é
real.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como o propósito geral de nosso trabalho era demonstrar a relação entre
esporte e religião, pretende-se que este objetivo tenha sido atingido quando reanalisamos as abordagens teóricas sobre o tema por via entrevistas com os atores
sociais, no caso, os Atletas de Cristo. Constatamos por meio de mapeamento de
relações que há convergência, interseção entre as abordagens apresentadas, o que
evidenciou uma aproximação entre esporte e religião. Há, em resumo, um diálogo,
uma interlocução entre esses dois [fenômenos sociais postos em contiguidade no
tempo e espaço.
As convergências, em síntese final, representam uma grande interlocução
entre as duas instituições, e os Atletas de Cristo são uma evidência desta postulação,
isto é um grupo cuja imagem é construída com elementos tanto da religião como do
esporte. Ademais, se religião é “religar,” “juntar”, o esporte cumpre, outrossim,
este papel, pois conecta pessoas de todas as raças, crenças e culturas. Não há forças
sociais tão grandes no mundo atual, capazes de unir pessoas de maneira tão regular
em termos de valores humanos, como religião e esporte. Este fato, por si só, resume
o que este estudo teve a intenção de demonstrar, e por esta razão de ter sido
elaborado. Ou seja: a proposição em questão indica que religião e esporte são
convergentes, relacionando-se por reforço mútuo sem perda de autonomia das
partes.
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