Introdução - Thesaurus Editora
Transcrição
Introdução - Thesaurus Editora
1 Coleção ANTOLOGIA PESSOAL THESAURUS Vol. 1 – Anderson Braga Horta Vol. 2 – Antonio Carlos Osorio Vol. 3 – Fernando Mendes Vianna Vol. 4 – José Augusto Seabra Vol. 5 – José Santiago Naud Vol. 6 – Rodolfo Alonso Vol. 7 – Joanyr de Oliveira Vol. 8 – Astrid Cabral Vol. 9 – Manuel Pantigoso 2 ANTOLOGIA PESSOAL MANUEL PANTIGOSO 3 4 9 ANTOLOGIA PESSOAL Manuel Pantigoso Edição Bilingue 5 © by Manuel Pantigoso - 2008 Arte final da capa: Editoração eletrônica: Foto folha de rosto: Revisão: Fotografias do registro iconográfico: Beto Paixão Vinicius Marques Lima, Peru Ligia Balarezo Mezones e o Autor Arquivo pessoal do autor ISBN: 978-85-7062-780-3 P187a Pantigoso, Manuel Antologia Pessoal / Manuel Pantigoso. — Brasília : Thesaurus, 2008. 152 p ; il. (Antologia Pessoal, 9) 1. Literatura, Brasil 2. Poesia brasileira I. Título CDU 869.0-82 CDD 869 Todos os direitos em língua portuguesa, no Brasil, reservados de acordo com a lei. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio, incluindo fotocópia, gravação ou informação computadorizada, sem permissão por escrito do Autor. THESAURUS EDITORA DE BRASÍLIA LTDA. SIG Quadra 8, lote 2356 - CEP 70610-480 - Brasília, DF. Fone: (61) 3344-3738 - Fax: (61) 3344-2353 End. Eletrônico: [email protected] Página na Internet: www.thesaurus.com.br Composto e impresso no Brasil Printed in Brazil 6 Para Lúcia Velloso da Silveira, mi esposa y compañera ideal. 7 8 SUMÁRIO REVERSO Y ANVERSO DE LA PALABRA POÉTICA .......................................... 13 REVERSO E ANVERSO DA PALAVRA POÉTICA ........................................... 14 POESIA DE MANUEL PANTIGOSO PÓRTICO............................................................................................................... 42 PÓRTICO ............................................................................................................... 43 TRASLUZ DE LA PALABRA ................................................................................. 44 TRANSLUZIR DA PALAVRA ............................................................................. 45 NUEVOS RITMOS ................................................................................................. 46 NOVOS RITMOS.................................................................................................. 47 SYDAL .................................................................................................................... 48 SYDAL .................................................................................................................. 49 JARDÍN DEL CERNÍCALO Y LA LIBÉLULA ....................................................... 52 JARDIM DA AVE DE RAPINA E A LIBÉLULA ................................................ 53 PAISAJE ................................................................................................................. 56 PAISAGEM ........................................................................................................... 57 ESPACIO LABRANTÍO .......................................................................................... 58 ESPAÇO LAVRADÍO ........................................................................................... 59 AZULADO SE PODRÍA POR LA TARDE ............................................................. 60 AZULADO SE PODERIA PELA TARDE ............................................................ 61 REGOCIJADA SOMBRA ....................................................................................... 62 REGOZIJADA SOMBRA ..................................................................................... 63 ARDIDA ENTRE MIS MANOS .............................................................................. 64 ARDIDA EM MINHAS MÃOS ............................................................................ 65 FLAMIGEROS POR LA VIDA............................................................................... 66 FLAMÍFEROS PELA VIDA ................................................................................. 67 GRADO CERO....................................................................................................... 68 GRAU ZERO ......................................................................................................... 69 HOJA SUELTA ....................................................................................................... 70 FOLHA SOLTA ..................................................................................................... 71 ME SACO DE TI MISMA ...................................................................................... 74 SAIO DE TI MESMA............................................................................................ 75 9 TU LLAVE ............................................................................................................. 76 TUA CHAVE ........................................................................................................ 77 LÍQUIDA FORMA ................................................................................................ 78 FORMA LÍQUIDA ............................................................................................... 79 CUADRO DE CARNE Y VERSO .......................................................................... 80 QUADRO DE CARNE E VERSO ....................................................................... 81 MUJER .................................................................................................................. 82 MULHER .............................................................................................................. 83 POÉTICA DEL FONDO DE LOS CUERPOS ....................................................... 84 POÉTICA DO FUNDO DOS CORPOS ................................................................ 85 NOMBRE PRIMITIVO .......................................................................................... 86 NOME PRIMITIVO ............................................................................................. 87 LA PRIMICIA DE TU MAR EN MI BOCA ........................................................... 88 A PRIMÍCIA DE TEU MAR EM MINHA BOCA................................................ 89 EL LASCIVO GOZO DEL MAR SOBRE LA ARENA ........................................... 92 O LASCIVO GOZO DO MAR SOBRE A AREIA .............................................. 93 LA PENETRACIÓN DEL AMOR .......................................................................... 96 A PENETRAÇÃO DO AMOR ............................................................................. 97 DEVOCIÓN POR TU ESPALDA ........................................................................ 100 DEVOÇÃO POR TUA ESPALDA ..................................................................... 101 JAPÓN-POEMA COMO EL AMOR ................................................................... 104 JAPÃO – POEMA A MODO DE AMOR ........................................................... 105 EL ESPEJO EN EL ROSTRO .............................................................................. 106 O ESPELHO NO ROSTO ................................................................................... 107 PINTOR DE LETRA SE EXTASÍA ....................................................................... 108 PINTOR DE LETRA EM ÊXTASE .................................................................... 109 DURAS AGUAS NEGRAS LAJAS ........................................................................110 DURAS ÁGUAS NEGRAS LAJES.....................................................................111 MAGIA ..................................................................................................................112 MAGIA .................................................................................................................113 LA ROSA ...............................................................................................................114 A ROSA ................................................................................................................115 SOMBRA ABIERTA...............................................................................................116 SOMBRA ABERTA..............................................................................................117 DESTINATARIO................................................................................................... 120 DESTINATÁRIO................................................................................................. 121 10 ETERNIDAD ........................................................................................................ 122 ETERNIDADE .................................................................................................... 123 DANZA ................................................................................................................. 126 DANÇA................................................................................................................ 127 ABISMOS ............................................................................................................. 128 ABISMOS ............................................................................................................ 129 ÓRBICO ............................................................................................................... 130 ÓRBICO .............................................................................................................. 131 VIENTRE.............................................................................................................. 132 VENTRE .............................................................................................................. 133 SER FELIZ AHORA Y NO MAÑANA .................................................................. 134 SER FELIZ AGORA E NÃO DEPOIS ............................................................... 135 CALICANTO ........................................................................................................ 136 CALICANTO....................................................................................................... 137 COMENTARIOS DE LA OBRA DEL POETA MANUEL PANTIGOSO ............... 138 COMENTÁRIOS DA OBRA DO POETA MANUEL PANTIGOSO ................. 139 REGISTRO ICONOGRÁFICO ........................................................................... 148 11 REVERSO Y ANVERSO DE LA PALABRA POÉTICA El paraíso del jardín original Nací en Lima el 27 de agosto de 1936. Todavía recuerdo con deleite esa “Edad de Oro” de la que hablaba Martí, cuando los nueve hermanos nos arremolinábamos bajo el pródigo guayabo, el árbol mayor del “Jardín de Magdalena”.1 Pero también ofrecían sus frutos y su sombra las parras, los platanales, la higuera, ¡ah… y los amarillos y jugosos nísperos y aquellas rojas granadas que atraían a los pájaros. Entre juegos y cantos creció nuestra edad de ensueño, rodeado de jazmines y “nomeolvides”, entre afectos, dificultades y alegrías en esa inolvidable casa de la calle Libertad 1457. Allí nuestro padre, “Panti”,2 apañaba los colores de la aurora o fundía en la tela los ardientes soles del crepúsculo. Era su vida, porque pintar fue su único trabajo y digna fuente de sustento hogareño, además de introducirnos a ese gozo de la contemplación artística dentro de la que nos formamos. En el recuerdo aun escucho los discos de música clásica, de operetas y zarzuelas, y a Panti silbando “La bohéme”, de Puccini. Nuestra madre, nuestra Antoñita querida, pintaba de blanco las piedras del camino; también acariciaba cada planta con sus cantos hispanos -de Fuente del Maestre, en Badajoz- e inventaba amorosamente el almuerzo. ¡Éramos once en la mesa larga! Por entonces yo soñaba con ser cura o torero… pero sobre todo director de orquesta desde el momento en que vi a Robertito Benzi, de 5 años, dirigir a la Sinfónica Nacional en el Campo de Marte.3 Entre la década del 40-50 nos visitaba la familia de don César Calvo de Araujo, “el pintor de la Selva”, que tenía una amistad muy fraterna con nuestro padre. Ambos se admiraban: 1. Magdalena del Mar es un distrito de Lima. En la casa-jardín, llamada con los años el “Jardín de Magdalena”, vivió la familia por casi cincuenta años. 2. Así fue conocido siempre por los amigos y todos los miembros de la familia merced a la relación sonora entre “Panti” (Pantigoso) y el “panti-panti”, flor medicinal oriunda de Puno. Estas correspondencias formaban parte de esa libertad asociativa propia de la vanguardia literaria y artística de la época. 3. Un importante parque de Lima. 12 REVERSO E ANVERSO DA PALAVRA POÉTICA O paraíso do jardim original Nasci em Lima, no dia 27 de agosto de 1936. Ainda lembro com deleite dessa “Idade de Ouro” da qual falava Martí, quando os nove irmãos nos amontoávamos sob a pródiga goiabeira, a árvore mais velha do “Jardim de Magdalena”1. Porém, também nos ofereciam os seus frutos e a sua sombra as parreiras, as bananeiras, a figueira, ah!... as amarelas e suculentas nêsperas e aquelas vermelhas romãs que atraíam os pássaros. Entre brincadeiras e cantigas, a nossa idade de sonhos cresceu, rodeada de jasmins e “não-te-esqueças-de-mim”, entre afetos, dificuldades e alegrias nessa inesquecível casa da Rua Libertad 1457. Ali, nosso pai, “Panti”,2 apanhava as cores da aurora ou fundia na tela os ardentes sóis do crepúsculo. Era a sua vida, porque pintar foi seu único trabalho e digna fonte de sustento do lar, além de nos introduzir a esse deleite da contemplação artística dentro da qual nos formamos. Na lembrança ainda escuto os discos de música clássica, de operetas e zarzuelas, e o Panti assobiando “La bohème”, de Puccini. Nossa mãe, nossa Antoninha querida, pintava de branco as pedras do caminho; também acariciava cada planta com os seus cantos hispânicos -de Fonte de Maestre, em Badajoz- e inventava amorosamente o almoço. Éramos onze na longa mesa! Naquele então, eu sonhava em ser padre ou toureiro... porém -sobretudo- em ser diretor de orquestra desde o momento em que vi Robertito Benzi, de 5 anos, dirigir a Sinfônica Nacional no Campo de Marte.3 Entre a década dos 40-50, nos visitava a família de Don Cesar Calvo de Araujo, o “pintor da Selva”, o qual tinha uma amizade muito fraterna com o nosso pai. Ambos se admiravam: 1. Magdalena del Mar é um bairro de Lima. Na casa-jardim, chamada com os anos “Jardim de Magdalena”, a família viveu por quase cinqüenta anos. 2. Assim sempre foi conhecido pelos amigos e por todos os membros da família mercê da relação sonora entre “Panti” (Pantigoso) e “panti-panti”, flor medicinal oriunda de Puno. Estas correspondências faziam parte dessa liberdade associativa própria da vanguarda literária e artística da época. 3. Um importante parque de Lima. 13 uno como autor de notables témperas “ultraórbicas” y el otro por su recio temperamento al captar motivos selváticos, así como por sus relatos fantásticos ofrecidos en amena conversación. Con su esposa Graciela y sus cuatro hijos formaban el gratísimo grupo de los domingos. Entre ellos estaba mi gran amigo César, poeta en ciernes, nacido en Iquitos, que llegaría a ser uno de los mejores de la Generación del 60. Mientras la olla aumentaba su contenido y exhalaba anuncios humeantes y provocadores, los padres y las madres conversaban y los hijos jugábamos a las prendas: “dame la sortija/ dame la sortija/ dame la sortija/ que en tu mano está…”, también al “Gran Bonetón” que con divertimiento cantábamos; y yo, de noche, subido en “el árbol de la luna”, convertido por César en la “Bruja pezuñenta”, me lanzaba con terrorífica carcajada sobre esa “jauría” que con voces destempladas y adorable inocencia corría perseguida entre árboles y malezas. Ya estaba desde entonces “en personaje”, feliz sin duda, metiéndome en el mundo alucinante del teatro. Para hacer más real la “brujería” usaba un sombrerón y una capa negra, además de una escoba como estandarte. Mi hermano Pepe, el mayor, solo miraba a la distancia y, desde allí, iluminado y sonriente, se poblaba de imágenes. El amor, balbuceante, estaba haciendo sus travesuras… En este espacio del recuerdo en donde la emoción encontró su materialidad, en esta casa-jardín -ahora surtidora de poemas y añoranzas-4 la unión y el buen humor amortiguaban tantas necesidades económicas. Un día don César Calvo reunió a los niños en la redondela del jardín, al lado de ese otro gran árbol del “boliche” -o choloque-, sentados sobre la hierba. Hubo largo suspenso. Al fin habló desde la altura de su bella barba rubia. Su narración, con ademanes y tonos teatrales, nos hizo estremecer. Las chicas se cogían de las manos como para defenderse: “¡yo he comido niños, tiernos y blanquitos…!”, nos 4. A la muerte del padre, el notable pintor Manuel Domingo Pantigoso en 1991, la casa fue considerada Patrimonio de la Época Republicana. Posteriormente razones discutibles le quitaron tal honor. Luego los supuestos dueños convirtieron aquel santuario del arte en un frío edificio. 14 um como autor de notáveis têmperas “ultraórbicas” e o outro por seu forte temperamento ao captar temas selváticos, assim como por seus relatos fantásticos oferecidos em amena conversa. Com a sua esposa Graciela e seus quatro filhos formavam o gratíssimo grupo dos domingos. Entre eles estava o meu grande amigo César, poeta em amadurecimento, nascido em Iquitos, que chegaria a ser um dos melhores da Geração de 60. Enquanto a panela aumentava o seu conteúdo e exalava anúncios fumegantes e provocadores, os pais e as mães conversavam e os filhos brincávamos de jogos de prendas: “me dê o anel/ me dê o anel/ me dê o anel/ que em tua mão está...”, também ao “Gran Bonetón” que, com divertimento cantávamos; e eu, à noite, subido na “árvore da lua”, transformado pelo César em “a Bruxa peçonhenta”, lançava-me com uma terrífica gargalhada sobre essa “turba” que com vozes alteradas e adorável inocência corria perseguida entre árvores e mato. Já estava, desde aquele momento, “no personagem”, feliz sem dúvida alguma, metendo-me no alucinante mundo do teatro. Para fazer mais real a “bruxaria” usava um chapelão e uma capa preta, além de uma vassoura como estandarte. Meu irmão Pepe, o mais velho, olhava à distância e, desde lá, iluminado e sorridente, povoava-se de imagens. O amor, balbuciante, estava fazendo as suas travessuras... Neste espaço da lembrança, onde a emoção encontrou a sua materialidade, nesta casa-jardim -agora fonte de poemas e saudades-4 a união e o bom-humor amortizavam tantas necessidades econômicas. Um dia, Don César Calvo reuniu as crianças no pátio circular do jardim, ao lado dessa outra árvore, do “boliche” -ou choloque-, sentados sobre a grama. Houve um grande suspense. Finalmente falou desde a altura de sua bela barba loira. Sua narração, com gestos e tons teatrais, fez-nos estremecer. As garotas se agarravam das mãos como para defender-se: “eu comi criancinhas, tenras e branquinhas...!”, disse-nos, olhando-nos 4. Com a morte do pai, o notável pintor Manuel Domingo Pantigoso (em 1991), a casa foi considerada Patrimônio da Época Republicana. Posteriormente razões discutíveis retiraram-lhe tal honra. Logo, os supostos donos converteram aquele santuário da arte em um frio edifício. 15 dijo, mirándonos con fieros ojos y fingida voz. Esta confesión nos espeluznó.Después de contar otros detalles “canibalísticos” acabó haciéndonos reír pues se refería a esos pequeños monos que se comen en nuestro Oriente a los cuales se les llama “niños”. La lectura y el impulso para volar En el hogar se leía mucho, había inclusive competencia de lecturas. En el diccionario buscábamos nombres, autores, obras, y luego, reunidos los cuatro hermanos mayores, preguntábamos a ver quién ganaba, y al final ofrecíamos un premio. También jugábamos “a la escuela”, de 4 a 5 de la tarde. Nuestra linda hermana mayor ya adolescente, Juanita -“Juanacha o Juanachita”-, fungía de profesora. En un pequeño patio interior de la casa se establecía el salón de clases, con sillas, pizarra, y todo lo demás. Debíamos presentar las tareas señaladas el día anterior y estar muy atentos con las lecciones impartidas… Ah, y había también premios y… amables castigos. Otro hermano, Julio, “Julianovich”, experto en “historias a cuadritos”, las ofrecía día a día, ante la expectativa de sus lectores. Algunas veces esas historias eran ofrecidas dentro de rollos que iban pasando, como en el cine, dentro de una caja de cartón. Se repartían caramelos y otras golosinas que inventaba mamá mientras cantaba “Porqué nací gitanillo / le tengo miedo al trabajo, ay leré, leré, leré, leré…”. Yo devoraba entonces, cubierto por follajes del jardín, el Juan Cristóbal, de Romain Rolland (¡catorce volúmenes!), El Quijote, de Cervantes, y mucha mitología griega. Por entonces descubrí, en un pequeño libro titulado Introducción a la Filosofía, a esos presocráticos que más parecían poetas por interpretar la vida desde la propia naturaleza. Muchas veces, congregados después de la obligada siesta, leíamos a Sócrates y Platón. Yo era el menor de esos hermanos. No entendía mucho pero Panti estaba para ayudarme. También, en esa época, Juana asombraba con su modulada lectura de Las minas del Rey Salomón, del británico Henry Rider Haggard, mientras nuestra madre tejía un ropón para la última bebita de pocos meses. Impulsado por todo ello yo escribía cuentos sencillos que antes los había contado a los 16 com beluínos olhos e fingida voz. Esta confissão nos horripilou. Depois de contar outros detalhes “canibalísticos” acabou fazendonos rir pois se referia àqueles pequenos macacos que são comidos em nosso Oriente, aos quais lhes chamam “crianças”. A leitura e o impulso para voar Em casa lia-se muito, havia -inclusive- competição de leituras. No dicionário procurávamos nomes, autores, obras e, logo, reunidos os quatro irmãos mais velhos, perguntávamos quem ganharia e, no final, oferecíamos um prêmio. Também brincávamos de “escolinha”, das 4 às 5 da tarde. Nossa linda irmã mais velha já adolescente, Juanita “Juanacha ou Juanachita”, exercia de professora. Em um pequeno pátio interior da casa instalava-se a sala de aulas, com carteiras, quadro-negro, e todo o resto. Devíamos apresentar as lições indicadas no dia anterior e estar muito atentos com as lições dadas... Ah! e havia também prêmios e... amáveis castigos. Outro irmão, Julio, “Julianovich”, especialista em “revistas em quadrinhos“, nos ia oferecendo-as dia após dia, diante da expectativa de seus leitores. Algumas vezes essas histórias eram oferecidas em rolos que iam passando, como no cinema, dentro de uma caixa de cartão. Repartiam-se balas e outras guloseimas que mamãe inventava enquanto cantava “Porque nací gitanillo/ le tengo miedo al trabajo, ai leré, leré, leré, leré...”. Eu devorava nesse então, coberto por folhagens do jardim, o João Cristóvão, de Romain Rolland (catorze volumes!), O Quixote, de Cervantes, e muita mitologia grega. Naquela época, descobri ,em um pequeno livro intitulado Introdução à Filosofia, esses pré-socráticos que mais pareciam poetas ao interpretarem a vida desde a própria natureza. Muitas vezes, congregados depois da obrigada sesta, líamos Sócrates e Platão. Eu era o mais novo desses irmãos. Não entendia muito, mas Panti estava para me ajudar. Também, naquela época, Juana assombrava com a sua modulada leitura de As minas do Rei Salomão, do britânico Henry Rider Haggard, enquanto a nossa mãe tecia um casaquinho para a última neném de poucos meses. Impulsionado por tudo isto, eu escrevia contos simples que antes havia contado aos mais 17