informalidade no mercado de trabalho de fortaleza
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INFORMALIDADE NO MERCADO DE TRABALHO DE FORTALEZA: DIMENSÃO E CARACTERÍSTICAS 2 Informalidade no mercado de trabalho de Fortaleza: dimensão e características INFORMALIDADE NO MERCADO DE TRABALHO DE FORTALEZA: DIMENSÃO E CARACTERÍSTICAS Informalidade no mercado de trabalho de Fortaleza: dimensão e características 3 Estudo realizado pelo Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT) - Organização Social Decreto Estadual nº 25.019, de 03/07/98. Editoração eletrônica, capa e layout Antônio Ricardo Amâncio Lima David Tahim Alves Brito Raquel Marques Almeida Rodrigues Revisão: Regina Helena Moreira Campelo Normalização Bibliográfica: Paula Pinheiro da Nóbrega Correspondência para: Instituto de Desenvolvimento do Trabalho - IDT Av. da Universidade, 2596 - Benfica CEP 60.020-180 Fortaleza-CE Fone: (085) 3101-5500 Endereço eletrônico: [email protected] M578i Mesquita, Erle Cavalcante. Informalidade no mercado de trabalho de Fortaleza: dimensão e características / Erle Cavalcante Mesquita. – Fortaleza: Instituto de Desenvolvimento do Trabalho, 2008. 41 p. 1. Mercado de Trabalho. 2. Informalidade. I. Título. CDD: 311.12 4 Informalidade no mercado de trabalho de Fortaleza: dimensão e características Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT) Francisco de Assis Diniz Presidente Antônio Gilvan Mendes de Oliveira Diretor de Promoção do Trabalho Sônia Maria de Melo Viana Diretora Administrativo-Financeiro Leôncio José Bastos Macambira Júnior Diretor de Estudos e Pesquisas Análise e Redação Erle Cavalcante Mesquita Apoio Técnico Arlete da Cunha de Oliveira Rosaliane Macêdo Pinto Quezado Informalidade no mercado de trabalho de Fortaleza: dimensão e características 5 6 Informalidade no mercado de trabalho de Fortaleza: dimensão e características SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 1.2 Delineando o Objeto de Estudo 9 11 2 EVOLUÇÃO DOS INDICADORES DO MERCADO DE TRABALHO LOCAL 14 3 CARACTERÍSTICAS DAS RELAÇÕES INFORMAIS DE TRABALHO 3.1 Os Subsetores de Atividade 18 24 4 O ASSALARIAMENTO SEM REGISTRO EM CARTEIRA 4.1 A Importância do Registro em Carteira 33 35 5 O TRABALHO AUTÔNOMO 38 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 45 7 REFERÊNCIAS 47 Informalidade no mercado de trabalho de Fortaleza: dimensão e características 7 8 Informalidade no mercado de trabalho de Fortaleza: dimensão e características 1 INTRODUÇÃO A opção por investigar a informalidade em Fortaleza, tem uma incontestável justificativa histórica, econômica e sociológica. Na verdade sabe-se que mais da metade da população ocupada local está nesta condição, muitas vezes, buscando sobreviver do improviso em atividades de baixa produtividade, burlando a burocracia estatal e o pagamento de impostos, dentre outras características, que representam uma litania bastante conhecida na literatura. De fato, a informalidade envolve uma multiplicidade de fenômenos que vão das estratégias de sobrevivência dos “bicos” até o comércio de rua (camelôs e ambulantes, por exemplo), passando, muitas vezes, pelas práticas ilegais das contratações irregulares, da evasão fiscal e da venda dos mais variados produtos falsificados, encontrados hoje em qualquer lugar da cidade. Apesar dessa multiplicidade de fenômenos, há um entendimento comum da temática da informalidade como sendo as atividades não regulamentadas ou protegidas pelas autoridades públicas, seja pelos dispositivos formais, seja pelos procedimentos usuais. (INTERNATIONAL…, 1972, 2002; CACCIAMALI, 2000). A economia informal ou a “informalização da economia” acontece porque o aparato institucional não tem acompanhado o ritmo das transformações econômicas, políticas e sociais. Esse aparato deve ser compreendido pelo conjunto de leis, normas, regras, crenças e valores consensualmente aceitos pela sociedade. (NORTH, 1993). Contudo, essa assimetria entre as estruturas e práticas sociais era vista como um problema tipicamente de “países subdesenvolvidos”, cujos contextos geográficos não havia atingindo todos os “estágios do capitalismo avançado”, conforme descrevia a literatura de outrora. Conforme é conhecida, essa idéia de estágio trazia em seu bojo as noções do atraso e das distorções econômicas dos “países periféricos”, cujos problemas foram mais evidentes com o ritmo crescente de urbanização e de industrialização da segunda metade do século XX. No Brasil, a expansão econômica, associada ao papel da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), a partir dos anos 1940, promoveu um forte crescimento populacional nos principais centros urbanos e que, mesmo no período do Informalidade no mercado de trabalho de Fortaleza: dimensão e características 9 “milagre brasileiro”, parcelas expressivas de trabalhadores não foram incorporadas nesse processo de expansão do assalariamento com registro em carteira. Nesse sentido, valorosos debates foram realizados no país a partir de 1950, buscando compreender o papel do “nacional desenvolvimentismo” para essas “populações marginais”. Em linhas gerais, essa preocupação estava presente, de uma forma ou de outra, tanto no viés marxista, como no neoclássico. No primeiro caso, destaque-se o papel da exploração da força de trabalho mediante a existência do “exército de reserva industrial”, enquanto no segundo, o destaque são as assimetrias entre os fatores produtivos existentes e as tecnologias utilizadas nestes países, muitas vezes, adaptadas e com uso intensivo de mão-de-obra. Essas concepções econômicas resumidas acima colaboraram para a construção de uma agenda de pesquisa sobre a informalidade nos “países periféricos”, a partir dos anos 1970.1 Não obstante essa realidade, a própria Organização Internacional do Trabalho (OIT), reconhece que: Atualmente, existe ainda este dilema – mas que é mais amplo e complexo. Contrário as previsões anteriores, a economia informal tem crescido rapidamente em quase todos os cantos do mundo, incluindo os países industrializados – cujo problema não pode ser mais considerado como um 2 fenômeno localizado e temporário. (INTERNATIONAL..., 2002, p. 1). Essa mudança de atenção deve-se à extensão do problema para os mais diversos lugares do mundo, especialmente pela reestruturação produtiva que vem marcando importantes transformações econômicas, políticas e sociais nessa economia globalizada. Os fenômenos mais visíveis desse processo têm sido a flexibilização e a informalização das relações de produção, diversificação das modalidades contratuais e de inserção ocupacional, terceirização, dentre outros. Nessa perspectiva, este estudo investiga a informalidade dentro do mercado de trabalho, cujos processos mais evidentes têm sido as contratações 1 Os primeiros estudos empíricos dessa temática ocorreram em países africanos como Gana (1971) e Quênia (1972), cujos debates foram trazidos para as conferências promovidas pela Organização Internacional do Trabalho até a constituição específica de uma reunião sobre este tema, em 1991, denominada: “O dilema do setor informal” (INTERNATIONAL..., 2002). 2 Tradução livre do seguinte trecho: “Today, there is still a dilemma – but one that is much larger in magnitude and more complex. Contrary to earlier predictions, the informal economy has been growing rapidly in almost every corner of the globe, including industrialized countries – it can no longer be considered a temporary or residual phenomenon […]”. 10 Informalidade no mercado de trabalho de Fortaleza: dimensão e características assalariadas sem registro em carteira e o trabalho autônomo (ou por conta-própria), cujas categorias ocupacionais são mensuradas constantemente pelas pesquisas domiciliares especializadas, nas mais diversas áreas urbanas do país.3 Esse recorte metodológico, já amplamente utilizado pela literatura, é denominado, muitas vezes, como “economia informal”. Este delineamento tem como foco as unidades econômicas que, via de regra, possuem baixo nível de organização e de produção, densidade de mão-de-obra em meio ao uso de tecnologias adaptadas e da quase não separabilidade do capital e do trabalho. (INTERNATIONAL..., 1972, 2002). É deste segmento que trata este estudo, mais especificamente, dos assalariados sem carteira assinada e do trabalho autônomo, em Fortaleza. A investigação destes segmentos não restringe o problema da informalidade ao mercado de trabalho, mas possibilita a investigação empírica desse fenômeno dentro desta esfera econômica. São reconhecidas as inúmeras críticas a este procedimento teóricometodológico, uma vez que não capta as multiplicidades da informalidade. Todavia, em termos de políticas públicas de emprego, trabalho e renda, este é um importante subsídio para melhorias das iniciativas em curso, de discussões de (des)regulamentações das relações de trabalho, de inserções ocupacionais e sociais, dentre outras questões relativas ao mundo laboral. 1.2 Delineando o Objeto de Estudo Deve-se salientar que, ao pesquisar a informalidade em Fortaleza, a opção quanto aos procedimentos já estava encaminhada, uma vez que a Pesquisa Desemprego e Subemprego (PDS), realizada pelo Sistema Nacional de Emprego (SINE) / Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT), tanto capta esta informação, como dispõe de uma longa série histórica sobre os indicadores do mercado de trabalho, o que favoreceu uma compreensão conjuntural desse fenômeno. Nos anos 1980, o mercado de trabalho local tinha uma situação favorável, dado que tinha uma taxa de desemprego abaixo da atual, mesmo com a elevada pressão da busca por trabalho. Havia nesse contexto uma maior oferta de postos de 3 Pesquisa Desemprego e Subemprego (PDS), Pesquisa Emprego e Desemprego (PED), Pesquisa Mensal do Emprego Informalidade no mercado de trabalho de Fortaleza: dimensão e características 11 trabalho assalariados com carteira assinada, que caiu drasticamente na década seguinte pelo baixo crescimento econômico das últimas décadas (aquém de 3% ao ano), o que acarretou o crescimento do assalariamento sem registro em carteira, o trabalho autônomo e aquele sem remuneração, nos anos 1990. Assim, os trabalhadores informais são compreendidos, para fins deste trabalho, como sendo as categoriais ocupacionais dos assalariados sem carteira (inclusive o empregado doméstico); autônomo, exceto o profissional liberal; pequeno empregador, trabalhador familiar ou membro da família sem remuneração, conforme conceituação da Pesquisa Desemprego e Subemprego. É nesse período dos anos 1990 que o mercado de trabalho local tem um dos períodos mais difíceis, pois se nota uma queda do nível ocupacional, mesmo com o crescimento das relações informais de trabalho. Contudo, a opção por investigar esta temática, nos anos recentes, deve-se ao elevado e contínuo grau de informalidade na Capital cearense, mesmo nesse importante período de crescimento do emprego com carteira dos anos 2000. Diante disso, quais seriam os segmentos da força de trabalho mais afetados com as relações informais de trabalho? Quais os setores de atividade em que esta prática é mais freqüente? Qual o nível de rendimento desses trabalhadores? Qual o perfil desses trabalhadores? Estas são algumas inquietações que este estudo explora, as relações informais de trabalho dos anos 2000, por ser uma questão importante e demonstrar que esse problema não está relacionado apenas ao contexto de retração do emprego assalariado com carteira assinada. A busca dessas explicações está estruturada em cinco capítulos. Após esta introdução, o segundo capítulo busca contextualizar os principais indicadores do mercado de trabalho local, procurando demonstrar a evolução do patamar de informalidade, em Fortaleza. Os trabalhadores informais ainda representam predominantemente os segmentos mais vulneráveis do mercado de trabalho constituídos por mulheres, pessoas maiores de 40 anos de idade e os menos escolarizados. No entanto, as relações de trabalho informais vêm atingindo, cada vez mais, os diversos segmentos do mercado de trabalho, conforme é apresentado posteriormente (capítulo 3). (PME), dentre outras. 12 Informalidade no mercado de trabalho de Fortaleza: dimensão e características Feita essa caracterização, os capítulos seguintes expõe com maior detalhe as principais categorias ocupacionais entre os trabalhadores informais, assalariado sem registro (capítulo 4) e o autônomo (capítulo 5), demonstrando as suas especificidades. Ademais, os resultados mensurados ao longo deste estudo sinalizam claramente a inclusão da questão de gênero nas políticas voltada às ocupações informais. A temática de gênero é compreendida, para fins deste estudo, como “um elemento constitutivo das relações sociais, baseadas nas diferenças percebidas entre os sexos.” (SCOTT, 1988, p. 42). Em outras palavras, isto significa dizer que, mesmo no mercado informal, as mulheres apresentam diferenças em relação ao padrão de rendimento, jornada de trabalho, dentre outras questões. Com este estudo, espera-se apresentar ao leitor uma série de informações e considerações sobre o mercado de trabalho informal, em Fortaleza. Informalidade no mercado de trabalho de Fortaleza: dimensão e características 13 2 EVOLUÇÃO DOS INDICADORES DO MERCADO DE TRABALHO LOCAL Nos últimos anos, os indicadores do mercado de trabalho na Capital cearense vêm demonstrando sinais de recuperação, especialmente pelo crescimento da População Economicamente Ativa (PEA), associado à elevação dos níveis de ocupação e ao recuo da taxa de desemprego, significando maior capacidade da economia local na geração de postos de trabalho. O Gráfico 1 apresenta a evolução dos indicadores do mercado de trabalho ao longo de toda a série histórica da Pesquisa Desemprego e Subemprego (PDS). Destaque-se o vertiginoso crescimento da PEA, nos últimos cinco anos, fato que sinaliza tanto um maior nível de atividade econômica, como elevada pressão no mercado de trabalho. Com exceção do ano de 1984, este indicador atingiu o seu maior valor na série histórica, com 51,55% da população em idade ativa (pessoas com 10 anos ou mais), em 2007.4 Gráfico 1 – Evolução dos Indicadores do Mercado de Trabalho – Fortaleza – 1984 - 2007 Fonte: SINE/CE - IDT. Observa-se, por meio do Gráfico 1, uma nítida recuperação do nível ocupacional da força de trabalho local, cujo patamar caiu, ao longo da década de 1990, 4 14 Em 1984, a população economicamente ativa registrou a taxa de 51,72% da população em idade ativa. Informalidade no mercado de trabalho de Fortaleza: dimensão e características especialmente entre os trabalhadores assalariados com carteira, comportamento também observado nas mais diversas regiões do país. Sabe-se que apesar da heterogeneidade do mercado de trabalho brasileiro, diversos fatores relacionados, sobretudo, à política macroeconômica, atingiram os mais diferentes contextos regionais do país a partir dos anos 1990, tais como: estagnação/recessão econômica, abertura comercial da economia brasileira, reestruturação das empresas, ajuste do setor público, crise cambial, dentre outros. (POCHMANN, 2000, 2002; RAMOS, 2005; ANTUNES, 2006; MACAMBIRA, 2006; MACAMBIRA; SANTOS, 2007). Em Fortaleza, ao longo desse período, houve aumento significativo da informalidade nas relações de trabalho (autônomo e assalariado sem registro), fazendo com que mais da metade da população ocupada local passasse a compor o chamado “setor informal”. Entre 1984 e 2007, a taxa de ocupação informal cresceu 11,78 pontos percentuais, atingindo 55,90% dos trabalhadores ocupados. Deve-se mencionar também que a elevação da informalidade não impediu a queda da ocupação, sobretudo, nos anos 1990, bem como o contínuo crescimento do desemprego, mas apenas contribuindo para amenizar as tensões originadas por uma conjuntura econômica altamente desfavorável ao emprego, que se prolongou por toda essa década, com alguma melhora apenas no início do Plano Real. De fato, em 1989, a taxa de desemprego era 8,91% da PEA, e, em 1999, ano da crise cambial, já atingia 13,56%. Após esse ano, mesmo com a importante recuperação do emprego formal no país, a taxa de desemprego chegou a atingir 17,03%, em 2004, demonstrando o excedente de mão-de-obra no mercado de trabalho local. Contudo, nos anos seguintes (2005-2007), observa-se uma contínua redução desse indicador, sinalizando maiores oportunidades de trabalho na atual conjuntura, geradas a partir do melhor desempenho da economia cearense, notadamente em 2004 e 2007, anos de maiores crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Percebe-se, portanto, que, mesmo com a elevada pressão de busca por trabalho (crescimento elevado e contínuo da PEA), a taxa de desemprego vem declinando, ano após ano, chegando a atingir 13,43%, em 2007, fato que ratifica que a economia local está gerando postos de trabalho em quantidade suficientes para a Informalidade no mercado de trabalho de Fortaleza: dimensão e características 15 diminuição do desemprego, mesmo que a maior parcela dessas vagas tenha sido gerada na informalidade. O Gráfico 2 mostra o crescimento dos subsetores serviços, indústria de transformação e construção civil na população ocupada de Fortaleza, entre 1988-2007. Destes subsetores, destaque-se o crescimento da participação dos serviços na população ocupada, que passou de 42%, em 1988, para o patamar de 50,79%, em 2007.5 Gráfico 2 – Indicadores Médios Anuais de Ocupação, por Subsetores de Atividade – Fortaleza – 1988 2007 Fonte: SINE/CE - IDT. A literatura e os estudos empíricos sobre a informalidade demonstram que a informalidade no subsetor serviços é elevada. (RAMOS; FERREIRA, 2005; DIEESE, 2006). Contudo, uma das questões mais interessantes relatadas a seguir é o avanço da informalidade nos demais subsetores, em Fortaleza, especialmente na construção civil e na indústria de transformação, neste último, ressalte-se o crescimento da contratação de trabalhadores assalariados sem registro em carteira, o que contraria a literatura que aponta que este é um dos subsetores mais formalizados, conforme se demonstra nos capítulos seguintes. 5 As diferenças metodológicas não possibilitaram a geração de outros indicadores do mercado de trabalho além das taxas globais de participação, ocupação e desemprego, nos anos de 1984 a 1987. 16 Informalidade no mercado de trabalho de Fortaleza: dimensão e características Deve-se assinalar, entretanto, que o crescimento da informalidade não está associado à retração ou expansão do emprego formal, uma vez que, mesmo nesse período de crescimento do emprego com carteira, o patamar de informalidade continua elevado e crescente, sinalizando ser um problema estrutural do mercado de trabalho local. Desse modo, o próximo capítulo investiga detalhadamente as relações informais de trabalho na Capital cearense. Informalidade no mercado de trabalho de Fortaleza: dimensão e características 17 3 CARACTERÍSTICAS DAS RELAÇÕES INFORMAIS DE TRABALHO A estratificação da população ocupada de Fortaleza demonstra claramente o crescimento das relações de trabalho não-assalariadas, que passaram a representar 34% do total de ocupados, contra 29%, em 2000. As demais categorias ocupacionais apresentaram menores variações, com exceção do empregado público, cuja participação diminuiu significativamente, uma vez que o setor estatal passou, nos últimos anos, por reestruturações, como a adequação dos gastos com pessoal à Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).6 Neste período, [...] A alternativa da demissão de funcionários públicos não estáveis pelo poder executivo federal, de adoção de programas de demissão voluntária, de fechamentos de organismos estatais, de privatização e de aprovação da reforma administrativa indicam uma firme intenção governamental no sentido de enxugamento de pessoal. (POCHMANN, 2002, p. 25). Por outro lado, os trabalhadores autônomos passaram a representar quase 1/3 da população ocupada, em 2007. Neste ano, dos 912 mil trabalhadores ocupados, aproximadamente, 290 mil eram autônomos, categoria que só perdia quantitativamente para os empregados do setor privado, com 478 mil pessoas. Ainda com relação ao emprego público, estima-se que, entre os anos de 2000 e 2007, foram fechados 8,6 mil postos de trabalho, na Capital cearense, fato que exemplifica esse comportamento do setor público. (Tabela 1).7 Tabela 1 – População Ocupada por Categoria Ocupacional – Fortaleza – 2000 / 2007 2000 2007 Categoria ocupacional % Estimativa % Estimativa Assalariado Empregado público 9,87 65.475 6,23 56.840 Empregado doméstico 7,07 46.901 7,14 65.142 Empregado particular 53,70 356.234 52,39 477.984 Subtotal 70,64 468.610 65,76 599.966 6 A Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000, estabeleceu normas e diretrizes que assegurassem o equilíbrio das finanças públicas, dentre outras providências. 7 Independentemente de o vínculo estar relacionado à administração municipal, estadual ou federal. 18 Informalidade no mercado de trabalho de Fortaleza: dimensão e características Não Assalariado Profissional liberal Membro da família sem remuneração Autônomo Empregador Subtotal Total Geral Fonte: SINE/CE - IDT. 0,30 1,48 25,92 1,66 29,36 100,00 1.990 9.818 171.947 11.012 194.767 663.377 0,21 0,87 31,78 1,38 34,24 100,00 1.916 7.938 289.948 12.591 312.393 912.359 Ao mesmo tempo, sabe-se que a terceirização dos serviços, sejam eles públicos ou privados, foi uma forma de ajuste do mercado de trabalho, mesmo que através do assalariamento com registro em carteira. Nesse período, dos empregos assalariados gerados na iniciativa privada, 63% tinham registro em carteira e 37% não possuíam.8 Apesar da recente recuperação do emprego formal, nota-se que o ritmo de crescimento das ocupações não-assalariadas aumentou mais do que o dobro do tradicional assalariamento regido pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). 9 Atualmente, existem outras formas de contrato diferentes das regidas pela CLT, tais como: prestação de serviços, trabalho autônomo, dentre outras, que geralmente não incluem o sistema previdenciário, Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), férias, 13º salário, dentre outros benefícios assegurados constitucionalmente. Tal realidade aponta a necessidade de discussões sobre o marco regulatório dessas ocupações, uma vez que estes postos de trabalho vêm crescendo à margem de um sistema de proteção trabalhista e social, conforme é apresentado a seguir. Além disso, cabe mencionar que a informalidade vem cada vez mais atingindo os mais diversos segmentos da força de trabalho local, apesar de ainda estar bastante concentrada naqueles que tradicionalmente encontram maiores dificuldades de inserção ocupacional, tais como: as mulheres e os trabalhadores de baixa escolaridade, por exemplo. Observou-se que, em 2007, a maior parcela de trabalhadores informais era constituída por mulheres (51,15%) e pessoas com, no máximo, o ensino fundamental (60,20%). Por outro lado, cabe mencionar que cresceu o percentual de trabalhadores que concluíram, pelo menos, o ensino médio, de 31,92% (2000) para 39,80% (2007), 8 9 Fonte: Pesquisa Desemprego e Subemprego – SINE/CE – IDT. O crescimento do número de ocupados não-assalariados foi maior do que os assalariados (28,03%), com 60,39%. Informalidade no mercado de trabalho de Fortaleza: dimensão e características 19 fato que sinaliza claramente a incorporação de outros segmentos da força de trabalho na informalidade. (Tabela 2). Tabela 2 – População Ocupada Informal por Gênero, Segundo Grau de Instrução – Fortaleza – 2000 / 2007 Ano/Gênero Grau de instrução 2000 2007 Masculino Feminino Total Masculino Feminino Total Analfabeto 6,23 5,39 5,83 5,50 4,43 4,95 Alfabetizado 4,51 3,40 3,99 2,50 2,06 2,27 1º Grau 59,68 56,67 58,26 54,54 51,49 52,98 2º Grau 25,71 28,73 27,13 33,50 36,82 35,21 Superior 3,87 5,81 4,79 3,96 5,20 4,59 Total 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 Estimativas Analfabeto 11.259 8.632 19.891 13.719 11.526 25.245 Alfabetizado 8.154 5.459 13.613 6.222 5.355 11.577 1º Grau 107.777 90.991 198.768 135.867 134.337 270.204 2º Grau 46.434 46.127 92.561 83.488 96.086 179.574 Superior 6.994 9.348 16.342 9.843 13.566 23.409 Total 180.618 160.557 341.175 249.139 260.870 510.009 Fonte: SINE/CE - IDT. Entre os mais escolarizados, chama-se à atenção a maior participação das mulheres, tanto no ensino médio, como no superior, enquanto a masculina é mais incisiva entre aqueles com menor instrução formal. Por mais uma vez, cabe destacar o crescimento das relações informais de trabalho, notadamente, entre as mulheres, uma vez que sua participação eleva-se de 47% (2000) para 51% (2007) da ocupação informal, em 2007. Observou-se também que o avanço da informalidade, notadamente, entre as atividades autônomas, ganhou maior expressão entre as pessoas maiores de 40 anos, de 37,49% (2000) para 44,07% (2007), comportamento que pode estar associado às maiores dificuldades de (re)inserção profissional destas pessoas no mercado de trabalho formal. (Gráfico 3 e Tabela 3). 20 Informalidade no mercado de trabalho de Fortaleza: dimensão e características Gráfico 3 – População Ocupada Informal por Faixa Etária – Fortaleza – 2000 /2007 Fonte: SINE/CE - IDT. Tabela 3 – População Ocupada Informal por Gênero, Segundo Faixa Etária – Fortaleza – 2000 / 2007 Ano/Gênero Faixa etária 2000 2007 Masculino Feminino Total Masculino Feminino Total 10 – 14 1,18 1,12 1,16 0,74 0,71 0,72 15 – 19 9,97 9,54 9,77 9,34 7,02 8,15 20 – 29 25,80 26,34 26,05 26,58 24,05 25,29 30 – 39 25,14 25,96 25,53 20,40 23,08 21,77 40 – 49 19,41 20,87 20,09 20,52 23,99 22,30 18,50 16,17 17,40 22,42 21,15 21,77 50 Total 100,00 10 – 14 15 – 19 20 – 29 30 – 39 40 – 49 50 Total Fonte: SINE/CE - IDT. 100,00 100,00 100,00 2.149 18.014 46.570 45.410 35.039 33.436 100,00 100,00 Estimativas 1.808 3.957 15.319 33.333 42.306 88.876 41.692 87.102 33.503 68.542 25.929 59.365 1.836 23.256 66.199 50.848 51.154 55.846 1.836 18.310 62.782 60.181 62.578 55.183 3.672 41.566 128.981 111.029 113.732 111.029 180.618 160.557 249.139 260.870 510.009 341.175 Os números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), mostram que houve eliminação de postos de trabalho para as pessoas com esse perfil etário, em todos os anos avaliados neste Informalidade no mercado de trabalho de Fortaleza: dimensão e características 21 estudo. Nesse interstício, foram eliminadas 15,3 mil vagas para as pessoas maiores de 40 anos. (Gráfico 4). Gráfico 4 – Saldo de emprego formais, segundo a faixa etária – Fortaleza – 2000/2007 Fonte: CAGED – MTE. É notório que a questão da informalidade não está simplesmente relacionada à ausência de postos de trabalho formais, visto que, por exemplo, o assalariamento sem registro não diminuiu entre os trabalhadores mais jovens, mesmo que estes tenham ocupado, nos últimos anos, a maior parcela dos empregos formais gerados, conforme demonstrado no Gráfico 4 e que é apresentado no capítulo seguinte. Assim, outras questões podem estar relacionadas à temática da informalidade, tais como: crescimento e densidade populacional, desempenho econômico e setorial, exploração do trabalho e luta pela subsistência, dentre outros fatores. Entretanto, atente-se para a crescente participação de pessoas com relações de trabalho informais, sobretudo, entre aquelas maiores de 40 anos, especialmente porque ainda existe um longo percurso ocupacional a ser trilhado por estas pessoas até a inatividade (diga-se, aposentadoria), tanto pelos pré-requisitos solicitados, como pelo próprio crescimento da expectativa de vida. 22 Informalidade no mercado de trabalho de Fortaleza: dimensão e características Conforme é conhecido, as relações de trabalho estão cada vez mais informais, o que tem promovido maior instabilidade no seu exercício, promovendo, sobretudo, elevada rotatividade da mão-de-obra. Um dado que sinaliza essa instabilidade ocupacional é que metade dos trabalhadores informais está há menos de dois anos no mesmo trabalho, o que permite perceber o longo período de tempo que estes trabalhadores precisam superar, mesmo não considerando o histórico das respectivas trajetórias profissionais. (Tabela 4). Somente quatro em cada 10 trabalhadores estão no trabalho atual há mais de quatro anos, sobretudo, os autônomos (capítulo 5). Tabela 4 – População Ocupada Informal por Gênero, Segundo Tempo de Trabalho – Fortaleza – 2000 / 2007 Ano/Gênero Tempo de trabalho 2000 2007 (meses) Masculino Feminino Total Masculino Feminino Total 23,99 26,64 25,24 25,54 27,06 26,32 0┫6 6 ┫ 12 11,37 13,45 12,35 11,29 13,04 12,19 12 ┫ 24 10,99 11,76 11,36 10,44 12,61 11,55 11,68 12,00 11,83 10,37 12,44 11,43 41,97 100,00 36,15 100,00 39,22 100,00 42,36 100,00 34,85 100,00 38,51 100,00 24 ┫ 48 > 48 Total Fonte: SINE/CE - IDT. Os dados apresentados demonstram também que a instabilidade é maior entre as mulheres, visto a sua maior concentração entre os trabalhadores com tempo no trabalho atual inferior a 12 meses. Outros exemplos de vulnerabilidade das mulheres no mercado de trabalho, mesmo na informalidade, são revelados ao longo deste documento, sinalizando claramente a necessidade de políticas públicas com base na questão de gênero. Essa instabilidade ocupacional torna mais difícil tanto completar os anos de contribuição, exigidos pelas leis que regem a Previdência no Brasil, como acumular experiência profissional, especializar-se, crescer dentro do mercado de trabalho, dentre outros aspectos. Como se sabe, estes trabalhadores não conseguem os benefícios da aposentadoria, seja pela falta de contribuições, seja de suas comprovações, provocando-os a permanecerem por maior tempo no mercado de trabalho. Informalidade no mercado de trabalho de Fortaleza: dimensão e características 23 Em virtude disso, alternativas de incentivo à formalização desses profissionais precisam ser desenvolvidas para que sejam capazes de assegurar, a posteriori, as aposentadorias desse expressivo contingente populacional, tais como: qualificação, linhas de crédito, orientação técnica, dentre outras. Do total de trabalhadores informais em Fortaleza, apenas cinco em cada 100 têm algum tipo de contribuição para a previdência (pública e/ou privada), independentemente de gênero, demonstrando que a maioria desses trabalhadores não está protegida por nenhum sistema previdenciário, fato que exemplifica que a superação deste problema não será simples, porém urgente e necessária. (Tabela 5). Tabela 5 – População Ocupada Informal por Gênero, Segundo Contribuição para Instituições Previdenciárias – Fortaleza – 2000 / 2007 Ano/Gênero Contribuição 2000 2007 Previdência pública Previdência privada Previdência pública e privada Não contribui Total Fonte: SINE/CE - IDT. Masculino 6,24 0,84 0,44 92,48 100,00 Feminino 5,10 0,77 0,39 93,74 100,00 Total 5,70 0,80 0,41 93,09 100,00 Masculino Feminino 4,20 3,47 0,31 0,30 0,27 0,17 95,22 96,06 100,00 100,00 Total 3,83 0,31 0,22 95,64 100,00 3.1 Os Subsetores de Atividade Entre 2000 e 2007, cresceu a participação dos subsetores da construção civil e da indústria de transformação na informalidade, enquanto diminui nos serviços e no comércio, que ainda possuem maiores representações tanto na população ocupada, como na informalidade. A maior parcela dos trabalhadores informais está nos serviços (49,82%), seguido do comércio (21,43%), indústria de transformação (18,75%), construção civil (8,89%), dentre outros, em 2007. (Gráfico 5). 24 Informalidade no mercado de trabalho de Fortaleza: dimensão e características Gráfico 5 – População Ocupada Informal por Subsetor de Atividade – Fortaleza – 2000/2007 Fonte: SINE/CE - IDT. O crescimento da informalidade na indústria cearense já foi destaque em outro estudo realizado pelo IDT, em 2007, que concluía: A identificação do perfil do trabalhador da indústria cearense não teve grandes alterações ao longo do período avaliado, constituído majoritariamente pelas populações masculina e adulta. Apesar disso, verificou-se, através do cruzamento de fontes de informações, que, apesar da diferença temporal, existe um amplo contingente de trabalhadores que atuam nesse subsetor na informalidade, especialmente as mulheres, que trabalham em pequenas ‘fabriquetas’ de confecções, materiais de limpeza, dentre outros. (IDT, 2007, p. 56). Na Capital cearense, a inter-relação do gênero com os subsetores de atividade demonstrou esse crescimento da informalidade entre as mulheres na indústria, e notadamente, nos serviços, enquanto a presença masculina foi mais incisiva nos demais subsetores, especialmente na construção civil, cujas ocupações ainda são predominantemente masculinas, tais como: servente, pedreiro, carpinteiro, dentre outras. Apesar disso, estima-se que das 168,8 mil ocupações informais, geradas ao longo do período investigado, as mulheres ocuparam 100 mil destas (59,42%), sinalizando que a questão da informalidade, nesta cidade, deve ser encarada também numa perspectiva de gênero, tanto por este expressivo crescimento, como pela atual Informalidade no mercado de trabalho de Fortaleza: dimensão e características 25 predominância das mulheres no setor informal, principalmente na prestação de serviços. (Tabela 6). Tabela 6 – População Ocupada Informal por Gênero, Segundo Subsetores de Atividade – Fortaleza – 2000 / 2007 Ano/Gênero Subsetores de atividade 2000 2007 Indústria de transformação Construção civil Comércio Serviços Outros Total Indústria de transformação Construção civil Comércio Serviços Outros Total Fonte: SINE/CE - IDT. Masculino 13,69 11,37 28,98 42,97 2,99 100,00 24.735 20.539 52.337 77.617 5.390 180.618 Feminino 15,10 0,40 21,58 61,71 1,21 100,00 Estimativas 24.258 648 34.663 99.043 1.945 160.557 Total 14,36 6,21 25,50 51,78 2,15 100,00 Masculino 16,26 17,94 22,44 41,12 2,24 100,00 Feminino 21,12 0,24 19,88 58,15 0,61 100,00 Total 18,75 8,89 21,13 49,82 1,41 100,00 48.993 21.187 87.000 176.660 7.335 341.175 40.495 44.728 55.897 102.409 5.610 249.139 55.132 612 51.868 151.677 1.581 260.870 95.627 45.340 107.765 254.086 7.191 510.009 Não obstante as diferenças metodológicas desta fonte de informação, constituída por uma pesquisa domiciliar por amostragem, com os registros administrativos do MTE, tais como o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), torna-se imprescindível esse comparativo para compreensão da dinâmica do mercado de trabalho local. Entre 2000 e 2007, cabe mencionar que o número de oportunidades de trabalho informais, em Fortaleza, cresceu com maior intensidade do que o emprego formal (116,7 mil), com 168,8 mil oportunidades. Destas, a maior parcela foi gerada nos serviços (77,4 mil), seguida da indústria de transformação (46,6 mil), construção civil (24,2 mil) e comércio (20,8 mil), conforme Gráfico 6. 26 Informalidade no mercado de trabalho de Fortaleza: dimensão e características (Em mil pessoas) Gráfico 6 – Saldo de Postos de Trabalho Formais e Informais, por Subsetores de Atividade – Fortaleza – 2000/2007 Fontes: CAGED – MTE; PDS-SINE/ IDT. Afora o comércio, observa-se que o número de empregos formais tem crescido em menor proporção do que as ocupações informais, “precárias, atípicas ou desprotegidas.” (CHAHAD, 2006 apud MACAMBIRA, 2006, p. 48). Uma hipótese explicativa para esse desempenho do comércio pode ser a própria formalização dos vínculos trabalhistas já existentes, uma vez que esse subsetor tem sido, nos últimos anos, um dos alvos prioritários dos órgãos de fiscalização. Outra característica importante é a redução da parcela de trabalhadores informais em jornadas de trabalho mais longas (> 44 horas), de 39,93% (2000) para 33,84% (2007), realidade observada em todos os subsetores de atividade, especialmente entre os trabalhadores da construção civil, fato que pode ser compreendido pela própria disponibilidade dos “bicos”. Ademais, destaque-se que 1/3 dos trabalhadores informais ainda enfrenta jornadas de trabalho superiores às 44 horas semanais. (Tabela 7). Informalidade no mercado de trabalho de Fortaleza: dimensão e características 27 Tabela 7 – População Ocupada Informal por Subsetores de Atividade, Segundo Horas Trabalhadas na Atividade Principal – Fortaleza – 2000 / 2007 Subsetores de atividade /Ano Horas Indústria de Construção Civil Comércio Serviços trabalhadas transformação 2000 2007 2000 2007 2000 2007 2000 2007 < 20 8,52 13,20 11,80 21,75 7,46 12,74 10,72 14,59 20 --| 40 41,94 47,99 38,63 48,99 36,93 42,42 41,05 47,54 41 --| 44 14,77 6,70 11,99 2,88 9,66 5,11 9,34 4,35 >44 34,77 32,11 37,58 26,38 45,95 39,73 38,89 33,52 Total 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 Fonte: SINE/CE - IDT. É preciso também considerar a questão de gênero nessa discussão sobre a jornada de trabalho entre os informais, uma vez que as mulheres apresentaram maior presença nas jornadas de menor duração (até 40 horas). Uma hipótese explicativa é a própria litania da multiplicidade dos papéis femininos (mãe, dona de casa e esposa, por exemplo), cujas trabalhadoras enfrentam menores jornadas para dar conta dessas atividades, visto que também precisam compor o orçamento familiar. (Tabela 8). Tabela 8 – População Ocupada Informal por Gênero, Segundo Horas Trabalhadas na Principal – Fortaleza – 2000 / 2007 Ano/Gênero Horas 2000 2007 trabalhadas Masculino Feminino Total Masculino Feminino < 20 7,74 11,73 9,62 12,44 16,55 20 --| 40 36,96 43,65 40,11 44,76 48,76 41 --| 44 11,70 8,81 10,34 5,79 3,89 >44 43,60 35,81 39,93 37,01 30,80 Total 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 Estimativas < 20 13.988 18.833 32.821 31.009 43.147 20 --| 40 66.768 70.077 136.845 111.538 127.197 41 --| 44 21.119 14.159 35.278 14.382 10.149 >44 78.743 57.488 136.231 92.210 80.377 Total 180.618 160.557 341.175 249.139 260.870 Fonte: SINE/CE - IDT. Atividade Total 14,54 46,81 4,81 33,84 100,00 74.156 238.735 24.531 172.587 510.009 Chama a atenção o fato de, apesar da informalidade atingir os mais diversos segmentos econômicos e ocupacionais, esta apresentar maior representatividade em quatro grupos de ocupação, com destaque para o trabalho doméstico, constituído tanto por trabalhadores mensalistas, como diaristas, que fazem os serviços básicos (faxina e lavagem de roupas, por exemplo) nos lares, cujas 28 Informalidade no mercado de trabalho de Fortaleza: dimensão e características atividades ainda são predominantemente femininas. Outro grupo expressivo está relacionado às práticas comerciais, tais como: venda direta, ambulantes, comerciantes, balconistas, dentre outros, logo seguido dos trabalhadores da construção civil (pedreiro, servente e pintor de obras) e daqueles relacionados à manutenção e reparação de veículos e aparelhos eletrônicos. (Tabela 9). Tabela 9 – População Ocupada Informal, Segundo as Vinte Principais Profissões – Fortaleza – 2000 / 2007 Profissões 2000 2007 Empregado doméstico Vendedor de comércio varejista Comerciante varejista Empregado doméstico Vendedor de comércio varejista Costureiro, a máquina na confecção em série Costureiro na confecção em série Vendedor ambulante Pedreiro Comerciante varejista Vendedor ambulante Pedreiro Lavador de roupas Empregado doméstico (diarista) Mecânico de automóveis, motocicletas e veículos similares Servente de obras Servente de obras Manicure Auxiliar de serviços gerais Lavador de roupas Manicure Babá Cabeleireiro Artista (artes visuais) Ciclista (transporte de mercadorias) Cabeleireiro Cozinheiro Técnico eletrônico Balconista Costureiro na confecção em série Pintor de obras Cozinheiro Motorista de carro particular Pintor de obras Faxineiro Vendedor em domicílio Garçom Mecânico de automóveis, motocicletas e veículos similares Eletricista instalador, em geral Garçom Fonte: SINE/CE - IDT. As ocupações profissionais apresentadas mostram a heterogeneidade da informalidade, uma vez que contempla os mais diversos setores da economia, especialmente o terciário. Conforme é conhecido, as ocupações informais destacam-se pelo baixo nível de remuneração, haja vista, aproximadamente 70% dos entrevistados, terem seus rendimentos de, no máximo, um salário-mínimo, em 2007. Além disso, houve, entre 2000 e 2007, uma concentração significativa de trabalhadores com esse perfil de Informalidade no mercado de trabalho de Fortaleza: dimensão e características 29 rendimento, uma vez que, em 2000, aproximadamente, 44% dos trabalhadores informais tinham este padrão de rendimento, na Capital cearense, o que pode estar associado ao ganho real do salário-mínimo nos últimos anos, dado que essa realidade foi observada em todos os subsetores de atividade. (Tabelas 10 e 11). Tabela 10 – População Ocupada Informal por Gênero, Segundo Remuneração da Atividade Principal – Fortaleza – 2000 / 2007 Ano/Gênero Faixas de Salário 2000 2007 (Em SM) Masculino Feminino Total Masculino Feminino Total Sem Remuneração 5,62 6,57 6,07 5,46 6,98 6,24 0 --| ½ 5,09 10,51 7,64 15,64 29,56 22,76 ½ --| 1 22,04 38,12 29,61 38,51 43,25 40,93 1 --| 2 28,76 25,67 27,31 27,38 15,36 21,23 2 --| 3 11,28 6,08 8,83 6,36 2,24 4,25 3 --| 5 9,26 3,80 6,69 2,30 0,83 1,55 >5 8,16 3,10 5,77 1,74 0,36 1,04 Não Informou 9,79 6,15 8,08 2,61 1,42 2,00 Total 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 Estimativas Sem Remuneração 10.167 10.542 20.709 13.617 18.208 31.825 0 --| ½ 9.178 16.888 26.066 38.965 77.113 116.078 ½ --| 1 39.815 61.207 101.022 95.933 112.814 208.747 1 --| 2 51.960 41.214 93.174 68.188 40.087 108.275 2 --| 3 20.368 9.758 30.126 15.861 5.814 21.675 3 --| 5 16.718 6.107 22.825 5.712 2.193 7.905 >5 14.705 4.981 19.686 4.335 969 5.304 Não Informou 17.707 9.860 27.567 6.528 3.672 10.200 Total 180.618 160.557 341.175 249.139 260.870 510.009 Fonte: SINE/CE - IDT. Tabela 11 – População Ocupada Informal por Subsetores de Atividade, Segundo Remuneração da Atividade Principal – Fortaleza – 2000 / 2007 Subsetores de atividade /Ano Faixas de Salário Indústria de Construção Civil Comércio Serviços (Em SM) transformação 2000 2007 2000 2007 2000 2007 2000 2007 Sem Remuneração 7,37 8,52 7,42 8,08 7,28 6,18 5,08 5,09 0 --| ½ 7,37 23,97 3,90 17,74 7,28 22,72 8,44 23,35 ½ --| 1 25,43 39,36 18,27 37,57 24,72 38,55 34,47 42,97 1 --| 2 32,05 21,02 32,54 28,53 25,56 21,55 26,34 19,98 2 --| 3 9,59 3,70 15,32 4,18 8,85 4,80 7,79 4,24 3 --| 5 5,68 1,10 10,18 1,19 7,90 1,95 5,78 1,59 >5 4,98 0,80 2,95 0,68 7,78 1,40 5,24 1,00 Não Informou 7,53 1,53 9,42 2,03 10,63 2,85 6,86 1,78 Total 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 Fonte: SINE/CE - IDT. 30 Informalidade no mercado de trabalho de Fortaleza: dimensão e características Os dados mostram que a presença das mulheres nas faixas de rendimento mais baixas (até um salário) é mais expressiva que a dos homens (59,61%), com 79,79%, ratificando, mais uma vez, a necessidade de uma política de gênero no combate à informalidade. Feitas essas considerações, investiga-se agora os locais de trabalho daqueles que estavam na informalidade e constata-se que trabalhadores nas empresas que os contratam ou nos locais determinados por eles (os camelôs, por exemplo) diminuíram frente à expansão tanto daqueles que montaram seus próprios negócios, como dos que prestam serviços diretamente nos domicílios. (Tabela 12). Diante disso, percebe-se a necessidade tanto da oferta de cursos de qualificação profissional, como da abertura de linhas de crédito para que esses trabalhadores tenham melhores condições no mercado de trabalho, tais como: aperfeiçoamento de habilidades, capital de giro, aquisição de ferramentas de trabalho, dentre outros. Tabela 12 – População Ocupada Informal por Local Onde Realiza o Trabalho – Fortaleza – 2000 / 2007 Forma de realização 2000 2007 Na empresa que o contratou Em empresa(s) diferentes da que o contratou Em local determinado pelo próprio trabalhador Na empresa ou negócio de sua propriedade Em domicílios para os quais presta serviços, através de uma Empresa Em domicílios que demandam seus serviços diariamente Outros Total Fonte: SINE/CE - IDT. 32,83 1,54 19,92 22,97 0,14 19,64 2,96 100,00 30,29 0,79 18,36 26,23 --22,77 1,56 100,00 Enfim, sobre as características das relações de trabalho informais, em Fortaleza, chegou-se às seguintes conclusões: 1. A maior parcela destes trabalhadores possui baixo nível de remuneração e de cobertura previdenciária, o que demonstra ausência de proteção social e trabalhista; 2. Metade dos trabalhadores informais está há menos de dois anos no trabalho atual e que apenas quatro em cada 10 estão há mais de quatro anos, fato que sinaliza a instabilidade ocupacional destes trabalhadores; 3. Constatou-se uma redução da jornada média de trabalho semanal dos informais, apesar de 1/3 destes ainda possuir jornadas superiores às 44 horas semanais, notadamente, entre aqueles relacionados ao comércio. Tal realidade sinaliza Informalidade no mercado de trabalho de Fortaleza: dimensão e características 31 a precariedade destes postos de trabalhos, cujas condições de trabalho serão desagregadas segundo as categorias ocupacionais do assalariamento sem registro e do trabalho autônomo, conforme os capítulos seguintes. 32 Informalidade no mercado de trabalho de Fortaleza: dimensão e características 4 O ASSALARIAMENTO SEM REGISTRO EM CARTEIRA Este capítulo busca caracterizar uma das piores formas da informalidade, o assalariamento sem registro, cuja modalidade contratual tanto não cumpre a legislação trabalhista, como não recolhe os encargos sociais, constituindo-se prática ilícita. Investigam-se, aqui, os empregados particulares, cujo segmento é o mais representativo entre os assalariados, fato que possibilita uma análise mais pormenorizada deste problema. Nos últimos anos, a presença de trabalhadores sem carteira assinada na iniciativa privada cresceu, de 30,49% (2000) para 32,16%, mesmo nesse período de expansão do emprego formal, situação que foi mais incisiva entre os trabalhadores de 40 anos ou mais. (Tabela 13). Neste interstício, o número de empregados sem registro teve um adicional de 55 mil pessoas, totalizando 163,7 mil trabalhadores nessa condição, em 2007. Tabela 13 – Empregado Particular, Segundo a Posse da Carteira de Trabalho Assinada por Faixa Etária – Fortaleza – 2000 / 2007 2000 2007 Faixa etária Com CTPS Sem CTPS Com CTPS Sem CTPS 10 – 14 0,03 1,20 0,02 0,87 15 – 19 4,49 17,12 3,74 16,16 20 – 29 40,29 39,54 40,36 41,24 30 – 39 31,19 22,26 28,10 19,20 40 – 49 16,15 12,01 18,82 13,92 7,85 7,87 8,96 8,61 50 Total Fonte: SINE/CE - IDT. 69,51 30,49 67,84 32,16 Notou-se que o crescimento do assalariamento sem registro foi curiosamente mais incisivo nos trabalhadores mais escolarizados, notadamente, os de ensino médio, cujo segmento passou a representar quase a metade dos assalariados sem carteira. (Tabela 14). Cabe ponderar que a expansão da informalidade entre estas pessoas é indiscutível, mas sabe-se que a maior parcela de trabalhadores está agrupada quantitativamente no ensino médio, o que também justifica a maior concentração destes trabalhadores tanto entre os ocupados (formal e informal), como entre os desempregados, conforme evidenciado nas mais diversas pesquisas domiciliares realizadas no país. Informalidade no mercado de trabalho de Fortaleza: dimensão e características 33 Tabela 14 – Empregado Particular, Segundo a Posse da Carteira de Trabalho Assinada por Grau de Instrução – Fortaleza – 2000 /2007 2000 2007 Grau de instrução Com CTPS Sem CTPS Com CTPS Sem CTPS Analfabeto 2,38 3,32 1,32 2,17 Alfabetizado 1,89 2,55 0,91 1,12 Ensino Fundamental 44,13 54,41 32,09 42,43 Ensino Médio 43,54 32,77 54,53 46,64 Ensino superior 8,06 6,95 11,15 7,64 Total 100,00 100,00 100,00 100,00 Fonte: SINE/CE - IDT. Entre 2000 e 2007, a prática da contratação sem registro em carteira cresceu nos serviços (de 31,56% para 32,15%) e na indústria de transformação (27,46% para 35,06%), cujo subsetor apresentou a maior elevação, as explicações para este fato podem ser as mais diversas: elevada concorrência, carga tributária, real valorizado, dentre outras. Por outro lado, diminuiu a participação dos trabalhadores sem registro em carteira, na construção civil e no comércio, o que pode ser compreendido pela maior fiscalização nesses subsetores, uma vez que as lojas e os canteiros de obras, pelo longo histórico de serem locais com trabalhadores informais, foram alvos prioritários das ações de fiscalização das relações de trabalho. (Tabela 15). Tabela 15 – Empregado Particular, Segundo a Posse da Carteira de Trabalho Assinada por Subsetor de Atividade – Fortaleza – 2000 /2007 2000 2007 Subsetores de atividade Com CTPS Sem CTPS Com CTPS Sem CTPS Indústria de transformação 72,54 27,46 64,94 35,06 Construção civil 70,73 29,27 71,39 28,61 Comércio 68,82 31,18 70,77 29,23 Serviços 68,44 31,56 67,85 32,15 Fonte: SINE/CE - IDT. Os dados apresentados permitem identificar claramente que o crescimento da informalidade no subsetor da indústria não está relacionado somente à criação de pequenas fabriquetas de “fundo de quintal”, mas numa maior incidência de vínculos informais nas empresas. Tal realidade tanto desmistifica que a indústria é um subsetor onde os vínculos são bastante formalizados, como sinaliza a necessidade de maior fiscalização das relações de trabalho nestes estabelecimentos. 34 Informalidade no mercado de trabalho de Fortaleza: dimensão e características 4.1 A Importância do Registro em Carteira A desagregação das informações dos assalariados com e sem registro em carteira retrata a importância da formalização dos vínculos de trabalho. Inicialmente, cabe destacar que os assalariados contratados à margem da Constituição de 1988 não estão protegidos com relação às questões trabalhistas concernentes a esta modalidade contratual – aviso prévio, seguro-desemprego, piso oficial para menor remuneração, acidente de trabalho ou doença, aposentadoria, dentre outros. O caso da previdência é um dos pontos mais emblemáticos desta discussão, uma vez que o registro em carteira assegura este benefício, conforme demonstra a Tabela 16. Tabela 16 – Empregado Particular, Segundo a Posse da Carteira de Trabalho Assinada por Contribuição para Instituições Previdenciárias – Fortaleza – 2000 / 2007 2000 2007 Contribuição Com CTPS Sem CTPS Com CTPS Sem CTPS Previdência pública 99,44 3,73 99,85 3,07 Previdência privada --0,92 --0,18 Previdência pública e privada 0,56 0,46 0,15 0,30 Não contribui --94,89 --96,45 Total 100,00 100,00 100,00 100,00 Fonte: SINE/CE - IDT. Os resultados da participação dos assalariados sem carteira, em algum tipo de contribuição previdenciária, são pequenos. Além disso, esta participação diminuiu de 5,11% (2000) para 3,55% (2007), sinalizando um grande problema social para o futuro, uma vez que estes trabalhadores terão que permanecer mais tempo no mercado de trabalho ou depender economicamente de seus familiares ou do próprio Estado, por exemplo. Este é sem dúvida um dos problemas mais desafiantes da informalidade, a ausência de garantia de uma aposentadoria futura, por mínima que seja. O padrão de rendimento apresenta-se também como outro “divisor de águas” entre ter ou não registro em carteira. Entre os sem carteira, menos de 30% destes trabalhadores possuíam rendimentos superiores a 01 salário-mínimo, em 2007. Informalidade no mercado de trabalho de Fortaleza: dimensão e características 35 Já entre os formalizados, este percentual ultrapassa 62%, fato que demonstra um maior padrão de rendimento desses trabalhadores. (Tabela 17)10. Tabela 17 – Empregado Particular, Segundo a Posse da Carteira de Trabalho Assinada por Faixas de Salário – Fortaleza – 2000 /2007 2000 2007 Faixas de Salário (Em SM) Com CTPS Sem CTPS Com CTPS Sem CTPS Até ½ 1,34 11,27 1,47 20,99 ½ --| 1 16,58 32,54 36,23 49,30 1 --| 2 44,50 32,17 49,71 23,56 2 --| 3 15,70 8,52 7,17 2,63 3 --| 5 9,59 5,40 2,69 1,15 >5 5,97 3,72 1,03 0,59 Não Informou 6,32 6,38 1,70 1,78 Total 100,00 100,00 100,00 100,00 Fonte: SINE/CE - IDT. Apesar dessa realidade, chama atenção o baixo nível de remuneração dos assalariados da iniciativa privada, uma vez que a maior parcela destes trabalhadores não aufere rendimentos superiores a 02 salários. Esta concentração oscilou entre 87,41%, entre os com carteira, e 93,85%, entre os sem carteira. Em ambos os casos, foi constatado também uma maior inserção de trabalhadores em menores jornadas de trabalho, notadamente, os sem carteira. Mais da metade destes trabalhadores estavam inseridos em jornadas de, no máximo, 40 horas semanais. Por outro lado, destaque-se que uma parcela ainda expressiva dos assalariados da iniciativa privada trabalha além das 44 horas previstas por Lei, cujo percentual oscilou entre 36,56% (sem carteira) e 37,88% (com carteira), conforme a Tabela 18. Tabela 18 – Empregado Particular, Segundo a Posse da Carteira de Trabalho Assinada por Horas Trabalhadas na Atividade Principal – Fortaleza – 2000 / 2007 2000 2007 Horas trabalhadas Com CTPS Sem CTPS Com CTPS Sem CTPS < 20 2,35 5,61 2,73 6,19 20 --| 40 33,43 39,44 45,66 48,45 41 --|44 25,12 18,52 13,73 8,80 >44 39,10 36,43 37,88 36,56 Total 100,00 100,00 100,00 100,00 Fonte: SINE/CE - IDT. 10 A Constituição de 1988 assegura um padrão de rendimento mínimo, cujo valor monetário não pode ser inferior à relação do salário-mínimo com a jornada máxima de trabalho também estipulada por Lei, de 44 horas semanais. 36 Informalidade no mercado de trabalho de Fortaleza: dimensão e características Outro dado importante relacionado à posse da carteira de trabalho está relacionado à estabilidade no trabalho, uma vez que metade dos trabalhadores, que tinham seus vínculos formalizados, estava há mais de dois anos no trabalho atual. Entre os sem carteira, cerca de 45% estavam há, no máximo, seis meses no trabalho, o que ratifica a maior instabilidade ocupacional destes trabalhadores, conforme bastante evidenciado na literatura. (Tabela 19). Tabela 19 – Empregado Particular, Segundo a Posse da Carteira de Trabalho Assinada por Tempo de Trabalho – Fortaleza – 2000 – 2007 2000 2007 Tempo de trabalho (meses) Com CTPS Sem CTPS Com CTPS Sem CTPS 0 |--| 6 16,98 42,96 16,41 44,51 7 |--| 12 15,65 16,84 15,69 16,62 13 |--| 24 17,33 13,24 17,99 12,79 25 |--| 48 17,27 9,77 17,46 9,24 32,77 17,19 32,45 16,84 49 Total Fonte: SINE/CE - IDT. 100,00 100,00 100,00 100,00 Em síntese, os dados apresentados ratificam a importância da formalização dos vínculos, visto que assegura aos trabalhadores cobertura previdenciária, maior padrão de rendimento e menor instabilidade no trabalho, além das próprias garantias asseguradas por lei, tais como: 13º salário, férias, seguro-desemprego, dentre outras, possibilitando proteção social contra os riscos do assalariamento: demissão, doença, acidente de trabalho, envelhecimento, entre outros (POCHMANN, 2002). Informalidade no mercado de trabalho de Fortaleza: dimensão e características 37 5 O TRABALHO AUTÔNOMO Algumas características importantes merecem destaque com relação às ocupações que têm surgido diferentemente do assalariamento regular e regulamentado. Inicialmente, cabe destacar que a presença das pessoas maiores de 40 anos nessa condição torna-se ainda mais evidente. Mais da metade dos trabalhadores autônomos possuem este perfil etário, enquanto a prática do assalariamento (com ou sem registro) está mais presente entre os mais jovens. Por conta disso, os trabalhadores de 40 anos ou mais de idade se encontram diante de um novo desafio profissional de conseguir sua própria sustentabilidade através do trabalho “autônomo”. (Gráfico 7). Gráfico 7 – Empregado Particular e Trabalhador Autônomo por Faixa Etária – Fortaleza – 2007 Fonte: SINE/CE - IDT. O desassalariamento entre as pessoas acima de 40 anos, na condição de autônomos, cresceu de 52,80% (2000) para 57,84%, em 2007, fato que sinaliza que a (re)inserção destes trabalhadores está cada vez mais distante dos setores mais formalizados (grandes empresas e Administração Pública, por exemplo) e mais próxima das ocupações autônomas, que são geralmente de baixo rendimento e sem 38 Informalidade no mercado de trabalho de Fortaleza: dimensão e características proteção trabalhista, conforme tratado anteriormente. Por outro lado, 40% dos empregados do setor privado têm de 20 a 29 anos de idade. (Tabela 20). Tabela 20 – Empregado Particular e Trabalhador Autônomo por Faixa Etária – Fortaleza – 2000 / 2007 Empregado particular Faixa etária 10 – 14 15 – 19 20 – 29 30 – 39 40 – 49 50 Total Fonte: SINE/CE - IDT. Autônomo 2000 2007 2000 2007 0,39 8,34 40,05 28,47 14,89 7,86 0,29 7,73 40,65 25,24 17,24 8,85 0,42 2,45 15,88 28,45 27,26 25,54 0,35 2,95 16,15 22,71 27,19 30,65 100,00 100,00 100,00 100,00 Conforme já apresentado, a informalidade vem atingindo cada vez os mais diversos segmentos da força de trabalho, mas ainda recai mais sobre os segmentos populacionais que tradicionalmente são mais vulneráveis no mercado de trabalho, como as mulheres, os menos escolarizados e as pessoas com mais de 40 anos, cujos trabalhadores também apresentaram maiores participações nas ocupações autônomas. A constatação dessa realidade na Capital cearense pode ser observada pelo nível de escolaridade desses trabalhadores, uma vez que 66,86% dos autônomos possuíam, no máximo, o ensino fundamental, em 2007. Apesar dessa concentração, cabe registrar que 1/3 dos autônomos já concluiu, pelo menos, o ensino médio, o que também ratifica o avanço da informalidade em outros segmentos da força de trabalho local, especialmente aqueles com maior instrução formal. (Gráfico 8 e Tabela 21). Informalidade no mercado de trabalho de Fortaleza: dimensão e características 39 Gráfico 8 – Empregado Particular e Trabalhador Autônomo por Grau de Instrução – Fortaleza – 2007 Fonte: SINE/CE - IDT. Tabela 21 – Empregado Particular e Trabalhador Autônomo por Grau de Instrução – Fortaleza – 2000 / 2007 Empregado particular Autônomo Grau de instrução 2000 2007 2000 2007 Analfabeto Alfabetizado Ensino fundamental Ensino médio Ensino superior Total Fonte: SINE/CE - IDT. 2,67 2,09 47,26 40,26 7,72 100,00 1,59 0,98 35,42 51,99 10,02 100,00 6,91 5,02 58,78 26,07 3,22 100,00 6,14 2,92 57,80 30,08 3,06 100,00 Em mais uma oportunidade, o mercado sinaliza sua preferência por trabalhadores de nível médio. Nesse caso, a parcela de empregados do setor privado amplia-se de 40% (2000) para 52% (2007) e, dentre os autônomos, de 26% para 30%. Destaca-se que, apesar do estigma da insegurança e da instabilidade ocupacional que geralmente caracterizam o trabalho autônomo ou por conta-própria, este apresenta menor instabilidade no trabalho atual do que os assalariados. (DIEESE, 2006). Em Fortaleza, esta diferença é também bem nítida, uma vez que mais da metade dos autonômos está há mais de quatro anos no trabalho atual. Por outro lado, 40 Informalidade no mercado de trabalho de Fortaleza: dimensão e características verificou-se situação inversa entre os assalariados, notadamente, entre os sem carteira. Quase metade destes trabalhadores estava no trabalho havia, no máximo, seis meses, fato que demonstra claramente a maior instabilidade desse segmento no mercado de trabalho. (Gráfico 9). Gráfico 9 – Empregado Particular e Trabalhador Autônomo por Tempo de Trabalho – Fortaleza – 2007 Fonte: SINE/CE - IDT. Em que pese essa diferença, nota-se que, em termos de contribuição à Previdência, tanto os assalariados sem carteira, como os autônomos, possuem baixa cobertura previdenciária, uma vez que, em ambos os casos, menos de 5% destes trabalhadores fazem algum tipo de contribuição. Além de ínfima, essa participação apresenta-se em declínio, tanto entre os assalariados sem carteira (de 5,11% para 3,55%), como entre os autônomos (de 8,11% para 4,83%), sinalizando que a possibilidade do benefício da aposentadoria é um sonho cada vez mais distante para essa parcela de trabalhadores. (Tabela 22). Informalidade no mercado de trabalho de Fortaleza: dimensão e características 41 Tabela 22 – Empregado Particular e Trabalhador Autônomo Segundo a Contribuição para Instituições Previdenciárias – Fortaleza – 2000 / 2007 Empregado particular Autônomo Contribuição 2000 2007 2000 2007 Previdência pública Previdência privada Previdência pública e privada Não contribui Total Fonte: SINE/CE - IDT. 70,25 0,28 0,53 28,94 100,00 68,72 0,06 0,20 31,02 100,00 6,88 0,80 0,43 91,89 100,00 4,30 0,35 0,18 95,17 100,00 Uma hipótese explicativa dessa realidade é o baixo nível de rendimento desses trabalhadores, o que invibializa a inserção destas pessoas em algum regime previdênciário (público ou privado), haja vista que a maior parcela destas pessoas está nas faixas mais baixas de rendimento (até um salário). Entre os autônomos, esta concentração praticamente dobrou, de 33,47% (2000) para 64,97% (2007), fato que sinaliza que o padrão de rendimento destes trabalhadores não vem acompanhando o ganho real do salário-mínimo dos últimos anos. (Tabela 23). Tabela 23 – Empregado Particular e Trabalhador Autônomo por Faixas de Salário – Fortaleza – 2000 / 2007 Empregado particular Autônomo Faixas de Salário (Em SM) 2000 2007 2000 2007 Sem Remuneração 0 --| ½ ½ --| 1 1 --| 2 2 --| 3 3 --| 5 >5 Não Informou Total Fonte: SINE/CE - IDT. 2,46 1,91 21,45 40,73 13,51 8,31 5,29 6,34 100,00 2,70 5,05 40,43 41,29 5,71 2,20 0,89 1,73 100,00 3,53 8,79 21,15 27,50 11,00 8,98 8,36 10,69 100,00 4,21 27,21 33,55 23,13 5,97 2,02 1,45 2,46 100,00 Com relação a jornada de trabalho, destaque-se que a participação dos trabalhadores locais (assalariados e autônomos), em jornadas mais longas diminuiu, notadamente, entre os autônomos, cujo segmento geralmente possui maior flexibilidade em estabelecer a sua própria jornada. Desse modo, a inserção dos trabalhadores locais em jornadas de trabalho superiores às 44 horas semanais foi mais evidente entre os assalariados do que entre os autônomos (30,02%), com 37,45%, o que pode ser compreendido, dentre outros 42 Informalidade no mercado de trabalho de Fortaleza: dimensão e características fatores, pela menor flexibilidade de sua jornada, que normalmente caracteriza essa modalidade contratual. Apesar dessa realidade, verificou-se que a maior parte dos trabalhadores locais possuía jornadas entre 20 e 40 horas semanais, tanto entre os assalariados (46,56%), como entre os autônomos (46,64%), conforme Gráfico 10 e 37,88 45 30,02 40 36,56 46,64 50 48,45 45,66 Tabela 24. 35 20,89 30 13,73 25 20 8,8 2,45 5 6,19 10 2,73 15 0 < 20 20 - 40 Com carteira 41 - 44 Sem carteira >44 Autônomo Gráfico 10 – Empregado Particular e Trabalhador Autônomo por Horas Trabalhadas na Atividade Principal – Fortaleza – 2007 Fonte: SINE/CE - IDT. Tabela 24 – Empregado Particular e Trabalhador Autônomo por Horas Trabalhadas na Atividade Principal – Fortaleza – 2000 / 2007 Empregado particular Autônomo Horas trabalhadas 2000 2007 2000 2007 < 20 20 – 40 41 – 44 >44 Total Fonte: SINE/CE - IDT. 3,34 35,26 23,10 38,30 100,00 3,84 46,56 12,15 37,45 100,00 13,48 41,66 5,27 39,59 100,00 20,89 46,64 2,45 30,02 100,00 Por fim, cabe ressaltar o crescimento do trabalho autônomo nos subsetores da indústria e da construção civil, enquanto diminuiu a participação das ocupações autônomas no comércio e nos serviços, cujos subsetores ainda concentram a maior parcela destes trabalhadores. (Tabela 25). Informalidade no mercado de trabalho de Fortaleza: dimensão e características 43 Tabela 25 – Empregado Particular e Trabalhador Autônomo por Subsetor de Atividade – Fortaleza – 2000 / 2007 Empregado particular Autônomo Subsetores de atividade 2000 2007 2000 2007 Indústria de transformação Construção civil Comércio Serviços Outros Total Fonte: SINE/CE - IDT. 23,41 4,48 20,42 50,09 1,60 100,00 22,71 3,52 21,53 51,16 1,08 100,00 13,77 9,34 34,07 41,51 1,31 100,00 19,05 13,92 25,90 40,20 0,93 100,00 Conforme destacado anteriormente, as profissões mais frequentes, nestes subsetores, estão relacionadas às práticas comerciais, notadamente, o comércio ambulante, os serviços de beleza estética (manicure e cabeleireiro, por exemplo), às reformas domiciliares (pedreiro, pintor, dentre outros), a criação de pequenas fabriquetas, especialmente concercentes a confecção, cuja identificação dessas oportunidades de negócios favorece a criação de políticas públicas de apoio a estas iniciativas de ocupações autônomas. Em síntese, estas iniciativas precisam de apoio governamental, haja vista as evidências apresentadas serem bastante claras com relação à precariedade destes postos de trabalho, visto apresentarem baixo nível de rendimento, ausência de proteção trabalhista e cobertura previdênciaria. 44 Informalidade no mercado de trabalho de Fortaleza: dimensão e características 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Mesmo num período de expansão do emprego formal, a informalidade vem aumentando nos últimos anos, atingindo um patamar jamais visto em Fortaleza, sinalizando que essa questão envolve outras variáveis, além do mero comportamento do mercado de trabalho formal, tais como: crescimento demográfico e densidade populacional, desempenho econômico e setorial, luta pela subsistência e exploração do trabalho, dentre outros fatores. Essa elevação do nível de informalidade fora motivado pelo maior crescimento da economia nacional, nos últimos anos, o que tem fomentado um maior consumo de massa, e possibilitando a abertura de novas oportunidades de trabalho. Contudo, as ocupações informais cresceram num ritmo mais acelerado, especialmente no que concerne ao trabalhador autônomo ou por conta-própria, que já representam quase 1/3 da população ocupada da Capital cearense. Este estudo constatou, também, que a informalidade nas relações de trabalho continua penalizando mais duramente os segmentos que, tradicionalmente, encontram maiores dificuldades de inserção ocupacional, como as mulheres, trabalhadores de baixa escolaridade e pessoas com 40 anos ou mais de idade, embora tenha sido verificado crescimento da informalidade também em outros segmentos da força de trabalho local, demonstrando que esse problema afeta os trabalhadores das mais diversas características pessoais (gênero, faixa etária e grau de escolaridade). Diante dessa realidade, percebe-se uma maior heterogeneidade na informalização das relações de trabalho. Outra constatação é o baixo nível de rendimento obtido nessa atividade, inferior ao salário-mínimo, especialmente entre as mulheres. Estratégias de combate à informalização das relações de trabalho exigem um ritmo de crescimento econômico mais acelerado e mudanças nos marcos regulatórios das legislações vigentes (trabalhista, previdenciária e tributária, por exemplo), uma vez que mais da metade da população ocupada está desprotegida com relação a acidentes de trabalho, doenças, aposentadoria, por exemplo, contando única e exclusivamente com sua força de trabalho na condição de ativa, até quando ninguém sabe. Informalidade no mercado de trabalho de Fortaleza: dimensão e características 45 Nessa situação, chamou a atenção o desassalariamento das pessoas com 40 anos ou mais, cujos trabalhadores já representam mais da metade dos autônomos. Há evidências que boa parte desse contingente tem mais dificuldades de conseguir o reemprego, dada a combinação idade, baixo nível de instrução formal (até o ensino fundamental) e o tempo que já está na condição de autônomo. Tal realidade deve ser encarada com uma questão de ordem pública, cujo contexto de (des)regulamentação das leis trabalhista e previdenciária, por exemplo, são privativas do Estado. Dentro dessa perspectiva, alternativas de promoção de trabalho e renda na Capital cearense, por exemplo, podem levar em conta as atividades/ocupações mais freqüentes entre os informais, tais como: trabalho doméstico, o comércio de rua (ambulantes e camelôs), os serviços de beleza estética (manicure e cabeleireiro, dentre outras), as reformas domiciliares (pedreiros, serventes e pintores, por exemplo) e manutenção e reparação de veículos e aparelhos eletroeletrônicos. Por fim, cabe mencionar que essas iniciativas conduzem à questão de gênero, uma vez que as mulheres representam atualmente a maior parcela dos trabalhadores informais. De acordo com a análise dos dados apresentados, verificou-se que há uma maior desigualdade para este segmento, mesmo na informalidade, exigindo políticas públicas de trabalho e renda bem mais especificas para os informais, especialmente para as mulheres. 46 Informalidade no mercado de trabalho de Fortaleza: dimensão e características REFERÊNCIAS ANTUNES, R. (Org.). Riqueza e miséria do trabalho no Brasil. São Paulo: Boitempo, 2006. CACCIAMALI, M. Globalização e processo de informalidade. Economia e Sociedade, v. 14, p. 153-174, jun. 2000. CHAHAD, J. O emprego formal no Brasil entre 1992-2006: comportamento, tendências atuais e suas causas explicativas. In: MACAMBIRA, J. O mercado de trabalho formal no Brasil. Fortaleza: Imprensa Universitária, 2006. p. 43-68. DIEESE. 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