Rio São Francisco
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Rio São Francisco
Rio São Francisco O Rio São Francisco está ligado ao processo de povoamento e à valorização da terra pelos europeus, desde o início de nossa colonização. No dia 4 de outubro de 1501, a expedição exploradora de André Gonçalves e Américo Vespúcio, descendo o litoral brasileiro, a partir do Rio Grande do Norte, descobriu a foz de um caudaloso rio, ao qual, por se encontrarem no dia de São Francisco, deram o nome de Rio São Francisco. Durante todo o século 16, várias expedições exploradoras vasculharam o Vale do São Francisco, partindo ora de Olinda, ora de Salvador. A região constituía passagem para o gado e mercadorias diversas, que se destinavam aos sertões do Piauí e às demais terras próximas. Surgiram, então, pequenos centros urbanos. Mas só a partir do século 17 iniciou-se um povoamento sistemático do Vale do São Francisco, realizado principalmente por pernambucanos, baianos e paulistas. Na Bacia Superior, os paulistas descobriram grandes riquezas minerais, sobretudo o ouro. A região logo se tornou densamente povoada. Transformou-se, assim, em importante centro consumidor e estimulou a criação do gado, já existente no Vale Médio. Contemplavam-se mutuamente a civilização das minas e a do couro, efetuando a integração econômica de uma área cuja devastação e povoamento se fizeram a partir de diversos pontos. Foi por esse motivo que o Rio São Francisco ficou conhecido como o “rio da unidade nacional”, pelo papel de traço de união que representou no passado e, ainda hoje, continua a representar entre o Sudeste e o Nordeste brasileiros. O Rio São Francisco nasce na Serra da Canastra – MG, numa região pantanosa, e toma a direção do norte; mas as chapadas do nordeste desviamno para leste, até alcançar o Oceano Atlântico. Tem uma extensão de 3.161 km. Sua largura varia entre 500m e 1000m e apresenta uma profundidade média de 6m. Além da Cachoeira de Paulo Afonso (80m de altura, com uma largura de apenas 15m), há outras dignas de nota: Pirapora, Sobradinho e Itaparica. O regime do Rio São Francisco depende das chuvas estivais e é muito irregular. Pode-se calcular uma diferença entre a enchente e a vazante, em determinados pontos, de 8m a 10m. Distinguem-se as cheias no alto e no médio vale. No primeiro, abrangem os meses de dezembro-janeiro; no segundo, de março-abril. É conhecido como “Nilo brasileiro”, em razão de suas cheias, que fertilizam os terrenos das margens. Afluentes da margem direita em Minas Gerais: Pará, Paraopeba, Velhas e Jequitaí. Afluentes da margem esquerda: Bambuí, Indaiá, Borrachudo, Abaeté, Paracatu e Urucuia. Na Bahia, margem esquerda: Carinhanha, Corrente e Grande; margem direita: Rãs, Santo Onofre, Paramirim, Jacaré e Salitre. Em Pernambuco, margem esquerda: Pontal, Jacaré, Jequi e Pajeú. Em Alagoas, margem esquerda: Cabaças, Traipu, Rabelo e Piauí. Em Sergipe, margem direita: Ouro Fino e Betume. O mais importante afluente do São Francisco é o Rio das Velhas, com 1.135km. Embora corresponda a apenas 7% do território nacional – 630.000km² - a Bacia do São Francisco ocupa um lugar muito especial: é a mais extensa das bacias exclusivamente brasileiras. Comparada à gigantesca Bacia Amazônica, a do São Francisco não parece muito significativa. Mas a região que ele banha prosperou muitíssimo mais do que a zona abrangida por toda a exuberante rede amazônica. Em 1960, nada menos de 210 municípios brasileiros estavam inteiramente localizados na área da bacia do São Francisco, além de outros 65 que lhe pertenciam parcialmente. No conjunto, considera-se a Bacia do São Francisco dividida em três partes: Bacias Superior, Média e Inferior. Essa divisão é explicada por diferenças de condições geológicas e climáticas, de revestimento vegetal e das formas de organização pelo homem. A Bacia Superior compreende a zona que vai das cabeceiras do São Francisco até a Corredeira de Pirapora. A Média estende-se da Corredeira de Pirapora até a Cachoeira de Paulo Afonso, e a Inferior compreende a parte restante, até a foz. Os Centros Urbanos As áreas mais povoadas da Bacia do Rio São Francisco encontram-se nos vales inferior e superior, em territórios de Alagoas, Sergipe e Minas Gerais. A Bacia Média ainda está, no conjunto, relativamente pouco povoada, o que se explica pela baixa densidade populacional da maior parte de Pernambuco, Bahia e alguns pontos de Minas Gerais. De modo geral, é na Bahia que se encontram os maiores vazios demográficos. É impressionante como aí aparecem zonas com superfícies maiores que as de alguns países europeus – compara-se, por exemplo, a área de Barreiros com a de Portugal – e escassamente povoadas. Os mais importantes centros urbanos do Vale Inferior do São Francisco são: Penedo (Alagoas), importante ponto de organização da vida regional; Paulo Afonso, planejada para servir de centro residencial e de serviços ligados às instalações hidrelétricas, e Vila Poti (ambas na Bahia), que formam um aglomerado, resultante da convergência de numerosa e heterogênea população atraída pelas possibilidades de trabalho no local; Cabrobó (Pernambuco), núcleo de área economicamente expressiva. No Vale Médio, Juazeiro (Bahia), à margem direita do rio, e Petrolina (Pernambuco), à margem esquerda, centralizam a vida de vasta área e exercem forte influência ao longo de todo o Vale Médio e também em áreas distantes, como o sul do Piauí. Essas cidades cresceram por estarem situadas no início do trecho navegável do rio, tornando-se, portanto, uma das mais significativas encruzilhadas de todo o sertão nordestino. No conjunto liderado pelas duas cidades estão Barra, Barreiros e Bom Jesus da Lapa, que é um dos mais importantes focos de romarias de todo o Brasil. Também estão Januária (MG), destacado centro comercial e Pirapora (MG), cuja importância se deve ao fato de localizar-se no ponto final da parte navegável do rio, para o sul, e de ter articulado, durante muito tempo, esse trecho do São Francisco à via térrea proveniente do Rio de Janeiro, que aí terminava. No Vale Superior, as cidades são maiores e mais numerosas. Por exemplo: Belo Horizonte, nossa capital. Entretanto, essa é a parte menos original de toda a Bacia e, de certo modo, a menos “são-franciscana”, pois muitas de suas características se confundem com as de áreas contíguas, não pertencentes à bacia. O Homem da Ribeira A vida dos barranqueiros habitantes das margens do São Francisco depende estritamente do regime do rio. Na passagem do período das cheias (fevereiroabril), para o da vazante, os barranqueiros aproveitam a fertilidade do solo para praticar a agricultura de subsistência; além disso, pescam para o próprio consumo, ou vendem lenha aos vapores que navegam no curso médio. Mas na época das cheias sua situação é terrível. As águas invadem as margens menos elevadas, arrebatando, de uma hora para a outra, casebres, animais e roças. Os barrancos muitas vezes desmoronam, solapados pelas águas. Na estiagem, o rio retorna ao leito, deixando atrás de si uma enorme massa de sedimentos de matéria orgânica, que fertilizará o solo para novo plantio. É um reinício, até que as águas voltem e o pesadelo recomece. Mesmo na estiagem, época de fartura, o barranqueiro tem sua capacidade de trabalho reduzida pela maleita que assola o Vale, após a descida das águas. Não só a maleita o ataca; com ela costumam vir também o impaludismo, o mal de Chagas, o cansaço, a fraqueza, o desespero. Findo mais um dia de difícil trabalho, o barranqueiro se recolhe à sua casa: geralmente baixa e pequena, construída de madeira e barro, coberta de palha ou cascas de árvores. Dentro, tamboretes, banquinhos, panelas e sacos de farinha compõem o mobiliário da sala. Na cozinha, o fogão e a almofada de bilros. No quarto, esteiras no chão, onde as moças tecem rendas. Circundam a casa pequenas plantações de feijão e milho, melancia e arroz, cana-de-açúcar e mandioca, que chegam para o gasto. Às vezes, o algodão que as mulheres tecem, também para o gasto. E algumas pilhas de lenha que, com um pouco de sorte, serão vendidas ao primeiro vapor que aparecer. A comida é feijão, farinha de mandioca, torresmo, carne-do-sol e rapadura. De vez em quando, carne de bode. A refeição geral é a do meio-dia, a “jacuba”, composta de farinha de mandioca, rapadura e água. Os que trabalham na extração de lenha ou no rio, como remeiros, fazem ainda mais duas refeições, pela manhã e à noite. A família é grande: cinco crianças em média. Assim mesmo, as mulheres, além das tarefas domésticas, trabalham também na roça. É que a miséria castiga ali há mais de um século. E a vida é curta: dificilmente ultrapassa a média de 45 anos. Embarcações do Rio São Francisco É extraordinária a variedade de embarcações que transitam pelo Rio São Francisco. Cada uma delas foi imaginada e construída para adequar-se às particularidades das diferentes seções em que se divide o curso, para efeito de navegação. Em qualquer uma das seções, a canoa pode ser utilizada, com maior ou menor esforço, sendo comum em todo o rio. Para a travessia das corredeiras (trechos em que a água corre mais rapidamente), a embarcação favorita é o Ajoujo, formado de duas ou três canoas emparelhadas e atadas com alças ou tiras de couro cru. Deslizam ainda pelo São Francisco: balsas, paquetes, barcas e vapores. A balsa é uma espécie de jangada sem vela. O paquete é uma jangada pequena movida a remo. Utilizado no transporte de mantimentos, carrega até 40 ou 50 sacos de mercadoria em cada viagem. A barca é familiar ao grande rio desde os fins do século 17. Seu tamanho varia: 60 a 105 palmos de comprimento, por 12 a 16 de largura. É movida a vela, a vara ou a remo. Depois do vapor, é a embarcação mais poderosa do São Francisco e transporta artigos de exportação. Sua tripulação geralmente consiste em seis a doze pessoas encarregadas do remo ou da vara (remeiros) e mais um piloto. Lendas do Rio São Francisco Minhocão É uma cobra enorme, gigantesca mesmo, que vive no Rio São Francisco. Quando lhe dá na cabeça, vai furando a terra e passa por baixo das casas. O buraco que fica por onde ela passa é tão grande que as caem. Seu divertimento predileto é aparecer e apavorar os que viajam de barco. De vez em quando, ele fica zangado, sem ninguém saber o motivo, e dá terrível pancada com o rabo nas embarcações, mandando-as imediatamente para o fundo. É ele também que cava as grutas nas barrancas do rio. Caboclo-D’água É uma criatura fantástica que vive no lugar mais fundo do Rio São Francisco. Tem o domínio sobre as águas e os peixes. Favorece tudo aos amigos e compadres, e persegue ferozmente os pescadores e barranqueiros com que antipatiza, virando canoas, erguendo ondas, derrubando as barreiras e afugentando os peixes para prejudicar os pescadores. Mãe-D’água Sereia que vive no rio. Para os barranqueiros, o rio dorme quando é meia-noite. Fica adormecido por dois minutos. Nesse momento, o rio pára de correr e as cachoeiras de cair. Os peixes deitam-se no fundo do rio, as cobras perdem o veneno, e a Mãe-d’Água vem para fora, procurando uma canoa. Senta-se nela para pentear os longos cabelos. Quem vê a Mãe-d’Água se embelezando é, de uma maneira ou de outra, castigado. Pode-se falar com ele, gritar, chamar, que o coitado não ouve nada. É encantamento mesmo! Fica com um olhar vazio, andando de um lado para outro, sem destino certo. Perde o juízo e o coração. CODEVASF – Comissão para o Desenvolvimento do Vale do São Francisco Órgão do Ministério do Interior destinado a promover o desenvolvimento regional do Vale do São Francisco. A Comissão, anteriormente denominada Superintendência do Vale do São Francisco (SUVALE), foi criada para estudar o planejamento global do desenvolvimento brasileiro. Ocupa-se de programas cujo objetivo principal é minimizar o desequilíbrio sócio-econômico observado entre as regiões brasileiras. Por outro lado, a CODEVASF visa também a exploração de áreas de subdesenvolvidas, a fim de sistematizar recursos e condições para o crescimento econômico das áreas banhadas pelo São Francisco e, ainda, o aproveitamento energético e de circulação do rio. Usina Hidrelétrica de Sobradinho Barragem e usina hidrelétrica do Rio São Francisco, perto de Petrolina e Juazeiro. Construída primordialmente para regularizar a vazão do rio, à altura das corredeiras de Sobradinho, deu origem ao reservatório de maior área do Brasil, que comporta 34Gm³ de água e que tem 30km de largura em alguns trechos. A usina tem uma potência de 1.050 MW. Usina Hidrelétrica de Paulo Afonso Instalada no Rio São Francisco, no município de Paulo Afonso (Bahia), no limite dos Estados de Alagoas e Bahia. Construída pela Companhia Hidrelétrica do São Francisco para utilização do potencial da Cachoeira de Paulo Afonso, localizada a 342km da foz daquele rio, a usina foi inaugurada em janeiro de 1955. Primeira usina brasileira projetada para ser instalada no subsolo, operava, naquele ano, com três grupos geradores com a capacidade total de 180,00 kW. Com os trabalhos da represa, o Rio São Francisco subira cerca de cinco metros acima de seu nível normal, formando um lago de 15 milhões de metros cúbicos. Prosseguiam, ininterruptamente, os trabalhos de ampliação e, em 1972, a hidrelétrica, com mais de onze mil quilômetros de linhas, fornecia energia a cerca de 1.500 municípios, servindo uma população de mais de 30 milhões de pessoas. A usina serve, além da Bahia, a todos os Estados do Nordeste Oriental: Rio Grande do Norte, Sergipe, Alagoas, Ceará, Paraíba e Pernambuco. Usina Hidrelétrica de Três Marias Situada na confluência dos rios Borrachudo e São Francisco, no município de Barreira Grande, a 290km de Belo Horizonte (MG). Iniciada em 1957 e inaugurada em 1961, sua construção esteve a cargo da Superintendência do Vale do São Francisco (SUVALE), atual Comissão para o Desenvolvimento do Vale do São Francisco (CODEVASF), em convênio com as Centrais Elétricas de Minas Gerais (CEMIG), hoje Companhia Energética de Minas Gerais. Sua capacidade geradora é de 520.000 kW, e a barragem da represa mede 2.700 metros de extensão.